injeÇÃo de salmoura carbonatada em rochas...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
E INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
LUCAS SOARES MONTE-MOR
INJEÇÃO DE SALMOURA CARBONATADA EM
ROCHAS CARBONÁTICAS: EFEITOS DO
TRANSPORTE REATIVO
CAMPINAS
2018
LUCAS SOARES MONTE-MOR
INJEÇÃO DE SALMOURA CARBONATADA EM ROCHAS
CARBONÁTICAS: EFEITOS DO TRANSPORTE REATIVO
Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de
Engenharia Mecânica e Instituto de Geociências da
Universidade Estadual de Campinas como parte dos
requisitos exigidos para obtenção do título de Doutor
em Ciências e Engenharia de Petróleo, na área de
Reservatórios e Gestão.
Orientador: Prof. Dr. Osvair Vidal Trevisan (in memorian)
Este exemplar corresponde à versão final da
tese defendida pelo aluno Lucas Soares
Monte-Mor e orientada pelo Prof. Dr. Osvair
Vidal Trevisan (in memorian).
CAMPINAS
2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
E INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO
INJEÇÃO DE SALMOURA CARBONATADA EM
ROCHAS CARBONÁTICAS: EFEITOS DO
TRANSPORTE REATIVO
Autor: Lucas Soares Monte-Mor
Orientador: Prof. Dr. Osvair Vidal Trevisan (in memorian)
A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Tese:
Prof. Dr. Alessandro Batezelli Presidente
DGRN/IG/UNICAMP
Dr. Guilherme Daniel Avansi
DEP/FEM/UNICAMP
Prof. Dr. Celso Peres Fernandes
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Dr. Everton Zaccaria Nadalin
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
Dr. Carlos Eduardo Andrade Gomes Barreto
SOLPE
A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida
acadêmica do aluno.
Campinas, 22 de novembro de 2018.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, irmão e minha querida esposa que sempre me
motivaram e acreditaram no meu trabalho.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente ao grande amigo Professor e Orientador Dr. Osvair
Vidal Trevisan, pelos ensinamentos e confiança depositados em mim para realizar este trabalho.
Exemplo de profissionalismo que sempre será uma de minhas fontes de inspiração para ser
eternamente honesto e ético com todos.
Agradeço também a minha querida esposa Lilian Button que sempre me deu força nos
momentos mais difíceis e conforto em cada etapa do trabalho, do Brasil ao outro lado do mundo
na Austrália. Sem ela esse trabalho não seria possível.
Ao professor Christoph Arns por todo o ensinamento e conhecimento passado durante meu
período de intercâmbio na UNSW.
A todos os profissionais do Laboratório de Métodos Térmicos de Recuperação e Laboratório
de Métodos Miscíveis de Recuperação da UNICAMP: Henrique, Washington, Erika, Alessandra,
Nilo, Marta e principalmente aos grandes amigos Wellington e Leandro. A todos os funcionários,
professores e amigos do Departamento de Engenharia de Petróleo.
E por último à minha família, Izailton, Luzia e Danilo, que além de serem meus pais e irmão,
são amigos, heróis e fonte de inspiração e força que me proporcionaram condições para chegar ao
tão desejado título de doutor em Engenharia de Petróleo.
“If you want it, you can fly, you just have to trust
you a lot.”
Steve Jobs
RESUMO
Mais da metade das reservas de petróleo do mundo estão localizadas em reservatórios
carbonáticos, e no contexto brasileiro do pré-sal, apresentam altas quantidades de dióxido de
carbono (CO2). Devido a problemas ambientais relacionados às emissões de dióxido de carbono,
uma das soluções é sua re-injeção no reservatório. Os processos de injeção de CO2 em rochas
carbonáticas envolvem reações entre a salmoura ácida e a rocha. Essas interações promovem
mudanças petrofísicas na estrutura da rocha devido a dissoluções ou precipitações de calcita. O
objetivo deste trabalho foi investigar em escala de poros utilizando a técnica de microtomografia
de raios-X, as alterações do meio poroso através da injeção de salmoura carbonatada de alta
salinidade.
A metodologia desenvolvida neste trabalho foi aplicada a duas rochas coquinas com
significativa presença de microporosidade. Dados de porosidade e permeabilidade foram tomados
antes e depois dos testes, com porosímetro e permeabilímetro. Esses valores foram posteriormente
comparados com os resultados de permeabilidade (obtidas pelo diferencial de pressão) e de
porosidade (por microtomografia de raios-X). As análises das imagens de microtomografia foram
realizadas utilizando a técnica de segmentação de três fases, onde foram separadas as fases de
macroporos, microporos e grãos. Com o desenvolvimento de dois experimentos a temperatura de
65°C e pressão de 2000 psi, os ensaios procuram representar, para duas vazões diferentes de
injeção, os padrões de dissolução para a rocha coquina e localizar as regiões onde as mudanças no
meio poroso ocorreram. Para o primeiro experimento utilizou-se uma vazão de injeção de 0,1
cm³/min e para o segundo experimento uma vazão de injeção de 0,5 cm³/min. As duas vazões foram
escolhidas para representar diferentes regiões dentro do reservatório.
Os resultados de laboratório mostram que inicialmente ocorre uma perda de injetividade no
sistema e posterior aumento da permeabilidade. Após cinquenta volumes porosos injetados,
encontrou-se padrões de dissolução na forma de caminhos preferenciais. O uso de mapeamento
através de histograma 2D das imagens pré e pós-dissolução mostraram que ocorrem precipitação e
dissolução simultaneamente em toda a amostra, porém as reações são maiores nas regiões próximas
à face de injeção. Os resultados dos fluidos produzidos mostram que há uma boa concordância
entre os valores de porosidade medidos em laboratório e através de cromatografia de íons.
Palavras Chave: porosidade; permeabilidade; dissolução; coquina; salmoura, CO2; caminhos
preferenciais; microtomografia de raios-X; análise de imagens, histograma 2D.
ABSTRACT
More than half of the world's oil reserves are located in carbonate reservoirs, and in the
Brazilian pre-salt context, contain high amounts of CO2. Due to environmental issues related to
CO2 emissions, one of the solutions is the CO2 re-injection into the reservoir. The processes of CO2
injection in carbonate rocks involve reactions between the acidic brine and the rock. These
interactions promote changes in the rock structure due to calcite dissolution or/and precipitation.
The objective of this work was to investigate in pore scale using the technique of x-ray
microtomography, the alterations of the porous medium through the injection of high salinity
carbonated brine. With the development of two experiments at 65 °C and 2000 psi, the experiments
will represent for two different flow rates the dissolution patterns for the coquine rock and find the
regions where the changes occurred in the porous medium.
The methodology developed in this work was applied to two coquine rocks with high
presence of microporosity. Porosity and permeability data were obtained before and after the
experiments using a porosimeter and a permeabilimeter. The measured laboratory values were
compared to the permeability (obtained from differential pressure) and porosity (through X-ray
microtomography images). Microtomography images were analyzed using a three-phase
segmentation technique, which separates macropores, micropores and grain phases. For the first
experiment we used a flow rate of 0.1 cm3/min and for the second experiment a flow of 0.5
cm3/min. The two flow rates were selected to simulate different regions in the reservoir.
The laboratory results show an initial loss of injectivity in the system with reduction and
subsequent increase of permeability. After several pore volumes injected, dissolution patterns in
the form of wormholes were found. The use of mapping through 2D histograms for the pre- and
post-dissolution images showed the occurrence of precipitation and dissolution in the entire
sample, although the reactions are stronger in the vicinities of the injection face. The produced
fluids results showed that there is a good agreement between the porosity values measured in
laboratory and through ion chromatography.
Key Words: porosity; permeability; dissolution; coquine; brine; CO2; wormholes; X-ray
microtomography; image analysis, 2D histogram.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Regime de formação de wormholes vs Números de Péclet e Damköhler (adaptado de
GOLFIER et al, 2002 e FREED e MILLER (2000)). ................................................................... 28
Figura 2.2 – Padrões de dissolução encontrados aumentando a taxa de injeção de (a) para (e). (a)
dissolução facial, (b) “wormhole” cônico, (c) “wormhole” dominante, (d) “wormhole” ramificado
e (e) dissolução uniforme. Fonte: FREED e MILLER (2000) ...................................................... 30
Figura 3.1 – Fluxograma de trabalho pré e pós injeção de salmoura carbonatada (Carbonate
Water Injection - CWI) .................................................................................................................. 37
Figura 3.2 – Exemplo de amostra de coquina utilizada nos testes obtidas do afloramento do
Morro do Chaves, formação Coqueiro Seco, uma formação de carbonato Albiano do pré-sal da
Bacia de Sergipe-Alagoas .............................................................................................................. 38
Figura 3.3 – Extrator Soxhlet utilizado para limpeza das amostras com uma mistura de 50%
metanol e 50% etanol por um período de 24 horas. ...................................................................... 40
Figura 3.4 – Porosímetro/permeabilímetro a gás AP-608 utilizado para medir a porosidade e
permeabilidade das amostras a uma pressão de confinamento de 1000 psi. ................................. 41
Figura 3.5 – Zoom da superfície de amostra de coquina onde foi realizado o teste de XPS. Na
imagem aparecem dois dos pontos selecionados em uma escala de 600µ. ................................... 42
Figura 3.6 – Transdutor de pressão Yokogawa DPharp EJA130a ................................................ 43
Figura 3.7 – Esquema utilizado para saturação da salmoura com CO2. A garrafa 1 contém o CO2
que será injetado na garrafa 2 contendo a salmoura. ..................................................................... 44
Figura 3.8 – (a) Esfera flutuante utilizada dentro da garrafa para misturar a salmoura com CO2 e
(b) garrafa envolta por mantas térmicas e posicionada no cavalo mecânico utilizado para
movimentar os fluidos e esfera no interior. ................................................................................... 45
Figura 3.9 – Esquema utilizado para realizar os experimentos mostrando os equipamentos
utilizados. ....................................................................................................................................... 46
Figura 3.10 – Aparato montado para realização do teste e os componentes principais: (1) bomba
DBR, (2) garrafa contendo salmoura carbonatada, (3) core holder contendo as amostras, (4)
transdutor diferencial de pressão, (5) válvula de contra-pressão, (6) separador gás/líquido e (7)
gasômetro. ..................................................................................................................................... 47
Figura 3.11 – Sequência de preparo da amostra para confinamento no core holder. (a)
envolvimento da amostra com teflon, (b) seguido por papel alumínio, (c) após nova camada de
teflon é inserido o termo retrátil e (d) borracha utilizada para confinar a amostra........................ 49
Figura 3.12 – (a) Separador flash e frascos utilizados para coleta de líquidos e (b) gasômetro
utilizado para quantificar o volume de gás produzido. .................................................................. 50
Figura 3.13 – Registro de imagens 3D de coquina utilizada nos testes com 2560x2560 pixels e
resolução de aproximadamente ~10µm utilizando a técnica desenvolvida por LATHAM et al,
(2008). (a) Imagem antes dos testes e (b) imagem após o teste registrada e posicionada na mesma
posição pré-teste ............................................................................................................................ 54
Figura 3.14 – Exemplo de imagem tomografada de coquinas (eixos x,z) e subset da imagem
original. O número original de imagens 2D é de 4760. Após o subset foram aproveitadas 3880
slices. ............................................................................................................................................. 55
Figura 3.15 – (a) Imagem tomografada de coquina com 2560x2560 pixels, (b) após utilizarmos a
máscara geométrica temos uma imagem com 1160 pixels de raio (resolução: ~10,54µm) .......... 55
Figura 3.16 – (a) Região de uma imagem microtomografada de coquina (tamanho do voxel:
~10,54µm, 512x512 pixels), (b) Mesma imagem após a aplicação do filtro AD ......................... 56
Figura 3.17 – Exemplo de segmentação CAC utilizada no trabalho. a) Imagem original em escala
de cinza e b) imagem segmentada em três fases: poros (preto), grãos (vermelho) e microporos
(verde). ........................................................................................................................................... 57
Figura 3.18 – Exemplo de thresholds mostrando as intensidades finais definidas para poros
(preto), fase intermediária (verde) e grãos (vermelho) após duas segmentações CAC ................. 58
Figura 3.19 – Representação de como o algoritmo calcula a conectividade do sistema poroso na
direção z. Inicialmente calcula-se apenas a macroporosidade e em seguida adiciona-se a
microporosidade. ........................................................................................................................... 60
Figura 3.20 – (a) Representação do histograma de intensidades 2D para as imagens antes e após
os testes de dissolução: macroporos (0), fase intermediária (1 a N) e grãos (N+1) e (b) exemplo
de teste onde ocorre apenas dissolução, tornando grãos e microporos em 100% poros
(macroporos). ................................................................................................................................. 62
Figura 4.1 – Espectro de uma das análises de XPS realizadas no CNPEM. Os resultados mostram
a presença de calcita majoritariamente na região. O espectro é formado pela contagem por
segundo (CPS) pela energia de ligação (eV) ................................................................................. 64
Figura 4.2 – Coquina utilizada para medir a variação da porosidade e permeabilidade com o
aumento da pressão de 500 a 5000 psi. ......................................................................................... 66
Figura 4.3 – Gráfico com as medidas de porosidade variando-se a pressão de 500 a 5000 psi. ... 67
Figura 4.4 – Gráfico com as medidas de permeabilidade variando-se a pressão de 500 a 5000 psi.
....................................................................................................................................................... 68
Figura 4.5 – Gráfico mostrando a relação permeabilidade x porosidade variando-se a pressão de
500 a 5000 psi. ............................................................................................................................... 69
Figura 4.6 – Amostra de coquina utilizada no teste de dissolução1. ............................................. 70
Figura 4.7 – Imagem (a) pré e (b) pós alterações na face de injeção da amostra A7 com destaque
em vermelho para um furo encontrado na face após o teste. ......................................................... 71
Figura 4.8 – Evolução da permeabilidade em função do número de volumes porosos injetados
utilizando os dados originais e calculados através da equação de Darcy. ..................................... 72
Figura 4.9 – Evolução da permeabilidade em função do número de volumes porosos injetados
após utilizar os métodos de Dixon, Grubbs e média móvel. ......................................................... 73
Figura 4.10 – Evolução da permeabilidade calculada em função dos 10 primeiros Vp injetados
ilustrando a redução da permeabilidade no início do teste. ........................................................... 73
Figura 4.11 – Concentração de íons de Ca2+ produzidos no teste 1. ............................................. 75
Figura 4.12 – Concentração de íons de Mg2+ produzidos no teste 1. ............................................ 75
Figura 4.13 – Concentração de íons de K+ produzidos no teste 1. ................................................ 76
Figura 4.14 – Volume dissolvido/precipitado de calcita, estimativa da porosidade inicial e final
medidas em laboratório e porosidade calculada através das Equações 3.1 e 3.2. ......................... 76
Figura 4.15 – Histograma de intensidade de raios-X das imagens antes e depois do teste de
dissolução 1. .................................................................................................................................. 78
Figura 4.16 – Resultado de porosimetria por intrusão e mercúrio de uma rocha coquina, do
mesmo bloco de onde a amostra foi retirada, mostrando a distribuição de gargantas de poros.
Note a quantidade de gargantas menores que a resolução da imagem de aproximadamente 10um
(adaptado de MONTE-MOR e TREVISAN, 2016). ..................................................................... 78
Figura 4.17 – Cortes de imagens pré (esquerda) e pós-teste (direita). As distâncias das imagens da
face de injeção são: (a e a*) 0,24 cm, (b e b*) 1,44 cm, (c e c*) 2,84 cm e (d e d*) 3,64 cm. ...... 80
Figura 4.18 – Zoom de imagem antes (imagem superior) e depois (imagem inferior) do teste
ilustrando dentro dos retângulos vermelhos regiões em que ocorreram dissolução e precipitação
na mesma região da amostra. ......................................................................................................... 81
Figura 4.19 – Série de imagens mostrando o processo de segmentação utilizado neste trabalho. a)
Imagem original, b) primeira segmentação separando poros resolvidos, c) segmentação adicional
separando macroporos (preto), microporos (verde) e grãos (vermelho), e d) resultado final da
segmentação apresentando as 51 fases (macroporos, grãos e 49 fases microporosas).................. 82
Figura 4.20 – Resultado da análise de conectividade do sistema para a amostra A7 antes e depois
do teste. .......................................................................................................................................... 84
Figura 4.21 – Perfil de porosidade para poros resolvidos ao longo da amostra obtidas por imagens
de micro-CT antes e após o teste de dissolução ............................................................................ 85
Figura 4.22 – Amostra A7 reconstruída tridimensionalmente através de imagens de micro-CT
com a fase sólida (grãos) na cor cinza e poros na cor verde. ........................................................ 86
Figura 4.23 – (a) Mapa de dissolução da amostra A7. A fase porosa das imagens antes e após o
teste foi subtraída gerando um set de imagens ilustrando as mudanças no meio poroso. Na face de
injeção da amostra (topo da imagem) forma-se um wormhole (região dentro do retângulo
vermelho) gerado pela injeção de salmoura carbonatada. (b) Zoom do wormhole cônico formado.
....................................................................................................................................................... 86
Figura 4.24 – Distribuição de tamanho de poros, raio de garganta, aspect ratio, número de
coordenação e tortuosidade de garganta extraídos da rede de poros antes e após o teste. ............ 87
Figura 4.25 – Histograma de intensidade 2D mostrando a probabilidade de alterações pré e pós-
dissolução para todo o conjunto de dados de imagens. ................................................................. 89
Figura 4.26 – Divisão da amostra em blocos para computar os cenários de evolução através do
histograma 2D. .............................................................................................................................. 89
Figura 4.27 – Histograma 2D resultantes da divisão da amostra em 4 blocos. Bloco 1 representa a
região próxima a face injetora e o bloco 4 a região próxima a produtora. .................................... 90
Figura 4.28 – Amostra de coquina utilizada no teste de dissolução 2. .......................................... 91
Figura 4.29 – (a) Coquina utilizada antes do teste 2 e (b) e (c) fratura encontrada após a retirada
da coquina do core holder, borracha, termo retrátil, alumínio e teflon. ........................................ 93
Figura 4.30 – Evolução da permeabilidade em função do número de volumes porosos injetados
utilizando os dados originais e calculados através da equação de Darcy. ..................................... 93
Figura 4.31 – Evolução da permeabilidade em função do número de volumes porosos injetados
após utilizar os métodos de Dixon, Grubbs e média móvel. ......................................................... 94
Figura 4.32 – Evolução da permeabilidade calculada em função dos 26 primeiros Vp injetados
ilustrando a redução da permeabilidade no início do teste. ........................................................... 94
Figura 4.33 – Concentração de íons de Ca2+ produzidos no experimento 2. ................................ 96
Figura 4.34 – Concentração de íons de Mg2+ produzidos no experimento 2. ............................... 96
Figura 4.35 – Concentração de íons de K+ produzidos no experimento 2. ................................... 97
Figura 4.36 – Volume dissolvido/precipitado de calcita e estimativa da porosidade calculada
através das Equações 3.1 e 3.2. ..................................................................................................... 97
Figura 4.37 – Microtomografias de raios-X da coquina A1 antes e depois do teste. (a) e (b)
representam cortes nos eixos x, z e (c) e (d) os cortes na direção y, z. .......................................... 99
Figura 4.38 – Divisão da imagem em três regiões. A região fraturada (Região 2) não entrou na
análise das imagens. (a) corte no eixo x, z e (b) corte no eixo y, z. ............................................... 99
Figura 4.39 – Cortes de várias imagens pré (esquerda) e pós-dissolução (direita) para a região 1.
..................................................................................................................................................... 101
Figura 4.40 – Cortes de várias imagens pré (esquerda) e pós-dissolução (direita) para a região 3.
..................................................................................................................................................... 102
Figura 4.41 – Zoom de imagem (960 x 650 pixels) antes (esquerda) e depois (direita) do teste 2
apresentando regiões com precipitação e dissolução de minerais. .............................................. 103
Figura 4.42 – Série de imagens mostrando o processo de segmentação utilizada no teste 2. a)
Imagem original, b) primeira segmentação separando poros resolvidos, c) segmentação adicional
separando macroporos (preto), microporos (verde) e grãos (vermelho), e d) resultado final da
segmentação apresentando as 51 fases (macroporos, grãos e 49 fases microporosas)................ 104
Figura 4.43 – Resultado da análise de conectividade do sistema para a amostra A7 depois do teste
de dissolução para a região próxima a face injetora. ................................................................... 105
Figura 4.44 – Resultado da análise de conectividade do sistema para a amostra A1 antes e depois
do teste de dissolução para a região 3.......................................................................................... 106
Figura 4.45 – Perfil de porosidade para poros resolvidos ao longo da amostra obtidas por
imagens de micro-CT antes e após o teste de dissolução na região 1. ........................................ 106
Figura 4.46 – Perfil de porosidade para poros resolvidos ao longo da amostra obtidas por
imagens de micro-CT antes e após o teste de dissolução na região 3. ........................................ 107
Figura 4.47 – Microtomografia de raios-X da amostra A1 antes (esquerda) e após (direita) o teste
de dissolução com destaque para a fratura na região central da amostra. ................................... 108
Figura 4.48 – Amostra A1 reconstruída tridimensionalmente através de imagens de micro-CT
com a fase sólida (grãos) na cor cinza e poros na cor verde. ...................................................... 108
Figura 4.49 – Mapa de dissolução da região 1 da amostra A1. A fase porosa das imagens antes e
após o teste foi subtraída gerando um set de imagens ilustrando as mudanças no meio poroso.
Note a presença de um caminho preferencial gerado pela injeção de salmoura carbonatada. .... 108
Figura 4.50 – Mapa de dissolução da região 3 da amostra A1. A diferença de imagens não mostra
grandes mudanças no meio poroso. ............................................................................................. 109
Figura 4.51 – Distribuição de tamanho de poros, gargantas, aspect ratio, número de coordenação
e tortuosidade de garganta extraídos da rede de poros antes e após o teste 2 para a região 1. .... 110
Figura 4.52 – Distribuição de tamanho de poros, raio de garganta, aspect ratio, número de
coordenação e tortuosidade de garganta extraídos da rede de poros antes e após o teste 2 para a
região 3. ....................................................................................................................................... 111
Figura 4.53 – Histograma de intensidade 2D mostrando a probabilidade de alterações pré e pós-
dissolução para a região 1 (próxima a injeção). .......................................................................... 112
Figura 4.54 – Histograma de intensidade 2D mostrando a probabilidade de alterações pré e pós-
dissolução para a região 3 (após a região de fratura). ................................................................. 113
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 – Composição da salmoura sintética utilizada nos experimentos ................................ 44
Tabela 3.2 – Equipamentos utilizados para realizar os experimentos de injeção de salmoura
carbonatada .................................................................................................................................... 48
Tabela 4.1 – Concentração atômica por análise de XPS para nove pontos superficiais de amostra
de coquina com 2 cm de lado e 5 mm de espessura ...................................................................... 65
Tabela 4.2 – Medidas de porosidade variando a pressão de confinamento de 500 a 5000 psi. O
intervalo entre cada conjunto de medidas é de 24 horas, ou seja, após as medições da coluna
Medida 1, espera-se 24 horas e mede-se a porosidade encontrando os resultados da coluna
Medida 2 e assim por diante. ......................................................................................................... 67
Tabela 4.3 – Medidas de permeabilidade variando a pressão de confinamento de 500 a 5000 psi.
O intervalo entre cada set de medidas é de 24 horas, ou seja, após as medições da coluna Medida
1, espera-se 24 horas e mede-se a porosidade encontrando os resultados da coluna Medida 2 e
assim por diante. ............................................................................................................................ 68
Tabela 4.4 – Condições experimentais para o teste 1. ................................................................... 70
Tabela 4.5 – Valores de porosidade e permeabilidade médias inicial e final obtidas para o
experimento 1 ................................................................................................................................ 71
Tabela 4.6 – Resultados da cromatografia de íons para o teste com a amostra A7 ilustrando a
concentração de Ca2+, Mg2+ e K+ após 0, 5, 10, 20, 35 e 50 Vp injetados. .................................... 74
Tabela 4.7 – Parâmetros de aquisição utilizados para as imagens da coquina A7 antes e depois do
teste de injeção de salmoura carbonatada ...................................................................................... 77
Tabela 4.8 – Valores médios de SNR para as regiões de poros e grãos para as imagens filtradas e
não filtradas antes e depois do teste de dissolução. ....................................................................... 79
Tabela 4.9 – Valores das porosidades (%) macros, micros e totais obtidos através de imagens da
amostra A7 antes e depois do teste de dissolução. ........................................................................ 83
Tabela 4.10 – Condições experimentais para o teste 2. ................................................................. 92
Tabela 4.11 – Resultados da cromatografia de íons para o teste com a amostra A1 ilustrando a
concentração de Ca2+, Mg2+ e K+ após 0, 5, 10, 20, 35 e 50 Vp injetados. .................................... 95
Tabela 4.12 – Parâmetros de aquisição utilizados para as imagens da coquina A7 antes e depois
do teste de injeção de salmoura carbonatada ................................................................................. 98
Tabela 4.13 – Valores médios de SNR para as regiões de poros e grãos para as imagens filtradas e
não filtradas antes e depois do teste de dissolução 2. .................................................................. 100
Tabela 4.14 – Valores das porosidades (%) macros, micros e totais obtidos através de imagens da
amostra A1 antes e depois do teste de dissolução. ...................................................................... 103
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA .............................................................................................................................. 5
AGRADECIMENTOS .................................................................................................................... 6
RESUMO ........................................................................................................................................ 8
ABSTRACT .................................................................................................................................. 10
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... 11
LISTA DE TABELAS .................................................................................................................. 17
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 22
1.1. Motivação ....................................................................................................................... 24
1.2. Objetivos ......................................................................................................................... 25
1.3. Organização da tese ........................................................................................................ 25
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................... 26
2.1. Equações químicas da dissolução/precipitação de calcita .............................................. 26
2.2. Influências da taxa de injeção no transporte reativo ....................................................... 27
2.3. Análise digital de rochas ................................................................................................. 32
2.3.1. Estudos de fluxo reativo em meio poroso utilizando micro-CT ................................. 33
3. METODOLOGIA E APLICAÇÕES ..................................................................................... 37
3.1. Materiais ......................................................................................................................... 38
3.1.1. Rochas coquinas .......................................................................................................... 38
3.1.2. Fluido reativo .............................................................................................................. 38
3.2. Métodos experimentais ................................................................................................... 39
3.2.1. Preparação das rochas coquinas .................................................................................. 39
3.2.2. Porosidade e permeabilidade ....................................................................................... 40
3.2.3. Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X ................................................ 41
3.2.4. Medidas de permeabilidade durante os ensaios .......................................................... 42
3.2.5. Preparação dos fluidos de saturação e injeção ............................................................ 43
3.2.6. Cromatografia de íons e cálculo da calcita dissolvida e precipitada ........................... 45
3.2.7. Aparato e procedimento experimental ........................................................................ 46
3.2.8. Microtomografia de Raios-X ...................................................................................... 50
3.2.8.1. Laboratório de Microtomografia de Raios-X da UNSW ..................................... 50
3.2.8.2. National computational infrastructure (NCI) ....................................................... 51
3.2.8.3. Aquisição e reconstrução das imagens ................................................................ 51
3.2.8.4. Resolução e ruídos das imagens .......................................................................... 52
3.2.8.5. Métodos computacionais ..................................................................................... 53
3.2.8.6. Registo de imagens .............................................................................................. 53
3.2.8.7. Corte e máscara geométrica ................................................................................. 54
3.2.8.8. Filtros ................................................................................................................... 56
3.2.8.9. Segmentação e análise de microporosidade ......................................................... 56
3.2.8.10. Rede de poros ....................................................................................................... 59
3.2.8.11. Método para determinar a conectividade dos poros ............................................ 60
3.2.8.12. Cenários de evolução de porosidade baseado em análise de voxel por voxel ..... 60
4. RESULTADOS ...................................................................................................................... 63
4.1. Resultados de XPS .......................................................................................................... 63
4.2. Análise do decaimento da porosidade e permeabilidade com a pressão ........................ 65
4.3. Experimento 1 ................................................................................................................. 69
4.3.1. Propriedades da rocha medidas em laboratório antes e depois da injeção de salmoura
carbonatada ................................................................................................................................ 71
4.3.2. Evolução da permeabilidade ....................................................................................... 71
4.3.3. Evolução da concentração de íons .............................................................................. 74
4.3.4. Análise digital das imagens ......................................................................................... 77
4.3.4.1. Localização e evolução de mudanças na porosidade ........................................... 79
4.3.4.2. Visualização 3D do padrão de dissolução ........................................................... 85
4.3.4.3. Análise da rede de poros ...................................................................................... 86
4.3.4.4. Caracterização da evolução porosa voxel por voxel ............................................. 88
4.4. Experimento 2 ................................................................................................................. 91
4.4.1. Propriedades da rocha antes e depois do teste............................................................. 92
4.4.2. Evolução da permeabilidade ....................................................................................... 92
4.4.3. Evolução da concentração de íons .............................................................................. 95
4.4.4. Análise digital das imagens ......................................................................................... 98
4.4.4.1. Localização e evolução de mudanças na porosidade ......................................... 100
4.4.4.2. Visualização 3D do padrão de dissolução ......................................................... 107
4.4.4.3. Análise da rede de poros .................................................................................... 109
4.4.4.4. Caracterização da evolução porosa voxel por voxel .......................................... 111
5. CONCLUSÕES E DIREÇÕES FUTURAS ........................................................................ 114
5.1. Direções Futuras ........................................................................................................... 116
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 117
22
1. INTRODUÇÃO
Mais de 50% das reservas de petróleo mundiais são compostas por carbonatos (ARNS et al,
2005). Os carbonatos são conhecidos na engenharia de petróleo como reservatórios complexos
devido à heterogeneidade da estrutura porosa, compreendendo uma variedade de tipos de poros
com distribuições espaciais e conectividades irregulares e tamanhos de poro que variam de
nanômetros a centímetros (RAMAKRISHNAN et al, 2001).
As descobertas de petróleo em águas ultraprofundas trazem à tona desafios tecnológicos para
engenheiros e cientistas de todo o mundo. O pré-sal brasileiro e o africano contêm grandes volumes
de óleo e gás (THOMPSON et al, 2015) e esses depósitos contêm uma média de 10% a 15% de
Dióxido de Carbono (CO2) em seus reservatórios (CARBON CAPTURE JOURNAL WEBSITE,
2010), chegando a 50% dependendo do caso. O dióxido de carbono tem uma característica
corrosiva quando em contato com outros componentes, levando ao aumento dos custos dos
projetos. Com o objetivo de melhorar a recuperação e reduzir as emissões de carbono, uma das
soluções encontradas é a re-injeção do CO2 nos reservatórios.
O estudo dos efeitos da injeção de CO2 em rochas carbonáticas é essencial para entendermos
como o reservatório irá se comportar após anos de re-injeção. Processos envolvendo reações
químicas são dirigidos por interações entre o fluido migrante e a matriz da rocha. A evolução desses
sistemas envolve o transporte de massa e reações químicas particulares (LICHTNER et al, 1996).
O transporte de massa ocorre tipicamente por advecção e difusão, concorrentemente com a
ocorrência de reações na superfície porosa (KECHAGIA, 2002).
O conhecimento da porosidade, da permeabilidade e de suas distribuições desempenham um
papel importante na capacidade produtiva do reservatório, possibilitando a previsão do
desempenho e determinando as taxas de produção de poços. Dessa forma, o fluxo reativo de CO2
desempenha um papel importante durante o ciclo de vida do reservatório, uma vez que a
dissolução/precipitação e a migração de finos influenciam diretamente na porosidade, na
permeabilidade e no fator de recuperação dos campos de petróleo.
Alterações nas propriedades petrofísicas das rochas dependem da evolução topológica dos
poros (tamanho, forma e conectividade). Estudar alterações topológicas das rochas carbonáticas
demanda uma pesquisa aprofundada do sistema poroso devido a estrutura porosa complexa com
23
uma variedade de tamanhos e formas de poros e grãos (CANTRELL e HAGERTY, 1999;
RAMAKRISHNAN et al, 2001). O desenvolvimento de novos equipamentos como a
microtomografia de raios-X e de softwares dedicados ao estudo de rochas possibilitam um novo
meio de fornecer informações sobre como o fluido reativo altera o meio poroso.
A dissolução, o transporte e a precipitação de minerais alteram a porosidade e a
permeabilidade do meio poroso. Próximo ao poço de injeção, onde o desequilíbrio é maior, os
processos de dissolução podem afetar as propriedades mecânicas e a dinâmica dos fluidos da rocha.
Especificamente, a dissolução leva a um aumento na porosidade e na permeabilidade, bem como
altera a área superficial reativa do mineral. Por outro lado, o aumento da concentração de cátions
produzida pela dissolução do carbonato pode supersaturar o fluido no fluxo frontal. Nesse caso,
espera-se que a precipitação leve a uma diminuição na porosidade e permeabilidade (IZGEC et al,
2005; MONTE-MOR e TREVISAN, 2016; NUÑEZ, 2017).
A injeção de CO2 vem sendo estudada por diversos autores com diferentes resultados em
carbonatos. Alguns estudos mostram a redução de porosidade e permeabilidade (MOGHADASI et
al, 2005; BACCI et al, 2011; MULLER et al, 2009), indicando a precipitação como o fator mais
importante nas mudanças no meio poroso. Outros autores encontraram na dissolução o fator chave
nas alterações do meio poroso, com incremento de porosidade e permeabilidade (EGERMANN et
al, 2005; EGERMANN et al, 2010; YASUDA et al, 2014; NUÑEZ, 2017). ZEKRI et al, (2009) e
VAZ et al, (2017) relataram que a dissolução e a precipitação ocorrem no mesmo tempo em
experimentos de laboratório, ocasionando em resultados diferentes nas medições de porosidade e
permeabilidade.
Para compreender melhor os processos envolvidos em testes envolvendo CO2, a adesão do
uso de microtomografia de raios-X (micro-CT) tem sido uma ferramenta muito importante na
análise petrofísica de rochas. Por utilizar uma técnica não destrutiva, recentes desenvolvimentos
em análise de imagens trouxeram dados mais precisos de características de poros, volume, área e
conectividade. Várias pesquisas têm utilizado imagens de micro-CT para caracterização de rochas
e estudos de fenômenos de transporte reativo (LUQUOT e GOUZE, 2009; QAJAR, 2012;
GHARBI et al, 2013; QAJAR et al, 2013; AL-SHALABIA et al, 2014; ANDREW et al, 2014;
MACHADO et al, 2015; MACHADO et al, 2016; AL-KHULAIFIET et al, 2017). Tais pesquisas
tem contribuído para um maior entendimento de como os processos físicos e químicos influenciam
24
nas mudanças petrofísicas e como os projetos podem ser beneficiados com simulações digitais de
imagens.
1.1. Motivação
Muitos fatores influenciam o comportamento das reações do fluxo reativo com o meio poroso
como vazão de injeção, pressão, temperatura, pH da solução, composição da salmoura e da rocha,
entre outros. Os diferentes resultados encontrados nas recentes pesquisas mostram que estudos
relacionados aos fenômenos de transporte reativo devido à injeção de CO2 em rochas carbonáticas
são de extrema importância para melhor compreensão do fenômeno e como eles podem afetar a
produção do campo presente e futura após a injeção. Existe uma probabilidade da ocorrência de
dissolução próxima ao poço injetor e precipitação próxima ao produtor. A possível redução da
porosidade e permeabilidade nas regiões próximas ao poço produtor pode diminuir a produção de
óleo e afetar o desenvolvimento do campo (YASUDA et al, 2014; NUÑEZ, 2017; e VAZ et al,
2017).
O pré-sal brasileiro é composto por diferentes rochas carbonáticas como as coquinas e
dolomitos. Pesquisas envolvendo fluxo reativo utilizando rochas coquinas são pouco encontradas
na literatura ainda mais quando se trata da injeção de CO2. Por ser uma rocha com diferentes
tamanhos de poros, formas, conectividade entre outras propriedades petrofísicas (KINOSHITA,
2007; CORBETT et al, 2017) as coquinas são rochas complexas para previsão dos comportamentos
quando submetidas à injeção de salmoura carbonatada. Este trabalho motiva-se a entender e mapear
localmente onde se concentram as mudanças na porosidade do sistema submetido à injeção de
salmoura carbonatada e visualizar tridimensionalmente as mudanças ocorridas no sistema antes e
após as alterações.
Especificamente, este estudo analisará amostras análogas às encontradas no pré-sal brasileiro
baseando-se em uma técnica não tão difundida no Brasil para este tipo de rocha que é a
microtomografia de raios-X, sendo a análise da sub-resolução do equipamento um grande desafio
para caracterizar a porosidade das amostras.
25
1.2. Objetivos
O objetivo deste trabalho é realizar um estudo sobre os efeitos de um fluxo reativo na
estrutura porosa de rochas coquinas em escala de laboratório. Para analisar os efeitos na
porosidade, utiliza-se a técnica não destrutiva de microtomografia de raios-X para realizar medidas
digitais da evolução do meio poroso após a injeção de salmoura carbonatada. Os objetivos
específicos da tese são (1) quantificar através de imagens 3D as alterações na porosidade induzidas
pelo fluido reativo, (2) mapear localmente onde ocorrem dissolução/precipitação de minerais e (3)
comparar os efeitos da vazão de injeção nas mudanças de porosidade e permeabilidade do sistema.
1.3. Organização da tese
Esta tese está organizada em cinco capítulos.
O Capítulo 1 fornece uma introdução sobre a motivação e objetivos deste trabalho.
O Capítulo 2 mostra uma fundamentação teórica e uma revisão da literatura com os aspectos
mais importantes sobre as equações químicas e influência da taxa de injeção em projetos
envolvendo transporte reativo em carbonatos e como esse tema vem sendo tratado sob a perspectiva
da análise digital de rochas.
O Capítulo 3 apresenta a metodologia e aplicações no trabalho. É fornecido ao leitor
informações sobre equipamentos, materiais e como os testes foram preparados e realizados.
Os resultados encontram-se no Capítulo 4, onde se apresentam o comportamento das
amostras antes e após o teste de dissolução, e suas principais características como: mudanças na
porosidade e permeabilidade, análise da evolução da porosidade utilizando imagens de
microtomografias de raios-X, visualização 3D do padrão de dissolução e mapeamento de
dissolução/precipitação de minerais.
Finalmente, o Capítulo 5 apresenta as conclusões e observações dos experimentos, indicando
através de imagens e dados de laboratório as diferenças que a taxa de injeção provoca nas amostras
de coquinas.
26
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Nesta sessão será apresentada a fundamentação teórica e os principais trabalhos da literatura
sobre o uso de microtomografia de raios-X para análise das mudanças na porosidade de rochas
submetidas a fluidos reativos. São apresentadas as (2.1) reações químicas envolvidas na dissolução
de carbonatos, (2.2) a influência da taxa de injeção nas reações de dissolução e precipitação de
carbonatos na presença de salmoura carbonatada, (2.3) os trabalhos recentes disponíveis na
literatura sobre as características do fluxo reativo e suas implicações nas alterações na porosidade
e permeabilidade em carbonatos utilizando análise digital de rochas e (2.4) como o uso de micro-
CT vem sendo utilizado para estudar o escoamento reativo em meio poroso.
2.1. Equações químicas da dissolução/precipitação de calcita
As reações químicas no meio poroso causam principalmente a dissolução e a precipitação de
minerais. O processo de dissolução normalmente resulta em um aumento da porosidade e
permeabilidade do sistema e como consequência, aumenta-se a conectividade do sistema. Por outro
lado, a precipitação de sais pode bloquear o espaço poroso, levando há uma redução da
permeabilidade do sistema aumentando a resistência ao fluxo.
GHARBI (2014) descreve a dissolução de calcita na presença de água e CO2 em sete passos:
(1) difusão ou transporte de reagentes para a superfície sólida, (2) adsorção dos reagentes na
superfície sólida, (3) migração dos reagentes na superfície para um sítio ativo, (4) reação química
entre os reagentes adsorvidos e o sólido, (5) migração de produtos para longe do local da reação,
(6) dessorção dos produtos para a solução e (7) difusão ou transporte de produtos longe da
superfície. Deve notar-se que os diferentes passos descritos acima podem ser agrupados em três
passos principais: o transporte de reagentes para a superfície sólida (difusão, transporte e adsorção);
a reação química na superfície sólida; e o transporte de produtos longe da superfície sólida. A
dissolução da calcita, em princípio, é um processo de transferência de massa ou de transporte
limitado, embora possam existir outras condições limitantes. As reações em série que o sistema
CO2-água-calcita produz ao entrar em contato são descritas por AL-SHALABIA et al, (2014):
27
CO2 (g) + H2O = H2CO3 Equação 2.1
H2CO3 = H+ + HCO3- Equação 2.2
HCO3- = H+ + CO3
2- Equação 2.3
CaCO3 = Ca2+ + CO32- Equação 2.4
CO2(g)+ H2O + CaCO3 = Ca2+ + 2HCO3- Equação 2.5
A primeira reação mostra a formação do ácido carbônico pela dissolução de CO2 em água
(Equação 2.1). A calcita é um mineral afetado diretamente pelo ácido carbônico formado, dessa
forma, o segundo estágio é a dissociação do ácido carbônico (Equação 2.2 e Equação 2.3) seguida
pela dissolução da calcita (Equação 2.4). O efeito geral da dissolução de calcita pela injeção de
CO2 em presença de água pode ser expressado pela Equação 2.5. As reações podem ocorrer em
ambos os lados, formando tanto dissolução de calcita como precipitação.
2.2. Influências da taxa de injeção no transporte reativo
A evolução da estrutura da rocha é resultado das interações entre a rocha e o fluido reativo,
sendo dependente das condições termodinâmicas, composição da rocha e dos fluidos, e do tipo de
regime presente (ALGIVE et al, 2007). Quando existe uma rápida dissolução do mineral pelo
fluido reativo, ocorre a formação dos wormholes ou canais de alta permeabilidade. Nesse caso, os
fluidos reativos fluem preferencialmente para os poros maiores, reagindo com esses poros que
gradualmente se expandem, recebendo mais fluidos reativos. A estrutura dos canais de dissolução
e os padrões de dissolução são altamente dependentes da taxa de injeção e das propriedades dos
fluidos e da rocha (HOEFNER e FOGLER, 1988).
Os regimes e mecanismos de dissolução no meio poroso são controlados pelos números de
Péclet e Damköhler. O número de Péclet (Pe) é um número adimensional que descreve a razão
entre a advecção e a difusão (Equação 2.6). Este número é definido como a razão entre a taxa de
transporte por convecção e a taxa de transporte por difusão molecular (SAHIMI, 1995). O número
de Damköhler (Da) representa a razão entre as taxas de reação e o mecanismo de taxa de transporte
dominante (FREDD e FOGLER, 1999; GOLFIER et al, 2002) (Equação 2.7).
28
𝑃𝑒 =𝑣𝑙
𝐷𝑒 Equação 2.6
𝐷𝑎 =𝑘𝑙
𝑣 Equação 2.7
Onde v é a velocidade do fluido, l é o comprimento do meio poroso, De o coeficiente de
difusão e k o coeficiente de transferência de massa. Para altos valores de Pe e Da temos a formação
de um canal dominante e um grande aumento na permeabilidade é esperado devido ao processo de
dissolução. Para valores baixos de Pe e altos valores de Da, a dissolução ocorre principalmente na
superfície interna, levando à dissolução da face. Para valores muito baixos de Da, a dissolução é
altamente uniforme. A Figura 2.1 mostra a relação entre os números de Damköhler e Péclet para
os regimes de dissolução (GOLFIER et al, 2002).
Figura 2.1 – Regime de formação de wormholes vs Números de Péclet e Damköhler (adaptado de
GOLFIER et al, 2002 e FREED e MILLER (2000)).
FREED e MILLER (2000) ilustram em seu trabalho cinco tipos de estruturas resultantes da
injeção de fluidos reativos em meio poroso variando a taxa de injeção (Figura 2.2). Experimentos
com taxas de injeção mais baixas (Figura 2.2a) fazem com que a parte reagente do fluido seja
consumida logo no início do teste, formando uma dissolução compactada na face da amostra. Neste
caso, ocorre uma frente relativamente fina de dissolução, onde o sólido é completamente
dissolvido. Neste regime, a difusão é um mecanismo de transporte do ácido dominante, que levará
29
a estabilizar a frente de reação, independentemente das heterogeneidades do meio poroso
(GOLFIER et al, 2002).
Aumentando a taxa de injeção levemente (Figura 2.2b), temos uma penetração do fluido
reagente no meio poroso e consequente leve erosão nas paredes da rocha, formando um wormhole
cônico. Este caso ocorre para números intermediários de Péclet, onde a difusão é da mesma ordem
da advecção ácida: a frente de reação torna-se instável, especialmente em meios porosos
heterogêneos, e um padrão de dissolução cônica é visto.
Em taxas de injeção consideradas intermediárias (Figura 2.2c) o fluido reagente entra
preferencialmente nos poros maiores gerando um wormhole dominante. Neste caso, ocorre a
formação de um longo wormhole cilíndrico. Este regime ocorre quando a advecção é o regime de
transporte dominante para o ácido, enquanto as taxas de reação são bastante rápidas. A dissolução
é concentrada no wormhole devido às altas velocidades, com tempo de permanência mínimo,
produzindo wormholes não tão expressivos como os cônicos. Este seria o caso mais eficiente
quando se deseja aumentar a permeabilidade de todo o sistema em processos de acidificação de
reservatórios (FREDD e FOGLER, 1999).
Altas taxas e injeção (Figura 2.2d) geram wormholes ramificados devido a entrada do fluido
reagente em poros de tamanhos mais diversos. Wormholes ramificados ocorrem para números
elevados de Péclet e números intermediários de Damkhöler onde a advecção é o mecanismo de
transporte dominante. No entanto, a reação química não é muito rápida, o que leva a um tempo de
permanência mais longo; o wormhole se espalhara e estruturas ramificadas são formadas.
Dependendo da heterogeneidade, este regime pode ser observado para números mais altos de Péclet
e Damkhöler.
Por último, caso se injete o fluido em taxas extremamente altas (Figura 2.2e), temos a
formação de uma dissolução uniforme do meio poroso pois o fluido reagente é forçado em todos
os poros, sendo a matriz quase totalmente afetada pelo fluido reagente.
30
Figura 2.2 – Padrões de dissolução encontrados aumentando a taxa de injeção de (a) para (e). (a)
dissolução facial, (b) “wormhole” cônico, (c) “wormhole” dominante, (d) “wormhole” ramificado
e (e) dissolução uniforme. Fonte: FREED e MILLER (2000)
IZGEC et al, (2005) realizaram experimentos em rochas carbonáticas analisando os efeitos
de diversos parâmetros experimentais, dentre eles a variação da taxa de injeção de 3 a 60 cc/min.
Os resultados indicaram que a taxa de injeção possui uma relevância menor nas mudanças
petrofísicas se comparado à área e a duração do tempo de contato entre a rocha e o fluido reativo,
apesar do tempo de contato estar diretamente relacionado com a taxa de injeção aplicada. Os
resultados são compatíveis aos encontrados por EGERMANN et al, (2005) onde concluiu-se que
a taxa de injeção aplicada leva a diversos padrões de dissoluções não-uniformes e em alguns casos
a precipitação e redução da permeabilidade.
LUQUOT e GOUZE, (2009) realizaram um conjunto de quatro experimentos de fluxo
reativo a temperatura T = 100 °C e pressões variando de 0,7 a 10 MPa com o objetivo de verificar
a transferência de massa ocorrendo próximo ao poço de injeção, onde a salmoura está quase
totalmente saturada com CO2 e em distâncias longe do poço de injeção, onde o fluido apresenta
valores mais baixos de saturação de CO2. Os resultados mostraram as mudanças na permeabilidade
e porosidade induzidas pela dissolução e precipitação. O aumento da porosidade induzida pelo
processo de dissolução pode ser visualizado. Além disso, a criação de novas conexões de espaço
poroso foi destacada. Os resultados mostraram que a dissolução a valores positivos moderados de
Da parece ser mais eficiente para aumentar a permeabilidade e promover uma rápida disseminação
31
da frente de reação, ao mesmo tempo induzindo uma modificação mínima da porosidade na
vizinhança do poço de injeção.
ELKHOURY et al. (2013) realizaram quatro experimentos em amostras fraturadas usando
quatro vazões diferentes e sob condições de reservatório. Salmoura equilibrada foi injetada através
de fraturas com uma abertura média de ≈300 μm. Os padrões de dissolução observados nas fraturas
foram formações de wormholes nos experimentos com vazões de injeção mais lentas e dissolução
uniforme nos dois experimentos com taxa de injeção mais alta. Os mesmos resultados foram
encontrados por GARCIA-RIOS et al, (2015) que investigaram a influência da taxa de injeção na
dissolução e precipitação de carbonatos. Os resultados mostraram que em geral os padrões de
dissolução variam da dissolução da face à formação de wormholes e dissolução uniforme ao se
aumentar o fluxo (Pe maior e Da menor). DETWILER et al, (2003) e SZYMCZAK e LADD, (2009)
também encontraram essa tendência em seus estudos anteriores.
MENKE et al, (2016) investigaram o impacto da estrutura inicial dos poros e a velocidade
de injeção na dinâmica de reações rocha/fluidos para valores altos de Péclet e baixos de Damköhler.
Os resultados mostram que a porosidade pode tanto aumentar uniformemente com a distância da
amostra, ou pode exibir um aumento de variação espacial e temporal que é atribuído à formação
de canal, um processo que é distinto do wormhole, dependendo da estrutura inicial do poro e das
condições de fluxo. Os testes utilizando uma alta injeção (0,5 cc/min) produziram alterações
maiores na porosidade e permeabilidade se comparados com os testes a baixa vazão (0,1 cc/min).
QAJAR e ARNS, (2016) investigaram a dissolução de carbonatos utilizando ácido clorídrico
(HCl) para duas vazões. Para uma vazão mais alta, os resultados experimentais mostraram um
regime de dissolução quase uniforme e para vazões mais baixas um regime de dissolução
semelhante a um wormhole. Em ambos os casos os resultados mostram que houveram poucas
alterações na porosidade obtida por microtomografia de raios-X, pois foram identificadas áreas
com dissolução e outras com precipitação de minerais.
Pode ser observado nos trabalhos apresentados, a ocorrência de dissolução e precipitação de
minerais nos carbonatos estudados. Mesmo utilizando uma escala de laboratório, ambos os
fenômenos aparecem no mesmo local, apesar de ser mais constante a dissolução próxima ao injetor
e, consequente, aumento da permeabilidade e a precipitação próxima ao produtor. ROSENBAUER
32
et al, 2005 e POKROVSKY et al, 2005 apresentaram investigações experimentais relatando taxas
de reação de dissolução de calcita por injeção de CO2 em alta pressão e temperatura. No entanto,
apenas alguns estudos (ARNS et al, 2003; SAKELLARIOU et al, 2004; ARNS et al, 2005;
KNACKSTEDT et al, 2009) experimentais foram realizados na escala de poros, a fim de imitar o
transporte reativo no contexto da injeção de CO2 em rochas carbonáticas
2.3. Análise digital de rochas
A análise digital de rochas é cada vez mais usada para auxiliar o cálculo das propriedades
petrofísicas e de transporte de materiais porosos através de imagens 3D obtidas por
microtomografia de raios-X (ARNS et al, 2003; SAKELLARIOU et al, 2004; ARNS et al, 2005;
KNACKSTEDT et al, 2009). A técnica de micro-CT produz imagens de alta resolução em escala
de micrômetros que, ao serem processadas, criam dados fidedignos digitais 3D. Através das
imagens são calculadas as propriedades petrofísicas por técnicas numéricas. Outra técnica como a
microscopia eletrônica de varredura permite analisar a rocha em escala nanométrica para descrever
poros e grãos, porém as análises por microscopia eletrônica de varredura permitem apenas uma
análise 2D. Os avanços tecnológicos recentes de micro-CT, tomografia por feixe de íons e a
microscopia de varredura a laser possibilitam a análise direta da microestrutura 3D de materiais
porosos em alta resolução. Particularmente, a análise micro-CT de raios-X tem se mostrado o
método não destrutivo para imagens mais utilizado nos últimos anos (SPANNE et al, 1994; COLES
et al, 1994; ARNS et al, 2005; SHEPPARD et al, 2006; YOUSSEF et al, 2007; LUQUOT e
GOUZE, 2009; QAJAR et al, 2013, GHARBI, 2014, QAJAR e ARNS, 2017). Os novos avanços
trazem dados precisos que permitem determinar as características de poros, volume, área,
conectividade, simulações de fluxo (permeabilidade absoluta e relativa, upscaling de fluxo, curva
de pressão capilar), parâmetros elétricos (fator de formação, índice de resistividade, expoente de
cimentação) e parâmetros mecânicos (elasticidade, rigidez e condições in situ).
Apesar dos avanços recentes em imageamento 3D por micro-CT de estruturas porosas, ainda
persiste a limitação da relação entre o tamanho da amostra e a resolução das imagens. Em geral,
quanto maior a amostra, menor a resolução obtida e menor as propriedades capturadas (VOGEL et
al, 2010). O desafio torna-se obter a melhor resolução em um tamanho de amostra onde seja
possível utilizar a mecânica de macro escala onde se aplica a mecânica convencional contínua (LIU
33
et al, 2011). Quando lidamos com carbonatos, temos um sistema complexo de tamanhos de poros,
com correlações diversas de porosidade e permeabilidade. A divisão da distribuição de tamanho
de poros em macro e microporos neste trabalho leva em consideração as imagens obtidas por
microtomografia de raios-X. Neste caso, os macroporos são os poros chamados de resolvidos por
imagens e os microporos foram definidos como os poros na sub-resolução da imagem (menores
que uma unidade de volume ou voxel).
2.3.1. Estudos de fluxo reativo em meio poroso utilizando micro-CT
As técnicas para caracterização de reações em meio poroso têm sido cada vez mais estudadas
através de microtomografia de raios-X por obterem um resultado mais preciso em mudanças no
meio poroso por processos de advecção, difusão e adsorção (ARMSTRONG et al, 2011 e JUNG
et al, 2012). NOIRIEL et al, (2005) e BERNARD (2005) examinaram as modificações estruturais
de calcário pela injeção de água carbonatada. As rochas foram escaneadas antes e após os testes
para efeito de comparação das mudanças nas estruturas da matriz. Foram utilizados quatro
subvolumes de 2 mm cada para análise devido à presença de ruídos e dificuldade no registro das
imagens escaneadas. Uma nova técnica foi desenvolvida para agrupar os subvolumes em um
conjunto único com o objetivo de quantificar as evoluções do meio poroso. Os autores descrevem
dificuldades em obter imagens de alta resolução que facilite o registro das imagens nos voxels
inalterados e uma melhor técnica de segmentação para particionar a imagem entre poros e grãos.
GOUZE et al, (2005) e NOIRIEL et al, (2007) utilizaram micro-CT para visualizar e
quantificar as mudanças na morfologia da fratura devido a injeção água carbonatada em um
tamanho de voxel de 4,91 μm. A abertura da fratura pelas imagens foi comparada diretamente com
os dados de laboratório a partir da queda de pressão e do balanço de massa. A técnica de
segmentação trifásica baseada em crescimento de regiões desenvolvida por PITAS (2000) foi
utilizada para segmentar a imagem separando poros e grãos. Essa técnica inicialmente segmenta a
imagem escolhendo os voxels que contem poros e a matriz. A segunda etapa consiste na adição de
voxels (crescimento da região) semelhante aos vizinhos. Essa abordagem é mais precisa que a
segmentação única, porém negligencia a presença de micro porosidade dentro da amostra dada pela
sub-resolução das imagens.
34
NUR et al, (2011) estudaram a evolução da porosidade, permeabilidade e propriedades
elásticas resultantes das reações por injeção de CO2 utilizando física digital de rochas. Os autores
apresentaram dados que mostram que as mudanças entre a permeabilidade e porosidade não estão
de acordo devido a migração de finos, apesar de nenhuma evidência confirmar o fato.
QAJAR et al, (2013) forneceu uma metodologia experimental detalhada que permite a
caracterização de alterações de porosidade local de dissolução na escala de poros usando
ferramentas de imagem de alta resolução. Os autores injetaram uma solução de ácido
etilenodiamino tetra-acético (EDTA) em uma amostra de 7 mm de diâmetro e 21 mm de
comprimento. O trabalho assumiu que existem regiões onde a densidade das fases sólidas e de
poros permanecem inalteradas durante o processo de dissolução, permitindo assim a comparação
entre os regimes pré e pós-dissolução que ocorrem em condições diferentes, isto é, resoluções
diferentes.
GHARBI (2014) investigou o fluxo multifásico e transporte reativo em carbonatos utilizando
imagens de micro-CT. Na tentativa de obter um comportamento genérico de carbonatos, o autor
utilizou imagens e modelagem em escala de poros para investigar o fluxo de duas fases. Os
resultados mostram que poucos poros e gargantas de poros foram alterados após a dissolução. O
fluxo ficou concentrado nas regiões do wormhole após as reações. O trabalho em questão é
importante por destacar a física de escoamento multifásico em escala de poros e sua eficiência na
análise de injeção de água e CO2 em carbonatos.
MACHADO et al, (2016) realizaram injeção de ácido nas coquinas extraídas de um
reservatório do pré-sal brasileiro. Os resultados mostraram a formação de canais altamente
permeáveis, embora os autores relatem dificuldades nas análises devido ao tamanho limitado de
voxel. TELES et al, (2016) realizaram um experimento semelhante com injeção de ácido clorídrico
através de amostras de coquinas, onde foi detectado um wormhole visual. Modelos 3D mostraram
que regiões com baixa porosidade foram afetadas pelo wormhole devido a interação com o ácido
clorídrico.
LUQUOT et al, (2016) utilizaram microtomografia de raios-X para comparar os parâmetros
estruturais, geométricos e de transporte de uma amostra de rocha calcária com experimentos de
injeção reativa em laboratório. A porosidade total e efetiva, a distribuição do tamanho dos poros,
35
a tortuosidade e o coeficiente de difusão efetivo foram estimados através de imagens. Os resultados
mostram que as medidas obtidas por imagens estão de acordo com as medições clássicas de
laboratório, inclusive demonstrando que a porosidade computacional é mais informativa do que a
medição laboratorial. Porém, as distribuições de tamanho de poros obtidas por imagens são
diferentes dos dados experimentais, porém complementares. O trabalho mostrou que o uso de
micro-CT para determinar parâmetros de transporte, geométricos e petrofísicos fornecem
resultados semelhantes aos medidos no laboratório.
CORBETT et al, (2017) investigaram a porosidade, a permeabilidade, a densidade de grãos
de coquinas usando imagens de micro-CT. O objetivo foi identificar características do sistema de
poros e criar um modelo 3D para representar a amostra. Os resultados mostram uma variação
significativa no expoente de porosidade que, segundo o autor, se deve a uma gama de tecidos e
topologia de poros presentes nas amostras descritas como calcirudites.
AL-KHULAIFI et al, (2017) estudaram a dissolução em um meio quimicamente heterogêneo
composto por dois minerais. Foi realizado um experimento de transporte reativo utilizando
salmoura saturada de CO2 em condições de reservatório e imagens de micro-CT foram escaneadas
em série juntamente com a coleta dos efluentes produzidos para avaliar a dissolução mineral. Os
resultados mostraram que a dissolução mineral da análise de imagem foi comparável àquela medida
da análise de efluentes e que a relação entre a taxa de reação efetiva da calcita e a da dolomita
diminui com o tempo, indicando a influência de efeitos de transporte dinâmico originados pelas
mudanças na estrutura do poro, juntamente com diferenças nas taxas de reação intrínseca. Foi
constatada inicialmente uma dissolução uniforme do espaço de poros, enquanto um segundo
estágio mostrou um regime de crescimento de canal principal. Os autores concluíram que os efeitos
de memória espacial no meio poroso com uma característica de fluxo heterogêneo (dolomita)
podem alterar os padrões de dissolução no meio poroso com uma característica de fluxo
homogêneo (calcita).
MENKE et al, (2018) investigaram experimentalmente o impacto da heterogeneidade na
dissolução de dois calcários, caracterizados por graus distintos de heterogeneidade de fluxo nas
escalas de poro e núcleo. Ambos os experimentos foram realizados com injeção de salmoura
carbonatada em condições de reservatório. Primeiro, amostras de 1 cm de diâmetro e 4 mm de
comprimento foram escaneadas durante o fluxo reativo com tamanho de voxel de 4μm entre 10 e
36
71 vezes usando-se a tomografia de raios-X 4D (μ-CT) ao longo de 90 min. Em seguida, amostras
de 3,8 cm de diâmetro e 8 cm de comprimento foram submetidas as mesmas condições de
reservatório e foram visualizadas utilizando um scanner de tomografia computadorizada de raios
X (XCT) de grau médico. Cada amostra foi escaneada aproximadamente 13 vezes ao longo de 90
min em uma resolução de 250 × 250 × 500μm. Esses núcleos maiores foram então digitalizados
dentro de um μ-CT em um tamanho de voxel de 27μm para avaliar a alteração da heterogeneidade
do espaço poroso após a reação. Ambos os tipos de rochas exibiram alargamento de canal na escala
de milímetros e dissolução progressiva da via de alta porosidade na escala centímetros. Nas rochas
mais heterogêneas, a dissolução foi mais focada e progrediu ao longo da direção do fluxo. Além
disso, as vias de dissolução continham uma microestrutura distinta capturada com micro-CT que
não era visível na resolução da XCT, onde o fluido reativo não havia dissolvido completamente a
estrutura interna dos poros.
O estudo de dependência de escala usando tomografia 4D in situ fornece informações sobre
os mecanismos que controlam as taxas de reação locais nas escalas em milímetro e em centímetro.
Além disso, este trabalho sugere que sob essas condições em escalas maiores é provável que seja
a heterogeneidade estrutural que domina o padrão de dissolução e, portanto, a evolução das vias de
alta permeabilidade.
37
3. METODOLOGIA E APLICAÇÕES
Nesta sessão são apresentadas as características das rochas coquinas e fluidos utilizados nos
testes, e os protocolos experimentais e computacionais que nos permitiram caracterizar as relações
entre mudanças na microestrutura da rocha e porosidade devido à dissolução/precipitação química
dos minerais. O experimento proposto combina uma variedade de técnicas experimentais incluindo
análise química dos efluentes, medições contínuas de permeabilidade e informações 3D de alta
resolução de escala de poros da microestrutura de rocha fornecida por microtomografiade raios-X
para caracterizar a evolução das amostras de rochas devido aos experimentos de fluxo reativo. A
Figura 3.1 mostra o fluxo de trabalho para a análise petrofísica antes e após o fluxo reativo. Antes
e após a injeção de água carbonatada, foram realizadas medidas de porosidade, de permeabilidade
e de microtomografia computadorizada para comparar as alterações na porosidade e
permeabilidade por dissolução/precipitação de calcita. Com o objetivo de realizar a análise
temporal das imagens obtidas, e obter informações tridimensionais das mudanças ocorridas no
meio poroso, as imagens passaram por um processo de registro, filtragem e segmentação. Por fim,
foi realizada uma análise de microporosidade do sistema.
Figura 3.1 – Fluxograma de trabalho pré e pós injeção de salmoura carbonatada
(Carbonate Water Injection - CWI)
38
3.1. Materiais
3.1.1. Rochas coquinas
Buscando estudar rochas do pré-sal brasileiro, as rochas coquinas da formação do Morro do
Chaves vem se destacando por possuírem propriedades similares às encontradas nos reservatórios
do pré-sal nas bacias de Campos e Santos , apresentando diferentes tamanhos de poros, formas,
conectividade entre outras propriedades petrofísicas (KINOSHITA, 2007; CORBETT et al, 2017).
As amostras de rocha (Figura 3.2) utilizadas neste trabalho foram obtidas de uma pedreira
no Nordeste do Brasil, no afloramento do Morro do Chaves, formação Coqueiro Seco, uma
formação de carbonato Albiano do pré-sal da Bacia de Sergipe-Alagoas. A formação do Morro do
Chaves foi estudada e descrita por diversos autores (FIGUEIREDO, 1981; AZAMBUJA et al,
1998; CASTRO, 2006; KINOSHITA, 2007; CHINELATTO, 2013; BELILA, 2014 e CORBETT
et al, 2017) como sedimentos lacustres bivalves, com descontinuidade devido ao processo de
diagênese. De acordo com THOMPSOM et al, (2015), as coquinas são quase inteiramente
constituídas por detritos de conchas, no entanto, o termo é usado aqui vagamente, já que
componentes siliciclásticos e outros carbonatos podem compreender um componente significativo
das coquinas do Atlântico Sul.
Figura 3.2 – Exemplo de amostra de coquina utilizada nos testes obtidas do afloramento do
Morro do Chaves, formação Coqueiro Seco, uma formação de carbonato Albiano do pré-sal da
Bacia de Sergipe-Alagoas
3.1.2. Fluido reativo
Este trabalho utilizou uma solução salina sintética fornecida pelo Centro de Pesquisas
Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES), que é análoga a água carbonatada encontrada em
39
um reservatório do pré-sal brasileiro. A salmoura sintética contém 200.000 ppm dos seguintes sais
em equilíbrio: Cloreto de Sódio (NaCl), Cloreto de Potássio (KCl), Cloreto de Magnésio (MgCl2),
Cloreto de Cálcio (CaCl2), Cloreto de Bário (BaCl2), Cloreto de Estrôncio (SrCl2), Cloreto de Lítio
(LiCl), Brometo de Potássio (KBr), Sulfato de Sódio (Na2SO4), Bicarbonato de Sódio (NaHCO3).
A salmoura sintética é equilibrada com a rocha usada nos experimentos, o que significa que não há
reação química entre a salmoura e a rocha quando eles estão em contato. Neste estudo utilizamos
o modelo desenvolvido por DUAN et al, (2006) para calcular a solubilidade de CO2 em solução
aquosa contendo Sódio(Na+), Potássio (K+), Cálcio (Ca2+), Magnésio (Mg2+), Cloro (Cl-) e Sulfato
(SO42-) de 273 K a 533 K e de 0 a 2000 bar. A solução salina sintética saturada com CO2 tem a
mesma composição que a salmoura sintética mencionada acima, mas está totalmente saturada com
CO2 sob as condições de pressão e temperatura usadas nos testes. A molalidade de CO2 do modelo
de salmoura carbonatada utilizado para 65 °C e 2000 psi fornece 1,05 mol/kgw de CO2 em
condições supercríticas. Para manter o CO2 em condições supercríticas, o experimento foi realizado
com alta pressão de poros (2000 psi). Para evitar o fluxo para fora da amostra, aplicou-se uma
pressão de overburden (3000psi) para garantir uma pressão suficiente para o confinamento axial.
3.2. Métodos experimentais
Esta sessão apresenta os procedimentos específicos para a realização dos testes, bem como
os métodos computacionais utilizados para o tratamento das imagens obtidas por micro-CT.
Primeiramente foram realizados os procedimentos através da preparação e caracterização das
amostras e fluidos, microtomografia de raios-X da amostra pré-testes, montagem e preparação do
aparato experimental, ensaios de injeção de salmoura carbonatada, microtomografia de raios-X
pós-testes e posterior análise dos resultados através de métodos computacionais.
3.2.1. Preparação das rochas coquinas
As rochas utilizadas neste trabalho passaram por um processo de limpeza para eliminar sais
e impurezas presentes. As amostram foram limpas antes e após os testes nas instalações da UNSW
para que as imagens e resultados laboratoriais estejam nas mesmas condições, principalmente após
os testes onde a despressurização do sistema e redução da temperatura podem ocasionar a
precipitação dos sais presentes na salmoura dentro da amostra.
40
A limpeza das amostras foi realizada utilizando um extrator Soxhlet como mostrado na
Figura 3.3. Foram utilizados como solventes uma mistura de 50% de metanol e 50% de tolueno,
onde as amostras passaram por ciclos de imersão por 24 horas. Após este processo, as amostras
foram levadas para uma estufa a 90°C por 48 horas. Este procedimento é realizado antes da
aquisição das imagens por microtomografia de raios-X para que não se detecte a presença de sais
nas imagens.
Figura 3.3 – Extrator Soxhlet utilizado para limpeza das amostras com uma mistura de
50% metanol e 50% etanol por um período de 24 horas.
3.2.2. Porosidade e permeabilidade
As amostras passaram por medidas de porosidade e permeabilidade nas instalações da
UNSW através do porosímetro e permeabilímetro a gás AP-608 (Figura 3.4). O Permeabilímetro-
Porosímetro Automatizado AP-608 é um sistema de testes automatizados de permeabilidade e
porosidade a pressões confinantes de até 9950 psi. As amostras utilizadas nos testes foram
confinadas a pressões de 1000 psi e uma amostra separada e retirada da mesma região do bloco de
41
coquina foi utilizada para medir o decaimento da porosidade e da permeabilidade com a pressão
de confinamento variando-a de 500 a 5000 psi.
Figura 3.4 – Porosímetro/permeabilímetro a gás AP-608 utilizado para medir a porosidade e
permeabilidade das amostras a uma pressão de confinamento de 1000 psi.
3.2.3. Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X
A espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X ou XPS (X-ray photoelectron
spectroscopy) é uma técnica utilizada para analisar a superfície química de um material, medindo
sua composição, fórmula empírica, estado químico e eletrônico (WATTS e WOLSTENHOLME,
2003). Os testes de XPS foram realizados em parceria com o Centro Nacional de Pesquisas em
Energia e Materiais (CNPEM) no Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNANO), Brasil.
A análise foi realizada para compreender a quantidade de CaCO3 na composição das rochas
coquinas. O XPS foi realizado em um espectrômetro fotoelétrico de raios-X Thermo Scientific K-
Alpha™+. Por ser um equipamento que analisa a superfície das amostras, foram especificados
pontos aleatórios para análise como ilustrado na Figura 3.5. A partir de uma câmera posicionada
sobre a superfície da amostra, foram selecionados pontos que apresentavam cores diferentes
42
mostradas nas imagens da câmera. Os pontos analisados foram: três pontos brancos, três pontos
escuros e três pontos azuis.
Figura 3.5 – Zoom da superfície de amostra de coquina onde foi realizado o teste de XPS. Na
imagem aparecem dois dos pontos selecionados em uma escala de 600µ.
3.2.4. Medidas de permeabilidade durante os ensaios
Durante os ensaios foi coletado o diferencial de pressão entre a entrada e saída do core
holder com o objetivo de calcular a evolução da permeabilidade do sistema com o tempo. O
intervalo de tempo escolhido foi de um minuto entre as coletas. O transdutor utilizado foi o
Yokogawa DPharp EJA130a (Figura 3.6), capaz de medir pressões até 4500 psi com precisão de
0.1 mbar. Com os valores obtidos utilizou-se a equação de Darcy (Equação 3.1) para o cálculo da
evolução da permeabilidade com o tempo.
𝐾 = 245.6 × (𝑄 × µ × 𝐿
𝐴 × ∆𝑃) Equação 3.1
Onde K é a permeabilidade (mD), Q a vazão de injeção (cm3/min), µ a viscosidade (cp), L
o comprimento da amostra (cm), A é a área transversal da amostra (cm2) e ∆P é a queda de pressão
(psi).
43
Figura 3.6 – Transdutor de pressão Yokogawa DPharp EJA130a
3.2.5. Preparação dos fluidos de saturação e injeção
As amostras foram saturadas utilizando uma salmoura sintética de 200.000 ppm equilibrada
com a rocha estudada. A composição da salmoura foi concedida pelo CENPES.. A Tabela 3.1
apresenta a composição da salmoura bem como a massa de cada elemento utilizado. Os sais são
adicionados em água deionizada, agitados, filtrados e desaerados para produzir uma salmoura
sintética sem íons precipitados.
Para preparar a salmoura sintética, utiliza-se um béquer de vidro para misturar 800 ml de
água deionizada com os sais presentes na Tabela 3.1. O Cloreto de Lítio, Brometo de Potássio,
Sulfato de Sódio e Bicabornato de Sódio necessitam ser misturados em béquer separados com 200
ml de água deionizada, pois esses sais podem precipitar. Após misturar os sais, misturam-se os dois
béquers em uma única solução por 30 minutos em um balão volumétrico. Filtra-se a salmoura com
um filtro de 0,22 micrômetros para remover a presença de contaminantes. Após a filtragem,
remove-se o ar utilizando um Kitasato conectado à bomba de vácuo por uma hora.
O fluido de injeção é formado pela mesma salmoura de saturação, porém saturada com CO2
supercrítico. Primeiramente determina-se o volume de CO2 a ser adicionado para que a salmoura
se torne 100% saturada com CO2. Preenche-se uma garrafa com capacidade de 750 ml com
salmoura sintética e adiciona-se o volume calculado de CO2 (Figura 3.7). A garrafa utiliza um
pistão móvel e uma esfera flutuante (Figura 3.8a) que pode se mover livremente no interior da
44
mistura. A garrafa é aquecida até a temperatura do teste utilizando uma manta térmica com
temperatura controlada, e pressurizada até a pressão de trabalho. Utilizando um agitador mecânico
(Figura 3.8b), a garrafa é agitada por 24 horas de forma a movimentar a esfera e os fluidos,
solubilizando o CO2 na salmoura sintética.
Tabela 3.1 – Composição da salmoura sintética utilizada nos experimentos
Cloreto de Sódio (NaCl) 147,302 g
Cloreto de Potássio (KCl) 7,299 g
Cloreto de Magnésio Hexahidratado (MgCl2 . 6H2O) 3,287 g
Cloreto de Cálcio Dihidratado (CaCl2 . 2H2O) 32,760 g
Cloreto de Bário Dihidratado (BaCl2 2H2O) 0,005 g
Cloreto de Estrôncio Hexahidratado (SrCL2 6H2O) 0,359 g
Cloreto de Lítio (LiCl) 0,770 g
Brometo de Potássio (KBr) 0,477 g
Sulfato de Sódio (Na2SO4) 0,118 g
Bicabornato de Sódio (NaHCO3) 0,077 g
Figura 3.7 – Esquema utilizado para saturação da salmoura com CO2. A garrafa 1 contém o CO2
que será injetado na garrafa 2 contendo a salmoura.
45
Figura 3.8 – (a) Esfera flutuante utilizada dentro da garrafa para misturar a salmoura com CO2 e
(b) garrafa envolta por mantas térmicas e posicionada no cavalo mecânico utilizado para
movimentar os fluidos e esfera no interior.
3.2.6. Cromatografia de íons e cálculo da calcita dissolvida e precipitada
Os fluidos produzidos pelos testes foram coletados para análise quantitativa de íons
utilizando a técnica de cromatografia de íons (CI). O equipamento utilizado foi um Thermo
Scientific ICS-5000+, em conjunto com um sistema de purificação de água Milipore Direct Q 3
UV, coluna para análise de Cátion IonPacCS12A e coluna para análise de ânions IonPacAS18. Os
fluidos foram coletados em tempos pré-estabelecidos de acordo com o número de volumes porosos
injetados. Todos os fluidos foram analisados no Laboratório de Métodos Miscíveis (LMMR) do
Centro de Estudos de Petróleo (CEPETRO), localizado na Universidade Estadual de Campinas.
Ambos os testes tiveram como objetivo analisar as concentrações de íons Ca2+, Mg2+ e K+.
A partir dos dados de cromatografia de íons e através da Equação 3.2 e da Equação 3.3,
desenvolvidas por GOUZE e LUQUOT, (2011) e LUQUOT et al, (2014), calculamos as alterações
na porosidade durante os experimentos. Para tanto, primeiramente calculamos o volume de calcita
dissolvida (VCa):
𝑉𝐶𝑎(𝑡) = 𝑣 × Q ∫ ∆𝐶𝐶𝑎(𝑡′) + ∆𝐶𝑀𝑔
𝑡′=𝑡
𝑡′=0
(t′)dt′ Equação 3.2
46
Onde v é o volume molar da calcita (37 cm3mol-1), Q é a vazão de injeção, ∆CCa e ∆CMg são
as diferenças nas concentrações de Cálcio e Magnésio entre a entrada e saída dos fluidos. A
porosidade pode ser então calculada por:
𝜑(𝑡)
𝜑0= 1 +
𝑉𝐶𝑎(𝑡)
𝑉𝑏𝜑0 Equação 3.3
Onde φ(t) e φ0 são as porosidades no tempo e inicial respectivamente, e Vb é o volume do
bulk.
3.2.7. Aparato e procedimento experimental
Nesta seção, apresentaremos o aparato e procedimento experimental realizado nas
instalações do Laboratório de Métodos Miscíveis da UNICAMP para os experimentos realizados,
detalhando os procedimentos específicos. O esquema do aparato experimental utilizado está
detalhado na Figura 3.9 e sua montagem para execução dos testes na Figura 3.10.
Figura 3.9 – Esquema utilizado para realizar os experimentos mostrando os equipamentos
utilizados.
47
A garrafa contendo salmoura carbonatada e o core holder estão envoltos por uma manta
térmica ajustada na temperatura de realização dos experimentos. A Tabela 3.2 apresenta a
composição de todos os equipamentos utilizados nos testes.
Os ensaios de injeção de salmoura carbonatada utilizaram duas rochas coquinas. Cada rocha
foi inserida dentro do core holder. Antes da montagem da rocha no core holder, a amostra foi
envolta em teflon, seguida por uma camada de alumínio, teflon e termo retrátil. Esse procedimento
é utilizado para evitar a fuga de fluidos pelas laterais da amostra e para evitar o contato de CO2
com a borracha, causando danos a mesma. A amostra é então inserida em uma borracha com
diâmetro interno de uma polegada para ser inserida dentro do core holder. Todos os passos
descritos estão representados na Figura 3.11.
Figura 3.10 – Aparato montado para realização do teste e os componentes principais: (1) bomba
DBR, (2) garrafa contendo salmoura carbonatada, (3) core holder contendo as amostras, (4)
transdutor diferencial de pressão, (5) válvula de contra-pressão, (6) separador gás/líquido e (7)
gasômetro.
48
Após a montagem da amostra no porta testemunho, acopla-se um manômetro para controle
da pressão de confinamento da amostra. Um transdutor diferencial de pressão na entrada e saída
do core holder foi utilizado para medir a queda de pressão e permitir o cálculo da permeabilidade
temporal do sistema. O sistema foi aquecido e controlado com o uso de uma manta térmica
projetada especialmente para o core holder em questão. A manta térmica utiliza resistores para
aquecimento do sistema e foram controladas utilizando o equipamento NOVOUS N1040
conectado a termostatos tipo J com faixa de operação entre -50° a 760 °C.
Garrafas de aço inoxidável foram utilizadas para solubilizar a salmoura com CO2 e posterior
utilização como reservatórios nos ensaios. As garrafas possuem pressão máxima de 15000 psi e
temperatura máxima de operação de 200°C. O deslocamento da salmoura foi realizado utilizando
uma bomba de deslocamento positivo DBR desenvolvida pela Schlumberger. A bomba opera de
duas maneiras: pressão constante ou fluxo constante. As especificações técnicas da bomba incluem
uma pressão máxima de operação de 20.000 psi, volume de 500 cm3 e máxima taxa de injeção de
1000 cm3/h.
Tabela 3.2 – Equipamentos utilizados para realizar os experimentos de injeção de salmoura
carbonatada
Transdutor de pressão Yokogawa DPharp EJA130a
Provetas graduadas 1 L
Becker graduado 2 L
Kitasato 2 L
Mariotte 2 L
Erlenmeyer 1 L
Bomba de vácuo Oerlic Trivac – Leybold Vaccum
Garrafas Aço Inoxidável (Pmáx = 15000 psi e Tmáx = 200°C)
Manômetro Instrucamp (15000 psi)
Bomba de deslocamento DBR Schlumberger
Tubos ¼ de polegada, aço inox
Válvula de Back pressure Temco EJA130a
49
Separador gás/líquido Ruska (Capacidade máxima: 30 ml)
Gasômetro Brooks Instruments (6 L)
Microtomografo Helical Scan (UNSW)
Porosimetro/permeabilimetro AP-608 (UNSW)
XPS Thermo Scientific K-Alpha™+ (CNPEM)
Figura 3.11 – Sequência de preparo da amostra para confinamento no core holder. (a)
envolvimento da amostra com teflon, (b) seguido por papel alumínio, (c) após nova camada de
teflon é inserido o termo retrátil e (d) borracha utilizada para confinar a amostra.
Uma válvula de contrapressão é inserida na saída do core holder para manter a
pressão do sistema constante na pressão desejada. A pressão deve ser alta o suficiente para manter
o CO2 em condições supercríticas e assim evitar a injeção de fluidos em duas fases. A válvula de
contrapressão foi escolhida para o trabalho foi a Yokogawa DPharp EJA130a (Figura 3.6) que
funciona baseada no princípio de balanço de pressão. A válvula possui um diafragma onde um dos
lados está em contato com os fluidos produzidos e o outro por nitrogênio. Com o auxílio de um
transdutor de pressão, a pressão do nitrogênio é controlada e o fluido de produção precisa superar
este valor pré-estabelecido para que o diafragma se movimente e permita a passagem do fluido
para a saída da válvula.
Os fluidos produzidos são enviados para um separador flash (Figura 3.12a) onde são
colhidos os líquidos para análise de cromatografia de íons e quantificados os volumes de gases
produzidos nos ensaios através de um gasômetro (Figura 3.12b). Todo o sistema é conectado por
50
linhas de aço resistentes a altas pressões e ao CO2. Os fluxos são controlados através de válvulas
HiP nas entradas e saídas do core holder e na saída da bomba DBR.
Figura 3.12 – (a) Separador flash e frascos utilizados para coleta de líquidos e (b) gasômetro
utilizado para quantificar o volume de gás produzido.
3.2.8. Microtomografia de Raios-X
Este trabalho utilizou imagens obtidas através de microtomografia de raios-X como a
principal ferramenta para analisar as mudanças na porosidade do sistema antes e após a injeção de
salmoura carbonatada. As amostras dos testes foram tomografadas no Laboratório de Micro-CT da
UNSW (Austrália) utilizando um micro tomógrafo próprio construído em parceria com a
australiana ANU (SAKELLARIOU et al, 2004; SHEPPARD et al, 2006).
3.2.8.1. Laboratório de Microtomografia de Raios-X da UNSW
O microtomógrafo de raios-X da UNSW está alojado em uma sala dedicada com
temperatura estabilizada (ΔT < 0,5 °C), revestida com chumbo. A instalação foi projetada para
obtenção de imagens tomográficas com uma ampla faixa dinâmica, excelente campo de visão
(FOV) e altíssima resolução. O equipamento fornece uma fonte de raios-X de180keV/20W e
detector de mesa de alta qualidade (3.072 × 3.072 pixels, taxa de leitura de 3,75 fps) em seu modo
de varredura helicoidal (método exato de reconstrução). As imagens computadorizadas foram
51
processadas em um software interno desenvolvido em parceria com a ANU com capacidade de
processamento em paralelo utilizando o supercomputador Raijin localizado no National
Computational Infrastructure (NCI).
3.2.8.2. National computational infrastructure (NCI)
NCI é um complexo computacional localizado na cidade de Camberra na Austrália que
opera dois supercomputadores para pesquisas científicas no país. Este trabalho utilizou para o
processamento de imagens o Raijin, um supercomputador híbrido de alto desempenho e memória,
obtido com financiamento do governo australiano. O sistema original foi instalado em 2012 e
entrou em uso de produção em junho de 2013. As atualizações do sistema entraram em produção
em novembro de 2016 e novamente em meados de 2017. O Raijin atualmente (ano de 2018)
compreende:
84,656 núcleos (Intel Xeon Sandy Bridge 2,6 GHz, Broadwell 2,6 GHz) em 4416
nós de computação;
120 GPUs NVIDIA Tesla K80 em 30 nós e 8 GPUs NVIDIA Tesla P100 em 2 nós;
32 Intel Xeon Phi (64 núcleos Knights Landing, 1,3 GHz) em 32 nós de
computação;
4 nós do IBM POWER8 (64 núcleos executando em 4.02GHz);
300 Terabytes de memória RAM principal;
8 Petabytes de capacidade de armazenamento operacional;
3.2.8.3. Aquisição e reconstrução das imagens
A aquisição de imagens de microtomografia começa pelo registro em série de projeções 2D
em diferentes ângulos de visão, enquanto a amostra é rotacionada em 360°. SAKELLARIOU et al,
(2004) relatam que o tempo total de aquisição de um experimento depende de muitos fatores, sendo
o principal o uso da filtragem de feixes. Diversas causas podem afetam os dados, sendo as mais
comuns os de raios cósmicos, a sensibilidade não linear e não-linearidade espacial na câmara de
raios-X, desalinhamento da geometria do feixe cônico e a rotação e variabilidade da amostra do
fluxo de raios-X a partir da fonte (SAKELLARIOU et al, 2004). Deve-se, então, realizar uma série
de etapas pré-processamento para minimizar esses artefatos. Após esse pré-processamento, os
52
dados passam pela reconstrução baseada na técnica de Feldkamp, gerando um tomograma
(FELDKAMP et al, 1984). Cada tomograma é uma matriz cúbica de voxels, onde cada voxel
representa a atenuação de Raios-X. Todo o tomograma é representado em escala de cinza de 16
bits, onde cada valor de cinza da imagem corresponde à densidade e composição do material.
3.2.8.4. Resolução e ruídos das imagens
Quando lidamos com rochas digitais, a resolução da imagem tem papel fundamental na
quantificação da estrutura interna dos poros. Este parâmetro deve ser maximizado para capturar as
estruturas chaves da amostra, principalmente no caso dos carbonatos com sua grande
heterogeneidade de poros. As amostras analisadas nesse trabalho utilizaram um campo de visão
completo da amostra, minimizando os dados que não pertencem à amostra. As microtomografias
de raios-X foram realizadas antes e após o teste de dissolução, sendo necessário um processo duplo
de registro para alinhamento das imagens e posterior comparação das mudanças na porosidade e
conectividade de poros. O tamanho da imagem que contém a amostra é importante para reproduzir
medidas microestruturais e macroscópicas representativas, particularmente para amostras reais de
rochas. Os experimentos de fluxo reativo foram realizados em amostras de 1 polegada e 5 cm de
comprimento, possibilitando obter imagens com tamanhos de voxel em torno de 10 μm.
A qualidade de uma imagem possui o ruído como fator mais degradante. SPRAWLS,
(1993) descreve o ruído como à variação aleatória no brilho da imagem. Para tamanhos menores
de voxel, a resolução espacial aumenta, mas o ruído também aumenta. Para análise quantitativa de
ruído neste trabalho, consideramos o parâmetro conhecido como relação sinal-ruído (Signal-to-
Noise Ratio – SNR) que compara o nível de um sinal desejado ao nível de ruído. BUSHBERG
(1994) define este parâmetro como a razão entre a média do sinal (μ) e o desvio padrão do sinal
(σ) e é dado por:
𝑆𝑁𝑅 =µ
σ Equação 3.4
No caso dos carbonatos, a presença de microporos (sub-resolução da imagem), voxels de
transição de borda e ruído faz com que a intensidade da imagem no histograma apresente baixa
atenuação de raios-X. Dessa forma, além da presença de picos distintos de alta e baixa intensidades,
ocorre uma separação com cauda entre os picos, produzindo incertezas na segmentação dos dados.
53
A variação de fatores como de aquisição e reconstrução da imagem produzem diferentes valores
de ruídos na imagem, ou diferentes valores de SNR. Dessa forma, caso tenhamos diferentes SNR,
a comparação entre poros e grãos nas imagens pré e pós injeção de água carbonatada (Carbon
Water Injection, CWI) serão de grande incerteza, levando a uma interpretação incorreta dos
fenômenos envolvidos. Para corrigir as incertezas resultantes de imagens sob diferentes condições,
utilizamos neste trabalho filtros de difusão anisotrópica que resultam em um mesmo valor de SNR,
produzindo assim um valor de ruído semelhante para as duas imagens e assim uma análise mais
precisa dos resultados.
3.2.8.5. Métodos computacionais
Este trabalho utilizou alguns métodos computacionais para melhorar a qualidade das
amostras microtomografadas antes e após os testes. Os dados processados podem então ser
quantitativamente e qualitativamente analisados de forma a obter resultados mostrando a influência
da injeção de salmoura carbonatada no meio poroso. Todo o tratamento das imagens foi realizado
utilizando softwares produzidos pela UNSW e pela ANU (SHEPPARD et al, 2004; SHEPPARD
et al, 2005) e utilizam métodos de computação paralela para processamento de imagens em três
dimensões (SAKELLARIOU et al, 2004). Nas próximas subseções serão detalhadas as técnicas de
processamento de imagens para análise de porosidade, bem como o método para análise de cenários
de evolução da porosidade voxel por voxel (QAJAR et al, 2013).
3.2.8.6. Registo de imagens
Registrar imagens é um processo que permite que as imagens antes e após os testes estejam
alinhadas, proporcionando a comparação precisa das mudanças voxel por voxel. O software
utilizado possui técnicas desenvolvidas por LATHAM et al, (2008) onde 7 parâmetros de
similaridade (3 translacionais, 3 rotacionais e 1 isotrópica) são utilizados para otimizar o registro.
Este processo permite registrar imagens com nível de confiança em torno de 98%. Para tanto, deve-
se procurar manualmente regiões das imagens antes e depois dos testes onde alterações sejam nulas.
Este procedimento é extremamente importante pois a comparação de evolução de cenários
descritas posteriormente é altamente dependente da posição da amostra na etapa de registro. A
Figura 3.13 ilustra o resultado do processo de registro de imagens.
54
Figura 3.13 – Registro de imagens 3D de coquina utilizada nos testes com 2560x2560 pixels e
resolução de aproximadamente ~10µm utilizando a técnica desenvolvida por LATHAM et al,
(2008). (a) Imagem antes dos testes e (b) imagem após o teste registrada e posicionada na mesma
posição pré-teste
3.2.8.7. Corte e máscara geométrica
As rochas foram submetidas a tomografias secas, onde no processo de aquisição e
reconstrução de imagens foram produzidas além da região de interesse, imagens com vazios ou
materiais que auxiliam a manter a rocha estabilizada no equipamento. A primeira etapa do processo
de análise é a retirada dos materiais que não compõem a região de interesse. Esse processo se dá
em duas etapas: (1) corta-se as imagens (Subset) que contém ar/materiais que não fazem parte da
região de interesse (Figura 3.14) e (2) recortar a imagem geometricamente (Figura 3.15) na foram
da região de interesse (máscara geométrica).
55
Figura 3.14 – Exemplo de imagem tomografada de coquinas (eixos x,z) e subset da imagem
original. O número original de imagens 2D é de 4760. Após o subset foram aproveitadas 3880
slices.
Figura 3.15 – (a) Imagem tomografada de coquina com 2560x2560 pixels, (b) após utilizarmos a
máscara geométrica temos uma imagem com 1160 pixels de raio (resolução: ~10,54µm)
56
3.2.8.8. Filtros
Com as imagens registradas e posicionadas na mesma posição, necessita-se reduzir o ruído
das imagens para melhorar a caracterização das mudanças no meio poroso. Como as imagens foram
obtidas em diferentes espaços de tempo e após testes de dissolução, necessita-se que os ruídos não
afetem as densidades dos poros e grãos. Neste trabalho utilizamos filtros que preservam as bordas
para que os SNR tenham valores muito próximos, permitindo uma análise mais precisa. Neste
contexto, foi utilizado um filtro de difusão anisotrópica não-linear (CATTÉ et al, 1992) pois trata-
se de um processo que conserva as intensidades da imagem e preserva as bordas. A aplicação do
filtro difusão anisotrópica não-linear (AD) exige a aplicação de um contraste que é definido como
a diferença entre as intensidades médias dos poros e grãos. A Figura 3.16 mostra a imagem antes
e após a aplicação do filtro AD.
Figura 3.16 – (a) Região de uma imagem microtomografada de coquina (tamanho do voxel:
~10,54µm, 512x512 pixels), (b) Mesma imagem após a aplicação do filtro AD
3.2.8.9. Segmentação e análise de microporosidade
Todas as etapas realizadas anteriormente visam obter imagens em tempos diferentes,
posicionadas no mesmo local e com o menor nível de ruído possível. Após essas etapas, ocorre a
segmentação da escala de cinzas em um sistema binário, onde cada voxel será designado a uma
fase (poros ou grãos) de acordo com sua intensidade. Esse passo deve ser realizado com cuidado
pois é a etapa mais importante para realizar uma boa análise de porosidade do sistema.
As segmentações usualmente utilizam um limiar para delimitar no histograma um valor que
separe as fases grão e poros. Idealmente para uma microtomografia de uma amostra seca, teríamos
57
um histograma bimodal onde ocorreria em um único limiar a separação de ambas as fases. Porém,
a presença de microporosidade (sub-resolução) e ruídos que degradam a imagem, principalmente
nas regiões de transições entre poros e grãos.
Essas interferências provocam no histograma uma “cauda” (ou uma extensão de valores de
baixa intensidade), fazendo com que não ocorra uma formação de picos distintos. Dessa forma,
propomos aqui a utilização de um método de segmentação de três fases (SHEPPARD et al, 2006).
Essa técnica, conhecida como contornos ativos convergentes (converging active contour ou CAC),
utiliza os métodos de watershed (VINCENT e SOILLE, 1991) e contorno ativo (CASELLES et al,
1997). A técnica foi desenvolvida por SHEPPARD et al, (2004) e necessita da utilização de dois
valores de thresholds, que foram determinados por inspeção visual das imagens. Todos os voxels
com valores menores que o menor threshold são considerados como poros e todos com valores
maiores que o maior threshold são considerados grãos. Os voxels presentes em valores entre os
dois valores de thresholds são considerados poros/grãos. Para realizar a segmentação, foram
utilizadas duas segmentações CAC, sendo a primeira definindo os poros resolvidos ou aqueles em
que temos certeza de serem poros. A segunda segmentação utiliza dois valores adicionais de
thresholds onde se quebra a fase anterior de grãos em duas fases (grãos resolvidos e fase
intermediária). Aqui, a fase intermediária é aquela que contém toda a região definida como
microporosidade. A Figura 3.17 ilustra um exemplo de como a imagem é dividida em três fases e
a Figura 3.18 nas divisões no histograma.
Figura 3.17 – Exemplo de segmentação CAC utilizada no trabalho. a) Imagem original em escala
de cinza e b) imagem segmentada em três fases: poros (preto), grãos (vermelho) e microporos
(verde).
58
Figura 3.18 – Exemplo de thresholds mostrando as intensidades finais definidas para poros
(preto), fase intermediária (verde) e grãos (vermelho) após duas segmentações CAC
A fase intermediária contém uma mistura de diferentes intensidades do histograma, levando
a um volume contendo poros e grãos. Neste trabalho, consideramos que os valores de intensidade
da fase microporosa são linearmente relacionados à porosidade da sub-resolução do voxel. Para
obtermos dois valores de intensidades de corte (Iporos e Igrãos), utilizamos um método desenvolvido
por GHOUS et al, (2007) onde ajustes Gaussianos são realizados para as fases poros e grãos,
determinando a Média (Mporos e Mgrãos) e os valores de desvio padrão (sporos e sgrãos) das
distribuições. As intensidades de cortes são dadas por:
𝐼𝑝𝑜𝑟𝑜𝑠 = 𝑀𝑝𝑜𝑟𝑜𝑠 + 𝑠𝑝𝑜𝑟𝑜𝑠 Equação 3.5
𝐼𝑔𝑟ã𝑜𝑠 = 𝑀𝑔𝑟ã𝑜𝑠 + 𝑠𝑔𝑟ã𝑜𝑠 Equação 3.6
Qualquer intensidade de voxels da fase intermediária menor que Iporos será atribuído 100%
de porosidade. Da mesma forma, qualquer intensidade de voxels maior que Igrãos será atribuído 0%
de porosidade. Os valores com intensidade (In) entre esses dois valores de cortes, utiliza-se uma
escala de microporosidade linear (n) dada por:
𝑛 =𝐼𝑔𝑟ã𝑜𝑠 − 𝐼𝑛
𝐼𝑔𝑟ã𝑜𝑠 − 𝐼𝑝𝑜𝑟𝑜𝑠 Equação 3.7
A escala de microporosidade linear (n) pode ser dividida em números de tamanhos de faixas
iguais (até 4096). Dessa forma, podemos segmentar a fase intermediária em n faixas criando o que
chamamos de fase intermediária ou microporosa. A microporosidade (φmic) é então calculada pelo
somatório dado por:
59
𝜑𝑚𝑖𝑐 =∑ 𝑛𝑁
1
𝑁𝑡 Equação 3.8
Onde N é o número de voxels na fase intermediária e Nt é o número total de voxels na
imagem excluindo os voxels que foram mascarados. A porosidade total da imagem então é
calculada pela soma da macroporosidade e microporosidade. A macroporosidade é calculada pela
divisão do número de poros resolvidos por Nt.
3.2.8.10. Rede de poros
Após a segmentação trifásica e análise de microporosidade, podemos definir parâmetros
estatísticos via particionamento de rede de poros para caracterizar a topologia e o espaço poroso.
A divisão do espaço poroso começa pela criação do Mapa de Distância Euclidiana que irá definir
a distância Euclidiana de cada voxel na fase porosa até a barreira de contato poro/grão. Em seguida,
deve-se realizar o Medial Axis. O eixo medial ou Medial Axis de um objeto é o conjunto de todos
os pontos com mais de um ponto com menor distância no limite do objeto (LINDQUIST et al,
1996).
O particionamento dos poros permite que modelos de redes de poros sejam construídos a
partir da imagem tomografada, onde o espaço poroso é representado por uma rede 3D de poros
maiores interligados através de menores espaços de poros (SHEPPARD et al, 2005). O maior
espaço de poros é definido como corpo poroso enquanto o menor espaço de poros de conexão é
referido como garganta. Além disso, o particionamento de poros nos permite definir vários
parâmetros estatísticos que caracterizam a estrutura e a topologia do espaço poroso. Os importantes
descritores de poros e garganta incluem raio de poros/gargantas, tortuosidade de poros/gargantas,
raio equivalente do volume do poro/garganta, número de coordenação e razão de aspecto
SHEPPARD et al, (2005) e JONES et al, (2009).
A tortuosidade é um parâmetro que mede a sinuosidade do caminho poroso da rocha.
A Razão de Aspecto mede a relação entre as duas dimensões (altura e largura) de uma imagem. O
número de coordenação é uma informação topológica e corresponde à quantidade de conexões de
um determinado poro com outros da rede criada. Os resultados do número de coordenação
proporcionam um melhor entendimento da conectividade do sistema.
60
3.2.8.11. Método para determinar a conectividade dos poros
A partir da análise de microporosidade descrita anteriormente podemos verificar a
conectividade do sistema de poros gerados (macro e micro) derivados do tomograma 3D na direção
z. Este processo foi desenvolvido por KNACKSTEDT et al, (2007) e aplicado nas imagens de
micro-CT utilizando um software interno desenvolvido pela ANU. O algoritmo começa analisando
a fase macroporosa verificando se esta fase está abrangendo toda a amostra na direção z, ou seja,
se apenas a fase macroporosa é suficiente para conectar a entrada e saída da rocha. Após esta etapa,
o algoritmo adiciona a fase de microporosidade de 100% à fase de macroporos e realiza a mesma
análise. O algoritmo continua adicionando os níveis de microporosidade subsequentes e executa as
mesmas análises de conectividade. Dessa forma, o algoritmo funciona adicionando os níveis de
microporosidade aumentando a abrangência no eixo z dos poros conectados. A Figura 3.19
apresenta um esquema de como é realizada a análise de conectividade do sistema.
Figura 3.19 – Representação de como o algoritmo calcula a conectividade do sistema poroso na
direção z. Inicialmente calcula-se apenas a macroporosidade e em seguida adiciona-se a
microporosidade.
3.2.8.12. Cenários de evolução de porosidade baseado em análise de voxel por voxel
Analisar propriedades petrofísicas através de imagens apresentam diversos desafios aos
pesquisadores. Seja pela incerteza associada à aquisição e reconstrução das imagens ou pelo
próprio método de processamento utilizado, existe uma dificuldade enorme em se comparar
qualitativamente e quantitativamente as propriedades da rocha antes e após um teste de
61
dissolução/precipitação. Para minimizar as dificuldades, pode-se controlar alguns erros com a
comparação de dados de porosidade obtidos a partir de laboratório com os dados obtidos por
imagens pós segmentação.
QAJAR et al, (2013) desenvolveu um método que incorpora em nível de voxel as mudanças
de uma imagem segmentada para outra, quantificando as mudanças gerais na porosidade da matriz.
Este trabalho utiliza o método criado pelo autor para identificar as evoluções da porosidade em
rochas coquinas nas escalas macro e microporosas. Para tanto, utiliza-se um histograma 2D,
construído a partir da comparação da intensidade da imagem pré-teste com o valor correspondente
a intensidade da imagem pós teste, voxel por voxel. O resultado dessa operação retorna à
probabilidade que um voxel tem de evoluir de uma fase para outra após o teste de injeção de
salmoura carbonatada. Dessa forma, é possível analisar a evolução de todos os voxels nas três fases
(macro, micro e grãos) e quantificar as frações envolvidas na dissolução/precipitação, bem como a
migração de finos. Mais detalhes do método podem ser obtidos através dos trabalhos de QAJAR
et al, (2013), QAJAR e ARNS (2016) e QAJAR e ARNS, (2017).
Realizamos o cálculo do histograma 2D consideraando um caso geral em que a fase
intermediária é dividida em N fases (49 fases foi o número escolhido para as análises deste
trabalho). Os valores de voxels variam então de 0 para a fase de macroporos a (N+1) para a fase de
grãos. Designando um valor ni para cada fração de vazio de cada voxel da imagem segmentada,
temos:
Macroporos: n0 = 1;
Grãos: nN+1 = 0;
Voxels intermediários (100% de porosidade): n1 = 1;
Voxels intermediários (0% de porosidade): nN = 0;
Voxels intermediários (entre 0 e 100% de porosidade): ni é calculado a partir da
Equação 3.7;
Todos os cálculos foram realizados utilizando um software interno desenvolvido pela ANU.
Primeiramente, extrai-se todos os valores de escala de cinza de todos os voxels do conjunto de
imagens segmentadas antes e após os testes. Calcula-se então o histograma 2D escolhendo o
intervalo de intensidades. Os voxels podem ter valores variando de 0 a N+1, sendo que o intervalo
62
de intensidades escolhido deve ser de N+2. Cada elemento do histograma (chamado de bin)
representará a frequência com que um determinado valor de escala de cinza está presente nos
voxels. Após esse procedimento, constrói-se o gráfico do histograma 2D, endereçando cada
frequência encontrada a linha (pré-dissolução) com a coluna (pós-dissolução) como mostrado pela
Figura 3.20a.
A leitura da Figura 3.20a deve ser feita imaginando cenários de evolução. As colunas (0,0)
e (N+1, N+1) representam as fases 100% macroporos e 100% grãos (ou 0% macroporos)
respectivamente. As colunas de 1 a N representam a fase microporosa. A Figura 3.20b ilustra um
exemplo fictício onde temos apenas dissolução. No gráfico temos a probabilidade de voxels que
antes eram grãos (N+1) e microporos (1 a N) tornarem-se poros após um teste de dissolução. Este
é um exemplo de leitura onde temos apenas dissolução. Caso tenhamos precipitação, a linha com
valor 0 no eixo pré-dissolução apresentará valores de probabilidade e assim por diante. Este gráfico
apresenta todas as possibilidades de variação de macroporos em microporos ou grãos e vice-versa.
Figura 3.20 – (a) Representação do histograma de intensidades 2D para as imagens antes e após
os testes de dissolução: macroporos (0), fase intermediária (1 a N) e grãos (N+1) e (b) exemplo
de teste onde ocorre apenas dissolução, tornando grãos e microporos em 100% poros
(macroporos).
63
4. RESULTADOS
Nesta seção serão apresentados os resultados para os testes de injeção de salmoura
carbonatada através da metodologia apresentada no capítulo anterior. Os resultados foram
divididos em 4 partes apresentando (1) a caracterização química da amostra através da técnica de
XPS, (2) a análise do decaimento da porosidade e permeabilidade com a pressão, (3) a descrição
de cada experimento com seus resultados apresentando os efeitos da injeção de salmoura
carbonatada para duas vazões de injeções e (4) os resultados das medições da concentração de íons
dos fluidos produzidos.
4.1. Resultados de XPS
Conforme apresentamos anteriormente, a técnica de XPS é utilizada para compreender a
composição química de uma amostra. Os testes foram realizados no CNPEM e analisados na
UNICAMP em uma amostra de coquinas de 2 cm de lado e 5 mm de espessura. Foram analisados
nove pontos diferentes da amostra resultando em 9 espectros com os elementos químicos
encontrados. Cada ponto gera um espectro de contagem de elétrons por segundo pela energia que
mantém o núcleo unido (Figura 4.1). O objetivo é determinar a composição da amostra pela simples
identificação dos maiores picos encontrados no espectro.
Em todos os espectros foram encontrados os elementos pertencentes a calcita (Ca, C e O).
A Tabela 4.1 apresenta a concentração atômica para os 9 pontos analisados e indica além dos
elementos presentes na calcita, resíduos de Silício (Si) em percentagem mínima se comparado aos
outros elementos. A presença de alumínio (Al), Cloro (Cl) e Sódio (Na) encontrados são
reconhecidas como impurezas da amostra visto que a análise realizada é superficial e impurezas no
sistema são comumente encontradas. As impurezas podem ocorrer devido à retirada do plug da
amostra e ao contato com a broca.
Os resultados mostrados na Tabela 4.1 indicam uma concentração de calcita da ordem de
94,3%, resultados aproximados aos obtidos por RUIDIAZ (2015), que utilizou um Microscópio
Eletrônico de Varredura com Espectroscopia de Dispersão de Raios-X onde obteve 100% de
carbonato de cálcio para diferentes áreas de uma coquina analisada.
64
Figura 4.1 – Espectro de uma das análises de XPS realizadas no CNPEM. Os resultados mostram
a presença de calcita majoritariamente na região. O espectro é formado pela contagem por
segundo (CPS) pela energia de ligação (eV)
65
Tabela 4.1 – Concentração atômica por análise de XPS para nove pontos superficiais de amostra
de coquina com 2 cm de lado e 5 mm de espessura
Elemento P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 Média
O 1s 30.61 32.15 29.31 22.02 23.61 33.49 30.79 30.02 31.06 29.23
C 1s 36.19 29.30 33.92 46.56 41.64 21.77 26.11 33.93 23.48 32.54
Ca 2p 9.65 9.00 10.39 6.91 7.38 5.83 9.17 7.05 9.98 8.37
Ca 2s 5.76 4.79 6.53 4.23 4.59 3.66 5.68 3.82 6.41 5.05
Ca 3s 4.86 5.84 5.64 5.57 6.01 4.60 7.14 4.34 7.44 5.71
Ca 3p 12.93 12.27 14.21 11.16 12.84 11.32 16.18 12.56 17.14 13.40
Si 2p - 3.98 - 1.61 1.72 7.30 2.61 4.57 1.29 2.56
Si 2s - 2.67 - 1.49 1.71 6.18 2.32 3.71 1.41 2.17
Cl 2p - - - 0.45 0.50 - - - 0.82 0.19
Al 2p - - - - - 2.72 - - - 0.30
Al 2s - - - - - 3.13 - - - 0.34
Na 1s - - - - - - - - 0.97 0.11
4.2. Análise do decaimento da porosidade e permeabilidade com a
pressão
Para compararmos os resultados obtidos por imagens com os dados medidos em
laboratório, testamos como a porosidade e a permeabilidade da rocha variam com a pressão de
confinamento. As medidas de porosidade e permeabilidade das amostras foram realizadas
utilizando o porosimetro e permeabilimetro AP-608 descrito anteriormente. Utilizando uma
amostra separada de coquina, similar às utilizadas nos testes, com 4,59 cm de comprimento e 2,50
cm de diâmetro (Figura 4.2) para medir cinco vezes a porosidade e permeabilidade com pressões
de confinamento variando de 500 a 5000 psi, em um intervalo de 24 horas entre os conjuntos das
medições. Dessa forma, a amostra foi medida inicialmente variando as pressões entre 500 e 5000
psi, deixando-a descansar por 24 horas e repetindo as medições novamente.
66
Figura 4.2 – Coquina utilizada para medir a variação da porosidade e permeabilidade com o
aumento da pressão de 500 a 5000 psi.
A Tabela 4.2 e a Figura 4.3 mostram os resultados obtidos para as medições de porosidade e a
Tabela 4.3 e a Figura 4.4 os resultados obtidos para as medições de permeabilidade. Pode-
se observar que a porosidade e permeabilidade possuem um comportamento de decrescimento
exponencial com o aumento da pressão, porém, cabe ressaltar que o comportamento elástico da
amostra influenciou os resultados visto que entre a primeira e a segunda medida houve um
decréscimo de ~4,0% na porosidade e ~9,6% na permeabilidade. Esse resultado é interessante para
ressaltar que as medidas antes e após os testes de injeção de salmoura carbonatada apresentarão
diferenças devido não só ao processo de dissolução/precipitação, mas também ao stress que a rocha
sofre ao ser confinada a 3000 psi de pressão. A Figura 4.5 ilustra a relação da permeabilidade e
porosidade média com a pressão. Nota-se um comportamento com tendência de decaimento linear
da relação permeabilidade/porosidade com a pressão.
67
Tabela 4.2 – Medidas de porosidade variando a pressão de confinamento de 500 a 5000 psi. O
intervalo entre cada conjunto de medidas é de 24 horas, ou seja, após as medições da coluna
Medida 1, espera-se 24 horas e mede-se a porosidade encontrando os resultados da coluna
Medida 2 e assim por diante.
Pressão (psi) Medida 1 (%) Medida 2 (%) Medida 3 (%) Medida 4 (%) Medida 5 (%)
500 14,07 13,51 13,33 13,31 13,26
1000 13,16 12,90 12,73 12,72 12,72
1500 12,71 12,62 12,53 12,49 12,46
2000 12,51 12,45 12,37 12,30 12,34
2500 12,37 12,30 12,26 12,20 12,18
3000 12,26 12,23 12,18 12,14 12,15
3500 12,23 12,16 12,12 12,12 12,06
4000 12,13 12,10 12,09 12,05 12,03
4500 12,07 12,06 12,03 12,01 12,00
5000 11,99 12,01 11,99 11,96 11,94
Figura 4.3 – Gráfico com as medidas de porosidade variando-se a pressão de 500 a 5000 psi.
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
11.50
12.00
12.50
13.00
13.50
14.00
14.50
Pressão (psi)
Po
rosi
dad
e (%
)
Medida_1 Medida_2 Medida_3 Medida_4 Medida_5
68
Tabela 4.3 – Medidas de permeabilidade variando a pressão de confinamento de 500 a 5000 psi.
O intervalo entre cada set de medidas é de 24 horas, ou seja, após as medições da coluna Medida
1, espera-se 24 horas e mede-se a porosidade encontrando os resultados da coluna Medida 2 e
assim por diante.
Pressão
(psi)
Medida 1
(md)
Medida 2
(md)
Medida 3
(md)
Medida 4
(md)
Medida 5
(md)
500 15,47 13,99 13,82 13,74 13,84
1000 14,27 13,06 12,97 12,98 12,98
1500 13,28 12,66 12,62 12,52 12,60
2000 12,64 12,31 12,26 12,17 12,33
2500 12,27 12,09 12,06 12,03 12,09
3000 12,08 11,88 11,91 11,88 11,92
3500 11,76 11,75 11,78 11,72 11,73
4000 11,60 11,58 11,60 11,62 11,63
4500 11,33 11,43 11,54 11,45 11,49
5000 11,21 11,32 11,40 11,40 11,45
Figura 4.4 – Gráfico com as medidas de permeabilidade variando-se a pressão de 500 a 5000 psi.
500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000
11.00
11.50
12.00
12.50
13.00
13.50
14.00
14.50
15.00
15.50
16.00
Pressão (psi)
Per
mea
bili
dad
e (m
d)
Medida_1 Medida_2 Medida_3 Medida_4 Medida_5
69
Figura 4.5 – Gráfico mostrando a relação permeabilidade x porosidade variando-se a pressão de
500 a 5000 psi.
4.3. Experimento 1
O primeiro experimento reproduziu o fluxo de água carbonatada para vazões mais baixas
simulando aquelas encontradas em regiões longe do poço injetor. Para este experimento, injetou-
se a salmoura carbonatada com vazão de 0.1 cm3/min, com uma pressão de poro de 3000 psi e
temperatura de 65 °C. Foram injetados 50 volumes porosos (Vp) na amostra, com medições da
diferença de pressão entre a entrada e saída do core holder a cada um minuto. Para análise de íons
por cromatografia de íons, foram coletados fluidos produzidos antes dos testes, e nos volumes
porosos de 5, 10, 20, 35 e 50Vp injetados. A Figura 4.6 mostra uma imagem da amostra utilizada
para o primeiro experimento de injeção de salmoura carbonatada e a Tabela 4.4 apresenta as
condições experimentais para o experimento 1.
11.5 12 12.5 13 13.5 14 14.5
11
12
13
14
15
16
Porosidade (%)
Per
mea
bili
dad
e (m
d)
Data 1 Data 3 Data 4 Data 5 Data 2
70
Figura 4.6 – Amostra de coquina utilizada no teste de dissolução1.
Tabela 4.4 – Condições experimentais para o teste 1.
Variável Experimento 1
Nome da amostra A7
Diâmetro da amostra 2,49 cm
Comprimento da amostra 4,583 cm
Porosidade inicial 12,76 %
Permeabilidade inicial 25,23 md
Fluido injetado Salmoura 200k ppm 100% CO2
Taxa de injeção 0,1 cm3/min
Pressão de injeção 2000 psi
Pressão de confinamento 3000 psi
Temperatura 65 °C
Volume de salmoura carbonatada injetado 50 Vp
Duração do teste 23 horas e 47 minutos
71
4.3.1. Propriedades da rocha medidas em laboratório antes e depois da
injeção de salmoura carbonatada
Medidas de porosidade e permeabilidade em laboratório antes e após os testes foram
realizadas através de um porosimetro e permeabilimetro a gás. A Tabela 4.5 apresenta os valores
de porosidade e permeabilidade médias para pressão de confinamento de 1000 psi obtidos para a
amostra A7 antes e após os testes. É interessante notar que a porosidade praticamente se manteve
estável, porém a permeabilidade aumentou mais de 10 vezes em relação ao valor original medido
em laboratório. A Figura 4.7 mostra a face de injeção da rocha antes e depois da injeção de
salmoura carbonatada. Aparentemente o fluido reativo penetra na amostra preferencialmente
utilizando um ponto específico (círculo vermelho indicado na Figura 4.7b), podendo indicar a
formação de um wormhole.
Tabela 4.5 – Valores de porosidade e permeabilidade médias inicial e final obtidas para o
experimento 1
i (%) f (%) f/i ki (md) kf (md) kf/ki
12,76 12,67 0,99 25.23 259.98 10.30
Figura 4.7 – Imagem (a) pré e (b) pós alterações na face de injeção da amostra A7 com
destaque em vermelho para um furo encontrado na face após o teste.
4.3.2. Evolução da permeabilidade
A Figura 4.8 ilustra a evolução da permeabilidade em função do número de volumes
porosos injetados. Para realizarmos uma análise mais aprofundada dos dados, utilizamos o teste de
72
Dixon e Grubbs para verificar e eliminar a presença de outliers nos dados e a técnica de média
móvel (para 10 pontos) para suavizar os dados e melhor visualizar o comportamento da
permeabilidade no tempo. Os cálculos necessários para a remoção dos outliers e as médias móveis
dos dados são detalhadas em NUÑEZ (2017).
Figura 4.8 – Evolução da permeabilidade em função do número de volumes porosos injetados
utilizando os dados originais e calculados através da equação de Darcy.
A Figura 4.9 ilustra a evolução da permeabilidade após aplicação das análises estatísticas
mencionadas anteriormente para os 50 Volumes Porosos Injetados. Como pode ser visto na Figura
4.9, a permeabilidade da amostra mostra um aumento constante da permeabilidade entre 15 e 35
volumes porosos (Vp) injetados e uma estabilização do sistema após esse período. Porém, embora
uma aparência geral mostre poucas mudanças na permeabilidade no início do teste, a Figura 4.10
mostra a evolução da permeabilidade nos primeiros 10 Vp injetados. Pode-se observar que a
permeabilidade diminui ao longo dos primeiros 5 PVI e depois aumenta para o mesmo nível de
permeabilidade. Este resultado já foi encontrado por muitos autores que investigaram experimentos
de dissolução (QAJAR et al, (2013); MANGANE et al, (2013); LUQUOT et al, (2014); GARING
et al, (2015). Os autores assumem que a diminuição da permeabilidade depende da precipitação de
partículas e/ou movimentação no meio poroso, onde podem ser retidos temporariamente. A
diminuição inicial da permeabilidade demonstra a importância do deslocamento de finos no curso
do fluxo reativo.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
k(m
d)
Volumes porosos injetados
73
Figura 4.9 – Evolução da permeabilidade em função do número de volumes porosos injetados
após utilizar os métodos de Dixon, Grubbs e média móvel.
Figura 4.10 – Evolução da permeabilidade calculada em função dos 10 primeiros Vp injetados
ilustrando a redução da permeabilidade no início do teste.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
k(m
d)
Volumes porosos injetados
6
6.5
7
7.5
8
8.5
9
9.5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
k(m
d)
Volumes porosos injetados
74
4.3.3. Evolução da concentração de íons
Os fluidos produzidos no primeiro teste foram coletados em intervalos pré-determinados
para análise de cromatografia de íons para determinar a concentração dos íons Ca2+, Mg2+ e K+.
Foram coletados 10 ml de fluidos em 0, 5, 10, 20, 35 e 50 Vp injetados. A Tabela 4.6 contém os
resultados dos íons produzidos em mg/L. Foram gerados gráficos de produções por volumes
porosos injetados de Ca2+ (Figura 4.11), Mg2+ (Figura 4.12) e K+ (Figura 4.13) e adicionada uma
linha base com a concentração inicial da salmoura. Nota-se que há um leve aumento nas
concentrações dos íons se comparado às concentrações da salmoura antes da injeção de salmoura
carbonatada. Esses dados mostram que houve uma leve dissolução no meio poroso, mais um
indício que pode haver a formação de um wormhole na amostra como mostra a Figura 4.7.
A partir das Equações 3.1 e 3.2, calculamos o volume de calcita dissolvida e a variação da
porosidade da amostra através das análises dos resultados de cromatografia de íons. A Figura 4.14
mostra a variação do volume dissolvido de calcita e a porosidade estimada através deste volume
dissolvido. Os resultados apresentam uma ligeira variação entre os valores da porosidade inicial e
final da amostra estimada através da cromatografia de íons, e estes resultados estão de acordo com
os valores medidos em laboratório (Tabela 4.5).
Tabela 4.6 – Resultados da cromatografia de íons para o teste com a amostra A7 ilustrando a
concentração de Ca2+, Mg2+ e K+ após 0, 5, 10, 20, 35 e 50 Vp injetados.
Vp injetados Ca2+ (mg/L) Mg2+ (mg/L) K+ (mg/L)
0 8473,38 300,09 3631,41
5 8992,09 308,80 3641,88
10 8997,43 319,24 3747,59
20 8698,45 298,39 3695,43
35 8956,92 318,80 3807,29
50 8836,72 312,15 3732,63
75
Figura 4.11 – Concentração de íons de Ca2+ produzidos no teste 1.
Figura 4.12 – Concentração de íons de Mg2+ produzidos no teste 1.
8400
8500
8600
8700
8800
8900
9000
9100
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Ca2
+(m
g/L)
Vp injetados
Concentração de Cálcio Linha base
295
300
305
310
315
320
325
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Mg2
+(m
g/L)
Vp injetados
Concentração de Magnésio Linha base
76
Figura 4.13 – Concentração de íons de K+ produzidos no teste 1.
Figura 4.14 – Volume dissolvido/precipitado de calcita, estimativa da porosidade inicial e final
medidas em laboratório e porosidade calculada através das Equações 3.1 e 3.2.
3620
3640
3660
3680
3700
3720
3740
3760
3780
3800
3820
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
K+
(mg/
L)
Vp injetados
Concentração de Potássio Linha base
0.00%
2.00%
4.00%
6.00%
8.00%
10.00%
12.00%
14.00%
16.00%
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Po
rosi
dad
e (
%)
Vo
lum
e d
isso
lvid
o/p
reci
pit
ado
(cm
3)
Vp injetados
Calcita Porosidade Porosidade inicial Porosidade final
77
4.3.4. Análise digital das imagens
A amostra de coquina A7 foi escaneada utilizando um micro tomógrafo helicoidal,
produzindo um set de imagens de 2560 x 2560 x 4760 (eixos x, y e z), totalizando aproximadamente
31,2 x 109 voxels. A Tabela 4.7 apresenta um resumo dos principais parâmetros de aquisição das
imagens da coquina A7. A técnica de registro 3D mencionada na seção 3.2.8.6. foi utilizada para
posicionar as imagens na mesma posição para efeito de comparação e análise das mudanças na
porosidade.
Tabela 4.7 – Parâmetros de aquisição utilizados para as imagens da coquina A7 antes e depois do
teste de injeção de salmoura carbonatada
Parâmetro Antes Depois
Tamanho de voxel (µm) 10,55 10,60
Energia do Raio-X (keV) 80 120
Corrente do tubo (µA) 100 70
Duração da aquisição (min) 677 684
A Figura 4.15 apresenta os histogramas de intensidades de raios-X gerado pelas imagens
antes e após o teste. Note que em ambos os histogramas não temos um pico muito evidente de
baixa intensidade (poros resolvidos) devido ao grande número de gargantas e poros menores que a
resolução da imagem (~10µm). MONTE-MOR e TREVISAN (2016) mostram o resultado de
porosimetria por intrusão de mercúrio de uma rocha retirada do mesmo bloco, que é a rocha
utilizada no teste, onde encontraram uma grande quantidade de garganta de poros menores que a
resolução da imagem, como mostra a Figura 4.16.
78
Figura 4.15 – Histograma de intensidade de raios-X das imagens antes e depois do teste de
dissolução 1.
Figura 4.16 – Resultado de porosimetria por intrusão e mercúrio de uma rocha coquina, do
mesmo bloco de onde a amostra foi retirada, mostrando a distribuição de gargantas de poros.
Note a quantidade de gargantas menores que a resolução da imagem de aproximadamente 10um
(adaptado de MONTE-MOR e TREVISAN, 2016).
Para que as imagens possam ser comparadas, analisamos o nível de ruído das imagens
utilizando a SNR (descrito na seção 3.2.8.4) para diferentes regiões de poros e grãos para obter a
SNR média similar entre os sets de imagens antes e depois do teste. A Tabela 4.8 apresenta o
0.00E+00
1.00E-04
2.00E-04
3.00E-04
4.00E-04
5.00E-04
6.00E-04
7.00E-04
8000 12000 16000 20000 24000
Fre
qu
ên
cia
Intensidade do Raio-X
Antes Depois
79
número médio de SNR para imagens pré e pós-dissolução para regiões de grãos e poros com e sem
o uso do filtro AD. Quanto maior a SNR média melhor será a qualidade da imagem. A partir da
Tabela 4.8 pode-se notar que o sinal de qualidade pré-dissolução para poros é ligeiramente melhor
que o sinal pós-dissolução e que o filtro AD aplicado aumentou os SNR dos poros e grãos. O uso
do filtro AD trouxe o SNR médio das imagens para valores próximos uns dos outros. Em média, o
valor de SNR pré-dissolução aumentou 68% e 78% para poros e grãos, respectivamente, e 83% e
92% para pós-dissolução.
Tabela 4.8 – Valores médios de SNR para as regiões de poros e grãos para as imagens filtradas e
não filtradas antes e depois do teste de dissolução.
Parâmetro Antes Depois
Poros sem filtro AD 39,5 37,2
Poros com filtro AD 66,4 68,0
Grãos sem filtro AD 59,7 54,2
Grãos com filtro AD 106,2 104,2
4.3.4.1. Localização e evolução de mudanças na porosidade
Na Figura 4.7 observamos a formação de um caminho preferencial do fluido reativo na
amostra. O uso de microtomografia de raios-X nos permite visualizar as alterações do meio poroso
internamente dentro da resolução espacial alcançada. A Figura 4.17 ilustra os cortes de imagens
registradas antes (esquerda da imagem) e após (a direita da imagem) o teste.
Visualmente nota-se em regiões próximas a face injetora apresentam indícios de dissolução
da rocha pelo aumento dos poros, levando a um aumento da porosidade do sistema. O fluido reativo
aparentemente passou pelo lado esquerdo da amostra (referencial da imagem acima) onde
corrobora com a ideia da formação de um wormhole na rocha. Visualmente percebe-se que a
salmoura carbonatada aumentou localmente os diâmetros de poros na maioria das regiões da
amostra.
80
Figura 4.17 – Cortes de imagens pré (esquerda) e pós-teste (direita). As distâncias das imagens da
face de injeção são: (a e a*) 0,24 cm, (b e b*) 1,44 cm, (c e c*) 2,84 cm e (d e d*) 3,64 cm.
A Figura 4.17 ilustra cortes na amostra e não pode ser utilizada como observação geral para
localização das mudanças na porosidade. Dependendo das imagens utilizadas teremos regiões com
mais dissolução/precipitação. Este trabalho encontrou, como mostrado na Figura 4.18, regiões
onde ocorrem ambos os fenômenos de dissolução e precipitação. A Figura 4.18 ilustra um corte de
imagem antes e após o teste apresentando para um mesmo slice a presença de regiões com abertura
81
de poro e de fechamento. Esse dado é extremamente importante, pois nos fornece a ideia que a
porosidade antes e depois do teste é pouco alterada.
Figura 4.18 – Zoom de imagem antes (imagem superior) e depois (imagem inferior) do teste
ilustrando dentro dos retângulos vermelhos regiões em que ocorreram dissolução e precipitação
na mesma região da amostra.
Localizar mudanças na porosidade é um processo que requer uma técnica de segmentação
cuidadosa. Existem diversos métodos de segmentação e optamos pela segmentação descrita na
seção 3.2.8.9. A análise de segmentação trifásica utilizada neste trabalho escolhe os limites de
intensidades adequados considerando o caso onde os níveis de microporosidade, como definido
pela Equações 3.4 e 3.5, são classificados em 49 faixas de tamanhos iguais. Consequentemente, a
fase intermédia da imagem segmentada é dividida em 49 fases de microporosidade, isto é, N = 49,
incluindo fases de 0% e 100% de porosidade com base no histograma de atenuação. Dessa forma,
as imagens são divididas em 51 fases: a fase de macroporos, 49 fases de microporosidade e a fase
grãos. Na Figura 4.19a temos um exemplo de imagem original e os resultados das duas
segmentações utilizadas (Figura 4.19b e Figura 4.19c). A Figura 4.19d mostra o resultado da
segmentação utilizada com a fase macroporos (preto), fase microporosa (49 fases de tamanhos e
larguras iguais em escalas de cinza de tal forma que as regiões mais escuras representam mais
microporosidade) e grãos (branco).
82
Figura 4.19 – Série de imagens mostrando o processo de segmentação utilizado neste trabalho. a)
Imagem original, b) primeira segmentação separando poros resolvidos, c) segmentação adicional
separando macroporos (preto), microporos (verde) e grãos (vermelho), e d) resultado final da
segmentação apresentando as 51 fases (macroporos, grãos e 49 fases microporosas).
Para a amostra A7, selecionou-se os valores de threshold (valor de corte do histograma que
define as fases) inferior e superior como 11828 e 19700 (escala de 0 a 65535) para as imagens pré
e pós-dissolução, fornecendo 48,98% e 52,86% de fase intermediária (microporosidade). A
porosidade medida é de 8,27% de macroporos, 6,48% de microporos com porosidade total de
14,75% para o set pré-dissolução. Para os dados pós-dissolução, a análise de imagem forneceu
9,21% de macroporos, 6,75% de microporos e uma porosidade total de 15,96%.
83
Os valores globais de macro e microporosidade, bem como a porosidade total derivada das
imagens pré e pós-dissolução, são mostrados na Tabela 4.9. No geral, a porosidade total baseada
em imagem pré e pós-alteração está em boa concordância com a porosidade medida em laboratório,
pois as imagens apresentam a porosidade total e não a efetiva da amostra. Devido à quantidade
considerável de fase intermediária em ambas as imagens, os grãos inalteráveis reconhecíveis em
imagens sucessivas não foram precisamente localizados.
Tabela 4.9 – Valores das porosidades (%) macros, micros e totais obtidos através de imagens da
amostra A7 antes e depois do teste de dissolução.
Parâmetro Macroporosidade Microporosidade Porosidade total
Pré-teste 8,27 6,48 14,75
Pós-teste 9,21 6,75 15,96
Podemos examinar a importância de incorporar microporosidade nos cálculos de evolução
baseados em voxel a partir da Tabela 4.9. No primeiro caso, caso as imagens fossem segmentadas
gerando espaço poroso resolvido (macroporos) e uma fase que compreende as fases intermediárias
e de grãos, teríamos apenas 8,27% de porosidade do sistema, ocultando um valor alto de poros
devido a sub-resolução das imagens. A utilização da segmentação trifásica em macroporos,
microporos e grãos possibilita estudar os efeitos da dissolução mesmo quando não “enxergamos”
os poros resolvidos, aumentando a precisão de análise dos dados ao localizar as evoluções de cada
voxel.
O efeito da adição da microporosidade no sistema pode ser verificado ao analisarmos a
conectividade do sistema como descrito na seção 3.2.8.11 visualizados na Figura 4.20. As curvas
com marcadores mostram a fração conectada da fase microporosa combinada com a macroporosa
e as linhas sem marcador mostram a porosidade total que está associada ao agrupamento de micro
e macroporos correspondente. Os resultados mostram que os macroporos da amostra A7 antes do
teste estão desconectados na direção z, ou seja, não a conexão entre a entrada e a saída da amostra.
A inclusão da microporosidade nos mostra que mesmo com a inclusão de níveis de
microporosidade de 100% a 60%, o sistema ainda continua desconectado. A partir da inclusão de
mais microporos ocorre um aumento substancial na conexão do espaço poroso.
84
Figura 4.20 – Resultado da análise de conectividade do sistema para a amostra A7 antes e depois
do teste.
Os resultados pós teste mostram que os macroporos estão conectados entre a entrada e saída
do sistema. Esse dado nos mostra que a formação do wormhole conectou os macroporos do sistema.
A inclusão de microporosidade aumenta a conectividade do sistema, mas de forma menos drástica
do que a verificada pré-teste. Como pode ser visto na Figura 4.20, o experimento de fluxo reativo
aumentou muito a conectividade do sistema de poros, ampliando o espaço de poros e criando novos
caminhos de poros através da fase sólida, de forma que aproximadamente 70% dos macroporos
são conectados através de um cluster de macroporos.
A partir das imagens segmentadas, traçamos a variação da porosidade macro com a distância
ao longo da direção z da amostra (Figura 4.21). As parcelas da variação da porosidade macro da
amostra exibem uma variabilidade considerável. Como pode ser visto na Figura 4.21, o
experimento de fluxo reativo não alterou a porosidade macro ao longo do eixo de z uniformemente.
Podem-se observar tendências ligeiramente positivas de aumento da porosidade macro na face de
entrada do fluido reativo e na saída. As regiões de entrada e saída de fluxo apresenta uma
0.00%
20.00%
40.00%
60.00%
80.00%
100.00%
0.00%
3.00%
6.00%
9.00%
12.00%
15.00%
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Fraç
ão d
e p
oro
s in
terc
on
ecta
do
s
Po
rosi
dad
e co
nec
tad
a/Fr
equ
ênci
a d
e vo
xel
Nível de porosidade de Microporo para Macroporo
Porosidade conectada - pré-dissolução Porosidade conectada - pós-dissolução
Abrangência de voxels - pré-dissolução Abrangência de voxels - pós-dissolução
85
porosidade maior se comparada ao resto da amostra. Um dos motivos pode ser a perda de grãos no
momento de corte da amostra.
Figura 4.21 – Perfil de porosidade para poros resolvidos ao longo da amostra obtidas por imagens
de micro-CT antes e após o teste de dissolução
4.3.4.2. Visualização 3D do padrão de dissolução
Uma das vantagens de se utilizar a micro-CT é a possibilidade de visualizar em três
dimensões os poros e grãos presentes na amostra. A Figura 4.22 ilustra a amostra A7 reconstruída
tridimensionalmente antes do teste, ilustrando as fases grão (cinza) e macroporos (verde). Para
visualizarmos o padrão de dissolução encontrado, primeiramente calculamos a diferença do espaço
poroso (macroporos) final do espaço poroso inicial das imagens (registradas e filtradas), onde
obtemos uma nova fase que mostra apenas onde ocorreram as mudanças por dissolução e
precipitação. A visualização 3D foi realizada utilizando o software de renderização de volume
Drishti desenvolvido pela Australian National University. A Figura 4.23a ilustra o mapa de
dissolução/precipitação 3D onde se pode observar a formação de um canal predominante
(wormhole) a partir da face injetora. O resultado visualizado confirma as suposições feitas pela
análise de permeabilidade de que um wormhole cônico (Figura 4.23b) foi formado similar ao
ilustrado pela Figura 2.2.
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
20%
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5
Po
rosi
dad
e (%
)
Distância ao longo da amostra (cm)
Pré-dissolução Pós-dissolução
86
Figura 4.22 – Amostra A7 reconstruída tridimensionalmente através de imagens de micro-CT
com a fase sólida (grãos) na cor cinza e poros na cor verde.
Figura 4.23 – (a) Mapa de dissolução da amostra A7. A fase porosa das imagens antes e após o
teste foi subtraída gerando um set de imagens ilustrando as mudanças no meio poroso. Na face de
injeção da amostra (topo da imagem) forma-se um wormhole (região dentro do retângulo
vermelho) gerado pela injeção de salmoura carbonatada. (b) Zoom do wormhole cônico formado.
4.3.4.3. Análise da rede de poros
A análise de rede de poros é uma técnica importante por fornecer informações sobre como
se alteram as propriedades da rocha após o teste de dissolução. Os dados gerados pela rede baseiam-
se em poros e gargantas completamente resolvidos e não incluem espaço de poros de sub-resolução
87
(microporosidade). Dados estatísticos (raio do poro, raio da garganta, razão de aspecto, número de
coordenação e tortuosidade da garganta) foram extraídos das redes relacionadas à topologia do
sistema e são mostrados na Figura 4.24.
Figura 4.24 – Distribuição de tamanho de poros, raio de garganta, aspect ratio, número de
coordenação e tortuosidade de garganta extraídos da rede de poros antes e após o teste.
Os resultados mostram um aumento no raio dos macroporos entre 13 e 35 μm com ligeiro
aumento da garganta dos poros, indicando alterações mais significativas nos poros e gargantas
menores. A conectividade dos poros também aumenta conforme mostrado pelo número de
coordenação (corresponde ao número de poros da rede vizinhos mais próximos). Embora os
resultados mostrem aumentos nos tamanhos dos poros e da garganta, o aspect ratio (relação
88
proporcional entre largura e altura.) e a tortuosidade da garganta (sinuosidade do caminho poroso
da rocha) permanecem quase intactas, indicando pequenas alterações na topologia da rede, mesmo
após o teste reativo. Os resultados da rede de poros ilustram pouca mudança no meio poroso, ao
contrário do indicado pela reconstrução 3D. A partir dos dados obtidos pela rede de poros, podemos
ver o peso que a sub-resolução (microporos) das imagens de micro-CT tem nas análises de
coquinas.
4.3.4.4. Caracterização da evolução porosa voxel por voxel
Conforme apresentado na seção 3.2.8.11, utilizamos o método de construção de um
histograma 2D para representar as mudanças na porosidade (macro e micro) do sistema antes e
após o teste de dissolução. A Figura 4.25 ilustra o histograma 2D de todo set de imagens da amostra
de coquina A7, apresentando a probabilidade de que um dado voxel tenha alterado de fase. O
histograma foi calculado para o caso de 49 fases microporosas, resultando em 51 fases
(macroporos, 49 fases microporosas e grãos) onde cada voxel pode assumir um valor inteiro entre
0 e 50. Para melhor visualização, o gráfico mostra 10 intensidades das 51 disponíveis onde cada
barra no gráfico 3D representa a probabilidade de um voxel na imagem anterior, alterar sua
intensidade. Em outras palavras, a probabilidade de um poro se tornar um grão ou microporos e
vice-versa.
Todo o conjunto de dados tem 2560x2560x4160 voxels e os resultados mostram que as
mudanças mais frequentes ocorrem entre grãos/microporos para macroporos (lado direito), poros
para microporos (parte inferior do mapa) e microporos para microporos/grãos (parte superior
esquerda do mapa). O histograma 2D indica que grãos e microporos têm maior probabilidade de
serem dissolvidos ou deslocados para outro local. A precipitação de minerais ocorre na parte
inferior do mapa, onde os poros da imagem pré-teste se transformam em microporos. Este resultado
é completamente coerente com os obtidos na Figura 4.18, pois ilustra a presença de dissolução e
precipitação no mapa de evolução. O histograma de intensidade 2D das imagens registradas
permite incorporar efetivamente a porosidade da sub-resolução na quantificação da evolução local
dos poros na escala de voxels da imagem.
89
Figura 4.25 – Histograma de intensidade 2D mostrando a probabilidade de alterações pré e pós-
dissolução para todo o conjunto de dados de imagens.
A análise anterior ilustra as alterações da porosidade que ocorreram em todo o conjunto de
dados. Para compreender melhor as evoluções locais, dividimos o conjunto de dados em quatro
blocos (Figura 4.26) contendo 2560x2560x1000 voxels cada, ilustrando os cenários de evolução
da porosidade da face de injeção para a face de produção da amostra.
Figura 4.26 – Divisão da amostra em blocos para computar os cenários de evolução através do
histograma 2D.
A Figura 4.27 apresenta os quatro histogramas 2D resultantes e, como esperado, os
macroporos do primeiro bloco (próximo à face injetora) apresentam maior probabilidade de
ocorrência de dissolução e precipitação do que os macroporos dos blocos subsequentes. A maior
90
ocorrência de dissolução no início também ilustra a presença do wormhole gerado. Esse dado
mostra que o fluido reativo interage primeiro com grãos no bloco 1, perdendo força nos demais
blocos. Porém, vê-se um aumento da atividade da região microporosa ao longo da amostra. A
ocorrência de precipitação explica a pequena mudança na porosidade medida nos dados de
laboratório e micro-CT. Os resultados encontrados mostram que a análise de histograma de
intensidade 2D se mostra uma importante ferramenta para rastrear as evoluções de voxels em
imagens de micro-CT devido à injeção de salmoura carbonatada.
Figura 4.27 – Histograma 2D resultantes da divisão da amostra em 4 blocos. Bloco 1 representa a
região próxima a face injetora e o bloco 4 a região próxima a produtora.
Nesta seção aplicamos o fluxo de trabalho e os procedimentos descritos no capítulo 3,
particularmente registro de imagem, segmentação trifásica e histogramas de intensidade 2D para
caracterizar a evolução das microestruturas de uma rocha coquina submetida a uma injeção de
salmoura sintética carbonatada. Os resultados de laboratório antes e após o teste mostram que a
porosidade praticamente não se altera apesar de se verificar um aumento de 10 vezes no valor da
permeabilidade final. A partir do uso de imagens de micro-CT antes e após o teste de dissolução,
91
foi possível verificar a presença de um wormhole cônico, explicando o motivo para o aumento
substancial da permeabilidade do sistema. O uso do método de histograma 2D permitiu analisar
voxel por voxel as alterações do meio poroso adicionando a sub-resolução do sistema, que tem
participação importante na conectividade e na porosidade final da rocha. Os resultados mostram a
presença de dissolução e precipitação na amostra, sendo maior a ocorrência dessas reações
próximas a face injetora.
4.4. Experimento 2
O segundo experimento deste trabalho procurou reproduzir o fluxo de água carbonatada
para vazões mais altas simulando aquelas encontradas em regiões próximas ao poço injetor. Para
este experimento, injetou-se a salmoura carbonatada com vazão de 0.5 cm3/min, com uma pressão
de poro de 3000 psi e temperatura de 65 °C. Foram injetados 50 volumes porosos (Vp) na amostra,
com medições da diferença de pressão entre a entrada e saída do core holder a cada um minuto.
Para análise de íons por cromatografia de íons, foram coletados fluidos produzidos antes dos testes,
e nos volumes poros de 5, 10, 20, 35 e 50Vp injetados. A coquina utilizada para o teste 2 está
apresentada na Figura 4.28 e a Tabela 4.10 apresenta as condições experimentais para o teste 2.
Figura 4.28 – Amostra de coquina utilizada no teste de dissolução 2.
92
Tabela 4.10 – Condições experimentais para o teste 2.
Variável Experimento 2
Nome da amostra A1
Diâmetro da amostra 2,49 cm
Comprimento da amostra 4,68 cm
Porosidade inicial 15,01 %
Permeabilidade inicial 46,45 md
Fluido injetado Salmoura 200k ppm 100% CO2
Taxa de injeção 0,5 cm3/min
Pressão de injeção 2000 psi
Pressão de confinamento 3000 psi
Volumes porosos injetados 50
4.4.1. Propriedades da rocha antes e depois do teste
O teste 2 utilizou a rocha coquina A1 em um teste de alta vazão de injeção. Este teste
danificou consideravelmente a rocha como se pode ver na Figura 4.29. A rocha ao ser retirada do
core holder, borracha, termo retrátil, alumínio e teflon apresentou uma fratura que atravessou a
amostra de um lado ao outro. Dessa forma, não foi possível realizar as medidas de porosidade e
permeabilidade em laboratório. A análise deste teste em questão será baseada apenas nos dados de
diferencial de pressão, cromatografia de íons e microtomografia de Raios-X.
4.4.2. Evolução da permeabilidade
A Figura 4.30 ilustra a evolução da permeabilidade em função do número de volumes poros
injetados. Seguindo os mesmos procedimentos para a análise do teste 1, utilizamos o teste de Dixon
e Grubbs para verificar e eliminar a presença de outliers nos dados e a técnica de média móvel
(para 5 pontos) para suavizar os dados e melhor visualizar o comportamento da permeabilidade no
tempo.
93
Figura 4.29 – (a) Coquina utilizada antes do teste 2 e (b) e (c) fratura encontrada após a retirada
da coquina do core holder, borracha, termo retrátil, alumínio e teflon.
Figura 4.30 – Evolução da permeabilidade em função do número de volumes porosos injetados
utilizando os dados originais e calculados através da equação de Darcy.
A Figura 4.31 ilustra a evolução da permeabilidade após aplicação das análises estatísticas
mencionadas anteriormente para os 50 Volumes Porosos Injetados. A partir de 26 Vp injetados,
notamos que a permeabilidade do sistema começa a aumentar constantemente até o fim do
experimento. Novamente notamos que a permeabilidade reduz no início do teste (Figura 4.32).
Pode-se observar que a permeabilidade diminui ao longo dos primeiros 2 Vp injetados, mantem-se
flutuando constante por 24 e depois aumenta para o mesmo nível de permeabilidade inicial. A
0
100
200
300
400
500
600
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
k(m
d)
Vp injetados
94
diminuição inicial da permeabilidade demonstra a importância do deslocamento de partículas
locais no curso do fluxo reativo.
Figura 4.31 – Evolução da permeabilidade em função do número de volumes porosos injetados
após utilizar os métodos de Dixon, Grubbs e média móvel.
Figura 4.32 – Evolução da permeabilidade calculada em função dos 26 primeiros Vp injetados
ilustrando a redução da permeabilidade no início do teste.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
0 10 20 30 40 50
k (
mD
)
Vp injetados
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
0.00 7.00 14.00 21.00 28.00
k (
md)
Vp injetados
95
4.4.3. Evolução da concentração de íons
Os fluidos produzidos no experimento 2 foram coletados em intervalos pré-determinados
para análise de cromatografia de íons para determinar a concentração dos íons Ca2+, Mg2+ e K+.
Foram coletados 10 ml de fluidos em 0, 5, 10, 20, 35 e 50 Vp injetados. A Tabela 4.11 contém os
resultados dos íons produzidos em mg/L e a partir desses dados foram geradas os gráficos de
produção por volumes injetados de Ca2+ (Figura 4.33), Mg2+ (Figura 4.34) e K+ (Figura 4.35).
Utilizando novamente as Equações 3.1 e 3.2, calculamos o volume de calcita dissolvida/precipitada
e a variação da porosidade da amostra através das análises dos resultados de cromatografia de íons.
A Figura 4.36 mostra a variação do volume dissolvido de calcita e a porosidade estimada através
deste volume dissolvido. Os resultados apresentam uma ligeira variação entre os valores da
porosidade inicial e final da amostra estimada através da cromatografia de íons. Novamente
notamos que a porosidade final é ligeiramente menor do que a porosidade final.
Tabela 4.11 – Resultados da cromatografia de íons para o teste com a amostra A1 ilustrando a
concentração de Ca2+, Mg2+ e K+ após 0, 5, 10, 20, 35 e 50 Vp injetados.
Vp injetados Ca2+ Mg2+ K+
0 8745,43 310,62 3682,88
5 9023,01 289,19 3630,08
10 8801,44 294,52 3667,86
20 8637,18 295,32 3651,78
35 8806,00 301,58 3731,75
50 8726,76 305,48 3688,33
96
Figura 4.33 – Concentração de íons de Ca2+ produzidos no experimento 2.
Figura 4.34 – Concentração de íons de Mg2+ produzidos no experimento 2.
8600
8650
8700
8750
8800
8850
8900
8950
9000
9050
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Ca2
+(m
g/L)
Vp injetados
Concentração de Cálcio Linha base
285
290
295
300
305
310
315
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Mg2
+(m
g/L)
Vp injetados
Concentração de Magnésio Linha base
97
Figura 4.35 – Concentração de íons de K+ produzidos no experimento 2.
Figura 4.36 – Volume dissolvido/precipitado de calcita e estimativa da porosidade calculada
através das Equações 3.1 e 3.2.
3620
3640
3660
3680
3700
3720
3740
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
K+
(mg/
L)
Vp injetados
Concentração de Potássio Linha base
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
-0.3
-0.2
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0 10 20 30 40 50 Po
rosi
dad
e (%
)
Vo
lum
e d
isso
lvid
o/p
reci
pit
ado
(cm
3)
Vp injetados
Calcita Porosidade (%)
98
4.4.4. Análise digital das imagens
As microtomografias de raios-X realizadas na amostra A1 produziram um set de imagens
de 2560 x 2560 x 5200 (eixos x, y e z) para a amostra antes do teste, totalizando aproximadamente
34 x 109 voxels e 2560 x 2560 x 4760 (eixos x, y e z) para a amostra depois do teste, totalizando
aproximadamente 31,2 x 109 voxels. A Tabela 4.12 apresenta um resumo dos principais parâmetros
de aquisição das imagens da coquina A1.
Tabela 4.12 – Parâmetros de aquisição utilizados para as imagens da coquina A7 antes e depois
do teste de injeção de salmoura carbonatada
Parâmetro Antes Depois
Tamanho de voxel (µm) 10,69 11,33
Energia do Raio-X (keV) 80 120
Corrente do tubo (µA) 100 160
Duração da aquisição (min) 611 678
Devido a fratura encontrada na amostra (Figura 4.37), este trabalho cortou as imagens
microtomografas em três regiões (Figura 4.38) retirando a parte central das análises (região
fraturada). Como não podemos afirmar se a fratura foi devido ao experimento ou ao
enfraquecimento da amostra e posterior fratura ao se retirar do core holder, as análises entre o antes
e depois serão realizadas nas regiões fora da fratura. O topo da imagem é a região de injeção do
teste. A técnica de Registro 3D mencionada na seção 3.2.8.6. foi utilizada duas vezes (região
superior e inferior não fraturadas) para posicionar os sets de imagens na mesma posição para efeito
de comparação e análise das mudanças na porosidade.
Novamente utilizamos o conceito de SNR descrito na seção 3.2.8.4 para diferentes regiões
de poros e grãos para obter um número médio de SNR similar entre os sets de imagens antes e
depois do experimento 2. A Tabela 4.13 apresenta o número médio de SNR para imagens pré e
pós-dissolução para regiões de grãos e poros com e sem o uso do filtro AD. Quanto maior o valor
de SNR melhor será a qualidade da imagem. A partir da Tabela 4.13, nota-se que o sinal pré-teste
tem uma qualidade muito maior que o sinal pós-teste. Para reduzir a diferença entre o erro das
imagens, aplicamos o filtro AD em ambas com o intuito de melhorar o SNR para que sejam
próximos e assim analisar as imagens.
99
Figura 4.37 – Microtomografias de raios-X da coquina A1 antes e depois do teste. (a) e (b)
representam cortes nos eixos x, z e (c) e (d) os cortes na direção y, z.
Figura 4.38 – Divisão da imagem em três regiões. A região fraturada (Região 2) não entrou na
análise das imagens. (a) corte no eixo x, z e (b) corte no eixo y, z.
100
Tabela 4.13 – Valores médios de SNR para as regiões de poros e grãos para as imagens filtradas
e não filtradas antes e depois do teste de dissolução 2.
Parâmetro Antes Depois
Poros sem filtro AD 92,3 59,0
Poros com filtro AD 157,8 148,0
Grãos sem filtro AD 80,6 55,9
Grãos com filtro AD 212,3 198,0
4.4.4.1. Localização e evolução de mudanças na porosidade
Na seção 4.4.2 apresentamos as mudanças medidas em laboratório da permeabilidade com o
tempo como mostrado na Figura 4.31. Este resultado nos mostra que há uma grande mudança em
termos de abertura de gargantas e poros na amostra. A Figura 4.39 ilustra algumas imagens de
mudanças na porosidade ao longo da região 1 e a Figura 4.40 as mudanças em algumas imagens
próxima a região 3. Ambas as imagens apresentam um ligeiro aumento no tamanho dos poros
resolvidos, porém não infere em quais regiões temos dissolução e precipitação de minerais. A
Figura 4.41 apresenta um zoom em uma região de 960 x 650 pixels na amostra A1 antes e depois
do teste. Nota-se nessa imagem a presença novamente de dissolução e precipitação na amostra
assim como encontrado no experimento 1.
Para localizarmos as mudanças na porosidade, utilizamos novamente a segmentação descrita
na seção 3.2.8.9, com 49 bins de tamanhos iguais para classificar os valores de microporosidade.
Dessa forma, as imagens são segmentadas em 51 fases: a fase de macroporos, 49 fases de
microporosidade e a fase grãos. Na Figura 4.42a temos um exemplo de imagem original e os
resultados das duas segmentações utilizadas (Figura 4.42b e Figura 4.42c). A Figura 4.42d
apresenta o resultado da segmentação utilizada com a fase macroporos (preto), fase microporosa
(49 fases de tamanhos e larguras iguais em escalas de cinza de tal forma que as regiões mais escuras
representam mais microporosidade) e grãos (branco).
101
Figura 4.39 – Cortes de várias imagens pré (esquerda) e pós-dissolução (direita) para a região 1.
102
Figura 4.40 – Cortes de várias imagens pré (esquerda) e pós-dissolução (direita) para a região 3.
103
Figura 4.41 – Zoom de imagem (960 x 650 pixels) antes (esquerda) e depois (direita) do teste 2
apresentando regiões com precipitação e dissolução de minerais.
Para a amostra A1, escolhemos os valores de threshold inferior e superior como 11750 e
12085 (escala de 0 a 65535) para as imagens pré-dissolução, fornecendo 43,71% e 63,50% de fase
intermediária (microporosidade) para as regiões 1 e 3, respectivamente. Para as imagens pós
dissolução, os valores de thresholds inferior e superior foram de 11750 e 13373, fornecendo
44,81% e 62,50% de fase intermediária (microporosidade) para as regiões 1 e 3. Os valores globais
de macro e microporosidade, bem como a porosidade total derivada das imagens pré e pós-
dissolução, são mostrados na Tabela 4.14. Em ambas as regiões estudadas houve um aumento da
porosidade (macro, micro e total), fornecendo indícios de dissolução em toda a rocha.
Tabela 4.14 – Valores das porosidades (%) macros, micros e totais obtidos através de imagens da
amostra A1 antes e depois do teste de dissolução.
Região Parâmetro Macroporosidade Microporosidade Porosidade total
Injeção Pré-teste 9,82 3,77 13,58
Injeção Pós-teste 11,29 4,16 15,45
Produção Pré-teste 8,99 4,87 13,86
Produção Pós-teste 9.48 5,15 14,63
O efeito da adição da microporosidade no sistema pode ser verificado ao analisarmos a
conectividade de poros. A Figura 4.43 mostra a fração conectada da fase microporosa combinada
com a macroporosa e a porosidade total que está associada ao agrupamento de micro e macroporos
correspondente para a região 1. Devido a um erro no software não conseguimos os resultados para
a região antes do teste. O resultado pós-dissolução nos mostra que, considerando apenas
104
macroporos, temos 10% de porosidade efetiva na amostra com 90% dos poros conectados. Neste
caso a microporosidade desempenha um papel menor na conectividade no sistema.
Figura 4.42 – Série de imagens mostrando o processo de segmentação utilizada no teste 2. a)
Imagem original, b) primeira segmentação separando poros resolvidos, c) segmentação adicional
separando macroporos (preto), microporos (verde) e grãos (vermelho), e d) resultado final da
segmentação apresentando as 51 fases (macroporos, grãos e 49 fases microporosas).
105
Figura 4.43 – Resultado da análise de conectividade do sistema para a amostra A7 depois do teste
de dissolução para a região próxima a face injetora.
A Figura 4.44 ilustra os resultados obtidos de conectividade de poros para a região 3. Os
resultados mostram que os macroporos da amostra A1 próximos a face produtora estão conectados
na direção z, com 5% de porosidade efetiva e ~60% de poros conectados. A inclusão da
microporosidade de níveis de 100% a 70% não altera a conexão. A partir da inclusão de mais
microporos ocorre um aumento gradual na conexão do espaço poroso.
Os resultados pós teste mostram que os macroporos estão mais conectados entre a entrada e
saída do sistema, indicando um aumento das gargantas e leve dissolução do sistema. A inclusão de
microporosidade aumenta a conectividade do sistema em uma taxa similar a pré-dissolução. A
Figura 4.44 mostra que o experimento de fluxo reativo aumentou a conectividade do sistema de
poros, ampliando o espaço de poros e criando novos caminhos de poros através da fase sólida,
porém menos impactante do que o encontrado no experimento anterior com a formação de um
wormhole.
A partir das imagens segmentadas, traçamos a variação da porosidade macro com a distância
ao longo da direção z da amostra para as regiões 1 e 3 (Figura 4.45 e Figura 4.46). O experimento
de fluxo reativo não alterou a porosidade macro ao longo do eixo de z uniformemente. Podem-se
observar tendências ligeiramente positivas de aumento da porosidade macro no fim da região 1 e
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
6%
7%
8%
9%
10%
11%
12%
13%
14%
15%
16%
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
Fraç
ão d
e p
oro
s in
terc
on
ecta
do
s
Po
rosi
dad
e co
nec
tad
a/Fr
equ
ênci
a d
e vo
xel
Nível de porosidade de Microporo para Macroporo
Porosidade conectada - pós-dissolução Abrangência de voxels - pós-dissolução
106
início da região 3. A fratura encontrada na amostra pode ser um dos motivos para essa maior
variação nessas regiões.
Figura 4.44 – Resultado da análise de conectividade do sistema para a amostra A1 antes e depois
do teste de dissolução para a região 3.
Figura 4.45 – Perfil de porosidade para poros resolvidos ao longo da amostra obtidas por
imagens de micro-CT antes e após o teste de dissolução na região 1.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 Fraç
ão d
e p
oro
s in
terc
on
ecta
do
s
Po
rosi
dad
e co
nec
tad
a/Fr
equ
ênci
a d
e vo
xel
Nível de porosidade de Microporo para Macroporo
Porosidade conectada - pré-dissolução Porosidade conectada - pós-dissolução
Abrangência de voxels - pré-dissolução Abrangência de voxels - pós-dissolução
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
1 4 7 10
Po
rosi
dad
e
Distância ao longo da amostra (mm)
Pré-dissolução Pós-dissolução
107
Figura 4.46 – Perfil de porosidade para poros resolvidos ao longo da amostra obtidas por
imagens de micro-CT antes e após o teste de dissolução na região 3.
4.4.4.2. Visualização 3D do padrão de dissolução
A Figura 4.47 ilustra a amostra A1 reconstruída tridimensionalmente, antes e após o teste de
injeção de salmoura carbonatada. Na imagem, pode-se ver a fratura encontrada após o teste de
dissolução. A análise das imagens pré-dissolução mostra que a rocha possui regiões com micro
fraturas, o que pode explicar a razão pelo rompimento da amostra após o teste. A Figura 4.48 ilustra
a amostra A1 reconstruída tridimensionalmente antes do teste com as fases grão (cinza) e
macroporos (verde).
Para visualizarmos o padrão de dissolução encontrado, calculamos a diferença entre o espaço
poroso (macroporos) final e o espaço poroso inicial das imagens (registradas e filtradas), onde
obtemos uma nova fase que mostra apenas onde ocorreram as mudanças por dissolução e
precipitação. A Figura 4.49 ilustra o mapa de dissolução/precipitação 3D da região 1, onde se pode
observar a formação de um canal predominante (wormhole) a partir da face injetora. A Figura 4.50
ilustra o mapa de dissolução/precipitação da região 3 onde pela diferença de imagens não há
grandes mudanças no meio poroso.
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
2.5 3 3.5 4 4.5 5
Po
rosi
dad
e
Distância ao longo da amostra (cm)
Pré-dissolução Pós-dissolução
108
Figura 4.47 – Microtomografia de raios-X da amostra A1 antes (esquerda) e após (direita) o teste
de dissolução com destaque para a fratura na região central da amostra.
Figura 4.48 – Amostra A1 reconstruída tridimensionalmente através de imagens de micro-CT
com a fase sólida (grãos) na cor cinza e poros na cor verde.
Figura 4.49 – Mapa de dissolução da região 1 da amostra A1. A fase porosa das imagens antes e
após o teste foi subtraída gerando um set de imagens ilustrando as mudanças no meio poroso.
Note a presença de um caminho preferencial gerado pela injeção de salmoura carbonatada.
109
Figura 4.50 – Mapa de dissolução da região 3 da amostra A1. A diferença de imagens não mostra
grandes mudanças no meio poroso.
4.4.4.3. Análise da rede de poros
A partir das imagens segmentadas, extraímos a rede de poros das regiões 1 e 3. Os dados
gerados pela rede baseiam-se em poros e gargantas completamente resolvidos e não incluem espaço
de poros de sub-resolução (microporosidade). Dados estatísticos (raio do poro, raio da garganta,
razão de aspecto, número de coordenação e tortuosidade da garganta) foram extraídos das redes
relacionadas à topologia do sistema e são mostrados na Figura 4.51 para a região 1 e pela Figura
4.52 para a região 3. Os resultados de ambas as regiões mostram pouquíssimas alterações em todos
os parâmetros. O número de coordenação aumenta para a região 3, mostrando um aumento da
conectividade desta região.
110
Figura 4.51 – Distribuição de tamanho de poros, gargantas, aspect ratio, número de coordenação
e tortuosidade de garganta extraídos da rede de poros antes e após o teste 2 para a região 1.
111
Figura 4.52 – Distribuição de tamanho de poros, raio de garganta, aspect ratio, número de
coordenação e tortuosidade de garganta extraídos da rede de poros antes e após o teste 2 para a
região 3.
4.4.4.4. Caracterização da evolução porosa voxel por voxel
Os histogramas 2D da amostra de coquina A1 para as regiões 1 e 3 estão representados pela
Figura 4.53 e pela Figura 4.54 respectivamente. O histograma 2D apresenta a probabilidade de que
um dado voxel tenha alterado de fase. O histograma foi calculado para o caso de 49 fases
microporosas, resultando em 51 fases (macroporos, 49 fases microporosas e grãos) onde cada voxel
pode assumir um valor inteiro entre 0 e 50.
112
A Figura 4.53 possui um conjunto de dados de 2560x2560x900 voxels e os resultados
mostram que as mudanças mais frequentes ocorrem entre grãos/microporos para macroporos (lado
direito), poros para microporos (parte inferior do mapa) e grãos para microporos (região superior
do mapa). O histograma 2D indica que grãos e microporos têm maior probabilidade de serem
dissolvidos ou deslocados para outro local na região 1, resultado que pode ser verificado na Figura
4.49. O resultado mostra que para uma alta vazão de injeção aumenta a probabilidade de alterações
de dissolução na amostra, seja para a formação de micro ou macroporos.
A Figura 4.54 ilustra a região 3 da amostra A1 com 2560x2560x1800 voxels, ilustrando uma
menor probabilidade de mudanças no meio poroso se comparado a região próxima a face de injeção
(região 1). O resultado mostra poucas mudanças na macroporosidade do sistema, coerente com a
diferença de imagens obtidas na Figura 4.50. Em ambos os histogramas, vê-se que há mais
dissolução/precipitação do sistema do que o apresentado pelo teste 1, onde a microporosidade
apresentou um papel mais importante nas alterações pós teste. Esse resultado pode ser explicado
pelo tempo de reação na amostra. Considerando uma vazão de injeção constante em rochas com
grandes quantidades de macroporos, o fluxo de água carbonatada apresenta menores velocidades
intersticiais, o que aumenta o contato entre água carbonatada e a rocha, aumentando a dissolução
dos grãos.
Figura 4.53 – Histograma de intensidade 2D mostrando a probabilidade de alterações pré e pós-
dissolução para a região 1 (próxima a injeção).
113
Figura 4.54 – Histograma de intensidade 2D mostrando a probabilidade de alterações pré e pós-
dissolução para a região 3 (após a região de fratura).
Nesta seção aplicamos o fluxo de trabalho e os procedimentos descritos no capítulo 3,
particularmente registro de imagem, segmentação trifásica e histogramas de intensidade 2D para
caracterizar a evolução das microestruturas de uma rocha coquina submetida a uma injeção de
salmoura sintética carbonatada a 0,5 cm3/min. Os resultados de laboratório antes e após o teste
mostram que a porosidade praticamente não se altera apesar de se verificar um aumento maior que
10 vezes do valor da permeabilidade inicial. A partir do uso de imagens de micro-CT antes e após
o teste de dissolução, foi possível verificar a presença de um wormhole endendo ao ramificado,
explicando o motivo para o aumento substancial da permeabilidade do sistema. O uso do método
de histograma 2D permitiu analisar voxel por voxel as alterações do meio poroso adicionando a
sub-resolução do sistema, que tem participação importante na conectividade e na porosidade final
da rocha. Os resultados mostram a presença de dissolução e precipitação na amostra, sendo maior
na região 1. A região 3 por estar conectada por poros resolvidos antes do teste, não apresentou
mudanças substanciais em sua estrutura.
114
5. CONCLUSÕES E DIREÇÕES FUTURAS
Neste trabalho investigou-se a injeção de salmoura carbonatada em rochas coquinas,
analisando os efeitos do transporte reativo na porosidade e permeabilidade da rocha. Rochas
coquinas são difíceis de descrever e caracterizar do ponto de vista petrofísico devido à alta
heterogeneidade de sua matriz. As características principais encontradas através da análise de XPS
e de imagens de microtomografia de raios-X nas amostras estudadas foram a presença de calcita e
de alta microporosidade no sistema.
Na revisão de literatura, mostrou-se os desafios por trás da implementação de micro-CT em
estudos de transporte reativo, em particular na necessidade de se conseguir uma alta resolução nas
imagens escaneadas. Com a tecnologia disponível atualmente, para se obter resoluções mais altas,
estudos envolvendo dissolução e precipitação de minerais em carbonatos devem ser realizados em
tamanhos de rochas menores. Neste trabalho obtivemos experimentalmente padrões de dissolução
na forma de wormholes, onde foram analisados através de imagens a estrutura microporosa da
rocha e sua conectividade antes e após os testes de dissolução.
Os resultados deste trabalho ilustram a eficiência do uso de microtomografia de raios-X para
reconstrução e análise do processo reativo. Foram realizados dois testes a alta pressão (2000 psi) e
alta temperatura (65°C) com o objetivo de apresentar e discutir o uso de rocha digital para
caracterizar a influência do fluido reativo na dissolução/precipitação de minerais na escala de
poros. Através de resultados de cromatografia de íons, utilizamos neste trabalho duas equações
para o cálculo do volume dissolvido/precipitado de calcita e a porosidade resultante. O cálculo da
porosidade através dos resultados de minerais produzidos estava de acordo com os resultados finais
medidos em laboratório da porosidade do sistema. Estas equações se mostram úteis para verificar
a confiabilidade do uso de porosímetro a gás nas medidas em laboratório.
Os valores de permeabilidade medidos em laboratório e através da equação de Darcy
mostram um aumento de aproximadamente 10 vezes do valor final da permeabilidade se
comparado ao valor pré-teste. Para o primeiro experimento, o aumento da permeabilidade foi
devido à formação de um wormhole cônico, diferente do segundo teste que apresentou um pequeno
wormhole seguido de uma fratura no meio da amostra. Para não haver dúvidas sobre se a fratura
foi causada por manuseio ou pelo teste de dissolução, as imagens de micro-CT do segundo teste
115
foram divididas em três regiões e foram analisadas apenas as regiões 1 e 3 (fora da fratura). No
início dos experimentos de fluxo reativo, a diminuição da permeabilidade em ambos os testes pode
estar relacionada ao deslocamento de partículas finas e, portanto, ao entupimento das poro-
gargantas. Mais tarde, ocorre o aumento da permeabilidade que pode ser devido à dissolução de
grãos, desentupimento de poro-gargantas e aumento da abertura e conectividade dos poros. Novos
testes devem ser realizados para estudar as causas da redução da permeabilidade no sistema no
início do teste.
Em ambos os experimentos o uso de imagens de micro-CT possibilitou analisar em escala de
poros as mudanças no meio poroso pelo fluido reativo. A técnica combinada com o método de
segmentação trifásica possibilitou a análise da evolução porosa voxel por voxel, da conectividade
do sistema antes e após o teste e o mapeamento das regiões de dissolução/precipitação de minerais.
O papel da microporosidade na evolução da conectividade dos poros mostrou que caso a
análise fosse realizada apenas com os poros resolvidos, não haveria conexão entre a entrada e saída
da amostra como ilustrado no experimento 1. A inclusão da microporosidade nos mostra que
mesmo com a inclusão de níveis de microporosidade de 100% a 60%, o sistema ainda continua
desconectado. A partir da inclusão de mais microporos ocorre um aumento substancial na conexão
do espaço poroso. Para o segundo teste analisando apenas a região 3, vemos que o sistema já está
conectado utilizando apenas os poros resolvidos. A microporosidade não teve um papel tão
expressivo como encontrado para o experimento 1.
Através da aplicação do histograma de intensidade 2D, foi realizado um mapeamento dos
voxels antes e após os testes de dissolução, permitindo quantificar a distribuição espacial da
dissolução e deposição de minerais dentro da amostra. A partir desta abordagem, encontramos que
há uma probabilidade maior de ocorrência de mudanças na porosidade nas regiões mais próximas
à região de injeção do que na região de produção, o que também pode ser verificado através da
visualização 3D da diferença das imagens antes e após os testes.
Este trabalho apresenta contribuições sobre um estudo com rochas coquinas sob um fluxo
reativo de salmoura carbonatada de alta salinidade para diferentes vazões de injeção. Os resultados
apresentaram padrões de dissoulução, diferentes equipamentos e métodos de análise de parâmetros
petrofísicos e a utilização do histograma 2D como estatística para mapear as mudanças locais que
ocorrem na amostra devido às reações no meio poroso. A adição da microporosidade nas análises
contribuiu para um melhor entendimento da porosidade final e da conectividade do sistema.
116
5.1. Direções Futuras
Embora esse trabalho forneça informações úteis sobre o fluxo e o transporte reativo de
carbonatos, há amplas oportunidades para trabalhos futuros. A combinação de outros métodos de
análise nos testes, como ressonância magnética nuclear, microscópios de elétrons de varredura,
porosimetria por intrusão de mercúrio e tomógrafo médico, permitirão um maior entendimento
estatístico dos processos reativos.
Para comparar com precisão as imagens de microtomografia pré e pós-testes, bem como
quantificar a evolução da microestrutura local, é interessante estudar o ruído causado após os
experimentos. Diferenças de níveis de ruído entre as imagens antes e após o teste de dissolução
foram encontradas e a aplicação de filtros de ruído pode não trazer a qualidade das imagens no
mesmo nível, aumentando a incerteza sobre os resultados da segmentação. A presença de regiões
com subresolução (microporosidade) dificultou a segmentação com o mesmo limiar, indicando que
novas técnicas de análise de subresolução podem ser criadas para aumentar a confiabilidade das
análises.
Este trabalho não conseguiu através de imagens capturar as mudanças na porosidade ao longo
do teste. A técnica para obtenção de imagens de micro-CT demanda um tempo considerável para
ser aplicada, muitas vezes maior que o tempo do teste em si. As imagens antes e após os testes
forneceram comparações qualitativas e quantitativas entre as microestruturas básicas pré e pós-
alteração. Novos modelos de microtomógrafos 4D podem ser utilizados para tentar visualizar as
alterações estruturais ao longo da realização do experimento.
Por último, diferenças na área de superfície, mudanças nas taxas de reação globais,
juntamente com heterogeneidades mineralógicas e estruturais, muitas vezes representam desafios
de upscaling em testes envolvendo dissolução de carbonatos. Portanto, técnicas de upscaling
podem ser desenvolvidas paralelamente a experimentos de dissolução para que esses possam ser
utilizados na transição de escala de poros para aplicações em campo.
117
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