intensivo ii - processo civil - didier

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROF. FREDIE DIDIER INTENSIVO II 2009.1 AO RESCISRIA 1. CONCEITO: uma ao autnoma de impugnao que tem por objetivo rescindir decises transitadas em julgado e, EVENTUALMENTE, promover novo julgamento da causa. Rescisria no recurso!!! Rescisria gera um processo novo com objetivo de rever a deciso judicial transitada em julgado. A Ao Rescisria pode servir a 2 propsitos: RESCISO DA SENTENA (desconstituio da deciso) REJULGAMENTO DA CAUSA Estes dois pedidos possuem nomes prprios: Pedido de Resciso >> Judicium Rescindens Pedido de Rejulgamento >> Judicium Rescissorium Em toda rescisria pede-se a resciso, mas nem toda rescisria veicula-se pedido de rejulgamento. A rescisria visa a desconstituir sentena e acrdo de mrito. 2. OUTRAS FORMAS DE IMPUGNAO DE DECISES TRANSITADAS EM JULGADO: So elas: a) Ao Rescisria; b) Mandado de segurana contra ato judicial: Admite-se quando for proferida deciso teratolgica, que viole frontalmente a norma jurdica. Tambm possvel por terceiro, que deveria ser litisconsorte necessrio e no o foi, para evitar que sobre ele recaiam os efeitos do julgado. c) Impugnao ao cumprimento de sentena (art. 475-L, I) e embargos execuo promovida contra a Fazenda Pblica (art. 741): A sentena proferida com esse fundamento tem ntido carter rescisrio do julgado, uma vez que detm eficcia constitutiva negativa. Reconhece-se a nulidade de citao e desconstitui-se o ttulo. d) Ao declaratria de inexistncia de relao jurdica processual. e) Querella Nulitatis (art. 475 L, inciso I, art. 741, inciso I, CPC) Sem prazo Aqui temos a reviso por questes formais (ex.: sentena proferida contra ru revel que no foi citado ou foi citado invalidamente).

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f) Correo de Erros Materiais - se d por simples petio - pode ser conhecido de ofcio g) Reviso de Sentenas: fundadas em Lei, Ato Normativo ou Interpretao tidos pelo Supremo como inconstitucionais. - art. 475 L, 1 e art. 741, nico, ambos do CPC. - trata-se de instrumento que no tem prazo - reviso por questo de justia (questo substancial) Pergunta: O que diferencia a ao rescisria dos demais? Resposta: O pedido principalmente o de rejulgamento e a taxatividade dos fundamentos. 3. NATUREZA JURDICA DA AO RESCISRIA: A ao rescisria ostenta natureza jurdica de AO AUTNOMA DE IMPUGNAO, ou AO CONSTITUTIVA NEGATIVA OU DESCONSTITUTIVA, de modo que o seu ajuizamento provoca a instaurao de uma nova relao jurdica processual. Tem a finalidade de desfazer a coisa julgada material, quer por motivos de invalidade, quer por motivos de injustia. 4. PRESSUPOSTOS DA AO RESCISRIA: Alm das condies da ao e dos pressupostos processuais, a ao rescisria tem pressupostos especficos, quais sejam: a) Deciso rescindvel (deciso de mrito transitada em julgado); b) Prazo decadencial de dois anos. c) Condies da ao; d) A configurao de um dos fundamentos previstos no art. 485. 1 Pressuposto - DECISO RESCINDVEL Primeiramente, exige-se que a deciso de mrito tenha transitado em julgado. No importa o motivo do trnsito em julgado, se porque a parte no interps recurso, porque o recurso no foi conhecido, quer porque esgotadas todas as vias recursais existentes. A esse respeito, vide Smula 514 do STF: Admite-se ao rescisria contra sentena transitada em julgado, ainda que contra ela no se tenham esgotado todos os recursos.. O que importa saber se transitou em julgado ou no, e no se a parte buscou todos os recursos processuais que estavam disponveis naquele momento, para aquela demanda. Esta confuso muito comum porque podemos ligar aos requisitos do Rext, que, de forma diversa, exige tenham sido esgotados todos os meios recursais! Tambm vem se entendendo possvel o ajuizamento de ao rescisria para desconstituir deciso, que, embora no seja de mrito, tornou preclusa a questo. Exemplo: Tribunal se recusa a conhecer de 2

recurso de apelao mediante deciso interlocutria que violou expressa disposio literal de lei. DECISO DE MRITO >> Acrdos; Sentenas; Decises interlocutrias. OBS (1).: DECISES PARCIAIS Examinam o mrito mas no param o processo. Deciso de Mrito / Sentenas Parciais >> embora haja divergncia doutrinria, o importante lembrar que, independente denomin-las de decises interlocutrias ou sentenas parciais, sim cabvel Ao Rescisria !! OBS (2).: A Ao Rescisria pode atacar apenas um ou alguns dos captulos da sentena proferida. a chamada Ao Rescisria Parcial, porque vai contra a sentena mas no contra TODA a sentena. ATENO: Tratando-se de litisconsrcio que sai vitorioso em uma demanda, cabe sim parte vencida a propositura de Rescisria, que pode ser feita face apenas um ou alguns dos litisconsortes vitoriosos. No h necessidade de acionar todos eles ! VEDAO LEGAL PROPOSITURA DE AO RESCISRIA

- O art. 59 da Lei dos Juizados Especiais Estaduais (Lei .9.099/95) veda a utilizao de A.R nas aes de sua competncia; - vedada tambm a propositura de Rescisria em face daa sentenas proferidas em ADIN, ADC, ADPF. Pergunta: E nos Juizados Especiais Federais, h vedao ? Resposta: A lei silente. Desta forma temos duas correntes que se posicionam contra o cabimento e a favor do cabimento. 1 corrente >> Entende que devemos aplicar a lei dos juizados estaduais, o que torna incabvel a propositura de Ao Rescisria nos procedimentos do Juizado Especial Federal. (esta posio defendida por juristas como o professor Fredie Didier Jr. e pelo FONAJEF Frum Nacional de Juizados Federais, conforme se extrai da Concluso N. 44). P.S.: Tratando-se de concursos na rea federal, aconselhvel pegar, na internet, as CONCLUSES do FONAJEF, que funcionam quase que como uma smula para os Juizados Federais. 2 corrente >> o STF j julgou Ao Rescisria de uma demanda dos Juizados Federais sobre a qual ele mesmo j havia se manifestado em grau de Recurso Extraordinrio.

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RESCISRIA E JURISDIO VOLUNTRIA

Pergunta: As decises em jurisdio voluntria so rescindveis ? Resposta: Tradicionalmente no se admite, pelo simples fato de que tais decises no fariam coisa julgada ! Esta a posio da maioria da doutrina. POREM, h hoje muitos autores se manifestando no sentido de que h coisa julgada na jurisdio voluntria. Desta forma, haveria, para estes autores, a possibilidade de Ao Rescisria em tais sentenas. EM CONCURSO: se cair, dever cair como questo discursivas, oportunidade em que deveremos expor os dois entendimento acima dispostos, explicando que toda a questo passa pela verificao se a referida sentena proferida em jurisdio voluntria faz ou no coisa julgada ! Pergunta: Cabe Rescisria nas hipteses de Querella Nulitatis ? Ou seja, sendo o caso de uma Querella Nullitatis, cabe Rescisria ? Resposta: Esta matria no tem sido objeto de grandes estudos pelos doutrinadores. Assim, quem aborda o tema costuma admitir a fungibilidade (maioria da doutrina) PORM, o STJ j se posicionou de forma diversa, inadmitindo a fungibilidade, ou seja, sendo o caso de Querella, s caber Querella. SENTENA TERMINATIVA

Sentenas terminativas so aquelas em que o mrito no examinado. Pergunta: Cabe Ao Rescisria de sentena terminativa? Resposta: Tradicionalmente, como regra geral, incabvel, sendo observado apenas a voz isolada de Pontes de Miranda na defesa do cabimento da ao rescisria contra sentenas terminativas. O assunto, entretanto ganha relevo quando tratamos de uma sentena terminativa em especial, que so as sentenas terminativas que impedem a repropositura da demanda (art. 267, inciso V, CPC)! face a ocorrncia de PEREMPO, LITISPENDENCIA ou COISA JULGADA. Estas sentenas tm a repropositura vedada pela disposio do art. 268, CPC. Aqui, neste caso especfico, j no mais tratamos apenas dos argumentos levantados por Pontes de Miranda. Os argumentos para referendar o cabimento da rescisria nestes casos encontram eco em grande parte da doutrina, face a constatao de que, embora terminativas e sem analise do mrito, tais sentenas produzem o mesmo efeito das que enfrentam o mrito, ao inviabilizar a repropositura.

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IMPORTANTE: O STJ estendeu o art. 268, CPC a outras hipteses de sentenas terminativas. Estas outras hipteses seriam observadas sempre que a extino se der por ser detectado um defeito na demanda, o que lhe exige previa correo antes de nova proposio. Desta forma, estariam abrangidos por tal alargamento os incisos I, IV, VI, VII do art. 268, CPC. Com isto a concluso a que se chega que CABIVEL a Rescisria face ao inciso V e, com o posicionamento do STJ, estendvel tambm aos incisos I, IV, VI e VII, do art. 268. H inmeras decises do STJ admitindo rescisria contra deciso que no conhece de um recurso (embora nos parea claro que no se trata de uma deciso de mrito !!!). O fundamento o mesmo, ou seja, que tal deciso impede a repropositura. Pergunta: Decises proferidas em incidente processual podem ser objeto de Ao Rescisria ? Resposta: O STJ entende que no, sendo cabvel apenas contra a deciso principal. O professor, mais uma vez, discorda ! TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO - JURISPRUDENCIAS

OJ 41 SBDI 2 N 41 AO RESCISRIA. SENTENA CITRA PETITA. CABIMENTO (inserida em 20.09.2000) Revelando-se a sentena "citra petita", o vcio processual vulnera os arts. 128 e 460 do CPC, tornando-a passvel de desconstituio, ainda que no opostos embargos declaratrios. Uma sentena pode ser citra petita quando no examina um fundamento ou no examina um pedido, assim: - Quando a sentena no examina um fundamento, a sentena citra petita NULA, e pode ser objeto de ao rescisria, exatamente por se defeituosa. a este tipo de sentena citra petita que a OJ 41 se refere !!! - De outra forma, quando a sentena citra petita no examina um pedido, ela no nula, mas sim INEXISTENTE, o que inviabiliza a propositura de uma rescisria para que ela seja invalidada ou reapreciada. (Funciona como se no primeiro caso tivssemos um dente apenas cariado e na segunda tivssemos uma boca banguela !!) 2 Pressuposto PRAZO O prazo para o ajuizamento da ao rescisria decadencial, de dois anos, contado do trnsito em julgado da deciso. O prazo no contado dobrado para a Fazenda Pblica. EXCEO: No caso de sentenas que envolvem mudanas no registro imobilirio de imvel rural h uma lei extravagante que estende este prazo para 8 anos (tal dispositivo busca coibir a cristalizao se fraudes praticadas por grileiros de terra).

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O termo inicial o trnsito em julgado da deciso final. A coisa julgada opera-se quando a deciso no est mais sujeita a qualquer recurso. O trnsito em julgado ocorrer quando no for possvel a interposio de qualquer recurso. Se interposto um recurso e este no for conhecido, a partir do trnsito em julgado dessa deciso que inicia o prazo para o ajuizamento da ao rescisria. Prevalece no STJ o entendimento segundo o qual mesmo que j tenha ocorrido o trnsito em julgado parcial da deciso, o termo inicial para ajuizamento da ao rescisria a data do trnsito em julgado da ltima deciso da causa. Esse posicionamento choca-se com a orientao de Barbosa Moreira. DOIS GRANDES PROBLEMAS SOBRE ESTE PRAZO DAS RESCISRIAS: Rescisria & Coisa Julgada Progressiva

EXEMPLO: tomemos como exemplo uma demanda proposta em que temos 3 captulos; captulo A, captulo B e captulo C. H medida que o processo vai se desenrolado, e as matrias vo sendo julgadas, algumas captulos vo transitando em julgado, por falta de interesse em recorrer dos mesmo. Assim, em determinado ano julgado o processo e o autor, que perdeu apenas recorre dos captulos B e C. Noutra instancia, perdendo novamente, o autor apenas recorre do captulo C, e por ai vai. Assim, h medida que o processo vai correndo, tais captulos vo transitando em julgado em momentos diferentes. o que chamamos de coisa julgada progressiva ! Pergunta: como se faz a contagem do prazo decadencial destes captulos que vo transitando em julgado? Ou seja, o prazo global para abranger todo o processo ou se deve contar o prazo de cada captulo individualmente ? Resposta: o questionamento ganha relevo principalmente quando constatamos que as lides costumam durar anos e anos. Assim temos que, doutrinariamente, unnime o entendimento de que os prazos so independentes, comeando a correr o prazo do captulo A no momento em que este transita em julgado, e sucessivamente em relao aos captulos B e C. POREM, o STJ afirma que o prazo nico, devendo a parte aguardar o transito em julgado de todos os captulos da demanda, ainda que a parte se veja obrigada a aguardar anos e anos para rescindir uma deciso que entende injusta. O fundamento para tal posicionamento no poderia ser pior .... agir de forma diversa acabaria gerando muito trabalho e muita complicao .... STJ. A jurisprudncia do TST, mais uma vez, vem trazer lucidez discusso.

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Na smula 100, o TST se posiciona de maneira diversa do STJ, indicando em seu inciso II a possibilidade de observar-mos o transito em julgado em momentos independentes. Embora a parte final do referido inciso traga uma ressalva, visto que ele, em verdade, a acaba por no tratar de decises parciais ou em captulos independentes, pois faz clara referencia possibilidade de interferncia destas solues parciais nos demais captulos, o que no se coaduna com uma sentena parcial como estudamos !! Vale aqui a transcrio de toda a smula 100 do TST: S. 100 do TST. Ao rescisria. Decadncia. I O prazo de decadncia, na ao rescisria, conta-se do dia imediatamente subseqente ao trnsito em julgado da ltima deciso proferida na causa, seja de mrito ou no. II Havendo recurso parcial no processo principal, o trnsito em julgado d-se em momentos e em tribunais diferentes, contando-se o prazo decadencial para a ao rescisria do trnsito em julgado de cada deciso, salvo se o recurso tratar de preliminar ou prejudicial que possa tornar insubsistente a deciso recorrida, hiptese em que flui a decadncia a partir do trnsito em julgado da deciso que julgar o recurso parcial. III Salvo se houver dvida razovel, a interposio de recurso intempestivo ou a interposio de recurso incabvel no protrai o termo inicial do prazo decadencial. IV O juzo rescindente no est adstrito certido de trnsito em julgado juntada com a ao rescisria, podendo formar sua convico atravs de outros elementos dos autos quanto antecipao ou postergao do dies a quo do prazo decadencial. V O acordo homologado judicialmente tem fora de deciso irrecorrvel, na forma do art. 831 da CLT. Assim sendo, o termo conciliatrio transita em julgado na data da sua homologao judicial. VI Na hiptese de coluso das partes, o prazo decadencial da ao rescisria somente comea a fluir para o Ministrio Pblico, que no interveio no processo principal, a partir do momento em que tem cincia da fraude. VII No ofende o princpio do duplo grau de jurisdio a deciso do TST que, aps afastar a decadncia em sede de recurso ordinrio, aprecia desde logo a lide, se a causa versar questo exclusivamente de direito e estiver em condies de imediato julgamento. VIII A exceo de incompetncia, ainda que oposta no prazo recursal, sem ter sido aviado o recurso prprio, no tem o condo de afastar a consumao da coisa julgada e, assim, postergar o termo inicial do prazo decadencial para a ao rescisria. IX Prorroga-se at o primeiro dia til, imediatamente subseqente, o prazo decadencial para ajuizamento de ao rescisria quando expira em frias forenses, feriados, finais de semana ou em dia em que no houver expediente forense. Aplicao do art. 775 da CLT.

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X Conta-se o prazo decadencial da ao rescisria, aps o decurso do prazo legal previsto para a interposio do recurso extraordinrio, apenas quando esgotadas todas as vias recursais ordinrias. Rescisria & Deciso que No Conhece do Recurso

Como fica o problema, visto que o tribunal pode simplesmente no conhecer do recurso, embora tenha levado 6, 7, 8 anos para dizer isso!! A partir de quando comearia a contar o prazo decadencial para propositura da Ao Rescisria? Eis a questo !! A jurisprudncia, em ateno necessria segurana jurdica, indica que tal prazo se conta da ltima deciso do tribunal, ainda que tal deciso seja pelo no-conhecimento do recurso ! PORM, h 2 ressalvas: nos casos de intempestividade; nos casos de manifesto incabimento. Ocorrendo um destes dois casos, o prazo seria contado de maneira retroativa, retornando ao momento em que a deciso rescindenda foi proferida, o que no nosso exemplo, em que o tribunal levou at 8 anos para se manifestar, acarretaria a perda do prazo para propositura da rescisria. Este entendimento tambm consta da j transcrita sumula 100, TST, e pode ser conferido no seu inciso I e III. ATENO: vale aqui uma observao sobre a expresso duvida razovel do inciso III. que havendo duvida sobre expediente, ou feriados locais, no se deve imputar como intempestivo o recurso, o que inviabiliza a rescisria. Da mesma forma com o seu incabimento, ou seja, caso no seja MANIFESTAMENTE/CLARAMENTE incabvel, tambm no se deve inviabilizar a propositura da rescisria. 3 Pressuposto CONDIES DA AO A ao rescisria, como qualquer outra ao, tem de preencher as condies da ao. A) POSSIBILIDADE JURDICA DO PEDIDO Aplica-se a este tpico tudo o que j foi visto quando da analise do cabimento, hipteses de cabimento ou no de uma Ao Rescisria OBS.: apenas para citar um caso jurisprudencial em que um tribunal conheceu de uma Rescisria ainda que no houvesse transito em julgado da deciso. Embora a conseqncia mais lgica fosse a de

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no conhecer a rescisria como supervenientemente, no momento do julgamento, j havia o referido transito em julgado, o tribunal achou por bem referendar o acatamento anterior e realizar normalmente o julgamento da rescisria ! Tudo em ateno ao que dispe o art. 462, CPC. B) LEGITIMIDADE - art. 487, CPC. Quanto ao plo ativo: Podem ajuizar a ao rescisria quem foi parte no processo, seu sucessor a ttulo universal ou singular e o terceiro juridicamente interessado (art. 487). claro deve-se incluir neste rol o terceiro que interveio no processo, e portanto, passou a ser tambm parte. O Ministrio Pblico pode propor ao rescisria na qualidade de parte, ou na condio de fiscal da lei. Nesta condio (fiscal da lei), vislumbram-se duas hipteses: a) no foi ouvido no processo, quando deveria ser ; b) quando a sentena resultado de coluso (tramia/fraude)das partes, com a finalidade de fraudar a lei. Ainda sobre a COLUSO das partes, a Smula 100 do TST, dispe em seu inciso VI, que o prazo para o M.P propor a rescisria comea a fluir apenas da data em que toma conhecimento da fraude! A Smula 407 do TST, ao tratar da legitimidade do M.P para a ao rescisria, afirma que: A legitimidade ad causam do Ministrio Pblico para propor ao rescisria, ainda que no tenha sido parte no processo que deu origem deciso rescindenda, no est limitada s alneas a e b do inciso III do art. 487 do CPC, uma vez que traduzem hipteses meramente exemplificativas. P.S.: NO EXISTE LITISCONSORCIO NECESSRIO ATIVO !!! Quanto ao plo passivo: Todos os participantes da relao jurdica processual, que figuraram na relao jurdica que importou numa sentena de mrito que se pretende rescindir, devem figurar no plo passivo da ao rescisria. Forma-se litisconsrcio necessrio. Porm, se o objeto da rescisria disser respeito apenas a algum dos participantes, somente esses devem ser citados como litisconsortes necessrios. Smula 406 do TST: Ao rescisria. Litisconsrcio. Necessrio no plo passivo e facultativo no ativo. Inexistente quanto aos substitudos pelo Sindicato. I O litisconsrcio, na ao rescisria, necessrio em relao ao plo passivo da demanda, porque supe uma comunidade de direitos ou de obrigaes que no admite soluo dspar para os litisconsortes, em face da indivisibilidade do objeto. J em relao ao

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plo ativo, o litisconsrcio facultativo, uma vez que a aglutinao de autores se faz por convenincia e no, pela necessidade decorrente da natureza do litgio, pois no se pode condicionar o exerccio do direito individual de um dos litigantes no processo originrio anuncia dos demais para retomar a lide. II O Sindicato, substituto processual e autor da reclamao trabalhista, em cujos autos fora proferida a deciso rescindenda, possui legitimidade para figurar como ru na ao rescisria, sendo descabida a exigncia de citao de todos os empregados substitudos, porquanto inexistente litisconsrcio passivo necessrio. Observemos que o inciso II traz a previso de o Sindicato, substituto processual, ser plo passivo de possvel demanda rescisria. Trata-se de uma legitimidade extraordinria passiva. No seria razovel imaginar que o autor da rescisria tivesse que trazer para a lide todos os sindicalizados individualmente. Este inciso II da Smula 406 do TST consagra um caso tpico de AO COLETIVA PASSIVA, ou seja, a coletividade se encontra no plo passivo ! 4 Pressuposto HIPOTESES DE RESCINDIBILIDADE A ao rescisria uma ao de fundamentao vinculada, so sendo cabvel em hipteses tpicas, determinadas em lei. Pergunta: A Ao Rescisria uma ao tpica ? Resposta: Sim. Ou seja, uma ao cujos fundamentos/causa de pedir esto determinados pelo legislador. As hipteses de rescindibilidade esto dispostas em dois artigos do CPC: - art. 485 e seus incisos, que sero vistos a partir de agora; - art. 1.030, que trata dos casos de sentena na Partilha. No sero vistos neste intensivo II. OBS.: cada uma das hipteses de cabimento, sozinha, suficiente para fundamentar uma Ao Rescisria. Na prtica, entretanto, costuma-se cumular mais de uma hiptese/fundamento. Haver, assim, uma cumulao de Rescisrias pela causa de pedir ! Cada uma das hipteses de rescindibilidade uma causa de pedir, causa de pedir Remota! Causa de pedir PRXIMA: o direito que se afirma ter; - Ser o mesmo em TODAS as aes rescisrias, ou seja, o direito resciso. Causa de pedir REMOTA: fato jurdico; - corresponde s hipteses de rescindibilidade;

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- , portanto, uma questo de fato, o que implica vedao para que o tribunal descida a demanda rescisria com base em causa de pedir/fundamento diverso do argido pela parte quando da propositura. EXEMPLO: O art. 485, inciso V, CPC, indica a possibilidade de rescisria sempre que se verificar violao lei. Assim, proposta uma rescisria com causa de pedir/fundamento em violao ao artigo A, de alguma lei, no pode o tribunal decidir pela procedncia da demanda com fundamento no artigo B, que no foi argido pela parte !! INICIAREMOS AGORA O ESTUDO DOS INCISOS DO ART. 485, CPC. Cada um dos fundamentos da ao rescisria corresponde a uma causa de pedir respectiva. INCISO I - SE VERIFICAR QUE FOI DADA POR PREVARICAO, CONCUSSO OU CORRUPO DO JUIZ; Toda sentena que foi produto de uma conduta criminosa do Juiz. No pressuposto deste inciso a condenao criminal do Juiz, podendo os ilcitos aqui afirmados serem demonstrados durante a rescisria, o que nos leva a constatao de que durante a rescisria ser necessrio produzir provas. Tal fase probatria poder ser conduzida pelo relator ou, se ele preferir, poder delegar tal funo ao juiz de primeiro grau. PORM, havendo uma sentena absolutria no mbito penal, que reconhea a ausncia de materialidade ou autoria, incabvel a proposio da rescisria com base neste inciso. Vejamos que se a causa da sentena absolutria for outra que no essa (prescrio, por exemplo), no h vedao h proposio da rescisria. INCISO II - PROFERIDA POR JUIZ IMPEDIDO OU ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE Trata-se de Juiz IMPEDIDO ou ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE. Vejamos que o dispositivo legal no faz meno aos casos de suspeio ou de relativamente incapaz. Temos, neste caso, uma hiptese de rescisria gerada por um problema formal. PREMISSA: O JULGAMENTO DA RESCISRIA CABER AO TRIBUNAL QUE PROFERIU A DECISO RESCINDENDA. Sempre !! POREM, se o caso prev rescindir uma SENTENA (portanto oriunda de um juiz singular), o julgamento da rescisria caber ao tribunal ao qual est vinculado o juiz singular: o Juiz Estadual >> TJ Tribunal de Justia

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o Juiz Federal >> TRF Tribunal Regional Federal o Juiz Estadual investido de jurisdio Federal >TRF Tribunal Regional Federal CONCLUSO: TJ e TRF julgam rescisrias de suas decises e decises dos juzes e eles vinculados. Pergunta: Rescisria por incompetncia absoluta permite pedido de rejulgamento? Resposta: Depende. Temos duas possibilidades a serem examinadas. 1 possibilidade > ACRDO A rescisria deve ser proposta no tribunal que proferiu o acrdo. Desta feita, no nos parece razovel eu pedir ao tribunal, que j era incompetente, que rescinda a deciso e julgue novamente a causa. Estaria pedindo que ele(tribunal) errasse de novo !!!! 2 possibilidade > SENTENA Aqui muda tudo. Temos que examinar duas situaes distintas. a) caso estejamos diante de uma Sentena de um Juiz Estadual: Exemplo > TJ rescinda a deciso porque o juiz que a proferiu era absolutamente incompetente, visto que a causa era da competncia da Justia Federal !! Neste caso, no razovel pedir ao TJ que REjulgue uma causa cuja competncia sabidamente Federal !! b) ainda diante de uma Sentena de um Juiz Estadual: Exemplo: Imaginemos uma situao em que a competncia continua sendo Estadual, sendo o caso somente de incompetncia por estar tramitando em vara diversa da correta, ou seja, tramitando na vara da fazenda pblica quando a correta seria a vara de registros pblicos. Neste caso a sentena proferida tambm merece ser rescindida, sendo ainda cabvel o pedido de Rejulgamento, posto que o TJ o rgo competente para rever sentenas de ambas as varas. INCISO III - RESULTAR DE DOLO DA PARTE VENCEDORA EM DETRIMENTO DA PARTE VENCIDA, OU DE COLUSO ENTRE AS PARTES, A FIM DE FRAUDAR A LEI Sentena produto de dolo de uma parte contra a outra. Ex.: a parte, dolosamente, requer a citao por edital de pessoa que tem, sabidamente, endereo certo e conhecido. Serve para tutelar a tica processual, por isso a legitimidade do MP, agindo como Custus Legis. Atenuando possveis excessos na interpretao do referido dispositivo legal, temos a smula 403 do TST, seno vejamos: Sumula 403 TST: 403. Ao rescisria. Dolo da parte vencedora em detrimento da vencida. Art. 485, III, do CPC.

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I No caracteriza dolo processual, previsto no art. 485, III, do CPC, o simples fato de a parte vencedora haver silenciado a respeito de fatos contrrios a ela, porque o procedimento, por si s, no constitui ardil do qual resulte cerceamento de defesa e, em conseqncia, desvie o juiz de uma sentena no-condizente com a verdade. II Se a deciso rescindenda homologatria de acordo, no h parte vencedora ou vencida, razo pela qual no possvel a sua desconstituio calcada no inciso III do art. 485 do CPC (dolo da parte vencedora em detrimento da vencida), pois constitui fundamento de rescindibilidade que supe soluo jurisdicional para a lide. Observemos que, como dispe o inciso II, sendo caso de acordo doloso, estaremos diante de um caso de anulao, regulado pelo inciso VIII, do art. 485. INCISO IV OFENDER A COISA JULGADA. Vale aqui lembrarmos que a coisa julgada possui dois efeitos que, se no analisados com cuidado na hora da proposio da rescisria podem acarretar a rejeio do pedido de rejulgamento: EFEITO NEGATIVO DA COISA JULGADA > Impede nova deciso sobre o que j foi decidido. EFEITO POSITIVO DA COISA JULGADA > Impe que a deciso seja levada em considerao em um outro processo em que ela seja fundamento do pedido. Pergunta: cabe pedido de Rejulgamento por ofensa coisa julgada? Resposta: Tratando-se de efeito negativo da coisa julgada, incabvel o pedido de REjulgamento, visto que este acabar apenas acarretando nova ofensa !! Tratando-se de efeito positivo da coisa julgada, obviamente cabvel e aconselhvel que alem do pedido para que a deciso seja rescindida, haja pedido tambm de Rejulgamento, levando em conta, agora, a coija julgada ofendida anteriormente !! Pergunta: O inciso IV pressupe 2 coisas julgadas conflitantes. A primeira (ofendida) e a segunda (que ofendeu). Temos 2 anos para Rescindir a deciso ofensora da coisa julgada. Ultrapassado os 2 anos para propor a Rescisria sem que isso seja feito, qual deve prevalecer ? Qual deciso estar vigente? Resposta: O entendimento MAJORITRIO de que deveria prevalecer a segunda deciso/ a segunda coisa julgada que embora defeituosa, posterior, superveniente. PORM, sempre tem um porem, na PUC de So Paulo (ARRUDA ALVIM TEREZA WAMBIER etc) h o entendimento de que a primeira coisa julgada, que foi violada, deve prevalecer sempre. A professora

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Tereza Wambier chega a dizer que a segunda coisa julgada sequer existe, o que vem a ser completamente contraditrio com a expressa e literal previso do CPC, que indica a possibilidade de rescindi-la. INCISO V VIOLAR LITERAL DISPOSIO DE LEI: A expresso lei se refere a qualquer norma jurdica, inclusive princpios, ainda que implicitamente previstos. A expresso literal encontra polmica. H uma smula muito antiga do STF Smula 343 - que enuncia que no cabe ao rescisria por ofensa a literal disposio de lei, quando a deciso rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretao controvertida nos tribunais. Notcia contida no informativo n. 498, do STF. Com a evoluo do entendimento no STF, este passou a relativizar essa smula, decidindo que, se a controvrsia constitucional e o STF pacificou o entendimento, caber rescisria para fazer valer o entendimento do STF. No entanto, em 2008, o STJ entendeu que, se houve divergncia jurisprudencial em matria de lei e, este j pacificou a controvrsia, caber rescisria para fazer prevalecer o posicionamento deste. A idia do STJ a seguinte: a rescisria por violao a lei tem de ser um instrumento para uniformizao de jurisprudncia RESP 1026234 Min. Zavaski. entendimento que busca virar o entendimento desta matria. Perceba que mudana de orientao quanto a interpretao da smula 343 do STF. A violao literal disposio de lei contempla a hiptese de ofensa s normas constitucionais, o que o Ministro Gilmar Mendes denominou de violao qualificada. E indaga: nas hipteses em que esta Corte fixa a correta interpretao de uma norma infraconstitucional, para o fim de ajust-la ordem constitucional, a contrariedade a esta interpretao do Supremo Tribunal, ou melhor, a contrariedade lei definitivamente interpretada pelo STF em face da Constituio ensejaria a utilizao da ao rescisria? Responde afirmativamente e depois aduz que so coisas totalmente diferenciadas: a divergncia na aplicao de normas infraconstitucionais recebe um tratamento; a divergncia na aplicao de normas constitucionais, havendo entendimento fixado no STF, rgo que deve guardar a Constituio, impe a adoo de nova orientao. Ministro Teori: (a) a coisa julgada no um valor absoluto, mas relativo, estando sujeita a modificao mediante ao rescisria, nos casos previstos no art. 485 do Cdigo de Processo Civil; (b) admite-se resciso, entre outras hipteses, quando a sentena transitada em julgado tenha violado literal disposio de lei (art. 485, V, do CPC); (c) lei, no texto referido, tem o significado de norma jurdica, compreendendo tambm a norma constitucional;

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(d) relativamente s normas infraconstitucionais, entende-se como violao literal a que se mostrar de modo evidente, flagrante, manifesto, no se compreendendo como tal a interpretao razovel da norma, embora no a melhor; ( e) quando a norma for de interpretao controvertida nos tribunais, considera-se como interpretao razovel a que adota uma das correntes da divergncia, caso em que no ser cabvel a ao rescisria (smula 343 do STF); (f) relativamente s normas constitucionais, que tm supremacia sobre todo o sistema e cuja guarda funo precpua do Supremo Tribunal Federal, no se admite a doutrina da interpretao razovel (mas apenas a melhor interpretao), no se lhes aplicando, por isso mesmo, o enunciado da smula 343; (g) considera-se a melhor interpretao, para efeitos institucionais, a que provm do Supremo Tribunal Federal, guardio da Constituio, razo pela qual sujeitam-se a ao rescisria, independentemente da existncia de controvrsia sobre a matria nos tribunais, as sentenas contrrias a precedentes do STF, seja ele anterior ou posterior ao julgado rescindendo, tenha ele origem em controle concentrado de constitucionalidade, ou em controle difuso, ou em matria constitucional no sujeita aos mecanismos de fiscalizao de constitucionalidade dos preceitos normativos; (h) no havendo precedente do STF sobre a matria, o princpio da supremacia da Constituio e a indispensabilidade da aplicao uniforme de suas normas impe que se admita ao rescisria, mesmo que se trate de questo controvertida nos tribunais; (i) todavia, a deciso de mrito que nela for tomada ter de dar ensejo a recurso extraordinrio, com ataque no apenas aos pressupostos da ao rescisria, mas tambm aos seus fundamentos, nico modo de viabilizar que o Supremo Tribunal Federal, com sua palavra autorizada e definitiva, encerre a controvrsia sobre a alegada violao Constituio. Outra nuance desta ao rescisria que a jurisprudncia costuma trat-la como se fosse um recurso extraordinrio. De acordo com a Smula 298 do TST, tal rescisria pressupe prequestionamento, ou seja, que a lei supostamente violada tenha sido examinada pela deciso rescindenda. Isso NO prevalece no STJ (PGE/AL 2008). 298. Ao rescisria. Violao de Lei. Prequestionamento. I A concluso acerca da ocorrncia de violao literal de lei pressupe pronunciamento explcito, na sentena rescindenda, sobre a matria veiculada. II O prequestionamento exigido em ao rescisria diz respeito matria e ao enfoque especfico da tese debatida na ao e no, necessariamente, ao dispositivo legal tido por violado. Basta que o contedo da norma, reputada como violada, tenha sido abordado na

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deciso rescindenda para que se considere preenchido o pressuposto do prequestionamento. III Para efeito de ao rescisria, considera-se prequestionada a matria tratada na sentena quando, examinando remessa de ofcio, o Tribunal simplesmente a confirma. IV A sentena meramente homologatria, que silencia sobre os motivos de convencimento do juiz, no se mostra rescindvel, por ausncia de prequestionamento. V No absoluta a exigncia de prequestionamento na ao rescisria. Ainda que a ao rescisria tenha por fundamento violao de dispositivo legal, prescindvel o prequestionamento quando o vcio nasce no prprio julgamento, como se d com a sentena extra, citra e ultra petita. Outra smula do TST importante a Smula 410, in verbis: S. 410 do TST: Ao rescisria. Reexame de fatos e provas. Inviabilidade. A ao rescisria calcada em violao de lei no admite reexame de fatos e provas do processo que originou a deciso rescindenda. O professor no conhece jurisprudncia do STJ sobre esse ponto. Ainda sobre o tema, o autor da rescisria tem de indicar qual o dispositivo de lei que reputa violado, caso contrrio, faltar causa de pedir e, portanto, a petio inepta. posicionamento tambm do TST. Todavia, se por erro material indicar outro dispositivo diferente do que foi narrado, pode o Tribunal corrigir de ofcio, posto que no est trazendo alegao nova. Da mesma proceder no caso de ser narrado rescisria por violao a dispositivo de lei e enquadrar o caso em outro inciso. INCISO VI SE FUNDAR EM PROVA, CUJA FALSIDADE TENHA SIDO APURADA EM PROCESSO CRIMINAL OU SEJA PROVADA NA PRPRIA AO . Cabe rescisria em caso de deciso que se fundou em prova falsa. OBS.: Ao referir-se a prova o dispositivo legal no fez restrio, desta feita devemos considerar como podendo ser qualquer tipo de prova (testemunhal, documental, pericial, oral, etc). OBS.: A apurao desta falsidade poder ser feita no prprio bojo da Ao Rescisria (da mesma forma que no inciso I). OBS.: S aplicvel este inciso VI se a prova falsa for O fundamento da deciso. Havendo outros elementos probatrios que sustentem a deciso, incabvel a aplicao do inciso VI. OBS.: No h necessidade de Processo Penal PRVIO. Perceba ainda que se trata de um caso de rescisria por injustia, e no por ilegalidade !

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INCISO VII DEPOIS DA SENTENA, O AUTOR OBTIVER DOCUMENTO NOVO, CUJA EXISTNCIA IGNORAVA, OU DE QUE NO PDE FAZER USO, CAPAZ, POR SI S, DE LHE ASSEGURAR PRONUNCIAMENTO FAVORVEL; Entende-se tradicionalmente, por documento novo, aquele que j existia poca da deciso mas que, por algum motivo, no pode ser utilizado pela parte. O documento novo no porque foi produzido depois da coisa julgada, mas porque a parte s pode utilizar-se dele agora. Note que no basta que esse documento seja novo, preciso um documento novo com uma tal fora probatria que, por si s, tenha o condo de reverter a deciso. Assim, so dois pressupostos para o documento novo: 1. o seu aparecimento e no a sua existncia que novo; 2. Alta fora probatria. Dentro dessa concepo, documento formado depois da coisa julgada no pode ser considerado documento novo. Sucede que de uns tempos para c, tanto a jurisprudncia quanto a doutrina tm pugnado por uma reviso desse conceito, para permitir rescisria com base em exame de DNA feito depois da coisa julgada. O exame de DNA, temos que convir, que um documento que convence muito, pois ele tem uma preciso cirrgica. INCISO VIII HOUVER FUNDAMENTO PARA INVALIDAR CONFISSO, DESISTNCIA (RENNCIA) OU TRANSAO OU RECONHECIMENTO JURDICO DO PEDIDO, EM QUE SE BASEOU A SENTENA; Uma sentena pode basear-se em um ato jurdico das partes. O juiz decide com base num ato jurdico anterior praticado pela parte. Se a sentena se baseia em confisso, desistncia ou transao e houver motivo para invalidar esses atos, caber ao rescisria. Perceba que a ao rescisria aqui um pouco diferente: a parte vai rescindir a sentena no porque ele tem um defeito, mas porque h um defeito no ato jurdico em que ela se baseou. Isso o diz o CPC, mas onde l: desistncia, leia-se: renncia, pois a desistncia no gera uma deciso de mrito, mas sim a renncia. E, alm disso, preciso acrescentar um outro ato que foi omitido pelo legislador, que o reconhecimento da procedncia do pedido. Quando a sentena se baseia em renncia, transao ou reconhecimento a doutrina costume dizer que ela uma sentena homologatria. Embora homologatria uma sentena de mrito apta a ser rescindida. Vejamos o art. 486: Art. 486. Os atos judiciais, que no dependem de sentena, ou em que esta for meramente homologatria, podem ser rescindidos, como os atos jurdicos em geral, nos termos da lei civil. O art. 486 do CPC precisa de uma correo. Onde se l: atos judiciais, leia-se: atos das partes ou dos auxiliares de justia. O art. 486 no tem por alvo decises judiciais, o seu objetivo atacar atos

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das partes ou dos auxiliares de justia. Demais, onde l: rescindidos, leia-se: anulados. Ento a leitura correta do art. 486 do CPC : Art. 486. Os atos das partes ou dos auxiliares de justia, que no dependem de sentena, ou em que esta for meramente homologatria, podem ser anulados, como os atos jurdicos em geral, nos termos da lei civil. Um exemplo de ato da parte que independe de sentena a confisso. A transao e a renncia so atos das partes em que a sentena homologatria. A surge a questo mais difcil de se responder: quando h confisso, renncia ou transao caso de anulatria ou caso de ao rescisria? Aqui temos duas premissas: Primeira premissa: se for da parte caso de anulatria, mas se o for sentena caso de rescisria. Segunda premissa: Se j h coisa julgada s rescisria. Se a coisa julgada no existe ainda a parte no pode entrar com a rescisria, mas sim com uma anulatria do ato da parte. Esse regramento est no art. 352 do CPC. Apesar do art. 352 cuidar da confisso, onde se l: confisso, pode se l: transao ou renncia. Art. 352. A confisso, quando emanar de erro, dolo ou coao, pode ser revogada: I por ao anulatria, se pendente o processo em que foi feita; II por ao rescisria, depois de transitada em julgado a sentena, da qual constituir o nico fundamento. Pargrafo nico. Cabe ao confitente o direito de propor a ao, nos casos de que trata este artigo; mas, uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros. Obs.: O caput do art. 352 foi revogado pelo art. 214 do NCC que dispe que a confisso irrevogvel, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coao. Assim, onde l no caput: revogada, leia-se: anulada, pois a confisso irrevogvel, mas pode ser anulada. O CC no fala mais em dolo como motivo para invalidar a confisso. A confisso por dolo no retira a veracidade da confisso, pois se o sujeito foi induzido a confessar, mesmo que por dolo, no deixa de falar a verdade, sendo, portanto, vlida, salvo se for inverdica. Se o que a parte disse no for mentira, a confisso prevalece. Para anular atos de juiz, deve-se recorrer, ingressar com rescisria ou com querela nullitatis. A ao prevista no artigo 486 para anular atos das partes. INCISO IX FUNDADA EM ERRO DE FATO, RESULTANTE DE ATOS OU DE DOCUMENTOS DA CAUSA. 18

A rescisria por erro de fato s cabe se o fato sobre o qual se errou tenha sido um fato incontroverso, ou seja, um fato que ningum controverteu no processo originrio e, porque ningum controverteu, o juiz tambm foi na onda e errou. Isso est dito no 2 do art. 485, in verbis: Art. 485, 2 indispensvel, num como noutro caso, que no tenha havido controvrsia, nem pronunciamento judicial sobre o fato. 5. ASPECTOS DO PROCESSO DA AO RESCISRIA: 1. Petio Inicial A petio inicial deve preencher os requisitos dos artigos 282, 283 e 488, do CPC. Se for o caso, devem ser cumulados os pedidos relativos ao juzo rescindente com o rescisrio. Tratasse de um exemplo tpico de cumulao prpria sucessiva. Deve ser indicada expressamente a hiptese de cabimento da ao rescisria. Deve ser indicada a dispensa de depsito (art. 488, II). O valor da causa equivale ao da ao originria. Se disser respeito a apenas um mais captulos da deciso, deve refletir o contedo econmico pretendido. O pedido na ao rescisria dever conter o JUZO RESCINDENTE (pedido para que seja desconstituda a deciso transitado em julgado) e poder conter o JUZO RESCISRIO (pedido para prolao de novo julgamento). Trata-se de exemplo tpico de cumulao prpria sucessiva (primeiro pedido preliminar em relao ao segundo). Na petio inicial, portanto, deve-se fazer um esforo no sentido de evidenciar e possibilitar o exerccio de trs juzos: a) juzo de admissibilidade; b) juzo rescindente; c) juzo rescisrio. 2. Depsito obrigatrio art. 488, II O autor da rescisria tem que fazer um depsito de 5% do valor da causa. Se o autor perder a causa por unanimidade esse depsito reverter ao ru. Esse depsito uma forma de minimizar rescisrias temerrias. No mbito trabalhista esse depsito de 20 % do valor da causa. At 2007 esse depsito era dispensado na Justia do Trabalho. Os mesmos de sempre esto dispensados desse depsito: Fazenda Pblica, MP e os beneficirios da Justia Gratuita. Alm disso, se dispensa o depsito para a CEF nas aes rescisrias que versam sobre FGTS. 3. Efeito suspensivo e a tutela antecipada: A ao rescisria no suspende a execuo da deciso rescindenda. O sujeito pode executar a deciso, mesmo na pendncia de ao rescisria. Por isso, freqentemente os advogados entravam com ao rescisria e, ao mesmo tempo, com ao cautelar para obter efeito suspensivo rescisria. Com a criao da tutela antecipada generalizada (art. 273) o pessoal comeou a pedir esse efeito suspensivo atravs de tutela antecipada na ao rescisria. Da comeou a surgir uma discusso pouco profcua, qual seja: o correto pedir o efeito suspensivo por 19

cautelar ou por tutela antecipada? O legislador reformou o art. 489 do CPC para dizer que o efeito suspensivo pode ser obtido por tutela cautelar ou por tutela antecipada. 4. Responsabilidade objetiva: Se a rescisria reconhece que no havia a obrigao haver responsabilidade objetiva do exeqente que ter que ressarcir todos os prejuzos do executado. Aplica-se aqui o art. 574 do CPC, in verbis: Art. 574. O credor ressarcir ao devedor os danos que este sofreu, quando a sentena, passada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigao, que deu lugar execuo. 5. Prazo de defesa art. 491 o relator quem vai estipular o prazo de defesa da rescisria, que deve variar entre 15 a 30 dias. Se o ru for a Fazenda Pblica preciso quadruplicar, ou seja, ser qualquer prazo entre 60 e 120 dias (RESP 363.780/RS e RE 94.960). 6. Revelia: possvel a revelia na rescisria, mas a revelia no tem o condo de gerar o seu efeito material - a confisso ficta-, pois no podemos admitir confisso ficta contra a coisa julgada. 7. Reconveno: Cabe reconveno em rescisria, desde que, a reconveno seja tambm uma ao rescisria do mesmo julgado (pedido de resciso de outro captulo). Assim, admite-se a reconveno na ao rescisria, desde que: a) ela tambm seja uma ao rescisria; b) que se trate de uma ao rescisria do mesmo julgado. 8. Interveno do MP O MP intervm, obrigatoriamente, em toda ao rescisria. No h previso legal para isso, mas um entendimento bastante consolidado. A discusso sobre a mantena ou no da coisa julgada de interesse do MP, em homenagem ao princpio da segurana jurdica. 9. Recursos: Cabem na ao rescisria os seguintes recursos: a) Agravo regimental contra a deciso do relator; b) Embargos de declarao; c) Embargos infringentes contra acrdo no unnime que tenha rescindido a sentena; d) RESP e REX; e) Embargos de divergncia no julgamento do RESP e do REX; f) Agravo de instrumento para destrancar recurso extraordinrio.

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NO cabem os seguintes recursos: a) Apelao; b) Recurso Ordinrio Constitucional; c) Agravo retido; d) Agravo de instrumento do art. 525; No cometam essa barbaridade!!! OBS.: No cabe REsp ou RE na rescisria por ofensa a literal disposio de lei, para discutir a violao da lei colocada como causa de pedir dessa ao rescisria. A violao a lei um fato, e no se pode reexaminar fatos em REsp ou em RE. 10. Rescisria de rescisria: Cabe rescisria da rescisria. Essa segunda rescisria no uma renovao, repetio da primeira rescisria. Para que essa segunda rescisria caiba preciso que a parte encontre um problema no julgamento da primeira rescisria, ou seja, o julgamento da primeira rescisria violou alguma hiptese do art. 485. O objeto da segunda rescisria a deciso da primeira rescisria. Smula 400 do TST: Ao rescisria de ao rescisria. Violao de lei. Indicao dos mesmos dispositivos legais apontados na rescisria primitiva. Em se tratando de rescisria de rescisria, o vcio apontado deve nascer na deciso rescindenda, no se admitindo a rediscusso do acerto do julgamento da rescisria anterior. Assim, no se admite rescisria calcada no inciso V do art. 485 do CPC para discusso, por m aplicao dos mesmos dispositivos de lei, tidos por violados na rescisria anterior, bem como para argio de questes inerentes ao rescisria primitiva. 6. COMPETNCIA: A competncia para o julgamento das rescisrias pode ser resumida no seguinte postulado: os tribunais julgam as aes rescisrias de seus prprios julgados. COMPETNCIA DOS TJs/TRFs: sentenas de primeiro grau e decises provenientes dos prprios tribunais. COMPETNCIA DO STJ E DO STJ:compete a esses tribunais julgarem as aes rescisrias de seus prprios julgados. Se interposto recurso especial e este vier a ser CONHECIDO (muito embora possa no ser provido), contra essa deciso que se volta a ao rescisria. Portanto, a ao ser de competncia do Superior Tribunal de Justia; se o recurso extraordinrio vier a ser conhecido, a rescisria ser de competncia do STF. Vide, a respeito, Smulas 249 do STF (com a correo do erro tcnico provido) e 515. Neste caso, como no houve substituio, a competncia no do STF. RECLAMAO CONSTITUCIONAL

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Cuidado quando for estudar esse tema. Estude por livros bem atuais, porque a jurisprudncia avassaladora. 1. Generalidades uma ao autnoma de impugnao prevista na CF. Embora a doutrina repute a reclamao uma ao autnoma de impugnao, o STF reiteradamente entende que a reclamao exerccio de direito de petio. A previso da reclamao, na CF, s para STJ e no STF. Sucede que os Estados da Federao costumavam prev reclamao para o TJ, adotando o princpio da simetria. Durante muitos anos o STF entendia que a mera previso na Constituio Estadual era insuficiente para que coubesse reclamao perante o TJ. O STF entendia que havia a necessidade de lei federal para regulamentar o tema. E, como s h lei federal que regulamente a reclamao para o STJ e para o STF, s esta era possvel. A propsito a lei que cuida da reclamao para o STJ e para o STF a lei 8.038/90 (arts. 13 18) Sucede que em 2003 o STF mudou a sua jurisprudncia e passou admitir a possibilidade de reclamao para o TJ se houvesse a previso na Constituio Estadual. No Regimento Interno do TST tambm h a previso de reclamao. Entretanto, recentemente, em novembro de 2008, o STF entendeu que essa previso (reclamao em Regimento Interno) inconstitucional. A lei 8.038/90 regulamenta o procedimento da reclamao nos artigos 13 a 18. Art. 13. Para preservar a competncia do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decises, caber reclamao da parte interessada ou do Ministrio Pblico. Pargrafo nico. A reclamao, dirigida ao Presidente do Tribunal, instruda com prova documental, ser autuada e distribuda ao relator da causa principal, sempre que possvel. Art. 14. Ao despachar a reclamao, o relator: I - requisitar informaes da autoridade a quem for imputada a prtica do ato impugnado, que as prestar no prazo de 10 (dez) dias; II - ordenar, se necessrio, para evitar dano irreparvel, a suspenso do processo ou do ato impugnado. Art. 15. Qualquer interessado poder impugnar o pedido do reclamante. Art. 16. O Ministrio Pblico, nas reclamaes que no houver formulado, ter vista do processo, por 5 (cinco) dias, aps o decurso do prazo para informaes. Art. 17. Julgando procedente a reclamao, o Tribunal cassar a deciso exorbitante de seu julgado ou determinar medida adequada preservao de sua competncia.

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Art. 18. O Presidente determinar o imediato cumprimento da deciso, lavrando-se o acrdo posteriormente. A reclamao tem um procedimento muito parecido com o mandado de segurana, porque: a) exige que a parte junte a prova pr-constituda; b) exige que a parte aponte a autoridade coatora; c) exige que a parte traga ao processo o sujeito beneficirio da deciso reclamada; d) prev a possibilidade de liminar; e) a interveno do MP obrigatria. De acordo com art. 161 do Regimento Interno do STF a reclamao pode ser julgada monocraticamente se houver jurisprudncia sobre o tema no Tribunal. No cabem embargos infringentes na reclamao (smula 368 do STF). No h prazo para reclamao, pois no recurso, mas ela no pode impugnar deciso transitada em julgado (S. 734 do STF). A reclamao no pode fazer-se de rescisria. Alm da autoridade reclamada, tambm deve fazer parte da reclamao aquele que se beneficia com a deciso reclamada. At aqui vimos informaes triviais sobre reclamao, a partir de agora vamos estudar as zonas pantanosas da reclamao. 2. Hipteses tpicas A reclamao uma tpica. Significa que a reclamao s cabe em hipteses previamente determinadas. H duas hipteses tpicas de reclamao, quais sejam: a) Reclamao por usurpao de competncia: Essa hiptese muito refinada, porque muito difcil de imaginar o juiz usurpando a competncia de um Tribunal, mas h muitos exemplos: 1. A parte entra com um RESP no TJ. O Presidente do TJ nega seguimento. A parte agrava. O Presidente pega o agravo e coloca na gaveta, ou seja, no o envia para o STJ examin-lo. Assim, o no envio do agravo de instrumento para destrancar RESP conduta que usurpa a competncia do STJ, pois o Presidente do TJ tira do STJ a competncia de examinar o agravo. um caso tradicional de cabimento de reclamao. 2. Sabe-se que quando a maioria de um Tribunal suspeita quem deve julgar a causa o STF. Acontece que os Tribunais, para evitar que o STF julgue, convocam juzes de 1 instncia. Ao convocar juzes de 1. instncia o Tribunal est retirando do STF a competncia para julgar a causa. 3. Quando saiu a LACP ns passamos ter uma ao civil com eficcia erga omnes. Os promotores comearam a se valer da ACP como instrumento do controle difuso de constitucionalidade. O ru da ACP entrava com reclamao no STF dizendo que ACP como instrumento do controle difuso de constitucionalidade uma ADI

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travestida, ou seja, usurpar competncia do STF. O STF admitiu a reclamao, mas no acolheu o argumento, pois entendeu possvel ACP como instrumento de controle difuso. A inconstitucionalidade no possvel ser o pedido, mas pode ser a causa de pedir. 4. Mandado de busca e apreenso contra bens de Governador no pode ser dado por juiz de primeira instncia, mas sim pelo STJ. b) Reclamao por desrespeito autoridade da deciso do Tribunal: Exemplos: 1. STF julga RE o juiz executa o julgado de forma diferente do que fora determinado. O juiz, ao fazer isso, est desrespeitando a autoridade do STF. 2. Cabe reclamao por desobedincia a deciso que julga ADC, ADI ou ADPF. Sabe-se que essas aes tm eficcia vinculante, assim, se o STF entender que inconstitucional, no pode e um juiz ou Tribunal, no caso concreto, aplic-la. E vice-versa. Cabe reclamao, inclusive, de desrespeito a liminar. 3. Cabe reclamao por desobedincia a deciso que nega liminar na ADI. Houve uma ADI cujo pedido liminar foi negada. Ao negar a liminar no ADI, o STF entende que a lei deve continuar produzindo efeitos, posto que constitucional. Vem um juiz ou Tribunal, no caso concreto, e no aplica a lei por reput-la inconstitucional. Cabe reclamao para o STF, pois se este negou a liminar na ADI, significa que esta deve ser aplicada. 4. Cabe reclamao por desobedincia sumula vinculante. Nesse caso a reclamao no cabe s de deciso judicial, cabe tambm de ato administrativo. S que a reclamao contra ato administrativo tem uma peculiaridade, que a seguinte: a parte s pode entrar com reclamao aps o exaurimento dos recursos administrativos (art. 7 da lei 11.417/06). Mas diz a lei que se o autor demonstrar a urgncia ele poder reclamar ao Supremo. O tempo passa e as coisas continuam evoluindo. Atualmente h uma grande discusso: Cabe reclamao por desrespeito a um precedente do STF em controle difuso? Caso que se discute no STF: o STF entendeu que a lei de crimes hediondos era inconstitucional em um Habeas Corpus. Num caso concreto o juiz aplicou a lei julgando-a constitucional. A parte entrou com uma reclamao contra essa deciso. Esse julgamento est 2x2. Para Didier cabe reclamao nesse caso e acha que a tendncia para que caiba, pois a evoluo da reclamao muito ntida. Analisemos um caso fictcio: Lei do Estado de SP que o STF entendeu em ADI era inconstitucional por ferir competncia federal. Imaginem que o Estado da BA tem uma lei absolutamente idntica e um juiz da BA a aplica julgando constitucional. Pergunta-se: Cabe Reclamao? Sim, o STF j admitiu essa Reclamao, porque a fundamentao da ADI tem que se aplica a outras leis semelhantes. Esse fenmeno chamado pelos constitucionalistas de teoria da transcendncia dos motivos determinantes. Para os processualistas, transcendncia dos motivos determinantes um 24

jeito barroco de se explicar isso, na verdade o que o STF disse foi que a ratio decidendi do julgamento da ADI tem eficcia vinculante para outras situaes semelhantes (Recl. 4987 Info 458). REMESSA NECESSRIA OU REEXAME NECESSRIO Algumas sentenas devem submeter-se ao reexame pelo Tribunal, independentemente de recurso das partes. A lei no se contenta com apenas uma deciso, exigindo que haja novo julgamento. A doutrina defende que no recurso. Prevalece que, para se configurar recurso, deve haver manifestao voluntria das partes em recorrer. Da, no se usa mais a expresso recurso de ofcio. No obstante no ser recurso, o fato que a remessa necessria julgada como se fosse um recurso. Smula 45 do STJ: No reexame necessrio, defeso, ao Tribunal, agravar a condenao imposta Fazenda Pblica. Aplica-se ao reexame necessrio o princpio da proibio da reformatio in pejus, tpico da teoria geral dos recursos. O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcana o reexame necessrio. Art. 557. O relator negar seguimento a recurso manifestamente inadmissvel, improcedente, prejudicado ou em confronto com smula ou com jurisprudncia dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. NATUREZA JURDICA: uma condio legal de eficcia da sentena. Art. 475. Est sujeita ao duplo grau de jurisdio, no produzindo efeito seno depois de confirmada pelo tribunal, a sentena: Questo nova refere-se acerca das sentenas parciais, que tambm poderiam ser objeto de reexame necessrio. I - proferida contra a Unio, o Estado, o Distrito Federal, o Municpio, e as respectivas autarquias e fundaes de direito pblico; Deve ser sentena contra o Poder Pblico de MRITO. Sentena terminativa no se submete ao reexame. Esse reexame inclui, inclusive, o captulo referente a honorrios advocatcios. Vide smula 325 do STJ.

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Smula 352 do STJ: A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas da condenao suportadas pela Fazenda Pblica, inclusive dos honorrios de advogado. II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos execuo de dvida ativa da Fazenda Pblica (art. 585, VI). Trata de execuo fiscal, embargada pelo contribuinte. Os embargos so julgados procedentes, fazendo-se necessrio o reexame necessrio. No se cuida de sentena contra o Poder Pblico? J no cairia na hiptese do inciso I? No seria desnecessrio? Existiria, segundo o STJ, para justificar execuo contra o Poder Pblico. Se o Poder Pblico embargar e forem julgados improcedentes, no h reexame necessrio. S cabe reexame necessrio na hiptese do inciso II. S h reexame nos embargos julgados procedentes DO CONTRIBUINTE. 1o Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenar a remessa dos autos ao tribunal, haja ou no apelao; no o fazendo, dever o presidente do tribunal avoc-los. 2o No se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenao, ou o direito controvertido, for de valor certo no excedente a 60 (sessenta) salrios mnimos, bem como no caso de procedncia dos embargos do devedor na execuo de dvida ativa do mesmo valor. 3o Tambm no se aplica o disposto neste artigo quando a sentena estiver fundada em jurisprudncia do plenrio do Supremo Tribunal Federal ou em smula deste Tribunal ou do tribunal superior competente. Cuida-se de dispensa objetiva, no em razo do valor. Alm dessas trs hipteses de dispensa previstas no artigo 475, o artigo 12 MP 2180-35 traz mais uma hiptese. Art. 12. No esto sujeitas ao duplo grau de jurisdio obrigatrio as sentenas proferidas contra a Unio, suas autarquias e fundaes pblicas, quando a respeito da controvrsia o Advogado-Geral da Unio ou outro rgo administrativo competente houver editado smula ou instruo normativa determinando a no-interposio de recurso voluntrio. Ao dispensar o recurso, dispensa-se tambm o reexame. OBS.: TODA SENTENA CONCESSIVA DE MANDADO SEGURANA SUBMETE-SE AO REEXAME NECESSRIO. DE

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Reexame necessrio em ao popular (artigo 19 da lei 4.717/65). A sentena a favor do Poder Pblico se submeter ao reexame necessrio. Art. 19. A sentena que concluir pela carncia ou pela improcedncia da ao est sujeita ao duplo grau de jurisdio, no produzindo efeito seno depois de confirmada pelo tribunal; da que julgar a ao procedente caber apelao, com efeito suspensivo. H reexame necessrio em ao civil pblica? A lei silencia-se. H dois regimes que poderiam ser utilizados, o do CPC e o da ao popular. Ambos os regimes podem ser aplicados. No toda sentena em ao civil pblica que tem reexame. Exemplo: pode haver ao civil pblica contra uma empresa privada, que foi julgada procedente. A questo polmica. AO MONITRIA I CONSIDERAES INICIAIS: Um credor diante de um devedor pode: a) ter um ttulo executivo exigvel; b) pode no ter prova nenhuma; c) pode ter prova escrita que no ttulo executivo. Se ele tem o ttulo executivo exigvel cabe execuo. Se ele no tem nada cabe ao ordinria comum. Se ele tem uma prova escrita que no ttulo executivo ele pode se valer da ao monitria. Assim, a ao monitria uma ao que se vale um credor numa situao intermediria. Ela um procedimento especial que visa acelerar a produo de um ttulo executivo. S pode ser utilizada por quem tem prova escrita, sem fora de ttulo executivo. Ela um exemplo do que se chama tutela da evidncia, ou seja, o legislador prestigia, com tratamento diferenciado, s situaes em que o direito se revela com mais evidncia. No qualquer crdito que pode ser cobrado por ao monitria. S se pode cobrar por ao monitria: soma em dinheiro, coisa fungvel ou bem mvel determinado. A grande questo saber qual prova escrita que no ttulo executivo que tem o condo de ser objeto de ao monitria. Essa prova pode ser um conjunto probatrio, mas ela tem que revelar a obrigao e o quantum da obrigao. Exemplos: a) Cheque prescrito no ttulo executivo, mas prova escrita, ento cabe monitria (Smula 299 do STJ); b) Contrato de abertura de conta-corrente com demonstrativo do dbito (smulas 233 e 247 do STJ); II - PROCEDIMENTO Proposta a monitria o juiz pode entender que: 27

a) A prova escrita no foi suficiente para a instaurao da monitria. Nesse caso ou o juiz indefere a petio inicial ou o juiz recebe a monitria como ao ordinria de cobrana (o que o mais correto). b) A prova escrita suficiente para a monitria. Nesse caso o juiz vai proferir uma deciso monitria em que ele reconhece que a prova escrita suficiente e manda o ru pagar a obrigao. Expedese o mandado monitrio. Essa deciso monitria uma deciso interlocutria que no tem fora executiva. No tem fora executiva porque pague sob pena de nada, na verdade s pague. Ela s convoca o ru para pagar em 15 dias. Exatamente por no ter fora executiva ela irrecorrvel, por falta de necessidade ou interesse do ru recorrer dessa deciso, pois basta que o ru se defenda. A defesa do ru j impede que a deciso monitria produza qualquer efeito. A defesa do ru na monitria se chama embargos monitrios. Esses embargos tm natureza de defesa, so autuados nos mesmos autos, no h custas e com os embargos o procedimento vira ordinrio. A a monitria deixa de ter qualquer peculiaridade. Com a defesa, o procedimento torna-se ORDINRIO. Cabe reconveno em ao monitria (Smula 292 do STJ). A citao em monitria pode ser pode edital (Smula 282 do STJ). Se o ru pagar a obrigao ele fica isento de custas e honorrios advocatcios, o que um estmulo ao pagamento. Por isso que se diz que a deciso monitria se vale de um meio de execuo indireta por recompensa. Ao invs de ser: faa sob pena de (execuo indireta por punio) e faa que voc tem um desconto (execuo indireta por recompensa). Se o ru quedar-se inerte, ou seja, nem pagar e nem embargar, ele revel. E a revelia na ao monitria tem uma conseqncia drstica, qual seja: a deciso monitria se torna definitiva. E, exatamente por conta disso, que h quem controverta sobre a natureza da deciso na ao monitria. Para Didier deciso interlocutria, mas tem doutrina que diz que uma sentena sob condio, ou seja, seria uma sentena sob condio do ru no se defender, porque se o ru se defender no adiantou nada a deciso. A cognio na ao monitria variar conforme o comportamento do ru, ou seja, uma cognio secundum eventum defensionis. Assim, se o ru se defende a cognio vai ser ampla, mas se o ru no se defende a converso da deciso vai ser automtica. Discutiu durante um tempo se cabia ou no monitria contra a Fazenda Pblica, isso porque a monitria j manda pagar, o que no se compatibilizaria com o precatrio. Mas, essa discusso j est pacificada, isso porque basta que a Fazenda Pblica se defenda que a monitria transforma-se em ordinria.

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Smula 339 do STJ: cabvel ao monitria contra a Fazenda Pblica.

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