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WALLACE SOUZA DE OLIVEIRA LOGISTICA EMPRESARIAL INTERFACE DAS AMÉRICAS RIO DE JANEIRO ANO 2004

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  • WALLACE SOUZA DE OLIVEIRA LOGISTICA EMPRESARIAL

    INTERFACE DAS AMRICAS

    RIO DE JANEIRO ANO 2004

  • 2

    UNIVERCIDADE CANDIDO MENDES PS-GRADUAO LATO SENSU ALUNO WALLACE SOUZA DE OLIVEIRA

    LOGISTICA EMPRESARIAL

    INTERFACE DAS AMRICAS OBJETIVO: Contribuir com o meio acadmico e pesquisadores, um estudo que busca esclarecer o que o acordo e os seus diferentes desdobramentos econmicos scias e polticos nas Amricas.

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    A todos os colegas de classe. E as pessoas que contriburam para a confeco de trabalho acadmico e sua constante atualizao.

  • 4

    DEDICATRIA

    Dedico essa monografia a minha mulher Silvia, que tanto colaborou para a confeco e o aperfeioamento desse trabalho.

    Wallace Oliveira

  • 5

    RESUMO

    Minha idia inicial sria dirigir meu tema para o lado da produo, mas

    achei o assunto muito batido por outros colegas de turma. Ento a opo

    seria um projeto teoria realista com o paradigma o direito dos povos a

    buscar um desenvolvimento pessoal, social e nacional e a tornar-se o sujeito

    desse projeto, reduzindo dramaticamente a dependncia dos capitais

    externos e centrando energias e recursos na resposta s necessidades

    internas da populao e da economia nacional. Uma ruptura com o atual

    sistema, uma certa dose de anarquismo continental seria necessrio, na

    busca de novos processos de inovao para livrarmo-nos do jugo de

    dominao do hemisfrio norte. A integrao continental americana

    apresenta uma perspectiva de ganhos limitados e de riscos muito elevados

    para a economia brasileira e demais pases em desenvolvimento. A ALCA

    representa um acordo comercial imposto pelos EUA e Canad aos pases do

    centro e sul do continente americano de forma poltica. difcil acreditar que

    a integrao continental nesta perspectiva conseguir distribuir de forma

    igual os ganhos e os custos de um processo que envolve naes to

    desiguais. Basta observarmos que os mecanismos preparatrios e as

    compensaes que seriam necessrias para um equilbrio esto

    subordinados a uma dinmica onde os atores privados (setores industriais e

    comerciais) e pblicos (rgos governamentais) esto envolvidos num

    sistema onde os seus recursos tambm so claramente desiguais.

  • 6

    METODOLOGIA

    A metodologia utilizada se destina a entender como funciona e funcionar as negociaes em nosso continente de uma forma bem simples, tornando atraente e compreensvel para os leitores.

    O leitor ter uma monografia tranqila de ser entendida, onde

    informar passo a passo as decises tomadas na rea comercial das Amricas. Hoje se torna necessrio conhecer como funciona as transaes comerciais do nosso pais com os outros paises da Amrica. A proposta desta monografia adequar a atualidade com os novos conceitos comercias que esto comeando a aflorar a todo vapor nas Amricas.

  • 7

    INDICE

    INTRODUO.................................................................................................................. 09 CAPITULO I GLOBALIZAO DOS MERCADOS LATINO-AMERICANOS ............................. 12 1.1 TEMPUS FUGITIS ................................................................................................... 16 CAPITULO II BLOCOS ECONMICOS............................................................................................... 20 2.1 INTEGRAO ECONMICA ............................................................................. 21 2.1.1 Fases da Integrao Econmica ........................................................................ 22 2.1.2 Precursores do MERCOSUL............................................................................... 24 2.1.3 ALCA....................................................................................................................... 28 2.2 MERCOSUL E ALCA: DIVERGNCIAS ESTRUTURAIS DOS ESTADOS MEMBROS ................................................................................................. 31 CAPITULO III ALCA.................................................................................................................................. 35 3.1 O QUE A ALCA?................................................................................................... 36 3.2 OS PRINCPIOS GERAIS DA ALCA .................................................................... 40 3.3 OBJETIVOS GERAIS DA ALCA............................................................................ 42 CAPITULO IV OS OBSTCULOS IMPLANTAO DA ALCA.................................................... 47 4.1 ASPECTOS NEGATIVOS OU CONFLITANTES............................................. 49 4.1.1 Infra-Estrutura........................................................................................................ 50 4.2 MEDIDAS PROTECIONISTAS........................................................................... 51 4.2.1 Acesso a Mercados e Novas Tecnologias........................................................ 51 4.2.2 Setores Nacionais que Podero ser Prejudicados pela Implantao da

    ALCA........................................................................................................................ 53 4.3 EXPORTAES BRASIL: TIMIDEZ CONGNITA ...................................... 57 4.4 SOBERANIA NACIONAL........................................................................................ 60 4.5 POLTICA IMPERIALISTA DOS EUA EM RELAO A CUBA E AO IRAQUE ..................................................................................................................... 63 4.5.1 Cuba ......................................................................................................................... 64 4.6 CONSIDERAES SOBRE A ESCASSEZ DO TRABALHO E A ALCA ....... 66 4.7 POSSVEIS CONFLITOS DA ASSIMETRIA NORTE-SUL ............................... 69

  • 8 CAPITULO V XENOFOBIA E REMILITARIZAO DA AMRICA LATINA ................................ 72 5.1 ESTRATGIA EXPANSIONISTA.......................................................................... 73 5.1.1 Base de Alcntara................................................................................................. 76 5.1.2 Plano Colmbia ..................................................................................................... 77 CONCLUSO................................................................................................................... 81 BIBLIOGRAFIA................................................................................................................ 85

  • 9 INTRODUO

    O processo de globalizao e regionalizao acompanhado pelo

    avano da revoluo cientfico-tecnolgica, pela democratizao crescente

    da sociedade e pela constituio de blocos geo-culturais. Como

    caracterstica poltica-econmica das ltimas dcadas, esto sendo

    formalizados acordos de integrao entre pases, fortalecendo a convico

    de que os atores de peso no sculo XXI sero os blocos continentais. Neste

    marco internacional, na Amrica Latina, est sendo valorizado o ideal da

    integrao continental.

    Se a ALCA for estabelecida em 2005 haver uma extraordinria

    interferncia na vida de todos ns brasileiros e do demais povos da Amrica

    Latina. As relaes de trabalho, o nvel de emprego, a concorrncia

    empresarial, as comunicaes e o a sociedade sofrero mudanas quase

    irreversveis e em curto prazo. importante que se discuta numa amplitude

    maior o problema, para que no nos seja imposto um cdigo de conduta no

    mercado internacional com regras leoninas, disfaradas de manifestaes

    de cooperao internacional e solidariedade.

    A pergunta que sempre paira qual ser a ateno s economias

    menores, pois no possvel integr-las sem certas regulamentaes e

    mecanismos de insero.

    Os megablocos (UE - Unio Europia, ANSEA - Associao das

    Naes do Sudeste Asitico) e os blocos econmicos regionais (NAFTA -

    North American Free Trade Agrimment ou TLCAN Tratado de Livre

  • 10 Comrcio da Amrica do Norte: EUA, Canad, Mxico, MERCOSUL)

    so resultados da globalizao do capital a partir de processos de integrao

    econmica supra nacional em escala regional. Estas estruturas esto longe

    de significar uma harmonia econmica entre parceiros (estados-naes)

    comerciais, num mercado livre no mbito internacional; ao contrrio, os

    blocos econmicos representam em sua essncia um forte protecionismo de

    seus mercados (fronteiras) em relao aos demais mercados mundiais.

    A globalizao tal como a vivenciamos agora, pode ser analisada como

    um fenmeno formado pela intensificao de fluxos diversos (econmicos,

    financeiros, comunicacionais, religiosos e culturais); pela perda de controle

    do Estado sobre esses fluxos e sobre outros atores do cenrio internacional

    e pela diminuio de distncias espaciais e temporais.

    Com efeito, esse fenmeno conduz ao questionamento do princpio da

    soberania, organizador das relaes entre Estados, e da redefinio desta

    soberania que sofre presses e influncias do capital financeiro internacional

    atravs do interesse de empresas poderosas, e, conseqentemente, da

    manuteno da ordem pblica internacional. nesse contexto de mudanas

    aceleradas que as questes de alianas comerciais entre estados naes e

    as vantagens e desvantagens econmicas para os pases perifricos

    participantes dos blocos econmicos sero analisadas e as possveis

    conseqncias da formao da ALCA, sob uma perspectiva brasileira.

    O tema problema est na pauta das discusses atuais na mdia e nos

    meios acadmicos. Vrias posies so defendidas e os seus argumentos

    so diversificados. O estudo justifica-se na medida que busca esclarecer o

    que o Acordo e os seus diferentes desdobramentos econmicos, sociais e

    polticos.

  • 11 A pesquisa foi estruturada basicamente em bibliografia. De acordo com

    o seu encaminhamento pode ser classificada como exploratria e descritiva.

    Os dados coletados foram agrupados obedecendo a recortes temticos para

    proporcionar um aprofundamento adequado da anlise, esclarecendo e

    fundamentando as argumentaes.

  • 12

    CAPITULO I

    GLOBALIZAO DOS MERCADOS LATINO-

    AMERICANOS

  • 13

    GLOBALIZAO DOS MERCADOS LATINO-AMERICANOS

    Nas duas ltimas dcadas e principalmente aps o fim da bipolaridade

    mundial, os pases subdesenvolvidos se encontram na difcil situao de

    tentarem uma insero na globalizao econmica que ocorre mundialmente

    e manter suas soberanias nacionais frente s exigncias dos rgos que os

    tutelam como FMI (Fundo Monetrio Internacional) e BID (Banco

    Internacional de Desenvolvimento); cujo racionalismo aplica ajustes fiscais e

    sociais que muitas vezes corroem as bases de sustentao do mnimo de

    bem estar social que estes pases alcanaram ao longo de dcadas. a

    face cruel do neoliberalismo e seu plano de Estado mnimo.Para se entender

    a globalizao financeira e a situao precria dos paises perifricos

    necessria uma breve anlise do surgimento do capital financeiro.

    O capitalismo j existia na Grcia antiga, porm de forma incipiente

    representado ao longo dos sculos pela sua forma imobiliria, ou seja,

    acmulo de terras e patrimnios, porm, com a expanso do comrcio

    internacional (sculo XIII) d-se incio a uma nova forma de capitalismo, o

    capitalismo comercial, atravs das letras de cmbio, utilizado o papel como

    forma de troca e conseqentemente as casas de cmbio (indispensveis

    devido a diversidade de moedas) e os bancos que emprestam a juros,

    intensificando as especulaes financeiras que provocam o aparecimento do

    capitalismo financeiro. O capitalismo acumulativo, do sculo XVIII e mais

    intensamente do sculo passado, necessita da livre concorrncia entre os

    mercados, da explorao do homem, da substituio do coletivismo pelo

    individualismo.

  • 14 A globalizao capitalista que est sendo vivenciada faz parte do

    discurso neoliberal, e em sua essncia significa absorver ou eliminar

    quaisquer obstculos progresso dos lucros que o capitalismo revestido de

    uma riqueza impalpvel1 exige sem a necessidade anterior da produtividade

    das industrias e utilizando parca mo de obra para usufruir de lucros

    exorbitantes em tempo recorde. Silva (1998, p. 212) a este respeito afirma:

    A especulao financeira tem sido a responsvel pela enorme migrao de capitais entre as principais praas do Primeiro Mundo e at para o Terceiro Mundo, como se estivssemos num torneio de ganhos fceis, sem conseqncias futuras. Esse processo de valorizao artificial da riqueza no teria a dimenso que adquiriu, no fossem os consecutivos dficits pblicos dos Estados Unidos, envolvido na corrida armamentista com a Unio Sovitica, e, secundariamente, dos outros pases centrais, o que d um lastro para a acumulao de riqueza com alto grau de artificialidade. Mas essa riqueza artificial , enquanto no se esteriliza, tem sido um dos elementos mais importantes para os pases superavitrios do Primeiro Mundo, para aplicao de inovaes tecnolgicas e reestruturao industrial, alm da formao de uma classe rentista.

    Dessa forma descartada a teoria da mais valia de Karl Marx, que

    acreditava que a mais valia2 acabaria por destruir o prprio capitalismo. Para

    Marx s o trabalho cria a riqueza, o capital nada cria, ele prprio cria do

    trabalho.

    O neoliberalismo prega que h somente uma forma de insero na

    globalizao mundial, ser competitivo: atravs das exportaes de produtos

    1 Atravs de transaes financeiras virtuais (telecomunicaes, informtica e satlites como forma de controle) que atravessam fronteiras. 2 Conceito de mais valia: Para Karl Marx o trabalhador no recebe o total ou merecido pela sua produo, havendo uma diferena entre o que ele recebe e o que ele produz, entre o salrio (custo da capacidade do trabalho) suficiente apenas para manuteno e reproduo do trabalhador, e o valor criado (acrescido) pelo trabalho. Dessa diferena o capitalista se apropria e Marx a chama de mais valia.

  • 15

    em que o pas tenha vantagens comparativas, no importa se conseguidas

    por meio de arrochos salariais e corte de benefcios sociais, pois, estes

    pases dependentes se caracterizam pela mo de obra farta e

    conseqentemente barata, nvel educacional muito baixo e atraso

    tecnolgico, ao mesmo tempo no lhes permitido passar pelas fases de

    adaptao/correo que os pases desenvolvidos tiveram: no h tempo

    para isto!

    simples e interessante a anlise descrita pelo mesmo autor citado

    anteriormente:

    Os pases Latino-Americanos, emaranhados na ortodoxia neoliberal pregada pelo Consenso de Washington, defrontam-se com o seguinte dilema: por um lado, seu desenvolvimento scio-econmico depende de uma insero competitiva nos campos mais dinmicos do mercado global. Independentemente das crises inevitveis, tornaram-se totalmente ilusrias as pretenses a um caminho de desenvolvimento autnomo, margem do sistema capitalista mundial. Alm disso, est se esgotando tambm a estratgia inicial de insero por meio de exportaes, baseadas em recursos naturais. J no basta exportar, mas revela-se indispensvel incrementar o fator tecnolgico dos bens e servios exportados. Por outro lado, a abertura ao exterior aprofunda ainda mais as j graves desigualdades sociais no interior da sociedade latino americana... (SILVA, 1998, p. 241)

    Ocorreu uma industrializao tardia. Mas ao contrrio do que se tenta

    incutir na mentalidade dos povos americanos, o fato de sermos latinos no

  • 16

    o motivo de nosso atraso socioeconmico. A forma pela qual se deu a

    colonizao sim o fator principal do subdesenvolvimento, que durante mais

    de trs sculos de explorao extrativista, no permitiu a germinao do

    esprito empreendedor e da industria manufatureira nos pases ibero-

    americanos, ao contrrio do ocorrido com EUA e Canad, que falta de

    tecnologia para a explorao de minrios e produtos agrcolas que seriam

    concorrentes aos da Metrpole inglesa, foram deixados ao seu prprio

    destino. O que a princpio parece algo negativo e sacrificante, ao longo de

    algumas dcadas, foi sem dvida o fator de crescimento do seu mercado

    interno na busca para suprir suas necessidades bsicas. Nas ex-colnias

    ibricas, a produo foi sempre voltada para suprir as necessidades

    externas.

    A globalizao pode ser muito mais do que o simples aumento dos

    fluxos de comrcio internacional e do investimento (direto e financeiro). A

    globalizao num sentido de planetarizao se constitui tambm uma nova

    hierarquia na estruturao das atividades das grandes empresas

    internacionalizadas. Talvez uma opo para se estabelecer uma ordenao

    geopoltica mais justa e num sentido de futuramente poder ser uma Aldeia

    Global, vivenciando suas singularidades com harmonia.

    1.1 TEMPUS FUGITIS

    Para usufruir deste novo perodo histrico numa posio relativamente

    digna e participativa deve-se atingir um desenvolvimento scio-econmico

    equivalente ao dos pases ricos, o chamado Primeiro Mundo. Porm, de que

    forma isto ser possvel se as polticas impostas pelas economias

  • 17

    internacionais no permitem e no haver tempo de passarmos pelas etapas

    capitalistas percorridas pelos que so hoje os pases centrais?

    Como se no bastassem os muitos obstculos enfrentados por pases

    de economia dependentes, h barreiras protecionistas (tarifrias, scio-

    econmicas ou fitosanitrias) criadas pelos megablocos que visam impedir a

    entrada de produtos de pases em desenvolvimento em seus mercados.

    Basta lembrar das tarifas para o ao brasileiro (de qualidade superior ao

    estadunidense), a carne brasileira (acusada de febre aftosa pelo Canad) e

    de no se aceitar os calados nacionais que atingem padres de qualidade

    excelentes, por acusarem as empresas de utilizao do trabalho infantil?

    No certo que na Inglaterra em plena Revoluo Industrial (1750) e

    na era vitoriana com um proletariado numeroso e indigente ou ainda aps o

    Crash da Bolsa dos EUA (1929), no foram quelas crianas vtimas

    tambm das necessidades de sobrevivncia de uma populao sem

    emprego e desesperanada pela misria? Como exigir um padro de vida

    adequado para crianas cujos pais no obtm o necessrio para si prprios?

    No se deve aceitar a explorao do trabalho infantil e das condies

    precrias de subsistncia como apenas uma etapa do avano econmico,

    no esta a questo aqui discutida. possvel estabelecer um programa

    social, com a incluso dos excludos pelo desemprego estrutural, que se

    encontram marginalizados por quase duas dcadas de capitalismo

    neoliberal.

  • 18

    possvel que os pases da Amrica Latina eliminem as condies de

    vida sub humanas de regies miserveis, mas so necessrios programas

    eficazes de poltica social, como erradicar a fome e educar, sem estas

    polticas de base a cooperao internacional, mesmo a fundo perdido, ser

    incua e os recursos continuaro a ser desviados para reas de combate a

    criminalidade e violncia urbana. Mas como implantar estas polticas sociais,

    com gastos voltados para a gerao de emprego, de educao e sade, se

    a segurana da moeda (no caso do Brasil especificamente) exige um

    caminho contrrio? A economia da Amrica Latina que desde a sua

    colonizao voltada para os interesses internacionais e no nacionais, com

    uma concentrao de indstria extrativa, principalmente nas regies mais

    pobres desses paises, no caso do Brasil as regies norte e nordeste, ou as

    plantation3 de cacau, soja, caf, acar e banana, no trazem nenhum

    desenvolvimento a estas regies, condenando suas populaes a um

    modelo de vida muito prximo do feudal e levando a economia das referidas

    regies a total dependncia das flutuaes do mercado externo. Silva (1998,

    p. 32) argumenta:

    Se, por um lado, a globalizao aparece como significadora da economia mundial e dos modelos de integrao regional, o que, na verdade representa mais uma extenso de mercados para as grandes multinacionais, por outro, ao impor planos de ajustes sacrifica no s os empregos, mas grande parte dos direitos laborais histricos, frutos de sculos de lutas dos trabalhadores, e desmantelamento do tecido produtivo de nossos pases.

    3 Plantaes em reas extensas tpicas dos pases colonizados, geralmente monocultura.

  • 19

    A enorme desproporo tecnolgica entre as economias da futura

    ALCA sem que hajam polticas destinadas a super-las, tende a representar

    um nus permanente e cumulativo, que amplia a liderana da economia

    mais forte, precisamente porque ela est capacitada a reforar a sua

    vantagem inicial, agora com acesso ampliado a novos mercados.

  • 20

    CAPITULO II

    BLOCOS ECONMICOS

    Segundo Bela Balassa4,

    integrao um processo ou estado

    de coisas pelas quais diferentes

    naes decidem formar um grupo

    regional (1986, p. 61).

    4 Anotaes de aulas sobre Teorias da Integrao Econmica, da professora Andria

    Tonani, disciplina Economia Internacional, 2001.

  • 21

    2.1 INTEGRAO ECONMICA

    No contexto de competitividade internacional a integrao torna-se um

    movimento que busca eliminar as barreiras econmicas, polticas e sociais

    buscando criar uma nova estrutura de enfrentamento ao mercado externo a

    estes membros, amparados pela cooperao mtua e ainda de

    organizaes internacionais, como a OMC e o FMI. Abreu (2002, p. 44)

    considera:

    (...) os pases de maior grau de desenvolvimento tendem, nas ltimas dcadas, aglutinao, formando colossais reservas de poder, em todos os sentidos. O que poder representar uma nova forma de dominao do espao mundial,a new colonialist age _ uma nova onda colonialista-, mais poderosa e eficiente que qualquer das outras fases anteriores.

    As razes que levam as naes a se integraram so voltadas para

    suprir suas necessidades de enfrentamento da competitividade internacional,

    como ocorreu com a Unio Europia aps a 2 guerra mundial para defender

    seu mercado recm estruturado do expansionismo comercial e da

    dependncia econmica norte-americana via influncia poltica junto a

    organismos supra nacionais deste que foi o nico pas a sair em condies

    favorveis do conflito. No basta que se rotule uma rea como Mercado

    Comum, se a necessidade econmica, cooperao e sustentao poltica

    entre seus integrantes no ocorrer de fato, haver apenas uma utopia.

  • 22

    2.1.1 Fases da Integrao Econmica

    Zona de livre comrcio

    Pases membros acordam entre si a eliminao de barreiras

    comerciais entre eles, porm, mantm polticas comerciais independentes

    em relao aos demais pases concorrentes.

    Unio Aduaneira

    Nesta fase, os pases membros adotam alm da eliminao de

    barreiras sobre o comrcio intra-regional, uma poltica comercial uniforme

    em relao aos demais pases.

    Mercado Comum

    A poltica comercial em relao aos pases no membro uniforme e

    h expressivo comrcio entre os produtos dos pases membros; os fatores

    de produo (mo de obra e capital) tambm tm livre movimentao.

  • 23

    Unio Econmica

    Os acordos no se limitam aos movimentos de bens, servios e aos

    fatores de produo, mas h enfoque no equilbrio das polticas scio-

    econmicas dos pases membros, para que possam operar em condies

    simtricas entre si.

    Integrao Econmica Total

    So mantidas as etapas dos processos anteriores: livre comrcio

    (bens, servios), poltica econmicas e sociais uniformes, livre comrcio dos

    fatores de produo, poltica comercial uniforme para pases no membros,

    necessidade da criao de autoridades supra-nacionais para cumprimento

    do que foi estabelecido pelo tratado. Criao da moeda nica - consolida o

    mercado unificado, a perspectiva de um instrumento monetrio comum aos

    seus membros lgica e nesta etapa da integrao necessria. Na

    conjuntura econmica que deixou para trs, o padro ouro ou qualquer outra

    garantia, a moeda tem seu lastro na confiana que o mercado tem na

    economia por ela representada, somente possvel pensar em uma moeda

    nica para Mercosul ou Alca a partir do momento em que as naes que

    compem estes blocos tenham suas moedas com diferenas mnimas entre

    elas e na credibilidade que as moedas possuem dentro de seu pas e

    internacionalmente. O objetivo unificar para fortalecer no subjugar

    economias dependentes.O compromisso dos Estados Partes de harmonizar

    suas legislaes nas reas pertinentes, para lograr o fortalecimento do

    processo de integrao. 5

  • 24

    2.1.2 Precursores do MERCOSUL

    As vrias tentativas de integrao regional na Amrica Latina vm

    sendo construdas como uma busca a respostas continentais na defesa de

    interesses dos pases latino americanos em relao a economias mais

    fortes no mbito do comercio internacional.

    5 Tratado de Assuno assinado em 26 de janeiro de 1991, entrou em vigor em 28 de

    novembro de 1991, registrado na ALADI como Acordo Complementar 18-ACE 18 - objetivos da criao do Mercosul.

  • 25

    Ano Nomenclatura Objetivos

    1960 ALALC Construo de um mercado comum (11 pases Amrica do Sul exceto: Guiana, Suriname; mais o Mxico)

    1980 ALADI (Tratado de Montevidu)

    Mercado comum latino-americano atravs de acordos bilaterais

    1984 Conferncia de Cartagena Discusso das conseqncias sociais e polticas na Am.Latina

    1986- PICAB Brasil e Argentina: Tratado de Integrao, e Cooperao Econmica

    1987 Ato de Montevidu Conjunto de medidas destinadas a favorecer a integrao

    1991 Tratado de assuno Esboadas as instituies do MERCOSUL

    Quadro 1 Antecedentes do MERCOSUL Fonte: MEIRA (1997, p. 24)

    Uma Amrica Latina integrada era o iderio (utpico?) de Simon

    Bolvar6 como forma de libertao das colnias americanas do jugo do

    imprio espanhol. Na ltima dcada a busca por uma integrao regional,

    vem sendo feita como uma defesa dos pases latino-americanos ao poderio

    e influncia do mercado internacional.

    Na dcada de 50 o presidente brasileiro Juscelino Kubstcheck, lana a

    semente do que viria a se transformar na ALALC (Associao Latino-

    Americana de Livre Comrcio), cuja finalidade era a construo de um

    mercado comum nos pases latino-americanos, atravs da supresso das

    6 BOLVAR, Simon (1783-1830) principal lder dos movimentos da independncia das

    colnias espanholas da Amrica do Sul.

  • 26

    barreiras alfandegrias entre os pases membros, porm devido a grande

    resistncia em quebrar as barreiras comerciais e tarifrias entre seus

    membros foi substitudo por outro rgo.

    Em 1980 d-se a transformao da ALALC em ALADI (Associao

    Latino Americana de Integrao), buscando fortalecer as bases anteriores

    dando nfase aos Acordos Bilaterais. Entre 1982 e 1995 foram assinados 32

    Acordos de Intercmbio Econmico, sendo tema de discusso constante a

    dvida externa dos pases latino-americanos.

    Na dcada de 80, pases latino-americanos, entre os quais: Mxico,

    Argentina, Brasil, Venezuela, Colmbia e Panam (grupo de Contadora e

    Conferncia de Cartagena) chamam a ateno para os conflitos armados da

    Amrica Central e buscam o apoio internacional para os problemas scio-

    econmicos. Aumenta a interveno norte-americana nos assuntos internos

    dos pases da Amrica latina, fundamentada pelo princpio da Doutrina

    Monroe (A Amrica para os americanos) numa implcita poltica de

    dominao poltica e econmica dos EUA.A assinatura do Tratado de

    Assuno, destinado a constituir o MERCOSUL, formado por Argentina,

    Brasil, Paraguai e Uruguai, consolidou o processo de estrutura poltica-

    econmica supra nacional, dos pases do Cone Sul e de certo modo causam

    desconforto as tendncias expansionistas norte-americanas.

  • 27

    MERCOSUL

    Os acordos firmados no processo de integrao do MERCOSUL,

    correspondem a etapas pr-estabelecidas de um processo de integrao.

    Datas Acordos Principais Objetivos

    26/03/1991 Tratado de Assuno Instrumentos para criao do MERCOSUL

    17/12/1991 Protocolo de Braslia Resoluo de Divergncias

    17/06/1992 Cronograma de Las Lens

    Liberalizao comercial e coordenao macro-econmica

    17/12/1994 Protocolo de ouro Preto

    Implantao da Unio Aduaneira e da TEC Tarifa externa Comum para os produtos da regio entre parceiros e terceiros

    Quadro 2 Principais Etapas do Mercosul Fonte: MEIRA (1997, p. 26)

    Atravs do Tratado de Assuno ficam estabelecidos os seguintes

    objetivos:

    A livre circulao de bens e servios e fatores produtivos entre os

    pases, atravs entre outros, da eliminao dos direitos alfandegrios e

    restries tarifrias circulao de mercadorias e de qualquer outra medida

    de efeito equivalente;

    O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoo de uma

    poltica comercial comum em relao a terceiros Estados ou agrupamentos

    de estados e a coordenao de posies em foros econmicos comerciais

    regionais e internacionais;

    A coordenao de polticas macroeconmicas e setoriais entre os

    Estados Partes comrcio exterior, agrcola, industrial, fiscal, monetria,

  • 28

    cambial e de capitais, de servios, alfandegria, de transportes e

    comunicaes e outras que se acordem a fim de assegurar condies

    adequadas de concorrncia entre os Estados Partes.

    2.1.3 ALCA

    A criao da rea de Livre Comrcio das Amricas ALCA, sob a

    gide dos EUA, vem sendo recebida com certa preocupao pelos polticos

    e empresrios brasileiros.A inteno do atual governo norte-americano

    (George W. Bush) no sentido de acelerar as negociaes, mostra um

    interesse inusitado em relao economia dos pases latino-americanos

    (centro e sul). At onde vai a inteno de uma cooperao para diminuir as

    desigualdades propagadas pelo Executivo norte-americano e quais as

    desvantagens para os interesses das economias dependentes, como a

    brasileira? Ser possvel diminuir as desigualdades at 2005 para serem

    implantadas as medidas progressivas em busca de uma simetria nas

    relaes comerciais entre os pases envolvidos?

  • 29

    Se o MERCOSUL mais de uma dcada aps a sua implantao no

    conseguiu equilibrar as diferenas de peso econmico existente entre quatro

    pases membros, cujas economias so perifricas e sofrem as flutuaes

    dos capitais estrangeiros de forma drstica, ser possvel em to pouco

    tempo conseguir uma relao de parceira com o poderio econmico (e

    militar) dos norte-americanos, cujas medidas protecionistas vm se

    fortalecendo, principalmente aps 11 de setembro de 2001?

    De acordo com Vizentini (2002), o atual presidente George W. Bush

    acusa o ex-presidente norte-americano Bill Clinton de negligncia e

    desinteresse, que permitiram o avano da UE e o aprofundamento de crises

    relativas s drogas e imigrao ilegal, e promete inaugurar o "Sculo das

    Amricas", investindo no livre comrcio, comeando pela obteno do fast

    track. Porm, diferentemente dos democratas que tinham como preferncia

    consolidao da ALCA, a tendncia Bush indica para a expanso do

    NAFTA, uma poltica centralizada no Mxico e um maior investimento no

    bilateralismo. Simbolicamente, o primeiro pas no exterior que Bush visitou

    foi justamente o Mxico, com declaraes mtuas de apoio e a promessa de

    aprofundamento do NAFTA (e de diminuio das assimetrias no

    relacionamento), tambm se contemplando a rediscusso de temas

    sensveis como trfico de drogas e imigrao. Alm disso, a questo

    energtica esteve presente, com o Mxico podendo se tornar um importante

    fornecedor de petrleo e gs natural para os Estados Unidos.

    Na Colmbia, mesmo se descartando pelo momento a interveno

    militar direta, sugere-se uma poltica de endurecimento, assim como com

    Cuba. Iniciativas que escapam ao modelo "democracia e mercado" como as

  • 30

    de Hugo Chavz, ainda complementadas por uma poltica externa autnoma

    que contraria diretrizes estratgicas centrais americanas, exemplificadas

    pela aproximao com Cuba, Iraque e discursos latino-americanistas,

    tendem a ser rechaadas com maior firmeza. No caso brasileiro, as

    indicaes de uma ofensiva bilateral dos Estados Unidos, combinadas com a

    expanso do NAFTA, podem levar a um crescente isolamento, prejudicando

    as perspectivas do Mercosul e nossa capacidade de resistncia.

    Brasil e Estados Unidos continuam envolvidos em uma disputa de

    interesses quanto ao cronograma da ALCA, cuja antecipao rechaada

    pela diplomacia nacional, buscando-se conquistar o apoio dos demais

    pases da Amrica do Sul, principalmente dos membros do Mercosul.

    Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que definido como adversrio, o

    Brasil foi destacado pelo influente Council on Foreign Relations7 como um

    importante parceiro estratgico que deveria merecer mais ateno. Alm

    disso, em um acontecimento paralelo, deve-se destacar que os Estados

    Unidos, como membros do NAFTA, acompanharam a deciso do Canad

    em barrar as importaes de carne brasileira, aproveitando-se da

    oportunidade para exercer presses de forma indireta. As implicaes deste

    conflito, cujas origens esto na disputa Embraer/Bombardier, podem chegar

    prxima reunio da ALCA.

  • 31

    2.2 MERCOSUL E ALCA: DIVERGNCIAS ESTRUTURAIS

    DOS ESTADOS MEMBROS

    Apesar das freqentes crises que o Mercosul enfrenta desde a sua

    criao com as economias dos pases que formam o bloco, com suas

    economias em constante instabilidade e dependncia de mercados externos,

    e mais recentemente o esfacelamento da economia Argentina (devido falta

    de viso de seus governantes e ao descaso ou quando muito a ajuda tardia

    que os organismos financeiros de ajuda internacional tiveram para a falncia

    de sua economia); o quarto maior bloco do mundo e a segunda unio

    aduaneira, sendo a primeira a Unio Europia.

    O Mercosul uniu pases do Cone Sul que historicamente sempre foram

    adversrios: Brasil e Argentina.

    Conflitos do Mercosul

    A integrao Brasil e Argentina enfrenta dificuldades, devido a

    conflitos de interesses. O setor automobilstico e o agrcola (acar, mais

    especificamente) so o ponto nevrlgico da discusso entre os pases. A

    grave crise que a economia Argentina vem atravessando desde a Crise

    Russa (1998) seguida pela desvalorizao da moeda brasileira (1999), seu

    maior parceiro econmico e a valorizao do dlar (ao qual sua moeda

    estava atrelada) prejudicaram as suas exportaes e intensificam a

    recesso, tornando a taxa de desemprego alta, a reduo de investimentos

    externos que faz com que a Argentina busque mecanismo de defesas como

    barreiras contra exportaes de produtos brasileiros (ao, tecidos, calados

    7 Traduo literal: Conselho de Relaes Externas.

  • 32 e papel) e busca apoio nos EUA para suas exportaes. Apesar de algumas

    condescendncias do Brasil e nas negociaes via MERCOSUL a Argentina

    volta a salvaguardar seus setores menos competitivos (tecidos e algodo)

    contra seus parceiros comerciais. O Brasil leva a Argentina a julgamento por

    quebra de acordos na OMC e sai vitorioso. Surgem novas medidas

    protecionistas por parte da Argentina: exigncia de selo de qualidade para

    sapatos brasileiros uma delas, novas negociaes so feitas e o Brasil

    cancela as restries que pretendia impor a produtos argentinos que tem

    preferencial para entrada no Brasil.

    interessante observar que apesar dos conflitos e disputas internas

    no MERCOSUL, os resultados obtidos com o incremento do comrcio e a

    dinamizao de intercmbio poltico entre as naes, no buscam

    estratgias de dominao de um pas pelo outro, mas polticas a favor dos

    pases que integrem e elevem o nvel de competitividade intra-bloco.

    Isto certamente o que mais preocupado os EUA, prova disto a

    declarao de Madeleine Albright8:

    O Mercosul nocivo aos interesses dos Estados Unidos..., e acrescentou: Um dos objetivos maiores do nosso governo o de assegurar os interesses econmicos dos EUA, onde quer que estejam presentes, em todo o planeta.

    Muito parecido com a Poltica do Big-Stick.9

    O Mercosul representa um marco histrico nas relaes diplomticas,

    polticas e histricas, pois para que ele fosse criado houve necessariamente

    que estes pases deixassem de dar as costas uns aos outros na expresso

    perspicaz do historiador francs Pierre Chaunu.

    8 Ex-secretria de Estado norte-americano do governo Clinton. 9 Traduo coloquial: Porrete referncia a poltica norte-americana: falar gentilmente e bater.

  • 33 O MERCOSUL sem dvida o que h de mais prximo para pases

    latino americanos, em termos polticos, comerciais e de integrao social do

    que representa a Unio Europia.

    Se analisarmos os indicadores econmicos e sociais dos pases

    membros do Mercosul, numa comparao dos diversos setores nacionais,

    tais como: comrcio global sobre o PIB, comrcio global e comrcio intra-

    regional, dvida externa em relao ao PIB e dvida pblica em relao s

    exportaes, parque industrial, gastos sociais, indicadores sociais de sade,

    longevidade, qualidade de vida, mortalidade infantil e sobretudo educao,

    aqui vale ressaltar que destes pases somente a Argentina tem 100% dos

    alunos do ensino fundamental terminando o 1 grau. As estatsticas

    exporiam disparidades entre os pases do Mercosul, mas elas

    provavelmente no seriam to agudas quanto as que separam as regies do

    Brasil e as dos 33 pases restantes do continente americano.

    Diferentemente da ALCA que pretende ser implantada pelo governo

    estadunidense at o ano de 2005, o MERCOSUL caminha com passos

    tmidos, porm se no fossem as crises econmicas que a globalizao do

    capital impem s economias perifricas e que se sucedem desde sua

    criao em 1991, sua representatividade seria muito ampla em termos de

    trocas regionais e negociaes internacionais. Paulo Roberto de Almeida

    (2002, p. 48) considera:

    O MERCOSUL um inegvel sucesso econmico, e de certa forma um ntido fracasso poltico, pois ele conseguiu, nestes 10 anos de existncia, incrementar o comrcio intra regional e criar complementaridades recprocas entre as economias dos pases membros, mas falhou redondamente no sentido de estabelecer estruturas institucionais capazes de administrar esse aumento de comrcio e da interdependncia, situao da qual resultam presses e conflitos latentes que se traduzem em disputas comerciais no resolvidas.

  • 34 H grandes divergncias entre os pases do bloco, mas nada

    comparado ao que seria as assimetrias com a ALCA.

    A ALCA sem o MERCOSUL no interessante aos pases integrantes

    do Bloco. A consolidao do MERCOSUL e aprofundamento dar margens

    para manobras em negociaes que podem ser vlvulas de escape, a

    exemplo de acordos bilaterais com a Unio Europia.

    No cogitada a desintegrao do NAFTA para que seja implantada a

    ALCA, porque com o MERCOSUL isto se faz necessrio? Certamente para

    atender aos interesses imperialistas dos pases do norte.

  • 35

    CAPITULO III

    ALCA

  • 36

    4.1 O QUE A ALCA?

    Do ponto de vista de muitos polticos, acadmicos, empresrios e de

    uma parte da sociedade civil que acompanha as perspectivas de

    implantao a ALCA uma ambiciosa arquitetura poltica e comercial que os

    EUA busca com o objetivo de integrar comercialmente as trs Amricas: do

    Alasca Patagnia. Parece bom, mas o discurso oficial nem sempre

    significa o que parece ser. A rea de Livre Comrcio das Amricas (ALCA)

    ser estabelecida at 2005, num acordo proposto pelos EUA aos demais

    pases do Continente Americano. Este projeto que se iniciou nos meados da

    dcada 80 com o ento presidente George Bush em sua estratgia poltica-

    econmica por mais mercados internacionais e como uma forma de contra

    balancear a crescente reduo das exportaes para a Comunidade

    Europia que se solidificava e o surgimento do MERCOSUL no Cone Sul

    que representa um fortalecimento poltico-econmico dos pases intrabloco

    nas negociaes comerciais com demais economias extra bloco.

    A idia da ALCA fundamentada na teoria liberal que apregoa o

    liberalismo econmico-financeiro como um estmulo ao desenvolvimento,

    atravs da competitividade, equilbrio natural dos mercados e a

    gerao/criao de riquezas atravs do comrcio internacional. Este acordo

    tem como objetivo eliminar barreiras tarifrias ao comrcio, o movimento de

    capital financeiro e de servios entre pases membros. Porm, o que mais

    prejudica os pases pobres do continente americano, que so extremamente

    competitivos quando se trata de commodities agrcolas (acar, tabaco,

    soja e frutas); no so de fato as barreiras tarifrias, mas antes as medidas

    protecionistas (fitosanitrias) de mercados ricos, preciso lembrar que no

  • 37

    basta acordar sobre taxas, mas haver o desejo legtimo de comercializar.

    Para terem credibilidade nas negociaes propostas para a ALCA ser

    preciso que o governo dos EUA prove suas intenes com atitudes, o que

    no tem sido feito at o momento.

    A liberdade de comrcio representa o acesso a mercados maiores,

    possibilitando (ao menos teoricamente) capturar ganhos com vantagens

    comparativas, porm, os benefcios que os pases perifricos podero ter

    com a formao deste bloco dependero fundamentalmente de vrios

    aspectos. A capacidade de negociao dos pases envolvidos e a

    capacidade de reorganizao econmica. No se trata de impor ou receber

    imposio dos pases que tm a supremacia econmica no bloco, mas

    negociar. Porm, de forma realista, ser que os pases dependentes da

    Amrica Latina esto em condies de se reestruturarem at 2005? Parece

    pouco provvel que consigam.

    No supor que simplesmente com a implantao da ALCA o comrcio

    entre Amricas ser ativado. A questo ser saber quais setores da

    economia Brasileira (e dos demais pases em desenvolvimento) sero

    ativados e quais setores sero globalizados (ou eliminados) pela integrao.

    O peso deste quadro comparativo essencial para a aceitao ou no da

    ALCA pelos empresrios e governos dos pases envolvidos. Para o

    fortalecimento ou desarticulao total do MERCOSUL.

    A falta de projetos nacionais das economias da Amrica Latina, as

    tornam extremamente vulnerveis diante das estratgias polticas-

    econmicas dos pases centrais. O MERCOSUL est combalido em suas

  • 38

    bases devido s diversas crises econmicas pelas quais seus integrantes

    atravessam, mas necessrio que seja reativado no apenas pela sua

    importncia econmica no comrcio intra bloco mas tambm como forma de

    conteno s pretenses norte-americanas a todo mercado do Cone Sul. O

    MERCOSUL representa uma potncia comercial agrcola e importante que

    permanea como uma opo de grande negociador perante o NAFTA e a

    Unio Europia.

    Para o Brasil os desafios so grandes. No depende apenas do

    aproveitamento de suas vantagens comparativas (minerais e agrcolas), mas

    saber quais so os setores que se beneficiaro, e a que custo, quais setores

    sero erradicados pela competitividade de outros pases do bloco e as

    conseqncias para a economia nacional a mdio e longo prazo. Outro

    ponto crtico saber em que medida a forte supremacia econmica dos EUA

    e sua predominncia poltica nas relaes internacionais, iro prevalecer nas

    decises do futuro bloco e de que maneira isto ir afetar a desigualdade

    social brasileira e continental. Certamente se no forem feitos acordos para

    regulamentao das assimetrias existentes, ser este um ponto de conflitos

    futuros que talvez desencadeiam nacionalismos exacerbados, xenofobias,

    desejo de libertao do atual contexto imposto pelos pases subjugados e

    no absurdo pensar que se possa chegar a levantes armados.

    Para qualquer indivduo que esteja acompanhando o desenrolar das

    relaes internacionais nas ltimas duas dcadas, impossvel aceitar sem

    questionamento que os EUA permitiro aos pases subdesenvolvidos da

    Amrica Latina o acesso ao mercado estadunidense. Diante das medidas

    protecionistas do atual presidente George W. Bush, com sua arrogncia

  • 39

    nacionalista improvvel que deixe acontecer uma invaso, ou latinizao

    via produtos manufaturados, estilo de vida, moda, decorao, alimentao,

    tudo made in Brazil10 ou Latin Amrica Caliente Way11, numa espcie de

    reverso da medalha do que foi at hoje a imposio do American Way of

    Life12 para os povos do continente norte-americano, numa mistura de

    admirao e rancor.

    O fundamentalismo nacionalista dos polticos norte-americanos se

    modificar para aceitarem uma integrao, ou crem que s obtero novos

    mercados no continente para despejarem seus produtos numa poltica

    comercial de soma negativa?

    O que fica claro at ao mais irascvel nacionalista que chegado um

    ponto do capitalismo em que a unio continental seja via MERCOSUL (sub

    continental fortalecimento do Cone Sul) ou via ALCA uma necessidade

    de sobrevivncia no mbito da economia internacional como

    representatividade comercial de fato. Porm, para uma verdadeira

    integrao, onde haja resultados de ganha-ganha, a reestruturao e a

    correo das assimetrias entre norte e sul do continente algo para ser feito

    ao longo de dcadas e no nos prximos dois anos.

    10 Literalmente: Feito no Brasil 11 Traduo: Jeito latino-americano a palavra caliente, uma referncia ao tratamento

    caloroso . 12 Traduo: Estilo de vida norte-americano

  • 40

    3.2 OS PRINCPIOS GERAIS DA ALCA

    No esboo de formao da ALCA, esto apresentados como princpios

    que na rea de livre comrcio das Amricas, as decises sero tomadas por

    consenso, as negociaes sero conduzidas de forma transparente, sero

    respeitadas as regras da organizao mundial do comrcio (pelo menos este

    princpio j est sendo violado), haver um compromisso nico - isto , todos

    devero estar de acordo com o que ali for estabelecido, poder coexistir com

    acordos bilaterais e sub-regionais, haver ateno especial para as

    economias menores.

    um conjunto perfeito e inquestionvel de princpios, mas muita

    gente, hoje, contesta a formao da Alca. O significado desse

    questionamento pode ser decifrado a partir mesmo do quadro que dever

    formar o livre mercado: ele coloca no mesmo patamar a nao mais rica e

    mais poderosa do mundo, Estados Unidos, outro pas do primeiro mundo, o

    Canad, e 32 outras naes que, com freqncia, so chamadas de terceiro

    mundo ou economias perifricas.

    Os Princpios Gerais que guiam as negociaes so os seguintes:

    a) As decises no processo negociador da ALCA sero tomadas por

    consenso.

    b) As negociaes sero conduzidas de forma transparente para

    assegurar vantagens mtuas e maiores benefcios para todos os

    participantes da ALCA.

  • 41 c) O Acordo da ALCA ser congruente com as regras e disciplinas da

    OMC. Para tanto, os pases participantes reiteram seu compromisso com as

    regras e disciplinas multilaterais, em particular com o Artigo XXIV do Acordo

    Geral sobre Tarifas e Comrcio (GATT) de 1994 e seu Entendimento da

    Rodada Uruguai e com o Artigo V do Acordo Geral sobre o Comrcio de

    Servios (GATS).

    d) ALCA dever incorporar melhoras s regras e disciplinas da OMC,

    quando possvel e apropriado, tomando em conta todas as implicaes dos

    direitos e obrigaes dos pases como membros da OMC.

    e) As negociaes iniciar-se-o simultaneamente em todas as reas

    temticas. O incio, a conduo e o resultado das negociaes da ALCA

    devero ser tratados como partes de um empreendimento nico ("single

    undertaking") que incorporar os direitos e obrigaes mutuamente

    acordados.

    f) A ALCA poder coexistir com acordos bilaterais e sub-regionais,

    na medida em que os direitos e obrigaes assumidos ao amparo desses

    acordos no estejam cobertos pelos direitos e obrigaes da ALCA, ou os

    ultrapassem.

    g) Os pases podero negociar e aceitar as obrigaes da ALCA

    individualmente ou como membros de um grupo de integrao sub-regional

    que negocie como uma unidade.

    h) Deveria ser dada ateno especial s necessidades, condies

    econmicas (incluindo custos de transio e possveis deslocamentos

    internos) e oportunidades das economias menores, com o objetivo de

    garantir sua plena participao no processo da ALCA.

    i) Os direitos e obrigaes da ALCA devero ser comuns a todos os

    pases. Na negociao das vrias reas temticas, poder-se-o incluir, numa

    base de caso a caso, medidas como assistncia tcnica em reas

  • 42

    especficas e perodos mais longos para a implementao das obrigaes, a

    fim de facilitar o ajuste das economias menores e a plena participao de

    todos os pases na ALCA.

    j) As medidas que se acordem para facilitar a participao das

    economias menores no processo da ALCA devero ser transparentes,

    simples e de fcil aplicao, reconhecendo-se o grau de heterogeneidade

    daquelas economias.

    k) Todos os pases devem assegurar que suas leis, regulamentos e

    procedimentos administrativos estejam em conformidade com as suas

    obrigaes assumidas no acordo da ALCA.

    l) Para assegurar a plena participao de todos os pases na ALCA

    seus diferentes nveis de desenvolvimento devem ser levados em conta.

    3.3 OBJETIVOS GERAIS DA ALCA

    Os objetivos gerais das negociaes foram abaixo transcritos, segundo

    as fontes de informaes obtidas no site oficial da ALCA (2002)13:

    a) Promover a prosperidade mediante crescente integrao

    econmica e livre comrcio entre os pases do hemisfrio como fatores-

    chave para elevar o nvel de vida, melhorar as condies de trabalho dos

    povos das Amricas e melhor proteger o meio ambiente.

    b) Estabelecer uma rea de livre comrcio em que sero

    progressivamente eliminadas as barreiras ao comrcio de bens e servios e

    ao investimento, concluindo-se as negociaes no mais tardar at 2005 e

    13 http://www.sice.oas.org/FTAA/Toronto/minis/minisA2p.asp

  • 43 alcanando progressos concretos para realizar esse objetivo at o final deste

    sculo.

    c) Maximizar a abertura de mercados mediante altos nveis de

    disciplina por meio de um acordo equilibrado e abrangente.

    d) Proporcionar oportunidades para facilitar a integrao das

    economias menores no processo da ALCA, de maneira a concretizar suas

    oportunidades e aumentar seu nvel de desenvolvimento.

    e) Buscar fazer com que nossas polticas de liberalizao comerciais

    e ambientais se apiem mutuamente, tomando em conta os trabalho

    empreendidos pela OMC e outras organizaes internacionais.

    f) Assegurar, conforme as nossas respectivas leis e regulamentos, a

    observncia e a promoo dos direitos trabalhistas, renovando nosso

    compromisso de respeitar as normas trabalhistas fundamentais

    internacionalmente reconhecidas, e tomando em conta que a Organizao

    Internacional do Trabalho a entidade competente para estabelecer essas

    normas e delas ocupar-se.

    Desde o lanamento das negociaes em 1998, o processo da ALCA

    tem tramitado por duas etapas de negociaes. A primeira etapa sob a

    presidncia do Canad e a Vice-Presidncia da Argentina culminou com a

    quinta reunio de ministros responsveis pelo comrcio, celebrada em

    Toronto, no Canad em novembro de 1999. Durante esta reunio, os

    ministros concentraram-se em alcanar progressos efetivos (pargrafo 9 da

    Declarao de So Jos) at o ano 2000. Em Toronto, os Grupos de

    Negociao enviaram aos Ministros uma minuta sobre os respectivos

    captulos e receberam instrues para iniciar as discusses sobre a

    estrutura geral do acordo da ALCA.

    http://www.sice.oas.org/FTAA/Toronto/minis/minis_p.asp
  • 44

    Os ministros tomaram uma srie de medidas de facilitao de

    negcios (aprovadas pelos pases participantes para facilitar o fluxo

    comercial entre os setores empresariais, que no necessitam aprovao

    legislativa). Oito destas medidas listadas no Anexo II da Declarao de

    Toronto, tm como objetivo simplificar os procedimentos aduaneiros. Para

    facilitar a implementao dessas medidas, o Fundo Multilateral de

    Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento identificou

    recursos de assistncia para os pases que se qualificam. As demais

    medidas, especificadas no Anexo III, so conhecidas como medidas de

    transparncia, so destinadas a dar divulgao aos procedimentos e s

    normas reguladoras, de forma a ampliar a compreenso do pblico em geral.

    Entre elas, incluiu-se a divulgao da base de dados sobre comrcio e

    tarifas no hemisfrio utilizada nas negociaes, bem como um inventrio

    sobre arbitragem e outros procedimentos alternativos para as solues de

    controvrsias comerciais. Alm disso, foram includos 500 links na Internet

    sobre informao relacionada aos temas comerciais classificados por pas.

    Durante a etapa de negociaes, o setor empresarial continuou se

    reunindo no Foro Empresarial das Amricas formulando recomendaes aos

    ministros. Do mesmo modo, os grupos de representantes da sociedade civil

    tm se reunido em diferentes seminrios com o objetivo de formular suas

    recomendaes. Os ministros tm reconhecido estes esforos e tm

    incentivado a participao da sociedade civil pelo Comit de

    Representantes Governamentais sobre a Participao da Sociedade Civil14.

    14 http://www.sice.oas.org/FTAA/Toronto/minis/minisA2p.asp

    http://www.ftaa-alca.org/spcomm/Commcs_p.asphttp://www.ftaa-alca.org/spcomm/Commcs_p.asp
  • 45

    Atravs da Declarao de Toronto, os pases da ALCA assumiram

    pela primeira vez uma posio conjunta para a reunio seguinte da

    Organizao Mundial de Comrcio e resolveram comunicar o seu contedo

    ao Conselho Geral da OMC. Em posio conjunta, os pases

    comprometeram-se a trabalhar unidos no objetivo de eliminar os subsdios

    exportao de produtos agrcolas no contexto das Negociaes Multilaterais

    sobre a Agricultura da OMC.

    Durante a primeira fase de negociaes, o Comit de Representantes

    Governamentais sobre a Participao da Sociedade Civil formulou um

    convite pblico inicial sociedade civil dos pases participantes da ALCA.

    Atravs deste mecanismo, as partes interessadas foram convidadas a

    apresentar pontos de vista sobre o processo da ALCA de uma forma

    construtiva. As propostas foram analisadas pelo Comit de Representantes

    Governamentais sobre a Participao da Sociedade Civil que apresentaram

    resumos executivos aos Ministros, foi solicitado que preparasse um relatrio

    analisando os principais temas levantados nas respectivas propostas. Este

    processo continua em andamento atravs de ampla convocao aps cada

    fase de negociao.

    Ao final da segunda fase de negociaes, a Sexta Reunio Ministerial

    realizada em Buenos Aires e a Terceira Cpula das Amricas realizada em

    Quebec em abril de 2001, uma srie de decises importantes foi adotada

    com relao s negociaes da ALCA. Os Ministros receberam dos Grupos

    de Negociao uma minuta do acordo da ALCA e, em uma deciso sem

    precedentes, decidiram aumentar a transparncia do processo

    http://www.sice.oas.org/FTAA/Toronto/minis/minis_p.asphttp://www.ftaa-alca.org/FTAADraft/Por/draft_p.asp
  • 46

    recomendando aos chefes de estado e de governo tornar pblica a minuta

    do acordo da ALCA. Tambm destacaram a necessidade de se aumentar o

    dilogo com a sociedade civil e continuar a fornecer assistncia tcnica s

    economias menores para facilitar a sua participao na ALCA. Foi acordado

    que os resumos das propostas feitas pela sociedade civil em resposta

    convocao pblica fossem publicados na pgina oficial da ALCA.

    Os prazos foram fixados para a concluso e implementao do Acordo

    da ALCA. As negociaes sero concludas, o mais tardar, em janeiro de

    2005, para a entrada em vigor o quanto antes, at no mximo dezembro de

    2005. Como medida preparatria, foi fixado um prazo limite para as

    negociaes sobre Acesso a Mercados.

    http://www.sice.oas.org/FTAA/BAires/Minis/BAmin_p.asphttp://www.sice.oas.org/FTAA/BAires/Minis/BAmin_p.asp
  • 47

    CAPITULO IV

    OS OBSTCULOS IMPLANTAO DA ALCA

  • 48

    OS OBSTCULOS IMPLANTAO DA ALCA

    Com o advento da globalizao econmica o ritmo da abertura e o

    formato da estabilizao produziram grandes transformaes e perturbaes

    (crises econmicas na Rssia, Brasil, Argentina), porm o modelo neoliberal

    adotado na economia dos pases mais ricos, no foi eficaz para dotar a

    economia duma trajetria dinmica e sustentvel, capaz de propiciar o

    crescimento duradouro e abrir novas oportunidades inovadoras de

    desenvolvimento, ao contrrio as economias perifricas encontram-se

    atualmente mais endividadas do que antes. O abismo entre as classes

    sociais se amplifica e as desigualdades so mais visveis, a ideologia

    implcita do ter sobre o ser.

    Todo o perodo da dcada de 90 o Brasil apostou no Mercosul e a

    idia Mercosul seria um experimento, uma tentativa de conseguir no Cone

    Sul algo muito prximo ao que ocorreu com os pases da Unio Europia,

    fortalecer: os pases intra-bloco com um comrcio dinmico de seus

    produtos industrializados e sem barreiras tarifrias, buscando um

    desenvolvimento eqitativo para as economias participantes. Abertura do

    mercado brasileiro basicamente para a Argentina, com a participao do

    Uruguai e do Paraguai, e a capacidade da competitividade de nossas

    indstrias neste processo foi experimentada.

    Houve uma primeira reao na Amrica Latina, principalmente do

    Brasil. Essa reao baseada na seguinte idia: a desigualdade poltica

    entre os dois pases no produziria condies para uma competio igual.

    De certa forma houve o fechamento do Brasil para essa idia da Amrica

  • 49

    Latina muito dentro de um discurso ou de uma viso do Sculo XX, de que

    os EUA teriam interesse em destruir nossa economia. Em controlar setores

    chaves da nossa economia e estarmos dependente economicamente

    dos Estados Unidos. 50% dos produtos brasileiros entram nos EUA sem

    pagar tarifa. S que os EUA usam um mecanismo que ns no usamos: as

    barreiras no-tarifrias, atravs de limitao de cotas, aes antidumping,

    barreiras fitosanitrias alm das barreiras ambientais e trabalhistas.

    4.1 ASPECTOS NEGATIVOS OU CONFLITANTES

    Bela Balassa (1986) elenca trs aspectos que dificultam a integrao

    dos pases em desenvolvimento, estes, ao seu ver, podem inviabilizar ou at

    mesmo, proporcionar resultados indesejveis no processo de integrao.

    So eles:

    Falta de infra-estrutura de transporte e comunicaes entre os pases

    em desenvolvimento, favorecendo mais o comrcio com pases

    industrializados, aumentando, desta forma, os custos com logstica

    entre os pases integrados;

    Discrepncias na distribuio de benefcios decorrentes da integrao,

    favorecendo os pases membros com nveis de desenvolvimento mais

    elevados;

    Falta de coordenao poltica, entre os pases membros, dificultando a

    harmonizao, de suma importncia para as taxas cambiais, visto que

    as grandes desvalorizaes afetam a posio competitiva de cada

    pas.

  • 50

    4.1.1 Infra-Estrutura

    H ainda dificuldades histricas que se repetem como as que

    encontraram UE e o MERCOSUL nas negociaes de tarifas externas

    comuns, pois os pases participantes de um bloco econmico devero abrir

    mo da supremacia nacional para fixarem unilateralmente os nveis

    tarifrios para as importaes oriundas de outros pases.

    No caso da ALCA podero ocorrer divergncias sobre a localizao de

    novas industrias, j que os pases ibero-americanos esto passando por

    grave crise de desemprego estrutural. Estes pases iro competir

    acirradamente no que se refere a locais de instalao de novas industrias, o

    meio ambiente ser com certeza um dos pontos mais vulnerveis nas

    negociaes.

    Um ponto a ser questionado se as atividades econmicas dos pases

    latino-americanos continuaro sendo orientadas basicamente para a

    exportao de produtos primrios e qual ser a abertura para novas

    tecnologias de acesso a uma maior competitividade internacional. Pois, de

    outra forma os nicos beneficiados sero os pases industrializados, cujas

    empresas multinacionais mantm atividades em pases pobres e seus

    mercados so dominados pelas volatilizaes do capital financeiro externo,

    com empresas nacionais que na maioria das vezes no possuem infra-

    estrutura necessria para acompanhar o crescimento da demanda e a

    competitividade externa.

  • 51

    4.2 MEDIDAS PROTECIONISTAS

    Os EUA vm estabelecendo medidas protecionistas para sua

    produo de ao e garante enormes subsdios para sua agricultura. Estas

    medidas sob a tica realista das relaes internacionais so tecnicamente e

    nacionalmente, inquestionveis: so respostas s ameaas a segmentos da

    indstria domstica norte-americana, busca proteger seu mercado, seus

    trabalhadores e produtores do campo, o que qualquer poltica de governo

    estratgica deve fazer, pois de outra maneira implicar em desempregos e

    polticas compensatrias para quedas do bem-estar social.

    4.2.1 Acesso a Mercados e Novas Tecnologias

    No entanto, sob a tica do neoliberalismo, que a base do discurso

    externo norte-americano, e seu grande propulsor: o livre comrcio - o jogo

    do fao o que eu digo mas no fao o que eu fao, pois essas medidas tm

    profunda repercusso na economia internacional, comprometendo o livre

    mercado. Nos EUA as principais barreiras so:

    Normativa regulatria

    De Subsdios

    De Poltica de Importao

    Tornando a tarefa dos exportadores estrangeiras bastante rdua.

    Em 1997 o Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra,

    publicou um trabalho sobre a ALCA e sua repercusso na economia

    brasileira, h um pargrafo onde o protecionismo norte-americano

    analisado:

  • 52

    Para efeitos de eventual associao sob o timbre da ALCA, a prtica de proteo encapuzada atravs de regulamentos item de imensa importncia, sobretudo quando se consideram a poliformia da instrumentalizao utilizada, sua durao, seu alcance e sua intensidade. Numa rea de livre comrcio, onde o mecanismo decisivo a delimitao dos nveis de proteo via tarifa aduaneira, o exerccio de regulamentos inibitrios, defensivos na aparncia e protecionistas no seu uso, pode representar a niilizao de compromissos e veculo insidioso de contundncia econmica (apud MEIRA, M. E., 1997, p. 242)

    Quanto ao Canad, que tambm vm aplicando medidas fitosanitrias

    como forma de barrar as exportaes, o Brasil saiu vencedor na contenda da

    carne bovina acusada de contaminao (vaca louca), mas por este episdio

    podemos vislumbrar o que nos espera diante de negociaes vultosas e

    subordinadas a acordos comerciais intra-bloco. inquestionvel a

    importncia de serem discutidas e a revistas as medidas protecionistas de

    poltica comercial dos pases membros da ALCA, para que o acesso ao

    mercado norte americano e canadense seja possvel as exportaes dos

    pases pobres da Amrica central e do sul, pois previsvel que a ALCA

    trar prejuzos considerveis queles setores da economia dos pases

    perifricos, que at a sua implantao no forem to competitivos quanto os

    setores similares do hemisfrio norte. Isso s ser possvel com

    investimentos em qualidade na produtividade e desenvolvimento

    tecnolgico.

  • 53

    Algo quimrico para o atual contexto scio-econmico das naes

    latino-americanas, com suas economias atreladas ao domnio poltico-

    econmico norte-americano, ao pagamento de dvidas externas com juros

    exorbitantes e ao papel regulador de suas economias que exercem

    organismos como o FMI. A implantao da ALCA se for negociada como via

    de mo dupla para os pases integrantes poder acelerar o desenvolvimento

    tecnolgico dos pases em desenvolvimento, pulando etapas do processo

    que de outras forma levaria dcadas para se realizar. Resta saber se a

    inteno dos pases ricos do futuro bloco a disseminao dos

    conhecimentos cientficos e tecnolgicos numa cooperao internacional aos

    pases integrantes em sua diminuio das assimetrias regionais.

    Caso no ocorra transferncia de tecnologias e conhecimentos atravs

    de acordos de cooperao intra-bloco, a submisso e o nus social que

    resultar aos pases latinos para se acomodarem nesta integrao ser

    vultoso e cabe a pergunta: A quem interessa a ALCA?

    4.2.2 Setores Nacionais que Podero ser Prejudicados pela

    Implantao da ALCA

    Segundo anlise do Departamento de Estudos da Escola Superior de

    Guerra, o Brasil ter segmentos na fase de pesquisa bsica e aplicada,

    sero seriamente prejudicados, so tecnologias voltada para o potencial

    militar que garante a imposio de poder dos EUA ao resto do mundo, ao

    mesmo tempo em que no permite que outras regies do globo as

    desenvolva, conforme texto:

    Foram selecionadas algumas reas de interesse de P&D, muitas delas ainda na fase de pesquisa bsica e aplicada, para as quais, normalmente, tm sido levantadas barreiras sua obteno, sob a alegao de que tais tecnologias, muitas delas de emprego dual, poderiam ser utilizadas para fins no pacficos. Um dos

  • 54 instrumentos legais norte-americanos que colocam barreiras pouco claras transferncia destas tecnologias O Fiscal Year 1993 Defense Authorization Act, que concede ao Congresso norte-americano o poder de avaliar o efeito potencial das transaes propostas ou em andamento, sobre a liderana tecnolgica internacional do EUA em reas que afetam a segurana daquele pas (apud MEIRA, M.E. 1997, p. 244).

    Segue uma lista preliminar dessas reas de interesse e suas

    respectivas tecnologias, que esto em fase de pesquisa e desenvolvimento,

    principalmente nos EUA e no Canad.

    Na rea de Software

    Criptografia avanada, para proteo de documentos e transaes

    comerciais eletrnicas;

    Arquitetura de supercomputadores e processamento tico, as

    chamadas MMP (Massively Parallel Process) e as tcnicas de

    processamento utilizando princpios da holografia;

    Modelagem e simulao de fenmenos atmosfricos, ocenicos e

    terrestres, que apresentam emprego na previso do tempo e antecipao do

    resultado esperado para a produo agrcola, com grande importncia na

    comercializao de commodities; Modelagem e simulao de sistemas

    termo-fludo-mecnicos, empregadas no desenvolvimento da aerodinmica

    dos modernos avies e na propulso de foguetes transportadores de

    satlites artificiais.

  • 55

    Na rea de Novos Materiais

    Na fabricao se sensores ativos e passivos, como os empregados

    em sensores remotos via satlites e em radares de vigilncia area,

    permitindo o controle das reas plantadas, o levantamento mineralgico e

    sistemas de controle do espaa areo, tendo grande importncia como fator

    de antecipao das decises comerciais e de defesa;

    Novos materiais cermicos, supercondutores e ligas metlicas de

    extra-resistncia. Esses materiais so empregados em motores de alta

    temperatura, tubeiras de foguetes, transmisso de energia eltrica, sistemas

    de transporte e construo de estruturas leves de alta resistncia mecnica.

    Na rea de Mecnica de Preciso

    Tecnologia para construo de plataformas inerciais, giroscpios

    eletromecnicos e orientao por GPS, com largo emprego na guiagem de

    foguetes, sistemas de apoio navegao e na determinao geodsica de

    posicionamento;

    Construo de robs, integrando conhecimentos mecnicos,

    eletrnicos, ticos e de computao. Tm largo emprego na indstria de

    manufatura e so os principais responsveis pelo aumento da produtividade

    (com conseqente produtividade de preos) e da melhoria da qualidade dos

    produtos vendidos internacionalmente;Emprego da manotecnologia para

    construo de microssondas, que permitem a realizao de cirurgias atravs

    das artrias.

  • 56 Na rea da Qumica Fina

    Armazenamento compacto de energia qumica e eltrica, empregado

    na fabricao de baterias de alta capacidade e tamanho

    reduzido;Tecnologias de armazenamento de hidrognio dissolvido em

    metais para emprego em motores de combusto interna. Utilizao de

    hidrognio em motores de foguetes hipersnicos;

    Produo de novos frmacos naturais e sintticos. Tecnologia de

    produo de vacinas e insumos qumicos empregados na industria

    farmacutica; Tecnologia de sntese de catalisadores, de largo emprego na

    indstria petroqumica.

    Na rea de Biotecnologia

    Desenvolvimento de tecnologias de manipulao gentica para

    aprimoramento de sementes e de espcies animais, permitindo aumentos

    expressivos de safras e do valor nutritivo de alimentos; Estudos genticos

    humanos na busca de solues para doenas oriundas das malformaes

    cromossmicas.

  • 57 Muitas outras tecnologias poderiam ser acrescentadas a esta lista, uma vez que ela no pretende ter exaurido o extenso leque de oportunidades que se abre ao Brasil caso consiga, atravs da ALCA, participar ativamente das pesquisas em andamento nos outros pases, sobretudo das suas aplicaes e das relaes comerciais que so o objetivo inicial dessa associao (apud MEIRA, M. E. 1997, p. 246).

    As tecnologias acima descritas representam em sua maioria

    desenvolvimento de pesquisas para uso blico ou de estratgia militar,

    porm como ocorreu nas Guerras Mundiais e na guerra do Golfo, as

    tecnologias desenvolvidas para uso militar so melhoradas e aplicadas no

    uso cotidiano, dando um boom de novos produtos e gerando novas

    necessidades pela sua utilizao no mercado. S este fato, j torna o

    protecionismo ao acesso tecnologia e softwares destrutivo aos pases que

    receberam com atraso os produtos e no participam da criao destes

    recursos.

    4.3 EXPORTAES BRASIL: TIMIDEZ CONGNITA

    Nos ltimos anos estabeleceu-se uma forte tendncia entre polticos,

    ministros da fazenda e o empresariado nacional, sintetizada na frase:

    Exportar a soluo. No final de seu mandado presidencial o ex-

    presidente Fernando Henrique Cardoso declarou: Exportar ou morrer!.

  • 58

    Um tanto dramtico, mas parece ser esta a palavra mgica para

    eliminar quase todos os problemas da economia brasileira e demais pases

    de economia dependente.No entanto, no que concerne a aes de fato, esta

    tem sido uma frase vazia. Nada se fez nas dcadas passadas e nos ltimos

    dois anos de governo FHC para incrementar as importaes nacionais

    alm do MERCOSUL. Nota-se que h uma falta da cultura do exportar ou

    seja, limitamos-nos historicamente a exportar e investir naquilo que o

    mercado externo exige, mercado este com poderosos concorrentes para

    nossas commodities, a exemplo da Austrlia, EUA, China, Rssia que nos

    levam a perder terreno ano a ano, j que sem a unificao de fato do

    MERCOSUL como agente negociador, fica mais difcil conseguir acordos

    vantajosos bilaterais com grupos como Unio Europia, NAFTA, APEC.

    A concorrncia dos grandes blocos econmicos muito agressiva e o

    MERCOSUL no funcionou como um organismo muito eficaz na sua

    representatividade internacional, devido a fatores como sua fragmentao

    interna por disputas entre Brasil e Argentina, crises scio-econmicas pases

    membros, especialmente a da Argentina que debilitou as estruturas internas

    do bloco desarticulando o avano das exportaes para o mercado externo.

    O Brasil como a maioria das economias perifricas, necessita das

    exportaes para viabilizar seu crescimento, bastante estagnado desde a

    dcada de 80. A economia brasileira precisa de dlares para cumprir os

    compromissos assumidos junto aos organismos reguladores internacionais,

    como o FMI e atravs de uma reserva de dlares, tornar-se menos

    suscetvel s crises externas, como a da Rssia em 1998 e da Argentina que

    vem se alastrando desde 1999.

  • 59 Na forma como est a economia do pas, os juros altos atraem os

    investidores estrangeiros, no entanto, quebram os empreendedores e boa

    parte do empresariado nacional. Este capital estrangeiro que aplicado

    aqui, no direcionado para setores produtivos ou de incremento s

    exportaes, mas em setores de servios, tais como: bancos,

    telecomunicaes, comrcio varejista, eletricidade. Estes investimentos so

    feitos em sua maioria atravs de fuses ou aquisies de empresas

    nacionais, estatais ou no. Pases como a China, por exemplo, que s aceita

    investimentos externos voltados exclusivamente exportao ou os EUA

    que condicionam o acesso ao seu mercado a facilidades para a exportao

    de suas mercadoria, ocorrendo uma troca de concesses comerciais para

    que ocorra um ganha-ganha equilibrado.

    Nas ltimas dcadas o Brasil vem se acomodando ao malfadado

    Risco Brasil e apenas h poucos anos nos atrevemos a brigar com pases

    ricos pelos nossos direitos comerciais (OMC = Bombardier x Embraer)

    deixando evidente que o Brasil precisa de medidas mais agressivas e

    negociadores capazes no plano internacional.

    O senador Alozio Mercadante (2002), tem inteno de modificar a

    situao no campo do comrcio exterior, segundo ele o Brasil jogar duro na

    busca dos interesses nacionais, declarou que o prximo governo petista tem

    interesses em aumentar as vendas para o EUA, principalmente de lcool

    brasileiro, para abastecer o mercado norte-americano, isto se as barreiras

    protecionistas a este produto carem.

  • 60

    H exemplo de pases que tm suas economias basicamente voltadas

    exportao, todavia no esqueceram de desenvolver o seu mercado

    interno, como exemplo, a Austrlia e a Nova Zelndia, pases da Oceania,

    que tem apenas 25% de suas atividades econmicas voltadas para a

    industria, no entanto canalizam suas exportaes de produtos agrcolas e

    agropecurios, bastante diversificadas, para grandes mercados externos,

    como Japo, China, Reino Unido, Inglaterra e EUA.

    4.4 SOBERANIA NACIONAL

    A nao um processo histrico (IANNI, 1996) que se forma por

    certas conjunturas ocorridas em determinados perodos de tempo, portanto

    estar sempre em transformao, ou melhor, em transio, como um

    processo de criao constante. Na atual fase econmica, as decises

    nacionais e projetos nacionais, so adotados e aplicados de acordo com

    interesses de corporaes transnacionais (FMI/Banco Mundial). Os pases

    economicamente dependentes no conseguem definir suas diretrizes no

    plano econmico, pois se encontram atrelados aos interesses externos,

    perdendo desta forma a base fundamental de sua soberania nacional.

    Algumas naes simplesmente se transformam em provncias da

    economia e da sociedade mundial. O Brasil est tentando h meio sculo se

    desenvolver, mas os tentculos dos pases poderosos encabeados pelos

    Estados Unidos, abortam as tentativas de um projeto nacional voltado para

    os interesses nacionais. No Brasil, de governo em governo, gravita-se pelos

    interesses externos, sem polticas concisas que realmente sejam

    comprometidas com o desenvolvimento social e econmico do pas, no h

  • 61

    projeto nacional, no h plano de metas econmicos a serem conquistados.

    Em contrapartida h mirabolantes planos de como arrecadar mais impostos

    para pagamento de juros de dvida externa, como atrair mais investimentos

    externos em detrimento ao desenvolvimento industrial nacional: juros altos.

    Neste contexto Jaguaribe (1997, p. 78) afirma:

    (...) O Brasil tem um entorno internacional que no lhe hostil, mas est enfrentando um mundo que est se alterando de uma forma bastante rpida e de uma maneira que no tendencialmente favorvel a nossos interesses, sobretudo no curto e mdio prazo. Essa confrontao ocorre num grau mximo de desorganizao interna de falta de um projeto nacional. O Brasil est correndo o grave risco de, pelo fato de no ter um projeto interno prprio, tambm no o ter externamente. Isto no momento em que o mundo est em rearrumao e em que os retardatrios vo perder as melhores oportunidades.

    A articulao que havia entre as polticas do Estado e as necessidades

    da sociedade civil nos pases perifrico foi desestruturada pelas polticas

    neoliberais implantadas nestes pases. Isto ocorre sem que a sociedade civil

    tenha chegado a um estgio do capitalismo onde usufrusse as condies

    reais de bem-estar. Na globalizao neoliberal das economias mundiais o

    Estado de Bem-Estar Social perde as suas funes, a concorrncia do

    mercado ir regular e dirimir as assimetrias. Ianni (1994, p. 434) considera:

    A nova onda so as estratgias de integrao regional, os novos subsistemas do capitalismo mundial. Integrao articulada por governos e empresas, setores pblicos e privados, conforme as potencialidades dos mercados, por fatores da produo ou das foras produtivas, de acordo com os movimentos do capital orquestrados principalmente pelas transnacionais.

  • 62

    A globalizao trouxe tambm a abolio, ao menos de forma virtual,

    das fronteiras nacionais que delimitavam a soberania nacional. Os estados

    que hoje buscam integraes com outros Estados numa forma de defesa

    contra a perda de terreno comercial para outras naes ou blocos, de certa

    forma relativiza a sua soberania, compartilhando-na com as grandes

    empresas transnacionais e organismos reguladores internacionais, como se

    estivesse pisando em ovos, a soberania nacional se v obrigada a

    considerar o contexto econmico-financeiro internacional para a regulao

    do estado nacional. Se verdade que a globalizao do mundo est em

    marcha, e tudo indica que sim, ento comeou o rquiem pelo Estado-

    nao (IANNI, 1999, p. 435).

  • 63

    4.5 POLTICA IMPERIALISTA DOS EUA EM RELAO A

    CUBA E AO IRAQUE

    Como pas hegemnico, os EUA consideram qualquer assunto em

    qualquer parte do planeta como sendo do seu interesse justificando dessa

    forma a sua condio de intervencionista.O governo do atual presidente

    norte-americano George W. Bush, iniciado em 2001, assumiu um

    comportamento distinto de seu antecessor no campo da poltica

    internacional, buscando uma postura mais prepotente, de menor

    compromisso com os valores de uma ordem mundial pluralista e evidente

    preocupao em ampliar o poder norte-americano na esfera internacional. O

    atentado de 11 de setembro propiciou novo cenrio de coeso

    reaproximando a Unio Europia dos EUA, buscou-se uma orquestrao

    internacional para se combater o terrorismo e reprimir seus agentes e

    defensores. As intervenes militares levantaram dilemas prticos e morais

    para o iderio mundial, assim como a parceria anglo-norte-americana em

    momentos de crise se fez sentir de forma clara. A grande mdia no oferece

    informaes imparciais sobre o embargo comercial imposto a Cuba e ao

    Iraque pelos EUA. como se nestes conflitos a supremacia econmica dos

    EUA de j justificasse a interveno norte-americana no mundo sem maiores

    questionamentos. No h nada que o governo (republicano ou democrata)

    dos EUA no faa para assegurar ainda mais sua supremacia mundial.

    Tornar alguns polticos e ditadores ainda mais odiosos a comunidade

    mundial uma tarefa relativamente fcil para quem tem experincia no

    assunto.

  • 64

    As manchetes so elaboradas de forma a desestimular o pensamento

    crtico-analtico do indivduo receptor, so maquiladas pelas TV mundiais e

    jornais muitas vezes imparciais, de acordo com os interesses de grupos

    econmicos ou governos. E ento o mundo poder assistir a mais uma

    guerra por telecomando e se chocar ou ficar indiferente a mais uma batalha

    articulada pelos interesses econmicos internacionais e revestida com a

    ideologia da segurana e paz mundial.Segue uma breve exposio dos

    motivos que levam o mais poderoso pas que articula a ALCA a praticar

    embargos comerciais e aular conflitos blicos, onde o uso da fora (armada

    ou poltica) imposta de maneira cruel, pois, sacrifica a vida de milhares de

    civis que no tem sequer noo da grande batalha pelo poder que est se

    desenvolvendo, mas sentem as conseqncias sob a forma da fome,

    mortalidade infantil, doenas e desemprego.

    4.5.1 Cuba

    Os EUA j cobiaram a ilha quando Cuba fazia parte das colnias

    espanholas, chegaram at a propor a compra da mesma aos espanhis

    colonizadores. Visavam com isso controlar a rota comercial do Mar do

    Caribe e a produo aucareira da ilha. Mais tarde apoiaram a sangrenta

    ditadura de Fulgncio Batista, que foi derrubado por Che Guevarra e Fidel

    Castro.Cuba teve srios conflitos com os EUA ao pactuar com a antiga

    URSS e instalar em seu territrio armas soviticas que fizeram os norte-

    americanos se sentirem ameaados. Em 1961, j com Fidel no poder,

    Kennedy autorizou o ataque a Cuba, atravs da Bahia dos Porcos, por

    dissidentes cubanos, resultando num imenso malogro.

  • 65

    Os Estados Unidos persistem no embargo econmico imposto ilha, a

    mais de 40 anos, o regime comunista ruiu a mais de uma dcada e ainda

    hoje Cuba sofre as sanes comerciais impostas pelos norte-americanos

    com o apoio dos seus aliados.

    Hoje a poltica de Fidel Castro no consegue ameaar o poderoso

    imprio norte americano e o fato dele manter constitucionalmente imutvel o

    regime socialista na sua ilha governando-a como se fosse uma fazenda

    pessoal o nico obstculo para que se mantenha o embargo comercial que

    acarreta prejuzos econmicos e sociais para o pas. No se justifica e no

    se altera a situao que de desvantagem e ano aps ano tem sua

    economia mais fragilizada em relao ao comrcio exterior. Cuba s no

    voltou a ser um roteiro turstico tradicional com uma economia extremamente

    dolarizada e um prostbulo a cu aberto aos norte-americanos como no

    governo de Fulgncio Batista, devido a dois fatores: O nacionalismo ferrenho

    dos cubanos que ainda tm na figura de Fidel um baluarte contra o

    imperialismo norte-americano apesar de sua poltica linha dura que impe ao

    pas penosos sacrifcios. O antiamericanismo do povo cubano, que ao

    mesmo tempo em que deseja o patamar de bem estar dos americanos

    mdios, tem um sentimento de admirao e dio, assim como boa parte dos

    demais latino-americanos.

    H que ser reconhecido o trabalho realizado em Cuba em distintas

    esferas, como a educao e a biotecnologia, assim como os esforos do

    governo pela reestruturao de um setor to importante para as exportaes

    como o acar, porm, a situao de Cuba certamente seria outras se este

    embargo pernicioso economia cubana tivesse rudo junto com a

    bipolaridade ideolgica.

  • 66

    O ministro brasileiro Celso Lafer esteve na ilha em setembro de 2002 e

    reafirmou a sua recusa em aceitar a ALCA sem uma efetiva participao de

    CUBA no novo bloco e sem que sejam discutidas maneiras de insero das

    economias dependentes nos benefcios que a integrao continental poder

    trazer.

    4.6 CONSIDERAES SOBRE A ESCASSEZ DO TRABALHO

    E A ALCA

    O processo de globalizao juntamente com a reestruturao

    econmica da qual faz parte a criao e fortalecimento de blocos

    econmicos, a poltica neoliberal, a tecnologia e a informatizao das

    comunicaes, impondo uma cultura e um padro ocidental como ideal,

    acarretou um intenso processo de excluso e degradao social, situao

    especificamente dramtica nos pases dependentes, que no atingiram um

    estgio de democracia que 'pudesse minimizar as seqelas da

    desvalorizao do trabalho e do trabalhador.

    Silva (1998, p. 241) afirma: Um tero do povo latino-americano est excludo do desenvolvimento e relegado a situaes de pobreza, situao que poder tornar-se

    permanente. Mas no s aumenta o nmero de pobres, especialmente nas cidades, como

    se torna mais rgido tal quadro, dificultando mecanismos de mobilidade e ascenso social.

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    O capitalismo em sua teoria ideolgica seria a realizao da sociedade

    homognea que alcana uma prosperidade econmica e se reflete na

    satisfao dos anseios e desejos dos indivduos. Todos produzem e todos

    consomem...Atualmente nada est mais longe da teoria e, no entanto, nunca

    se acumulou tanto e to rapidamente em determinados seguimentos; o

    neoliberalismo prega a necessidade do desemprego e da excluso de

    alguns milhares de indivduos para o fortalecimento e enriquecimento de

    setores e elites prximas as diretrizes do governo que em certas

    ocasies refm dos interesses de grandes grupos econmicos privados.

    Estes grupos poderosos representam empresas, instituies e no

    Estados, podem estar espalhados em diversos territrios, principalmente

    naqueles