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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
RASA DE FELICE SIMES
HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM
REA CENTRAL
Cuiab
2013
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RASA DE FELICE SIMES
HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM
REA CENTRAL
Trabalho Final de Graduao apresentado ao
Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Mato Grosso, como requisito para
obteno do ttulo de bacharel em Arquitetura e
Urbanismo, sob a orientao do Prof Ms. Dr. Tales
Lobosco.
Cuiab
2013
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FOLHA DE AVALIAO
ORIENTADOR:
_______________________________________
TALES LOBOSCO
AVALIADORES:
_________________________________________
SIMONE BERIGO BUTNER
_________________________________________
THIAGO SOLLA LOPEZ
Cuiab
2013
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"[...] que a importncia de uma coisa no se
mede com fita mtrica nem com balanas nem
barmetros. Que a importncia de uma coisa h que
ser medida pelo encantamento que a coisa produza
em ns."
Manoel de Barros
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AGRADECIMENTOS
Deus.
minha famlia pela fora e contribuio, pelo amor e incentivo dado durante
todos esses anos de vida acadmica.
Aos meus amigos de longa data pelo carinho, compreenso e pacincia.
Aos meus colegas e amigos de curso, por todo esse perodo de convivncia,
cumplicidade e companheirismo.
psicloga Pamila Dianez pela ajuda e incentivo durante todo este perodo de
elaborao do trabalho final de graduao.
Ao professor Tales Lobosco pelo auxlio, dedicao e credibilidade durante o
desenvolvimento do presente trabalho.
Aos demais professores pelos ensinamentos dados durante esses cinco anos de
faculdade.
A todos que contriburam de forma direta e indiretamente, atravs do auxlio em
visitas, de conversas, opinies e crticas.
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SUMRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
1. INTRODUO ....................................................................................... 1
1.1. HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM REA CENTRAL ......................................... 2
2. FUNDAMENTAO TERICA ................................................................ 5
2.1. HISTRIA DA HABITAO DE INTERESSE SOCIAL E SUAS INFLUNCIAS NO
PANORAMA ATUAL DO BRASIL.......................................................................................... 6
2.1.1. O Autoritarismo Sanitrio, a Produo Rentista e o Pioneirismo do RJ .......... 6
2.1.2. Populismo: Getlio Vargas e seu sucessor Eurico Gaspar Dutra................... 14
2.1.3. A produo do Banco Nacional de Habitao (BNH) .................................... 17
2.1.4. A consequncia: ps BNH e as produes do sculo XXI .............................. 20
2.1.5. A situao de Mato Grosso............................................................................ 23
2.2. NECESSIDADES E POSSIBILIDADES HABITACIONAIS INERENTES AO HOMEM EM
SOCIEDADE/CIDADE......................................................................................................... 26
2.2.1. O direito cidade e o direito moradia........................................................ 26
2.2.2. A influncia da localizao na Habitao de Interesse Social ....................... 28
2.3. PRINCPIOS TECNOLGICOS ................................................................................. 30
2.3.1. Conforto trmico e a habitao .................................................................... 30
2.3.2. Antropometria e ergonomia.......................................................................... 34
3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ................................................... 46
3.1. METODOLOGIA DE PESQUISA AO TEMA .............................................................. 47
3.1.1. Entrevista com o Prof. Cludio Miranda ....................................................... 47
3.1.2. Entrevista com o Arquiteto Luiz Alberto Amarante Simes.......................... 48
3.1.3. Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) ............... 48
3.1.4. Projeto referncia .......................................................................................... 54
4. PROJETO .............................................................................................. 564.1. O TERRENO ........................................................................................................... 57
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4.1.1. Localizao e escolha do terreno .................................................................. 57
4.1.2. Parmetros urbansticos ................................................................................ 62
4.2. PROGRAMA DE NECESSIDADES E PR-DIMENSIONAMENTO ............................... 65
4.3. CONDICIONANTES NATURAIS ............................................................................... 66
4.3.1. Topografia ...................................................................................................... 67
4.3.2. Norte e ventos predominantes ..................................................................... 67
4.4. PARTIDO ARQUITETNICO ................................................................................... 68
5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................ 73
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Entrada do complexo de cortios em SP: Navio Parado, Pombal, Vaticano e
Geladeira. ........................................................................................................................... 7
Figura 2: Cortios Vaticano e Geladeira.......................................................................... 7
Figura 3: Espaos coletivos (cortio) ..................................................................................... 7
Figura 4: Espaos coletivos (cortio) ..................................................................................... 7
Figura 5: Planta tipo da Comisso de Exame e Inspeo dos Cortios. ................................ 9
Figura 6: Primeira proposta de casas isoladas. ..................................................................... 9
Figura 7: Planta-baixa vila operria. .................................................................................... 10
Figura 8: Fachada vila operria. ........................................................................................... 11
Figura 9: Via de penetrao, comum da Produo Rentista. .............................................. 11
Figura 10: Via de penetrao, comum da Produo Rentista. ............................................ 11
Figura 11: Unidades Habitacionais Av. Salvador de S........................................................ 12
Figura 12: Avenida Salvador de S. ..................................................................................... 12
Figura 13: Unidades Habitacionais Av. Salvador de S........................................................ 12
Figura 14: Entrada geminada, unidades habitacionais Salvador de S. .............................. 12
Figura 15: Estao de trem Marechal Hermes. ................................................................... 13
Figura 16: Avenidas largas e arborizadas. ........................................................................... 13
Figura 17: Praa central. ...................................................................................................... 13Figura 18: Praa central e escola ao fundo. ........................................................................ 13
Figura 19: Residncia com elementos originais. ................................................................. 14
Figura 20: Casa da vila operria degradada. ....................................................................... 14
Figura 21: Vista geral do bairro Marechal Hermes. ............................................................ 14
Figura 22: Conjunto Residencial Vila Guiomar, SP. ............................................................. 16
Figura 23: Conjunto Residencial do Realengo, RJ. ............................................................... 16
Figura 24: Conjunto Residencial do Realengo, RJ. ............................................................... 17
Figura 25: Conjunto Residencial da Baixada do Carmo, SP. ................................................ 17
Figura 26: Residncia original do Conjunto Habitacional Octacilio Camara, RJ. ................. 19Figura 27: Residncias modificadas do Conjunto Habitacional Octacilio Camara, RJ. ........ 19
Figura 28: Conjunto Habitacional Octacilio Camara, RJ. ..................................................... 19
Figura 29: Conjunto Habitacional Octacilio Camara, RJ. ..................................................... 19
Figura 30: Cidade Tiradentes, So Paulo-SP. ....................................................................... 21
Figura 31: Conjunto Habitacional Jardim Vitria, Belo Horizonte. ..................................... 22
Figura 32: Residencial Brises da Chapada, Itaberada, Bahia. .............................................. 22
Figura 33: Residencial Brises da Chapada, Itaberada, Bahia. .............................................. 22
Figura 34: Residencial Alice Novack, Cuiab-MT. ................................................................ 25
Figura 35: Resid. Sen. Jonas Pinheiro, Cuiab-MT. .............................................................. 25Figura 36: Resid. Santa Marta, Guarant do Norte-MT. ..................................................... 25
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Figura 37: Mapa de porcentual de domiclios adequados por municpio. .......................... 28
Figura 38: Zoneamento bioclimtico brasileiro. .................................................................. 31
Figura 39: Zona bioclimtica 7. ............................................................................................ 31
Figura 40: Sofs/Usurios do sexo masculino e feminino, respectivamente. .................... 35Figura 41: rea de Estar em canto, com e sem circulao. ................................................. 36
Figura 43: Dimensionamento rea de Estar. ....................................................................... 37
Figura 44: Dimensionamento rea de Refeio. ................................................................. 37
Figura 45: Dimensionamento rea de Refeio. ................................................................. 38
Figura 46: Dimensionamento rea de Refeio. ................................................................. 38
Figura 47: Dimensionamento rea de Refeio. ................................................................. 39
Figura 48: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 39
Figura 49: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 40
Figura 50: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 41Figura 51: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 41
Figura 52: Dimensionamento Cozinha. ............................................................................... 42
Figura 53: Dimensionamento Dormitrio. .......................................................................... 43
Figura 54: Dimensionamento Dormitrio. .......................................................................... 43
Figura 55: Dimensionamento Dormitrio. .......................................................................... 44
Figura 56: Dimensionamento Banheiro. .............................................................................. 44
Figura 57: Dimensionamento Banheiro. .............................................................................. 45
Figura 58: Dimensionamento Banheiro. .............................................................................. 45
Figura 59: Implantao (Pedregulho). ................................................................................. 49Figura 60: Planta dos pavimentos (Pedregulho). ................................................................ 50
Figura 61: Planta pavimento intermedirio (Pedregulho). ................................................. 51
Figura 62: Planta dos apartamentos (Pedregulho). ............................................................ 51
Figura 63: Corte Bloco A (Pedregulho). ............................................................................... 52
Figura 64: Vista area (Pedregulho). ................................................................................... 52
Figura 65: Elemento vazado (escola Pedregulho). .............................................................. 53
Figura 66: Sala de aula (escola Pedregulho). ....................................................................... 53
Figura 67: Praa e Playground (Pedregulho). ...................................................................... 53
Figura 68: Bloco B (Pedregulho). ......................................................................................... 53
Figura 69: Trreo Bloco A (Pedregulho). ............................................................................. 53
Figura 70: Fachada Bloco A em reforma (Pedregulho). ...................................................... 53
Figura 71: Implantao Quinta Monroy antes. ................................................................... 54
Figura 72: Implantao Quinta Monroy depois. ................................................................. 54
Figura 73: Projeto original Quinta Monroy. ........................................................................ 55
Figura 74: Projeto com ampliaes Quinta Monroy. .......................................................... 55
Figura 75: Espao coletivo. .................................................................................................. 55
Figura 76: Espao coletivo ps ocupao. ........................................................................... 55
Figura 77: Localizao do terreno na macrozona urbana de Cuiab. ................................. 57
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Figura 78: Terreno selecionado. .......................................................................................... 58
Figura 79: Densidade Demogrfica por bairro de Cuiab (2010). ....................................... 59
Figura 80: Praas do Bairro Centro-Norte (2010). ............................................................... 60
Figura 81: Caracterizao do entorno do terreno escolhido. ............................................. 61Figura 82: Divisa com Moretti Coelho (Rua 24 de Outubro). .............................................. 61
Figura 83: Divisa com Clnica Silhueta (Rua 24 de Outubro). .............................................. 61
Figura 84: Divisa com Previdncia Social (Av. Getlio Vargas). .......................................... 62
Figura 85: Divisa com escritrio de advocacia (Av. Getlio Vargas). .................................. 62
Figura 86: Rua 24 de Outubro. ............................................................................................ 62
Figura 87: Av. Getlio Vargas. ............................................................................................. 62
Figura 88: Terreno inserido na Zona de rea Central. ........................................................ 63
Figura 89: Estudo de Layout baseado em PANERO E ZELNICK (2002). ............................... 66
Figura 90: Topografia do terreno selecionado. ................................................................... 67Figura 91: Norte e ventos predominantes. ......................................................................... 68
Figura 92: Edifcio de partido horizontal. ............................................................................ 69
Figura 93: Forma escalonada e acesso intermedirio. ........................................................ 69
Figura 94: Estudo Volumtrico 1. ........................................................................................ 70
Figura 95: Estudo Volumtrico 2. ........................................................................................ 70
Figura 96: Unidade Habitacional. ........................................................................................ 70
Figura 97: Estudo Volumtrico 3. ........................................................................................ 70
Figura 98: Estudo Volumtrico 4. ........................................................................................ 71
Figura 99: Implantao esquemtica. ................................................................................. 71
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LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Critrio para classificao do domiclio como adequado conforme variveis
do Censo IBGE. ..................................................................................................................... 27
Tabela 02: Aberturas para ventilao e sombreamento das aberturas para Zona 7. ........ 32
Tabela 03: Dimenses das aberturas para ventilao. ........................................................ 32
Tabela 04: Tipos de vedaes externas para Zona 7. .......................................................... 32
Tabela 05: Transmitncia trmica, atraso trmico e fator de calor solar admissveis para
cada tipo de vedao externa. ............................................................................................ 32
Tabela 06: Estratgias de condicionamento trmico passivo. ............................................ 33
Tabela 07: Classe de renda do bairro Centro-Norte. .......................................................... 58
Tabela 08: Populao, domiclio e densidade populacional do bairro Centro-Norte. ........ 58
Tabela 09: Espaos de turismo, lazer e cultura no bairro Centro-Norte. ............................ 60
Tabela 10: ndices Urbansticos da macrozona de Cuiab. ................................................. 64
Tabela 11: Programa de necessidades da Habitao. ......................................................... 65
Tabela 12: Pr dimensionamento da Habitao. ................................................................ 66
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SIMES, R.D.F. HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM REA CENTRAL. Cuiab, MT, 2013.
89 p. Monografia (Trabalho Final Graduao) Departamento de Arquitetura e
Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Engenharias e Tecnologia, Univerdade Federal de
Mato Grosso.
RESUMO
O presente trabalho apresenta o projeto arquitetnico de uma Habitao de Interesse
Social (HIS), inserido na regio central da cidade de Cuiab. Inclui o estudo da evoluo da
HIS no Brasil e suas tipologias, baseado em teorias, pesquisas de campo, entrevistas e
registros fotogrficos, para a definio de um projeto adequado a atender as
necessidades de uma parcela da populao. O projeto contm espaos privados, como as
unidades residenciais e sua respectiva rea para expanso, alm de espaos pblicos,
sendo eles: praa multiuso, pista de caminhada/ciclistas. Sua concepo arquitetnica se
baseou na flexibilidade dos espaos e conforto ambiental do usurio, resultando em uma
forma com jogo de volumes, cheios e vazios, formados por elementos geomtricos.
Palavras-chave: Habitao de Interesse Social, rea central, Direito cidade.
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1. INTRODUO
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1.1. HABITAO DE INTERESSE SOCIAL EM REA CENTRALO crescimento rpido e desordenado das cidades, nas primeiras dcadas do sculo
XX, provocou a preocupao com a qualidade da vida urbana e o desenvolvimento doespao urbano. A problemtica estava voltada para a reorganizao das cidades,
buscando o crescimento e desenvolvimento ordenado das mesmas, no se preocupando
com os cidados que a compem, pouco se atentava a respeito da vida saudvel e de
uma cidade direcionada para pessoas. De acordo com VITTE e KEINERT (2009) o modelo
de desenvolvimento adotado gerou tambm ampliao da desigualdade na distribuio
de bens e servios e nas condies de vida da populao, alm de profunda degradao
ambiental.
Apesar de a sociedade comear a se atentar para estas problemticas, pouco se
fez naquele momento para reverter o quadro. A partir da segunda metade do sculo XX,
as cidades comearam a expandir para periferia, sobretudo por interesses do mercado
imobilirio, industrial e tambm da elite social, que buscava fora o espao que no
produziam na cidade. Dessa forma deixando grandes vazios urbanos e espaos ociosos
dentro das cidades brasileiras, especialmente nas reas centrais, locais onde se oferece
melhor infraestrutura urbana e oportunidades de trabalho.
De acordo com o editorial da revista Summa +120, de maro/2012, foi nesse
perodo, do sculo XX, que comearam a surgir os subrbios de baixas densidades,
primeiramente ocupados pelas classes mais abastadas, que possuam recursos
econmicos para sustentar os custos com deslocamentos e implantao de
infraestrutura. Posteriormente, o governo tambm se utilizou da estratgia de expanso
perifrica, muitas vezes ocupando at mesmo terrenos fora do permetro urbano,
motivado pelos valores mais baixos dos terrenos, sem levar em conta os custos
secundrios desta expanso. Esta foi alternativa encontrada para oferecer moradia aos
mais pobres em terrenos amplos e baratos de se adquirir, contudo sem a equivalente
soluo de problemas de deslocamento e infraestrutura, que permaneceram precrios,
pois encareceriam a implantao destas moradias no local. Demonstrando assim o claro
interesse em apenas suprir os nmeros de ilegalidades, deixando em segundo lugar a
qualidade destes espaos e a insero deles tanto na malha urbana.
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Muitos custos de uma cidade so diretamente proporcionais rea de
abrangncia e populao atendida. Significando que geralmente as reas amplas e com
baixas densidades, embora apresentem valores pontuais menores, o atendimento a uma
parcela reduzida da populao torna este investimento muito caro. Quando se expande a
mancha urbana, torna-se necessrio a implantao de nova infraestrutura, em
detrimento da j existente, exigindo pesados investimentos em transporte pblico,
segurana e vigilncia. Por conseguinte, em reas com maior densidade, estes usos e
custos so partilhados por uma populao maior, tornando uma soluo mais adequada
economicamente.
Em caso de remoes de moradias, outras negatividades ocorrem. Ao transferir osmoradores do local de origem para regies perifricas, onde a mobilidade urbana
precria, h segregao desta parcela da populao, que se torna desprovida do direito
cidade e ao convvio com os demais cidados, desconectando-os do tecido social.
Portanto nota-se que a necessidade no ter somente um teto onde se abrigar, mas que
seja envolto das demais necessidades humanas de sobrevivncia em uma sociedade:
Hoje preciso pensar alm. No basta ter a casa em si, preciso pensar na sade, na
educao, no lazer, transporte pblico e segurana, todos estes fatores prximos ao
cidado. S assim possvel classificar o local como moradia digna. (VINAGRE apud
GHISI, 2012, p. 1B).
Segundo dados que compe o Plano Estadual de Habitao de Interesse Social, enquanto
em 2007, 6.539 domiclios possuam problemas com a regularizao fundiria, em 2010 o
nmero saltou para 136.772 residncias irregulares. [...] Entre os municpios que mais
apresentam problemas esto Cuiab, Rondonpolis, Confresa e Ribeiro Cascalheira.
(GHISI, 2012, p. 1B).
Este trecho de reportagem demonstra que inmeras pessoas nas cidades de Mato
Grosso esto vivendo em habitaes irregulares, necessitando assim a regularizao da
moradia destes cidados. A irregularidade est fortemente associada necessidade de se
permanecer conectado cidade, logo, em localizao central. Trazer as moradias para
reas centrais uma soluo adequada, sendo estas regies de proximidade aos postos
de trabalho, detendo mobilidade urbana mais eficiente e incluso social. Introduzindo a
habitao de interesse social em regio central, a cidade detm ganhos, aumentando a
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densidade, utilizando a infraestrutura j existente, alm de combater a expanso das
periferias e prevenir e/ou solucionar a ocupao em reas imprprias, como as APPs.
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2. FUNDAMENTAO TERICA
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2.1. HISTRIA DA HABITAO DE INTERESSE SOCIAL E SUASINFLUNCIAS NO PANORAMA ATUAL DO BRASIL
As produes das moradias sociais nas cidades brasileiras no tempo presente a
resultante de um somatrio de acontecimentos ocorridos durante dcadas. LORENZETTI
(2001) defende que a carncia de moradia adequada, entendida no apenas como um
mero abrigo, mas tambm como um conjunto de elementos ligados ao saneamento
bsico, servios urbanos, educao e sade, constitui um dos mais graves problemas com
que se defrontam as sociedades atuais. Embora no seja um problema restrito
realidade brasileira, ele apresenta-se de forma particularmente grave entre ns, vista
do carter intenso, concentrador e excludente que marcou o nosso processo de
urbanizao.
2.1.1. O Autoritarismo Sanitrio, a Produo Rentista e o Pioneirismo do RJNa segunda metade do sculo XIX surgiram as primeiras preocupaes de que se
tem registro quanto s habitaes populares. Neste perodo, as cidades enfrentavam uma
onda de epidemias que foram associadas, pelos profissionais da sade, situao
habitacional das classes baixas. Esta parcela da populao se aglomerava em edificaes
sem nenhum cuidado sanitrio, como cortios, estalagens, casas de cmodos, e outras
instalaes semelhantes.
Esses tipos de alojamentos geralmente possuam caractersticas em comum: o
banheiro, a cozinha e a lavanderia eram coletivos, no suportando a quantidade total de
pessoas que viviam ali, acomodavam mais pessoas do que o recomendvel por cmodo,
alm da rede de esgoto e drenagem ser insuficiente para suportar aquele contingente
extrapolado de pessoas. Este padro de habitao preocupava principalmente os
profissionais da sade por serem locais de grande proliferao de doenas, colaborando
com a expanso das epidemias e afetando negativamente o restante da populao.
Isso demonstra que a cidade s passou a se importar com a qualidade da
habitao dos pobres quando ela comeou a afetar a cidade como um todo.
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Figura 1: Entrada do complexo de cortios em SP: Navio Parado, Pombal, Vaticano e Geladeira.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 2: Cortios Vaticano e Geladeira.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 3: Espaos coletivos (cortio)
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 4: Espaos coletivos (cortio)
Fonte: Bonduki, 2004.
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Os higienistas lanam o alerta para o poder pblico: necessrio intervir, criar
uma legislao restritiva, romper com as posturas liberais e com a privacidade do
domiclio. Deve-se providenciar radicalmente.(BONDUKI, 2004, p.26).Estas palavras de
Nabil resumem o que foi o Autoritarismo Sanitrio, o endurecimento da legislao,
provocando reformas no modelo do habitar, mas tambm intervenes feitas pelos
sanitaristas em cortios, desinfetando-os e at demolindo-os sem qualquer preocupao
com as pessoas que residiam ali e com o destino delas. Mostra-se, desde os primrdios da
habitao popular, a falta de interesse quanto parcela menos abastada da populao,
busca-se resolver problemas, ignorando seus cidados, causando assim novas
adversidades a serem resolvidas, como a falta de moradia, atravs da desapropriao das
habitaes. De certa forma e com uma abordagem diferente esse descaso com a baixa
renda social, permanece presente at os dias atuais.
O saneamento tinha como objetivo, alm das medidas propriamente higienistas,
afastar das reas centrais os pobres, mendigos e negros, juntamente com os seus estilos
de vida(MARICATO apud LACERDA, 2010, p.10). Alm da questo sanitria, era evidente
a inteno das classes mais altas em eliminar os cortios das reas centrais, encontrando
nesta oportunidade transferir os trabalhadores operrios para a periferia, que fazia parte
do embelezamento e da produo de uma imagem de cidade moderna. A partir destes
atos inicia-se o processo de segregao social no espao propriamente dito. At os dias
atuais isto ocorre principalmente porque terrenos centrais so mais visados pela
especulao mobiliria e tambm pela elite buscar a autossegregao, sem partilhar
espaos com outras classes de renda. A classe alta se nega a relacionar-se com os menos
abastados, buscando sua prestao de servios, mas no a convivncia social, nega-se o
espao urbano para a renda baixa, no os permitindo usufruir das vantagens
proporcionadas pela rea central.
A manifestao, no sculo XXI, deste fenmeno se d atravs dos extensos
condomnios fechados de alta renda e paralelamente reproduo em massa de
casinhas geralmente localizadas em terrenos distantes dos grandes centros e sem
infraestrutura necessria.
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Neste perodo sanitarista o governo no interviu na produo de moradias para a
classe baixa de forma efetiva, porm atravs da Comisso de Exame e Inspeo dos
Cortios, em 1893, elaborou uma planta tipo do que seria ideal para as condies
sanitrias mnimas de uma habitao. Como as caractersticas propostas pela Comisso
aumentariam os custos de uma construo, buscou racionalizar os espaos para reduzir
seus valores, visto que essas moradias eram produzidas pelo setor privado que ansiava
somente o lucro. Esta tipologia de pequenas casas, geminadas ou no, foi seguida para a
edificao das vilas operrias, que eram executadas geralmente distantes das reas
centrais para que pudessem estar prximas das reas industriais.
Figura 5: Planta tipo da Comisso de Exame e Inspeo dos Cortios.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 6: Primeira proposta de casas isoladas.
Fonte: Bonduki, 2004.
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Paralelamente ao Autoritarismo Sanitrio ocorreu a Produo Rentista, que
recebeu este nome por ser voltada gerao de uma renda permanente advinda dos
aluguis. A maioria dessas produes, no se preocupou com o conforto e com a
qualidade de vida de seus moradores, onde mesmo depois da atuao dos higienistas e
da criao do Cdigo Sanitrio de 1894, continuavam a produzir edificaes insalubres
como os cortios por causa do seu baixo valor construtivo, aumentando assim o lucro nos
aluguis. Abaixo de certo nvel de qualidade, o empreendimento deixava de seguir os
padres municipais e tornava-se clandestino, deixando de ser vila, merecedora de
incentivos e elogios, e passando a ser cortio, condenado e estigmatizado. (BONDUKI,
2004, p. 54). A existncia de uma legislao rgida, buscando melhorar as condies das
habitaes, na prtica funcionou como o estabelecimento de uma linha divisria, a
habitao formal tornou-se mais cara, com isso todos os que no podiam pagar por ela ou
buscavam maior lucratividade, se situavam na clandestinidade, com valores menores e
baixa qualidade.
Figura 7: Planta-baixa vila operria.
Fonte: Bonduki, 2004.
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Figura 8: Fachada vila operria.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 9: Via de penetrao, comum da Produo
Rentista.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 10: Via de penetrao, comum da
Produo Rentista.
Fonte: Autor.
O Autoritarismo Sanitrio deixou como herana a melhoria da qualidade
habitacional do perodo, porm a demolio de inmeros cortios aumentou a presso
por habitaes, impulsionando o aumento da informalidade. J a Produo Rentista
fomentou a produo habitacional sem certa preocupao qualitativa, no entanto esta
modalidade explorava melhor os vazios urbanos, as pequenas implantaes integradas
cidade, sem gerar grandes ncleos segregados.
Em contrapartida, teve incio a produo social de habitaes no Estado do Rio de
Janeiro, na primeira dcada do sculo XX, privilegiando seus moradores e os elementos
arquitetnicos da moradia, como o caso dos Conjuntos Estcio de S e Marechal Hermes.
Estes so exemplos de habitaes que se inseriram a cidade de forma adequada, que em
alguns aspectos positivos poderiam servir de exemplo para So Paulo e o restante das
produes posteriores no Pas.
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A primeira experincia de habitao de interesse social promovida pelo setor
pblico no pas encontra-se na cidade do Rio de Janeiro, na Avenida Salvador de S,
possuindo 105 unidades habitacionais. Desvinculada de qualquer poltica habitacional, foi
uma iniciativa isolada para abrigar os despejos providos pelas obras de abertura da
Avenida Central. Esta foi uma ao pontual e um exemplo das possibilidades de produo
social de habitao integrada cidade, reaproveitando suas caractersticas espaciais e
urbansticas, pois se mescla ao seu entorno, dando continuidade ao tecido urbano e
social, em meio a uma avenida.
Figura 11: Unidades Habitacionais Av. Salvador
de S.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 12: Avenida Salvador de S.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 13: Unidades Habitacionais Av. Salvador
de S.
Fonte: Acervo prprio.
Figura 14: Entrada geminada, unidades
habitacionais Salvador de S.
Fonte: Acervo prprio.
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J o Conjunto Habitacional habitao Marechal Hermes, que deu origem, mais
tarde ao Bairro de mesmo nome. Embora projetado em um local distante do centro,
possua uma linha de trem que o conectava ao restante da cidade e teve um projeto
arquitetnico e urbanstico bem solucionado, prevendo infraestrutura urbana razovel,
contendo vias largas, praas, arborizao e equipamentos urbanos. Alm disso, o
conjunto foi elaborado de forma semelhante ao tecido da cidade, se integrando a ela de
forma natural, o que acabou resultando no bairro Marechal Hermes, que atualmente
possui habitaes de variadas dcadas do sculo XX.
Figura 15: Estao de trem Marechal Hermes.
Fonte: Acervo prprio.
Figura 16: Avenidas largas e arborizadas.
Fonte: Acervo prprio.
Figura 17: Praa central.
Fonte: Acervo prprio.
Figura 18: Praa central e escola ao fundo.
Fonte: Acervo prprio.
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Figura 19: Residncia com elementos originais.
Fonte: O Globo Rio, 2011.
Figura 20: Casa da vila operria degradada.
Fonte: O Globo Rio, 2011.
Figura 21: Vista geral do bairro Marechal Hermes.
Fonte: O Globo Rio, 2011.
2.1.2. Populismo: Getlio Vargas e seu sucessor Eurico Gaspar DutraGetlio Vargas assumiu o governo do Brasil na dcada de 1930, sua atuao foi
reconhecida como populista, o que lhe garantiu a alcunha de pai dos trabalhadores,
pois voltou sua poltica governamental para o agrado dos operrios do pas. Seu sucessor,
Gaspar Dutra, ainda continuou algumas de suas aes, principalmente no setor de
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produo habitacional, visando evitar a ascenso do socialismo e a opinio contraria a
ditadura.
Antes mesmo destas duas atuaes o Brasil j passava por um perodo crtico
quanto questo habitacional, devido grande demanda de pessoas que chegavam para
trabalhar nas indstrias do pas, superlotando os cortios, aumentando o crescimento das
favelas e o dficit habitacional. Estas problemticas anteriores Era Vargas acompanham
o pas at o sculo XXI: Todas as polticas habitacionais a partir da mantm o padro:
comeam correndo atrs de um prejuzo j configurado. Enquanto o pas no entender a
origem de seu passivo habitacional e, sobretudo, sua evoluo histrica, no resolver o
dficit de moradias.(ADAUTO CARDOSO apud GALDO e DAFLON, 2011, p.9).
O governo de Vargas, no intuito de auxiliar as classes baixas para no se
submeterem a valores excessivos que os aluguis atingiam, promulgou a Lei do
Inquilinato em 1942, que consistia no congelamento do valor dos aluguis por tempo
indeterminado, inibindo assim o lucro crescente do ramo de imveis. Teve tambm como
efeito colateral desta Lei o desestmulo dos investidores a produzirem novas moradias
para os menos abastados. Dessa forma, a situao se agravou, o nmero de
trabalhadores nos grandes centros aumentava juntamente com a maior quantidade de
despejos. Como consequncia, iniciou-se a expanso perifrica das cidades.
O crescimento demogrfico e a crise da produo rentista empurraram a populao de
mais baixa renda para a autoconstruo em lotes perifricos, na sua maioria desprovidos
de infraestrutura, mas comprados a prazo e acessveis atravs dos nibus. Ainda que no
totalmente materializado, o modelo do desenvolvimento urbano extensivo teve suas
bases e hegemonia consolidadas durante os anos 1930s e 40s. Esse padro se tornou
uma das principais caractersticas assumidas pela cidade nas dcadas que se seguiram.
(SILVA, 2007)
Com a crise ocorrente, demonstrava-se que a produo do setor privado sozinha
no seria capaz de prov-la adequadamente, principalmente por se sustentar como
negcio lucrativo, mas no como poltica habitacional. Vargas e seu governo perceberam
que o Estado tinha a obrigao de intervir atravs da construo de conjuntos
habitacionais, executados pelos IAPs (Institutos de Aposentadoria e Penses) e pela FCP
(Fundao da Casa Popular).
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Alm disso, o crescimento das favelas e o dficit habitacional ocorrente indicavam
tambm a necessidade de uma produo rpida e em massa. Dessa forma, a produo de
habitaes no perodo se faz em larga escala, associada localizao perifrica dos
terrenos, pelos seus baixos custos em relao s reas centrais e por serem amplos,
permitindo a construo em massa, alm de tambm atender aos propsitos da classe
alta, mantendo a separao das classes sociais no espao urbano.
Essas atitudes imediatistas, longo prazo se mostram equivocadas, pois povoar a
periferia implica na necessidade de infraestrutura, transporte, urbanizao, encarecendo
os custos globais da cidade. Quando se trata de cidades que ainda possuem vazios
urbanos, esta no a alternativa mais inteligente e vivel do ponto de vista econmico.Antagonicamente, a maioria da produo habitacional ainda realizada na periferia,
justamente pelos mesmos motivos apresentados anteriormente: aes governamentais
simplistas e imediatistas.
O ideal moderno de habitar, que influenciou grande parte da produo do
perodo, alm de buscar a setorizao, impulsionando a utilizao das reas perifricas
para habitao social, tambm deixou como herana a utilizao de blocos idnticos,
refletindo a racionalizao dos espaos, e desconexos da cidade. No entanto, os
conjuntos habitacionais produzidos pelos IAPs tiveram seus pontos positivos, atentando-
se para aspectos projetuais ainda no explorados, como a preocupao quanto
iluminao e ventilao adequadas ao conforto, espaos comuns que incentivam o
convvio social, alm de grande parte dessas moradias ser provida de comrcio, lazer e
educao.
Figura 22: Conjunto Residencial Vila Guiomar, SP.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 23: Conjunto Residencial do Realengo, RJ.
Fonte: Bonduki, 2004.
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Figura 24: Conjunto Residencial do Realengo, RJ.
Fonte: Bonduki, 2004.
Figura 25: Conjunto Residencial da Baixada do
Carmo, SP.
Fonte: Bonduki, 2004.
Ainda que houvesse muitas falhas na produo desta fase, apresentaram evoluo
significativa quanto qualidade habitacional em relao aos perodos anteriores.
Entretanto, nas dcadas posteriores, como ser relatado, nota-se uma estagnao,
interrompendo a explorao e evoluo das qualidades arquitetnicas.
2.1.3. A produo do Banco Nacional de Habitao (BNH)O BNH foi criado juntamente com SFH (Sistema Financeiro de Habitao), no ano
de 1964, aps o Golpe Militar ao poder do pas, e extinto em 1986, pelo ento Presidente
da Repblica, Jos Sarney. O intuito pelo qual foram criados estes rgos era o
atendimento ao cidado, facilitando o acesso casa prpria para classes menos
abastadas, estimulando a construo e o financiamento das habitaes de interesse
social, promovendo assim o aquecimento da economia do pas.
Durante este perodo de atuao, como informa o Jornal O Globo Rio, foram
construdas mais de 75 mil unidades habitacionais, uma produo grandiosa comparando-
se com o que havia sido feito at esta fase. Isto s foi possvel atravs da massificao eabrangncia da produo perifrica, que havia se iniciado na Era Vargas. Alm disso,
apesar da quantidade elevada, a produo no foi suficiente para que diminusse de
forma significativa o dficit habitacional, por se elaborar como correo e no como
poltica de construo de um espao urbano. Nota-se ainda que quantidade e qualidade
foram atributos inversamente proporcionais na produo do perodo, medida que
procuravam multiplicar o nmero de unidades, diminuam os custos de cada uma, e com
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eles a qualidade arquitetnica. Tudo isso ainda sob as mesmas caractersticas do ideal
moderno de habitar, iniciado no perodo anterior.
A preocupao do governo em demonstrar nmeros, sem se atentar aos aspectos
arquitetnicos, com o foco em seus moradores, resultou em uma produo de projetos
com baixssima qualidade. As produes tornaram-se impessoais, cria-se um padro, que
ignora o bem estar humano e suas necessidades de moradia em prol de uma economia
do Estado e da produo em massa.
Dimenses insuficientes, ps-direitos pequenos, reproduo de casinhas
idnticas, blocos de prdios extensos, desprovidos de flexibilidade e ampliaes,
demonstram, entre outros fatores, essa despretenso. Elementos bsicos da boa
arquitetura foram desprezados, como adequao topografia, iluminao natural,
ventilao e qualidade espacial, percebe-se a falta de qualidade arquitetnica ao analisar
os aspectos funcionais e tcnicos. Para que um edifcio possua uma boa arquitetura,
outros fatores tambm devem ser considerados, como o estudo da forma e a
plasticidade. A esttica de um edifcio to importante quanto a funo do mesmo,
porm na produo de habitao de interesse social, raramente se v a explorao deste
campo.
Na Fazenda Botafogo, apartamentos semelhantes a caixotes. Na Vila do Joo, uma quadra
inteira com apenas um alicerce para todas as casas. Em Antares, duplex de 26 metros
quadrados. E no Cesaro, tetos de amianto, que transformavam os cmodos num forno
no vero. [...] Pretendia-se com o BNH, desenvolver a construo civil, gerando novos
empregos. O contedo da moradia, contudo, se perdeu. Tratou-se a casa apenas como
dormitrio. (GALDO e DAFLON, 2011).
De acordo com BOTEGA (2008), o SFH/BNH era, na verdade, um eficaz agente de
dinamizao da economia nacional desempenhando um importante papel junto ao
capital imobilirio nacional. Fugia assim do seu objetivo principal, pelo menos no
discurso, de ser o indutor das polticas habitacionais para superao do dficit de
moradia. Explica-se dessa forma o porqu da baixa qualidade da produo habitacional
da poca, demonstrando que de fato o foco no foi habitao de interesse social ou o
atendimento populao de baixa renda.
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Os projetos voltados para a boa convivncia da sociedade, privilegiando o espao,
abrigo e necessidades humanas so raros. A fase do BNH deixou legados ruins para as
geraes subsequentes, herdaram-se aspectos como a ampliao da mancha urbana,
necessidade de investimentos em infraestrutura, sujeio de uma parte da populao
vrias horas dirias gastas com deslocamento, aumento da segregao espacial, alm da
estruturao do pensamento de que habitao popular se faz em empreendimentos
macios e perifricos, com pouca adequao ao local da obra, e ausncia de
equipamentos urbanos coletivos, do direito cidade e m qualidade da moradia.
Figura 26: Residncia original do Conjunto
Habitacional Octacilio Camara, RJ.
Fonte: O Globo Rio, 2011.
Figura 27: Residncias modificadas do Conjunto
Habitacional Octacilio Camara, RJ.
Fonte: O Globo Rio, 2011.
Figura 28: Conjunto Habitacional Octacilio
Camara, RJ.
Fonte: O Globo Rio, 2011.
Figura 29: Conjunto Habitacional Octacilio
Camara, RJ.
Fonte: O Globo Rio, 2011.
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2.1.4. A consequncia: ps BNH e as produes do sculo XXIDe acordo com BOTEGA (2008), essa etapa ps BNH foi caracterizada por uma
forte confuso institucional provocada por constantes reformulaes nos rgos
responsveis pelas polticas habitacionais. Aps a extino do Banco Nacional de
Habitao, com ela o enfraquecimento do SFH e das Companhias Estaduais de Habitao
(COHABs), seguiu-se uma ausncia de polticas habitacionais efetivas no pas, ou mesmo
de rgos governamentais responsveis diretamente por esta questo, direcionando-as.
Nota-se no perodo de 1986 a 2002 a falta de iniciativa direta do governo federal,
cabendo ao setor privado grande parte das produes habitacionais, o que agravou a
situao para as famlias de baixa renda.
A presso populacional nos centros urbanos, a crise econmica, o desemprego e o alto
custo do solo urbano, associados ausncia de poltica habitacional foraram as famlias
de menor renda a buscar por conta prpria alternativas precrias de moradia. Este
processo acelerou a favelizao, a ocupao irregular da periferia e de reas de risco,
configurando, desta forma, os atuais problemas urbanos brasileiros. (DEMANDA
HABITACIONAL NO BRASIL, 2012)
Com a criao do Ministrio das Cidades e a aprovao da Poltica Nacional de
Habitao (PNH), em 2003 e 2004, respectivamente, o setor pblico passou a conduzir as
produes de habitao. Porm, os problemas haviam se agravado, ampliando a
demanda de unidades habitacionais, notando-se semelhanas com o perodo BNH, como
a produo em massa, em terrenos extensos e longe das reas centrais.
Esto cometendo os mesmo erros da poca do BNH. uma velocidade construtiva nunca
vista. Mas, quase sempre, com m qualidade, em terrenos baratos para aumentar o lucro
das construtoras, apartamentos de at 42 metros quadrados e distantes dos centros de
trabalho e sem transporte. (LAGO apud GALDO e DAFLON, 2011)
Percebe-se, na atual produo habitacional, a herana de erros consecutivos a
respeito do que deve ser moradia, para quem, qual seu papel e insero na cidade e
sociedade. Desde os primeiros relatos a respeito da habitao, nos ltimos anos do sculo
XIX e primeiras dcadas do sculo XX, muitas famlias vivem em moradias inadequadas,
tanto pelo local em que se insere, por sua estrutura ou pela quantidade de famlias em
uma mesma unidade, configurando o dficit habitacional. A populao que mais sofre
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com esta problemtica a pertencente s classes baixas, por no possurem renda
necessria para lhe garantir a moradia adequada.
Segundo o PlanHab - Plano Nacional de Habitao, o dficit habitacional no pas
corresponde a 5,8 milhes de domiclios em 2008. De acordo com o mesmo Plano,
pretende-se erradicar este dficit at o ano de 2023, porm, para que isto de fato ocorra
acompanhado de uma produo com qualidade arquitetnica e urbanstica, os interesses
polticos, comerciais e financeiros no devem mais continuar frente disto. Pois se
constata que muitas vezes as metas impostas so alcanadas, mas, atravs da construo
precria, contendo problemas como a falta de diversos aspectos: tcnicos, funcionais e
plsticos.
A produo do sculo XXI, tendo como principal programa o Minha Casa, Minha
Vida, ainda apresenta alguns pontos negativos cruciais, como uma arquitetura pobre,
desprovida de regionalizao, de insero social e econmica, executada em regies
perifricas, de difcil acesso, desservida de equipamentos, servios e transportes pblicos,
com infraestrutura insuficiente, pouca preocupao ambiental, com um projeto-tipo
repetido exausto e a ausncia de flexibilidade do projeto.
Figura 30: Cidade Tiradentes, So Paulo-SP.
Fonte: Cidade Tiradentes, 2010.
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Figura 31: Conjunto Habitacional Jardim Vitria, Belo Horizonte.
Fonte: Prefeitura Belo Horizonte, 2012.
Figura 32: Residencial Brises da Chapada,
Itaberada, Bahia.
Fonte: Governo da Bahia, 2011.
Figura 33: Residencial Brises da Chapada,
Itaberada, Bahia.
Fonte: Governo da Bahia, 2011.
Nota-se, ainda, semelhana do ocorrido no perodo da ditadura militar, que o
foco no a classe de menor renda, atende-se um segmento intermedirio, atravs de
uma ocupao macia, uniforme, perifrica e desconexa da cidade. Alm da falta de
incentivo do governo, os grupos de baixa renda tambm no conseguem ser atendidos
como os demais por causa das preferncias da construo civil. Essas atitudes impedem o
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avano do pas nesta questo, pois so justamente as classes mais baixas que apresentam
a maior precariedade habitacional.
[...] em So Paulo e nas demais capitais e regies metropolitanas onde realmente est
concentrada a demanda da faixa de renda entre 0 e 3 salrios mnimos, as construtoras
esto encontrando muita dificuldade de produzir para o Minha Casa, Minha Vida em
funo do preo dos terrenos. Todas elas reclamam que o preo do terreno est muito
caro.
Ento para a faixa de 3 a 6 salrios mnimos que o programa est funcionando melhor.
As grandes construtoras esto lanando seus produtos para este segmento especialmente
nas periferias metropolitanas. O problema, portanto, que o programa no est
conseguindo atender com preferncia os que mais precisam, que so os moradores dasgrandes cidades que esto indo hoje adensar favelas e construir nas lajes. (ROLNIK, 2010).
A evoluo positiva quanto questo habitacional s ocorrer quando as prticas
comearam a ocorrer de forma inversa, privilegiando no s suprir os nmeros e reduzir
custos ao mximo, mas focar na moradia em si, para que seja voltada para o cidado.
Para que este quadro reverta, necessrio que o setor da construo civil deixe de ser o
ncleo do processo, pois ele quem dita onde, como e o que construir.
Alm disso, durante a histria do Brasil, pouco se v de planejamento urbano e
poltica habitacional focada no interesse social, tornando distante a melhoria dessa
produo.
A questo no apenas a falta de moradia no Brasil. Mas a falta de espao e de uma
poltica para o desenvolvimento urbano. Isso em meio a um quadro de financeirizao da
construo de imveis nas cidades. Assim, os programas de crdito na rea de moradia
ganham um aspecto de poltica anticclica, mas esto distantes de resolver a questo da
moradia digna no Brasil. (ROLNIK, 2012).
2.1.5. A situao de Mato GrossoA histria da Habitao Social em Mato Grosso, de um modo geral, um reflexo
do que ocorreu no Brasil, porm a exploso do crescimento populacional e
consequentemente sua problemtica, se deu mais tardiamente, a partir da segunda
metade do sculo XX.
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Foi em meados da dcada de 1960 que se principiaram as migraes, estimuladas
pelo fato de Mato Grosso ser utilizada como travessia para Amaznia, gerando o
crescimento populacional da regio.
Em 1966 o governo estadual, pressionado pelas migraes que comearam a acelerar
incontroladamente o crescimento urbano, criou a Companhia de Habitao Popular do
Estado de Mato Grosso (Cohab). Esta construiria o Ncleo Residencial Cidade Verde, hoje
chamado Cohab Velha, nas proximidades do rio Cuiab. Primeiro ncleo de habitao
popular de iniciativa estadual e polo de atrao de crescimento na direo oeste da
cidade, a Cohab Velha estimulou o adensamento dos bairros prximos, como Goiabeiras e
Cidade Alta. (Prefeitura de Cuiab, 2010).
Nas dcadas seguintes, os governos estadual e federal passaram a incentivar ainda
mais a vinda da populao de outros estados para Mato Grosso, atraindo principalmente
os agricultores das regies Sul e Sudeste em busca de terra abundante e barata.
Entretanto o estado no possua a estrutura necessria para receber este grande
contingente de pessoas.
[...] a falta de condies de fixao do pequeno agricultor a terra gerou novos conflitos
internos. As relaes abusivas entre arrendatrios e parceiros com os proprietrios, e a
inexistncia de uma poltica creditcia e de incentivos ao pequeno produtor, acabaram por
gerar, tambm em Mato Grosso, o xodo rural. (METELLO, 2007).
Desta forma, esta populao voltou-se para as zonas urbanas, em busca de
emprego, escolaridade e assistncia sade, contribuindo para o dficit habitacional de
Mato Grosso. Devido ao aumento da demanda por moradias provocada pelo xodo rural,
muitas famlias ficaram desabrigadas na cidade, o que contribuiu para a proliferao dos
grilos, denominao popular utilizada em MT para invaso de terras particulares e
pblicas em desuso. A partir desta questo demonstra-se a necessidade de uma
interveno do governo para a soluo do problema, atravs de uma poltica habitacional
efetiva e atuante no Estado.
No governo de Dante de Oliveira (1999-2002), com o intuito de incentivar a
produo de habitao social, criou-se o Fundo de Transporte e Habitao (FETHAB),
dessa forma contribuintes que promovem a sada de produtos do Estado esto sujeitos a
uma taxa, que posteriormente direcionada aos setores de transporte e habitao. Aindaassim o Estado de Mato Grosso necessitava de uma poltica habitacional efetiva, portanto
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no ano de 2004, governo de Blairo Maggi, foi criado o Programa Meu Lar, sendo ele
divido nos subprogramas: Ncleo Habitacional (NH), Bolsa Material de Construo (BMC),
Morar Melhor, T Feliz e Meu Teto.
Os projetos habitacionais do Estado de Mato Grosso possuem uma precariedade
arquitetnica, tendo como finalidade a rpida diminuio dos nmeros do dficit
habitacional na regio, no se atentando a qualidade das moradias. Em linhas gerais, a
produo habitacional do perodo no Estado se caracteriza por: uma extensa reproduo
de pequenas casas em quaisquer terrenos de grandes dimenses, sem aproveitamento da
vegetao e topografia local, distantes das reas centrais, desprovidos de infraestrutura e
equipamentos urbanos. Percebe-se um projeto universal, que no privilegia ascaractersticas da cidade ou do terreno onde est sendo inserido, com residncias
geralmente desprovidas de conforto ambiental e flexibilidade projetual. A amplitude da
ao parece ter sido consolidada atravs da reduo dos custos e em detrimento da
qualidade de seus projetos.
Figura 34: Residencial Alice Novack, Cuiab-MT.
Fonte: Prefeitura de Cuiab, 2012.
Figura 35: Resid. Sen. Jonas Pinheiro, Cuiab-MT.
Fonte: Prefeitura de Cuiab, 2011.
Figura 36: Resid. Santa Marta, Guarant do Norte-MT.
Fonte: SINFRA, 2012.
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2.2. NECESSIDADES E POSSIBILIDADES HABITACIONAIS INERENTES AOHOMEM EM SOCIEDADE/CIDADE
Segundo LEFEBVRE (2006), o desenvolvimento de uma sociedade somente
concebido na vida urbana pela realizao da prpria sociedade urbana. Estas relaes sociais
s ocorrem atravs da prtica, porm preciso que haja condies favorveis para tal. Para
tanto necessrio entender o que o direito cidade, moradia digna e a importncia do
local de insero das classes baixas.
2.2.1. O direito cidade e o direito moradiaA cidade o resultado de um conjunto de foras, interesses e disputas, dessa forma,
a segregao que se desenvolve em seu territrio a consequncia de um processo
evolutivo, influenciado pelas caractersticas da sociedade e dos controles estatais do meio
no qual a cidade se produz.
O modelo de desenvolvimento urbano que estrutura nossas cidades expulsa a populao de
baixa renda das reas mais centrais, em direo periferia, onde a terra mais barata
exatamente porque no rene os requisitos mnimos para assegurar uma vida digna.
(ASEVEDO, 2009)
Esta segregao que mantm a classe baixa distante no s socialmente, mas
tambm espacialmente, est associada negao do direito cidade, visto que, desta
forma, so erradicados da vida urbana. O direito cidade se define pela vida em sociedade,
pelo o direito sade, educao, cultura, moradia, lazer, transporte, infraestrutura,
mobilidade e oportunidades de trabalho, ou seja, os bens e servios proporcionados pela
cidade.
A classe operria sofre as consequncias da exploso das antigas morfologias. Ela vtima de
uma segregao, estratgia de classe permitida por esta exploso. Tal a forma atual da
situao negativa do proletariado. A antiga misria proletria se atenua e tende a
desaparecer nos grandes pases industriais. Uma nova misria se estende, que toca
principalmente o proletariado sem poupar outras camadas e classes sociais; a misria do
habitat, a misria do habitante [...] Para aqueles que ainda duvidariam de sua existncia como
classe, a segregao e a misria de seu habitar designam na prtica a classe operria.
(LEFEBVRE, 2006)
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O direito moradia significa tambm o direito cidade, sendo adequado que o local
de insero de uma habitao possua as diversas caractersticas que configuram a cidade, j
citadas anteriormente. Alm disso, outros fatores so relevantes, a arquitetura deve ser
adequada ao homem, privilegiando a proteo e o bem-estar do morador. O direito
moradia no se resume apenas a edificao em si, mas ao direito de toda pessoa ter acesso
ao desenvolvimento humano e econmico, oportunidades de uma vida digna.
De acordo com o site Direito moradia, para que se tenha uma moradia adequada,
necessita-se de: segurana de posse, disponibilidade de servios, infraestrutura e
equipamentos pblicos, custo acessvel, habitabilidade, no discriminao e priorizao de
grupos vulnerveis, localizao adequada e adequao cultural.
Baseada no Censo Demogrfico do IBGE (2000), ROLNIK (2012) elaborou uma anlise,
demonstrando que, mesmo se utilizando de critrios mnimos, como os definidos pelo IBGE,
a quantidade de moradias adequadas no Brasil baixa.
Tabela 01: Critrio para classificao do domiclio como adequado conforme variveis do Censo IBGE .
Fonte: Rolnik e Klink, 2011.
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Figura 37: Mapa de porcentual de domiclios adequados por municpio.
Fonte: Rolnik, 2012.
O direito cidade e moradia deve agregar a todos os cidados que compe uma
sociedade, sem excluses por classe, pois a evoluo de uma cidade se d atravs da
integrao social.
2.2.2. A influncia da localizao na Habitao de Interesse SocialA localizao de uma habitao um dos pontos mais importantes a respeito dela,
certas vezes at mais importante do que a prpria edificao. Segundo ROLNIK (2012), essa
relevncia se deve ao fato de que o local de insero da moradia que ir influenciar no
acesso ao direito moradia e cidade, sendo relevante a escolha da rea central para este
tipo de edificao, por possuir recursos diversos sua volta.
Apesar da resistncia do setor imobilirio, da elite, e por vezes, do governo, inserir a
populao de menor renda em rea central contribui e estimula a esta seu direito cidade,
por ser uma regio urbanisticamente j consolidada. As reas centrais das cidades brasileirasgeralmente so os locais que possuem maior infraestrutura, possibilidades de transporte,
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oportunidades de trabalho, escolas pblicas, equipamentos culturais, facilitando o acesso
cidade.
Finalmente, h os pobres - com toda a diversidade j exposta - cuja proximidade desvaloriza
imveis novos ou reformados, coerentemente com os valores de uma sociedade que alm de
patrimonialista (e por isso mesmo) est entre as mais desiguais do mundo. Aceita-se que os
pobres ocupem at reas de proteo ambiental [...] mas no se aceita que ocupem reas
valorizadas pelo mercado, como revela a atual disputa pelo centro. (MARICATO, 2012)
Devido descentralizao nas cidades nas ltimas dcadas estas reas centrais
possuem imveis e terrenos ociosos. A cidade possui custos fixos, como o da infraestrutura
urbana e do transporte coletivo, que depender da sua regio de abrangncia, pois quanto
mais amplo um territrio, maior a rea de implantao destes elementos, por consequncia
custos mais altos. Portanto se uma regio for mais adensada, utilizando melhor seus espaos
urbanos, este valor ser dividido por uma populao maior, otimizando o aproveitamento da
infraestrutura e do transporte.
Em muitos casos, este esvaziamento ocorre inserido em um processo de crescimento urbano
que estende a mancha urbana em direo s periferias - para o assentamento da populao
de baixa renda - e em direo a novas reas de expanso imobiliria para assentar os setores
de atividades relacionadas classe alta. Essa situao resulta na subutilizao dos recursos
disponveis nas reas centrais, como infra-estrutura, sistema de transportes e estoque
imobilirio ; no adensamento populacional de baixa renda em reas no servidas de infra-
estrutura e distantes dos locais de trabalho e na concentrao de atividades econmicas em
reas de especulao imobiliria. Ou seja, uma forma de crescimento urbano que se
caracteriza pela separao das diferentes classes sociais no municpio e pela m utilizao dos
recursos pblicos na medida em que, alm de no utilizar o que j existe, exige a ampliao
de infraestrutura e servios pblicos para reas antes no ocupadas. (DIOGO, 2001)
A insero de edificaes residenciais em rea central garante um equilbrio,
estimulando a diversidade, evitando-se separar a cidade por tipo de usos, aproximando as
moradias das regies de comrcio, trabalho, lazer, garantido a esta populao o direito
moradia adequada. Portanto, com este uso misto, privilegia-se a mobilidade urbana, no
sendo necessrios grandes deslocamentos para se ter acesso cidade, os quais
sobrecarregam, prejudicando o trnsito dos automveis. Tambm na rea central a
mobilidade privilegiada atravs do transporte urbano, onde h maior circulao e alcancedo mesmo.
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2.3. PRINCPIOS TECNOLGICOSPara um projeto ser adequado a regio onde ser locado, preciso ir alm da
discusso entre forma e funo, deve-se levar em conta outros fatores tcnicos essenciaispara as decises de projeto arquitetnico, que influenciam nas aberturas, espaos e
dimenses, mas tambm nos materiais de revestimentos.
2.3.1. Conforto trmico e a habitaoA arquitetura tem como um dos princpios bsicos, a concepo de edifcios adequados ao
clima em que se inserem. Registros de antigos arquitetos, nos primrdios de nossa histria, j
revelam a preocupao com a distino entre as caractersticas dos edifcios em funo de
suas localizaes. (DURANTE, NOGUEIRA e SANCHES, 2006).
Cada regio tem suas particularidades que devem influenciar no produto final de
uma edificao, no entanto percebe-se nas produes habitacionais atuais pouca relevncia
deste fator. Entre as adaptaes locais que um edifcio precisa ter, necessrio que se
conhea o clima da regio onde ser inserido, pois conforto trmico um princpio bsico
para o bem estar do ser humano no ambiente em que se situa. Este fator no sendo
considerado, pode resultar em situaes de desconforto trmico, causadas pelo excesso de
calor ou frio.
Quanto s construes atuais da cidade de Cuiab, por vezes causam desconforto
trmico, por no se adequarem ao clima quente da regio. Anteriormente a chegada de
muitos migrantes para Cuiab, as caractersticas das casas cuiabanas eram mais adaptadas
ao clima local, e atravs de solues simples. Segundo DURANTE, NOGUEIRA e SANCHES
(2006), neste perodo se utilizavam de p direito altos, paredes de adobe mais espessas,
aberturas que estimulavam a ventilao cruzada, espaos de quintais mais amplos, com
vegetao e tanques dgua, criando um microclima, dessa forma amenizando as altas
temperaturas.
Em meio ao processo de massificao e uniformizao da produo de Habitao de
Interesse Social (HIS), existentes atualmente, os fatores econmicos e funcionais distanciam
a habitao das possibilidades de uma melhor adequao a cada local em que se insere. No
entanto possvel a unio destes fatores, a economia e a adaptao regional, sendo
necessrio que o projetista considere as questes bioclimticas em sua arquitetura, tirando
proveito dos elementos climticos naturais.
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Atravs da Norma de Desempenho tcnico de edificaes, Parte 3: Zoneamento
Bioclimtico Brasileiro, da ABNT, dividiu-se o territrio brasileiro em oito zonas diferentes e
homogneas quanto ao clima. Formularam-se recomendaes tcnico-construtivas para
cada zona, no intuito de aperfeioar o desempenho trmico das edificaes, atravs da
melhor adequao climtica.
Figura 38: Zoneamento bioclimtico brasileiro.
Fonte: Lamberts et al, 2011.
Figura 39: Zona bioclimtica 7.
Fonte: Lamberts et al, 2011.
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Para cada Zona Bioclimtica foram estabelecidos parmetros, como: dimenso de
aberturas para ventilao, sombreamento das mesmas, tipos de vedaes e estratgias de
condicionamento trmico passivo. Cuiab, como demonstrado na Figura 39, pertencente
Zona bioclimtica 7, portanto devem ser atendidas as diretrizes descritas nas tabelas a
seguir.
Tabela 02: Aberturas para ventilao e sombreamento das aberturas para Zona 7.
Fonte: Lamberts et al, 2011.
Tabela 03: Dimenses das aberturas para ventilao.
Fonte: Lamberts et al, 2011.
Tabela 04: Tipos de vedaes externas para Zona 7.
Fonte: Lamberts et al, 2011.
Tabela 05: Transmitncia trmica, atraso trmico e fator de calor solar admissveis para cada tipo de vedao
externa.
Fonte: Lamberts et al, 2011.
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Tabela 06: Estratgias de condicionamento trmico passivo.
Fonte: Lamberts et al, 2011.
Cuiab possui clima tropical quente semimido, caracterizada por dois perodos bem
definidos: seis meses quente-seco e seis meses quente-mido. De acordo com DURANTE,
NOGUEIRA e SANCHES (2006), para que se amenize a temperatura e a sensao trmica no
interior das habitaes, devem ser analisados alguns fatores, como: forma do edifcio,
materiais e tipo de cobertura, p direito, materiais das paredes, radiao solar, proteo
solar, aberturas, vegetao.
Forma do edifcio: influencia na insolao que o mesmo receber, alm de auxiliar ou
prejudicar a ventilao em seu interior. No caso de Cuiab necessrio que se estimule a
ventilao de forma seletiva e reduza a incidncia solar direta.
Coberturas: Grande parte do calor adquirido por um edifcio provm das coberturas,sendo necessrio em regies quentes, como a cidade em questo, utilizar tcnicas que
permitam o mximo atraso trmico e amortecimentos trmicos.
P direito: Sendo sua dimenso mais ampla permite uma maior distncia da massa de
ar quente e a regio de circulao das pessoas, pois a tendncia do ar quente ficar na parte
superior. Alm de privilegiar eficincia da ventilao, se houver abertura para sada deste ar
quente.
Paredes: Assim como as coberturas, para que se amenize a temperatura interior,
necessria a utilizao de materiais com elevada inrcia, provocando assim o atraso e
amortecimento trmico.
Radiao e proteo solar: Cores claras absorvem menos calor e refletem mais luz,
sendo indicadas para reduo da absoro da radiao solar, alm disso, devem-se evitar
grandes superfcies envidraadas e proteger as fachadas, de preferncia, com beirais e
vegetao.
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Aberturas: Estas influenciam em dois fatores, a ventilao e a iluminao. Deve-se
estimular, sempre que possvel, a ventilao cruzada, facilitando os fluxos de ar. As
aberturas devem tambm permitir o uso da iluminao natural, evitando assim a utilizao
de luz artificial durante o dia.
Vegetao: A utilizao de vegetao ameniza a temperatura do local, criando um
microclima mais agradvel.
2.3.2. Antropometria e ergonomiaA antropometria a cincia que trata especificamente das medidas do corpo
humano, consiste no estudo e avaliao das dimenses corporais do indivduo. A ergonomia
ou engenharia adequao do usurio ao seu ambiente, sua caracterstica a
interdisciplinaridade, envolvendo: fisiologia, medicina, psicologia, antropologia e a
engenharia. A antropometria somente um dos seus ramos, sendo necessria para que se
conheam as necessidades, habilidades e limitaes fsicas de cada indivduo.
De acordo com PANERO e ZELNICK (2002), grande parte da filosofia da engenharia
humana baseada na premissa de que tudo projetado para pessoas, portanto, no ramo da
arquitetura imprescindvel que se tenha conhecimento a respeito deste assunto, para que
dessa forma se possa projetar a partir do prprio homem. Notoriamente estes estudos se
demonstram como ferramentas para a elaborao de um bom projeto, uma vez que esto
relacionados adaptao humana a espaos interiores.
H variao da dimenso corporal entre indivduos, modificando de acordo com
fatores como idade, sexo, raa, tipo de alimentao, de atividades, entre outros. Dessa
forma, torna-se complexa a adequao entre a diversidade humana e os diferentes espaos
e atividades, para isso realizam-se estatsticas, limitando determinada extenso de
populao, porm evitando o conceito de homem mdio. Segundo PANERO e ZELNICK
(2002), para que os espaos sejam eficientes, devem ser projetados com a gama de medidas
do corpo humano, buscando atender a maior porcentagem de populao usuria.
Baseados em estudos antropomtricos, PANERO e ZELNICK (2002), elaboram padres
referenciais bsicos de projeto para espaos interiores, servindo como base de estudo para
este trabalho, por isso, abaixo so demonstradas figuras contidas no livro estudado. Os
nmeros utilizados em alguns desenhos significam o cdigo da medida especfica para cada
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individuo, devendo ser consultada em uma tabela a parte, que ir variar de acordo com a
idade, sexo e percentil.
Figura 40: Sofs/Usurios do sexo masculino e feminino, respectivamente.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 41: rea de Estar em canto, com e sem circulao.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
Figura 42: Dimensionamento rea de Estar.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 43: Dimensionamento rea de Estar.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
Figura 44: Dimensionamento rea de Refeio.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 45: Dimensionamento rea de Refeio.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
Figura 46: Dimensionamento rea de Refeio.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 47: Dimensionamento rea de Refeio.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
Figura 48: Dimensionamento Cozinha.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 49: Dimensionamento Cozinha.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 50: Dimensionamento Cozinha.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
Figura 51: Dimensionamento Cozinha.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 52: Dimensionamento Cozinha.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 53: Dimensionamento Dormitrio.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
Figura 54: Dimensionamento Dormitrio.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 55: Dimensionamento Dormitrio.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
Figura 56: Dimensionamento Banheiro.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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Figura 57: Dimensionamento Banheiro.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
Figura 58: Dimensionamento Banheiro.
Fonte: PANERO E ZELNICK, 2002.
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3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
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3.1. METODOLOGIA DE PESQUISA AO TEMAInicialmente foi realizada uma pesquisa histrica buscando as caractersticas e os
processos que influenciaram as condies atuais da produo de habitao social.Identificando, dessa forma, diversos padres de produo da habitao social, desenvolvidos
ao longo da nossa histria.
A partir disto foram realizadas visitas a conjuntos habitacionais caractersticos de
alguns destes modelos. As visitas in loco objetivaram conhecer os espaos pblicos e
particulares desenvolvidos por cada proposta de habitao, analisando os aspectos tanto
funcionais quanto estticos e sociais. Dentre elas, destaca-se a realizada no Conjunto
Prefeito Mendes de Moraes, na cidade do Rio de Janeiro.
Durante as visitas foram realizadas entrevistas com moradores e funcionrios dos
locais, no intuito de conhecer opinies diversificadas a respeito das habitaes. Assim como
foram entrevistados, posteriormente, profissionais/pesquisadores do ramo, para agregar
uma opinio especializada experincia do usurio.
Paralelamente houve pesquisa bibliogrfica a outros exemplos de conjuntos, que
trabalham com a produo habitao social a partir de um novo ponto de vista em relao a
forma de insero da mesma no espao urbano e a relao do espao edificado com o
habitante, sendo assim representantes de possibilidades diversas de interveno. Neste
caso, o projeto relevante o Quinta Monroy, em Iquique, Chile.
Atravs dessa pesquisa permitiu-se uma anlise das caractersticas positivas e
negativas da produo de habitao popular existente, auxiliando-nos na elaborao dos
parmetros arquitetnicos a serem adotados, assim como no programa de necessidades e
pr-dimensionamento utilizado.
3.1.1. Entrevista com o Prof. Cludio MirandaO professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Cludio Miranda, tambm
funcionrio aposentado da Caixa Econmica Federal e Presidente do Conselho de
Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (CAU-MT), concedeu a entrevista em abril de 2012
e em janeiro de 2013, a respeito do tema: Habitao de interesse social em rea central.
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Primeiramente abordou-se sobre as produes do Programa Minha Casa Minha Vida
(PMCMV), os interesses das empreiteiras da construo civil e do mercado imobilirio a
respeito das produes de habitaes de interesse social e a importncia da localizao
destes empreendimentos. Estes assuntos auxiliaram no entendimento de como a produo
destas habitaes funciona hoje em dia e quais interesses esto envolvidos em torno dela.
Posteriormente, tambm foi discutida a questo da flexibilidade de um edifcio de habitao
social e o uso misto de rea pblica e privada num mesmo edifcio, explicitando como isso
funciona a partir de legislaes de outros pases, contribuindo para o embasamento das
premissas arquitetnicas deste trabalho.
3.1.2. Entrevista com o Arquiteto Luiz Alberto Amarante SimesA entrevista com o arquiteto Luiz Alberto Amarante Simes, funcionrio da
Companhia Estadual de Habitao do Rio de Janeiro (CEHAB RJ), ocorreu em setembro de
2012.
O principal assunto foi produo de habitaes do Estado do Rio de Janeiro ao longo
dos anos, suas tipologias e materiais utilizados, obtendo conhecimento de como ela
funciona a partir da viso da Companhia. Demais informaes auxiliaram no entendimento eanlises das habitaes visitadas na cidade do Rio de Janeiro, que foram: Conjunto
Habitacional Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho), Conjunto Habitacional da Gvea
(Minhoco), Habitao da Av. Estcio de S, Conjunto Marechal Hermes da Fonseca.
Por fim, o arquiteto cedeu trabalhos realizados por ele a respeito do Conjunto do
Pedregulho, que est passando por reforma e restauro no momento atual, coordenada pela
CEHAB-RJ, e tambm sobre o Morro do Preventrio, em Niteri, uma interveno em favela,
tambm coordenado pela CEHAB-RJ. Estes trabalhos tambm contriburam para uma melhor
anlise e entendimento dos conjuntos habitacionais.
3.1.3. Conjunto Habitacional Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho)O Conjunto Prefeito Mendes de Moraes est localizado no Morro do Pedregulho,
Bairro Benfica, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. De acordo com os arquivos cedidos
por SIMES (2012), o projeto do conjunto foi de autoria do arquiteto e urbanista Affonso
Eduardo Reidy, auxiliado pela engenheira Carmem Portinho, aprovado e iniciado execuo
no ano de 1948, porm teve sua ocupao finalizada somente na dcada de 1960. O
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Conjunto do Pedregulho foi construdo para populao de baixa renda, principalmente os
servidores do municpio que viviam em condies precrias de moradia.
Segundo o site Archdaily (2011), em matria sobre o Pedregulho, seu projeto
continha quatro edifcios residenciais: blocos A, B1, B2 e C, porm este ltimo no foi
construdo. Alm disso, assim como os outros conjuntos produzidos por Carmem Portinho e
Reidy, a proposta do Pedregulho seria um conjunto autossuficiente, possuindo clube,
creche, escola com ginsio e piscina, posto de sade, mercado, lavanderia e parquinho
infantil. No entanto, o clube e a creche no chegaram a ser construdos, e, atualmente,
somente a escola, o ginsio e o parquinho esto em funcionamento, o restante encontra-se
desativado e degradado.
Figura 59: Implantao (Pedregulho).
Fonte: ArchDaily, 2011.
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A princpio, o que torna esta habitao interessante, seu ideal de suprir as faltas
no s de unidades habitacionais, mas tambm de reas de lazer, sade, educao e
comercial. De acordo com os arquivos de SIMES (2012), o intuito o de inserir aquela
grande populao no local, mas tambm dando uma base, proporcionando estas novas
reas, algo de que as habitaes das ltimas dcadas, produzidas em reas perifricas, esto
desprovidas.
Outro ponto positivo do Pedregulho sua insero no meio, seus edifcios no so
impactantes visualmente, tudo foi trabalhado tirando proveito da topografia local,
entretanto seu conjunto no se integra ao espao urbano da cidade, como marca da
proposta modernista. Ele se insere no espao fsico ao tirar proveito da topografia e nocriar uma barreira visual na cidade ao se utilizar e adaptar encosta do Morro do
Pedregulho. O edifcio A, o mais extenso e visvel, est localizado na parte superior do
morro, possuindo forma ondulante que o agrega ao restante da paisagem local.
Aproveitando ainda a topografia ngreme, o acesso do bloco serpeante se d atravs do nvel
intermedirio, de onde se pode subir ou descer para ter acesso s unidades.
Figura 60: Planta dos pavimentos (Pedregulho).
Fonte: ArchDaily, 2011.
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Figura 61: Planta pavimento intermedirio (Pedregulho).
Fonte: ArchDaily, 2011.
Figura 62: Planta dos apartamentos (Pedregulho).
Fonte: ArchDaily, 2011.
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Figura 63: Corte Bloco A (Pedregulho).
Fonte: ArchDaily, 2011.
Quanto aos edifcios residenciais, o bloco A possui 272 apartamentos, enquanto os
blocos B1 e B2 possuem 28 apartamentos cada, este modo como foram divididos gerou
segregao dentro do prprio conjunto habitacional. Os blocos B1 e B2 por possurem
poucas unidades habitacionais, apresentam um custo de manuteno maior por morador,
dessa forma sendo ocupados por uma populao de poder econmico mais elevado que as
pertencentes ao edifcio A. Alm disso, seu acesso se d por um local diferenciado e no h
integrao entre os blocos B1 e B2 com o bloco A. Promovendo a segregao social no local,
de modo que os dois blocos menores parecem no pertencer ao Conjunto Pedregulho.
Figura 64: Vista area (Pedregulho).
Fonte: ArchDaily, 2011.
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Figura 65: Elemento vazado (escola Pedregulho).
Fonte: Acervo do autor.
Figura 66: Sala de aula (escola Pedregulho).
Fonte: Acervo do autor.
Figura 67: Praa e Playground (Pedregulho).
Fonte: Acervo do autor.
Figura 68: Bloco B (Pedregulho).
Fonte: Acervo do autor.
Figura 69: Trreo Bloco A (Pedregulho).
Fonte: Acervo do autor.
Figura 70: Fachada Bloco A em reforma
(Pedregulho).
Fonte: Acervo do autor.
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3.1.4. Projeto refernciaO projeto de destaque dentre as pesquisas, foi o existente na regio de Quinta Monroy,
em Iquique, Chile, elaborado pelo escritrio ELEMENTAL S.A. no ano de 2003 e executado
em 2004.
O ELEMENTAL um escritrio especializado em projetos de habitao, com grande
enfoque habitao social. O Elemental em Quinta Monroy no apenas um projeto, mas
sim o estabelecimento de uma proposta de atuao, que se repetiu em diversos outros
locais.
Uma das caractersticas destacadas que o projeto escolheu manter a populao no
local onde j habitavam, prximo rea central da cidade, oferecendo toda a infraestrutura
necessria a seus moradores, como: trabalho, educao, sade, transporte, entre outros.
No permitindo assim que as famlias fossem deslocadas para a periferia, perdendo sua
ligao e as oportunidades oferecidas pela cidade, como relatado na reportagem do site
ArchDaily Brasil (2012): A boa localizao a chave para que a economia de cada famlia
conserve-se e para a valorizao da propriedade..
Figura 71: Implantao Quinta Monroy antes.
Fonte: Elemental Chile, 2012.
Figura 72: Implantao Quinta Monroy depois.
Fonte: Elemental Chile, 2012.
Pelos recursos escassos, optou-se por um projeto flexvel, oferecendo uma rea
construda de 30m por residncia, contendo planta livre, permitindo a ampliao da
moradia, podendo alcanar at 70m no total. A ampliao direcionada pelo prprio
projeto original, atravs da criao alternada de cheios e vazios, para que assim no sepercam as caractersticas formais, e as linhas definidoras do conjunto, evitando a sua
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descaracterizao. Alm disso, entre o espao pblico e privado, criou-se um intermediador,
o espao coletivo, para uso de todos os moradores locais, estimulando a socializao.
Figura 73: Projeto original Quinta Monroy.
Fonte: Elemental Chile, 2012.
Figura 74: Projeto com ampliaes Quinta Monroy.
Fonte: Elemental Chile, 2012.
Figura 75: Espao coletivo.
Fonte: Elemental Chile, 2012
Figura 76: Espao coletivo ps ocupao.
Fonte: Elemental Chile, 2012
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4.PROJETO
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4.1. O TERRENO4.1.1. Localizao e escolha do terrenoOptou-se por realizar primeiramente a definio do terreno, por j estar pr-
determinado que se deva ocupar uma rea central da cidade de Cuiab. Alm disso,
pretende-se, a partir de um espao j determinado, que o projeto arquitetnico se adapte a
ele obtendo solues diante das dim