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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL COMPREENDERÁ A ESPIRITUALIDADE HUMANA?/ / / I N T R O D U Ç Ã O

& ESPIRITUALIDADE HUMANA

Neste dossier especial, quisemos confrontar a inteligência artificial e a espiritualidade hu-mana por considerarmos que é uma matéria onde apesar de haver algum consenso no que diz respeito à dimensão única da espirituali-dade humana, não podemos deixar de manter

um certo estado de alerta em relação ao caminho que está a ser percorrido nos domínios da inteligência artificial. A inte-ligência artificial pisa territórios sensíveis e tem a enorme tentação de nos imitar na nossa inefável maneira de ser.As lideranças que aplaudem vivamente a revolução digital e canalizam todos os seus esforços e energias para terem organizações moder-nas, eficazes, sem desperdício de tempo, mão-de-obra e altamente digitais, não podem deixar de investir, em simul-tâneo, nos aspetos humanizantes das suas organizações. Na verdade, serão eles que farão a diferença, que darão sentido à existência da própria liderança. Nos textos que se seguem, é cla-ra a importância de mantermos a salvo o que nos define enquan-to seres humanos, de zelarmos por esse enorme espaço de liber-dade interior onde o amor opera como aglutinador, como detonador de uma vida ética e com significado. Onde a ideia do outro é a do encontro

com o próprio eu. Eu sou também o outro. No pensamento dialógico de Martin Buber, que extensamente desenvolve na sua obra o Eu e o Tu, esta ideia de inter-subjetividade fica clara como uma condição de nascença. Uma necessi-dade de se relacionar com coisas e com pessoas. Sendo, contudo, no domínio da relação com os outros, o Tu, que o Homem se revê. O Homem revê-se nos outros e não nas coisas. Na sua relação com o mundo, conhece objetos e re-conhece pessoas. Transpondo este raciocínio para o tema da inteligência artificial poderia dizer-se que o Homem

jamais se reconheceria perante uma máquina. Pode conhecê-la, até afeiçoar-se ou acostumar-se

aos seus cuidados, mas reconhecer-se nela, jamais.

Tudo, porque nisto de ser artificial-mente inteligente não cabe o amor,

a perda, a angústia, senão como imitação de humano ou breve en-tretenimento. Nisto de ser líder é preciso saber abrir alas para que a condição humana permaneça e se desenvolva em todo o seu esplendor, preferencialmente através do outro, em sociedade.Arménio Rego, António Pinto Lei-

te, Henrique Monteiro e Sofia Costa Quintas, deixam-nos contribuições

de grande valor para que continue-mos a ter um imenso orgulho nesta

nossa espiritual condição humana.

Por: Catarina G. Barosa, diretora editorial

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Espiritualidade no trabalho é um tema escorregadio. Para evitar derrapagens: espiritualidade não é religiosidade. Ateus e agnósticos podem ser dotados, mesmo inconscientemente, de espiritualidade. Simetricamente, a empresa que, explícita

ou implicitamente, faz pressões religiosas viola a espiritualidade dos colaboradores. Respeita-se a espiritualidade quando as pessoas são tratadas com dignidade e respeito (designadamente no que concerne à vida interior – e cada um tem a sua!), realizam trabalho com significado para as suas vidas, e sentem que a organização é uma comunidade de trabalho e não uma arena. O nexo entre espiritualidade e inteligência artificial (IA) não é, pois, artificial.Tudo que é potencialmente bom (mesmo o amor!) pode ser mau se for indevidamente usado. A IA não é exceção. Máquinas superinteligentes permitem identificar tendências e tomar decisões a partir de quantidades gigantescas de dados que o humano não consegue processar. Podem ser auxiliares preciosos em decisões complexas, em diagnósticos médicos, e na medicina de precisão personalizada. Podem contribuir para melhorar o mundo – como os fundadores da OpenAI esperam. Mas são desprovidas da emoção, da intuição, da sabedoria e da sensibilidade ética que os humanos detêm (ou podem deter). Como Damásio referiu (Expresso E, 05 nov. 2017), “fazer com que criaturas tenham comportamentos é uma coisa, fazer com que criaturas tenham sentimentos é outra”.Máquinas superinteligentes podem gerar decisões

absurdas que escapam às intenções dos seus criadores – após libertar o monstro, é difícil voltar a metê-lo no frasco. Essas máquinas podem tomar decisões estúpidas, ou mesmo catastróficas. Uma app da Google classificou imagens de pessoas negras como gorilas. Erros similares ocorreram com software de equipamentos da Nikon e da HP. Software usado para avaliar o risco de reincidência em criminosos revelou-se enviesado contra negros. Cientistas da Carnegie Mellon University descobriram que as mulheres tinham menos probabilidade de receber anúncios, na Google, para posições altamente remuneradas.Erros como os descritos são, presume-se, involuntários. Mas, até serem (e nem sempre o são) descobertos, causam danos. Acresce que os humanos contêm em si o gérmen do bem e do mal. A IA pode ser instrumentalizada de modo perverso, ferindo a espiritualidade (chame-lhe dignidade, se preferir). Empresas chinesas de vários setores recolhem dados sobre o cérebro dos trabalhadores através de tecnologia imbuída nos seus bonés ou capacetes que permite captar ondas cerebrais e estados emocionais. Os dados são usados para ajustar o ritmo da produção e redesenhar os fluxos de trabalho. Segundo

Tudo que é potencialmente bom (mesmo o amor!) pode ser mau se for indevidamente usado

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E

ESPIRITUALIDADE: ARTIFICIALIDADE

OU REALISMO?

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL COMPREENDERÁ A ESPIRITUALIDADE HUMANA?/ / / C R Ó N I C A

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ARMÉNIO REGO

LEAD.Lab, Católica Porto Business School

(Private Government, Princeton University Press, 2017), redundam em sistemas de gestão “ditatoriais comunistas”.Os abusos antes referidos (especialmente problemáticos para colaboradores menos qualificados e desprovidos de poder negocial) não resultam necessariamente da perversidade intrínseca da IA – antes emergem do modo como esta é usada por humanos mais pródigos em “inteligência artificial” (como referiu Damásio) do que em inteligência emocional. O foco na dignidade humana nunca deve ser perdido de vista. Os avanços tecnológicos devem ser interpretados a essa luz. Os méritos da ciência e da tecnologia devem ser encarados com confiança vigilante e não acrítica. Como escreveu Steven Johnson em Farsighted, “o modo mais fácil de se estar errado é estar seguro de que se está certo”.

o South China Morning Post (29/04/2018), “a tecnologia está a ser alvo de uso generalizado em todo o mundo, mas a China está a usá-la numa escala sem precedentes nas fábricas, nos transportes públicos, nas empresas estatais e nas organizações militares para aumentar a competitividade da sua indústria e para manter a estabilidade social”. Sublinhe-se a expressão “para manter a estabilidade social”!A Fortune deu conta (17/02/2016) de que empresas norte--americanas estavam a usar big data (sobre compra de certos bens ou determinadas consultas médicas) facultada por empresas especializadas para prever a percentagem de colaboradoras que poderão engravidar brevemente. Embora sendo ilegal identificar as mulheres visadas, a Fortune acrescentava o risco de as empresas sucumbirem à tentação. James Hodge (Arizona State University) acrescentou: “Se um empregador antecipa que 15% das empregadas podem engravidar, mas os dados sugerem um valor próximo de 30%, é possível que não contrate mais candidatas nesse ano…”.Empresas especializadas em recrutamento e seleção prometem diagnósticos de personalidade de candidatos, baseando-se em dados sobre tom de voz, expressão facial e outros gestos. Outras empresas prometem mesmo identificar potenciais criminosos. Os fundamentos científicos são mais do que sofríveis. Mas a tecnicidade dos sistemas ilude os incautos que se deslumbram com argumentos (pseudo)científicos. Uma quantidade progressiva de empresas implementa sistemas de controlo e vigilância dos comportamentos dos empregados que, segundo Elizabeth Anderson

Os humanos contêm em si o gérmen do bem e do mal (...) a IA pode ser instrumentalizada de modo perverso, ferindo a espiritualidade (chame-lhe dignidade, se preferir)

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Já tarde na vida, a meio dos cinquenta, esbarrei com esta frase de Dietrich Bonhoeffer, o bispo luterano que morreu num campo de concentração nazi: “O centro vital da ética cristã é o amor”. Compreendi logo como esta visão era inédita e

transformadora, como fazia todo o sentido e como não me deixava espaço para perguntar se era assim ou não, mas apenas para tentar perceber como seria assim. Senti-me impelido a estudar como se aplicaria

AMOR E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL:

O ROBÔ ÉTICO

aquela visão da ética ao mundo dos negócios e da gestão empresarial e escrevi o livro O amor como critério de gestão.O tema parece estranho à inteligência artificial, mas não é. Pode um robô amar? Dito assim, sem filtro nem enquadramento, claro que não, respondemos espontaneamente. A resposta já será diferente se questionarmos se há espaço para o amor num mundo robotizado. Claro que há, o robô substitui o ser humano na execução de múltiplas tarefas, mas não se substitui ao ser humano.Mas a questão mais interessante é esta: será que a inteligência artificial pode contribuir para um mundo com mais amor, desde logo na atividade económica e empresarial? A resposta é afirmativa e o caminho para essa resposta passa por nos perguntarmos sobre qual é a essência do amor.Regresso à reflexão que fiz para escrever o meu livro. A nossa matriz cultural judaico-cristã assenta num critério de vida, ele mesmo uma definição da essência do amor: ama o outro como a ti mesmo. A essência do amor está na centralidade do outro em nós, na centralidade do outro nas nossas decisões e ações. As diversas culturas, como o islamismo ou o budismo,

[O amor] antes de ser um mero sentimento, é um critério de discernimento, é uma inteligência sobre os próprios sentimentos, uma racionalidade sobre a medida do próprio amor, de modo a que se torne pleno

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dizem o mesmo por linguagens diversas: trata o outro como gostarias de ser tratado se estivesses no lugar dele, não faças ao outro o que não gostarias que te fizessem.O amor assim entendido é o verdadeiro amor. Antes de ser um mero sentimento, é um critério de discernimento, é uma inteligência sobre os próprios sentimentos, uma racionalidade sobre a medida do próprio amor, de modo a que se torne pleno.Entendido assim, como escreveu Dietrich Bonhoeffer, o amor é o centro vital da ética, é o centro vital do dever ser humano. Tratar o outro como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar dele é independente de se gostar ou não do outro, de o desejar, de se estar apaixonado, sequer de o conhecer. É um critério, é uma inteligência sobre o amor. O amor tem, em si, um código de conduta.É aqui que a inteligência artificial pode ter um papel fascinante. Será difícil programar o amor platónico, ou o amor erótico numa máquina. Talvez mesmo seja problemático programar o amor fraternal numa máquina. Mas já não parece interdito à programação de um robô dotá-lo de um discernimento amoroso, isto é, de programar a máquina para que responda ou atue segundo o que um ser humano colocado no seu lugar, no lugar da máquina, faria se considerasse o que gostaria que fosse a sua decisão caso o destinatário dessa decisão fosse esse mesmo ser humano.O robô poderá não amar como o ser humano, mas poderá agir e interagir como se amasse plenamente: programando-o para decidir em função da centralidade do outro.Não me choca imaginar um “robô ético”. Uma máquina programada para responder ou agir segundo o critério

O robô poderá não amar como o ser humano, mas poderá agir e interagir como se amasse plenamente: programando-o para decidir em função da centralidade do outro

de um ser humano que não fará aos outros o que não gostaria que lhe fizessem. Não me choca imaginar um robô numa empresa, participando num conselho de administração, discernindo eticamente. Um robô programado para discernir em função do respeito pela dignidade humana, ou mesmo segundo um padrão médio de um homem e decisor generoso.Na minha área científica, o Direito, há milhares e milhares de páginas escritas sobre conceitos muito úteis para programar uma máquina capaz de discernir segundo um padrão de decisão inspirada pelo amor e para discernir segundo a expectativa razoável de um destinatário das nossas decisões: o bom pai de família, o homem médio, o declaratário normal colocado na posição do real declaratário, o princípio da boa-fé, por exemplo.Na área da Gestão, a moderna literatura sobre as organizações virtuosas ou sobre inteligência emocional, que se multiplicou desde o início do século, pode também dar contributos preciosos para a programação de um “robô ético”.Não é preciso o sentimento do amor para se discernir amorosamente, é preciso o critério de discernimento do amor. Sempre me ensinaram que amar é diferente de gostar e que não é preciso gostar para se amar. Mais, ensinaram-me que o mérito estava em amar aqueles de quem não gostamos. O sentimento perde relevância neste contexto, ao pensarmos o amor assim.A máquina não tem de gostar, nem de estar programada para amar sentimentalmente. A máquina tem de ter a inteligência do amor, o código de conduta do amor, a informação e o critério de discernimento do amor, e isso é possível programar.

ANTÓNIO PINTO LEITEAdvogado e sócio da Morais Leitão

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Em todos os fenómenos da nossa vida, mesmo da vida dos ateus (que são pessoas com fé profunda numa tese), a espiritualidade está presente. Mais do que a espiritualidade, há sempre uma crença que pode advir de experiências e vivências diferentes e de

ambientes culturais diversos.Crença – e eu sou crente – não significa, ao contrário do que pensa muita gente no nosso país – ser católico ou ser cristão, embora católicos e cristãos, naturalmente, façam parte do número dos crentes. Mas basta postular que existem verdades exteriores a nós e fenómenos ou conhecimentos que ultrapassam a nossa compreensão ou razão, para alguém se afirmar crente, no sentido em que crê numa verdade não demonstrável nem numa evidência empírica.Alguns, fazem-no através do chamado “salto de fé”. É o caso dos que creem numa determinada religião. Os católicos creem em fenómenos apenas atingíveis por esse “salto”. Por exemplo, a transubstanciação, ou seja, no momento da comunhão a hóstia mudar de substância e passar a ser o Corpo de Cristo. A virgindade de Maria será outro exemplo.Há, também, crentes em aspetos mais simples, mas igualmente inexplicáveis. A chamada religião natural dos enciclopedistas, o conhecimento acumulado da humanidade como transcendente a cada ser humano e ao conjunto dos seres a cada momento, as causas de reflexos, tabus e atavismos com que nascemos e servem para realizar a tarefa principal dos seres vivos, que é sobreviver e reproduzir-se, é outra ideia de transcendência que se traduz numa espiritualidade.Seja qual for o tipo de crença, com mais, menos ou nenhuma fé, ela tem sempre por base a esperança.A esperança é uma das mais misteriosas ferramentas dadas ao Homem (homem vem do latim Homo que significa ser humano; há quem confunda com Homo grego que quer dizer do mesmo género, como homólogo, homónimo ou homossexual, pelo que não me obriguem a parecer mais básico do que sou e escrever Homem e Mulher). Voltando à esperança e ao seu fabuloso significado e símbolo, basta recordar que Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, ao abrir uma Caixa (ou jarro) que lhe estava confiada com a recomendação de não a abrir, soltou todos os males do

mundo. Mas no fundo ficou a esperança, pois é ela que nos mantém vivos. O Inferno, diz a teologia católica, é a ausência de esperança; assim como Dante, na Divina Comédia, coloca o letreiro à porta do Inferno com os dizeres: ó vós que aqui entrais abandonai toda a esperança.Sem esperança não se vive. Como não se vive sem crença ou fé. A palavra fé, no étimo fides, significa crença e ainda hoje os bancos falam em sistema fiduciário, porque o negócio bancário, como o dos seguros, se baseia nessa confiança, fé ou crença… (e mais recentemente na esperança de que não lhes aconteça mais nada que tenhamos de pagar).Mas há mais duas coisas que nos traz a espiritualidade: valores éticos, por exemplo, algo que nos leva a fazer coisas contra o nosso interesse ou vontade imediata para não prejudicar outros. A ética é uma construção social natural (conhecimento acumulado da humanidade) ou, dizem os religiosos, a palavra de um deus que é ele próprio ethos, o Ser Supremo. “Eu sou aquele que sou” terá dito Deus, sob a forma de sarça ardente, a Moisés quando este lhe pergunta o nome. Seja qual for a origem desses valores éticos, estes são reconhecidamente indispensáveis à vida em comunidade.Finalmente, a perenidade, ou a eternidade. A crença numa vida futura é, por vezes, demasiadas vezes, literalmente vista como outro mundo onde nos passeamos e encontramos os antepassados, os amigos que partiram antes de nós. É, como para os gregos antigos, uma viagem sem retorno, passando o rio Aqueronte, guiados pelo barqueiro Caronte até ao reino de Hades, o deus do mundo inferior, do esquecimento. No entanto, a eternidade consubstancia-se na posteridade de cada um. Seja pelos feitos realizados (os que “se vão da lei da morte libertando”, como escreveu Camões), seja pela prole deixada. Filhos, netos, bisnetos, gerações,

EXISTIRÁ ALGO COMO INTELIGÊNCIA

ESPIRITUAL?Seja qual for o tipo de crença, com mais, menos ou nenhuma fé, ela tem sempre por base a esperança

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HENRIQUE MONTEIROJornalista e antigo diretor do Expresso

como Deus prometeu aos seus primeiros profetas e também a Ismael, filho de Abraão e da escrava Agar, que seria o antepassado de todos os muçulmanos.Não há boa liderança, do meu ponto de vista, sem estes atributos:1. Uma forte crença ou fé no que fazemos;2. Uma enorme esperança no nosso sucesso;3. Um sentido ético irrepreensível nos nossos processos;4. Um desejo claro de estar a construir algo para o futuro, algo que deixará marca e jamais morrerá.Estes atributos essenciais não cabem na muito propalada inteligência artificial. Em fevereiro, na Sociedade de Geografia, numa conferência sobre cibernética, tive a oportunidade de me debruçar sobre o tema. Na altura disse:“A inteligência artificial pode criar os algoritmos para a nossa pontuação de crédito social, ou para plataformas controladas que acabam a escolher primeiros-ministros populistas, dando a ideia de que foi uma eleição limpa. No entanto, jamais saberá coisas que, por ora, nos são exclusivas: o amor, a honra, a camaradagem, o sacrifício pelos outros, o choro, o riso, a esperança.Havemos de encontrar os mecanismos e os modos de colocar a relação homem-máquina, a relação cibernética que nos permitiu o ciberespaço em que nos movimentamos, ao serviço daquilo que a nossa inteligência natural sempre entendeu por aperfeiçoamento moral, material e espiritual

da sociedade. Numa palavra, que aliás vem dos Fundadores dos Estados Unidos da América, na busca da felicidade”.Não mudei de entendimento nos últimos três meses. A inteligência artificial ser-nos-á útil, pode ser perversa, mas não acredito que possa entender e menos substituir a essência do que somos: seres espirituais, o que segundo se pensa nos distingue de todos os outros animais. Esperemos que também das máquinas.

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A emergência da inteligência artificial coloca novas possibilidades e desafios às organizações. Estamos a começar a conviver com máquinas artificialmente inteligentes, que simulam o pensamento e são capazes de desempenhar múltiplas tarefas mais rapidamente do que os

humanos. Pensam em tempo real, aprendem com o exemplo e com a experiência, e respondem a variações no meio envolvente.A inteligência artificial e as tecnologias relacionadas têm um desempenho cada vez melhor, e não existem dúvidas que vão evoluir significativamente até 2030. Mas será que as máquinas podem ousar mais do que a dimensão instrumental da inteligência e evoluir para outros patamares de consciência? O que é que significa ser humano, quando as retóricas da globalização e dos avanços tecnológicos desafiam perceções existentes? Acredito que por muito inteligentes que os robôs sejam, dificilmente vão adquirir uma alma e um corpo emocional.O ser humano é fundamentalmente um ser com uma vida interior, animada por uma consciência e ideais. Criamos memórias e idealizamos o futuro. A consciência de sermos mortais é algo que nos define e que uma máquina não consegue imitar. Assim como o sentimento de amor acompanhado da possibilidade de perda. Somos buscadores e colecionadores de experiências, capazes de apreciar a beleza contida em cada instante. Somos capazes de chorar perante uma obra de arte. Em tudo isso está alojado o coração da nossa humanidade.As mentes e as emoções humanas, devido à sua natureza social, são demasiado complexas para serem replicadas pelas máquinas. Embora estas já consigam ler emoções com precisão, não buscam a conexão profunda e a intimidade.A intimidade não pode ser fabricada. Dimensões como a

vulnerabilidade e a intimidade estão, por enquanto, fora do alcance da inteligência artificial.As máquinas não conseguem irradiar paixão ou mostrar empatia, pois não têm imaginação. Podemos criar inteligência artificial que imita a empatia, mas falta-lhe a energia gerada pela conexão humana. Uma coisa é uma máquina fingir que é um humano, outra é ter consciência de que é uma máquina.A espiritualidade é uma experiência interior subjetiva que nos impulsiona a procurar perceber o significado do que nos rodeia, num processo orgânico de atualização permanente, que resulta da dança entre individualidade e espírito. Um dos fatores que nos distingue enquanto seres humanos, é a capacidade de entendimento. O entendimento não é algo mecânico. É a consciência da experiência vivida, que se traduz em sabedoria. A sabedoria, por sua vez, está vários patamares acima do conhecimento. Nós, seres humanos, podemos estar a dizer as mesmas coisas (informação e conhecimento) mas a dar-lhes um significado diferente pelo entendimento que fazemos da realidade, o qual pode assumir formas múltiplas e inesperadas. Por exemplo, os humanos usam a imaginação para construir o futuro, socorrendo-se da inteligência moral, da emoção e do instinto.No plano empresarial, a inteligência artificial está a mudar a forma como as empresas operam e a forçar um processo de agilização e descentralização, o que por si só coloca desafios tremendos à liderança.Há medida que os humanos e as máquinas colaboram cada vez mais de perto, os processos de trabalho vão-se tornando mais fluidos e adaptativos. Algumas qualidades de liderança valorizadas no passado, como a expertise, a autoridade e o processamento da informação com tradução em regras e processos rígidos, estão a perder relevância face ao surgimento da inteligência artificial.A nova ordem, por natureza paradoxal e ambígua, pede que as regras em excesso sejam substituídas pelos valores da agilidade e pela liberdade com responsabilidade, que está intimamente ligada ao crescimento espiritual. Um desafio, se pensarmos que ao longo dos últimos anos as palavras chave foram “eficiência” e “certeza”. Grande parte dos desenhos organizacionais foram concebidos para funcionar como máquinas destinadas a minimizar a incerteza, um campo onde a inteligência artificial nos ultrapassa. A criatividade e o questionamento foram praticamente eliminados do desenvolvimento profissional, e gradualmente fomo-nos mecanizando e desligando da nossa humanidade.Precisamos agora de evoluir para organizações mais orgânicas,

O QUE SIGNIFICA SER HUMANO?

A consciência de sermos mortais é algo que nos define e que uma máquina não consegue imitar (...) assim como o sentimento de amor acompanhado da possibilidade de perda

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que espelham a natureza humana, capazes de responder rapidamente a desafios complexos e ambíguos. Afinal, ser humano é o que pode assegurar a resiliência na era da inteligência artificial. Precisamos, por isso, de líderes humanos, que acolham a vulnerabilidade e promovam a criatividade, a conexão e a proximidade.Em primeiro lugar, é urgente investir na cultura do “propósito”, assente na razão de ser do negócio. Este desejo de olhar ao redor e pensar onde podemos fazer a diferença não pode ser replicado pelas máquinas. Em segundo lugar, é necessário reorganizar estruturas e processos em torno do elemento humano.É igualmente crítico investir nas qualidades humanas que sustentam uma organização orgânica, tais como o questionamento e a criatividade. Em simultâneo, é necessário desenvolver qualidades de carácter como a resiliência, a curiosidade, a imaginação, a intuição, a humildade e a vulnerabilidade.Talvez não seja por acaso que o crescimento da inteligência artificial acontece em paralelo com a popularidade de práticas como o mindfulness e a inteligência espiritual. E esta tendência é algo que tenho vindo a constatar nos inúmeros programas e retiros que tenho conduzido em empresas dos mais variados setores, nomeadamente Ceiia, Accenture, Ageas, Vieira de Almeida e muitas outras. São programas que trabalham estas dimensões e competências, integrando conceitos de gestão com conhecimentos de neurociência, de sabedoria filosófica e do mundo das artes, pois acreditamos que os artistas têm já desenvolvidas muitas das competências que os líderes têm de aprender.O sucesso na criação da inteligência artificial pode ser o maior evento da história humana. Infelizmente, também pode ser o último. Já temos máquinas que tomam conta de crianças, que

recrutam pessoas, combatem em missões perigosas de guerra, conduzem sozinhas e até um robô que tem cidadania. A questão não é o que vai acontecer, mas sim o que vamos escolher fazer com estes avanços tecnológicos.Vamos escolher estandardizar e eliminar a serendipidade e a ambiguidade das nossas interações, ignorando que a ambiguidade e a complexidade são a essência de ser humano? Vamos alterar os nossos sistemas económicos priorizando o elemento humano, ou tornar o elemento humano irrelevante perante a inteligência artificial, favorecendo a eficiência? Utopia ou realidade, os clássicos da ficção científica foram-nos deixando alguns alertas.Nas palavras da diretora executiva da Meeco, “as experiências da vida são moldadas pelos nossos valores e ética, portanto, é fundamental que saibamos regular a inteligência artificial com base nos nossos valores pessoais e fazer valer os preceitos éticos que reforcem a nossa humanidade”.Entusiasma-me constatar que alguns dos nossos clientes promovem estes debates na equipa e contratam filósofos e antropólogos para as suas equipas de gestão.Existe um limite ao progresso que pode ser alcançado pelo perfecionismo das técnicas científicas, desligado dos objetivos espirituais e dos valores morais. Se formos movidos pelos valores incorretos, arriscamos ficar prisioneiros de processos eficientes, desenhados pelas próprias máquinas de inteligência artificial e privados de relações sociais autênticas. Seremos pós-humanos que habitam um universo de psicopatas.Precisamos de líderes com uma consciência cultural e ética, que fazem uso do compasso moral para lidar com dilemas éticos e morais. Pelo menos, o interesse crescente no método e no tema deixa-me otimista quanto ao futuro da humanidade.

A criatividade e o questionamento foram praticamente eliminados do desenvolvimento profissional, e gradualmente fomo-nos mecanizando e desligando da nossa humanidade

SOFIA COSTA QUINTASExecutive director na Egor Alchemy

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Amor no local de trabalho? À primeira vista, pode parecer um oxímoro. “Amor”, neste caso, refere-se não ao amor romântico, mas ao amor companheiro – o “afeto que sentimos por aqueles com quem as nossas vidas estão profundamente entrelaçadas”. Em vez de

paixão, esse tipo de amor é baseado no calor e na conexão; é compaixão, afeição, carinho e ternura pelos outros. Compaixão e carinho são valores importantes para muitas organizações, particularmente para os clientes. O que é diferente em organizações com uma forte cultura emocional de amor, de companheirismo, é que carinho e compaixão (juntamente com afeição e ternura) são expressas pelos funcionários uns em relação aos outros, muitas vezes a portas fechadas: nos escritórios, nas salas de descanso, nos petiscos e happy hours – noutras palavras, em lugares onde investidores, clientes ou consumidores raramente veem as suas interações. É semelhante ao amor que sentimos pela família e amigos próximos. Na verdade, os funcionários de muitas organizações que pesquiso, usam o termo “família” para descrever a proximidade dos seus relacionamentos com os colegas.Enquanto algumas pessoas podem achar que as relações de trabalho não são profundas o suficiente para serem chamadas de “amor”, a história da gestão nos Estados

AMOR NO LOCALDE TRABALHO

Unidos e na Europa é rica em evidências de que o amor é fundamental para o relacionamento dos funcionários no trabalho. O meu próprio trabalho sobre amor no local de trabalho começou com o meu colega da Wharton, Sigal Barsade, e com um CEO visionário num centro de saúde no nordeste dos Estados Unidos. Numa indústria que sofria com grandes mudanças institucionais, crises financeiras e altas taxas de rotatividade e desgaste entre os funcionários, a organização estava a ir bem, mas o seu CEO queria saber como poderiam ter um desempenho ainda melhor. Descobrimos que a característica mais importante e determinante das unidades de alto desempenho era o amor, especificamente, o carinho, o afeto, o cuidado,

Quanto mais as empresas entendem sobre o impacto do amor no trabalho, mais elas se aproximam, não apenas da sobrevivência, mas também da prosperidade

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Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Trimestral

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 32

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Corte: 13 de 15ID: 81092714 30-06-2019A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL COMPREENDERÁ A ESPIRITUALIDADE HUMANA?/ / / C R Ó N I C A

a compaixão e a ternura expressos pelos membros da equipa de uma unidade em relação à outra. Unidades hospitalares com culturas de amor mais fortes entre os funcionários mostraram maior satisfação do pessoal, menor desgaste, melhor trabalho em equipa e menor absenteísmo. Os pacientes relataram melhor humor com maior qualidade de vida e as famílias dos pacientes (por exemplo, clientes) disseram que seriam mais propensos a recomendar a instituição a outras pessoas.Para alguns líderes que preferem concentrar-se em factos “objetivos”, o amor pode parecer uma emoção excessivamente sentimental que poderia obscurecer o pensamento de negócios “racional” ou criar injustiça quando a compaixão pelas dificuldades de uma pessoa significa que recursos (por exemplo, tempo fora do trabalho) são distribuídos desigualmente. No entanto, a minha pesquisa revela que o amor é benéfico mesmo em ambientes de trabalho competitivos e orientados para resultados, como uma empresa de tecnologia de Silicon Valley que estudei durante vários anos. Apesar da intensa pressão dessa empresa global, de capital aberto, muitos engenheiros tinham fortes e estreitos relacionamentos uns com os outros, alguns dos quais permaneciam desde os anos 80. O afeto que esses homens e mulheres desenvolveram para o outro lado, naquela época, permaneceu com eles ao longo das décadas e ajudou-os a apoiarem-se mutuamente e a manter a confiança, mesmo quando as pessoas se afastaram umas das outras e a empresa expandiu o seu alcance global. Além do suporte e da confiança experienciados pela gerência, as equipas multifuncionais distribuídas pela Ásia e pelos EUA foram mais recetivas às necessidades de cada um e obtiveram melhores resultados quando as equipas tinham culturas de amor mais fortes.Em cada organização, dezenas de emoções são sentidas e expressas pelos funcionários, algumas delas bastante negativas. Numa apresentação em 2016 para executivos de RH da Fortune 500 e profissionais de bem-estar, uma emoção em particular atingiu as mentes do público: ansiedade. Um estudo de pesquisa em curso com os meus colaboradores Sigal Barsade e Francesco Sguera (CATÓLICA-LISBON) descobriu que uma maneira de lidar com uma cultura emocional ansiosa é cultivar o amor de companheirismo. O amor companheiro, descobrimos, pode ser um amortecedor efetivo de emoções negativas como a ansiedade. O carinho, afeição, compaixão e ternura atenuaram os efeitos da ansiedade, não apenas na satisfação no trabalho e no desgaste, mas também nos custos do departamento. Noutras palavras, o amor de companheirismo pode até mesmo ter um impacto positivo no resultado financeiro.

OLIVIA (MANDY) O’NEILLAssociate professor of managementna George Mason University School of Business

Quanto mais as empresas entendem sobre o impacto do amor no trabalho, mais elas se aproximam, não apenas da sobrevivência, mas também da prosperidade.E como podemos nós (por exemplo, líderes de topo, gestores de nível médio, profissionais de RH ou colaboradores individuais) cultivar intencionalmente o amor em culturas organizacionais? Os supervisores têm um impacto desproporcional sobre as emoções de outras pessoas por meio do contágio emocional, mas até mesmo colaboradores individuais também podem influenciar a cultura emocional, através de gestos atenciosos e cuidadosos que ajudam a cultivar uma cultura de amor. Comportamentos pequenos e simples, como olhar por cima do computador quando alguém entra no seu escritório ou dizer “Como está?” de uma forma genuína, podem demonstrar que se importa. Os RH desempenham um papel importante também. Ao contratar novos funcionários, é importante considerar a influência que um candidato pode ter na cultura da organização. Em suma, para ajudar uma empresa a criar e manter o amor no trabalho, a cultura emocional deve ser gerida por funcionários de todos os níveis, de forma objetiva e ponderada.

Para ajudar uma empresa a criar e manter o amor no trabalho, a cultura emocional deve ser gerida por funcionários de todos os níveis, de forma objetiva e ponderada

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Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Trimestral

Âmbito: Economia, Negócios e.

Pág: 4

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Área: 6,49 x 12,04 cm²

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18Tema de capaA inteligência artificial compreenderá a espiritualidade humana?

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