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Page 1: João Paulo Esteves da Silva & Ricardo Toscano - ccb.pt · que a Toscano agrada a «harmonia à portuguesa». Afirma o primeiro, a propósito deste regresso aos palcos: «Temos continuado

Programa de sala | João Paulo Esteves da Silva & Ricardo Toscano | 2017

4 de outubro de 2017 às 21h00 CCB . Pequeno Auditório M / 6 anos

João Paulo Esteves da Silva & Ricardo Toscano

João Paulo Esteves da Silva piano Ricardo Toscano saxofone alto

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Navegação sem bússola Depois da novidade, a confirmação. A reunião de Ricardo Toscano e João Paulo Esteves da Silva surpreendeu, no início, pelo facto de juntar um músico, o saxofonista, dedicado a escavar o património norte-americano do jazz, e outro, o pianista, que se notabilizou pela sua abordagem europeísta e até lusitana do mesmo género musical. Agora, alguma estrada percorrida, já se sabe que, afinal, tinham muitas particularidades em comum para além do idioma – ou melhor, que Esteves da Silva continua vinculado à matriz do jazz e que a Toscano agrada a «harmonia à portuguesa». Afirma o primeiro, a propósito deste regresso aos palcos: «Temos continuado a tocar juntos e a nossa relação amadureceu. Notar-se-á isso num maior arrojo das improvisações, mais do que no material escrito que utilizamos. Esse é do mesmo tipo. Ou dos mesmos três tipos: composições do Ricardo, composições minhas e, claro, standards. Não necessariamente as mesmas peças que já nos ouviram a interpretar.» E o que é que têm em comum? Toscano aponta para o «espírito do jazz», sem temer o alcance metafísico da terminologia. A música (toda a arte), mesmo a que está mais social e politicamente empenhada, é necessariamente metafísica. O dito espírito, segundo este, revela-se na honestidade com que se toca, na autenticidade do que se toca. Se os dois músicos se destacaram na cena nacional é porque são honestos e autênticos, e não apenas por terem subido a bitola da qualidade muitos níveis acima do que era, por cá, habitual. Ora, para ambos, ser honesto e autêntico significa «abandonar portos seguros» e tentar o improvável. É o que têm estado a fazer, entre quatro paredes, partindo pedra, e diante dos nossos olhos e dos nossos ouvidos. O espírito do jazz viaja por todo o lado, e tanto por Portugal como pelos Estados Unidos da América. Questões de estética e de estilo colocam-nas eles em segundo plano. É o que menos lhes importa. A «vontade de tocar juntos» falou mais alto quando lhes surgiu a ideia e ainda é assim. Aliás, só quando há diferenças é que se possibilita o desejo de um entendimento musical. Um entendimento que tanto nasce do tratamento de temas de Thelonious Monk como de, simplesmente, colocar as suas personalidades em jogo por meio de improvisações livres. São estas que mais revelam da verdade de um músico e o certo é que, de concerto em concerto, o duo foi escolhendo cada vez mais esta via. A verdade do músico não está nas suas capacidades técnicas, se bem que estas ajudem. Garante Esteves da Silva: «O virtuosismo consiste somente em estar à altura dos acontecimentos. Se falhamos é por falta e não por excesso de virtuosismo.» Toscano dá outro nome à entrega a que a dupla se propõe: «Generosidade.» O duo de saxofone e piano foi ganhando uma identidade própria ao longo da história do jazz e podemos até dizer que definiu modelos de uso, portos seguros. Ricardo e João Paulo não os seguem, pelo menos em consciência. «Temos um só objectivo: fundirmos e explorarmos as nossas respectivas musicalidades» – afirmam quase com as mesmas palavras. «Temos a consciência de que não somos os primeiros em nada, mas a nossa atitude é a de deixarmos acontecer, de deixarmos vir a música», reforça Esteves da Silva. É por isso que, neste contexto, surge um Ricardo Toscano lírico e um João Paulo Esteves da Silva swingante. Afinal, essas são características que cada um também transporta em si, e desde sempre. Nenhum deles, nem mesmo o saxofonista que se tem atrevido a fazer

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versões de John Coltrane, se contentou com ser apenas um jazzman. O pianista duvida mesmo que haja, ou que tenha havido, alguém que se entendesse como tal, sem outras ambições. Assim sendo, se nesta apresentação pública, mais uma vez, haverá síncopes (para Toscano a música deve ter groove, ou não faz sentido), também se insistirá na melodia e na expressão, sem temer o factor emocional que acompanha qualquer demanda da beleza. Com a possibilidade de se seguirem outros caminhos que não esses, pois sentem que nada os determina e obriga. Aconteça o que acontecer, sairão de cena com a sensação de que aprenderam algo de novo um com o outro, à semelhança de todas as anteriores ocasiões em que arriscaram uma navegação sem bússola.

RUI EDUARDO PAES ENSAÍSTA, CRÍTICO DE MÚSICA

O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA

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João Paulo Esteves da Silva Nasceu em Lisboa, em 1961, filho de mãe pianista e pai filósofo. Em 1979, participou no festival de Jazz de Cascais com o grupo Quinto Crescente. Em 1984, completa o Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional e parte para França para prosseguir os estudos, mantendo-se no «exílio» até 1992. Em 1993, grava o seu primeiro disco em nome próprio, Serra Sem Fim, para a editora Farol. Em 1996, conhece o produtor Todd Garfinkle, da editora M.A. Recordings, com quem inicia uma longa colaboração, documentada em seis discos, e que dura até 2001. Neste ano, instigado por Carlos Bica, grava um primeiro disco a solo de piano, Roda, para a editora francesa L'Empreinte Digitale. Em 2003, começa a gravar para a editora Clean Feed. O seu último disco, Scapegrace, em duo com Dennis Gonzalez, foi galardoado com o prémio Autores da SPA para Melhor Disco de 2009. Ao longo dos anos são inúmeras as suas colaborações, em concertos e discos, com músicos nacionais e estrangeiros. De destacar, particularmente, os trabalhos com Ricardo Rocha, Carlos Bica, Cláudio Puntin, Jean-Luc Fillon, Peter Epstein, Ricardo Dias, Dennis Gonzalez, no campo da música instrumental, e também as parcerias com cantores e cantoras, como Vitorino, Sérgio Godinho, Filipa Pais, Ana Brandão, Maria Ana Bobone, Cristina Branco, entre outros. Tem vindo a trabalhar cada vez mais noutras áreas, como a poesia – publicando dois livros e colaborando em revistas, de papel e online –, o teatro, enquanto tradutor e músico – Beckett, Ibsen, Strindberg, Brecht –, e a interessar-se por diálogos entre a música e outras artes, tendo assinado trabalhos conjuntos com o fotógrafo José Luís Neto e composto, por exemplo, a banda sonora do filme Sem Nome, de Gonçalo Waddington. Desde 2009 que leciona no curso Jazz da ESML. De 2012 a 2014 lecionou na licenciatura em Jazz da Universidade Lusíada. Mantém atualmente o trio No Project, com Nelson Cascais e João Lencastre. Integra o grupo Cine Qua Non, enquanto compositor e acordeonista. Em 2013, saiu o disco Bela Senão Sem com a Orquestra de Jazz de Matosinhos, no qual participa como compositor e solista. Lidera atualmente um trio com Mário Franco (contrabaixo) e Samuel Rohrer (bateria). Ricardo Toscano Ricardo Toscano, natural de Lisboa (1993), mas criado na margem sul do Tejo (Amora, Seixal), teve ligação com a música desde muito cedo por intermédio do pai, que também é musico. Começou a aprender clarinete aos oito anos na filarmónica local (Amora), entrando aos 13 para o Conservatório Nacional na classe de Clarinete, onde estudou dois anos; aos 15 ingressou na Escola Profissional Metropolitana, na classe de Clarinete dos professores Jorge Camacho, Nuno Gonçalves e João Ramos. Aos 16 começou as suas aulas na Escola de Jazz Luiz Villas-Boas, na classe de Saxofone do professor Desidério Lázaro, com quem estudou dois anos. Aos 17 entrou para a Escola Superior de Música de Lisboa no regime de sobredotado. Já teve aulas e masterclasses com Danilo Perez, Wynton Marsalis, Greg Osby, João Moreira, Pedro Moreira, Miguel Zenon, Aaron Goldberg, Kurt Rosenwinkel, Joe Lovano, Ben Street, George Garzone, Terence Blanchard e muitos outros. Em 2011, formou o Ricardo Toscano 4teto (com André Santos, João Hasselberg e João Pereira), tendo ganho a 25.ª edição do Prémio Jovens Músicos na categoria de Jazz. No mesmo ano teve, também, o privilégio de participar no disco Os fados e as canções do Alvim, do grande mestre Fernando Alvim, tendo colaborado com artistas como Fafá de Belém, Carlos do Carmo, Camané, Rui Veloso, Carminho, Amélia Muge, Cristina Branco e outros. Reconhecido na cena do jazz nacional, tem tocando com muitos dos nomes mais marcantes, como Mário Laginha, Mário Barreiros, Carlos Barretto, João Paulo Esteves da Silva, João Moreira, Nelson

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Cascais, Paula Oliveira, Bruno Santos, Afonso Pais, André Sousa Machado, Mário Delgado, Alexandre Frazão, André Fernandes, José Salgueiro, Júlio Resende, Bruno Pedroso, etc. E, ainda na área da música popular, com Paulo de Carvalho, António Chainho, Carlos Manuel Proença, Rão Kyao, entre outros. Em 2013, formou o seu atual 4teto – com João Pedro Coelho, Romeu Tristão e João Pereira – tendo atuado em festivais e palcos de grande relevo como, por exemplo, AngraJazz, Estoril Jazz, Casa da Música, Funchal Jazz, Portalegre JazzFest ou o Centro Cultural de Belém. Atualmente, integra também o Sexteto de Jazz de Lisboa, The Mingus Project, Nelson Cascais Decateto, Septeto do Hot Clube de Portugal, Carlos Barretto Lokomotiv, Quarteto Mário Barreiros, etc. Integra também o corpo docente da Escola de Jazz Luiz Villas-Boas e da Escola Superior de Tecnologias e Artes de Lisboa. A sua discografia inclui muitas participações em gravações na área do jazz e outras.