habitação de interesse social larcher

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JOS VALTER MONTEIRO LARCHER

DIRETRIZES VISANDO A MELHORIA DE PROJETOS E SOLUES CONSTRUTIVAS NA EXPANSO DE HABITAES DE INTERESSE SOCIALDissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre, pelo curso de Ps-Graduao em Construo Civil, do Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paran. Orientador: Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos

CURITIBA 2005

TERMO DE APROVAO

JOS VALTER MONTEIRO LARCHER

DIRETRIZES VISANDO A MELHORIA DE PROJETOS E SOLUES CONSTRUTIVAS NA EXPANSODE HABITAES DE INTERESSE SOCIALDissertao aprovada como requisito parcial para obteno do grau de Mestre no Programa de Ps-Graduao em Construo Civil, Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paran, pela seguinte banca examinadora:

Orientador: Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos Programa de Ps-Graduao em Construo Civil - UFPR

Prof. Dr. Ricardo Mendes Junior Programa de Ps-Graduao em Construo Civil UFPR

Prof . Dr. Erclia Hirota Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Saneamento - UEL

Curitiba, 29 de agosto de 2005.

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A meu pai

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Doutor Aguinaldo dos Santos pela orientao, incentivo constante, compreenso e amizade. Aos professores do PPGCC e a Ziza, pelo conhecimento e amizade que tive o privilgio de receber no perodo do Mestrado. A todas as pessoas do corpo de servidores da COHAPAR de Francisco Beltro, pela ajuda prestativa. s pessoas das moradias visitadas, agradeo pela acolhida em seus lares. Aos colegas da UTFPR, pelo apoio em todos os momentos. Aos colegas do PPGCC, especialmente Agnes, pela amizade. A meus irmos, especialmente Luiz Paulo e Maria Lcia, que me acolheram com generosidade em Curitiba; A minha me, pelo amor e conselho, mesmo distncia. A minha famlia, Cristiane, Jos Henrique e Neide, agradeo pela espera e compreenso.

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SUMRIOLISTA DE TABELAS ................................................................................................... vii LISTA DE QUADROS .................................................................................................. viii LISTA DE FIGURAS..................................................................................................... ix LISTA DE GRFICOS.................................................................................................. xii RESUMO......................................................................................................................... xii ABSTRACT...................................................................................................................... xiii 1. INTRODUO........................................................................................................... 1.1 JUSTIFICATIVA................................................................................................. 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA.............................................................................. 1.3 OBJETIVO........................................................................................................... 1.4 HIPTESE............................................................................................................ 1.5 VISO GERAL DO MTODO DE PESQUISA................................................. 1.6 LIMITAES DO TRABALHO......................................................................... 1.7 ESTRUTURA DA DISSERTAO.................................................................... 2. A HABITAO DE INTERESSE SOCIAL: CONCEITO E IMPACTOS......... 2.1 A RELEVNCIA DA HABITAO E SUAS FUNES................................. 2.2 HABITAO DE INTERESSE SOCIAL: DEFINIES.................................. 2.3 A HABITAO E O DESENVOLVIMENTO ECONMICO E SOCIAL....... 2.3.1 INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA................................................. 2.3.2 Renda........................................................................................................... 2.3.3 Longevidade................................................................................................ 2.3.4 Educao..................................................................................................... 2.3.5 Crescimento e Distribuio Populacional.................................................... 2.3.6 Discusso..................................................................................................... 2.4 NECESSIDADES HABITACIONAIS E SUAS DEFINIES.......................... 2.4.1 O Dficit Habitacional................................................................................. 2.4.2 Inadequao de Domiclios.......................................................................... 2.4.3 Discusso...................................................................................................... 2.5 POLTICAS HABITACIONAIS E FORMAS DE PRODUO: UM BREVE HISTRICO......................................................................................................... 2.5.1 Evoluo at a Segunda Metade do Sculo XIX......................................... 2.5.2 O Perodo do Final do Sculo XIX at a Dcada de 30............................... 2.5.3 As Dcadas de 30 a 60................................................................................. 2.5.4 As Dcadas de 70 a 80................................................................................. 2.5.5 A Dcada de 90............................................................................................ 2.5.6 Dos Anos 90 aos Dias Atuais: o Alinhamento a Tendncias Globais......... 2.5.7 A Primeira Dcada do Sculo XXI.............................................................. 2.6 DISCUSSO........................................................................................................ 3. A DINMICA DO PROCESSO DE EXPANSO DA HABITAO DE INTERESSE SOCIAL.............................................................................................. 3.1 O CICLO DE VIDA FAMILIAR COMO FATOR DE INFLUNCIA NA EXPANSO......................................................................................................... 3.2 A CONCEPO DA HABITAO DE INTERESSE SOCIAL COMO FATOR DE EXPANSO..................................................................................... 3.2.1 Aspectos Gerais........................................................................................... 3.2.2 Intervenes do Morador na Habitao: Resultados de Estudos 1 1 2 3 3 3 4 4 6 6 8 12 12 13 15 18 19 20 22 22 26 27 28 28 30 33 36 38 40 42 46 47 47 51 51 51

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Brasileiros.................................................................................................... 3.2.2.1 O Estudo Szcs Modificaes dos Espaos da Casa Florianpolis.... 3.2.2.2 O Estudo Reis Alteraes Espaciais Porto Alegre.............................. 3.2.2.3 O Estudo Fischer Diretrizes de Projeto Curitiba................................ 3.2.3 Discusso..................................................................................................... 3.3 ADEQUAO DA HIS AO LONGO DO CICLO DE VIDA........................... 3.3.1 O Conceito de Ciclo de Vida........................................................................ 3.3.2 Adaptao ao Uso e Flexibilidade como Parmetro de Desempenho da Habitao de Interesse Social....................................................................... 3.3.3 Discusso...................................................................................................... 3.4 PRINCPIOS E CONCEITOS DE PROJETO VISANDO A MAIOR ADEQUAO DO AMBIENTE CONSTRUDO............................................... 3.4.1 Viso Geral dos Conceitos........................................................................... 3.4.2 O Conceito de Adaptabilidade..................................................................... 3.4.3 O Conceito de Flexibilidade........................................................................ 3.4.4 A Expansibilidade Integrada Sob os Princpios de Adaptabilidade e Flexibilidade................................................................................................. 3.4.5 Resumo das Abordagens Heursticas Para a Expansibilidade...................... 3.4.6 Sntese das Diretrizes Para a Expansibilidade.............................................. 3.4.6 Discusso...................................................................................................... 4. MTODO DE PESQUISA......................................................................................... 4.1 CONTEXTO DO CAPTULO.............................................................................. 4.2 CARACTERIZAO DO PROBLEMA............................................................. 4.3 DESCRIO DO MTODO DE PESQUISA ADOTADO................................. 4.3.1 Escolha do Mtodo....................................................................................... 4.3.2 Estudo de Caso Atravs da Avaliao Ps-Ocupao (APO)...................... 4.4 ESTRATGIA DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA............................. 4.4.1 Viso Geral................................................................................................... 4.4.2 Reviso Bibliogrfica................................................................................... 4.4.3 Critrio de Seleo do Estudo de Caso......................................................... 4.5 PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS NO ESTUDO DE CASO 4.5.1 Investigao Preliminar................................................................................ 4.5.2 Critrios de Seleo da Amostra no Estudo de Caso.................................... 4.5.3 Pr-teste das Tcnicas de Coleta de Dados................................................... 4.5.4 Coleta de Documentos.................................................................................. 4.5.5 Questionrio Para Especialistas.................................................................... 4.5.6 Questionrio Destinado aos Moradores........................................................ 4.5.7 Lista de Verificao das Diretrizes Para Anlise das Expanses................. 4.5.8 Registros Fotogrficos.................................................................................. 4.6 ANLISE E VALIDAO.................................................................................. 4.6.1 Anlise e Validao Interna.......................................................................... 4.6.2 Anlise e Validao Externa......................................................................... 5. RESULTADOS E ANLISES DO ESTUDO DE CASO........................................ 5.1 CONTEXTO DO CAPTULO.............................................................................. 5.2 CARACTERIZAO DO ESTUDO DE CASO................................................. 5.2.1 Aspectos Gerais do Estudo de Caso............................................................. 5.2.1.1 O Conjunto Moradias Rio Chapec I............................................. 5.2.1.2 O Conjunto Moradias Rio Chapec II.............................................. 5.3 INVESTIGAO PRELIMINAR........................................................................

52 52 54 55 56 56 60 61 62 62 62 64 66 68 72 74 76 76 76 77 77 79 82 82 83 83 84 84 85 86 87 87 88 89 90 91 91 91 92 92 92 92 95 95 95

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5.4 PR-TESTE DO QUESTIONRIO E LISTA DE VERIFICAO .................. 5.5 CARACTERIZAO DAS HABITAES........................................................ 5.5.1 Aspectos Gerais............................................................................................ 5.5.2 Habitaes do Conjunto Rio Chapec I........................................................ 5.5.3 Habitaes do Conjunto Rio Chapec II..................................................... 5.6 PERFIL E PERCEPES DOS MORADORES DOS CONJUNTOS ESTUDADOS...................................................................................................... 5.6.1 Renda Familiar............................................................................................ 5.6.2 Ciclo de Vida Familiar................................................................................. 5.6.3 Faixa Etria................................................................................................... 5.6.4 Nmero de Moradores Por Domiclio.......................................................... 5.6.5 Escolaridade.................................................................................................. 5.6.6 Ocupao...................................................................................................... 5.6.7 Motivao e Prioridades dos Oradores na Expanso.................................... 5.6.8 Obedincia ao Projeto de Expanso............................................................. 5.6.9 Satisfao dos Moradores com as Expanses............................................... 5.6.10 Discusso.................................................................................................... 5.7. VERIFICAO DAS DIRETRIZES DE EXPANSIBILIDADE....................... 5.7.1 Anlise Geral................................................................................................ 5.7.2 Diretrizes Quanto ao Dimensionamento do Espao Arquitetnico.............. 5.7.3 Diretrizes Quanto Utilizao e Funo dos Espaos Arquitetnicos......... 5.7.4 Diretrizes Quanto aos Aspectos dos Processos e Sistemas Construtivos .... 5.7.4.1 Modulao dos Espaos................................................................... 5.7.4.2 Hierarquia Entre Ambientes............................................................. 5.7.4.3 Mobilirio Como Elemento Construtivo.......................................... 5.7.4.4 Ambientes Reversveis, Multiuso e Integrados................................ 5.7.4.5 Acessibilidade Adicional a Ambientes e a Sistemas Prediais.......... 5.7.4.6 Independncia de Subsistemas Construtivos.................................... 5.7.4.7 Incorporao de Informao no Sistema Construtivo Para a Expanso........................................................................................... 5.7.4.8 Facilidade de Desconexo de Componentes e Subsistemas............. 5.7.4.9 Compatibilidade da Vida til Entre componentes........................... 5.7.4.10 Elementos Construtivos de Fcil Montagem e Remontagem......... 5.7.4.11 Solues de Interface Para Expanso Futura.................................. 5.7.5 Discusso Sobre as Diretrizes de Expansibilidade Quanto ao Processo e Sistema Construtivo...................................................................................... 6 CONCLUSO............................................................................................................... 6.1 CONCLUSES GERAIS...................................................................................... 6.2 CONCLUSES SOBRE O MTODO................................................................. 6.3 CONCLUSES FINAIS ...................................................................................... 6.4 SUGESTES PARA ESTUDOS FUTUROS....................................................... REFERNCIAS .............................................................................................................. ANEXO.............................................................................................................................

97 98 98 101 102 104 104 105 105 106 107 108 109 110 116 117 118 119 120 121 123 124 125 126 126 127 128 128 129 130 131 131 134 138 138 138 139 141 142 151

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LISTA DE TABELASTABELA 2.1 EVOLUO DA ESPERANA DE VIDA AO NASCER POR SEXO BRASIL 1980-2001................................................................... TABELA 2.2 CRESCIMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO NA SEGUNDA METADE DO SCULO XX....................................................................... TABELA 2.3 DISTRIBUIO DA POPULAO BRASILEIRA POR GRUPOS DE TAMANHO........................................................................................... TABELA 2.4 DFICIT HABITACIONAL SEGUNDO SITUAO DO DOMICLIO BRASIL 2000..................................................................... TABELA 2.5 EVOLUO DO DFICIT HABITACIONAL BRASIL 1970/2001.................................................................................................... TABELA 2.6 INADEQUAO DE DOMICLIOS BRASIL 2000 ........................ TABELA 3.1 PADRES DE ALTERAES ESPACIAIS NAS CASAS ................ TABELA 3.2 PRINCIPAIS MODIFICAES EFETUADAS PELOS MORADORES......................................................................................... TABELA 5.1 HABITAES NOS DOIS CONJUNTOS ESTUDADOS .................. 16 19 20 23 24 27 53 55 97

TABELA 5.2 TIPOS DE PROJETOS IMPLANTADOS MORADIAS RIO CHAPEC II .............................................................................................. 102 TABELA 5.3 RENDA FAMILIAR EM SALRIOS MNIMOS ............................... 104 TABELA 5.4 CICLO DE VIDA FAMILIAR ESTGIO EM 2005.......................... 105 TABELA 5.5 DISTRIBUIO POR FAIXA ETRIA................................................ 106 TABELA 5.6 NMERO DE MORADORES POR DOMICLIO................................ 107 TABELA 5.7 ESCOLARIDADE NAS FAMLIAS..................................................... 107 TABELA 5.8 TIPO DE OCUPAO DO TITULAR.................................................. 108 TABELA 5.9 MOTIVAO PARA EXPANSO...................................................... 109 TABELA 5.10 PRIORIDADE DE EXPANSO.......................................................... 110 TABELA 5.11 OBSERVNCIA DO PROJETO DE EXPANSO ORIGINAL........ 111 TABELA 5.12 NDICE DE SATISFAO DOS MORADORES COM A EXPANSO................................................................................................ 116

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LISTA DE QUADROSQUADRO 2.1 TENDNCIAS GERAIS....................................................................... QUADRO 2.2 TENDNCIAS DE MUDANAS NO MACRO-COMPLEXO CONSTRUO.................................................................................... QUADRO 2.3 TENDNCIAS DE MUDANA NOS PROCESSOS DE CONSTRUO.................................................................................... QUADRO 2.4 ESTRATGIAS PARA MODERNIZAO DO MACROCOMPLEXO DA COSNTRUO CIVIL BRASILEIRO.................. QUADRO 3.1 DIRETRIZES PARA AMPLIAO DA FLEXIBILIDADE ESPACIAL EM HABITAES, INCLUINDO AS DE INTERESSE SOCIAL................................................................................................. QUADRO 3.2 PRINCPIOS DE FLEXIBILIDADE QUE PERMITEM A EXPANSO.......................................................................................... QUADRO 3.3 ESTRATGIAS DE ADAPTABILIDADE.......................................... QUADRO 3.4 SNTESE DAS DIRETRIZES DE EXPANSIBILIDADE................... QUADRO 4.1 LISTA DE VERIFICAO DE DIRETRIZES DE EXPANSIBILIDADE............................................................................ 43 43 44 44

69 70 71 74 89

QUADRO 5.1 VERIFICAO DAS DIRETRIZES DE EXPANSIBILIDADE NAS HABITAES ANALISADAS................................................... 134

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LISTA DE FIGURASFIGURA 2.1 SISTEMA CONSTRUTIVO DE PAU-A-PIQUE: CASA RURAL EM MINAS GERAIS.......................................................................... FIGURA 2.2 CONSTRUO EM TAIPA DE PILO: CASA BANDEIRISTA, MEADOS DO SCULO XVII........................................................... FIGURA 2.3 VILA OPERRIA EM SO PAULO, INCIO DO SCULO XX FIGURA 3.1 MODELO DO CICLO DE VIDA EXPANDIDO, BASEADO EM STAPLETON (1980).......................................................................... FIGURA 3.2 VISO INTEGRADA DA HABITAO E SEU DESEMPENHO AO LONGO DO CICLO DE VIDA................................................... FIGURA 3.3 ETAPAS DO CICLO DE VIDA DA EDIFICAO, SOB O DESEMPENHO.................................................................................. FIGURA 3.4 O PRINCPIO DA ADAPTABILIDADE E SEUS CONCEITOS RELACIONADOS.............................................................................. FIGURA 3.5 PLANTAS LIVRES COM ARRANJOS DIVERSIFICADOS POR MEIO DE DIVISRIAS PIVOTANTES........................................... FIGURA 3.6 ADAPTABILIDADE DE ESPAOS INTERNOS........................... FIGURA 3.7 PRINCPIOS DE EXPANSIBILDADE SEGUNDO RUSSEL E MOFFATT.......................................................................................... FIGURA 4.1 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO....................................... FIGURA 5.1 LOCALIZAO DA CIDADE DE PATO BRANCO, NO PARAN............................................................................................ FIGURA 5.2 PLANTA DOS CONJUNTOS RIO CHAPEC .............................. FIGURA 5.3 ALVENARIA NO CONJUNTO MORADIAS RIO CHAPEC II.. 29 30 32 47 58 59 63 66 72 73 82 94 94 99

FIGURA 5.4 MONTAGEM DE TESOURAS DE COBERTURA NO CONJUNTO MORADIAS RIO CHAPEC II.................................. 100 FIGURA 5.5 MORADIAS RIO CHAPOEC I: PLANTA BAIXA E ELEVAO DAS CASAS................................................................ 101 FIGURA 5.6 HABITAO NO CONJUNTO MORADIAS RIO CHAPEC I... 102 FIGURA 5.7 PLANTA PSH CF40A, COM ALTERNATIVAS DE COBERTURA..................................................................................... 103 FIGURA 5.8 OBRAS DO CONJUNTO MORADIAS RIO CHAPEC II............ 103 FIGURA 5.9 PROJETO DE EXPANSO NO LOTE 14, QUADRA 1282 (TIPO CF40C)................................................................................................ 112 FIGURA 5.10 PROJETO DE EXPANSO NO LOTE 6 DA QUADRA 1283 (TIPO CF40D1)................................................................................... 113 FIGURA 5.11 EXPANSO PARA LAVANDERIA, LOTE 11 DA QUADRA 1282( TIPO CF40A1)....................................................................... 114

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FIGURA 5.12 EXPANSO PARA LAVANDERIA, LOTE 8 DA QUADRA 1282 (TIPO CF40A1)....................................................................... 114 FIGURA 5.13 EXPANSO PARA COMRCIO, LOTE 12 DA QUADRA 1282 (TIPO CF40A1)................................................................................ 115 FIGURA 5.14 ABORDAGEM DA EXPANSIBILIDADE SOB PRINCPIOS E CATEGORIAS................................................................................. 118 FIGURA 5.15 PLANTA COHAPAR CF40A: PROJETO ORIGINAL E EXPANSO PROPOSTA............................................................... 121 FIGURA 5.16 PRESENA DE AMBIENTES MULTIUSO E INTEGRADOS................................................................................ 122 FIGURA 5.17 MOBILIRIO DE COZINHA INSTALADO NA SALA............... 123 FIGURA 5.18 AMBIENTE INTEGRADO SALA/COZINHA.............................. 126 FIGURA 5.19 DUTO DE INSTALAO ELTRICA EMBUTIDO NA ALVENARIA................................................................................... 127 FIGURA 5.20 ESQUADRIAS CHUMBADAS...................................................... 130 FIGURA 5.21 FIXAO DE ELEMENTOS DA COBERTURA......................... 131 FIGURA 5.22 EXPANSES DIRIGIDAS SEGUNDO O FORMATO ORIGINAL DE PLANTA E COBERTURA................................... 132 FIGURA 5.23 EXPANSO PARA LAVANDERIA, LOTE 8 DA QUADRA 1282 (TIPO CF40A1)....................................................................... 132 FIGURA 5.24 INTERFACE ENTRE BEIRAL ORIGINAL E EXPANDIDO....... 133

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LISTA DE GRFICOSGRFICO 2.1 RENDIMENTO DA POPULAO OCUPADA COM 10 ANOS OU MAIS DE IDADE, EM SALRIOS MNIMOS BRASIL 2003.................................................................................................. GRFICO 2.2 EVOLUO DA ESPERANA DE VIDA AO NASCER NO SCULO XX, EM ANOS BRASIL.............................................. GRFICO 2.3 EVOLUO DAS TAXAS DE NATALIDADE NO BRASIL, DE 1940 A 1999............................................................................... GRFICO 2.4 DFICIT HABITACIONAL NAS MACRO-REGIES GEOGRFICAS BRASILEIRAS.................................................... GRFICO 2.5 DFICIT HABITACIONAL BRASILEIRO EM RELAO RENDA DA POPULAO............................................................. GRFICO 3.1 NMERO MDIO DE PESSOAS POR FAMLIA RESIDENTES EM DOMICLIOS PARTICULARES.................... GRFICO 3.2 MULHERES COMO REFERNCIA DE DOMICLIOS 1981 A 2001..............................................................................................

14 16 17 25 25 49 50

GRFICO 5.1 OCORRNCIA DE DIRETRIZES DE EXPANSIBILDADE NO CONJUNTO RIO CHAPEC I....................................................... 119 GRFICO 5.1 OCORRNCIA DE DIRETRIZES DE EXPANSIBILIDADE NO CONJUNTO RIO CHAPEC II...................................................... 119

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RESUMOEste trabalho tem por objetivo apresentar uma contribuio s instituies e

profissionais envolvidos na concepo e produo de habitaes de interesse social, no sentido de desenvolver solues de melhorias na expanso de habitaes de interesse social. A dissertao representa tambm uma continuidade da linha de pesquisa sobre a expansibilidade e aspectos de flexibilidade no projeto da habitao de interesse social, ora em desenvolvimento no Programa de Ps-graduao em Construo Civil. Atravs do mtodo de estudo de caso, foi elaborada uma lista de verificao de diretrizes de expanso da habitao de interesse social, que permitiu a avaliao do desempenho quanto aos atributos de adaptao ao uso e a solues construtivas adotadas, por meio de observaes e registros realizados em dois conjuntos habitacionais produzidos pela Companhia de Habitao do Paran COHAPAR na cidade e Pato Branco. Atravs do estudo realizado, foi possvel identificar e sugerir diretrizes de expanso visando a melhoria das aes construtivas de expanso das habitaes de interesse social, realizadas pelos prprios usurios.

Palavras-chave: Habitao de Interesse Social, Expanso, Avaliao Ps-Ocupao, Flexibilidade, Adaptabilidade.

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ABSTRACTThis study aims to present a contribution to the institutions and professionals involved in the conception and production of inhabitancies of social interest with the aim of developing improvement solutions in the expansion of habitations of social concerning. The thesis also represents a continuation of the research field about the expansibility and aspects of flexibility in the project of the social home, in development in the Program of Post graduation in civil construction. Throught the methodology of the case study, it was elaborated a list of verification of the directives of expansion of the habitation of social interest which permitted the evaluation of the performance concerning attributes on the adaptations to the use and to constructed adopted solutions, by observations and registers accomplished in two houses projects constructed by Companhia de Habitaco do Paran COHAPAR , situated in Pato Branco. By means of study it was possible identify and suggest the expansion directives aiming the improvement of the expansion of constructive actions of the habitation of social interest, carried out by the users themselves. Key-words: House Expansion, Post-Occupation Evaluation, Low Income Habitation, Adaptability.

Diretrizes visando a melhoria de projetos e solues construtivas na expanso de habitaes de interesse social

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1. INTRODUO 1.1. Justificativa O tema estudado no presente trabalho a expanso de habitaes de interesse social sob a abordagem da avaliao de desempenho quanto adaptao ao uso. O projeto se insere na temtica projeto e produo da habitao de interesse social, inserida nas linhas de pesquisa centrais do Programa de Ps-Graduao em Construo Civil. De maneira especfica o trabalho d continuidade pesquisa realizada por Fischer (2003) a qual tratou de avaliao da dinmica das expanses da habitao de interesse social. A expanso de habitaes de interesse social pode ser avaliada sob a Norma ISO 6241 (Performance standards in building principles for their preparation and the factors to be considered, 1984), onde o atributo adaptao ao uso permite verificar a satisfao dos usurios da habitao em relao a expanses realizadas. Estudos relatados por Fischer (2003)1 j verificavam a grande incidncia de adaptaes em unidades de habitao destinadas a populaes de baixa renda, realizadas pelos prprios usurios j nas primeiras idades da habitao. O estudo das expanses realizadas na habitao de interesse social relevante, tendo em vista a persistncia das necessidades habitacionais brasileiras demonstradas pelos indicadores de dficit e inadequao habitacional. Os nmeros do IBGE apontam para um dficit de 6.536.492 unidades no ano 2000, e um nmero total de 2.219.090 moradias inadequadas em 2001 (IPPUR/UFRJ-FASE, 2003). Alm do investimento em novas moradias, portanto, necessrio investir em solues que permitam ou viabilizem a adaptao ou reforma de mais de 2,2 milhes de unidades de habitao no pas.

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FISCHER, Susana. Diretrizes de projeto arquitetnico e design de interiores para permitir a expanso de habitaes de interesse social. Curitiba, 2003. 136 f. Dissertao (Mestrado em Construo Civil) - Programa de Ps-graduao em Construo Civil, Universidade Federal do Paran.

Diretrizes visando a melhoria de projetos e solues construtivas na expanso de habitaes de interesse social

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No Brasil, a preocupao com as necessidades habitacionais remonta dcada de 1930, quando o Estado passa a assumir a coordenao das aes pela reduo do dficit habitacional junto s camadas populacionais de baixa renda. A sucesso de polticas habitacionais desde ento apresenta grande variao nas estratgias adotadas, com diferentes graus de eficcia (FARAH, 1996; 1998). Segundo Farah (1998), das aes descentralizadas dos anos 30 e 40, passando pelo centralismo e massificao da produo do BNH nos anos 60 e 70, chegando s formas e solues mais locais nos dias atuais, as solues arquitetnicas da habitao de interesse social tambm obedecem aos contextos socioeconmicos e tecnolgicos em que so aplicadas (FARAH, 1998). A introduo de novas filosofias da produo, oriundas de setores industriais de maior capacidade tecnolgica, assim como de conceitos de desenvolvimento ambiental, permitiu introduzir na indstria da construo, novos conceitos como Qualidade, Sustentabilidade e Desempenho, que devem significar um novo patamar de desenvolvimento e eficcia para a habitao, tambm nas demandas de interesse social. O presente trabalho pretende, portanto, contribuir para a maior satisfao do morador da habitao de interesse social atravs do desenvolvimento de diretrizes que devero prover suporte ao processo de adaptao ou reforma das habitaes de interesse social, aproveitando o conhecimento anterior j pesquisado. Ao propor uma ao em favor da expanso de habitaes das populaes menos favorecidas, espera assim auxiliar na soluo de um dos problemas mais prementes verificado pelas famlias de baixa renda no Brasil. 1.2. Problema de Pesquisa O presente trabalho pretende responder seguinte questo, como melhorar as expanses de habitaes de interesse social sob a tica do sistema construtivo entre a edificao existente e a edificao ampliada?

Diretrizes visando a melhoria de projetos e solues construtivas na expanso de habitaes de interesse social

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1.3. Objetivo O objetivo geral desta dissertao consiste em propor diretrizes e solues para a expanso da habitao de interesse social com foco nos sistemas construtivos de maneira a auxiliar profissionais envolvidos na concepo e na produo destas habitaes. 1.4. Hiptese A expanso nos projetos de habitaes de interesse social nem sempre resulta em solues adequadas, quando realizadas pelos prprios usurios. Projetos para expanso, quando existentes, via de regra contemplam apenas solues funcionais de expanso, resultando em solues sub-timas tanto sob o ponto de vista do conforto do usurio como sob o ponto de vista construtivo. A incorporao de diretrizes de expansibilidade focadas na interface entre os elementos e sistemas construtivos originais e expandidos pode significar melhorias na qualidade das habitaes. 1.5. Viso Geral do Mtodo de Pesquisa O mtodo de pesquisa adotado foi o Estudo de Caso, que considerado adequado para uma anlise explicativa de problemas reais e contemporneos (YIN, 2005). Foram escolhidos, para estudo de caso, dois conjuntos de habitaes trreas isoladas, denominados Moradias Rio Chapec I e Moradias Rio Chapec II. Justifica-se a escolha destes conjuntos devido ao fato dos mesmos terem tempos de implantao diferentes, permitindo inferncias quanto dinmica de expanso. Os conjuntos apresentam algumas distines, que favorecem a diversidade de dados e suas anlises, enriquecendo a experincia da advinda. As habitaes nas quais a coleta de dados foi realizada, foram escolhidas baseando-se em critrios no probabilsticos. O critrio de seleo das moradias, em cada conjunto habitacional, incluiu a rea construda at 40 m2, renda familiar de at trs salrios mnimos, atendendo a definies estabelecidas na reviso bibliogrfica, alm da

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presena de expanses. Foram coletados dados em 26 unidades de habitao nos dois conjuntos citados, envolvendo desde a caracterizao da populao, caracterizao das habitaes at a aplicao de uma lista de verificao sobre diretrizes de expanso, desenvolvida a partir da reviso de bibliografia. A triangulao destes dados juntamente com o dados de percepes da populao com respeito a expanso e a estrutura terica desenvolvida na dissertao permitiram o estabelecimento de diretrizes para futuros projetos. 1.6. Limitaes do Trabalho O presente trabalho procura restringir-se s ocorrncias de expanso das habitaes e suas manifestaes no sistema construtivo, ou seja, em aspectos que transparecem nas partes construdas das habitaes. A base de dados do estudo constitui-se de apenas 26 casas de dois conjuntos habitacionais, o que possibilita apenas a generalizao analtica em contraposio generalizao estatstica. O propsito do estudo foi o aprofundamento do entendimento sobre o fenmeno analisado bem como as variveis que o afetam muito mais do que a sua mensurao quantitativa. 1.7. Estrutura da Dissertao No presente captulo, apresentada a estrutura que fundamenta a dissertao, assim como os principais motivos e argumentos para seu desenvolvimento: a justificativa, problema de pesquisa, hiptese de pesquisa, as limitaes do trabalho e o mtodo de pesquisa utilizado. O Captulo 2 desenvolve a primeira parte da reviso bibliogrfica. Apresenta as definies sobre a habitao de interesse social, seus aspectos condicionantes assim como suas relaes com a estrutura social e econmica do Brasil. Aborda alguns dos critrios para dimensionamento e qualificao das necessidades habitacionais e qual desenvolve consideraes sobre os critrios que influem na expanso da habitao de interesse social.

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O Captulo 3 continua o desenvolvimento da reviso de bibliografia. Trata da dinmica da expanso da habitao de interesse social sob o enfoque da avaliao de desempenho como atributo denominado adaptabilidade. Sob este enfoque so discutidos os princpios, conceitos e diretrizes para a expansibilidade na habitao de interesse social. Aps a consolidao destes conceitos, definida uma lista de verificao de diretrizes de expansibilidade a ser aplicada e avaliada no estudo de caso. O Captulo 4 define o mtodo de pesquisa adotado, justificando sua escolha e detalhando os procedimentos do estudo de caso, o qual utiliza procedimentos e mtodos da Avaliao Ps-Ocupao (APO). No Captulo 5, so apresentados os resultados e anlises do estudo de caso, assim como so explicitados os diagnsticos e recomendaes para o presente estudo. O Capitulo 6 finaliza o presente trabalho, com as concluses para o presente trabalho, consideraes sobre o mtodo de pesquisa assim como recomendaes para futuros trabalhos.

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2. A HABITAO DE INTERESSE SOCIAL: CONCEITO E IMPACTOS2.1 A Relevncia da Habitao e Suas Funes A funo primordial da habitao a de abrigo. Com o desenvolvimento de suas habilidades, o homem passou a utilizar materiais disponveis em seu meio, tornando o abrigo cada vez mais elaborado. Mesmo com toda a evoluo tecnolgica, sua funo primordial tem permanecido a mesma, ou seja, proteger o ser humano das intempries e de intrusos (ABIKO, 1995). Como obra arquitetnica, segundo Rapoport (1984) a funo de abrigar no sua nica nem a principal funo da habitao. O autor observa que a variedade observada nas formas de construo, num mesmo local ou sociedade, denota uma importante caracterstica humana: transmitir significados e traduzir as aspiraes de diferenciao e territorialidade dos habitantes em relao a vizinhos e pessoas de fora de seu grupo. Santos (1999) afirma que a habitao uma necessidade bsica e uma aspirao do ser humano. A casa prpria, juntamente com a alimentao e o vesturio o principal investimento para a constituio de um patrimnio, alm de ligar-se, subjetivamente, ao sucesso econmico e a uma posio social mais elevada (BOLAFI, 1977). Junqueira e Vita (2002) observam que hoje a aquisio da habitao faz parte do conjunto de aspiraes principais de uma parcela significativa da populao brasileira, embora venha perdendo importncia relativa para a educao, sade e previdncia privada. Esta perda de importncia relativa no foi devido realizao da aspirao da moradia pela populao mas, em grande parte, devido deficincia crescente destes servios pblicos. Segundo Fernandes (2003), a habitao desempenha trs funes diversas: social, ambiental e econmica. Como funo social, tem de abrigar a famlia e um dos fatores do seu desenvolvimento. Segundo Abiko (1995), a habitao passa a ser o espao ocupado antes e aps as jornadas de trabalho, acomodando as tarefas primrias de alimentao, descanso, atividades fisiolgicas e convvio social. Assim, entende-se

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que a habitao deve atender os princpios bsicos de habitabilidade, segurana e salubridade. Na funo ambiental, a insero no ambiente urbano fundamental para que estejam assegurados os princpios bsicos de infra-estrutura, sade, educao, transportes, trabalho, lazer etc., alm de determinar o impacto destas estruturas sobre os recursos naturais disponveis. Alm de ser o cenrio das tarefas domsticas, a habitao o espao no qual muitas vezes ocorrem, em determinadas situaes, atividades de trabalho, como pequenos negcios (ABIKO, 1995). Neste sentido, as condies de vida, de moradia e de trabalho da populao esto estreitamente vinculadas ao processo de desenvolvimento. J a funo econmica da moradia inquestionvel: sua produo oferece novas oportunidades de gerao de emprego e renda, mobiliza vrios setores da economia local e influencia os mercados imobilirios e de bens e servios. A construo da habitao responde por parcela significativa da atividade do setor de construo civil: em 2002, o subsetor de construo de edifcios, que envolve a construo habitacional, foi responsvel por 25,29% na riqueza gerada pelo macrossetor da construo no pas. Em 2003, o macrossetor da Construo Civil brasileiro gerou R$ 96,8 bilhes, correspondendo a 6,4% do PIB. Esta relevncia se estende tambm ao aspecto social: a construo foi responsvel, em dezembro de 2004, por 1,28 milhes de empregos com carteira assinada no pas (FGV/SINDUSCON, 2004). A construo tambm est entre os dez setores que mais geram emprego por unidade monetria investida e possui um elevado poder de encadeamento na economia: para cada milho de reais investidos no setor foram gerados 26 empregos diretos e outros 11 indiretos em 2003. Embora isto se deva ao baixo ndice tecnolgico dos processos da construo, em grande parte tambm se deve grande pulverizao da atividade da construo e do comrcio de seus insumos, tambm com grande incidncia de informalidade (FGV/SINDUSCON, 2004). Por esta razo, o consumo de cimento, um dos principais insumos da construo, utilizado como importante indicador econmico: 80% de suas vendas so destinadas a pequenos consumidores (sobretudo

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para construo, reforma e expanso de habitaes, o chamado consumo formiga), contra apenas 20% restantes do consumo de cimento absorvidos por empresas1. 2.2 A Habitao de Interesse Social: Definies A habitao um bem de consumo de caractersticas nicas, sendo um produto potencialmente muito durvel onde muito freqentemente so observados tempos de vida til superior a 50 anos (ORNSTEIN, 1992; WORLD BANK, 2002;). Por ser um produto caro, as classes menos privilegiadas constituem a maior demanda imediata por habitao, no Brasil (Fundao Joo Pinheiro, 2001). O termo Habitao de Interesse Social (HIS) define uma srie de solues de moradia voltada populao de baixa renda. O termo tem prevalecido nos estudos sobre gesto habitacional e vem sendo utilizado por vrias instituies e agncias, ao lado de outros equivalentes, como apresentado abaixo (ABIKO, 1995): Habitao de Baixo Custo (low-cost housing): termo utilizado para designar habitao barata sem que isto signifique necessariamente habitao para populao de baixa renda; Habitao para Populao de Baixa Renda (housing for low-income people): um termo mais adequado que o anterior, tendo a mesma conotao que habitao de interesse social; estes termos trazem, no entanto a necessidade de se definir a renda mxima das famlias e indivduos situados nesta faixa de atendimento; Habitao Popular: termo genrico envolvendo todas as solues destinadas ao atendimento de necessidades habitacionais. A repercusso do problema da habitao de interesse social vai alm da simples construo da mesma. Sua soluo est ligada a fatores como a estrutura de renda das

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V-se no consumo de cimento - especialmente pelo pequeno consumidor, que aquece o setor fazendo reformas e construes pequenas - um importante indicador, mesmo para as empresas indiretamente ligadas ao setor. O consumo de cimento subiu depois do Plano Real, com o aumento da renda at 1999, passando de 25 para 40 milhes de toneladas por ano, mas depois disso, s caiu, indo para 34 milhes em 2003 (Eduardo Kondo, consultor)." (Jornal Valor Econmico. Construo civil ganha flego com crescimento. In: CMARA BRASILEIRA DA INDSTRIA DA CONSTRUO CBIC. Clipping 03/03/2005) disponvel em http://www.cbic.org.br/noticias/Informativos/cbic%20clipping03032005.pdf. Acesso em 29/3/2005.

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classes sociais mais pobres, dificuldades de acesso aos financiamentos concedidos pelos programas oficiais e a deficincias na implantao das polticas habitacionais (BRANDO, 1984). Depende, tambm, da vontade coletiva de toda uma comunidade, ciclo de vida da famlia, cultura, histria, entre outros fatores (FUNDAO JOO PINHEIRO, 2004). Na conceituao das abordagens da gesto habitacional, Abiko (1995) defende que a habitao popular no deve ser entendida meramente como um produto e sim como um processo, com uma dimenso fsica, mas tambm como resultado de um processo complexo de produo com determinantes polticos, sociais, econmicos, jurdicos, ecolgicos, tecnolgicos. Neste conceito, o autor prope que a habitao no se restringe apenas unidade habitacional, para cumprir suas funes. Assim, alm de conter um espao confortvel, seguro e salubre, necessrio que seja considerada de forma mais abrangente (ABIKO, 1995): servios urbanos: as atividades desenvolvidas no mbito urbano que atendam s necessidades coletivas de abastecimento de gua, coleta de esgotos, distribuio de energia eltrica, transporte coletivo, etc.; infra-estrutura urbana: incluindo as redes fsicas de distribuio de gua e coleta de esgotos, as redes de drenagem, as redes de distribuio de energia eltrica, comunicaes, sistema virio, etc.; equipamentos sociais: compreendendo as edificaes e instalaes destinadas s atividades relacionadas com educao, sade, lazer, etc. Nas formas de oferta de habitao s populaes de baixa renda, Bonduki et al. (2003) diferencia a habitao de interesse social da habitao de mercado popular. Nesta ltima h produo e consumo de habitaes populares (pequenas construes, autoconstruo, em iniciativas prprias ou contratadas diretamente pelos usurios da habitao), porm estas no esto sujeitas aos mesmos critrios de planejamento e implementao que os programas produzidos pelo poder pblico. Na relao do custo da habitao com a renda das populaes, estima-se que o preo dahabitao , em mdia, quatro vezes superior renda anual de seu proprietrio (LUCENA,

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1986, WORLD BANK, 2002), de modo que sua aquisio depende muito de esquemas de financiamento de longo prazo. Em pases desenvolvidos, as despesas com habitao tambm respondem por 25% de despesas do consumo pessoal. J no Brasil, este valor gira em torno de aproximadamente 26 por cento para a mesma faixa da populao, o que denota a pouca eficcia de polticas especficas para acesso habitao pelas populaes de menor renda (WORLD BANK, 2002).

O Interesse Social como terminologia na habitao no Brasil j era utilizada nos programas para faixas de menor renda do extinto Banco Nacional da Habitao (BNH) (ABIKO, 1995). Como diretriz de polticas pblicas, segundo Bonduki et al. (2003), a Constituio Federal de 1988 previa o princpio da funo social do uso do solo urbano. Sob este princpio, o conceito de Interesse Social constitucionalmente incorporado s polticas habitacionais para os setores de populao de baixa renda. Uma importante contribuio para a consolidao do princpio da funo social do solo urbano se d tambm a partir das concluses da Conferncia das Naes Unidas sobre Assentamentos Humanos (HABITAT II, 1996), que elegeu os temas Moradia adequada para todos e Desenvolvimento sustentvel dos assentamentos humanos num mundo em urbanizao, como os maiores desafios a serem enfrentados em nvel global. O Habitat II estabelece o conceito de adequao da habitao, reconhecendo que ...o acesso a abrigo e servios bsicos saudveis e seguros, essencial para o bem-estar fsico, psicolgico, social e econmico da pessoa (UNCHS, 1996; FERNANDES, 2003). Mais recentemente, com a promulgao do Estatuto das Cidades (Lei Federal No 10.257, de 10 de julho de 2001), que regulamenta a Constituio, foi ratificada a funo social do solo urbano e a habitao assume efetivamente o carter de direito bsico da populao. As polticas e estratgias habitacionais para a populao de baixa renda passam a ser legalmente submetidas ao interesse da sociedade, sobretudo em nvel local nos municpios, onde se do os impactos de sua implantao. No nvel das aes dos governos municipais, Bonduki et al. (2003) observa que a habitao de interesse social deve ser definida como aquela necessariamente induzida pelo poder pblico. O Estatuto das Cidades prev diretrizes para implementao da

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funo social do uso do solo urbano, que devem ser aplicadas por meio de uma srie de instrumentos. Entre tais instrumentos, obrigatria a adoo e planos diretores de desenvolvimento urbano, para cidades de mais de 20 mil habitantes (a partir de 10 de julho de 2006). Estes instrumentos destinam-se a assegurar a funo social da propriedade urbana, como o parcelamento e edificao compulsria de reas e imveis urbanos, o usucapio urbano, a concesso de direito real de uso e as zonas especiais de interesse social. O Estatuto das Cidades tambm procura categorizar a habitao de interesse social quanto a faixas de renda restrita e localizada em zonas especiais, assim apontadas por critrios de localizao, usos afins e particularidades ambientais, entre outros (BONDUKI, 2003). Das definies coletadas nesta etapa de reviso bibliogrfica, pode-se concluir os seguintes requisitos bsicos que caracterizam a Habitao de Interesse social: financiada pelo poder pblico, mas no necessariamente produzida pelos governos, podendo a sua produo ser assumida por empresas, associaes e outras formas institudas de atendimento moradia; destinada sobretudo a faixas de baixa renda que so objeto de aes inclusivas, notadamente as faixas at 3 salrios mnimos; embora o interesse social da habitao se manifeste sobretudo em relao ao aspecto de incluso das populaes de menor renda, pode tambm manifestar-se em relao a outros aspectos, como situaes de risco, preservao ambiental ou cultural; A habitao de interesse social e suas variveis, portanto, interage com uma srie de fatores sociais, econmicos e ambientais, e garantida constitucionalmente como direito e condio de cidadania. Entretanto, para se fazerem cumprir estas garantias no Brasil, observam-se inmeros desafios a serem superados, sobretudo nos fatores que se impem como obstculos ao desenvolvimento da sociedade como um todo. Alm disso, a questo habitacional fruto de uma cadeia de fatos histricos que modelaram sua situao atual. Assim, o

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conhecimento aprofundado dos fatores scio-econmicos e histricos que moldam as necessidades habitacionais do pas permite a compreenso atual e a projeo futura da habitao. 2.3 Habitao e o Desenvolvimento Econmico e Social 2.3.1 Indicadores de Qualidade de Vida Os indicadores sociais, juntamente com aspectos sobre o comportamento demogrfico brasileiro so importantes para o estudo da expanso da habitao de interesse social, pois sua evoluo provoca mudanas considerveis nos requisitos dos usurios de habitaes, exigindo flexibilidade e adaptabilidade dos ambientes construdos (ANTAC, 2002; TRAMONTANO, 1993). Ao lado do histrico movimento da populao em direo s cidades, observa-se o envelhecimento da populao, a diminuio no tamanho das famlias e a maior incidncia de famlias no convencionais. Quanto aos novos modos de vida, vrias tendncias gerais podem ser identificadas, destacando-se novas formas de relaes de trabalho e o aumento do papel da mulher na sociedade (IPARDES, 2003). Entre os vrios fatores que tm influenciado as outras mudanas dos modos de vida, destaca-se como tendncia global os novos hbitos de consumo, maior tempo gasto em lazer, em funo da reduo gradual da jornada de trabalho e do aumento do poder aquisitivo; a individualizao do modo de vida e o aumento do nvel educacional. No Brasil, entretanto, tais fatores provavelmente no se desenvolvero na velocidade observada em pases desenvolvidos, sobretudo entre as faixas populacionais de baixa renda (ANTAC, 2002). Com exceo dos aspectos que apresentam a evoluo quantitativa da populao e da composio familiar, os indicadores necessrios compreenso das necessidades habitacionais so hoje agrupados na metodologia conhecida como ndice de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH um ndice sinttico composto por quatro indicadores que medem o desempenho mdio dos pases em trs dimenses do desenvolvimento humano: uma vida longa e saudvel, mensurada pela expectativa de

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vida ao nascer; o acesso ao conhecimento, medido pela taxa de alfabetizao da populao com 15 anos ou mais e pela taxa de matrcula bruta nos trs nveis de ensino; um padro de vida decente, medido pelo PIB (Produto Interno Bruto) de um pas, dividido pelo nmero de seus cidados e ajustado pela paridade do poder de compra (expressos em dlares) (PNUD, 2004). Do ranking de 2004 do IDH, fazem parte 175 pases. Os pases com IDH at 0,499 tm desenvolvimento humano considerado baixo, os pases com ndices entre 0,500 e 0,799 so considerados de mdio desenvolvimento humano e pases com IDH superior a 0,800 tm desenvolvimento humano considerado alto (PNUD, 2004). O Relatrio de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2004 atribui ao Brasil um IDH de valor 0,775, o que coloca o pas na 72 colocao entre 177 territrios. Esse resultado mantm o Brasil na parte superior do grupo dos pases com desenvolvimento humano mdio (de 0,500 a 0,800). Apesar de no utilizar dados sobre a habitao em sua metodologia, o IDH permite um perfil bastante aproximado da qualidade de vida das populaes, onde a disponibilidade de um habitat de qualidade certamente faz parte do seu desenvolvimento. A anlise conjunta de dados sobre a dinmica familiar, com o trinmio renda/escolaridade/idade dos usurios da habitao social permite extrair os requisitos necessrios ao estudo das necessidades da habitao, assim como para dimensionar sua expanso. 2.3.2 Renda Abiko (1995) aponta a persistente desigualdade da distribuio de renda no Brasil como causa principal dos problemas habitacionais. A insuficincia ou a impossibilidade de comprovao de renda, juntamente com as dificuldades impostas para a regularizao de reas ocupadas, indica a necessidade do conhecimento do perfil econmico e scio cultural da parcela da populao ainda excluda dos sistemas de oferta de moradia (IPARDES, 2003). Em relao s necessidades habitacionais, observa-se a concentrao das carncias na faixa de populao mais pobre, tanto em relao ao dficit, quanto inadequao

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domiciliar. Essa faixa de renda caracterizada por um rendimento mensal de at trs salrios mnimos que, em termos proporcionais, corresponde a 48,7% da populao brasileira (Grfico 2.1). Esta parcela da populao apresenta os maiores percentuais de caractersticas que definem as necessidades habitacionais, ou seja: nos estratos mais pobres da populao, concentra-se parcela muito mais substantiva das carncias habitacionais. (FUNDAO JOO PINHEIRO, 2004 p. 77).

Grfico 2.1 Rendimento da populao ocupada com 10 anos ou mais de idade, em salrios mnimos Brasil 2003 (IBGE, 2003)

A populao de baixa renda no contava, historicamente, com acesso fcil s modalidades de crdito e programas habitacionais. Apesar de o Brasil possuir um sofisticado sistema financeiro que oferece uma gama diversificada de produtos e servios, at o ano de 2002 a maioria da populao de baixa renda ainda no tinha acesso a esse sistema financeiro para fins de habitao (PARENTE, 2003). A partir de 2003, tem se observado a preocupao, nas polticas estatais, pelo rebaixamento das faixas de renda atingidas pelos recursos federais. Esta diretriz pretende corrigir a situao, constatada, de que 85% do dficit habitacional corresponde a famlias de rendas entre 0 e 3 salrios mnimos, enquanto que 70% do FGTS, em 2002 foi emprestado para famlias cujas rendas familiares esto acima de 5 salrios mnimos (MINISTRIO DAS CIDADES, 2004).

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Entre os mecanismos de crdito diretamente vinculados habitao de interesse social, foi criado o Programa de Crdito Solidrio (PCS), destinado para cooperativas, associaes e companhias estaduais e municipais de habitao (COHABs) para famlias de baixa renda (0 a 3 salrios mnimos). No mbito dos rgos pblicos, foram criados o Programa de Arrendamento Residencial (PAR), que destina 50% das unidades para populao com renda at 6 salrios mnimos e o Programa Subsdio Habitacional (PSH), restrito populao que tem renda familiar at 3 salrios mnimos (MARICATO, 2004). Destaca-se tambm a criao e expanso de modalidades de crdito pessoal destinado a populaes de baixa renda o microcrdito , com valores de pouca monta, mas tambm de poucas exigncias burocrticas, que tem grande aceitao pela populao e pelo mercado financeiro. So exemplos destas modalidades a carta de crdito para compra de material de construo e os programas do Banco Popular, acessvel populao atravs dos Correios. Segundo Parente (2003), as camadas mais pobres tm necessidades financeiras diversas que no se limitam ao crdito produtivo, as quais variam em funo da renda (baixssima, baixa e mdia-baixa), dos eventos do ciclo de vida (morte, casamentos, festas), emergncias (doenas), oportunidades (iniciar ou ampliar negcio, reforma de casa, educao). Em face da capacidade mdia de produo de habitaes ser historicamente limitada a 210 mil unidades ao ano (MINISTRIO DAS CIDADES, 2004) e da demanda crescente, as iniciativas de crdito popular so importantes componentes das polticas pblicas de habitao, assim como para as prprias iniciativas da populao de baixa renda na soluo suas necessidades de habitao, entre os quais a expanso da moradia. 2.3.3 Longevidade A idade dos usurios, como consumidores da habitao, caracterstica importante para a definio dos requisitos que determinaro modificaes e expanses na habitao ao longo do seu ciclo de vida (TRAMONTANO, 1996). Para Salomon

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(2002), medida que envelhecemos, mudam nossas necessidades e preferncias, freqentemente de modo semelhante s de outros que tm quase a mesma idade. A Longevidade, ou esperana de vida ao nascer, vem crescendo paulatinamente ao longo dos anos no Brasil acompanhando tendncia mundial (Grfico 2.2).

Grfico 2.2 Evoluo da esperana de vida ao nascer no sculo XX, em anos Brasil (IBGE)

Entre 1980 e 2001, para a populao de ambos os sexos, esse indicador da mortalidade passou de 62 anos para 68,9anos (Tabela 2.1). Ou seja, em 20 anos houve um incremento de mais de 6 anos na expectativa de vida dos brasileiros, com franco favorecimento para as mulheres: a diferena entre a esperana de vida ao nascer entre homens e mulheres em 1980 era de 6,4 anos, enquanto que em 2001 foi de 7,8 anos.TABELA 2.1 EVOLUO DA ESPERANA DE VIDA AO NASCER POR SEXO - BRASIL - 1980-2001 ANO DE REFERNCIA 1980 1991 1998 1999 2000 2001 Fonte: IBGE, 2003 AMBOS OS SEXOS 62,0 66,0 68,1 68,4 68,6 68,9 HOMENS 59,6 62,6 64,4 64,6 64,8 65,1 MULHERES 66,0 69,8 72,0 72,3 72,6 72,9

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Para Carvalho e Garcia (2003) o processo observado de envelhecimento da populao brasileira deve-se ao rpido declnio da fecundidade, observada pelo decrscimo das taxas de natalidade ao longo da segunda metade do sculo XX (Grfico 2.3). Com um possvel avano na queda de mortalidade nas idades mais avanadas, haver mais acelerao ainda, do processo de envelhecimento da populao, que se dar a um ritmo ainda mais avanado do que o verificado nos pases do Primeiro Mundo.

Grfico 2.3 Evoluo das taxas de natalidade no Brasil, de 1940 a 1999 (IBGE)

Essa acelerada mudana de estrutura etria no pas apresenta, segundo Carvalho e Garcia (2003) oportunidades para o enfrentamento de alguns problemas bsicos, principalmente relacionados s crianas e jovens, porm coloca novos desafios, gerados, principalmente, pelo envelhecimento de sua populao. No Brasil, 27% dos idosos j so responsveis por mais de 90% do rendimento familiar (IBGE, PNAD 2001). Nos municpios com at 20 mil habitantes essa contribuio mais significativa, com 35% das pessoas com 60 anos ou mais de idade se responsabilizando por 30 a 50% do rendimento familiar. Essa participao dos idosos pode ser ilustrada pelo fato de em 2000, no Brasil, 66,8% das pessoas de 60 anos ou mais de idade eram aposentadas e 11,2% pensionistas.

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Com esta nova realidade e com a promulgao do Estatuto do Idoso (Lei N. 10.741/2003), as faixas etrias mais idosas da populao passam a ter um papel social de maior preponderncia, que tambm se estende habitao. Existem demandas especficas para a populao de terceira idade que devem ser atendidas (IPARDES 2003). Com o crescimento da longevidade, o ciclo de vida das famlias aumentado, criando novas necessidades para as habitaes, que devem ser adaptadas para os requisitos de pessoas idosas. emergente o conceito do design universal, que prescreve diretrizes e normas para projetos destinados a usurios portadores de necessidades especiais, como acessibilidade e segurana no uso do ambiente construdo. 2.3.4. Educao O nvel educacional est diretamente relacionado com a ocupao remunerada. Do ponto de vista econmico, h evidncias de que a educao contribui significativamente para elevar a produtividade dos trabalhadores e conseqentemente contribui para o desenvolvimento do pas (SILVA e KASSOUF, 2002). Assim, quanto maior a escolaridade das populaes, maior a possibilidade de gerao de renda permanente e a capacidade de aquisio e manuteno da habitao. Os resultados da Pesquisa de Padro de Vida (PPV) do IBGE, entre maro de 1996 e maro de 1997, em regies metropolitanas do Nordeste e do Sudeste do Brasil, mostraram que a taxa de ocupao para quem estuda durante 12 anos ou mais de 77,62%, contra 44,5%, para os que tm de 1 a 3 anos de estudo (IBGE, 1998). Os resultados do Censo Demogrfico 2000 confirmaram, de maneira geral, tendncia j observada de melhoria do nvel educacional da populao brasileira na dcada de 90 (IBGE, 2000). A taxa de analfabetismo caiu no pas como um todo, de 23,8%, em 1991, para 17,2% em 2000. Para pessoas de 15 anos ou mais de idade, caiu de 20,1% para 13,6 %. O progressivo aumento da taxa de alfabetizao, de 1991 a 2000, que ocorreu em todas as idades, foi mais expressivo nas faixas etrias de 10 a 14 anos e a partir dos 40 anos. Este crescimento ocorreu, segundo o IBGE (2000), em decorrncia das polticas

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educacionais voltadas expanso do acesso dos jovens de 10 a 14 anos ao ensino fundamental. Outro indicador que reflete a melhoria no nvel de instruo da populao o nmero mdio de anos de estudo por habitante. Este passou de 5 anos em 1993 para 6,4 anos em 2003. Entre a populao ocupada, a mdia de anos de estudo era de 7,1 anos em 2003, sendo maior entre as mulheres, com 7,7 anos de estudo (IBGE, 2003). 2.3.5. Crescimento e distribuio populacional Segundo ABIKO (1995), as questes relativas ao crescimento e movimento das populaes esto intimamente relacionadas s necessidades habitacionais brasileiras. H um consenso de que as cidades tm crescido e com elas cresce uma populao com muita dificuldade em conseguir uma habitao adequada. Assim, para compreenso do problema da expanso da habitao de interesse social, necessria uma compreenso das causas e caractersticas que originam essa expanso e que podem tambm apontar para sua soluo. Apesar de as taxas de crescimento populacional estarem decaindo nos ltimos anos, ABIKO (1995) considera que ainda elevado o crescimento populacional brasileiro: nas dcadas de 50 e 60, a taxa era de 2,9% ao ano e na dcada de 70, de 2,48 %. O censo de 2000 (IBGE, 2000) apontou 169.5 milhes de habitantes e uma taxa de crescimento geral de 2,2% para a populao urbana (Tabela 2.2).TABELA 2.2 CRESCIMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO NA SEGUNDA METADE DO SCULO XX ANO POPULAO TOTAL POPULAO (MILHES) URBANA (MILHES) 12,9 137.7 3.9 2.2 POPULAO URBANA (%) 31.2 81.2

Populao 41,2 1940 169.5 2000 Taxas de crescimento (%) 2.4 1940-1950 1.4 1990-2000 Fonte: IBGE, 2000

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Quanto distribuio da populao brasileira, o Censo 2000 (IBGE, 2000) aponta que em 1940 aproximadamente 2/3 da populao vivia no meio rural e 1/3 viviam nas cidades. J no ano 2000, mais de 80% da populao reside em reas urbanas, como mostra a Tabela 2.3.TABELA 2.3 - DISTRIBUIO DA POPULAO BRASILEIRA POR GRUPOS DE TAMANHO (em %) GRUPOS Urbana Rural 1940 31,2 68,8 1950 36,2 63,8 1960 45,4 54,6 1970 55,9 44,1 1980 67,7 32,4 1991 74,8 24,5 2000 81,23 18,77

Fonte dos dados brutos: IBGE, censos demogrficos. In: CAMARANO e BELTRO (2000)2

Esta inverso da distribuio populacional influencia de maneira fundamental as necessidades habitacionais e, entre elas, a inadequao habitacional por adensamento excessivo, importante para o estudo da expanso da habitao de interesse social. Esta inadequao, em 2000, era de aproximadamente 1.5 milho de domiclios nas reas metropolitanas, contra praticamente a metade, ou cerca de 850 mil domiclios inadequados por adensamento excessivo, nos municpios de menor porte pesquisados pelo PNAD 2000, com forte concentrao na regio Sudeste. 2.3.6. Discusso A evidente evoluo em alguns ndices sociais e de qualidade de vida no Pas, reconhecidamente fruto do perodo recente de estabilidade e de reordenamento poltico e econmico, que permitiram maior eficcia no ataque ao atraso nacional nos ndices sociais. No entanto, num contexto de escassez de recursos, como no Brasil, o conhecimento dos aspectos sociais e demogrficos deve ser permanente e aprofundado, pois permite uma viso abrangente do perfil da populao usuria da Habitao de Interesse Social. Essa viso propicia uma correta interpretao sobre todos os aspectos que influenciam a questo da expanso da HIS, projetando assim as necessidades, expectativas e requisitos que devem orientar o planejamento necessrio

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para esse objetivo. Entre os indicadores que podem ser conclusivos para a abordagem da expanso da habitao de interesse social, deve-se destacar: Renda: apontado como principal entrave ao problema habitacional, o acesso pela populao de baixa renda aos mecanismos de financiamento importante soluo para parte da populao de baixa renda, ao propiciar recursos para pequenas obras de expanso; Aumento da longevidade: o aumento da expectativa de vida cria novos extratos de populao com necessidades diferenciadas em termos de ambiente construdo. Com o aumento da proteo social ao idoso, criam-se novos requisitos de produtos destinados a esta faixa etria, entre os quais a habitao. Com a extenso do ciclo de vida familiar, tambm h que se considerar um ciclo de vida estendido para a habitao, demandando maior qualidade e flexibilidade no uso; Educao: encarada como motor da promoo social, diretamente relacionada renda e ao emprego, ou seja, possibilidade de recursos para suprir as demandas da habitao, tanto em relao a sua aquisio quanto em relao s necessidades de adaptao ou expanso face s modificaes que se apresentem ao longo do ciclo de vida da famlia; Crescimento e distribuio populacional: a grande expanso e migrao observadas em passado recente acarretaram uma demanda habitacional significativa, tanto em termos de novas moradias quanto em inadequao das existentes. As necessidades de expanso de habitaes se justificam, sobretudo, pela existncia de grande quantidade de habitaes inadequadas por adensamento excessivo e por falta de unidade sanitria. Alm destes indicadores, uma importante caracterstica scio-cultural deve ser acrescentada e ser tratada em seo especfica neste estudo: a crescente modificao na estrutura familiar, em decorrncia do surgimento de novos modos de vida. As relaes familiares, sociais e de trabalho tm se modificado, sobretudo nos grandes

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CAMARANO, Ana Amlia; BELTRO, Kaiz Iwakami. Distribuio espacial da populao brasileira na segunda metade deste sculo. Instituto de Pesquisas Econmicas Aplicadas. Texto para Discusso N. 766. Rio de Janeiro : IPEA, 2000. Disponvel em www.ipea.gov.br/pub/td/td_2000/td0766.pdf. Acessado em 21/02/2005.

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centros urbanos, acompanhando a tendncia global, modificando o ciclo familiar tradicional. Em longo prazo, estas alteraes devem se estender a toda a sociedade, atingindo usurios de habitaes de interesse social e provocando novas necessidades para habitaes planejadas sobre um ciclo de vida tradicional. 2.4. Necessidades Habitacionais e Suas Definies A compreenso das necessidades de expanso da habitao de interesse social passa pelo entendimento do problema habitacional no Brasil, das metodologias e de seus componentes. Para esta finalidade, a Fundao Joo Pinheiro props o conceito de Necessidades Habitacionais (Fundao Joo Pinheiro, 1995), dividindo-o em duas dimenses: Dficit Habitacional: correspondendo necessidade de reposio total de unidades precrias e ao atendimento demanda no solvvel nas condies dadas de mercado; Inadequao dos Domiclios: que aponta para a necessidade de melhoria de unidades habitacionais com determinados tipos de precarizao. 2.4.1 O Dficit Habitacional O conceito de dficit habitacional no tem relao direta com a necessidade de expanso de habitaes de interesse social. O dficit est diretamente relacionado a deficincias de estoques de moradias, seja por necessidade de substituio de moradias precrias, seja pela existncia de mais de uma famlia habitando a mesma unidade (FUNDAO JOO PINHEIRO, 1995; IPARDES, 2003). Esse conceito considera dois aspectos componentes do dficit: a) Dficit por reposio deficiente de estoque: gerado pela existncia de moradias sem condies de habitabilidade, devido precariedade das construes ou em virtude de terem sofrido desgaste da estrutura fsica e que, portanto, devem ser repostas;

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b) Dficit por incremento deficiente do estoque: criado pela existncia de domiclios improvisados e de coabitao familiar ou ainda, da moradia em locais destinados a fins no residenciais. Outro aspecto tambm considerado na formulao do dficit, denominado nus excessivo com aluguel. Corresponde ao nmero de famlias urbanas, com renda familiar de at trs salrios mnimos, que moram em casa ou apartamento (domiclios urbanos durveis) e que despendem mais de 30% de sua renda com aluguel (FUNDAO JOO PINHEIRO, 1995). Este critrio computado no clculo do dficit total do pas, mas no no clculo do dficit bsico (por municpio). O dficit um retrato da necessidade de novas moradias. Em termos absolutos, o dficit habitacional no Brasil, baseado em dados do IBGE (2000), de 6.536.492 unidades habitacionais, conforme a Tabela 2.4.TABELA 2.4 - DFICIT HABITACIONAL SEGUNDO SITUAO DO DOMICLIO BRASIL 2000 COMPONENTES DFICIT HABITACIONAL BRASIL 2000 Dficit Habitacional..................................... 6.536.492 Urbano......................................................... 5.414.944 Rural (1)...................................................... 1.121.548 Dficit habitacional bsico (2)..................... 5.326.760 4.085.178 Urbana......................................................... 1.241.582 Rural............................................................ (1) No incluem a rea rural da Regio Norte. (2) No inclui o nus com aluguel excessivo nem com depreciao do imvel. Fonte: IBGE, 2000

Apesar do crescimento em nmeros absolutos, o dficit proporcional vem caindo lentamente desde a dcada de 70, como mostra a Tabela 2.5. Do total de famlias brasileiras em 1970, 32,5% destas necessitavam moradias; em 2001, esta proporo caiu para 13,0%, demonstrando que neste perodo o sucesso do esforo para soluo do dficit foi relativo. Colaboram para esta queda tambm as menores taxa de crescimento populacional neste perodo, e a proporo de moradias ocupadas. A populao cresceu em mdia 2,20 % ao ano entre 1970 e 2001, enquanto que o nmero de moradias ocupadas cresceu 3,27 %, revelando outra face da anlise do problema

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habitacional: os dados do censo 2000 (IBGE, 2000), haviam no Brasil aproximadamente 6 milhes de domiclios vagos, sendo 4,5 milhes em reas urbanas.TABELA 2.5 - EVOLUO DO DFICIT HABITACIONAL BRASIL 1970/2001 1970 Moradias ocupadas Famlias Habitantes Moradias inadequadas improvisadas rsticas em cmodos durveis, alugados ou cedidos Famlias em coabitao Dficit habitacional Relativo (%) Infra-estrutura acesso a rede geral de distribuio de gua acesso a rede geral de esgoto ou fossa sptica 0,172 0,150 0,549 0,440 0,693 0,513 0,776 0,666 5,16% 5,09% 17.755.182 18.637.986 1980 25.210.639 26.639.216 1991 35.781.867 37.941.994 2001 46.623.306 50.465.099 CRESCIMENTO MDIO ANUAL 2001/1970 3,27% 3,38% 2,20% -2,60% 5,02% -2,83% -0,34% 5,02% 0,16% -3,01%

88.153.149 117.627.169 148.629.621 169.369.797 4.891.002 14.676 4.684.334 191.992 882.804 5.773.806 32,5% 4.192.393 3.673.193 519.200 1.428.577 5.620.970 22,3% 3.298.570 143.136 2.808.257 347.177 2.160.128 5.458.698 15,3% 2.219.090 63.771 1.981.930 173.389 3.841.793 6.060.883 13,0%

Fonte: IBGE, Censos Demogrficos Brasileiros 1970, 1980 e 1991 e PNAD 2001.

O dficit habitacional apresenta grandes disparidades regionais e por faixa de renda, refletindo o perfil geral de desigualdades regionais e scio-econmicas do Brasil. Tem maior concentrao nas reas urbanas de regies metropolitanas, nas regies Nordeste e Sudeste do pas (Grfico 2.4) e entre as populaes mais desprovidas.

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Grfico 2.4 Dficit habitacional nas macro-regies geogrficas brasileiras. (IBGE/PNAD 2001).

Em relao s faixas de renda que mais sofrem os efeitos do dficit habitacional, por exemplo, as camadas populacionais mais pobres (com renda at 3 salrios mnimos), como mostra o Grfico 2.5, so afetadas por um dficit de habitaes de aproximadamente 1,1 milhes de habitaes, nas reas metropolitanas, contra pouco mais de 200 mil domiclios para as camadas com renda entre 3 e 5 salrios mnimos, nas mesmas reas.

Grfico 2.5 Dficit habitacional brasileiro em relao renda da populao (IBGE, 2001).

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2.4.2 Inadequao de Domiclios O conceito de inadequao domiciliar desenvolvido pela Fundao Joo Pinheiro (FUNDAO JOAO PINHEIRO, 1995), busca estabelecer parmetros de habitabilidade, tomando como base as variveis censitrias. Este conceito engloba as seguintes questes: a) Densidade excessiva dos moradores por dormitrio: caracterizada por domiclios com trs pessoas ou mais por dormitrio (IPPUR/UFRJ-FASE, 2003). b) Carncia de servios de infra-estrutura pblica: definida por domiclios urbanos que no contam com um ou mais servios de infra-estrutura urbana ou domiclios rurais que no contam com trs ou mais destes servios. So exemplos de servios de infra-estrutura: energia eltrica, rede de abastecimento de gua com canalizao interna; rede coletora de esgoto, pluvial ou fossa sptica; lixo coletado direta ou indiretamente (FJP, 2001); c) Inadequao fundiria urbana: identifica os domiclios prprios construdos em terrenos que no so de propriedade do morador, os domiclios sem identificao e situados em setores definidos como subnormais (FJP, 2001); d) Inexistncia de unidade sanitria interna ao domiclio: caracteriza as unidades habitacionais sem banheiro ou sanitrio de uso exclusivo (FJP, 2001). A Tabela 2.6, que apresenta os nmeros da Inadequao Domiciliar no Brasil por categorias, demonstra que a inadequao por densidade excessiva (mais de trs moradores por dormitrio) considervel, com mais de dois milhes e oitocentas mil moradias.

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TABELA 2.6 INADEQUAO DE DOMICLIOS BRASIL 2000 (IBGE) ESPECIFICAO BRASIL Regies metropolitanas Municpios selecionados Demais municpios INADEQUAO FUNDIRIA 2.183.141 1.202.763 606.470 373.908 DENSIDADE EXCESSIVA 2.839.170 1.555.996 850.308 432.866 DOMICLIO S/ BANHEIRO 3.241.047 769.494 1.189.266 1.282.287 CARNCIA DE INFRAESTRUTURA Total gua e esgoto 12.101.91 2.295.956 6 4.041.875 4.099.031 3.961.010 735.711 789.492 770.753

Fonte: Censo Demogrfico Brasileiro 2000; PNAD 2000.

Com a inadequao domiciliar, apesar de freqentemente ser desnecessria a construo de uma nova residncia, a habitao demanda por investimentos, sejam eles de origem pblica (servios pblicos) ou privada (reformas e ampliaes) para sua adequao (IPPUR/UFRJ-FASE, 2003). 2.4.3 Discusso Como a composio do dficit se refere necessidade de novas moradias e no de readequao ou ampliao de habitaes existentes, este conceito no diretamente relacionado expanso da habitao de interesse social, mas sim expanso das polticas pblicas e da implantao de novos projetos. O conceito de expanso prev a necessidade de aumentos e adaptaes em moradias, mantendo-se a base construtiva e funcional preexistente, que se configure no adaptada para as condies momentneas de seus usurios, em termos funcionais, tcnico-construtivos e ambientais. Embora o dficit por incremento deficiente do estoque, tambm chamado de dficit qualitativo, possa supor uma relao com a necessidade de expanso da habitao, sua existncia no permite extrair concluses quantitativas acerca da necessidade de expanso nas habitaes, pois considera a existncia de domiclios improvisados, coabitao familiar e a ocupao irregular. Como ilustrao deste aspecto, o conceito

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de domiclios improvisados no se refere s condies de no adaptao da moradia sob aspectos de habitabilidade ou dimensionamento adequado s necessidades de seus usurios e, portanto, no permite dimensionar ou justificar categoricamente aes de expanso. Para a composio do potencial de aes de expanso de habitaes de interesse social, o conceito da inadequao de domiclios pode ser considerado o mais correto. As moradias classificadas como inadequadas, como ser visto em seo posterior, so aquelas que necessitam de melhoramentos para que alcancem um padro mnimo de habitabilidade, definido a partir de critrios de qualidade da infra-estrutura de servios, relacionados ao ambiente em que a moradia est inserida, e quantitativa de cmodos do domiclio em relao ao tamanho da famlia. Desta forma, fica evidente a urgente necessidade de aes visando reduzir o problema da inadequao domiciliar no pas, onde o estudo sobre a expanso da habitao pode ser fundamental. 2.5 Polticas Habitacionais e Formas de Produo: Um Breve Histrico A produo da habitao de interesse social no Brasil deve ser vista como produto do contexto histrico, econmico e tecnolgico. A compreenso das etapas por que sua produo passou at nossos dias permite compreender as condies pelas quais a habitao de interesse social enfrentada atualmente. Ser apresentada a evoluo da habitao desde suas bases histricas no Brasil, passando pelas polticas estabelecidas pelos governos em diferentes pocas at os dias de hoje, onde sero esclarecidas as principais tendncias atuais. 2.5.1 Evoluo at a Segunda Metade do Sculo XIX A Habitao de Interesse Social, no conceito entendido atualmente, surgiu com o advento da Revoluo Industrial na Europa, no sculo XVIII. A mudana dos processos de produo, das prticas artesanais e corporativas, para a produo seriada provocou grandes alteraes na sociedade. A utilizao intensiva de mo-de-obra na indstria provocou a migrao das populaes do meio rural para os centros industriais, modificando o perfil da sociedade para caractersticas de grande

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concentrao populacional no meio urbano. Estas concentraes freqentemente configuraram em colnias operrias, localizadas em geral muito prximas s indstrias (STECHHAHN, 1990). No Brasil, segundo Farah (1988; 1996), at meados do sculo XIX, a atividade da construo no pas era promovida pelo prprio morador, por iniciativa do governo ou de empreendedores. A construo de residncias era a principal atividade, com o processo construtivo resumindo-se elaborao de materiais locais reunidos para cada obra. As tcnicas empregadas nesse perodo eram, no caso de moradias mais simples, o pau-a-pique, adobe ou taipa de pilo e, nas habitaes mais sofisticadas, a pedra, o barro e, s vezes, o tijolo e a cal. As vedaes tanto vedavam a edificao, como tambm constituam a prpria estrutura. (MASCARELLO, 1982; BARROS, 1998).

Figura 2.1. Sistema construtivo de pau-a-pique: casa rural em Minas Gerais3.

Os escravos constituam a base da mo-de-obra na construo da habitao, freqentemente dirigida por trabalhadores livres, detentores de ofcios ligados construo. Esta fora de trabalho tinha formao eminentemente prtica, baseada no saber emprico transmitido pelas corporaes de ofcios, at o incio do sculo XIX. Com a vinda da corte portuguesa para o pas, trazendo consigo a Misso Tcnica e Artstica Francesa introduziu-se gradualmente, a partir deste perodo, o ensino tcnico das profisses, renovando o processo de ensino das ocupaes da construo, que at ento tinham base corporativa e inicitica. No entanto, esta base perdurou at a primeira metade do sculo XX (FARAH, 1996).

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FERRAZ, Marcelo Carvalho. A arquitetura rural na Serra da Mantiqueira. So Paulo: Empresa das Artes, 1992.

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Segundo Vargas (1994), os primeiros materiais de construo industrializados, precariamente, foram os tijolos, vindo a substituir o processo artesanal da taipa nas construes das paredes de edifcios. Na medida em que os edifcios passavam a serem produzidos com uma abordagem mais industrial, a produo de seus insumos tambm se convertia em produo para o mercado.

Figura 2.2. Construo em Taipa de Pilo: Casa Bandeirista, meados do sculo XVII4

Com a multiplicao das olarias, comeou a se difundir a nova tecnologia, aumentando mais ainda a proporo de habitaes construdas em alvenaria de tijolos. O emprego de tijolos macios em paredes de alvenaria permitiu a reduo significativa dos erros, de decmetros para centmetros (REIS FILHO, 1978); alm disto, segundo o autor, com a uniformidade na largura das paredes, foi possvel a produo mecanizada de portas e janelas. Em fins do Sculo XIX, nas construes de pequeno porte passaram a predominar a alvenaria portante de tijolos, s vezes complementada por peas estruturais de ao ou de concreto armado (IPT, 1988). 2.5.2 O Perodo do Final do Sculo XIX at a Dcada de 1930 No perodo do final do Sculo XIX, ocorrem transformaes que repercutiram por boa parte do sculo XX sobre a construo civil, como a substituio do trabalho escravo pelo assalariado, o surgimento da atividade industrial, o aumento das taxas de urbanizao, a imigrao europia e o desenvolvimento dos transportes (FARAH, 1998).4

Fernando Serapio http://www.arcoweb.com.br/debate/debate62c.asp. Acesso em 25/02/2005.

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Juntamente com a consolidao da construo habitacional como mercado, organizamse empresas de construo, que passam a contratar trabalhadores assalariados. A mode-obra, que antes era exercida por trabalhadores escravos ou artesos independentes, ligados a corporaes de ofcios, passa a figurar tambm na nova face das relaes de trabalho no Brasil, com a constituio no pas da categoria do operrio da construo (FARAH, 1996). O operrio remunerado acrescenta experincia atividade da construo, seja como trabalhador oriundo de outros setores ou como imigrante que trazia o domnio da tcnica de construo em seu pas original (FARAH, 1996). A presena de imigrantes entre a fora de trabalho, juntamente com o fim da escravido, contribuiu fortemente para o desenvolvimento no s das tcnicas construtivas, mas tambm da introduo de novas tecnologias aos servios da habitao: Reis Filho (1983) relata que a incluso de instalaes hidrulicas, inicialmente em habitaes mais abastadas, deve-se em grande parte introduo de hbitos culturais e tecnolgicos dos imigrantes e, tambm, mudana de hbitos de higiene antes relacionados ao trabalho servil; a instalao de tubulaes hidrulicas e sanitrias passa a tornar-se vantajosa em comparao ao custo de serviais remunerados para retirada de dejetos domsticos. As transformaes ocorridas nesse perodo ocasionaram um grande aumento no volume e na diversidade da atividade da construo. As alteraes tecnolgicas neste perodo atingiram, sobretudo os canteiros de obras atravs da incorporao de novos materiais, componentes e ferramentas que permitiram pequenas transformaes na produo dos edifcios (FARAH, 1996). No que se refere ao processo construtivo, no subsetor de edificaes, observa-se a difuso de uma nova forma de construir (FARAH, 1988), onde dois aspectos se destacam: a) a criao das faculdades de engenharia: sua implementao permitiu um

tratamento cientfico das atividades de projeto para edificaes residenciais, o que at ento era privilgio de obras da Igreja e do Estado; b) novas tcnicas originando novas formas de obteno de materiais: na nova forma de construir, os materiais e componentes, anteriormente colhidos ou produzidos para cada edifcio (como no caso da taipa de pilo), passaram a ser

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fornecidos por industriais, cuja produo se destinava s edificaes em geral e no mais a este ou aquele edifcio em particular. A indstria nacional de materiais no era ainda capaz de suprir este mercado, responsabilizando-se apenas pelo fornecimento de alguns produtos cermicos, o que determinou, nesse perodo, a importao de uma parcela significativa dos materiais utilizados pela atividade da construo. As trs ltimas dcadas do sculo XIX assistem tambm o surgimento da questo habitacional no pas. ocorrncia do surto manufatureiro-industrial, principalmente no Rio de Janeiro, juntamente com a decadncia da economia cafeeira no Vale do Paraba, tambm sucede ...um fluxo de imigrantes e de escravos recm libertos para as principais cidades e capitais. Juntos, estes igualmente expulsos do campo, formaro uma abundante oferta de mo de obra para o novo setor emergente da economia urbana (COELHO, 2002). O crescimento populacional das cidades, favorecido pela reduo da mortalidade, devido s polticas de saneamento empreendidas pelo Estado, provocou um agravamento da demanda por habitao no iniciar do sculo XX (RIBEIRO & PECHMAN, 1983). Segundo Farah (1988), a habitao de interesse social no foi objeto de iniciativa pblica, no Brasil, at os anos da dcada de 1930. Dada a inexistncia de formas de financiamento da habitao, o aluguel era soluo de moradia das populaes de baixa renda, em locaes nos cortios ou em habitaes geminadas (BONDUKI, 1998).

Figura 2.3. Vila operria em So Paulo, incio do Sculo XX.

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As iniciativas de solues habitacionais de moradia alternativa (cortios, estalagens, avenidas, casas de cmodos e vilas populares) que, pela proximidade com outros bairros, representavam ameaa sanitrias para toda a populao urbana fizeram surgir a discusso de leis e normas de regulao sobre as cidades que caracterizaram o Higienismo5. Como reao possvel s polticas de remoo de habitaes coletivas, a populao passa a ocupar reas sem interesse imobilirio morros, terrenos alagadios, margens de rios, mangues , desprovidas de servios bsicos e de difcil acesso, caracterizando pela primeira vez a forma de ocupao conhecida por favelas (COELHO, 2002). 2.5.3 As Dcadas de 30 a 60 Com o crescimento das taxas de urbanizao a partir de 1930, tambm cresceu a presso sobre o Estado pelo equacionamento do problema habitacional para os trabalhadores urbanos. A interveno do Estado na rea habitacional inicia-se com a criao, na dcada de 1930, dos Institutos de Aposentadoria e Penso (IAPs). Estes institutos passaram a promover o financiamento da habitao a seus afiliados, por meio das Carteiras Prediais gerando assim um aumento da produo de unidades habitacionais populares (FARAH, 1988). Em relao ao desenvolvimento da construo civil no Pas, Farah (1988) observa que uma nova etapa no desenvolvimento teve inicio, no quadro das transformaes ocorridas na sociedade brasileira nos anos 30. Dentre os aspectos fundamentais dessa nova etapa da histria do Brasil destacam-se: a) a reorientao da economia para o setor industrial; b) intensificao do processo de urbanizao;

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Para garantir as condies de higiene, a nova moradia deveria incorporar inovaes tcnicas e sanitrias de alto custo. Para garantir as condies de ordem, moralidade e disciplina, a moradia deveria ser ampla, iluminada, arejada e com nmero moderado de ocupantes, com mais elementos de uso privativo e menos elementos de uso coletivo, alm de facilidade de controle sobre seus moradores. Para que este modelo se tornasse real, o custo seria altssimo e incompatvel para o consumo das classes trabalhadoras. (VAZ, L. F. Do cortio favela. In: SAMPAIO, M.R.A. (Org.) Habitao e a cidade. So Paulo : FAU-USP, 1998, p. 42).

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c) implantao de uma infra-estrutura para viabilizar a industrializao; d) interveno crescente do estado na economia. Constata-se, ainda, nesta etapa, a consolidao da forma de construir introduzida no perodo anterior. No obstante, observa-se a introduo de inovaes oriundas da indstria de materiais e componentes, ento em expanso. Alm disso, houve um avano da base cientfica da construo civil, com a criao e consolida