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INTERESSES DA HABITAO SOCIAL - polticas e processos no Rio Grande do Norte.
NATAL / RN - MAIO 2012
Aluno: Pascal Machado
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PASCAL MACHADO
INTERESSES DA HABITAO SOCIAL Polticas e processos no Rio Grande do Norte
Dissertao apresentada ao Programa de Ps- graduao em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como requisito para obteno do ttulo de mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Profa. Dra. Dulce Picano Bentes Sobrinha
Natal / RN Maio 2012
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Catalogao da Publicao na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Biblioteca Central Zila Mamede
Machado, Pascal. Interesses da habitao social : polticas e processos no Rio Grande do Norte / Pascal Machado. Natal, 2012. 145 f. : il.
Orientadora: Dulce Picano Bentes Sobrinha, Dra.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo.
1. Habitao popular - Rio Grande do Norte - Dissertao. 2. Poltica habitacional - Rio Grande do Norte - Dissertao. 3. Arquitetura de habitao - Rio Grande do Norte - Dissertao. 4. Planejamento urbano - Rio Grande do Norte - Dissertao. I. Bentes Sobrinha, Dulce Picano. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ttulo.
http://www8.fgv.br/bibliodata/site2/pesquisa/dsp_resultadopesquisa.asp?op=13|PBB&txt=130069&ex=13|PBB&qt=100&tipoPesquisa=LINKBB&Link=0&iRG=0&stringTipo=S&txt2=POLITICA%20HABITACIONAL&dspOp=Obras+do+Autor&dspVl=Politica+habitacional&dspTp=Palavra%20Chavehttp://www8.fgv.br/bibliodata/site2/pesquisa/dsp_resultadopesquisa.asp?op=13|PBB&txt=130069&ex=13|PBB&qt=100&tipoPesquisa=LINKBB&Link=0&iRG=0&stringTipo=S&txt2=POLITICA%20HABITACIONAL&dspOp=Obras+do+Autor&dspVl=Politica+habitacional&dspTp=Palavra%20Chavehttp://www8.fgv.br/bibliodata/site2/pesquisa/dsp_resultadopesquisa.asp?op=13|PBB&txt=130069&ex=13|PBB&qt=100&tipoPesquisa=LINKBB&Link=0&iRG=0&stringTipo=S&txt2=POLITICA%20HABITACIONAL&dspOp=Obras+do+Autor&dspVl=Politica+habitacional&dspTp=Palavra%20Chavehttp://autoridades.bn.br/scripts/odwp032k.dll?t=bs&pr=assuntos_pr&db=assuntos&use=sh&disp=list&sort=off&ss=NEW&arg=arquitetura|de|habitacaohttp://autoridades.bn.br/scripts/odwp032k.dll?t=bs&pr=assuntos_pr&db=assuntos&use=sh&disp=list&sort=off&ss=NEW&arg=planejamento|urbano
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INTERESSES DA HABITAO SOCIAL - Polticas e processos no Rio Grande do Norte Dissertao apresentada ao Programa de Ps- graduao em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como requisito para obteno do ttulo de mestre. Orientadora: Profa. Dra. Dulce Picano Bentes Sobrinha BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Dulce Picano Bentes Sobrinha (orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Luis de La Mora Universidade Federal de Pernambuco ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Irene Alves Paiva Universidade Federal do Rio Grande do Norte ___________________________________________________________________ Profa. Dra. Amadja Henrique Borges Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Aprovada em 29 de Maio de 2012
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AGRADEO,
ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo, aos seus funcionrios
e aos seus professores pelos ensinos;
CAPES pela bolsa. Sem ela jamais poderia teria me lanado nessa aventura;
Professora Maria Dulce Picano Bentes Sobrinha, pela orientao e apoio. Junto
agradeo equipe da base de pesquisa GEHAU;
aos membros das bancas de qualificao e defesa, os Professores Lus de La Mora,
e Irene Paiva por toda a ateno e suas preciosas recomendaes;
ao GERAH, minha primeira e segunda base de pesquisa, a todos os que compem
essa equipe, com especial ateno para as companheiras de luta Ceclia e Candida;
uma dedicatria especial, grande mentora de todas as minhas aventuras rurais, a
professora Amadja Borges, que sempre me estendeu seu brao e me levantou das
diversas quedas que fui dando ao longo da minha integrao em terras
brasilienses.
a todos os que contriburam direta ou indiretamente para esta pesquisa, atravs de
entrevistas, informaes e outras aes que permitiram coletar os dados expostos
no trabalho.
aos assentados que tanto trouxeram para minha formao profissional, e tanto me
ensinaram sobre a vida;
a toda a equipe da Caixa Econmica Federal, pelo acolhimento e a ajuda para
desvendar os diferentes meandros de uma estrutura to complexa como a da
CAIXA, especial agradecimento ao colega arquiteto Jorge e Chefe da Assistncia
Tcnica Valria.
equipe da Secretaria Municipal de Habitao de Joo Pessoa, com destaque para
o Secretrio Jos Guilherme A. Barbosa e o Secretrio-Adjunto Gildimar Alves dos
Santos, pela confiana e oportunidade, e pelo o apoio logstico nas diversas
liberaes concedidas para me dedicar a esta pesquisa; a Larissa por sua
contribuio grfica.
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s minhas trs amazonas: Luciana, Thas e Clarice, trs
guerreiras que sobreviveram a todas essas batalhas que
tiveram que enfrentar ao acompanhar minhas mgoas e
angstias durante este longo processo;
minha distante famlia, literalmente espalhada pelos quatro
cantos do mundo, mas que mesmo assim, sempre me deu todo
apoio para finalizar esta empreitada;
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RSUMO
A partir de 2003 o governo brasileiro iniciou uma nova fase da poltica
habitacional, intensificando as construes da Habitao de Interesse Social no
Brasil. Tal incremento teve repercusses na cidade e no campo, e foi marcado no
Rio Grande do Norte, pela produo em grande escala de conjuntos habitacionais
em programas de Governo. Para viabilizar estas transformaes, instrumentos
polticos, financeiros e de gesto foram articulados conjuntamente, usando a
repetio de uma tipologia edilcia como padro, acompanhada da reproduo de
padres morfolgicos nas construes de habitao de interesse social. Contudo, os
princpios da Poltica Nacional de Habitao sinalizaram a diversificao tipolgica
como um elemento da qualidade dos projetos. Compreender os entraves que se
impem realizao desse princpio constitui questo central da presente pesquisa.
Para investigar esse problema na produo habitacional no Rio Grande do Norte,
introduzimos um estudo urbanstico e scio- econmico do problema da Habitao
de Interesse Social no Brasil, relacionando aspectos tcnicos com questes
histricas, profissionais e culturais. A pesquisa busca identificar como as polticas de
gesto e financiamento oficiais (administradas majoritariamente pela Caixa
Econmica Federal- CEF), influenciam o processo projetual, desencadeando as
repeties tipo/morfolgicas j mencionadas. Baseados na observao direta de
duas experincias diferenciadas na habitao de interesse social rural no Rio
Grande do Norte o estudo aponta limites e possibilidades das aes desenvolvidas
por atores sociais diante dos agentes e polticas oficiais para a Habitao de
Interesse Social no Brasil, apontando solues alternativas padronizao que
caracteriza o resultado dos projetos financiados e geridos pela CEF. Como marco
conceitual e metodolgico toma-se como referncia o trabalho de autores como
Nabil Bonduki (1998), David Harvey (2009,1982), Henry Lefbvre (1970), Ermnia
Maricato (2010, 2009, 2000, 1987) e Raquel Rolnik (2010, 2009, 2008, 1997).
Palavras Chave: Tipologia - Habitao de Interesse Social - habitao social - Programa Minha Casa Minha Vida - moradia popular - Caixa Econmica Federal -
habitao rural - habitat.
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RSUM
En 2003, le gouvernement brsilien (gestion Lula) a initi une nouvelle phase
dans son histoire de lhabitation, en intensifiant les constructions de logements
sociaux au Brsil. Un tel accroissement a eut des rpercussions tant en ville comme
la campagne, et ft marqu dans le Rio Grande do Norte, par la production a
grande chelle densembles dhabitations, dans les programmes de Gouvernement.
Afin de viabiliser ces transformations, des instruments politiques, financiers et de
gestion ont ts articuls conjointement, utilisant la rptition dune typologie
ddification, comme modle, accompagne de la reproduction dune morphologie
dans les constructions de logements sociaux. Afin de comprendre ce processus nous
introduisons une recherche urbanistique et socio-conomique du problme du
logement social au Brsil, en cherchant mettre en relation les aspects techniques
avec les questions historique, professionnelles et culturelles, lments
complmentaires. Notre analyse cherche a identifier comment les politiques de
gestion et financement officielles (administres dans sa grande majorit par la
Caisse conomique Fdrale -CEF-), influencent le processus de conception de
projets, en provoquant les rptitions de type/morphologiques, dj cites. Base sur
lobservation directe au cour de deux expriences diffrencies pour du logement
social en milieu rural, au Rio Grande do Norte, nous montrerons aussi certaines
limitations et possibilits des acteurs sociaux, face aux agents et politiques officielles
pour le logement social au Brsil, proposant des solutions alternatives standardises
qui caractrisent le rsultat des projets finances et grs par la CEF. Nos
principales rfrences thoriques et mthodologiques sont Nabil Bonduki (1998),
David Harvey (2009,1982), Henry Lefbvre (1970), Ermnia Maricato (2010, 2009,
2000, 1987) et Raquel Rolnik (2010, 2009, 2008, 1997).
Mots cls : Typologie - logement social - Programa Minha Casa Minha Vida - habitation populaire - Caixa Econmica Federal - logement rural - habitat.
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SUMRIO
Lista de Figuras ......................................................................................................... x Lista de Quadros ...................................................................................................... xi Lista de Tabelas ....................................................................................................... xi Lista de Organogramas ........................................................................................... xi Lista de Apndices .................................................................................................. xii Lista de Siglas ........................................................................................................ xiii
Apresentao ................................................................................................................... 15
Introduo ........................................................................................................................ 16
Captulo 01 A HABITAO SOCIAL NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO NORTE: REVISO CRITICA .......................................................................................................... 25
1. Projetando a habitao de interesse social: conceitos e processos ...................... 27 2. Estado e beneficirio ............................................................................................ 44 3. Dficit habitacional e financiamento: rural / urbano .............................................. 48
Captulo 02 Os Interesses da habitao: viso social de Estado ................................... 53
1. Os agentes ........................................................................................................... 53 2. O financiador - a CEF ........................................................................................... 59 3. Programa de Acelerao do Crescimento e Programa Minha Casa Minha Vida .. 65 4. Elaborao de projetos poltica nacional para habitao de interesse social / Lei de assistncia tcnica .................................................................................................. 73
Captulo 03 DUAS EXPERIENCIAS DE HIS RURAL NO RN: PERSPECTIVAS DA MORADIA ENQUANTO HABITAT ................................................................................... 78
1. Unidades habitacionais em meio rural, experincia de assessoria tcnica do GERAH/UFRN com o movimento social MST .............................................................. 81 2. Conflitos ............................................................................................................... 98 3. Reflexes sobre a experincia rural ................................................................... 101
Captulo 04 TIPOLOGIAS, RESULTADO DE UM PROCESSO ................................... 102
1. Repetindo velhos erros: BNH versus CEF .......................................................... 102 2. A experincia de assistencia tecnica no campo .................................................. 107 3. Tipologia e polticas ............................................................................................ 109
Consideraes finais ...................................................................................................... 119
Apndice ........................................................................................................................ 127
Referncias Bibliogrficas e Documentais ..................................................................... 141
Anexos ........................................................................................................................... 147
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Lista de Figuras FIGURA 1 REPETIO DE TIPOLOGIAS - UNIDADES HABITACIONAIS DO PROGRAMA MINHA
CASA, MINHA VIDA NO RESIDENCIAL CASAS DO PARQUE, EM CAMPINAS (SP). ............. 25 FIGURA 2 PADRO ADOTADO PELO GOVERNO DE ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE,
EM PROGRAMAS DE CONJUNTOS HABITACIONAIS DE HABITAO DE INTERESSE SOCIAL. BAIRRO INDUSTRIAL ZONA NORTE - NATAL / RN. ................................................. 27
FIGURA 3 - MORFOLOGIA DE CONJUNTOS HABITACIONAIS PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA - CONJUNTO PLANALTO I - NATAL / RN. ........................................................................ 28
FIGURA 4 - CONJUNTO RESIDENCIAL PREFEITO MENDES MORAES (PEDREGULHO, 1947) .. 30 FIGURA 5 FOTOGRAFIA DE COZINHA NO PR-ASSENTAMENTO BERNARDO MARIM - EM
PUREZA RN ................................................................................................................................. 34 FIGURA 6 - ATIVIDADES EXTERIORES EM ASSENTAMENTO - CRIANA TOMANDO BANHO .. 35 FIGURA 7 - LIXO NA PORTA DA CASA. BAIRRO FELIPE CAMARO - NATAL / RN ...................... 36 FIGURA 8 - VILA OPERRIA GAMBOA (1933) - ZONA PORTURIA DO RIO DE JANEIRO - BRASIL
...................................................................................................................................................... 41 FIGURA 9 PAINEIS DOS MODELOS DE IAPIS, ELABORADOS PELO ARQUITETO CARLOS
FREDERICO FERREIRA PARA O CONGRESSO PANAMERICANO DE ARQUITETOS, REALIZADO EM 1940. ................................................................................................................. 42
FIGURA 10 PROPAGANDA ELEITORAL EM REA DE ASSENTAMENTO MARIA DA PAZ, DURANTE A OBRA DE CONSTRUO DA AGROVILA - JOO CMARA / RN ...................... 47
FIGURA 11 - PROJETO DE AGROVILA ELABORADO PELO INCRA - JOO CMARA / RN ......... 57 FIGURA 12 PROJETO DE HABITAT ELABORADO PELO GERAH/UFRN - BERNARDO MARIM -
PUREZA / RN ............................................................................................................................... 57 FIGURA 13 LIDERANA DO MOVIMENTO SOCIAL URBANO: WELLINGTON BERNARDO,
COORDENADOR DO MLB E CMP / RN EM NATAL. ................................................................. 58 FIGURA 14 - LIDERANA DO MOVIMENTO SOCIAL RURAL: PEDRINHO (PEDRO FERREIRA),
EX-COORDENADOR TCNICO DO MST NO RIO GRANDE DO NORTE. ............................... 58 FIGURA 15 - PROGRAMA DE TECNOLOGIA DE HABITAO HABITARE. ..................................... 64 FIGURA 16 PLANHAB ....................................................................................................................... 67 FIGURA 17 - DIFERENA ENTRE O ATENDIMENTO DO PACOTE MINHA CASA, MINHA VIDA E O
PERFIL DO DFICIT HABITACIONAL. ....................................................................................... 68 FIGURA 18 ESTUDO DA TIPOLOGIA ADOTADA PELA SEHARPE (MUNICPIO DE NATAL) E A
SETHAS (ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE). .................................................................. 71 FIGURA 19 - COMPOSIO DA MESA DO SEMINRIO DE ASSISTNCIA TCNICA - MAIO 2009 -
UFRN - NATAL / RN ..................................................................................................................... 73 FIGURA 20 - DA ESQUERDA PARA A DIREITA, NGELO ARRUDA - PRESIDENTE DA FNA E O
DEPUTADO ZZU NO SEMINRIO DE ASSISTNCIA TCNICA - MAIO 2009 - UFRN - NATAL / RN. ................................................................................................................................. 76
FIGURA 21 MAPA RIO GRANDE DO NORTE LOCALIZAO DOS ESTUDOS DE CAMPO ....... 78 FIGURA 22 - CAPA DO PROCESSO TCNICO DO ASSENTAMENTO ROSELI NUNES NA
GIDUR/CEF - RN. ......................................................................................................................... 82 FIGURA 23 FOTOGRAFIA SATLITE DA LOCALIZAO DOS DOIS ASSENTAMENTOS
ESTUDADOS EDITADA A PARTIR DO GOOGLE EARTH, EM 14/08/09. ................................. 83 FIGURA 24 - TIPOLOGIA ADOTADA PELO GERAH PARA O ASSENTAMENTO ROSELI NUNES. 85 FIGURA 25- MAQUETE 3D SOBRE FOTOGRAFIA SATLITE GEO-REFERENCIADA, DA
IMPLANTAO DO PROJETO DE UNIDADES HABITACIONAIS RURAIS NO ASSENTAMENTO ESTUDADO - BERNARDO MARIM - EM PUREZA RN. .............................. 86
FIGURA 26- PLANTA DO ASSENTAMENTO - ROSELI NUNES - EM IELMO MARINHO RN. .......... 87 FIGURA 27- PLANTA DO PROJETO DO HABITAT - ROSELI NUNES - EM IELMO MARINHO RN. 88 FIGURA 28- FOTOGRAFIA DA ESTRADA ESTADUAL (RN-064) QUE LEVA AO ASSENTAMENTO
ROSELI NUNES MUNICPIO DE IELMO MARINHO RN - 2008. .......................................... 92 FIGURA 29 RESPONSVEL DO PROJETO SOCIAL NO CURSO DE MUTIRO NO
ASSENTAMENTO BERNARDO MARIM MUNICPIO DE PUREZA RN - 2008. ................... 95 FIGURA 30 - FOTOGRAFIA DA ENTRADA DO ASSENTAMENTO ROSELI NUNES MUNICPIO
DE IELMO MARINHO RN. ........................................................................................................ 96 FIGURA 31 - FOTOGRAFIA DE UMA REUNIO DA EQUIPE TCNICA DA UFRN COM OS
ASSENTADOS NO ASSENTAMENTO BERNARDO MARIM MUNICPIO DE PUREZA RN. ...................................................................................................................................................... 96
FIGURA 32 - MODELO DE FICHA DE ACOMPANHAMENTO DA OBRA: PLS CEF /GIDUR ........ 97
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xi
FIGURA 33 FOTOGRAFIA DA ETAPA DE ESCAVAO DAS NO ASSENTAMENTO BERNARDO MARIM MUNICPIO DE PUREZA RN. ................................................................................... 99
FIGURA 34 FOTOGRAFIA DA ETAPA DE BALDRAME NO ASSENTAMENTO ROSELI NUNES MUNICPIO DE IELMO MARINHO RN. .................................................................................... 99
FIGURA 35 - FOTOGRAFIA DOS ASSENTADOS NA COLHEITA DO MILHO EM PROCESSO DE MUTIRO, ASSENTAMENTO MARIA DA PAZ JOO CMARA RN. ................................ 100
FIGURA 36 - INSTRUO NORMATIVA N22 DE 21 DE JULHO DE 2011 - RENUMERAO DA INSTITUIO FINANCEIRA. ..................................................................................................... 103
FIGURA 37 - TIPOLOGIA DE APARTAMENTO SUGERIDA NA CARTILHA DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA. - SEM ESCALA ......................................................................................... 105
FIGURA 38 - PROJETO DA CEF PADRO PARA CASAS POPULARES DE 42 M2 - JANEIRO 2007. .................................................................................................................................................... 109
FIGURA 39 URBANO: MODELOS DE TIPOLOGIAS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE HABITAO DE NATAL / RN. ......................................................................................................................... 110
FIGURA 40 RURAL: MODELO DE TIPOLOGIAS DO INCRA PARA HABITAO DE INTERESSE SOCIAL NO CAMPO. ................................................................................................................. 110
FIGURA 41 - TAMANHO MDIO DE DOMICLIO - PROJEO PARA O BRASIL DE 1993 A 2023111 FIGURA 42 - MODELO COMUM DE TIPOLOGIA DE CASA INDIVIDUAL USADO PELA
SEHARPE/RN E SETHAS/RN - SEM ESCALA. ........................................................................ 112 FIGURA 43 - ESPECIFICAES PARA TIPOLOGIA DE CASA INDIVIDUAL EXIGIDAS PELA CEF
.................................................................................................................................................... 114
Lista de Quadros QUADRO 1 - REUNIES E DOCUMENTOS INTERNACIONAIS SOBRE A HABITAO SOCIAL .. 40 QUADRO 2 - OS TRS PRINCPIOS BSICOS DO MRU .................................................................. 43 QUADRO 3 - PADRO DE REFERNCIA DE CUSTO URBANO ....................................................... 51 QUADRO 4 - PADRES DE REFERNCIA DE CUSTO PARA SOLUES PADRO DE MORADIA
RURAL, AGRUPADAS POR ESTADOS ...................................................................................... 52 QUADRO 5 - LINHAS DE AO DO PROGRAMA DE TECNOLOGIA DE HABITAO HABITARE. 64
Lista de Tabelas
TABELA 1 - COMPONENTES DO DFICIT HABITACIONAL URBANO E RURAL, 2005 .................. 49 TABELA 2 - VALORES DE FINANCIAMENTO PARA O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA 2
...................................................................................................................................................... 50 TABELA 3 PREO UNITRIO PARA CASA NO MEIO RURAL E URBANO ...................................... 50
Lista de Organogramas ORGANOGRAMA 1 - ESTRUTURA DOS ATORES NA REA DE HABITAO DO MINISTRIO
DAS CIDADES. FONTE: POLTICA NACIONAL DE HABITAO - 4 - CADERNOS MCIDADES HABITAO, MINISTRIO DAS CIDADES, BRASLIA, MAIO 2006. ......................................... 70
ORGANOGRAMA 2 - ESTRUTURA DA ASSISTNCIA TCNICA PROPOSTO NO PLANHAB ....... 75 ORGANOGRAMA 3 - ATORES DO PROCESSO. ............................................................................... 89
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Lista de Grficos
GRFICO 1 - DFICIT HABITACIONAL - 2008 - DISTRIBUIO DO DFICIT HABITACIONAL, POR SITUAO DE DOMICLIO, SEGUNDO REGIES GEOGRFICAS - BRASIL - 2008. ... 48
GRFICO 2 - PERCENTUAL DE MUNICPIOS COM CONSELHO MUNICIPAL DE HABITAO E COM FUNDO MUNICIPAL DE HABITAO, SEGUNDO AS GRANDES REGIES - 2005/2009 ...................................................................................................................................................... 54
GRFICO 3 - VARIAO DO PREO DO CIMENTO NO ASSENTAMENTO BERNARDO MARIM E ROSELI NUNES, DE JANEIRO DE 2008 A NOVEMBRO DE 2009. .......................................... 91
Lista de Apndices APNDICE 1 MAQUETE ELETRNICA DO MODELO DE CASA INDIVIDUAL USADO PELO
GOVERNO DE ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NO MEIO RURAL. .......................... 127 APNDICE 2 - PLANTA DA UNIDADE HABITACIONAL DO ASSENTAMENTO ROSELI NUNES -
IELMO MARINHO. ...................................................................................................................... 128 APNDICE 2 - CORTES DA UNIDADE HABITACIONAL DO ASSENTAMENTO ROSELI NUNES -
IELMO MARINHO - PROJETO DA ARQUITETA VIVIANE -GERAH ........................................ 129 APNDICE 4 - FACHADAS DA UNIDADE HABITACIONAL DO ASSENTAMENTO ROSELI NUNES -
IELMO MARINHO ....................................................................................................................... 129 APNDICE 5 - FACHADAS DA UNIDADE HABITACIONAL DO ASSENTAMENTO ROSELI NUNES -
IELMO MARINHO ....................................................................................................................... 130 APNDICE 6 - PLANTA DA UNIDADE HABITACIONAL DO ASSENTAMENTO BERNARDO MARIM -
PUREZA ..................................................................................................................................... 132 APNDICE 7 - CORTES DA UNIDADE HABITACIONAL DO ASSENTAMENTO BERNARDO MARIM
- PUREZA ................................................................................................................................... 133 APNDICE 8 - ESPECIFICAES PARA TIPOLOGIA DE CASA INDIVIDUAL EXIGIDAS PELA CEF
2009 ......................................................................................................................................... 133 APNDICE 9 - ESPECIFICAES PARA TIPOLOGIA DE CASA INDIVIDUAL EXIGIDAS PELA CEF
.................................................................................................................................................... 135 APNDICE 10 - PROGRAMAS DE FINANCIAMENTO DA SECRETARIA NACIONAL DA
HABITAO ............................................................................................................................... 136
Lista de Anexos
ANEXO 1 - LEI N 11.977, DE 7 DE JULHO DE 2009. ...................................................................... 147 ANEXO 2 - EMENTRIO DA LEGISLAO DO PMCMV 2 .............................................................. 153
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Lista de Siglas BNH BANCO NACIONAL DA HABITAO
CAPES COORDENAO DE APERFEIOAMENTO DE PESSOAL DE NVEL SUPERIOR
CEF CAIXA ECONMICA FEDERAL
CMP CENTRAL DOS MOVIMENTOS POPULARES
FNRU FRUM NACIONAL DA REFORMA URBANA
FNA FEDERAO NACIONAL DOS ARQUITETOS
FNHIS FUNDO NACIONAL DE HABITAO DE INTERESSE SOCIAL
FNRU FRUM NACIONAL DA REFORMA URBANA
GERAH GRUPO DE ESTUDOS EM REFORMA AGRARIA E HABITAT
GEHAU GRUPO DE ESTUDOS HABITAO ARQUITETURA E URBANISMO
GIDUR GERNCIA DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO URBANO ou GERNCIA DE FILIAL DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO URBANO
HIS HABITAO DE INTERESSE SOCIAL
IAB INSTITUTO DOS ARQUITETOS DO BRASIL
IAB / RN INSTITUTO DOS ARQUITETOS DO BRASIL SECO RIO GRANDE DO NORTE
IBAM INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAO MUNICIPAL
IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA
IDEMA - INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E MEIO AMBIENTE
INCRA - INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAO E REFORMA AGRRIA.
MLB MOVIMENTO DE LUTA DOS BAIRROS, VILAS E FAVELAS
MCidades MINISTRIO DAS CIDADES
MCMV MINHA CASA, MINHA VIDA
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MRU MOVIMENTO PELA REFORMA URBANA
MST MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA
PAC PROGRAMA DE ACELERAO DO CRESCIMENTO
PEC PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIO
PL PROJETO DE LEI
PLANHAB PLANO NACIONAL DE HABITAO
PND PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
PNH PLANO NACIONAL DE HABITAO
PPGAU PROGRAMA DE PS-GRADUAO DE ARQUITETURA E URBANISMO
SERFHAU SERVIO FEDERAL DE HABITAO E URBANISMO
SFH SISTEMA FEDERAL DE HABITAO
SM SALRIO MNIMO
SNHIS SISTEMA NACIONAL DE HABITAO DE INTERESSE SOCIAL
UH UNIDADES HABITACIONAIS
UFRN UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
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Apresentao
Esta dissertao de mestrado tem por tema a habitao de interesse
social e sua relao com a diversificao tipolgica, sintetizando experincias
precedentes do pesquisador na rea, tenham sido elas de avaliao, planejamento,
projeto ou interveno. Desde a monografia de concluso de graduao de curso
enfoquei a habitao de interesse social, analisando a re-locao de uma favela de
origem cabo-verdiana em Lisboa; a Pedreira dos Hngaros (MACHADO: 2000). Em
minha experincia profissional francesa colaborei entre 1993 e 2004 como estagirio
e depois como arquiteto, em diversos escritrios de arquitetura com produo para
as agncias francesas de habitao social, nomeadas Office H.L.M.. Tambm me
aproximei dessa temtica durante uma misso humanitria realizada entre 2000 e
2001 em uma ONG internacional francesa- Premire Urgence- tendo como objetivo
a reconstruo de edifcios de habitao social destrudos durante a guerra civil da
Abkhazia de 1993 (Gergia, ex-URSS). Mais recentemente no Rio Grande do Norte,
atuei desde 2005 como responsvel tcnico e instrutor na construo de agrovilas
(em processo de mutiro assistido) junto ao GERAH (PPGAU/ UFRN).
Em paralelo, tive acesso a uma viso macro das questes de
planejamento, com a participao como arquiteto urbanista na equipe de elaborao
do Plano Diretor do municpio de So Miguel do Oeste - 2008. Tambm participei em
equipe com alunos do PPGAU/UFRN, do concurso Caixa - IAB para Habitao
Social, em 2004.
Para finalizar, mais recentemente (2011), assumindo a funo de Diretor
de Planejamento em Programas de Habitao na Secretaria Municipal de Habitao
(SEMHAB) da Prefeitura de Joo Pessoa, estou em contato direto com as diferentes
realidades que enquadram todo o mecanismo de produo de Habitao de
Interesse Social, nas diferentes instncias que se integram na sua cadeia de
produo.
Durante as experincias acima relatadas constantemente me defrontei com
os processos de elaborao e produo da habitao social, seus reais impactos
nas diferentes escalas da cidade e sua relao com a sociedade. Assim minha
dissertao busca sintetizar uma reflexo, aplicada nesse caso, s tipologias de
habitao de interesse social no RN.
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16
Introduo O direito cidade no o direito de ter e eu vou usar uma expresso do ingls as migalhas que caem da mesa dos ricos. Todos devemos ter os mesmos direitos de construir os diferentes tipos de cidades que ns queremos que exista. (David Harvey - Palestra de abertura do Frum Social de Belm, 29 de janeiro de 2009, na Tenda da Reforma Urbana).
Esta dissertao parte de uma constatao emprica: a similitude das
tipologias edilcias e a morfologia dos conjuntos na produo de habitao de
interesse social em programas de governo (federal, estadual e municipal) no Rio
Grande do Norte contemporneo, onde geralmente encontramos para a unidade
habitacional uma tipologia de base retangular e um teto de duas guas.
Contextualizando a gesto dos programas de habitao de interesse
social a partir da criao do Ministrio das Cidades (2003), acompanhamos
enquanto responsvel tcnico duas experincias de produo de habitao de
interesse social realizadas em meio rural neste estado entre os anos de 2008 e
2010, buscando compreender o processo de construo em sua totalidade, ou seja;
como uma produo tcnica, social, cultural, poltica e econmica com fundamento e
repercusso histrica.
Como hiptese central, inferimos que os parmetros estabelecidos pelo
principal rgo de gesto e financiamento oficial (a Caixa Econmica Federal) para
aprovao de projetos de habitao de interesse social condiciona a sua repetio
tipolgica. Dedicando-nos anlise das duas observaes em meio rural,
buscaremos revelar como a gesto e a administrao dos projetos arquitetnicos e
urbansticos da CEF1
No pretendemos neste trabalho fazer uma lista exaustiva de todos os
normativos tcnicos estabelecidos pela CEF e Governo Federal para financiamento
de habitao de interesse social; apenas citamos alguns de seus aspectos que mais
se destacaram em nossa pesquisa de campo, buscando refletir acerca das
possibilidades de atuao para a arquitetura, e o que elas implicam em relao a
influenciam o processo projetual, desencadeando a repetio
tipolgica que pode ser constatada na maioria dos programas locais no Rio Grande
do Norte. Para tal, devemos inicialmente identificar e analisar o processo de
financiamento para a elaborao dos projetos de habitao de interesse social (HIS).
1 Caixa Econmica Federal.
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17
preocupao e dever do profissional arquiteto, de entregar um produto final de
qualidade. Neste sentido ser fundamental relatar os processos que levaram
experincia diferenciada da construo de HIS2 em dois assentamentos rurais no
Rio Grande do Norte, protagonizados pela UFRN3 (atravs do GERAH4), CEF,
INCRA5
2 Habitao de Interesse social. 3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 4 GERAH: Grupo de Estudos em Reforma agrria e Habitat, do departamento de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 5 INCRA: Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria.
e Movimento dos Sem Terra. Diante dos condicionantes das agencias
financiadoras, qual o diferencial desta experincia? Inscritos em programas de
governo, quais as possibilidades de realizar um projeto que atente para todos os
elementos que compe a complexa tarefa de elaborar um projeto de habitao de
interesse social?
Sabemos que o projeto no se limita concepo da casa (tecnicamente
denominada de unidade habitacional), mas ela inclui tambm parmetros mnimos
de conforto fsico e ambiental, para os beneficirios, integrando a noo de habitat,
quais sejam, infra-estrutura bsica, servios bsicos (escola, postos de sade,
transporte), saneamento ambiental, equipamentos para lazer e espaos comerciais
para criao de gerao de renda, promoo da sociabilidade e do encontro festivo,
entre outros elementos que possam melhor a qualidade de vida dos indivduos, e
sobretudo que promovam a melhora de suas auto-estimas.
A pesquisa de campo apresentada no tem por objetivo um relato detalhado
da experincia vivida atravs do processo inovador descrito, mas sim de servir como
levantamento ilustrativo para os diferentes pontos analisados e criticados, na medida
em que foi atravs da vivncia nesta experincia de construo de habitao de
interesse social que constitumos parte do saber tcnico sobre o assunto, e
sobretudo, que nos deparamos com as barreiras criadas atravs de atos normativos
internos da CEF, que reduziam a possibilidade de trazer respostas diferenciadas que
poderiam ofertar melhorias em termo de qualidade para o conjunto do processo.
Em contraponto, tais experincias revelam a ateno pela qualidade no
processo de elaborao de projetos atravs de mecanismos de auto-gesto tendo a
pesquisa-ao como mecanismos participativos.
-
18
Nosso objetivo principal analisar os mecanismos de gesto e financiamento
da CEF, tendo a experincia rural como o domnio emprico onde se d a
observao deste processo. Assim, no buscamos aprofundar as especificidades do
habitat em meio rural reforando as conexes deste com a realidade urbana, pois ao
longo da pesquisa revelou-se a semelhana de tratamento jurdico entre estes dois
universos, como o reflexo de uma gesto excessivamente distanciada da realidade
na qual se aplica, e que acarreta graves conseqncias nos projetos de HIS tanto na
cidade como no campo.
Nossos objetivos especficos so: a) analisar os fatores que intervm na
produo da habitao de interesse social; b) reconhecer os procedimentos tcnico-
administrativos do rgo de financiamento dos projetos, principalmente a Caixa
Econmica Federal no Rio Grande do Norte; c) refletir sobre os processos de
escolha de tipologias dominantes e repetitivas; d) compreender as possibilidades de
diversificao tipolgica como as observadas em dois assentamentos rurais do RN.
A pesquisa aqui empreendida de cunho qualitativo, baseada em anlise
de documentos oficiais, assim como de observao direta e pesquisa participante
com os diversos atores envolvidos no processo.
Na presente pesquisa nos deparamos com o seguinte problema no
perodo de pesquisa documental e bibliogrfica: ao colocar o tema habitao de
interesse social nos motores de busca da produo cientfica da CAPES6
Em entrevistas informais realizadas junto a representantes da CEF
,
encontramos um numero significativo de trabalhos. No entanto, cerca de noventa por
cento deles remete a anlises sobre sistemas construtivos, materiais e eficincia
energtica de habitaes sociais. No encontramos ali pesquisas sobre a tipologia
das habitaes e a adequao ao numero de pessoas por famlia, por exemplo. Este
tipo de trabalho s vem sendo desenvolvido e encontrado em concursos pblicos
para profissionais, onde so aplicadas solues para situaes existentes, como o
caso do Concurso CAIXA / IAB.
7
6 Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior. 7 Como por exemplo o gerente operacional, o arquiteto do GIDUR/RN (Gerncia de Filial de Apoio ao Desenvolvimento Urbano) , a Chefe do GIDUR/RN,
,
percebemos uma postura corporativista de defesa rigorosa das regras estabelecidas
-
19
nos normativos do rgo8
Nossos principais referenciais tericos so trs pesquisadores brasileiros
que propem uma reviso do atual sistema de produo de habitao social:
Ermnia Maricato (FAU USP), que enfatiza a questo no perodo BNH (1964-1986),
e que em documentos recentes chama a ateno sobre a reproduo do mesmo
esquema produtivo com a CEF; Nabil Bonduki (FAU USP), que trabalhou na
elaborao do PLANHAB (Plano Nacional de Habitao), e defende a criao de
. Nessas condies, seria difcil obter destes informantes a
neutralidade necessria para a composio de uma crtica metodolgica que
respondesse aos questionamentos suscitados pela presente pesquisa. Para Michel
Thiollent, a crtica epistemolgica de tcnicas to comuns como o questionrio
muito importante na medida em que, ainda hoje, muitos pesquisadores admitem sem
discusso o uso dessas tcnicas como garantia de neutralidade ou de objetividade.
(1985, p.41).
Optamos assim por um mtodo de observao direta associado
pesquisa documental, na qual as diretrizes e princpios normatizadores se
expressam de forma explcita. De outro lado, a observao participante (na condio
de Responsvel Tcnico e Instrutor do curso de construo civil para os
assentados), nos permite analisar as estratgias de ao adaptadas s
normatizaes da Caixa e do Ministrio das Cidades, assim como a percepo
subjetiva (raramente explicitada) do corpo tcnico e dirigentes da Caixa Econmica.
Aqui, a pesquisa de campo fornece dados observao direta, possibilitando
descrever e analisar os processos aqui relatados. Para a anlise das conseqncias
de sua execuo, a fonte principal de pesquisa sero os dados documentais, que
permitiro demonstrar a correlao direta entre diretrizes definidas pelos diferentes
artigos, normas, leis, portarias e sua projeo nos partidos arquitetnicos e
urbansticos adotados.
O recorte temporal da pesquisa tem como limite inicial a criao do
Ministrio das Cidades (2003), considerado como marco que inscreve a ruptura
nacional com o perodo de recesso da habitao de interesse social. Ele se
estende at 2011, data at a qual tivemos a oportunidade de participar de uma
experincia inovadora, no meio rural, que nos servir de estudo de campo.
8 Seguindo as recomendaes do Cdigo de tica da Caixa (s/ data) entregue a cada funcionrio ao assumir sua funo na entidade, e onde se exige sigilo sobre assuntos internos. No item Compromisso, podemos ler: Preservamos o sigilo e a segurana das informaes.
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20
uma entidade pblica com a misso especfica e nica de gesto da produo de
habitao social; e Raquel Rolnik (FAU- USP), relatora nacional sobre as questes
da habitao social junto ONU, que em recentes artigos alerta o poder pblico
sobre as possveis derivas do atual programa nacional de habitao Minha Casa,
Minha Vida. Outros autores marcam a construo terico-metodolgica do problema
de nossa dissertao. Propomos aqui uma breve aproximao destes,
apresentando-os no debate das questes que iro compor nosso trabalho.
Destacaremos em seguida os pontos abordados em cada capitulo.
Segundo Ban Ki-moon9 no prefcio ao Relatrio Anual10 da UN-Habitat,
um dos maiores desafios urbanos do sculo XXI equacionar o desenfreado
desenvolvimento das cidades, associando o comprometimento da qualidade
ambiental, o desaparecimento de aglomeraes rurais e o crescimento dos
mercados informais. Para este Secretrio Geral da ONU, resta constatar que nesse
aspecto o planejamento urbano contemporneo no soube resolver esses
problemas, trazendo solues que ao contrrio, s agravaram o quadro11
Tal questo vem sendo discutida tambm por David Harvey (1982), que
enfoca a grande rotatividade do capital na lgica capitalista neo-liberal, comprimindo
a relao espao/ tempo. Segundo ele, tal princpio torna cada vez mais difcil a
- como os
bolses de pobreza presentes nas periferias das grandes cidades em todo mundo.
Uma das principais chaves dessa questo diz respeito ao planejamento das polticas
locais de habitao.
Neste mbito, vrios so os modelos implantados calcados
predominantemente no sistema neo-liberal de acesso ao solo, disponibilizando aos
setores sociais economicamente mais abastados os terrenos em proximidade dos
centros urbanos, ou nas suas reas mais valorizadas, relegando para as camadas
de baixa renda os terrenos perifricos cidade, pouco valorizados ou de baixo valor
comercial (Abramo, 2010).
9 Secretrio Geral da ONU, mandato de 2007 a 2011. 10 PLANNING SUSTAINABLE CITIES - GLOBAL REPORT ON HUMAN SETTLEMENTS 2009 11 The major urban challenges of the twenty-first century include the rapid growth of many cities and the decline of others, the expansion of the informal sector, and the role of cities in causing or mitigating climate change. Evidence from around the world suggests that contemporary urban planning has largely failed to address these challenges. Urban sprawl and unplanned periurban development are among the most visible consequences, along with the increasing vulnerability of hundreds of millions of urban dwellers to rising sea levels, coastal flooding and other climate-related hazards. (2009, p. 7)
-
21
adoo de mecanismos que possam controlar o avano desenfreado do capital na
dinmica urbana e rural, prevalecendo crescentes incertezas entre os especialistas
mundiais sobre a questo, j que as atuais intervenes urbansticas so pontuais e
emergenciais, ou so mega-operaes nas quais prevalece o resultado avaliado
atravs da quantificao das solues, sem nenhuma preocupao com o fator
humano e social.
Ainda para Harvey (1982), essa dinmica funciona como um enorme rolo
compressor atravs da globalizao dos grandes empreendimentos, que investem
na padronizao dos mecanismos internacionais, acedendo assim a novos
mercados de produo e venda de produtos, especialmente nos pases pobres ou
em desenvolvimento.
Integrando esse processo internacional, o mercado imobilirio brasileiro
tem recebido grandes investidores que buscam no pas um sistema de alta
rentabilidade e, sobretudo, de total garantia, j que o investimento imobilirio de
grande previsibilidade e segurana, podendo constituir um investimento de longo
prazo que aumente sua rentabilidade- e provocando um movimento especulativo.
Para Ermnia Maricato (1987, p.20), A habitao entretanto uma mercadoria
especial no Modo de Produo Capitalista [...], seu preo no cai na mesma medida
que as outras mercadorias da cesta de consumo do trabalhador.
Henri Lefebvre (1970) chama a ateno para esta relao do habitante
com a habitao, lembrando aos produtores de espao que a esta ltima no se
restringe moradia, a casa. Ele destaca a importncia nos projetos dos espao de
lazer e de vida comunitria, to importantes para a vivncia do individuo; o todo
constituindo o habitat.
Retomando o debate acerca da problemtica da habitao social no
contexto internacional, evidenciamos que o sistema capitalista contemporneo
(inscrito numa ordem neo-liberal) define estratgias e leituras polticas da habitao
social, cujo impacto repercute tambm no Brasil:
Construmos um mundo muito desigual, onde mais de um bilho de pessoas vivem em condies de absoluta pobreza. [...] A desigualdade da distribuio de renda dramtica: 1,0% da populao detm a mesma quantidade de recursos que os 50% mais pobres; e os 20% mais ricos possuem renda 33 vezes maior que os 20% mais pobres. Com base no Censo de 2000, o dficit habitacional estimado de 6,7 milhes de
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22
domiclios, sendo 5,4 milhes na rea urbana, sendo que 91,6% desse dficit urbano composto por famlias com renda de at cinco salrios mnimos. (Peixoto Filho, 1996, p.04).
Podemos completar este alerta sobre a desigualdade social e habitacional
no Brasil com outro, referente lgica atual em termos de planejamento territorial, e
que se expressa na diferena crescente entre o meio urbano e o meio rural, este
ltimo esvaziado em termos demogrficos a nvel mundial, e atingindo grandes
propores, pois na maioria dos pases mais de metade da populao local
urbana.
Buscando enfrentar o desafio habitacional brasileiro, o governo federal
lanou em julho de 200912 o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), que
absorveu grande parte dos programas para o financiamento da habitao tanto na
rea rural quanto na rea urbana, e que tem a Caixa Econmica Federal13
12 LEI N 11.977, DE 7 DE JULHO DE 2009. 13 Trs termos: CEF, Caixa Econmica Federal, ou CAIXA (sem aspas) surgem como sinnimos em diferentes contextos ao longo desta dissertao, como diferentes designaes de uma mesma instituio bancria: a Caixa Econmica Federal. Empregaremos as trs indistintamente, pois no h diferena no sentido como esta instituio usualmente referida pelos seus parceiros, beneficirios, clientes ou funcionrios.
como
principal rgo financiador. Na sua Cartilha, elaborada com o objetivo de instruir os
interessados neste programa de governo, est contida uma detalhada Ficha de
elaborao de projetos para habitao de interesse social, onde so oferecidas
apenas duas propostas tipolgicas; uma para apartamento com quarenta e dois
metros quadrados (42 m2) e outra para casa individual, com trinta e cinco metros
quadrados (35 m2).
Face reduzida proposio da Caixa, analisaremos duas respostas
arquitetnicas de projetos de habitao social no Rio Grande do Norte em rea rural,
apresentando a dinmica da adequao de uma gama tipolgica de dimenses
exguas em sua relao com a demanda social. Considerando que o tamanho e o
tipo (casa e apartamento) no so os nicos parmetros estabelecidos pela Caixa, a
questo central da nossa pesquisa discutir como a habitao social se viabiliza na
atual estrutura da poltica da habitao de interesse social na sua relao com
aspectos tipolgicos.
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23
Para tal, como compreender a relao destas condicionantes e
parmetros institucionais com as tipologias adotadas? Tal similitude verificada nas
tipologias edilcias da produo atual de habitao social em programas de governo
no Rio Grande do Norte ser principalmente ou unicamente por fatores de ordem
econmica, com uma lgica capitalista da produo do espao se expressando
atravs da promoo imobiliria, ou pelo imperativo da rentabilidade, reduzindo o
suprfluo da reflexo e pesquisa, necessrios para propor novas formas de
tipologia? Sero fatores de ordem poltica, como escolhas ligadas a favorecimentos
polticos, relacionados a prticas clientelsticas? Trata-se de fatores de ordem social
e culturais, sendo que neste caso os hbitos culturais locais levam os tcnicos a
uma resposta arquitetnica semelhante? Neste caso, qual a resposta da sociedade
civil e dos beneficirios? Verificaremos tambm se convm atribuir essa repetio
tipolgica a fatores tcnicos condicionados pelas exigncias da Caixa Econmica
Federal, que no seu documento interno, o Manual de Assistncia Tcnica, define as
tipologias indicando inclusive os processos de construo desses modelos com
precisos detalhamentos para execuo, tais como dimenses de maaneta e
dobradias de porta. Acessvel apenas aos tcnicos do banco, o objetivo principal do
documento seria de servir de suporte para a anlise e aprovao de projetos, mas
evidncias apontam que eles se constituam como elemento principal para a
aprovao final que permite a liberao dos recursos.
No primeiro captulo, sugerimos uma abordagem sobre os principais conceitos
que envolvem a questo da habitao de interesse social no Brasil. Iremos propor
certas definies dos principais termos a serem usados ao longo do trabalho,
baseados em anlises de H. Lefbvre (1970), D. Harvey (2009; 1982), M. Mauss
(1974), M. Lanna (2000), R. Da Matta (1987), N. Bonduki (1998) e E. Maricato (2000;
1987). A definio desses conceitos ser acompanhada de uma anlise de
diferentes problemas relacionados questo da habitao social, permitindo uma
melhor compreenso da trama na qual est envolvido o debate sobre o tema.
No segundo captulo sero apresentados os principais atores envolvidos na
temtica da pesquisa, como tambm sero apresentadas as estruturas atuais do
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complexo tecido da concepo, elaborao, execuo e financiamento da produo
habitacional para populaes desfavorecidas.
O terceiro captulo ir tratar da pesquisa de campo, onde sero apresentados
dois estudos de casos no meio rural dos quais protagonizamos. Essas experincias
nos motivaram descoberta das inconsistncias entre uma realidade a ser posta em
prtica em campo, e todos os mecanismos de gesto que permitem ou trazem
entraves a essa aplicabilidade. Elas tambm nos possibilitaram visualizar as
potencialidades da autogesto por mutiro assistido, como alternativa tipologia-
padro da CEF.
O captulo quatro tem um carter conclusivo, permitindo evidenciar os
principais problemas identificados ao longo de todo o estudo realizado,
relacionando-os aos diferentes fatores descritos, e mostrando o seu impacto na
repetio tipolgica e morfolgica, e na qualidade das habitaes produzidas.
As consideraes finais sintetizam nossas reflexes apontando os modos
atravs do qual a sistemtica da Caixa induz a uma repetio tipolgica, analisando
as conseqncias desta gesto/ financiamento no apenas para a tipologia, como
tambm para os beneficirios, empresas de construo, profissionais envolvidos,
movimentos sociais, rgos gestores e instituies pblicas. Finalmente, discutimos
como os programas de governos dirigidos pelo Ministrio das Cidades tem se
distanciado das demandas histricas dos setores populares e dos movimentos
sociais, principalmente no que se refere ao controle e gesto participativa dos
planos de incremento habitao social.
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25
Captulo 01 A HABITAO SOCIAL NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO NORTE: REVISO CRITICA
Com a criao do mais recente programa nacional para habitao social
no Brasil, o Programa Minha Casa, Minha Vida14
Dentro do mesmo programa foram absorvidos todos os antigos programas de
financiamento de habitao social, com compra em sistema de crdito ou a fundo
perdido
(PMCMV), assistimos a uma
enorme profuso e confuso de significados para o termo que define esse tipo de
habitao.
15, reunindo tambm diferentes nveis de renda, j que o programa engloba
faixas de renda divididas em trs grupos: 0 a 3 salrios mnimos16
; 3 a 6, e 6 a 10
salrios mnimos, ficando todos integrados no Programa, na definio de habitao
social ou habitao popular.
Figura 1 Repetio de tipologias - Unidades habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida no Residencial Casas do Parque, em Campinas (SP).
Fonte : Foto: Ricardo Stuckert/Arquivo/PR. Disponvel em :. Acesso em: 16 jul. 2010.
14 Programa Federal para Habitao Social, Consolidado pela Lei N. 11.977, de 7 de julho de 2009, coordenado pelo gabinete da Casa Civil em resposta a situao de crise imobiliria e financeira internacional, com fins de proteger o mercado interno brasileiro, tendo dois principais objetivos, a produo de habitao e manter o mercado imobilirio em funcionamento, relanando a mo de obra necessria. 15 Entende-se em programas de Governo, como financiamento a fundo perdido, aquele que tem por objetivo final a doao da habitao para o beneficirio, sem nus. 16 Em Novembro de 2010, o salrio mnimo brasileiro se situa em R$ 510,00
http://blog.planalto.gov.br/minha-casa-minha-vida-2-tem-novas-regras-e-prioriza-populacao-de-baixa-renda/http://blog.planalto.gov.br/minha-casa-minha-vida-2-tem-novas-regras-e-prioriza-populacao-de-baixa-renda/
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Neste primeiro captulo estabeleceremos a definio do termo habitao
social e do pblico atendido nessa classificao propondo uma discusso preliminar
em torno da definio do conceito de habitao, e pautando-nos na anlise de
documentos sobre a questo, ratificados a nvel mundial, assim como numa reviso
bibliogrfica sobre o assunto.
Tal aprofundamento exige um debate mais amplo sobre os diversos
fatores que se encontram envolvidos nesta temtica, como por exemplo a presena
implcita e constante de uma lgica implicando relaes de ddiva e reciprocidade,
noes sociolgicas apresentadas por Marcel Mauss (1974), buscando entender as
implicaes dessa lgica para a anlise das atuais polticas de habitao social no
Brasil e mais especificamente no Rio Grande do Norte, pois numa poltica de
habitao com doao da casa (subsdio17
Em seguida discutiremos a questo mais especfica da habitao no
Brasil, iniciando com o retrato estabelecido pelo antroplogo brasileiro Roberto da
Matta
) para as faixas de renda mais
vulnerveis, so criadas redes sociais baseadas na idia de ddiva e reciprocidade,
interferindo nos mecanismos que se estabelecem no processo de concesso das
HIS e que iro ganhar centralidade na constituio do tecido social desses novos
espaos.
18
17 Para efeitos de financiamento, o termo mais usado em documentos tcnicos, usados tanto pelo MCidades, como pela CEF, o de Unidades Habitacionais em subssio. 18 Roberto da Matta, antroplogo brasileiro, professor da PUC Rio de Janeiro.
na sua obra A casa e a Rua (1987), na qual ele apresenta um painel de
comportamentos que se estabelecem entre o brasileiro e a sua casa. Ser
destacada a relao que se estabelece com a rua, na qual a casa se insere,
representando metaforicamente as dimenses pblica e privada na subjetividade do
brasileiro. Essa viso ser complementada com outras a fim de definirmos
parcialmente os diferentes conceitos que iro alimentar nossa reflexo
compreendendo seu alcance e limites na anlise em pauta na presente dissertao.
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27
1. Projetando a habitao de interesse social: conceitos e processos
Tipologia / Morfologia
Propomos aqui abordar a leitura que fazemos para efeitos de pesquisa dos
termos tipologia e morfologia, na medida em que a idia deste trabalho surgiu de um
constatao emprica sobre a repetio da tipologia edilcia nos programas de
governo para habitao de interesse social.
Figura 2 Padro adotado pelo Governo de Estado do Rio Grande do Norte, em programas de conjuntos habitacionais de habitao de interesse social. Bairro industrial Zona Norte - Natal / RN.
Fonte : Acervo do Autor. (2004)
Entendemos por tipologia, o aspecto edilcio isolado, mas o consideramos no
s na sua forma individualizada, como tambm enquanto composio de Unidades
Habitacionais (U.H.), compondo o que chamaremos de conjunto habitacional. A
este ltimo ser aplicado o termo morfologia19
19 Em grego, morph significa forma, e logos, estudo (Le Petit Larousse. Larousse, Paris, 2003).
. A morfologia remete portanto ao
estudo da forma, traduzida no lxico do planejamento urbano ao modelo de
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28
agrupamento de unidades edilcias (figura3), incluindo os seus aspectos cheios e
vazios. Nesta pesquisa entendemos que a morfologia o agrupamento de
edificaes que compem um arranjo urbanstico.
Figura 3 - Morfologia de conjuntos habitacionais Programa Minha Casa Minha Vida - Conjunto Planalto I - Natal / RN.
Fonte : Acesso :Google Earth - Consultado em: 23/07/2010. Imagem de 13/10/2009.
Um dos principais estudos de definio sobre tipologia e morfologia na
arquitetura contempornea Aldo Rossi. No seu livro A arquitetura da cidade
(1995), ele retoma uma definio dos termos tipologia e morfologia, a partir de um
estudo sobre a composio urbana das cidades. Para Tavares, Aldo Rossi, atravs da criao de um mtodo de anlise da morfologia urbana, dedicou escala da cidade a nfase do desenvolvimento de seus estudos tipolgicos na dcada de 1960. Segundo autor, o tipo seria o elemento atravs do qual o crescimento da cidade, em qualquer escala, poderia ser desenvolvido. Estando mais fortemente relacionado lgica interna das formas urbanas, a determinao dos tipos no estaria vinculada a questes funcionais especficas. (2005, p.10)
http://blog.planalto.gov.br/minha-casa-minha-vida-2-tem-novas-regras-e-prioriza-populacao-de-baixa-renda/
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29
A noo de tipologia, remete escala da unidade e a sua escolha esttica, o
modelo esttico no qual ela se inspira, ou se baseia. Para efeitos desta pesquisa,
entenderemos o conceito de tipologia como o conjunto de tipos, como definiu Aldo
Rossi (1998); ...O tipo vai se constituindo, pois de acordo com as necessidades e com as aspiraes de beleza; nico mas variadssimo em sociedades diferentes, ele est ligado forma e ao modo de vida. Por conseguinte, lgico que o conceito de tipo se constitua em fundamento da arquitetura e retorne tanto na prtica como nos tratados. Sustento, portanto, a importncia das questes tipolgicas. Importantes questes tipolgicas sempre percorreram a histria da arquitetura e colocam-se normalmente quando encaramos problemas urbanos. (p.25)
Monique Eleb (1988)20
20 Sociolga atuando na cole d'Architecture Paris-Malaquais (Frana) e diretora do grupo de pesquisa Arquitetura, Cultura e Sociedade (ACS),
, especialista em Arquitetura Domstica; realizou
diversos estudos em torno de um concurso criado na Europa, que tem por ttulo
EUROPAN, cujo o objetivo principal discutir sobre a questo da habitao na sua
totalidade, tanto a nvel de planejamento urbano -procurando a integrao de reas
destinadas a esse fim com o resto da cidade, como a nvel de projeto arquitetnico,
no qual seus participantes trabalham especificamente sobre a tipologia, estudando
possveis mutaes em funo de novos usos e novas maneiras de viver. So ento
trazidos conceitos de concepo de tipologias, tais como a tipologia do equipamento
ou a tipologia da contemplao.
Vemos aqui as possibilidades que so dadas no que diz respeito a elaborao
de projeto de arquitetura para habitao, neste caso especfico, na fase de
concepo do projeto, os arquitetos trabalham com a criao de cenrios aplicados
vida real dos futuros ocupantes dos espaos pensados e criados.
No Brasil, BONDUKI (1998) demonstra como existiu uma relao direta para
a qualidade do parque habitacional produzido no perodo dos Institutos de
Aposentadoria e Penses, com a contratao de grandes nomes nacionais do
modernismo brasileiro, como o caso de Affonso Eduardo Reidy no seu projeto do
Rio de Janeiro, do conjunto Residencial Prefeito Mendes Moraes (Pedregulho),
construdo na dcada de 40 a 50 (figura 5).
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30
Figura 4 - Conjunto Residencial Prefeito Mendes Moraes (Pedregulho, 1947)
Fonte : Disponvel em: . Acesso em: 23 ago. 2010.
Habitao / habitat - casa / moradia
A Constituio Federal Brasileira de 1988 reconhece o direito moradia
como um direito social bsico, estendendo este conceito alm da simples edificao,
incluindo nele o direito a infra-estrutura e servios urbanos. Tal conjunto de
elementos ser constitutivo do que chamaremos aqui de habitat.
Assim, conceber a habitao implica tambm em considerar o espao na
qual ela est inserida, ou seja, em seu relacionamento com seu entorno, seguindo a
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31
definio lefbvriana (1970) para qual devemos entender a definio de habitat
como a composio de todos os elementos que constituem o quadro dentro do qual
o individuo realiza o ato de Habitar, incluindo neles os aspectos da socializao dos
indivduos, tais como a cultura e o lazer.
Para Lefbvre (1970, p.162) ... o Habitar um fato antropolgico. A
habitao, a moradia, o fato de se fixar no solo (ou de se desligar), o fato de se
enraizar (ou de se desenraizar), o fato de viver aqui ou ali (e conseqentemente de
sair ou ir para outro lugar), esses fatos e esse conjunto de fatos so inerentes ao ser
humano.21
A exemplo do que define a Constituio Federal de 1988, entendemos
que a noo de habitat compreende no s a habitao, mas toda a totalidade que o
circunscreve, enquanto lugar de convvio das famlias. Assim, na noo de habitat
esto includos o saneamento ambiental
.
22
Outro termo muito utilizado em textos oficiais (tais como a Agenda
Habitat) sobre a habitao
, (que abrange o abastecimento de gua
e o de esgoto), a drenagem, e todos os equipamentos pblicos necessrios a um
desenvolvimento sustentvel da rea na qual definida a nova moradia das
populaes beneficirias.
23
60. Habitao adequada para todos mais do que um teto sobre a cabea das pessoas. tambm possuir privacidade e espao adequados, acessibilidade fsica, garantia de posse, estabilidade estrutural e durabilidade, iluminao adequada, aquecimento e ventilao, infra-estrutura bsica adequada, como fornecimento de gua, esgoto e coleta de lixo, qualidade ambiental adequada e fatores relacionados sade, localizao adequada e acessvel em relao a trabalho e instalaes bsicas: tudo deveria ser disponvel a um custo acessvel. A adequao deve ser determinada juntamente com as pessoas interessadas, considerando-se a perspectiva de desenvolvimento gradual. A adequao varia freqentemente de pas para pas, j que depende de fatores culturais, sociais, ambientais e econmicos especficos. Fatores especficos
o de moradia, entendido aqui como comportando no
mesmo sentido que o primeiro, ou seja: a unidade de espao que abriga uma
famlia. Em sua Cartilha, a Agenda Habitat tambm explicita uma definio precisa
do termo moradia adequada, que poderia ser interpretado como uma tentativa de
estabelecer parmetros mnimos de habitabilidade ou de uma tipologia ideal para
habitao de interesse social: B. Moradia adequada para todos 1. Introduo
21 Traduo do texto original feita pelo autor. 22 Lei 10.257 de 10 de julho 2001. CAPITULO I - Diretrizes Gerais - Art. 2, Pargrafo I. 23 Elaborada pelo IBAM: Instituto Brasileiro de Administrao Municipal.
-
32
relacionados a gnero e idade, como a exposio de crianas e mulheres a substncias txicas, devem ser considerados nesse contexto.(2003)
No entanto vemos aqui que a descrio do conceito de moradia
adequada baseada em linhas e termos de pensamento gerais, remetendo pouco
a indicaes de ordem tcnica- como para os itens de numero mnimo de cmodos,
sem especificar a sua adequao ao numero de membros da famlia.
Num entendimento geral e para efeitos de pesquisa, neste trabalho,
poderemos ento justapor os termos habitat / habitao, com moradia/casa.
Para Valadares24
24 Jorge de Campos Valadares tem graduao em Psicologia pela Universida de Santa rsula (1976), graduao em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (1964), mestrado em Urbanismo - Universite de Paris I (Pantheon-Sorbonne) (1979) e doutorado em Sade Pblica pela Fundao Oswaldo Cruz (1994). Professor do Departamento de Saneamento e Sade Ambiental, Escola Nacional de Sade Pblica, Fundao Oswaldo Cruz.
(2000, p.83), ...A casa do homem , antes de tudo,
lugar de presena e de construo de histrias.... Numa escala macro ela seria a
cidade pois, ...enquanto espao construdo tambm um fato histrico. E trata-se,
aqui, de uma histria vivida por sujeitos em seus corpos.
Vemos que numa leitura mais geral, a casa remete ao conceito do espao
enquanto gesto individual, no que corrobora Roberto da Matta (1987, p.31) que
considera o espao como o ar que se respira. Sabemos que sem ar morreremos,
mas no vemos nem sentimos a atmosfera que nos nutre de fora e vida.
Vemos que a relao visceral individuo/ espao previamente destacada
por Lefbvre (1970) foi reforada por Valladares(2000, p.83), para quem O corpo
reconhece os espaos a partir do desejo. A presena ou ausncia do desejo
transforma o espao em tumulo ou em tesouro.
David Harvey (1982, p.8) tambm discute a falsa dicotomia entre viver e
trabalhar como um conceito artificial imposto pelo sistema capitalista, e mostra a
relao direta que se estabelece entre o mercado de trabalho, o consumo e a
moradia que transforma-se, neste modo de produo num bem de consumo que se
transubstancia numa das principais engrenagens do mecanismo financeiro das
sociedades contemporneas.
Ermnia Maricato refora essa idia, colocando que: ...a habitao o componente mais importante da cesta de consumo que no suprida atravs de formas capitalistas de produo e comercializao, para a grande maioria dos trabalhadores.
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Isso implica em sacrifcios e predao dessa fora de trabalho, seja pela construo da casa nos horrios de descanso (sobre trabalho), seja pela baixa qualidade da moradia resultante desse processo... (1987, p.21)
Vemos aqui como se estabelece uma relao direta entre a produo
imobiliria e o mercado financeiro, na qual a habitao se transforma num item
suplementar do mercado, representa uma poderosa fonte de capital no sistema
capitalista.
Denunciando a cidade como um grande negcio Ermnia Maricato diz que
"O volume de recursos provenientes de toda a sociedade, captados pela renda
imobiliria, muito grande para que as anlises econmicas o ignorem, como
freqentemente acontece..." (1988).
No entanto, no sistema capitalista que essa reflexo crtica deveria
ganhar substncia pois25
Por isso mesmo, salientamos que no texto integral da elaborao dos
instrumentos de gesto para a cidade no Brasil, o Estatuto da Cidade
"... a problemtica da moradia um dos componentes de
todo um conjunto de precariedades manifestas nas condies de existncia dos
trabalhadores.", como apontam Ikuta e Thomaz Junior (2005, p.2).
26, a palavra
habitao aparece apenas duas vezes, enquanto que a palavra moradia tambm
pouco mencionada: cinco vezes. Embora no esperarmos que nesses textos de Lei
se estabeleam parametrizaes tcnicas sobre a questo da tipologia, essa
pequena constncia na referncia a esses termos reforada nesse mesmo texto
pela ausncia absoluta qualidade da moradia a ser produzida, ou ainda quanto a
seu dimensionamento em funo do numero de indivduos por famlia, por
exemplo27
25 Fernanda Keiko Ikuta (Doutoranda em Geografia na Universidade Estadual Paulista/Presidente Prudente), e Antonio Thomaz Jnior, professor da Universidade Estadual Paulista /Presidente Prudente e Pesquisador visitante junto Faculdade de Geografia e Histria, da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha)
.
Atravs de uma analise histrica podemos constatar que essa questo
recorrente, e remete s origens da habitao e as relaes de poder que se
estabelecem na convivncia entre os diferentes estratos sociais que compem a
estrutura da sociedade em questo.
26 LEI No 10.257, DE 10 DE JULHO DE 2001. 27 Mesmo se tais questes so remetidas Organizao normativa brasileira dos planos diretores e cdigos de obras, ou a outros nveis de normatizao tcnica, a ausncia de uma orientao geral e a indefinio quanto tipologia edilcia deve ser aqui destacada.
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.257-2001?OpenDocument
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Na sua obra A Casa e a Rua, Roberto da Matta realiza uma anlise
antropolgica do espao no Brasil, baseada em observaes de campo e
descrevendo a complexidade do relacionamento do brasileiro com o espao interior
(a casa) e o exterior (a rua), discutindo a noo de espao na casa e do espao
pblico no qual ela se encontra inserida. Para ele, enquanto dimenso simblica a
casa existe em diferentes planos: do mesmo jeito que quarto "casa", a cidade
tambm pode ser casa: tudo depende da escala em que a pessoa se encontra e da
relao que se estabelece entre o individuo e esse espao, em termos de prticas e
representaes sociais.
Assim, a casa no se restringe habitao: nas reas urbanas do Rio
Grande do Norte as caladas assumem essa caracterstica de prolongamento do
privado pelos atores sociais, quando ali se instalam cadeiras ou se deposita o lixo
em suas prprias portas, por exemplo. No meio rural tambm podemos observar
como os espaos exteriores s habitaes so apropriados como extenso do
espao domstico, com a freqente utilizao da cozinha e banheiros na rea
exterior casa, compondo -junto com a habitao- elementos centrais da
composio do espao domstico; lugar de vivncia e histria social, habitat. (figura
5).
Figura 5 Fotografia de cozinha no pr-assentamento Bernardo Marim - em Pureza RN
Fonte: Acervo do Autor (2008).
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Como Lefbvre (1970), compreendemos a casa como produo simblica
construda na relao do pblico e privado, e no apenas como representao deste
ltimo. Resultando da experincia cotidiana o habitat esta modalidade de
apropriao do mundo, do seu potencial natural e das relaes sociais, numa
experincia de vida localizada.
A estreita relao das esferas publicas e privadas tal qual apresenta Da
Matta (1987) pode ser apreendida nas vrias as atividades que se vivenciam nas
reas externas casa, bastante expressiva na forma e na quantidade em meio rural,
onde ocorre uma srie de atividades como o banho das crianas (figura 6),
organizao e preparao de alimentos, a criao de animais, cozinha-se, debulha-
se feijo, entre outras.
Figura 6 - Atividades exteriores em assentamento - criana tomando banho
Fonte : Acervo do Autor (2008).
Ainda segundo Da Matta, ...se a casa est conforme disse Gilberto Freyre, relacionada senzala e ao mocambo, ela tambm s faz sentido quando em oposio ao mundo exterior, ao universo da "rua". Ou seja, o que temos aqui um espao moral posto que no pode ser definido por meio de uma fita mtrica, mas - isso sim - por intermdio de contrastes, complementaridades, oposies. (1987, p.16)
Numa outra discusso sua, descobrimos como estes fatores compem a
relao da sociedade brasileira com o espao, junto aos cdigos sociais que se
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estabelecem nesse relacionamento. Juntos eles remetem a uma relao que
ultrapassa a habitual dualidade cognitiva, levando o brasileiro a pensar no nos
moldes de oposies binrias, mas na mediao entre os termos. Esta caracterstica
marca o que ele chamou de dilema da identidade nacional. No caso do habitat,
este seria um mbito privilegiado da compreenso da intermediao entre a rua e
os domnios impessoais da vida cotidiana (o publico), e a casa, espao das
relaes pessoais e diferenciadas, pois
Em casa somos todos, conforme tenha dito, supercidades. Mas e na rua? (...) Somos rigorosamente subcidades e no ser exagerado observar que, por causa disso, nosso comportamento na rua (e nas coisas pblicas que ela necessariamente encerra) igualmente negativo. Jogamos o lixo para fora da calada, portas e janelas... (Da Matta,1987, p.20-21)
Figura 7 - Lixo na porta da casa. Bairro Felipe Camaro - Natal / RN
Fonte: Acervo do Autor (2007).
Os espaos de terreno no edificado (como quintais, caladas, jardins e
terreiros), revelam a complementaridade entre as dimenses pblicas e privadas,
pois mesmo se so espaos privados (a rea contigua habitao geralmente
constitui o lote/parcela do morador), eles so abertos. Livres de paredes ou muros,
estas reas externas possibilitam um importante veculo publicizao da vida
domstica, revelando-se como espao de troca de informaes no apenas sobre a
dinmica familiar, como tambm sobre a coletividade do grupo mais amplo que a
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envolve; assentamento, vila, ou cidade. essa dimenso pblica do privado que
associa indelevelmente o pblico ao segundo, propiciando uma relao dialtica que
se concretiza na habitao social.
Questes do debate rural/ urbano
Partindo da constatao de que inexiste preciso acerca dos conceitos de
rural e urbano nas definies da CEF para os financiamentos e gesto das HIS na
rea urbana e rural, vimos revelar o quanto tais imprecises propiciam desacertos
at, em certos pontos, considerar duas realidades como uma mesma padronizao.
Segundo Borges (2002), esta impreciso conceitual historica, pois Quando, no final da dcada de 80, o INCRA volta a ser responsvel por estas polticas, ele passa a adotar as terminologias da colonizao da Amaznia dos anos 70, para definir os assentamentos humanos concentrados como agrovilas, seus lotes de moradia, como lotes urbanos e seus lotes ligados produo agropecuria como lotes rurais. (2002, p.8)
Para efeitos desta pesquisa, adotaremos o termo agrovila num sentido amplo;
para designar um conjunto de habitao de interesse social realizado em rea rural,
integrando tanto o aspecto da habitao quanto aqueles aos quais Lefbvre (1970)
se refere como habitat, ou seja incluindo espaos de vivncia e lazer. Mesmo se
este adequado para definir a moradia num sentido amplo, a amplitude do conceito
lefbvriano abarcaria tanto os conjuntos habitacionais urbanos como os rurais, aos
quais nos referimos especificamente. Considerando que o termo habitat remeteria
mais a um sistema organizacional do espao que contempla a vivncia daqueles
que deles usufruem, consideramos o termo agrovila mais adequado para nos
referirmos especificidade dos projetos GERAH/MST/INCRA/CEF que observamos,
pois ...geralmente seus usurios optam pelo modelo de habitat concentrado, denominados agrovilas. De acordo com Borges (2002) estes habitats caracterizam-se por possuir os lotes de moradia, equipamentos comunitrios e de servios reunidos numa mesma rea. Os lotes de produo localizam-se em local especfico. Geralmente se inspiram nos modelos praticados pelo INCRA, fazendo as adaptaes necessrias. (Ciqueira, 2006 p.58-59)
Outro elemento que merece destaque a definio do regime de construo
adotado no processo construtivo aplicado nestas experincias, pois ele se alicera
no modo de vida rural,
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na regio Nordeste, onde normalmente se trabalha com pequeno nmero de famlias, ao mesmo tempo em que a produo se encontra mais facilmente sujeita ao fenmeno da seca, [...] e, na formao de assentamentos menores, mais fceis de estruturar... (Ciqueira, 2006 p.58-59).
O social da habitao - habitao social / habitao de interesse social
Problematizando a habitao social, nos remetemos aqui definio
estabelecida por Nabil Bonduki, que entende a habitao social: ...no apenas no sentido corrente, ou seja, habitao produzida e financiada por rgos estatais destinada populao de baixa renda, mas num sentido mais amplo, que inclui tambm a regulamentao estatal da locao habitacional e incorporao, como um problema do Estado da falta de infra-estrutura urbana gerada pelo loteamento privado. (1998, p.14)
Nesta perspectiva a habitao social vai alm da habitao e da casa
estendendo-se aos seus aspectos sociais, polticos e econmicos, abrangendo a
problemtica habitacional como uma questo de direito cidade, e no meramente
tcnica ou legal.
Assim esta questo vem interessando arquitetos e urbanistas desde as
experincias de cidades jardins (de Owen, Howard e Garnier), na Inglaterra, e que
tinham o objetivo principal de oferecer aos trabalhadores um tipo de moradia que
desse um mnimo de condies de higiene e conforto somado idia da associao
cidade e campo, objetivando explicitamente a melhoria da produo industrial.
Norberg-Schultz28
Ainda na Europa, em meados do sculo XX, vive-se a reconstruo das
destruies causadas por um episdio histrico mundial de grande destruio e
repercusso nas estruturas urbanas europias, a Segunda Guerra Mundial.
(1977) nos apresenta os primrdios da habitao social
na Europa, revelando como esta marcada - na Frana do sculo XVIII - pela
produo de habitao para trabalhadores, subvencionadas por alguns dos ricos e
mais audaciosos industriais franceses naquele recentemente industrializado pas,
como o caso da cidade social de Chaux de autoria do arquiteto Claude-Nicolas
Ledoux, prximo Besanon (Leste da Frana)
28 Norbert Shultz (1926-2000), Arquiteto e Urbanista noruegus, especialista na disciplina de Histria da Arquitetura.
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Buscando responder ao recrudescimento do dficit habitacional elaborou-se na
Frana, um sistema que Henri Lefebvre (1970) identificou como de produo em
massa de habitaes-modelo. Inspirado em conceitos higienistas do incio do sculo
XX este sistema buscava garantir populao mais vulnervel (trabalhadores
tambm) um padro de qualidade de vida mnimo que lhes garantisse condies de
sade pblica e higiene satisfatrias.
Assistimos ento, na Frana, apario das polmicas cits (Petonnet29
Tal encontro provocou uma resposta organizada dos rgos ali reunidos,
fornecendo propostas e respostas para a populao que resolvia seus impasses de
moradia atravs de sistemas informais de produo da habitao, cuja maior
representao so as favelas- hoje denominadas no Brasil de habitaes sub-
normais, segundo os mais recentes normativos do poder pblico, tais como o Plano
Diretor de Natal
,
1979), to negativamente relatadas ultimamente e que consistem em conjuntos
habitacionais verticais de dez at quinze pisos de altura, podendo integrar
comunidades compostas em alguns casos de quarenta mil famlias como o caso
do conjunto de cits que compe o bairro do Mirail (Figura 10) em Toulouse,
geralmente de condies sociais muito precrias, e de origens tnicas diversificadas.
Um dos principais marcos internacionais sobre a questo da habitao social
foi a Conferncia de Vancouver no Canad, em 1976 - quadro 1, quando foi
elaborado um primeiro documento que determinou a implantao com urgncia de
uma poltica mundial de interveno sobre a questo da habitao, fazendo face
situao criada pelo aumento das desigualdades sociais e do rpido crescimento
das cidades.
30
29 Colette Petonnet, etnloga das "banlieues" (periferias), pesquisadora CNRS e professora da Ecole des Hautes Etudes em Sciences Sociales. 30 Lei N 082 de 21/06/2007.
.
Outro ponto importante na discusso mundial sobre a questo da
habitao foi a constituio da Agenda Habitat, assinada por 171 pases em 1996 ,
que estabeleceu parmetros para o combate a nvel mundial das desigualdades que
se criaram no acesso moradia. No Quadro 1 podemos visualizar os principais
eventos que levaram a essas discusses.
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Tanto internacionalmente quanto no Brasil tal concepo do habitat voltado s
classes trabalhadoras tambm domina junto aos gestores pblicos, como podemos
verificar atravs das anlises histricas de Nabil Bonduki (1998).
Segundo ele, no Brasil as primeiras polticas habitacionais foram lanadas no
incio do sculo XX, junto com as operaes urbansticas dos higienistas, que
objetivavam oferecer moradia adequada para a populao de baixa renda, buscando
restringir a ao das epidemias que invadiam o pas naquela poca, atribudas
falta de higiene e condies de vida dessa populao. Datam tambm do inicio do
sculo XX as vastas campanhas de informao, projetos de saneamento e de
urbanizao, buscando eliminar os cortios, vistos como sinnimos de pauperismo e
de insalubridade: A construo barata era uma exigncia intrnseca ao negcio, pois os nveis de renumerao dos trabalhadores no permitiam aluguis elevados. Os cortios e as casas coletivas eram, portanto, essenciais para a reproduo da fora de trabalho a baixos custos e, enquanto tal, no podiam ser reprimidos e demolidos na escala prevista pela lei e desejada pelos higienistas. Esse conflito entre a legislao e a realidade, que nunca desapareceu, decorreria do processo de explorao da fora de trabalho... (Bonduki, 1998, p.39)
interessante constatar que este conflito entre a justificativa higienista e os
interesses do capitalismo provocam tenses que datam de mais de um sculo mas
continuam atuais, constituindo o cerne do discursos baseado na idia de
Quadro 1 - Reunies e documentos internacionais sobre a Habitao social
Evento / Documento Local Ano Habitat I - Conferncia para declarao sobre assentamentos humanos
Vancouver - Canad 1976
Habitat II Agenda Habitat
Istambul Turquia 3 a 14 Junho 1996
Habitat II Declarao de Istambul Istambul - Turquia
3 a 14 Junho 1996
Declarao sobre as cidades e outros assentamentos humanos
Assemblia geral das naes unidas -Nova York
2001
Habitat III Vancouver - Canad 2006
Nota: Elaborao do autor
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modernizao das cidades e do campo e justificando os investimentos de
urbanizao de suas reas. Enquanto outros interesses se adicionam,
complexificando este cenrio, para Bonduki, na evoluo histrica da poltica
habitacional brasileira torna-se tambm ...muito difcil estudar as transformaes que ocorreram na proviso de moradias nos anos 40 sem conhecer de modo um pouco mais aprofundado tanto a produo rentista nas primeiras dcadas do sculo, como o processo de expanso perifrica e as realizaes pblicas que lhes eram contemporneas. (1998, p.13)
Dentre os diversos atores que paulatinamente integram esse quadro
destacamos os movimentos sociais, representados aqui sucintamente por dois
grupos: os arquitetos e os movimentos populares pela reforma urbana.
Demonstrando a importncia da participao dos arquitetos na questo da habitao
Figura 8 - Vila operria Gamboa (1933) - Zona Porturia do Rio de Janeiro - Brasil Arquitetos: Lcio Costa e Gregori Warchavchik
Fonte :Disponvel em:
Acesso em: 23 set. 2010.
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social brasileira, principalmente no perodo de produo dos IAPs,31
Estes dois grupos (arquitetos e movimentos populares) participaram
ativamnte num dos movimentos sociais mais marcantes da histria da habitao
social no pas, a saber; o Movimento pela Reforma Urbana (MRU), que se iniciou em
1983, baseado em trs princpios bsicos, conforme apresentado no Quadro 2.
Bonduki
considera que Certamente a qualidade arquitetnica dos conjuntos residenciais dos IAPs estava ligada concepo que orientou esta produo, baseada na idia da habitao como servio pblico e na valorizao do espao coletivo. A contratao dos arquitetos modernos para desenvolver os projetos dos IAPs conseqncia desta concepo, posto que estes profissionais, pessoalmente ou atravs de sua entidade, o Instituto dos Arquitetos do Brasil, eram os maiores defensores de habitao como servio e da manuteno da propriedade estatal da moradia. (1998, p.318)
31 Institutos de Aposentadorias e Penses.(1937-1964)
Figura 9 Paineis dos modelos de IAPIS, elaborados pelo arquiteto Carlos Frederico Ferreira para o Congresso Panamericano de Arquitetos, realizado em 1940.
Fonte : Bonduki (1998, p.178)
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Segundo Ermnia Maricato (1987), a luta pela Reforma Urbana aparece
num contexto de desigualdade crescente entre os ricos e os pobres nas cidades, o
que explica que ele tenha sido incentivado por iniciativas da Igreja catlica como a
CPT (Comisso Pastoral da Terra), muito atuante no Movimento de Luta pela
Moradia.
Ainda que relevante, a pesquisa histrica sobre a habitao social no
Brasil ser traada de forma breve nesta dissertao por razes de objetividade,
posto que nos interessa apreend-la em sua dimenso histrica mas sobretudo num
recorte sincrnico, recuperando o conceito de habitao de interesse social (HIS), tal
qual ela definida na contemporaneidade atravs dos parmetros do poder pblico,
ou seja: como a habitao destinada populao de renda mensal entre 0 e 3
salrios mnimos. Assim, discutiremos a HIS no seu sentido lato, ou seja admitindo
as vrias interpretaes do termo, como a definio que Abiko deixa entrever: O termo Habitao de Interesse Social (HIS) define uma srie de solues de moradia voltada populao de baixa renda. O termo tem prevalecido nos estudos sobre gesto habitacional e vem sendo utilizado por vrias instituies e agncias, ao lado de outros equivalentes, como apresentado abaixo: 1) Habitao de Baixo Custo: termo utilizado para designar habitao barata sem que isto signifique necessariamente habitao para populao de baixa renda; 2) Habitao para Populao de Baixa Renda: um termo mais adequado que o anterior, tendo a mesma conotao q