turismo rural e desenvolvimento local

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Universidade da Beira Interior Departamento Ciências Sociais e Humanas Curso de Sociologia Elaboração de Projecto - (7546) E Desenvolvimento de Projecto – (7547) Relatório Final TURISMO RURAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL: o caso da aldeia de Vale Formoso Docentes: Professora Doutora Amélia Bernardo Professora Doutora Maria João Simões Discentes: Arsénio Cussecala nº 19866 Joel Oliveira nº 20341 José Pedro Dias nº 20108 2009 16-07-2009

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Projecto de investigação de final de licenciatura em sociologia. Palavras-chave: Turismo rural, desenvolvimento, territorialismo

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Page 1: Turismo rural e desenvolvimento local

Universidade da Beira Interior Departamento Ciências Sociais e Humanas

Curso de Sociologia

Elaboração de Projecto - (7546)

E

Desenvolvimento de Projecto – (7547)

Relatório Final

TURISMO RURAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL: o caso da aldeia de Vale Formoso

Docentes: Professora Doutora Amélia Bernardo

Professora Doutora Maria João Simões

Discentes: Arsénio Cussecala nº 19866

Joel Oliveira nº 20341

José Pedro Dias nº 20108

2009

16-07-2009

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 CAPÍTULO I – ESPAÇO RURAL, TURISMO E DESENVOLVIMETO LOCAL ....... 4

1. Espaço físico e modos de vida ....................................................................................... 4 1.1. Territórios e Modos de Vida Lúdicos ..................................................................... 4

1.2. O Espaço Rural e os seus diferentes tipos ............................................................... 5

1.2.1. Novas Funções do Espaço Rural ..................................................................... 6 2. Turismo rural e sua conceptualização ............................................................................ 8

2.1. Turismo Rural........................................................................................................ 8

2.2. Turismo e Modos de Vida no Espaço Rural ............................................................ 9

3. Desenvolvimento – o local funcional? ......................................................................... 10 3.1. Desenvolvimento Local ....................................................................................... 10

CAPÍTULO II – MODELO DE ANÁLISE ................................................................. 17

1. Metodologia de investigação ....................................................................................... 18 CAPÍTULO III – ANÁLISE DE DADOS ................................................................... 21

1. Análise empírica.......................................................................................................... 22 1.1. Implementação e divulgação do turismo rural na aldeia de Vale Formoso............. 23

1.3. Criação de postos de trabalho e contributos para o desenvolvimento local ............ 28

1.4. A cooperação e as parcerias ................................................................................. 35

CONCLUSÃO ............................................................................................................ 41 ANEXOS .................................................................................................................... 44

1. Guiões............................................................................................................................. 44 1.1. Guião geral .......................................................................................................... 44

1.2. Partes específicas do guião ................................................................................... 45

2. Entrevistas................................................................................................................... 48 2.1. Grelha das entrevistas .......................................................................................... 79

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 86 BIBLIOGRAFIA DIGITAL:....................................................................................... 89

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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INTRODUÇÃO

O presente relatório consiste na finalização de uma preparação científica, que se

insere no âmbito das disciplinas de elaboração e desenvolvimento de projecto da

licenciatura (1º Ciclo) em Sociologia, subordinado ao tema “Turismo Rural e

Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso”. A opção por este tema

deveu-se ao facto de a Universidade da Beira Interior se situar numa região do interior,

num país de características regionais assimétricas, dominado ainda por profunda

presença de ruralidade.

O objectivo deste estudo irá incidir sobre três aspectos: a) analisar o turismo

rural na aldeia de Vale Formoso; b) identificar e caracterizar o espaço onde ele se

desenvolve; c) finalmente, perceber o impacto que o turismo rural tem sobre a aldeia de

Vale Formoso. Deste modo, elaboramos a seguinte pergunta como linha orientadora de

todo o enquadramento teórico: será o turismo rural promotor de desenvolvimento local

em Vale Formoso?

No desenvolvimento deste trabalho abordamos, no primeiro capítulo, que se

divide em três pontos, a emergência do modo de vida lúdico e a caracterização do

espaço rural quanto aos seus tipos e funções; as funções rurais: o turismo rural e o seu

comportamento como modo de vida; a influência do turismo rural ao nível local.

No segundo capítulo, definimos as dimensões de análise, a metodologia e as

técnicas de investigação que orientam a aplicação empírica de todo o corpo teórico.

No terceiro capítulo, fazemos a análise das informações recolhidas no trabalho

empírico e elaboramos conclusões sobre todo o trabalho desenvolvido.

Palavras-chave: território lúdico; espaço rural; turismo rural; modos de vida;

desenvolvimento local.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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CAPÍTULO I – ESPAÇO RURAL, TURISMO E DESENVOLVIMETO LOCAL

1. Espaço físico e modos de vida

1.1. Territórios e Modos de Vida Lúdicos

A ocupação e a utilização do território, na actualidade, caracterizam-se de forma

bem diferenciada de outros tempos. Já não se limita a territórios marcados pela

produção económica e pela forma habitacional como na sociedade industrial. De acordo

com Luís Baptista, na modernidade assistimos a uma nova forma de uso dos espaços,

humanizada, muito devido ao processo de urbanização. Territórios como cidades e

metrópoles, campos, praias, montanhas, entre outros, tornam-se espaços para fins

lúdicos apetecíveis pela sociedade. Esta designação, territórios lúdicos, consiste em

“lugares/cenários edificados de raiz para serem usados como espaços de entretimento

e consumo programado” (Baptista, 2005: 47). Esta combinação entre espaço e acção

remete-nos para uma ocupação ou construção de um modo de vida, que se designa,

numa perspectiva sociológica, por modo de vida lúdico. Este modo de vida lúdico

“prende-se com o entendimento que é hoje dominante nas sociedades ocidentais

(ocidentalizadas) acerca da industrialização do uso dos tempos livres” (Baptista, 2005:

48). Se nas sociedades industriais, o trabalho e a ética sobressaíam, já nas sociedades

pós-industriais, o tempo livre é uma realidade iminente, cada vez maior “de anseio da

libertação da tirania e da opressão do trabalho” (Fernandes, 2002: 9).

Nas sociedades actuais assistimos a uma maior tendência para as pessoas

valorizarem, de forma igual, tanto o trabalho como o lazer, provocando novas formas de

organização social e política. Nesta sociedade designada por muitos como moderna, o

aparecimento “da produção em série condicionou os modelos urbanísticos, o

incremento da produção cultural e o desenvolvimento do turismo” (Ferreira e Costa,

2006: 769). O turismo enquanto uma actividade económica e social, também enquanto

nosso objecto de estudo, destaca-se “nesta lógica lúdica, já que é em função da sua

relevância económica e social que se reestruturam os lugares, se planeia e prevê o

futuro das próprias actividades locais” (Baptista, 2005: 53). Esta actividade assume-se

também como eximia no que toca a explorar “o filão do tempo livre que vem

aumentando (com a flexivização dos horários de trabalho, da gestão mais livre dos

períodos de férias, dos trabalhos em part-time e temporários – entremeados com

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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períodos de desemprego ou de inactividade)” (Baptista, 2005: 53). Este processo de

combinação entre vida local e mundo lúdico, ou podemos entender mesmo como “todo

este processo de reorganização da vida local sob o auspício do mundo lúdico (o

próprio mundo produtivo encontra-se em adaptação às necessidades lúdicas) é hoje

essencial de muitos territórios” (Baptista, 2005: 56). É precisamente neste sentido, que

iremos debruçar-nos, de modo a entender todo este processo e relacioná-lo, então, com a

aldeia de Vale Formoso, onde nos debruçaremos na parte empírica deste projecto.

1.2. O Espaço Rural e os seus diferentes tipos

Atendendo ao facto de o nosso objecto de estudo incidir no contexto rural,

importa clarificar e aproximarmo-nos de uma definição mais credível de zona rural.

Deste modo, a expressão zona (espaço) rural costuma “englobar não apenas a noção

geográfica de espaço rural mas também todo o tecido económico e social

compreendendo um conjunto de actividades que nele têm lugar” (Varela, 1993: 75), “a

preservação da natureza e da paisagem, a manutenção da arquitectura típica local e a

convivência com a cultura e as tradições próprias do ruralismo” (Cunha, 1997: 167).

Desta forma, Kayser define espaço social rural como “um modo particular de utilização

do espaço e da vida social” (in Pedroso, 1997: 7).

Será, assim, vantajoso centrarmo-nos no espaço rural enquanto espaço social e

nas actividades sociais que comporta. Deste modo, Paulo Pedroso (1997) define o

conceito de espaço social rural como tendo:

a) “baixas densidades populacionais, com diversas formas de povoamento (...),

implicando amplas paisagens de dominante não construída;

b) dependência económica e simbólica de formas de exploração dos recursos

naturais (...) quer na produção (...) quer nos serviços (...);

c) um modo de vida centrado na intensidade das relações locais baseadas no

interconhecimento e na ligação à natureza como factores de identidade

colectiva (dos residentes) e de produção alternativa aos meios urbanos (para os

novos residentes e os consumidores de origem urbana” (Pedroso, 1997: 8-9).

João Ferrão faz referência para o facto de persistir a ideia de que a designação de

mundo rural arcaico se encontra “num processo estrutural de marginalização

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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económica, social e simbólica” (Ferrão, 2000: 47). Contudo, nem todas as áreas rurais

estão condenadas a esta angústia de mundo tradicional, as fronteiras deslocaram-se

devido a uma forte mercantilização agrícola em massa. O autor evidência áreas rurais

centrais e periféricas, marginais ou profundas, esta última em condições mais

desfavoráveis e que despertam pouco interesse aos citadinos. Este espaço, o mundo

rural, remete-nos para a problemática da “baixa densidade, não só física, associada ao

despovoamento intenso que caracteriza estas áreas” (Ferrão, 2000: 48).

1.2.1. Novas Funções do Espaço Rural

De acordo com Manuel Castells, a cidade e o campo estão inseridos no mesmo

espaço social (in Peixoto, 1990). Nesta perspectiva, uma cidade terá determinadas

funções e terá uma função para o todo que é a sociedade, desenvolvendo-se ao longo da

história (dimensão temporal). Apesar da urbanização generalizada, há indicadores que

nos mostram diferenças entre o urbano e o rural, ou regiões metropolitanas ou não

metropolitanas. Se tivermos em conta as funções económicas, políticas, religiosas, mais

ao pormenor, haverá diferença entre elas, mas a cidade e o campo pertencem à mesma

sociedade, apenas têm funções diferentes. Na mesma linha de Castells, Harvey refere

que “o urbanismo é um conjunto de relações sociais” (in Peixoto, 1990: 103). Deste

modo, uma cidade será o espelho da sociedade e cada modo de produção terá a sua

forma urbanística em particular (Peixoto, 1990). Embora possamos referir que “o

campo e a cidade são complementares e mantêm um relacionamento estável num

contexto (aparentemente?) marcado pelo equilíbrio e pela harmonia de conjunto”

(Ferrão, 2000: 46).

As populações urbanas também procuraram habitar no campo, por isso, há esta

penetração entre urbano e rural. Em termos históricos, o mundo rural evidencia-se por

uma composição, em que tem como principal função a produção de alimentos. Possui,

então, como actividade económica dominante a agricultura, caracteriza-se por um

“grupo social de referência, a família camponesa, com modos de vida, valores e

comportamentos próprios, e um tipo de paisagem que reflecte a conquista de

equilíbrios entre as características naturais e o tipo de actividades humanas

desenvolvidas” (Ferrão, 2000: 46).

Nos anos 80 do século XX, assiste-se a uma nova invenção social, o mundo rural

não agrícola. Nesta perspectiva, a função principal do mundo rural não tem que ser

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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necessariamente actividade agrícola. Esta valorização do mundo rural não agrícola “é

socialmente construída a partir da ideia de património” (Ferrão, 2000: 48), que assenta

“na renaturalização, centrado na conservação e protecção da natureza; na procura de

autenticidade, que leva a encarar a conservação e na protecção dos patrimónios

históricos e culturais; na mercantilização das paisagens, como resposta à rápida

expansão de novas práticas de consumo decorrentes do aumento dos tempos livres”

(Ferrão, 2000: 48).

Raymond Ledrut diz-nos que a “ruralidade perde as suas características” e que

“os agricultores passam da fase da «sujeição» para a de «assimilação» pela

sociedade” (in Peixoto, 1990: 106). Em suma, os espaços rurais acabam por se

assimilar na urbanização. O espaço rural ganha outras funções e muitas vezes é a partir

delas que se verifica a sustentação do urbanismo. Então, este espaço deixou de estar

ligado apenas à agricultura, passando a ser ligado a espaços de lazer, turismo, a uma

abertura à tecnologia que outrora só estava nas cidades. É desta forma que nos iremos

orientar para a função do turismo no espaço rural. O tipo de turismo em que iremos

incidir o nosso estudo, realizado neste espaço, é o turismo rural.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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2. Turismo rural e sua conceptualização

2.1. Turismo Rural

Como tínhamos referido anteriormente, destacamos o turismo rural como função

a ser analisada de modo a dar seguimento ao nosso estudo. O turismo rural compreende

um modo de vida rural ou uma actividade num meio rural. De acordo com Eduardo

Ferreira, o turismo rural consiste num «produto» criado por alguns grupos sociais

urbanizados, que transformam o espaço rural num “palco capaz de suportar a

materialização das mais diversas intenções urbanas” (Ferreira, 2003: 296). Deste

modo, as pessoas que geralmente procuram este tipo de turismo, fazem-no pela

preferência por locais calmos, procuram repouso, procuram romper com o quotidiano

para obter uma experiência no campo. Como Karl Marx referenciou, “o afastamento de

um mundo artificial e complexo que se encontrará na cidade em direcção a um mundo

mais simples e natural que se encontrará no campo” (in Silva, 2007: 863).

O turismo rural, na perspectiva de José Henriques, está ligado à qualidade

ambiental. Pode ser enriquecido “pela descoberta de «novos» turistas a partir das

potencialidades que se abrem através das relações sociais que envolvem os habitantes”

(Henriques, 1993: 93). Desta forma, segundo Teixeira Fernandes (2002), a natureza

constitui também um importante pólo de atenção turística, muito devido à poluição

existente por todo o lado, por isso paisagens grandiosas e os ecomuseus são facilmente

transformados em consumo turístico. As paisagens contêm valor cultural, mas precisam

de se manter devidamente conservadas pela humanidade. Nas sociedades actuais, com a

alteração de valores, “a ecologia adquire uma particular importância, (…) a natureza

constitui-se, do mesmo modo, em objecto de consumo turístico” (Fernandes, 2002: 15).

Anne Marie Fiquet caracteriza o turismo rural englobando todas as formas de

turismo em espaços rurais, caracterizadas por “actividades ao ar livre, turismo de

descoberta cultural, de descoberta do meio natural, de descoberta gastronómica (...).

Assim, (...) designando genericamente, a oferta de produtos turísticos nas áreas rurais”

(in Henriques, 1993: 97).

De acordo com Brígida Brito (2000), em relação à promoção do turismo rural,

acontece, normalmente, através de empreendimentos ao nível familiar ou caseiro, já que

a propriedade tanto é familiar como também pertence a pequenas e médias empresas.

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Tem um volume de negócios baixo. As actividades que normalmente se praticam estão

relacionadas com o meio ambiente.

Em relação à população que procura esta actividade turística, de acordo com as

leituras realizadas, esta caracteriza-se por “indivíduos mais idosos e com um elevado

capital social, económico e cultural, que têm uma visão romântica dos espaços rurais e

que procuram (…), o património cultural, o ambiente despoluído e calmo, a

proximidade com a natureza e a integração num estilo de vida tradicional e rural”

(Silva, 2007: 863). Contudo, não queremos tomar partido de forma linear desta

caracterização, já que seria um entrave ao estudo, pondo em aberto a possibilidade de

outros indivíduos procurarem este tipo de actividade.

2.2. Turismo e Modos de Vida no Espaço Rural

O turismo, enquanto uma actividade de lazer, pode proporcionar experiências de

novos modos de vida nas pessoas que praticam essa actividade. Desta forma o turismo

rural promove ruralidade, ou seja, mais do que uma actividade de lazer no espaço rural,

a ruralidade consiste num modo de vida associado ao ambiente rural. De acordo com

Marc Mormont, “a ruralidade é reclamada não apenas com um espaço para ser

apropriado por uma forma específica de lazer ou para a sua própria conservação, mas

também como um modo de vida ou o modelo de uma sociedade alternativa capaz de

inspirar um projecto social que desafie as mazelas sociais e económicas

contemporâneas” (in Ferreira, 2003: 298).

Para Placide Rambaud, o processo de urbanização não se fica apenas pela

“acção da cidade sobre o campo nem o acréscimo da população das cidades pela vinda

dos rurais, mas a invenção de um modo de vida em vias de se tornar universal e de

realizar a unidade do homem social” (in Baptista, 1999: 284). Não obstante, devemos

ter em conta que “a ruralidade não desaparece para dar origem à urbanidade mas é

antes a reacção previsível do que já é ao que está a ser resultante da urbanização”

(Baptista, 1999: 285). Deste modo, podemos afirmar que o turismo rural é uma porta de

acesso à ruralidade, em que o turista “experimenta um contacto personalizado,

participa nas tarefas, costumes e modos de vida dos habitantes locais” (Ferreira, 2003:

299). Convém também referenciar que o turismo rural permite “aceder à cozinha

tradicional e ter oportunidades de fazer manteiga e compotas caseiras, ou picar e secar

ervas naturais, é uma emoção simples, mas encenada” (Ferreira, 2003: 303).

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3. Desenvolvimento – o local funcional?

3.1. Desenvolvimento Local

No contexto de espaço rural, em que destacamos a função de turismo rural por

interesse meramente pessoal, irá ser agora alvo de apreciação, em termos de pesquisa e

perspectivas teóricas, no que concerne ao desenvolvimento local.

De acordo com as pesquisas teóricas analisadas, podemos mencionar dois

modelos possíveis de analisar o desenvolvimento local, o modelo funcionalista e o

territorialista. Por modelo funcionalista, entende-se que este “encara o desenvolvimento

de acordo com uma perspectiva centralizada” (Quintas, 2000: 2). Esta lógica está

centrada no aparelho do estado, pois é este o coordenador do ordenamento do território,

em que o seu grande objectivo é a unidade nacional de modo a obter maior crescimento

económico. Por modelo territorialista, entende-se como um modelo oposto, este remete-

nos para uma auto-organização dos actores locais com propósito de promover o

desenvolvimento local, que, na perspectiva dos autores, só assim terá êxito (Monteiro e

Simões, 1998). A lógica territorialista, contrariamente à funcionalista, assenta na

construção de “uma perspectiva de desenvolvimento endógeno ou desenvolvimento a

partir de baixo (…) através da mobilização das populações e das suas organizações

que se encontram as soluções que deverão originar o processo de desenvolvimento”

(Quintas, 2000: 2). Neste ponto de vista, pode-se afirmar que o território pressupõe a

existência de uma identidade, pois compreende um conjunto de valores aceites

comummente entre os indivíduos que nele habitam.

Em suma, devemos ter em conta que a análise do desenvolvimento local deve

engrenar num processo “que conjuga elementos de natureza funcionalista e

territorialista, com o intuito de conseguir alcançar uma alteração positiva dos hábitos

de consumo, potenciando ao mesmo tempo uma evolução a nível sócio-cultural”

(Quintas, 2000: 2). Não obstante, devemos ter em conta que na actualidade, na maior

parte dos países ocidentais, as políticas de desenvolvimento, baseiam-se no processo de

activação, ou seja, existe uma abordagem contratual, uma partilha de responsabilidade

da parte do Estado com a sociedade civil. É a sociedade civil que tem de se organizar de

modo a obter a implementação das políticas. Na actualidade assistimos, “como diz

Gaudin (1999), a passagem de um Estado administrador a um Estado mediador. Neste

contexto, o Estado tende a renunciar ao uso da noção de «controlo» e a utilizar

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preferencialmente noções como «pilotagem», «supervisão» e «monitorização»,

surgindo na literatura sociológica diversos qualificativos do Estado para dar conta

destas transformações: «Estado regulador», «Estado animador», «Estado supervisor»,

«Estado avaliador» e outros” (Ferreira, 2004: 27).

Desta forma estamos perante uma responsabilidade partilhada, assumida de

forma contratual, ou seja, um contrato social que visa a cooperação de modo atingir os

objectivos que neste caso assentam no desenvolvimento local. Esta nova lógica

contratual ou partenarial, que mais à frente iremos pormenorizar, “tem sido

frequentemente apresentada com base na ideia de renovação da acção pública, isto é,

como uma tentativa, por parte dos poderes públicos, de adequarem as políticas às

grandes transformações económicas e sociais que ocorreram desde os anos 70/80”

(Ferreira, 2004: 27).

No caso do nosso país a origem destas medidas, “em grande medida, a retórica

que sustenta a abordagem contratual ou partenarial das políticas públicas – a retórica

do «diálogo social», da «negociação» dos «parceiros sociais» – foi introduzida pela

Comissão Europeia, designadamente através do Livro Branco da Política Social

Europeia (Comissão Europeia, 1994) e de diversos programas de financiamento”

(Ferreira, 2004: 27). Não consiste numa mera conjuntura, “pois o III Quadro

Comunitário de Apoio para o período de 2000-2006 (Comissão Europeia, 2000)

continua a dar primazia às «acções integradas de base territorial», convocando

expressões como «redes sociais», «parcerias», «partenariado», «acções comunitárias»,

«acções de animação sociocultural», «solidariedades locais» e «redes territoriais de

desenvolvimento local» (Ferreira, 2004: 27). Estas noções tornaram-se imprescindíveis,

transformaram-se em vocabulário obrigatório das políticas sociais públicas ao longo dos

anos 90 e podemos mesmo dizer até aos dias de hoje.

Será importante, deixar bem claro, alguns aspectos importantes deste modelo.

Não se trata apenas “de uma nova contratualização liberal individualista como

também, no caso do nosso país, da produção de uma retórica de «territorialização» e

«contratualização», sem que o Estado e a Administração tenham deixado de assumir

um carácter centralizado e burocrático. Aliás, reside neste fenómeno um dos paradoxos

das designadas políticas territoriais e contratuais” (Ferreira, 2004: 28). É precisamente

neste ponto que reside algum conflito, suscitando críticas num debate opondo o

liberalismo e o estatismo, “não se mostrando suficientemente atenta à necessidade de

uma justiça ajustada a esta lógica reticular, da qual são exemplo as denominadas

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políticas «territoriais» e «contratuais»”. Assim, “as redes não são simplesmente

«boas» ou «más»; o que acontece é que elas nos conduziram a uma situação assaz

diferente da que se vivia em períodos precedentes” (Ferreira, 2004: 25). Contudo,

devemos ter em conta algumas críticas que se colocam e que assentam “na

preocupação em sustentar, alargar ou enriquecer uma estrutura orgânica e de gestão

que permita o exercício de uma intervenção mais eficiente e eficaz. Simultaneamente,

torna-se a via de afirmação do seu carácter distintivo face a uma intervenção do

Estado, tomada como mais burocrática, menos flexível, menos capaz de interpretar as

reais necessidades das comunidades e mobilizar recursos locais num esforço

multidimensional” (Monteiro, 2004: 4).

Ao "Estado animador" cabe, assim, o dever de financiar as acções realizadas e,

ao mesmo tempo, dar “continuidade às funções de produzir directivas, animar e

desenvolver parcerias. (…) A ausência de um projecto político construído em

autonomia é simultaneamente consequência das motivações e objectivos na base da

constituição das iniciativas, mas também causa de um apagamento da dimensão

política da acção em favor de uma conformidade e de um exercício essencialmente

técnico e de gestão” (Monteiro, 2004: 6).

O compromisso que o Estado assume, “entre a tutela e a animação, incentiva à

implicação na execução das políticas públicas”, no entanto, deixa de parte a

descentralização e cooperação entre esforços para a “definição dos objectivos e

orientações políticas que lhes dão origem” (Monteiro, 2004: 6).

Desta forma, exige-se do Estado uma postura que passe “por um Estado

verdadeiramente parceiro e por um compromisso de articulação onde a função

mediadora das associações na reactualização dos laços sociais e o seu papel numa

regulação social solidária sejam verdadeiramente reconhecidos. Para algumas

iniciativas, essa via poderá ser viabilizada por uma fórmula de contratualização”

(Monteiro, 2004: 6). Contudo, devemos ter em conta que “a condução da acção pauta-

se por um projecto político próprio onde assumem centralidade princípios como os da

solidariedade, democracia e autonomia (ideológica e de gestão). Não surpreende,

assim, a incidência sobre a procura de uma independência financeira e a rejeição, por

vezes mesmo em oposição, de uma postura tutelar por parte do Estado sobre a

condução da sua intervenção” (Monteiro, 2004: 10).

Deste modo, será pertinente engrenar o nosso estudo, focando essencialmente a

base territorial, mas não deixando de parte a base funcional. Ora, tendo em conta o

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modelo territorialista, Jordi Estivill define o partenariado, já referenciado anteriormente,

como um modelo de desenvolvimento nesta linha. Este modelo consiste num “processo

pelo qual dois agentes ou mais, de natureza distinta, conservando a sua especificidade,

se põem de acordo para realizar qualquer coisa num dado tempo, que é maior do que a

soma da sua acção, ou que não poderiam fazer sós, ou que é distinta do que já fizeram

e que implica riscos e benefícios” (in Monteiro e Simões, 1998: 30). O partenariado

consiste no envolvimento, na realização de um trabalho em equipa ampliado de actores,

compartindo capacidade de decisão, ou seja, diferenciando-se da lógica tradicional da

“centralização do poder nas mãos da Administração Central”, (Monteiro e Simões,

1998: 33). Tomamos como exemplo o caso das associações de desenvolvimento local

devido à sua capacidade de intervenção, “promovem o estudo das potencialidades e

recursos do território, dinamizam iniciativas de carácter económico, social, cultural,

ambiental, executam projectos de educação e formação, gerem programas nacionais e

europeus” (Brás, in Monteiro, 2004: 184).

Este modelo de desenvolvimento requer uma participação activa da cidadania e

esta participação consiste no “princípio estruturante que permite ao partenariado

desenvolver-se (…), neste contexto de partenariado estabelecem-se formas de relação

contratual entre parceiros numa lógica de complementaridade” (Monteiro e Simões,

1998: 35). A participação torna-se assim parte fundamental do “envolvimento de

indivíduos não enquadrados em estruturas colectivas, criando condições para uma

postura activa no desenvolvimento de um projecto” (Monteiro e Simões, 1998: 35). Os

autores defendem que o partenariado não deve ser implementado de forma coordenada,

seguindo “pela constituição de instituições e/ou organizações formais com um

significativo grau de rigidez, passando antes por processos de gestão mais informais,

mais flexíveis e menos hierarquizados” (Monteiro e Simões, 1998: 40).

Não obstante, José Manuel Henriques sugere uma proposta de aprofundamento

do conceito de desenvolvimento local, onde podem ser identificadas três dimensões: “a

existência de um projecto-esperança referenciador da acção individual e colectiva, um

processo de defesa e de mobilização de recursos tendo em vista a satisfação das

necessidades básicas nas comunidades locais e a animação da solidariedade activa

para a reconstrução da vida sócio-comunitária” (Henriques, 1993: 90). Um bom

exemplo disso é a “introdução de actividades artesanais nos circuitos económicos

locais, valorizando-se tal iniciativa pela legitimidade que lhe é conferida por velhos

artesãos, ou reinvenção de habitats desaparecidos” (Baptista, 2005: 56). Desta forma,

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valoriza-se as identidades locais e, também, “graças à valorização da tradição cultural,

são reinventadas e tornam-se tão mais estimulantes quanto ganhem em visibilidade e

em capacidade de se dar a conhecer (…) exemplo de «ver na televisão o anúncio das

festas da minha terra»” (Baptista, 2005: 55).

Muitos investigadores não têm dúvidas quanto ao potencial do turismo. Para

Licínio Cunha, o turismo constitui um dos poucos sectores da actividade económica que

melhores possibilidades tem para contribuir para desenvolvimento regional. O turismo é

uma actividade que melhor pode aproveitar os recursos locais, aproveitamento do

património e dos valores locais. A nível regional proporciona o lançamento de infra-

estruturas e de equipamentos sociais que também permitam a instalação de outras

actividades. “O turismo é, portanto, instrumento de desenvolvimento regional podendo

gerar maiores rendimentos na região do que (…) a própria indústria” (Cunha, 1997:

284).

De acordo com as leituras realizadas, muitos autores referem a importância desta

actividade para o desenvolvimento e dinamização de regiões menos desenvolvidas, no

caso do interior do país, como também a própria população e as autarquias, depositam

uma convicção no turismo como meio de superar as dificuldades económicas vividas,

de modo a substituir as actividades convencionais destas regiões. O turismo possui

potencial de desenvolvimento local, pelos efeitos económicos directos, indirectos e

induzidos que gera. Os autores defendem “um desenvolvimento do turismo que, além de

sustentado, possa constituir em componente de um processo de desenvolvimento

multissectorial e integrado, capaz de assegurar a melhoria das condições e da

qualidade de vida dos que escolham viver e trabalhar no interior do país” (Ribeiro e

Mergulhão, 2000: 9).

Segundo Ribeiro e Mergulhão, existem algumas possibilidades de intervenção a

nível estrutural, de modo a servir o turismo, como “quintas pedagógicas, os parques de

campismo de natureza e /ou de montanha, os ecomuseus, os centros e as escolas de

interpretação, a realização de percursos ecológicos e de itinerários temáticos (…),

transportes alternativos (charrettes, burros, etc.)” (2000: 8), entre muitos outros

exemplos que se podem aplicar. Estas iniciativas são de grande importância pelo

número de postos de trabalho que se podem criar, como também uma confiança e

optimismo. É de facto nesta linha que o turismo poderá funcionar como uma alavanca

para o desenvolvimento local, dinamizando, mas também desenvolvendo infra-

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

15

estruturas para sustentar esta actividade e através destas criando postos de trabalho,

gerando riqueza local.

No entanto, alguns autores apresentam também algumas críticas, defendendo

que o turismo rural não impulsiona o desenvolvimento local. De acordo com Joaquim

Graça, é passível afirmar que o turismo rural, “de um modo ou de outro, acaba por

contribuir para a recomposição – e/ou constituição (...) – das elites locais” (in Ferreira,

2003: 301). Contudo, esta actividade traz possibilidades de informação às populações

locais, já que apenas uma influência urbana a pode proporcionar. Apesar disso, “parece

estar ainda por provar que o turismo rural seja capaz de criar os postos de trabalho

desejados junto das populações locais. Normalmente, utiliza mão-de-obra familiar e,

por vezes, já empregada noutras actividades, também estas fontes de rendimento dos

proprietários das unidades de alojamento” (Ferreira, 2003: 301-302). O turismo rural

parece estar assim aquém das expectativas “tanto em termos de criação de emprego

como geração de rendimentos adicionais para as famílias” (Ferrão, 2000: 48), devido à

dependência do consumo urbano e que não tem tido os efeitos desejados.

Tomamos como exemplo, novamente, as regiões do interior de Portugal

Continental, que apresentam uma carência de dinâmica, de reter e atrair população, de

originar investimento e de se adaptar às novas realidades económicas. De acordo com

Manuela Ribeiro e Luís Mergulhão (2000), estas regiões ainda são dominadas pela

actividade económica agrária, pouco modernizada e pouco competitiva. Contudo,

embora haja um crescimento de implementação do turismo nestas regiões, este “é ainda

um sector incipiente e, consequentemente, o seu contributo (…) continua a ser

modesto” (Ribeiro e Mergulhão, 2000: 2).

De facto existem bastantes debilidades, para além das mencionadas

anteriormente, que dificultam o desenvolvimento local através do turismo. Desta forma,

existem também debilidades no funcionamento desta actividade turística, debilidades

“capazes mesmo de travar a concretização de iniciativas empresariais no sector”, que

“incluem o seu elevado e conhecido deficit de capital humano – a rarefacção

demográfica e empresarial; baixos níveis de qualificação da mão de obra; reduzida

capacidade de iniciativa e um diminuto espírito empresarial; fraca capacidade de

investimento, técnica e de gestão, etc.” (Ribeiro e Mergulhão, 2000: 8).

Não podemos deixar de ter em conta que o “Desenvolvimento Local continua

fortemente dependente de medidas definidas ao nível central” (Monteiro e Simões,

1998: 28). Consequentemente, devido a essa dependência, existe um entrave e uma falta

Page 16: Turismo rural e desenvolvimento local

Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

16

de autonomia local, implicando que o desenvolvimento não se processe “segundo os

ritmos desejados e com resultados proporcionais aos investimentos, as reais

necessidades das populações não são satisfeitas” (Monteiro e Simões, 1998: 28).

Como constatamos, os problemas nas zonas rurais não se resumem em

problemas internos, pois devemos olhar esses problemas de forma mais globalizada, já

que estes passam também pela dinâmica das cidades e pela forma como estas atraíram a

população que poderia desenvolver os meios rurais. Segundo Capucha (1996), com o

crescimento das cidades, com a industrialização, a centralização dos serviços em áreas

urbanas e com o desenvolvimento da agricultura moderna, deu-se a concentração de

equipamentos sociais e culturais nas cidades, desprezando assim o espaço rural. João

Ferrão realça também um facto importante. O “futuro dos mundos rurais decide-se, no

essencial, em sede urbana” (Ferrão, 2000: 49). Outros problemas que as zonas rurais

evidenciam são as “condições de acesso a infra-estruturas, equipamentos, serviços e

competências cujo grau de especialização é incompatível com a localização rural”

(Ferrão, 2000: 50). Iniciativas que ajudem o “estabelecimento de redes individuais e

institucionais, a mobilidade de pessoas, bens e conhecimentos e o desenvolvimento de

soluções locais multiuso” (Ferrão, 2000: 50), só neste sentido se poderá colmatar, ou

pelo menos minimizar, a inexistência de limiares mínimos de desenvolvimento.

Em suma, embora haja muitas contradições com o espaço rural por ele ser um

espaço em que o desenvolvimento económico não se nota em abundância, o espaço

rural “reforçou a sua reserva de espaço físico, já não para novas localizações

industriais, mas na perspectiva de constituição de uma reserva ecológica, patrimonial e

cultural” (Capucha, 1996: 33). Este é o único recurso que o espaço rural ainda possui e

pode desenvolver.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

17

CAPÍTULO II – MODELO DE ANÁLISE

O desenvolvimento do nosso projecto incidiu numa aldeia do concelho da

Covilhã, onde se localizada a nossa instituição de ensino, seleccionada de forma

intencional, por razões de ordem financeira e particular. A selecção desta aldeia teve em

conta as características em causa para o nosso estudo, ou seja, uma aldeia que possui,

essencialmente, características rurais e a existência da prática de turismo rural. Fizemos

também a selecção de forma cautelosa tendo em conta a influência urbana reduzida e

um espaço geográfico relativamente distanciado de centros urbanos. Seguindo estes

argumentos atrás indicados, a nossa opção quanto ao local, recaiu sobre a freguesia Vale

Formoso, situada a 22 km da sede do concelho e com 638 habitantes de acordo com

dados fornecidos pela Câmara municipal. Esta aldeia é caracterizada pela situação

geográfica onde se encontra. No interior desertificado, envelhecido, rural e com

carências económicas. Estes factores (geográfico, económico, social e cultural) são

decisivos para compreensão dos fenómenos sociais existentes e na contextualização

destes fenómenos. A unidade produtiva dominante consiste na agricultura,

predominantemente na fruticultura. Através da pesquisa exploratória determinamos

também a existência de actividades económicas como: construção civil, carpintaria e um

pequeno comércio. São também realizadas mensalmente as feiras (2ª quarta-feira de

cada mês). Como património cultural e edificado: há uma igreja matriz, uma fonte

velha, a capela de Nossa Senhora da Saúde, o forno comunitário, as janelas manuelinas

e vestígios romanos e também locais de interesse turístico como um miradouro e

artesanato.1

Tendo em conta os objectivos definidos para este estudo (analisar o turismo rural

na aldeia de Vale Formoso; identificar e caracterizar o espaço onde ele se desenvolve;

perceber o impacto que o turismo rural tem na aldeia de Vale Formoso), procurámos

orientar-nos através de algumas dimensões de análise, deixando em aberto a

possibilidade de novos rumos no decorrer do projecto. Desta forma, o turismo rural em

Vale Formoso só será promotor do desenvolvimento local se:

a) contribuir para a criação de postos de trabalho;

b) promover a implementação de novas infra-estruturas;

1 Dados recolhidos através da internet e após uma pequena visita de exploração à aldeia

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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c) fomentar uma parceria entre as entidades locais com vista a uma articulação com

fins económicos;

d) possibilitar o aproveitamento económico de outros recursos que a aldeia possui;

e) existir um marco de atracção turística.

1. Metodologia de investigação

De forma a dar continuidade ao enquadramento teórico do capítulo precedente,

iremos apresentar algumas linhas de análise que nos vão orientar na aplicação da teoria

no terreno. Deste modo, face ao que analisámos e à trajectória que seguimos, tornou-se

pertinente levar a cabo a elaboração de um estudo de caso. No entanto, para uma

compreensão mais ampla, não só fizemos uma abordagem analítica da aldeia referida,

como também uma abordagem comparativa com outro(s) estudo(s) de caso. O estudo de

caso consiste numa “categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa

aprofundadamente” (Triviños, 1987: 133). No estudo de caso qualitativo “nem as

hipóteses nem os esquemas de inquisição estão aprioristicamente estabelecidos, a

complexidade do exame aumenta à medida que se aprofunda no assunto” (Triviños,

1987: 134).

Dito isto, numa primeira análise exploratória de forma a detectar os pontos de

enfoque, utilizámos dados disponíveis na internet e, posteriormente, realizámos uma

visita à aldeia, de forma a explorar as actividades sociais/ económicas. Abordámos

também alguns elementos da população, através de algumas conversas informais, com o

objectivo de captar novas ideias. Isto porque, tendo em conta Carlos Moreira (1994:

97), “o investigador procura sempre estar o mais receptivo possível a novas ideias,

novas sugestões, novas relações que possam surgir no que os informantes dizem e

fazem”.

Para o projecto optámos por uma metodologia qualitativa, devido à

especificidade do que ambicionamos apurar e, também, porque a metodologia

qualitativa “responde com clareza quando ao investigador interessa «mapear e

compreender o mundo da vida dos respondentes» fornecendo-lhe uma «‘descrição

detalhada’ de um meio social específico»” (Gaskel, in Santos, 2004:39). Por isso, uma

abordagem quantitativa levar-nos-ia a uma análise mais superficial e extensiva e o que

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

19

pretendíamos era uma análise aprofundada e intensiva para poder chegar a uma

conclusão em relação às dimensões de análise.

Outra das razões para a nossa opção deveu-se ao facto da análise qualitativa ter

como vantagem a flexibilidade, “uma vez que as categorias de análise não são rígidas

nem a análise está restrita a uma fase em que os dados já tenham sido recolhidos”

(Moreira, 1994: 97).

Em suma, e uma vez especificada a metodologia utilizada, optámos por

“seleccionar as técnicas adequadas, controlar a sua utilização, integrar os resultados

obtidos. A metodologia será, assim, a organização crítica das práticas de investigação”

(Almeida e Pinto, 1995: 92). Deste modo, escolhemos as técnicas que mais se adequam

para dar resposta à pergunta de partida e ao objectivo do trabalho. Uma vez

seleccionados os focos principais a analisar, em que esses são compostos por pessoas

que os representam, escolhemos a entrevista como técnica principal, utilizando

entrevistas semi-estruturadas e também a realização de pesquisa documental. Estas

serão semi-estruturadas, ou seja, “o entrevistador faz sempre certas perguntas

principais mas é livre de alterar a sua sequência ou introduzir novas questões em busca

de mais informação. O entrevistador tem, assim, possibilidade de adaptar este

instrumento de pesquisa ao nível de compreensão e de receptibilidade do entrevistado”

(Moreira, 1994: 133).

Já no que diz respeito à pesquisa documental, esta será utilizada para a

exploração inicial do campo de estudo. Esta pesquisa caracteriza-se pela colecta de

dados, “escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias” (Lakatos

e Marconi, 1996: 174). Como forma a complementar este estudo, ao longo do processo

de recolha de dados procuraremos informações documentais que sejam válidas para

futuras conclusões. Contudo, não iremos simplesmente trabalhar com dados primários.

No decorrer do trabalho empírico poderá haver a necessidade de recolher dados

secundários.

A escolha dos informantes, deve ser feita com a máxima atenção, embora

saibamos que esta selecção poderá ser alterada no desenvolvimento da pesquisa, por

falta de tempo, inadequação, entre outras. Tal como Augusto Triviños sustenta, a nossa

escolha seguiu o critério da aproximação e realização de contactos informais iniciais

com as pessoas envolvidas no processo social que queremos estudar (Triviños, 1987).

Desta forma e de acordo com a nossa pergunta de partida e as dimensões de análise

definidas, tendo em conta que o estudo se baseia numa metodologia qualitativa,

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

20

optámos por seleccionar, como já referenciado, alguns representantes das entidades que

determinamos como “vértices” importantes da aldeia. Desta forma, partindo destes

“vértices”, poderemos detectar uma possível existência de uma teia que envolva o

turismo rural na aldeia de Vale Formoso e o seu desenvolvimento local. Assim, o leque

de pessoas a entrevistar, seleccionadas de forma estratégica, é constituído por: o

proprietário da casa; a empregada de limpeza; o proprietário do restaurante; o

proprietário da mercearia; o artesão; o presidente da Junta de Freguesia.

Segundo Platt, será importante “tratar os casos de estudo com base em critérios

explícitos e ordenados. (…) Nas entrevistas qualitativas devem ser colocados os

mesmos tópicos (e respectivas variações) a todos os inquiridos; e devem ser feitos todos

os esforços no sentido de explorar com idêntico pormenor cada ocorrência de

fenómenos significativos” (in Moreira, 1994: 97).

Seguindo este ponto de vista, o guião, que aqui apresentamos, será a orientação

para as nossas questões no estudo empírico. Essas orientações foram formuladas de

acordo com o que queremos compreender e tendo em conta o nosso corpo teórico. As

questões gerais são constituídas por perguntas similares a todos os entrevistados, de

forma a detectar a coerência e consistência das opiniões recolhidas. As questões

específicas a cada pessoa a entrevistar visam adquirir informação sobre a aldeia e a casa

turismo rural, tendo em conta a entidade que representam.

Será importante, para nós, esta diversidade de perspectivas entre as várias

entidades envolvidas, de forma a elaborarmos pistas conclusivas acerca do

desenvolvimento social, económico e cultural da aldeia de Vale Formoso com base no

turismo rural.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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CAPÍTULO III – ANÁLISE DE DADOS

O nosso objectivo passa por responder à pergunta de partida. Desta forma, neste

ponto, pretendemos através das dimensões de análise, aprofundar e explorar através das

informações recolhidas com o intuito de responder à questão em causa e também

perceber o porquê das situações com que nos deparamos. Contudo, como sabemos a

realidade é complexa e diversificada, as dimensões de análise propostas serão apenas

«pontos num universo». Por isso, “uma observação séria revela frequentemente outros

factos além dos esperados e outras relações que não devemos negligenciar” (Quivy,

1998: 211). Deste modo, após a análise empírica, será pertinente, em função dos factos

inesperados, se necessário, elaborar uma revisão às dimensões de análise, propondo

indícios de reflexão para futuras investigações. Para alguns autores, esta noção ganha

mais ostentação quando se trata de interpretar dados numa pesquisa qualitativa. Na

pesquisa qualitativa, a sua dimensão subjectiva “favorece a flexibilidade da análise dos

dados. Isto permite a passagem constante entre informações que são reunidas e que, em

seguida, são interpretadas, para o levantamento de novas hipóteses e nova busca de

dados” (Triviños, 1987: 170). Por «dados» ou «materiais» entendemos, que significam

aquilo que, nós enquanto pesquisadores procuramos em torno do fenómeno social que

queremos estudar (desenvolvimento local).

Para Augusto Triviños, para que os resultados da pesquisa sejam científicos,

devem aglomerar a coerência, a consistência, a originalidade e devem conter a

objectivação (não a objectividade) por um lado, aspectos do critério interno da verdade,

e por outro lado, a intersubjectividade, o critério externo. Deste modo, no que diz

respeito à análise das entrevistas, que nós elegemos como técnica principal na recolha

de informação, estas devem ser analisadas de forma preliminar e com a máxima

atenção, para podermos classificar ou agrupar as respostas, detectar divergências,

conflitos, vazios e pontos coincidentes. Assim, esta análise permitirá proceder a

elaboração de uma lista final das respostas. O material analisado e classificado

permitirá, se necessário, uma proposta, apresentada a partir das nossas conclusões,

como alternativas que nos permitirão elaborar um esquema de interpretação e de

perspectivas sobre o nosso estudo (Triviños, 1987).

De acordo com Diogo Moreira, para o caso das entrevistas qualitativas

“continua-se, por regra, a recorrer ao método mais simples e directo de transcrição”

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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(Moreira, 1994: 141). A nossa transcrição, das entrevistas, foi selectiva apenas após

uma audição atenta das entrevistas gravadas, e que detectamos alguns pormenores de

linguagem desnecessários e também algum conteúdo de conversas que não carece de

importância. Assim, embora não se possa dizer que a transcrição das entrevistas tenha

sido integral, no sentido lato da palavra, será necessário deixar presente que não está

longe disso.

1. Análise empírica

De acordo com o modelo que optamos, o modelo territorialista, para a

estruturação da análise empírica e definição das dimensões de análise, podemos dizer

que, houve uma auto-organização dos actores locais, já não podemos afirmar que essa

organização teve como finalidade o desenvolvimento local. Esta perspectiva assenta no

desenvolvimento endógeno, ou seja, o desenvolvimento tem que iniciar no interior da

aldeia, a partir de baixo, das populações. No caso da aldeia em estudo, podemos afirmar

que aldeia aproveitou os factores externos, provenientes da região onde se situa,

prescindindo dos endógenos, possivelmente, porque em termos económicos torna-se

muito mais amplo e fiável. De referir também, que apenas limitamos as fronteiras da

aldeia, com o intuito de poder melhorar os resultados apurados tentando excluir

qualquer interferência externa.

O processo territorialista na aldeia de Vale Formoso prova então que não houve

aproveitamento endógeno embora exista uma cooperação e auto-organização interna por

parte de algumas pessoas. Tal como tínhamos afirmado no primeiro capítulo, o

desenvolvimento local deve engrenar por uma conjugação de elementos de natureza

funcionalista e territorialista (Quintas 2000), os programas existentes de

desenvolvimento territorial foram essenciais na implementação destas actividades na

aldeia. Contudo, tal como tínhamos referido, o processo de activação implica que os

indivíduos estejam informados destas medidas, como por exemplo os programas, são os

indivíduos que se têm de organizar, aí faz sentido apenas focar no modelo territorialista,

tal como havíamos defendido no primeiro capitulo, mas devemos não por de parte o

modelo funcionalista porque sabemos que é essencial. Assim, perante estas noções

Page 23: Turismo rural e desenvolvimento local

Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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através do modelo territoralista podemos dar resposta aos dois modelos, como havíamos

dito no primeiro capítulo.

No modelo territorialista optamos pelo partenariado, que, como já definimos,

exige a participação activa dos actores. A participação é, assim, fundamental para que o

paternariado se desenvolva. Deste modo, embora possamos dizer que houve alguma

iniciativa na aldeia com o intuito de atingir algumas dimensões do partenariado,

definidas no primeiro capítulo, que eram três dimensões referenciadas por José

Henriques: “a existência de um projecto-esperança referenciador da acção individual e

colectiva, um processo de defesa e de mobilização de recursos tendo em vista a

satisfação das necessidades básicas nas comunidades locais e a animação da

solidariedade activa para a reconstrução da vida sócio-comunitária” (Henriques,

1993: 90). Podemos dizer que a tentativa falhou. A reintrodução das actividades

artesanais não teve efeitos e não constatamos mais nenhuma actividade ou iniciativas,

relacionada com o turismo rural em Vale Formoso que pudesse ser equacionada tendo

em conta as referências atrás expostas.

Não obstante, é sobre esta perspectiva, o modelo partenariado, que iremos

analisar e agrupar os dados recolhidos e tecer algumas conclusões ou focos de análise

para futuras intervenções nesta temática.

1.1. Implementação e divulgação do turismo rural na aldeia de Vale Formoso

A actividade turística em Vale Formoso caracteriza-se, segundo a portaria nº

937/2008 de 20 de Agosto de 2008 presente no Diário da República, 1ª Série, nº 160,

artigo 5º, sobre a noção de casa de campo, pode ler-se o seguinte: “são casas de campo

os imóveis situados em aldeias e espaços rurais que prestem serviços de alojamento a

turistas e se integrem, pela sua traça, materiais de construção e demais características,

na arquitectura típica local”2. Como podemos observar, pela definição presente na lei,

a casa de turismo rural onde incidiu o nosso estudo é uma casa de campo, inserida na

aldeia de Vale Formoso e com traços típicos da região.

A implementação e a promoção do turismo rural, tal como Brígida Brito (2000)

tem afirmado, a promoção do turismo rural acontece pela via familiar ou caseira, devido

2 Referência bibliográfica presente na bibliografia digital

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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à maior parte das situações a propriedade pertence à família, a pequenas e médias

empresas e possuem um volume de negócio baixo. Este facto é comprovado no nosso

estudo na aldeia de Vale Formoso. De acordo com os dados fornecidos, podemos

determinar que a implementação da casa de turismo rural consistiu no aproveitamento

de uma quinta e a possibilidade de criação de auto-emprego. Também de referir, a

influência do Presidente da Junta da Freguesia, na origem da ideia e também na

concretização da mesma, existindo assim, uma cooperação entre ambos.

“O presidente da junta, nessa altura, disse-me: «isto ainda tem que ser um

Turismo Rural (…) faça uma candidatura, pode ser que tenha sorte» e numa

brincadeira, eu meti” (Proprietária da casa de turismo).

Constatamos, mediante as entrevistas realizadas, que esta implementação teve a

tentativa de complementar os recursos da aldeia interligando com o turismo rural e a

instância de Ski artificial, e também por estar numa região turística atractiva.

“Há muitos, que no início, vinham mesmo só para o Ski. E depois tentam

arranjar casa, alojamento e como isto aqui fica perto, daqui até lá são 10 minutos”

(Proprietária da casa de turismo).

No que diz respeito à implementação do restaurante, este deveu-se ao

aproveitamento de uma casa e à possibilidade de criação de auto-emprego. Assim,

podemos dizer que a criação do emprego próprio foi razão essencial para a abertura

deste restaurante, numa aldeia em que existem poucos postos de trabalho, esta pode ser

uma possibilidade.

"Foi uma oportunidade. Foi também uma mudança de vida. Eu já tenho um

curso ligado às técnicas de hotelaria, e trabalhava já em hotelaria. Já trabalhei no

norte, já trabalhei no sul e conheço minimamente a hotelaria em Portugal e, então, com

um sócio começamos a falar e conseguimos aqui um espaço.” (Proprietário do

restaurante.)

Quanto às mercearias, estas consistem em comércios tradicionais das aldeias,

não tiveram qualquer influência com o turismo rural, nem o turismo rural influenciou a

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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implementação de alguma. Já existiam e os postos de trabalho mantiveram-se. A

presença de turistas nas mercearias é remota, com a excepção de uma mercearia por se

tratar, possivelmente, de pertencer à família da proprietária da casa de turismo rural, que

neste caso o dono desta é o pai da proprietária da casa de turismo. A influência consiste

apenas em alguma logística, alguns produtos.

“No turismo há pequenos-almoços. Ela (a dona) leva pão e, de vez, em quando,

fiambre, para dar o pequeno-almoço de manhã aos hóspedes, mais nada” (proprietária

da casa de turismo).

Quanto à divulgação, esta mostrou-se complicada, devido à inexistência de

colaboração e cooperação das entidades autárquicas e até a nível regional. Por exemplo:

os intervenientes queixam-se do elevado custo de publicidade quer a nível da internet ou

placares nas estradas. Neste caso constata-se a não existência de uma pareceria entre os

vários intervenientes locais para a realização da divulgação da aldeia. Podemos afirmar

que não existe iniciativa individual ou em parceria limitando-se às informações e

orientações centrais ou da Administração Local.

“Nem temos apoio de publicidade, que é muito mau, portanto, tem que ser tudo.

Pela internet, nós temos que pagar, não temos apoio de nada porque eu acho, que eles

deviam divulgar, nem tanto os hotéis, mas estas casas pequeninas, portanto, o turismo,

porque se a gente empatou dinheiro e estamos aqui à espera de hóspedes, acho, que

deviam divulgar mais o turismo” (Proprietária do turismo rural).

A inexistência de rotas turísticas bem definidas ao nível regional dificulta

também a divulgação. Contudo, tendo em conta às características (classe média alta) dos

turistas que frequentam a casa de turismo, não evidente que isso possa prejudicar ou

não, já que os turistas que vêm, têm conhecimento através da internet e têm autonomia

nas suas orientações.

"A divulgação é sempre complicado, com as novas tecnologias é muito fácil

saber o que há nas regiões, eu creio que sim, que está bem divulgado, com folhetos.

Agora para se fazer uma casa com muita fama e fazer do seu trajecto por Vale

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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Formoso. Mas quando nós vemos pessoas a repetir, tanto no restaurante como na casa

de turismo é porque gostaram, por isso, é muito bom." (Presidente da Junta).

“Um indivíduo entra aqui, e não tem certo acompanhamento, não tem certo

rumo…é mete-se num carro, sobe a zona da Covilhã, desce para Seia, sobe por

Gouveia, desce por Manteigas, viu a Serra mas não teve um acompanhamento, não teve

uma placa a dizer por onde é que está a passar, a que altura está (agora já umas placas

a dizer), não sabe o nome da lagoa por onde passou. Quer dizer, o turista vem e anda

um pouco a deus dará, tem pouca informação, aliás a informação que têm, dão conta

da existência de aldeias históricas, mas não tem aquela informação para ele vir”

(Proprietário do restaurante).

Outros factores importantes seriam, a divulgação e o aproveitamento de

vestígios romanos e demarca-los como marcos turísticos locais, algo que não se

verificou como aproveitado. Por exemplo: o caso do miradouro, um forno romano e as

fontes romanas.

"Existe cá um miradouro que dá para ver o vale e existem duas fontes romanas"

(Artesão).

“Portanto o turista que vem aqui não fica arrependido de conhecer uma aldeia

histórica, creio que passaram cá os romanos, há vestígios calçada romana e havia

também um forno romano, mas não foi possível recuperar e então meteu-se areia e

terra e está tapado, vieram cá o EPA. (...) Era muito complicado, era muita despesa,

casas deitadas a baixo, aquilo não se sabe bem se era um forno para fazer cerâmica ou

para aquecimento de águas" (Presidente da Junta).

1.2. A procura e a oferta turística

No que diz respeito à procura turística, denota-se que teve alguma influência,

principalmente, na pista de Ski artificial, que se situa no concelho de Manteigas e o

proprietário é o Presidente da Junta de Vale Formoso, como também a neve na Serra da

Estrela. Outra influência, menos visível, mas que se constata através das entrevistas, é o

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restaurante da aldeia. Neste estudo de caso não é visível, tal como tínhamos referido no

primeiro capítulo, a procura pelo modo de vida rural por aqueles que frequentam a casa

de turismo. Os turistas procuram esta casa de turismo por ser um espaço rural, mas não

com a intenção de viver esse espaço de forma rural. Assim, a definição de Marc

Mormont (in Ferreira 2003) da ruralidade não se encaixa no nosso estudo.

De referir também, de acordo com os relatos da proprietária, que os turistas que

procuram o turismo rural em Vale Formoso, caracterizam-se maioritariamente por

pertencerem à classe alta.

“Vêm de todas as idades. (…) Graças a deus, têm vindo pessoas de todas as

profissões, desde arquitectos, a advogados, engenheiros, de todas as classes, (…) mas

geralmente vem uma classe assim mais média-alta. Estrangeiros também vêm muitos”

(Proprietária da casa de turismo).

No que concerne à existência de um marco de atracão turística, não se pode

dizer que ele ou eles existam de forma significativa, que leve à sua procura por parte

dos turistas. Contudo, devido à situação geográfica da aldeia e da presença de um marco

turístico nacional e internacional, a Serra da Estrela, essa falta é colmatada e faz, assim,

algum sentido a presença do turismo rural, evidenciando-se como mais uma oferta

turística na região da Serra da Estrela.

"É a neve, a nossa atracção aqui é a neve. Caso contrário, não há outro

atractivo, que é pena não haver na nossa zona outros atractivos sem ser na altura da

neve, porque a nossa época alta é o inverno e no verão os preços vão para baixo."

(Proprietária da casa de turismo).

Para além da Serra da Estrela, os marcos turísticos mais assinaláveis ficam numa

cidade próxima, Belmonte. É outro dos locais de destino dos turistas da casa de turismo

rural. Outra ideia do que poderia ser um marco turístico local, embora seja uma festa

sazonal, é a descoberta da moura, que é designada pelo presidente da junta como um

marco turístico local. Assim, podemos ver que poderia haver mais divulgação de alguns

locais da aldeia ou festividades que deveriam ser mais publicitados de forma a trazer

mais pessoas para aldeia e, talvez, proporcionar mais estadias na casa de turismo rural e/

ou até mais crescimento económico na aldeia.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

28

“Agora vou tentar reavivar um marco teatral, fiz há dois anos, a descoberta da

moura já a 49 anos que não era feita e este ano vamos tentar fazer novamente”

(Presidente da Junta).

1.3. Criação de postos de trabalho e contributos para o desenvolvimento local

No que diz respeito à primeira dimensão, podemos observar que houve criação

de postos de trabalho. Foram criados seis ou sete postos de trabalho, dependendo da

existência ou não de hóspedes na casa de turismo rural. Assim, a casa de turismo rural

criou um posto de trabalho directo e possivelmente um trabalho informal de uma

empregada de limpeza.

“Não, é só meu (…). As pessoas que trabalham, para mim nunca podem, só

vinham às vezes cá a casa fazer limpeza. Mas agora não é sempre porque, quando

tenho hóspedes, ela (a empregada) vem porque tenho acesso, como ela está na escola,

que faz quatro horas na escola, portanto, se eu de manhã tiver hóspedes, das nove ao

meio-dia, tenho acesso à moça e, então, é a única agora que tenho. (...) Só vem aqui

como um hobbie" (Proprietária da casa de turismo).

“Somos dois sócios e três empregados a volta do restaurante estão cinco

pessoas” (Proprietário do restaurante).

Contudo, para apurar de forma mais concreta o peso absoluto em termos

percentuais os postos de trabalho criados teremos que estabelecer uma relação entre os

postos de trabalho criados e a população activa do total dos habitantes da aldeia.

Retomando a temática principal do nosso trabalho, o desenvolvimento local na

aldeia de Vale Formoso e tendo em conta, a pergunta de partida do trabalho, podemos

dizer que o turismo rural promove algum desenvolvimento na aldeia, no entanto, isso

acontece de uma forma muito incipiente no que se refere à criação de postos de

trabalho, podendo dizer-se, relativamente a esta realidade, que não existe mais

dinamização para além da casa de turismo e do restaurante, por isso, os postos de

trabalho criados por estas duas entidades já têm algum significado para a aldeia.

No que se refere à segunda dimensão, podemos referir que a promoção de novas

infra-estruturas é escassa. Existe algumas dicotomias de opiniões nesta resposta.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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Podemos ver que para uns as auto-estradas foram benéficas porque criaram mais

acessos ao interior do país, mas para outros as auto-estradas serviram para as pessoas se

afastarem da aldeia, já que não necessitam de passar pela entrada da aldeia para poder ir

para outros locais, como antigamente o faziam.

"Quando fizeram a A23 tivemos uma queda muito grande porque os

estrangeiros vinham, apanhavam a A23 e seguiam para Lisboa, Porto ou Coimbra ou o

Algarve e antigamente não. Saíam em Vilar Formoso, metiam-se na Nacional 18 e

passavam pelas placas e entravam, agora não é tanto porque não nos deixam por

informação nas auto-estradas, é só o convento de Belmonte” (Proprietário do

restaurante.)

Aqui podemos ver que a resposta sobre as infra-estruturas criadas na aldeia foi

algo desviada para assuntos mais ligados ao exterior da aldeia. Por esse motivo nota-se

que as únicas infra-estruturas associadas ao turismo rural foram a iluminação e algumas

placas indicadoras da existência de Turismo Rural. Contudo, as auto-estradas não foram

construídas no intuito de servir o turismo da aldeia. Este enviesamento de respostas

leva-nos à conclusão de que se tornou uma questão complicada de resposta, ou pela

quase inexistência de factos ou pela dificuldade de os relacionar com o turismo rural da

aldeia. Deste modo as infra-estruturas foram escassas, tal como tínhamos referido no

primeiro capítulo, com alguns exemplos passivos de servirem juntamente com o turismo

rural, para promoverem desenvolvimento local, quintas pedagógicas, parques de

campismo, etc. Não se registou qualquer tipo de infra-estruturas do género, embora

possamos dizer que o restaurante se poderá incluir neste caso, devido à sua

implementação ter sido posterior e estar relacionada com o turismo rural da aldeia.

“Não, antes do turismo rural não havia nenhum restaurante, nasceu primeiro o

turismo rural e em seguida houve, (…) havia aqui uma antiga padaria, e os netos do

padeiro, eram jovens e gostam muito da aldeia, e eles quiseram fazer o restaurante.

Tiveram muitas dificuldades, o restaurante é de um nível muito bom para receber já os

turistas, portanto estamos no bom caminho” (Presidente da Junta).

Contudo, será importante referir este aspecto, de que não nos parece suficiente

para afirmarmos que houve uma grande aposta. Poderíamos avançar com uma possível

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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causa, provavelmente pela falta de iniciativa de outros habitantes da aldeia ou devido à

procura ser escassa. Os investimentos a nível financeiro são dispendiosos e isto requer

que haja retroactivos.

De referir também, tal como Ribeiro e Mergulhão (2000), defenderam, para que

o turismo rural possa servir de alavanca para o desenvolvimento local será necessária a

criação de infra-estruturas de apoio. Contudo, no nosso entender estas estruturas de

apoio exigem uma manutenção revela-se dispendiosa. Desta forma esta manutenção só

será possível se houver procura mínima de turistas para a sustentação de tais estruturas,

como foi visível nas entrevistas, a dificuldade actual em manter os empreendimentos de

turismo rural e de restauração da aldeia de Vale Formoso.

De acordo com Quintas, as regiões devem articular os seus elementos internos

com os elementos externos para se alcançar o desenvolvimento endógeno. “Deverão,

igualmente, integrar saberes tecnológicos mais avançados com saberes e culturas

tradicionais, que permitam valorizar as suas especificidades e o seu potencial

endógeno” (Quintas, 2000: 3). Neste aspecto não podemos dizer que não houve

articulação entre os elementos internos com os externos. Podemos verificar, que tendo

em conta o aproveitamento económico de alguns recursos da aldeia, os produtos

tradicionais existentes na aldeia são poucos e os que existem são da região e não da

aldeia. A gastronomia também não é própria da aldeia, mas sim novamente da região.

Por isso, o turismo rural em Vale formoso está dependente de factores externos, como

por exemplo os marcos turísticos, externos à aldeia, como o caso da Serra da Estrela, do

concelho de Belmonte, entre outros. A gastronomia também é um factor externo, não

existe gastronomia única da aldeia, existe sim da região. Os únicos locais que podem ser

considerados como marcos turísticos são o miradouro, as fontes romanas, um forno

romano que foi tapado, e algumas festas, como a descoberta da Moura. Neste ponto de

vista, será o que faz mais falta na aldeia a existência de um marco turístico de

referência.

No que podemos apurar, o artesanato já não é uma tradição, nem tão pouco uma

profissão. A profissão de artesão, no caso de Vale Formoso, é uma profissão geracional,

passa de pais para filhos, segundo o artesão entrevistado. No entanto, é uma profissão

que tende a acabar. Podemos apontar algumas razões, sugeridas pelo artesão. Há pouca

gente a comprar, os apoios que existem para a modernização desta área são de difícil

acesso porque é necessário investir primeiro para receber retorno do investimento e

numa família com poucas possibilidades financeiras, isso é um problema. Deste modo,

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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as políticas e os modelos de intervenção, de acordo com o que apuramos, não foram

adequados às necessidades. Também constatamos que o tipo de materiais produzidos

pelo artesão (cadeiras), correspondem mais a uma necessidade de outras épocas, e não

tanto de forma significativa constitui um atractivo turístico. Não existiu nenhuma

cooperação, entre, o artesanato e o turismo rural. Quando o turismo rural foi

implementado o artesanato já estava em extinção.

"Artesanato, não dá” (Proprietária da casa de turismo).

Não existe venda de produtos tradicionais nas mercearias devido à

implementação de uma lei que proíbe a venda de produtos «caseiros», ou produtos que

não tenham autenticação pelas entidades legitimadas para tal. Podemos ver o

descontentamento que existe por parte da proprietária da mercearia. Demonstra

desagrado com as exigências que se colocam na venda de produtos e no próprio

fornecimento dos mesmos, já que não lhe é possível vender qualquer produto, têm que

vir de determinados locais, certificados.

“Não, agora não pode vender nada disso…o queijo tem que ter um rótulo…há

muita coisa que não se pode vender” (Mercearia II).

Esta situação para ela traz bastantes encargos, já que as despesas são maiores

que os lucros. Por exemplo as mercearias não podem vender fruta da aldeia, porque não

existe nenhum armazém capacitado para tal. A fruta dos agricultores vai então,

maioritariamente para Lisboa. Assim, a compra de fruta é feita a uma empresa de

distribuição nacional, em que os produtos vêm todos de um armazém da área de Lisboa.

Por este motivo, os produtos da terra não são vendidos na loja, porque não têm

certificado de qualidade. Segundo o dono da mercearia, era necessário que existisse um

armazém, onde se pudesse ir buscar os produtos da aldeia.

O aproveitamento dos recursos poderia resultar de uma cooperação entre mais

elementos da aldeia. Contudo, devido à dificuldade de condução à cooperação, como no

caso dos agricultores, esta cooperação não se tem conseguido atingir devido a terem

uma atitude individualista. Podemos observar a falta de parcerias por parte dos

agricultores para que possam ter o produto da aldeia a ser vendido na aldeia. O

Presidente da Junta já manifestou, segundo a entrevista, a vontade de tentar implementar

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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uma cooperação entre os agricultores, com vista à realização de um armazém, uma

Cooperativa, para melhor aproveitar os recursos da terra. Contudo, este facto tem-se

mostrado inexequível, em parte, devido ao pensamento conservador e individualista dos

agricultores.

“Falando do produto que mais temos aqui, os agricultores, se tivessem mais

unidos, podiam em grande, comprar o mesmo produto e em vez de comprarem cem

litros, compravam um milhão de litro. Fazendo uma espécie de cooperativa. Mas é

complicado. Há aí já uns jovens mais unidos, como o Chico do Turismo Rural, o

Firmino ou o Micha, com mais uma abertura e estou convencido que daqui a meia

dúzia de anos estarão muito mais unidos e a defenderem-se. Eu gostaria imenso de ver

aqui um bom armazém. A grande parte que fará falta aqui é a comercialização. Nós

temos as cooperativas, mas a cooperativa, pode funcionar muito no país de leste, mas

em Portugal não funcionaram grande coisa” (Presidente da Junta).

De acordo com os dados recolhidos e tendo em conta o nosso corpo teórico, não

se pode dizer que a aldeia de Vale Formoso se caracteriza por mundo rural não agrícola.

A actividade agrícola é dominante na aldeia, emprega grande parte da população.

Também nesta linha, não existe a valorização do património nem protecção do

património histórico e cultural. Assim, como podemos observar pelas palavras do

presidente da junta, existe um grande pedido de mão-de-obra por parte da agricultura, já

que é o tipo de trabalho mais recorrente na aldeia. Ainda continua a ser a grande

possibilidade de emprego de alguns indivíduos na aldeia.

“(...) empregam muita gente, mesmo até das aldeias aqui à volta. Muitos

trabalham nas confecções, mas também muitos na agricultura.” (Presidente da Junta).

Tendo em conta a quarta dimensão de análise, há algum aproveitamento

económico dos recursos da aldeia, no entanto, nem todos são aproveitados.

“Eu já tentei por aqui, fazer os meus doces. As pessoas no início compravam, as

pessoas vinham e queriam levar alguma coisa da zona, como as mantas serranas, mas

hoje já não levam nada, as pessoas vêm dormir, tomar o pequeno-almoço, ir passear,

mas não levam nada" (Proprietária da casa de turismo).

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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Denota-se que na aldeia não existe a venda de produtos tradicionais locais.

Apenas existe a venda de alguns produtos tradicionais exteriores à aldeia, embora sejam

da região.

"Sim, temos produtos artesanais aqui expostos, para venda. São feitos por uma

senhora em Belmonte." (Proprietário do restaurante).

Uma das explicações para isto pode ser o desaparecimento dos artesãos, a

proibição de vender alguns produtos tradicionais em mercearias, devido à falta de

certificação de qualidade. Podemos ver também que não há uma gastronomia própria da

aldeia. No entanto, aquilo que os entrevistados consideram ser gastronomia tradicional,

são na verdade pratos regionais.

“A aldeia em si, e visto que está inserida na Serra da Estrela, a gastronomia

acaba por ser um pouco a gastronomia da Serra da Estrela, temos as cherovias, o arroz

doce, as papas de carolo, o cabrito, a truta, prontos, pratos próprios da região”

(proprietário do restaurante).

"A gastronomia, na nossa freguesia, e posso-lhe dizer que a região mesmo

daqui é o cabrito é o bacalhau, os enchidos, porque se fazia a matança do porco mas

agora é proibido. (...) A tradição vai-se perdendo" (Presidente da Junta).

As duas festas sazonais que se realizam na aldeia em que só o proprietário do

restaurante vê como benéfico para a publicidade do seu restaurante. Em relação aos

outros entrevistados isto não acontece que normalmente as pessoas que vêm às festas

são da terra, mesmo estando a viver fora, acabam por ficar em casa de familiares e não

vão para a casa de turismo rural, nem vão à mercearia.

"Aqueles que vêm (às festas) têm os familiares e vão para a casa deles. Para

aqui praticamente não vem ninguém" (proprietária da casa de turismo).

“Conforme, a Aldeia tem duas festas grandes anuais (Festas do Santo Antão e

da Senhora da Saúde). A de Santo Antão é mais para os locais, até porque foi agora em

Maio, é noutra altura do ano. A da Senhora da Saúde é a que trás mais gente porque é

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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nas férias, é quando os emigrantes cá estão, quando vêem aqueles que se deslocaram

para Lisboa, para o Porto ou para outras partes do país. Temos de 2 em 2 anos a

descoberta da Moura que já é um evento grandioso demais para a aldeia que é…e

então é isso, ai vêem muita gente de fora, Guarda, Belmonte, Covilhã, gente da região

já. Estas festas trazem contributo” (Proprietário do restaurante).

Em relação à doçaria só o restaurante e a casa de turismo rural proporcionam,

aos seus clientes, alguns doces feitos com produtos da aldeia, como é o caso da fruta.

"Os doces são feitos todos cá na quinta, todos os dias há doces diferentes"

(Proprietária da casa de turismo).

Devido ao problema destes produtos não poderem ser vendidos nas mercearias,

eles não existem em todo o lado.

"Não. Antigamente vendia-se” (Mercearia I).

Tendo em conta ainda os produtos feitos com fruta da região, podemos observar

o mesmo que na situação anterior. A casa de turismo rural dá aos seus hóspedes sumos

de fruta da aldeia, enquanto a mercearia não o pode fazer devido à imposição de compra

nos armazéns.

"Quando é altura do pêssego, há sempre um agricultor ou outro que nos dá uma

caixa ou outra e depois a gente faz uma sobremesa com este pêssego, umas entradas

com este pêssego, uns acompanhamentos. Tentamos sempre gastar produtos de cá"

(Proprietário do restaurante).

"Eu dou aos hóspedes no inverno o sumo de pêssego, e eles adoram. Eles dizem

que enquanto eu tiver pêssego para não dar de laranja" (Proprietária da casa de

turismo).

“Os sumos que tenho aqui, vêm todos da Grula, que é uma casa fornecedora.

Os produtos vêm todos do armazém. (...) nós somos obrigados a comprar ao armazém."

(Mercearia I).

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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Ainda nesta linha de reflexão, para António Fragoso, “vulgarmente aponta-se

que o desenvolvimento local deverá ter um carácter integrado e endógeno” (Fragoso,

2004: 13). Para o autor este carácter endógeno deve ser contestado se for “uma questão

simplista de procurar em determinado território (a própria noção do mesmo é cada dia

mais ambígua, embora continue a servir propósito pragmáticos de acção, planificação,

etc.) todas as soluções e todos os tipos de recursos para os problemas enfrentar”

(Fragoso, 2004: 13). Assim, de acordo com o mesmo autor, “o desenvolvimento local

pode ter um papel importante, mas no sentido de repor a capacidade de endogeneidade

perdida – perdida nas evoluções sociais, económicas, enfim históricas…” (Fragoso,

2004: 13).

1.4. A cooperação e as parcerias

Segundo Célia Quintas, será necessário a “cooperação e o associativismo, por

oposição a um modelo dominante de concorrência que retira margem competitiva a

nível regional” (Quintas, 2000: 4).

O conceito de desenvolvimento local baseia-se “na participação das populações

e na sua organização, seja através do apoio ao associativismo local existente, seja

através do apoio a grupos informais de pessoas, interessadas em tomar medidas

práticas que contribuam para a melhoria da sua vida” (Fragoso, 2004: 13). Deste

modo, podemos constatar que existe cooperação informal entre as entidades locais com

vista a uma articulação com fins económicos, podemos notar que por vezes, esta

cooperação não é perceptível aos olhos dos próprios intervenientes, acontecendo muitas

vezes por acaso, os intervenientes e a população da aldeia não percebe, com a excepção

do proprietário do restaurante, que a cooperação poderá beneficiar a todos.

“Sim, não temos protocolos assinados, não temos nada do género. Estas coisas

às vezes é um símbolo de amizade, já nos conhecemos, sabemos que o turismo é uma

mais-valia e o restaurante também é uma mais-valia” (Proprietário do restaurante.)

Denota-se que a cooperação existiu em torno do turismo rural, principalmente

entre o Presidente da Junta, a proprietária do turismo rural e o proprietário do

restaurante, constituindo-se como os principais focos de cooperação, embora também se

manifeste uma certa entreajuda por parte de uma mercearia, porque pertence à família

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da proprietária da casa de turismo rural. Podemos ver que do ponto de vista do

proprietário do restaurante existe bastante ou total cooperação com a casa de turismo

rural, no entanto, da outra parte a opinião não é coincidente, já que a proprietária do

turismo rural assume que nem sempre aconselha este restaurante a todos os hóspedes,

devido à existência de outros restaurantes próximos da aldeia.

“Olhe, nós aqui trabalhamos também uma pequena dinâmica, trabalhamos em

cooperação com casa de turismo rural, a casa de Figueira Grande a Junta de

Freguesia (mais até a titulo individual…o presidente da junta que nos ajudou a tratar

dos documentos…enfim, pelo seu conhecimento) é graças a estes tipos de cooperação

que a Aldeia desenvolva, e presidente da junta vai trazendo pessoas, vai convidando

pessoas a virem, e pronto…tem sido também uma grande publicidade para nós”

(Proprietário do restaurante).

“Eu pronto, eu tive muitas dificuldades para abrir o restaurante não é, isto aqui

é uma Aldeia e poucas pessoas têm capacidade económica para vir a um restaurante e

então as pessoas têm que se virar para outros lados virar para outros mercados, mas

um ponto bastante forte do meu restaurante é o turismo rural de Vale Formoso que os

senhores já visitaram, é a casa da Figueira Grande de Teixoso e alguns hotéis que

mandam para cá clientes. E isto é possível porque?!...o meu restaurante tem se mantido

nessas dificuldades porquê?!...porque tenho essas cooperações com estes tipos de

pessoas que vão mandando cá gente e fazem com que a casa vai rodando e vai tendo

clientes” (Proprietário do restaurante).

“(…) Por acaso eu mandava os meus hóspedes para Valhelhas porque há lá

dois restaurantes com comida regional e então sei que eles são muito bem servidos. Em

nove anos nunca tive nenhuma reclamação do restaurante e isso é muito bom para nós,

eu mandar um casal e dizer assim: “olhe, vá a tal sítio”, e isto não tem nada a ver com

o restaurante. É um restaurante só de comida regional. Agora mando para os três (o

terceiro é o da terra) e as pessoas optam por o que quiserem. Eu no inverno fartei-me

de mandar gente aqui para o restaurante. (...) Eu mando para ajudar o restaurante.

Veio só um casal de Lisboa que eram amigos dele (do dono o restaurante” (Proprietária

da casa de turismo).

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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De referir também que toda esta cooperação poderá ter origem na administração

local. Pelo que entendemos, como já vimos anteriormente, partiram daí as ideias do

turismo rural, pela existência de uma pessoa que possuía uma casa para tal e também

pela vinda de muitas pessoas de fora para a pista de Ski artificial, e a criação de

estruturas de apoio (o restaurante).

Desta forma, tal como tínhamos referido no primeiro capítulo, a retórica que

sustenta a abordagem contratual das políticas públicas continua a dar primazia às acções

integradas de base territorial, utilizando expressões como «redes sociais», «parcerias»,

«partenariado», etc. (Ferreira, 2004). Portanto, é nesta linha que temos que seguir a

nossa análise, as redes sociais. Embora não tivéssemos desenvolvido nenhuma

definição, estas redes são fundamentais para esta temática. Para haver organização entre

os actores à priori existirá uma rede, que circulará informação entre outros factos

importantes. Para António Fragoso, parece não existir dúvidas, “no facto de que muitos

aspectos da vida social estão, efectivamente, organizados como redes; e o ponto mais

central nesta forma de investigação será no estudo das relações estabelecidas entre as

entidades sociais – em vez de se analisarem comportamentos individuais, atitudes,

crenças, etc.” (Fragoso, 2004: 14). Desta forma, podemos afirmar, então, que as

parcerias existentes entre as entidades presentes na aldeia são informais e muitas vezes

ligadas a redes de amizade. Ainda que não tenhamos abordado esta perspectiva de

forma aprofundada, as redes sociais, no corpo teórico do nosso projecto, nesta fase

tornou-se pertinente ter em conta esta noção, já que agora, após o trabalho empírico esta

noção torna-se mais lúcida e faz todo o sentido. Por isso, embora quando seleccionamos

os informadores não o fizemos tendo em mente que eram esses que consistiam a

principal rede da aldeia, embora seja uma rede informal, a existência da rede na aldeia

tornou-se evidente, e até mesmo a forma de análise se enquadra nesta perspectiva. No

que respeita à rede de desenvolvimento da aldeia, em que analisamos apenas a parte que

concerne ao turismo rural, que é o propósito do nosso estudo, assim, esta caracteriza-se

mais por uma sub-rede, baseando-se praticamente em três focos principais, o Presidente

da Junta, o proprietário do restaurante e a proprietária da casa de turismo rural, todos

eles representantes de entidades económicas e no caso do Presidente, social, cultural e

política.

Contudo, de acordo com António Fragoso, devemos ter em conta que a

necessidades das pessoas não basta para a iniciação de tais processos, porque, na grande

maioria dos casos, as próprias populações têm ideias confusas dos lugares onde vivem.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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Teremos que ter consciência, que “os problemas comunitários, ou problemas que

mesmo que apontados por elementos externos sejam capazes de ser sentidos pelos

internos como seus” (Fragoso 2004: 13). De acordo com António Fragoso, o acto de

participação das pessoas permite-lhes, de forma gradual, ganhar consciência, de algo tão

simples e tão complexo. Assim, “através da sua participação é possível mudar alguma

coisa. É aqui que a participação exerce as suas virtudes, quando permite o crescimento

dos indivíduos para estados de conscientização organicamente superiores, que

demandam novos ciclos participativos ao mesmo tempo que permitem que sejam

enfrentados desafios de complexidade superior” (Fragoso, 2004: 14).

António Fragoso defende a importância de acreditar “ainda que é fundamental

em desenvolvimento local considerar a mudança. Levando o raciocínio ao extremo, sem

mudança social não haveria desenvolvimento local” (Fragoso, 2004: 13). Para o autor

seria mais vantajoso ter conhecimento “donde partem as dinâmicas de mudança,

sabendo que nem sempre é possível que sejam as populações a apresentá-la – e aliás,

fosse esse o caso e não seria necessário promover nenhum processo de

desenvolvimento local!” (Fragoso, 2004: 13). As tensões sociais estão “entre a tradição

e a modernização, a desarticulação dos modos fundamentais de reproduzir padrões

sociais, económicos e culturais, são alguns destes problemas” (Fragoso, 2004: 15).

Perante as alterações sociais, quem fica fora da zona sensibilizada, são “os que vieram a

constituir como focos de resistência á mudança – aumentando as dificuldades nalguns

processos, traduzindo-se num esforço extra dos actores envolvidos nos processos de

desenvolvimento local” (Fragoso, 2004: 17).

“O Presidente da Junta é que praticamente me meteu nisto e quando tinha

problemas de plantas, porque o arquitecto, tive pouca sorte com o arquitecto, porque

dizia que não era preciso certas coisas porque ele estava lá metido na Câmara, mas

afinal tive que pedir ao presidente da junta para nos ir lá desenrascar porque ele dá-se

muito bem com o presidente da Câmara da Covilhã” (Proprietária da casa de turismo).

Quanto ao conhecimento dos programas, por parte da proprietária da casa,

advém também do Presidente da Junta. O usufruir dessas políticas, demonstrou mais

uma vez a existência bem clara de um processo de activação, por isso, só foi possível

aceder às políticas por iniciativa das pessoas, a nível local. Podemos observar que a

burocracia imposta para a abertura deste tipo de casas é imensa, demora muito tempo.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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Contudo, a existência destas políticas foi decisiva na implementação da casa de turismo,

com a candidatura a programas de desenvolvimento local, como o LEADER e RUDE.

Sem estas políticas possivelmente não seria exequível. No entanto, aceder a eles torna-

se difícil devido à burocracia que é gerada e ao atraso que provoca no andamento da

construção de uma casa financiada por estes programas. De acordo com Alcides

Monteiro (2004), ao Estado cabe, financiar as acções realizadas, animar e desenvolver

parecerias, entre outras. Assim, podemos afirmar que houve financiamento das acções,

mas não houve acompanhamento e muito menos desenvolvimento de parcerias.

De salientar, também, a dificuldade que se observou devido ao atraso do

financiamento que levou à necessidade de, muitas vezes para poder despachar o

processo, recorrer a redes informais dentro das instituições, como é o caso da

proprietária da casa ter que falar com o presidente da câmara para o processo ser

acelerado. Portanto, as redes de amizade tornam-se importantes nestas situações.

O processo de activação, como já referimos, para usufruir de políticas sociais,

neste caso, notou-se um melhor funcionamento, trata-se de uma pessoa bem informada,

que se auto-orientou na obtenção dessas políticas, talvez devido a possuir um curso e

experiência profissional no ramo do turismo.

“Isto foi através de um amigo que conhecia e optamos pelo melhor programa.

Em termos de orientação, nós primeiro temos que fazer um projecto de restaurante e

um projecto de segurança e essas coisas todas, e depois é que apresentamos o projecto

a estes fundos para sermos reembolsados” (proprietário do restaurante).

De referir que, não pretendemos tecer uma perspectiva demasiado negativa,

queremos sim aprofundar intensivamente os máximos de pormenores possíveis de

analisar e todos, de forma o mais sério e humilde possível.

Contextualizando o turismo existente nesta aldeia a nível nacional, podemos

constatar as influências e algumas orientações que as administrações centrais

promoveram nas entidades administrativas locais. Nomeadamente a partir da década de

90 do século passado, estabeleceu-se uma relação entre o turismo e o desenvolvimento

de regiões menos desenvolvidas. De acordo com Manuela Ribeiro e Luís Mergulhão,

esta noção ganhou rapidamente adesão “dos mais variados quadrantes, muito

especialmente por parte das instâncias governamentais, desde as cúpulas da

Administração Comunitária até aos níveis da governação local” (Ribeiro e Mergulhão,

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

40

2000: 1). Segundo os mesmos autores, apesar desta visão positiva e de todos os esforços

das entidades públicas administrativas, na criação de infra-estruturas de apoio e

complementaridade, o turismo apresenta-se ainda como um sector nos seus primeiros

passos. De acordo com os autores para os responsáveis pelo desenvolvimento das

regiões do interior do país, o turismo centra-se como uma actividade altamente

apelativa, sendo os primeiros responsáveis a Administração Local como podemos

constatar ao longo do trabalho também é evidente esta conotação na aldeia Vale

Formoso, já que podemos eleger o Presidente da Junta de Freguesia, não como o único

responsável e interessado, mas com um papel fundamental na implementação do

turismo rural na aldeia. Não obstante, através das dimensões de análise, podemos

verificar que se torna um facto incontornável esta perspectiva atrás definida, ou seja,

apesar de tudo o que foi feito e da vontade dos intervenientes, o turismo rural não teve

os efeitos desejados.

O interessante, no que diz respeito à análise turística, poderá ser também a nova

forma de encarar o turismo. Por coincidência até o nosso estudo enveredou, por um

rumo que já iremos abordar de forma curta, embora isso tenha acontecido, mais uma

vez, de forma não intencional. Dito isto, podemos reflectir, após todas as leituras

realizadas e também uma observação do senso comum sobre o que se passa em todo o

mundo. O turismo actual, no nosso entender e sem querer desviar da nossa temática,

demarca-se pela oferta e procura cultural. Hoje, de uma forma geral e pouco consistente,

a cultura torna-se objecto de atracção turística, é a cultura que está no centro,

assemelha-se a muitos factos da actualidade, como a identidade, a globalização, etc. A

cultura torna-se o objecto de prospecção por parte de todos os analistas, nesta caso

relacionados com o turismo. No nosso estudo, seguimos também por estas temáticas,

procurando produtos culturais e justificando, com a existência deles, o potencial para

desenvolvimento, quer da prática turística, quer da promoção de desenvolvimento local.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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CONCLUSÃO

No relatório do nosso estudo, tendo em conta os resultados alcançados, a

fundamentação teórica e a nossa experiência adquirida no decorrer deste estudo,

apresentamos agora as nossas «conclusões» e «recomendações». Convém salientar,

como já havíamos dito, que as conclusões do nosso estudo não serão passíveis de

generalização a todas as aldeias ou locais onde existe um empreendimento de turismo

rural, visto que se trata de um estudo de caso e o nosso objectivo passa, apenas, por

concluir se o turismo rural promove o desenvolvimento local em Vale Formoso.

Deste modo, após termos analisado o turismo rural, identificado e caracterizado

o espaço onde ele se desenvolve – na aldeia de Vale Formoso – e agrupado os

elementos que nos permitem tirar conclusões sobre os impactos que o turismo rural

provocou na aldeia, deparamo-nos com algumas alterações nas relações entre os

habitantes, nomeadamente entre os focos que identificámos. Assim, tomamos como

facto que os impactos sociais que o turismo rural provocou na aldeia, não representam

um vasto número de população da aldeia, apenas se rege por alguns elementos da aldeia,

ou seja, uma pequena rede em torno do turismo rural (proprietária da casa de turismo

rural, presidente da junta e proprietário do restaurante). Desta forma, em termos

económicos, constatámos que a distribuição dos ganhos económicos através do turismo

rural limita-se aos proprietários da casa de turismo rural e do restaurante, embora seja

importante referenciar que eles próprios são habitantes da aldeia, fazendo com que esta

também beneficie. Neste sentido, o turismo rural não oferece garantias económicas a

uma extensa parcela de habitantes da aldeia. Isto justifica-se pela falta de ligação entre

os turistas e a aldeia, ou seja, os turistas apenas usufruem da casa de turismo rural como

dormitório, não frequentando a aldeia e não possibilitando impacto no comércio desta,

com a excepção, de forma esporádica, do restaurante. Em relação à criação de postos de

trabalho, tanto directos como indirectos, não é também significativa, como já referimos

na análise das entrevistas. Podemos dizer também que, embora fosse detectada a

implementação de algumas infra-estruturas com o intuito de desenvolver o turismo rural

na aldeia, a promoção de novas infra-estruturas de apoio à actividade turística

dependerá da viabilidade económica da actividade, ou seja, não fará sentido um

investimento em torno da casa de turismo rural sem que essa dê mostras de

sustentabilidade.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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O turismo rural, no que concerne à possibilidade de servir como divulgação da

aldeia, apresenta-se como insuficiente, porque a maior parte dos turistas não frequenta a

aldeia com intuito de a visitar, mas sim devido a factores externos à aldeia. Isto deve-se

à falta de relação entre o turismo rural e os valores culturais da aldeia (festas, descoberta

da moura, os recursos patrimoniais, entre outros). Em suma, os recursos que a aldeia

possui, na sua maioria, não estão a ser aproveitados nem relacionados com o turismo

rural. Desta forma, como vimos, não existe, oficialmente, um marco turístico na aldeia,

embora possamos referir a existência de potenciais marcos turísticos, já identificados

anteriormente, que, no nosso entender, não estão a ser explorados.

Dito isto, e sobre a questão da promoção de desenvolvimento local, em Vale

Formoso, através do turismo rural, podemos concluir que existe desenvolvimento da

aldeia, no entanto, de forma bastante incipiente, não existindo uma proximidade

significativa entre o turismo rural e a aldeia. Uma recomendação possível, face à nossa

análise teórica e empírica sobre esta temática na aldeia de Vale Formoso, seria uma

maior aproximação da casa de turismo rural com a aldeia, de modo a fomentar a

promoção do desenvolvimento nesta localidade. Portanto, para que as dimensões de

análise que referimos e outras que poderão ser equacionadas se tornem uma realidade,

será necessária essa aproximação ou até mesmo uma convergência de interesses. É

fundamental que a aldeia veja o turismo rural como um potencial de desenvolvimento,

como também a casa de turismo rural veja a aldeia como um potencial para desenvolver

a sua actividade. Desta forma, as parcerias têm que abranger a totalidade da aldeia, não

ficando apenas pelos intervenientes nas actividades que identificámos como principais –

casa de turismo rural, restaurante e o presidente da junta de freguesia. No entanto,

convém salientar que o presidente da junta de freguesia desempenha um papel um

pouco diferente, já que é o representante da aldeia e as suas acções não devem, apenas,

ser tomadas como pessoais e independentes.

No que concerne ao nosso posicionamento teórico, modelo territorialista, tal

como tínhamos defendido no primeiro capítulo, em que não íamos por de parte o

modelo funcionalistas, embora este dois modelos sejam opostos, parece inevitável o

funcionamento dos dois em simultâneo, caso contrário não haverá um bom

funcionamento local. Optámos por este modelo para desenvolver o trabalho empírico.

Poder-se-á pô-lo em questão, já que, por si só, não se justifica como base principal para

o desenvolvimento local na aldeia de Vale Formoso. Neste caso, como detectámos

através do levantamento de dados, é necessário que haja uma convergência entre o

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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modelo territorialista e o modelo funcionalista, ou seja, uma junção entre a vontade

mútua dos habitantes e a existência de auxílios que provêm das instituições centrais,

principalmente em zonas de carência económica, como é o caso do interior do país e,

em particular, da aldeia de Vale Formoso.

De forma a concluir este estudo e dar resposta à nossa pergunta de orientação, o

desenvolvimento originado é diminuto, embora não seja possível chegar a uma resposta

concreta sobre a possibilidade de o turismo rural promover o desenvolvimento local na

aldeia de Vale Formoso, esta resposta, devido à complexidade da temática e da

especificidade espacial (espaço rural), no nosso entender, deverá ser apresentada através

de uma análise diacrónica, ou seja, esta temática terá que ser analisada do ponto de vista

da sua evolução no tempo. No que apurámos, podemos verificar que se tem tentado

desenvolver a rede. Numa futura aproximação, esta poderá estar mais desenvolvida e aí

poderá tirar-se elações mais concretas. Parafraseando Joaquim Graça, o turismo rural

em Vale Formoso, aproxima-se à sua ideia como referimos no primeiro capítulo, ou

seja, o turismo rural “de um modo ou de outro, acaba por contribuir para a

recomposição – e/ou constituição (...) – das elites locais” (in Ferreira, 2003: 301).

Para todos os efeitos, o desenvolvimento local provocado pelo turismo rural é

reduzido, do ponto de vista económico. Contudo, dependendo da perspectiva, a

implementação do turismo rural poderá ser encarada com optimismo, já que serviu para

criar alguns postos de trabalho, duas empresas na aldeia e para a fixação de algumas

pessoas na aldeia.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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ANEXOS

1. Guiões

1.1. Guião geral

O turismo rural em Vale Formoso só será promotor do desenvolvimento local se:

a) Contribuir para a criação de postos de trabalho para a população;

1. Houve aumento de postos de trabalho directos ou indirectos após a

implementação do turismo rural? Quantos?

b) Promover a implementação de novas infra-estruturas;

1. Acha, que a casa de turismo rural proporciona benefícios? De que forma?

Aumentou com os turistas?

2. Foram construídas algum tipo de infra-estruturas associadas à casa de

turismo rural (estradas, etc.)? Quais?

c) Fomentar uma parceria entre as entidades locais com vista a uma

articulação com fins económicos;

1. Existe cooperação entre as várias entidades da aldeia? De que forma?

(mercearia, restaurante, café, artesão, casa de turismo, etc.)

2. Foram tomadas algumas medidas com vista a cooperar com a casa de

turismo rural? Quais?

3. Existe divulgação e promoção da casa de turismo rural e também da

aldeia? De que forma?

d) Houver um aproveitamento dos recursos que a aldeia possui;

1. Vende produtos tradicionais? Quais? Aumentou com os turistas?

2. A aldeia tem gastronomia própria? Qual? Aumentou com os turistas?

3. Há alguma festa sazonal na aldeia? Qual? Que contributo proporciona

essas festas?

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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4. Tem doces à disposição dos turistas? De onde são? Aumentaram com os

turistas?

5. Vende sumos de fruta? De onde são? Aumentou com os turistas?

e) Existir um marco de atracção turística.

1. Na aldeia existe algum marco turístico que possibilite a atracção de

turistas? Quais?

1.2. Partes específicas do guião

No guião geral, para dar resposta a cada dimensão de análise, elaborámos um

conjunto de questões que nos permite explorar de forma aprofundada cada dimensão.

Nesta parte, de acordo com o conteúdo de cada dimensão, as questões serão aplicadas

aos entrevistados que melhor se adequam a essas dimensões. Juntamente com essas

questões respeitantes a cada dimensão, também realizamos algumas questões mais

específicas a cada entrevistado, por razões já referidas anteriormente.

PROPRIETÁRIO DA CASA:

P1: Há quanto tempo existe esta casa de turismo rural?

P2: Porque razão nasceu esta casa?

P3: Na aldeia existe algum marco turístico que possibilite a atracção de turistas?

Quais? Teve alguma influência na implementação da casa de turismo?

P4: Que dificuldades encontrou na implementação da casa?

P5: Que tipo de turistas costumam frequentá-la? (idade, grupos ou famílias, etc.)

P6: Quais as razões para a procura deste tipo de turismo por parte dos turistas?

P7: O que pode ajudar na aldeia para melhorar o funcionamento do seu

empreendimento?

P8: Existe cooperação entre as várias entidades da aldeia? De que forma?

(mercearia, restaurante, café, artesão, casa de turismo, etc.)

P9: Tem doces à disposição dos turistas? De onde são? Aumentaram com os

turistas?

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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P10: Vende sumos de fruta? De onde são? Aumentou com os turistas?

P11: Há alguma festa sazonal na aldeia? Qual? Que contributo proporciona essas

festas para o seu estabelecimento?

ARTESÃO:

P1: Há quanto tempo tem a oficina de artesanato na aldeia?

P2: Porque razão é que a criou?

P3: Quantos empregados constituem a oficina?

P4: Acha, que a casa de turismo rural proporciona benefícios para oficina? De que

forma? Aumentaram com os turistas?

P5: A mercadoria é vendida no interior ou exterior da aldeia?

P6: Há alguma festa sazonal na aldeia? Qual? Que contributo proporciona essas

festas para o seu estabelecimento?

P7: Existe cooperação entre as várias entidades da aldeia? De que forma?

(mercearia, restaurante, café, artesão, casa de turismo, etc.)

PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA:

P1: Há quanto tempo é o presidente da Junta de Freguesia?

P2: Em que medida acha importante a implementação de turismo rural na aldeia?

P3: Deu apoios para a implementação da casa de turismo rural? Quais?

P4: Acha que a casa de turismo rural proporciona algum benefício para a aldeia? De

que forma?

P5: Foram construídas algum tipo de infra-estruturas associadas à casa de turismo

rural (estradas, etc.)? Quais?

P6: Existe cooperação entre as várias entidades da aldeia? De que forma?

(mercearia, restaurante, café, artesão, casa de turismo, etc.)

P7: Foram tomadas algumas medidas com vista a cooperar com a casa de turismo

rural? Quais?

P8: Existe divulgação e promoção da casa de turismo rural e também da aldeia? De

que forma?

P9: Na aldeia existe algum marco turístico que possibilite a atracção de turistas?

Quais?

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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P10: A aldeia tem gastronomia própria? Qual?

P11: Há alguma festa sazonal na aldeia? Qual? Que contributo proporciona essas

festas para a aldeia?

EMPREGADA DE LIMPEZA:

P1: Há quanto tempo trabalha nesta casa?

P2: Que importância teve para si a implementação da casa de turismo rural?

P3: Há facilidade de acesso ao emprego na aldeia?

P4: Já exerceu alguma profissão fora da aldeia? Durante quanto tempo?

P5: Este é o único emprego que tem?

PROPRIETÁRIO DO RESTAURANTE/ MERCEARIA:

P1: Há quanto tempo tem o (a) restaurante/ mercearia na aldeia?

P2: Porque razão foi criado (a) o (a) restaurante/ mercearia na aldeia?

P3: Quantos empregados é que constituem o (a) restaurante/ mercearia?

P4: Acha que a casa de turismo rural proporciona benefícios para o (a) restaurante/

mercearia? De que forma? Aumentou com os turistas?

P5: Houve aumento de postos de trabalho após a implementação do turismo rural?

Quantos?

P6: Existe cooperação entre as várias entidades da aldeia? De que forma? (mercearia,

restaurante, café, artesão, casa de turismo, etc.)

P7: Vende produtos tradicionais? Quais? Aumentou com os turistas?

P8: A aldeia tem gastronomia própria? Qual? Aumentou com os turistas?

P9: Vende sumos de fruta? De onde são? Aumentou com os turistas?

P10: Tem doces à disposição dos turistas? De onde são? Aumentaram com os turistas?

P11: Há alguma festa sazonal na aldeia? Qual? Que contributo proporciona essas festas

para o seu estabelecimento?

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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2. Entrevistas

Proprietário do restaurante

P1: O restaurante tem traços com o rural. Preocupou-se com isso?

R: “O restaurante acaba por ser uma homenagem ao avô, dai os netos do padeiro.

Antigamente era mesmo uma padaria, até 2003 foi uma padaria. E depois tentamos

trazer os traços rústicos inseridos na região, também para atrair mais clientes”.

P2: Mas teve esta preocupação em termos de políticas?

R: “Tivemos um decorador de interior a tratar de tudo. Fomos financiados por um

programa do fundo do desemprego”.

P3: Como é que se chama, já agora?

R: “Não está inserido nos FEDERs nem nas RUDESs (Associação de Desenvolvimento

Rural) nem nada, é mesmo um programa que há nos centros de emprego”.

P4: Para jovens empresários?

R: “É para jovens empresários e depois tem que se meter X empregados, e essas coisas

todas, e eles vão financiando o projecto”.

P5: Normalmente, quando há restauração uma casa antiga eles costumam

financiar, até tem uma participação do governo, mas isso acontece nas cidades, não

sei se acontece aqui!

R: “Sim. Sim. O problema é que ao candidatarmos ao centro de emprego e ao programa

do fundo de emprego, já não se pode candidatar a outro programa, ou ao FEDER ou ao

RUDE, que é uma coisa mais regional, mais local, para os concelhos da Covilhã,

Fundão, Belmonte. Depois temos os FEDERs, que é a nível nacional, e depois temos

estes do centro de emprego, ao sermos candidatos a uns já não se pode ser candidato a

outros”.

P6: A razão da implementação deste empreendimento, já nos disse que foi por

questões familiares, de aproveitamento desta estrutura?

R: “Não. Isto foi uma oportunidade. Prontos, foi também uma mudança de vida. Eu já

tenho um curso ligado às técnicas de hotelaria, e trabalhava já em hotelaria, já trabalhei

no norte, já trabalhei no sul e conheço minimamente a hotelaria em Portugal e então

com um sócio começamos a falar e conseguimos aqui um espaço. Ele também ia mudar

de terra, ia mudar para aqui (Vale Formoso), tinha que fazer alguma coisa, tinha que

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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procurar um trabalho e entretanto isto foi uma oportunidade que foi se criando, foi se

falando, foi avançando e quando demos conta estava pronto”.

P7: E então é o único proprietário, ou tem um sócio?

R: “Tenho um sócio”.

P8: Também são os únicos no activo?

R: “Somos dois sócios e três empregados a volta do restaurante estão cinco pessoas”.

P9: Quanto tempo tem o restaurante?

R: “Faz em Agosto três anos”.

P10: Acha, que o turismo rural teve alguma influência?

R: “Quando abriu o turismo rural já existia e é uma mais-valia, porque a Aldeia não tem

nada para visitar, tem pouco. Não é uma aldeia que tenha uma grande muralha, um

grande castelo, é uma aldeia muito de passagem. Pode ter um turismo rural com a

qualidade que o nosso tem, que é procurado para descansar ou para visitarem a serra,

estão afastados dos grandes centros, mas acabam por estar no centro da serra da estrela.

O turista procura coisas deste género, aliado à qualidade que tem, e prontos, para nós é

uma grande vantagem. A proprietária da casa quando tem gente, normalmente indica-os

a nós”.

P11: Houve uma cooperação entre vocês?

R: “Sim. Não temos protocolos assinados, não temos nada do género, estas coisas às

vezes é um símbolo de amizade, já nos conhecemos, sabemos que o turismo é uma

mais-valia e o restaurante também é uma mais-valia. Temos uma festa nos dias dos

namorados e sorteamos um fim-de-semana no turismo rural. Também para

agradecermos pelos clientes que ela manda para nós durante todo ano e não só, é mais

publicidade, as pessoas levam folhetos do turismo rural, é uma forma de cooperarmos e

termos mais conhecidos, tanto uns como os outros”.

P12: Sempre foram três empregados ou houve um aumento? Foi desde o início

sempre assim?

R: “Foi sempre assim, sabe que a realidade económica do país não dá para muito mais,

ainda por cima, um restaurante como este que é afastado dos grandes centros, as pessoas

já fazem contas, já têm que aliar a despesa da deslocação à despesa da refeição”.

P13: Normalmente as pessoas que vêm cá são estrangeiras, fora do eixo, do norte?

R: “Olha, temos os turistas como toda serra da estrela tem, o turista português que vem

na altura da neve, e no verão já vêm procurando mais a serra. Já há mais gente no verão

a visitar a serra da estrela. Depois temos os clientes regionais, que vivem entre a

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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Covilhã e a Guarda, nas alturas turísticas, claro, há muitos turistas a visitar a Serra da

Estrela, as nossas infra-estruturas da região não estão assim tão desenvolvidas, não há

um projecto serra da estrela, normalmente eu costumo dizer que a serra da estrela vive

órfã de pai, isto é, não temos ninguém que nos ensine, precisamos de uma orientação, a

região turismo por si só, da serra da estrela, engloba vários conselhos, milhares de

pessoas, já temos milhares de camas, centenas de restaurantes, mas a verdade é que não

há uma política de turismo, uma coisa minimamente organizada para atrairmos os

clientes ou darmos a melhor comodidade de deslocações de conhecerem os melhores

restaurantes, os melhores hotéis, quer tudo, quer as melhores atracções. Temos, assim,

falta de uma estrutura, de uma organização bem pensada para atrair ainda mais os

clientes”.

P14: Você acha, que devia haver mais informação, mas divulgação mais

publicidade?

R: “Sim. Sim. Pois, qual é a publicidade que põe à Serra da Estrela nas revistas ou na

televisão? É a nível individual, as empresas e quantas empresas é que temos na serra

sem capacidade para andarem durante o ano com publicidade na televisão? Ninguém!

Então, todos juntos com uma dinâmica própria desta região de turismo, de tudo, cria-se

uma campanha publicitária para atrair as pessoas, a gente vê campanha publicitária para

o Algarve, vê campanha publicitária às vezes, até já, para o Gerês, e a Serra da Estrela

não tem, não estamos preparados, não estamos organizados para que isso aconteça.

Acho, que falta uma grande organização, até porque temos tudo para andar. Temos neve

e mais ninguém tem, e depois temos uma serie de eventos que já vai trazendo muita

gente, mas acaba por ser pouco. Repare, tivemos aqui a bem pouco tempo a rampa da

Serra da Estrela, quer dizer, acaba por ser um evento, uma rampa internacional que tem

cá os melhores hotéis, acaba por ser um evento só para os de cá, lá vêem meia dúzia de

espanhóis porque, os espanhóis normalmente vêem sempre atrás dos pilotos deles, não é

verdade, e depois aqui na região você encontra com dificuldade uma pessoa que veio do

Porto de propósito para vir a rampa, ou que veio de Lisboa de propósito para ver a

rampa, ou que veio de Viseu. Já falando de sítios mais perto, falando de Viseu ou

Castelo Branco, que são aqui as regiões mais próximas, pouca gente vem de propósito

para um evento desta natureza, isto é preciso publicitar, isto é, e depois temos também

um grande evento que este ano também se calhar não se vai realizar. Lá está, por falta

de capacidade de organização, que é o Festiva Serra da Estrela, em que o ano passado

em três dias, passaram por lá 15 mil pessoas, dá uma média de 5 mil pessoas por dia, o

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que é muito bom aqui para a região. Portanto, 15 mil pessoas, já são o concelho de

Manteigas, o concelho de Belmonte e essas aldeias todas que unem Belmonte e

Manteigas. Por isso, este ano, não vai haver em princípio o festival. Porquê? Falta de

apoios, falta de capacidade das principais instâncias da região, das principais

instituições da região em congregar a tal dinâmica que eu tenho falado e tal organização

para que estas coisas nunca acabem está a perceber? Falta estas capacidades todas. A

Serra da estrela, nós, as pessoas dos restaurantes, as pessoas dos hotéis, Presidentes de

Câmaras, directores das principais associações existentes e o ponto principal, a região

turismo serra da estrela. Esta gente toda, se não tiver uma capacidade para termos um

sentido de orientação daquilo que queremos para Serra, daqui amanhã a Serra da Estrela

é uma ilusão, presume-se a neve, mas já não tem cá neve. Nos anos em que não houver

cá neve, a Serra da Estrela é o quê?! Esta a perceber, não há capacidade organizativa

nem um modelo em que toda a gente caminhe na mesma direcção para atrairmos mais

clientes. Eu pronto, eu tive muitas dificuldades para abrir o restaurante não é, isto aqui é

uma Aldeia e poucas pessoas têm capacidade económica para vir a um restaurante e

então as pessoas têm que se virar para outros lados virar para outros mercados, mas um

ponto bastante forte do meu restaurante é o turismo rural de Vale Formoso que os

senhores já visitaram, é a casa da Figueira Grande de Teixoso e alguns hotéis que

mandam para cá clientes. E isto é possível porque?!...o meu restaurante tem se mantido

nessas dificuldades porquê?!...porque tenho essas cooperações com estes tipos de

pessoas que vão mandando cá gente e fazem com que a casa vai rodando e vai tendo

clientes. Não é? Isso tudo só para lhe dizer que só com cooperação, só com a capacidade

para, é que se lá vai, e nós não podemos andar cada um a lutar a e puxar cada um para o

seu canto, um dia a corda estala e depois cada um puxa por si, aliás lá na Serra já está

um bocado assim. Só para lhe dar um exemplo de como as coisas estão bastante

desgovernadas. Aqui há uns anos, não sei se conhecem Belmonte, tem 5,6 ou 7 museus,

à 5 anos tinha uma média de 5 a 6 mil visitantes por ano, quando foi para lá este Senhor

que é agora o Presidente da empresa Municipal de Belmonte, responsável dos museus e

tudo, quando eles adoptaram uma linha para trabalhar com os hotéis da Covilhã e da

Guarda, para fazerem programas para as pessoas virem ao Hotel por duas noites com

refeição e visitas ao museu, ele passou de 5 ou 6 mil por ano para 50 mil turistas por

ano. Isto é aquilo pelo que tenho vinda a bater, a cooperação que é bastante importante e

a Serra tem falta desta dinâmica. Eu já trabalhei também em Serpa e lembro-me que,

uma vez estava numa região em que ia haver um evento muito grande, os próprios

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hotéis, entre eles, organizaram-se, através dos seus directores para dividirem os clientes

mediante as exigências dos restaurantes e hotéis, e isso é que é cooperação, porque a

própria organização chega desta cooperação e vê este sentido de dar e receber, faz com

que as pessoas se apaixonem pelos locais, se apaixonem pela região e depois,

futuramente volta. Quando estiverem novamente de férias podem pegar na família e

vir.”

P15: Não há estes tipos de iniciativas aqui na zona, já tentou fazer isso, uma

cooperação com o presidente da junta de freguesia ou com alguma associação

daqui da região?

R: “Olhe, nós aqui trabalhamos também uma pequena dinâmica, trabalhamos em

cooperação com casa de turismo rural, a casa de Figueira Grande a Junta de Freguesia

(mais até a titulo individual, o presidente da junta que nos ajudou a tratar dos

documentos, enfim, pelo seu conhecimento) é graças a estes tipos de cooperação que a

Aldeia desenvolva, e presidente da junta vai trazendo pessoas, vai convidando pessoas a

virem, e pronto tem sido também uma grande publicidade para nós. E depois resume-se

a isso porque tudo o resto de iniciativas são muito pouco. Isto também é próprio do

país”.

P16: Sobre a gastronomia da Aldeia, existe um prato específico da aldeia ou da

região?

R: “A aldeia em si, e visto que está inserida na Serra da Estrela, a gastronomia acaba

por ser um pouco a gastronomia da Serra da Estrela, temos as cherovias, o arroz doce,

as papas de carolo, o cabrito, a truta, prontos pratos próprios da região”.

P17: As festas sazonais que costumam haver aqui na Aldeia trazem turistas,

trazem dinâmica para o restaurante?

R: “Conforme, a Aldeia tem duas festas grandes anuais (Festas do Santo Antão e da

Senhora da Saúde). A de Santo Antão é mais para os locais, até porque foi agora em

Maio, é noutra altura do ano. A da Senhora da Saúde é a que trás mais gente porque é

nas férias, é quando os emigrantes cá estão, quando vêem aqueles que se deslocaram

para Lisboa, para o Porto ou para outras partes do país. Temos de 2 em 2 anos a

descoberta da Moura que já é um evento grandioso demais para a aldeia que é, e então é

isso, ai vêem muita gente de fora, Guarda, Belmonte, Covilhã, gente da região já. Estas

festas trazem contributo. Repare, nem que a pessoa venha 4 ou 5 da tarde e ainda tenha

hipótese de vir ao restaurante, porque a esta hora não se servem almoços nem jantares, a

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verdade é que vai consentido que viu e que está aqui um restaurante, isto é uma forma

de publicidade, é uma forma de divulgar o próprio restaurante”.

P18: Na sua opinião o que é que acha, que poderia melhorar, já percebi que é a

cooperação, mas o que é que acha, que poderia fazer para que esta cooperação

fosse adiante, de que forma é que seria esta cooperação entre as entidades?

R: “Esta é difícil. Não. É difícil porque, repare, nós estamos na zona, esta região toda é

denominada e tem um pólo turístico que é a região turismo Serra da Estrela. Terá que

ser pelo turismo que deve começar esta campanha, porque, quem melhor aqui na região

do que eles. Eles recebem os apoios, recebem as próprias verbas para dinamizar uma

região, e depois têm as próprias candidaturas, ao PIC, ao CREM, têm n candidaturas,

têm montes de facilidades. Agora também há o PENT (Plano Estratégico Nacional

Turístico). Mediante estas coisas protocolares que têm bastantes cuidados pela natureza,

quem melhor do que nós para explorar a natureza que temos. Temos uma natureza

totalmente diversificada, temos a parte do inverno, temos a parte depois a seguir ao

inverno, que se começam o degelo e formam cascatas de água. E depois, temos a

primavera, o verão e o Outono (que se calhar seria a altura mais complicada). Agora

nestes conjuntos todos é preciso termos uma estratégia, um plano de iniciativa, de

inventos, portanto, é praticamente isso, iniciativa de empreendimento, haver uma

cooperação entre as associações locais ou entre os próprios restaurantes, ou entre os

comerciantes para fazermos um plano, para sabermos onde nos podemos direccionar.

Acho, que o grande mal passa logo por ai, não temos uma estratégia, não temos

publicidade, a Serra da Estrela neste momento está morta, está fechada, não tem

capacidade para. E isto, é difícil porque, não me diga que nós com a natureza que temos,

com todas as potencialidades que temos, não podemos trazer mais gente no verão?

Claro que podemos! É preciso dar condições e não estarmos à espera, porque isto, vindo

de um cliente que eu tenho, que portanto já se tornou um amigo desde que eu estou

aberto tem vindo cá sempre. Ele diz que o problema é que na Serra da Estrela, um

indivíduo entra aqui, e não tem certo acompanhamento, não tem certo rumo, é mete-se

num carro, sobe a zona da Covilhã, desce para Seia, sobe por Gouveia, desce por

Manteigas, viu a Serra mas não teve um acompanhamento, não teve uma placa a dizer

por onde é que está a passar, a que altura está (agora já umas placas a dizer), não sabe o

nome da lagoa por onde passou. Quer dizer, o turista vem e anda um pouco a deus dará,

tem pouca informação, aliás a informação que tem, dão conta da existência de aldeias

históricas, mas não tem aquela informação para ele vir. Os turistas, hoje em dia,

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também, ao sair de casa, vai consultar a internet, vai ver onde pode visitar, onde pode

dormir, onde pode comer. Depois disso, enquanto cá está, se não tirou uma cópia

daquilo que está na internet, há uma certa falta de acompanhamento para que o turista

ande e sinta sempre que está a ver algo diferente”.

P19: O presidente da câmara não devia ter uma certa influência nesta orientação

dos políticos?

R: “A Câmara tem o seu concelho e divulga o concelho. Ninguém pode trabalhar na

Serra da Estrela individualmente, fazem parte dela. O concelho de Belmonte, o

concelho da Covilhã, o concelho de Fundão saiu e fundou a sua própria rede de turismo,

temos Penamacor, o concelho da Guarda, o concelho de Gouveia, o concelho de Seia, o

concelho de Celorico da Beira e o concelho de Fornos de Algodres. Repare, estamos a

falar de 10 concelho, isto requer um grupo superior, porque não adianta uma câmara da

Covilhã trabalhar para a direcção oeste de um caminho e a câmara da Guarda trabalhar

com o turismo para o outro lado. A região turismo congrega os Presidentes da Câmara,

o Presidente da Região Turismo, as associações, principalmente as associações dos

comerciantes, alguns representantes dos comerciantes - estes é que pagam os impostos

municipais mais alto do que os outros – estes é que devem ser ouvidos, devem estar no

centro da questão. Agora, só por si, eles não podem fazer nada, quando há instancias

mais altas (câmaras e região do turismo) e estes sim, é que deviam fazer um

planeamento para publicidade e divulgação da Serra da Estrela”.

P20: Existe um plano de desenvolvimento regional que pertence a Coimbra?

R: “Sou um bocado a favor da regionalização, isso é impossível, estamos a falar de duas

cidades que são rivais Guarda e Covilhã e depois temos Covilhã e Fundão. Há aqui uma

rivalidade enorme, o próprio Governo já houve uma vez que levou um chumbo quando

tentou juntar as freguesia não foi. Aqui há uns anos tentaram juntar as freguesias.

Historicamente isso é quase impossível fazer essas coisas numa só, há aquela rivalidade

histórica numa só porque há aquela rivalidade histórica que hoje já não é como

antigamente, mas há sempre aquela cultura, aquela história que fez com que nos divide.

Há uma coisa que se pode fazer que é real que é fazermos não um distrito, mas algo do

género, que fica entre concelho, distrito e região autónoma da Serra da Estrela, dividida

pelos concelhos na mesma para haver uma descentralização de poderes e todo o cenário,

todo o plano territorial que pertence a Serra da Estrela, fazer-se uma espécie de região

autónoma. E só fazendo uma região autónoma, um distrito, ou um concelho enorme

(mas isso já é mais difícil porque já há vários). Não se pode mexer com facilidade na

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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estrutura do país, mas em vez de estarmos ligados a Coimbra, estarmos ligados a nós

próprios e a Serra da Estrela por si só, e, assim, podemos falar neste tal programa de

desenvolvimento, porque, o que é que Coimbra ou as pessoas que trabalham em

Coimbra, têm a ver com a estratégia e com a capacidade que têm a Serra da Estrela.

Coimbra que era um distrito, grande parte dele urbano, não tem campos, não tem terra, é

um distrito muito concentrado em cidade. Já tem cidades grandes, qual é o local, as

pessoas com uma organização destas em Coimbra têm para uma Serra da Estrela, onde

temos natureza, onde temos serra, onde temos neve, onde temos rios, lagoas, n praias

fluviais, n coisas. Nós, a nossa maneira de estar na vida é de saber receber, por isso

somos um país obrigatoriamente turístico. É preciso fazer um artigo sobre Portugal, a

dinâmica que o país vive é condicionar os têxteis, dizerem que temos estradas mais ou

menos, dizerem que temos estradas mais ou menos para o nível superior, em de dizerem

que temos um país que tem um interior muito abandonado, dizerem que temos um

interior pobre próprio de quem está fora dos litorais montar um bocadinho a

comunicação, os jornalistas acabaram o artigo com uma frase do género, coisa mais

espectacular que tem, vocês podem estar a ver um jogo no Norte às 3 da tarde, e acaba o

jogo e vai dar um mergulho em menos de uma hora ou duas, como pode estar uma

semana no Algarve e vai para a Serra no ponto mais alto, eles a dizerem que era a

facilidade para que as pessoas não vinham para o futebol, vinham por causa do turismo,

para passar férias. Agora bem podemos estar no ponto mais alto do país como podemos

estar na praia a tomar banho. No meu ver, tenho e associado às minhas ideias que tenho

sobre o turismo e que tenho do país, Portugal tem auto-estradas até dizer chega, faltará

uma ou duas se calhar, Portalegre ligada directamente ao Algarve, aqui na nossa região

acho, que estamos bem de estradas, até porque as pessoas deslocam-se em auto-estradas

e depois acabam por entrar nas estradas rurais, estradas camarárias, nas estradas

nacionais mais ou menos boas (estas é que devem estar sempre em condições). Não

convém termos auto-estradas tendo estradas nacionais ou camarárias como devem ser.

Você mete-se em duas horas de Lisboa a aqui e para seguir para Serra da Estrela você

demora quase tanto devida a degradação das estradas. Temos duas locomotivas, que é

Covilhã – Castelo Branco e Covilhã – Guarda. Repare que no meio da Serra que tem

vistas lindíssimas e propriamente este tipo de turismo não está divulgado, não há

capacidade para, como fazem por exemplo na linha do Tua”.

P21: Em termos de políticas do programa do fundo de desemprego. Acha, que

estão acessíveis, foi fácil trabalhar a burocracia?

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R: “Neste aspecto, sabe aqui a uns anos largos, daqui a uns 10, o meu pai também se

candidatou a um fundo destes, na altura o FEDER, e este faculta mais dificuldades e eu

acompanhei este sistema. Neste aspecto melhoramos quer a nível de rapidez, quer a

nível de burocracia”.

P22: A informação que teve foi dada por iniciativa própria, ou foi dada pela

câmara ou onde se dirigiu?

R: “Isto foi através de um amigo que conhecia e optamos pelo melhor programa. Em

termos de orientação, nós primeiro temos que fazer um projecto de restaurante e um

projecto de segurança e essas coisas todas, e depois é que apresentamos o projecto a

estes fundos para sermos reembolsados. A fim ao cabo você tem que fazer tudo, e

depois antes de começar as obras é que levam o projecto para aquilo que acha deve ser

assinado.”

P23: E estes passos já sabia, já tinha conhecimentos que tinha de fazer isso?

R: “Não, pronto, a gente depois fez o projecto, depois fomos ver as linhas de

orientação, depois lemos e seguimos uma orientação mediante aquilo que queremos

receber, a ajuda que precisávamos, a rapidez com que precisávamos e optamos portanto

por este rumo do centro de emprego.”

P 24: Os produtos que normalmente proporciona aqui devem ser daqui da aldeia?

R: “Sim, quando é altura do pêssego, há sempre um agricultor ou outro que nos dá uma

caixa ou duas e depois a gente faz uma sobremesa com este pêssego. Umas entradas

com este pêssego, uns acompanhamentos. Tentamos sempre gastar produtos de cá,

porque essas coisas as vezes…só assim é que se desenvolve e crescemos. Eu compro

aqui, você ganha comigo vai deixar ao amigo do café. O amigo do café ganha comigo,

vem ao restaurante…prontos! Talvez 90% são do concelho da Covilhã. Isto é pouco

mas ajuda a dinamizarmo-nos uns aos outros. Compramos do nosso concelho e a pessoa

do nosso concelho, vendedor está a ganhar mais, possivelmente poderá vir a gastar

algum no nosso restaurante. Isto faz com que a economia voltasse aos tempos em que

éramos bastantes pequeninos em que eu matava um porco você vinha me comprar 7 ou

8 morcelas, depois eu para agradecer, quando você andasse lá a arrancar batatas eu lhe

comprava um saco de batatas, e fazia disto as trocas comerciais. A noite juntávamo-nos

café para bebermos um copo. Porquê, andávamos os dois a ganhar um com o outro. O

senhor do café ficava contente porque ganhava com os outros. Por isso é que

antigamente o interior era mais pobre noutros aspectos de desenvolvimento e tudo, mas

a nível económico as pessoas ainda iam aos cafés. Agora cada vez mais vêm-se menos

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gente nos cafés, porque deixou de haver essas coisas, quer dizer, também já não é fácil,

as leis e tudo não permitem matar porco em casa, estes tipos de coisas.”

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Proprietária da casa de Turismo Rural

P1: Em relação à empregada que tinha, já teve mais empregadas?

R: “As pessoas que trabalham para mim nunca podem, só vinham às vezes cá a casa

fazer limpeza. Mas agora não é sempre porque, quando tenho hospedes, ela (a

empregada) vem porque tenho acesso, como ela está na escola, que faz quatro horas na

escola, portanto, se eu de manha tiver hospedes, das 9 ao meio-dia, tenho acesso à moça

e, então, é a única agora que tenho”.

P2: Mas sempre foi essa ou já foram outras pessoas?

R: “Não, já tive outras. Sempre pessoas de cá, porque antigamente, na altura em que eu

abri isto comecei a ter muitos estrangeiros e, entretanto, como fiz um curso naquela área

de turismo rural e foi por intermédio do desemprego, e como fizemos um projecto,

deveria ir buscar alguém ao desemprego. Na altura ainda fui lá, e vieram cá umas quatro

ou cinco senhoras fazer a entrevista, mas é assim, eram de longe, eram de Verdelhos,

não tinham acesso, não tinham transporte, e hoje ninguém quer trabalhar nem ao sábado

nem ao domingo e esta moça (a empregada que costuma estar lá) faz-me o favor, se por

acaso eu tiver gente ao sábado e ao domingo, ela vêm a fazer três ou quatro horas”.

P3: Mas ela (a empregada) faz descontos e tudo?

R: “Não, porque ela está a trabalhar para a escola. Só vem aqui como um hobbie. Não

cheguei a meter ninguém do fundo de desemprego porque umas pessoas diziam que não

tinha transporte, outras diziam que não sabiam: «ah! Fazer camas e servir os hospedes»,

e por um lado, ainda bem que não fiquei com essas pessoas porque eu também não tinha

possibilidades, porque depois isto (o turismo) começou a cair”.

P4: E, você e o seu marido, são os empregados deste projecto ou é só a senhora?

R: “Não, é só meu”.

P5: E foi por estar num curso de turismo rural que a levou a abrir esta casa?

R: “Foi, porque era uma quinta que eu tinha comprado para fazer a minha própria casa,

entretanto o presidente da aldeia, como estava metido no LEADER, às vezes fazíamos

aqui patuscadas, que isto estava tudo tosco. Isto era do Conde da Covilhã, era uma

adega particular do Conde da Covilhã. E o presidente da junta, nessa altura, disse-me:

“isto ainda tem que ser um Turismo Rural”. Mas eu não tinha possibilidades para ir, já

que o meu marido na agricultura não ganha... isto está muito difícil. Entretanto abriram

concursos e ele (o presidente da junta) disse-me: “faça uma candidatura, pode ser que

tenha sorte” e numa brincadeira, eu meti. Um amigo meu, que é professor tinha muito

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jeito para fazer plantas e fez, fez-me uma planta, sem compromisso nenhum, para meter

no LEADER, na RUDE e foi aprovado. Depois tive que meter outro arquitecto, porque

este não podia assinar o projecto, ele fazia isso porque era um hobbie dele, ele gostava

de fazer e entretanto, depois tive de contratar um arquitecto para me fazer isto como

devia ser. E foi assim que começou o Turismo Rural, numa brincadeira. Mas este mês

não fiz para a minha caixa”.

P6: O presidente da junta tem tomado essas iniciativas?

R: “Sim, ele tem ajudado muito a aldeia, ele é muito dinâmico, gosta mesmo disto. Ele

está metido também no LEADER, na RUDE. Por isso é que ele tenta sempre puxar

alguma coisa de bom para a aldeia, mas está complicado, este mês não tive ninguém, já

viu o que é se eu tivesse aqui o encargo de uma mulher? Mas eu não posso, é

impossível. Mas eu gostava de abrir mais postos de trabalho porque era bom para a

aldeia e era bom para mim”.

P7: Mas podia fazer a recibos verdes, não é?

R: “Mas isto é um hobbie para ela, eu tenho dias e semanas que ela não vem, é mesmo

quando tenho gente. Não dá, isto está complicado, este mês nem para a minha caixa

deu. Isto se continua assim, não sei se vou aguentar. Vamos ver como é que vai ser o

Verão”.

P8: Há quanto tempo é que tem a casa?

R: “Há nove anos”.

P9: Quando abriu, preocupou-se em saber se havia um marco turístico na aldeia

ou fez mais em relação à Serra?

R: “É a neve, a nossa atracção aqui é a neve. Caso contrário, não há outro atractivo, que

é pena não haver na nossa zona outros atractivos sem ser na altura da neve, porque a

nossa época alta é o inverno e no verão os preços vão para baixo”.

P10: E, os turistas que vêm aqui também é, devido à estância de Ski artificial?

R: “Sim, o primeiro ano foi uma loucura”.

P11: Mas eles vêm por parte de lá ou quando vêm para cá interessam-se pelo ski,

ou acontecem as duas coisas?

R: “Acontecem as duas coisas. Há muitos, que no início, vinham mesmo só para o Ski.

E depois tentam arranjar casa, alojamento e como isto aqui fica perto, daqui até lá são

10 minutos”.

P12: Mas estamos a falar do Ski na Serra?

R: “Não, é do Ski Parque, o artificial”.

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P13: Mas também acontece para a Serra?

R: “Sim, as pessoas, a maior parte dela, que gosta mais da neve, também estão aqui

hospedados e vão para a Serra”.

P14: Encontrou algumas dificuldades para implementar este tipo de turismo, aqui,

ao nível político ou de burocracia?

R: “Muitas, eu tive treze meses à espera de uma assinatura, já com a casa concluída.

Tive que ir buscar dinheiro, porque é assim, a RUDE dá mas eu tenho que fazer

primeiro, portanto, eu tenho que fazer o investimento e depois é que eles vão dando a

minha parte e isto demora. Só ao fim de estar isto tudo concluído é que eles dão o resto

e entretanto estive à espera de uma assinatura da DGT (direcção geral do turismo) treze

meses. Foi muito difícil, o meu marido apanhou um esgotamento porque tínhamos

encargos muito grandes mesmo. Ele depois ficou arrependido, mas hoje não estou

porque é um valor que eu tenho. Valorizei mais a quinta. Eu hoje se não quisesse

continuar com o turismo já tinha desistido, porque ao fim de cinco anos já posso

desistir, mas eu gosto”.

P15: Só ao fim de cinco anos é que pode desistir? Antes não?

R: “Não, senão temos que repor o dinheiro todo. Eu já podia desistir”.

P16: Mas as ajudas que eles dão são só o que é gasto ou dão mais ajudas?

R: “Não, eles dão 50% do valor. Fazem o valor, vem um empreiteiro e faz um justo

valor à obra”.

P17: Mas só à obra?

R: “Sim, só à obra, nada de mobílias, tudo o que está cá dentro foi à minha conta”.

P18: E depois não há mais nenhum apoio?

R: “Não, nem temos apoio de publicidade, que é muito mau, portanto, tem que ser tudo.

Pela internet, nós temos que pagar, não temos apoio de nada porque eu acho, que eles

deviam divulgar, nem tanto os hotéis, mas estas casas pequeninas, portanto, o turismo,

porque se a gente empatou dinheiro e estamos aqui à espera de hóspedes, acho, que

deviam divulgar mais o turismo”.

P19: Eu acho, que a internet é uma forma muito boa de divulgação, porque uma

pessoa vai às pesquisas e coloca “Turismo Rural” e aparecem muitas casas.

R: “É muito bom e temos a nossa página, a página do turismo da Serra da Estrela, que

também tem e tem aquele site que é: portalserradaestrela.biz. Um senhor é que levou

esse dinheiro (para pagar a publicidade na internet), mas acho, que não tenho assim

grandes vantagens”.

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P20: Mesmo para meter nesses sites também tem que pagar?

R: “Sim, é tudo a pagar. Mas é muito complicado, é uma coisa impressionante. Podiam

ser preços mais risonhos e agora na internet é publicidade e publicidade, querem todos

que lhes mandem dinheiro para nos mandar pessoas, é complicado. Ainda agora me

telefonaram da Alemanha, que queriam fazer publicidade da minha quinta, para eu

mandar 170 ou 190€, mas não vou fazer contrato nenhum com eles porque eu não os

conheço de lado nenhuma. Eu tenho a Booking, em que tenho contrato com eles, mas é

assim, eles mandam-me os hóspedes, mas de mês a mês eles mandam-me o total da

comissão deles. Assim compensava, agora estes indivíduos da Alemanha que riam 170€

para fazer publicidade na página deles e depois? Há tempos telefonou-me um indivíduo

que queria vir passar o fim-de-semana, ele, a mulher e os filhos, e perguntou-me qual

era o preço e eu disse-lhe. À tarde volta-me a ligar e diz-me assim: “olhe, eu posso fazer

um contrato com a senhora. A senhora não está ligada a agências”, “sim estou” e disse-

lhe que estava ligada, “ah, mas nós é outra, olhe, a senhora faz um contrato comigo de

1000€, mais IVA. A senhora não fica prejudicada em nada. Eu encho-lhe a casa, tem

sempre gente e eu vou descontando esse dinheiro dos 1000€ em estadia minha, minha e

dos meus filhos e da mulher” e eu disse-lhe “mande-me lá isso por e-mail para eu e o

meu marido e a minha filha vermos bem o que é que o senhor quer, porque eu não estou

a compreender bem o que o senhor quer” e ele mandou, daí a um bocado já estava. E eu

chamei o meu marido e disse: “este gajo deve estar a gozar connosco”, acho que esta

gente quer fazer de nós parvinhos. Era uma estadia de 1000€ que ele cobrava, vinha cá,

comia, dormia, passeava os dias que queria e nós íamos descontando e ele depois

mandava-me hóspedes. Como é que eu tinha a certeza que ele me mandava os

hóspedes? Daí a um bocado liga-me outra vez: “então a senhora já viu?”, “Sim, mas não

quero, porque é assim, com as agências eles mandam-me os hóspedes e depois pedem a

percentagem ou tiram-na directamente no dinheiro que os hóspedes pagam, agora eu

assim não faço”, “ah e tal! Mas assim era uma mais-valia para a senhora, eu enchia-lhe

a casa”, acho, que é mesmo fazer de nós parvinhos. Eu digo-lhe, às vezes, apanhamos

cada uma no turismo que é de uma pessoa ficar”.

P21: Então tem contratos com agências de turismo?

R: “Contrato, mesmo, é com a Booking, o resto das agências, às vezes, telefonam. Mas

tenho muito pouco porque hoje não há procura”.

P22: Que tipo de turistas costumam frequentar a casa? A idade, famílias, grupos?

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R: “Novos, da vossa idade, grupos, pessoas mais idosas, portanto, vêm de todas as

idades”.

P23: Costumam vir mais famílias ou grupos de amigos?

R: “De amigos, no Verão sim, e de todas as idades”.

P24: Costumam dizer as razões para vir para aqui?

R: “É diferente dos hotéis. É mais familiar, o atendimento mais personalizado, é tudo

feito aqui na quinta. Eles andam à vontade, eu dou-lhes a chave, entram à hora que

querem, portanto não precisam de estar no quarto, vêm para aqui (sala), convivem

connosco, fazemos um magusto no inverno com as pessoas. É essa a razão que eles nos

dizem que o turismo é diferente, porque é assim, os hotéis, entram para os quartos e não

conhecem ninguém, saem, pagam e vão embora. Aqui não, mesmo às vezes com os

próprios hospedes, várias pessoas fazem amizade, é engraçado”.

P25: E que tipo de profissões é que eles costumam ter?

R: “Graças a deus, têm vindo pessoas de todas as profissões, desde arquitectos, a

advogados, engenheiros, de todas as classes”.

P26: Mas por exemplo, um operário já não?

R: “Não é tanto, porque os preços do turismo, embora estejam iguais aos do hotel, no

inverno são um bocadinho diferentes, para a gente ter um nível. Não é a questão de

fazermos diferenças, é uma questão das pessoas também saberem estar, porque pode ver

alguém que não se enquadra no grupo e é muito chato e às vezes temos que pôr o preço

um bocadinho mais elevado para fazermos a diferença. Mas não é a questão... eu tanto

recebo um operário como recebo um doutor e é tudo igual aqui, o atendimento é todo

igual, não faço diferenças com ninguém. Eu, aqui há uns anos, tive cá a jornalista, a

Conceição Lino, teve cá uns quatro dias, pediu-me uma noite e depois sentiu-se bem e

perguntou-me se podia ficar mais, e eu disse que sim, porque foi durante a semana. Ela

e o marido perguntaram-me se eu recebia toda a gente como os estava a receber a eles e

eu disse que sim, aqui na minha casa é toda a gente tratada da mesma maneira. Eu não

me esqueço do pequeno-almoço, todos os dias é um bocadinho diferente. Eu dou

compota feita cá na quinta, todos os dias os bolos são diferentes, os doces são

diferentes. Eu sei todos os dias aquilo que eu ponho, eu não me engano, é muito raro

enganar-me porque é para toda a gente igual e se não fosse, podíamos correr o lapso de

nos enganarmos, portanto, eu trato toda a gente por igual, tanto faz serem operários

como... mas geralmente vem uma classe assim mais média-alta. Estrangeiros também

vêm muitos”.

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P27: A maior parte é de cá ou vêm de fora do país?

R: “No inverno são mais de cá por causa da neve. No verão já vêm mais estrangeiros.

Quando fizeram a A23 tivemos uma queda muito grande porque os estrangeiros

vinham, apanhavam a A23 e seguiam para Lisboa, Porto ou Coimbra ou o Algarve e

antigamente não. Saiam em Vilar Formoso, metiam-se na Nacional 18 e passavam pelas

placas e entravam, agora não é tanto porque não nos deixam por informação nas auto-

estradas, é só o convento de Belmonte. Uma vez perguntei e fizeram-me à volta de

2000€ ou 1000 e não sei quantos euros só para fazer os painéis”.

P28: É o que é que acha, que poderia melhorar na aldeia para ajudar a casa?

R: “Mais atractivos. O presidente queria fazer aqui a rota dos carvoeiros, mas ainda não

fez. Isso era muito bom, fazer passeios ou de jipe ou a pé, acho, que era bom. Mais para

aqui, não sei, só o presidente da aldeia é que já temos aqui atractivos, temos aqui

Belmonte que nos ajuda bastante, tem os museus, tem o castelo, eu mando sempre para

Belmonte, para Sortelha, que é lindíssimo, é para onde eu mando os meus hóspedes, vão

ver os museus judaicos ali de Belmonte e é para a pista sintética, para a serra”.

P29:E aqui na aldeia existe uma cooperação com o restaurante, o presidente da

junta, uma loja qualquer de artesanato?

R: “Artesanato, não dá. Eu já tentei por aqui, fazer os meus doces. As pessoas no início

compravam, as pessoas vinham e queriam levar alguma coisa da zona, como as mantas

serranas, mas hoje já não levam nada, as pessoas vêm dormir, tomar o pequeno-almoço,

ir passear, mas não levam nada”.

P30: Os doces que põe ao pequeno-almoço e os sumos são feitos cá?

R: “Sim, eu dou aos hóspedes no inverno o sumo de pêssego, e eles adoram. E eles

dizem que enquanto eu tiver pêssego para não dar de laranja e os doces são feitos todos

cá na quinta, todos os dias há doces diferentes”.

P31: Pelas alturas das festas, alguém vem para cá por causa dessa festa?

R: “Não, aqueles que vêm têm os familiares e vão para a casa deles. Para aqui

praticamente não vem ninguém”.

P32: A abertura do restaurante não teve como influência a casa de turismo rural?

R: “Não, por acaso eu mandava os meus hóspedes para Valhelhas porque há lá dois

restaurantes com comida regional e então sei que eles são muito bem servidos. Em nove

anos nunca tive nenhuma reclamação do restaurante e isso é muito bom para nós, eu

mandar um casal e dizer assim: “olhe, vá a tal sítio”, e isto não tem nada a ver com o

restaurante. É um restaurante só de comida regional. Agora mando para os três (o

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terceiro é o da terra) e as pessoas optam por o que quiserem. Eu no inverno fartei-me de

mandar gente aqui para o restaurante”.

P33: Mas podia haver uma cooperação entre você e o dono do restaurante,

tentando ele convidar pessoas que conhecesse para vir para aqui e você

encaminhar outras para lá.

R: “Pois, não sei. Eu mando para ajudar o restaurante. Veio só um casal de Lisboa que

eram amigos dele (do dono o restaurante). De Valhelhas sim, têm-me mandado para cá

gente, mas também já não é tanto. Mas mandavam e quando estão cheios telefonam a

perguntar se tenho possibilidade de receber um casal, ou assim. O restaurante de

Valhelhas, por acaso mas, já há nove anos. Eu aqui deste não posso dizer que nunca me

mandaram ninguém porque só há dois anos é que está aberto. Está difícil, também para

eles. A comida é muito bem confeccionada, também estão com comida regional, mas

também tem estado difícil para eles e eu tento sempre no inverno mandar para eles, eu

falo nos de Valhelhas, mas tento mandar para aqui para a aldeia, porque é bom para nós,

começa a haver mais gente, e também para os ajudar”.

P34: Foi difícil aceder às políticas? A Câmara ajudou e incentivou?

R: “Sim, muito. O presidente da junta é que praticamente me meteu nisto e quando

tinha problemas de plantas, porque o arquitecto, tive pouca sorte com o arquitecto,

porque dizia que não era preciso certas coisas porque ele estava lá metido na Câmara,

mas afinal tive que pedir ao presidente da junta para nos ir lá desenrascar porque ele dá-

se muito bem com o presidente da Câmara da Covilhã. O projecto depois ainda teve que

ir para Lisboa, teve que ir para Coimbra. Foi uma burocracia muito grande. Quem tem

dinheiro é preferível fazer tudo sem ajudas, porque já tinha a casa mobilada e toda

pronta e não podia receber ninguém porque faltava aquela assinatura. Ao telefone,

muitas vezes o meu marido ligava para lá, e o doutor que já o conhecia dizia-lhe assim:

“outra vez o senhor?” e o meu marido dizia: “sim, outra vez e quantas vezes for

preciso”, ele tinha semanas de ir lá a Lisboa. Foi muito difícil. Deve ser do mau

funcionamento lá. Aqui na Câmara não tive problemas porque a partir do momento em

que me aprovaram o projecto no LEADER, na RUDE, o presidente da Câmara, porque

também está metido na RUDE, ele diz-me assim: “minha senhora, comece a fazer

obras” e eu comecei a fazer obras sem ter licença para isso, por isso foram

espectaculares nesse aspecto. Ele estava metido na RUDE, sabia que o meu projecto,

sabia que o meu projecto já estava em andamento e ele disse-me: “minha senhora,

comece a fazer” e eu comecei sem ter praticamente o “ámen” da Câmara. Eu fiz com

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ordem do presidente porque ele estava metido nos dois lados, portanto, não tive razão

de queixa da Câmara da Covilhã. Às vezes também demoravam algumas coisas e às

vezes precisavam desta e daquela papelada e às vezes íamos lá e um dia pediam uma

coisa e noutro dia pediam outra, mas isso eram os funcionários ou eles diziam:

“recebemos hoje isto e nós não estávamos a contar”, pronto”.

P35: Mas pediram alguma informação do que era preciso fazer ou foi sabendo à

medida que ia à Câmara e que diziam “agora é preciso este papel...”?

R: “Eu fui fazendo e depois chegava lá e eles diziam que era preciso mais esta

papelada, é preciso aquela, é preciso o registo da casa, depois era da quinta”.

P36: Nunca tentou pela internet, procurar saber?

R: ”Não, nem ainda tínhamos internet”.

P37: Quando passa para Coimbra, ainda tem acesso ou já não tem nada a ver

consigo? Ou é a Câmara que faz com que o processo se desenrole?

R: “Em primeiro foi com a Câmara. Depois de estar tudo feito, vem a vistoria de Lisboa

e só ao fim de muito tempo é que passou para Coimbra. Nós andámos sempre em

Lisboa. Em primeiro foi para Lisboa mas agora já pertencemos a Coimbra. A segunda

vistoria já foi com pessoal de Coimbra, porque eu tive que mudar o nome da quinta,

porque era Quinta dos Mortórios e as pessoas assustavam-se e uma pessoa quando não

vem gente, pensa em tudo e mais alguma coisa e eu andei num curso e as pessoas

diziam: “a senhora tire o nome da quinta”. E depois eu tive que tirar o nome e foram, só

para mudar o nome, 500€. É tudo assim”.

P38: E, as vistorias são de quanto em quanto tempo?

R: “Não, vieram a primeira vez para ver se a mobília estava toda adaptada à casa, o gás,

a canalização, tudo. Eles metem o bedelho em todo o lado. E depois veio a segunda

vistoria porque eu mudei o nome à quinta”.

P39: E, nunca mais houve apoios nenhuns?

R: “Não, nunca mais. Só no inicio é que houve. Aliás, no ano passado ou há dois anos é

que tive um apoio outra vez da RUDE por publicidade. Eu não sabia e uma vez em

conversa falei que gastava muito dinheiro em publicidade e disseram-me: “e porque é

que não meteu, que a RUDE ajudava?” e então é que meti”.

P40: E onde ficou a saber disso?

R: “ Foi na RUDE”.

P41: E não perguntou se havia outro tipo de apoios?

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R: “Não, porque eles depois começaram a dizer. Tive apoio para a piscina, porque

houve outra possibilidade e eles disseram: “aproveite, faça agora a piscina porque agora

vai haver apoios” e eu aproveitei. Eu ainda queria fazer uns anexos para animais porque

eu queria meter aqui burros na quinta porque acho que era giro para as crianças, pronto,

haver um chamamento, um atractivo e para as crianças terem contacto com os animais e

com as galinhas, com os pombos, com os pavões. Eu gostava de fazer isso aqui na

quinta, mas não há dinheiro. Eu queria fazer umas casinhas aqui, para as pessoas que

queriam ficar uma semana e que queria cozinhar, para terem acesso a essas casinhas,

mas está muito difícil”.

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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Presidente da Junta

P1: Há quanto tempo é presidente da Junta?

R: “Há vinte anos, é o meu quinto mandato, portanto como presidente de junta de

freguesia”.

P2: Em que medida é que achou importante a implementação do turismo rural na

aldeia?

R: “Nós estamos numa região, portanto, do interior e a nossa freguesia como tem

oportunidade de ver é virada para a fruticultura, antigamente aqui era como em grande

parte do país no interior, era vinha e oliveira e também muita batata, houve talvez há

trinta anos uma transformação, começou-se a dar o inverso, viraram-se mais para a

fruticultura. E para nós, temos uma qualidade muito boa, sobretudo o pêssego. Pêssego,

maça e pêra. Como nós devemos pensar a agricultura dá trabalho a um certo e

determinado números de pessoas, o turismo, devemos pensar, porque recebemos

pessoas de fora, darmos a conhecer a nossa região, os nossos produtos, mas sobretudo

virado para o turismo, porque existe aquilo que agora no país e nós na nossa região, que

é os parques industriais. Eu sou (…) para que as grandes empresas sejam instaladas em

parques industriais o que nos leva um bocadinho as aldeias a ficarem como dormitórios.

Para que isso não aconteça, estamos a tentar que o turismo venha ver também as aldeias,

nós bem sabemos que Lisboa e Porto são duas cidades de trabalho, é autocarros é

carros, para ir trabalhar são horas. Por exemplo a minha mulher trabalha na Covilhã,

mas se lhe dessem a oportunidade de ela ficar na Covilhã ela não queria porque quer

regressar à aldeia. È isso que nós temos que incutir às pessoas, que as aldeias são

necessárias também para isso, chamem-lhe o que quiser, dormitórios ou não. Então o

turismo rural, que a nossa aldeia é visitada por muitos mais turistas. Em seguida houve

dois jovens que abriram um bom restaurante, portanto temos todas as condições na

aldeia para que seja desenvolvido ao máximo o turismo rural”.

P3: Então, não havia restaurante na aldeia?

R: “Não, entes do turismo rural não havia nenhum restaurante, nasceu primeiro o

turismo rural e em seguida houve, (…) havia aqui uma antiga padaria, e os netos do

padeiro, eram jovens e gostam muito da aldeia, e eles quiseram fazer o restaurante.

Tiveram muitas dificuldades, o restaurante é de um nível muito bom para receber já os

turistas, portanto estamos no bom caminho”.

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P4: Tem conhecimento de pessoas que tenham saído da aldeia por não terem

postos de trabalho?

R: “Exactamente, a saída pelo menos houve nos anos 60 e mais nesta região, porque as

condições eram péssimas, era o trabalho do campo e tudo isso. Eu tive na marinha,

cumpri o serviço militar, e eu próprio fui para França, tive lá 14 anos e gostei tanto que

trouxe uma mulher francesa e os filhos, tenho três que nasceram lá. Já há trinta nãos que

cá estou. Portanto, houve aqui um tempo muito bom devido às confecções daqui de

Belmonte”.

P5: Em relação à implementação da casa de turismo rural, deu alguns apoios?

R: “Parte logística, estiveram à vontade, e apoiei bastante a parte logística, depois teve

apoio do programa líder, 60% de fundo perdido e um de que eu apoiei porque faço parte

da direcção, um programa de desenvolvimento regional e local”.

P6: Para além dos benefícios que o turismo rural trás como trazer pessoas de fora,

tem algum conhecimento de outros benefícios?

R: “O benefício que temos, é dar também a conhecer a nossa aldeia a nossa região. È

um prazer falar na minha aldeia, e por isso é que tenho gosto em ser presidente da

junta”.

P7: É uma forma de divulgação?

R: “Sim, das pessoas e creio que está bem entregue às pessoas que estão a desenvolvê-

la”.

P8: Acha, que há bastante divulgação da casa de turismo rural?

R: “A divulgação é sempre complicado, com as novas tecnologias é muito fácil saber o

que há nas regiões, eu creio que sim, que está bem divulgado, com folhetos. Agora para

se fazer uma casa com muita fama e fazer do seu trajecto por Vale Formoso. Mas

quando nós vemos pessoas a repetir, tanto no restaurante como na casa de turismo é

porque gostaram, por isso, é muito bom”.

P9: Em relação à aldeia, existe aqui algum marco turístico, alguma coisa com

história, algo ligado à cultura?

R: “O marco turístico (…) não se esqueçam na altura da cereja na altura da cereja,

aquilo é um espectáculo depois vem a vinha depois as pessoas agora a colheita da

cereja. Está tudo muito ligado à fruticultura. Agora vou tentar reavivar um marco

teatral, fiz à dois anos, a descoberta da moura já a 49 anos que não era feita e este ano

vamos tentar fazer novamente. Os únicos dados que tínhamos era algumas fotografias e

as documentos a contar como foi e dei aos técnicos para eles fazerem. A moura aparece

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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no bosque numa cabana, vestida de branco cheia de ouro. Nessa altura isso significava

para os romanos e para nós um vale bom, uma aldeia boa para viver, temos a serra na

encosta e o vale com o rio e nessa altura os romanos valorizavam muito os rios, e foi daí

que nasceu uma festa em homenagem, quando foi a primeira vez não se sabe, não

significa um milagre mas transmitir que se trata de um vale fértil magnífico que é esta

região. Portanto o turista que vem aqui não fica arrependido de conhecer uma aldeia

histórica, creio que passaram cá os romanos, há vestígios calçada romana e havia

também um forno romano, mas não foi possível recuperar e então meteu-se areia e terra

e está tapado, vieram cá o EPA”.

P10: Mas isso podia ser uma atracção turística?

R: “Mas isso era muito complicado, era muita despesa, casas deitadas a baixo, aquilo

não se sabe bem se era um forno para fazer cerâmica ou para aquecimento de águas”.

P11: Em relação à gastronomia, existe algum prato tradicional?

R: “A gastronomia, na nossa freguesia, e posso-lhe dizer que a região mesmo daqui é o

cabrito, é o bacalhau, os enchidos, porque se fazia a matança do porco mas agora é

proibido, os espanhóis continuam a ter os bocadilhos, os franceses continuam a ter o

queijo e nós cá é tudo proibido. A tradição vai se perdendo”. A ovelha da bandeira da

minha junta é uma ovelha preta, para não estar a por santos, como as outras têm.

Antigamente quando vinha o inverno, os rebanhos tinham que descer as planícies e

aqui, Vale Formoso, que na altura era Aldeia do Mato, e então vinham aqui e ficavam

uma semana ou duas e depois continuavam para o Alentejo. E nesta aldeia ficavam

muitos rebanhos, por isso é que eu pus na bandeira uma ovelha porque é o grande

símbolo da nossa aldeia. Quando iam e quando regressavam passavam aqui alguns dias.

Isto para vos dizer que o nosso queijo que é magnífico, foram-lhe criadas complicações

horríveis, para queijarias e tudo isso. Mas isto, os políticos mais graúdos lá saberão,

porque os políticos pequeninos não têm voz activa para falar, mas tenho a voz activa do

povo e defender aquilo que está. Portanto, perdemos muitas características da aldeia”.

P12: Em relação a infra-estruturas que se construíram, por exemplo, o restaurante

foi uma delas, houve mais alguma coisa?

R: “A questão que concerne à Junta de Freguesia, tenho uma escola, posso-lhe dizer que

não estou de acordo quando vejo ao fim do ano as médias nacionais, que só os colégios

é que têm melhores médias e que a parte estatal que não tem, não sei porquê. Eu, na

minha escola, porque a parte física é comigo, por isso é minha, posso-lhe dizer que se

pode por ao lado de qualquer colégio. Já tenho agora que andam aí que vender ou a

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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009

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brincar com uma caixinha chamada Magalhães e de internet e Vale Formoso já tem

internet há mais de dez anos, ligada aqui, via satélite. E isso deve-se muito também ao

presidente da Câmara da Covilhã. Nenhum pai ou mãe em Vale Formoso não pode dizer

que não pode trabalhar por causa do filho, porque às 7h30 da manhã está uma

funcionária a receber as crianças na escola, até ás seis da tarde. Um pai está

descansadinho porque a criança está bem guardada e tenho a escola toda fechada com

gradeamento, com fecho eléctrico e tem um gimnodesportivo atrás, com refeitório. Tem

o centro de dia, onde também sou presidente, fornece à escola o almoço, gratuitamente.

Tudo pago pela Junta de Freguesia. Tem uma boa caixa de multibanco na aldeia,

também”.

P12: E em relação à casa de turismo, abriu mais alguma coisa que viesse depois da

construção da casa e que apoia-se o turismo rural?

R: “Após a construção da casa, não. Quer dizer, meteu-se lá iluminação”.

P13: Acha, que há cooperação entre as entidades (mercearias, restaurante, cafés)?

R: “Eu creio que sim. Vocês não são de aldeias, mas nas aldeias é complicado, porque

se um sobe mais um bocadinho já há inveja. E em Vale Formoso isso tinha que existir,

senão, não era uma aldeia. Na cidade não se nota porque as pessoas não se conhecem

umas às outras. No mesmo prédio o do andar de cima não conhece o de baixo. Aqui as

pessoas, também criticam uns e outros, mas se alguém necessitar, que tenha um

problema qualquer, toda a gente ajuda. Há sempre a sua parte positiva. Se por acaso

houvesse um incêndio por aqui, imediatamente toda a gente corria. A sensibilidade das

pessoas é muito maior.

P13: Também existe uma competição entre essas entidades?

R: “Existe. Cada uma tem que apresentar o seu melhor produto”.

P14: Mas se cooperassem todos, podiam ganhar todos com isso, não é?

R: “Uma das coisas que há bocadinho estava a falar com um professor universitário, era

mesmo sobre isso. Falando do produto que mais temos aqui, os agricultores, se tivessem

mais unidos, podiam em grande, comprar o mesmo produto e em vez de comprarem

cem litros, compravam um milhão de litro. Fazendo uma espécie de cooperativa. Mas é

complicado. Há aí já uns jovens mais unidos, como o Chico do Turismo Rural, o

Firmino ou o Micha, com mais uma abertura e estou convencido que daqui a meia dúzia

de anos estarão muito mais unidos e a defenderem-se. Eu gostaria imenso de ver aqui

um bom armazém. A grande parte que fará falta aqui é a comercialização. Nós temos as

cooperativas, mas a cooperativa, pode funcionar muito no país de leste, mas em

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Portugal não funcionaram grande coisa. É a minha maneira de ver, porque o dinheiro

não é deles, é o “manel” que tem lá uma cota, é o “jaquim” que tem lá mais uma cota e

dá confusão. Se nós tivéssemos os nossos agricultores, pelo menos de Vale Formoso,

Aldeia de Souto e Orjais, este vale todo bem unido, garanto-vos que teriam muito mais

lucro, porque poderíamos trabalhar com a comercialização. Em relação aos turistas, no

Inverno temos maior movimento do que no Verão. No Verão temos os emigrantes, que

vêm passar o mês de Agosto, mas o maior movimento, mesmo do turismo rural, será

com certeza o Inverno. Temos a Serra, temos um produto, falo nisso porque sou um

homem ligado à Serra e à neve, e no Inverno está vendida, mas no Verão não temos

praia e o grande problema é esse. É complicado. Não estamos perto de Espanha, isto é

na fronteira, e estamos mais divididos para aqui. Estamos um bocadinho desviados.

Ninguém costuma vir passar por Vale Formoso e ficar muito tempo. Portanto, eu estava

a ligar mais para a indústria da fruta. Aqui na zona, cada vez é mais procurado um

bocado de terreno. Na parte deles (agricultores) eu estou convencido que se houver

maior união, e eu poder ajudá-los, para fazer pelo menos um armazém de recolha aqui.

Há muitos pequenos agricultores que têm três mil metros quadrados de pomar, com cem

pessegueiros, eles deixam cair tudo ao chão porque não dá para a comercialização e se

houver um local de recolha, sempre se pode receber qualquer coisa.

P15: E os agricultores empregam muita gente ou é só da família?

R: “Não, empregam muita gente, mesmo até das aldeias aqui à volta. Muitos trabalham

nas confecções, mas também muitos na agricultura. Todos os dias quando é a época

alta, andam na recolha. Agora andam a deitar fruta a baixo porque tem fruta a mais e é

preciso seleccioná-la”.

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Artesão

P1: Nós ficamos a saber que o senhor já não trabalha no artesanato.

R: “Não, não, já há uns seis ou sete anos”.

P2: Já está reformado, não exerce mais nenhuma profissão?

R: “Nada porque não posso”.

P3: Mas você só fazia ou também vendia?

R: “Fazia e vendia”.

P4: Mas vendia só aqui na aldeia, ou também para fora?

R: “Era para quem calhava. Em geral tinha um freguês certo, que era ali de, era o

Gonçalo que me as vinha cá buscar e depois as ia vender no mercado”.

P5: Portanto era para fora que as vendia?

R: “Era, para mim para que é que eu queria”.

P6: E, que tipo de coisas é que fazia?

R: “Era cadeiras”.

P7: Só fazia cadeiras?

R: “Mais nada”.

P8: Quanto tempo foi artesão?

R: “Eu?”

P9: Teve mais alguma profissão ou fazia só isso nos tempos livres?

R: “Oh, era conforme quando tinha que fazer nas hortas ia para as hortas, quando não

tinha era aqui que me entretinha”.

P10: Trabalhava sozinho nas cadeiras?

R: “Sim, sim, às vezes a minha mulher ajudava, a atar os acentos que eram de tabúa, e

nas horas vagas ela ajudava-me, a cortar as pontas. Mas isto já vem dos meus avós,

depois passou para o meu pai e para mim e agora acabou”.

P11: Foi mais por esse motivo, que fazia as cadeiras? Aprendeu com o seu pai?

R: “Pois aprendi com o meu pai”.

P12: Isso era já de tradição?

R: “Isso já era tradição antiga”.

P13: Quantos anos têm agora?

R: “65”.

P14: Você nunca vendeu cadeiras para turistas então?

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R: “Eles vinham cá busca-las, eu sei lá quem eram. Sei lá se era para turistas ou para

quem eram”.

P15: Se calhar até eram pessoas que vendiam a turistas?

R: “Isso, eu não sei, sabia que havia um indivíduo que vinha do Teixoso, que vinha cá

buscar muitas para levar para o Algarve. Que era para andar lá nas praias. Uma vez até

me trouxe uma carrada delas que estavam podres da água salgada e queria que eu as

concertasse. Eu disse-lhe: deite isso para o lume. Havia cá muitos artesãos, agora já não

há cá ninguém. Muitos imigraram, eu tenho as mãos todas tortas por causa disso, dava

muito trabalho, e isto já não dava nada. Mas até era uma vida boa, estava aqui sentado à

fresquinha, embora com muito trabalho”.

P16: Você nunca vendeu cadeiras para a casa de Turismo?

R: “Ainda não existia”.

P17: Então nessa altura já tinha deixado de fazer cadeiras?

R: “Sei lá, então eu reformei-me, tinha 59 anos, ainda andei muito tempo de baixa”.

P18: E nas festas nunca chegou a vender nada?

R: “Não, não”.

P19: Há aqui uma festa sazonal?

R: “Não, antigamente, no tempo do meu pai, quando eu ainda era novo íamos assim

para as feiras corríamos tudo por aqui, com uns burritos, chegamos a ir para Penamacor.

São ainda uns 40 e poucos Km”.

P20: Então era mais nas feiras que vendia e não nas festas?

R: “Não, não, mas isso no tempo do meu pai, quando trabalhava com ele”.

P21: Isso já vai praí à 50 anos?

R: “Pois eu ainda era garoto, ainda nem tinha ido à tropa. Isso foi só até aos meus 15

anos, porque eu não gostava, estava sempre aqui preso, os meus colegas iam sair e

tinham sempre dinheiro e eu nunca tinha nada, o meu pai a mim não me dava nada”.

P22: Tinha que vender uma por fora.

R: “Se fosse agora. Agora, naquele tempo espancava-me logo. Em 74 casei me e fui até

à França, mas cheguei lá e não sabia dizer uma, regressei à base. Então fiquei sempre aí

e foi quando me agarrei a serio nas cadeiras”.

P23: Você não queria, mas lá teve que fazer as cadeiras.

R: “Oh pá, embora eu não gostasse assim muito da coisa mas comecei a ver… o meu

pai ficou sempre assim na coisa. Mas ainda cá estive um tempo a trabalhar para ele, mas

depois via-o a fazer a féria, tantas cadeiras tanto dinheiro, isto assim não pode ser, falei

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com ele, pai isto assim não está bem, então eu estou aqui a trabalhar para si dia e de

noite e você fica com o dinheiro todo. Depois começamos então a trabalhar a meias,

comprávamos a madeira a meias, pronto era tudo a meias, depois infelizmente deixou

de trabalhar, morreu e fiquei eu sozinho. E assim foi, e já não há cá ninguém”.

P24: Já não faz há muito tempo então?

R: “Já então. Não podia, não podia estar sentado, tenho duas hérnias na coluna, por isso

é que me reformaram se não era só agora aos 65. E assim, foi a vida e vai-se andando”.

P25: Mas tinha uma oficina?

R: “Trabalhava aqui (casa) ”.

P26: E tinha máquinas?

R: “Tinha e ainda e estão. Tenho duas, e o resto era à mão, mas agora por fim porque

antigamente era tudo à mão. Mesmo a furar era tudo à mão. Ainda vieram cá para tentar

modernizar isto, mas eu tinha que investir e depois é que davam algum, através da

câmara. E davam mas não era tudo era uma pouco e eu não quis”.

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Dono da mercearia I

P1: Há quanto tempo tem o seu estabelecimento aberto?

R: “Já vai para 43 anos”.

P2: Porque razão criou esta mercearia?

R: “Esta casa já estava aberta e estava cá um senhor, antigamente, que pensou em ir

para o Brasil. Eu não sou daqui, sou do Teixoso. Ele foi para o Brasil e, claro, tentou

passar a casa. Mas nessa altura, foi em sessenta e cinco que eu vim para aqui, não

confiou em ninguém para vir para esta casa. Ele lá conhecia alguém que lhe disse que

eu era jeitoso para vir para esta casa e lá foram ver de mim, o homem. Trouxe-me cá

mas eu fiquei com um bocado de receio, porque não conhecia este negócio, porque fui

sempre criado na agricultura e não percebia o que eram mercearias. De maneiras que o

homem foi lá ter comigo, “você há-de ir para a minha casa, que é uma casa boa”

(referência às palavras do antigo dono), mas eu disse: “não vou porque eu não percebo

nada de mercearias”. O homenzinho tanto se agarrou a mim que quase me obriga. Como

ele tinha ido para o Brasil, quando vim para a casa, ele tinha tudo vendido, não havia cá

nada. Eu cheguei aqui à porta e vi isto tão grande sem nada nas prateleiras. E eu pensei

assim: “mas como é que eu vou encher uma casa tão grande? Eu não tenho dinheiro

para encher uma casa tão grande! Eu não venho para cá”. E ele disse-me: “venha que eu

facilito mais isto e mais aquilo, e mais assim e mais assado”, tanto me namorou que,

realmente, para cá vim, em 1965. Pronto, agarrei-me à vida, a trabalhar, a lutar, de noite

e de dia, para não abrir falência. Nesse tempo o dinheiro também era pouco, como agora

estamos, praticamente. As pessoas vinham buscar as mercadorias e só pagavam com as

sementezitas que colhiam, o milho, a batata, o feijão e depois eu vendia às camionetas

para fora. Só ao fim de estar aqui três anos ou quatro é que começou malta a emigrar

para a França, daqui. Quem emigrava, todos deviam cá, não havia nenhum que não me

ficasse a dever. Levavam umas malitas para levar umas roupitas, hoje já nem há dessas

malas, e de maneiras que diziam: “olhe que eu já vou esta noite”, “ai! Aquele ficou-me

a dever e não me pagou”, todos me ficaram a dever. Todos os homens que foram para a

França, vieram de lá da França para cá, pagaram-me tudo, não me ficaram a dever nada,

está a perceber? Aqui tenho estado, até esta data, e agora para a França já não vou, já

nem vale a pena ir”.

P3: E quem é que estava aqui, era uma empregada ou você e a sua mulher?

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R: “Era eu mais a minha mulher. Esta é a minha segunda mulher, a primeira faleceu. A

minha mulher ficava aqui na loja e eu andava por fora a trabalhar, está a perceber? A

sachar batatas, a sachar milho e feijão e trigo, carregava as camionetas. Eu trabalhava

muito, lutava muito. Tinha uma retroescavadora, que ainda hoje tenho e tenho um

compressor. Andava um empregado com a máquina e eu andava com o compressor a

furar as pedras e a dar fogo naquelas pedras, a lutar na vida. De maneiras que

empregada aqui na loja nunca tive, quer dizer, ainda cá tive uns rapazitos a aprender,

naquele tempo ganhavam pouco, também era pouco o dinheiro, em sessenta e cinco,

havia pouco dinheiro. Ganhavam pouco, mas os rapazes daqui começavam-se a

desenrascar, está a perceber? Com aquilo que aprenderam aqui na minha casa e com a

visão geral, hoje são homens. Tenho um sobrinho que esteve aqui comigo que hoje tem

uma boa padaria em Orjais, um rapaz que está a vingar na vida muito bem. Este rapaz

que está aqui em baixo no café, ao pé da Igreja foi o primeiro empregado que eu tive e

hoje o homem tem uma vida boa também. Lá está, nesse tempo as pessoas vinham

trabalhar, não eram aqueles que vinham ganhar muito, não tinham caixa como hoje,

pronto, andavam a ganhar menos e a gente ia-os aguentando, dávamos de comer e casa

para dormir, mas cá estavam, ganhavam pouco mas aprendiam a trabalhar. Hoje já não

há nada disso, hoje querem vir para uma casa assim, um empregado qualquer, só dá

prejuízo e ainda ganham um balúrdio, depois querem caixa, e depois querem isto e

querem aquilo e não se pode ter empregados, está a perceber?”

P4: Você leva, para a casa de turismo, doces para os pequenos-almoços?

R: “No turismo não há pequenos-almoços. Ela (a dona) leva pão e, de vez em quando,

fiambre, para dar o pequeno-almoço de manhã aos hóspedes, mais nada”.

P5: E os doces que ela dá não os leva de cá?

R: “Os doces? Eu não sei se ela põe doces. É capaz de pôr lá compotas que ela faça,

mas doçaria acho, que não põe”.

P6: Aqui na mereceria vendo produtos tradicionais? Bolos caseiros, produtos de

artesanato, lembranças.

R: “Não. Antigamente vendia-se”.

P7: E vende aqui sumos de fruta destas empresas que têm aqui de fruta?

R: “Os sumos que tenho aqui, vêm todos da Grula, que é uma casa fornecedora. Os

produtos vêm todos do armazém”.

P8: E não pode comprar aqui?

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R: “Não porque nós somos obrigados a comprar ao armazém”.

P9: Então os lavradores vendem para estas empresas?

R: “Vendem. O meu genro, por exemplo, trabalha muito em fruta, na cereja e pêssego,

que vai tudo em caixinhas de 5 quilos, que são todas carimbadas e vão para Lisboa”.

P10: Então aqui não existe nenhuma coisa dessas (uma empresa distribuidora) de

produtos da horta?

R: “Não porque ninguém cultiva, ninguém quer trabalhar. Tem que vir tudo de fora,

esse é que é o mal do nosso país”.

P11: Quando há festas, costuma ver pessoas de fora aqui? A sua mercearia está

aberta nessas alturas de festas?

R: “A mercearia está aberta nos dias de trabalho, aos domingos não”.

P12: A festa que existe aqui, é um dia só?

R: “Ainda há dias houve aí uma festa, o Santo Antão”.

P13: E costuma ver turistas?

R: “Na festa da Senhora da Saúde, que é em Agosto, é que vem mais gente de fora, de

Lisboa”.

P14: Mas são Emigrantes ou são turistas?

R: “Não, são de cá da terra, vêm de Lisboa para passar a festa, que é a festa tradicional

da aldeia, que é a Senhora da Saúde, e esta que agora foi feita há quinze dias é o Santo

Antão”.

P15: E as pessoas que estão na casa de turismo rural, vêm aqui buscar alguma

coisa?

R: “Vêm, vêm buscar queijo, chouriço. Alguns, não são todos. Compram

principalmente o queijo da Serra”.

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Mercearia II

P1: Há quanto tempo tem a mercearia?

R: “Há 41 anos mas isto já existe a muitos anos que temos passado de família para

família. Isto já vem dos avós do meu marido que passaram para os pais do meu marido

e eles passaram para o meu marido. E assim cá estamos”.

P2: Estamos na presença da família mais antiga da aldeia?!

R: “Sim, é a casa mais antiga de cá da aldeia. Embora não seja eu, eu não sou. O meu

sogro já morreu com 95 anos e isto já vinha dos pais dele. A casa mais antiga é esta”.

P3: Porque razão é que implementou esta mercearia?

R: “Para trabalhar, para sobreviver como é o caso de agora…que agora não está para

sobreviver, agora está para se morrer a fome…eu nunca atravessei uma crise como a de

agora. São mais os encargos e menos os lucros porque não dá para pagar a caixa de

providência, somos obrigados agora a estar ligados a umas quatro empresas, não é. Que

era dinheiro que não se gastava antigamente, não tínhamos destas coisas”.

P4: Quatro empresas?!

R: “É da têxtil não sei quantos, é do produto de higiene, não posso utilizar os meus

produtos que vendo as outras pessoas não é…tudo isto traz-nos muitas despesas.”

P5: Quantas pessoas trabalham aqui?

R: “Agora estou eu sozinha”.

P6: Tem vindo aqui muitos turistas?

R: “Sinceramente não estou dentro do assunto”.

P7: Os clientes normalmente são pessoas daqui da aldeia ou costumam vir pessoas

de fora?

R: “Na minha casa?! É só mais os da terra”.

P8: Vende produtos tradicionais?

R: “Não, agora não pode vender nada disso…o queijo tem que ter um rotulo…há muita

coisa que não se pode vender”.

P9: Tem conhecimento de algum prato tradicional?

R: “Olhe, eu não sou daqui, não conheço muito bem qual é mas, quando é no tempo das

vindimas, toda gente vai a praça da Covilhã comprar cherovias (espécie de cenoura,

parecido com uma raiz branca que se come frito) que é o prato tradicional daqui, acho

eu que é este”.

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2.1. Grelha das entrevistas

Dimensões de análise

O turismo rural promove o desenvolvimento local na aldeia de Vale Formoso se:

a) contribuir para a criação de postos de trabalho;

Proprietária

da casa de turismo

"As pessoas que trabalham para mim nunca podem, só vinham às vezes cá a casa fazer limpeza. Mas agora não é sempre porque, quando tenho hóspedes, ela (a empregada) vem porque tenho acesso, como ela está na escola, que faz quatro horas na escola, portanto, se eu de manhã tiver hóspedes, das nove ao meio-dia, tenho acesso à moça e, então, é a única agora que tenho. (...) Só vem aqui como um hobbie"

Artesão "Ainda não existia (turismo rural). (...) eu reformei-me, tinha 59 anos, ainda andei muito tempo de baixa"

Proprietário do restaurante

“Somos dois sócios e três empregados, à volta do restaurante estão cinco pessoas”

"Foi uma oportunidade. Foi também uma mudança de vida. Eu já tenho um curso ligado às técnicas de hotelaria, e trabalhava já em hotelaria. Já trabalhei no norte, já trabalhei no sul e conheço minimamente a hotelaria em Portugal e, então, com um sócio começamos a falar e conseguimos aqui um espaço”

Mercearia I

"Era eu mais a minha mulher. (...) A minha mulher ficava aqui na loja e eu andava por fora a trabalhar (...). De maneiras que, empregada aqui na loja nunca tive, quer dizer, ainda cá tive uns rapazitos a aprender, naquele tempo ganhavam pouco, também era pouco o dinheiro, em sessenta e cinco, havia pouco dinheiro. (...) Hoje já não há nada disso, hoje querem vir para uma casa assim, um empregado qualquer, só dá prejuízo e ainda ganham um balúrdio, depois querem caixa, e depois querem isto e querem aquilo e não se pode ter empregados".

Mercearia II “Agora estou eu sozinha.”

b) promover a implementação de novas infra-estruturas;

Artesão

"Eles vinham cá busca-las (as cadeiras), eu sei lá quem eram. Sei lá se era para turistas ou para quem eram."

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Proprietário do restaurante

“Quando abriu o turismo rural já existia e é uma mais-valia, porque a Aldeia não tem nada para visitar, tem pouco. Não é uma aldeia que tenha uma grande muralha um grande castelo. É uma aldeia muito de passagem, pode ter um turismo rural com a qualidade que o nosso tem, que é procurado para descansar ou para visitarem a serra. Estão afastados dos grandes centros mas acabam por estar no centro da serra da estrela. O turista procura coisas deste género, aliado a qualidade que tem, e para nós é uma grande vantagem. A proprietária da casa quando tem gente, normalmente indica-os a nós.”

Mercearia I "Vêm, vêm buscar queijo, chouriço... Alguns, não são todos. Compram principalmente o queijo da Serra."

Mercearia II “Sinceramente não estou dentro do assunto. (...) Na minha casa?! É só mais os da terra.””

Presidente da Junta de Freguesia

"Como nós devemos pensar a agricultura dá trabalho a um certo e determinado números de pessoas, o turismo (…) devemos pensar, porque recebemos pessoas de fora, darmos a conhecer a nossa região, os nossos produtos, mas sobretudo virado para o turismo (...). Para que isso não acontece estamos a tentar que o turismo venha ver também as aldeias (...). Então o turismo rural, que a nossa aldeia é visitada por muitos mais turistas. (...) O benefício que temos, é dar também a conhecer a nossa aldeia a nossa região. É um prazer falar na minha aldeia, e por isso é que tenho gosto em ser presidente da junta."

Proprietária da casa de

turismo

"Quando fizeram a A23 tivemos uma queda muito grande porque os estrangeiros vinham, apanhavam a A23 e seguiam para Lisboa, Porto ou Coimbra ou o Algarve e antigamente não. Saiam em Vilar Formoso, metiam-se na Nacional 18 e passavam pelas placas e entravam, agora não é tanto porque não nos deixam por informação nas auto-estradas, é só o convento de Belmonte. Uma vez perguntei e fizeram-me à volta de 2000€ ou 1000 e não sei quantos euros só para fazer os painéis. As placas de turismo rural que existem na aldeia foram postas pelo presidente da junta, a meu pedido. (...) mais atractivos. O presidente queria fazer aqui a rota dos carvoeiros, mas ainda não fez. Isso era muito bom, fazer passeios ou de jipe ou a pé, acho, que era bom."

Proprietário do restaurante

"No meu ver tenho e, associada às minhas ideias, que tenho sobre o turismo e que tenho do país, Portugal tem auto-estradas até dizer chega, faltará uma ou duas se calhar, Portalegre ligada directamente ao Algarve…aqui na nossa região acho que estamos bem de estradas…até porque as pessoas deslocam-se em auto-estradas e depois acabam por entrar nas estradas rurais, estradas camarárias, nas estradas nacionais mais ou menos boas (estas é que devem estar sempre em condições). Não convém termos auto-estradas

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tendo estradas nacionais ou camarárias como devem ser. Você mete-se em duas horas de Lisboa a aqui e para seguir para Serra da Estrela você demora quase tanto devida a degradação das estradas. Temos duas locomotivas, que é Covilhã – Castelo Branco e Covilhã – Guarda. Repare que no meio da Serra que tem vistas lindíssimas e propriamente este tipo de turismo não está divulgado, não há capacidade para, como fazem por exemplo na linha do Tua."

Presidente da Junta de Freguesia

"(…) Parte logística estiveram à vontade, e apoiei bastante a parte logística, depois teve apoio do programa LEADER, 60% de fundo perdido e um de que eu apoiei porque faço parte da direcção, um programa de desenvolvimento regional e local. (...) meteu-se lá iluminação."

c) fomentar uma parceria entre as entidades locais com vista a uma articulação com fins económicos;

Proprietária da casa de

turismo

" (...) entretanto o presidente da aldeia, como estava metido no LEADER, às vezes fazíamos aqui patuscadas, que isto estava tudo tosco. Isto, era do Conde da Covilhã, era uma adega particular do Conde da Covilhã. E o presidente da junta, nessa altura, disse-me: “isto ainda tem que ser um Turismo Rural”. Mas eu não tinha possibilidades para ir, já que o meu marido na agricultura não ganha... isto está muito difícil. Entretanto abriram concursos e ele (o presidente da junta) disse-me: “faça uma candidatura, pode ser que tenha sorte” e numa brincadeira, eu meti. (...) por acaso eu mandava os meus hóspedes para Valhelhas porque há lá dois restaurantes com comida regional e então sei que eles são muito bem servidos. Em nove anos nunca tive nenhuma reclamação do restaurante e isso é muito bom para nós, eu mandar um casal e dizer assim: “olhe, vá a tal sítio”, e isto não tem nada a ver com o restaurante. É um restaurante só de comida regional. Agora mando para os três (o terceiro é o da terra) e as pessoas optam por o que quiserem. Eu no inverno fartei-me de mandar gente aqui para o restaurante. (...) Eu mando para ajudar o restaurante. Veio só um casal de Lisboa que eram amigos dele (do dono o restaurante). De Valhelhas sim, têm-me mandado para cá gente, mas também já não é tanto. Mas mandavam e quando estão cheios telefonam a perguntar se tenho possibilidade de receber um casal, ou assim. O restaurante de Valhelhas, por acaso... mas já há nove anos. Eu aqui deste não posso dizer que nunca me mandaram ninguém porque só há dois anos é que está aberto. Está difícil, também para eles. A comida é muito bem confeccionada, também estão com comida regional, mas também tem estado difícil para eles e eu tento sempre no inverno mandar para eles, eu falo nos de Valhelhas, mas tento mandar para aqui para a aldeia, porque é bom para nós, começa a haver mais gente, e também para os ajudar."

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Proprietário do restaurante

“Sim, não temos protocolos assinados, não temos nada do género. Estas coisas às vezes é um símbolo de amizade, já nos conhecemos, sabemos que o turismo é uma mais-valia e o restaurante também é uma mais-valia. Temos uma festa nos dias dos namorados e sorteamos um fim-de-semana no turismo rural, também para agradecermos pelos clientes que ela manda para nós durante todo ano e não só, é mais publicidade. As pessoas levam folhetos do turismo rural, é uma forma de cooperarmos e termos mais conhecidos, tanto uns como os outros. (...) Olhe, nós aqui trabalhamos também uma pequena dinâmica, trabalhamos em cooperação com a casa de turismo rural, a casa de Figueira Grande, a Junta de Freguesia (mais até a titulo individual, o presidente da junta que nos ajudou a tratar dos documentos. Enfim, pelo seu conhecimento). É graças a estes tipos de cooperação que a Aldeia desenvolva, e presidente da junta vai trazendo pessoas, vai convidando pessoas a virem, e pronto, tem sido também uma grande publicidade para nós. E depois resume-se a isso porque, tudo o resto de iniciativas são muito pouco. Isto também é próprio do país.”

Mercearia I "Ela (filha e dona da casa de turismo rural) leva pão e, de vez em quando, fiambre, para dar o pequeno-almoço de manhã aos hóspedes, mais nada."

Presidente da Junta de Freguesia

"Eu creio que sim. (...) Aqui as pessoas, também criticam uns e outros, mas se alguém necessitar, que tenha um problema qualquer, toda a gente ajuda."

Proprietária da casa de

turismo

“Nem temos apoio de publicidade, que é muito mau, portanto, tem que ser tudo. Pela internet, nós temos que pagar, não temos apoio de nada porque eu acho, que eles deviam divulgar, nem tanto os hotéis, mas estas casas pequeninas, portanto, o turismo, porque se a gente empatou dinheiro e estamos aqui à espera de hóspedes, acho, que deviam divulgar mais o turismo (...) É muito bom e temos a nossa página, a página do turismo da Serra da Estrela, que também tem e tem aquele site que é: portalserradaestrela.biz. Um senhor é que levou esse dinheiro (para pagar a publicidade na internet), mas acho, que não tenho assim grandes vantagens (...) Podiam ser preços mais risonhos e agora na internet é publicidade e publicidade, querem todos que lhes mandem dinheiro para nos mandar pessoas, é complicado.”

Proprietário do restaurante

“A Serra da estrela não tem…não estamos preparados, não estamos organizados para que isso aconteça…acho que falta uma grande organização…até porque temos tudo para andar…temos neve e mais ninguém tem, e depois temos uma serie de eventos que já vai trazendo muita gente…mas acaba por ser pouco… as pessoas dos restaurantes, as pessoas dos hotéis, presidentes de câmaras, directores das principais associações existentes e o ponto principal, a região turismo serra da estrela, esta gente toda não tiver

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uma capacidade para termos um sentido de orientação daquilo que queremos para Serra…daqui amanhã a serra da estrela é uma ilusão…presume-se a neve, mas já não tem cá neve. Um indivíduo entra aqui, e não tem certo acompanhamento, não tem certo rumo…é mete-se num carro, sobe a zona da Covilhã, desce para Seia, sobe por Gouveia, desce por Manteigas, viu a Serra mas não teve um acompanhamento, não teve uma placa a dizer por onde é que está a passar, a que altura está (agora já umas placas a dizer), não sabe o nome da lagoa por onde passou. Quer dizer, o turista vem e anda um pouco a deus dará, tem pouca informação, aliás a informação que têm, dão conta da existência de aldeias históricas, mas não tem aquela informação para ele vir".

Presidente da Junta de Freguesia

"A divulgação é sempre complicado, com as novas tecnologias é muito fácil saber o que há nas regiões, eu creio que sim, que está bem divulgado, com folhetos. Agora para se fazer uma casa com muita fama e fazer do seu trajecto por Vale Formoso. Mas quando nós vemos pessoas a repetir, tanto no restaurante como na casa de turismo é porque gostaram, por isso, é muito bom."

d) possibilitar o aproveitamento económico de outros recursos que a aldeia possuir;

Proprietária da casa

"Artesanato, não dá. Eu já tentei por aqui, fazer os meus doces. As pessoas no início compravam, as pessoas vinham e queriam levar alguma coisa da zona, como as mantas serranas, mas hoje já não levam nada, as pessoas vêm dormir, tomar o pequeno-almoço, ir passear, mas não levam nada."

Artesão

"Fazia e vendia. (...) Era para quem calhava. Em geral tinha um freguês certo, que era ali de... era o Gonçalo que me as vinha cá buscar e depois as ia vender no mercado. (...) Era cadeiras. (...) Mais nada. (...) Havia cá muitos artesãos, agora já não há cá ninguém. Muitos imigraram, eu tenho as mãos todas tortas por causa disso, dava muito trabalho, e isto já não dava nada."

Proprietário do restaurante

"Sim, temos produtos artesanais aqui expostos, para venda. São feitos por uma senhora em Belmonte."

Mercearia I "Não. Antigamente vendia-se."

Mercearia II “Não, agora não pode vender nada disso. O queijo tem que ter um rótulo. Há muita coisa que não se pode vender.”

Proprietário do restaurante

“A aldeia em si, e visto que está inserida na Serra da Estrela, a gastronomia acaba por ser um pouco a gastronomia da Serra da Estrela, temos as cherovias, o arroz doce, as papas de carolo, o cabrito, a truta, prontos, pratos próprios da região.”

Mercearia II

“Olhe, eu não sou daqui, não conheço muito bem qual é mas, quando é no tempo das vindimas, toda gente vai a praça da Covilhã comprar cherovias (espécie de cenoura, parecido com uma raiz branca que se come frito) que é o prato tradicional daqui, acho eu que é este.”

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Presidente da Junta de Freguesia

"A gastronomia, na nossa freguesia, e posso-lhe dizer que a região mesmo daqui é o cabrito é o bacalhau, os enchidos, porque se fazia a matança do porco mas agora é proibido. (...) A tradição vai-se perdendo."

Proprietária da casa de

turismo

"Aqueles que vêm (às festas) têm os familiares e vão para a casa deles. Para aqui praticamente não vem ninguém."

Proprietário do restaurante

“Conforme, a Aldeia tem duas festas grandes anuais (Festas do Santo Antão e da Senhora da Saúde). A de Santo Antão é mais para os locais, até porque foi agora em Maio, é noutra altura do ano. A da Senhora da Saúde é a que trás mais gente porque é nas férias, é quando os emigrantes cá estão, quando vêem aqueles que se deslocaram para Lisboa, para o Porto ou para outras partes do país. Temos de 2 em 2 anos a descoberta da Moura que já é um evento grandioso demais para a aldeia que é…e então é isso, ai vêem muita gente de fora, Guarda, Belmonte, Covilhã, gente da região já. Estas festas trazem contributo. Repare nem que a pessoa venha 4 ou 5 da tarde e ainda tenha hipótese de vir ao restaurante, porque a esta hora não se servem almoços nem jantares, a verdade é que vai consentido que viu e que está aqui um restaurante…isto é uma forma de publicidade, é uma forma de divulgar o próprio restaurante.”

Mercearia I

"A mercearia está aberta nos dias de trabalho, aos domingos não. (...) ainda há dias houve aí uma festa, o Santo Antão. (...) Na festa da Senhora da Saúde, que é em Agosto, é que vem mais gente de fora, de Lisboa. (...) não, são de cá da terra, vêm de Lisboa para passar a festa, que é a festa tradicional da aldeia, que é a Senhora da Saúde, e esta que agora foi feita há quinze dias é o Santo Antão."

Proprietário da casa de

turismo "Os doces são feitos todos cá na quinta, todos os dias há doces diferentes."

Proprietário do restaurante

"Quando é altura do pêssego, há sempre um agricultor ou outro que nos dá uma caixa ou outra e depois a gente faz uma sobremesa com este pêssego, umas entradas com este pêssego, uns acompanhamentos. Tentamos sempre gastar produtos de cá"

Mercearia I "Não. Antigamente vendia-se."

Proprietária da casa de

turismo

"Eu dou aos hóspedes no inverno o sumo de pêssego, e eles adoram. Eles dizem que enquanto eu tiver pêssego para não dar de laranja."

Mercearia I

"Os sumos que tenho aqui, vêm todos da Grula, que é uma casa fornecedora. Os produtos vêm todos do armazém. (...) nós somos obrigados a comprar ao armazém."

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e) existir um marco de atracção turística.

Proprietária da casa de

turismo

“Temos aqui atractivos, temos aqui Belmonte que nos ajuda bastante, tem os museus, tem o castelo, eu mando sempre para Belmonte, para Sortelha, que é lindíssimo, é para onde eu mando os meus hóspedes, vão ver os museus judaicos ali de Belmonte e é para a pista sintética, para a serra.”

“No inverno são mais de cá por causa da neve. No verão já vêm mais estrangeiros.”

"É a neve, a nossa atracção aqui é a neve. Caso contrário, não há outro atractivo, que é pena não haver na nossa zona outros atractivos sem ser na altura da neve, porque a nossa época alta é o inverno e no verão os preços vão para baixo."

Artesão "Existe cá um miradouro que dá para ver o vale e existem duas fontes romanas."

Presidente da Junta de Freguesia

"O marco turístico (…) não se esqueçam na altura da cereja na altura da cereja, aquilo é um espectáculo depois vem a vinha depois as pessoas agora a colheita da cereja. Está tudo muito ligado à fruticultura. Agora vou tentar reavivar um marco teatral, fiz há dois anos, a descoberta da moura já a 49 anos que não era feita e este ano vamos tentar fazer novamente. Os únicos dados que tínhamos era algumas fotografias e as documentos a contar como foi e dei aos técnicos para eles fazerem. A moura aparece no bosque numa cabana, vestida de branco cheia de ouro. Nessa altura isso significava para os romanos e para nós um vale bom, uma aldeia boa para viver, temos a serra na encosta e o vale com o rio e nessa altura os romanos valorizavam muito os rios, e foi daí que nasceu uma festa em homenagem, quando foi a primeira vez não se sabe, não significa um milagre mas transmitir que se trata de um vale fértil magnífico que é esta região. Portanto o turista que vem aqui não fica arrependido de conhecer uma aldeia histórica, creio que passaram cá os romanos, há vestígios calçada romana e havia também um forno romano, mas não foi possível recuperar e então meteu-se areia e terra e está tapado, vieram cá o EPA. (...) Era muito complicado, era muita despesa, casas deitadas a baixo, aquilo não se sabe bem se era um forno para fazer cerâmica ou para aquecimento de águas."

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