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SISTEMÁTICA DE GERENCIAMENTO DE RISCO OCUPACIONAL DE ATIVIDADE DE INSTALAÇÃO DE CALHAS EM TELHADOS - ESTUDO DE CASO Vinicius Lange Firetti (UTFPR) Rodrigo Eduardo Catai (UTFPR) Adriano Mello Mattos Habib Gregori (UTFPR) Janice Mello Mattos Habib Gregori (UTFPR) Resumo Ocorrências ocasionadas por queda de nível em atividades típicas da construção civil estão entre as principais causas de acidentes fatais no Brasil e no mundo. Com a Norma Regulamentadora NR-35 Trabalho em altura, faz-se mandatória a gestãoo dos riscos inerentes às atividades realizadas com diferença de nível acima de 2,00 metros. Este trabalho tem como objetivo avaliar a sistemática de gerenciamento dos riscos ocupacionais inerentes às atividades de instalação de calhas em telhados, através do estudo de caso de uma empresa típica do segmento, localizada no interior de São Paulo. A metodologia adotada foi a Análise Preliminar de Riscos (APR), que apresenta questões essenciais de segurança do trabalho para atividades realizadas em altura. Foram realizadas visitas técnicas tanto na empresa em questão como em obras, onde havia prestação de serviço em andamento e com base nas informações coletadas, foram elencados os principais riscos, sendo possível propor melhorias para a prevenção de acidentes e adequação à norma. Esta sistemática de análise demonstrou-se viável, para o cumprimento da análise de risco demandada por esta norma. Palavras-chaves: Análise Preliminar de Risco (APR), Trabalho em Altura, NR-35, Gestão de Riscos. 20, 21 e 22 de junho de 2013 ISSN 1984-9354

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SISTEMÁTICA

DE GERENCIAMENTO DE RISCO

OCUPACIONAL DE ATIVIDADE DE

INSTALAÇÃO DE CALHAS EM TELHADOS

- ESTUDO DE CASO

Vinicius Lange Firetti

(UTFPR)

Rodrigo Eduardo Catai

(UTFPR)

Adriano Mello Mattos Habib Gregori

(UTFPR)

Janice Mello Mattos Habib Gregori

(UTFPR)

Resumo Ocorrências ocasionadas por queda de nível em atividades típicas da

construção civil estão entre as principais causas de acidentes fatais no Brasil

e no mundo. Com a Norma Regulamentadora NR-35 Trabalho em altura,

faz-se mandatória a gestãoo dos riscos inerentes às atividades realizadas

com diferença de nível acima de 2,00 metros. Este trabalho tem como

objetivo avaliar a sistemática de gerenciamento dos riscos ocupacionais

inerentes às atividades de instalação de calhas em telhados, através do

estudo de caso de uma empresa típica do segmento, localizada no interior de

São Paulo. A metodologia adotada foi a Análise Preliminar de Riscos (APR),

que apresenta questões essenciais de segurança do trabalho para atividades

realizadas em altura. Foram realizadas visitas técnicas tanto na empresa em

questão como em obras, onde havia prestação de serviço em andamento e

com base nas informações coletadas, foram elencados os principais riscos,

sendo possível propor melhorias para a prevenção de acidentes e adequação

à norma. Esta sistemática de análise demonstrou-se viável, para o

cumprimento da análise de risco demandada por esta norma.

Palavras-chaves: Análise Preliminar de Risco (APR), Trabalho em Altura,

NR-35, Gestão de Riscos.

20, 21 e 22 de junho de 2013

ISSN 1984-9354

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IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013

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1 INTRODUÇÃO

Verificou-se nos últimos anos um incremento na construção civil, sendo assim o número de

acidentes tem aumentado acompanhando o crescimento do setor construtivo. Além de acidentes e

mortes de operários, em grande parte por soterramento, observa-se também aqueles motivados por

queda ou choque elétrico (SENADO, 2013).

A queda em altura na construção civil é uma das principais causas de acidentes fatais no

Brasil e no mundo. No nosso território cerca de 49% dos acidentes ocorrem por quedas decorrentes

de trabalho em altura, quer de trabalhadores ou projéteis sobre esses. Tem-se ainda 7% por choque

elétrico, 16% por soterramento e 28% por outros motivos. A grande incidência de fatalidades deve-

se à falta de planejamento e gerenciamento de segurança dos trabalhos realizados (SINAIT, 2011).

O Tribunal Superior do Trabalho (TST), constatou que no ano de 2011, diariamente cerca de

50 trabalhadores foram afastados de suas funções por morte ou invalidez permanente, vitimados por

acidentes de trabalho em todo o setor produtivo. No mesmo ano 18 mil acidentes registrados

culminaram em morte ou invalidez permanente e outros 300 mil , também em 2011, causaram

invalidez temporária de trabalhadores, sem contabilizar os acidentes não registrados (SENADO,

2013).

Acidentes fatais por queda de altura geralmente ocorrem em obras de construção civil e

reformas, serviços de manutenção e limpeza de fachadas, manutenção e reforma de telhados, pontes

rolantes, serviços de ônibus e caminhões, serviços em linhas de transmissão e postes elétricos,

manutenção em torres e telecomunicação, etc (SINDUSCON-CE, 2011).

Até março de 2012, não havia uma norma específica para trabalhos em altura, sendo assim

eram utilizadas mais frequentemente as Normas Regulamentadoras NR-06 Equipamentos de

Proteção Individual, NR-08 Edificações, NR-18 Condições e Meio Ambiente de Trabalho na

Indústria da Construção, relacionadas à construção civil, e NR-34 Condições e Meio Ambiente de

Trabalho na Indústria da Construção Naval, que possui um capítulo de gestão de segurança para

trabalhos em altura. Criou-se então em 23 de março de 2012, a NR-35 Trabalho em Altura que

regulamenta qualquer tipo de trabalho acima de 2,00 metros do nível inferior, onde exista risco de

queda. Estabelece requisitos mínimos para resguardar a segurança e integridade do trabalhador,

passando a vigorar em 27 de setembro de 2012 (SINAIT, 2011).

A prevenção é sempre a melhor opção quando se trata de evitar acidentes ou correr riscos em

atividades em altura, para tal é necessário treinamento e capacitação, uso de equipamentos

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adequados e observância e cumprimento dos procedimentos inerentes às atividades. Para as

empresas observar esses tópicos significa cumprir a lei, produtividade, economia e respeito à vida e

integridade de todos os envolvidos nas funções.

O objetivo desse trabalho é avaliar a sistemática de gerenciamento de riscos ocupacionais

inerentes às atividades de instalação e reforma de calhas em telhados, através do estudo de caso em

uma empresa típica do segmento, localizada no interior de São Paulo.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Acidente de trabalho

Acidente de Trabalho é assim denominado quando ocorre no exercício do trabalho a serviço

da empresa ou quando se trata de segurados especiais no exercício do trabalho, que provoque lesão

corporal ou funcional, permanente ou temporária, ocorrendo perda ou redução da capacidade

laboral e até mesmo a morte (BRASIL, 2011).

A doença do trabalho e a doença profissional também são consideradas acidente de trabalho.

Da mesma forma, o acidente ligado ao trabalho , ainda que não tenha sido a única causa, mas tenha

contribuído diretamente na ocorrência da lesão; doença por contaminação acidental do empregado

no exercício de sua atividade; e ainda aquele sofrido a serviço da empresa ou no trajeto de ida e

volta entre a residência e o local de trabalho (BRASIL, 2011).

Doença do trabalho é aquela adquirida ou desencadeada pelas condições especiais em que o

trabalho é realizado. Doença profissional é produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho

característico a determinada atividade (BRASIL, 2011).

Doenças ocupacionais são moléstias de evolução lenta e gradual advindas de causa gradativa e

durável, vinculadas às condições de trabalho. Podem ser de ordem profissional ou do trabalho

(BRASIL, 2011).

2.2 Análise Preliminar de Risco

Análise Preliminar de Risco é uma técnica que propicia uma análise prévia qualitativa no

planejamento dos riscos inerentes ao trabalho ou serviço a ser executado, em todas as etapas do

processo, permitindo sua identificação e antecipação com o propósito de eliminá-los ou minimizá-

los (CPNSP, 2005; FARIA, 2011).

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Existem algumas etapas que devem ser observadas na elaboração de uma APR, como sugere

Sherique (2011):

Rever problemas conhecidos e buscar semelhanças com outros sistemas;

Rever os objetivos, exigências para o desempenho, funções e procedimentos, delimitar a

atuação;

Determinar os principais riscos e identificar os riscos potenciais causadores de lesões, perda

de função e danos a equipamentos;

Identificar métodos de eliminação e controle de riscos e selecionar as opções mais

adequadas ao funcionamento do sistema;

Buscar métodos exequíveis e eficientes para limitar danos sofridos pela perda de controle

sobre os riscos;

Nomear responsáveis pela execução de ações preventivas ou corretivas, e as atividades a

desenvolver.

2.3 Risco e Perigo

O risco está associado à probabilidade de ocorrência de um evento perigoso com a severidade

da lesão ou doença causada pela atividade ou exposição (OSHAS 18001, 2007). Os riscos

ambientais podem ser promovidos por agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de

acidentes, causando danos à saúde do trabalhador, dependendo da natureza, concentração,

intensidade e tempo de exposição ao agente causador.

Perigo é a fonte com potencial para provocar danos, lesão ou doença, ou ainda a combinação

destes (OHSAS 18001, 2007). Na identificação de perigos alguns elementos devem ser

considerados, (AMORIM, 2010) como:

Equipamentos e materiais perigosos, explosões;

Interações entre materiais e equipamentos, propagação de incêndio;

Fatores ambientais como temperaturas extremas, terremotos, descargas elétricas, umidade;

Procedimentos de teste, manutenção e operação;

Atendimento a situações de emergência;

Ergonomia dos equipamentos e proteção contra acidentes, etc.

A partir da Análise Preliminar de Riscos são registrados os resultados obtidos: causa, modo de

detecção, efeitos potenciais, categorias de frequência, severidade e risco e medidas corretivas e

preventivas a serem adotadas (AMORIM, 2010).

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A categoria de frequência relaciona o número de eventos observados num determinado

período com uma denominação específica, conforme tabela 1. O risco é dividido em 3 categorias,

Tolerável (T), Moderado (M) e Não Tolerável (NT), conforme tabela 2 (SHERIQUE, 2011).

Tabela 1: Categorias de Frequência

Fonte: SHERIQUE, 2011

Tabela 2: Categorias de Risco

Categoria de Risco Descrição

Tolerável (T) O risco é considerado tolerável. Não há

necessidade de medidas adicionais

Moderado (M) O risco é considerado tolerável quando mantido

sob controle. Aplica-se uma nova análise para

avaliar as alternativas disponíveis para se obter

uma redução adicional dos riscos.

Não Tolerável (NT) O risco é considerado não tolerável com os

controles existentes. Métodos alternativos

devem ser considerados para reduzir a

probabilidade de ocorrência e suas

consequências.

Fonte: SHERIQUE, 2011

A severidade é dividida em 4 categorias de acordo com o potencial de dano, conforme tabela

3 (DE CICCO & FANTAZZINI, 2003).

Tabela 3: Categorias de Severidade

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Fonte: DE CICCO; FANTAZZINI, 2003

A matriz de risco é obtida a partir das tabelas 1 e 3, onde estão relacionadas a frequência e a

severidade

Tabela 4:Matriz de Risco

Fonte: SHERIQUE, 2011

A NR-35 Trabalho em Altura adota o princípio de que o trabalho em altura deve ser uma

atividade planejada e que a exposição do trabalhador ao risco de queda deve ser evitada, caso seja

possível. Isso significa que a execução deve ser avaliada para formas alternativas que eliminem o

risco de queda ou então que sejam adotadas medidas que minimizem suas consequências (BRASIL,

2012).

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As obrigações estabelecidas na norma entraram em vigor seis meses após a sua publicação

(D.O.U. 27/03/2012), com exceção do capítulo 3 (capacitação e treinamento) e do subitem 6.4

(responsabilidade no salvamento) que tiveram o prazo de doze meses para vigorar (BRASIL, 2012)

São estabelecidos os requisitos mínimos e as medidas de proteção para trabalhadores

envolvidos direta ou indiretamente (aqueles que estão no entorno), devendo, portanto, o empregador

também adotar medidas complementares conforme particularidades e complexidades dos riscos

inerentes às tarefas (BRASIL, 2012).

Toda atividade executada acima de 2,00 metros (dois metros) do nível inferior é considerado

trabalho em altura e normas internacionais são aplicáveis no caso de ausência ou omissão de detalhe

especificado na NR-35 (BRASIL, 2012).

A utilização de equipamentos de proteção faz parte da exigência da NR-35 e deve estar em

conformidade com a NR-6. Estes deverão ser utilizados sempre que as medidas gerais não forem

suficientes e a escolha deve ser feita por profissional capacitado. Devem ser considerados aspectos

como: tipo de atividade, tempo de exposição ao risco, gravidade e frequência de acidentes,

condições do local de trabalho, ergonomia, influências externas etc (ALTISEG, 2012).

Para trabalhos em altura a proteção contra queda deve ser constituída de um sistema formado

por ancoragem, elemento de conexão e cinto de segurança. A ancoragem é o ponto onde o sistema

se conecta e pode ser um ponto ou uma linha de vida fixa a este ponto. O elemento de conexão tem

como objetivo efetuar a união entre a ancoragem e o cinto. A figura 1 ilustra, de forma simplificada,

o esquema necessário para proteção contra queda (HONEYWELL, 2012).

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Figura 1: Esquema de proteção contra quedas (HONEYWELL, 2012)

Conforme subitem18.23.3 da norma NR-18, “O cinto de segurança tipo paraquedista deve ser

utilizado em atividades acima de 2,00 metros do piso inferior, em que haja risco de queda do

trabalhador (BRASIL, 2012).

Para trabalhos em altura o principal risco é a queda, porém existem outros aspectos

importantes que devem ser considerados com relação à utilização de EPI (ALTISEG, 2012).

Queda com efeito pêndulo: durante a queda o corpo do trabalhador pode sofrer choque

contra objetos, paredes, estruturas e outros, agravando as lesões ou gerando novos

acidentes.

Suspensão no cinturão durante o período de espera por resgate: a posição final do

corpo, após queda, poderá agravar os ferimentos sofridos, gerar maior emergência,

dificultar as manobras de resgate etc.

Força de impacto: a força exercida sobre o corpo durante a retenção da queda pode

gerar graves lesões devido à rápida desaceleração (grande transferência de energia).

Ergonomia inadequada: o EPI deve se ajustar bem ao corpo para que proporcione

segurança de forma correta e para que não gere desconforto durante a execução das

atividades.

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Ajuste incorreto: a utilização errada do EPI pode gerar desconforto, lesões e até

mesmo perda de função (deixando de oferecer segurança ao usuário).

Os principais sistemas de proteção contra quedas variam conforme o tipo de atividade e os

principais são: linha de vida rígida (permite apenas o deslocamento na vertical), linha de vida

flexível (permite deslocamento vertical e horizontal), com trava-queda tipo retrátil (maior

flexibilidade de movimentação do trabalhador tanto na vertical como na horizontal) e com duplo

talabarte (ALTISEG, 2012).

2.4 Zona de Queda Livre

A zona livre de queda (ZLQ) é definida como a distância mínima medida desde o

dispositivo de ancoragem até o nível do chão ou próximo nível inferior real ou obstáculo

significativo mais próximo (BRASIL, 2012). O conhecimento deste valor é essencial para a escolha

correta dos dispositivos de união e dos equipamentos para proteção contra queda.

O cálculo deve considerar o espaço de 1,0 metro como segurança entre os pés e o nível

inferior e mais 1,5 metro correspondente a distância entre os pés e o ponto de conexão do sistema

com o cinto paraquedista. Além disso ainda devem ser somados os comprimentos do talabarte e do

absorvedor de energia (totalmente aberto), caso este esteja presente (BRASIL, 2012)

Durante a instalação de calhas podem existir outros riscos além da queda em altura. São riscos

adicionais específicos de cada ambiente ou processo de trabalho e que podem comprometer a

integridade física e a saúde do trabalhador. Os riscos adicionais mais observados, são:

soterramentos, temperaturas extremas, riscos mecânicos relacionados com a estrutura do local,

riscos elétricos, corte, solda, líquidos, gases, fumos metálicos, fumaça, queda de materiais e

presença de pessoas não autorizadas, comprometendo o bom andamento da atividade (BRASIL,

2012).

3. METODOLOGIA

A metodologia adotada foi a partir da Análise Preliminar de Riscos (APR), observar a

atividade no local de trabalho. Após concluído o levantamento de riscos e quantificá-los, foram

determinadas medidas de controle e mitigação dos riscos em observância a adequação da norma.

3.1 Caracterização do objeto de estudo

A empresa analisada possui foco na produção e instalação de calhas, rufos, pingadeiras e

tubulações para telhados, sendo confeccionados em chapas de aço. Está localizada na cidade de

Itupeva, interior de São Paulo e atende a clientes residenciais, comerciais e industriais.

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Foram realizadas diversas visitas técnicas ao galpão de produção, onde está instalada a loja, e

a algumas obras onde ocorriam instalações novas de calhas para telhados. O período das visitas

esteve compreendido entre os meses de agosto e novembro de 2012.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Observou-se que a prestação de serviço de instalação de calhas envolve as seguintes etapas:

1. Verificação das condições para trabalho: esta etapa consiste em observar as alturas

envolvidas, complexidade da instalação das calhas, estruturas para acesso e ancoragem

pré-existentes, sistemática para liberação de acesso dos funcionários no cliente,

condições do terreno, existência de riscos adicionais, quantidade de dias e de

trabalhadores necessários etc.

2. Verificação das condições de estruturas pré-existentes: em caso de existência de

pontos de ancoragem, linhas de vida ou outras estruturas os trabalhadores devem

realizar inspeção visual e dialogar com o técnico de segurança (geralmente presente

em clientes industriais - não aplicável para clientes residenciais). Este diálogo permite

avaliar qual será a solução mais adequada para acesso e ancoragem, necessidade ou

não de ensaios não destrutivos, necessidade ou não de parada de produção,

comunicação das atividades aos departamentos (caso de clientes comerciais e

industriais) etc.

3. Preparação: esta etapa consiste em separar e providenciar todas as ferramentas e todos

os equipamentos necessários para instalação, incluindo EPI, EPC, escadas, andaimes

etc. A liberação dos funcionários e todos os documentos necessários também devem

ser disponibilizados neste momento.

4. Verificações: antes de iniciarem as instalações os funcionários da empresa contratada

devem verificar se tudo que foi planejado está disponível e em plenas condições de

uso (especialmente os EPI e EPC), se nenhum material foi danificado durante o

transporte, se a quantidade de trabalhadores necessários está presente e em condições

para realização das tarefas, se as condições climáticas não são impeditivas etc. Vale

destacar que, em caso de necessidade de suspensão de atividade de produção no

cliente, as verificações também devem ser realizadas nos arredores (especialmente nas

áreas abaixo dos telhados) e a certeza de que não será retomada nenhuma atividade até

a conclusão das obras e a retirada de todo o pessoal envolvido na instalação.

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5. Sinalização e comunicação: todo perímetro deve ser sinalizado com fitas e placas

informando os riscos e afastando a circulação de pessoas, especialmente nas áreas

abaixo de onde serão realizadas as instalações. Em caso de cliente comercial ou

industrial a comunicação deve ser realizada de forma ampla, especialmente para que a

produção não seja retomada antes do tempo (nos casos que obrigam parada durante a

instalação).

6. Acesso e ancoragem: os trabalhadores dão início ao acesso e aos procedimentos de

ancoragem planejados.

7. Içamento de materiais e ferramentas: nesta etapa as calhas e as ferramentas são

transportadas ao local de instalação.

8. Processo de instalação: esta etapa consiste na instalação e fixação definitiva das

calhas.

9. Conclusão das instalações: após as instalações todos os materiais e ferramentas são

retirados. Todos os funcionários são retirados do local, assim como as estruturas

utilizadas para acesso e ancoragem. A sinalização também deve ser desfeita e a

comunicação de conclusão da obra deve seguir o mesmo método adotado no início.

Desta forma as etapas 1, 3, 4 e 5 necessitam de medidas de segurança similares ao de uma obra,

enquanto as etapas 2, 6, 7, 8 e 9 necessitam das mesmas medidas, acrescidas dos cuidados típicos

das atividades executadas em altura. A tabela 5 consolida a APR para instalação de calhas em

telhados.

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Tabela 5: Análise preliminar de risco para instalação de calhas em telhados

Análise Preliminar de Risco para Instalação de Calhas em Telhados

Risco Causa Efeito Categorias

Medidas de Controle e Recomendações Freq. Sev. Risco

Queda do

trabalhador

Não

utilização

dos EPI

Morte E IV NT

Capacitação e treinamento constante, diálogos diários de

segurança para conscientização, emissão de PT e OS,

supervisão e fiscalização, advertência em caso de

desobediência etc.

Lesões e

torções C II M

Invalidez

permanent

e

D III NT

Utilização

incorreta

dos EPI

Morte D IV NT Capacitação e treinamento constante, supervisão e

fiscalização, calcular ZLQ, selecionar EPI adequados

etc. Lesões e

torções E II M

Vida útil do

EPI

expirada

Morte C IV NT Inspeção regular dos equipamentos, retirar de serviço

EPI suspeito ou danificado, diálogos diários de

segurança para conscientização, armazenamento e

transporte corretos etc.

Lesões e

torções C II M

Falta de

treinamento Morte C IV NT

Capacitação e treinamento constante, diálogos diários de

segurança para conscientização, emissão de PT e OS,

supervisão e fiscalização etc.

Falha na

ancoragem Morte D IV NT

Selecionar e inspecionar pontos de ancoragens, instalar

ancoragens temporárias quando necessário, consultar

profissional devidamente habilitado etc.

Telhado

escorregadio

ou frágil

Morte C IV NT Capacitação e treinamento constante, diálogos diários de

segurança para conscientização, supervisão e

fiscalização, implementar superfície de trabalho estável

e anti-derrapante etc.

Lesões e

torções D II M

Falha na

utilização de

andaimes e

escadas

Morte C IV NT

Seguir normas e orientações, selecionar profissionais e

fornecedores responsáveis, supervisionar e fiscalizar,

utilização de linha de vida e ancoragens adequadas,

calcular ZLQ etc.

Queda de

objetos

Falta de

comunicaçã

o

Lesões e

torções C II M

Planejar as tarefas antes de se iniciarem as atividades,

fornecer meio de comunicação complementar (se

necessário), sinalizar adequadamente, comunicar as

pessoas que trabalham ao redor etc. Falta de

rodapé nas

plataformas

dos

andaimes

Morte C IV NT

Seguir normas e orientações, selecionar profissionais e

fornecedores responsáveis, supervisionar e fiscalizar etc. Lesões D III NT

Descuido

com

materiais e

ferramentas

Morte C IV NT Guardar materiais distantes das bordas dos telhados,

armazenar ferramentas em bolsas e cintas específicas,

diálogos diários de segurança para conscientização,

supervisionar e fiscalizar etc. Lesões C II M

Doenças

de pele

Radiação

solar

Queimadur

a de pele E II M

Utilização de vestimenta adequada, utilização de creme

protetor (bloqueador solar) etc. Câncer de

pele C III M

Choque

Instalações

elétricas nas

proximidade

s

Morte C IV NT

Planejar as tarefas antes do início dos trabalhos,

sinalizar adequadamente, providenciar isolamento ou

desligamento etc.

Descarga

atmosférica Morte B IV M

Não dar início e interromper atividades quando as

condições climáticas forem inadequadas.

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Fumaça

Chaminés e

exaustores

funcionando

no telhado

Intoxicaçã

o D III NT

Seguir normas e orientações, providenciar eliminação da

fumaça (parada de produção), supervisionar e fiscalizar,

diálogos diários de segurança para conscientização etc.

Embora tenha sido observado que a empresa analisada tenha preocupação com a segurança e

integridade física dos seus funcionários, não foi constatado o detalhamento correto documentação

pertinente a respeito dos riscos adicionais. Existe grande preocupação com o risco de queda de tal

forma que em situações adversas ou inseguras, como: telhado escorregadio, com difícil acesso,

acarretam recusa da prestação de serviço.

Em instalações residenciais é muito comum a utilização de escadas de mão devido,

principalmente, a facilidade de sua utilização e transporte. Como as alturas em instalações

residenciais geralmente não são grandes é possível seguir o disposto no subitem 18.12.5.3, que

limita o tamanho máximo em até 7,00 metros de extensão. Porém, algumas situações, tais como em

residências com mais de um pavimento ou condições que violem ao menos um dos itens contidos na

NR-18 (18.12.5 Escadas), a utilização de andaimes pode ser a solução mais adequada.

A empresa analisada sinaliza as áreas sob onde estão sendo executadas as instalações porém

relatou que muitas pessoas não respeitam a delimitação do local e ultrapassam a faixa, ignorando os

riscos aos quais ficam expostas.

Verificou-se também que, quando existem pontos de ancoragem nos edifícios onde serão

realizadas instalações, o responsável (contratante) apenas informa, porém não são realizados

ensaios não destrutivos. É realizada apenas inspeção visual, por parte dos funcionários da empresa

analisada.

5. CONCLUSÕES

A análise de risco, exigida pela norma, foi realizada por meio da Análise Preliminar de

Risco (APR), o que demandou conhecimento prévio de cada etapa da atividade, tais como os riscos

envolvidos e quais as medidas de segurança devem ser tomadas em cada uma daquelas. Durante a

elaboração da APR verificou-se que, para o serviço instalação de calhas, o risco de queda do

trabalhador é a maior preocupação. As consequências que resultam da queda costumam ser graves e

muitas vezes fatais.

Com relação aos riscos adicionais observou-se que, para a instalação de calhas, os

principais são: telhado escorregadio, acesso muito difícil ou complexo, telhado frágil, condições

climáticas adversas, presença de instalações elétricas e fumaça exalada por chaminés e exaustores.

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A utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para os trabalhos de instalação

de calhas é imprescindível, contudo a escolha correta dos equipamentos adequados às diferentes

situações é igualmente importante e fundamental para garantir a segurança e minimizar os efeitos

em caso de queda.

REFERÊNCIAS

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Seleção e utilização de EPI para trabalho em altura. Curitiba, 2012.

AMORIM, Eduardo Lucena C. de. Apostila de Ferramentas de Análise de Risco. UNIFAL,

Alagoas, 2010.

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Seção IV – Acidentes de Trabalho 2011.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora 35 – Trabalho em

Altura. 2012.

CPNSP, Manual da Comissão Tripartite Permanente de Negociação do Setor Elétrico no

Estado de São Paulo. São Paulo. 2005. P 111 – 139

DE CICCO, Francesco; FANTAZZINI, Mário Luiz. Tecnologias Consagradas de Gestão de

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Engenharia de Segurança do Trabalho. Curitiba, Paraná. UTFPR, 2011.

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Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2013/03/11/numero-de-acidentes-

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específica. Disponível em: <www.sinait.org.br/noticias_ver.php?id=4142> publicada em 04 de

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