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ESTUDO DA PENETRAÇÃO DO SAL NO PROCESSO DE SALGA E SECAGEM DA TILÃPIA DO NILO, Sarotherodonniloticus, no açude Pereira de Miranda, Pentecoste-Ceará-B rasi I. RONALDO DE OLIVEIRA SALES * storage, this method could be used with s~ccess when processing dried-salted tilapia raised in in- tensive fishculture ponds in Northeast Brazil. INTRODUÇÃO RESUMO Neste trabalho estudou-seum método simples pa- ra o processamento da salga e secagem da tilápia do Nilo. O rendimento médio em relação ao peso total foi de 43,5%, que se aproxima do aproveitamento médio de outros peixes salgados-secos, quando submetidos ao mesmotratamento. Por apresentar características boas quanto à apa- rência, aceitação por parte dos consumidorese estabi li- dade qu ímica e microbiol6gica de vida-de-prateleira. o método poderáser utilizado com su'cesso na preparação de hfbridos de tilápia salgados-secos criados em vivei- ros de piscicultura intensiva do Nordeste brasileiro. PALA V RAS-CHA VE: Processamento, Salgado-Seco, Vida-de-Prateleira, Tilápia. SUMMARY IMPROVE TO THE SAL TING AND DRYING PROCESS OF THE TI LAPIA, SAROTHERO- DON HORNORUM IN THE PENTECOSTE DAM PEREIRA DE MIRANDA, CEARA, BRAZIL. A tilápia do Nilo é uma das espécies de maior importância comercial dos açudes do Nordeste, ocupando o primeiro lugar em produ- ção a partir de 1978. Em 1979, a produção de pescadodos açudesfoi de 15.702,10 toneladas, concorrendo a tilápia do Nilo com 34,2% desta produção, conforme dados fornecidos pela Di- retoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS11. No Nordeste brasileiro, onde as condições climáticas são propícias existe uma demanda tradicional de pescado salgado. Estima-se que 45% do pescado capturado nos açudes do Nor- deste sejam comercializados salgadoou salgado- seco. O primitivismo, a falta de uma infra-estru- tura aliada a fatores tecnológicos são os princi- pais entraves para o aproveitamento racional do pescad09. 10 . BOTELHO4 recomenda usar um quilo de sal para cada três quilos de peixe para salga de pirarucu por período de 6 a 8 dias. SALES et alii 16 realizaram diversos experi- mentos com diferentes concentrações de sal, iniciando-se com as mais altas (35%) até as mais baixas (18%) e concluiram que o tucunaré salga- do em saíga mista, a 18% em relação ao seu I peso limpo, na região Nordeste do Brasil, pode ser considerado como "curado" após o período de 24 horas. Pois, quando da realização do pro- This work studied a simple method for pro- cessing dried-salted tilapia. The averageweight in relation to total weight was 43,5%, and the result carne very close to the averageof weight of others dried-salted fishes, when treated in the same way. Becauseof their good visual ca- cateristics, their accpetability by the consumers and chemical and microbiological stability for *Professor do Departamento de Tecnologia de Alimen- tos do Centro de CiênciasAgrárias da Universidade Fe- deral do Ceará. 53 Ciên. Agron. Fortaleza, 19(1):p. 53-60, Jun., 1988

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Page 1: INTRODUÇÃO - ccarevista.ufc.br to do sal para o interior do peixe é sempre acompanhado por um movimento mais ativo de sua água para a salmoura circundante. A cama-da exterior da

ESTUDO DA PENETRAÇÃO DO SAL NO PROCESSO DE SALGA E SECAGEMDA TILÃPIA DO NILO, Sarotherodon niloticus, no açude Pereira de Miranda,

Pentecoste-Ceará-B rasi I.

RONALDO DE OLIVEIRA SALES *

storage, this method could be used with s~ccesswhen processing dried-salted tilapia raised in in-tensive fishculture ponds in Northeast Brazil.

INTRODUÇÃO

RESUMO

Neste trabalho estudou-se um método simples pa-ra o processamento da salga e secagem da tilápia doNilo. O rendimento médio em relação ao peso total foide 43,5%, que se aproxima do aproveitamento médiode outros peixes salgados-secos, quando submetidos aomesmo tratamento.

Por apresentar características boas quanto à apa-rência, aceitação por parte dos consumidores e estabi li-dade qu ímica e microbiol6gica de vida-de-prateleira. ométodo poderá ser utilizado com su'cesso na preparaçãode hfbridos de tilápia salgados-secos criados em vivei-ros de piscicultura intensiva do Nordeste brasileiro.

PALA V RAS-CHA VE: Processamento, Salgado-Seco,Vida-de-Prateleira, Tilápia.

SUMMARY

IMPROVE TO THE SAL TING AND DRYINGPROCESS OF THE TI LAPIA, SAROTHERO-DON HORNORUM IN THE PENTECOSTEDAM PEREIRA DE MIRANDA, CEARA,BRAZIL.

A tilápia do Nilo é uma das espécies demaior importância comercial dos açudes doNordeste, ocupando o primeiro lugar em produ-ção a partir de 1978. Em 1979, a produção depescado dos açudes foi de 15.702,10 toneladas,concorrendo a tilápia do Nilo com 34,2% destaprodução, conforme dados fornecidos pela Di-retoria de Pesca e Piscicultura do DNOCS11.

No Nordeste brasileiro, onde as condiçõesclimáticas são propícias existe uma demandatradicional de pescado salgado. Estima-se que45% do pescado capturado nos açudes do Nor-deste sejam comercializados salgado ou salgado-seco. O primitivismo, a falta de uma infra-estru-tura aliada a fatores tecnológicos são os princi-pais entraves para o aproveitamento racional dopescad09. 10 .

BOTELHO4 recomenda usar um quilo desal para cada três quilos de peixe para salga depirarucu por período de 6 a 8 dias.

SALES et alii 16 realizaram diversos experi-

mentos com diferentes concentrações de sal,iniciando-se com as mais altas (35%) até as maisbaixas (18%) e concluiram que o tucunaré salga-do em saíga mista, a 18% em relação ao seu

Ipeso limpo, na região Nordeste do Brasil, podeser considerado como "curado" após o períodode 24 horas. Pois, quando da realização do pro-

This work studied a simple method for pro-cessing dried-salted tilapia. The average weightin relation to total weight was 43,5%, and theresult carne very close to the average of weightof others dried-salted fishes, when treated inthe same way. Because of their good visual ca-cateristics, their accpetability by the consumersand chemical and microbiological stability for

*Professor do Departamento de Tecnologia de Alimen-tos do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Fe-deral do Ceará.

53Ciên. Agron. Fortaleza, 19(1): p. 53-60, Jun., 1988

Page 2: INTRODUÇÃO - ccarevista.ufc.br to do sal para o interior do peixe é sempre acompanhado por um movimento mais ativo de sua água para a salmoura circundante. A cama-da exterior da

VOSKRESENSKy20 relata que pesquisa-dores japoneses estabeleceram a segúinte rela-ção que descreve a concentração limite com queo peixe deve ser salgado para se conservar:

S x 100 = 50W - 35

Onde:S = conteúdo de NaCI em porcentagem;W = conteúdo de H20 livre e ligada na

carne do peixe, eN.o 50 é um limite acima do qual já há ati-

vidade bacteriana.Neste trabalho são descritos experimentos

realizados sobre a salga e sec;lgem da tilápia doNilo (Sarotherodum niloticus), no açude Pereirade Miranda, Pentecoste-Cearft-Brasil.

Os experimentos foram conduzidos no sen-tido de avaliar os efeitos dos seguintes fatoresna qualidade dó produto final:

- Concentração ideal de sal em relação aopeso do peixe limpo;

- Tempo de "cura" após a salga;- Tempo de secagem em condições natu-

rais;- Estabilidade do produto salgado-seco

armazenado à temperatura ambiente, e- Variações na penetração de sal no pro-

cesso de salga e secagem.MATERIAL E MÉTODOS:

A matéria-prima utilizada neste trabalhoconstou de peixes da espécie tilápia, em númerode 50, correspondente a um total de 25Kg depescado, adquiridos junto aos pescadores doaçude Pereira de Miranda, Pentecoste-Ceará.

Imediatamente após a captura, os peixesforam colocados em caixas, contendo camadasde gelo picado, e foram assim mantidos até se-rem submetidos ao processamento. A FIG. 2mostra o fluxograma do processamento.

DESCRiÇÃO DAS ETAPAS DE FLUXOGRA-MA

- Seleção da matéria-prima: " pescado foiadquirido diretamente dos pescadores, logoapós o desembarque, utilizando-se somentepeixes com boas condições, e em tamanhocomercial que variou de 500 a 900 g.

- Preparação: abertura pelo dorso e remoção

das vísceras, guelras e serosas, permanecendo

função da espécie a ser processada, de formaque nco se deve empregar um teor de sal alémdo necessário para a obtenção de um bom pro-duto final, pois o uso em excesso torna o pro-duto final anti-econômico.

O processo de salga do pescado pode serdividido em três etapas2, 3. Na primeira o peixeé exposto à alta pressão osmótica. O movimen-to do sal para o interior do peixe é sempreacompanhado por um movimento mais ativo desua água para a salmoura circundante. A cama-da exterior da carne controla a velocidade depenetração do sal. Nessa etapa, ocorre um de-créscimo considerável no peso do peixe. As ca-madas interiores da carne não foram aindacompletamente penetradas pelo sal. Na segundaetapa, a pressão osmótica ainda exerce influên-cia, embora em escala reduzida. Não há grandediferença entre a taxa de sal que penetra no pei-xe e a taxa de água que deixa seus tecidos. Aconcentração de sal na camada superficial do te-cido muscular é igualada à da salmoura circun-dante. Qualquer decréscimo na quantidade desal presente na camada superficial da carne écompensada por sal retirado da salmoura. Naterceira, uma menor quantidade de sal se movepara o interior do peixe. Como conseqüência, opeso do peixe aumenta ligeiramente. A concen-tração nos flúidos celulares de todas as partesdo peixe se aproxima e, finalmente, iguala-se àconcentração da solução fora do peixe.

Essas três etapas são ilustradas pela Fig. 1.SALES et alii 16, trabalhando com tucuna-

ré salgado-seco com diversas concentrações desal, observaram que a penetração do sal em rela-ção ao músculo do pescado, no primeiro dia desalga, é de apenas 9-10%, independente da con-centração de sal.

BOTE LHO & NORT5 referem-se aos resul-tados obtidos com duas amostras de pirarucusalgado-seco da região amazônica de acordocom os métodos tradicionais e recomendadospelos autores, nos quais foram encontrados15,2 e 20,0% de sal, respectivamente.

Segundo LAHIRY et alii12, a proporção1: 7 ou 1: 8 (i.e. 12,5 ou 14,3%) de sal, parapescado eviscerado, parece ser ideal para umproduto final com 40% de umidade. Os mesmosautores comentam que este índice se admitiutambém ser suficiente para impedir a putrefa-ção de larvas de insetos.

Para se verificar o estado de conservaçãodos produtos preservados é de grande importân-

Oên. Agron. Fortaleza, 19(1): p. 53-60, lun., 198854

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CONCENTflAyAO o

TEClOO 00 PEIXE

SALMOURA

PESO 00 PEIXE

CONTEÚOO OE AGUA

FIGURA 1 -Velocidade de Penetração do Sal e Concomitante Escoamento da Água 130RGSTROM2

- Salga: utilizando o processo da salga mista

constante de sal fino de ótima qualidade, naproporção de 18% em relação ao peso dospeixes. O sal foi colocado sobre a parte mus-cular interna e distribuído uniformementeem toda a superfície exposta. Em seguida fo-ram dispostos, paralelamente, com a face in-terna voltada para cima, dentro de recipien-tes de plásticos, com capacidade para 50 li-tros. Após arrumados, foi feita uma com-pressão com o auxílio de pesos sobre os pei-xes, para permitir que ficassem submersos nasalmoura.

Vísceras

Sangue

Guelras

CAPTURA DO PEIXE

1

TRANSPORTE

~EVISCERAÇÃO -

+

LAVAGEM

1PESAGEM

1SALGA

1 -

SECAGEM

j~

~- NaCI

Cura - 20-24 horas

- 4-6 horas

ESTOCAGEM (Temperatura ambiente - 35 dias)

FIGURA 2 -Fluxograma do Processamento ParaObtenção da Tilápia Salgado-Seco.

Após o período de "cura" de 20 a 24 horas,os peixes foram lavados com a própria salmourapara eliminação do sal ainda existente no pes-cado.- Secagem: a secagem foi realizada ao sol di-

reto, sobre tendais de madeira e tela, eleva-dos cerca de 90cm acima do solo. O tempode exposição ao sol variou de 4 a 6 horas, atése obter um teor de umidade no produto fi-nal de 40 a 45%.

- Estocagem: para testes de estabilidade, o

produto salgado-seco foi conservado à tem-peratura ambiente durante um período de35 dias. Durante a estocagem foram realiza-das análises químicas e análises microbioló-gicas.

intacta a cabeça, nadadeiras e as escamas.Após isto, foram feitos cortes longitudinaisinternos no sentido de se aumentar o efeitocja penetração do sal no interior do pescado.

Ciên. Agron. Portaleza, 19(1): p. 53-60, Jun., 1988 55

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.-'-..,r ,--,, CLARK 19, mediante incubação a 35°C, du-

rante ~8 horas e o resultado exp~sso emUFC/g.

- Contagem padrão de bactérias: por semeadu-em ágar batata acidificada, usando-se a se-meadura "pour plate" segundo SHi'l:RF 17. Aincubação foi a 21°C durante 3 a 5 dias e oresultado expresso em UFC/g da amostra.

- Contagem de halófilas: contagem em ágar pa-drão adicionado de 20% de NaCI, usando-sea semeadura "pour plate", segundoBURGESS et alii6. A incubação foi a 32"Ccom leitura a partir de 7 a 30 dias.

- Salmonelã: 25g do produto foi colocado em125ml de caldo lactosado para pré-enrique-cimento; seguiu-se o enriquecimento em cal-do tetrationato e caldo selenito. A partir docrescimento nestes dois meios isolou-se emplacas de ágar SS e ágar verde brilhante. Ascolônias suspeitas foram submetidas ao siste-ma simplificado de identificação de entero-bactérias e, posteriormente, testadas sorolo-gicamente com antissoro polivalente somáti-co e flagelar (THATCHER & CLARK)19.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 apresenta o rendimento da tilá-pia do Nilo salgado-seco, a qual apresentou umrendimento médio de 43,5% em relação ao pei-xe íntegro.

A Tabela 2 apresenta as variações da com-posição química da parte comestível da tilápiado Nilo - peixe fresco, salgado e salgado-seco.

A Tabela 3 apresenta as variações de por-centagem de sal, porcentagem de umidade e re-lação sal/umidade durante 24 horas de salga emsalmoura natural a 18% de sal, em relação ao

As análises químicas foram realizadas dear;ordocom os seguintes métodos:- Proteína: determinada segundo o método de

Kjeldahl, descrito na "Association of OfficialAgricultural Chemists Methods"1, aplican-do-se para seu cálculo o fator de 6,25.

- Umidade: por secagem em estufa à tempera-°tura de 105 C, até peso constante do produ-

to.- Gordura: determinada pelo extrator de

Soxhlet, tendo como solvente a hexana.- Cinza: por calcinação em mufla à temperatu-

°ra de 550 a 600 C.

- Indice de peróxido: determinado pelo méto-do de Weller, modificado para pescado salga-do. A extração de gordura foi feita segundoMECHLENBACHER13.

- pH: medido em potenciômetro Metronic, napropoção de 10g do material homogeneizadopara 100ml de água destilada.

- Cloretos: determinados segundo NORMASANALI-TICAS DO INSTITUTO ADOLFOLUTZ15.

- BVT: determinado segundo NORMAS ANA-LITICAS DO INSTITUTO ADOLFOLUTZ 15.As análises microbiológicas foram realizadas

de acordo com os seguintes métodos:- Contagem total de mesófilos: contagem pa-

drão por semeadura em profundidade emágar segundo THATCHER & CLARK 19, Aincubação foi a 35°C durante 48 horas e oresultado dado em número mais provável(NMP) de bactérias/g da amostra.

- Contagem de coliformes totais e fecais: peloNMP, usando-se como meio de enriqueci.mento o caldo lactosado.

- Contagem de Staphy/ocococus aureus: se-meadura das diluições em ágar Baird-Parker e

TABELA 1

Rendimento da Tilápia do Nilo Salgado-Seco. em Experimentos Realizados em Pentecoste. Ceará no Ano de1985.

PESO M~DIO DOSEXEMPLARES (g)

PORCENTAGEM DE APROVEITAMENTO RELATIVO AO PEIXE INTEGRO

PEIXE I-NTEGRO PEIXE EVISCE-RADO

PEIXE SALGADO PEIXE SALGADO-SECO

100100

82,483,2

67,066,0

43,643,5

286,7302,5

56 Ciên. Agron. Fortaleza, 19(1): p. 53-60, Jun., 1988

Page 5: INTRODUÇÃO - ccarevista.ufc.br to do sal para o interior do peixe é sempre acompanhado por um movimento mais ativo de sua água para a salmoura circundante. A cama-da exterior da

Prote(na (%)Umidade (%)Gordura (%)Cinza (%)

-18,079,0

1,03.8

31,141,20,9

25,4

B. Téc. DNDCS, Fortaleza, 40( 1): 109-123, jan/jun. 1982

TABELA 3

Relação Entre o Tempo de Cura e a Análise da Tilápia do Nilo, Curada em Salmoura Natural, a 18% de Sal, emRelação ao Peso do Peixe Limpo. Comparando-se as Variações de Absorção de Sal e Perda de Umidade, Entre os

Peixes Sem Cortes Longitudinais e os Peixes Com Cortes Longitudinais. Pentecoste, Ce, 1985.

PEIXES SEM CORTES LONGITUDI.NAIS

SAL % UMIDADE % RSU*

PEIXES COM CORTES LONGITUDI.NAIS

SAL % UMIDADE % RSU*

PERIOOO DE SAL.GA (HORAS)

-67,0867,0562,8762,8559,0058,3057,30

-0,0950,0960,1120,1560,1750,1770.181

-6,987,01

10,2011,3211,4011,9512,55

-65,6064,5860,2658,8758,2055,3055,22

-0,1060,1080,1690,1920,1950,2160,227

-248

12162024

-6,406,507,109,82

10,3510,3710,40

*R5U Relação Sal-Umidade

peso do peixe limpo, comparando-se as diferen-ças de absorção de sal e perda de umidade entreos peixes sem cortes longitudinais e os peixescom cortes longitudinais.

As análises dos dados revelam que hoUVE:um pequeno decréscimo nos teores de umidade,observado a partir das 4 horas, quando se notauma relação sal/umidade na faixa de 0,096, fatoexplicado devido ao pouco tempo de contatodo sal com o músculo do pescado.

No período de salga de 20 a 24 horas osresu Itados mostraram-se satisfatórios para perdade umidade e penetração de cloretos, pois, ape-sar de divergentes nos peixes sem cortes e na-queles com cortes longitudinais, a relação sal/umidade foi de 0,177 a 0,181 para os peixessem cortes longitudinais no período de salga de20 a 24 horas, e 0,216 a 0,227 para os peixescom cortes longitudinais para os períodos desalga de 20 a 24 horas (estocados à temperaturaambiente). Este fato pode ser comprovado atra-vés da FIG. 1, na qual se nota dados de umida-de e cloretos na faixa de penetração de sal eperda de umidade em torno de 24h na faixa de9-10% de penetração de NaCl, e perda deumidade em torno de 5 a 8%.

SALES et alii6consideram que a relaçãosal/umidade ideal para uma boa conservação depescado salgado-seco se situa na faixa de 0,39 a0,42 para um tempo de secagem em torno de 6

ohoras a uma temperatura de 26 C e 4 horas auma temperatura de 30°C.

A preservação' do pescado é' atribu(dafundamentalmente a redução de água do produ-to final e à elevada concentração salina que, emconjunto, inibem o desenvolvimento microbia-no e impedem a deterioração do produto.NOGUCHI14 faz referência ao método da salgamista como sendo mais aconselhável paraobtenção do pescado salgado de boa qualidade.

BOTE LHO & NORTS afirmam que a açãoisolada do sal não constitui uma prevenção defi-nitiva contra a deterioração do pescado, sendonecessário ser complementada pela refrigeraçãoou pela secagem.

Segundo SURYANARAYANA RAO &LAHIRY 18, o principal argumento contra ométodo de salga e secagem (te peixes é que osprodutos desse tipo, normalmente encontradosnos mercados de países em desenvolvimento, semostram, na sua maioria, em estado de deterio-racão.

"7Ciên. Agron. Fortaleza, 19(1): p. 53-60, Jun., 1988

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Quanto à vida-de-prateleira, as normas bac-teriológit:;as para produtos salgados não foramainda estabelecidas internacionalmente, porém,no Brasil, a COMISSÃO NACIONAL GE NOR-MAS E PADRÕES PARA ALIMENTOS7 fixouos seguintes índices para o pescado salgado-se-co:

fornecidos pela Estação Meteorológica da Uni-dade de Piscicultura em Pentecoste, Ceará.

WI'.TERMAN 21 afirma que temperaturas

acima de 43°C têm sido usadas em alguns ex-perimentos de secagem ao ar livre, em paísestropicais sem grandes problemas.

Segundo FAOB, as condições ambientaisapropriadas para a secagem do produto salgado,ao ar livre, são as seguintes: umidade relativa doar 55% temperatura do ar 26°C e velocidade dovento 7Km/h.

Na Tabela 5 podemos observar que o pro-duto demonstrou ser estável durante 35 dias,através dos dados de Bases Voláteis Totais, In-dice de Peróxido e pH, apresentando, no final,

TABELA 4

Médias Mensais de Temperatura e Umidade Relativa do Ar, Durante os Anos de 1979 e 1980. em Pentecoste-

Ceará.

ANO

MESES TEMPERATURA

1980

TEMPERATURA (oCI

1979

UMIDADE RELATIVA (%) UMIDADERELATIVA (%)

MI-NIMA MrNIMA MÁXIMA MI-NIMA MI-NIMA MÁXIMAMAxlMA MAxlMA

33,433,333,033,433,433,433,434,434,034,133,533,4

22,322,322,322,023,623,621,821,320,420,720,921,1

495450553252495859275858

-939192848278839992989288

janfev

mar

abr

mai

jun

jul

agoset

out

nov

dez

32,433,633,934,334,834,035,5

18,020,121,923,022,722,122,2

58643765485753

93939892828487

TABELA 5

Análises Químicas do Tucunaré Salgado-Seco Durante o Período de Estocagem de 32 dias à TemperaturaAmbiente, Fortaleza, 1985.

BASES VOLATEISTOTAIS

rNDICE DE PEROXIDO

(meq/Kg)TEMPO DE ESTOCAGEM

(dias)pH

-7

14212835

21,3022,4033,5033,8040,20

7,808,259,90

10,6011,95

-6,085,685,555,355,10

58 Oên. Agron. Fortaleza, 19(1): p. 53-60. Jun.. 1988

Page 7: INTRODUÇÃO - ccarevista.ufc.br to do sal para o interior do peixe é sempre acompanhado por um movimento mais ativo de sua água para a salmoura circundante. A cama-da exterior da

- .do a contaminações diversas, devidas à manipu-lação dc. produto e uso de recipiente -.,al sanea.do.

Os resu Itados demonstraram que pode serobtido um bom produto salgado-seco com a uti-lização de uma concentração de sal usada, deacordo com a espécie piscícola a ser processada,em relação ao peso do peixe limpo, durante 20-24 horas de cura e 4 a 6 h de secagem ao sol.

A Tabela 6 mostra os resultados da conta-gem padrão que variaram de 2,3x105 a 3,7x108.Podemos observar que, somente no 32.0 dia, asamostras apresentaram-se fora dos padrões esta-belecidos pela COMISSÃO NACIONAL DENORMAS E PADROES PARA ALIMENTOS7.

O nível de contaminação por Staphy/oco-cus aureus variou de 1,4x 102 a 2,1 x 102 células/g do produto. As amostras estão dentro das es-pecificações da COMISSÃO NACIONAL DENORMAS E PADROES PARA ALIMENTOS7.

Com relação aos resultados para coliformesfecais, os mesmos ultrapassaram a quantidademáxima permitida para esses micr~rganismosneste produto, o que sugere que um tratamentomais adequado seja aplicado, uma vez que a pre-sença destes microrganismos é normalmenteinterpretada como uma indicação de contami-nação fecal recente.

Devido o teor de umidade do produto terdecrescido com o tempo, criando, portanto,crorganismos, podemos observar que, a partirdo 24.0 dia, a contagem de Staphy/ococusaureus reduziu-se a zero.

Com relação às bactérias halófilas, as mes-mas estiveram relativamente altas, quando com-paradas com a presença máxima permitida por

REFEReNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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TABELA 6

Análises Microbiológicas da Tilápia do Nilo Salgado-Seco, Durante um Período de Armazenamento de 32 dias àTemperatura Ambiente. Fortaleza, 1985.

DETERMINAÇÃOo 8

2.3x105

8.1x101

8.1x104

6.3x101 7,3x102

2,1x102

2,3x103

1.3x103

3.6x102 5.3x102

1,4x102

1,3x104

8.2x105

3,5x102

2,5x105

1.4x103

zero

8.2x103

zero

6.3x105

4,2x102

4.1x1024,3x102

4.3x102

9.2x105 1.3x103

1.3x103

zero

Contagem padrãobactérias/gContagem de mofose leveduras células/gContagem S. aureuscélulas/gContagem de hal6filascélulas/gColiforme total

células/gColiforme fecalcélulas/gSalmonella (25g) ausência ausência zero

59Ciên. Agron. Fortaleza, 19(1): p. 53-60, Juno, 1988

Page 8: INTRODUÇÃO - ccarevista.ufc.br to do sal para o interior do peixe é sempre acompanhado por um movimento mais ativo de sua água para a salmoura circundante. A cama-da exterior da

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