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INTERDISCIPLINARIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL POR MEIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Profa. Dra. Fernanda Brando Laboratório de Epistemologia e Didática da Biologia Departamento de Biologia, FFCLRP-USP

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INTERDISCIPLINARIDADE E RESPONSABILIDADE SOCIAL POR MEIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Profa. Dra. Fernanda Brando

Laboratório de Epistemologia e Didática da Biologia

Departamento de Biologia, FFCLRP-USP

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Lei Federal n. 9.795/99 - Política Nacional de Educação Ambiental:

• construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade.

• direito de todos, componente essencial e permanente da educação nacional, que deve ser exercida de forma articulada em todos os níveis e modalidades de ensino

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

UNESCO (1987)

• processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais, presentes e futuros.

FUNDAMENTOS

Problemas ambientais

Políticas públicas

Aspectos históricos

Ética e valores

Movimentos sociais

Sustentabilidade

PESQUISA

Abordagens

qualitativas e

quantitativas

Aspectos éticos

Fontes de informação

ENSINO

Formação de

professores

Contexto escolar

Currículos escolares

Materiais

pedagógicos

Metodologias de

ensino

Espaços não-formais

de ensino

CIÊNCIA

TECNOLOGIA

SOCIEDADE

AMBIENTE

TE

MP

O

ESPAÇO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

• Promoção do desenvolvimento do saber ambiental, do raciocínio crítico e das relações entre Ciência-Tecnologia-Sociedade-Ambiente.

• Participação da cidadania na tomada de decisões.

• Articulações entre fenômenos naturais e sociais que podem ser estudados, analisados, investigados e discutidos de forma integrada e relacional.

• Perspectiva que contempla uma visão interdisciplinar, diferente daquelas praticadas na escola, que priorizam um tratamento fragmentado e descontextualizado desses fenômenos e das ciências em geral.

INTERDISCIPLINARIDADE

• Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (1999): trouxe para os meios educacionais brasileiros (secretarias da educação, autores e editoras de livros didáticos, universidades etc.) a necessidade de discussão e o desejo de integração das disciplinas por meio de práticas interdisciplinares, em todos os níveis de ensino.

• Interdisciplinaridade: palavra cada vez mais presente no vocabulário dos profissionais que trabalham na educação.

• O pensar e o agir interdisciplinar se apoiam no princípio de que nenhuma fonte de conhecimento é em si mesma completa e de que pelo “diálogo com outras formas de conhecimento, de maneira a se interpenetrarem, surgem novos desdobramentos na compreensão da realidade e de sua representação” (LUCKI, 2007, p. 63).

INTERDISCIPLINARIDADE

• Confundida com o trabalho coletivo ou como oposição às disciplinas escolares.

• Cada disciplina científica possui enfoques particulares, recortes da natureza que conduzem a uma organização de saberes padronizados passíveis de serem comunicados (UMA EPISTEMOLOGIA PRÓPRIA).

• A interdisciplinaridade não é a “busca da unificação desses saberes, pois admitir isso seria negar aspectos históricos e epistemológicos da construção do conhecimento e negar as características específicas, com objetos de estudo bem definidos de cada Ciência, como a Física, a Química e a Biologia” (BRASIL, 2006, p. 51).

INTERDISCIPLINARIDADE

• Ainda aparece como uma palavra vaga e imprecisa, cujo sentido não foi descoberto ou inventado.

• Não há uma receita pronta, fabricada fora da escola para ser utilizada, na qual o professor poderia se adaptar.

• Apenas os seus contornos são conhecidos.

INTERDISCIPLINARIDADE

• Atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de reciprocidade à troca, ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade às possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio de redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida (FAZENDA, p. 82).

ASPECTOS POSITIVOS DA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR

• Pode proporcionar uma economia de tempo e trabalho e resolver algumas questões das quais tanto se queixam os professores: listas extensas de conteúdos, reduzido número de aulas destinado a algumas disciplinas etc.

• Pode colaborar para otimizar a aprendizagem, como acredita a maioria dos professores e, acima de tudo, colocá-los de forma coletiva a discutir possibilidades de melhorar o processo de ensino e consequentemente a aprendizagem dos alunos.

DIFICULDADES PARA EXERCER UMA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR

• Formação fragmentada, linear e descontextualizada dos profissionais que trabalham na educação e as condições de trabalho a que estão submetidos como organização de grades curriculares, falta da manutenção dos equipamentos entre tantos outros.

PROJETO - FORMAÇÃO DE PROFESSORES E

INTERDISCIPLINARIDADE: AS NARRATIVAS COMO FONTES DE REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS

• Grupo de estudos em Interdisciplinaridade e Educação Ambiental

• Formação de um grupo de estudo junto aos professores em formação inicial

• Seminário: teria e práticas em exercícios específicos relacionados aos temas

• Atividade prática coletiva

• Certificado (modelo com descrição do evento, tópicos abordados e horas

de trabalho)

• Convites: via folder virtual

• Pré-requisito: licenciatura

• Desenvolvimento dos seminários

Data: Atividade Temática Abordagens e Estratégias Responsáveis

27/09/16: 1º Seminário

teórico-prático Estética e o Ensino

Relacionar a estética do filósofo

Charles Peirce (1839-1914) com a EA Gabriela Iglesias

04/10/16: 2º Seminário

teórico-prático

Mudanças

Climáticas

Apresentar conceitos através do júri

simulado de um acordo internacional Silvia Mandai

11/10/16: 3º Seminário

teórico-prático Questões hídricas

Por meio do estudo de caso do Rio

Piumhi construir um mapa conceitual Bianca Bonini

18/10/16: 4º Seminário

teórico-prático

Conservação da

Biodiversidade

Discutir conceitos sobre conservação

e sobre níveis de diversidade

biológica com o jogo didático de

tomada de decisões sobre o PARNA

Serra da Canastra

Giselle Martins

25/10/16: aplicação do primeiro questionário

Novembro:

Construção do

instrumento didático-

pedagógico

Jardim Comestível

Norteado pelas ideias da

Permacultura, construir coletivamente

um modelo prático para estudos

interdisciplinares

Giselle Martins e

Gabriela Iglesias

07/12/16: aplicação do segundo questionário

Indicadores de Interdisciplinaridade

• A priori

• Norteadores para construção das atividades – reunião prévias com os palestrantes

Indicadores de

Interdisciplinaridade

Descrição dos procedimentos adotados pelos palestrantes durantes

as atividades

1-Construção do

Conhecimento

Conduzir o processo de forma provocativa, por meio de atividade

instigante, para a construção de argumentos pelos participantes

2-Análise do

conhecimento prévio

Estimular os participantes para revisão de conceitos prévios e relação

com as atividades propostas

3-Análise do

desempenho

Registrar o processo de aprendizado dos participantes por meio da

participação nas discussões, avaliando qualitativamente seu

desempenho

4-Cooperativismo Estimular a leitura e discussão em grupo e a integração entre

participantes

5-Intervencionismo Conduzir e intervir na discussão para acrescentar e orientar os

participantes de forma integradora

http://gtinterdisciplinar.wixsite.com/grupodeestudos

Categorias Análise de conteúdo

• A posteriori

• Bardin, 2011

Categoria

s Atividades Indícios da presença das categorias durante as atividades

1.

Construçã

o de

conhecim

ento

S1 A estética pode ser usada como ferramenta de sensibilização à conservação do meio, algo desconhecido pelos

participantes

S2 O tratamento sobre conflitos de interesse justificou a complexidade da atividade

S3 O conceito de “ação mitigadora” despertou o interesse dos participantes por ser um termo chave na discussão

de questões ambientais

S4 A atividade foi formativa na distinção dos conceitos preservação e conservação e gerou debates para a

tomada de decisão com diferentes atores sociais

Jardim A ideia de Permacultura foi aceita apesar do pouco tempo disponível para aprofundamento teórico

2. Análise

de

conhecim

ento

prévio

S1 Durante a intepretação de obras de arte foram recordados filmes e livros (A pele que habita, Iracema) entre

outras experiências vivenciadas anteriormente

S2 A atividade exigiu algumas noções prévias de geociência o que tornou o debate mais complexo

S3 Uma das participantes já conhecia a área do estudo de caso o que contribuiu para relatos sobre o turismo na

região

S4 Diversos equívocos acerca dos termos conservação e preservação cometidos principalmente pela mídia foram

desmitificados

Jardim Alguns participantes reportaram que nunca tiveram contato com plantio e outra participante que não tinha

aprendido sobre a posição do sol.

3. Análise

de

desempe

nho

S1 Inicialmente os participantes estavam tímidos, sem muita interação e após alguns momentos de descontração

começaram a responder as perguntas com desenvoltura

S2 Exigiu dos participantes lidar com diversos aspectos para chegarem num consenso. Houve avanços na proposição

de acordos de cooperação entre os países

S3 A discussão sobre a transposição do Rio Piumhi despertou o interesse dos participantes, favorecendo ampla

participação e discussão

S4 Como representantes dos atores sociais na tomada de decisões os participantes discutiram aspectos econômicos,

ambientais, sociais e políticos

Jardim A fase de planejamento do plantio não foi concluída pelos participantes pela falta de experiência atrelada ao

tempo de atividade. No dia do plantio houve maior envolvimento e participação de todos

4.

Cooperati

vismo

S1 No decorrer da atividade, os participantes complementavam as respostas uns dos outros

S2 Diante da necessidade de acordos, os participantes se ajudaram considerando o interesse de cada país

S3 A construção do mapa conceitual foi coletiva e os participantes precisaram chegar em um consenso sobre esta

construção

S4 Representando diferentes atores sociais, os participantes precisaram interagir e formar alianças para a tomada de

decisão

Jardim Os participantes se revezaram durante a abertura de covas, colocação do adubo e plantio

5.

Intervenci

onismo

S1 A discussão provocativa adotada pela palestrante motivou a participação durante todo tempo

S2 Devido às dificuldades conceituais, a palestrante sugeriu alguns caminhos de como realizar os acordos entre os

países

S3 Esclarecimentos sobre o tema pois durante a construção do mapa conceitual as interações foram apenas entre os

participantes

S4 Por meio da observação participativa, a palestrante guiou a atividade apoiando as decisões tomadas, mas sem

interferir nas estratégias dos participantes

Jardim A atividade foi colaborativa e cooperativa em prol de sua construção

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

• A construção de indicadores de interdisciplinaridade elaboradas a priori foi decisiva para nortear o desenvolvimento das atividades por parte dos palestrantes, bem como para verificar a presenças das características interdisciplinares durante o desenvolvimento das atividades do grupo.

• A contribuição do grupo de estudos na formação inicial de professores refere-se ao contato com temas ambientais por meio de estratégias didáticas instigadoras de processos de criticidade e reflexões, em especial para tomada de decisões como futuros educadores.

• O grupo permitiu uma formação complementar ao ensino curricular dos licenciandos participantes e tem motivado para aprofundamentos tanto relacionados às práticas interdisciplinares quanto à Educação Ambiental.

• Espera-se que a partir desta vivência no grupo os licenciandos tenham mais autonomia intelectual na busca pelo conhecimento, assumindo com protagonismo o fazer docente.

• Para a área de Ensino de Ciências, o estudo fornece indicadores para construção de práticas interdisciplinares, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias didáticas mais pertinentes à formação de professores no contexto atual.