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NAIUME MATUZAWA OS EXCESSOS DE INFORMAÇÃO E A INCOMUNICAÇÃO NO ÂMBITO FAMILIAR

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NAIUME MATUZAWA

OS EXCESSOS DE INFORMAÇÃO E A INCOMUNICAÇÃO NO

ÂMBITO FAMILIAR

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São Paulo

2003

NAIUME MATUZAWA

OS EXCESSOS DE INFORMAÇÃO E A INCOMUNICAÇÃO NO

ÂMBITO FAMILIAR

Monografia apresentada para a conclusão da disciplina Projeto em Multimeios II do curso de Comunicação Social com habilitação em Multimeios da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Orientador: Profº. Ms. Milton Pelegrini

São Paulo

2003

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Título: OS EXCESSOS DE INFORMAÇÃO E A INCOMUNICAÇÃO NO ÂMBITO FAMILIAR Autor: NAIUME MATUZAWA Local e data: São Paulo, 2003 Banca Examinadora: Prof°. Ms. Mário Augusto de Souza Fontes Instituição: PUC-SP Nota:_________________________ Assinatura:____________________ Prof°. Ms. Maurício Ribeiro da Silva Instituição: PUC-SP Nota:_________________________ Assinatura:____________________ Orientador Profº. Ms. Milton Pelegrini Instituição: PUC-SP Nota:_________________________ Assinatura:____________________

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Agradecimentos Aos meus pais Lucilia Ribeiro Matuzawa e Masaharu Matuzawa que sempre me incentivaram, apoiaram e financiaram para que eu conseguisse concluir os meus estudos. Ao meu irmão Fábio Massao Matuzawa que sempre me auxiliou com os problemas técnicos, paciente em me ajudar quando necessário. Ao Prof°. Dr. Norval Baitello Júnior por ter me concedido uma entrevista que foi muito útil ao meu trabalho. Ao meu amigo Manolo Vilches que revisou todo o trabalho.

Ao meu orientador Prof°. Ms. Milton Pelegrini.

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Resumo

O objetivo deste trabalho é o estudo dos efeitos negativos sobre a sociedade que

está vivendo um tempo de excessos desmedidos de informação que podem ser

facilmente observados em todas as mídias. Esses excessos acarretam na perda dos

vínculos, que dificulta a comunicação e as relações entre as pessoas. Com o

aperfeiçoamento das novas técnicas e recursos de comunicação, aumenta também

sua incapacidade de comunicação com o mundo, com as pessoas e consigo

mesmo. A inserção no mundo de aparelhos ultra-rápidos que codificam e

decodificam a informação, mudando a forma de comunicação pré-existente, contribui

para esse panorama caótico e a Televisão responde por boa parte dessas

mudanças. Avaliar os efeitos da Televisão na estrutura familiar é discutir as

alterações nos padrões comportamentais dos elementos da família nas últimas

décadas em virtude das mudanças causadas pela mídia televisiva. As discussões

sobre a postura de isolamento trazido pela TV abrem caminho para discussões mais

amplas resultantes da massificação da comunicação informatizada que hoje se

processa.

Palavras-chaves: Excesso de informação. Vínculo Familiar. Televisão.

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Abstract

The objective of this work is the study of the negative effects over the society, which

is living a time of information excesses that can be easily attended in all Medias.

Those excesses resulted in a lack of links, which has interfered the communication

and relationship between people. The enhancement of the communication resources

and techniques raises the incapacity of your communication with the world, other

people and yourself. So, due an insertion in the world of ultra-fast machines which

decode and code information changing the way of communication pre-existent. To

measure the effects of the Television in the familiar structure, is to discuss the

alteration on the behave standards of the family elements during the last decades,

because of the changes made by the television media. The discursions about the

position of the isolation brought by the TV have opened the way for big discussions

resulted of the totalitvation of informatization communication processed today.

Keywords: Information excesses. Familiar link. Television.

SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO.......................................................................................................14 I. A COMUNICAÇÃO FAMILIAR..........................................................................16 II. A TELEVISÃO E O CONTROLE REMOTO......................................................22 CONCLUSÃO........................................................................................................31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................33 ANEXOS.................................................................................................................35

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Introdução

Quase todas as pessoas que vêm acompanhando as inovações que o homem

adiciona à vida cotidiana, passam por um momento de saudosismo valorizando

momentos do passado que pareciam ser mais producentes e ricos em vivência

comunitária.

Essa sensação decorre do fato de sentirmo-nos “perdidos” entre um multiplicar de

informações e transformações que alteram, em menos de uma geração, o

comportamento entre as pessoas seja no ambiente familiar ou social em geral.

A popularização da televisão como elemento da comunicação de massa em todo

planeta já mereceu a atenção de muitos trabalhos enfocando os aspectos positivos e

negativos desta mídia revolucionária.

Este trabalho procura discutir na esfera familiar os impactos da TV sobre a

comunicação e também a superação desta função por um estado de incomunicação.

Os excessos de informação transmetidos por sons e imagens configuram um

panorama preocupante pelos reflexos causados na formação individual do ser.

Abordando as diferentes mídias que permitem ao homem comunicar-se consigo

próprio e com os demais é que buscar-se-á um paradigma para compreensão do

problema.

A incomunicação crescente não permitirá ao homem uma evolução sadia

corrompendo ciclos naturais que acompanham os homens há milhares de anos

independentemente de seu grau evolutivo.

O fato de não haver estudo sobre a influência que a televisão provocou no vínculo

da relação familiar torna este estudo pertinente sobre a comunicação e a relação de

falta de diálogo entre as famílias. O isolamento familiar também é problemático

devido à quebra dos suportes constante de conhecimento que é a instituição

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familiar. As informações transmitidas nem sempre são recebidas, sendo assim, a

incomunicação acaba distorcendo valores culturais, questões morais, éticas e

religiosas.

A metodologia utilizada neste trabalho foi qualitativa. Houve uma vasta pesquisa, e

uma fundamentação teórica utilizando diversos autores como referência para

abordar e escrever sobre os excessos de informação e a incomunicação no âmbito

familiar.

Neste trabalho também houve a realização de uma entrevista com o Profº. Drº.

Norval Baitello Júnior1 na qual ele explorou o tema do objeto de estudo da pesquisa.

Foi feito também um questionário2 para dois tipos diferentes de famílias para estar

observando qual é a influência da televisão nas comunicações entre os membros

das famílias.

1 Entrevista Com o Profº. Drº. Norval Baitello Júnior foi gravada e transcrita podendo ser encontrada neste mesmo trabalho em Anexo A 2 Pode ser encontrado neste trabalho em Anexos B, e Anexos C.

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1. A Comunicação familiar

A comunicação corporal, ou mídia primária3 é a primeira intenção de comunicação

do homem com o mundo. Segundo Harry Pross (apud BAITELLO JÚNIOR, 2003)

“[...] toda a comunicação começa no corpo e termina no corpo”. A complexidade da

dimensão corporal permite-nos desenvolver diversas atividades. Embora as

atividades motoras chamem mais a atenção pela movimentação física, muscular das

partes do corpo, é a comunicação uma das funções mais difíceis de ser

caracterizada e relacionada com o organismo.

Ainda para Baitello Júnior (2003):

“A idéia do corpo, muito longe de ser uma idéia simples vem preocupando os pensadores da filosofia na sua dimensão de complexidade e a múltipla leitura de implicação. A constatação de que afinal de contas, agente não tem uma máquina só, mas agente pode também ter uma máquina; agente não tem uma mídia só, mas agente pode também ter uma mídia; agente não tem uma fonte de prazer só, mas agente pode ter uma fonte de prazer; agente não tem um suporte, mas agente pode também ter um suporte, um suporte como display, mas o corpo pode ser também um display sem dúvida alguma, então o desenvolvimento do conhecimento humano foi nos cobrando, afinal da ciência, o surgimento de novas áreas que trabalhassem com esse objeto que sempre foi complexo”.

A dificuldade em associar a comunicação ao corpo humano vem do fato de que não

somos apenas ossos e músculos. A caracterização de um corpo pensante simboliza

a multiplicidade do conceito de corpo, e quando falamos de comunicação não

podemos nos restringir ao pensamento e sim devemos perceber toda a linguagem

que o corpo usa para se comunicar.

A vivência adiciona à memória corporal alegrias, prazeres, tristezas, emoções e

traumas que refletem a cultura em que vivemos. O corpo, em sua evolução, vai se

cercando de mídias, principalmente para poder ampliar sua intenção de expressão e

captação. O processo de comunicação torna-se então mais complexo, porém, o elo

3 Segundo o Professor Harry Pross mídia primária é aquele meio de comunicação no qual não há aparatos entre o emissor e o receptor, ou seja, a comunicação é possível utilizando apenas o próprio corpo e suas possibilidades comunicativas.

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principal cerebral e individual continua existindo mesmo que utilizando mídias

secundárias4 ou terciárias5.

O corpo vai se transformando em um depósito, onde o núcleo germinativo vai sendo

acrescentado de cada vivência, de cada história pela qual todos nós passamos, e

que vai se somando à mensagem original, modificando-a.

Diferentemente das transformações bioquímicas que se processam num quadro

evolutivo previsível, o corpo, enquanto memória, modifica-se a cada instante em

resposta à nossa vivência.

As histórias vivenciadas por nosso corpo constituem uma somatória que nos molda a

um padrão, numa determinada cultura, e num determinado grupo social.

Desde o início da geração de uma criança no ventre de sua mãe, há comunicação

entre a mãe e o feto. O feto é alimentado e recebe nutrientes através do cordão

umbilical, sendo assim, a mãe já está emitindo mensagens para seu filho através

deste primeiro contato.

“O feto já sentira as informações que o vinham tocar e a que respondia por explorações comportamentais durante as deslocações maternas, mudança de postura e ruídos. Porém, o bebê, no fim da gravidez, preferiria, claramente, a palavra da mãe que, tal como uma carícia, entrasse em contato com os seus lábios e as suas mãos para neles vibrar suavemente. Então, responderia levando à boca tudo o que agarrasse, e engoliria todos os dias o líquido amniótico, provando deste modo, a mãe quando a ouvisse”.

(CYRULNIK BORIS, 1999, p.15)

Quando a criança nasce, começa a existir o vínculo maternal, onde o recém-nascido

necessita do calor materno, dos cuidados de sua mãe, do carinho, amor e alimento

para que se desenvolva.

4 Segundo o Professor Harry Pross mídia secundária é o meio no qual o emissor utiliza um aparato para codificar a mensagem, mas o receptor pode decodificá-la simplesmente. Ela é uma amplificação da mídia primária. 5 Segundo o professor Harry Pross mídia terciária é o meio no qual tanto o emissor quanto o receptor utilizam aparatos, normalmente eletrônicos, tanto na codificação quanto na decodificação da mensagem. (televisão, rádio, Internet, telefone etc).

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O tempo de gestação satisfaz as necessidades de contato do feto, preparando-o

para a vida extra-uterina. O contato físico com o bebê em seus primeiros meses de

vida, abraçando-o, aconchegando-o e aquecendo-o nada mais é que uma

complementação do período de adaptação do corpo ao mundo exterior.

Em entrevista concedida por Baitello Júnior6, este falou de um experimento sobre o

vínculo maternal realizada pelo psicólogo Harry Harlows, quando o pesquisador fez

experiências com macacos recém-nascidos. Harlows separava os macacos que

acabaram de nascer de suas mães, transferia-os para uma outra gaiola onde havia

duas mães falsas, uma de madeira com uma mamadeira, e uma outra de pelúcia

sem mamadeira, no decorrer de suas pesquisas constatou que os filhotes ficavam

todo o tempo com as mães falsas de pelúcia, que eles só se separavam delas

quando tinham fome, mas depois voltavam para elas. Com estes estudos ele provou

que a alimentação não é a construtora do vínculo maternal, e sim a possibilidade de

ter o calor.

Segundo Boris Cyrulnik (1999, p.8):

“O encantamento do mundo é um produto da evolução: os animais são enfeitiçados quando percebem a sensorialidade de um outro, o odor, a cor, a postura, que os governa servindo-se dos cinco sentidos. E os homens única espécie que possui seis sentidos, vivem no duplo encantamento dos sentidos e do sentido que a historicidade cria. Numa vemos o mundo dos outros, mais representamo-lo pelos sinais das suas palavras e dos seus gestos, que nos enfeitiçam ainda mais”.

Depois, com o desenvolvimento da criança, a mãe começa a receber do filho carinho

e amor. Desta forma, começa a desenvolver nesta relação trocas comunicativas

onde o filho supre a necessidade da mãe de receber afeto.

“Quando nasce um bebê, nasce também uma mãe... No caso da

mãe humana, a necessidade de contato íntimo é, sem dúvida, muito maior e consideravelmente mais prolongada do que nos outros mamíferos, servindo não só a importantes funções psicológicas como ainda a muitas de natureza fisiológicas, como a interrupção da hemorragia pós-parto, a contração do útero, o desligamento e a explosão da placenta, melhoras na circulação etc”.

(MONTAGU ASHLEY, 1988, p.56)

6 O professor Norval Baitello Júnior concedeu uma entrevista em 23/09/2003 que pode ser consultada nos Anexos A deste trabalho.

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O que Montagu quis dizer é que a mãe, naturalmente, é preparada para cuidar do

recém-nascido numa relação mais forte do que a estabelecida na gestação.

Depois do período de transição interior-exterior, os bebês crescem, e ampliam sua

percepção do mundo manifestando vontade própria de travar comunicação com um

grupo mais amplo que o familiar.

Na tentativa de comunicar-se com outros indivíduos, vão sendo codificados gestos,

começam a existir para as crianças as relações com seus amigos, onde todos têm a

mesma faixa etária. Começa a existir um vínculo de comunicação horizontal entre os

iguais. As crianças começam a ter a necessidade de se comunicar através de gestos

comunicativos, que seriam representados pelas brincadeiras de crianças, mas, como

elas são muito pequenas, elas têm grande dificuldade de comunicar-se com seus

colegas, expressando-se de forma violenta com brigas, empurrões, e xingamentos,

utilizando assim a mídia primária como forma de comunicação básica. Segundo

Boris Cyrulnik (1999, p.9) “[...] assim que a criança nasce, trabalha todos os dias

para tomar a palavra, para inventar a sua realidade e construir sua

individualidade”.Segundo Baitello Júnior7 “[...] tudo isso irá implicar na criação de

jogos, no estabelecimento de limites, na criação de regras, na criação de grupos,

clubes, segregações e mais tarde, na comunicação social”.

Ainda para Baitello Júnior, em entrevista:

“Você vê o que é inferno do universo infantil que serve para unificar as crianças, são as mordidas, às pauladas, os empurrões etc, tudo isso vai se codificando, se complexificando até que depois de uma certa idade isso se transforma em escolas, clubes, sindicatos, sociedades, relação de empresas, relações entre os iguais e na comunicação não hierárquica”.

Durante este período de desenvolvimento, as crianças têm dificuldade de comunicar-

se e expressar-se também com seus pais. Então geralmente elas utilizam a mídia

secundária para transmitir suas mensagens. O professor Harry Pross (apud

BAITELLO JÚNIOR, 2003, informação verbal) comenta em “O quarto de brinquedo”

7 O professor Norval Baitello Júnior concedeu uma entrevista em 23/09/2003 que pode ser consultada nos Anexos A deste trabalho.

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que quando o pai chega em casa, e seu filho espalhou seus brinquedos por toda a

sala de estar, ele fala para criança pegar seus brinquedos e retirá-los da sala,

porque simbolicamente a sala é um campo simbólico de poder do pai.

Quando a criança espalhou seus brinquedos na sala estava tentando dizer para o

pai que ela existia e tinha passado por ali, querendo receber atenção dele. A criança

deixou mídia secundária no campo simbólico do pai querendo que ele desse

atenção e deixasse de ver televisão ou ler jornal que são formas de comunicação

que apenas reforçam a imagem do pai como autoridade, que conhece o mundo lá

fora, que tem suas responsabilidades. Quando o filho invade a sala está se

comunicando com seu pai, dizendo que sente sua falta e que gostaria de ter mais

contato com ele. Segundo Harry Pross (1980, p.143, tradução nossa) “[...] a

comunicação humana está dirigida por símbolos. O homem pode ser considerado

como o animal symbolicum, ou seja, como a besta simbolizante”.

Depois, com o desenvolvimento, as crianças vão se tornando adolescentes, as

relações delas com os seus amigos transformam. Está é uma fase complicada para

os jovens porque não são adultos, porém, devido à variedade e à grande quantidade

de informação que recebem acham que já são capazes de fazer tudo o que os

adultos fazem. Começa a existir o início da vida sexual, a comunicação entre os

rapazes e as garotas se transforma, começa a existir influências dos hormônios

femininos e masculinos nos adolescentes que mais tarde farão com que eles

procurem alguém para se casar e constituir suas próprias famílias. Seria então um

vínculo de parceria onde o homem e a mulher resolvem se unir para constituir o

outro, que seria uma nova vida.

Em cultura, a comunicação familiar não fica isolada no tempo, ela está sempre

acontecendo, seja desde a gravidez de uma mãe, seja na infância de uma criança,

seja na adolescência, na juventude, na fase adulta, e na fase final da vida. O

importante é que a comunicação familiar ocorre e sempre está utilizando os vários

tipos de mídia, sejam as mídias primárias, secundárias ou terciárias para que ocorra

o vínculo comunicativo. Não importa como vivem as famílias, se o indivíduo mora

junto ou separado de seus pais, ele sempre irá encontrar uma forma de se

comunicar.

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Segundo Baitello Júnior em Galeno (2003, p.69): “O equilíbrio comunicacional do homem pede a presença distribuída

de distância e proximidade, a visão como preparo para a proximidade, a proximidade como passo para vida afetiva. A era da visibilidade, entretanto, transforma todos em imagens, invertendo o vetor da interação humana, criando a visão que satisfaz apenas com a visão. A comunicação de proximidade, interpessoal, familiar, fraternal, importante dispositivo de equilíbrio para as tensões e conflitos individuais, vem sendo crescentemente suprimida pelas relações escravizadoras da era da visibilidade. Os espaços da comunicação de proximidades, os rituais familiares, os encontros festivos, os contatos de proximidades física em espaços de acolhimento caminharão para extinção se a escalada privatização dos espaços públicos continuar seu curso sem a resistência de instancias regulamentadoras responsáveis. Restará a violência bruta como única via de acesso aos contatos corporais”.

Para comunicação familiar a influência de novas mídias pode ter diferentes

resultados. O contato físico, as manifestações de carinho e a comunicação coletiva

dos momentos de convívio grupal, reduzidos pela dinâmica diferenciada dos

elementos da família podem ser de certa forma compensados pela comunicação via

cartas, bilhetes, telegramas, emails, e, de modo mais estreito, pelo telefone, pelo

celular e pelas vídeo-conferências.

A manutenção do vínculo familiar é o que importa, sendo secundários o meio e a

mensagem.

Não bastasse a agitação do dia-a-dia das pessoas, fator que por si só aliena,

estamos cada vez mais expostos a mensagens de todos os tipos. O volume de

informação que nos chega é vasto, diversificado e muitas vezes profundo o que

exigiria um tempo muito grande para a apreensão de parte destas informações. Em

geral este intenso fluxo de mensagens se concentra nos intervalos das atividades

cotidianas impedindo até mesmo uma compreensão parcial do que se passa.

Nessa tentativa de abarcar o mundo deixam-se para trás os vínculos familiares

relegados a segundo ou terceiro plano.

O excesso de comunicação torna-se um quadro incomunicante e seus reflexos sobre a família e sobre a formação do cidadão são bastante visíveis.

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2. A Televisão e o controle remoto

Começamos o século XXI com as mesmas dúvidas que rondavam os anos 60 e 70

do século XX, quando os efeitos da televisão eram questionados no que se refere à

diminuição da leitura como forma de conhecimento. A mídia terciária proporcionou

para as famílias uma informação rápida com tecnologia que modificou e ao mesmo

tempo ampliou a comunicação social. A televisão é a mídia mais presente na nossa

realidade, este aparelho ainda é a grande mídia, e a mais acessível mundialmente.

“Francis Vanoye considera a televisão o mais poderoso meio de comunicação de massa do século XX (e até de todos os tempos), quanto aos elementos que veicula, tendo-se em vista o alvo visado, ou seja, o destinatário coletivo virtual. Ressaltando que ela ultrapassa a condição de um eletrodoméstico, aponta o seu surgimento como uma conquista – e ao mesmo tempo revolução – do meio eletrônico associando, enquanto "aparelho”, recursos cinéticos (video-taipe, vídeo-cassete, gravadores, reprodução eletrodoméstica etc); recursos técnicos de comunicação e contato; recursos audiovisuais, enfim: ‘proporcionando o contato entre regiões distantes, culturas diversas, fazendo emergir formas comunicacionais que já se impunham diante da pressão dos descobrimentos e expansões posteriores à Revolução Industrial’”.

(CAMPEDELLI, 1985, p.5-6)

A sociedade convive com uma linguagem de um meio de comunicação com um

poder influenciador muito alto, a televisão. Esta linguagem da comunicação de

massa, desde seu início foi criticada quanto à sua qualidade de programação e

conteúdo. Isto porque atinge uma grande parte da população sendo capaz de

modelar e modificar comportamentos, conhecimento, consumo, moda, linguagem,

economia e tantas outras dimensões da vida.

Arlindo Machado fala que “[...] a televisão pode ser tomada como um fenômeno de

massa, de grande impacto na vida social e moderna”.

“A discussão sobre a qualidade da programação tem pouca aplicabilidade. O que vale é a amplitude das experiências e a magnitude de suas repercussões... Mas também se pode abordar a televisão sob um outro viés, como um dispositivo audiovisual através do qual uma civilização pode exprimir a seus contemporâneos os seus próprios anseios e dúvidas, suas crenças e descrenças, as suas inquietações, as suas descobertas e os vôos

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de sua imaginação. Aqui, a questão da qualidade da intervenção passa a ser fundamental”.

(MACHADO ARLINDO, 2001, p. 10-11)

A televisão é um sucesso se pensarmos em seu poder influenciador sobre as

pessoas, pelo fato de ter se transformado no grande meio de comunicação da

modernidade. É difícil encontrarmos alguém que não assista algum programa e não

comente no dia seguinte com os colegas. A mídia televisão chegou em um nível de

superação em sua utilidade, no sentido em que todos da sociedade a assistem e são

influenciados no cotidiano.

“A televisão é em larga escala parte desse caracter seriado e

espacial da vida cotidiana que se considera pressuposto. Os horários de emissão reproduzem (ou definem) a estrutura da jornada doméstica, por sua vez significativamente determinada pelos horários da sociedade industrial”.

(MOTTER, 2003, p.31)

Os rituais televisivos obtêm programas que fazem com que o indivíduo se desligue

de sua realidade, e desfrute de um mundo de fantasias e realizações. Este mundo

será o mundo das imagens, representações, simulações etc. Segundo Dietmar

Kamper (2002, p.7) “[...] a imagem tem, logo de acordo com seu significado, pelo

menos três funções: a de presença mágica, a de representação artística e de

simulação técnica, entre as quais existem múltiplas intersecções e superposições

[...]”. Esse ritual envolve os seres humanos, rompe com a não liberdade e a angústia

do dia-a-dia.

Segundo Baitello Júnior (2003, p.2) “[...] houve uma transformação veloz e voraz na

substituição da linguagem escrita da comunicação para a comunicação estabelecida

com o uso da imagem [...]”. O excesso de imagens gerou nos homens uma vontade

de se envolver cada vez mais com novas imagens, diminuindo seu crivo e tornando

sua recepção menos crítica e menos proveitosa.

Os telespectadores vêem de formas diferentes o que se passa dentro do retângulo.

É um mundo simbólico. Segundo Pross (1999, p.274, tradução nossa) “[...] o

telespectador participa no sistema de sinais da televisão para compensar as

carências comunicativas de seu âmbito perceptivo”. Somente agora com a televisão

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paga e a prometida televisão interativa o telespectador poderá agir participando da

comunicação e intervindo nela.

“A TV movimenta uma industria milionária. Metade do gasto com publicidade no Brasil (que gera 1% do Produto Interno Bruto – PIB todo ano) fica com a TV. Seu império espalha-se, para além do veículo. Esta, sim, no negócio via satélite, no mercado da TV paga, na profissionalização dos termômetros com que monitora a audiência e opinião. No entanto esse império contamina também outras industrias”.

(PEREIRA JÚNIOR, 2002, p.53)

É quase impossível escaparmos do poder da indústria do entretenimento,

principalmente da televisão, que nos deixa estáticos, porque recebemos vários tipos

de informação, sem participar. A televisão nos impõe a moda, define a estética do

corpo, cortes de cabelo, o que comemos, o modo de falar, dita gírias etc.

Ainda para Pereira Júnior (2002, p.21) “[...] a televisão pauta nossas conversas, dita

nossa hora de dormir, a decoração de nossas casas e a qualidade do que comemos

e sabemos”.

A reduzida oportunidade perceptiva que oferece a televisão, os rápidos movimentos,

às mudanças de som e imagem, que sempre se produzem, às variações da câmera

e a ignorância dos processos de produção fazem com que a televisão seja

impenetrável. O telespectador tem que entender as imagens móveis e compreender

o simbolismo do movimento, dos cortes e das montagens. No cinema também é

reforçada essa relação só que com uma tela superdimensionada.

A televisão consome o nosso tempo livre, tudo é muito bem programado,

determinada hora do dia é dedicado à educação infantil, depois para as donas de

casa, e assim por diante, até que chegamos no horário nobre, onde a maioria da

população já está em casa e ai é o momento da telenovela, que geralmente atrai

grande público e faz com que as redes televisivas ganhem bastante dinheiro com a

publicidade transmitida nos seus intervalos.

“Os meios de comunicação, e a TV em particular, exercem o controle

do nosso tempo com a imposição de hábitos de audiência e passam a reger nossos horários de modo que estejamos a sua disposição quando ela exibe programas que (se) moldaram (ao) nosso gosto ou necessidade. Assim,

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nosso tempo dito ‘livre’ organiza-se do exterior através das imposições advindas desse meio social, tendo há muito deixado de ser livre”.

(MOTTER LOURDES MARIA, 2003, p.26)

“O vazio da intimidade parece preenchido pelo poder atrativo dos

novos meios de comunicação. Destacadamente, a TV e a Internet cumprem esse papel de parceiros protéticos que, no dia-a-dia, seduzem a maioria dos indivíduos. A TV, em especial, movida pela ânsia mercantil e pela guerra de audiência, nos fita e exige uma espécie de ‘servidão voluntária’”.

(GALENO; CASTRO; SILVA, 2003, p.99)

A servidão voluntária a que se refere Galeno é a necessidade de assistir

determinados programas diariamente, e estar sempre conectado no horário que

começa determinado programa, utilizando assim o seu tempo livre para assistir

programas televisivos ao invés de realizar outras tarefas.

A força da televisão reside menos em suas características de movimento, som e

imagem, que na facilidade com que se coloca no interior dos lares, onde

freqüentemente ocupa o centro das atenções. Segundo Giulianella Furlan8 “[...]

como são vários aparelhos em casa, não sentimos muito problema de quem

determina o programa a ser transmitido, a escolha da programação é consensual, no

caso do aparelho compartilhado”. Surge ai a relevância da televisão, além de

entender a importância da educação familiar e do ambiente escolar, é preciso que se

dimensione o papel desempenhado pela exposição das famílias aos estímulos e a

influência dos meios de comunicação.

“Ao longo dos anos, a televisão brasileira tem se especializado em

formar gerações não pensantes frutos de ‘Xuxas’, ‘Malhações’, ‘Vale a pena ver de novo’ etc. Tudo tem sido oferecido para bobalizar à audiência, principalmente durante o período da tarde quando supostamente os pais estão no trabalho e as crianças e adolescentes ficam em casa livres ou presos, diante do aparelho de televisão”.

(QUEVEDO MARINA, 2002, p.2)

Pela estrutura do mundo moderno, a criança passa muito mais tempo na companhia

dos heróis da televisão que com seus pais ou seus professores. Milhões delas

substituem a ausência familiar e compensam sua solidão pela companhia de uma

tela colorida, ágil, múltipla, e sempre presente e disponível. Segundo Ana Paula de 8 Em questionário, que pode ser consultada em Anexo B, deste mesmo trabalho concedida em 14/10/2003, que procurou avaliar as opiniões de diferentes pessoas em diferentes casas sobre a questão da televisão e as relações da comunicação influenciadas por este aparato tecnológico.

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Oliveira (2003, p.7) “[...] a telinha pode afastar a pessoa do convívio familiar (em

algumas casas, cada um assiste a TV em seu quarto) e também dos amigos (há

quem deixe de sair para ficar em casa com a TV)”.

Antes a família desempenhava bem seu papel de formar hábitos e valores, uma vez

que o ambiente familiar era a fonte primária, sempre ensinando valores social e

moral na formação das crianças. Mas hoje em dia as crianças dispõem de uma outra

fonte que lhes permite vivenciar ou experimentar novas emoções, assimilar valores,

crenças, idéias, e filosofias diferentes das defendidas pela sua família. Portanto

começa a existir um distanciamento das famílias, onde a possibilidade de contato

físico é cada vez mais remota.

Baitello Júnior em Galeno (2003, p.67) nos alerta para o fato de que:

“Haveria ainda outros aspectos da senilização da infância e da juventude dignos de atenção dos educadores, dos comunicadores e, sobretudo, dos desorientadores e impotentes pais e mães diante dos cenários assustadores que se configuram diante de seus olhos. Um deles é a transformação das crianças e dos jovens em um “mercado”. A partir do momento em que são entregues docilmente ao assédio das imagens e aos apelos do consumo, confere-se às crianças e aos adolescentes uma aparente autonomia, vale dizer uma aparente auto-suficiência, para decidir itens importantes de sua própria vida. O que vestir, o que comprar, o que comer, o que brincar deixam de ser decisões dos pais e dos adultos próximos para serem decisões pré-fabricadas, oferecidas pela mídia, pela publicidade dos heróis de consumo fácil, eles próprios pré-fabricados para servir aos fins em questão. Os imperativos de uma sociedade funcionada na visibilidade e suas estratégias são cada vez mais invasivos. Não apenas há uma inegável proliferação inflacionária das imagens. E também não são essas imagens apenas visuais, mas também acústicas, performáticas e comportamentais, olfativas ou simplesmente mentais, distribuídas pela disseminação do imaginário que acompanha todo o movimento cultural... Estas são imagens que atingem no âmago de nossa essência comunicativa, no coração de nossa capacidade de estabelecer vínculos sociais, familiares, e afetivos”.

A televisão está presente 100% na vida das pessoas sejam elas adultas ou crianças,

uma diferença básica é que as crianças não se satisfazem apenas com a

programação dirigida especificamente para elas, isso se deve ao fato de as crianças

possuírem uma diversidade de interesse maior, acompanhada de uma voracidade

de conhecer tudo sobre o mundo adulto mostrado na televisão.

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Um dos aspectos mais discutidos entre os estudiosos da comunicação trata dos

efeitos da transformação dos jovens em potenciais adultos diante da televisão. O

consumismo é a força que move essa tendência uma vez que as crianças e o

público infanto juvenil como um todo constituem poderosa fatia da audiência

televisiva.

Neste aspecto o maior dilema dos pais é controlar o que as crianças devem ou não

assistir. Devemos concordar que é uma tarefa muito difícil de exercer uma certa

censura sobre os filhos. Mesmo assim, a televisão joga um jogo duplo dentro do

ambiente familiar, ao mesmo tempo que os pais gostariam que seus filhos não

assistissem a tantos programas recheados de sexo, drogas e violência, por outro

lado provam que muitas vezes não conseguem, ou não têm coragem de discutir os

mesmos assuntos com os filhos, principalmente se o assunto for sexo.

Assim, a televisão funciona, neste caso, como um cartaz para os pais, afinal é ela

quem abre as portas desses assuntos, e não eles, ou seja, as crianças têm a opção

de aprender pela televisão e não nas ruas, ao invés de ser, muitas vezes, através da

desconcertante conversa com os pais. Para estes, o maior problema é saber de que

forma as novelas, os filmes e os noticiários da televisão transmitem essas

informações para as crianças e ter a noção de até que ponto o que é veiculado pelos

canais de televisão aberta ou fechada, serve como fonte de referência para

educação infantil. Segundo Pereira Júnior (2002, p.208) “[...] há porém, acesso fácil

para gente jovem demais, com o risco de perda de sensibilidade diante da violência

real e sobre os papéis sexuais [...]”.

Sendo assim, a televisão estaria tendo um papel educador, mas como é difícil

garantir que as informações transmitidas sejam realmente esclarecedoras para as

crianças e para os jovens fica difícil estar realmente contando com a televisão para

educar. Os pais deveriam voltar a comunicar-se com seus filhos, utilizando o diálogo

para explicar e tirar as dúvidas sem ter vergonha de discutir determinados assuntos

e temas.

A televisão tem estado presente cada vez mais na vida das famílias modernas. As

crianças utilizam a televisão em seus tempos livres depois de suas aulas e tarefas

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extracurriculares como meio de entretenimento e até para receber mais informações

porque são curiosas e sempre buscam aprender algo, seja através da escola,

cursos, famílias e dos meios terciários de mídia. Geralmente seus pais ficam fora o

dia todo e deixam as crianças com empregadas e babás que não conseguem proibir

ou delimitar um programa ou horário para ser gasto com esta tela cheia de surpresas

e informações. A falta de comunicação entre pais e filhos, devido à vida atribulada

que levamos na modernidade faz com que as crianças acabem suprindo suas

ausências com esta tela, que está sempre presente, só é necessário apertar um

simples botão para estar lá recebendo informações.

“A vida moderna com seus avanços tecnológicos e as

transformações produzidas vão bloqueando aceleradamente as vias de acesso de lazeres e a cultura tradicional: o cinema, sob a forma de vídeo, vem a nossa casa, como vem a pizza, o supermercado, as (tele) compras em geral... Essa tendência aprisiona gradual e progressivamente as pessoas em casa substituindo as relações interpessoais diretas, face a face, pelas relações mediadas, do mesmo modo que tende a substituir as vivencias e experiências”.

(MOTTER LOURDES MARIA, 2003, p.30)

A televisão não atinge somente as crianças, ela também exerce um grande fascínio

sobre os adolescentes, existem programas feitos exatamente para eles, novelas

como “Malhação”, programa da rede Globo voltado para adolescente, ou atrações

da “MTV” acabam impondo aos jovens rótulos aos quais irão se encaixar, aderindo

às roupas que estão na moda, ao jeito de se expressarem e se comunicar, às gírias

que estão sendo utilizadas etc. Desta forma, para um pai conseguir mudar os

conceitos recebidos pelos jovens através da televisão é difícil, porque os jovens

geralmente passam a tarde inteira assistindo estes programas e adotam isso como

regra de vida, querendo transformar suas vidas naquilo que vêem; quando seus pais

chegam em casa sentem dificuldade de entrar neste mundo produzido pelos canais

de televisão sentindo dificuldade de conversar com seus filhos, posto que os jovens

acham os seus pais muito conservadores, incapazes de entender seu universo de

referência.

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Com os adultos, a influência talvez seja menor, mas também há como em todas as

fases, primeiro porque a televisão exerce sobre nós certo fascínio9, então quando

estamos utilizando nosso tempo livre para assistir televisão acabamos centrados na

informação transmitida, deixando de exercer qualquer outro tipo de comunicação.

Geralmente os pais cansados de um dia estressante de trabalho chegam em casa e

nada mais querem do que relaxar a mente, e param na frente do televisor, não

importa qual seja o programa assistido, permanecendo minutos e até mesmo horas

diante da tela para descansar de seus problemas do trabalho e da vida moderna.

Segundo Ana Paula de Oliveira (2003, p.6) “[...] quando assiste a TV, a pessoa se

sente relaxada, mas essa sensação se esvai tão logo o aparelho é desligado, porém

o estado de passividade permanece”. Isso faz com que cada pessoa dentro de uma

mesma casa não se comunique, deixe de conversar para ficar em frente a um

aparelho televisivo, ainda mais quando o aparelho de TV sai da sala e projeta-se nos

dormitórios exclusivos de cada morador10.

“A TV foi a mais importante revolução virtual: tem as imagens que o

radio não possui e é capaz de fixar hábitos na rotina das pessoas, ao contrario da Internet. Como a porta na caverna de Platão, a TV é o contato com o ideal, com o incansável, com o indireto. Senta-se em família diante dela como os primitivos se sentavam ao redor da fogueira. O convívio humano direto não foi abolido e não perdeu seu poder maior de conseqüência sobre a vida de cada um. Mas a TV é um mediador de parte significativa de nossas relações sociais”.

(PEREIRA JÚNIOR, 2002, p.13)

Desta forma o vínculo comunicativo vai sumindo, e sendo substituído por uma mídia,

que preenche nosso tempo livre e disponível com nenhuma informação. Nossas

casas estão ficando cada vez mais cheias de televisões e controles remotos, as

pessoas da família começam a desejar cada uma ter sua própria televisão para não

ser necessário dividir o controle remoto com nenhum outro membro de sua família

podendo editar os programas que deseja assistir, sendo assim, a televisão que era

um aparelho de decisão coletiva tem se tornado cada vez mais individual,

modificando a comunicação familiar. Segundo Bruno Ribeiro11 a disputa pelo

9 Alguns estudiosos já comparam o efeito da televisão ao do contador de histórias que hipnotiza e prende a atenção do ouvinte. 10 Nos primeiros anos após seu surgimento, a televisão era elemento de união familiar forçando uma aproximação e posterior debate sobre a programação. 11 Questionário que pode ser consultada em Anexo C deste mesmo trabalho, concedida em 15/10/2003.

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controle remoto existe e a pessoa que maneja o controle remoto determina a

programação a ser assistida num grupo.

Segundo Ivani Santana (2003, p.3):

“A mão se transforma em algo redundante e possível de atrofiamento enquanto a ponta dos dedos se transforma no órgão mais importante do ser humano. São eles que lidam com as teclas para a decodificação e atuação com os símbolos em benefício dos programas. A ponta dos dedos passa a ser o órgão da decisão, da escolha. O ser humano é emancipado do trabalho para estar apto a escolher e decidir. A liberdade de decisão de pressionar uma tecla ou um botão com as pontas dos dedos torna-se uma liberdade programada. A escolha de possibilidades pré-escritas, de regras delineadas no manual. A sociedade do futuro pode então ser aquela dos indivíduos que programam e dos que são programados. Mas esta é uma visão otimista pois estes que programam também estão decidindo no momento de tocar suas telas e atuar com símbolos e produzir informação”.

Sem adentrar no poder das teclas no que se refere à informatização notamos uma

tendência que em breve resultará no que muito chamam de “TV Interativa”. Nela

será possível retomar o diálogo entre telespectadores, além de modificar tempos e

seqüências após uma enquete simultânea.

Dificilmente a família recuperará o momento de comunicação entre seus membros

diluídos com a modernidade. Parece mais fácil que a comunicação se amplie entre

pares em diferentes esferas, aproximados pelas tecnologias em disposição.

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Conclusão

Quanto mais ressaltamos e nos orgulhamos do desenvolvimento da comunicação e

dos aparatos tecnológicos, mais a incomunicacão ganha força e ousadia,

provocando estragos, distorcendo, semeando discórdia, gerando falsas

expectativas, invertendo sinais e valores, azedando as relações e produzindo

incômodos.

Não é à toa que, quando lemos em diversos autores sobre o tema, observamos que

os excessos de informação produzem para o mundo uma catástrofe de sentidos, e

com ela estamos cortando os nossos vínculos com outras pessoas, e cortando

vínculos com nós mesmos, tornando-nos pessoas individualistas e incomunicáveis.

Com o aperfeiçoamento das novas técnicas e recursos de comunicação, aumenta a

ineficiência da comunicação com o mundo, com outros homens e consigo mesmo,

sendo assim, a sociedade esta vivendo um momento onde a falta de contato está

distorcendo os valores do vínculo comunicativo, devido à inserção no mundo de

aparelhos ultra-rápidos que codificam e decodificam a informação de modo tão

acelerado que acabam mudando a forma de comunicação pré-existente.

Pode ser observado que com a mudança e introdução da mídia terciária no

ambiente familiar provoca-se uma alienação devido à introdução de imagens rápidas

num menor espaço de tempo que atinge um maior número de pessoas com uma

mesma mensagem. A tendência da economia de sinais isola uns e outros, sendo

assim, pais e filhos, esposas e maridos, sofrem pela falta de diálogo. O tempo que

as crianças passam na frente do aparelho televisivo é muito maior do que o tempo

que ela dedica à leitura ou aquisição de uma informação não massificada,

distorcendo o ambiente familiar, provocando a perda do vínculo entre todos.

Devido à introdução da mídia terciária televisão, cada vez mais nossas casas estão

cheias de aparelhos e controles remotos. As pessoas que moram na casa desejam

mais e mais terem seus próprios aparelhos e se individualizarem, não necessitando

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dividir com nenhum outro membro da família a mídia televisiva. Assim, a família

deixa de desempenhar a comunicação de proximidade, e começa a existir um

distanciamento das relações familiares, tornando a possibilidade de contato físico e

comunicativo cada vez mais difícil, acabando aos poucos com o vínculo familiar.

Até mesmo as discussões sobre o conteúdo dos programas da TV deixa de ocorrer

no ambiente familiar, ficando esta abordagem delegada aos comentaristas

jornalísticos e, mais uma vez estabelecida de modo compartimentado entre os

indivíduos.

Vale a pena comentar que, mesmo intensificado a tendência do isolamento, a

informática e, sobretudo, a Internet possibilitou que indivíduos afins trocassem idéias

pela rede. Alguns falam na substituição do vínculo real por um virtual.

Voltando às considerações sobre a televisão e seus reflexos sobre a comunicação

no âmbito familiar, vale destacar o papel informativo inegável da TV. Embora de

modo exagerado, é ela que traz aos lares do mundo todo, informações que

fermentam a trocas de idéias entre milhões de pessoas, mesmo porque não são

todas as famílias que possuem recursos para propiciar o isolamento de cada

membro adquirindo diversos aparelhos televisivos e/ou equipamento de conexão à

rede mundial de informações que é a Internet.

A busca pela superação a que o homem se propõe sempre gerou excessos que

comprometeram sua motivação inicial. Foi e é assim com a produção de energia,

com a indústria bélica, com a medicina e como aqui discutimos com a comunicação.

Da mesma forma que a conscientização ecológica-ambiental fez com que se

refletisse mais e mais sobre o alto preço dos excessos evolutivos desmedidos, a

humanidade saberá atingir o equilíbrio na área da comunicação.

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Anexos Anexo A - Transcrição da entrevista com Norval Baitello Júnior realizada no dia 23/09/2003 na PUC/SP:

Baitello Júnior - Teoria dos vínculos na área da psicologia foi transcrita pelos

alunos de Enrique Pichón Rivière (argentino que vivia na França), mas não ajuda em

nada sobre os vínculos.

Deveríamos estudar para sabermos o que é a comunicação interpessoal e o que é e

como estes vínculos na comunicação primária se concretizam e se materializam.

Quando acontece a comunicação secundária e também a terciária.

Digamos que você tem na comunicação primária uma tipologia de vínculos.

Quem deu a primeira idéia sobre este assunto foi um psicólogo norte-americano com

suas pesquisas sobre os macaquinhos e sua mãe de arame. Você já ouviu falar

disso?

Naiume Matuzawa – Não.

Baitello Júnior - Ele fez um experimento com um macaquinho que acabou de

nascer. Ele separou o filhote da mãe e o colocou em uma gaiola com uma mãe de

arame com uma mamadeira e uma outra mãe de pelúcia sem mamadeira. O

macaquinho ficava o tempo todo com a mãe de pelúcia sem mamadeira, só

procurava a outra mãe de mamadeira quando sentia fome, aí, ele ia lá mamava e

voltava, então mostrou que a alimentação não é a construtora do vínculo e sim a

proximidade de ter o calor, e isto é chamado de vínculo maternal. Depois, este

vínculo vai se transformando ao longo do desenvolvimento do indivíduo no chamado

vínculo filho-mãe, onde a mãe passa a receber do filho carinho, amor, ela tem

necessidade de estar com o filho. Depois vai se transformando no vínculo de faixa

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etária, significa que a criança necessita de outras crianças e constituem vínculos de

comunicação horizontal entre os seus iguais. É complexo, pois, implica no conceito

de jogos, na criação de regras, na criação de limites, na criação de grupos, clubes,

na segregação de outras coisas nas quais as crianças remetem. A crueldade infantil

não tem limite.

Naiume Matuzawa - Não é horrível!

Baitello Júnior - Basta ver uma escola maternal.

Naiume Matuzawa - Qualquer defeito da criança é super aumentado.

Baitello Júnior - Você vê o que é inferno do universo infantil que serve para unificar

as crianças, são as mordidas, as pauladas, os empurrões etc, tudo isso vai se

codificando, se complexificando até que depois de uma certa idade isso se

transforma em escolas, clubes, sindicatos, sociedades, relação de empresas,

relações entre os iguais e na comunicação não hierárquica.

Depois outro tipo de vínculo que se desenvolve é o vínculo de parceria, de

constituição de vínculo heterossexual, o vínculo de homem e mulher é constituir o

outro.

Depois, só depois, por último, é que se desenvolve o chamado vínculo paternal que

é a relação de poder, que é um poder maior com todos os outros, que é a imagem

do pai. São cinco famílias de vínculo.

A comunicação familiar não foi muito estudada por Harry Harlows não escreveu

muita coisa sobre isto, ele não era comunicólogo, ele só constatou que eles existem,

mas não estudou como funcionam. Cada um tem um tipo de funcionamento como

podemos observar.

Então a comunicação familiar é uma comunicação de proximidades, a família não é

uma coisa, um balão de ensaio, que fica isolada no tempo, ela manda bilhete,

manda recado, telefona...

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Milton Pelegrini - Se beija, se abraça...

Baitello Júnior - Então, tem comunicação primária, secundária e terciária dentro da

comunicação familiar, como e quando só predomina, por exemplo, a comunicação

terciária, de o pai só falar com o filho por telefone, ou então só manda email não é?

Naiume Matuzawa - Existe o predomínio quando eles não se falam...

Baitello Júnior - Existe um tipo de laço, mas isso pode acontecer tanto morando

junto ou separado, porque às vezes moram juntos e não se falam, por exemplo, pai

levanta às 7.00 horas e chega às 10.00 horas da noite...

Milton Pelegrini - Se você, por exemplo, vai a uma casa que tem seis pessoas e

tem seis aparelhos de televisão, um para cada pessoa, já significou o rompimento da

mídia primária, ou seja, cada um vai assistir uma coisa.

Baitello Júnior - Para evitar a discussão que cada um assiste o que quer. Isso

significa que cada um vai ter o controle do que deseja assistir. O controle remoto

editorizou a televisão.

Milton Pelegrini - Que era uma decisão coletiva.

Baitello Júnior - Ele modifica o vínculo do espaço da comunicação familiar.

Portanto, a comunicação que era horizontal com o controle remoto torna-se

verticalizada.

Naiume Matuzawa - Fica hierárquica, onde a pessoa que tem o controle tem o

domínio de toda a programação.

Baitello Júnior - Quando agente está sentado com um grupo de pessoas e uma

está com o controle remoto, para as outras pessoas é um perigo porque a pessoa

pode ficar zapiando ou porque você pode ficar assistindo uma porcaria que não tem

utilidade.

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Milton Pelegrini - A questão de vínculo está muito ligada ao conceito de

comunicação que não pressupõe nenhum tipo de determinismo no ato da

comunicação, porque senão seria muito simples definir um vínculo a partir de um

ponto de vista só do emissor ou do receptor.

Então a idéia de comunicação que agente trabalha é aquela que existe se você

utilizar a figura do emissor e do receptor, e que o emissor só existe por causa do

receptor, portanto, ele já é emissor se o receptor estiver fazendo o elo para ele,

senão ele não é nada, e vice e versa.

Fica difícil estabelecer um único conceito para a palavra vínculo, porque o vínculo

pressupõe exatamente a passagem. Essa coisa que não dá para determinar, por

exemplo, o vínculo do macaquinho com a mãe seja calor e qualquer outra coisa, foi

possível determinar que não é só a alimentação.

Baitello Júnior - O vínculo tem um teor de surpresa para ele se manter vivo é

preciso estar sempre surpreendendo, aquela comunicação onde ela vira rotina vai

enfraquecendo o vínculo.

Logo, ele tem um dado de probabilidade, mas não de determinismo. Quanto maior o

grau de probabilidade mais ele vai estar vivo e motivando. Quanto o maior grau de

determinismo, mais ele está pendendo para entropia e para a morte. Por isso que

Thomas Bauer define a comunicação como surpresa, comunicação é surpresa.

Naiume Matuzawa - Porque a toda surpresa surge o interesse, acho, portanto a

surpresa mantém a comunicação devido ao interesse que surge nas pessoas.

Baitello Júnior - É uma definição parcial, uma definição bilateral, definição

interessante...

Milton Pelegrini - E a idéia do déficit também...?

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O Pross fala que comunicação é déficit, é gerar um déficit que precisa ser sempre

preenchido e conforme se esvazia ela novamente necessita de ser preenchida. Que

você gera déficit, porque você esvazia e no momento que você cobre você gera

déficit que precisa ser preenchido de novo.

Naiume Matuzawa - Ah! Um tem que estar alimentando o outro.

Milton Pelegrini - O grande problema da mídia terciária talvez seja eliminar um grau

de surpresa na comunicação, portanto, tornar a comunicação algo muito previsível,

muito determinável, e, tentar suprimir a questão dos déficits, talvez não suprima

nada, mas vende a imagem que é capaz de suprimir todos os déficits. Então, eu não

preciso falar com o meu pai porque eu tenho contato pelo email, telefone, celular,

etc. Na verdade você não está se comunicando, na verdade você só tem a

possibilidade que a mídia coloca para você como um grande guarda-chuva, você

não precisa se comunicar porque na hora que você quiser se comunicar eu estou

aqui para garantir que o canal funcione, isso acho que é o grande discurso da mídia

terciária, eu sou o canal, eu me basto, porque eu garanto a conexão quando você

quiser, como se isso fosse capaz de gerar surpresa, de gerar déficit. A essência é

criar déficit.

Baitello Júnior - Tudo quanto é sinal (meio) que você deixa no meio da sua casa é

mídia secundária. Você demonstra que passou por aqui ou ali. O prato que você

deixa ali ou que você lavou... Pross escreveu muito sobre isso em Estrutura

Simbólica Del Poder, quando ele fala sobre o quarto de brinquedos, o pai chega em

casa e a criança espalhou todos os brinquedos pela sala, aí, o pai chega e fala

assim: – Arruma tudo e leva para seu quarto! Porque a sala é um campo simbólico

do pai, a criança quando espalhou os brinquedos ela apropriou-se do campo

simbólico do pai, entrou com mídia secundária no campo do pai, querendo passar o

recado de “olha eu aqui”, o pai chega e fala “fora daqui”, simbolicamente ele está

dizendo saia fora da minha vida, saia do meu campo simbólico, eu não quero você

no meu campo simbólico, o que é uma catástrofe. O que ele pode fazer é dizer: -

Vamos levar os brinquedos para o seu quarto ou eu vou brincar com você ou então

deixa os brinquedos na sala. Desligar a televisão e jogar fora o jornal, porque o

jornal vincula o pai com o mundo lá fora, onde ele reforça a imagem de pai e

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autoridade de alguém que vem de fora, que conhece o mundo lá fora, e que aqui

dentro está reafirmando a imperiosidade a imperatividade do mundo lá fora.

Naiume Matuzawa - A influência da televisão sobre as famílias é a grande

responsável pela falta de comunicação?

Baitello Júnior - Ainda é a grande mídia, o computador ainda irá demorar para

chegar lá, ainda é muito abstrato.

Milton Pelegrini - As crianças que estão sendo já alfabetizadas pelo computador

quando chegarem no estágio de formarem suas famílias, eu acho que ai sim

veremos o impacto dos computadores nestas famílias. Que essas crianças vão gerar

daqui para frente.

Naiume Matuzawa - Será que nossa geração não vai mudar isto, hoje eu já sinto a

falta de vínculo nas famílias, será que as outras pessoas não vão sentir?

Baitello Júnior - A continuar a tendência aqui agente repete o que acontece nos

EUA, as chamadas liberdades irrestritas da televisão, a televisão fica rodando vinte e

quatro horas por dia. Na Europa já existe a tendência de que se liga a televisão num

determinado horário para assistir um determinado programa e imediatamente

desliga. Há movimento crescente contra a televisão indiscriminadamente, mas isto

na Alemanha, França, Escandinávia. Na Itália, Espanha e Portugal é um caos maior

do que aqui no Brasil. No leste europeu está muito atrasado ainda, ainda não se

sabe qual o modelo a ser seguido.

Milton Pelegrini - Entretenimento é o preenchimento do único tempo disponível das

pessoas com nada...

Baitello Júnior - Assim as pessoas se tornam cada vez mais catatônicas...

Anexo B - Questionário sobre a televisão e a família realizada através de perguntas que foram enviadas via email concedida em 14/10/2003:

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1-Quantas pessoas residem na casa e suas respectivas idades e nomes?

3 pessoas: Thiago Furlan Mori - 23 anos Mario Shigueo Mori - 47 anos Giulianella Furlan Mori - 50 anos 2-Quantos aparelhos de televisão existem na casa?

Três aparelhos.

3-Quantas saídas de antenas de televisão e tomadas existem na casa?

Uma saída e 20 tomadas.

4-Vocês assinam televisão a cabo?

Não.

5-As televisões da casa têm controle remoto?

Somente uma das televisões.

6-Quem determina o programa que é transmitido na televisão? Porque?

Giulianella:Como são vários aparelhos em casa, não sentimos muito problema de quem determina o programa a ser transmitido, a escolha da programação é consensual, no caso do aparelho compartilhado. Mário:Ninguém determina, cada um assiste o que lhe é mais aprazível. Thiago:Depende do horário e do grau de interesse sobre algum programa. Normalmente, meu pai, quando estão todos em casa, mas depende muito dos programas que estão passando.

7-Quem detêm o controle remoto na casa? Giulianella:O controle remoto só existe na televisão mais usada pelo casal e ele costuma passar pela mão dos dois, durante a programação, desde que esta esteja muito maçante (O uso do controle aqui é bastante democrático!). Mário:No caso de determinados programas (futebol, filmes) o controle fica comigo. Thiago:Eu, de dia, e meu pai, durante a noite.

8-Qual seu sentimento com relação a pessoa que detêm o controle da programação?

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Giulianella:Não existe uma só pessoa detentora do controle remoto. Mário:Não há alguém controlando a programação. Thiago:Não há animosidade, até porque há mais de uma tv.

9-Há discussões na casa sobre a programação escolhida? Que tipo?

Giulianella:Felizmente há um gosto muito semelhante em relação à programação. O único senão ocorre em relação aos jogos de futebol que eu particularmente detesto. Nesse caso, saio da sala e vou ouvir música (já que não acho a programação da televisão algo essencial!). Mário:Somente no caso de querermos assistir um programa diferente cada um, pois somos em três pessoas e temos três televisores, ai nos separamos, e a cada membro da casa assiste o que deseja em outro aparrelho. Thiago:Poucas, normalmente quando há futebol na tv. 10-Você acha que a televisão influência a comunicação entre as pessoas que residem na casa? De que forma?

Giulianella:Sem dúvida. No caso em que o programa ou o assunto abordado seja de interesse de todos, sempre ocorrem comentários e troca de opiniões, favorecendo o diálogo. No entanto, quando a programação é diferente para os membros da família, o que ocorre é exatamente o contrário, e o diálogo fica prejudicado. Mário:Não influência. Thiago: Sim. O conteúdo da programação pode tanto criar uma situação de conversa sobre o que está sendo transmitido como diminuir a comunicação em momentos em que se presta mais atenção na programação.

Anexo C – Questionário sobre a televisão e a família realizada através de perguntas que foram enviadas via email concedida em 15/10/2003:

1-Quantas pessoas residem na casa e suas respectivas idades e nomes?

5 pessoas Ramiro Cardoso Ribeiro - 49 anos Vera Lucia Predolin Ribeiro - 49 anos Mariana Predolin Cardoso Ribeiro - 22 anos Viviane Predolin Cardoso Ribeiro - 21 anos Bruno Predolin Cardoso Ribeiro -16 anos 2-Quantos aparelhos de televisão existem na casa?

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4 Aparelhos 3-Quantas saídas de antenas de televisão e tomadas existem na casa?

4 saídas de antenas e 20 tomadas 4-Vocês assinam televisão a cabo?

Sim 5-As televisões da casa têm controle remoto?

Sim 6-Quem determina o programa que é transmitido na televisão? Porque?

Ramiro:Enquanto estamos reunidos na sala , normalmente seguem as preferências do pai. Vera:Meu marido . Porque não tenho interesse em ver TV. Mariana:É democrático. Cada um escolhe o que quer assistir em uma das televisões da casa. Viviane:Quem chegou primeiro. Bruno:Quem está assistindo primeiro. 7-Quem detêm o controle remoto na casa?

Ramiro:É democrático. Vera:O marido. Mariana:Na maioria das vezes meu pai Viviane:Todos. Bruno:Todos , menos minha mãe. 8-Qual seu sentimento com relação a pessoa que detêm o controle da programação?

Ramiro:Às vezes é irritante Vera:Em alguns programas escolhidos por ele , fico irritada. Mariana:Vai da indiferença à irritação

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Viviane:Nenhum. Bruno:Prefiro que o controle fique comigo . É melhor. Pois assim posso escolher o que assistir. 9-Há discussões na casa sobre a programação escolhida? Que tipo?

Ramiro:Sim. Devido à diversidade de programas que atendem ao interesse das pessoas da casa, nem sempre se chega a um acordo, necessitando ir assistir em cômodos diferentes. Vera:Sim. Reclamações quanto ao tipo de programa escolhido. Ex: Futebol Mariana:Sim. Quando têm futebol na TV. Viviane:Sim. Quando meu pai e meu irmão querem assistir jogo no horário da novela. Bruno:Sim. Quando minhas irmãs querem assistir programas de fofocas. 10- Você acha que a televisão influência a comunicação entre as pessoas que residem na casa? De que forma?

Ramiro:Sim. As pessoas se ligam a determinados programas, novelas ou filmes, e para não perder a seqüência deixam de conversar entre si. Vera:Sim. Diminuindo a comunicação. Mariana:Sim. A TV entretêm as pessoas e diminui a comunicação. Viviane:Sim. Diminuindo a comunicação entre a família. Bruno:Sim. Diminuindo a comunicação entre nós.