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Um Homem Marcado por ETs [Segunda edição] 41 Introdução N ão me lembro do dia, mas me recordo que foi nas primeiras horas da madrugada de uma segunda-feira do mês de abril de 1951. Encontrava-me na companhia de Zeno Zanchetta, que residia em Chapecó (SC), e Guilherme Conte, hoje já falecido. Vínhamos a pé das casas de nossas respectivas namoradas. O incidente começou em um pequeno trecho da estrada. O lugar era ermo e tinha o nome de Barrinha, porque é ali que o córrego Paiol Novo desemboca no Rio Carreteiro, então em terras do município de Getúlio Vargas e ora pertencentes à cidade de Tapejara, ambos no Rio Grande do Sul. Caminhávamos de volta às nossas residências, falando sobre coisas de pouca importância, quando vimos, do outro lado do rio, em terras da família de Zeno, um poderoso facho de luz. A “coisa” emergia do meio de um mato de árvores altas e, com movimentos pendulares, projetava-se à grande altura, produzindo um efeito extraordinário e despertando-nos certa sensação de medo. Um pouco mais adiante, numa casinha à margem da estrada, velava-se um natimorto da família amiga de José Carlin Artuso. Pois aquela coisa começou a nos inquietar muito mais quando frenteamos a capela: do outro lado do rio, ainda em terras da família Zanchetta, um luminoso corpo ovalado, de tamanho variável – porque, de Sonda ufológica ou uma nave extraterrestre?

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Um Homem Marcado por ETs [Segunda edição]

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Introdução

N ão me lembro do dia, mas me recordo que foi nas primeiras horas da madrugada de uma segunda-feira do mês de abril de 1951. Encontrava-me na companhia de Zeno Zanchetta, que residia em Chapecó (SC), e Guilherme Conte, hoje já falecido.

Vínhamos a pé das casas de nossas respectivas namoradas. O incidente começou em um pequeno trecho da estrada. O lugar era ermo e tinha o nome de Barrinha, porque é ali que o córrego Paiol Novo desemboca no Rio Carreteiro, então em terras do município de Getúlio Vargas e ora pertencentes à cidade de Tapejara, ambos no Rio Grande do Sul.

Caminhávamos de volta às nossas residências, falando sobre coisas de pouca importância, quando vimos, do outro lado do rio, em terras da família de Zeno, um poderoso facho de luz. A “coisa” emergia do meio de um mato de árvores altas e, com movimentos pendulares, projetava-se à grande altura, produzindo um efeito extraordinário e despertando-nos certa sensação de medo. Um pouco mais adiante, numa casinha à margem da estrada, velava-se um natimorto da família amiga de José Carlin Artuso.

Pois aquela coisa começou a nos inquietar muito mais quando frenteamos a capela: do outro lado do rio, ainda em terras da família Zanchetta, um luminoso corpo ovalado, de tamanho variável – porque, de

Sonda ufológica ou uma nave

extraterrestre?

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forma estranha, ora se fazia relativamente grande, ora pequeno –, saiu do mato em que antes víramos o facho de luz. Surgiu e, a um ou dois metros de altura do solo, deu-se a “passear” ligeiro entre as muitas árvores do extenso potreiro ali existente, contornando-as inteligentemente, de maneira como se as enxergasse. Em seguida, a bola de luz dirigiu-se ao casarão da família Zanchetta, ali efetuando diversas evoluções.

Num de seus muitos movimentos, sobrevoou aquela imensa casa residencial, iluminando-a de tal maneira que pudemos ver, por uma janela aberta no sótão, um feixe de vassouras preso a um caibro daquele comparti-mento. Minutos depois, o corpo luminoso rumou para um córrego seco, no sopé de um morro coberto de mata branca e pinheiros, onde havia um pequeno canavial. E foi lá que a coisa diminuiu de tamanho a ponto de assemelhar-se a um pirilampo, pois piscava como aquele inseto.

Pouco depois, após termos percorrido mais um trecho de estrada, para-mos defronte ao prédio da escola local, Barão de Cotegipe. Do outro lado do rio havia um paiol para a guarda de cereais. Então, para aumentar muito mais nosso descontrole emocional, aquela bola de luz fez-se maior, saiu do canavial do córrego seco, elevou-se e passou a “picar” nitidamente, como uma bola de pingue-pongue. Então veio até perto de nós, a uns 80 m de distância, parando junto ao citado paiol e iluminando-o fortemente, fazendo com que eu e os meus companheiros perdêssemos a fala. Trancara-nos a garganta e tolhera-nos a língua aquela estranha coisa. Sem voz e paralisados, ali permanecemos por alguns minutos, até que o objeto tornou a se mover, desta vez para voltar à casa do companheiro Zanchetta, por trás da qual se ocultou.

Ainda inteiramente mudos, retomamos o nosso caminho. Ao chegar-mos à velha ponte de madeira do Rio Carreteiro, Zeno tomou a direção à esquerda, rumo a sua casa, e Guilherme e eu, que éramos vizinhos de porta, prosseguimos pelo caminho que dava para as nossas residências. Então – isto até me parece mentira –, só encontramos em nós a coragem de dizer um tímido e muito acovardado boa noite ao companheiro Zanchetta.

Mesmo anos depois daquele incidente inesquecível, Guilherme e eu relembramos tal episódio e ainda nos incriminamos pela covardia com que agimos em relação àquele nosso amigo. Por que não o acompanhamos até a sua casa – local em que o “diabo” daquela coisa se escondera e certamente ainda estava? O que, então, Guilherme, Zeno e eu pensamos de tudo aquilo? Ora, tão somente encaixados nos poucos e deficientes conhecimentos da gente

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interiorana daqueles dias, atribuímos procedência sobrenatural àquela inteli-gente bola de luz. Lembro-me, inclusive, de que, entre outras idéias descabidas, aventamos a hipótese de que aquele estranho corpo luminoso devia ter algo a ver com a alma do natimorto que estava sendo velado naquela localidade.

Zeno Zanchetta faleceu poucos anos depois daquele incidente, apa-rentemente vítima de uma doença estranha. A propósito, hoje, espiritualista que sou, tenho plena convicção de que ele está imerso num mundo de luz e saber, e já terá compreendido e perdoado a covardia de seus pobres companheiros naquela noite. Mas, enfim, o que era aquele objeto de forma redonda, luminoso e de movimentos indiscutivelmente inteligentes? Um disco voador? Uma sonda extraterrestre?

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“ Quando fui procurado por Antônio Nelso Tasca, ouvi sua história por um longo tempo. E antes de colocar a matéria no ar, que teve

repercussão estadual e até nacional, eu o levei a um médico, que se declarou surpreso

com a lesão apresentada em suas costas. ‘Nunca vi isso antes. A marca deixada é uma queimadura de fora para dentro, sem atingir os pêlos, o que seria normal para um caso

assim’. Preciso dizer mais? ”

— Claudério Augusto, profissional que atuou por mais de 20 anos nas emissoras de televisão RBS e SBT, de Chapecó (SC), e durante 10 anos foi apresentador de um programa

diário exibido por uma afiliada da Rede Globo

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Capítulo 01

E ra um dia frio do inverno de 1945. O vento minuano soprava sem piedade. Com um chapéu velho de palha debruçado sobre os olhos e protegido por uma velha capa Renner, montei a cavalo e, procu-rando abrigar-me do chuvisco gelado que o vento me atirava de

todo o jeito, cavalguei até a casa comercial do “seu” Spagnoletto, situada na Linha Caçador, então lugarejo do interior do município de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Meu pai mandara-me ali para um conserto de sela, pois que a casa era um misto de boteco, casa de pasto e selaria.

Enquanto o artífice dos couros consertava a peça do arreio, fiquei vendo e ouvindo 10 ou 12 homens que ali, na qualidade de fregueses e amigos da casa, cavaqueavam e prestavam homenagens ao “verde amar-go” e à “água que passarinho não bebe”. E foi então que um daqueles homens, um mulato de compleição franzina e todo encapotado, usando uma linguagem cabocla usual, falou do que tinha visto há poucos dias. Mas, então, com certeza, nem o narrador nem os presentes àquela con-versa devem ter feito idéia da importância de que o caso se revestia. Ali, naqueles dias, como certamente ocorria em quase todas as localidades do interior, o povo era simples, sobremodo inculto, e as rodas de bate-papo quase sempre giravam em torno de banalidades.

Minha primeirainformação sobre os

discos voadores

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Vez por outra, entretanto, as conversas abrangiam notícias vagas da guerra em que o mundo se debatia. Também eram amiudemente comenta-das as bravuras de alguns delegados e inspetores de polícia que, invocando questões de segurança nacional, prendiam e maltratavam colonos italianos e alemães – só porque estes não sabiam falar a língua portuguesa. E assim disse o roceiro que, sem ser esta a sua intenção, deu-me a primeira notícia sobre disco voador. “Mas escutem: eu tava trabaiando lá na berada do mato, oiei pro céu e vi uma coisa redonda como pedra de munho. Sem fazê baruio, passô por riba do mato e ali não pude vê pra adonde ela foi”. O homenzinho fez uma pausa, salivou a parte sedosa da palha de milho alisada a canivete, fechou o baita, tacou-lhe fogo, puxou uma fumaça e concluiu: “Meu irmão tava comigo e também viu”.

As pessoas presentes ouviram o relato em silêncio. A novidade não causou nenhum impacto. Não houve as interjeições e as perguntas de curio-sidade muito próprias do homem da roça. Mas ninguém duvidou das pala-vras do caboclinho que contara ter visto uma “pedra de munho” (moinho) voando sobre um pedaço de mata daquele ainda selvático recanto de Passo Fundo. Então, com apenas 11 anos de idade, eu me considerava um tanto sabidinho em razão de já ter lido e relido várias vezes o monte de obras que meu pai trouxera do colégio de padres em que ele estudara. Mas ali, estranhei o fato de que, naquelas dúzias de bons livros e de contos ilustrativos, eu não lera nada sobre pedras de moinho voadoras. Então me dei conta de que não sabia tanto quanto imaginava saber. A partir de então, passei amiudemente a matutar sobre o relato do homenzinho do cigarrão de palha. Do que seria feita aquela roda voadora, qual a sua finalidade entre ou sobre nós, donde ela teria vindo, para aonde teria ido, quem a estaria dirigindo?

Anos mais tarde, quando era professor no interior do município de Iraí, no Rio Grande do Sul, vim fazer idéia do que devia ter sido aquela coisa semelhante a uma “pedra de munho”. Foi quando a extinta revista O Cruzeiro publicou reportagens sobre discos voadores. Ao ler aquelas notícias, convenci-me de que a pedra de moinho de Linha Caçador era uma nave do além, igual ou semelhante a tantas outras vistas por pessoas de várias partes da Terra, conforme informava a citada revista. Aquelas memoráveis reportagens de O Cruzeiro fizeram-me retroceder espiritualmente no tempo. Voltei em pensa-mento àquele dia frio de 1945 e prestei uma silenciosa, mas afetiva homenagem pessoal ao matuto que vira aquela pedra de munho, que talvez nunca tenha sido cabalmente informado da importância do seu avistamento.

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Mal sabia aquele homem simples que a tal pedra que ele avistara não era outra coisa senão uma nave espacial de outro mundo. E mal to-mara conhecimento o curioso menino de 11 anos de idade que, décadas mais tarde, não naqueles rincões gaúchos, mas em terras barrigas-verdes [Em Santa Catarina], seria ele mesmo raptado por uma espécie de pedra de munho, levado para um fundo de mar, feito elo de ligação humana com outro mundo, e que, dali em diante, passaria a ser portador de uma mensagem alienígena destinada a todos os povos da Terra, e ainda, pes-soalmente, se veria feito um homem marcado por um ET.

Mas não foi bem assim...

Em absoluto, não me era estranho o assunto sobre discos voadores no dia em que fui seqüestrado por um deles. Muito pelo contrário. Até aqueles dias, eu já havia lido bastante sobre esta matéria e era um dos poucos que, na minha terra, acreditava em naves e em criaturas de outros mundos em visitas ao nosso planeta. Em decorrência desses conhecimentos, muitas vezes eu desejara a oportunidade de encontrar-me um dia com um disco voador e nele viajar pelo espaço afora. Com bilhete de ida e volta, obviamente.

No tocante àquele meu velho desejo, eu já havia formado uma imagem muito especial e praticamente imutável dentro de mim. Inveterado caçador de perdizes que eu era, via-me, sempre, em uma bonita manhã de Sol, caçando num vasto campo de barba-de-bode, tão somente acompanhado pelo meu cão perdigueiro. Então, de repente, vindo de algum ponto do espaço, surgia-me um disco voador, que pousava a poucos metros de mim, e dele desciam dois ou três astronautas de elevada estatura, sorridentes, vestidos com roupas brancas, metalizadas, e falando uma língua estranha.

Depois, através de sinais, convidavam-me a entrar, eu aceitava o con-vite e deixava à guarda do perdigueiro os apetrechos de caça e o carro que eu usava para o esporte cinegético, um automóvel Ford, ano 1940. Então, ali eu embarcava, o disco voador partia velozmente para o alto, efetuava diversas evoluções, e, de lá de cima, olhando por uma escotilha, contem-plava a paisagem da Terra. Então, o retorno. Muito feliz pela experiência, eu desembarcava da astronave, os tripulantes diziam-me adeus com largos acenos de mãos, partiam para o seu destino, e eu, atônito, mas de pé, via-me festivamente recepcionado pelo meu bom batedor de campos.

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Até que um dia o caso aconteceu. Mas não do jeito que sempre imaginara, mas tudo mui-to diferente. Não ocorreu o fato numa linda manhã de Sol, mas nas primeiras horas de uma noite escura. Não vi um disco voador no meio de um sossegado campo de capim barba-de-bode, e sim ao longo de uma agitada estrada de asfalto. Também não me deparei com uma nave surgida de algum lugar do céu, pousada a poucos metros de mim, mas com o que imaginei ser um ônibus sombrio e silencioso, que se interpôs em meu caminho. Da mesma forma, não vi astronautas de porte elevado, sorridentes e trajando roupas alvas de metal, e falando uma língua estranha. O que vi foi uma mulher de pequena estatura, que usava um vestido de seda azul claro, de feição impassível e que falou comigo por telepatia.

Também não tive um cachorro cortando campos e farejando per-dizes, mas criaturas que me farejavam ganindo como um cão que geme baixinho. Não deixei meu carro, espingarda e cartucheira aos cuidados de qualquer cachorro perdigueiro. O que larguei foi um automóvel quase novo abandonado à beira da estrada. Não contemplei a Terra de lá do alto, e sim a fascinante mensageira de Agali, de algum ponto do fundo do mar. Não vi astronauta algum me dizendo adeus com acenos de mão, mas vi Cabalá apontando uma mão para o alto e transmitindo-me sentimentos de paz e de amor. Por fim, ao retornar a minha casa, não fui alegremente recebido pelo meu fiel batedor de campos e banhados, mas tive a mais comovente e lacrimosa acolhida de meus familiares e parentes…

A numerosa e tradicional família Cella emprestou o seu nome à localidade em que se estabeleceu há muitos anos, bem como ao povoado a que ajudou a fundar, a 10 km da cidade de Chapecó, em Santa Catarina. Situado numa pequena elevação topográfica, onde a BR-282 possui um entroncamento de quatro vias, o vilarejo de Colônia Cella não só assiste a

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incessante movimentação de veículos que transportam cereais e produtos industrializados do oeste catarinense para os centros consumidores e ex-portadores do país, mas também contribui, ativa e vigorosamente, para a expansão da economia em que se firma a região: a agroindústria.

Mas Colônia Cella é um lugar de pequenas propriedades rurais, com terras caríssimas e de quase nenhuma oferta de venda. Diante disso, a famí-lia de Pedro Cella – que sempre esteve em destacada posição no processo de produção e desenvolvimento agrícola local – decidiu expandir as suas atividades agropecuárias numa região promissora e de terras baratas. Por estas razões, Pedro comprou uma fazenda de considerável dimensão em Barreiras, no extremo oeste baiano, coincidentemente não muito longe de minha propriedade. Assim, nós, além de conterrâneos e amigos em Chapecó, também passamos a ser virtuais vizinhos de terras na Bahia. Na-quele meado de dezembro, fazia poucos dias que meu filho Léo, também corretor de imóveis, viajara a Barreiras com dois sulistas interessados em adquirir terras. Eu fiquei em Chapecó a fim de cuidar de outros negócios,

Antônio Nelso Tasca mostra o ponto exato em que surgiu a esteira de luz que foi até onde se encontrava, junto ao carro, ao fundo. A luz transportou-o até o veículo voador, estacionado mais à frente

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mas certo de que, dentro de uma semana, também estaria naquele município para ultimar a transação imobiliária a que Léo acompanhava.

Para o transporte particular de compradores de terras, meu veículo era uma brasília, ano 1981, de Barreiras. Como eu teria que viajar só – circuns-tância que não me agradava –, lembrei-me de que Pedro Cella talvez também necessitasse ir até àquele local, caso em que ele poderia viajar para lá em minha companhia. Disposto, pois, a oferecer-lhe carona, fui à sua casa, em Colônia Cella, naquele entardecer do dia 14 de dezembro de 1983. Mas ele não estava. Encontrava-se numa praia no litoral catarinense. Então, baldado o meu intento, retornei ao carro e tomei o caminho de regresso à cidade de Chapecó.

Rumo àquela localidade, eis que, quando me encontrava a três qui-lômetros fora do vilarejo de Colônia Cella, nas proximidades da Indústria de Refrigerantes Coca-Cola, obedecendo a um comando estranho, saí da pista de rolamento para a parte contígua, à direita. Em conseqüência das grandes enchentes de julho daquele ano, o acostamento encontrava-se em péssimas condições. O veículo estremeceu fortemente à falta de revesti-mento e aos buracos que se sucediam naquela parte da estrada. Ali, dei-me conta de que estava fazendo algo absurdamente anormal. Mesmo assim, e sem atinar com o porquê daquilo, conduzi o carro um pouco mais até o ponto em que há um trevo de acesso à Granja Tozzo.

Ali, senti-me inexplicavelmente impelido a entrar, à direita, paran-do a meia dúzia de metros da pista de asfalto. Então os faróis do veículo mostraram-me que, a 30 m daquele lugar, exatamente no ponto em que o citado trevo se bifurca, havia um ônibus branco-esverdeado, estacionado de través, com a parte interna iluminada, mas sem movimento de pessoas e de quaisquer outras coisas. À primeira vista pareceu-me um daqueles carros de transporte coletivo da extinta empresa Águia Branca, que era de Carazinho, no Rio Grande do Sul. No entanto, instantes depois, após um exame visual mais atento, depreendi que aquele “trem” não era um ônibus, porque não apresentava rodas, estava suspenso a um metro do solo, tinha formato circular e as suas bem visíveis oito, nove ou 10 janelas retangulares não escoavam a iluminação interna. Aquele objeto estava longe, muito longe de ser um ônibus convencional. Na verdade, era muito outra coisa…

“É o bicho”, pensei, servindo-me do vocábulo popular que se equivale ao de “bicho-papão” – monstro imaginário com o qual antigamente se punha medo a crianças. A minha intenção, no entanto, foi a de dizer a mim mesmo

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que aquilo era um disco voador. Nunca tive e nem tenho a pretensão de ser mais homem do que os outros homens. Mas se a total ausência de medo diante de um objeto voador não identificado significa ser bem homem, então, modéstia à parte, eu o fui naquela inesquecível noite de 14 de dezembro de 1983, porque, ao invés de sentir medo, experimentei um indubitável sentimento de satisfação. Estava realmente feliz pela oportunidade que tive, pois que há mais de 20 anos me interessava vivamente pelo assunto e sempre acalentava o desejo de encontrar-me com um disco voador.

Uma esteira de luz e um túmulo de gelo

Não hesitei. Desliguei a chave de ignição e as luzes do carro, e desem-barquei. O escuro da noite permitiu-me ver mais nitidamente os contornos das janelas do disco voador. A iluminação interna não se projetava para fora. Não ouvi ruídos nem vozes. Não senti odores. De estranho ali só havia aquele “ônibus”. Curioso por ver e sentir, fechei a porta do automóvel e caminhei em direção à “coisa”, com a intenção de vê-la mais de perto, de ouvir-lhe possíveis ruídos e até mesmo de tocá-la com as minhas próprias mãos. Mas, ao percorrer de 10 ou 12 m, senti-me atingido por lufadas de calor que pareciam vir rolando pelo chão.

Avancei mais um pouco e então senti que seria temeridade ir mais para frente, porque as silenciosas, mas sucessivas ondas de calor eram cada vez mais fortes. A prudência aconselhou-me a tomar cuidado. Retrocedi e voltei ao car-ro, decidido a assistir dali ao que viesse a acontecer depois. Tinha como certo que, mais cedo ou mais tarde, o disco voador decolaria, e eu, então, poderia contemplar o fato comodamente sentado no automóvel. No entanto, ao pôr a mão na maçaneta da porta do carro, um clarão repentino alertou-me de que algo mais estava acontecendo. E aconteceu: de sob o disco voador saiu uma bem delineada esteira de luz, com um metro de largura, de grande luminosidade. A esteira deslizou, por alongamento, até onde eu me encontrava, passou sob meus pés e, num ato contínuo, encolheu-se, carregando-me até o disco voador. Viajei de pé no luminoso tapete rolante. Mesmo diante da superfície irregular daquele pedaço de estrada de terra, a esteira de luz deslizou suavemente, sem trepidações, e tudo se realizou rapidamente – talvez em não mais de três segundos.

Não me lembro como fui introduzido no disco voador, nem de ter visto porta ou qualquer outra forma de abertura. Lembro-me, sim, de que a

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fuselagem do “ônibus” era fosca e não branco-esverdeada, como me parecera à primeira vista. E foi ali, a dois metros da nave, que eu, de pé sobre a estranha esteira de luz, perdi a noção dos acontecimentos – e também de mim próprio. De todos os episódios distintos do meu caso ufológico, este, sem dúvida alguma, é o que contém conotações dramáticas e aterradoras. Guardo a mais absoluta certeza de que não há neste mundo homem valoroso e destemido que não se entregue às mais grossas lágrimas e a um quebrantado desespero se passar pelos maus bocados pelos quais passei num recinto indefinido do disco voador, e a que convencionei denominar túmulo de gelo.

Não sei quanto tempo depois do meu inexplicável ingresso na nave recobrei os sentidos. Senti-me estremunhado. Pareceu-me ter dormido um longo sono – um sono diferente, povoado de coisas difíceis. O ambiente estava escuro, terrivelmente escuro! Pode-se dizer que aquela escuridão era do mundo a maior, a mais espessa possível. Uma escuridão quase palpável. E fazia frio como nunca sentira antes, e que se tornava mais intenso a cada instante. E havia um silêncio ameaçador, pungente, esmagador! Então, passou-me pela mente conturbada a idéia de que seria o silêncio que, mais cedo ou mais tarde, desaba irrevogavelmente sobre os homens. No entanto, instantes depois constatei que aquele ainda não era o meu ininterrupto silêncio da eternidade, porque era que-brado e interrompido pela minha respiração ofegante, pelos meus chamados aflitivos e pelo meu choro desesperado.

Deitado de costas numa estrutura plana e com a cabeça nesta apoiada, com os braços estirados e colados ao longo do corpo, as pernas estendidas e os pés unidos entre si. Ah, como me senti mal! Como me foi horrível aquela posição no túmulo de gelo. Procurei, então, mover o corpo, mas este não obedeceu à minha ordem cerebral. Só consegui mexer os pés para frente, como se ambos espremessem um pedal qualquer, e ali tocaram no que me pareceu ser uma parede fria e firme. Foi o bastante. Sim, o bastante para que eu fosse assaltado pela pavorosa idéia de que estava enterrado vivo. Liguei os acontecimentos de há pouco – o disco voador, o rapto pela esteira de luz, a perda dos sentidos – e concluí, a mil por hora, que eu teria sido encontrado aparentemente morto e, como tal, sepultado em um caixão convencional e em cuja exigüidade eu não podia, então, mover-me. E, para dar corpo e curso à tão macabra idéia, ainda havia ali quatro elementos inerentes ao mundo que cerca um cadáver humano condignamente entregue à sepultura: a escuridão, o silêncio, a imobilidade e o frio.

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Então, supondo que o meu caixão funerário estivesse colocado um tanto à flor da terra e na esperança de que ainda houvesse gente no cemité-rio, decidi-me a gritar por socorro: “Ei, tem gente aí? Alguém está me ouvindo? Ei, tirem-me daqui!” Porém, não pude continuar. Minha respiração tornou-se deficiente. Era difícil falar. Eu próprio não reconheci a minha voz. Desisti de pedir ajuda e tratei de enfrentar a morte da melhor maneira possível. Então, com a rapidez do raio, numa sucessão caleidoscópica, passou-me pela mente a imagem dos meus familiares. Vi-os, um por um, e por eles o amor e a saudade se projetaram no fundo da minha alma e me explodiu na garganta um choro de padecimento atroz. Pelo quanto me cabe, talvez tenha sido aquele o choro da suprema angústia humana.

A sensação de se ver morrendo

Oh, sim, é deveras terrível a convicção de que se está morrendo. A este respeito, e sem medo de exagerar, eu diria que o superlativo absoluto sintético aqui empregado não passa de simples eufemismo. Acho que os nossos lingüistas não criarão jamais os adjetivos imagéticos correspondentes ao desespero de um homem que agoniza conscientemente. E acho, ainda, que não há filólogo nem ninguém neste mundo que consiga as palavras necessárias para descrever, à altura da realidade, a angústia de constatar a convicção de que eu estava sepultado vivo.

A pressão esmagadora do frio aumenta a olhos vistos. Aos poucos, sinto-me encerrado em um bloco de gelo. Debato-me para obter oxigênio para os pulmões, mas a respiração me é cada vez mais difícil. Não tenho dúvidas de que a morte me está a caminho e de que não tardará a chegar até aqui. Penso que sofreria menos se pudesse mover-me, sentar-me, agitar os braços e abrir as pernas. Já quase não respiro. A muito custo, recebo apenas um filete de ar para os pulmões. Resfolego, estertoro, agora já não sinto o corpo. Mas sinto que existo. Já não mais me oprime a pressão do frio, nem tenho necessidade de respirar. Que será isto? Será que morri? Mas como posso ter morrido se ainda delibero sobre mim? Estarei raciocinando pelo corpo etéreo? Então, assim sendo, até em outra vida há mistérios para a consciência humana?!

Naquelas circunstâncias, vivi a sensação de estar perdido em todas as di-mensões imagináveis, com exceção da do sentir espiritual. Era-me, aquela, uma situação paradoxal: eu existia, mas ao mesmo tempo não existia. Tinha certeza

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de que tudo aquilo me advinha em razão de ter passado para outra existência – uma existência cujas energias não sabia dimensionar, definir suas formas, nem mesmo estabelecer-lhe um plano astral. É impossível para eu precisar quanto tempo permaneci naquele inexplicável estado de imponderabilidade, mas posso dizer como retornei à vida física. De maneira súbita, dei-me conta de que voltara ao meu corpo quando neste foi emitido um sinal de vida de que eu nunca ouvira falar: uma relampagueada quente na parte inferior do osso esterno. Lembro-me de que aquilo me causou uma sensação sumamen-te agradável. E foi a partir daquela sensação que, de maneira gradativa, mas relativamente rápida, meu corpo descongelou e minha respiração voltou à normalidade. Em seguida, como se eu fosse um relógio recém saído de uma eficiente oficina de consertos, meu coração batia ritmicamente, recebendo e bombeando sangue como se nada lhe houvesse acontecido.