jornal contexto - edição 29 (janeiro - março/2011). especial turismo e desenvolvimento local

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Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe Ano 8 - Nº 29 jorlabcontexto.ufs@gmail.com Contexto Edição Especial: Turismo e desenvolvimento local CONTEXTANDO O sergipano é um povo receptivo? POLÍTICAS Programas de regionalização não avançam no Estado 5 ARTE & HISTÓRIA Véio faz brotar uma nação de madeira lascada em pleno sertão 8 GASTRONOMIA Sabores variados da culinária local surpreendem os visitantes 9 ECOTURISMO Segmento que alia preocupação ambiental recebe pouca atenção 10 TRANSPORTES O ir e vir nas estradas e no céu do menor estado do País 11 ENSINO & PESQUISA Cursos e eventos científicos impulsionam setor turístico CIDADES Potencial turístico do Parque da Cidade e do Mercado Central é mal explorado 14 ECONOMIA Iniciativas públicas e privadas investem na ampliação dos roteiros CULTURA Feiras livres e artesanato mostram o potencial da interiorização

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Jornal Laboratório Contexto, produzido pelos alunos da disciplina Laboratório em Jornal Impresso I e II, do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe.

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Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe Ano 8 - Nº 29

[email protected]

ContextoEdição Especial: Turismo edesenvolvimento local

conteXtando

O sergipano é um povo receptivo?

POLÍTICAS

Programas deregionalizaçãonão avançamno Estado 5

ARTE & HISTÓRIA

Véio faz brotaruma nação demadeira lascadaem pleno sertão 8

GASTRONOMIA

Sabores variadosda culinária local surpreendemos visitantes 9

ECOTURISMO

Segmento que aliapreocupaçãoambiental recebepouca atenção 10

TRANSPORTES

O ir e vir nas estradas e no céu do menorestado do País 11

ENSINO & PESQUISA

Cursos e eventoscientíficos impulsionam setor turístico

CIDADES

Potencial turístico do Parque da Cidade e do Mercado Central é mal explorado

14

ECONOMIA

Iniciativas públicas e privadas investemna ampliaçãodos roteiros

CULTURA

Feiras livres eartesanato mostram o potencial da interiorização

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promoção do turismo cultural tem sido feita sem que ele seja planejado de modo culturalmente sustentável e integrado à comunidade local, possibilitando a participação e a inclusão desta, tanto no que diz respeito ao seu planejamento quanto à fruição dos resultados obtidos com esta atividade.

Assim, na perspectiva do turismo cultural como estratégia para o desenvolvimento local, alguns desafios se colocam na arena turística: 1) Como conciliar a extração de benefícios econômicos do turismo cultural sem reduzir a cultura a uma simples mercadoria, sem depredar o patrimônio ou descaracterizar as manifestações tradicionais? 2) Como socializar as oportunidades e possibilitar que os segmentos majoritários da população efetivamente participem dos canais de decisão e os utilizem como instrumento de mudança e ação política, tendo em vista a promoção do desenvolvimento na escala humana?

Referências:CORIOLANO, Luzia Neide Menezes. “Os limites do desenvolvimento e do turismo”. In: CORIOLANO, Luzia Neide Menezes (org.) O turismo de inclusão e odesenvolvimento local. Fortaleza: Editora Premius, 2003.

IBERTUR (Red de Patrimônio, Turismo y Desarrollo Sostenible). “Turismo Cultural en América Latina y Europa: investigación, formación y desarrollo regional”. Disponível na World Wide Web: <www.gestioncultural.org/ibertur>. Acessado em 09/09/2004

Artigo originalmente publicado em: http://www.cult.ufba.br/maisdefinicoes/TURISMOEDESENVOLVIMENTOLOCAL.pdf

O chamado “subdesenvolvimento”, com seus problemas sociais, assim como as guerras políticas e religiosas, podem inviabilizar políticas de turismo. Essa realidade vem despertando uma nova consciência e a compreensão de que sua transformação passa pela mudança do modelo de desenvolvimento.

Isso se observa nas premissas que hoje regem o turismo mundial, onde o modelo de desenvolvimento do turismo cultural aparece estreitamente vinculado à reflexão sobre um modelo de desenvolvimento humano, integral e sustentável – baseado na compreensão de que para que o desenvolvimento se concretize, não basta crescer a economia, a produção de riqueza ou o PIB (Produto Interno Bruto), faz-se necessário, sobretudo, que essa riqueza seja para todos, elevando o poder aquisitivo e a qualidade de vida do global da sociedade, dentro dos princípios dos direitos humanos (IBERTUR, 2004).

Neste sentido, Luzia Coriolano aponta que o desenvolvimento só ocorre de fato quando todas as pessoas são beneficiadas, quando atinge a escala humana – quando elas tiverem assegurado uma existência digna, um padrão de vida capaz de garantir a si e a sua família saúde, bem estar, alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos, segurança, repouso e lazer. (CORIOLANO, 2003: 26- 27).

Embora o turismo seja uma atividade atrelada especialmente aos grandes capitais, tem efeito multiplicador e pode oferecer oportunidades também para pequenos comércios, empresas, e negócios mais participativos, como bares, restaurantes e pousadas, com as mais diversas prestações de serviços, que se espalham por todos os espaços turísticos, como já mostram algumas experiências no Brasil e no mundo. No entanto, de modo geral e na perspectiva do desenvolvimento, a

EditorialO pequeno notável

O clichê do título surge à mente em resposta a uma pergunta instigante: como mostrar Sergipe de uma forma que se contraponha ao desgastado estigma de “menor estado país”? Este foi o primeiro desafio apresentado à equipe deste jornal-laboratório, na re-união de pauta que escolheu o turismo e sua relação com o desenvolvimento local como o foco temático desta edição especial. O segundo desafio seria se dife-renciar das páginas e cadernos de turismo da grande mídia, que se concentram em roteiros e serviços de viagem, para discutir o setor no Estado como um campo de múltiplos interesses: econômicos, políticos, culturais e até de produção de conhecimento. O resul-tado foi um quadro crítico, mas ao mesmo tempo pro-missor, dessa atividade em todo o território sergipano.

Começamos mostrando que Sergipe vem ampli-ando sua participação entre os destinos turísticos na-cionais, a partir de investimentos privados e públicos no setor, para o que a divulgação de informação e o marketing turístico têm sido fundamentais. Quanto mais ouvem falar dos atributos de Aracaju, mais pau-listas, pernambucanos e cariocas aportam por aqui, em busca da tal “cidade da qualidade de vida”. E ao chegarem, descobrem que há outros atrativos além da capital, como a riqueza cultural das feiras livres do in-terior, a variada produção artesanal, os sabores das fru-tas e da culinária locais, e o potencial do ecoturismo.

No entanto, a regionalização prevista pelo Plano Nacional de Turismo para todo o país ainda caminha a passos lentos no Estado. Dos cinco pólos ou regiões turísticas definidas pelo governo estadual em 2004, apenas dois vêm sendo alvo de ações concretas: o do Velho Chico (que abrange o Baixo São Francisco e o Alto Sertão, onde ficam os Cânions de Xingó) e o Costa dos Coqueirais, que inclui a Grande Aracaju e as praias do litoral Sul até a divisa com a Bahia.

Três áreas de serviços ligados ao setor também foram identificadas como deficitárias pelos repórteres do Contexto: a da segmentação de roteiros por per-fil de público (crianças, “terceira idade”, gays) ou por interesse temático (histórico, religioso, gastronômi-co, rural etc); a de transportes, tanto aéreo quanto rodoviário; e a de formação de recursos humanos, so-bretudo guias turísticos, profissionais para a rede ho-teleira e atendimento nos diversos serviços de lazer.

Essas deficiências ficaram explícitas nas respos-tas à pesquisa de opinião sobre a hospitalidade (ou não) dos sergipanos em geral, e dos aracajuanos em particular. Os jovens candidatos a jornalistas tam-bém mostraram que Aracaju não anda cuidando bem de todos os seus cartões postais, como o conjunto dos mercados do Centro Histórico e o Parque da Ci-dade, cujo ainda pouco conhecido teleférico ofe-rece uma vista panorâmica privilegiada da capital.

Por tudo isso, o setor é visto como fundamental para o desenvolvimento local, como alertou, em um semi-nário realizado na UFS, uma das maiores especialistas no assunto, a geógrafa cearense Luzia Coriolano (tam-bém citada no artigo ao lado). Boa leitura e boas viagens!

Sonia Aguiar [email protected]

Ponto de vistaTurismo e desenvolvimento local

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Mércia Queiroz*

Praça São Francisco, em São Cristóvão, que recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em 2010

2 ContextoOpinião janeiro-março/2011

Global Print Editora Ltda. Tel (31) 31981100

Coordenação editorial: Profª. Drª. Sonia Aguiar

Universidade Federal de SergipeCampus Prof. José Aloísio de CamposAv. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE

Reitor:Prof. Dr. Josué Modesto dos Passos SubrinhoVice-reitor:Prof. Dr. Angelo Roberto Antoniolli

Pró-Reitor de Graduação:Prof. Dr. Francisco Sandro Rodrigues HolandaDiretor do CECH:Prof. Dr. Jonatas Silva Meneses

Chefe: Prof. Dr. Fernando Luiz Barroso

Fones:(79) 2105-6921 (chefia)(79) 2105-6919 (secretaria)E-mail: [email protected]

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

ContextoEquipe Contexto:Adriana da Rosa SantosAllana Andrade de SouzaAndreza LisboaBarbara Juliana de SouzaBarbara M. KruschewskyBarbara NascimentoBianca SilveiraCarlos Eduardo S.BarretoCarol Correia SantanaElaine M. de OliveiraGabriel Cardoso PaulaGustavo F. da Costa

Departamento de Comunicação Social (DCOS)

Impressão:

Leia e passe adiante!

Leia e passe adiante!

Ivo Jeremias B. de BritoJanaína de Oliveira FreitasKarina Garcia S. CruzLayanna S. MachadoLorene Souza VieiraMarta Olivia CostaMatheus A. FortesPedro Ivo de M. MarquesRafael Santos BarbozaSamara Silva MenezesThayza Darlen MachadoThiago Noronha Vieira

Versão digital: http://issuu.com/contextoufs/

* Mércia Maria Aquino Queiroz é assistente social e produtora cultural, com Mestrado Multidisciplinar em Cul-tura e Sociedade (UFBA), Coordenadora do Centro Nacio-nal de Informação e Referência da Cultura Negra (CNIRC) da Fundação Cultural Palmares ([email protected])

Edição concluída em março de 2011

Tiragem: 1.000 exemplares

Page 3: Jornal Contexto - Edição 29 (Janeiro - Março/2011). Especial Turismo e Desenvolvimento Local

Os estados que mais enviam turistas a Ser-gipe, de acordo com os dados da Emsetur, são Bahia (35,10 %) e São Paulo (13,46%), segui-dos por Pernambuco (8,8%) e Rio de Janeiro (7,8%). Apesar de tão próximo (meia hora de avião e cerca de 3 horas de carro), Alagoas con-tribui com apenas 7,32% dos visitantes, seguido pelo Distrito Federal (4,67%) e por Minas Ge-rais (4,02%). Os demais estados representam 18,83% do total. A Emsetur calcula que tenha havido um aumento de 15% no número de tu-ristas em 2010, porém o relatório do setor para esse ano ainda estava em fase de finalização na época do fechamento dessa edição.

mesmo turista está ficando mais duas e fazendo o turismo de lazer, ou seja, estamos recebendo o mesmo visitante para duas situações distintas e fazendo com que pernoite mais tempo na ci-dade”, ressalta o empresário.

Outra informação relevante é que o estado tem recebido turistas de regiões que antes não apareciam nas pesquisas. “Pessoas de estados como Mato Grosso, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, que mal ouvíamos falar por aqui, têm vindo com freqüência visitar Sergipe”, diz en-tusiasmada Tirzah Duarte, dona de uma agên-cia de receptivo que atua em todo estado. Ela acrescenta, ainda, que os turistas estrangeiros começam a aparecer, porém em pouco número. ”Já estamos começando a colher os frutos do turismo nacional, depois que arrumarmos mais a casa, poderemos divulgar o estado em outros países”.

Sergipe amplia sua participação como destino turístico nacional

Eduardo [email protected]

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Foto: Divulgação

Arcos da Orla de Atalaia: cartão postal que simboliza a porta de entrada dos turistas que chegam à Aracaju

Canyon do Xingó em Canindé do São Francisco na divisa com Alagoas

Diminuto em termos territoriais, mas repleto de atrativos turísticos, o estado

de Sergipe tem ampliado seus investimentos na divulgação do setor como meio de incentivar a entrada de visitantes. O trabalho tem sido pro-movido pela parceria firmada entre o governo estadual, através da Empresa Sergipana de Tu-rismo (Emsetur), e a iniciativa privada (agências de viagens, operadoras, hotéis e receptivos).

A participação em feiras nacionais como a da Associação Brasileiras das Agências de Viagens (ABAV), que é a maior da America Latina e da Feira Internacional de Turismo (FIT), ocorrida na Argentina, tem se configurado como uma das mais estratégicas.

De acordo com o relatório do turismo no estado em 2009, divulgado pela Emsetur, o tu-rismo de lazer aumentou de 37,78% (em 2008) para 43,10% (em 2009). Um dos fatores respon-sáveis por esse crescimento está relacionado à presença de operadoras nacionais no estado. ”Nós lutamos muito para colocar Sergipe nos nossos fretamentos, que neste caso busca tu-rista exclusivamente de lazer. Fizemos a divul-gação do estado nas feiras e em nossos cadernos distribuídos no Brasil inteiro”, ressalta Valber Ribeiro, representante em Sergipe de uma ope-radora de turismo de renome nacional.

Os dados mostram, também, o crescimento no número de vagas em hotéis. “O setor hote-leiro sergipano registrou um crescimento de 26% do seu parque, que atualmente são cerca de dez mil leitos. Esse número leva em conside-ração apenas os hotéis. Não abrange pousadas ou outras formas de hospedagem”, ressaltou José Roberto Lima, presidente da Emsetur, em recente entrevista à imprensa.

Boas perspectivasPara Valter Soares Filho, diretor de um hotel

quatro estrelas na Orla de Atalaia, o aumento nos leitos comprova que o número de turistas e o período em que eles passam no estado têm crescido. “Tivemos que ampliar o hotel, pois a procura aumentou. O turista que vem a negócio fica em média três noites na cidade, porém esse

Quem vem cáPara a carioca Paula Fernandes, o interesse

em conhecer o estado surgiu depois que viu uma reportagem sobre Sergipe em um telejornal de cadeia nacional. “Estava almoçando e de re-pente vejo a chamada sobre Sergipe. A matéria era sobre a Praia do Saco, achei linda. Entrei na Internet e fui ler sobre o destino. Procurei uma agência de viagem, comprei um pacote para Aracaju, pois descobri que não precisa pernoitar lá. Adorei a idéia, pois assim pude conhecer ou-tros roteiros no estado”, relata a turista.

Já para Carlos Santos, da Paraíba, vir a Ser-gipe foi um acaso. “Estava em Maceió a trabalho com dois amigos, quando resolvemos aproveitar o final de semana e vir a Aracaju, pois nenhum dos três conhecia a cidade. Se soubesse que o lu-gar era tão aconchegante teria vindo antes, mas com certeza voltarei outras vezes”, promete.

Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Praia do Saco localizada no município de Estância litoral sul do estado

Saiba mais:

www.emsetur.se.gov.brwww.turismosergipe.net

Contexto janeiro-março/2011 3Economia

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por exemplo, não há nenhum um investimento efetivo para concretizar essas práticas em Ser-gipe. O sucesso da segmentação em outras par-tes do Brasil e do mundo está atrelado à estru-tura da oferta, pois quando direcionado a um público específico, os pacotes geram melhor relação custo-benefício e permitem que se al-cancem mais facilmente os anseios do cliente em sua viagem.

Segmentação de pacotes turísticos ainda é tímida no estado

Andreza Lisboa e Bianca de Silveira drecas.slv@gmail / [email protected]

Emsetur investe na divulgação das “rotas do sol” para atrair turistas a Sergipe

Foto: Sílvio Rocha/ Divulgação

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Seja para concorrer de igual para igual em um mercado cada vez mais competitivo

ou para atender às demandas de uma clientela exigente, a criação de novos segmentos turísti-cos tem sido amplamente adotada por agências em todo o mundo. Faixa etária, estado civil e orientação sexual são algumas das característi-cas levadas em conta pelas empresas na hora de montar pacotes que visam agradar aos diversos perfis de usuários dos serviços turísticos.

A postura pessoas exigentes, que se negam a viajar pelo padrão turístico de massa e buscam uma programação mais personalizada, estimula o investimento na segmentação. Daí a necessi-dade de observar os chamados ‘fatores de ho-mogeneidade’, ou seja, as semelhanças entre os consumidores. Desta forma, a empresa pode agrupar pessoas que apresentem interesses e comportamentos de compra semelhantes e en-caixá-los em um mesmo grupo.

A professora do departamento de Turismo da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Fabi-ana Britto explica que a segmentação pode acon-tecer de várias formas: por faixa etária (crianças, idosos); por níveis de renda (popular, classe média ou luxo); por tipo de grupo (individual, casais, famílias e grupos de amigos); por motiva-ção da viagem (aventura, curiosidade histórica, gastronomia); ou ainda pelo tipo de destinação geográfica desejada (praia, montanha, campo, neve). Esses segmentos dão margem a diversas possibilidades de turismo, uma vez que se subdi-videm e se associam a outros segmentos.

Enveredando lentamente pelo universo do turismo segmentado, as agências da capital sergi-pana investem muito mais na criação de pacotes generalistas do que no direcionamento para gru-pos específicos. Com isso, um mesmo pacote pode ser comprado por diferentes públicos e, a princípio, a empresa lucraria mais.

Segmentação em SergipeAo deixar de lado as idiossincrasias de cada

cliente, as agências montam pacotes de acordo com o período. “A gente aproveita a data e faz

a divulgação. Então, algumas pessoas procuram, outras não, e se vende dessa forma”, explica a consultora de viagens Daniela Tete. A técnica adotada pela agência em que ela trabalha é apli-cada na maioria das empresas turísticas do es-tado, e mesmo aquelas que optaram por algum tipo de segmentação demonstram receio em ampliar esse mercado.

É o caso da Balbitour, empresa que investe no ‘turismo da melhor idade’. Mesmo como uma experiência bem sucedida nesse segmento, a em-presa ainda não faz parte planos para expandir sua atuação para outros grupos específicos. “A gente prefere direcionar em um (segmento) do que em vários, porque às vezes pode complicar. Nós temos outros públicos e fazemos várias ex-cursões durante o ano, mas de público segmen-tado somente a ‘melhor idade’, por enquanto”, afirma a agente Nilza Nascimento Teles.

Dentro das agências sergipanas, os públicos mais privilegiados são o infantil e o ‘da melhor idade’. O turismo infantil encabeça a lista dos segmentos que mais crescem no mundo e o fato desses pacotes se estenderem a toda família facilita a venda. Para os idosos, a existência de congressos da terceira idade e a disponibilidade dos vovôs e vovós para viajar são os principais responsáveis pelo crescente foco nessa faixa etária. “Não tem alta nem baixa temporada para eles, pois são pessoas aposentadas e, então, o tempo deles é livre”, avalia Nilza Nascimento.

Responsável por organizar os destinos turísticos de Sergipe, a Emsetur - Empresa Ser-gipana de Turismo- atua na direção oposta à da iniciativa privada. Enquanto as agências le-vam o turista sergipano para fora do estado, a Emsetur procura trazer o turista ‘de fora’ para conhecer os destinos turísticos sergipanos. Para isso, recorre a uma pequena segmentação dos roteiros disponíveis.

Os principais segmentos trabalhados pela Emsetur são o ‘turismo do sol’, que tem o litoral como principal produto motivador da viagem; o turismo histórico-cultural, com ênfase nas cidades de Laranjeiras e São Cristóvão (agora reforçada pelo título de Patrimônio Cultural da Humanidade à Praça São Francisco); e o tu-

rismo de natureza, em que Xingó e Canindé de São Francisco são as principais atrações. Em contraponto, empresas do setor privado se en-volvem mais com a segmentação por faixa etária ou classe social.

Mercado limitadoPara além dos esforços realizados por esses

dois setores, o turismo segmentado ainda tem poucos adeptos em Sergipe. “Não se eviden-cia uma preocupação em diversificar as opções turísticas da área de segmentação. É possivel notar que o estado apresenta um grande poten-cial em trabalhar certos tipos de segmentos, mas falta interesse do poder público em investir mais nestes setores”, destaca a professora Fabiana Britto, da UFS.

É o caso do turismo de aventura. Por mais que o estado possua uma geografia favorável à prática de esportes como o rapel e o vôo livre,

Saiba mais:

Agências de turismo segmentado em sergipe:Zezé Tour- Av. Hermes Fontes, nº 206. Bairro Suíça. CEP: 49052-000. Aracaju- SE. Tel: (79) 3043- 2789.

Balbitour- Rua Riachuelo, nº 1001. Bairro São José. CEP: 49015-160. Aracaju -SE. Tel: (79) 3214- 2932.

Papagaios Tour- Rua Ananias Azevedo, nº92. Sala 02. Bairro: 13 de Julho. CEP: 49020-080.Aracaju- SE. Tel: (79) 3246-2520.

A crescente segmentação do turismo, somada às necessidades de um público cada vez mais exigente, tem fomentado o surgimento de diversas associações e grupos turísticos. Condicionadas por de-mandas que variam demasiadamente de pessoas para pessoa, essas associações buscam contemplar as idiosincrassias de cada turista. Em comum, há somente o anseio de satisfazê-lo. Para tanto, asso-ciações de todo o mundo procuram ino-var com propostas de roteiros que se tornam abrangentes justamente por con-seguir enxergar as especificidades de cada grupo. A seguir, estão listadas três grandes associações brasileiras voltadas para seg-mentos específicos.

Associações brasileiras de turismo segmentado

Presente em 22 estados, a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura pretende unir os amantes dos esportes radicais em prol da inserção desse segmento como atividade econômica, social e ambientalmente viá- vel. Entre as atividades contempladas pela Abeta destacam-se o rafting, o espeleotu-rismo e o windsurf.

Com o intuito de contemplar um dos segmentos turísticos de maior crescimen-to no mundo, a Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpati-zantes procura garantir ao público GLS formas de lazer e entretenimento que a-tendam às suas especificidades. A Abrat possui diversas redes de hotéis e compa- nhias aéreas associadas.

O projeto Mulheres pelo Mundo ela-bora roteiros para os mais variados perfis femininos. Seja para aquela mulher que deseja viajar mas não tem companhia, ou para aquelas que escolhem seguir viagem sozinhas, o Mulheres pelo Mundo tem uma programação que se adequa à de-manda dos mais diversos grupos femini-nos.

www.abeta.com.br www.abratgls.com.br www.mulherespelomundo.com.br

4 ContextoEconomia janeiro-março/2011

Page 5: Jornal Contexto - Edição 29 (Janeiro - Março/2011). Especial Turismo e Desenvolvimento Local

[email protected]

Regionalização a passos lentosDos cinco polos, apenas dois recebem atenção

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Janaina de Oliveira

Fortalecer o turismo interno, pro-mover o turismo como fator de de-

senvolvimento regional, assegurar a apo-sentados, traba-lhadores e estudantes o acesso a pacotes de viagens em condições facilitadas; inves-tir na qualificação profis-sional e na geração de emprego e renda; e garantir a promoção do Brasil no exterior são algumas das ações que fazem parte do Plano Nacional de Turismo (PNT).

Dentro dessa diretriz geral da política de incentivo ao setor turístico no País, existe um programa de regionalização do turismo que propõe a estruturação, ordenamento e a diversificação de oferta turística do país.

Essa proposta surgiu da observação de que os roteiros turísticos, às vezes, atravessam as fronteiras dos municípios e até mesmo dos estados. Alguns estados já estão desenvolvendo polos, circuitos e zonas turísticas que muitas vezes incluem vários municípios.

O que se pretende é combinar aquilo que é único na cultura e nos conhecimen-tos locais e regionais com os recursos dis-poníveis, para a criação, administração e venda de produtos turísticos, com vistas ao desenvolvimento regional sustentá-vel. As principais propostas do programa são: a integração e cooperação entre mu-nicípios e regiões, a ampliação e qualifica-ção do mercado de trabalho e o aumento do tempo de permanência e do gasto do turista na região.

Descentralização e diversificação Segundo o coordenador do Núcleo

de Turismo (NTU) da Universidade Fe-deral de Sergipe (UFS), Luís Henrique de Souza, “o Programa de Regionalização do Turismo (PRT) torna-se uma política pública de apoio a elaboração de roteiros turísticos e que, de certa forma, diversifi-cam o turismo, evitando concentrá-lo em capitais ou em alguns outros destinos con-sagrados”. Para o professor “essa ‘interi-orização’ é altamente positiva, pois orienta os municípios a planejar de forma a obter melhores impactos”.

Melissa Waric, coordenadora de tu-rismo da Secretaria de Estado do Desen-volvimento Econômico, Ciência e Tecno-logia (SEDETC), avalia que o programa de regionalização propicia descentraliza-ção, expansão e criação de instâncias de governança em todos os pólos turísticos. “O programa de regionalização aparece, então, para dar continuidade e aumentar o alcance dessas ações, incentivando a par-ticipação e a criatividade de cada região turística. Integrar os municípios de uma região é a melhor maneira de incluir es-ses municípios nos lucros trazidos pelo turismo”.

O processo de regionalização do turis-mo precisa ter representantes de todos os

setores da comunidade e deve abrir espaço para que todos possam contribuir. Porém, deve fazer isso respeitando as diferenças de opinião e promovendo a conversa e a negociação para resolver os problemas. A regionalização do turismo deve conside-rar e aproveitar o que já existe de cultura, conhecimento, habilidade, experiência e vocação.

Polos regionaisA implementa-

ção do Programa Regional de Tu-rismo em Sergipe, iniciada em 2004, foi estruturada para atender os cinco pólos ou regiões turísti-cas do estado: Costa dos Coqueirais, Velho Chico, Serras Sergipanas, Tabuleiros e Sertão das Águas. Foram definidos, tam-bém, os nove roteiros prioritários: Aracaju-Xingó, Cidades históri-cas, Litoral Sul, Foz do Rio São Francisco, Aracaju e Praias, Trilhas de Pirambú, Trilhas nas Serras, Cangaço e Petróleo.

O foco foi nos segmentos turísticos de sol e praia, negó-cios e even-tos e ecotur-ismo, conside-rando-se atual oferta de atrativos, equipa-mentos e serviços no estado. Me-lissa Waric explica que hoje em dia a realidade do estado é trabalhar os polos Costa dos Coqueirais e Velho Chico e que apenas o Conselho dos Coqueirais existe. “A instância de governança do Velho Chico vai ser criada, o processo já está em andamento, os outros três polos por enquanto estão em stand by [estado de espera]”.

A estratégia de desenvolvimento terri-torial em Sergipe com ênfase no turismo vem sendo discutida desde 2001, quan-do, com o apoio técnico e financeiro do Programa de Desenvolvimento do Tur-ismo (Prodetur), foi formulado o Plano de Desenvolvimento Integrado do Tur-ismo Sustentável (PDITS) no polo Costa dos Coqueirais, atualizado em 2005, por meio de oficinas participativas. “A ação começou por esse polo porque já existia um Conselho estruturado desde 2000.

ra da SEDETC. “Na teoria ele funciona muito bem, na prática, não. Para mim o motivo maior é a falta de incentivo. Para esse programa dar certo a gente precisa construir um relacionamento com as ins-tâncias locais e elas precisam caminhar com próprias pernas”, lamenta Waric.

A etapa atual é a de revisão do Plano Estadual de Turismo, de modo a incorpo-rar as demandas do planejamento partici-pativo, ajustar metas e estratégias, alinha-do-as às do PNT. “Para que isso ocorra, a ação deve começar a partir do dialogo, das trocas e da construção coletiva entre o governo e agentes de mercado, orga-nizações sociais, instituições públicas e profissionais autônomos. Só assim te-remos um desenvolvimento harmônico

e equânime” avalia o professor Luís Henrique de Souza.

Agora ele está desativado, mas tem um corpo, é mais fácil de conseguir reativá-lo. Além disso, ele é o polo que mais recebe turistas, é o portal de entrada do estado, é próximo de Laranjeiras, São Cristóvão e das praias”, explica a coordenadora

O coordenador do NTU da UFS des-taca algumas melhorias decorrentes do Plano. “Já existe uma comissão especí-

fica que trabalha o turismo em Sergipe, principalmente infraestrutura de

rodovias, das duas pontes construídas, de marinas

e piers, obras de saneamen-

to. O

próximo passo de-pois da consolidação do Plano, com toda infra-estrutura implantada, seria uma forte ação de marketing”, avalia Souza.

O processo não avançou nas demais regiões. Apenas o polo Velho Chico e o das Serras Sergipanas instruíram suas ins-tâncias, entre os anos 2004 e 2005, mas sem atuar efetivamente. Entre outros mo-tivos por causa da centralização das ativi-dades no governo estadual e da pouca or-ganização das entidades do setor turístico, o que reforça a importância de mobilizar a sociedade para a consolidação do projeto. “Infelizmente o Plano não anda como a gente gostaria”, reconhece a coordenado-

Breve históricoO Ministério do Turismo elaborou, em conjunto com os diversos participantes da cadeia produtiva do turismo, o Plano Nacional do Turismo (PNT), tendo como orientação principal a ética e a sustentabilidade. As metas básicas do plano eram: diminuição das desigualdades regionais e sociais, geração e distribuição de renda, geração de empregos e o equilíbrio do balanço de pagamentos.O Conselho Nacional de Turismo foi reorganizado, criaram-se Fóruns e o tentou-se implantar no país um modelo de gestão descentralizada. Segundo o Ministério do Turismo, o PNT deve ser o elo entre os governos federal, estadual e municipal, e entre as entidades não governamentais, a iniciativa privada e toda a sociedade. Deve ser fator de integração de objetivos, otimização de recursos e junção de esforços para incrementar a qualidade e a competitividade, aumentando a oferta de produtos brasileiros no mercado nacional e internacional.

Contexto janeiro-março/2011 5Políticas

Page 6: Jornal Contexto - Edição 29 (Janeiro - Março/2011). Especial Turismo e Desenvolvimento Local

6 ContextoCultura

Feiras livres, o coração dos centros urbanos e das cidades interioranas

janeiro-março/2011

Thayza D. [email protected]

Geralmente desprezada pelas secretarias de turismo, a riqueza simbólica contida nas feiras livres pode representar importante segmento do setor, na avaliação da professora do Núcleo de Turismo da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Rosana Eduardo. Para verificar essa possibilidade, o Contexto visitou feiras livres de Aracaju, Itabaiana e Nossa Senhora da Glória em busca daquelas criaturas emblemáticas que levam câmeras fotográficas às mãos, botas adventure nos pés e ilusão desbravadora na alma: o turista. A intenção primordial dos passeios foi perceber o que o levaria a se interessar pelo frenético ambiente. Resultado: de turista só se encontrou ausência. De potencial turístico, um mundo.

A observação levada adiante pela repórter do jornal se deteve com mais afinco na Feira de Itabaiana, considerada a maior do estado. Lá, percorreu toda a sua extensão, rastreando a presença dos visitantes. A cada barraca visitada, porém, aumentava a impressão de que o que de-veria ser buscado não era o turista e sim o povo, razão maior da feira.

A pechincha da compradora de pimentões, a oferta do vendedor de facas, a crítica a certo cidadão de Riachuelo, já bastante conhecido, que teimava em roubar objetos das barracas. A criança das maçãs, a senhora dos jeans e o velho da farinha. Seus traços, cores, (dis)sabores, furtados pela audição e olhar desta observadora, marcaram-na tanto que, mesmo com máquina e gravador em punho, não se atreveu a interromper o fluir da vida feirante.

Buscou-se, depois desse mergulho, saber do secretário de Turismo da cidade, Marcos Henrique de Lima, se haveria algum tipo de investimento, ou projeto, que pretendesse elevar aquela feira livre à categoria de ponto turístico. O representante da secretaria não foi encontrado, nem atendeu aos telefonemas. Visitamos o site da Prefeitura em busca das informações, mas a única oferta turística anunciada na seção que divulga o setor é a Serra de Itabaiana.

Encontramos, porém, na Universidade Federal de Sergipe, a professora Rosana Eduardo, uma entusiasta nesse campo. Docente do Núcleo de Turismo desde 2009, ela desenvolve junto com seus alunos uma atividade interdisciplinar de visita a feiras para mapear aspectos econômicos e socioculturais. Rosana enxerga nesse ambiente “o coração dos centros urbanos e cidades interioranas”, e uma modalidade potencial de turismo. Para conhecer seu parecer acerca do pulsar desse ‘coração’, entrevistamos a professora. Confira abaixo o resultado da conversa:

Contexto: As feiras livres têm potencial turístico? De que forma esse segmento pode ser explorado aqui no estado?

Rosana: As feiras livres têm um papel fun-damental para o turismo, pois representam universos materiais e simbólicos de grande re-levância cultural, social e econômica para as lo-calidades. Elas representam o coração dos cen-

C

A visita às feiras livres surgiu durante um projeto interdisciplinar que as professoras Rosana Eduardo (foto) e Fernanda Meneses desenvolveram no segundo semestre de 2009. Teve como finalidade estudar a relação entre turismo e alimentação a partir do olhar de disciplinas como Produto Histórico-Cultural do Turismo; Sociologia do Turismo e do Lazer; Alimentos e Bebidas e Gestão de Meios de Hospedagem. Durante a pesquisa, as educadoras e seus alunos visitaram a feira do Augusto Franco, os mercados públicos de Aracaju e a Feira de Itabaiana. O objetivo era fazer um estudo sócio antropológico dos alimentos, considerando aspectos como locais de produção, grupos sociais envolvidos, formas tradicionais e modernas de transformação do alimento, produtos derivados, locais de comercialização, hábitos alimentares e o vínculo do alimento com a atividade turística.

O projeto

tros urbanos e cidades interioranas, onde pulsam os saberes e fazeres de sua população. São espa-ços que possibilitam experiências singulares de aprendizagem sociocultural, na medida em que permitem o contato dos turistas com a diversi-dade de cheiros, cores e sabores. Por isso, uma forma de promover tais ambientes é incluí-los nos roteiros já comercializados pelo mercado, desenvolvendo também novas propostas de vi-sitação turística.

C.: Qual a razão para as feiras ainda não estarem incluídas nesses roteiros?

R.: O mercado turístico ainda não percebeu a importância das feiras públicas como espaços de produções tradicionais onde se pode obser-var uma série de costumes e hábitos locais. Essa realidade não acontece apenas em Sergipe, mas em vários estados brasileiros que ainda não se deram conta da riqueza sociocultural que tais ambientes possuem. Percebo que ainda falta sensibilidade por parte dos planejadores do tu-rismo sobre tal universo de comércio, trocas e práticas sociais, que muito pode contar a história das localidades e do seu povo.

C.: O que pode levar o turista a querer conhecer uma feira livre? Acredita que esse interesse pode ser fomentado? De que for-ma e por quem?

R.: O que leva o turista a querer conhecer uma feira livre é justamente seu interesse em co-nhecer os hábitos das localidades. Sabemos que tais espaços armazenam uma série de elementos identitários presentes nas trocas materiais e sim-bólicas que envolvem comércio, alimentação e sociabilidade. Acredito ser possível fomentar a visitação turística nas feiras livres desde que haja

o diálogo entre os vários atores sociais envolvi-dos neste universo. Tais visitações poderiam ser fomentadas pelas secretarias municipais de tu-rismo em conjunto com entidades, associações e cooperativas dos feirantes.

C.: Nas visitas que realizei a feiras como a de Nossa Senhora da Glória e Itabaiana, notei que o ambiente é bastante marcado pelo despejo aleatório de lixo (orgânico e inorgânico). Esse fato é comum, ou melhor, representa um traço cultural do próprio am-biente? Ele pode vir a ser um dos obstáculos ao interesse do turista?

R.: Sabemos que a limpeza é algo que preci-sa ser melhorada em algumas feiras livres, para garantir a qualidade dos alimentos comercializa-dos. Não vejo a presença desordenada de lixo como traço cultural, pois compreendo que tal problema resulta da insuficiente infraestrutura e falta de conscientização da população que cir-cula nestes espaços, seja para comercializar ou comprar. Mesmo assim, não vejo como algo que possa se transformar em obstáculo para o tu-rista.

C.: O interesse econômico acaba por de-terminar o investimento em determinado segmento turístico, de modo que, por exem-plo, uma prefeitura não investe em dado setor se não tem a perspectiva de que ele resultará lucrativo. A senhora acredita que investir nas feiras livres pode movimentar de forma considerável o turismo local?

R.: As prefeituras precisam investir em vários aspectos para melhorar o turismo em seus municípios. Tais preocupações devem voltar-se, sobretudo, para a infraestrutura básica

e turística que possibilite o melhor acolhimento aos visitantes. As feiras livres representam um recurso histórico-cultural que pode ser promovido em conjunto com outros atrativos existentes em cada localidade.

C.: O turismo tem injetado vultosas ci-fras na economia nacional todos os anos. Aqui em Sergipe ele é representativo?

R.: Sem dúvida que sim. Sergipe está paulati-namente se fazendo presente no cenário turístico nacional. Trata-se de um estado que aos poucos começa a ser descoberto pelos brasileiros, pelas suas singularidades naturais e culturais. Contudo, sabemos que os destinos turísticos não se conso-lidam apenas com seus recursos e atrativos, pois precisam também de equipamentos e serviços turísticos que dêem suporte aos visitantes. Algo que precisamos ainda melhorar.

Personagens da Feira de Itabaiana

Foto: Robério Xikita

Page 7: Jornal Contexto - Edição 29 (Janeiro - Março/2011). Especial Turismo e Desenvolvimento Local

No município de Poço Redondo (Alto Sertão), a produção artesanal utiliza principal-mente a madeira, da qual são feitas imagens. Ana Paula Lisboa, consultora de artesanatos do Sebrae, conta que o destaque na produção é a do Mestre Tonho, “conhecido nacional-mente” por suas produz imagens de santos, animais e personagens sertanejos em madei-ra. Na cidade destaca-se também a renda de bilro, confeccionada sobre uma almofada de capim, entrelaçando os fios com bilros (peças de madeira).

A renda que vem da rendaOs 75 municípios de Sergipe foram agru-

pados em 13 microrregiões econômicas e cin-co polos turísticos, criados pela Secretaria do Estado de Turismo para melhor divisão dos recursos advindos do Programa de Desen-volvimento do Tu-rismo do Nordeste (Pro-detur-NE), que pretende investir cerca de R$ 100 milhões em cinco anos.

É na microrregião do Cotinguiba, com-posta por onze municípios, que está inserido o polo turístico dos Tabuleiros Costeiros, principal região da renda irlandesa, na qual se destaca Divina Pastora, localizada a 39 km da capital. As missionárias irlandesas que apor-taram na localidade trouxeram a arte de fazer renda e a difundiram para três mulheres e ir-mãs, que se transformaram em matriarcas no ensino do ofício na cidade. Hoje essas mul-heres oferecem um artesanato rico em detal-hes e tiram renda dessa renda, embora os ges-tores públicos e a maior parte da população pouco conheçam tal riqueza cultural.

Esse trabalho artesanal é tão importante

peus, caracteriza-se por desenhos recobertos em ponto cheio que acompanham detalhes vazados do tecido; o bordado aplicado, que utiliza cola de farinha de mandioca; o caseado, acabamento como o de casa de botão feito à máquina de costura sobre desenhos em teci-do que, depois é recortado entre os espaços do bordado; e o ponto cheio, utilizado como acabamento de outros tipos de bordados.

Outros materiaisSantana do São Francisco (Baixo São

Francisco) é a central ceramista do estado, e Itabaianinha (Sul) reúne grandes mestres da arte de modelar a argila. O barro da região, de ótima qualidade, permite aos artesãos fabricar maior variedade de produtos: potes, vasos, jarros, miniaturas de animais, caricaturas do homem do campo. São antigos fragmentos da cultura regional que, com a modernidade, passaram a ter finalidade ornamental. O ce-ramista Walfredo Elzébio conta que seu pai o ensinou a modelar o barro em Santana do São Francisco e hoje ele possui uma loja no Mercado Municipal que vende peças orna-mentais.

No município do Cumbe (Médio Sertão sergipano), sisal e lã são as matérias-primas, e a tela é o instrumento. Segundo Maria José, “aproximadamente 250 artesãos de Cumbe confeccionam os mais bonitos tapetes e pai-néis do Brasil”, utilizando os pontos brasilei-rinho e arraiolo, em formas geométricas ou florais, com acabamento em franjas. Os tape-tes são produzidos em cores de várias tonali-dades e traduzem a originalidade das mulhe-res do interior.

Com criatividade, artesanato sergipano é fonte de renda em municípios do interior

Elaine Mesoli e Samara [email protected]@gmail.com

para a cidade e para o país, que no dia 27 de novembro de 2008 a renda irlandesa foi re-conhecida como Patrimônio Cultural do Bra-sil pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O modo de fazer a renda irlandesa produzida em Divina Pastora foi incluído no Livro de Registro dos Saberes, e o município registrado como principal território dessa arte e ofício no país.

Poucos são os turistas que têm a oportuni-dade de apreciar uma rendeira traba-lhando. Não há um roteiro oficial que englobe a ci-dade de Divina Pastora e que inclua visitas às suas rendeiras. Os roteiros oficiais de tur-ismo cultural existentes no estado são apenas o de Laranjeiras, o de São Cristóvão e o dos cânions de Xingó, que concentram a atenção e os recursos advindos das esferas estadual e federal.

Para Elizabete Raimundo Santos, pre-si-dente da Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa (Asderen), é preciso que, com o reconhecimento como patrimônio cul-tural do Brasil pelo Iphan, os gestores públi-cos e a população sergipana valorizem mais esse artesanato e dêem condições melhores para as rendeiras trabalharem.

“Elas [rendeiras] precisam ser respeitadas. A comercialização desses produtos deve ser

Do barro ou da madeira, artesãos criam peças decorativas ou utilitárias de pequeno valor, mas que contribuem para o desenvol-vimento local em todas as regiões de Sergipe. Nas formas resultantes, que podem ser san-tos, carroças de boi ou cangaceiros, estão ex-plícitos o passado, o cotidiano e o imaginário do nordestino. A partir de materiais simples, como linha e tecido, as bordadeiras produzem peças ricas em beleza e originalidade e com fios entrelaçados confeccionam tapetes exclu-sivos.

O Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Micro Empresas, que desenvolve projetos voltados para este setor desde 2000, identifica os tipos artesanais de cada municí-pio. Os bordados são encontrados principal-mente na região do Baixo São Francisco, na grande Aracaju e no Sul do estado, enquanto o litoral e o alto sertão se destacam pela pro-dução com palhas e madeira. “O rendendê, figuras geométricas vazadas em tecido de li-nho ou étamine, recebe acabamento em re-levo com linhas da mesma cor do tecido. O ponto cruz, estilo em que o tecido, bordado com linhas finas, recebe motivos coloridos, o tecido é desfiado com precisão até que for-mem figuras vazadas e geométricas”, descre-ve Maria José do Nascimento, coordenadora do Sebrae.

Rosenilda de Carvalho, vendedora e bor-dadeira desde os oito anos de idade, diz que o ponto russo é muito procurado: “para fazer ponto russo risca-se o desenho no tecido e fura-se com uma agulha especial”. Outro tipo de artesanato que se destaca em Aracaju é o trabalho com fitas e pintura feito por Vânia Firmino. Ela decora toalhas com as fitas en-trelaçadas, faz vagonites (bordado nas barras das toalhas) e pinta tecidos.

O artesanato em palha é um trabalho bas-tante lucrativo, mas não é fácil e envolve toda a família. O marido vai ao campo para cortar a palha ideal descoberta por um grupo de ar-tesãs de Neópolis. O trabalho para fazer as peças começa na sede da Associação Artesa-nal Formiguinhas em Ação e já vem sendo negociado com lojistas de quatro estados. Mas para o negócio dar certo é administra-do como uma empresa. Tanto que o Sebrae ofereceu uma consultoria para aperfeiçoar o artesanato e as artesãs produzem bolsas, ban-dejas, cestas. A consultora do Sebrae Wânia Alzira Santos afirma que “a produção mudou a vida das mulheres de Neópolis, pois elas fa-zem do talento artístico um complemento da renda familiar”.

Já em Estância (Sul do estado) os desta-ques são os bordados de ponto cruz, o ren-dendê, as bonecas de pano, a tecelagem e o crochê – “a arte de moldar com mãos e agu-lhas peças com linhas e barbantes” – que também tem muitas adeptas em Nossa Se-nhora do Socorro, segundo Maria José do Nascimento, do Sebrae.

Diversos estilos de bordado podem ser encontrados em Tobias Barreto (centro sul): o richelieu, trazido pelos colonizadores euro-

Contexto janeiro-março/20117

Saiba mais:http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf

http://oexpressobandeirante.com/?p=1342

http://www.proconferencia.com.br

http://www.fndc.org.br

Cultura

C

intensificada através de um projeto em que não precisem vender as rendas através de atravessadores e que haja venda não só por encomendas, mas também diretamente para turistas e por ou-tros mecanismos que for-taleçam a economia das rendeiras”, defende a presidente da Asderen.

Apesar das queixas, o artesanato sergipano vem ganhando destaque e espaço em outros mercados além Sergipe. Com o apoio do Se-brae e do governo do Estado, os artesãos e artesãs passam por uma formação contínua no sentido de focar sua produção voltada ao profissionalismo e geração de renda. Os in-vestimentos no setor têm surtido efeitos posi-tivos, uma vez que todas as peças produzidas pelos trabalhadores têm destino certo e são vendidas tanto em Sergipe quanto em outros estados.

ONDE ENCONTRAR:•Centro de Arte e Cultura J.Inácio:

Orla de Atalaia;•Centro de Artesanato Chica

Chaves: Orla do Bairro Industrial;•Mercado Municipal: Centro

Histórico;•Associação Artesanal Formiguinhas

em Ação: Rua Mário Gonçalves, 154, Povoado Passagem-Neópolis - tel.(79) 3344-2702;•Sebrae-SE: Av. Tancredo Neves,

5.500

Alguns tipos de rendas

Page 8: Jornal Contexto - Edição 29 (Janeiro - Março/2011). Especial Turismo e Desenvolvimento Local

8 ContextoArte e História

Sertanejo redescobre seu povo e ganha destaque internacional

janeiro-março/2011

Gustavo [email protected]

Mostrar a história que ninguém conhece do sertanejo. Com esse objetivo, Cícero Alves dos Santos, o Véio, se dedica há 58 anos a re-tratar na madeira o cotidiano do alto-sertão de Sergipe e a reunir objetos que revelam a vida do povo de Nossa Senhora da Glória, a 126 km da capital. Conhecido internacionalmente por sua arte, Véio tem muito mais a mostrar em sua residência-oficina, localizada no Km 8 da rodovia Engenheiro Jorge Neto.

Sua fascinação pela história começou quando ainda tinha 5 anos, época em que ado-rava escutar as conversas dos mais velhos, mas não lhe era permitido ficar entre eles. Devido à sua curiosidade, Cícero foi conquistando, aos poucos, a confiança dos idosos e passou a dedicar mais tempo às prosas do que às brin-cadeiras na rua. Por esse motivo, desde muito novo, ele se tornou o Véio.

Precupação com a naturezaSeus primeiros trabalhos foram feitos com

cera, mas com o crescente desmatamento, en-contrar matéria-prima tornou-se mais difícil. Véio decidiu, então, trabalhar com madeira. “Só uso a madeira morta. Não derrubo ne-nhuma árvore para trabalhar”, garante. Sua preocupação com a natureza, inclusive, já lhe rendeu um prêmio pela preservação do bioma Caatinga. Em uma de suas propriedades, deci-diu reunir diversas espécies de plantas nativas. A iniciativa também faz parte da tentativa de reunir elementos que retratam a vida do povo sertanejo. “Como é que alguém pode conhe-cer o modo de vida dessas pessoas se não co-nhecem um pé de juazeiro, um pau-preto e um mandacaru?”, questiona.

As obras expostas à beira da estrada infeliz-mente estão minguando. Moradores, turistas e desavisados que não reconhecem a beleza da arte de Véio roubam e destroem as dezenas

Para Véio, suas obras possuem “vida” e são como parte da família. Por isso, não são vendidas, apenas expostas para visitação

Saiba mais:

Documentário “A Nação Lascada de Véio, a Glória do Sertão”

de esculturas que antes ficavam expostas no local, conhecido como a “Nação”. Neste es-paço, o artista retrata todos os elementos pre-sentes na sociedade: o povo, o governo, a re-ligião e o desconhecido, além do preconceito e da humilhação sofrida por aqueles que são subjugados no mundo moderno.

RefúgioAo se decepcionar com a cidade e o modo

de vida de seus habitantes, Véio decidiu se refugiar no campo. Lá, como ele mesmo diz, trabalha como agricultor para “não morrer de fome”. Segundo ele, sua arte não está voltada para o lucro. E por esse motivo, Cícero Alves

dos Santos viaja dando palestras sobre a histó-ria do povo sertanejo em escolas, universida-des, congressos, etc. sem cobrar nada.

Em sua residência-oficina, o artesão adora receber visitas de pequenos grupos previa-mente agendadas. Tem receio em receber ex-cursões ou visitantes inesperados por causa de seu ofício paralelo como agricultor. “Às vezes chegam pessoas aqui e eu não posso receber porque estou na roça trabalhando. E coorde-nar muita gente sozinho fica muito difícil para mim”, explica, revelando o desejo de ter apoio governamental para fazer de sua “Nação” um ponto turístico no Estado.

Tema de quatro documentários e homena-

geado do Rock Sertão, famoso evento musi-cal da cidade, a arte de Véio é um tesouro a ser descoberto no meio do sertão sergipano. Sua sabedoria acerca do seu povo e de toda a sociedade brasileira encanta os visitantes. O local é melhor visitado durante o dia e leva-se pelo menos 1h30 para conhecer todas as obras, objetos e histórias que compõem o mundo fantástico da “Nação lascada de Véio, a Glória do Sertão”.

Fotos: Marta Olivia Costa/Contexto

As esculturas atraem quem passa pela rodovia Engenheiro Jorge Neto, em Glória No acervo do “Véio”, peças raras que recontam histórias do povo sertanejo da região

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Page 9: Jornal Contexto - Edição 29 (Janeiro - Março/2011). Especial Turismo e Desenvolvimento Local

9Contexto Gastronomiajaneiro-março/2011

Bárbara [email protected]

Quando pensamos na gastronomia sergipana vem imediatamente

à cabeça o famoso caranguejo ou os demais frutos do mar. Por ser uma cidade litorânea, esse tipo de comida atrai muito os turistas, que visitam os bares da Orla de Atalaia. Mas poucos conhecem os inúmeros sabores que caracterizam a culinária local, a começar pelos produtos primários. A região tem uma variedade de frutas muito grande, dentre as quais estão as nativas do Nordeste mangaba, caju, jenipapo, acerola, umbu, tamarindo, e as cultivadas mangelão (também chamada jamelão), pitomba, atemóia, carambola, pinha e ameixa. Delas são feitos também sucos e sorvetes que atraem muita gente.

Além disso, há também as raízes, que são ingredientes dos principais pratos da gastronomia sergipana, como a macaxeira e o inhame. “A maioria dos turistas compra o inhame pra levar pros outros estados”, explica Júnior, que há 11 anos vende raízes no Mercado Augusto Franco, em Aracaju. Sergipe também é o segundo maior produtor de coco do Nordeste, que é um dos ingredientes mais usados na culinária local.

Os turistas que vão ao Mercado ou às feiras livres se encantam com os diferentes tipos de doce de Sergipe. Dentre os mais exóticos estão a rapadura de caju, o creme de batata, as castanhas cobertas com chocolate, o caju-ameixa, o doce de pimenta e o doce de queijo. Lá também se encontra a famosa castanha natural e castanha do Pará, além do queijo coalho, que é produzido em Glória e em Aquidabã, interiores de Sergipe.

Para aqueles que querem levar lembrancinhas da cidade, são feitos potinhos decorados com molho de pimentas nativas. “O que os turistas mais compram é a pimenta mesmo, que é o

Os sabores da culinária sergipanaTuristas que saem em busca do caranguejo supreendem-se com a variedade de outras comidas típicas

Pratos típicos servidos no restaurante Mangará encantam o paladar dos turistas

Fotos: Marta Olivia Costa/Contexto

Mercado Thales Ferraz é o ponto tradicional da tapioca e doces regionais

O caju é o símbolo da cidade, mas mangaba, graviola e jenipapo também agradamQueijos e doces são as iguarias apreciadas por quem visita o mercado Thales Ferraz

que dá o gosto da comida nordestina”, diz Cristina Dantas, vendedora da iguaria no Mercado Augusto Franco há mais de 10 anos. Os doces e licores como os de jenipapo, tamarindo, mangaba também são uma opção de lembrança do local.

Café nordestinoUma marca importante da culinária

sergipana é o chamado café nordestino, que é servido em restaurantes de comidas típicas que abrem por volta das cinco da tarde e servem macaxeira ao forno, carneiro, carne do sol, sopas, cuscuz e tapioca recheada. Um dos lugares mais tradicionais dessa mistura de lanche com jantar é o restaurante Mangará, que além de servir pratos típicos ainda tem uma decoração que representa a cultura local, marcada pelos festejos juninos. “Até nossos pratos têm nomes ligados à cultura popular, como o arroz jururu, o feijão matuto, galinha da vó, farofão de tonha”, diz Nathália Lucena, funcionária do Mangará.

Os turistas também ficam encantados com o preço do camarão, muito mais em conta do que na região Sudeste. Mas a culinária local também oferece outras comidas ligadas à vida litorânea. A Orla de Atalaia é um dos melhores locais para comer moqueca de peixe, caldo de sururu, casquinha de siri ou guaiamum e caranguejo. Alguns restaurantes são famosos pelo pirão, uma mistura do caldo onde o peixe, o pitú ou o caranguejo foi cozido com farinha e óleo de dendê.

Pelas ruas da Orla também pode ser encontrado o beiju, massa feita com a goma da tapioca e servida com recheios variados, alguns mais típicos, como o charque, carne do sol ou coco. Na época dos festejos juninos, a Orla é ocupada por barraquinhas com comidas típicas como milho, pamonha, pé-de-moleque e bolos variados. c

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Ecoturismo ainda é pouco explorado no estado

Rafael Santos [email protected]

Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimô-

nio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambien-talista, promovendo o bem-estar das populações. Esta é a definição de ecoturismo publicada em 1994 pela Empresa Brasileira de Turismo (Ebra-tur) e o Ministério do Meio Ambiente, incluída no documento Diretrizes para uma Política Na-cional do Ecoturismo. A breve conceituação, até hoje usada como referência, coloca em relevo a característica mais importante desse segmento: a utilização sustentável dos atrativos turísticos.

Em Sergipe, a prática do ecoturismo ainda se desenvolve a passos lentos. Cláudio Braghi-ni, professor do Instituto Federal de Sergipe (IFS) e pesquisador da área, acredita que ainda há muito potencial a ser aproveitado: “Como biólogo, entendo que Sergipe tem ecossistemas variados à disposição. Para quem associa a práti-ca do ecoturismo a atividades em meio natural, há inúmeras paisagens e possibilidades, mas elas são pouco exploradas. Um turista que viaje bus-cando roteiros genuinamente ecoturísticos terá dificuldades de encontrar esse tipo de operação turística por aqui”.

Como exemplos de locais com potencial para essa modalidade de turismo, há o Parque Nacional da Serra de Itabaiana, a Floresta Na-cional do Ibura, a Reserva da Vida Silvestre Mata do Junco, a Reserva do Caju, a Represa

Apesar de sua riqueza ecológica, é difícil encontrar roteiros turísticos associados a recursos naturais

Saiba mais:

Peregrinos Tour

http://www.peregrinostour.com.br

(79) 9927-6343 / 8814-5925

Econativus

http://www.econativus.blogspot.com

(79) 8844-0180C

de Xingó e a Reserva Ecológica do Crasto. São opções ecológicas que, com o investimento de políticas públicas apropriadas, poderiam se tor-nar bastante atrativas àqueles que se interessam em aliar a prática do turismo com as dimensões do desenvolvimento sustentável e a apreciação da natureza.

“Temos locais com potencial enorme, mas há pouco aproveitamento. O governo deve investir em políticas eficientes de prática do ecoturismo, deve firmar parcerias com as ins-tituições de ensino”, acrescenta Luis Ricardo Araújo, consultor na área e graduado no antigo curso de Ecoturismo do CEFET - o qual, após uma reformulação proposta pelo MEC para pa-dronizar os cursos técnicos e tecnológicos no país, passou a se chamar Gestão de Turismo.

Já Cadu Silva, Diretor de Comunicação e Documentação da Sociedade Brasileira de Eco-turismo, apresenta um olhar mais pessimista em relaçãoao interesse que a máquina pública man-tém em relação ao ecoturismo no estado: “Sin-ceramente, Sergipe vive um caos nessa temática. O governo não aproveita em nada o potencial ecoturístico e o estado é um dos únicos que se quer tem uma Secretaria de Turismo. As polí-ticas de turismo em Sergipe estão focadas em grandes festas, que têm maior apelo eleitoral e empresarial”.

Praticantes Apesar de o ecoturismo - com toda a sua variedade de elementos e características que o envolve - ainda ser incipiente e pouco cultivado

Integrantes do Econativus em uma das trilhas exploradas pelo grupo

Cachoeira do São Francisco

pelo estado, há em Sergipe práticas que se rela-cionam com o segmento, a exemplo de trilhas e esportes radicais que são realizados em am-bientes onde a natureza sofreu pouca alteração. O grupo sergipano Econativus, criado em 2002 e hoje freqüentado por uma média de 20 a 30 pessoas, foi fundado por jovens que mantinham o interesse comum nesse tipo de atividade.

“O que nos motivou primeiro foi nossa pe-riodicidade em praticar trilhas e acampamentos, em segundo lugar o bem estar que sentimentos quando estamos em contato com a natureza e outro ponto era a necessidade de divulgar e lutar pela preservação e conscientização ambiental. Nossos principais roteiros são feitos na Serra de Itabaiana, Poções de Ribeira, Xingó, Serra da Miaba,Lagoa Redonda, Cachoeira Poção de Pedras e outros lugares de Sergipe. O contato com a natureza dá uma imensa sensação de paz, de liberdade, faz com que as pessoas se sintam mais vivas”, conta Wagner Guimarães, um dos fundadores do grupo. Há empresas de iniciativa privada como a Pe-regrinos Tour e a Ecotur Viagens que trabalham diretamente com a oferta de pacotes turísticos com destino aos principais pontos ecológicos do estado de Sergipe. Um dos projetos manti-dos pela Peregrinos Tour é a EcoEscola, que leva alunos de 6 a 14 anos para conhecer cená-rios naturais, com o objetivo de aprimorar o co-nhecimento dos estudantes e trazer discussões e debates acerca do desenvolvimento sustentável, além de promover aos jovens a riqueza ecológi-ca do seu estado:

“O EcoEscola é uma aula viva de natureza, nós levamos as escolas para conhecerem cená-rios naturais, incluindo algumas atividades físicas e um conteúdo adequado ao público atingido. Trabalhamos hoje com condutores de aventura certificados pela Associação Brasileira das Em-presas de Ecoturismo de Aventura (ABETA) e biólogos formados”, acrescenta Fabrício, um dos responsáveis pela empresa.

PONTOS PRINCIPAIS

Serra de ItabaianaParque Nacional situado em Itabaiana, a 40km de Aracaju, mas que se estende a outros municípios do estado. Abriga es-pécies de fauna e flora muito im-portantes para a biodiversidade brasileira.

Cânion de XingóFormação rochosa de 50 metros de altura, que em alguns pontos atinge até 190 metros de pro-fundidae. Situa-se no município de Canindé do São Francisco, distante 213 km de Aracaju.

Floresta Nacional do IburaCriada por decreto federal em 2005, é administrada pelo In-stituto Chico Mendes de Con-servação da Biodiversidade, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e também respon-sável pela Serra de Itabaiana. Situa-se no município de Nos-sa Senhora do Socorro, a cerca de 15 km de Aracaju.

Econativus

Econativus

10 ContextoMeio ambiente janeiro-março/2011

Page 11: Jornal Contexto - Edição 29 (Janeiro - Março/2011). Especial Turismo e Desenvolvimento Local

a intesidade de uso. “Se houver um maior fluxo de veículos, a vida útil diminui. Cabe ao DNIT fazer a manutenção da via e fiscalizar a vida útil das rodovias federais”, explicou o analista de infraestrutura.

Caminhos para o interiorPara aqueles que pretendem viajar por vias

estaduais, a rodovia Lourival Batista (via obri-gatória para os municípios de Salgado, Lagarto e Simão Dias) também foi restaurada recente-mente. Quanto aos projetos futuros, o assessor do DER Adel Ribeiro confirmou a proposta de uma ponte ligando Sergipe a Alagoas. “Está ha-vendo um diálogo entre os governos dos dois estados para decidir a melhor localização dessa ponte, que poderá ser entre os municípios de Neópolis (SE) e Penedo (AL), ou entre Brejo Grande (SE) e Piaçabuçu (AL)”, informou.

Mas para quem não tem carro à disposição

Segundo Adel Ribeiro, um projeto de duplica-ção da BR-101, ligando Aracaju a Cristinápolis, já está com alguns trechos em andamento. O restante do projeto ainda passará por processo de licitação em 2011, e quando seu orçamen-to for aprovado a obras restantes começarão. A duplicação da BR-101 está sendo feita pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), em parceria com o DER. Segundo o engenheiro Luiz Antonio Cardoso, analista em infraestrutura de transportes do DNIT, o trecho da BR-101 que liga Aracaju a Propriá já começou a ser duplicado e a previsão é que essas obras estejam finalizadas em 2011.

Enquanto isso, a BR-235, que liga Aracaju às demais cidades do sertão sergipano (como Areia Branca, Itabaiana e Carira) já está refor-mada e sinalizada, segundo Cardoso. A previsão de vida útil da estrada é de cinco anos, tempo que poderá ser ampliado ou reduzido, conforme

Os desafios para trafegar pelo estadoMatheus Fortes e Thiago Vieira

[email protected] e [email protected]

e deseja visitar as cidades do interior, o gran-de ponto de encontro é o terminal rodoviário localizado no Centro de Aracaju, também co-nhecido como ‘rodoviária velha’. O entre e sai das pessoas é combinado com a fumaça dos microônibus que são característicos das viagens intermunicipais realizadas pelas cooperativas de transportes alternativos.

São por volta de 350 veículos que circu-lam diariamente no terminal do Centro, tendo como principais destinos as cidades de Lagarto, Estância, Itabaiana, Nossa Senhora da Glória e Propriá. A maioria dos usuários desse tipo de transporte é de moradores dos municípios do interior que precisam trafegar para trabalhar ou mesmo para visitar familiares.

As principais reclamações das pessoas que viajam nos microônibus não se referem ao ser-viço, como ressalta a funcionária pública Lucie-ne dos Santos, de 43 anos: “eu viajo todos os dias para Capela, pois trabalho aqui em Aracaju e moro lá. Os ônibus são bons e nunca tive pro-blema com eles ou mesmo com os motoristas. Os horários são cumpridos à risca”. A estudante Ana Cláudia Feitosa, de 23 anos, esclarece que “o grande problema daqui são as estradas, pois existem muitos buracos e isto alonga demais as viagens”. A maioria delas pertence à malha es-tadual, mas o assessor do DER não respondeu sobre o assunto.

Apesar dos problemas, os microonibus po-dem ser uma boa saída para quem quer conhe-cer as cidades do interior sem gastar muito. A a passagem para Canindé do São Francisco, nas margens do rio São Francisco e um dos destinos mais procurados do estado, por causa dos câ-nions da Represa de Xingó, custa R$ 19,50 para uma viagem que, segundo os controladores de tráfego do terminal, leva 4 horas em média para percorrer os 194 quilômetros de distância.

Para fazer o mesmo passeio, as principais operadoras de turismo de Aracaju cobram R$ 115,00 por pessoa, valor que inclui os R$ 45,00 do barco catamarã que faz o trajeto ida e volta ao cânion de Xingó. Ou seja, R$ 31,00 a mais do que se gastaria utilizando o transporte coletivo. Se considerarmos uma família de quatro pesso-as, a economia ultrapassaria R$ 120,00.

C omo chegar? Esta é uma pergunta que aparece em quase todos os guias de tu-

rismo, sejam impressos ou online. E a resposta, claro, é: depende. No caso de Sergipe, a maior parte do fluxo de visitantes é por terra, prin-cipalmente vindos da Bahia. Mas será que se houvessem voos mais frequentes para Aracaju o estado não receberia mais turistas de outras regiões? Para avaliar como andam os meios de ir e vir de quem quer conhecer as belezas sergipa-nas, a equipe do Contexto percorreu terminais rodoviários e hidroviários, além do aeroporto da capital, e conversou com os responsáveis por es-ses setores.

As rodovias são o coração do sistema de transportes em quase todo o território nacional, o que não é diferente em Sergipe. No estado, são cerca de 320 quilômetros de extensão de malha rodoviária federal, distribuídos entre a BR-101, com 206 quilômetros, e a BR-235, com 114 quilômetros. Isto fora as rodovias estaduais que fazem a ligação entre todos os municípios, servindo como vias de escoamento para vários fins, inclusive o turismo.

Rodovias federaisÉ através das estradas que Sergipe recebe

mais pessoas. “É bom destacar que a maior par-te das visitas vem da Bahia. Nesse caso, a via mais importante que liga Sergipe ao estado vizi-nho é a BR-101”, afirma Adel Riberio, assessor de comunicação do Departamento Estadual de Infra-Estrutura Rodoviária (DER). No entanto, uma nova via será possível após a construção da ponte Gilberto Amado, que ligará os municípios de Indiaroba (no extremo sul do estado) ao mu-nicípio de Estância. “Essa ponte também tem potencial de fortalecer o turismo naquela região, além de trazer mais desenvolvimento para a mesma”, explica Adel. Interligada à recém-inau-gurada ponte Joel Silveira, essa via permitirá a quem vier de carro de Salvador ou de outras lo-calidades pelo litoral norte da Bahia encurtar seu tempo de viagem, além de desembarcar direto nas praias da capital.

No entanto, os benefícios não serão propor-cionados somente para os viajantes do litoral.

Contexto janeiro-março/201111

A ‘Rodoviária Velha’ é o destino certo para quem deseja ir para o interior sergipano

foto: Marta Olívia

Transportes‘

C

Voando para a capital

Nem todos que vêm a Sergipe chegam por via terrestre. O Aeroporto Santa Ma-ria, em Aracaju, é o único acesso aéreo do estado, e tem capacidade anual para rece-ber 1,3 milhão de passageiros. No entanto, desde 2003 o número dos que utilizam o aeroporto tem aumentado relativamente a cada ano. Em 2009, a Infraero registrou movimento de 728 mil passageiros no período de janeiro a dezembro. Em 2010, até outubro, 766 mil passageiros passaram pelas salas de embarque, o que representa um aumento de 32% em relação a todo o ano anterior.

A promessa de construção de um novo terminal aéreo para a capital sergipana foi mais uma vez renovada na última cam-panha eleitoral, mas a estimativa agora é que ele só entre em operação em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil. Segundo Luiz Alberto Bittencourt, superintendente do aeroporto de Aracaju, o novo terminal

será construído em uma área a 200 metros do atual, com 32.000 m². A pista terá mais 245 metros e sete posições para aero-naves, sendo que quatro delas terão ponte de embarque. O projeto prevê também a

construção de uma segunda taxi way (tre-cho que liga a pista de pouso ao estacio-namento das aeronaves). O atual terminal será destinado apenas para o transporte de cargas. C

Page 12: Jornal Contexto - Edição 29 (Janeiro - Março/2011). Especial Turismo e Desenvolvimento Local

12 ContextoEducação

Formação profissional em turismo cresce no mercado sergipano

janeiro-março/2011

Carol [email protected]

os profissionais que se formam aqui, pois a demanda é muito grande”, destaca.

Nos cursos de hospitalidade e lazer os alunos aprendem noções de higiene e manipulação de alimentos, ética, rela-ções interpessoais, nutrição, segurança no trabalho, elaboração de menus, entre outras. Em seguida, partem para as ma-térias mais específicas como preparação de sobremesas e saladas no curso de coz-inheiro e postura e disposição de talheres, no caso do curso de garçom. Quando a parte teórica é finalizada, a turma segue para a prática.

Muitas pessoas enxergam no Tu-rismo uma oportunidade para mudar de vida. A aluna do curso de camareira do Senac, Vanúsia Santos, de 39 anos, é uma delas. “Antes eu trabalhava como C

Carol Correia

Alunos do curso de cozinheiro do Senac durante aula prática

Carol Correia Carol Correia

Alunos do curso de garçom do Senac durante aula sobre destilados Futuros camareiros do Senac assistem aula teórica

O setor do turismo no estado de Sergipe vem acompanhando o

bom ritmo de crescimento do país. Em 2009, a movimentação de passageiros no aeroporto de Aracaju teve um aumento de 8,75% em relação ao ano anterior, se-gundo dados da Empresa Sergipana de Turismo (Emsetur). Também houve um aumento de 19% no número de turis-tas que vieram para Sergipe através das agências de viagem. A fim de supor-tar a demanda crescente, a hotelaria foi ampliada em 26%, o que corresponde a um aumento de cerca de dez mil leitos. Com tantas visitas, o estado deve estar preparado com profissionais capacitados para atender os turistas com qualidade.

O curso de graduação em Turismo da Universidade Federal de Sergipe (UFS) é uma opção para quem quer seguir car-reira na área. Iniciada em 2007 no turno vespertino e localizada no campus de São Cristóvão, a graduação teve sua primeira turma formada no final de 2009. O cur-rículo inclui disciplinas das áreas de Ad-ministração, Economia, Geografia, entre outras, além de conteúdos relacionados a gestão de alimentos e bebidas, organiza-ção de eventos, etc.

De acordo com o chefe do departa-mento de Turismo, Luís Henrique de Souza, a formação do profissional é um diferencial no mercado de trabalho. Se-gundo ele, a partir da graduação, o alu-no torna-se mais apto para lidar com o segmento. “No curso, o estudante entra em contato com a pesquisa e a exten-são, pode participar de um laboratório para vivenciar melhor a organização e o planejamento de eventos, compreende de

forma mais ampla a lógica das agências de viagem, elabora cardápios específicos, dentre inúmeras atividades que ele pode desempenhar no campo”, enumera.

Para Carlos Eduardo Barreto, 28 anos, sócio de uma agência de turismo, o estudo sobre a área foi imprescindível. Formado em Turismo e Hotelaria pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe (Cefet), com duração de dois anos, Barreto acredita que não teria con-seguido levar a agência adiante sem o conhecimento que adquiriu.

“O envolvimento com o turismo não pode se dar de forma amadora, pois há o risco de sofrer prejuízos. O curso me fez ter uma visão melhor sobre o turismo e o conhecimento técnico que aprendi foi fundamental para desenvolver o meu tra-balho. Além disso, o mercado leva mais a sério uma pessoa com formação”.

Mas a formação técnica para hotela-ria (camareiros, garçons, cozinheiros) e serviços de agências e operadoras de tu-rismo também é importante para o setor. Os cursos, oferecidos principalmente pelo Senac e pelo Sebrae, têm duração variável: o de guia turístico, por exemplo, é de cerca de um ano; já o de camareira, de três a quatro meses.

Profissões necessáriasO instrutor do setor de hotelaria do

Senac Paulo Henrique de Souza, que atua há 20 anos na área, identifica o aumento do número de interessados no setor. “O Brasil e Sergipe estão vivendo um mo-mento muito favorável para o turismo. A procura pelos nossos cursos tem cresci-do cada vez mais e acredito que dará um salto ainda maior com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas, em 2016. O in-teressante é que o mercado logo absorve

porteira, mas acho que sendo camareira eu vou ter mais espaço, mais chances de crescer dentro de um hotel. Fazendo o curso, eu sei que depois vou estar em-pregada”, afirma.

Fabiano Aroldo Santos, de 30 anos, aluno do curso de garçom do Senac, no momento está desempregado, mas espe-ra ingressar logo no mercado de trabalho depois que se formar. “Os restaurantes e os hoteis estão muito necessitados de garçons que atendam bem, que sejam qualificados; é justamente isso que es-tou fazendo, me qualificando. Acho que vai ser mais fácil arranjar um emprego, pois já aprendi uma série de coisas que vou utilizar na profissão, como montar a mesa, como se comportar, ter uma boa postura”, explica.

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13Contexto Universidadejaneiro-março/2011

Layanna Machadolay_santosmachado@com

serviços que é fornecida pelos hotéis em Sergipe, utilizando o Hotel Radison como objeto de estudo. Segundo ela, o Seminário foi de grande importância para os estudantes e a expectativa é de que outros ocorram nos próximos anos.

Conhecimento e patrimônioO seminário teve início com o profes-

sor Antônio Carlos Campos, do Núcleo de Turismo da UFS, graduado em Geo-grafia e também coordenador do evento, que especificou os objetivos e os temas a serem abordados ao longo dos mini cur-sos, mesas redondas e apresentação dos projetos de graduandos e pós-graduan-dos.

Logo após, o professor da PUC-SP e da USP Luiz Gonzaga Godoi Trigo, que tem diversos livros publicados na área, como Turismo e civilização, e América e outras viagens, iniciou sua palestra aler-tando para a necessidade de pesquisas que respondam aos novos problemas apre-sentados pelo turismo e que o libertem da idéia de uma área de conhecimento insignificante. Segundo ele, a necessidade de se “fazer turismo” devido à globaliza-ção, ao estresse da modernidade e como uma forma de autoconhecimento vem se mostrando crescente em todo o mundo. Com isso, já se nota um aumento das pro-duções na área, bem como dos cursos de graduação e pós-graduação.

Questões relacionadas aos “pa- trimônios da humanidade” - título re-centemente concedido à Praça São Fran-cisco, em São Cristóvão - também foram debatidas. Devido ao seu reconhecimento e valor histórico, estes se tornam pon-tos referenciais do turismo. Para falar a respeito disso e de alguns projetos go-vernamentais voltados para o incentivo e reconhecimento da atividade turística no estado, foi convidada a Secretária de Es-

O 1° Seminário de Turismo e Geo-grafia de Sergipe - realizado em parceria com o curso e o departamento das duas áreas na Universidade Federal de Sergipe (UFS), em novembro passado – surpre-endeu os organizadores ao receber 220 inscritos de diversos estados do Nordeste, além de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Com um foco temático amplo (Abordagens teóricas e metodo-lógicas do turismo), o evento teve como um dos seus principais objetivos abordar o turismo como uma área interdisciplinar, que engloba elementos da História, da Psicologia, da Economia e, em especial, da Geografia, que dá suporte à análise es-pacial dos territórios, fundamental para o desenvolvimento da prática turística.

Segundo a professora Cristiane Alcân-tara, do Núcleo de Turismo da UFS, dou-tora em Geografia e uma das organizado-ras do Seminário, essa interação entre os dois cursos já era experimentada na pró-pria sala de aula. “No curso de Turismo nós temos uma disciplina chamada Geo-grafia no Turismo, ministrada por mim, e no curso de Geografia, que recentemente passou por uma reforma curricular, foi inserida Fundamentos geográficos do Tu-rismo. Foi também devido à inserção des-sa nova disciplina que pensamos em abrir um espaço onde a gente pudesse discutir de que maneira a Geografia pode contri-buir para a área do Turismo”, explicou.

O evento também visou servir como estratégia para que os alunos pudessem publicar seus trabalhos acadêmicos, algo que nunca havia sido feito nos demais eventos de turismo realizados no esta-do. Um exemplo disto é Laise Santos, estudante do 8° período de Turismo da UFS, que produziu e publicou seu pro-jeto de pesquisa acerca da prestação de

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Alejandro Zambrana/Sedetec

Alejandro Zambrana/Sedetec

Palestra sobre Economia da Cultura realizada no segundo dia do Seminário

Luzia Neide Coriolano, geógrafa e pesquisadora na área de Turismo

Seminário debateu a relação entre as áreas de Turismo e Geografia

tado da Cultura de Sergipe, Eloísa Galdi-no. Ela dividiu a mesa intitulada Turismo, Patrimônio e Território com o professor Rogério Proença, do Departamento de Ciências Sociais da UFS, e a professora Silvana Pirillo, da UFAL, ambos doutores, que fizeram o contraponto sob o ponto de vista do contexto nacional.

Prática capitalistaOutra questão referente aos dois cam-

pos de estudo – Geografia e Turismo – foi acerca da cruel lógica capitalista que trans-forma o espaço geográfico em produto para se obter lucro e, muitas vezes, essa “imagem” vendida de determinado local não corresponde à realidade. “A Aracaju que se vende não é a Aracaju do homem daqui, o Ceará que vendem não é o do cearense que tem miséria, feiúra, pobreza. O que se vende é a imagem atrativa que dá lucro”, afirmou a geógrafa, professora e pesquisadora cearense Luzia Neide Co-riolano, que já publicou mais de 14 livros sobre turismo. Segundo ela, para entender e ter uma visão crítica dessa área, enxer-gando tanto os lados positivos como os negativos, são necessários critérios, teoria e rigor, caso contrário, esse campo de es-tudo, que ainda é recente, não se impõe e cai na idéia de que tudo é turismo.

“É preciso entender que ele é uma prática econômica do capitalismo e que para haver essa atividade é necessário que haja a viagem – o deslocamento geográ-fico – e o lazer. Ele envolve dois tipos de pessoas: os que trabalham e os que via-jam; um grupo trabalha para que o outro possa ter lazer e se divertir. O turismo é essencialmente espacial, e sua relação com a geografia diz respeito ao fato de que você viaja para conhecer lugares, e o lugar é geográfico. O turismo em si é uma abs-tração, o que existe é o espaço físico, é o lugar”, analisou a pesquisadora.

Segundo Luiza Coriolano, existem pro-postas alternativas a essa lógica do capi-talismo: “A atividade turística é, em parte, contraditória. Pode predominar a acumu-lação, porque ele é feito para reestruturar o capitalismo através dos serviços, mas eletambém deixa brechas não ocupadas pelo capital, pelo empreendedor, pelo ho-teleiro, que ao serem descobertos termi-nam fazendo um contraponto ao turismo tradicional, que é o chamado turismo co-munitário, de base local, que respeita os valores, a cultura, e é mais distributivo”, concluiu.

O evento contou também com o lan-çamento do livro “Território, meio ambi-ente e turismo no litoral sergipano”, orga-nizado pelos professores José Wellington Carvalho Vilar (IFS) e Hélio Mário de Araújo (UFS), que traz textos acerca do ordenamento dos cenários ambientais no litoral sergipano produzidos por uma equipe da Universidade Federal e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS) formada por pesquisadores e pós-graduandos na área da ciência geográfica.

Segundo Cristiane Alcântara, coor-denadora do Seminário, devido à grande participação e aos resultados obtidos, a expectativa é a de que o evento per-dure. “Nós acreditamos que ele vai ser bienal. Já distribuímos aos participantes um questionário de avaliação do evento onde a última pergunta é uma sugestão de novo tema para um futuro congresso. A comissão organizadora se reunirá no-vamente para avaliar essa possibilidade”, anunciou.

Saiba mais:

http://seminarioturismogeografia.word-press.com http://br.linkedin.com/pub/luzia-neide-coriolano/21/822/807

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Aracaju está preparada para ser uma cidade turística?

Desde que recebeu o título de “capital da qualidade de vida”, em 2008, Aracaju vem melhorando a sua infraestrutura turística. A rede hoteleira, sobretudo na Orla de Atalaia, foi ampliada significativa-mente. A quantidade e a variedade de restaurantes, também. Os pontos turísticos receberam mais atenção, a antiga Rua 24 Horas foi reinaugurada como Rua do Turista, e recentemente a cidade ga-nhou uma nova orla, a do Por do Sol, à beira do Rio Vaza Barris. A propaganda externa também aumentou a demanda. Aracaju hoje faz parte do roteiro de boa parte das agências de viagem do país,

por ligar Salvador a Alagoas pelo litoral. Mas será que a cidade está mesmo preparada para receber bem os seus visitantes? Será que os sergipanos são de fato hospitaleiros como se diz por aí? E a tal qualidade de vida é percebida pelos turistas? O Contexto saiu pelas ruas da capital e percorreu o Campus da UFS em São Cristóvão para saber a opinião de estudantes, de moradores e dos principais envolvidos no assunto: os turistas. Muitos sentiram dificuldade para responder; outros pareciam ter a resposta na ponta da língua e ar-riscavam até sugestões. Confira o debate.

Marta Olivia Costa*[email protected]

XSIM NÃO

Aracaju está preparada sim. Mesmo com uma pequena estrutura de hotéis, restaurantes, bares e poucos pontos turísticos estruturados, a

cidade tem a seu favor a paisagem e um clima muito agradável, além de lindas praias. O pouco que temos é muito bom, não deixa a desejar. Trabalho em uma rede de hotéis e nunca ouvi nenhum turista reclamando da cidade. Lógico que precisa ampliar a rede hoteleira ainda mais, porque os hotéis já não suportam a demanda crescente dos últimos anos. Mas só de ter a mais linda orla do país já estamos muito à frente.

Embora Aracaju já possua hotéis de boa qualidade e com boas acomodações, não oferece um menu com bons lugares turísticos

para conhecer. Fora a Orla, o mercado Thalles Ferraz e o Parque da Cidade, não existem locais disponíveis e bem divulgados dentro da cidade. Turistas gostam de conhecer coisas regionais próprias do estado e aqui não há muita variedade. ”

Moro em Aracaju há aproximadamente quatro anos e acredito que ela pode chegar a ser uma cidade turística melhor do que se apresenta hoje.

Fora a Orla de Atalaia e a Passarela do Caranguejo, não há muita diversidade na capital. Se existe, não há divulgação. Falta mais entretenimento. Shopping tem em todas as capitais, belezas naturais são poucas que possuem, e Aracaju peca por não saber utilizar melhor seus recursos. O atendimento também precisar ser aprimorado, pois está próximo do horrível. ”

Claudiane dos Santos - mestranda em Física

“Primeiro não acredito nessa propaganda de Aracaju ser a “capital de qualidade de vida”. Pode ser até a do Nordeste, mas não do Brasil.

Outra situação confusa são as ofertas turísticas. Como Aracaju não possui tantos lugares para conhecer, os pacotes de viagens sempre oferecem passeios em todo o estado. E é um contraste imenso, porque enquanto a capital é limpa e organizada, os municípios são sujos, desestruturados e desorganizados. O atendimento ainda precisa melhorar muito, acho que precisa ser mais carismático, as pessoas aqui muito fechadas. ”Leonardo Viana, turista de Ribeirão Preto (SP)

ContextoConteXtando14 janeiro-março/2011

Nota-se uma boa organização da cidade. Ela é muito limpa, as pessoas não incomodam, são

hospitaleiras, sabem atender muito bem. E realmente se enquadra no perfil de uma cidade turística, mesmo que um pouco imatura, mas que apresenta um bom padrão de vida.

Edson Piron, turista de São Paulo (SP)

Nara Lima Oliveira, 6º período de Eng. Civil UFS

“O jeito de atender do sergipano é diferenciado. O ritmo daqui é mais calmo, se comparado ao de

outras capitais. As pessoas são mais gentis, educadas e atenciosas. Os locais apresentam um bom padrão de higiene e sociabilidade. Em qualquer lugar, desde o hotel ou até mesmo comprando um remédio, o atendimento é muito bom. Trago minha família quase todos os anos e acredito que Aracaju merece ser a capital da qualidade de vida. ” Tarsis Vaz, Turista de Salvador (BA)

A capital oferece a calmaria de uma cidade pequena e noites agitadas como as das grandes capitais. O

turismo aqui é diferente. A maioria das pessoas procura a cidade por ser tranqüila. No Carnaval, por exemplo, os turistas fogem das grandes folias para aproveitar a tranqüilidade e o clima pacato de uma capital ainda provinciana.

Imary Santos, 2º período de Eng. de Alimentos UFS

Polyana Candido do Araujo, 6º periodo de Turismo (UFS)

Para uma cidade ser considerada turística o todo precisa estar envolvido. Não basta investimento se não há

uma cultura para o turismo. Uma coisa essencial que eu senti falta foi a de preparo dos guias. As falas sempre são muito artificiais. Eles não sabem orientar, nem sugerir algo fora do roteiro ensaiado. Ficou evidente que é recente o investimento e a introdução do turismo na capital. Precisa melhorar léguas para transformar uma cidade linda como Aracaju em uma cidade extremamente turística como Gramado, por exemplo.

Mauricio Troiani, turista de Ribeirão Preto (SP)”

Denise Duarte, Engenheira Civil e 7º período de Matemática UFS

Não, mas já melhorou bastante. Eu sou do Rio [de Janeiro] e moro em Aracaju há 14 anos. Nesse tempo aumentou o

número de hotéis, bares, restaurantes. Foi construída uma Orla que é muito organizada, mas falta muito ainda. Agora o que falta aqui de verdade, não só em Aracaju, mas Sergipe como um todo, é o incentivo à cultura sergipana, amor pelo estado, pelas raízes. O orgulho de ser sergipano que ainda não foi incorporado pela população. As pessoas não valorizam o que tem aqui, não gostam de seus artistas, não valorizam sua cultura.

No geral sim. Aracaju é o ponto de partida do turismo em Sergipe. Os hotéis são bonitos e estruturados, os bares e restaurantes são bem

localizados. E é a partir daqui que o estado é conhecido. Sempre que os turistas chegam a Aracaju estendem o passeio para os demais municípios, a exemplo de Canindé, São Cristovão, Itabaiana, etc. Por isso acaba cumprindo seu papel turístico.

Emanuela Perreira, 4º período de Secretariado Executivo (UFS)”

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tisfeito”, destaca. Segundo Ana Kelly, as ques-tões que impedem o desenvolvimento do lugar estão ligadas a disputas políticas. “O Parque foi construído na gestão de um governo, e sempre será visto como uma obra do tal candida-to, por isso, quem assumiu a gestão pos-terior não quer realizar obras no local para não enaltecer o con- corren-te. Com isso, quem sai perdendo é a economia sergipana, e, conseqüentemente, o sergipano”, aponta.

DesvalorizaçãoVisitando Sergipe pela terceira vez, a mineira Iolanda Vieira Duarte diz que nunca ouviu fa-lar do Parque da Cidade. “Sempre que chego vou aos lugares que a minha agência de turismo indica. Aqui em Aracaju já fui a todos os lu-

Quem chega a Aracaju para visitar logo se encanta pela cidade. Mas enquanto

uns locais ganham destaque nos guias turísti-cos, outros passam praticamente em branco. É o caso do Parque José Rollemberg Leite, co-nhecido como Parque da Cidade, que apesar dos seus 31 anos de existência ainda não atrai a devida atenção dos turistas. Atrativos é o que não faltam. Com uma área de 1 milhão e 500 mil metros quadrados, é o único lugar de Mata Atlântica remanescente na capital, abriga o zoológico da cidade, um teleférico, trilha para caminhada, lagos, pista de asa delta, centro de ecoterapia, centro hípico, entre outras atrações. Ainda assim, não foram suficientes para inseri-lo nos roteiros turísticos locais.

Para a turismóloga Ana Kelly Costa, o Par-que da Cidade teria muito mais a oferecer se recebesse atenção do governo. “O ecoturismo seria a melhor opção para alavancar a visitação do local, porque iria favorecer a expansão e a preservação do lugar, além de proporcionar o desenvolvimento do turismo”, afirma. A turis-móloga diz que também seria necessário uma nova infraestrutura no Parque. “Para atender à demanda dos visitantes, uma repaginada deve ser feita no lugar, como a disponibilização de bens e serviços utilizados pelos turistas, a exemplo de hospedagem, transporte, alimenta-ção e tantas outras coisas que são necessárias para preservar o ambiente e deixar o turista sa-

gares, agora estou abrindo espaço para conhe-cer outras áreas em Sergipe, mas nunca soube da existência desse parque”, afirma. O baiano Hugo Chagas Santos mora em Aracaju há dois anos e se surpre-ende ao ser indagado sobre o parque. “Eu conheço o Parque da Sementeira, mas esse da cidade, nunca ouvi falar.” A aposentada Maria Francisca

de Assis Menezes, 68, mora próximo ao par-que e fica indignada com a falta de apro-veitamento do espaço. “Moro aqui desde que o parque foi construí-do. No início parecia que ele ia mudar nos-sas vidas, víamos gran-des oportunidades de

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Fotos: Ivo Jeremias

Parque da Cidade está esquecidoApesar dos atrativos, o lugar não é incluído em roteiros turísticos locais

Ivo [email protected] emprego, mas foi tudo ilusão. Ago-

ra tá tudo aí, só quem aproveita são os moradores e algumas pessoas que trazem as crianças para ver os bichos”, desabafa.

HistóriaInaugurado em 1979, o Parque

da Cidade está situado no bairro Industrial, na região do Morro do Urubu, zona Norte de Aracaju. Foi construído pelo Prefeito da Capital João Alves Filho, entre os anos de 1975 e 1979, mas não che-gou a ser totalmente utilizado pela população devido às fortes chuvas que caíram em 1979 e danificaram as instalações. No dia 25 de maio de 1985, o Parque foi reinaugurado com muita festa e com a presença do homenageado, o ex-governador José Rollemberg Leite.

Ao longo dos anos o local pas-sou por duas reformas. Em 2006 recebeu melhorias e mais recente-mente passou por uma revitaliza-ção, que incluiu a instalação de um

teleférico, no qual o visitante pode fazer um tour por cima do parque, tendo uma visão privilegiada de Aracaju e usufruindo do ar puro oferecido pelo parque.

Abrigo para os animais

“Moro aqui desde

que o parque foi

construído. No início

parecia que ele ia

mudar nossas vidas,

mas foi tudo ilusão.”

O Parque está situado no Bairro Industrial

O Teleférico oferece uma visão privilegiada de Aracaju

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15Contexto Cidadesjaneiro-março/2011

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cultivado até os dias de hoje, embora com uma roupagem diferente. Além do já tra-dicional Forró Caju, evento que acontece no período junino, outras atividades dão vida ao local durante todo o ano. As se-gundas-feiras passaram a integrar a agen-da cultural com peças e apresentações musicais à noite, atividade organizada há seis anos pela Rua da Cultura. O espaço é palco para alegria e identidade do povo e reflete a diversidade do cenário artístico de Aracaju, de outras cidades sergipanas e também de diversos cantos do país, sem-pre que um convidado passa por lá.

Os sábados também têm um toque di-ferente. Entre o ir e vir da população, o chorinho é um convite à descontração. A boa música pode ser acompanhada por-petiscos, como o queijo coalho e regada à cerveja gelada. Há quem prefira feijoada

dia apareceu uma pessoa de fora e disse que pensou que aqui era uma ‘bagaçada’, mas na verdade temos uma variedade enorme, muita coisa boa e bonita”.

Para Lia Amorim, assessora de co-municação da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Esportes de Aracaju (Funcaju), responsável por formular, im-plementar e executar as políticas públicas desses setores, “os comerciantes dos mer-cados nunca venderam tanto para turistas como nesses últimos tempos. Todos eles estão satisfeitos com os investimentos que o poder público tem feito para atrair os turistas para Aracaju, portal de entrada do nosso Estado”.

Porém a falta de anúncios em pontos estratégicos (como aeroportos, rodoviá-rias e terminais) faz com que os turistas não tomem conhecimento do local – a não ser pelo ‘boca-a-boca’. Elisângela Santos, administradora, natural do Espírito Santo, afirmou ter conhecido o Mercado Central através de uma cunhada que mora na ci-dade. “Se eu não fosse informada sobre o lugar certamente iria para a Orla”, disse.

Choro e muito maisA criação de bares e cabarés na região

dos mercados, nos anos 1940 e 1950, fez surgir na área uma vida boêmia – hábito

O que move o mercado central?

Bárbara Nascimento e Karina [email protected] e [email protected]

ou amarradinho, antes ou depois do som. Esse pedaço de chão situado na Ave-

nida Rio Branco, à beira do Rio Sergipe, é mais do que um ponto de comércio ou de turismo. Ele integra a cultura popular; conta a história de um povo, traduzindo na arquitetura, nas artes, na literatura de cordel, nas cores dos vestidos pendura-dos, nos sorrisos descontraídos, no ver-melho delirante da pimenta, no rico ver-de de tantas ervas, no bate-papo entre os trabalhadores e na delicadeza da passarela das flores o sentimento e o jeito sergipano de ser.

Lá não falta calor humano, diversidade e interação de manifestações culturais ca-pazes de encher os olhos e o coração das pessoas. É raridade que precisa ser culti-vada diariamente.

Cores, formas, cheiros, gostos e sons são elementos que não pas-

sam despercebidos por quem decide ir ao complexo de mercados de Aracaju. Seja para passeios ou compras, o lugar comum alia a sua função primeira - o comércio - à cultura e ao convívio social que lhe é ine-rente. A área conhecida como mercado central abriga três prédios, construídos entre 1910 e 2002 (ver quadro abaixo). O primeiro é destinado ao artesanato, o se-gundo às variedades da gastronomia nor-destina, e o último compreende o ramo de hortifrutigranjeiros.

Doces, queijos, castanha e ervas são apenas alguns dos produtos que vagueiam pelo gosto do público e que garantem o fluxo incessante na área, seja da popula-ção local ou de turistas dos mais diversos lugares. Mas, segundo comerciantes, os mercados não vêm recebendo a atenção que merecem. Os prédios precisam de re-paros na estrutura. Entupimentos de es-gotos, problemas na rede elétrica e falta de higiene dos banheiros são alguns dos itens que fazem parte da lista de reclama-ções. E em períodos chuvosos, algumas lojas são invadidas por goteiras e infiltra-ções, provocando perda de mercadorias e danos em equipamentos.

A enfermeira Milena Moreira, da Pa-raíba, disse que logo quando sua família e ela chegaram à capital, buscaram de imediato o local para conhecer e apre-ciar a cultura sergipana. “Buscamos o lugar onde pudéssemos encontrar o ar-tesanato e percebemos que está faltan-do a construção de uma estrutura mais adequada para receber os turistas. Os ba-nheiros do mercado, por exemplo, devem ser mais higiênicos porque do jeito que está fica impossível de utilizar”, opina. Investimentos a passos lentos

Quem viu o mercado ser alvo de gran-des atrações e um dos principais berços da economia do estado, surpreende-se hoje com a estagnação que gera revolta entre comerciantes locais e insatisfação de turis-tas. Desde janeiro de 2010 existe um pro-jeto para a reforma, assunto levado várias vezes à tribuna da Câmara Municipal de Aracaju, mas as obras ainda não iniciaram.

Outro queixa é sobre a má divulgação do local. “O turista, por vezes, enxerga o Mercado somente como uma feira de alimentação. Por isso, muitos quando co-nhecem a Feira de Artesanatos da Orla (ponto turístico da zona sul de Aracaju) nem passam por aqui”, lamenta Patrícia dos Santos, comerciante de camisas e pro-dutos artesanais há 5 anos.

“Aqui tem que ser melhorado porque o Mercado é do povo. Aqui é a raiz, é onde estão as coisas mais tradicionais, como o pessoal da capoeira, do folclore. Parece mais que as autoridades não querem que os turistas se aproximem do povão. Um

Importante centro comercial e turístico de Aracaju reclama mais investimentos

Fotos: Marta Olívia e Maria Josefina.

Cidades16 Contextojaneiro-março/2011

Dona Maria Lúcia (à esquerda) é especialista em ervas e temperos; Milena

(acima) vende objetos de decoração; e Patrícia (abaixo) comercializa camisetas e

produtos artesanais. Todas esperam por dias melhores no Mercado

Os três pilares do “mercadão”

A história do mercado tem início em 1910, quando a estrutura física ainda era de madeira, e se consolida 1926, com a construção do prédio que recebeu o nome de Antônio Franco e passou a ser conhecido como Mercado Modelo. Nos anos 1940 foi construído o Mercado Novo Thales. Ferraz, nome que homenageia um dos maiores comerciantes de Sergipe. De 1994 a 2002 foi projetado e construído o mercado Albano Franco. Juntos, os três formam o mercadão, cada um com sua peculiaridade.

O horário de funcionamento é das 6h às 18h, de segunda a sábado, e das 6h às 12h aos domingos. Fonte: PMA. Imagem: Internet.

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