dessenssibilização sistemática
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UNIVERSIDAE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SULCENTRO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE PSICOLOGIA
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
CAMPO GRANDE, NOVEMBRO DE 2004.
FABIANE DA FONTOURA MESSIASJEFERSON RENATO MONTREOZOL
KARINA BASTIANE RODRIGUESLILIAN SARMENTO DOS SANTOSLUCILÉA REZENDE ARGUELHO
PRISCILA BOLFER MOURAROSELI KISELAR AGUILERA
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
Trabalho apresentado como requisito de avaliação à disciplina Modificação do Comportamento, do 1o. semestre do 4o. ano do curso de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, ministrada pela professora Norly Cardoso.
CAMPO GRANDE, NOVEMBRO DE 2004.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................p.
1. EXPOSIÇÃO GERAL DO PARADIGMA DA DESSENSIBILIZAÇÃO........p.
2. A TÉCNICA DA DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
2.1. O treino do relaxamento
2.2. A construção de hierarquias
3. ESCALA DE ANSIEDADE SUBJETIVA
3.1. O procedimento da dessensibilização: neutralização da ansiedade pelo relaxamento
3.2. Considerações quantitativas
4. ALGUNS OBSTÁCULOS E ARMADILHAS
4.1. Dificuldades de Relaxamento
4.2. Hierarquias enganosas ou irrelevantes
4.3. Inadequabilidade de imagens
5. AS VARIAÇÕES DA DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
5.1. Variações técnicas do procedimento-padrão da dessensibilização
5.1.1. Auxílios mecânicos
5.1.2. Dessensibilização em grupo
5.2. Respostas alternativas de contra-ansiedade para a utilização com estímulos
imaginários
5.2.1. Respostas eliciadas pelo terapeuta
5.2.2. Respostas desencadeadas pela estimulação elétrica
6. RESPOSTAS ELICIADAS POR IMAGENS VERBALMENTE INDUZIDAS
6.1. Respostas devidas a Manobras Físicas Especiais
6.2. Respostas produzidas pelo alívio da aflição
6.3. Inibição Farmacológica da Ansiedade
7. DESSENSIBILIZAÇÃO COM O USO DE ESTÍMULOS EXTEROCEPTIVOS À
ANSIEDADE
7.1 Dessensibilização ao vivo
7.2. Modelação
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
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INTRODUÇÃO
Trata-se de um dos métodos utilizados para a extinção de respostas de ansiedade
de forma gradativa desenvolvida.
A partir de experiências laboratoriais (Wolpe, 1948, 1952, 1958) produziu-se,
através de choques, neuroses em gatos confinados em gaiolas e verificou-se que as
respostas de ansiedade em relação à gaiola e ao estímulo auditivo que precedia o choque
eram muito resistentes ao processo normal de extinção.
Nem privados do alimento, famintos, os gatos se sentiam tentados a comerem os
alimentos quando estes eram colocados na gaiola experimental, ou seja, a ansiedade
havia produzido a total inibição da resposta adaptativa de comer. Uma vez que os
animais apresentavam, conforme a semelhança em relação à sala que continha as
gaiolas, um menor nível de ansiedade, passou-se a oferecer comida para os gatos nestas
salas, de forma gradativa até que comessem na sala mais próxima em semelhança ao
laboratório. Tendo os animais aceitado a comida, finalmente, esta lhe foi oferecida
dentro da gaiola, tornando possível se descondicionar a ansiedade do estímulo auditivo
que precedia os choques.
A partir dessas observações o autor passou a considerar a possibilidade de buscar
métodos semelhantes à tal técnica no trabalho com seres humanos. Segundo ele, desde o
ano de 1947, vinha procurando mudar o comportamento de pacientes através de
diversas experiências sendo, aquela que mais considerava importante, a "incitação do
comportamento afirmativo" de Salter.
Porém, uma vez que a eliminação ou mudança de uma resposta a um estímulo só
ocorre se, tal estímulo estiver presente na situação de descondicionamento, atos de
afirmação, conforme apresentados na experiência de Salter, só afetariam as respostas de
ansiedade de estímulos que estariam presentes. Um exemplo desta situação seria o medo
de ficar sozinho: esse medo não pode ser diminuído pelo comportamento afirmativo, até
porque a afirmação envolveria a presença de um outro indivíduo.
O autor passou então, a submeter seus pacientes com neuroses nas quais não era
possível a afirmação, a sessões de relaxamento, observando que era necessário um
grande potencial de relaxamento para inibir a ansiedade eliciada por um estímulo
fóbico.
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Assim sendo, começou a submeter aqueles pacientes que haviam adquirido uma
certa facilidade em relaxar, a programas de exposição a estímulos fóbicos graduados ao
vivo e, devido à grande dificuldade da exposição ao vivo, passou, em seguida, a utilizar-
se de situações de exposição imaginária. Neste segundo programa, a magnitude das
respostas de ansiedade diminui progressivamente e os estímulos imaginários que as
eliciava foram aumentados até o potencial eliciador de ansiedade, passando-se, então,
para situações reais.
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1. EXPOSIÇÃO GERAL DO PARADIGMA DA DESSENSIBILIZAÇÃO
Os efeitos autônomos, pulsação, pressão sangüínea, condutância da pele,
batimentos cardíacos, índice respiratório, que acompanham o relaxamento são
diretamente opostos aos efeitos característicos da ansiedade. Esses efeitos podem ser
alcançados, até mesmo, pela simples instrução de relaxamento.
Assim sendo, contrapondo os estímulos eliciadores de ansiedade aos efeitos do
relaxamento, as respostas de ansiedade a tais estímulos diminuem. Porém, da mesma
forma que nas neuroses apresentadas pelos gatos, quando se verificou que a alimentação
para agir quanto a uma resposta de ansiedade, só foi eficaz quando esta era fraca, os
efeitos autônomos do relaxamento no homem só foram capazes de agir contra respostas
de ansiedade relativamente fracas.
Por outro lado, Davison e Rachman, em seus trabalhos com fobias, verificaram
que, quando da aplicação de toda a seqüência do procedimento de dessensibilização em
sujeitos que receberam treino de relaxamento o progresso era significativamente maior
que a outros sem o relaxamento.
A partir da constatação de que um estímulo fraco deixou de eliciar qualquer
ansiedade, pode-se apresentar um estímulo um pouco mais forte ao sujeito relaxado;
esse segundo estímulo eliciará agora menos ansiedade que se apresentado
anteriormente.
Dessa forma, apresentações sucessivas levarão a quantidade de ansiedade eliciada
até zero.
2. A TÉCNICA DA DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
Segundo o autor a primeira tarefa do terapeuta é de corrigir concepções erradas
que o paciente possui. Para isso precisa de uma técnica, porém antes de decidir qual
técnica irá utilizar, o terapeuta considera cuidadosamente todos os problemas
apresentados pelo paciente; se decidir pela dessensibilização sistemática, ela deverá ser
iniciada imediatamente.
A dessensibilização sistemática envolve 4 operações: Treino no relaxamento
muscular profundo; O estabelecimento do uso da escala de ansiedade subjetiva; A
construção das hierarquias de ansiedades; A contraposição do relaxamento aos
estímulos eliciadores de ansiedade das hierarquias.
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2.1. O treino do relaxamento
O método de relaxamento é essencialmente de Jacobson (1938). O relaxamento
é apenas um dos métodos para combater a ansiedade.
O terapeuta indica ao paciente (que já foi informado da terapia de
condicionamento) que será submetido a esse método, para praticar em casa duas vezes
por dia de 15 minutos.
Não existe uma seqüência pré-determinada para o relaxamento, porém o autor
relata que prefere começar pelos braços, prestando atenção às sensações novas
experimentadas e relatando-as.
Depois vai para a cabeça, começando pelos músculos da face. Em seguida, passa
para os músculos da mastigação, os músculos da língua e os faríngeos, músculos do
globo ocular, e o do grupo infrahióide.
Passa então, para os músculos do pescoço e dos ombros. Lembra que são os
músculos posteriores do pescoço que mantêm a postura ereta da cabeça, onde o paciente
é orientado para observar a sua unidade funcional.
Depois vai para os músculos das costas, abdômen e tórax. Diz ser importante
ressaltar que o ritmo respiratório pode ser usado para aumentar o relaxamento.
Chega aos músculos dos membros inferiores: inicia pelos pés e vai para os
artelhos, barriga da perna, músculos peroneal e tibial anterior, quadríceps femorais,
tendões do jarrete, (adutores da coxa e abdutores da coxa). quadríceps femorais, tendões
do jarrete.
Chama atenção para o fato de que um bom relaxamento é obtido pela prática,
porém têm pessoas que conseguem realizar um relaxamento profundo na primeira
tentativa de relaxar. A capacidade relaxamento de um paciente depende de seu grau de
calma que o relaxamento traz a ele, e das impressões obtidas ao observa-lo. Alguns
pacientes relatam calma, tranqüilidade ou sonolência logo no início do relaxamento,
outros relatam que conseguem essas sensações somente após 1 ou 2 sessões.
Os relatos dos pacientes servem como guia de seus estados emocionais,
juntamente com a escala de ansiedade subjetiva.
2.2. A construção de hierarquias
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Hierarquia de ansiedade é uma lista de estímulos sobre um tema, ordenada de
acordo com a quantidade de ansiedade que eliciam. A construção das hierarquias
começa geralmente na mesma época do treino de relaxamento, mas pode ser alterada ou
sofrer adições em qualquer momento.
A reunião de dados e a organização das hierarquias não são feitas no
relaxamento, mas na conversação comum, já que são as reações habituais do paciente a
estímulos que o terapeuta precisa conhecer. Os dados primários possuem 4 origens
principais:
O histórico do paciente;
Reações ao questionário Willoughby (revela ansiedades em contextos
interpessoais);
Um Inventário de Temores;
Investigações especiais das situações em que o paciente sente ansiedade
imprópria.
É comum pedir ao paciente que relacione as situações, pensamentos, ou
sentimentos que o perturbe, que lhe cause medo, embaraço ou aflição. Para isso não é
necessário que o paciente tenha experimentado cada situação, basta imaginá-la. Através
de perguntas feitas pelo terapeuta, o paciente deve responder imaginando-se na situação
desencadeante de suas perturbações neuróticas. Ressalta que a disposição temporária de
uma configuração de um estímulo raramente afeta sua resposta.
Depois que todas as origens de perturbação neurótica forem relacionadas, o
terapeuta as classifica por temas; geralmente há mais de um tema, que na maioria dos
casos são bastante óbvios.
Na construção de uma hierarquia não é necessário que o paciente tenha
realmente experimentado cada situação para que ela possa ser incluída. Deve-se
imaginar a situação caso ele não tenha passado por ela.
As dificuldades na construção de hierarquia podem aparecer de algumas formas,
a seguir explicadas:
A dessensibilização é relevante para os grupos (categorias) hierárquicos
verdadeiros (aqueles em que as situações tenham alguma relação com determinada
fobia). Porém, em relação a grupos onde a apreensão a algumas situações da vida é um
pouco maior que o normal, onde o temor podia ser razoável, a técnica sugerida pelo
autor é a parada de pensamento é a mais importante técnica a ser utilizada. Nesses
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casos, o temor frente a alguma situação relaciona-se sempre a alguma outra situação
ruim da vida. Assim, por exemplo, uma mulher com medo da morte e o medo de perder
a razão era conseqüência de seus sentimentos estranhos e incontroláveis que
caracterizavam sua neurose. Isso foi superado ao demonstrar que era a hiperventilação
que poderia precipitar muito de seus sintomas e que sua condição não estava
relacionada à insanidade.
Em alguns grupos estímulos os itens são muito vagos para serem classificados
hierarquicamente. Na verdade, os itens são apenas exemplificações que irão gerar
situações estimuladoras específicas e só depois das comunicações entre terapeuta e
paciente é que serão classificadas.
Alguns grupos também os itens podem não representar no geral a Fobia que lhe
é indicada. Por exemplo, em um grupo de claustrofobia, os itens representavam apenas
constrição de espaço. Porém, após indagações posteriores da paciente, percebeu-se que
a ansiedade era uma função inversa do tamanho do espaço fechado, e uma função direta
da duração do confinamento. Em outro grupo, de acrofobia, os itens expressavam
situações concretas. Porém, não relacionavam o medo às altitudes que cresciam, quando
era agravado o temor. Em outros grupos o que ocorre é uma a produção de uma extensa
hierarquia, onde são divididos em estímulos fortes e endógenos e estímulos fracos e
exógenos (por exemplo, em um grupo de doença e suas associações). Em outros casos
encontram-se também dimensões dentro de uma hierarquia, tendo variáveis que
controlavam a intensidade da reação.
Uma outra dificuldade na construção de hierarquias, é que às vezes só depois de
iniciadas as tentativas de dessensibilização que se tornam evidentes os problemas mais
difíceis. Assim, é necessário que o terapeuta procure itens ainda mais fracos. Um
exemplo disso é de uma paciente que tinha desenvolvido severas reações de ansiedade à
visões de automóveis que se aproximavam após acidente ocorrido a três anos.
Acreditou-se que a paciente manifestava seus primeiros níveis de ansiedade quando um
carro se aproximava a dois quarteirões. Porém, ainda nessa distância sua ansiedade era
muito grande para ser inibida pela neutralização do relaxamento. Percebeu-se
posteriormente com as indagações, que a paciente apresentava ansiedade considerável
mesmo com a possibilidade de uma viagem por carro. A paciente não considerava esta
quantidade de ansiedade digna de registro.
Outro exemplo é de uma paciente com hierarquia de ansiedade baseada no tema
de solidão. Pensou-se que o item mais fraco era estar em casa apenas com sua filha, mas
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para se obter um ponto mais fraco de ansiedade foi necessário acrescentar itens em que
ela estivesse com dois ou mais acompanhantes.
Um ponto importante na construção de hierarquia é a necessidade dos itens de
ter progressão uniformemente espaçada. Se os itens forem muito semelhantes, o tempo
será desperdiçado. Se os itens adjacentes também se diferirem demais quanto ao
potencial eliciador da ansiedade, o progresso cessará durante a mudança de um menor
para outro maior.
Uma hierarquia de claramente quantificável é de grande vantagem. No exemplo
de uma mulher com medo de viajar sozinha estava claro que o ponto central de sua
incapacidade era estar sozinha fora de casa. Como iria ser difícil quantificar o grau de
solidão em termos de distância num contexto de viagem, utilizou-se o elevador como
veículo de sua separação do mundo exterior.
Quando a hierarquia não depende de uma dimensão independente exteriormente
mensurável, mas sim de uma hierarquia baseada em sentimentos de rejeição, por
exemplo, torna-se muito mais difícil diferenças espaçadas com razoável uniformidade.
Nesses casos é utilizadas a escala subjetiva de ansiedade. É inevitável o material
heterogêneo nas hierarquias desse estilo, sendo impossível se abstrair de qualquer uma
delas um fator comum que possa ser variado quantitativamente.
3. ESCALA DE ANSIEDADE SUBJETIVA
É necessário ter maneiras seguras para medir a magnitude das respostas de
ansiedade do paciente a estímulos específicos. Uma dessas maneiras é a forma de uma
escala apresentada pelo terapeuta, onde a pior ansiedade experimentada ou imaginada é
atribuída ao número 100, e o estado de absoluta calma atribuído ao número 0. A partir
disso, pede-se ao paciente que se situe nessa escala, atribuindo um número para si no
determinado momento. A unidade é o sud (unidade subjetiva de perturbação). Essa
atividade se torna corriqueira no desenvolvimento das sessões.
3.1. O procedimento da dessensibilização: neutralização da ansiedade pelo
relaxamento
Na primeira sessão, pede-se ao paciente que imagine algumas cenas e, quando
estas estiverem claras em sua mente, levante o dedo indicador dois centímetros.
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Concomitantemente, o terapeuta procede produzindo um estado de relaxamento pela
utilização de palavras, no sentido de tranqüilizar o paciente para que todos músculos de
seu corpo progressivamente relaxem e, conseqüentemente, acalme-se. Caso o paciente
continue com muita ansiedade, apesar dos esforços de relaxamento direto, pode-se
utilizar outros artifícios imaginários, buscando o relaxamento.
As observações feitas durante a primeira sessão freqüentemente determinam os
detalhes de técnicas adequadas às necessidades particulares do paciente. Há rotina para
introduzir cenas durante a primeira sessão de dessensibilização; a primeira cena é
neutra, ou seja, não se espera que o paciente reaja ansiosamente a ela.
O método mais utilizado para introduzir cenas é aquele descrito por Wolpe, em
1954, em que se pedia ao paciente que imaginasse a cena, e então lhe dizia para
esquecer da mesma depois de algum tempo; posteriormente, era pedido que levantasse o
dedo se, a cena vista lhe causasse um mínimo de ansiedade.
Tal procedimento tinha como desvantagem o fato de que o terapeuta não saberia
quando a visualização realmente começava, podendo assim haver variações na duração
de uma cena de uma apresentação para outra.
No método que tem sido consistentemente usado e ensinado, pede-se ao paciente
que imagine uma série de cenas que lhe são descritas. Ele deve erguer seu dedo
indicador esquerdo cerca de dois centímetros no momento em que a imagem estiver
claramente formada. O terapeuta apresenta então a cena e a deixa permanecer durante
exatamente o tempo que desejar – geralmente 5 a 7 segundos.Ele a encerra, e então
pergunta ao paciente quanto ela o perturbou em termos de suds (unidade subjetiva de
perturbação). Em sessões seguintes, o paciente já adquire o hábito de, ao final, relatar a
quantidade de suds. Quaisquer desvantagens são compensadas pela falta da necessidade
de permitir “tempo suficiente” para ter certeza de que o paciente visualizou a cena, e
pela regeneração imediata e precisa da quantidade de perturbação.
Os procedimentos em sessões posteriores decorrem de forma muito semelhante à
primeira, onde as preliminares diminuem progressivamente de tempo. As cenas podem
variar no grau de ansiedade apresentado pelo paciente, que são trabalhados no decorres
das sessões. Deve-se sempre trazer, no começo da sessão, cenas que anteriormente
apresentaram baixo nível de ansiedade. A cena deve ser repetida e trabalhada nas
sessões até que a ansiedade seja inteiramente eliminada.
3.2. Considerações quantitativas
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Há grande variação entre quantidade de temas, cenas e apresentações a serem
dadas numa sessão, sendo habitualmente utilizadas de três a quatro cenas. Esta variável
dependerá, principalmente, da disponibilidade de tempo e resistência do paciente,
aumentando consecutivamente no decorrer da terapia. A duração de uma sessão de
dessensibilização é de 15 a 30 minutos.
Utiliza-se, geralmente, apenas estímulos fracos eliciadores de ansiedade. A
ansiedade decresce de sessão para sessão.
A duração de uma cena é geralmente de 5 a 7 segundos, variando de acordo com
as circunstâncias abrangidas. Quando o terapeuta tiver motivo especial para suspeitar
que uma cena possa eliciar uma forte reação, ele a apresenta de maneira cautelosa e
breve, durante 1 ou 2 segundos. Na maioria das vezes, as primeiras apresentações são
breves, e as posteriores mais longas.
Variável também se faz entre o intervalo das cenas, ente 10 a 20 segundos. Em
exceção, o intervalo de 1 minuto ou mais quando o paciente estiver perturbado pela
cena precedente, sendo necessário certo tempo para recuperar a calma, tranqüilidade e
relaxar.
O número de sessões dependerá da quantidade de apresentações necessárias a
fim de superar as fobias do paciente, levando em conta a superação da gravidade e o
grau de generalização ou envolvimento de estímulos relacionado a cada uma.
As sessões são dadas de 2 a 3 vezes por semana, não importando excessivamente
o espaçamento entre elas.
Conhecendo as relações quantitativas é possível predizer a que estágio certa
classe de progressos será mais lenta, e, mais especificamente, para calcular, depois que
o tratamento estiver em desenvolvimento para fornecer dados essenciais, quanto
tratamento a mais será necessário para superar uma determinada fobia.
4. ALGUNS OBSTÁCULOS E ARMADILHAS
Em alguns casos, apesar do terapeuta ter efetuado as preliminares de maneira
adequada, a dessensibilização sistemática pode não se processar de acordo com as
expectativas, ou ainda, o paciente não experimentar decréscimo de ansiedade, ou não
registrar melhoras em suas reações diante de situações reais que corresponderiam ao seu
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progresso durante as sessões. É importante, portanto, que o terapeuta verifique onde
estão as possíveis falhas para, então, corrigí-las.
O autor aponta três motivos mais freqüentes para o insucesso da
dessensibilização: as dificuldades no relaxamento, hierarquias enganosas ou irrelevantes
e inadequabilidade de imagens.
4.1. Dificuldades de Relaxamento
Muitas vezes o paciente pode aparentar estar completamente relaxado quando,
na verdade, não está. Isto pode ocorrer quando o paciente não está suficientemente
consciente das indicações interiores de tensão, ou simplesmente não as considera
importantes, ou, ainda, pode ter passado muito tempo sem experimentar um estado de
tranqüilidade, de forma que qualquer queda de tensão lhe pareça um verdadeiro estado
de relaxamento. Diante disso, a utilização de uma escala subjetiva de ansiedade poderá
diminuir a possibilidade desse tipo comunicação errônea.
O diagnóstico pode ser feito pelo controle psicofisiológico, para o qual o
indicador mais simples é a “regeneração auditiva dos potenciais musculares”. Assim, se
faz necessário um acurado interrogatório do paciente e, a partir deste, o terapeuta deverá
intensificar seus esforços, a fim de melhorar o relaxamento do paciente através de mais
treinos diretos.
Há, no entanto, situações em que os pacientes, apesar de esforçarem-se para
relaxar seus músculos e até conseguirem em um determinado grau, ainda se mantém
receosos e os componentes autônomos de ansiedade permanecem inalterados ou ainda
aumentados. Para esses casos as soluções poderão variar desde o modo do terapeuta se
dirigir ao paciente e deixá-lo calmo, dando-lhe liberdade de acalmar-se à sua própria
maneira, ou através da dessensibilização prévia, chegando-se, ainda, à necessidade do
uso de drogas tranqüilizantes e hipnose, dentre outros métodos para a obtenção de um
relaxamento completo e adequado.
4.2. Hierarquias enganosas ou irrelevantes
Outro motivo de equívoco e insucesso da dessensibilização sistemática pode estar na
ilusão gerada quando o temor do paciente ocorre em contextos que o ocasionam, mas
não são suas verdadeiras origens. Esses casos podem freqüentemente tomam forma de
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fobias que, na verdade, devem ser consideradas como reações simbólicas verdadeiras,
quando compreendemos o termo “simbólico” semanticamente ou sob o prisma da teoria
da aprendizagem.
4.3. Inadequabilidade de imagens
Muitos pacientes são capazes de se projetar em situações eliciadoras de ansiedade
imaginadas de maneira que evoque alguma coisa de realidade das situações e uma
quantidade correspondente de ansiedade. Outros são incapazes de conjurar imagens,
visuais ou auditivas, de qualquer forma em resposta às necessidades do terapeuta e,
embora as imagens possam ser formadas, elas não têm sentido de realidade para o
paciente. É diante de tais situações que a ação tomada pelo terapeuta, ficando apenas no
nível verbal, leva ao domínio da dificuldade.
Assim, Darwin e McBrearty apud Wolpe (1976), verificaram que em temas de
ansiedade, há um progresso mais rápido durante a dessensibilização se o paciente
descrever as cenas ao invés de simplesmente imaginá-las, havendo, em certos casos, a
necessidade de estímulos reais ou de suas representações físicas para sanar tais
dificuldades e garantir o sucesso da técnica da dessensibilização.
5. AS VARIAÇÕES DA DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
Se a dessensibilização convencional não apresentar bons resultados ou mostrar-
se inadequada em algum caso, pode-se utilizar tentativas diferentes para efetuar o
principio de inibir pequenas “doses” de ansiedade. Técnicas de variações de
dessensibilização têm sido feitas quando a convencional não tem sucesso ou como
experimentos.
As variações de dessensibilização podem ser divididas em três grupos: variações
técnicas do procedimento convencional de consultório, alternativa de contra-ansiedade
para uso com os estímulos imaginários e métodos que contêm a utilização de origens
exteroceptivas de ansiedade.
5.1. Variações técnicas do procedimento-padrão da dessensibilização
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A essência da dessensibilização sistemática consiste na apresentação de
estímulos imaginários gradativos a um paciente relaxado. Existem maneiras de executá-
la que reduzem a quantidade de tempo que o terapeuta gasta com seus pacientes. São
eles: ter parte do procedimento automatizado para que ocorra sem a presença física do
terapeuta e dessensibilização de pacientes a temores neuróticos em grupo.
5.1.1. Auxílios mecânicos
Lang (1966) foi o primeiro a demonstrar que a dessensibilização poderia ser
conseguida com sucesso através de uma máquina. Para isso, utilizou dois gravadores
(um com itens a hierarquia e outro com instruções do relaxamento) que o paciente
controla para obter o relaxamento, repetição, mudança ou cessação da cena.
A partir das experiências de Lang, Migler e Wolpe (1967) usaram um único
gravador modificado que possibilitou ao paciente controlar a sessão. Ao preparar a fita
para a dessensibilização, Migler e Wolpe usaram a voz do paciente. As operações
foram:
As instruções de relaxamento foram gravadas. Instruiu-se o paciente que, ao
usar esta parte da fita, pressionasse o interruptor de pausa depois de cada
parte anatômica enumerada e se concentrar nesta parte até que ela estivesse
totalmente relaxada, e então deixar a fita rodar.
Uma lâmina de metal foi aderida à fita no fim dessas instruções de
relaxamento. Uma lâmina semelhante vinha depois de cada cena gravada.
Pouco além da lâmina de metal (pouco antes da primeira cena) havia
instruções de relaxamento.
Seguindo essas instruções quanto ao relaxamento, a fita continha instruções
para visualizar a primeira cena da hierarquia. O paciente foi instruído a
pressionar o interruptor de pausa neste momento até que a visualização se
tornasse clara.
Dez segundos de silêncio gravados seguiram esta instrução, permitindo
visualização clara. O silêncio foi encerrado pelas palavras: “Pare de
visualizá-la. Aperte o botão de repetição se a cena de alguma forma o
perturbou”. Este botão rebobinaria a fita até a lâmina de metal para que as
breves instruções quanto ao relaxamento, a cena e o restante da seqüência se
repetissem. Se o botão não fosse pressionado, o gravador continuaria até a
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lâmina de metal seguinte que, como a primeira, era seguida de instruções
quanto ao relaxamento, cena 2 e assim por diante.
Esses arranjos elaborados tornam mais fácil ao paciente levar adiante a
dessensibilização. Denholtz (1971) descreveu o uso doméstico de gravadores de fita
tanto para o treino de relaxamento como para a apresentação de cenas eliciadoras de
ansiedade sendo que cada lição de relaxamento é gravada durante a sessão de
tratamento.
5.1.2. Dessensibilização em grupo
Se diversos pacientes sofrem da mesma fobia, pode se esperar que, havendo sido
treinados quanto ao relaxamento, eles possam ser dessensibilizados simultaneamente
mesmo que os “graus” de suas hierarquias na o sejam idênticos, desde que o terapeuta
tenha se assegurado de que cada cena tenha deixado de eliciar ansiedade em todos os
pacientes antes de prosseguir par a seguinte.
Cada paciente é visto primeiro individualmente para que o terapeuta conheça seu
histórico, execute uma análise comportamental e decida quanto às metas da terapia. A
terapia em grupo é recomendada quando o paciente tem problemas especiais quanto a
interações pessoais. Cinco a sete pacientes e um ou dois terapeutas tomam parte do
grupo. Uma vantagem da estrutura de grupo é que o terapeuta pode observar o
comportamento do paciente em resposta a várias pessoas.
As primeiras sessões (cerca de duas horas) são dedicadas á familiarização. O
terapeuta assume o papel de facilitador para iniciar o desenvolvimento de uma
atmosfera interativa adequada. Pela quinta reunião, as sessões duram entre três e cinco
horas, uma vez que cada sessão deva envolver cada paciente de concentrada, é
necessário permitir aproximadamente 45 minutos por paciente. Os procedimentos mais
usados são: modelagem, ensaio comportamental e a dessensibilização ao vivo.
5.2. Respostas alternativas de contra-ansiedade para a utilização com estímulos
imaginários
5.2.1. Respostas eliciadas pelo terapeuta
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A entrevista psicoterápica elicia respostas emocionais em muitos pacientes, que
geralmente são positivas. Quando isso ocorre, ela é capaz de inibir respostas
relativamente fracas de ansiedade que são verbalmente eliciadas durante a entrevista.
Os efeitos a emoção eliciada pelo terapeuta são inadvertidos e não são
sistemáticos. É, contudo, fazer dela um uso sistemático.
5.2.2. Respostas desencadeadas pela estimulação elétrica
a) Dessensibilização baseada na inibição da ansiedade através de uma resposta motora
condicionada.
Em 1948, Mowrer e Viek sugeriram que se o estímulo desagradável aplicado a
um animal for constantemente interrompido quando o animal executar uma resposta
motora definida, com a repetição da estimulação o animal desenvolverá uma inibição
condicionada de respostas autônomas que são eliciadas ao mesmo tempo.
Na aplicação clinica desta descoberta, ao paciente com uma hierarquia de
ansiedade é solicitado a imaginar uma cena de maneira habitual e pede-se que indique
com um sinal quando a imagem estiver clara. O terapeuta aplica então um choque
relativamente brando em seu antebraço, em resposta ao qual o paciente flexiona o braço,
tendo sido previamente instruído no sentido de fazê-lo.
A técnica consiste em envolver o antebraço do paciente com duas faixas de gaze
(pode-se usar eletrodos ao invés das faixas), com 38 mm de largura, uma pouco acima
do pulso e a outra cerca de 8 cm acima. Cada faixa é fixada ao local por um prendedor
de aço ligado à origem da corrente, uma pilha cuja potência é controlada por um
aparelho. As pulsações são dadas com o terapeuta pressionando um pequeno interruptor
durante cerca de meio segundo. O nível correto da corrente para o paciente é aquele que
é fortemente sentido sem ser aversivo. Em alguns casos uma pulsação muito fraca é
suficiente, em outros, nenhum efeito terapêutico ocorre até que o estimulo elétrico seja
forte o bastante para produzir uma contração rigorosa dos músculos.
Uma vez que o nível apropriado de choque esteja estabelecido, o procedimento
de dessensibilização é iniciado. Primeiramente, o item mais fraco da hierarquia é
apresentado sozinho uma ou duas vezes à imaginação do paciente para determinar
quantos suds ele elicia. Pede-se então, ao paciente, que imagine a cena e que avise, com
o dedo indicador, quando ela estiver bem clara. Nesse ponto, o terapeuta administra dois
choques de força predeterminada separados por cerca de um segundo. Depois e cinco
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segundos, o paciente é instruído a imaginar a cena, sinalizando como antes. Depois de
uma serie de 5 a 20 cenas, é feita uma verificação quanto ao estado de sua reação à cena
apresentando-a sem nenhum choque.
6. RESPOSTAS ELICIADAS POR IMAGENS VERBALMENTE INDUZIDAS
Há três métodos que podem ser destacados: imagens emotivas, ira induzida e
sugestão direta. No primeiro, o estado emocional que age contra a ansiedade é eliciado
pelo cenário em que os estímulos eliciadores de ansiedade são introduzidos e nos dois
últimos, isso depende das quantidades verbais repetidas e insistentes, e o cenário é
principalmente um fundo.
Imagens emotivas: procedimento descrito por Lazarus e Abramovitz (1962), no
qual os estímulos hierárquicos são apresentados ao paciente numa situação
imaginária em que outros elementos eliciam respostas antagônicas à ansiedade.
Estas respostas tomam lugar, portanto do relaxamento como a origem de
inibição da ansiedade.
Ira induzida: procedimento constatado por Goldstein, Serber e Piaget (1970),
sendo eficaz em seis entre dez casos, consistindo em conseguir que o paciente
uma imagens eliciadoras de ira (aumentadas por um comportamento vocal e
motor apropriado) as cenas eliciadoras de temor imaginadas (ou estímulos reais
no consultório). Mais tarde, o paciente usa as imagens para eliciar a ira em
situações da vida real que produzem temor espontaneamente. Os pacientes se
tornam indiferentes aos estímulos anteriormente perturbadores, apoiando o
ponto de vista de que o processo terapêutico essencial é o condicionamento da
inibição de respostas de temor a determinados estímulos.
Sugestão Direta: Em 1972, Rubin descreveu uma variação da dessensibilização
sistemática que depende da indução de diversas respostas, geralmente incluindo
o relaxamento, através de forte sugestão verbal. Um aspecto a ser destacado é de
como o paciente adquire seu hábito indesejável através da aprendizagem e como
os estímulos em questão, quando justapostos a uma resposta diferente, virão a
eliciar a última, ao invés.
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6.1. Respostas devidas a Manobras Físicas Especiais
Este tópico cobre práticas associadas principalmente com o Extremo Oriente –
exercícios orientais de defesa, meditação transcendental e a ioga.
Exercícios de Defesa Orientais: se um terapeuta identificar um
contracondicionador que seja idiossincrático a um paciente, é possível que isto
venha a ter uma eficácia terapêutica especial, sendo assim, relata-se que um
homem que praticava rotineiramente o karatê para manter-se em boa forma
física teve seu temor de voar tratado fazendo-o imaginar situações de vôo em
ordem hierárquica e, a cada apresentação, empenhando-se em vigorosos
exercícios de karatê. Em duas sessões, a ansiedade quanto a todos os itens foi
reduzida a zero.
Ioga: como as práticas de ioga levam ao controle das respostas autônomas, seu
potencial para romper hábitos emocionais impróprios é claro.
Meditação Transcendental: em 1970, Wallace relatou sobre mudanças
fisiológicas durante a meditação transcendental, incluindo o índice metabólico
diminuído, a resistência da pele aumentada e os batimentos cardíacos
diminuídos.
6.2. Respostas produzidas pelo alívio da aflição
Estes substitutos para o relaxamento no contexto da dessensibilização
sistemática padrão se desenvolveram do paradigma do alívio da ansiedade que teve seu
uso original para superar a ansiedade em estruturas da vida real:
Alívio da aversão: este método foi empregado por Thorpe e outros em 1964,
consistindo em apresentar um estímulo fóbico ao sujeito no momento que ele
pressiona um botão para interromper uma desagradável desestimulação elétrica
contínua.
Alívio Respiratório: pede-se ao paciente que retenha voluntariamente sua
respiração o tanto quanto puder, e que indique quando já não puder mais mantê-
la. Nesse exato momento, o estímulo fóbico é apresentado à sua imaginação, de
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forma tal que o alívio advém ao reassumir a respiração possa competir com a
ansiedade.
6.3. Inibição Farmacológica da Ansiedade através da Inalação de Dióxido de
Carbono-Oxigênio
O poderoso efeito que o dióxido de carbono-oxigênio tem em reduzir a
ansiedade difusa,fez com que ele parecesse ser um agente potencialmente valioso pata
superar também hábitos específicos de ansiedade. Em 1967, Philpott relatou que fora
capaz de usar gás desta maneira apresentando estímulos hierárquicos, enquanto o
paciente inalava o gás de forma a manter um grau moderado de hiperventilação, durante
vários segundos.
7. DESSENSIBILIZAÇÃO COM O USO DE ESTÍMULOS EXTEROCEPTIVOS
À ANSIEDADE
O estímulo exteroceptivo é aquele que vem de fora do organismo responsivo. Os
estímulos exteroceptivos empregados na dessensibilização são os próprios objetos
temidos ou as representações pictóricas deles. Os procedimentos para se fazer isso são:
dessensibilização ao vivo: os estímulos são apresentados ao paciente em quantidades
gradativas nas linhas gerais da dessensibilização convencional; e modelação: o paciente
observa um sujeito destemido fazer um contato cada vez mais íntimo com o objeto
temido.
7.1 Dessensibilização ao vivo
A dessensibilização ao vivo tem sua principal indicação como método para os
pacientes em que os estímulos imaginários são inúteis para a dessensibilização porque
não excitam respostas emocionais semelhantes àquelas produzidas pela situação real. O
primeiro relato de terapia ao vivo foi no tratamento de dois agorafóbicos tratados por
Meyer em 1957.
Essa técnica é, geralmente, bastante direta, embora inevitavelmente menos
conveniente que a convencional. Na maioria das vezes é suficiente depender dos
estímulos interpessoais ou outros “naturais” para eliciar respostas emocionais inibidoras
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de ansiedade, mas o relaxamento ou outras medidas como o condicionamento de alivio
de ansiedade poderão ser necessárias. O procedimento geralmente toma forma de
exposições gradativas do paciente a estímulos eliciadores de temor verdadeiro enquanto
o terapeuta fica presente com os papéis de orientador e inibidor de ansiedade.
7.2. Modelação
Num primeiro estudo registrado (Bandura, Grusec e Menlove, 1967), crianças
muito pequenas com medo de cães foram designadas a uma de quatro condições de
tratamento. Em oito breves sessões, um grupo observava uma criança modelo destemida
exibindo interações progressivamente mais eliciadoras de temor com um cachorro. O
comportamento de aproximação modelado foi apresentado num contexto de festa
altamente positivo, destinado a agir contra as reações de ansiedade. Depois que o grupo
jovial estava bem encaminhado, um menino destemido de 4 anos de idade entrou na sala
conduzindo um cachorro, e executou seqüências de interações preparadas de antemão
com o cachorro durante aproximadamente três minutos em cada sessão. Outras
seqüências foram dadas em cada sessão subseqüente, as propriedades provocadoras de
temor das exibições modeladas foram gradativamente aumentadas de sessão para sessão
variando simultaneamente a retenção física do cachorro, a diretividade e intimidade das
reações da aproximação e a duração da interação entre o modelo e o cachorro.
Um segundo grupo de crianças observava as mesmas execuções gradativas, mas
fora do contexto da festa. Um terceiro grupo de crianças observou o cachorro no
contexto positivo, mas como modelo ausente. Um quarto grupo participou das
atividades positivas, mas não foi exposto ao cão ou às representações modeladas. O
comportamento fóbico das crianças foi medido separadamente diante de dois cães
diferentes seguindo a conclusão do programa de treinamento e novamente um mês
depois.
Os dois grupos de crianças que tinham observado o modelo interagir de forma
não-ansiosa com o cachorro demonstraram um comportamento de aproximação
significativamente maior quanto ao animal experimental e quanto a um não conhecido
que as crianças no grupo de exposição ao cachorro ou as do grupo controle, que não
diferiram umas das outras. O contexto da festa acrescentou apenas ligeiramente aos
resultados favoráveis da modelação. Enquanto que 67% das crianças recebendo o
tratamento de modelação foram eventualmente capazes de permanecer sozinhas na sala
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confinadas com o cão, isto foi conseguido por relativamente poucas crianças nas duas
condições de controle.
CONCLUSÃO
As técnicas de terapia e modificação do comportamento que os profissionais da
saúde dispõem atualmente lhes permitem abordar os distúrbios mentais com uma
notável segurança por possuírem meios eficazes para o seu tratamento. No entanto, até a
primeira metade do século XX, prevalecia o enfoque psicodinâmico e o tratamento
psicanalítico, baseado nas concepções de fobia de acordo com o modelo proposto por
Freud que considerava a fobia um sintoma neurótico - expressão simbólica de conflitos
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inconscientes de natureza edípica, nos quais acabaram predominando de forma
desadaptativa, mecanismos de defesa, como a repressão, o deslocamento, a
simbolização e a evitação.
Wolpe foi um dos pioneiros no uso da terapia comportamental. Com base em
sua teoria da inibição recíproca desenvolveu, a partir de experiências com animais, uma
técnica eficaz para o tratamento de fobias que denominou de dessensibilização
sistemática. Nesta técnica o paciente percorria uma seqüência de situações que
produziam medo ou ansiedade em graus crescentes, associando relaxamento muscular,
ou mantendo na sua mente imagens de natureza oposta aos sintomas (inibição recíproca)
até que estes desaparecessem. A exposição era planejada para ser feita de forma
gradual.
Em síntese, a dessensibilização sistemática consta de quatro passos principais:
Treinamento no emprego da escala "SUDS" (escala que gradua as situações de
estímulos segundo seu potencial provocador de ansiedade).
Uma completa análise comportamental e o desenvolvimento de uma hierarquia
de medos.
Treinamento do relaxamento muscular profundo ou algum outro procedimento
de relaxamento.
A combinação da exposição, na imaginação, à hierarquia de medos junto com o
estabelecimento de uma resposta de relaxamento profundo no paciente, ou seja,
a dessensibilização propriamente dita.
BIBLIOGRAFIA
WOLPE, Joseph. A prática da Terapia Comportamental. 3a. ed. Editora Brasiliense. São
Paulo, 1976.
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