habitação de interesse social central

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  • 7/29/2019 Habitao de Interesse Social Central

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

    RASA DE FELICE SIMES

    HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM

    REA CENTRAL

    Cuiab

    2013

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    RASA DE FELICE SIMES

    HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM

    REA CENTRAL

    Trabalho Final de Graduao apresentado ao

    Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

    Federal de Mato Grosso, como requisito para

    obteno do ttulo de bacharel em Arquitetura e

    Urbanismo, sob a orientao do Prof Ms. Dr. Tales

    Lobosco.

    Cuiab

    2013

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    FOLHA DE AVALIAO

    ORIENTADOR:

    _______________________________________

    TALES LOBOSCO

    AVALIADORES:

    _________________________________________

    SIMONE BERIGO BUTNER

    _________________________________________

    THIAGO SOLLA LOPEZ

    Cuiab

    2013

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    "[...] que a importncia de uma coisa no se

    mede com fita mtrica nem com balanas nem

    barmetros. Que a importncia de uma coisa h que

    ser medida pelo encantamento que a coisa produza

    em ns."

    Manoel de Barros

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    AGRADECIMENTOS

    Deus.

    minha famlia pela fora e contribuio, pelo amor e incentivo dado durante

    todos esses anos de vida acadmica.

    Aos meus amigos de longa data pelo carinho, compreenso e pacincia.

    Aos meus colegas e amigos de curso, por todo esse perodo de convivncia,

    cumplicidade e companheirismo.

    psicloga Pamila Dianez pela ajuda e incentivo durante todo este perodo de

    elaborao do trabalho final de graduao.

    Ao professor Tales Lobosco pelo auxlio, dedicao e credibilidade durante o

    desenvolvimento do presente trabalho.

    Aos demais professores pelos ensinamentos dados durante esses cinco anos de

    faculdade.

    A todos que contriburam de forma direta e indiretamente, atravs do auxlio em

    visitas, de conversas, opinies e crticas.

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    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS

    LISTA DE TABELAS

    1. INTRODUO ....................................................................................... 1

    1.1. HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM REA CENTRAL ......................................... 2

    2. FUNDAMENTAO TERICA ................................................................ 5

    2.1. HISTRIA DA HABITAO DE INTERESSE SOCIAL E SUAS INFLUNCIAS NO

    PANORAMA ATUAL DO BRASIL.......................................................................................... 6

    2.1.1. O Autoritarismo Sanitrio, a Produo Rentista e o Pioneirismo do RJ .......... 6

    2.1.2. Populismo: Getlio Vargas e seu sucessor Eurico Gaspar Dutra................... 14

    2.1.3. A produo do Banco Nacional de Habitao (BNH) .................................... 17

    2.1.4. A consequncia: ps BNH e as produes do sculo XXI .............................. 20

    2.1.5. A situao de Mato Grosso............................................................................ 23

    2.2. NECESSIDADES E POSSIBILIDADES HABITACIONAIS INERENTES AO HOMEM EM

    SOCIEDADE/CIDADE......................................................................................................... 26

    2.2.1. O direito cidade e o direito moradia........................................................ 26

    2.2.2. A influncia da localizao na Habitao de Interesse Social ....................... 28

    2.3. PRINCPIOS TECNOLGICOS ................................................................................. 30

    2.3.1. Conforto trmico e a habitao .................................................................... 30

    2.3.2. Antropometria e ergonomia.......................................................................... 34

    3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ................................................... 46

    3.1. METODOLOGIA DE PESQUISA AO TEMA .............................................................. 47

    3.1.1. Entrevista com o Prof. Cludio Miranda ....................................................... 47

    3.1.2. Entrevista com o Arquiteto Luiz Alberto Amarante Simes.......................... 48

    3.1.3. Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) ............... 48

    3.1.4. Projeto referncia .......................................................................................... 54

    4. PROJETO .............................................................................................. 564.1. O TERRENO ........................................................................................................... 57

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    4.1.1. Localizao e escolha do terreno .................................................................. 57

    4.1.2. Parmetros urbansticos ................................................................................ 62

    4.2. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PR-DIMENSIONAMENTO ............................... 65

    4.3. CONDICIONANTES NATURAIS ............................................................................... 66

    4.3.1. Topografia ...................................................................................................... 67

    4.3.2. Norte e ventos predominantes ..................................................................... 67

    4.4. PARTIDO ARQUITETNICO ................................................................................... 68

    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................ 73

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Entrada do complexo de cortios em SP: Navio Parado, Pombal, Vaticano e

    Geladeira. ........................................................................................................................... 7

    Figura 2: Cortios Vaticano e Geladeira.......................................................................... 7

    Figura 3: Espaos coletivos (cortio) ..................................................................................... 7

    Figura 4: Espaos coletivos (cortio) ..................................................................................... 7

    Figura 5: Planta tipo da Comisso de Exame e Inspeo dos Cortios. ................................ 9

    Figura 6: Primeira proposta de casas isoladas. ..................................................................... 9

    Figura 7: Planta-baixa vila operria. .................................................................................... 10

    Figura 8: Fachada vila operria. ........................................................................................... 11

    Figura 9: Via de penetrao, comum da Produo Rentista. .............................................. 11

    Figura 10: Via de penetrao, comum da Produo Rentista. ............................................ 11

    Figura 11: Unidades Habitacionais Av. Salvador de S........................................................ 12

    Figura 12: Avenida Salvador de S. ..................................................................................... 12

    Figura 13: Unidades Habitacionais Av. Salvador de S........................................................ 12

    Figura 14: Entrada geminada, unidades habitacionais Salvador de S. .............................. 12

    Figura 15: Estao de trem Marechal Hermes. ................................................................... 13

    Figura 16: Avenidas largas e arborizadas. ........................................................................... 13

    Figura 17: Praa central. ...................................................................................................... 13Figura 18: Praa central e escola ao fundo. ........................................................................ 13

    Figura 19: Residncia com elementos originais. ................................................................. 14

    Figura 20: Casa da vila operria degradada. ....................................................................... 14

    Figura 21: Vista geral do bairro Marechal Hermes. ............................................................ 14

    Figura 22: Conjunto Residencial Vila Guiomar, SP. ............................................................. 16

    Figura 23: Conjunto Residencial do Realengo, RJ. ............................................................... 16

    Figura 24: Conjunto Residencial do Realengo, RJ. ............................................................... 17

    Figura 25: Conjunto Residencial da Baixada do Carmo, SP. ................................................ 17

    Figura 26: Residncia original do Conjunto Habitacional Octacilio Camara, RJ. ................. 19Figura 27: Residncias modificadas do Conjunto Habitacional Octacilio Camara, RJ. ........ 19

    Figura 28: Conjunto Habitacional Octacilio Camara, RJ. ..................................................... 19

    Figura 29: Conjunto Habitacional Octacilio Camara, RJ. ..................................................... 19

    Figura 30: Cidade Tiradentes, So Paulo-SP. ....................................................................... 21

    Figura 31: Conjunto Habitacional Jardim Vitria, Belo Horizonte. ..................................... 22

    Figura 32: Residencial Brises da Chapada, Itaberada, Bahia. .............................................. 22

    Figura 33: Residencial Brises da Chapada, Itaberada, Bahia. .............................................. 22

    Figura 34: Residencial Alice Novack, Cuiab-MT. ................................................................ 25

    Figura 35: Resid. Sen. Jonas Pinheiro, Cuiab-MT. .............................................................. 25Figura 36: Resid. Santa Marta, Guarant do Norte-MT. ..................................................... 25

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    Figura 37: Mapa de porcentual de domiclios adequados por municpio. .......................... 28

    Figura 38: Zoneamento bioclimtico brasileiro. .................................................................. 31

    Figura 39: Zona bioclimtica 7. ............................................................................................ 31

    Figura 40: Sofs/Usurios do sexo masculino e feminino, respectivamente. .................... 35Figura 41: rea de Estar em canto, com e sem circulao. ................................................. 36

    Figura 43: Dimensionamento rea de Estar. ....................................................................... 37

    Figura 44: Dimensionamento rea de Refeio. ................................................................. 37

    Figura 45: Dimensionamento rea de Refeio. ................................................................. 38

    Figura 46: Dimensionamento rea de Refeio. ................................................................. 38

    Figura 47: Dimensionamento rea de Refeio. ................................................................. 39

    Figura 48: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 39

    Figura 49: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 40

    Figura 50: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 41Figura 51: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 41

    Figura 52: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 42

    Figura 53: Dimensionamento Dormitrio. .......................................................................... 43

    Figura 54: Dimensionamento Dormitrio. .......................................................................... 43

    Figura 55: Dimensionamento Dormitrio. .......................................................................... 44

    Figura 56: Dimensionamento Banheiro. .............................................................................. 44

    Figura 57: Dimensionamento Banheiro. .............................................................................. 45

    Figura 58: Dimensionamento Banheiro. .............................................................................. 45

    Figura 59: Implantao (Pedregulho). ................................................................................. 49Figura 60: Planta dos pavimentos (Pedregulho). ................................................................ 50

    Figura 61: Planta pavimento intermedirio (Pedregulho). ................................................. 51

    Figura 62: Planta dos apartamentos (Pedregulho). ............................................................ 51

    Figura 63: Corte Bloco A (Pedregulho). ............................................................................... 52

    Figura 64: Vista area (Pedregulho). ................................................................................... 52

    Figura 65: Elemento vazado (escola Pedregulho). .............................................................. 53

    Figura 66: Sala de aula (escola Pedregulho). ....................................................................... 53

    Figura 67: Praa e Playground (Pedregulho). ...................................................................... 53

    Figura 68: Bloco B (Pedregulho). ......................................................................................... 53

    Figura 69: Trreo Bloco A (Pedregulho). ............................................................................. 53

    Figura 70: Fachada Bloco A em reforma (Pedregulho). ...................................................... 53

    Figura 71: Implantao Quinta Monroy antes. ................................................................... 54

    Figura 72: Implantao Quinta Monroy depois. ................................................................. 54

    Figura 73: Projeto original Quinta Monroy. ........................................................................ 55

    Figura 74: Projeto com ampliaes Quinta Monroy. .......................................................... 55

    Figura 75: Espao coletivo. .................................................................................................. 55

    Figura 76: Espao coletivo ps ocupao. ........................................................................... 55

    Figura 77: Localizao do terreno na macrozona urbana de Cuiab. ................................. 57

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    Figura 78: Terreno selecionado. .......................................................................................... 58

    Figura 79: Densidade Demogrfica por bairro de Cuiab (2010). ....................................... 59

    Figura 80: Praas do Bairro Centro-Norte (2010). ............................................................... 60

    Figura 81: Caracterizao do entorno do terreno escolhido. ............................................. 61Figura 82: Divisa com Moretti Coelho (Rua 24 de Outubro). .............................................. 61

    Figura 83: Divisa com Clnica Silhueta (Rua 24 de Outubro). .............................................. 61

    Figura 84: Divisa com Previdncia Social (Av. Getlio Vargas). .......................................... 62

    Figura 85: Divisa com escritrio de advocacia (Av. Getlio Vargas). .................................. 62

    Figura 86: Rua 24 de Outubro. ............................................................................................ 62

    Figura 87: Av. Getlio Vargas. ............................................................................................. 62

    Figura 88: Terreno inserido na Zona de rea Central. ........................................................ 63

    Figura 89: Estudo de Layout baseado em PANERO E ZELNICK (2002). ............................... 66

    Figura 90: Topografia do terreno selecionado. ................................................................... 67Figura 91: Norte e ventos predominantes. ......................................................................... 68

    Figura 92: Edifcio de partido horizontal. ............................................................................ 69

    Figura 93: Forma escalonada e acesso intermedirio. ........................................................ 69

    Figura 94: Estudo Volumtrico 1. ........................................................................................ 70

    Figura 95: Estudo Volumtrico 2. ........................................................................................ 70

    Figura 96: Unidade Habitacional. ........................................................................................ 70

    Figura 97: Estudo Volumtrico 3. ........................................................................................ 70

    Figura 98: Estudo Volumtrico 4. ........................................................................................ 71

    Figura 99: Implantao esquemtica. ................................................................................. 71

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01: Critrio para classificao do domiclio como adequado conforme variveis

    do Censo IBGE. ..................................................................................................................... 27

    Tabela 02: Aberturas para ventilao e sombreamento das aberturas para Zona 7. ........ 32

    Tabela 03: Dimenses das aberturas para ventilao. ........................................................ 32

    Tabela 04: Tipos de vedaes externas para Zona 7. .......................................................... 32

    Tabela 05: Transmitncia trmica, atraso trmico e fator de calor solar admissveis para

    cada tipo de vedao externa. ............................................................................................ 32

    Tabela 06: Estratgias de condicionamento trmico passivo. ............................................ 33

    Tabela 07: Classe de renda do bairro Centro-Norte. .......................................................... 58

    Tabela 08: Populao, domiclio e densidade populacional do bairro Centro-Norte. ........ 58

    Tabela 09: Espaos de turismo, lazer e cultura no bairro Centro-Norte. ............................ 60

    Tabela 10: ndices Urbansticos da macrozona de Cuiab. ................................................. 64

    Tabela 11: Programa de necessidades da Habitao. ......................................................... 65

    Tabela 12: Pr dimensionamento da Habitao. ................................................................ 66

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    SIMES, R.D.F. HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM REA CENTRAL. Cuiab, MT, 2013.

    89 p. Monografia (Trabalho Final Graduao) Departamento de Arquitetura e

    Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Engenharias e Tecnologia, Univerdade Federal de

    Mato Grosso.

    RESUMO

    O presente trabalho apresenta o projeto arquitetnico de uma Habitao de Interesse

    Social (HIS), inserido na regio central da cidade de Cuiab. Inclui o estudo da evoluo da

    HIS no Brasil e suas tipologias, baseado em teorias, pesquisas de campo, entrevistas e

    registros fotogrficos, para a definio de um projeto adequado a atender as

    necessidades de uma parcela da populao. O projeto contm espaos privados, como as

    unidades residenciais e sua respectiva rea para expanso, alm de espaos pblicos,

    sendo eles: praa multiuso, pista de caminhada/ciclistas. Sua concepo arquitetnica se

    baseou na flexibilidade dos espaos e conforto ambiental do usurio, resultando em uma

    forma com jogo de volumes, cheios e vazios, formados por elementos geomtricos.

    Palavras-chave: Habitao de Interesse Social, rea central, Direito cidade.

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    1. INTRODUO

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    1.1. HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM REA CENTRALO crescimento rpido e desordenado das cidades, nas primeiras dcadas do sculo

    XX, provocou a preocupao com a qualidade da vida urbana e o desenvolvimento doespao urbano. A problemtica estava voltada para a reorganizao das cidades,

    buscando o crescimento e desenvolvimento ordenado das mesmas, no se preocupando

    com os cidados que a compem, pouco se atentava a respeito da vida saudvel e de

    uma cidade direcionada para pessoas. De acordo com VITTE e KEINERT (2009) o modelo

    de desenvolvimento adotado gerou tambm ampliao da desigualdade na distribuio

    de bens e servios e nas condies de vida da populao, alm de profunda degradao

    ambiental.

    Apesar de a sociedade comear a se atentar para estas problemticas, pouco se

    fez naquele momento para reverter o quadro. A partir da segunda metade do sculo XX,

    as cidades comearam a expandir para periferia, sobretudo por interesses do mercado

    imobilirio, industrial e tambm da elite social, que buscava fora o espao que no

    produziam na cidade. Dessa forma deixando grandes vazios urbanos e espaos ociosos

    dentro das cidades brasileiras, especialmente nas reas centrais, locais onde se oferece

    melhor infraestrutura urbana e oportunidades de trabalho.

    De acordo com o editorial da revista Summa +120, de maro/2012, foi nesse

    perodo, do sculo XX, que comearam a surgir os subrbios de baixas densidades,

    primeiramente ocupados pelas classes mais abastadas, que possuam recursos

    econmicos para sustentar os custos com deslocamentos e implantao de

    infraestrutura. Posteriormente, o governo tambm se utilizou da estratgia de expanso

    perifrica, muitas vezes ocupando at mesmo terrenos fora do permetro urbano,

    motivado pelos valores mais baixos dos terrenos, sem levar em conta os custos

    secundrios desta expanso. Esta foi alternativa encontrada para oferecer moradia aos

    mais pobres em terrenos amplos e baratos de se adquirir, contudo sem a equivalente

    soluo de problemas de deslocamento e infraestrutura, que permaneceram precrios,

    pois encareceriam a implantao destas moradias no local. Demonstrando assim o claro

    interesse em apenas suprir os nmeros de ilegalidades, deixando em segundo lugar a

    qualidade destes espaos e a insero deles tanto na malha urbana.

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    Muitos custos de uma cidade so diretamente proporcionais rea de

    abrangncia e populao atendida. Significando que geralmente as reas amplas e com

    baixas densidades, embora apresentem valores pontuais menores, o atendimento a uma

    parcela reduzida da populao torna este investimento muito caro. Quando se expande a

    mancha urbana, torna-se necessrio a implantao de nova infraestrutura, em

    detrimento da j existente, exigindo pesados investimentos em transporte pblico,

    segurana e vigilncia. Por conseguinte, em reas com maior densidade, estes usos e

    custos so partilhados por uma populao maior, tornando uma soluo mais adequada

    economicamente.

    Em caso de remoes de moradias, outras negatividades ocorrem. Ao transferir osmoradores do local de origem para regies perifricas, onde a mobilidade urbana

    precria, h segregao desta parcela da populao, que se torna desprovida do direito

    cidade e ao convvio com os demais cidados, desconectando-os do tecido social.

    Portanto nota-se que a necessidade no ter somente um teto onde se abrigar, mas que

    seja envolto das demais necessidades humanas de sobrevivncia em uma sociedade:

    Hoje preciso pensar alm. No basta ter a casa em si, preciso pensar na sade, na

    educao, no lazer, transporte pblico e segurana, todos estes fatores prximos ao

    cidado. S assim possvel classificar o local como moradia digna. (VINAGRE apud

    GHISI, 2012, p. 1B).

    Segundo dados que compe o Plano Estadual de Habitao de Interesse Social, enquanto

    em 2007, 6.539 domiclios possuam problemas com a regularizao fundiria, em 2010 o

    nmero saltou para 136.772 residncias irregulares. [...] Entre os municpios que mais

    apresentam problemas esto Cuiab, Rondonpolis, Confresa e Ribeiro Cascalheira.

    (GHISI, 2012, p. 1B).

    Este trecho de reportagem demonstra que inmeras pessoas nas cidades de Mato

    Grosso esto vivendo em habitaes irregulares, necessitando assim a regularizao da

    moradia destes cidados. A irregularidade est fortemente associada necessidade de se

    permanecer conectado cidade, logo, em localizao central. Trazer as moradias para

    reas centrais uma soluo adequada, sendo estas regies de proximidade aos postos

    de trabalho, detendo mobilidade urbana mais eficiente e incluso social. Introduzindo a

    habitao de interesse social em regio central, a cidade detm ganhos, aumentando a

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    densidade, utilizando a infraestrutura j existente, alm de combater a expanso das

    periferias e prevenir e/ou solucionar a ocupao em reas imprprias, como as APPs.

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    2. FUNDAMENTAO TERICA

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    2.1. HISTRIA DA HABITAO DE INTERESSE SOCIAL E SUASINFLUNCIAS NO PANORAMA ATUAL DO BRASIL

    As produes das moradias sociais nas cidades brasileiras no tempo presente a

    resultante de um somatrio de acontecimentos ocorridos durante dcadas. LORENZETTI

    (2001) defende que a carncia de moradia adequada, entendida no apenas como um

    mero abrigo, mas tambm como um conjunto de elementos ligados ao saneamento

    bsico, servios urbanos, educao e sade, constitui um dos mais graves problemas com

    que se defrontam as sociedades atuais. Embora no seja um problema restrito

    realidade brasileira, ele apresenta-se de forma particularmente grave entre ns, vista

    do carter intenso, concentrador e excludente que marcou o nosso processo de

    urbanizao.

    2.1.1. O Autoritarismo Sanitrio, a Produo Rentista e o Pioneirismo do RJNa segunda metade do sculo XIX surgiram as primeiras preocupaes de que se

    tem registro quanto s habitaes populares. Neste perodo, as cidades enfrentavam uma

    onda de epidemias que foram associadas, pelos profissionais da sade, situao

    habitacional das classes baixas. Esta parcela da populao se aglomerava em edificaes

    sem nenhum cuidado sanitrio, como cortios, estalagens, casas de cmodos, e outras

    instalaes semelhantes.

    Esses tipos de alojamentos geralmente possuam caractersticas em comum: o

    banheiro, a cozinha e a lavanderia eram coletivos, no suportando a quantidade total de

    pessoas que viviam ali, acomodavam mais pessoas do que o recomendvel por cmodo,

    alm da rede de esgoto e drenagem ser insuficiente para suportar aquele contingente

    extrapolado de pessoas. Este padro de habitao preocupava principalmente os

    profissionais da sade por serem locais de grande proliferao de doenas, colaborando

    com a expanso das epidemias e afetando negativamente o restante da populao.

    Isso demonstra que a cidade s passou a se importar com a qualidade da

    habitao dos pobres quando ela comeou a afetar a cidade como um todo.

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    Figura 1: Entrada do complexo de cortios em SP: Navio Parado, Pombal, Vaticano e Geladeira.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 2: Cortios Vaticano e Geladeira.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 3: Espaos coletivos (cortio)

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 4: Espaos coletivos (cortio)

    Fonte: Bonduki, 2004.

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    Os higienistas lanam o alerta para o poder pblico: necessrio intervir, criar

    uma legislao restritiva, romper com as posturas liberais e com a privacidade do

    domiclio. Deve-se providenciar radicalmente.(BONDUKI, 2004, p.26).Estas palavras de

    Nabil resumem o que foi o Autoritarismo Sanitrio, o endurecimento da legislao,

    provocando reformas no modelo do habitar, mas tambm intervenes feitas pelos

    sanitaristas em cortios, desinfetando-os e at demolindo-os sem qualquer preocupao

    com as pessoas que residiam ali e com o destino delas. Mostra-se, desde os primrdios da

    habitao popular, a falta de interesse quanto parcela menos abastada da populao,

    busca-se resolver problemas, ignorando seus cidados, causando assim novas

    adversidades a serem resolvidas, como a falta de moradia, atravs da desapropriao das

    habitaes. De certa forma e com uma abordagem diferente esse descaso com a baixa

    renda social, permanece presente at os dias atuais.

    O saneamento tinha como objetivo, alm das medidas propriamente higienistas,

    afastar das reas centrais os pobres, mendigos e negros, juntamente com os seus estilos

    de vida(MARICATO apud LACERDA, 2010, p.10). Alm da questo sanitria, era evidente

    a inteno das classes mais altas em eliminar os cortios das reas centrais, encontrando

    nesta oportunidade transferir os trabalhadores operrios para a periferia, que fazia parte

    do embelezamento e da produo de uma imagem de cidade moderna. A partir destes

    atos inicia-se o processo de segregao social no espao propriamente dito. At os dias

    atuais isto ocorre principalmente porque terrenos centrais so mais visados pela

    especulao mobiliria e tambm pela elite buscar a autossegregao, sem partilhar

    espaos com outras classes de renda. A classe alta se nega a relacionar-se com os menos

    abastados, buscando sua prestao de servios, mas no a convivncia social, nega-se o

    espao urbano para a renda baixa, no os permitindo usufruir das vantagens

    proporcionadas pela rea central.

    A manifestao, no sculo XXI, deste fenmeno se d atravs dos extensos

    condomnios fechados de alta renda e paralelamente reproduo em massa de

    casinhas geralmente localizadas em terrenos distantes dos grandes centros e sem

    infraestrutura necessria.

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    Neste perodo sanitarista o governo no interviu na produo de moradias para a

    classe baixa de forma efetiva, porm atravs da Comisso de Exame e Inspeo dos

    Cortios, em 1893, elaborou uma planta tipo do que seria ideal para as condies

    sanitrias mnimas de uma habitao. Como as caractersticas propostas pela Comisso

    aumentariam os custos de uma construo, buscou racionalizar os espaos para reduzir

    seus valores, visto que essas moradias eram produzidas pelo setor privado que ansiava

    somente o lucro. Esta tipologia de pequenas casas, geminadas ou no, foi seguida para a

    edificao das vilas operrias, que eram executadas geralmente distantes das reas

    centrais para que pudessem estar prximas das reas industriais.

    Figura 5: Planta tipo da Comisso de Exame e Inspeo dos Cortios.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 6: Primeira proposta de casas isoladas.

    Fonte: Bonduki, 2004.

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    Paralelamente ao Autoritarismo Sanitrio ocorreu a Produo Rentista, que

    recebeu este nome por ser voltada gerao de uma renda permanente advinda dos

    aluguis. A maioria dessas produes, no se preocupou com o conforto e com a

    qualidade de vida de seus moradores, onde mesmo depois da atuao dos higienistas e

    da criao do Cdigo Sanitrio de 1894, continuavam a produzir edificaes insalubres

    como os cortios por causa do seu baixo valor construtivo, aumentando assim o lucro nos

    aluguis. Abaixo de certo nvel de qualidade, o empreendimento deixava de seguir os

    padres municipais e tornava-se clandestino, deixando de ser vila, merecedora de

    incentivos e elogios, e passando a ser cortio, condenado e estigmatizado. (BONDUKI,

    2004, p. 54). A existncia de uma legislao rgida, buscando melhorar as condies das

    habitaes, na prtica funcionou como o estabelecimento de uma linha divisria, a

    habitao formal tornou-se mais cara, com isso todos os que no podiam pagar por ela ou

    buscavam maior lucratividade, se situavam na clandestinidade, com valores menores e

    baixa qualidade.

    Figura 7: Planta-baixa vila operria.

    Fonte: Bonduki, 2004.

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    Figura 8: Fachada vila operria.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 9: Via de penetrao, comum da Produo

    Rentista.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 10: Via de penetrao, comum da

    Produo Rentista.

    Fonte: Autor.

    O Autoritarismo Sanitrio deixou como herana a melhoria da qualidade

    habitacional do perodo, porm a demolio de inmeros cortios aumentou a presso

    por habitaes, impulsionando o aumento da informalidade. J a Produo Rentista

    fomentou a produo habitacional sem certa preocupao qualitativa, no entanto esta

    modalidade explorava melhor os vazios urbanos, as pequenas implantaes integradas

    cidade, sem gerar grandes ncleos segregados.

    Em contrapartida, teve incio a produo social de habitaes no Estado do Rio de

    Janeiro, na primeira dcada do sculo XX, privilegiando seus moradores e os elementos

    arquitetnicos da moradia, como o caso dos Conjuntos Estcio de S e Marechal Hermes.

    Estes so exemplos de habitaes que se inseriram a cidade de forma adequada, que em

    alguns aspectos positivos poderiam servir de exemplo para So Paulo e o restante das

    produes posteriores no Pas.

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    A primeira experincia de habitao de interesse social promovida pelo setor

    pblico no pas encontra-se na cidade do Rio de Janeiro, na Avenida Salvador de S,

    possuindo 105 unidades habitacionais. Desvinculada de qualquer poltica habitacional, foi

    uma iniciativa isolada para abrigar os despejos providos pelas obras de abertura da

    Avenida Central. Esta foi uma ao pontual e um exemplo das possibilidades de produo

    social de habitao integrada cidade, reaproveitando suas caractersticas espaciais e

    urbansticas, pois se mescla ao seu entorno, dando continuidade ao tecido urbano e

    social, em meio a uma avenida.

    Figura 11: Unidades Habitacionais Av. Salvador

    de S.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 12: Avenida Salvador de S.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 13: Unidades Habitacionais Av. Salvador

    de S.

    Fonte: Acervo prprio.

    Figura 14: Entrada geminada, unidades

    habitacionais Salvador de S.

    Fonte: Acervo prprio.

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    J o Conjunto Habitacional habitao Marechal Hermes, que deu origem, mais

    tarde ao Bairro de mesmo nome. Embora projetado em um local distante do centro,

    possua uma linha de trem que o conectava ao restante da cidade e teve um projeto

    arquitetnico e urbanstico bem solucionado, prevendo infraestrutura urbana razovel,

    contendo vias largas, praas, arborizao e equipamentos urbanos. Alm disso, o

    conjunto foi elaborado de forma semelhante ao tecido da cidade, se integrando a ela de

    forma natural, o que acabou resultando no bairro Marechal Hermes, que atualmente

    possui habitaes de variadas dcadas do sculo XX.

    Figura 15: Estao de trem Marechal Hermes.

    Fonte: Acervo prprio.

    Figura 16: Avenidas largas e arborizadas.

    Fonte: Acervo prprio.

    Figura 17: Praa central.

    Fonte: Acervo prprio.

    Figura 18: Praa central e escola ao fundo.

    Fonte: Acervo prprio.

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    Figura 19: Residncia com elementos originais.

    Fonte: O Globo Rio, 2011.

    Figura 20: Casa da vila operria degradada.

    Fonte: O Globo Rio, 2011.

    Figura 21: Vista geral do bairro Marechal Hermes.

    Fonte: O Globo Rio, 2011.

    2.1.2. Populismo: Getlio Vargas e seu sucessor Eurico Gaspar DutraGetlio Vargas assumiu o governo do Brasil na dcada de 1930, sua atuao foi

    reconhecida como populista, o que lhe garantiu a alcunha de pai dos trabalhadores,

    pois voltou sua poltica governamental para o agrado dos operrios do pas. Seu sucessor,

    Gaspar Dutra, ainda continuou algumas de suas aes, principalmente no setor de

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    produo habitacional, visando evitar a ascenso do socialismo e a opinio contraria a

    ditadura.

    Antes mesmo destas duas atuaes o Brasil j passava por um perodo crtico

    quanto questo habitacional, devido grande demanda de pessoas que chegavam para

    trabalhar nas indstrias do pas, superlotando os cortios, aumentando o crescimento das

    favelas e o dficit habitacional. Estas problemticas anteriores Era Vargas acompanham

    o pas at o sculo XXI: Todas as polticas habitacionais a partir da mantm o padro:

    comeam correndo atrs de um prejuzo j configurado. Enquanto o pas no entender a

    origem de seu passivo habitacional e, sobretudo, sua evoluo histrica, no resolver o

    dficit de moradias.(ADAUTO CARDOSO apud GALDO e DAFLON, 2011, p.9).

    O governo de Vargas, no intuito de auxiliar as classes baixas para no se

    submeterem a valores excessivos que os aluguis atingiam, promulgou a Lei do

    Inquilinato em 1942, que consistia no congelamento do valor dos aluguis por tempo

    indeterminado, inibindo assim o lucro crescente do ramo de imveis. Teve tambm como

    efeito colateral desta Lei o desestmulo dos investidores a produzirem novas moradias

    para os menos abastados. Dessa forma, a situao se agravou, o nmero de

    trabalhadores nos grandes centros aumentava juntamente com a maior quantidade de

    despejos. Como consequncia, iniciou-se a expanso perifrica das cidades.

    O crescimento demogrfico e a crise da produo rentista empurraram a populao de

    mais baixa renda para a autoconstruo em lotes perifricos, na sua maioria desprovidos

    de infraestrutura, mas comprados a prazo e acessveis atravs dos nibus. Ainda que no

    totalmente materializado, o modelo do desenvolvimento urbano extensivo teve suas

    bases e hegemonia consolidadas durante os anos 1930s e 40s. Esse padro se tornou

    uma das principais caractersticas assumidas pela cidade nas dcadas que se seguiram.

    (SILVA, 2007)

    Com a crise ocorrente, demonstrava-se que a produo do setor privado sozinha

    no seria capaz de prov-la adequadamente, principalmente por se sustentar como

    negcio lucrativo, mas no como poltica habitacional. Vargas e seu governo perceberam

    que o Estado tinha a obrigao de intervir atravs da construo de conjuntos

    habitacionais, executados pelos IAPs (Institutos de Aposentadoria e Penses) e pela FCP

    (Fundao da Casa Popular).

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    Alm disso, o crescimento das favelas e o dficit habitacional ocorrente indicavam

    tambm a necessidade de uma produo rpida e em massa. Dessa forma, a produo de

    habitaes no perodo se faz em larga escala, associada localizao perifrica dos

    terrenos, pelos seus baixos custos em relao s reas centrais e por serem amplos,

    permitindo a construo em massa, alm de tambm atender aos propsitos da classe

    alta, mantendo a separao das classes sociais no espao urbano.

    Essas atitudes imediatistas, longo prazo se mostram equivocadas, pois povoar a

    periferia implica na necessidade de infraestrutura, transporte, urbanizao, encarecendo

    os custos globais da cidade. Quando se trata de cidades que ainda possuem vazios

    urbanos, esta no a alternativa mais inteligente e vivel do ponto de vista econmico.Antagonicamente, a maioria da produo habitacional ainda realizada na periferia,

    justamente pelos mesmos motivos apresentados anteriormente: aes governamentais

    simplistas e imediatistas.

    O ideal moderno de habitar, que influenciou grande parte da produo do

    perodo, alm de buscar a setorizao, impulsionando a utilizao das reas perifricas

    para habitao social, tambm deixou como herana a utilizao de blocos idnticos,

    refletindo a racionalizao dos espaos, e desconexos da cidade. No entanto, os

    conjuntos habitacionais produzidos pelos IAPs tiveram seus pontos positivos, atentando-

    se para aspectos projetuais ainda no explorados, como a preocupao quanto

    iluminao e ventilao adequadas ao conforto, espaos comuns que incentivam o

    convvio social, alm de grande parte dessas moradias ser provida de comrcio, lazer e

    educao.

    Figura 22: Conjunto Residencial Vila Guiomar, SP.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 23: Conjunto Residencial do Realengo, RJ.

    Fonte: Bonduki, 2004.

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    Figura 24: Conjunto Residencial do Realengo, RJ.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Figura 25: Conjunto Residencial da Baixada do

    Carmo, SP.

    Fonte: Bonduki, 2004.

    Ainda que houvesse muitas falhas na produo desta fase, apresentaram evoluo

    significativa quanto qualidade habitacional em relao aos perodos anteriores.

    Entretanto, nas dcadas posteriores, como ser relatado, nota-se uma estagnao,

    interrompendo a explorao e evoluo das qualidades arquitetnicas.

    2.1.3. A produo do Banco Nacional de Habitao (BNH)O BNH foi criado juntamente com SFH (Sistema Financeiro de Habitao), no ano

    de 1964, aps o Golpe Militar ao poder do pas, e extinto em 1986, pelo ento Presidente

    da Repblica, Jos Sarney. O intuito pelo qual foram criados estes rgos era o

    atendimento ao cidado, facilitando o acesso casa prpria para classes menos

    abastadas, estimulando a construo e o financiamento das habitaes de interesse

    social, promovendo assim o aquecimento da economia do pas.

    Durante este perodo de atuao, como informa o Jornal O Globo Rio, foram

    construdas mais de 75 mil unidades habitacionais, uma produo grandiosa comparando-

    se com o que havia sido feito at esta fase. Isto s foi possvel atravs da massificao eabrangncia da produo perifrica, que havia se iniciado na Era Vargas. Alm disso,

    apesar da quantidade elevada, a produo no foi suficiente para que diminusse de

    forma significativa o dficit habitacional, por se elaborar como correo e no como

    poltica de construo de um espao urbano. Nota-se ainda que quantidade e qualidade

    foram atributos inversamente proporcionais na produo do perodo, medida que

    procuravam multiplicar o nmero de unidades, diminuam os custos de cada uma, e com

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    eles a qualidade arquitetnica. Tudo isso ainda sob as mesmas caractersticas do ideal

    moderno de habitar, iniciado no perodo anterior.

    A preocupao do governo em demonstrar nmeros, sem se atentar aos aspectos

    arquitetnicos, com o foco em seus moradores, resultou em uma produo de projetos

    com baixssima qualidade. As produes tornaram-se impessoais, cria-se um padro, que

    ignora o bem estar humano e suas necessidades de moradia em prol de uma economia

    do Estado e da produo em massa.

    Dimenses insuficientes, ps-direitos pequenos, reproduo de casinhas

    idnticas, blocos de prdios extensos, desprovidos de flexibilidade e ampliaes,

    demonstram, entre outros fatores, essa despretenso. Elementos bsicos da boa

    arquitetura foram desprezados, como adequao topografia, iluminao natural,

    ventilao e qualidade espacial, percebe-se a falta de qualidade arquitetnica ao analisar

    os aspectos funcionais e tcnicos. Para que um edifcio possua uma boa arquitetura,

    outros fatores tambm devem ser considerados, como o estudo da forma e a

    plasticidade. A esttica de um edifcio to importante quanto a funo do mesmo,

    porm na produo de habitao de interesse social, raramente se v a explorao deste

    campo.

    Na Fazenda Botafogo, apartamentos semelhantes a caixotes. Na Vila do Joo, uma quadra

    inteira com apenas um alicerce para todas as casas. Em Antares, duplex de 26 metros

    quadrados. E no Cesaro, tetos de amianto, que transformavam os cmodos num forno

    no vero. [...] Pretendia-se com o BNH, desenvolver a construo civil, gerando novos

    empregos. O contedo da moradia, contudo, se perdeu. Tratou-se a casa apenas como

    dormitrio. (GALDO e DAFLON, 2011).

    De acordo com BOTEGA (2008), o SFH/BNH era, na verdade, um eficaz agente de

    dinamizao da economia nacional desempenhando um importante papel junto ao

    capital imobilirio nacional. Fugia assim do seu objetivo principal, pelo menos no

    discurso, de ser o indutor das polticas habitacionais para superao do dficit de

    moradia. Explica-se dessa forma o porqu da baixa qualidade da produo habitacional

    da poca, demonstrando que de fato o foco no foi habitao de interesse social ou o

    atendimento populao de baixa renda.

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    Os projetos voltados para a boa convivncia da sociedade, privilegiando o espao,

    abrigo e necessidades humanas so raros. A fase do BNH deixou legados ruins para as

    geraes subsequentes, herdaram-se aspectos como a ampliao da mancha urbana,

    necessidade de investimentos em infraestrutura, sujeio de uma parte da populao

    vrias horas dirias gastas com deslocamento, aumento da segregao espacial, alm da

    estruturao do pensamento de que habitao popular se faz em empreendimentos

    macios e perifricos, com pouca adequao ao local da obra, e ausncia de

    equipamentos urbanos coletivos, do direito cidade e m qualidade da moradia.

    Figura 26: Residncia original do Conjunto

    Habitacional Octacilio Camara, RJ.

    Fonte: O Globo Rio, 2011.

    Figura 27: Residncias modificadas do Conjunto

    Habitacional Octacilio Camara, RJ.

    Fonte: O Globo Rio, 2011.

    Figura 28: Conjunto Habitacional Octacilio

    Camara, RJ.

    Fonte: O Globo Rio, 2011.

    Figura 29: Conjunto Habitacional Octacilio

    Camara, RJ.

    Fonte: O Globo Rio, 2011.

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    2.1.4. A consequncia: ps BNH e as produes do sculo XXIDe acordo com BOTEGA (2008), essa etapa ps BNH foi caracterizada por uma

    forte confuso institucional provocada por constantes reformulaes nos rgos

    responsveis pelas polticas habitacionais. Aps a extino do Banco Nacional de

    Habitao, com ela o enfraquecimento do SFH e das Companhias Estaduais de Habitao

    (COHABs), seguiu-se uma ausncia de polticas habitacionais efetivas no pas, ou mesmo

    de rgos governamentais responsveis diretamente por esta questo, direcionando-as.

    Nota-se no perodo de 1986 a 2002 a falta de iniciativa direta do governo federal,

    cabendo ao setor privado grande parte das produes habitacionais, o que agravou a

    situao para as famlias de baixa renda.

    A presso populacional nos centros urbanos, a crise econmica, o desemprego e o alto

    custo do solo urbano, associados ausncia de poltica habitacional foraram as famlias

    de menor renda a buscar por conta prpria alternativas precrias de moradia. Este

    processo acelerou a favelizao, a ocupao irregular da periferia e de reas de risco,

    configurando, desta forma, os atuais problemas urbanos brasileiros. (DEMANDA

    HABITACIONAL NO BRASIL, 2012)

    Com a criao do Ministrio das Cidades e a aprovao da Poltica Nacional de

    Habitao (PNH), em 2003 e 2004, respectivamente, o setor pblico passou a conduzir as

    produes de habitao. Porm, os problemas haviam se agravado, ampliando a

    demanda de unidades habitacionais, notando-se semelhanas com o perodo BNH, como

    a produo em massa, em terrenos extensos e longe das reas centrais.

    Esto cometendo os mesmo erros da poca do BNH. uma velocidade construtiva nunca

    vista. Mas, quase sempre, com m qualidade, em terrenos baratos para aumentar o lucro

    das construtoras, apartamentos de at 42 metros quadrados e distantes dos centros de

    trabalho e sem transporte. (LAGO apud GALDO e DAFLON, 2011)

    Percebe-se, na atual produo habitacional, a herana de erros consecutivos a

    respeito do que deve ser moradia, para quem, qual seu papel e insero na cidade e

    sociedade. Desde os primeiros relatos a respeito da habitao, nos ltimos anos do sculo

    XIX e primeiras dcadas do sculo XX, muitas famlias vivem em moradias inadequadas,

    tanto pelo local em que se insere, por sua estrutura ou pela quantidade de famlias em

    uma mesma unidade, configurando o dficit habitacional. A populao que mais sofre

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    com esta problemtica a pertencente s classes baixas, por no possurem renda

    necessria para lhe garantir a moradia adequada.

    Segundo o PlanHab - Plano Nacional de Habitao, o dficit habitacional no pas

    corresponde a 5,8 milhes de domiclios em 2008. De acordo com o mesmo Plano,

    pretende-se erradicar este dficit at o ano de 2023, porm, para que isto de fato ocorra

    acompanhado de uma produo com qualidade arquitetnica e urbanstica, os interesses

    polticos, comerciais e financeiros no devem mais continuar frente disto. Pois se

    constata que muitas vezes as metas impostas so alcanadas, mas, atravs da construo

    precria, contendo problemas como a falta de diversos aspectos: tcnicos, funcionais e

    plsticos.

    A produo do sculo XXI, tendo como principal programa o Minha Casa, Minha

    Vida, ainda apresenta alguns pontos negativos cruciais, como uma arquitetura pobre,

    desprovida de regionalizao, de insero social e econmica, executada em regies

    perifricas, de difcil acesso, desservida de equipamentos, servios e transportes pblicos,

    com infraestrutura insuficiente, pouca preocupao ambiental, com um projeto-tipo

    repetido exausto e a ausncia de flexibilidade do projeto.

    Figura 30: Cidade Tiradentes, So Paulo-SP.

    Fonte: Cidade Tiradentes, 2010.

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    Figura 31: Conjunto Habitacional Jardim Vitria, Belo Horizonte.

    Fonte: Prefeitura Belo Horizonte, 2012.

    Figura 32: Residencial Brises da Chapada,

    Itaberada, Bahia.

    Fonte: Governo da Bahia, 2011.

    Figura 33: Residencial Brises da Chapada,

    Itaberada, Bahia.

    Fonte: Governo da Bahia, 2011.

    Nota-se, ainda, semelhana do ocorrido no perodo da ditadura militar, que o

    foco no a classe de menor renda, atende-se um segmento intermedirio, atravs de

    uma ocupao macia, uniforme, perifrica e desconexa da cidade. Alm da falta de

    incentivo do governo, os grupos de baixa renda tambm no conseguem ser atendidos

    como os demais por causa das preferncias da construo civil. Essas atitudes impedem o

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    avano do pas nesta questo, pois so justamente as classes mais baixas que apresentam

    a maior precariedade habitacional.

    [...] em So Paulo e nas demais capitais e regies metropolitanas onde realmente est

    concentrada a demanda da faixa de renda entre 0 e 3 salrios mnimos, as construtoras

    esto encontrando muita dificuldade de produzir para o Minha Casa, Minha Vida em

    funo do preo dos terrenos. Todas elas reclamam que o preo do terreno est muito

    caro.

    Ento para a faixa de 3 a 6 salrios mnimos que o programa est funcionando melhor.

    As grandes construtoras esto lanando seus produtos para este segmento especialmente

    nas periferias metropolitanas. O problema, portanto, que o programa no est

    conseguindo atender com preferncia os que mais precisam, que so os moradores dasgrandes cidades que esto indo hoje adensar favelas e construir nas lajes. (ROLNIK, 2010).

    A evoluo positiva quanto questo habitacional s ocorrer quando as prticas

    comearam a ocorrer de forma inversa, privilegiando no s suprir os nmeros e reduzir

    custos ao mximo, mas focar na moradia em si, para que seja voltada para o cidado.

    Para que este quadro reverta, necessrio que o setor da construo civil deixe de ser o

    ncleo do processo, pois ele quem dita onde, como e o que construir.

    Alm disso, durante a histria do Brasil, pouco se v de planejamento urbano e

    poltica habitacional focada no interesse social, tornando distante a melhoria dessa

    produo.

    A questo no apenas a falta de moradia no Brasil. Mas a falta de espao e de uma

    poltica para o desenvolvimento urbano. Isso em meio a um quadro de financeirizao da

    construo de imveis nas cidades. Assim, os programas de crdito na rea de moradia

    ganham um aspecto de poltica anticclica, mas esto distantes de resolver a questo da

    moradia digna no Brasil. (ROLNIK, 2012).

    2.1.5. A situao de Mato GrossoA histria da Habitao Social em Mato Grosso, de um modo geral, um reflexo

    do que ocorreu no Brasil, porm a exploso do crescimento populacional e

    consequentemente sua problemtica, se deu mais tardiamente, a partir da segunda

    metade do sculo XX.

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    Foi em meados da dcada de 1960 que se principiaram as migraes, estimuladas

    pelo fato de Mato Grosso ser utilizada como travessia para Amaznia, gerando o

    crescimento populacional da regio.

    Em 1966 o governo estadual, pressionado pelas migraes que comearam a acelerar

    incontroladamente o crescimento urbano, criou a Companhia de Habitao Popular do

    Estado de Mato Grosso (Cohab). Esta construiria o Ncleo Residencial Cidade Verde, hoje

    chamado Cohab Velha, nas proximidades do rio Cuiab. Primeiro ncleo de habitao

    popular de iniciativa estadual e polo de atrao de crescimento na direo oeste da

    cidade, a Cohab Velha estimulou o adensamento dos bairros prximos, como Goiabeiras e

    Cidade Alta. (Prefeitura de Cuiab, 2010).

    Nas dcadas seguintes, os governos estadual e federal passaram a incentivar ainda

    mais a vinda da populao de outros estados para Mato Grosso, atraindo principalmente

    os agricultores das regies Sul e Sudeste em busca de terra abundante e barata.

    Entretanto o estado no possua a estrutura necessria para receber este grande

    contingente de pessoas.

    [...] a falta de condies de fixao do pequeno agricultor a terra gerou novos conflitos

    internos. As relaes abusivas entre arrendatrios e parceiros com os proprietrios, e a

    inexistncia de uma poltica creditcia e de incentivos ao pequeno produtor, acabaram por

    gerar, tambm em Mato Grosso, o xodo rural. (METELLO, 2007).

    Desta forma, esta populao voltou-se para as zonas urbanas, em busca de

    emprego, escolaridade e assistncia sade, contribuindo para o dficit habitacional de

    Mato Grosso. Devido ao aumento da demanda por moradias provocada pelo xodo rural,

    muitas famlias ficaram desabrigadas na cidade, o que contribuiu para a proliferao dos

    grilos, denominao popular utilizada em MT para invaso de terras particulares e

    pblicas em desuso. A partir desta questo demonstra-se a necessidade de uma

    interveno do governo para a soluo do problema, atravs de uma poltica habitacional

    efetiva e atuante no Estado.

    No governo de Dante de Oliveira (1999-2002), com o intuito de incentivar a

    produo de habitao social, criou-se o Fundo de Transporte e Habitao (FETHAB),

    dessa forma contribuintes que promovem a sada de produtos do Estado esto sujeitos a

    uma taxa, que posteriormente direcionada aos setores de transporte e habitao. Aindaassim o Estado de Mato Grosso necessitava de uma poltica habitacional efetiva, portanto

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    no ano de 2004, governo de Blairo Maggi, foi criado o Programa Meu Lar, sendo ele

    divido nos subprogramas: Ncleo Habitacional (NH), Bolsa Material de Construo (BMC),

    Morar Melhor, T Feliz e Meu Teto.

    Os projetos habitacionais do Estado de Mato Grosso possuem uma precariedade

    arquitetnica, tendo como finalidade a rpida diminuio dos nmeros do dficit

    habitacional na regio, no se atentando a qualidade das moradias. Em linhas gerais, a

    produo habitacional do perodo no Estado se caracteriza por: uma extensa reproduo

    de pequenas casas em quaisquer terrenos de grandes dimenses, sem aproveitamento da

    vegetao e topografia local, distantes das reas centrais, desprovidos de infraestrutura e

    equipamentos urbanos. Percebe-se um projeto universal, que no privilegia ascaractersticas da cidade ou do terreno onde est sendo inserido, com residncias

    geralmente desprovidas de conforto ambiental e flexibilidade projetual. A amplitude da

    ao parece ter sido consolidada atravs da reduo dos custos e em detrimento da

    qualidade de seus projetos.

    Figura 34: Residencial Alice Novack, Cuiab-MT.

    Fonte: Prefeitura de Cuiab, 2012.

    Figura 35: Resid. Sen. Jonas Pinheiro, Cuiab-MT.

    Fonte: Prefeitura de Cuiab, 2011.

    Figura 36: Resid. Santa Marta, Guarant do Norte-MT.

    Fonte: SINFRA, 2012.

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    2.2. NECESSIDADES E POSSIBILIDADES HABITACIONAIS INERENTES AOHOMEM EM SOCIEDADE/CIDADE

    Segundo LEFEBVRE (2006), o desenvolvimento de uma sociedade somente

    concebido na vida urbana pela realizao da prpria sociedade urbana. Estas relaes sociais

    s ocorrem atravs da prtica, porm preciso que haja condies favorveis para tal. Para

    tanto necessrio entender o que o direito cidade, moradia digna e a importncia do

    local de insero das classes baixas.

    2.2.1. O direito cidade e o direito moradiaA cidade o resultado de um conjunto de foras, interesses e disputas, dessa forma,

    a segregao que se desenvolve em seu territrio a consequncia de um processo

    evolutivo, influenciado pelas caractersticas da sociedade e dos controles estatais do meio

    no qual a cidade se produz.

    O modelo de desenvolvimento urbano que estrutura nossas cidades expulsa a populao de

    baixa renda das reas mais centrais, em direo periferia, onde a terra mais barata

    exatamente porque no rene os requisitos mnimos para assegurar uma vida digna.

    (ASEVEDO, 2009)

    Esta segregao que mantm a classe baixa distante no s socialmente, mas

    tambm espacialmente, est associada negao do direito cidade, visto que, desta

    forma, so erradicados da vida urbana. O direito cidade se define pela vida em sociedade,

    pelo o direito sade, educao, cultura, moradia, lazer, transporte, infraestrutura,

    mobilidade e oportunidades de trabalho, ou seja, os bens e servios proporcionados pela

    cidade.

    A classe operria sofre as consequncias da exploso das antigas morfologias. Ela vtima de

    uma segregao, estratgia de classe permitida por esta exploso. Tal a forma atual da

    situao negativa do proletariado. A antiga misria proletria se atenua e tende a

    desaparecer nos grandes pases industriais. Uma nova misria se estende, que toca

    principalmente o proletariado sem poupar outras camadas e classes sociais; a misria do

    habitat, a misria do habitante [...] Para aqueles que ainda duvidariam de sua existncia como

    classe, a segregao e a misria de seu habitar designam na prtica a classe operria.

    (LEFEBVRE, 2006)

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    O direito moradia significa tambm o direito cidade, sendo adequado que o local

    de insero de uma habitao possua as diversas caractersticas que configuram a cidade, j

    citadas anteriormente. Alm disso, outros fatores so relevantes, a arquitetura deve ser

    adequada ao homem, privilegiando a proteo e o bem-estar do morador. O direito

    moradia no se resume apenas a edificao em si, mas ao direito de toda pessoa ter acesso

    ao desenvolvimento humano e econmico, oportunidades de uma vida digna.

    De acordo com o site Direito moradia, para que se tenha uma moradia adequada,

    necessita-se de: segurana de posse, disponibilidade de servios, infraestrutura e

    equipamentos pblicos, custo acessvel, habitabilidade, no discriminao e priorizao de

    grupos vulnerveis, localizao adequada e adequao cultural.

    Baseada no Censo Demogrfico do IBGE (2000), ROLNIK (2012) elaborou uma anlise,

    demonstrando que, mesmo se utilizando de critrios mnimos, como os definidos pelo IBGE,

    a quantidade de moradias adequadas no Brasil baixa.

    Tabela 01: Critrio para classificao do domiclio como adequado conforme variveis do Censo IBGE .

    Fonte: Rolnik e Klink, 2011.

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    Figura 37: Mapa de porcentual de domiclios adequados por municpio.

    Fonte: Rolnik, 2012.

    O direito cidade e moradia deve agregar a todos os cidados que compe uma

    sociedade, sem excluses por classe, pois a evoluo de uma cidade se d atravs da

    integrao social.

    2.2.2. A influncia da localizao na Habitao de Interesse SocialA localizao de uma habitao um dos pontos mais importantes a respeito dela,

    certas vezes at mais importante do que a prpria edificao. Segundo ROLNIK (2012), essa

    relevncia se deve ao fato de que o local de insero da moradia que ir influenciar no

    acesso ao direito moradia e cidade, sendo relevante a escolha da rea central para este

    tipo de edificao, por possuir recursos diversos sua volta.

    Apesar da resistncia do setor imobilirio, da elite, e por vezes, do governo, inserir a

    populao de menor renda em rea central contribui e estimula a esta seu direito cidade,

    por ser uma regio urbanisticamente j consolidada. As reas centrais das cidades brasileirasgeralmente so os locais que possuem maior infraestrutura, possibilidades de transporte,

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    oportunidades de trabalho, escolas pblicas, equipamentos culturais, facilitando o acesso

    cidade.

    Finalmente, h os pobres - com toda a diversidade j exposta - cuja proximidade desvaloriza

    imveis novos ou reformados, coerentemente com os valores de uma sociedade que alm de

    patrimonialista (e por isso mesmo) est entre as mais desiguais do mundo. Aceita-se que os

    pobres ocupem at reas de proteo ambiental [...] mas no se aceita que ocupem reas

    valorizadas pelo mercado, como revela a atual disputa pelo centro. (MARICATO, 2012)

    Devido descentralizao nas cidades nas ltimas dcadas estas reas centrais

    possuem imveis e terrenos ociosos. A cidade possui custos fixos, como o da infraestrutura

    urbana e do transporte coletivo, que depender da sua regio de abrangncia, pois quanto

    mais amplo um territrio, maior a rea de implantao destes elementos, por consequncia

    custos mais altos. Portanto se uma regio for mais adensada, utilizando melhor seus espaos

    urbanos, este valor ser dividido por uma populao maior, otimizando o aproveitamento da

    infraestrutura e do transporte.

    Em muitos casos, este esvaziamento ocorre inserido em um processo de crescimento urbano

    que estende a mancha urbana em direo s periferias - para o assentamento da populao

    de baixa renda - e em direo a novas reas de expanso imobiliria para assentar os setores

    de atividades relacionadas classe alta. Essa situao resulta na subutilizao dos recursos

    disponveis nas reas centrais, como infra-estrutura, sistema de transportes e estoque

    imobilirio ; no adensamento populacional de baixa renda em reas no servidas de infra-

    estrutura e distantes dos locais de trabalho e na concentrao de atividades econmicas em

    reas de especulao imobiliria. Ou seja, uma forma de crescimento urbano que se

    caracteriza pela separao das diferentes classes sociais no municpio e pela m utilizao dos

    recursos pblicos na medida em que, alm de no utilizar o que j existe, exige a ampliao

    de infraestrutura e servios pblicos para reas antes no ocupadas. (DIOGO, 2001)

    A insero de edificaes residenciais em rea central garante um equilbrio,

    estimulando a diversidade, evitando-se separar a cidade por tipo de usos, aproximando as

    moradias das regies de comrcio, trabalho, lazer, garantido a esta populao o direito

    moradia adequada. Portanto, com este uso misto, privilegia-se a mobilidade urbana, no

    sendo necessrios grandes deslocamentos para se ter acesso cidade, os quais

    sobrecarregam, prejudicando o trnsito dos automveis. Tambm na rea central a

    mobilidade privilegiada atravs do transporte urbano, onde h maior circulao e alcancedo mesmo.

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    2.3. PRINCPIOS TECNOLGICOSPara um projeto ser adequado a regio onde ser locado, preciso ir alm da

    discusso entre forma e funo, deve-se levar em conta outros fatores tcnicos essenciaispara as decises de projeto arquitetnico, que influenciam nas aberturas, espaos e

    dimenses, mas tambm nos materiais de revestimentos.

    2.3.1. Conforto trmico e a habitaoA arquitetura tem como um dos princpios bsicos, a concepo de edifcios adequados ao

    clima em que se inserem. Registros de antigos arquitetos, nos primrdios de nossa histria, j

    revelam a preocupao com a distino entre as caractersticas dos edifcios em funo de

    suas localizaes. (DURANTE, NOGUEIRA e SANCHES, 2006).

    Cada regio tem suas particularidades que devem influenciar no produto final de

    uma edificao, no entanto percebe-se nas produes habitacionais atuais pouca relevncia

    deste fator. Entre as adaptaes locais que um edifcio precisa ter, necessrio que se

    conhea o clima da regio onde ser inserido, pois conforto trmico um princpio bsico

    para o bem estar do ser humano no ambiente em que se situa. Este fator no sendo

    considerado, pode resultar em situaes de desconforto trmico, causadas pelo excesso de

    calor ou frio.

    Quanto s construes atuais da cidade de Cuiab, por vezes causam desconforto

    trmico, por no se adequarem ao clima quente da regio. Anteriormente a chegada de

    muitos migrantes para Cuiab, as caractersticas das casas cuiabanas eram mais adaptadas

    ao clima local, e atravs de solues simples. Segundo DURANTE, NOGUEIRA e SANCHES

    (2006), neste perodo se utilizavam de p direito altos, paredes de adobe mais espessas,

    aberturas que estimulavam a ventilao cruzada, espaos de quintais mais amplos, com

    vegetao e tanques dgua, criando um microclima, dessa forma amenizando as altas

    temperaturas.

    Em meio ao processo de massificao e uniformizao da produo de Habitao de

    Interesse Social (HIS), existentes atualmente, os fatores econmicos e funcionais distanciam

    a habitao das possibilidades de uma melhor adequao a cada local em que se insere. No

    entanto possvel a unio destes fatores, a economia e a adaptao regional, sendo

    necessrio que o projetista considere as questes bioclimticas em sua arquitetura, tirando

    proveito dos elementos climticos naturais.

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    Atravs da Norma de Desempenho tcnico de edificaes, Parte 3: Zoneamento

    Bioclimtico Brasileiro, da ABNT, dividiu-se o territrio brasileiro em oito zonas diferentes e

    homogneas quanto ao clima. Formularam-se recomendaes tcnico-construtivas para

    cada zona, no intuito de aperfeioar o desempenho trmico das edificaes, atravs da

    melhor adequao climtica.

    Figura 38: Zoneamento bioclimtico brasileiro.

    Fonte: Lamberts et al, 2011.

    Figura 39: Zona bioclimtica 7.

    Fonte: Lamberts et al, 2011.

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    Para cada Zona Bioclimtica foram estabelecidos parmetros, como: dimenso de

    aberturas para ventilao, sombreamento das mesmas, tipos de vedaes e estratgias de

    condicionamento trmico passivo. Cuiab, como demonstrado na Figura 39, pertencente

    Zona bioclimtica 7, portanto devem ser atendidas as diretrizes descritas nas tabelas a

    seguir.

    Tabela 02: Aberturas para ventilao e sombreamento das aberturas para Zona 7.

    Fonte: Lamberts et al, 2011.

    Tabela 03: Dimenses das aberturas para ventilao.

    Fonte: Lamberts et al, 2011.

    Tabela 04: Tipos de vedaes externas para Zona 7.

    Fonte: Lamberts et al, 2011.

    Tabela 05: Transmitncia trmica, atraso trmico e fator de calor solar admissveis para cada tipo de vedao

    externa.

    Fonte: Lamberts et al, 2011.

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    Tabela 06: Estratgias de condicionamento trmico passivo.

    Fonte: Lamberts et al, 2011.

    Cuiab possui clima tropical quente semimido, caracterizada por dois perodos bem

    definidos: seis meses quente-seco e seis meses quente-mido. De acordo com DURANTE,

    NOGUEIRA e SANCHES (2006), para que se amenize a temperatura e a sensao trmica no

    interior das habitaes, devem ser analisados alguns fatores, como: forma do edifcio,

    materiais e tipo de cobertura, p direito, materiais das paredes, radiao solar, proteo

    solar, aberturas, vegetao.

    Forma do edifcio: influencia na insolao que o mesmo receber, alm de auxiliar ou

    prejudicar a ventilao em seu interior. No caso de Cuiab necessrio que se estimule a

    ventilao de forma seletiva e reduza a incidncia solar direta.

    Coberturas: Grande parte do calor adquirido por um edifcio provm das coberturas,sendo necessrio em regies quentes, como a cidade em questo, utilizar tcnicas que

    permitam o mximo atraso trmico e amortecimentos trmicos.

    P direito: Sendo sua dimenso mais ampla permite uma maior distncia da massa de

    ar quente e a regio de circulao das pessoas, pois a tendncia do ar quente ficar na parte

    superior. Alm de privilegiar eficincia da ventilao, se houver abertura para sada deste ar

    quente.

    Paredes: Assim como as coberturas, para que se amenize a temperatura interior,

    necessria a utilizao de materiais com elevada inrcia, provocando assim o atraso e

    amortecimento trmico.

    Radiao e proteo solar: Cores claras absorvem menos calor e refletem mais luz,

    sendo indicadas para reduo da absoro da radiao solar, alm disso, devem-se evitar

    grandes superfcies envidraadas e proteger as fachadas, de preferncia, com beirais e

    vegetao.

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    Aberturas: Estas influenciam em dois fatores, a ventilao e a iluminao. Deve-se

    estimular, sempre que possvel, a ventilao cruzada, facilitando os fluxos de ar. As

    aberturas devem tambm permitir o uso da iluminao natural, evitando assim a utilizao

    de luz artificial durante o dia.

    Vegetao: A utilizao de vegetao ameniza a temperatura do local, criando um

    microclima mais agradvel.

    2.3.2. Antropometria e ergonomiaA antropometria a cincia que trata especificamente das medidas do corpo

    humano, consiste no estudo e avaliao das dimenses corporais do indivduo. A ergonomia

    ou engenharia adequao do usurio ao seu ambiente, sua caracterstica a

    interdisciplinaridade, envolvendo: fisiologia, medicina, psicologia, antropologia e a

    engenharia. A antropometria somente um dos seus ramos, sendo necessria para que se

    conheam as necessidades, habilidades e limitaes fsicas de cada indivduo.

    De acordo com PANERO e ZELNICK (2002), grande parte da filosofia da engenharia

    humana baseada na premissa de que tudo projetado para pessoas, portanto, no ramo da

    arquitetura imprescindvel que se tenha conhecimento a respeito deste assunto, para que

    dessa forma se possa projetar a partir do prprio homem. Notoriamente estes estudos se

    demonstram como ferramentas para a elaborao de um bom projeto, uma vez que esto

    relacionados adaptao humana a espaos interiores.

    H variao da dimenso corporal entre indivduos, modificando de acordo com

    fatores como idade, sexo, raa, tipo de alimentao, de atividades, entre outros. Dessa

    forma, torna-se complexa a adequao entre a diversidade humana e os diferentes espaos

    e atividades, para isso realizam-se estatsticas, limitando determinada extenso de

    populao, porm evitando o conceito de homem mdio. Segundo PANERO e ZELNICK

    (2002), para que os espaos sejam eficientes, devem ser projetados com a gama de medidas

    do corpo humano, buscando atender a maior porcentagem de populao usuria.

    Baseados em estudos antropomtricos, PANERO e ZELNICK (2002), elaboram padres

    referenciais bsicos de projeto para espaos interiores, servindo como base de estudo para

    este trabalho, por isso, abaixo so demonstradas figuras contidas no livro estudado. Os

    nmeros utilizados em alguns desenhos significam o cdigo da medida especfica para cada

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    individuo, devendo ser consultada em uma tabela a parte, que ir variar de acordo com a

    idade, sexo e percentil.

    Figura 40: Sofs/Usurios do sexo masculino e feminino, respectivamente.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 41: rea de Estar em canto, com e sem circulao.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

    Figura 42: Dimensionamento rea de Estar.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 43: Dimensionamento rea de Estar.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

    Figura 44: Dimensionamento rea de Refeio.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 45: Dimensionamento rea de Refeio.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

    Figura 46: Dimensionamento rea de Refeio.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 47: Dimensionamento rea de Refeio.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

    Figura 48: Dimensionamento Cozinha.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 49: Dimensionamento Cozinha.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 50: Dimensionamento Cozinha.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

    Figura 51: Dimensionamento Cozinha.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 52: Dimensionamento Cozinha.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 53: Dimensionamento Dormitrio.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

    Figura 54: Dimensionamento Dormitrio.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 55: Dimensionamento Dormitrio.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

    Figura 56: Dimensionamento Banheiro.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    Figura 57: Dimensionamento Banheiro.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

    Figura 58: Dimensionamento Banheiro.

    Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.

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    3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

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    3.1. METODOLOGIA DE PESQUISA AO TEMAInicialmente foi realizada uma pesquisa histrica buscando as caractersticas e os

    processos que influenciaram as condies atuais da produo de habitao social.Identificando, dessa forma, diversos padres de produo da habitao social, desenvolvidos

    ao longo da nossa histria.

    A partir disto foram realizadas visitas a conjuntos habitacionais caractersticos de

    alguns destes modelos. As visitas in loco objetivaram conhecer os espaos pblicos e

    particulares desenvolvidos por cada proposta de habitao, analisando os aspectos tanto

    funcionais quanto estticos e sociais. Dentre elas, destaca-se a realizada no Conjunto

    Prefeito Mendes de Moraes, na cidade do Rio de Janeiro.

    Durante as visitas foram realizadas entrevistas com moradores e funcionrios dos

    locais, no intuito de conhecer opinies diversificadas a respeito das habitaes. Assim como

    foram entrevistados, posteriormente, profissionais/pesquisadores do ramo, para agregar

    uma opinio especializada experincia do usurio.

    Paralelamente houve pesquisa bibliogrfica a outros exemplos de conjuntos, que

    trabalham com a produo habitao social a partir de um novo ponto de vista em relao a

    forma de insero da mesma no espao urbano e a relao do espao edificado com o

    habitante, sendo assim representantes de possibilidades diversas de interveno. Neste

    caso, o projeto relevante o Quinta Monroy, em Iquique, Chile.

    Atravs dessa pesquisa permitiu-se uma anlise das caractersticas positivas e

    negativas da produo de habitao popular existente, auxiliando-nos na elaborao dos

    parmetros arquitetnicos a serem adotados, assim como no programa de necessidades e

    pr-dimensionamento utilizado.

    3.1.1. Entrevista com o Prof. Cludio MirandaO professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Cludio Miranda, tambm

    funcionrio aposentado da Caixa Econmica Federal e Presidente do Conselho de

    Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (CAU-MT), concedeu a entrevista em abril de 2012

    e em janeiro de 2013, a respeito do tema: Habitao de interesse social em rea central.

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    Primeiramente abordou-se sobre as produes do Programa Minha Casa Minha Vida

    (PMCMV), os interesses das empreiteiras da construo civil e do mercado imobilirio a

    respeito das produes de habitaes de interesse social e a importncia da localizao

    destes empreendimentos. Estes assuntos auxiliaram no entendimento de como a produo

    destas habitaes funciona hoje em dia e quais interesses esto envolvidos em torno dela.

    Posteriormente, tambm foi discutida a questo da flexibilidade de um edifcio de habitao

    social e o uso misto de rea pblica e privada num mesmo edifcio, explicitando como isso

    funciona a partir de legislaes de outros pases, contribuindo para o embasamento das

    premissas arquitetnicas deste trabalho.

    3.1.2. Entrevista com o Arquiteto Luiz Alberto Amarante SimesA entrevista com o arquiteto Luiz Alberto Amarante Simes, funcionrio da

    Companhia Estadual de Habitao do Rio de Janeiro (CEHAB RJ), ocorreu em setembro de

    2012.

    O principal assunto foi produo de habitaes do Estado do Rio de Janeiro ao longo

    dos anos, suas tipologias e materiais utilizados, obtendo conhecimento de como ela

    funciona a partir da viso da Companhia. Demais informaes auxiliaram no entendimento eanlises das habitaes visitadas na cidade do Rio de Janeiro, que foram: Conjunto

    Habitacional Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho), Conjunto Habitacional da Gvea

    (Minhoco), Habitao da Av. Estcio de S, Conjunto Marechal Hermes da Fonseca.

    Por fim, o arquiteto cedeu trabalhos realizados por ele a respeito do Conjunto do

    Pedregulho, que est passando por reforma e restauro no momento atual, coordenada pela

    CEHAB-RJ, e tambm sobre o Morro do Preventrio, em Niteri, uma interveno em favela,

    tambm coordenado pela CEHAB-RJ. Estes trabalhos tambm contriburam para uma melhor

    anlise e entendimento dos conjuntos habitacionais.

    3.1.3. Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho)O Conjunto Prefeito Mendes de Moraes est localizado no Morro do Pedregulho,

    Bairro Benfica, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. De acordo com os arquivos cedidos

    por SIMES (2012), o projeto do conjunto foi de autoria do arquiteto e urbanista Affonso

    Eduardo Reidy, auxiliado pela engenheira Carmem Portinho, aprovado e iniciado execuo

    no ano de 1948, porm teve sua ocupao finalizada somente na dcada de 1960. O

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    Conjunto do Pedregulho foi construdo para populao de baixa renda, principalmente os

    servidores do municpio que viviam em condies precrias de moradia.

    Segundo o site Archdaily (2011), em matria sobre o Pedregulho, seu projeto

    continha quatro edifcios residenciais: blocos A, B1, B2 e C, porm este ltimo no foi

    construdo. Alm disso, assim como os outros conjuntos produzidos por Carmem Portinho e

    Reidy, a proposta do Pedregulho seria um conjunto autossuficiente, possuindo clube,

    creche, escola com ginsio e piscina, posto de sade, mercado, lavanderia e parquinho

    infantil. No entanto, o clube e a creche no chegaram a ser construdos, e, atualmente,

    somente a escola, o ginsio e o parquinho esto em funcionamento, o restante encontra-se

    desativado e degradado.

    Figura 59: Implantao (Pedregulho).

    Fonte: ArchDaily, 2011.

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    A princpio, o que torna esta habitao interessante, seu ideal de suprir as faltas

    no s de unidades habitacionais, mas tambm de reas de lazer, sade, educao e

    comercial. De acordo com os arquivos de SIMES (2012), o intuito o de inserir aquela

    grande populao no local, mas tambm dando uma base, proporcionando estas novas

    reas, algo de que as habitaes das ltimas dcadas, produzidas em reas perifricas, esto

    desprovidas.

    Outro ponto positivo do Pedregulho sua insero no meio, seus edifcios no so

    impactantes visualmente, tudo foi trabalhado tirando proveito da topografia local,

    entretanto seu conjunto no se integra ao espao urbano da cidade, como marca da

    proposta modernista. Ele se insere no espao fsico ao tirar proveito da topografia e nocriar uma barreira visual na cidade ao se utilizar e adaptar encosta do Morro do

    Pedregulho. O edifcio A, o mais extenso e visvel, est localizado na parte superior do

    morro, possuindo forma ondulante que o agrega ao restante da paisagem local.

    Aproveitando ainda a topografia ngreme, o acesso do bloco serpeante se d atravs do nvel

    intermedirio, de onde se pode subir ou descer para ter acesso s unidades.

    Figura 60: Planta dos pavimentos (Pedregulho).

    Fonte: ArchDaily, 2011.

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    Figura 61: Planta pavimento intermedirio (Pedregulho).

    Fonte: ArchDaily, 2011.

    Figura 62: Planta dos apartamentos (Pedregulho).

    Fonte: ArchDaily, 2011.

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    Figura 63: Corte Bloco A (Pedregulho).

    Fonte: ArchDaily, 2011.

    Quanto aos edifcios residenciais, o bloco A possui 272 apartamentos, enquanto os

    blocos B1 e B2 possuem 28 apartamentos cada, este modo como foram divididos gerou

    segregao dentro do prprio conjunto habitacional. Os blocos B1 e B2 por possurem

    poucas unidades habitacionais, apresentam um custo de manuteno maior por morador,

    dessa forma sendo ocupados por uma populao de poder econmico mais elevado que as

    pertencentes ao edifcio A. Alm disso, seu acesso se d por um local diferenciado e no h

    integrao entre os blocos B1 e B2 com o bloco A. Promovendo a segregao social no local,

    de modo que os dois blocos menores parecem no pertencer ao Conjunto Pedregulho.

    Figura 64: Vista area (Pedregulho).

    Fonte: ArchDaily, 2011.

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    Figura 65: Elemento vazado (escola Pedregulho).

    Fonte: Acervo do autor.

    Figura 66: Sala de aula (escola Pedregulho).

    Fonte: Acervo do autor.

    Figura 67: Praa e Playground (Pedregulho).

    Fonte: Acervo do autor.

    Figura 68: Bloco B (Pedregulho).

    Fonte: Acervo do autor.

    Figura 69: Trreo Bloco A (Pedregulho).

    Fonte: Acervo do autor.

    Figura 70: Fachada Bloco A em reforma

    (Pedregulho).

    Fonte: Acervo do autor.

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    3.1.4. Projeto refernciaO projeto de destaque dentre as pesquisas, foi o existente na regio de Quinta Monroy,

    em Iquique, Chile, elaborado pelo escritrio ELEMENTAL S.A. no ano de 2003 e executado

    em 2004.

    O ELEMENTAL um escritrio especializado em projetos de habitao, com grande

    enfoque habitao social. O Elemental em Quinta Monroy no apenas um projeto, mas

    sim o estabelecimento de uma proposta de atuao, que se repetiu em diversos outros

    locais.

    Uma das caractersticas destacadas que o projeto escolheu manter a populao no

    local onde j habitavam, prximo rea central da cidade, oferecendo toda a infraestrutura

    necessria a seus moradores, como: trabalho, educao, sade, transporte, entre outros.

    No permitindo assim que as famlias fossem deslocadas para a periferia, perdendo sua

    ligao e as oportunidades oferecidas pela cidade, como relatado na reportagem do site

    ArchDaily Brasil (2012): A boa localizao a chave para que a economia de cada famlia

    conserve-se e para a valorizao da propriedade..

    Figura 71: Implantao Quinta Monroy antes.

    Fonte: Elemental Chile, 2012.

    Figura 72: Implantao Quinta Monroy depois.

    Fonte: Elemental Chile, 2012.

    Pelos recursos escassos, optou-se por um projeto flexvel, oferecendo uma rea

    construda de 30m por residncia, contendo planta livre, permitindo a ampliao da

    moradia, podendo alcanar at 70m no total. A ampliao direcionada pelo prprio

    projeto original, atravs da criao alternada de cheios e vazios, para que assim no sepercam as caractersticas formais, e as linhas definidoras do conjunto, evitando a sua

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    descaracterizao. Alm disso, entre o espao pblico e privado, criou-se um intermediador,

    o espao coletivo, para uso de todos os moradores locais, estimulando a socializao.

    Figura 73: Projeto original Quinta Monroy.

    Fonte: Elemental Chile, 2012.

    Figura 74: Projeto com ampliaes Quinta Monroy.

    Fonte: Elemental Chile, 2012.

    Figura 75: Espao coletivo.

    Fonte: Elemental Chile, 2012

    Figura 76: Espao coletivo ps ocupao.

    Fonte: Elemental Chile, 2012

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    4.PROJETO

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    4.1. O TERRENO4.1.1. Localizao e escolha do terrenoOptou-se por realizar primeiramente a definio do terreno, por j estar pr-

    determinado que se deva ocupar uma rea central da cidade de Cuiab. Alm disso,

    pretende-se, a partir de um espao j determinado, que o projeto arquitetnico se adapte a

    ele obtendo solues diante das dim