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X SIMPÓSIO DE MEIO AMBIENTE
DESENVOLVIMENTO AMBIENTAL NO SETOR PRODUTIVO
ANAIS DE RESUMOS EXPANDIDOS
Editor
Gumercindo Souza Lima
ISSN 2447-4789
26 a 28 de setembro de 2017.
Viçosa – MG – Brasil
© 2017 by Gumercindo Souza Lima
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida sem
a autorização escrita e prévia dos detentores do Copyright.
Impresso no Brasil
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da
Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa
S612a
2017
SIMPÓSIO DE MEIO AMBIENTE
(9: 2017: Viçosa, MG).
Anais de resumos expandidos [recurso eletrônico] / X Simpósio de Meio
Ambiente, 26 a 28 de setembro de 2017, Viçosa, MG;
Editor: Gumercindo Souza Lima – Viçosa, MG
: O Editor, 2017.
1 CD-ROM (74p.) : il. ; 4 ¾ pol.
ISSN: 2447-4789
Tema do congresso: Desenvolvimento Ambiental no Setor Produtivo.
1. Conservação – Congressos. 2. Ecologia agrícola – Congressos.
3. Meio ambiente – Congressos. I. LIMA, GUMERCINDO SOUZA, 1962.
II. Título: X Simpósio de Meio Ambiente.
CDD 22.ed. 630.6
Diagramação e montagem:
Contato: CBCN - Centro Brasileiro para Conservação da Natureza e Desenvolvimento
Sustentável
Rua Christovam Lopes de Carvalho, Nº 27, Sala 801
Centro · Viçosa · Minas Gerais
Brasil · CEP 36570-000.
Tel. (31)3892-4960
E-mail: [email protected]
Site: http://cbcn.org.br/simposio/2017/
3
A relação entre o desastre da Samarco e uma associação de pescadores amadores
de Governador Valadares-MG1
Fernando Alves Fernandes2, Tayná Rocha Vieira
3, Kamila Faria Andrade
4, Grasiela
Aparecida Coura Querobino Alvarenga5, Renata Bernardes Faria Campos
6
1Parte de trabalho apresentado em disciplina de mestrado do primeiro autor.
2Mestrando em Gestão Integrada do Território-Universidade Vale do Rio Doce.
3Graduanda em Engenharia de Produção-Instituto Federal de Minas Gerais.
4Mestranda em Gestão Integrada do Território-Universidade Vale do Rio Doce.
5Mestranda em Gestão Integrada do Território-Universidade Vale do Rio Doce.
6Professora Phd do Mestrado em Gestão Integrada do Território-Universidade Vale do Rio Doce.
Resumo: O rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, considerado o maior
desastre ambiental registrado no Brasil, e um dos maiores do mundo, ocasionou danos
de dimensões incalculáveis. Passados aproximadamente dois anos da tragédia é notória
a transição significativa no modo de vida de diversos grupos sociais, sendo um deles, os
pescadores. Se tratando de uma pesquisa qualitativa e descritiva, o objetivo deste
trabalho consiste na análise da percepção do desastre vivenciada por pescadores
amadores que se beneficiavam do rio Doce e são afiliados a uma associação no
município de Governador Valadares – MG. Para execução da pesquisa foi realizada
entrevista com representante oficial da associação e revisão bibliográfica para
fundamentação teórica do estudo. Como resultado dominante é possível observar um
posicionamento peculiar por parte da associação, que possui a ideia de que o rio Doce
deve servir como atrativo turístico através da pesca esportiva. A ideia foi reforçada após
o desastre, pois o rio já estava enfrentando problemas de poluição e escassez de peixes,
deste modo, a pesca foi praticamente extinta e a continuação da pesca profissional se
mostrou inviável.
Palavras–chave: desastre ambiental, pesca, rio doce, sociedade.
The relationship between the Samarco disaster and an amateur fishermen's
association of Governador Valadares-MG Abstract: The rupture of the Fundão tailings dam, considered the largest environmental
disaster in Brazil, and one of the largest in the world, caused damages of incalculable
size. Approximately two years after the tragedy, the significant transition in the way of
life of various social groups is evident, one of them being fishermen. In the case of
qualitative and descriptive research, the objective of this work is to analyze the
perception of the disaster experienced by amateur fishermen who benefited from the
Doce River and are affiliated to an association in the municipality of Governador
Valadares - MG. For the execution of the research, an interview with the official
representative of the association and bibliographic review were carried out for the
theoretical basis of the study. As a dominant result, it is possible to observe a peculiar
position on the part of the association, which has the idea that the river Doce should
serve as a tourist attraction through sport fishing. The idea was reinforced after the
disaster, as the river was already facing problems of pollution and fish shortages, so
fishing was practically extinct and the continuation of professional fishing proved
impracticable.
Keywords: environmental disaster, fishery, doce river, society
4
Introdução A barragem de rejeitos de minério de ferro de Fundão, localizada no município
mineiro Mariana de responsabilidade da mineradora Samarco, um empreendimento de
capital fechado controlada pela brasileira Vale S.A. e anglo-australiana BHP Billiton,
rompeu-se no dia 05 de novembro de 2015 liberando cerca de 50 milhões de metros
cúbicos de rejeitos provenientes da mineração. A lama tóxica desceu pelo rio Gualaxo
do Norte deixando um rastro de destruição até chegar à calha do rio Doce. Desde o local
do rompimento da barragem até a foz, a lama percorreu mais de 600 quilômetros, com
prejuízo estimado pelo governo federal de 20 bilhões de dólares (GEPPEDES, 2017).
O Vale do Rio Doce (VRD) começou a ser povoado na segunda metade do Século
XVIII. O motivo dessa ocupação foi a descoberta e exploração do ouro. Já no Século
XX tiveram início as grandes modificações no cenário com derrubada da Mata Atlântica
para produção de carvão e alimentação dos fornos das siderúrgicas do Vale do Aço.
Assim houve fortalecimento da pecuária e da indústria de celulose na região (Viana,
2016).
Atualmente, Governador Valadares é o maior município da bacia do hidrográfica
do rio Doce não estando localizada próxima ao epicentro do desastre nem da foz do rio,
o que gera uma atenção menor por parte da mídia em relação aos fatos decorrentes do
desastre. Nesta região a pesca, tanto profissional quanto amadora, é quase totalmente
associada ao rio Doce e foi severamente afetada pela enxurrada de rejeitos de minério
de ferro.
A prática da pesca é bastante antiga no Brasil e no mundo. Segundo Souza (2012),
até a década de 60 do século passado prevaleceu no país a pesca artesanal. Após
estímulos do setor público a pesca industrial desenvolveu-se com foco nas exportações
do pescado.
A visível mudança do rio Doce posteriormente ao desastre de Mariana repercutiu
no meio socioambiental por aqueles que dependiam de alguma forma de suas águas. Os
pescadores, sejam eles amadores ou profissionais, estão entre os atingidos pela tragédia
de Fundão. Os pescadores da bacia do Rio Doce, que já vinham encontrando
dificuldades no exercício da atividade de pesca, encontraram-se numa situação ainda
mais dramática após o rompimento da barragem de Fundão.
O objetivo geral desta pesquisa é apresentar o posicionamento da Associação de
Pescadores e Amigos do Rio Doce (APARD) em relação à forma como o desastre de
Mariana afetou o rio Doce, mais precisamente na região do município de Governador
Valadares, bem como a rotina dos pescadores amadores afiliados à associação.
Material e Métodos Este trabalho resulta de um trabalho elaborado para conclusão da disciplina de
“Meio ambiente, sociedade e regulação” componente do mestrado em Gestão Integrada
do Território da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE). Para sua execução, foi
gravada uma entrevista com o presidente da APARD (Associação de Pescadores e
Amigos do Rio Doce) com perguntas previamente definidas pelo autor. A entrevista foi
realizada em julho de 2017 e abordou aspectos referentes à atuação da associação, a
atividade de pesca no município e na bacia, como os pescadores amadores
compreendem o rio Doce e diversos fatores que envolvem o rompimento da barragem
de Fundão.
A APARD foi fundada no final do ano de 2005 por pescadores amadores e sua
sede está localizada em Governador Valadares-MG. É constituída por voluntários
oriundos de diversos setores da sociedade que nutrem apreço pelas águas do rio Doce. A
associação possui a missão de “tornar o rio Doce um rio vivo e piscoso” e visão de
5
“transformá-lo em uma referência sustentável em pesca esportiva e turismo ecológico”
(APARD, 2017).
Resultados e Discussão O presidente da associação reconhece a degradação histórica do rio Doce e diz
que a antes do desastre a pesca já estava próxima ao limite:
“mas se você pensar que o consumo de pescados em Valadares gira em torno de 170
toneladas por mês e o estimado que morreu no médio rio doce foi de 16 toneladas uma
estimativa oficial. Então isso é muito pouco 16 toneladas pra você procriar e produzir
peixes para você tirar todo dia da água.”
José Francisco Silva de Abreu, informa que a associação adotou uma postura ativa
diante do desastre buscando alternativas à pesca:
“com isso nós fizemos projetos de alternativa de renda para pescadores porque a
pressão de pesca é um problema do rio, porque quando você tem mais pescadores do que
peixe não sobra peixe... e dos graves problemas o que estava próximo da gente resolver
afora promover seminários, fazer conferências e palestras, tentar levar às escolas as
questões ambientais sobre o rio Doce era arrumar alternativa de renda para os
pescadores profissionais para que eles tivessem perspectiva de futuro, melhores dias do
que aquele rio sem peixes que estava.”
Cerca de um ano e meio após o desastre, o IEF (Instituto Estadual de Florestas)
através da portaria 040 de maio de 2017 liberou a captura de peixes alóctones, aqueles
oriundos de outras bacias, e espécies exóticas originárias de outros países. A pesca de
peixes híbridos foi igualmente concedida, estes decorrentes do cruzamento de espécies
diversas (IEF, 2017). O diretor da APARD afirma que “o rio deveria ser fechado” para a
pesca por alguns anos, entretanto reconhece a portaria como um passo importante para a
recuperação a fauna aquática do rio Doce:
“Já é um grande passo, uma restrição muito importante essa feita com a rede por que a
rede é a principal instrumento de pesca do pescador profissional e o que mais agride o
rio e o que mais pega peixes. Os outros aparelhos também são instrumentos de pesca
fortes mas nenhum como a rede”
Neste momento, os pescadores podem ter papel de suma importância na
recuperação da bacia auxiliando no controle de espécies invasoras que se tornam
verdadeiras pragas devido à degradação dos ambientes aquáticos. Quanto ao futuro e a
atuação da associação José Abreu é enfático ao defender que no Doce apenas a pesca
amadora deve ser liberada, buscando-se alternativas para a pesca profissional.
Conclusões Muitas dúvidas são originadas no que se refere ao futuro do rio Doce, incertezas
ainda rondam o imaginário das pessoas que possuem alguma ligação com a região. Se
esse curso d’água irá mesmo um dia superar a tragédia ou se a lama foi o estopim em
uma bacia hidrográfica que já vinha sofrendo degradação há décadas. Essas questões
ainda são foco de discussão entre a sociedade impactada e especialistas.
Se considerarmos as relações entre pescadores e rio, é possível concluir que o
desastre fere inclusive o princípio da dignidade humana, afinal a sociedade foi afetada
com a piora da qualidade da água, diminuição do trabalho, perdas financeiras e
culturais. De forma utópica, acredita-se que o Doce irá se recuperar ao longo dos anos,
6
talvez décadas. Segundo a APARD, gradativamente a pesca deve ser permitida, mas de
forma ideal, apenas a pesca amadora para que assim explorar o turismo de pesca que
atualmente representa um viés que cresce no mundo inteiro. Ainda segundo o diretor da
associação “o rio Doce é desafiador e encantador e possui um bom potencial pesqueiro
com diversas espécies excelentes para essa prática como o peixe Dourado”.
É possível ainda analisar o posicionamento desta organização considerando-se seu
contexto de modo mais amplo. Sobretudo, é importante analisar também a posição dos
pescadores profissionais artesanais atuantes no rio Doce para compreender como o
desastre afetou a pesca e os pescadores na porção média desta bacia, pesquisa já em
andamento.
Literatura citada APARD - Associação de Pescadores e Amigos do Rio Doce. Disponível em:
<http://www.apard.org.br/apard/2016/?nc=12/09/2017%2020:11:58>. Acesso em:
setembro de 2017.
GEPPEDES - Grupo de Estudos sobre Populações Pesqueiras e Desenvolvimento no
Espirito Santo. Rompimento da barragem de Fundão (SAMARCO/VALE/BHP
BILLITON) e os efeitos do desastre na foz do Rio Doce, distritos de Regência e
Povoação, Linhares (ES). Relatório de pesquisa, 2017.
IEF - Instituto Estadual de Florestas. Minas autoriza pesca de algumas espécies do rio
Doce. Disponível em: <http://www.ief.mg.gov.br/noticias/1/2237-minas-autoriza-pesca-
de-algumas-especies-no-rio-doce>. Acesso em: setembro de 2017.
SOUZA, Adirleide Greice Carmo De. Educação ambiental como política social:
estratégia de reação social a pesca predatória no município de Pracuúba-AP. Programa
de Pós Graduação em Direito Ambiental e Políticas Públicas (PPGDAPP) da
Universidade Federal do Amapá (Dissertação). Macapá, 2012.
VIANA, João Paulo. Os pescadores da bacia do rio doce: subsídios para a mitigação dos
impactos socioambientais do desastre da Samarco em Mariana, Minas Gerais. Nota
técnica, IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2016
7
Abundância, qualidade e sanidade do fuste de Anacardiaceae em Floresta
Estacional Semidecidual¹
Telma Machado de Oliveira Peluzio2, João Batista Esteves Peluzio
2, Alexandre Rosa
dos Santos3, Elvis Ricardo
4, Lucas Machado Peluzio
5
1Parte do levantamento florístico do Polo de Educação Ambiental do Ifes - Campus de Alegre, ES.
²Professor(a) da Educação Básica, Técnica e Tecnológica do Ifes – Campus de Alegre – ES.
3Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais do CCAE – UFES.
4 Mestre em Ciências Florestais.
5 Estudante de Engenharia de Produção.
Resumo: A família Anacardiaceae se destaca no bioma Mata Atlântica pela
importância na produção de frutos e boa qualidade madeireira. Pelo exposto, objetivou-
se identificar, comparar a abundância, qualidade e sanidade do fuste de exemplares da
família Anacardiaceae em áreas com diferentes idades de regeneração e que compõem o
Polo de Educação Ambiental da Mata Atlântica, Alegre, ES. Utilizou-se 20 parcelas de
área fixa (20x20m), distribuídas sistematicamente, estudando todos os indivíduos
arbóreos com DAP≥5 cm. Para avaliar a qualidade e sanidade, utilizou-se o código
numérico da Sociedade Florestal Brasileira. Foram identificados 97 indivíduos de
Anacardiaceae, 5,55% do total. As árvores do setor A possuem maior DAP que as dos
setores B e C, 1,43% e 8,81%, respectivamente. A qualidade foi melhor em A, enquanto
a sanidade, em B.
Palavras–chave: regeneração, restauração, mata atlântica, ecossistema
Abstract: The family anacardiaceae stands out in the Atlantic Forest biome for its
importance in the production of fruits and good quality timber. The objective of this
study was to compare the abundance, quality and health of the anacardiaceae stem in
areas with different regeneration ages that make up the Atlantic Forest Environmental
Education Pole, Alegre, ES. It was used 20 plots of fixed area (20x20 m), systematically
distributed, and all tree individuals with DBH≥5 cm, were sampled. To evaluate the
quality and sanity of the tree, it was used the numerical code of the Brazilian Forestry
Society. A total of 97 individuals of anacardiaceae were identified, corresponding to
5.55% of the total number of individuals. The trees from sector A have higher DBH
than sectors B and C, in 1.43% and 8.81%, respectively. The quality was better in A,
while sanity was in B.
Keywords: Regeneration, restoration, Atlantic forest, ecosystem
Introdução A Mata Atlântica, Bioma em risco de extinção, destaca-se pela sua alta
biodiversidade conciliada à alta taxa de endemismos (GALINDO-LEAL; CÂMARA,
2005; PEROTTO, 2007). Dentre as diferentes famílias que a compõe, encontra-se a
Anacardiaceae, com aproximadamente 81 gêneros e 800 espécíes, ocupando desde
ambientes secos até climas temperados (PELL, 2011).
Terrazas (1999) afirma que 77% das Anacardiaceae são endêmicas do continente
Americano. No Brasil, já foram catalogados 14 gêneros e 57 espécies.
As Anacadiaceaes fazem parte do grupo de plantas lenhosas, resiníferas, de
importância econômica para a produção de frutos e boa qualidade madeireira como a
8
manga, o caju, cajá, umbu, Gonçalo- Alves, o guarita, a aroeira e braúna, dentre outras
(SOUZA; LORENZI, 2005).
Devido a grande produção de frutos e resistência higromórfica é muito utilizada
para reflorestamentos, recuperação de áreas degradadas (KAGEAMA; GANDARA,
2000) além de possuir características de pioneirismo e de estágio secundário inicial de
sucessão (FERRETI et al., 1995).
Frente ao exposto, estudar a qualidade e sanidade dos fustes de espécies arbóreas
de Anacardiaceae, principalmente em diferentes estágios sucessionais, são formas de
contribuir com informações que podem embasar projetos de conservação. Dessa forma
o presente estudo objetivou identificar, comparar a abundância, qualidade e sanidade do
fuste de Anacardiaceae em áreas com diferentes idades de regeneração que compõe o
Polo de Educação Ambiental da Mata Atlântica em Alegre, ES.
Material e Métodos O trabalho foi desenvolvido no fragmento florestal que compõe a Reserva Legal
do Polo de Educação Ambiental da Mata Atlântica no Ifes – Campus de Alegre
(PEAMA) (20º44’05”S e 41º25’50”W), localizado na sub-bacia do Córrego Horizonte,
distrito de Rive, município de Alegre, Sul do estado do Espírito Santo (Figura 1).
Segundo a classificação internacional de Köppen, o clima da região é do tipo “Cwa”, ou
seja, tropical quente úmido, com inverno frio e seco, temperatura média de 23,1ºC e
precipitação anual média de 1.341 mm (INMET, 2016).
A área analisada possui 87,05 ha, composta por três setores, os quais diferem
entre si em relação ao tempo em que foram destinados a pousio e ao uso anterior do
solo, a saber: Setores A (SA), B (SB) e C (SC). O SA possui 39,47 ha, sofreu corte
seletivo de madeira no passado e atualmente, tem 46 anos de regeneração. O SB possui
26,95 ha, área que continha cafezais e possui 56 anos de regeneração florestal. O SC
possui 20,63 ha, área na qual existiam pastagens e atualmente é coberta por floresta com
idade próxima de 42 anos, que juntos perfazem um mesmo fragmento (Figura 1).
Figura1 - Localização da área de estudo.
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O inventário da população de Anacardiaceae ocorreu em 20 parcelas de áreas
fixas (MUELLER-DOMBOIS; ELLEMBERG, 2002) com 20 X 20 m, distribuídas
sistematicamente a cada 200 m, em que foram amostrados todos os indivíduos com
Diâmetro a Altura do Peito (DAP) ≥ a 5 cm.
Para avaliar a Sanidade do Fuste (SF) foi utilizado um código numérico
correspondente a situação fitossanitária em que: 1) sadio; 2) estágio inicial de
deterioração; 3) estágio avançado de deterioração e; 4) árvore morta. Para a avaliação da
Qualidade do Fuste (QF), considerou-se: 1) reto, cilíndrico; 2) ligeiramente torto, porém
cilíndrico e desprovido de ramificações consideráveis; 3) forte tortuosidade e; 4)
quebrado, rachado (SFB, 2014). Posteriormente, foi aplicado o teste estatístico do Qui-
quadrado.
Resultados e Discussão Foram registrados 1.747 indivíduos no PEAMA, distribuídos em 38 famílias
botânicas, onde as cinco mais relevantes foram: Fabaceae (35,2%), Euphorbiaceae
(12,6%), Meliaceae (8,6%), Rubiaceae (8,5%) e Anacardiaceae (5,55%). Abreu (2013)
encontrou resultados próximos na FLONA de Pacotuba.
Entre as Anacardiaceae, foram encontrados 97 indivíduos distribuídos em 4
espécies Astronium concinnum (50,79%), Astronium fraxinifolium (1,03%), Astronium
graveolens (38,14%) e Astronium sp. (1,03%).
Os resultados referentes a abundância, DAP (médio), QF e SF (Médio) das
Anacardiaceae, em função do tempo de ocupação em SA, SB e SC (Tabela1),
apresentam pouca variação da condição árborea.
Tabela 1- Nº de indivíduos (Número de indivíduos), DAP (diâmetro a altura do peito),
QF (Qualidade do fuste), SF (Sanidade do fuste) das Anacardiaceae do
PEAMA
Variáveis SA SB SC
Nº de indivíduos 34 34 29
DAP médio (cm) 9,76 9,62 8,9
QF (médio) 2,1 1,72 2,5
SF (médio) 1,58 2 2,5
O nº de indivíduos de Anacadiaceae entre SA e SB não variou. Entretanto, em
termos de ocupação da área, tem-se: em SA existe, aproximadamente, 1 a cada 0,98 há;
em SB, 1 a cada 1,26 ha e; em SC, 1 a cada 1,40 ha. Outro fator que pode explicar a
abundância de Anacardiaceae, é o histórico de ocupação de cada setor.
Os indivíduos arbóreos dado setor A, possuem maior DAP que os dos setores B
em 1,43% e C em 8,81%; demonstrando que as plantas com maior DAP estão num
maior estágio de desenvolvimento vegetativo, o que pode ter sido influenciado pelo
corte seletivo do setor.
Em relação à qualidade e sanidade do fuste, os valores calculados foram maiores
que o Tabelado, portanto, são estatisticamente diferentes, ou seja, os desvios são
significativos entre SA, SB e SC; em que o SB apresenta melhor QF, e SA melhor SF.
Estas variáveis podem ser influenciadas por diversos fatores ambientais, tais como a
exposição à luminosidade, a incidência de ventos, competição por espaço e, além
desses, por fatores genéticos (MATTOS 2009).
10
Conclusões As Anacardiaceaes correspondem a 5,55% dos indivíduos arbóreos encontrados
no PEAMA.
O SA possui indivíduos com maior DAP e SF que os setores B e C.
O SB possui melhor QF que os setores A e C.
Estes resultados podem ter sido influenciados pelo tipo de ocupação anterior.
Agradecimentos Ao Ifes - Campus de Alegre. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo
(FAPES). A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Literatura citada
ABREU, K.M.P de; Silva, G.F. da; Silva, A.G. da. Análise fitossociológica da floresta
Nacional de Pacotuba Cachoeiro de Itapemirim, ES- Brasil. Cerne, v. 19, p. 157-168,
2013.
FERRETI, A.R.; KAGEAMA, P.Y.; ARBOEZ, G.F. et al. Classificação das espécies
arbóreas em grupos ecológicos para revegetação no estado de São Paulo. Florestar
estatístico. v.3, p. 2-6, 1995.
GALINDO-LEAL, C.; CÂMARA, I.G. Mata Atlântica. Biodiversidade, Ameaças e
Perspectivas. Fundação SOS Mata Atlântica. p.86-94, 2005.
MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLEMBERG, H. Aims and methods of vegetation
ecology. Caldwell, The Blackburn Press, 2002. 547p.
INMET. Climatologia. 2013. In: Http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r =clima
/normaisClimatologicas (acessado em 29 de maio de 2016).
PELL, S.K.; MITCHELL, J.D.; MILLER, A.J. et al. Anacardiaceae. In: K. Kubitzki
(ed) The families and genera of vascular plants. Springer, Berlin, 2011. p. 7-50.
SFB. Manual de Campo: procedimentos para coleta de dados biofísicos e
socioambientais. 2014. In: Http://ifn.florestal.gov.br/index.php?option=com_content&
view=article&id=139&Ite mid=128 (acessado em 06 de junho de 2016).
SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica sistemática. Guia ilustrado para identificação
das famílias de Angiosperma da flora brasileira, baseado em APG II. 1ª ed., Instituto
Plantarum, Nova Odessa. 2005. 640p.
TERRAZAS, T. Anatomia de la madera de Anacardiaceae con énfasis en los gêneros
Americanos. Boletin de la Sociedad Botaníca de México. V. 64, p 103-109, 1999.
11
Análise da evapotranspiração em pastagens com e sem indicativos de degradação
em assentamentos do município de Goiás-GO
Ricardo Guimarães Andrade1, Marcos Cicarini Hott
1, Walter Coelho Pereira Magalhães
Junior2, Thatiana de Andrade Figueira
3
1Pesquisadores na Embrapa Gado de Leite - CNPGL.
2Analista na Embrapa Gado de Leite – CNPGL.
3Professora na Universidade de Brasília - UNB.
Resumo: Objetivou-se analisar a evapotranspiração em pastagens com e sem
indicativos de degradação em assentamentos do município de Goiás, estado de Goiás.
Para tanto, imagens do sensor MODIS, dados meteorológicos e o algoritmo SAFER
(Simple Algorithm For Evapotranspiration Retrieving) foram usados. De acordo com os
resultados pode-se concluir que cerca da metade das áreas de pastagens dos
assentamentos apresentaram indicativos de degradação, as quais tiveram os menores
valores de evapotranspiração. Esses parâmetros biofísicos são indicadores do vigor e
das condições hídricas da vegetação e do solo. Tais indicadores podem auxiliar em
tomadas de decisões voltadas para a sustentabilidade econômica e ambiental das áreas
de pastagens.
Palavras–chave: Sustentabilidade, Pecuária, Sensoriamento Remoto, Parâmetros
Biofísicos, SAFER.
Analysis of evapotranspiration in pastures with and without indicative of
degradation in settlements of the municipality of Goiás, Goiás State, Brazil
Abstract: The aim of this study was to analyze the evapotranspiration in pastures with
and without indicative of degradation in settlements of the muncipality of Goiás, Goiás
State, Brazil. Therefore, images of the MODIS sensor, meteorological data and the
Simple Algorithm For Evapotranspiration Retrieving (SAFER) were used. According to
the results, we concluded that about half of the pasture areas of the settlements
presented indicative of degradation with lowest evapotranspiration values. These
biophysical parameters are indicators of the vigor and water conditions of vegetation
and soil. Such indicators can aid in decision-making focused on the economic and
environmental sustainability of pasture areas.
Keywords: Sustainability, Livestock, Remote Sensing, Biophysical Parameters,
SAFER.
Introdução
O município de Goiás, no estado de Goiás, é o que possui o maior número de
assentamentos efetivados, são 22 no total. Ressalta-se que, nas últimas décadas ocorreu
intensa reordenação no uso e posse das terras deste município (Oliveira, 2007). Assim, é
de fundamental importância a análise de parâmetros biofísicos relacionados ao uso e
cobertura das terras. Atualmente, a identificação, a quantificação e o monitoramento das
condições das pastagens são assuntos de grande interesse, inclusive com incentivo do
governo federal para aplicação de técnicas que favoreçam a produção agropecuária com
sustentabilidade, tais como o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC) do
Governo Federal (Andrade et al. 2017).
12
Neste contexto, as técnicas de sensoriamento remoto podem auxiliar em tomadas
de decisões que visam à melhoria dos sistemas produtivos locais. Dentre as diversas
aplicações, as imagens orbitais têm-se apresentado como relevante fonte de dados para
o monitoramento do uso e cobertura das terras e, especialmente, na correlação de
parâmetros biofísicos, como a evapotranspiração e a biomassa de pastagens (Andrade et
al., 2016). Para tanto, juntamente com os dados de sensoriamento remoto são utilizados
modelos e algoritmos. O SAFER (Simple Algorithm For Evapotranspiration Retrieving)
é um algoritmo simplificado que tem apresentado bons resultados na estimativa da
evapotranspiração (ET) e da biomassa (Bio) em larga escala (Teixeira et al., 2013).
Diante do exposto, o presente estudo objetivou analisar a evapotranspiração em
pastagens com e sem indicativos de degradação em assentamentos do município de
Goiás, no estado de Goiás.
Material e Métodos
A área de estudo compreende os assentamentos localizados no município de
Goiás, GO. Foram utilizados dados de NDVI (Normalized Difference Vegetation Index)
de 2002 a 2012 gerados a partir de imagens do MODIS (Moderate Resolution Imaging
Spectroradiometer) para aplicação de método indicativo de degradação de pastagens,
conforme detalhado por Andrade et al. (2016).
n
i
i
n
i
NDVINDVIi
YY
YYYY
Slopei
1
2
1
(1)
Em que, Slope é o coeficiente de inclinação da linha de regressão ajustada em
cada pixel. n é igual a 11 devido ao uso de uma série de dados NDVI referente ao
período de 2002 a 2012; i representa o ano 1 para 2002, ano 2 para 2003 até o ano 11
para 2012; iNDVIY é o valor máximo do NDVI no ano i. Considerou-se que as pastagens
apresentavam algum indicativo de degradação quando o coeficiente de inclinação
(Slope) era menor que – 0,001. Posteriormente, aplicou-se o algoritmo SAFER (Simple
Algorithm For Evapotranspiration Retrieving) para analisar a evapotranspiração das
áreas de pastagens com e sem indicativos de degradação em cada território de
assentamento do município de Goiás, GO. Para tanto, utilizou-se série de imagens
MODIS do ano de 2012 juntamente com dados de estações meteorológicas
disponibilizados pelo INMET. No SAFER, estimou-se o albedo de superfície (α0) a
partir das bandas 1 e 2 do MODIS. A temperatura da superfície (To) foi estimada como
resíduo da equação do balanço de radiação diário (Rn). Em seguida, foi possível estimar
a evapotranspiração (ET) (Teixeira et al., 2013a):
oETNDVI
TET
0
0exp
(3)
Em que, e são os coeficientes de regressão, com respectivos valores de 1,8 e
- 0,008 (Teixeira et al., 2013) e ETo é a evapotranspiração de referência, dada em
milímetros por dia (mm d-1
), método Penman-Monteith, conforme boletim FAO Nº 56
(Allen et al., 1998).
13
Resultados e Discussão
Na Figura 1 visualizam-se as áreas de pastagens com e sem indicativos de
degradação, classificada para os 22 assentamentos localizados no município de Goiás,
GO. Em geral, conforme metodologia aplicada, cerca de metade das áreas de pastagens
dos assentamentos apresentou algum indicativo de degradação (cor vermelha). A
recuperação do potencial produtivo destas pastagens por meio da intensificação ou a
adoção de sistemas integrados de produção pode ser vista como uma das alternativas de
exploração sustentável (Andrade et al. 2017). Nesse caso, além do aumento da produção
e renda dos produtores destes assentamentos do município de Goiás-GO, a recuperação
pode contribuir para amenizar a pressão em relação à expansão territorial da
agropecuária em áreas ocupadas por florestas ou de vegetação nativa do bioma Cerrado.
Figura 1 - Mapa das áreas de pastagens com e sem indicativos de degradação nos
assentamentos localizados no município de Goiás, GO.
Na Figura 2 visualiza-se a média da evapotranspiração (ET, mm d-1
) estimada
para as áreas de pastagens dos assentamentos do município de Goiás, GO. Os valores de
ET variaram de 0,6 a 2,4 mm d-1
. Ao analisar conjuntamente as Figuras 1 e 2 observa-se
que os valores mais altos de ET (em tons de azul, Figura 2) são mais frequentes nas
áreas de pastagens sem indicativos de degradação (em tons de verde, Figura 1). Neste
contexto, observa-se que pastagens bem manejadas podem contribuir para que, parte
considerável do balanço de energia, seja direcionada para os processos de
evapotranspiração e, assim, influenciar na possível redução da componente do balanço
de energia destinada ao fluxo de calor sensível (H) (Andrade et al. 2016). Além disso,
pastagens degradadas podem levar a uma redução da capacidade de infiltração do solo e
aumentar o escoamento superficial que, por sua vez, pode ocasionar processos mais
acentuados de degradação como a erosão do solo. Contudo, para estabelecer um manejo
otimizado das pastagens é de fundamental importância o monitoramento do crescimento
das forrageiras e a avaliação da relação entre a produção e os processos climáticos. Para
tanto, torna-se essencial o desenvolvimento de sistemas geográficos interativos voltados
para o monitoramento das pastagens em diferentes escalas (diária, semanal ou mensal)
com intuito de auxiliar os pecuaristas na identificação das áreas com baixa
produtividade e possibilitar tomadas de decisões aliando as questões de sustentabilidade
econômica e ambiental.
14
Figura 2 - Mapa da evapotranspiração (ET, mm d
-1) estimada para as áreas de pastagens
dos assentamentos localizados no município de Goiás, GO.
Conclusões
De acordo com os resultados apresentados, foram identificados indicativos de
degradação em metade das áreas de pastagens dos assentamentos localizados no
município de Goiás, GO. Em geral, as áreas de pastagens com indicativos de
degradação tiveram os menores valores de evapotranspiração, sendo este parâmetro
biofísico um indicador do vigor e das condições hídricas da vegetação e do solo. Tais
indicadores podem auxiliar nas tomadas de decisões voltadas para a sustentabilidade
econômica e ambiental das áreas de pastagens.
Literatura citada
ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop Evapotranspiration:
Guidelines for Computing Crop Water Requirements – FAO Irrigation and
Drainage Paper 56. Food and Agriculture Organization of the United Nations: Rome,
Italy, 1998. 300p.
ANDRADE, R. G.; BOLFE, E. L.; VICTORIA, D. C.; NOGUEIRA, S. F. Avaliação
das condições de pastagens no cerrado brasileiro por meio de geotecnologias. Revista
Brasileira de Agropecuária Sustentável, v. 7, p. 34-41, 2017.
ANDRADE, R. G.; TEIXEIRA, A. H. C.; LEIVAS, J. F.; NOGUEIRA, S. F. Analysis
of evapotranspiration and biomass in pastures with degradation indicatives in the Upper
Tocantins River Basin, in Brazilian Savanna. Revista Ceres, v. 63, p. 754-760, 2016.
OLIVEIRA, D. A. Avaliação multitemporal do uso da terra no projeto de
assentamento São Carlos, município de Goiás, GO. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Católica de Goiás, Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Produção
Sustentável. 2007. 131p.
TEIXEIRA, A. H. C.; SCHERER-WARREN, M.; HERNANDEZ, F. B. T.;
ANDRADE, R. G.; LEIVAS, J. F. Large-Scale Water Productivity Assessments with
MODIS Images in a Changing Semi-Arid Environment: A Brazilian Case Study.
Remote Sensing, v. 5, p. 5783-5804, 2013.
15
Análise do gerenciamento dos resíduos gerados nos restaurantes universitários da
Universidade Federal de Viçosa 1
Mônica de Abreu Azevedo2, Priscila da Silva Maradini
3, Ana Luísa Pereira Lima
3
1Pesquisa de extensão realizada na Universidade Federal de Viçosa, sem financiamento
2Professor do Departamento de Engenharia Civil.
3Estudante de graduação em Engenharia Ambiental.
Resumo: As pesquisas realizadas nas instituições de ensino superior objetivam o
aprimoramento das atividades desempenhadas na própria instituição e pelo
gerenciamento dos resíduos provenientes de tais atividades. A Universidade Federal de
Viçosa (UFV) por ser uma instituição de ensino superior renomada deve assumir o
compromisso de possuir uma gestão adequada dos resíduos gerados nas suas mais
diversas funções. Tal comprometimento torna-se ainda mais necessário quando se refere
a atividades de cunho alimentício, como os restaurantes universitários. É nesse contexto
que esse presente trabalho foi desenvolvido, apresentando uma análise qualitativa dos
resíduos gerados pelos dois restaurantes universitários da UFV, e a proposição de
soluções para a melhoria da sua gestão. O diagnóstico foi realizado ao longo de uma
semana envolvendo a coleta de dados desde a etapa de geração até o destino final, por
meio de informações disponibilizadas pelos funcionários dos restaurantes e por
observação direta no local. Os dados obtidos foram processados e realizou-se uma
análise comparativa entre as duas unidades alimentícias, verificando-se que, no geral,
ambas possuem uma gestão não tão eficiente quanto o seu potencial. Desse modo, nota-
se a importância e necessidade de pensar propostas para um gerenciamento mais
adequado, através de campanhas de conscientização dos usuários e palestras de
capacitação de funcionários acerca da responsabilidade coletiva de produção e
disposição de resíduos sólidos.
Palavras–chave: conscientização ambiental, gestão, instituição de ensino superior,
monitoramento, resíduos sólidos, restaurante universitário.
Abstract: The researches realized in higher education institutions aims to
improve the activities performed in these institutions and the management of the
solid wastes coming from these activities. The Federal University of Viçosa (UFV),
as a renowned higher education institution, must be committed to have an adequate
management of the wastes generated in its different functions. This commitment
becomes even more necessary when it comes from food activities such as
university restaurants. It is in this context that this work was developed, presenting
a qualitative analysis of the solid wastes generated by the two university restaurants
of the UFV, and the proposition of solutions for the improvement of its
management. The diagnosis was carried out during a week involving the collection
of data from the generation stage to the final destination, through information
provided by restaurant staff and direct observation at the local. The data obtained were processed and a comparative analysis was carried out between the two food
units. In general, both had a management not as efficient as their potential. Thus,
we noticed the importance and necessity of thinking about proposals for a more
adequate management, through campaigns to raise awareness among users and
lectures on the training of employees on the collective responsibility for the
production and disposal of solid waste.
16
Keywords: environmental awareness, institution of higher education, management,
monitoring, solid waste, university restaurant.
Introdução As instituições de ensino superior (IES) são responsáveis pelo desenvolvimento
de pesquisas que visam atender as demandas atuais de modo a buscar resolver os
problemas que exigem mais do que a simples aplicação de antigos modelos adaptados
para as novas realidades. A mesma demanda é requisitada para o ambiente interno das
universidades, uma vez que para que ela desempenhe as funções que lhe são atribuídas,
é necessário a adoção de políticas institucionais e a elaboração e aplicação de um
sistema de gestão ambiental que satisfaça suas especificidades. Um dos vários
problemas existentes é o descarte e a disposição dos resíduos gerados nas IES, sendo
este o foco desse presente trabalho. Em geral, os resíduos gerados em ambiente
universitário são caracterizados por uma matriz complexa e heterogênea devido à
complexidade e particularidade de suas atividades e, portanto, torna-se um desafio para
toda comunidade acadêmica promover o gerenciamento adequado em todos os setores e
atividades. Por isso, as IES devem utilizar a gestão de seus resíduos como parte da
gestão acadêmica para desenvolver e implementar políticas relacionadas aos aspectos e
impactos resultantes de suas atividades (CONTO, 2010). A Universidade Federal de
Viçosa (UFV), como uma instituição de ensino superior, também apresenta alguns
problemas nesse sentido e, por ser uma organização renomada, nacional e
internacionalmente, deve possuir um compromisso ambiental e ser responsável pela
destinação correta dos seus resíduos. O gerenciamento de resíduos sólidos e políticas a
serem desenvolvidas ganham ainda mais preocupação e importância quando dizem
respeito às unidades de alimentação, como os restaurantes universitários, RU
(Restaurante Universitário) e MU (Restaurante Multiuso). Como meios de produção
intenso, o RU e o MU não se eximem da geração de resíduos, bem como do intenso
desperdício de gêneros alimentícios que refletirá no incremento do lixo gerado. Nesse
sentido, o presente trabalho buscou realizar um diagnóstico qualitativo da gestão dos
resíduos gerados nos Restaurantes Universitários da UFV, com o intuito de contribuir
com o gerenciamento integrado dos resíduos da instituição e propor soluções a partir de
uma análise crítica com relação aos resíduos gerados por ambas unidades de
alimentação e nutrição.
Material e Métodos O diagnóstico da gestão dos resíduos sólidos dos restaurantes RU e MU foi
realizado ao longo de uma semana envolvendo a observação e análise do funcionamento
de ambas unidades alimentícias. A fim de verificar as condições de acondicionamento,
armazenamento, bem como identificar falhas de manejo, observações foram feitas e
anotadas, como também fotos foram realizadas para base de informações visuais.
Realizou-se, também, um levantamento do cardápio oferecido na semana de coleta dos
dados. Além disso, através dos funcionários que trabalham no local foi possível obter
informações adicionais que contribuíram para a compreensão de como funciona o
manejo de resíduos nestes locais.
Resultados e Discussão
Restaurante Universitário (RU)
O diagnóstico dos resíduos sólidos do Restaurante Universitário foi realizado no
período que compreende os dias de 18 de maio de 2016 à 24 de maio de 2016, envolvendo a
17
coleta de dados operacionais dos resíduos sólidos ali gerados. Durante a semana de coleta
de dados e observação, foram adquiridas informações sobre o número de consumidores e os
resultados encontram-se na Tabela 1. No total desta semana, 44.378 pessoas consumiram na
unidade.
Tabela 1 – Quantidade de consumidores nos dias de análise no RU
Dia / Turno
18/05/2016
19/05/2016
20/05/2016
21/05/2017
22/05/2017
23/05/2017
24/05/2017
TOTAL
Café da Manhã
1271
1204
1111
819
292
948
1073
6718
Almoço
3356
4049
3567
3402
1814
3164
3235
22587
Lanche
1295
1375
1688
-
-
1767
1317
7442
Janta
1950
1857
858
-
-
1211
1755
7631
TOTAL
7872
8485
7224
4221
2106
7090
7380
44378
O RU possui uma câmara de lixo para disposição de todos os resíduos gerados
no estabelecimento. Essa câmara é localizada no espaço interno da cozinha do
restaurante e possui uma saída externa para a coleta dos resíduos. Os restos orgânicos
provenientes das bandejas recolhidas após a utilização pelos usuários do restaurante são
acondicionados em tonéis sobre carrinhos de mão e encaminhados para a câmara de
resíduos. Além disso, o dispositivo ainda recebe os resíduos provenientes das cestas de
lixo alocadas em todo o estabelecimento. Diagnosticou-se, ainda, que os resíduos
gerados eram, coletados de quatro formas distintas: há quatro anos, dois pequenos
produtores recolhem voluntariamente os resíduos orgânicos provenientes do meio
externo do RU (salão de refeição), das sobras das bandejas dos usuários do restaurante,
restos de preparo de alimentos (grãos, cascas) e restos de salada e frutas; um caminhão
de coleta seletiva de um projeto interno da UFV faz a coleta dos materiais passiveis de
reciclagem, em sua maioria, caixas de papelão e latas de alumínio; os resíduos
provenientes da limpeza das carnes retornam para a indústria de abate; os demais
resíduos (resíduos de limpeza, resíduos das lixeiras, resíduos dos banheiros, rejeitos,
borra de café, embalagens muito sujas, papelão molhado...) são coletados pelo caminhão
de coleta interno da UFV e encaminhado para o aterro sanitário do município de Viçosa.
Restaurante Multiuso (MU) O diagnóstico dos resíduos sólidos do Restaurante Multiuso foi realizado ao
longo de cinco dias, no período de 07 de junho de 2016 à 10 de junho de 2016 e no dia
13 de junho de 2016, envolvendo a coleta de dados operacionais dos resíduos sólidos ali
gerados. Durante essa semana de coleta e observação, foram adquiridas informações
sobre o número de consumidores e os resultados encontram-se na Tabela 2. No total
desta semana, 15.224 pessoas almoçaram na unidade.
18
Tabela 2 – Quantidade de consumidores nos dias de análise no MU
Dia / Turno
07/06/2016
08/06/2016
09/06/2016
10/06/2016
13/06/2016
Total
Almoço
3.281
2.931
3.334
2.694
2.984
15.224
No que diz respeito ao acondicionamento dos resíduos sólidos, observou-se que os
mesmos eram acondicionados em sacos de lixo de cor preta, com volumes variados dependendo
do tamanho do coletor e do setor em que estavam localizados. Ainda, notou-se que alguns sacos
de lixo se encontravam rasgados, dificultando o transporte e o armazenamento temporário e
seguro dos resíduos. O refeitório possuía, internamente, coletores revestidos com sacos
plásticos, com tampa e acionamento por pedal. Verificou-se, ainda, que existiam coletores
específicos para determinado tipo de resíduo, auxiliando na segregação e disposição dos
mesmos. Além disso, o armazenamento externo era feito no pátio anexo ao restaurante,
utilizando sacos plásticos e coletores. Por ser um local aberto, o acondicionamento não
se dá de modo muito efetivo, pois pode ser influenciado pelas condições climáticas,
como chuva e vento, prejudicando a disposição, embora temporária, dos resíduos. Além
disso, os resíduos coletados não eram colocados dentro dos coletores, ficando dispostos
no próprio chão do local. Ainda, verificou-se que parte dos resíduos recicláveis são
recolhidos pelo caminhão de coleta seletiva da UFV e, outra, por pessoas que fazem
parte da Associação de Catadores do Município de Viçosa; enquanto que os resíduos
orgânicos gerados são diariamente recolhidos por um dos pequenos produtores que
recolhe também no RU.
Conclusões Mediante o que foi apresentado nesse trabalho, percebe-se que é imprescindível
a realização de um trabalho de cunho educacional acerca da problemática dos resíduos
nos locais de estudo. Ainda, há a necessidade de palestras de capacitação e
conscientização sobre a definição e disposição correta dos resíduos para todos os
funcionários, a fim de otimizar o gerenciamento dos resíduos sólidos dos locais e gerar
conhecimentos e novas informações para os mesmos. Uma forma de atingir este
objetivo seria através da utilização de dinâmicas como vídeos relacionados a este tema.
Além disso, palestras deveriam ser realizadas focando na minimização dos resíduos
através do aproveitamento máximo dos alimentos, descartando-se somente as partes
inaproveitáveis de forma segregada de outros resíduos inorgânicos.
Literatura citada
CONTO, S.M. Gestão de resíduos em universidades: Uma complexa relação que
estabelece entre heterogeneidade de resíduos, gestão acadêmica e mudanças
comportamentais. In: Gestão de Resíduos em Universidades. p. 17-32. Ed. EDUCS.
2010.
RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO UFV: Disponível em <
https://rufv.wordpress.com/historico/ > Acesso em junho de 2016.
19
Análise dos Conselhos Municipais de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Rural
Sustentável de Barbacena - MG
Suelen Ferreira Matoso Couto¹ Natália Oliveira Dias²
¹ Mestranda em Desenvolvimento Sustentável e Extensão na Universidade Federal de Lavras, MG.
[email protected] ² Estudante de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão de Áreas Naturais Protegidas – IFSEMG.
Resumo: Este estudo pretende estabelecer uma reflexão em torno do Conselho
Municipal de Meio Ambiente (CMMA) e o Conselho Municipal de Desenvolvimento
Rural Sustentável (CMDRS), bem como analisar e conhecer a realidade desses
conselhos na cidade de Barbacena a fim de compreender suas contradições e
possibilidades, e se os mesmos se encontram funcionais e efetivos. Essas instâncias
podem ser deliberativas, consultivas e fiscalizadoras, tendo como função dar voz a
população e aos agricultores rurais, possibilitando a implementação de políticas
públicas que promovam a emancipação da gestão pública municipal inclusive nas zonas
rurais brasileiras. Neste sentido, para construção de referenciais teórico-empíricos sobre
a criação e funcionamento do CMMA e do CMDRS, foram realizadas entrevistas com
membros desses dois conselhos locais de Barbacena. E por meio de sites, livros e
artigos, buscou-se obter maior conhecimento em relação às questões levantadas.
Palavras-chave: controle social, desenvolvimento sustentável, gestão ambiental
pública, participação social
Analysis of the Municipal Councils of the Environment and Sustainable Rural
Development of Barbacena - MG
Abstract: This study intends to establish a reflection around the Municipal Council of
the Environment (CMMA) and the Municipal Council of Sustainable Rural
Development (CMDRS), as well as to analyze and to know the reality of these councils
in the city of Barbacena in order to understand its contradictions and possibilities, and
whether they are functional and effective. These bodies can be deliberative, consultative
and fiscalizing, with the purpose of giving voice to the population and rural farmers,
enabling the implementation of public policies that promote the emancipation of
municipal public management, including in rural areas of Brazil. In this sense, for the
construction of theoretical-empirical references on the creation and functioning of
CMMA and CMDRS, interviews were conducted with members of these two Barbacena
local councils. And through websites, books and articles, we sought to obtain more
knowledge regarding the issues raised.
Keywords: social control, sustainable development, public environmental management,
social participation
Introdução
No Brasil, ao longo da década de 1990, as políticas governamentais passaram a
adotar o caminho da racionalidade financeira, implicando redução dos gastos públicos e
do tamanho do Estado, assim como a abertura do país ao capital financeiro
20
internacional. Nesse contexto, de deslocamento de atribuições de ações do governo
federal ou estadual para a esfera municipal, surge o que se convencionou chamar
“prefeiturização” política, com a responsabilização direta do município na captação de
recursos para o atendimento de suas próprias demandas e inclusive na criação de espaço
para práticas sociais (ABREU, 1999). Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente
(CMMA) são órgãos paritários, passíveis de desempenharem competências consultiva,
deliberativa, normativa e fiscalizadora. E assim, começam a assumir importância
estratégica para a implementação de uma política ambiental local, em consonância as
regulamentações nacionais e a dos estados correspondentes, fundando em conjunto com
as demais instâncias locais, bases do Sistema Municipal de Meio Ambiente
(SISMUMA) que é integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA).
O CMDRS está regulamentado pela Lei nº 3.508, de 14 de junho de 2000, e tem
como responsabilidades: deliberar sobre o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural
Sustentável; promover a articulação e a adequação de políticas públicas estaduais e
federais à realidade municipal; compatibilizar a programação físico-financeira anual dos
Programas que integram o PNDRS e o Plano Estadual; acompanhar seu desempenho e
apreciar os relatórios de execução; os impactos das ações dos programas no
desenvolvimento municipal e propor redirecionamentos; Este Conselho Municipal deve
ser integrado, paritariamente, por representantes do poder público municipal, das
organizações dos agricultores familiares, dos beneficiários do Programa Nacional da
Reforma Agrária, das organizações da sociedade civil e das entidades parceiras
(PEREIRA; REZENDE, 2017).
Assim, este estudo pretende estabelecer uma reflexão em torno da atuação e
funções dos CMMA e CMDRS de Barbacena. Será realizado apontamento de
argumentos teóricos sobre os mesmos em relação a políticas públicas, participação
social e a importância destes conselhos para o processo de desenvolvimento
socioambiental nessa cidade mineira.
Material e Métodos
As entrevistas foram realizadas com dois representantes membros dos CMMA E
CMDRS de Barbacena/MG. Com a posterior elaboração de relatórios descritivos das
mesmas. Para realização das entrevistas utilizou-se um questionário com perguntas
abertas, sendo as entrevistas gravadas e transcritas pelos pesquisadores. O roteiro
serviu-nos de instrumento para guiar a entrevista, no entanto, surgiram questões que não
faziam parte do mesmo, possibilitando maior explanação e compreensão sobre a
realidade desses espaços participativos. Para embasamento foi construída uma revisão
de literatura sobre os Conselhos em questão no Brasil com pesquisas em artigos, leis,
sites e livros para aprofundamento e compreensão do processo de criação desses
espaços, bem como consulta ao regimento interno dos respectivos conselhos. Optou-se
por pesquisar a cidade de Barbacena a fim de verificar em quais situações os Conselhos
se aproximavam e em quais divergiam, sendo possível analisar a efetividade e a
participação da sociedade civil em ambos.
Resultados e Discussão
Segundo a pesquisa bibliográfica realizada, em relação ao Conselho Municipal de
Desenvolvimento Rural Sustentável de Barbacena, este foi criado pela Lei Municipal nº
4341 em junho de 2011. É órgão deliberativo, consultivo e fiscalizador de
assessoramento do Poder Executivo e deliberativo no âmbito de sua competência.
Cabendo a esse CMDRS assessorar a gestão da política municipal de desenvolvimento
21
rural nos termos da Lei. O conselho visa conhecer a realidade e as necessidades dos
moradores da zona rural, buscando sanar os problemas evidenciados.
Sobre o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Barbacena, o CODEMA, o
mesmo foi instituído pela Lei nº 4121 em julho de 2008. Que “dispõe sobre a política de
proteção, de conservação e de controle do meio ambiente e da melhoria da qualidade de
vida do município de Barbacena, e dá outras providências". É órgão deliberativo,
consultivo e executor. Desde sua criação o Conselho é composto, paritariamente, por
representantes do Poder Público Municipal, da sociedade civil organizada para a defesa
do meio ambiente e dos setores produtivos. Porém não foi informado quantos são os
membros efetivos e quais são as instituições representadas no Conselho. Sobre o nível
de escolaridade dos conselheiros, a maioria possui nível superior.
Em relação ao CMDRS, o tema inicial foi a frequência das reuniões no período de
2013-2014 e sobre a participação dos conselheiros. Foi respondido que as reuniões
ficavam cheias, que algumas vezes não tinha cadeira para todos os presentes, e que eram
normalmente mensais, variando de acordo com as demandas dos agricultores e seus
representantes. No caso dos agricultores, segundo o entrevistado, estes atores sociais
acabavam não participando desses espaços para evitar “constrangimentos” políticos.
Declarou que as informações sobre a situação atual da zona rural e as necessidades da
região eram passadas diretamente aos vereadores.
Nesse sentido, cabe citar a visão exposta por Schneider et al. (2004), em relação a
paridade presente nos conselhos, sem dúvida a distribuição paritária dos assentos do
conselho, entre representantes da agricultura familiar e do poder público, não é
suficiente para discernir uma nova repartição de papéis. Sendo a existência de paridade
entre os membros uma condição importante para construção de novos critérios rumo a
uma maior participação.
No que diz respeito ao gênero predominante em ambos é de homens, no entanto,
no CODEMA as mulheres presentes estão em torno de 6 mulheres num total de 22
membros e no CMDRS são 8 num total de 16. Como aponta Souza (2008), mesmo
apresentando algumas participações, a presença feminina ainda representa um número
muito baixo nos CMDRS investigados.
Em ambos os Conselhos o tempo de mandato é de 2 anos e será permitida uma
única reeleição no CODEMA. Porém o Estatuto do CMDRS não informa quantas
reeleições podem existir. Observa-se, portanto, a exemplo do CODEMA, que é
fundamental que esse período seja respeitado, pois a eleição de novos membros
possibilita dar oportunidades para o surgimento de novas lideranças no meio rural, para
que mulheres e jovens também possam fazer parte da presidência. Quanto ao
questionamento se há treinamentos, para os conselheiros, sobre Educação Ambiental
relacionando os temas mais abordados referentes a cada Conselho, em ambos a resposta
foi negativa.
Conclusões O contato in loco com estes conselhos possibilitou uma aproximação com a
realidade dos mesmos e uma percepção de como tem se dado o processo de participação
social nesses espaços que deveriam ser instrumentos de controle social e formação de
sujeitos políticos.
O CMDRS tem papel essencial no processo de transformação da realidade rural
brasileira, visto que, são instâncias deliberativas, consultivas e fiscalizadoras. Sua
função é dar voz aos agricultores rurais e buscar implementação de políticas públicas
que contemplem sua realidade. Porém, segundo os relatos, o mesmo encontra-se inativo
desde o ano de 2015. Sendo assim, não representa um dispositivo que estabelece as
22
bases de políticas de desenvolvimento rural, percebe-se que este não é capaz de
responder ao desafio das transformações em curso nos espaços rurais.
O CODEMA é um dos órgãos responsáveis pela proteção, conservação e melhoria
do meio ambiente na cidade. E de acordo com a pesquisa este órgão mostra-se ativo e
disposto a representar os anseios e necessidades da população.
Contudo, nenhum dos dois Conselhos abordaram a valorização da prática da
Educação Ambiental (EA) sob uma perspectiva crítica e emancipadora, segundo institui
as leis ambientais brasileiras. Evidencia-se que a EA está longe de ser entendida como
meio de transformação societária para se alcançar a sustentabilidade.
Entende-se que o contexto histórico político existente em Barbacena deve ser
levado em consideração, visto que, as reuniões dos dois Conselhos acontecem dentro de
órgãos municipais. Em todo caso, mesmo que ideias visando democratizar o poder local
sejam abafadas no seio dos conselhos, estas constatações contribuem para a geração de
perspectivas mais democráticas com vistas a uma reconfiguração da esfera pública
local.
Literatura citada ABREU, M. Descentralização e federalismo. Caderno Aslegis, Brasília, v.3, n.7, p. 30-
35, jan./abr. 1999.
PEREIRA, J. R.; REZENDE, J. B. Gestão Pública Municipal. ed. Curitiba, PR: CRV,
232 p., 2017.
SCHNEIDER, S; SILVA, M.K; MORUZZI MARQUES, P.E [Org];
. Porto Alegre, RS, Brasil: Editora UFRGS,
2004.
SOUZA, C. B. DE; Políticas públicas e participação feminina: a experiência dos
Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável. Revista Sociedade e
Cultura, v. 11, n. 2, p. 251-261, jul/dez. 2008.
23
Análise geoambiental da distribuição espacial de populações do carrapato dos
bovinos com diferentes níveis de sensibilidade a carrapaticidas em Minas Gerais
no ano de 2016
Ricardo Guimarães Andrade1, Marcos Cicarini Hott
1, John Furlong
1, Márcia Cristina de
Azevedo Prata1, Cristiano Amancio Vieira Borges
2, Michelle de Souza Muniz
3
1Pesquisador na Embrapa Gado de Leite.
2Analista na Embrapa Gado de Leite.
2Técnico na Embrapa Gado de Leite
Resumo: O Estado de Minas Gerais é o maior produtor de leite do Brasil, com 9 bilhões
de litros, 27% da produção nacional. Questões no âmbito sanitário são grande relevância
na cadeia produtiva, sendo o parasitismo por carrapatos em rebanhos muito preocupante
para os produtores. O Carrapato-de-boi tem ampla ocorrência geográfica e seu impacto
pode ser mensurado pela perda de peso do gado, redução na produção e uso
indiscriminado de carrapaticidas, altamente prejudicial ao homem e meio ambiente. O
objetivo deste trabalho foi caracterizar a distribuição espacial de populações do
carrapato dos bovinos com diferentes níveis de sensibilidade aos principais
carrapaticidas utilizados no mercado. Foram estimados índice de Moran e mapa de
Hot/Cold Spot para caracterização espacial quanto à distribuição e autocorrelação da
eficiência média. Obteve-se um índice de Moran de 0,13, com distribuição espacial
aleatória e autocorrelação muito baixa de EPmédia para o ano de 2016, caracterizando
baixa ou nenhuma relação entre níveis de sensibilidade e origem geográfica.
Palavras–chave: Origem geográfica, resistência, Rhipicephalus microplus.
Geoenvironmental analysis of the spatial distribution of cattle tick populations
with different levels of sensitivity to carrapaticides in Minas Gerais in the year
2016
Abstract: The Minas Gerais State is the largest milk producer in Brazil, accounting 9
billion liters, about of 27% of the national production. Issues of sanitary scope are
relevance in the production chain, with the occurrence of tick populations in cattle herds
very worrisome for producers. The cattle tick has a wide geographical occurrence and
its impact can be measured by the weight loss of the cattle, reduction in the production
and indiscriminate use of acaricides, highly harmful to the human and the environment.
The aim of this study was to characterize the spatial distribution of cattle tick
populations with different levels of sensitivity to the main carrapaticides used in the
market. Moran index and Hot/Cold Spot map were estimated for spatial characterization
of the distribution and autocorrelation of the mean efficiency. A Moran index of 0.13
was estimated, with random spatial distribution and very low autocorrelation for mean
efficiency in the year 2016, characterizing low or no relation between levels of
sensitivity and geographic origin.
Keywords: Geographic origin, resistance, Rhipicephalus microplus.
Introdução O Estado de Minas Gerais concentra a maior parte da produção de leite do Brasil,
a qual totaliza 9 bilhões de litros, 27% da produção nacional, contendo importantes
bacias leiteiras, de acordo com dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2014). O controle
24
sanitário em rebanhos e pastagens torna-se fundamental para o rendimento adequado da
produção, considerando que em grande escala doenças e pragas podem afetar ou até
inviabilizar atividades agropecuárias. O Carrapato-de-boi, Rhipicephalus microplus, é
um carrapato da família dos ixodídeos, de ampla ocorrência no Brasil e América do Sul.
O carrapato é o mais importante ectoparasita dos rebanhos bovinos. Este parasita pode
ser vetor de bactérias e protozoários causadores de doenças importantes (FURLONG;
PRATA, 2005; GRISI et al., 2014). Testes de sensibilidade são realizados na Embrapa
Gado de Leite, envolvendo amostras enviadas por diversos produtores, com intuito de
avaliar-se a efetividade dos produtos e orientar o uso racional de carrapaticidas,
compostos tóxicos aos humanos, animais e meio ambiente. Entretanto, a dimensão
espacial dos dados de 2016, momento em que elementos de resistência se apresentam,
são fundamentais para compreensão do fenômeno e aspectos geográficos. O índice de
Moran sintetiza a autocorrelação e semelhança entre variáveis ou grupamentos vizinhos,
se as médias próximas territorialmente se aproximam (SANTOS; RAIA JUNIOR, 2006;
MARQUES et al., 2010). A análise de Hot Spot, essencialmente, denota agrupamento
de z-scores com valores altos (hot ou quentes) quanto aos valores espaciais vizinhos, ou
mesmo cluster de valores baixos (cold ou frios) em relação a pontos próximos, dentro
de uma distância definida, ponderada pela escala vigente (GETIS; ORD, 1992). O mapa
de Hot/Cold Spot, com escores para representar os agrupamentos e dispersões da
variável em análise, apresenta a distribuição espacial da eficiência média dos
carrapaticidas.
Material e Métodos Na avaliação das sensibilidades das amostras foi empregado o teste de imersão,
conforme determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA). Foi avaliada a eficiência média de diferentes carrapaticidas comerciais para
cada amostra de carrapato associada a uma origem geográfica ou sede municipal. As
eficiências médias (EPmédia) dos carrapaticidas disponíveis no mercado foram
comparadas a partir da localização das amostras pelo índice de Moran e pela análise de
Hot/Cold Spot disponíveis no Sistema de Informações Geográficas (SIG) ArcGIS.
Resultados e Discussão Na Figura 1 observa-se a distribuição espacial da EPmédia resultante de
interpolação a partir dos pontos ou regiões de amostras enviadas, onde espacialmente
verifica-se uma ligeira concentração de eficiência no Triângulo Mineiro e dispersa nas
regiões central e sul/sudoeste, mediante a média obtida das 189 amostras avaliadas em
de 2016.
De forma geral, nas mesorregiões Sul/Sudoeste, Campo das vertentes e Central
Mineira, de antemão, observa-se um comportamento disperso a aleatório, tendo em vista
que para estas ocorrem o maior número de testes realizados, ao contrário das regiões
Norte e Nordeste do Estado, onde existem um menor número de amostras enviadas para
os testes de sensibilidade ao carrapaticida.
25
Figura 1 - Distribuição espacial dos dados de EPmédio, referente a populações do
carrapato dos bovinos em Minas Gerais no ano de 2016.
Com relação ao índice de Moran estimou-se em 0,13, ou seja, muito próximo ao
comportamento aleatório de EPmédia, com muito baixa autocorrelação espacial em
2016, conforme gráfico de análise de resultados emitido pelo SIG (Figura 2).
Figura 2 - Gráfico de resultados e interpretação do índice de Moran fornecido pelo SIG.
Análises referentes a populações do carrapato dos bovinos em Minas Gerais
no ano de 2016.
Por meio do mapa de Hot/Cold Spot verifica-se o caráter espacial aleatório da
variável, com escores que indicam agrupamentos de valores dentro da média de EPmédio,
em grande parte, com pontos quentes (grupos de valores altos) e frios (grupos de valores
baixos) dispersos no território (Figura 3).
26
Figura 3 - Mapa de distribuição da análise Hot/Cold Spot, referente a populações do
carrapato dos bovinos em Minas Gerais no ano de 2016.
Conclusões Praticamente, sem autocorrelação espacial, a distribuição da variável em questão
demonstra uma independência dos valores de EPmédia, o que significa a existência de
processos de resistência aos carrapaticidas independentes da origem geográfica,
demandando análises localizadas, com maior precisão, ou mesmo a necessidade de se
analisar os produtos ou grupos químicos de forma individual por meio de séries
temporais. Os agrupamentos, conforme análise Hot Spot, se apresentaram bastante
dispersos, corroborado pelo índice de autocorrelação espacial de Moran, denotando
aspecto aleatório da variável analisada. Contudo, a avaliação espacial da média da
eficiência desses produtos, a partir dos testes de sensibilidade efetuados no decorrer do
ano de 2016 fornece uma visão geral do status da correlação entre resistência e origem
geográfica de populações do carrapato dos bovinos no Estado de Minas Gerais.
Literatura citada FURLONG, J.; PRATA, M. C. A. Conhecimento básico para o controle do carrapato-
dos-bovinos. In: FURLONG, J. (Org.). Carrapatos: Problemas e Soluções. Juiz de
Fora: Embrapa Gado de Leite, 2005. p. 9-20.
GETIS, A.; ORD, J.K. The analysis of spatial association by use of distance statistics.
Geographical Analysis, v. 24, p. 189-206, 1992.
GRISI, L.; MASSARD, C. L.; MOYA-BORJA, G. E.; PEREIRA, J.B. Impacto
econômico das principais ectoparasitoses em bovinos no Brasil. A Hora Veterinária,
Porto Alegre, ano 21, p. 8-10, 2014.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sidra – Sistema IBGE de
Recuperação automática, Tabela 74 – Leite, 2014. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&c=74> Acesso em ago. 2015.
MARQUES, A. P. S.; HOLZSCHUH, M. L.; TACHIBANA, VILMA, M.; IMAI, N. N.
Análise exploratória de dados de área para índices de furto na mesorregião de
Presidente Prudente - SP. In: Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias
da Geoinformação, 3. Anais... Recife, p. 1-8, 2010.
SANTOS, L.; RAIA JUNIOR, A. A. Análise Espacial de Dados Geográficos: A
Utilização da Exploratory Spatial Data Analysis – ESDA para Identificação de Áreas
Críticas de Acidentes de Trânsito no Município de São Carlos (SP). Sociedade &
Natureza, Uberlândia, v. 18, p. 97-107, 2006.
27
Espaços Naturais Protegidos e Populações Locais: considerações sobre a gestão e o
uso sustentável dos recursos naturais em Unidades de Conservação de Uso
Sustentável1
Thaís Helena Teixeira2, José Ambrósio Ferreira Neto
3, Hadma Milaneze de Souza
4
1Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor, financiada pela Capes.
2Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural - UFV.
3Professor do Departamento de Economia Rural - UFV.
4Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural - UFV.
Resumo: O presente trabalho apresenta algumas abordagens teóricas que destacam o
potencial das populações residentes em Unidades de Conservação (UC’s) de Uso
Sustentável em gerir e utilizar de forma sustentável os recursos naturais nesses
territórios. O mesmo é parte da revisão bibliográfica da dissertação de mestrado da
primeira autora. Defende-se que as comunidades beneficiárias dessas áreas protegidas
são capazes de desenvolver mecanismos de controle e gestão dos usos realizados nas
mesmas, garantindo seu uso sustentável e a manutenção e conservação desses recursos.
Nesse sentido, evidencia-se, a partir dos estudos analisados, que essas comunidades
apresentam a capacidade de uso sustentável dos recursos e que esse fato é influenciado,
principalmente, pela dependência que as mesmas apresentam de tais recursos. Além da
dependência, fatores ligados à cultura e usos tradicionais contribuem para o uso racional
e fiscalização desses territórios por parte dessas populações.
Palavras–chave: áreas protegidas, conservação, gestão comunitária, recursos naturais,
uso sustentável
Protected Natural Areas and Local Populations: considerations on the
management and sustainable use of natural resources in Sustainable Use
Conservation Units1
Abstract: This paper presents some theoretical approaches that highlight the potential
of the residing populations in Sustainable Use Conservation Units to manage and use in
a sustainable way the natural resources in these territories. The same is part of the
bibliographic review of the master's thesis of the first author. It is defended that the
beneficiary communities of these protected areas can to develop mechanisms of control
and management of the uses made in them, guaranteeing their sustainable use and the
maintenance and conservation of these resources. In this sense, it is evident from the
analyzed studies that these communities present the capacity of sustainable use of
resources and that this fact is influenced, mainly, by the dependence that they present of
such resources. In addition to dependence, factors linked to culture and traditional uses
contribute to the rational use and monitoring of these territories by this populations.
Keywords: protected areas, conservation, community management, natural resources, sustainable use
Introdução O Brasil traz como uma de suas marcas, as desigualdades regionais, resultado das
diferenças geográficas, econômicas, sociais e culturais, que ocasionaram uma
consequente heterogeneidade no desenvolvimento econômico de suas regiões
(OLIVEIRA; LIMA, 2012). Assim, valorizar os potenciais locais e a diversidade
28
regional é fator importante ao pensar o desenvolvimento, como evidenciam as novas
abordagens para o tema. Além disso, buscar meios de conciliar uma melhor distribuição
dos benefícios econômicos entre a população local e garantir a manutenção dos estoques
de recursos e provisão de serviços ecossistêmicos essenciais, como a prevenção do
desaparecimento da biodiversidade, manutenção dos ciclos hídricos, entre outros, são
pontos essenciais dentro de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável.
Quando se introduz uma dimensão ética e política à discussão do
desenvolvimento, esse passa a ser tratado como um processo de mudança social, que
implica transformações nas relações econômicas e sociais. Assim, é importante
valorizar os processos de democratização do acesso aos recursos naturais, além das
instituições comunitárias para gestão desses, principalmente em contextos de conflito e
ameaça de sua perenidade, como é o caso das UC’s de Usos Sustentável. Nesse sentido,
buscou-se destacar algumas considerações sobre o potencial da gestão de base local, por
meio de arranjos comunitários e regras institucionalizadas como ferramentas para
conservação e gestão sustentável dos recursos naturais em contextos de UC’s de Uso
Sustentável.
Material e Métodos A presente discussão é parte da revisão bibliográfica da dissertação de mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Universidade
Federal de Viçosa em julho de 2017, intitulada “O gerais é de quem nele mora, não de
quem o explora”: a ação coletiva pela terra comum dos geraizeiros do Norte de Minas
Gerais. A mesma consiste na discussão teórica, elaborada com bases em artigos
científicos, capítulos de livros e livros e trabalhos apresentados em congressos, que
discutiram o potencial das populações locais, residentes em UC’s de Uso Sustentável,
em gerir e utilizar de forma sustentável os recursos naturais nesses territórios. Nesse
contexto, o mesmo apresenta uma compilação das principais considerações
desenvolvidas por autores que vêm pesquisando a respeito do tema ao longo dos anos.
Resultados e Discussão O conceito de gestão comunitária da base de recursos naturais (Commonity-Based
Natural Resources Management), que traz como ideia central a coexistência entre
pessoas e natureza, enfatiza que a análise de base local e contextualizada são necessárias
para construir uma melhor compreensão das condições socioinstitucionais, riscos e
interdependências que moldam as perspectivas de adaptação e gestão sustentável.
Portanto, assume que populações e organizações comunitárias estreitamente ligadas aos
recursos naturais são mais propensos a promover o uso sustentável dos mesmos e
possuem o conhecimento necessário para realiza-lo. Entretanto, essa abordagem não é
uma panaceia, e conflitos de interesses, dificuldades de regulação e gestão podem se
fazer presentes, como em qualquer outro contexto de uso comum (DELGADO-
SERRANO; ESCALANTE; BASURTO, 2015). Nesse sentido, as UC’s de Uso
Sustentável no Brasil, podem ser discutidas e enquadradas dentro dessa perspectiva
diante das características de seus beneficiários, que, no geral, realizam o uso tradicional
do território e recursos, do conhecimento local que essas apresentam e da existência da
necessidade de arranjos de gestão bem definidos (os quais podem ou não ser
democráticos, mas incluem a institucionalização de regras em algum nível). Essas
apresentam potencial para garantir a harmonia entre populações e conservação dos
recursos, de forma que sejam assegurados os rendimentos necessários para sua
sobrevivência por meio do uso sustentável.
29
Essa perspectiva de que as comunidades locais têm capacidade de gerir os
recursos comuns vai contra o cenário de “tragédia dos comuns”1, por muito tempo
atribuído às formas comunitárias de gestão. Nesse sentido, segundo Hall (2004), as
Reservas Extrativistas (Resex), e demais categorias de UC’s de Uso Sustentável, como
as Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS), podem ser enquadradas nesse
contexto. Esse argumento se justifica, pois, acredita-se que com a instituição dessas
áreas protegidas e o reconhecimento legal dos direitos coletivos das populações
tradicionais sobre os territórios, práticas produtivas degradantes, que eram utilizadas
como soluções a problemas de curto prazo, são desencorajadas (HALL, 2004).
A crescente apreensão com a destruição dos ecossistemas, além da preocupação
com a possibilidade de desaparecimento destes e de parte das culturas marcadas pela
relação com esses espaços e seus recursos, é um dos impulsionadores das ações em prol
da defesa e proteção desses territórios. As UC’s de Uso Sustentável (ou áreas
protegidas, ou espaços naturais protegidos), como as Resex e RDS, surgem nesse
contexto como alternativa de conciliar a conservação dos ecossistemas e os modos de
vida das populações tradicionais, uma forma de promover o desenvolvimento
sustentável nessas regiões. Porém, essas estratégias dependem, em partes, da capacidade
de mobilização e articulação dessas populações, aliada aos interesses do poder público.
Todavia, em termos de defesa e proteção territorial, a existência dessas categorias como
unidades oficiais de conservação, juntamente com um sistema de monitoramento de
base, foram avaliadas por Hall (2004) como eficazes.
Segundo Nogueira y Geer (2002), os espaços naturais protegidos (EPN’s)
desempenham papéis cada dia mais relevantes na conservação de recursos naturais e
serviços ecossistêmicos. Dentre as funções que os EPN’s cumprem nesse contexto,
como a conservação e uso público, o autor destaca outras, vinculadas à ordenação
territorial e à melhoria da qualidade de vida das populações que habitam esses
territórios. Diversos estudos sobre a efetividade das Unidades de Conservação, em
diversos países, apontam para o fato de que, uma vez decretadas, essas áreas já
começam a desempenhar papel importante na conservação da biodiversidade. Esses
estudos mostram que eventos de degradação como desmatamento, incêndios, caça e
outros, são muito mais frequentes em áreas externas às UC’s, que dentro de seus limites.
Isto posto, pode-se afirmar que as UC’s de Uso Sustentável estão entre os principais
mecanismos de proteção da biodiversidade a longo prazo, mesmo diante das
dificuldades para implementação e reconhecimento público desta forma de uso do
território. Essa constatação se dá pela possibilidade de abrigar atividades humanas
dentro dessas áreas, sendo essas responsáveis pela produção de benefícios econômicos e
ambientais, auxiliando, também, na fiscalização do uso e proteção dos territórios e
recursos (PINTO, 2014).
Sobre as populações residentes nesses territórios, Diegues e Arruda (2001),
destacam alguns aspectos relevantes sobre as mesmas, entre eles a existência de
sistemas de manejo dos recursos naturais, que têm como características principais o
respeito pelos ciclos da natureza e pela sua exploração, onde observam a capacidade de
recuperação das espécies animais e vegetais utilizadas. São sistemas que não têm por
objetivo exclusivo a exploração econômica dos recursos, mas que englobam um
conjunto de conhecimentos adquiridos pela tradição e carregados de cultura. Essas
características possibilitam uma capacidade de resiliência dessas comunidades, a qual
1 A ideia de “tragédia dos comuns”, popularizada por Hardin (1968), preconiza que os recursos comuns
estão sujeitos à degradação e ao desaparecimento, e que a solução para esse problema seria a privatização
ou a ação estatal.
30
pode ser levantada como instrumento que possibilita a criação de estratégias visando o
desenvolvimento rural sustentável nesses territórios.
Conclusões A partir das colocações apresentadas, destaca-se o fato das comunidades
tradicionais terem a capacidade de se articular para garantir seu direito sobre os recursos
naturais, utilizando-os de forma sustentável e adequada não só com suas necessidades,
mas garantindo também a manutenção de serviços ecossistêmicos para outras
populações. Nesse sentido, é importante valorizar as experiências e conhecimentos que
essas apresentam e criar formas de valorizar e incentivar as práticas sustentáveis de uso
e gestão.
Apresentam-se como indicativos para pesquisas futuras pesquisas quantitativas a
respeito das contribuições à manutenção dos serviços ecossistêmicos e conservação de
recursos como fauna e flora dentro de territórios como das UC’s de Uso Sustentável.
Literatura citada DELGADO-SERRANO, M. DEL M.; ESCALANTE, R.; BASURTO, S. Is the
community-based management of natural resources inherently linked to resilience? An
analysis of the Santiago Comaltepec community (Mexico). Revista de Estudios sobre
Despoblación y Desarrollo Rural, v. 18, n. 1, p. 91–114, 2015
DIEGUES, A. C.; ARRUDA, R. S. V. (EDS.). Saberes tradicionais e biodiversidade no
Brasil. 1. ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2001.
HALL, A. Extractive Reserves: Building Natural Assets in the Brazilian Amazon.
Working Paper Series - Politycal Economic Research Institute, v. 74, 2004.
LOPES, J. R. Common lands and Local Development in Northern Iberian Peninsula. In:
Anais Sustaining Commons: Sustaining Our Future, 13th Biennial Conference Of The
International Association for the Study of the Commons. Hyderabad, India: 2011.
NOGUEIRA Y GEER, E. C. DE. Espacios naturales protegidos y desarrollo duradero:
teoria y gestión. Madrid: Ministerio de Medio Ambiente, Lerko Print, S.A., 2002.
OLIVEIRA, L. V. N.; LIMA, J. F. DE. O processo de construção da política de nacional
de desenvolvimento regional no Brasil. Revista Portuguesa de Estudos Regionais, v. 31,
n. 2, p. 71-81, 2012.
PINTO, L. P. Status e os novos desafios das Unidades de Conservação na Amazônia e
Mata Atlântica. In: Manejo e Conservação de Áreas Protegidas. Viçosa, MG:
Laboratório de Incêndios Florestais e de Conservação da Natureza, 2014. p. 160.
31
Estudo para aproveitamento de resíduos de construção e demolição (RCD)
provenientes da UFJF em misturas asfálticas
Marcos Lamha1, Cássia Freitas
2, Geraldo Marques
3
1Estudante de graduação em Engenharia Civil – UFJF.
2 Estudante de graduação em Engenharia Civil – UFJF.
3Professor do Departamento de Transportes e Geotecnia - UFJF.
Resumo: Nos últimos anos, com o alto crescimento da urbanização o setor da
Construção Civil passou a gerar cada vez mais resíduos de construção e demolição
(RCD), atingindo níveis preocupantes. Nesse contexto, o trabalho fez uso de agregados
não convencionais, provindos de RCD em alternativa à agregados convencionais em
misturas asfálticas do tipo pré misturado a frio. Fez-se então a caracterização do
material provindo dos resíduos, aplicou-se o Método Marshall para definição do teor de
projeto, e por fim, ensaios mecânicos para analisar o desempenho das misturas. Como
resultado, obteve-se a boa indicação para a utilização do agregado reciclado em
revestimentos asfálticos em pavimentos de baixo tráfego e aplicações em tapa-buracos
para vias urbanas, uma vez que a caracterização dos agregados e os requisitos
mecânicos das misturas asfálticas (Módulo de Resiliência, Vida de Fadiga e Resistência
à tração por compressão diametral) apresentaram resultados satisfatórios em relação às
exigências das normas brasileiras, especialmente aquelas ditadas pelo DNIT
(Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes).
Palavras–chave: misturas asfálticas, pavimentação, pré misturado a frio, RCD,
reciclagem
Study for use of waste originating from the UFJF in asphalt mixture
Abstract: In the last years, with the high growth of the urbanization the sector of the
Civil Construction started to produce more and more residues of construction and
demolition (RCD), reaching worrying levels. In this context, the work did use of lodgers
you do not agree, when you came from RCD in alternative to the conventional lodgers
in asphaltic mixtures of the type daily pay mixed to coldness. The characterization of
the material was done then coming from the residues, Marshall devoted himself the
Method for definition of the tenor of project, and for end, mechanical tests to analyze
the performance of the mixtures. As result, the good indication was obtained for the use
of the lodger recycled in asphaltic revetments in road surfaces of low traffic and
applications in slap-hole for urbane roads, as soon as the characterization of the lodgers
and the mechanical requisites of the asphaltic mixtures (Module of Resiliência, Vida de
Fadiga and Resistance to the traction for diametrical compression) presented
satisfactory results regarding the demands of the Brazilian standards, especially those
dictated by the DNIT (National Department of Infraestrutura in Transports).
Keywords: asphaltic mix, pavement, waste
Introdução A construção civil é uma das mais importantes atividades para o desenvolvimento
social e econômico, sendo geradora de grande quantidade de subproduto. Segundo
32
Motta et al (2005), essa atividade é responsável por produzir mais de 50% de todo o
resíduo sólido urbano gerado, tornando-se assim uma das grandes responsáveis pelo
acúmulo de resíduos nas cidades. Acúmulo esse que traz problemas tanto de ordem
ambiental, quanto de ordem social e financeira (Quiñones, 2014).
Essa grande quantidade de resíduos acumulados traz à tona a necessidade de
alternativas de gerenciamento desse catalisador de efeitos ambientais. No atual contexto
de grande desenvolvimento mundial, o reuso desses tipos de materiais tornou-se grande
alvo de estudo, devido à importância não só no desenvolvimento sustentável, mas
também na melhoria da qualidade das obras (Lourenço e Cavalcante, 2015).
Portanto, diante da relevância da reutilização de resíduos de construção e
demolição no contexto brasileiro, especialmente em grandes centros, como Juiz de Fora,
faz-se necessário um estudo em relação aos agregados de RCD, para utilização tanto em
materiais de construção civil (como concreto), tanto em misturas asfálticas (uso em
pavimentos).
O uso desses agregados em revestimentos asfálticos por mistura, pode ser a
quente (CBUQ) ou a frio (PMF). A mistura asfáltica do tipo pré-misturado a frio, além
de poder ser empregada como camada de rolamento de pavimentos novos é ainda muito
utilizada em serviços de manutenção de estradas e vias urbanas (Santos, 2002).
O PMF é definido como sendo uma mistura executada à temperatura ambiente em
usina apropriada, composta de agregado mineral, material de enchimento (Filler) e
emulsão asfáltica, espalhada e comprimida a frio (DNER, 1997).
O presente trabalho teve como objetivo analisar a aplicabilidade dos resíduos de
construção e demolição (RCD) provindos de obras da Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF), como agregados alternativos em misturas asfálticas do tipo Pré-misturado
a frio (PMF) com emulsão catiônica convencional, de acordo com os padrões das
normas brasileiras, especialmente aqueles ditados pelo DNIT (Departamento Nacional
de Infraestrutura de Transportes).
Material e Métodos O agregado utilizado para essa pesquisa, o RCD, fornecido pela Pró-Reitoria de
Infraestrutura da Universidade Federal de Juiz de Fora, adveio das obras de demolição
do próprio campus. Para o estudo, os materiais foram divididos em três categorias,
designados da seguinte forma:
a) Brita 1.
b) Brita 0.
c) Pó de Pedra.
O ligante utilizado na presente pesquisa foi a Emulsão Asfáltica catiônica de
ruptura lenta, tipo: RL-1C (PMF denso), na qual atende a condição 5.1.1 da norma
DNIT 153-2010, com relação à emulsão.
A metodologia adotada nessa pesquisa iniciou-se com o estudo e os ensaios de
caracterização dos agregados de RCD. Com esses dados, fez-se o estudo da curva
granulométrica para duas faixas escolhidas. A primeira faixa utilizada foi a faixa C da
norma DNIT 153-2010 e a segunda foi a faixa XII do livro “Manual de Pré-Misturados
à frio” (quadro III.20, Santana, 1993).
A partir disso, utilizou-se a metodologia Marshall para definição do teor de projeto mais
adequado para cada faixa. Foram montados 15 corpos-de-prova de aproximadamente
1100g para cada teor experimentado.
33
Para cada conjunto de 3 corpos-de-prova foi feita uma mistura (Pré-misturadas à
frio) variando-se a porcentagem de emulsão (tipo RL-1C, emulsão catiônica de ruptura
lenta). Em seguida, fez-se os ensaios estabelecidos pela norma (DNIT 153-2010), afim
de se obter os parâmetros volumétricos de interesse para posterior definição dos teores
de projeto.
Por fim, adotou-se uma porcentagem de emulsão para cada faixa estudada e
montou-se 3 novos corpos-prova, de maneira a se identificar e principais características
mecânicas (Resistência a tração por compressão diametral, Módulo de Resiliência e
Estabilidade Marshall).
Resultados e Discussão Os ensaios para a caracterização dos agregados e suas respectivas normas estão
descritas na tabela 1, a seguir.
Tabela 1 – Caracterização dos agregados de RCD.
Ensaios Norma
Brita 1
Resultados
Brita 0
Pó de Pedra
Massa Específica NBR NM 53:2003 2,342 2,294 2,078
Massa Específica Aparente NBR NM 53:2003 2,649 2,646 2,434
Absorção (%) NBR NM 53:2003 4,954 5,811 7,026
Abrasão Los Angeles (%) DNER-ME 035/98 39,4 44,1 -
Índice de Forma DNER-ME 086/94 0,9 0,8 -
Análise Granulométrica DNER-ME 083/98 - - -
Os resultados para os agregados foram satisfatórios, uma vez que esses foram
comparados a outros trabalhos da literatura, que também usaram em suas pesquisas
resíduos de construção e demolição.
Aplicando-se o Método Marshall (DNER-ME 107/94) para encontrar os teores
ótimos, foram realizados ensaios de massa específica, estabilidade e fluência Marshall.
Analisando esses resultados e comparando com os valores que a norma DNIT 153/2010
exige, chegou-se a um teor de projeto de 9% em peso para a primeira faixa e 10% para a
segunda faixa.
Com os teores de projeto definidos, foram realizados ensaios mecânicos das
misturas asfálticas, afim de se analisar a aplicabilidade dos resíduos em pavimentação.
A tabela 2, resume os ensaios e os resultados das duas misturas
Tabela 2 – Ensaios mecânicos das misturas asfálticas.
Ensaios Norma Mistura 1 Mistura 2
Módulo de Resiliência DNIT-ME 134/2010 876 Mpa 832 Mpa
Resistência à tração DNER-ME 138/94 0,52 Mpa 0,30 Mpa
Estabilidade DNER-ME 107/94 379,6 kgf 251,3 kgf
Os resultados dos ensaios mecânicos se mostraram inferiores aos obtidos com uso
de RCD em misturas a quente e em misturas a frio com uso de agregados
convencionais, como já era de se esperar.
Conclusões Com os resultados obtidos, concluiu-se que os resíduos da construção e demolição
utilizados nessa pesquisa podem ser aplicados em misturas asfálticas do tipo PMF a fim
de serem alternativas em revestimentos de pavimento de baixo volume de tráfego.
34
Acredita-se que com o trabalho realizado, tenham-se obtido dados iniciais para
utilização em futuras pesquisas que reutilizarem resíduos de construção para o uso em
pavimentação. Espera-se assim uma maior viabilidade econômica, social e ambiental
deste tipo de resíduo gerado.
Literatura citada QUIÑONES, F. S. Aplicabilidade de resíduos reciclados da construção e demolição
como agregados em misturas asfálticas. Universidade do Brasília, 2014.
LOURENÇO, V. M. Q.; CAVALCANTE, E. H. Dosagem de Misturas asfálticas do tipo
CAUQ utilizando reciclados de resíduos de construção e demolição. 18 ENACOR, Foz
do Iguaçu, Rio de Janeiro, 2015.
SANTOS, Eder Carlos Guedes dos. Aplicação de resíduos de construção e demolição
reciclados (RCD-R) em estruturas de solo reforçado. 2007. Tese de Doutorado.
Universidade de São Paulo.
DNER-ME (1997) DNER-ES 317/97 – Pavimentos flexíveis – Pré-misturados a frio –
Especificação de Serviço.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM. DNER 317/97 –
ES: Pavimentação: pré-misturados a frio. Rio de Janeiro. 1997. 14 p.
SANTANA, Humberto. Manual de pré-misturados a frio. IBP, 1992.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA E TRANSPORTES –
DNIT. Pavimentação asfáltica – Pré-misturado a frio com emulsão catiônica
convencional. Especificação de serviço, 153/2010, Rio de Janeiro, 2010a. 11p.
DNER, M. E. 107/94 Mistura betuminosa a frio, com emulsão asfáltica – ensaio
Marshall. Rio de Janeiro, 1994.
35
Interceptor de areia e resíduos urbanos em bocas de lobo
Ana Carolina Neves Petes¹, Ana Vitória Moreira Martins¹, Angel dos Santos Craveiro¹,
Helves Vieira Gomes¹, Jamile Ribeiro¹ 1 Estudante de graduação em Engenharia Ambiental.
Resumo: Bocas de lobo são estruturas responsáveis pela captação das águas pluviais e
servidas. Não foram projetadas para reter resíduos que são carreados pela água nas vias
públicas, de modo que sofrem obstruções constantes causando alagamentos, além de
direcionar particulados como a areia para os corpos hídricos, causando assoreamento.
Este estudo visou à construção de um protótipo de interceptor de areia e outros resíduos
urbanos a ser instalado no interior da boca de lobo, dotado com uma câmara de retenção
de areia e demais resíduos com fundo e parte da saída recobertos com tela industrial de
feltro, substituível, e o restante da saída e parte superior da câmara construídos de grade
com malha de 2cm. Acima desta câmara há uma passagem de emergência a ser utilizada
automaticamente em caso de obstrução por excesso de resíduos. A parte superior da
câmara e da boca de lobo serão móveis, para retirada dos resíduos retidos. Os testes
realizados comprovaram a eficiência na retenção de areia e demais resíduos e a
facilidade de retirada dos mesmos. Com este sistema em operação objetiva-se a redução
dos alagamentos causados pela obstrução das bocas de lobo e do assoreamento dos
corpos receptores, causados pelos particulados carreados pelas águas captadas pelas
bocas de lobo.
Palavras–chave: Bocas de lobo, drenagem urbana, interceptor de areia, assoreamento.
Abstract: The wolf's mouth are structures responsible for the abstraction of the
rainwater and served. They are not designed to retain wastes that are carried by water on
public roads, so they suffer constant obstructions causing flooding, as well as directing
particulates such as sand to the water bodies, causing siltation. This study aimed at the
construction of a prototype of interceptor sand and other urban waste to be installed
inside the wolf's mouth, equipped with a sand retention chamber and other waste with
bottom and part of the outlet covered with industrial screen of replaceable felt, the
remainder of the outlet and upper chamber constructed of grid with 2cm mesh. Above
this chamber there is an emergency passageway to be used automatically in case of
obstruction due to excess waste. The upper part of the chamber and the wolf's mouth
will be movable, to remove the retained residues. The tests carried out proved the
efficiency in the retention of sand and other residues and the easiness of their removal.
With this system in operation, the aim is to reduce flooding caused by the obstruction of
the lobes and the silting of the receiving bodies, caused by the particulates carried by the
water collected by the wolf's mouth.
Keywords: Wolf’s mouths, urban drainage, sand interceptor, silting
Introdução As cidades que possuem grandes áreas impermeabilizadas enfrentam grandes de
problemas de alagamentos nos períodos chuvosos. Além da drenagem insuficiente,
soma-se ao problema a ocupação irregular do solo e a deficiência na limpeza urbana
(UFRRJ, 2016).
A cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, foi tomada como exemplo
para este estudo. Entre os anos de 2009 e 2014, a SLU – Superintendência de Limpeza
36
Urbana, responsável pela limpeza das vias públicas de Belo Horizonte, retirou em média
por ano 4.334,57 toneladas de resíduos das bocas de lobo (PORTALPBH, 2016).
A drenagem urbana faz parte do saneamento básico e é de extrema importância
para o desenvolvimento das cidades, pois reflete na saúde da população, preservação
dos recursos hídricos e redução nos gastos com tratamento de água para abastecimento
público (TRATABRASIL, 2013).
As obstruções das bocas de lobo ocasionadas por areia e resíduos sólidos
carreados pela água escoada nas vias públicas foi o desafio que orientou esta pesquisa.
O objetivo foi construir um protótipo de boca de lobo que interceptasse a areia e os
resíduos sólidos comuns em vias públicas, e que não sofresse obstrução por excesso de
resíduos, contribuindo para a redução de alagamentos e assoreamento dos corpos
receptores.
Material e Métodos O modelo obtido para a construção do protótipo de Interceptor de resíduos em
bocas de lobo foi concebido através de discussões e brainstorming nas reuniões do
grupo de trabalho. Baseou-se nos princípios básicos de filtragem e retenção de resíduos
por gradeamento (MORGADO, 2014).
O Interceptor será parte integrante da boca de lobo, instalado em seu interior,
dotado de uma câmara de retenção de areia e demais resíduos. Esta câmara terá a parte
inferior recoberta por tela de feltro industrial, para a retenção da areia, e a parte superior
fechada com grade de malha 2cm, para reter os demais resíduos. Acima da câmara
haverá a passagem de emergência para a água, em caso de obstrução da câmara de
retenção por excesso de resíduos.
A entrada de água da câmara de retenção será dotada de dissipadores de energia,
para impedir que a queda de água force a passagem pelo filtro e reduzindo a aspersão de
particulados para que estes não saiam pela grade. A parte superior desta câmara, bem
como a parte superior externa da boca de lobo devem ser móveis para facilitar a limpeza
do seu interior e substituição da tela de feltro em períodos programados. A limpeza da
câmara de retenção deverá ser feita preferencialmente por veículo dotado de sistema de
sucção para otimização o processo e impedir o contato de ferramentas com a tela de
feltro, para não causar avarias.
Resultados e Discussão As dimensões e forma do conjunto boca de lobo e Interceptor foram determinadas
conforme estudos das dimensões padrões das bocas de lobo atualmente fabricadas de
forma pré-moldada. No esboço do projeto, na figura a seguir, estão as dimensões e
forma proposta.
Figura 01 – Esboço do protótipo.
Fonte: Arquivo pessoal, 2016.
37
O protótipo construído contemplou apenas a parte interna do projeto, por ser a
parte interessante à pesquisa e experimentos, para a análise de sua eficiência quando
submetida a água em consórcio com areia e outros resíduos sólidos. Portanto a parte
externa, situada acima do nível do piso/via pública, não foi construída neste protótipo.
A Figura 02 representa o protótipo construído.
Figura 02 – Protótipo do Interceptor de Areia e Resíduos Urbanos.
Fonte: Arquivo pessoal, 2016.
Para a realização dos testes foi construída uma bancada, simulando uma sarjeta na
entrada do protótipo. No primeiro teste diluiu-se 20 litros de água e 3 quilos de areia
lavada industrial mista fina/grossa, o peso total da diluição foi de 17,7 quilos. Após a
passagem pelo interceptor, pesou-se novamente todo o material passante, totalizando
13,2 quilos. Considerando a água perdida no processo, estimada em 2 litros, a retenção
da areia foi maior que 90%.
Foram coletados dois litros deste material passante para secagem e mensuração do
particulado suspenso. Após secagem completa em estufa à 105 °C por 24 horas, o
material sólido foi levado ao laboratório de materiais do Centro Universitário de Belo
Horizonte – UniBH, campus Estoril, para mensurar a granulometria. Utilizou-se a
peneira de número 200, que não reteve o material particulado, passando por ela mais de
90%, indicando a granulometria menor que 75 µm.
No segundo teste utilizou-se aproximadamente 100 litros de água de lavagem de
roupas e diversos resíduos comumente encontrados em vias públicas. Ao passarem pelo
Interceptor, 100% do resíduo ficou retido.
Conclusões O protótipo do Interceptor de areia e resíduos urbanos apresentou grande
eficiência na retenção de resíduos, em especial na retenção de areia. O impacto do
material passante pelo filtro será mínimo nas redes coletoras pluviais e em especial nos
corpos hídricos receptores, pois não apresentará um assoreamento significativo, por ter
baixo volume e baixa granulometria, sendo facilmente diluído.
Conforme testes realizados, o volume de areia passante pelo filtro é baixo, a cada
1000 litros de água que escoa pelo Interceptor, apenas 1,75 quilos de areia não é retido.
Ainda são necessários testes para se conhecer a saturação por areia da tela de
feltro industrial, para determinar os períodos de substituição e limpeza, conforme os
locais de instalação.
38
Este Interceptor de areia e resíduos urbanos contribuirá para a saúde das cidades,
reduzindo os transtornos hidráulicos causados pela intensa impermeabilização, bem
como a redução dos alagamentos por obstrução das bocas de lobo.
Literatura citada MORGADO, Marcelo. Estudo – Caracterização da composição de resíduos removidos
em gradeamento de ETEs. 2014. Disponível em: Http://
www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=1&ved=0a
hUKEwjx4OW9iabQAhUHgpAKHW70C54QFggiMAA&url=http%3A%2F%2F
www.abes-
sp.org.br%2Farquivos%2Frevistahydro_complixo_eteabc_mar14.pdf&usg=AFQjCNEi
SOELY0Sn1ZKF_m7xe8Jz74uQEg&bvm=bv.138493631,d.Y2I (acessado em 13 de
Novembro de 2016).
PORTALPBH – Prefeitura de Belo Horizonte. Prefeitura de Belo Horizonte realiza
ações preventivas contra enchentes durante o ano inteiro. 2016. Disponível em:
Http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/noticia.do?evento=portlet&pAc=not&idConteudo=
176958&pIdIPIc=&app=salanoticias (acessado em 27 de Agosto de 2016).
TRATABRASIL – Instituto Trata Brasil. Saneamento – o que é saneamento. 2013.
Disponível em: Http://www.tratabrasil.org.br/o-que-e-saneamento (acessado em 27 de
Agosto de 2016).
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Mapa mental dos problemas
das enchentes urbanas. Disponível em:
Http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/mma10.htm (acessado em 27 de Agosto de
2016).
39
Leitura Ambiental: A relação de escolas públicas com a coleta seletiva em
Governador Valadares-MG1
Antônio Carlos de Oliveira Martins Júnior2, Fernando Alves Fernandes
3, Giovanni
Tavares Neves4, Isabela Neto da Silva Paes
5, Maria Celeste Reis Fernandes de
Souza6, Thiago Martins Santos
7.
1Atividade do projeto de extensão Rede Solidária Natureza Viva. 2Graduando em Engenharia Civil e Ambiental-Universidade Vale do Rio Doce. 3Mestrando em Gestão Integrada do Território-Universidade Vale do Rio Doce. 4Graduando em Engenharia Civil e Ambiental-Universidade Vale do Rio Doce. 5Graduanda em Engenharia Civil e Ambiental-Universidade Vale do Rio Doce. 6Professora Phd do Mestrado em Gestão Integrada do Território-Universidade Vale do Rio Doce. 7Professor Msc. da Universidade Vale do Rio Doce.
Resumo: Este trabalho é produto do projeto “Rede Solidária Natureza Viva” realizado
na cidade de Governador Valadares-MG, no qual realizou-se uma Leitura Ambiental em
nove escolas públicas ribeirinhas para caracterizar a sua relação com a coleta seletiva
em uma perspectiva de Educação Ambiental. Foi aplicado um questionário com
questões abordando a identificação e composição das escolas, sua estrutura e práticas de
gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo os principais desafios e projetos
ambientais. As escolas recebem uma média de 740 estudantes cada, sendo que a maioria
residente no seu entorno. Três instituições já possuem lixeiras para coleta seletiva e oito
destinam o resíduo orgânico para alimentação de porcos. Conscientização e vandalismo
constituem os maiores desafios das escolas relacionados com a coleta seletiva. As
peculiaridades de cada escola e a rotatividade de funcionários limitam a educação
ambiental dificultando o processo de conscientização e a efetividade da coleta seletiva
no município.
Palavras–chave: associação de catadores de materiais recicláveis, conscientização,
educação ambiental, escolas públicas, gerenciamento de resíduos sólidos
Environmental Reading: The relation of public schools to the selective collection in
Governador Valadares-MG 1
Abstract: This study is product of the project “Rede Solidária Natureza Viva” (Living
Nature Solidarity Network), developed in Governador Valadares-MG city, in which an
Environmental Reading was carried out in nine riverside public schools to characterize
its relation to the selective collection under an Environmental Education perspective. A
questionnaire was applied with questions approaching the schools’ identification and
composition, its structure and its practices on solid waste management, including the
main challenges and environmental projects. The schools receive an average of 740
students each, most of whom reside in their surroundings. Three institutions already
have trash cans for selective collection and eight send their organic waste to pig feeding.
Awareness raising and the vandalism are the major challenges of the schools related to
selective collection. The peculiarities of each school and the employee rotation limit the Environmental Education, hindering the awareness raising process and the selective
collection effectiveness in the town.
Keywords: recyclable materials pickers association, awareness raising, environmental
education, public schools, solid waste management.
40
Introdução Este trabalho é fruto do projeto “Rede Solidária Natureza Viva”, realizado pela
Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) em parceria com a Associação de
Catadoras e Catadores de Materiais Recicláveis Natureza Viva (ASCANAVI). Essa
tornou-se responsável, desde o início de 2017, pela coleta, triagem e comercialização de
materiais recicláveis no município de Governador Valadares-MG.
A cidade, situada na Região Leste de Minas Gerais, tem uma população estimada
em 280.901 habitantes (IBGE, 2017) e produz 170 toneladas de resíduos sólidos por dia
(PMSB, 2015), sendo 126 ton/mês recolhidos pela ASCANAVI.
A partir deste contexto, o projeto visa à ampliação e melhoria do trabalho da
Associação, o desencadeamento de ações educativas que promovam a redução do
consumo e a implantação da coleta seletiva sustentável em escolas da cidade. Neste
sentido, considerando que cada escola possui características e contextos peculiares, é
indispensável a elaboração de um plano que contemple as necessidades individuais de
cada instituição (REIGOTA, 2009).
Portanto, como procedimento preliminar para a implementação do projeto citado,
este estudo apresenta uma Leitura Ambiental realizada para caracterizar a relação que
escolas públicas ribeirinhas do município têm com a coleta seletiva, sob uma
perspectiva de Educação Ambiental.
Material e Métodos O trabalho foi realizado no mês de agosto deste ano em nove escolas públicas,
sendo quatro municipais e cinco estaduais. As escolas estão situadas às margens do rio
Doce abrangendo toda extensão territorial da cidade.
Em cada escola foi aplicado um questionário elaborado pelos autores constituído
por questões voltadas para a identificação e composição das escolas, sua estrutura e
práticas relacionadas com o gerenciamento de resíduos sólidos. Neste último aspecto
além de uma estimativa da quantidade de geração de resíduos, foi levantada a definição
da coleta seletiva pelo gestor da instituição, a descrição dos desafios ambientais
vivenciados pela escola e o contato da instituição com a ASCANAVI.
Foram calculados valores médios do número de estudantes, geração de resíduos, a
quantidade de lixeiras e projetos ambientais existentes nas escolas envolvidas.
Resultados e Discussão As escolas participantes do projeto “Rede Solidária Natureza Viva” possuem uma
média de 740 estudantes, cuja maioria reside no entorno das instituições, o que de certo
modo favorece atividades de educação ambiental voltadas para a comunidade. Contudo,
apenas uma escola que está situada na região central da cidade, recebe estudantes de
outros bairros.
Existem escolas com grandes espaços que, por este motivo, requerem maior mão-
de-obra para manutenção, mas também há instituições que ocupam menor área, onde a
organização e a qualidade dos serviços para coleta seletiva se tornam mais viáveis.
Cada escola gera cerca de 5,5 sacos (100 L) de resíduos por dia, sendo que oito
destinam os resíduos orgânicos à terceiros para alimentação de porcos em regiões rurais.
É importante ressaltar que os auxiliares de serviços gerais das escolas foram
identificados também como atores fundamentais para a efetividade do processo de
coleta seletiva nas instituições, contribuindo bastante com a conscientização dos
estudantes por meio de ações que exemplificam o devido tratamento dos resíduos e o
cuidado com o meio ambiente.
41
Foram encontradas lixeiras para coleta seletiva em três escolas (Figura 1), porém
nenhuma faz o uso correto dos coletores. E em quatro instituições estão sendo
desenvolvidos projetos a respeito da coleta seletiva.
Figura 1 – Lixeiras destinadas à coleta seletiva em uma das escolas do estudo.
Apenas duas escolas relataram ter tido contato com a ASCANAVI através da
realização de palestras para os docentes e discentes.
De modo geral, os gestores das escolas definiram a coleta seletiva utilizando
termos como “separação do lixo úmido do seco e sua destinação adequada”, ações de
“reciclagem e reutilização de resíduos que podem também gerar renda”. Outros ainda
relataram que a coleta seletiva pode “contribuir para o bem-estar da sociedade com a
redução da quantidade de lixo”, pensando assim no “futuro da humanidade”.
Os principais desafios ambientais apresentados pelas escolas consistem na
conscientização dos estudantes acerca da geração de resíduos e coleta seletiva (existe
bastante descarte nas salas e após o intervalo); vandalismo, necessitando de maior
cuidado dos estudantes com a escola e o meio ambiente; existência de terrenos baldios
dentro da escola, implicando no surgimento de animais peçonhentos trazendo problemas
para a segurança e saúde dos estudantes e funcionários; ocorrência de queimadas no
entorno da escola; e em algumas escolas a ausência de refeitório e quadra, o que limita
atividades que podem ser voltadas para a coleta seletiva. Por se tratar de escolas
ribeirinhas, muitas sofrem com enchentes em períodos de cheia, causando transtornos
no interior da escola. O plantio de árvores para sombreamento interno, relatado por uma
das escolas entrevistadas, que pode ser considerado mais que um desafio, torna-se uma
necessidade para a escola, visto que o município possui temperaturas elevadas na maior
parte do ano.
Finalmente, os projetos ambientais atualmente existentes nas escolas envolvem o
plantio de hortas e jardins, realização de gincanas sustentáveis, visitas técnicas,
42
incluindo à orla do rio Doce, recolhimento de lacres de latas de alumínio e palestras
com autoridades e entes ambientais públicos.
Conclusões As nove escolas públicas possuem características peculiares em relação à forma
de perceber e lidar com o meio ambiente e a coleta seletiva. Nota-se que a constante
rotatividade de funcionários é um entrave para uma educação ambiental de qualidade,
visto que é uma formação progressiva e requer continuidade das diversas gestões. Outro
fator limitante é que escolas recebem verbas insuficientes para implantação de projetos
voltados ao meio ambiente e tornam-se dependentes de programas vindos de fora, como
exemplo o projeto “Rede Solidária Natureza Viva”. Na Leitura Ambiental ficou
evidente que algumas escolas estão adiantadas no tocante ao trabalho realizado com a
coleta seletiva, refletindo assim na percepção ambiental dos estudantes e funcionários.
Para a melhora da situação ambiental nas escolas, é imprescindível um elo entre
gestores escolares, auxiliares de limpeza, estudantes, ASCANAVI e poder público.
Agradecimentos Agradecemos ao Instituto MRV pela contemplação do projeto Rede Solidária
Natureza Viva, assim como a parceria de longa data entre a Universidade Vale do Rio
Doce (Univale) e Associação de Catadoras e Catadores de Materiais Recicláveis
Natureza Viva (ASCANAVI). À Superintendência Regional de Educação (SRE) e
Secretaria Municipal de Educação (SMED) pelo apoio no contato com as nove escolas e
a atenção que foi dada aos bolsistas nas visitas durante a Leitura Ambiental.
Literatura citada
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍTICA. Informações
completas sobre o município de Governador Valadares (MG). IBGE. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/governador-valadares/panorama>. Acesso em: 18
set. 2017.
PMSB – PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO. Diagnóstico da
Situação da Prestação dos Serviços de Saneamento Básico Limpeza Urbana e Manejo
dos Resíduos Sólidos. Prefeitura Municipal de Governador Valadares, 2015. Disponível
em: <http://www.valadares.mg.gov.br/abrir_arquivo.aspx/Diagnostico_residuos_solidos
?cdLocal=2&arquivo=%7B2EC2EBB6-152A-A3DD-CA01-
D75BB71C3B4E%7D.pdf>. Acesso em: 17 set. 2017.
REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. 2 ed. Revista e ampliada. São Paulo:
Brasiliense, 2009.
43
O setor lácteo e o ambiente produtivo na Zona da Mata de Minas Gerais, com base
no Censo Agropecuário e SIG
Marcos Cicarini Hott1, Ricardo Guimarães Andrade
1, Walter Coelho Pereira Magalhães
Junior2, João Cesar de Resende
1, Glauco Rodrigues Carvalho
1, Denis Teixeira da
Rocha2
1Pesquisador da Embrapa Gado de Leite.
2Analista da Embrapa Gado de Leite.
Resumo: A mesorregião da Zona da Mata detém um importante papel na produção
leiteira do estado de Minas Gerais, totalizando 10% da produção mineira, a qual é de 9
bilhões de litros, 27% da produção nacional, ambos compondo importantes bacias
leiteiras tradicionais. O objetivo deste trabalho foi reunir dados do Censo Agropecuário
e avaliar trajetórias da produção de leite, rebanho e fazendas do setor, como forma de
avaliar o ambiente produtivo, regionalizando essas variáveis por meio de mapas
elaborados a partir de códigos-chave no SIG no âmbito do Centro de Inteligência do
Leite. Observou-se um vertiginoso aumento na produção de leite, principalmente na
microrregião de Ponte Nova, considerando o período de 1974 a 2014. Isto
provavelmente ocorreu devido a adoção de melhores práticas de manejo e
conservacionistas no período entre 1990 e 2014. Apesar da importante variação
observada nas últimas duas décadas na microrregião de Juiz de Fora, nesta o incremento
da produção foi menor que nas demais.
Palavras–chave: censo agropecuário, geoprocessamento, produção de leite
The dairy sector and the productive environment in the Zona da Mata region,
Minas Gerais State, based on the GIS and Agricultural Census
Abstract: The Zona da Mata region has an important role in milk production in the
State of Minas Gerais, accounting 10% of the production in this State, which is 9 billion
liters, 27% of the national production, both composing important traditional milk
regions. The objective of this work was to gather the data of the Agricultural Census
and evaluate the trajectories of milk production, herds and farms of the sector as way of
evaluate productive environment, regionalizing these variables through maps elaborated
from key codes into GIS, within the scope of the Intelligence Center of the Milk. It was
observed a vertiginous increase in the milk production, mainly in the Ponte Nova micro-
region, considering the period from 1974 to 2014. This was probably due to the
adoption of better conservation and management practices between 1990 and 2014. In
inspite of the important variation observed in the last two decades in the Juiz de Fora
micro-region the increase of the production was lower than in the others.
Keywords: agricultural census, geoprocessing, milk production
Introdução A mesorregião da Zona da Mata desempenha um importante papel na produção
leiteira do estado de Minas Gerais, sendo esta a principal atividade econômica da
região, devido à sua tradição na pecuária. A Zona da Mata totaliza 10% da produção
mineira, a qual é de 9 bilhões de litros para o Estado (IBGE, 2014a), 27% da produção
nacional, ambos compondo importantes bacias leiteiras tradicionais, para as quais houve
um grande salto na produção do Estado, que, em 1974, ano em que começou o
44
levantamento, totalizava aproximadamente 10 bilhões de litros. Com a pecuária
extensiva, a maioria das propriedades da região utilizam forrageiras bastante
tradicionais (CÓSER et al., 1996; CARVALHO et al., 2003). A região é caracterizada
por áreas de relevo movimentado, com solos de baixa fertilidade e elevada acidez, o que
demanda a adoção de manejo e tecnologias adequadas. Rada e Valdes (2012) avaliaram
dados censitários e programas de incentivos adotados no Brasil, concluindo que a
pesquisa agropecuária e os avanços tecnológicos tornaram as propriedades rurais mais
eficientes. Em conjunto com dados censitários, objetiva-se a produção de informações
por meio de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) com vistas a apoiar a tomada
de decisão por meio da espacialização dos dados, no contexto do Centro de Inteligência
do Leite (CILeite).
Material e Métodos A mesorregião da Zona da Mata de Minas Gerais (Figura 1) foi analisada em
relação às variáveis relacionadas ao leite, observando-se os ganhos obtidos desde 1974
em termos gerais, quando os registros se iniciaram. Nas últimas décadas o IBGE
passou-se a registrar a quantidade de estabelecimentos rurais no país, além de promover
uma alteração na metodologia para coleta e análise dos dados sobre a produção de leite
e vacas ordenhadas, a partir de 1996. Assim, enfatizou-se a observação das trajetórias a
partir de 1990, extraídas do Censo Agropecuário do IBGE.
Figura 1 - Localização da área de estudo.
Resultados e Discussão Na Figura 2 visualiza-se três grupos de microrregiões que expressam o ambiente
produtivo, sendo o primeiro formado pelas microrregiões Juiz de Fora, Cataguases e
Muriaé, com maior nível de produção leiteira. Entretanto, a partir de 2004, a
microrregião de Juiz de Fora se distancia bastante dos integrantes deste grupo. O
segundo grupo pode ser considerado como o formado pelas microrregiões de Ponte
Nova e Ubá, as quais mantêm produção, praticamente, equivalentes e em nível
intermediário. As microrregiões de Viçosa e Manhuaçu destoam das outras em razão do
baixo crescimento na produção, apesar de pertencerem a importantes bacias leiteiras em
suas regiões. Também nos gráficos da Figura 2 observa-se uma tímida variação no
rebanho nas microrregiões. Entretanto, a microrregião de Juiz de Fora se mantém em
um patamar bem superior em termos de vacas ordenhadas, superando entre 30.000 e
70.000 cabeças as outras microrregiões ao longo da série do censo agropecuário. A
despeito das alterações na metodologia adotada na coleta de dados ao longo dos 40 anos
de trabalho censitário, é oportuna a visualização da movimentação da produção no
45
decorrer desse prazo, conforme a Tabela 1. Além disso, observa-se a baixa concentração
na Zona da Mata com relação a distribuição da produção em Minas Gerais diante de
outras bacias leiteiras, como a do Triângulo Mineiro, mesmo com uma importante
tradição leiteira (Figura 3). Tendo uma variação gráfica quase constante na produção de
leite nas duas últimas décadas, a microrregião de Ponte Nova apresentou a maior
variação na produção de leite, com apenas a microrregião Juiz de Fora denotando uma
variação menor nesse período, entre os grandes produtores da região. Mesmo que
negativa, a variação do número de estabelecimentos para todas as microrregiões, a baixa
variação nas microrregiões de Ponte Nova, Viçosa e Juiz de Fora coadunam com a
industrialização do leite, captação e processamento ocorrido nessas microrregiões. As
microrregiões de Ubá, Muriaé e Cataguases também concentram grande parte da
captação e processamento, por meio de pequenas propriedades, muitas delas familiares.
No caso da Microrregião de Manhuaçu, as propriedades são em sua maioria pequenas, e
se dedicam em grande parte à cafeicultura.
Tabela 1 - Variação na produção de leite e na quantidade de estabelecimentos
(fazendas).
Produção de Leite (litros) Número de Fazendas
Microrregiões 1974 2014
Variação
(%) 1996 2006
Variação
(%)
Ponte Nova 27.079.000 102.089.000 277 4.271 3.938 -7.8
Cataguases 36.233.000 126.475.000 249 3.768 2.890 -23.3
Ubá 30.147.000 103.827.000 244 4.785 3.908 -18.3
Muriaé 38.728.000 128.494.000 232 5.004 3.974 -20.6
Viçosa 18.578.000 55.707.000 200 5.752 5.142 -10.6
Juiz de Fora 103.450.000 217.441.000 110 5.881 5.166 -12.2
Manhuaçu 24.584.000 44.277.000 80 4.295 3.117 -27.4
Total 278.799.000 778.310.000 179 33.756 28.135 -16.6
Fonte: IBGE, 2014a; IBGE, 2006.
Figura 2 - Produção de leite (A) e vacas ordenhadas (B) nas microrregiões. Fonte:
IBGE, 2014a; IBGE, 2014b.
46
Figura 3 - Produção de leite em 2014. Fonte: IBGE, 2014a.
Conclusões Houve um expressivo aumento na produção leiteira entre 1974 e 1990. O SIG
propiciou o arranjo de tabelas e espacialização dos dados do censo, fornecendo uma
visão territorial, fundamental para a compreensão das trajetórias da produção de leite na
região. As microrregiões de Juiz de Fora e Cataguases apresentaram um maior volume de leite produzido no decorrer da série, apresentando, contudo, uma tendência de recuo
nos últimos quatro anos.
Literatura citada CARVALHO, L. A.; NOVAES, L. P.; GOMES, A. T.; MIRANDA, J. E. C.; RIBEIRO,
A. C. C. L. Sistema de Produção de Leite (Zona da Mata Atlântica). EmbrapaGado
de Leite, 2003. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Leite/LeiteZonadaMataAtl
antica/index.htm>. Acesso em: 17. Nov. 2015.
CÓSER, A. C.; CRUZ FILHO, A. B.; MARTINS, C. E.; CARVALHO, L. A.; ALVIM,
M. J.; FREITAS, V. P. Desempenho animal em pastagens de capim-gordura e
braquiária. Pasturas tropicales, v. 19, p. 14-19, 1996.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sidra – Sistema IBGE de
Recuperação automática, Tabela 1421 – Área dos estabelecimentos, por utilização das
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<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&o=1&i=P&e=l&c=1421>.
Acesso em jun. 2015.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sidra – Sistema IBGE de
Recuperação automática, Tabela 74 – Leite, 2014a. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&c=74>. Acesso em jun. 2015.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sidra – Sistema IBGE de
Recuperação automática, Tabela 94 – Vacas ordenhadas, 2014b. Disponível em:
<http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&c=94>. Acesso em jun. 2015.
RADA, N.; VALDES, C. Policy, Technology, and Efficiency of Brazilian
Agriculture, ERR-137, U.S. Department of Agriculture, Economic Research Service,
2012.
47
Qualidade de solos sob diferentes sistemas de uso e manejo agrícola na região
central de Minas Gerais1
Catarina Dias de Freitas2, Diego Antônio França de Freitas
3, Letícia Lopes de Andrade
4,
Wander Araújo Martins4
1 Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor, financiada pela Fapemig
2 Mestranda do Programa de Manejo e Conservação de Ecossistemas Naturais e Agrários.
3 Professor da Universidade Federal de Viçosa - Campus Florestal.
4 Estudante de graduação em agronomia.
Resumo: As atividades agropecuárias causam impactos diferenciados no solo, os quais
estão relacionados ao manejo e uso praticado, ocasionando alterações em seus atributos,
refletindo em uma redução da qualidade. O objetivo deste estudo é avaliar de forma
integrada os atributos indicadores de qualidade do solo em diferentes sistemas de uso e
manejo, dos quais foram selecionados: silvicultura, mata nativa, sorgo/milho, pasto
degradado e não degradado. Avaliou-se a densidade, teor de matéria orgânica, estoque
de carbono e estabilidade de agregados. Além de dois métodos de avaliação visual. Os
resultados indicaram a redução na qualidade do solo nas áreas de sorgo/milho e pasto
degradado. As áreas de silvicultura e pasto conservado obtiveram altos níveis de matéria
orgânica e estoque de carbono devido a sua cobertura vegetal, refletindo em uma maior
estabilidade de agregados. Conclui-se que cobertura vegetal é importante na
conservação do solo.
Palavras–chave: Atributos físicos, atributos químicos, avaliação visual do solo, conservação
ambiental, estoque de carbono
Soil quality under different systems of agricultural use and management in the
central region of Minas Gerais1
Abstract: The management and practiced use of soil by agricultural activities may be
related to differents impacts causing alterations on his attributes, reflecting in a loss of
quality and productivity. The objective of this research is to evaluate, in an integrated
way, the attributes, which may be used as indicators of soil quality. Were evaluated the
soil density, organic matter content, carbon stock, soil resistance to penetration and
stability of aggregates, in addition to two methods of visual evaluation. These are
applied for avaliation of five different systems of use and management: silviculture,
native forest, sorghum, preserved pasture and degraded pasture. The results indicate that
the areas of sorghum and degraded pasture presented high loss in the soil quality. The
areas of silviculture and conserved pasture obtained high levels of organic matter and
carbon stock because of yours good vegetation cover, it reflect in the higher aggregates
stability. Concludes that vegetation cover is important in soil conservation.
Keywords: carbon stock, chemical attributes, environmental conservation, physical
attributes, visual evaluation of soil
Introdução A produção agrícola vem se intensificando a cada ano, e nesse contexto o Brasil é
uma das principais potências agrícolas. Contudo o aumento da produção traz consigo
consequências ambientais. As atividades agropecuárias causam impactos diferenciados
no solo, os quais estão relacionados ao manejo e uso praticado, ocasionando alterações
em seus atributos, refletindo em uma redução da qualidade.
48
Neste contexto, esta pesquisa irá trabalhar na perspectiva de uma confirmação que
poderá haver diferenças nos atributos do solo, irá diagnosticar o grau de degradação das
cinco áreas coletadas em uma mesma região e clima semelhante, porém com históricos
e atividades distintas, para serem comparadas com uma área de mata nativa.
Material e Métodos Os experimentos foram conduzidos nas instalações da Universidade Federal de
Viçosa Campus Florestal, região central de Minas Gerais. Os tratamentos utilizados
constituíram-se de cinco áreas, sendo elas: Silvicultura (SL), Área de pasto degrado
(PD); Área de pasto não degradado (PND); Área com plantio de sorgo e milho (SM);
Área de mata nativa (MN). Foram coletadas amostras deformadas e indeformadas nas
profundidades de 0-10, 10-20 e 20-40cm, com três repetições em locais adjacentes, e
para as avaliações visuais além das três repetições houve três avaliadores.
A análise da densidade do solo (Ds) foi realizada através do método do anel
volumétrico, com o uso do trado Uhland. A Umidade Volumétrica do solo (Uv) foi
calculada a partir da diferença entre peso após a secagem. A estabilidade de agregados
foi determinada pela metodologia do tamisamento úmido. O estado de agregação das
amostras de solo é avaliado pelo índice de diâmetro médio ponderado (DMP), diâmetro
médio geométrico (DMG) e o Índice de Estabilidade dos Agregados (IEA) (Castro
Filho et al., 1998). O método de determinação da matéria orgânica do solo (MOS) e
determinação do estoque de carbono baseou-se na equação descrita pela Embrapa
(1997). Avaliação Visual da Estrutura do Solo (AVES) e a Avaliação Visual do Solo
(AVS) foram realizadas segundo o método descrito pela Embrapa (2015).
O experimento foi conduzido através do delineamento experimental inteiramente
casualizados (DIC). Os resultados foram submetidos ao teste Scott & Knott com nível
de confiança a 95% (α=0,05), pelo Software R e pacote ExpDes. As áreas foram
agrupadas em um dendograma de dissimilaridade através de uma análise multivariada
dos valores médios obtidos pelos parâmetros físicos, químicos e visuais pelo método
Ward com distância euclidiana, pelo software estatístico XLSTAT versão 2017.3
Resultados e Discussão
As médias obtidas nos métodos de avaliação visual AVES e AVS (Tabela 1)
comparadas pelo teste Scott-Knott (α=0,05) não apresentaram diferença estatística entre
as profundidades apenas entre os sistemas de uso e manejo. Logo os sistemas que
apresentam uma qualidade do solo moderada seriam as áreas de sorgo/milho,
representada pelo sistema de cultivo convencional de maneira contínua, e a pastagem
degradada, indicando que a área ainda se encontra em estado de recuperação das
atividades anteriores. Os demais sistemas apresentaram pontuações indicativas de boa
qualidade do solo.
As análises laboratoriais dos parâmetros do teor de matéria orgânica, estoque de
carbono e atributos físicos (Tabela 1) confirmaram os resultados das análises visuais, a
área de sorgo/milho apresentou o menor valor de estabilidade de agregados, tornando o
solo mais susceptível à erosão, logo os diâmetros dos agregados foram menores. O teor
de matéria orgânica atua como elemento estabilizador da estrutura, promovendo a
formação de agregados maiores e mais estáveis (Júnior, Corá & Lal, 2016).
Tabela 1 - Médias obtidas dos parâmetros físicos, químicos e visuais do solo nos diferentes tipos de
sistema de manejo. Áreas Ds
(a)
g.cm-3
Ug(b)
g.g-1
DMP (c)
mm DMG
(d)
mm MOS
(e)
g.Kg-1
Est C(f)
Mg.ha-1
IEA(g)
% AVES
(h)
% AVS
(i)
% 0-10cm
SL (j) 1,13aA 6,66aA 4,36aA 3,56aB 68,4aA 40,02aA 85,29aA 2,11aC 42,20aB
49
PD (k) 1,39aA 2,66bB 5,64aA 5,49aA 23,7aB 18,81aB 97,51aA 2,88 aB 31,92aC
PND (l) 1,50aA 8,66aA 5,71aA 5,65aA 50,9aA 44,62aA 99,24aA 1,77aC 33,41aC
SM (m) 1,45aA 1,66bB 2,64aB 1,36aC 23,5aB 19,68aB 17,6bB 3,44aA 25,23aD
MN (n) 1,32aA 8,66aA 5,72aA 5,67aA 32,4aB 24,99aB 98,34aA 1,00aD 45,64aA
10-20cm SL
(j) 1,12aB 3,00aB 4,53aA 3,86aA 32,0bA 21,04bB 90,92aA 2,00 aC 41,5 aB PD
(k) 1,45aA 5,6 bB 5,43aA 5,09aA 20,5aA 17,48aB 96,29aA 2,55aB 29,48aC PND
(l) 1,45aA 1,66aA 5,54aA 5,32aA 38,2aA 31,99bA 98,30aA 2,00aC 32,28aC SM
(m) 1,58aA 7,66aA 3,77aA 2,61aA 23,6aA 21,59aB 53,96aB 3,44aA 25,76aD MN
(n) 1,66aA 8,66aA 4,69aA 3,88aA 29,3aA 27,81aA 88,79aA 1,00aD 45,4aA 20-40cm
SL (j) 1,06aB 4,00aB 4,91aA 4,31aA 28,4bA 17,45bA 95,38aA 2,11aC 41,74aA
PD (k) 1,60aA 8,66aA 4,74aA 4,07aA 15,1aA 14,03aA 91,69aA 2,55aB 29,08aB
PND (l) 1,35aA 12,00aA 5,71aA 5,64aA 33,7aA 26,27bA 99,21aA 2,00aC 31,45aB
SM (m) 1,46aA 10,66aA 4,04aA 3,04aA 22,6aA 19,05aA 71,71aA 3,33aA 25,08aC
MN (n) 1,57aA 8,00aA 4,89aA 4,37aA 22,1aA 19,83aA 90,20aA 1,22aD 42,35aA
(a)Densidade do Solo;
(b)Umidade Gravimétrica;
(c)Diâmetro médio ponderado;
(d)Diâmetro médio
geométrico; (e)
Matéria Orgânica; (f)
Estoque de Carbono; (g)
Índice de Estabilidade dos Agregados;
(h)Avaliação visual da estrutura do solo;
(i)Avaliação visual do solo;
(j)Silvicultura;
(k)Pasto degradado;
(l)Sorgo/Milho;
(m)Pasto não degradado;
(n)Mata nativa; Médias seguidas de mesmas letras não diferem
entre si pelo teste de Scott-Knott (α=0,05), A letra minúscula representa uma mesma área sobre
profundidades diferentes e a letra maiúscula compara as áreas em uma faixa de profundidade específica.
Portanto a estabilidade de agregados foi maior nas áreas de silvicultura, pasto
conservado, justamente aquelas com maiores teores de matéria orgânica e estoque de
carbono na camada de 0 a 10cm. Essas áreas possuíam uma maior biomassa reduzindo o
impacto da chuva sobre o solo e seu escoamento superficial, evitando a lixiviação da
matéria orgânica e favorecendo a estabilidade de agregados (Almeida et al., 2016).
Enquanto os menores teores foram encontrados no sorgo/milho e no pasto degradado,
ambas apresentando falhas na vegetação, logo não havia cobertura vegetal suficiente
para proteger o solo dos efeitos ambientais.
Figura 1 - Dendrograma de dissimilaridade construído com as médias dos atributos
físicos, químicos e visuais.
Os resultados de todos os atributos foram avaliados de maneira integrada através
da analise multivariada (Figura 1), na qual podem ser identificados três grupos, sendo a
mata nativa a área mais distinta e os outros dois foram; silvicultura e pasto conservado,
apresentando uma boa conservação do solo e sorgo/milho e pasto degradado com
indícios de redução da qualidade do solo.
50
Conclusões Os resultados obtidos nesse trabalho reforçaram informações importantes sobre as
alterações dos teores de matéria orgânica, estoque de carbono e atributos físicos
relacionados aos tipos de uso e manejo adotados, e possibilitou identificar quais áreas
necessitam de uma maior atenção. Em geral as áreas com boa cobertura vegetal,
independente do porte, conferiram uma maior proteção ao solo. As análises visuais
adotadas demandaram poucos recursos financeiros e permitem distinguir a qualidade
entre os sistemas e quando comparadas com resultados das análises laboratoriais se
mostraram eficientes. É interessante a análise do fracionamento da matéria orgânica
nessas áreas, pois o estado de decomposição da matéria interfere nos nutrientes
necessários ao desenvolvimento das plantas.
Agradecimentos Os autores agradecem o apoio da UFV e o auxilio dos professores Marihus,
Lílian, Rui, Eduardo Gusmão e Marco Antônio e das laboratoristas Ana Elisa, Rose e
Debora. Além do apoio financeiro pelas instituições FAPEMIG e FUNARBE.
Literatura citada
ALMEIDA, W. S., CARVALHO, D. F., PANACHUKI, E., VALIM, W.C.,
RODRIGUES, S. A.; VARELLA, C. A. AL. Erosão hídrica em diferentes sistemas de
cultivo e níveis de cobertura do solo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.51, n.9, p.
1110 - 1119, 2016.
CASTRO FILHO, C.; MUZILLI, O.; PODANOSCHI, A. L. Estabilidade dos agregados
e sua relação com o teor de carbono orgânico num Latossolo roxo distrófico, em função
de sistemas de plantio, rotação de culturas e métodos de preparo das amostras. Revista
Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v.22, n.3, p.527-538, 1998.
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Avaliação Visual para o
Monitoramento da Qualidade Estrutural do Solo:VESS e VSA. Pelotas: Embrapa Clima
Temperado, p.39, 2015. ISSN 1516-8840;
JUNIOR, G.F.S.; CORÁ, J.E.; LAL, R. Soil aggregation according to the dynamics of
carbon and nitrogen in soil under different cropping systems. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, Brasília, v.51, n.9, p.1652-1659, 2016.
51
Relação entre o tamanho do pleurograma e o vigor de sementes de Anadenanthera
peregrina (L.) Speg.1
Adeissany Stephany Ramos Machado dos Santos2, Daniel Douglas de Souza Alves
3,
Ritielly Laiany Carvalho Senigalia4, Dione Aparecido Castro
4, Elisangela Clarete
Camili5
1Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor
2Mestranda em Ciências Florestais e Ambientais, UFMT - [email protected]
3Estudante de graduação em Engenharia Agronômica, UFMT.
4 Mestrandos em Agricultura Tropical, UFMT.
5Professora do Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade, UFMT.
Resumo: O objetivo neste trabalho foi avaliar se as diferenças no tamanho do
pleurograma influenciam no vigor de sementes de angico-vermelho. O primeiro lote foi
formado por sementes com pleurograma > 5,0 mm de diâmetro (pleurograma grande) e,
o segundo lote com pleurograma ≤ 5,0 mm de diâmetro (pleurograma pequeno). Foi
avaliado germinação, emergência em areia e comprimento de plântula. O lote com
sementes de pleurogramas grandes apresentou maior porcentagem de germinação e
emergência, maior comprimento da parte aérea e da maior raiz e, maior massa da
matéria verde e seca da parte aérea e das raízes. Sendo assim, sementes de angico-
vermelho com pleurogramas maiores são mais vigorosas. Esse conhecimento
proporciona um beneficiamento rápido, simples e de baixo custo a fim de melhorar a
qualidade das mudas de angico-vermelho produzidas.
Palavras–chave: germinação, angico-vermelho, morfologia vegetal, qualidade
fisiológica
Relation between pleurogram size and seed vigor of Anadenanthera peregrina (L.)
Speg.1
Abstract: The objective of this study was to evaluate if differences in pleurogram size
influence the vigor of angico-red seeds. The first batch was composed of seeds with
pleurogram> 5.0 mm in diameter (large pleurogram) and the second batch with
pleurogram ≤ 5.0 mm in diameter (small pleurogram). Germination, sand emergence
and seedling length were evaluated. The lot with seeds of large pleurograms showed a
higher percentage of germination and emergence, greater length of the aerial part and of
the larger root, and greater mass of green matter and dry matter of shoot and roots.
Thus, angico-red seeds with larger pleurograms are more vigorous. This knowledge
provides quick, simple and low cost processing to improve the quality of the angico-red
seedlings produced.
Keywords: germination, angico-red, plant morphology, physiological quality
Introdução Anadenanthera peregrina (L.) Speg., popularmente conhecida como angico-
vermelho, é uma espécie da família Leguminoseae - Mimosoideae (Mimosaceae), nativa
do Brasil, com ampla distribuição e múltiplos usos, inclusive na recuperação de áreas
degradadas (LORENZI, 2009).
52
A morfologia apresenta características que podem fornecer subsídios para
avaliação da viabilidade e qualidade das sementes (MARCOS-FILHO, 2015) e na
caracterização de espécies vegetais, pois, contribui para melhorar o conhecimento dos
processos reprodutivos das espécies e, para a produção de mudas (GUERRA et al.,
2006). A presença de pleurograma é rara, porém, importante na identificação de
espécies através das sementes, uma vez que sua presença se restringe às famílias
Cucurbitaceae e Leguminoseae, subfamília Mimosoideae e, em algumas espécies da
subfamília Caesalpinioideae (BARROSO et al., 1999).
O objetivo neste trabalho foi avaliar se as diferenças no tamanho do pleurograma,
uma estrutura externa da morfologia das sementes, influenciam na qualidade fisiológica
das sementes de angico-vermelho.
Material e Métodos O experimento foi conduzido no Laboratório de Sementes da Universidade
Federal de Mato Grosso. As sementes foram beneficiadas manualmente e, separadas por
lotes quanto ao tamanho do pleurograma. Foram definidos dois lotes, o primeiro com a
estrutura morfológica pleurograma > 5,0 mm de diâmetro (T1 – pleurograma grande), e
o segundo lote com a estrutura morfológica pleurograma ≤ 5,0 mm de diâmetro (T2 –
pleurograma pequeno).
Inicialmente as sementes foram caracterizadas através do teor de água pelo
método da estufa a 105 ± 3ºC por 24 horas (BRASIL, 2009). O teste de germinação nos
dois lotes foi realizado com quatro repetições de 50 sementes cada e, conduzido em
papel “germitest” umedecido com água destilada na proporção de três vezes a massa do
papel seco. Os rolos foram acondicionados em câmara do tipo BOD, regulada a 25°C e
fotoperíodo de 16 horas (BRASIL, 2013) e, foi realizada a contagem de germinação
diariamente até a estabilização.
No teste de emergência em areia, foram avaliadas quatro repetições de 30
sementes por tamanho de pleurograma, semeadas em caixas plásticas com dimensões de
33x22x10 cm, acondicionadas em temperatura ambiente e fotoperíodo de 16 horas
(BRASIL, 2009). Diariamente, foi registrado o número de plântulas emergidas,
consideradas como emersas as que apresentaram cotilédones acima do solo.
Avaliou-se o comprimento e a massa da matéria verde e seca da parte aérea e das
raízes das plântulas dos dois lotes de sementes de angico-vermelho no 20° dia após a
semeadura em rolos de papel “germitest” umedecido conforme descrito no teste de
germinação, mantidos a 25°C na ausência de luz. Utilizou-se quatro repetições de 10
sementes por tamanho de pleurograma
O delineamento experimental empregado foi o inteiramente casualizado (DIC),
contendo dois tratamentos. Foi calculado a porcentagem de germinação e emergência,
índice de velocidade de germinação (IVG), índice de velocidade de emergência (IVE).
Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo
teste Tukey a 5% de significância através do software estatístico R 3.4.0.
Resultados e Discussão
O teor de água inicial das sementes de angico-vermelho foi de 18%. A
porcentagem de germinação das sementes com pleurograma grande (> 5,0 mm) foi 15%
superior à das sementes com pleurograma pequeno (≤ 5,0 mm) (Figura 1). As sementes
com pleurograma pequeno atingiram a porcentagem máxima de germinação (82%) no
14o dia de avaliação, enquanto as de pleurograma grande continuaram germinando até o
17º dia (97%).
53
Os dados de germinação em rolo de papel são compatíveis aos de emergência em
areia, pois, as sementes com pleurograma grande tiveram 92% de emergência em areia
enquanto nas com pleurograma pequeno esta porcentagem foi de apenas 53%.
Figura 1. Porcentagem acumulada de germinação de sementes de angico-vermelho
(Anadenanthera peregrina (L.) Speg.) de dois lotes representados por
diferentes tamanhos de pleurograma das sementes (> 5,0 e ≤ 5,0 mm).
Cuiabá/MT, 2017.
O índice de velocidade de germinação (IVG) das sementes com pleurograma
grande (46,45) foi menor que as de pleurograma pequeno (69,47). Alves et al. (2005)
também verificaram que em sementes de Mimosa caesalpiniifolia Benth. as de tamanho
pequeno apresentam maior velocidade de germinação. Em geral, sementes com
pleurogramas pequenos são aquelas de dimensões menores, logo, o tamanho dos
pleurogramas está fortemente relacionado com o tamanho das sementes. Sementes
pequenas embebem mais rapidamente acelerando o processo germinativo. No entanto, o
índice de velocidade de emergência na areia (IVE) das sementes com pleurograma
pequeno foi inferior (14,39) às sementes com pleurograma grande (26,80). Apesar das
sementes com pleurogramas menores germinarem com maior rapidez, não apresentam
reservas ou o vigor necessário para o estabelecimento de plântulas normais. Biruel et al.
(2010) afirmam que o tamanho pode ser um indicativo da qualidade fisiológica das
sementes para muitas espécies e, geralmente as sementes pequenas apresentam menores
valores de germinação e vigor quando comparadas com as de tamanho médio e grande.
Os dados de comprimento e massa da matéria verde e seca da parte aérea e das
raízes de angico-vermelho com pleurogramas grandes e pequenos (Tabela 1)
demonstram o maior vigor das sementes com pleurogramas > 5,0 mm. Estes resultados
apontam que a qualidade fisiológica das sementes está intrinsecamente ligada à sua
morfologia, uma vez que sementes com pleurogramas maiores, geram plântulas maiores
e, consequentemente, mudas mais vigorosas.
Tabela 1 - Comprimento da parte aérea (CPA), comprimento da maior raiz (CR), massa
da matéria verde da parte aérea (MVPA) e das raízes (MVR) e, massa da
matéria seca da parte aérea (MSPA) e das raízes (MSR) de plântulas de
angico-vermelho (Anadenanthera peregrina (L.) Speg.) oriundas de dois
lotes representados por diferentes tamanhos de pleurograma das sementes (>
5,0 e ≤ 5,0 mm). Cuiabá/MT, 2017.
CPA CR MVPA MVR MSPA MSR
Pleurograma Grande 5,41* a 6,20 a 2,47 a 1,93 a 0,63 a 0,48 a
Pleurograma Pequeno 4,01 b 5,13 b 0,73 b 0,66 b 0,16 b 0,14 b
54
*Médias de quatro repetições comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05).
Alves et al. (2005) avaliando a influência do tamanho e da procedência de
sementes de Mimosa caesalpiniifolia Benth. sobre a germinação e o vigor, concluíram
que o vigor das sementes apresenta relação direta com o tamanho, justificando a adoção
de classes de tamanho para a formação de mudas.
Conclusões Sementes de angico-vermelho com pleurogramas maiores (> 5,0 mm ) apresentam
qualidade fisiológica (vigor) superior. A classificação das sementes de angico-vermelho
pelo tamanho do pleurograma é um procedimento rápido, simples e de baixo custo que
pode melhorar a qualidade das mudas produzidas.
Literatura citada
ALVES, E.U.; BRUNO, R.L.A.; OLIVEIRA, A.P.; ALVES, A.U.; ALVES, A.U.;
PAULA, R.C. Influência do tamanho e da procedência de sementes de Mimosa
caesalpiniifolia Benth. sobre a germinação e vigor. Revista Árvore, v.29, n.6, p.877-885,
2005.
BARROSO, G. M.; MORIM, M. P.; PEIXOTO, A. L.; ICHASO, C. L. F. Frutos e
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BIRUEL, R. P.; PAULA, R. C.; AGUIAR, I. B. Germinação de sementes de
Caesalpinia leiostachya (Benth) Ducke (pau-ferro) classificadas pelo tamanho e pela
forma. Revista Árvore, Viçosa, MG, v. 34, n. 2, p. 197-204, 2010.
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Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Brasília: MAPA/ACS, 2009. 395p.
BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instruções para análise
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Coordenação Geral de Apoio Laboratorial, 2013. 97 p.
GUERRA, M. E. C.; MEDEIROS FILHO, S.; GALHÃO, M. I. Morfologia de
sementes, de plântulas e da germinação de Copaifera langsdorfii Desf. (Leguminosae –
Caesalpinioideae). Cerne, Lavras, v. 12, n. 4, p. 322-328, 2006.
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas
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MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. 2. ed., Londrina:
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R CORE TEAM. R: A language and environment for statistical computing. Foundation
for Statistical Computing, Vienna, Austria. 2017.
55
RPPNs federais como estratégia de conservação da natureza
Natália Oliveira Dias¹, Camila Sobreira de Souza²
1Estudante de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão de Áreas Naturais Protegidas – IFSEMG.
2Graduanda em Gestão Ambiental - IFSEMG.
Resumo: Com a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC),
ficou estabelecido objetivos, categorias, regras para a criação e gestão dessas áreas
prioritárias. O estudo tem como finalidade discutir a relação das RPPNs federais e a
conservação da biodiversidade, analisar sua importância e benefícios no panorama atual
e verificar o papel do Sistema Informatizado de monitoria de Reservas Particulares do
Patrimônio Natural (SIMRPPN), cuja criação e gestão ficam a cargo do ICMBio.
Observa-se que essas unidades se apresentam como um instrumento necessário para a
conservação da biodiversidade no Brasil, auxiliando o aumento das áreas protegidas em
locais estratégicos colaborando para a constituição de corredores ecológicos, mosaicos e
aumento da conectividade paisagística. Embora sua área seja diminuta, na maior parte
dos casos, essas unidades devem ser consideradas como parte de uma estratégia que, em
conjunto com as demais unidades de conservação buscam o acondicionamento através
da unidade da paisagem preservada.
Palavras–chave: conservação, gestão, RPPN, unidade de conservação
Federal RPPNs as nature conservation strategy
Abstract: With the creation of the National System of
Conservation Units (SNUC), was established objectives, categories, rules for the
creation and management of these priority areas. The purposes of the study is discuss
the relationship between the Private Natural Heritage Reserves (RPPN) and biodiversity
conservation, analyze the importance and benefits in the current panorama, and verify
the role of the Computerized System for monitoring Private Reserves of Natural
Heritage (SIMRPPN), whose creation and management are the responsibility of
ICMBio. It is observed that these units are shown like an instrument of extreme
importance to the conservation of biodiversity on Brazil, helping the increase in
protected areas in strategic locations contributing to the construction of ecological
corridors, mosaics and increase landscape connectivity. Although the small area in most
cases, the RPPNs must be considerate like a strategic part which together with the other
units of conservation, seek the packaging through the unit of preserved landscape.
Keywords: conservation, management, RPPN, unit of conservation
Introdução Desde a antiguidade, a natureza é vista como uma fornecedora de matérias-
primas, estabelecendo uma relação íntima com a natureza. Dessa maneira constatou-se
que o uso desenfreado dos recursos naturais ultrapassava a capacidade de regeneração
do ambiente, ocasionando uma drástica redução da disponibilidade de tais meios,
ocorrendo o desequilíbrio ambiental (DIEGUES, 2001). O fato despertou o interesse
56
mundial na manutenção da diversidade biológica, sendo necessária uma medida para
conter tais reduções.
Seguindo este contexto, no Brasil, foi criado no ano de 2000 o Sistema Nacional
de Unidade de Conservação (SNUC), que prevê categorias que atendem aos diversos
objetivos da conservação e às diferentes demandas da sociedade. Entre elas, destaca-se a
modalidade Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), que representa uma
unidade de conservação de caráter privado, reconhecida pelo poder público, gravada
com perpetuidade a partir de um ato voluntário do proprietário da área. O âmbito
restritivo visa atender ao interesse coletivo em detrimento do individual e seu objetivo
principal é a conservação da diversidade biológica (SNUC 2000). Essa modalidade de
conservação em áreas privadas já estava prevista no primeiro código florestal de 1934,
através das florestas protetoras e ao decorrer da evolução da legislação hoje ela se
enquadra ao SNUC como RPPN. De todas as categorias de unidades de conservação
(UC), apenas a RPPN possui caráter privado, sendo todas as outras consideradas de
domínio público (podendo conter áreas privadas), determinadas e geridas pelo mesmo.
Apesar de essa categoria fazer parte do grupo de uso sustentável, elas têm sua utilização
restritiva, compatíveis com uma UC de proteção integral, onde somente é permitida
pesquisa científica e visitação turística ou/e educacional (SNUC 2000).
Dessa forma, o estudo tem como objetivo discutir a relação das RPPNs federais e
a conservação da biodiversidade, analisando sua importância e benefícios no panorama
atual.
Material e Métodos Para a consecução do trabalho foi realizado uma revisão bibliográfica embasada
em trabalho de autores especializados no assunto, pesquisa em sítios e sistemas
fornecidos por órgãos governamentais.
Resultados e Discussão Alternativas como a criação de reservas particulares ganham cada vez mais espaço
no cenário atual brasileiro, com a estratégia de conservação in situ da biodiversidade, o
que possibilita o aumento das áreas sob regime de proteção, desonerando o poder
público das indenizações e gastos com a gestão das áreas. Além disso, as RPPNs
permitem a participação da iniciativa privada no esforço nacional de conservação; são
aliadas na proteção do entorno de UC públicas; apresentam índices positivos na relação
custo/benefício para a sociedade e o poder público (OJIDOS 2008).
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
órgão gestor das UC de competência da união, atualmente existem 670 RPPNs federais
no país, que possuem uma área conjunta de 516,898 hectares. Este número tende a
aumentar devido ao interesse em criar UC particulares estar em ascensão, podendo ser
justificado baseando-se em considerações ecológicas, econômicas e político-
institucionais (MORSELLO, 2001).
Alguns aspectos econômicos relevantes que incentivam proprietários a criarem
uma RPPN segundo o ICMBio, são: Isenção de pagamento do imposto territorial rural
(ITR); prioridade na análise e concessão de recursos do fundo nacional do meio
ambiente; maior facilidade de acesso ao crédito agrícola nos bancos oficiais; maior
reconhecimento do ambiente natural de sua propriedade. Além desses incentivos, há por
parte de alguns estados brasileiros a instituição do imposto sobre circulação de
mercadorias e serviços (ICMS) ecológico. Quanto aos aspectos ecológicos, propicia-se
com as RPPNs a proteção contra queimadas, caça e desmatamento; apoio e orientação
quanto ao manejo e gerenciamento; oportunidades de ganhos financeiros extras, por
57
meio do desenvolvimento do turismo ecológico, lazer, recreação e educação ambiental;
apoio, cooperação e respeito das entidades ambientalistas.
Esta categoria se apresenta como um instrumento necessário para a conservação
da biodiversidade no Brasil e contribui para o aumento das áreas protegidas em locais
estratégicos, como ecossistemas ameaçados, zonas de amortecimento de UC e/ou
mosaicos, colaborando para a constituição de corredores ecológicos aumentando a
conectividade da paisagem (SEAMA et al., 2010).
A área das RPPNs no contexto das demais UC
O SNUC protege em torno de 15,7% (1.273.764km²) quando se refere à área
continental nacional (GURGEL et al., 2012). Tomando-se por base a área total de
516,898 hectares representando as áreas das RPPNs esse valor representaria pouco do
território brasileiro, dessa forma os corredores ecológicos e os mosaicos se apresentam
como instrumento de gestão territorial atuando com o objetivo de promover a
conectividade entre fragmentos de áreas naturais e atuarem na gestão integrada e
participativa de um conjunto de UC.
Segundo o SNUC, a gestão dos mosaicos e corredores ecológicos deve se ocorrer
de forma integrada e participativa. Nesse aspecto destacam-se as maiores dificuldades
com relação à implementação das UC, e em específico nas RPPNs, pois a gestão
depende dos proprietários, que nem sempre dispõe dos recursos materiais, técnicos e
financeiros para sua consecução. Buscando minimizar esse e outros problemas, o
ICMBio criou o SIMRPPN que é uma importante ferramenta frente a essa dificuldade.
O papel do Sistema Informatizado de monitoria de Reservas Particulares do
Patrimônio Natural (SIMRPPN) na gestão das RPPNs
Em 2009 o ICMBio criou o Sistema Informatizado de Monitoria de Reservas
Particulares do Patrimônio Natural (SIMRPPN) com o intuito de facilitar o
gerenciamento das RPPNs para atender aos setores responsáveis pela criação, plano de
manejo e monitoria. Após reuniões com especialistas no assunto, o órgão gestor federal
implantou o sistema visando desburocratizar o processo de criação e proporcionar a
sistematização das informações sobre a UC, otimizando os procedimentos aos
interessados. O sistema também poderá ser compartilhado com os órgãos estaduais e
municipais de meio ambiente que desejarem adotá-lo como ferramenta de criação.
Assim, o indivíduo que anseia criar uma unidade dessa categoria, ao acessar o sistema
poderá optar pelo órgão ou instituição pelo qual deseja que sua reserva seja reconhecida
(federal, estadual, ou municipal). O SIMRPPN também foi arquitetado para integrar o
Cadastro Nacional de Unidades de Conservação do Ministério do Meio Ambiente,
facilitando o processo de criação, pois cerca de 50% das atividades que antes eram
realizadas manualmente, são agora verificadas pelo próprio sistema. Segundo o
ICMBio, também consolida as informações sobre as unidades criadas, permitindo: a
sistematização e disponibilização de informações; o acompanhamento das propostas de
criação; agilidade na análise e aprovação; controle da documentação, fluxo de
informações e de processos administrativos e o aumento na transparência das
informações prestadas à população, à sociedade civil organizada e aos responsáveis
legais pelos requerimentos de criação, informações cartográficas, entre outras.
Conclusões
Constata-se que as RPPNs se apresentam como um instrumento importante para a
conservação da biodiversidade no Brasil, auxiliando o aumento das áreas protegidas em
locais estratégicos, como em ecossistemas ameaçados e em zonas de amortecimento de
58
outras UC, colaborando para a constituição de corredores ecológicos, mosaicos e
aumento da conectividade paisagística. Apesar de sua área diminuta, na maior parte dos
casos, devem ser consideradas como parte de uma estratégia que, em conjunto com as
demais UC buscam o acondicionamento através da unidade da paisagem preservada.
Para consecução de seus objetivos de conservação, o SIMRPPN se apresenta
como uma ferramenta que surgiu de maneira a contribuir para otimização dos processos,
tanto para o órgão que gere, quanto para os proprietários, buscando democratizar o
acesso aos dados e facilitar o processo de gestão a partir da disponibilização de dados
diversos sobre o processo de criação.
Dessa forma, percebe-se um incremento por parte do ICMBio, integrado aos
demais entes do sistema, contribuindo para a criação e gestão das RPPNs no país.
Assim, alia-se aos benefícios para os proprietários a isenção de impostos e outros
incentivos para a consecução dos objetivos de conservação.
Literatura citada
DIEGUES, A. C. S. 2001. O Mito Moderno da Natureza Intocada. 3 ed., Editora
Hucitec, Núcleo de Apoio à Pesquisa Sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas
Brasileiras/USP, São Paulo.
GURGEL, H.C; HARGRAVE, J; FRANÇA, F; HOLMES, R. M; DIAS, B,F,S;
RODRIGUES, C. G. O; BRITO, M, C, W. 2011. Unidades de conservação e o falso
dilema entre conservação e desenvolvimento. In: (Org.) Medeiros, R.; Araújo, F.F. Dez
anos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da natureza: lições do passado,
realizações presentes e perspectivas para o futuro. Brasília: MMA, p. 37- 54.
MORSELLO, C. 2011. Áreas protegidas públicas e privadas: seleção e manejo. São
Paulo: Annablume, FAPESP.
OJIDOS, F. 2008. Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN: Iniciativa Cidadã
para a proteção da natureza. São Paulo. Disponível
em:<http://assets.wwf.org.br/downloads/cartilha_rppn_para_internet.pdf>. Acesso em 1
Set. 2017.
SEAMA. 2010. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e IEMA
Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Informações sobre a
importância de uma RPPN. Disponível em <www.iema.es.gov.br> Acesso em: 1 Set.
2017.
SNUC. 2000. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, Lei n° 9.985
de 18 de Julho de 2000.
59
SISTEMA SIMPLIFICADO PARA MELHORIA DA QUALIDADE DA ÁGUA
UTILIZADA EM COMUNIDADES RURAIS
Lucas Victor Pereira De Freitas 1
1 Estudante de graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Faculdade de Ciências Exatas e
Tecnológicas Santo Agostinho – FACET; [email protected]
Resumo: A água é uma substância inorgânica constituinte e de primordial importância
para a vida dos seres vivos, sendo sua qualidade um fator determinante na saúde das
populações em geral. A água utilizada para o consumo doméstico nas comunidades
rurais, geralmente possui um alto valor no parâmetro de turbidez, contendo material
sólido em suspensão e outros. A turbidez é um parâmetro de qualidade de água de
grande importância, pelo fato da possibilidade de estar relacionada à presença de
microrganismos patogênicos à saúde. A partir dessas dificuldades que as comunidades
rurais enfrentam, o presente estudo tem como finalidade propor e desenvolver um filtro
como uma técnica prática, econômica e viável para o tratamento de água, possibilitando
uma adequação aos usos a que se destina, como as atividades domesticas. Os materiais
filtrantes utilizados, em sequência de cima para baixo, foram: Brita de granulação zero;
areia lavada; manta de fibra de vidro; carvão ativado em pó. Para análise da turbidez, foi
utilizado o equipamento denominado turbidímetro. Para tanto foram feitas análises nas
amostras antes do tratamento de filtração e posteriores ao mesmo. A amostra de água
turva anterior ao tratamento demonstrou um alto nível de turbidez com o valor de
turbidez indicando 570 NTU (Unidade de turbidez). Após o tratamento de filtração a
redução de turbidez foi drástica, apresentando o resultado de apenas 21 NTU. Pode-se
perceber que esse sistema simples de tratamento de água pode ser utilizado como
alternativa viável para a melhoria da qualidade das águas melhorando os hábitos de
higiene e a qualidade de vida das populações, diminuindo o número de doenças de
veiculação hídrica.
Palavras–chave: tratamento, turbidez, qualidade da água
Abstract: Water is a constituent inorganic substance of essential importance for life,
and its quality is a determining factor in the health of populations in general. The water
used for domestic consumption in rural communities usually has a high value in the
turbidity parameter, containing suspended solid material and organic matter. Turbidity
is a parameter of water quality of great importance, due to the possibility of being
related to the presence of microorganisms pathogenic to health. Based on these
difficulties faced by rural communities, the present study aims to propose and develop a
filter as a practical, economical and feasible technique for water treatment, making it
possible to adapt to the intended uses, such as domestic activities. For turbidity analysis,
the equipment called turbidimeter was used. Samples were analyzed before and after the
filtration treatment. The turbid water sample prior to treatment demonstrated a high
level of turbidity with the turbidity value indicating 570 NTU (Nephelometric Turbidity
Unit). After the filtration treatment the turbidity reduction was drastic, presenting the
result of only 21 NTU. It can be seen that this simple water treatment system can be
used as a viable alternative for the improvement of water quality, improving hygiene
habits and quality of life of the population, reducing the number of diseases transmitted
by contaminated water.
60
Keywords: treatment, turbidity, water quality
Introdução
A água é uma substância inorgânica constituinte e de primordial importância
para a vida dos seres vivos, sendo sua qualidade um fator determinante na saúde das
populações em geral. A água é um recurso natural escasso em regiões, como no norte
de Minas Gerais, devido ao extenso período de estiagem que passa a região. A água
utilizada para o consumo doméstico nas comunidades rurais do norte de Minas Gerais,
em geral possui um alto valor no parâmetro de turbidez, contendo material sólido em
suspensão e outros. A unidade matemática utilizada na medição da turbidez é o
NTU, sigla que provém do inglês Nephelometric Turbidity Unit. Os processos de
redução da turbidez de uma amostra de água são de natureza física, e consistem na
remoção dos resíduos sólidos em suspensão, por meio de técnicas como filtrações. A
turbidez é um parâmetro de qualidade de água de grande importância, pelo fato da
possibilidade de estar diretamente relacionada à presença de microrganismos
patogênicos à saúde. Diversos estudos relatam a que as partículas de sólidos em
suspensão na água servem como proteção de microrganismos, que podem ser
patogênicos, constituindo um meio favorável à proliferação dos mesmos, em
decorrência da presença de matéria orgânica e nutrientes essências para o crescimento
de tais organismos.
A partir dessas dificuldades que as comunidades rurais enfrentam, percebe-se a
necessidade do desenvolvimento de técnicas práticas, econômicas e viáveis para o
tratamento de água, possibilitando uma adequação aos usos a que se destina, propondo a
melhoria da qualidade de vida dessas populações. Diante disso, no presente estudo foi
desenvolvido um protótipo de um filtro para água turva, que tem a finalidade de
melhorar consideravelmente a turbidez da água turva. Essa água pode ser utilizada para
realizar atividades domésticas como limpeza de casa e utilização em irrigação de jardins
e hortas.
O artigo tem como finalidade propor e desenvolver um filtro, aplicando os
conceitos de operações unitárias, com a finalidade de filtrar a água turva, bem como
comprovar a viabilidade de aplicação desse sistema.
Material e Métodos
Foi produzido um protótipo de filtro para água turva. Os materiais filtrantes
utilizados, em sequência de cima para baixo, foram:
- Brita de granulação zero: que tem a função de reter as partículas grosseiras, bem como
matéria orgânica.
- Areia lavada: filtração lenta que possui a função de remoção de sedimentos e
partículas menores, removendo a turbidez e melhorando a cor e sabor da água.
-Manta de fibra de vidro: utilizado para separar os meios filtrantes.
- Carvão ativado em pó: principal material filtrante do filtro, e sendo considerado o mais
econômico agente de filtração devido às suas propriedades adsorventes. Pode
remover diversas substâncias nocivas da água, além do odor e sabor ocasionados pela
presença de compostos orgânicos. O carvão ativado é uma substância de grande eficácia
na eliminação ou redução de cor, odor, sabor e remoção de substâncias orgânicas
dissolvidas através do mecanismo de adsorção. Adsorve os elementos corantes, que
61
provocam o aumento da turbidez da água como ácidos húmicos, matéria orgânica,
sólidos dissolvidos e corantes. Semelhante a outros tipos de tratamento de água, a
filtração por carvão ativado é eficaz para alguns contaminantes. Cabe ressaltar que o
carvão ativado não atua na remoção de microrganismos, uma vez que não possui
propriedades desinfetantes, entretanto pode reduzir o número dos mesmos em
decorrência da remoção de sólidos e nutrientes essenciais para a sobrevivência destes
seres.
Para análise da turbidez, importante parâmetro da qualidade da água, foi
utilizado o equipamento denominado turbidímetro. Para tanto foram feitas análises nas
amostras antes do tratamento de filtração e posteriores ao mesmo. Os procedimentos
descritos foram desenvolvidos no laboratório de Saneamento Ambiental das Faculdades
Santo Agostinho, Campus JK, localizada no município de Montes Claros – MG.
Resultados e Discussão A amostra de água turva anterior ao tratamento demonstrou um alto nível de turbidez
com o valor de turbidez indicando 570 NTU (Unidade de turbidez). Em seguida, a
amostra de água turva foi submetida ao processo de tratamento do protótipo de filtro
utilizado no presente estudo. Após o tratamento de filtração a redução de turbidez foi
drástica, apresentando o resultado de apenas 21 NTU.
A grande eficiência comprova o poder de remoção dos sólidos suspensos na
amostra de água, por meio dos agregados, brita e areia. Murtha; Helle; Libânio (1991)
afirmam que na etapa de pré-filtração, atua diretamente na expansão dos limites de
aplicabilidade do filtro, uma vez que reduz drasticamente a turbidez da água bruta,
principal fator limitante, além de promover uma melhoria considerável na qualidade da
água. O carvão ativado possibilitou a remoção dos sólidos dissolvidos presentes na
água, tornando-a inodora e incolor. Portanto, ficou comprovada a eficiência do filtro,
que tinha a finalidade de promover a retirada das substâncias que causavam a alta
turbidez na amostra de água. Logo, o sistema proposto representa uma alternativa para o
tratamento da água turva, principalmente em comunidades rurais.
Conclusões
Pode-se confirmar que o sistema é de simples construção, de fácil operação e de
grande eficiência, permitindo que possa ser desenvolvido um sistema maior que
beneficie determinado domicílio ou comunidade. O sistema mostrou ser viável, porém
vale ressaltar que a água não se torna potável, ou seja, própria para consumo. A água
filtrada pode ser utilizada em atividades domésticas e irrigação de jardins, por exemplo.
Pra ser consumida, é necessário passar por um tratamento que atenda aos padrões de
potabilidade estabelecidos pela legislação em vigor.
Pode-se perceber que esse sistema simples de tratamento de água pode ser
utilizado como alternativas viáveis para a melhoria da qualidade das águas melhorando
os hábitos de higiene e a qualidade de vida das populações, diminuindo o número de
doenças de veiculação hídrica e colaborando para o desenvolvimento sustentável da
região em que for empregado.
Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, por vossa infinita bondade. Aos meus pais, pelo
amor e incentivo constante. A toda a equipe dos laboratórios do Instituto Educacional
Santo Agostinho. Às Faculdades Santo Agostinho, por todo o suporte no
62
desenvolvimento das pesquisas científicas. E a todos que de forma direta ou indireta
estiveram envolvidos.
Literatura citada
HERMES, L. C.; SILVA, A. S. Avaliação da Qualidade das Águas - Manual
Pratico. EMBRAPA Informação Tecnológica. 51 p., 2004.
MURTHA, N. A.; HELLER, L.; LIBÂNIO, M. A filtração lenta em areia como
alternativa tecnológica para o tratamento de águas de abastecimento no Brasil. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL,
1997, Foz do Iguaçu. Anais... Foz do Iguaçu, 1997.
63
Solos ornitogênicos como ecossistemas singulares da Antártica: valorização da
geodiversidade como subsídio para preservação ambiental1
Daví do Vale Lopes2, Luís Flávio Pereira
3, Fábio Soares de Oliveira
4, Carlos Ernesto
G.R. Schaefer5, Felipe Nogueira Bello Simas
6
1Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor, financiada pela FAPEMIG.
2Doutorando do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFMG.
3Estudante de graduação em Agronomia da UFV.
4Professor do Departamento de Geografia da UFMG.
5Professor do Departamento de Solos da UFV.
6Professor do Departamento de Educação da UFV.
Resumo: Solos ornitogênicos da Antártica representam ecossistemas com grande
biodiversidade. Cada vez mais estudos em áreas periglaciais buscam compreender a
gênese destes solos. O aumento do número de visitantes na Antártica gerou maiores
buscas pela preservação. Aspectos da geodiversidade ainda são incipientes nestas
políticas. O objetivo deste trabalho foi estudar processos e gênese de solos
ornitogênicos da Península Barton, a partir de suas propriedades morfológicas, químicas
e físicas, e também problematizar a questão da geodiversidade nas políticas de
preservação ambiental. Três perfis de solos representativos foram selecionados e
analisados de acordo com métodos consagrados na ciência do solo. Solos ornitogênicos
apresentam desenvolvimento e processos de intemperismo químico incomuns para os
padrões antárticos. Identificou-se solos com elevados teores de partículas finas e
processos pedogenéticos que tornam singulares os ecossistemas influenciados pela
atividade de aves. Registrou-se ambiente ácido (pH < 4), elevados teores de P (superior
a 600 mg/dm3) e CO (55 dag/kg em horizonte orgânico). Estes solos ímpares devem ser
mais bem analisados com técnicas microscópicas e microquímicas. Aspectos da
geodiversidade podem auxiliar na preservação dos ecossistemas terrestres antárticos, em
especial solos de exceção como os ornitogênicos.
Palavras–chave: biodiversidade, domínio periglacial, fosfatização, intemperismo
químico
Abstract: Antarctic ornithogenic soils represent ecosystems with great biodiversity.
Several studies in periglacial areas seek to understand the genesis of these soils. The
increase in the number of visitors in Antarctica has led to greater searches for
preservation. Aspects of geodiversity are still incipient in these policies. The objective
of this work was to study the processes and genesis of ornithogenic soils in Barton
Peninsula, based on their morphological, chemical and physical properties, and also to
problematize the issue of geodiversity in environmental preservation policies. Three
representative soils profiles were selected and analyzed according to methods
established in soil science. Ornithogenic soils present unusual chemical development
and weathering processes for Antarctic standards. Soils with high levels of fine particles
and pedogenetic processes were identified that make areas influenced by bird activity the unique ecosystems. Acid environment (pH < 4), high levels of P (greater than 600
mg/dm3) and CO (55 dag/kg in organic horizon) were recorded. These soils should be
better analyzed with microscopic and microchemical techniques. Aspects of
geodiversity can assist in the preservation of Antarctic terrestrial ecosystems, especially
exceptional soils such as ornithogenics.
Keywords: biodiversity, periglacial domain, phosphatization, chemical weathering
64
Introdução Cada vez mais estudos em áreas periglaciais buscam compreender como se
desenvolvem os processos de intemperismo químico associados a áreas com influencia
de atividades de aves na Antártica (CAMPBELL; CLARIDGE, 1987; MICHEL et al.,
2006; SCHAEFER et al., 2017; SIMAS et al., 2007a; TATUR; MYRCHA;
NIEGODZISZ, 1997). O acúmulo do guano é o principal processo de aporte de matéria
orgânica do continente (SIMAS et al., 2007b). Pinguineiras são as principais áreas em
que se tem formação de solos ornitogênicos. Estas áreas são extremamente importantes
pela abundância e diversidade de fauna e flora.
Em 2009 a Coréia do Sul propôs a criação de uma nova ASPA (Antarctic
Specially Protected Areas) localizada na Península Barton, Ilha Rei George, em razão
do aumento do número de visitantes ao longo dos últimos anos, destinando-se a
proteger os valores ecológicos, científicos e estéticos (ANTARCTIC TREATY
CONSULTATIVE MEETING, 2009). Aspectos da geodiversidade ainda são
incipientes nas políticas de preservação (BRILHA, 2005). Ainda existem várias lacunas
no conhecimento atual acerca dos processos de gênese e sistemas de transformação em
ambientes fosfatizados. O objetivo deste trabalho foi estudar processos e gênese de
solos ornitogênicos da Península Barton, a partir de suas propriedades morfológicas,
químicas e físicas, e também problematizar a questão da geodiversidade nas políticas de
preservação ambiental.
Material e Métodos A Península Barton (PB) localiza-se na Ilha Rei George, Antártica Marítima
(FIGURA 1). A área apresenta litologia diversa com predominância de andesito e
basalto (ARMSTRONG, 1995; YEO et al., 2004). Na Península encontra-se a ASPA
171 (Narębski Point), onde existem solos singulares. Três perfis de solos ornitogênicos
representativos foram selecionados na PB e classificados (SOIL SURVEY STAFF,
2014). O pH, nutrientes trocáveis e textura foram determinados de acordo com métodos
consagrados (EMBRAPA, 1997). Cátions trocáveis foram extraídos com 1 M KCl e P,
Na e K com extrator Mehlich-1. O carbono orgânico total (CO) foi determinado via
combustão úmida (YEOMANS; BREMNER, 1988).
Figura 1: Mapa de localização da área de estudo. A – Antártica Marítima; B – Ilha Rei George; C –
Península Barton na Ilha Rei George com representação da litologia e perfis de solo analisados
65
Resultados e Discussão A fosfatização é condicionante da formação dos solos mais desenvolvidos e com
mais partículas finas (silte + argila) em comparação a outros solos da Antártica. Na PB
registrou-se horizontes com até 57% de partículas finas e textura Franco. A classe
textural dominante foi Franco-Arenosa. Classificou-se os solos como Entisols
(“Ornithogenic” Cryorthent), Inceptisol (“Ornithogenic” Dystrocryept) e Gelisol
(“Ornithogenic” Lithic Sapristel) (SOIL SURVEY STAFF, 2014). Tiveram que ser
feitas adaptações na classificação para inserir a influência da ornitogênese nos solos.
A decomposição do guano condiciona um perfil ácido (pH predominantemente
inferior a 4,0), o que favorece a degradação mineralógica (SIMAS et al., 2007a). A
iluviação de P no perfil do solo favorece a neoformação de fosfatos secundários
(SIMAS et al., 2007a; TATUR; MYRCHA; NIEGODZISZ, 1997). Registrou-se
elevados teores de P (superior a 600 mg/dm3) e CO (55 dag/kg em horizonte orgânico)
(TABELA 1). A concentração de aves e consequente maior disponibilidade de
nutrientes faz com que se formem oásis para ocupação da vegetação, o que justifica os
aspectos da biodiversidade nas políticas de preservação.
Tabela 1: Propriedades químicas dos solos analisados da Península Barton.
Hor Prof. pH P H+ + Al3+ SB t T V m CO Prem
cm KCl H2O mg/dm3 cmolc/dm3 % dag/kg mg/L
P8 -“Ornithogenic” Cryorthents
A 0-3 4,11 5,22 327,1 15,9 2,55 4,21 18,45 13,8 39,4 12,09 8,7
C 3-5_ 4,09 5,78 651,3 15,3 3,39 5,24 18,69 18,1 35,3 8,19 13,5
CR 5+ - - - - - - - - - - -
P16 - “Ornithogenic” Dystrocryepts
A 0-2 3,59 5,31 454,5 23,8 4,97 6,24 28,77 17,3 20,4 11,08 26,6
BC 2-7_ 3,08 4,22 483 31,7 2,47 6,47 34,17 7,2 61,8 5,71 23
C 7-
25+ 2,98 3,9 649,5 27 1,78 7,83 28,78 6,2 77,3 1,34 36,4
P18 - “Ornithogenic” Lithic Sapristel
H1 0-20 3,89 4,61 256,2 22,5 1.1 4,15 23,63 4,8 72,8 55,75 9,9
H2 20-30
4,4 5,43 647,7 14,2 3,75 4,24 17,95 20,9 11,6 40,3 13,2
CR 30+ - - - - - - - - - - -
A abordagem tradicional à temática da conservação contempla essencialmente
aspectos relativos à biodiversidade (BRILHA, 2005). A geodiversidade constitui
suporte para biodiversidade, desta forma é essencial que ambas caminhem juntas nas
políticas voltadas à preservação ambiental. As políticas de preservação da Antártica
apresentam falhas, e se faz necessário um sistema abrangente e robusto das áreas
protegidas para fornecer um quadro efetivo para a conservação dos valores ambientais e
científicos (HUGHES; PERTIERRA; WALTON, 2013). Solos singulares podem ser
subsídios para preservação ambiental dos ecossistemas com paisagens de exceção e
formados em condições climáticas extremas.
Conclusões Solos ornitogênicos apresentam desenvolvimento e processos de intemperismo
químico incomuns para os ecossistemas terrestres antárticos. Nestes ambientes são
formados solos mais profundos, com elevado teor de partículas finas e processos
pedogenéticos que tornam singulares os ecossistemas influenciados pela atividade de
66
aves. Estes solos ímpares devem ser mais bem analisados, com técnicas microscópicas e
que permitem maiores esclarecimentos sobre o processo de fosfatização e das formas de
fosfatos presentes.
Aspectos da geodiversidade ainda aparecem de forma incipiente nas políticas de
preservação da Antártica. O solo como parte da geodiversidade pode auxiliar na
preservação dos ecossistemas terrestres antárticos, em especial solos desenvolvidos em
condições únicas como solos ornitogênicos.
Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq, CAPES e a FAPEMIG pelo suporte financeiro.
Agradecemos também ao INCT CRIOSFERA, TERRANTAR e MARINHA DO
BRASIL (PROGRAMA PROANTAR) pelo apoio e assistência em campo.
Literatura citada ANTARCTIC TREATY CONSULTATIVE MEETING. Final Report of the Thirtieth
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67
Sustentabilidade agroambiental na bacia do rio Doce: alternativas de manejo para
a conservação do ambiente e sua provisão de serviços ambientais1
Luís Flávio Pereira2, Arthur Telles Calegário
3, Silvio Bueno Pereira
4, Uriel Laurentiz de
Araújo2, Laksme Narayana Oliveira da Silva
5, Cecília Fátima Carlos Ferreira
2
1Parte dos resultados de pesquisa financiada pelo CNPq (processo nº 404258/2013-1).
2Estudante de Graduação em Agronomia na Universidade Federal de Viçosa.
3Doutorando do Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa.
4Professor do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa.
5Engenheira Florestal formada pela Universidade Federal de Viçosa.
Resumo: Avaliou-se a conciliação entre produção de alimentos e conservação
ambiental na bacia do rio Doce. Para mensuração, utilizou-se o “Índice para
Caracterização da Adequação do Uso e Manejo da Terra à sua Capacidade” aplicado a 4
cenários de uso e manejo da terra. Quaisquer manejos conservacionistas são capazes de
conciliar produção de alimentos e provisão de serviços ambientais, mas sistemas
agroflorestais permitem maior provisão que os demais (p<0,001). Zonas de recarga
hídrica estão mal utilizadas, mas na maior parte dos casos a mudança de uso não é
necessária, bastando a adoção de manejos conservacionistas nos usos atuais.
Palavras–chave: serviços ambientais, conservação do solo e água, capacidade da terra,
sistemas agroflorestais, Mata Atlântica
Agri-environmental sustainability in the Doce river basin: management
alternatives for environmental conservation and its provided goods and services1
Abstract: The conciliation between food production and environmental conservation
was evaluated in the Doce river basin. For the measurement, the “Characterization of
the Proper Land Use and Management Regarding Its Capacity Index” was applied in 4
scenarios of land use and management. Any conservative management practice is
capable to conciliate food production and provision of environmental goods and
services, but agroforestry systems allow a better provision than the others do (p<0,001).
Groundwater recharge zones are being mismanaged, but in most cases, changes are not
necessary, being the adoption of conservative management practices in its present use
enough.
Keywords: agroforestry systems, Atlantic Forest, environmental services, land-
capability, soil and water conservation
Introdução A bacia do rio Doce localiza-se sobre um dos hotspots de maior biodiversidade e
provisão de serviços ambientais no mundo: a Mata Atlântica. Esse rico sistema tem sido
degradado pelo uso agrícola desde a colonização brasileira, e é um dos biomas
brasileiros mais ameaçados na atualidade (MYERS et al., 2000).
No intuito de mensurar a conciliação entre produção de alimentos e a preservação
do meio ambiente e sua provisão de serviços ambientais, Monteiro (2015) propôs o
“Índice para Caracterização da Adequação do Uso e Manejo da Terra à sua Capacidade”
(IUM). O IUM é calculado a partir da comparação entre a intensidade de uso da terra
(IUT) de uma cultura agrícola, entendida como sua potencialidade de degradar a terra, e
a capacidade de uso da terra (CUT) da área que ela ocupa. Existem 8 classes de CUT,
variando em ordem crescente de permissividade na IUT: a classe I suporta usos
68
agrícolas de IUT classe I, (culturas anuais sem qualquer prática de conservação do solo
e água) sem que haja sua degradação, enquanto a classe VIII suporta apenas atividades
recreativas, devendo ser utilizada na conservação da fauna e flora (IUT classe VIII)
(LEPSCH et al., 2015).
Assim, o IUM apresenta-se como uma poderosa ferramenta na mensuração da
qualidade do uso da terra na prevenção e mitigação da degradação ambiental.
Entretanto, variações nas práticas culturais e tipos de manejo adotados influenciam
diretamente na intensidade de uso da terra exercida pelas atividades agropecuárias
(FRANCO et al., 2002). O trabalho teve como objetivo avaliar a sustentabilidade do uso
e ocupação da terra na bacia do rio Doce, considerando diferentes sistemas de cultivo
para um mesmo uso agrícola.
Material e Métodos Para realização do estudo, 21 subbacias da porção mineira da bacia do rio Doce
foram amostradas aleatoriamente, abrangendo toda as condições edafoclimáticas da
bacia. Para fins de cálculo, as subbacias foram subdivididas em 2598 microbacias com
área média de 25 ha. A base de dados foi fornecida pelo Centro de Referência em
Recursos Hídricos da Universidade Federal de Viçosa, e consistiu nos mapas de uso e
ocupação da terra, em escala detalhada, e CUT, em escala exploratória. O mapa de CUT
foi produzido de acordo com Rio Grande do Sul (1989) e a metodologia de Calegario et.
al. (2017), que estabelece parâmetros para determinação da CUT em zonas de recarga
hídrica, priorizando a conservação dos recursos hídricos e a agricultura de baixa IUT.
A metodologia de cálculo do IUM foi a descrita por Monteiro (2015), que propôs a
seguinte equação: IUM = - ∑ (NCEi x Ai /AT), em que Ai = área relativa ao iésimo valor
de NCE; AT = área total da microbacia em análise; e NCEi = número de classes de IUT
excedentes em relação à CUT da parcela analisada, e varia de -7 a 7. O IUM é a média de
valores de NCE, ponderada na área. Valores de NCE e IUM iguais a 0 indicam utilização
adequada, menores que zero indicam degradação da terra, e maiores que 0 indicam
conservação do solo e provisão de serviços ambientais, quanto maior o IUM. Para evitar
subutilização/sobreutilização excessiva da terra, os valores de NCE < -1 são convertidos
a -1, e no cálculo do IUM são computadas apenas 30% das áreas com NCE = -1.
A avaliação foi realizada sob quatro cenários, sendo esses: Uso e manejo da terra
não conservacionistas (sem práticas de conservação do solo e água, condição atual) e
sem atendimento ao código florestal (cenário I); Uso conservacionista (com práticas de
conservação do solo e água) e Áreas de Preservação Permanente (APP’s) utilizadas
conforme sua CUT (Classe VIII) (cenário II); Mesmas condições do cenário II,
acrescentando-se a adequação do uso à CUT em zonas de recarga (cenário III); e uso e
manejo conservacionistas em forma de Sistemas agroflorestais (SAF’s), com APP’s
utilizadas conforme sua CUT (cenário IV). Foram definidas as intensidades de uso da
terra atreladas a cada uso e tipo de manejo agrícola, exibidas na Tabela 1.
Tabela 1- Classes de IUT associada a diferentes usos e manejos da terra.
Uso Tipos de manejo
Não conservacionista Conservacionista Conservacionista em SAF´s Agricultura Anual I III IV Agricultura Perene IV VI VII Pastagem Variável de I a VIII
a VI VII Mata Natural VIII VIII VIII Reflorestamento VI VII VII
a = calculada por Pereira et al. (2017) a partir de dados de campo e imagens de satélite.
69
Os valores apresentados na Tabela 1 foram definidos conforme as considerações
de Lepsch et al. (2015), e também baseando-se no conhecimento científico atual acerca
dos diversos sistemas produtivos.
Resultados e Discussão O cenário I apresentou 57,79% das terras sobreutilizadas (NCE > 0), enquanto os
cenários II, III e IV apresentaram apenas 18,28%, 6,5% e 2,3% das terras em
sobreutilização, respectivamente. O cenário I apresenta 26% da área com uso
excessivamente acima de sua CUT (NCE > 2), e os cenários II, III apresentaram apenas
1%, 0,7% e 0,2% das terras com sobreuso excessivo, respectivamente. Tais resultados
sugerem que a adoção de manejo conservacionista de solo e água, associado ao
cumprimento do código florestal (Cenário II), contribuem consideravelmente na
redução do NCE.
Com intuito de averiguar quais as intervenções necessárias para adequação do
cenário II ao III, calculou-se o NCE nos terços superiores. No cenário II, 58,2% dos
terços superiores apresentaram NCE ≥ 0. Em 92,5% dessas áreas o NCE foi igual a 1, e
em 98,5% desses casos, os terços superiores estavam ocupados com pastagens e
agricultura perene, que no cenário II possuem IUT igual a VI. Desta maneira, há
necessidade de conversão dessas áreas para ocupações com IUT, no mínimo, igual VII.
Recomenda-se, como melhor alternativa, a inserção do componente florestal em tais
áreas, transformando-as em SAF’s e sistemas silvipastoris. Essa estratégia é
recomendada por não implicar em mudança do uso atual, e propiciar benefícios
econômicos, sociais e ambientais, conforme descrito por Carneiro et al. (2017). Os
autores analisaram SAF’s e seus benefícios, segundo relatos dos agricultores que os
implementaram há cerca de 20 anos, na região de Araponga - MG.
O IUM foi dividido em intervalos e o número de microbacias associadas a cada
intervalo foi contabilizado. O IUM médio por cenário também foi calculado (Tabela 2).
Tabela 2 - Intervalos de IUM e porcentagem de microbacias associadas a cada intervalo
Intervalo de IUM Cenário I (%) Cenário II (%) Cenário III (%) Cenário IV (%)
IUM ≥ 0 12,3 74,2 89,6 97,4
-0,5 ≤ IUM < 0 15,3 21,4 9,2 2,3
-1 ≤ IUM < -0,5 18,1 3,9 1 0,2
-1.5 ≤ IUM < -1 18,2 0,4 0,2 0,1
-2 ≤ IUM < -1.5 15,7 0,1 0 0
-2.5 ≤ IUM < -2 9,9 0 0 0
-3.0 ≤ IUM < -2.5 5,5 0 0 0
-3.5 ≤ IUM < -3 3,1 0 0 0
IUM ≤ -3.5 1,9 0 0 0,0
IUM médio -1,2ª 0,1b 0,2
c 0,3d
Médias seguidas por letras distintas diferiram significativamente pelo teste t para médias dependentes (α
= 0,1%).
Conforme verificado na Tabela 2, adoção de manejos conservacionistas e
adequação ao código florestal possibilitaram aumento de aproximadamente 62% no
número de microbacias com IUM ≥ 0. Quando o uso das zonas de recarga foi adequado à
CUT, o número de microbacias com IUM ≥ 0 aumentou 77,3%. Sob manejo
conservacionista em SAF’s, esse aumento foi de 85% (97,4% das microbacias são
70
provedores de serviços ambientais). A porcentagem de microbacias com IUM < -0,5
passou de 72,4% no Cenário I para 4,4% no Cenário II, 1,2% no Cenário III e 0,3% no
cenário IV. Adoção de quaisquer manejos conservacionistas e adequação ao código
florestal fizeram com que a média dos IUM’s nas microbacias passasse a ser maior que
zero, mas a adoção SAF’s foi o cenário que apresentou maior média de IUM nas
microbacias, ou seja, maior provisão de serviços ambientais (p<0,001).
Conclusões A agricultura praticada de forma conservacionista concilia desenvolvimento
agrícola e preservação da concessão de serviços ambientais.
Atendimento ao código florestal e uso de práticas agrícolas conservacionistas
propiciam uma agricultura ambientalmente equilibrada, mas o manejo em forma de
SAF’s permite maior provisão de serviços ambientais.
Zonas de recarga hídrica estão mal utilizadas, mas para sua adequação são
necessárias apenas modificações no manejo adotado, na maior parte dos casos.
Literatura citada CALEGARIO, A.T.; PEREIRA, L.F; PEREIRA, S.B. et al. Capacidade de uso e
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LEPSCH, I.F.; ESPINDOLA, C.R.; VISCHI FILHO, O.J. et al. Manual para
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MYERS, N.; MITTERMEIER, R.A.; MITTERMEIER, C.G. et al. Biodiversity hotspots
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71
Uso do amianto no Brasil: análise dos moradores em torno da empresa Saint-
Gobain - Barbacena - MG
Camila Sobreira de Souza¹, Marlene de Paula Pereira², Natália Oliveira Dias³
1 Graduanda em Gestão Ambiental – IFSEMG. [email protected]
2 Doutora em Extensão Rural
3 Estudante de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão de Áreas Naturais Protegidas – IFSEMG.
Resumo: O artigo objetivou buscar informações com os moradores em torno da
empresa Saint-Gobain perante o cumprimento da lei mineira nº 21. 114/2013, que
estabelece prazos e medidas a serem adotadas por empresas fabricantes de produtos que
contenham amianto. A empresa localiza-se na Zona da Mata mineira, no município de
Barbacena e se caracteriza como produtora de materiais para construção civil. A
metodologia adotada consistiu-se em entrevistas com moradores dos três bairros mais
próximos à empresa. Por meio dessa análise, foi possível concluir que existe forte odor
proveniente da empresa, o que se destaca como característica do uso do amianto. As
demais informações foram doenças pulmonares nos habitantes, cada vez mais presentes
de acordo com o tempo em que o mesmo ali se localiza.
Palavras–chave: amianto, legislação, moradores, Saint-Gobain
Use of asbestos in Brazil: analysis of the residents around the company Saint-
Gobain - Barbacena - MG
Abstract: The article had like objective to search information with the residents near
the company Saint-Gobain in compliance with the law of the state of Minas Gerais n.
21. 114/2013, that establishes deadlines and measures to be taken by companies
manufacturing products containing asbestos. The company is located in Zona da Mata
mineira, in the municipality of Barbacena and is characterized as a producer of materials
for civil construction. The methodology adopted consisted of interviews with residents
of the three neighborhoods closest to the company. Through this analysis, it was
possible to conclude that there is a strong odor coming from the company, which stands
out as a characteristic of the use of asbestos. The other information was pulmonary
diseases in the inhabitants, increasingly present according to the time in which it is
located there.
Keywords: asbestos, legislation, residents, Saint-Gobain
Introdução O Brasil é um dos maiores produtores, consumidores e exportadores de amianto
do mundo. Esta matéria-prima é utilizada em quase 3.000 produtos industriais, tais
como telhas, caixas d'água, pastilhas, lonas para freios, entre outros. Por conta de suas
propriedades e, principalmente, pelo baixo custo de produção, é empregado
intensivamente (ABREA, 2017).
O amianto ou asbesto é uma fibra de origem mineral composta de silicatos
hidratados de magnésio, ferro, cálcio e sódio e se divide em dois grandes grupos:
serpentinas (crisotila ou amianto branco) e anfibólios (tremolita, actinolita, antofilita,
amosita e crocidolita,). A quase totalidade do amianto comercializado no país é do tipo
crisotila ou amianto branco.
72
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a crisotila está
relacionada a diversas formas de doença pulmonar, não havendo nenhum limite seguro
de exposição para o risco carcinogênico. A organização recomenda que o uso do
amianto seja suspenso, sendo esta também a recomendação da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), disposta na Convenção nº 162 (realizada no ano de
1986) convocada em Genebra (Suíça) pelo Conselho de Administração do
Departamento Internacional do Trabalho, a qual teve como quarto ponto da reunião a
segurança em relação a utilização do asbesto e sua substituição (WHO, 1998).
Segundo Algranti (2001), cerca de 500.000 brasileiros estão diretamente expostos
à substância, destes, 20.000 são prestadores de serviços da indústria de exploração e
transformação. Há, ainda, entorno de outros 300.000 trabalhadores incluídos em
manutenção e reparos, e uma parcela desconhecida de trabalhadores informais
envolvidos na indústria da construção civil em atividades como instalação de
coberturas, caixas d’água, reformas, demolições e instalações hidráulicas que estão à
margem de qualquer proteção social, perante a lei e das incipientes políticas públicas de
saúde do trabalhador brasileiro.
Em Minas Gerais, foi aprovada, em dezembro de 2013, a Lei nº 21.114. A norma
estabelece prazos até 2023 para que o amianto seja totalmente banido no Estado: oito
anos para importação e transporte; oito anos e seis meses para industrialização,
armazenamento e comercialização pela indústria; nove anos para a comercialização
pelos estabelecimentos atacadistas e varejistas; e dez anos para o uso (MINAS
GERAIS, Lei 21.114/2013).
Apesar das evidências, mantém-se no país uma polêmica, alimentada por claros
interesses econômicos, sobre os reflexos da proibição do uso do amianto. Estas
polêmicas estão relacionadas ao desemprego e à retirada do mercado de produtos que
possuem baixo custo, o que atingiria diretamente as populações mais pobres.
Assim, o artigo objetivou buscar informações dos moradores em torno da
empresa Saint-Gobain perante o cumprimento da efetividade da lei mineira nº 21.
114/2013, que estabelece prazos e medidas a serem adotadas por empresas fabricantes
de produtos que contenham amianto.
Localização e caracterização da empresa
Fundada na França, no ano de 1665, a Saint Gobain Materiais
Cerâmicos Ltda atualmente, está presente em 64 países e conta com 193.000
funcionários e cerca de 50 atividades, responsável por mais de 1.000 empresas divididas
em quatro grandes frentes de atuação: distribuição, embalagens, materiais inovadores e
produtos para construção.
Após 62 anos presente em território brasileiro, em 1999, a multinacional se
instalou na Zona da Mata mineira no município de Barbacena e deu início às suas
atividades. A empresa localiza-se nas coordenadas 21° 12’ 17,84’’ S e 43° 49’ 58,26’’
O, em uma área total de 146 hectares, contendo uma área útil de 31 hectares e área
construída de 3,2 hectares. Insere-se na Bacia Hidrográfica do Rio Grande e na Sub-
bacia do Rio das Mortes. Segundo o EIA/RIMA, é considerado um empreendimento de
grande porte e seu potencial poluidor, é classificado com médio porte.
Segundo documento de licenciamento ambiental da superintendência regional de
regularização ambiental da zona da mata – SUPRAM-ZM (2012), a principal atividade
da empresa no município é a fabricação de Carbureto de Silício (SiC) e produção de
micro-grãos abrasivos a partir do beneficiamento do carbureto de silício. Essas
substâncias produzidas são comercializadas para a fabricação de produtos abrasivos
como lixas, rebocos, discos de corte, entre outros.
73
Material e Métodos A metodologia adotada no trabalho constituiu-se em entrevistas realizadas com
nove moradores residentes nos bairros Nove de Março, Santa Maria e João Paulo II,
sendo esses os mais próximos e supostamente os mais afetados pelo empreendimento,
buscando obter dos mesmos, informações em relação a poluição atmosférica, saúde e
conhecimento da empresa.
Resultados e Discussão Ao serem realizadas as entrevistas com os moradores, os quais apresentaram um
tempo médio de residência nos bairros de dez anos, constatou-se que, de acordo com o
bairro e com a velocidade do vento especificamente pela manhã, odores desagradáveis
que são inalados pela população. Diante disso, parte dela possui problemas
respiratórios, sendo esse o entrevistado ou alguém da família.
Por se tratar de uma área carente do município de Barbacena, partes dos
interrogados apresentaram pouco ou nenhum conhecimento da empresa, apesar de sua
proximidade.
O mau cheiro advindo da atmosfera, também foi confundido com o esgoto a céu
aberto, existente no bairro Nove de Março, em um único caso.
Apesar de não ter sido relatado algo positivo que a empresa tenha feito diretamente para
os moradores, todos reconhecem sua importância econômica para a região, deixando
claro o não conhecimento dos produtos fabricados pela mesma.
Gráfico 1: Percepção de odor pelos moradores. Gráfico 2: Conhecimento da empresa.
Gráfico 3: Frequência de doenças respiratórias.
74
Conclusões
Diante das informações adquiridas nas entrevistas aos moradores, fica evidente a
existência de poluição atmosférica na região próxima a empresa, sendo possível se
associar ao uso do amianto. Torna-se necessário um estudo mais detalhado para se
alcançar resultados mais claros referentes ao uso da substância. Destaca-se também a
carência dos bairros próximos ao empreendimento, constatando-se presença de um
esgoto a céu aberto, que, por se tratar de um problema de saúde pública, pode acarretar
em doenças respiratórias e falta de informação da empresa em questão.
Literatura citada ABREA - Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto. Disponível em:
www.abrea.com.br/. Acesso em Agosto de 2017.
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In: Menezes AMB. Epidemiologia das doenças respiratórias. Rio de Janeiro:
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BRASIL. Lei Nº 21114 DE 30/12/2013. Proíbe a importação, o transporte, o
armazenamento, a industrialização, a comercialização e o uso de produtos que
contenham amianto, asbesto ou minerais que contenham amianto ou asbesto em
sua composição e dá outras providências. Publicado no DOE em 31 dez 2013.
Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=263906>.
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