o gatuno e o extraterrestre trombudo

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Prémio Branquinho da Fonseca 2011, descubra esta história de Maria João Lopes com ilustrações de Paulo Galindro na sua livraria favorita.

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Aos meus pais, ao André e aos meus gatos.

Maria João Lopes

Dedico este livro a si, que o está a folhear neste preciso momento.

Foi para este instante que me dediquei de corpo e alma. Obrigado por existir.

Paulo Galindro

© Maria João Lopes, Paulo Galindro e Dinalivro 2012

Título: O Gatuno e o Extraterrestre Trombudo

Texto de Maria João Lopes

Ilustrações de Paulo Galindro, em acrílico sobre papel Canson 300 g/m² recortado e colado

Revisão de Suzana Ramos

ISBN: 978-972-576-612-5

Depósito legal: 345175/12

Paginação: Paulo Galindro

Impressão e acabamento: Offsetmais, S.A.

1.ª edição: junho de 2012

Todos os direitos reservados por Dinalivro para a língua portuguesa

Rua João Ortigão Ramos, n. º 17 A

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Uma história de Maria João Lopesilustrada por Paulo Galindro

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Era um extraterrestre. Ai, era, era. O Gatuno tinha a certeza. Então não havia de ser? Era verde como os extraterrestres da televisão, não falava qualquer língua conhecida dos animais, tinha rodas em vez de patas e,

isto era o pior, uma tromba gigante que usava para cheirar e comer! Ah, a ele, Gatuno, que passava horas atrás da janela a espreitar cada movimento da vizinhança, nas traseiras do prédio, não o levavam em cantigas. Bem podiam dizer que era só um robot, que andava a pilhas, mas não. Era um ET, um alien que tinha vindo diretamente de outro planeta e aterrado na marquiselá de casa.

Normalmente, aquela bola de pelo com um cérebro, na melhor das hipóteses do tamanho de uma noz, só pensava em comer, receber mimos

assunto. Mas naquele dia o cabeça-de-noz que, por ter só uma mancha amarela no lombo branco mais parecia um ovo estrelado quando estava a dormir espalmado no sofá, teve a certeza: um extraterrestre tinha-lhe entrado pela marquise adentro.

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Não o enganavam! É que o Gatuno, apesar de nunca ter saído daquela casa, era sabido e já tinha visto muita coisa. Naquele sexto andar, havia sempre coisas estranhas a acontecer, todos os dias. Uma vez, tinha passado um dia inteirinho com a barriga a dar horas porque os donos lhe deixaram areia, em vez de comida, na taça da ração. A distração também não era para admirar, uma vez que os donos aproveitavam as manhãs para fazer desporto, correndo freneticamente dum lado para o outro. Vão – e fazem isto sempre a correr – da casa de banho para o quarto, do quarto para a cozinha, da cozinha para o elevador e, depois, toca a fazer tudo outra vez ao contrário, do elevador até à cozinha, da cozinha até ao quarto e assim sucessivamente até encontrarem a pasta, as chaves, o casaco de que se tinham esquecido.

O Gatuno tinha boas razões para acreditar que, se um extraterrestre decidisse visitar a Terra, escolheria aquela marquise para estacionar a nave. Porque era ali que ia parar tudo o que não tinha lugar: os cestos das peúgas conviviam lado a lado com os vasos da salsa e dos coentros murchos, o papel para reciclar era depositado junto ao vinh do Porto de reserva e as vassouras

Mas desta vez os donos do Gatuno tinham ultrapassado todos os limites: permitir um extraterrestre dentro de casa? Onde é que já se viu? Não era tolerável, não era! Aquele gato entendia que não era obrigado a conviver com um invasor com quem não tinha nada em comum e com quem era impossível comunicar, não era! Nem era bom pensar nos perigos que correria durante a noite: se a casa inteira fosse tomada por um exército de extraterrestres, os donos só se aperceberiam no dia seguinte pelas notícias.

decidisse visitar a Terra, escolheria aquela marquise para estacionar a nave.Porque era ali que ia parar tudo o que não tinha lugar: os cestos das peúgas

O Gatuno tinha boas razões para acreditar que, se um extraterrestre

conviviam lado a lado com os vasos da salsa e dos coentros murchos, o papel para reciclar era depositado junto ao vinho do Porto de reserva e as vassouras

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Havia ali um claro problema para resolver e bem mais difícil do que aqueles que o dono mais novo do Gatuno, o André, levava como trabalho de casa e que implicavam sempre comprar 20 maçãs, trocar 5 delas por 10

no regresso a casa. A Professora tinha cada uma, como se a mãe do André

sorte. Com a cabeça pouco maior do que uma noz, não precisava de aprender

tirar do saco, tantas vezes que, a certa altura, na sala de aula já ninguém sabia bem o que tinha ido comprar àquele supermercado inventado.

Ah, se a Professora ouvisse os pensamentos do Gatuno é que ia ser um sarilho! Porém, com tão pouca imaginação para inventar problemas de matemática, era pouco provável que conseguisse ouvir pensamentos de gato. Isso já era outro campeonato. Mesmo assim, a Professora devia esclarecer se, quando dizia que temos todos de ser amigos uns dos outros, também estava a incluir na equação os extraterrestres. Porque essa é que era agora a

verdadeira arreliação do Gatuno. Que poderia ele fazer para expulsar o ET do seu território?

ver sair o extraterrestre da caixa, onde chegou ainda a dormir e onde permaneceu, em silêncio, até os donos o tirarem de lá. Imaginem só que, quando acordou, não se espreguiçou, como os outros seres, nem sequer se lambeu! Não foi comer ração nem restos, nem beber água. Limitou-se a exibir o seu verde metalizado aos olhos de uns donos hipnotizados e, só por isso, recebeu seguramente duas horas de atenção. O Gatuno estava quase tão

verde como o extraterrestre, mas de ciúmes.

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E o pior ainda estava para vir. O Gatuno assistiu, incrédulo, aos donos a levarem o ser de outro planeta por uma trela enorme a passear pela casa. Ele tinha uma tromba comprida que usava para cheirar cada canto, alimentava-se de pó e de cotão e comunicava com os donos emitindo um som que deixava

passear pela casa. Que medo, a sério, que medo!Aquele gato teria preferido qualquer outro para partilhar o canto da

marquise. Qualquer outro, até um periquito ou um peixe! O Gatuno estava por tudo. Um hamster, por exemplo, até um hamster teria sido menos penoso.

Agora era só mordomias, privilégios e atenções para o alien. Andava por todo o lado, metia o nariz em tudo e cheirava cada centímetro de chão, sem um pingo de vergonha.

O Gatuno também é curioso e bisbilhota tudo, mas fá-lo às escondidas.

descarada. Mas ao ET tudo é permitido. Até os móveis eram afastados e os tapetes levantados quando o trombudo queria chegar a algum canto menos acessível. Quem é que ele pensa que é, ah? O rei de algum planeta com um

olhos para o novo habitante. Andavam com ele pelos quartos, pela sala… Já nem as migalhas das bolachas de chocolate, caídas junto ao sofá, o Gatuno

assim. Não podia.

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