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LOBOS CEREBRAIS Trabalho realizado por : Denisa Herteg Nº9 Rita Moreno Nº 15 Agrupamento de Escolas Nº1 de Santiago do Cacém Escola Secundária Manuel Ano Letivo 2015/2016 Disciplina de Psicologia B Docente: 12ºC Curso de Ciências Socioeconómicas O lobo frontal e o córtex pré- frontal

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TRABALHO PSICOLOGIA B -12ºANOLobos Frontais e a área pré-frontal

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Page 1: Trabalho Psicologia LOBOS CEREBRAIS

LOBOS CEREBRAIS

Trabalho realizado por : Denisa Herteg Nº9 Rita Moreno Nº 15

Agrupamento de Escolas Nº1 de Santiago do Cacém Escola Secundária Manuel da Fonseca

Ano Letivo 2015/2016

Disciplina de Psicologia B

Docente: Isabel Mimoso

12ºC Curso de Ciências Socioeconómicas

O lobo frontal e o córtex pré-frontal

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Índice

1.Introdução 32.Hemisférios Cerebrais 4

3.Areas corticais específicas (lobos cerebrais) 6

4.Lobos Frontais 8

5.Papel das áreas pré-frontais 9

6.Lesões no Lobo Frontal e seus efeitos10

6.1.Caso de Phineas Gage 12

6.2.Caso Elliot 15

7.O erro de Descartes 19

8.Conclusão 24

9.Biografia 26

10.Webgrafia 27

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Introdução

Este trabalho é resultado de uma pesquisa intensiva iniciada a meio do 1ºperiodo, no âmbito da disciplina de Psicologia B.

Tendo sido o tema - as áreas corticais específicas (lobos cerebrais), mais concretamente os lobos frontais e as áreas pré-frontais - o tema que escolhemos, de entre os diversos disponibilizados pela professora, para abordar no mesmo. Uma vez que, à primeira vista, ao contrário dos restantes, este foi o que suscitou mas interesse.

O trabalho encontra-se organizado em seis partes. Tendo como objetivos: abordar muito resumidamente em que consistem e como funcionam os hemisférios cerebrais e os três lobos (parietal, occipital e temporal) que constituem cada hemisfério, não contando com os lobos frontais. Dado que outro dos objetivos, é apresentar e explicar aprofundadamente o papel das áreas pré-frontais e as características e funções dos lobos frontais, bem como as lesões e seus efeitos. Sendo que, para tal iremos referir casos específicos de pessoas que sofreram lesões a nível cerebral, como os casos de Phineas Gage e o de Elliot, estudados ambos pelos investigadores portugueses António e Hanna Damásio. Por fim, iremos também apresentar a opinião de Damásio, relativamente à teoria do filósofo René Descartes.

A nível metodológico utilizamos alguma da informação disponível na Internet sobre este tema, o manual adaptado, bem como outros manuais escolares e livros.

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2.Hemisférios Cerebrais

Tal como o de todos os mamíferos, o cérebro do ser humano encontra-se dividido em dois hemisférios, quase simétricos: o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo.

Tando estes, separados por uma fissura longitudinal e ligados pelo corpo caloso: estrutura composta por fibras nervosas brancas (axônios envolvidos em mielina) responsável por fazer a “ponte” para a troca de informações entre as muitas áreas do córtex cerebral. O córtex cerebral é a camada cinzenta com cerca de três a quatro milímetros de espessura, que cobre os hemisférios cerebrais e onde residem as capacidades superiores dos seres humanos.

Ambos os hemisférios possuem um córtex motor, que controla e coordena a motricidade voluntária. Cada hemisfério é responsável pelo controlo sensorial e motor do lado oposto do corpo, ou seja, o córtex motor do hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo do indivíduo, enquanto o do hemisfério esquerdo controla o lado direito.

Contudo, apesar dos hemisférios serem muito semelhantes, os seus sistemas de processamento da informação são distintos, pois cada hemisfério está predominantemente associado a um determinado conjunto de funções.

Sendo o hemisfério esquerdo especializado em simbologia e lógica, ocupando-se do pensamento analítico (separa as ideias), linear (um passo a seguir ao outro) e verbal (escrito e falado),ou seja é responsável pelo pensamento lógico, pela linguagem verbal, pelo discurso, pelo cálculo e pela memória.

Já o hemisfério direito é responsável pela organização das perceções espaciais e encarrega-se do pensamento sintético (associa as ideias), holístico (encontra as relações nu

m só passo, intuitivamente) e imagístico

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(rege-se por imagens),ou seja controla a formação de imagens, as relações espaciais, a perceção das formas, das cores, das tonalidades afetivas e o pensamento concreto. Associando-se geralmente a imaginação e a arte à atividade deste hemisfério.

No entanto, apesar das diferenças constatadas, os estudos revelam que tando o hemisfério direito como o hemisfério esquerdo trabalham coordenadamente, desempenhando papéis complementares. Esta sintonia funcional deve-se, em parte, ao corpo caloso que liga os dois hemisférios e que unifica o estado de consciência e de atenção, permitindo que ambos partilhem a responsabilidade em funções complexas como, por exemplo, a aprendizagem e a memória.

Por exemplo, é graças ao funcionamento integrado dos dois hemisférios que atribuímos significado a uma expressão verbal, a uma conversa. Pois, quando desenvolvemos um diálogo, é o hemisfério esquerdo que permite a produção do discurso, mas é o direito que dá a entoação ao que se diz.

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3.As áreas corticais específicas (Lobos cerebrais)

Além da fissura central que divide o cérebro em dois hemisférios, existem outros enrugamentos ou circunvoluções que nos permitem subdividir cada um dos hemisférios em quatro regiões, ou seja, em quatro lobos cerebrais: o lobo occipital, o lobo temporal, o lobo parietal e o lobo frontal, tendo cada um funções específicas, atuando de forma coordenada e complementar.

Em termos gerais, podemos dizer que:

O lobo occipital é responsável pelo processamento de estímulos visuais e está situado na parte inferior do cérebro;

O lobo temporal é responsável pelo processamento de estímulos auditivos e pela compreensão do discurso e situa-se na zona por cima das orelhas;

O lobo parietal é responsável pelo processamento das sensações provenientes das diferentes partes do nosso corpo e está localizado na parte superior do cérebro;

O lobo frontal é responsável pela coordenação motora, pelo pensamento abstrato e pelas nossas capacidades de cálculo, planeamento e produção de discurso e encontra-se na parte da frente do cérebro (testa), correspondendo a cerca de 1/3 do volume total do cérebro.

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Os lobos apresentam algumas semelhanças entre si no que diz respeito à sua organização funcional. Em cada lobo cerebral existem dois tipos de áreas: áreas primárias e áreas secundárias.

As áreas motoras primárias ou de projeção são centros veiculados da informação: permitem receber e enviar a informação. Uma lesão na área primária fará com que, por exemplo, o som não seja transmitido para ser decifrado ou, consoante a lesão, que não se traduza numa reação orgânica ao som. A pessoa sofrerá de surdez cerebral.

As áreas motoras secundárias ou de associação são centros que coordenam, integram – assimilam e processam- a informação. Usando o exemplo anterior, uma lesão na área secundária fará com que, ao som, não seja dado qualquer significado: agnosia auditiva.

O nosso trabalho apenas abordara de uma forma mais pormenorizada o lobo frontal e as áreas pré-frontais.

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Imagem ilustrativa da localização dos lobos cerebrais em 4 perspetivas

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4.Lobos Frontais

Os lobos frontais localizam-se na parte da frente do cérebro (testa) e são responsáveis pelas atividades cognitivas que requerem concentração, pelos comportamentos de antecipação, pela planificação de atividades, pensamento abstrato, memória de trabalho e pelo raciocínio complexo, intervindo também na regulação das emoções.

A área motora primária do lobo cerebral frontal corresponde ao movimento do corpo, ou seja, esta área controla os movimentos finos, como, por exemplo, mover um dedo de cada vez, e corresponde ao córtex motor.

A área motora secundária deste lobo é responsável pela execução ordenada, sequenciada e coordenada de movimentos.

O lobo frontal é constituído pelo córtex motor, córtex pré-motor e pelo córtex pré-frontal. Lesões nesta região fazem com que o indivíduo fique preso obstinadamente a estratégias que não funcionam ou que não consigam desenvolver uma sequência de ações corretas.

O córtex motor é responsável pelos movimentos da responsabilidade dos músculos, ou seja, controla e coordena a motricidade voluntária. Por trás do córtex motor, fica situada a área motora da linguagem, também conhecida como área de Broca, responsável pela linguagem falada e pela produção do discurso. Esta relaciona-se com a área de Wernicke: área onde a forma e as palavras adequadas são selecionadas e depois passadas para a área de Broca, traduzindo-as em sons que serão transformados em movimentos adequados a produzir o discurso.

Ou seja, a área de Wernicke é a zona onde convergem os lobos occipital, temporal e parietal - desempenhando um papel muito importante na produção do discurso - pois, permite-nos compreender o que os outros dizem e que nos faculta a possibilidades de organizarmos as palavras em frases sintaticamente corretas.

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A aprendizagem motora e os movimentos de precisão são executados pelo córtex pré-motor, que fica mais ativo do que o restante do cérebro quando se imagina um movimento sem executá-lo. Lesões nesta área não chegam a comprometer a ponto do indivíduo sofrer uma paralisia ou problemas para planejar ou agir, no entanto a velocidade de movimentos automáticos, como a fala e os gestos, é perturbada.

A atividade no lobo frontal de um indivíduo aumenta somente quando este se depara com uma tarefa difícil em que ele terá que descobrir uma sequência de ações que minimize o número de manipulações necessárias para resolvê-la. A decisão de quais sequências de movimento ativar e em que ordem, além de avaliar o resultado, é feito pelo córtex-frontal, localizado na parte da frente do lobo frontal. As suas funções incluem o pensamento abstrato e criativo, a fluência do pensamento e da linguagem, respostas afetivas e a capacidade para ligações emocionais, o julgamento social, a vontade e a determinação para ação e a atenção seletiva.

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Imagem ilustrativa da localização da área de Broca, área de Wernicke

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5.Papel das áreas pré-frontais

A área pré-frontal, também designada por córtex pré-frontal é uma região do cérebro que apresenta o período de desenvolvimento mais prolongado, após o nascimento, em relação a qualquer outra parte do cérebro, situando-se na secção anterior do lobo frontal. Trata-se de uma estrutura recente de ponto de vista evolutivo, com particular desenvolvimento no ser humano, ocupando mais de 40% do córtex humano.

Esta área é responsável pelas principais funções intelectuais superiores, que distinguem a espécie humana de todas as outras espécies.

As áreas pré-frontais estabelecem relações com as mais diversas áreas do cérebro, unificando as suas atividades e controlando grande parte das nossas capacidades intelectuais, como por exemplo a nossa capacidade de reflexão, atenção, imaginação, planificação, previsão, deliberação e decisão. É do correto funcionamento desta área que dependem o pensamento abstrato, a imaginação, a consciência refletiva, a capacidade de tomar decisões e prever as suas consequências, de construir e utilizar sistemas simbólicos, designadamente a linguagem e outros códigos facilitadores de comunicação. Para além de assegurarem as funções que descrevemos, as áreas pré-frontais envolvem complexas relações com as emoções. Os casos de Phineas Gage e de Elliot, casos que abordaremos mais a frente, são exemplos significativos do papel complexo que as áreas pré-frontais desempenham no comportamento humano.

Cabe ainda à área pré-frontal, o papel de conservar a nossa identidade, permitindo-nos uma estabilidade em termos de personalidade, bem como a possibilidade de organizar e fazer funcionar instituições, elaborar leis, estabelecer formas equilibras de relacionamento entre as pessoas e os grupos, compreender e interiorizar padrões éticos, essenciais para o controlo dos comportamentos necessários à vida em sociedade.

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Todo o progresso e o conforto material e espiritual da humanidade deve-se à intervenção desta área. É graças à sua atividade que os seres humanos se têm dedicado à especulação abstrata e, consequentemente, têm podido dar corpo a obras-primas a nível da literatura e da arte e fazer magnificas descobertas a nível da ciência e da técnica.

6.Lesões no Lobo Frontal e seus efeitos

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Ilustração da localização dos quatro lobos cerebrais a do córtex pré-frontal

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Os lobos frontais são considerados como o nosso centro de controlo emocional e lar da nossa personalidade. Não existe outra parte do cérebro na qual as lesões possam causar sintomas tão variados. Os lobos frontais são extremamente vulneráveis à ferimentos devido à sua localização na parte frontal do crânio, à sua proximidade com asa do osso esfenoide e ao seu grande tamanho.

Um fenómeno interessante causado por danos no lobo frontal é o seu efeito insignificante em testes de QI (Quociente de inteligência) tradicionais. Pesquisadores acreditam que isto ocorre pois os típicos testes de QI testam o pensamento convergente, ao invés do pensamento divergente. Danos no lobo frontal parecem ter um impacto no pensamento divergente, ou na flexibilidade e na habilidade de resolver problemas. Existem evidências que apontam interferências persistentes na atenção e na memória mesmo depois de uma boa recuperação de um dano traumático ao cérebro.

A “espontaneidade comportamental” é outra área do lobo frontal associada a danos frontais em que os investigadores descobriram que os indivíduos com danos nesta área exibiam uma menor quantidade de movimentos faciais espontâneos, falavam menos palavras (lesões no lobo esquerdo) ou falavam excessivamente (lesões no lobo direito).

Uma das características mais comuns de uma lesão no lobo frontal é a dificuldade para interpretar respostas ambientais. Perseveração em uma resposta, comportamentos de risco, insubordinação à regras e perdas na aprendizagem associativa (pelo uso de pistas externas para ajudar a guiar o comportamento) são alguns poucos exemplos deste tipo de défice.

A personalidade de um indivíduo pode sofrer mudanças significantes depois de uma lesão nos lobos frontais, especialmente quando ambos os lobos estão envolvidos. Existem algumas diferenças no lobo esquerdo em relação ao lobo direito nestas áreas.

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O comportamento sexual também pode ser afetado por lesões frontais. Danos órbito-frontais podem desencadear um comportamento sexual anormal, enquanto danos dorso-laterais podem reduzir o interesse sexual.

Tanto o córtex motor primário, como o córtex motor secundário (pré-frontal e a área de broca), constituintes do lobo frontal, apresentam efeitos e lesões localizadas.

Uma lesão da camada superior do cérebro (córtex cerebral) geralmente compromete a capacidade do indivíduo de pensar, de controlar as emoções e de comportar-se normalmente. Existem áreas específicas do córtex cerebral que são responsáveis por tipos específicos de comportamento, portanto, o local preciso e a extensão da lesão determinam o tipo de sequela.

Tal como foi referido anteriormente, o córtex motor primário é responsável pelo desencadeamento de movimentos voluntários, pela execução de movimentos que exigem precisão.

Uma lesão na área primária do córtex motor – área motora primária –pode dar origem a uma paralisia cortical ou a graves perturbações motoras, isto é, a incapacidade de executar movimentos finos e precisos e a perda da motricidade fina de algumas partes do corpo. A paralisia ocorre na parte correspondente do lado oposto do corpo, dado que o hemisfério direito controla a zona esquerda do corpo e o hemisfério esquerdo a zona direita do corpo. Como tal, se a lesão ocorrer no lobo frontal do hemisfério direito, pode perder-se o controlo dos movimentos da parte esquerda do corpo; se a lesão ocorrer no lobo frontal do hemisfério esquerdo perder-se o controlo das ações motoras da parte direita do corpo.

O córtex motor secundário – área psicomotora ou área motora secundária - efetua a integração e coordenação dos movimentos, tornando possível a sua organização e orientação corretas e eficazes. Uma lesão na área secundária do córtex pode dar origem à apraxia. É a incapacidade de organizar e planear movimentos na sequência devida e unificada. Cada mo-

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vimento isolado é realizado pelo que não há paralisia, mas não se consegue integrá-lo na sequência motora ajustada ou correta, pelo que qualquer ato ou tarefa preciso/a é um fracasso. Por exemplo, acender um cigarro. Vejamos: é possível 1º) pegar no maço; 2º) de acender o isqueiro; 3º) de tirar o cigarro do maço; 4º) de o pôr nos lábios. Mas se qualquer destes atos for realizado isoladamente não se consegue ordená-los na sequência devida.

Na área secundária do córtex motor situam-se a área da escrita que transmite o pensamento mediante sinais gráficos e a área motora da linguagem, também conhecida como a área da Broca que está envolvida na produção do discurso oral.

Uma lesão na área da escrita provoca agrafia ou apraxia de escrita, ou seja, a incapacidade de escrever.

Uma lesão na área de Broca provoca afasia ou apraxia de linguagem, ou seja, a abolição total de fala ou então articulação fraca e dificuldade na formação de palavras. Quem sofre de afasia é incapaz de se expressar falando.

NOTA: Alguns testes comuns para o funcionamento do lobo frontal são: o Wisconsin Card Sorting  (inibição de resposta); Finger Tapping (habilidades motoras); e Token Test (habilidades linguísticas).

6.1.Caso de Phineas Gage

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A 13 de setembro de 1848, como quase todos dias, o jovem Phineas Gage, de 25 anos, saiu de casa para o trabalho. Trabalho esse que se localizava em Vermont,EUA. Mais propriamente nas vias férreas de Rutland e Burland Railroad. Uma vez que Gage, devido às suas virtudes pessoais, seu senso de responsabilidade, liderança, eficiência e companheirismo, tinha como profissão supervisionar a construção de ferrovias, ou seja, era o capataz de um grupo de trabalhadores responsáveis pela construção de vias férreas. 

Tendo sido nesse mesmo dia, como em todos os outros, a missão do grupo explodir grandes rochas, para permitir assim a colocação dos trilhos. Como de rotina, buracos de uns 30 centímetros eram feitos na pedra e posteriormente preenchidos com pólvora.

Mas, nesse dia, para o azar de Gage, no interior do orifício da barra de ferro, que usava diariamente para empurrar a pólvora, uma faísca detonou a mesma. Tendo a barra de mais de um metro de comprimento e quase 3 centímetros de diâmetro, sido lançada como um projétil e atravessado a cabeça de Phineas. A barra teve como ponto de impacto a bochecha esquerda e de seguida perfurou a órbita de Gage, empurrando o globo ocular para fora. Por fim, destruindo parte do cérebro, saiu pela região superior do crânio, provocado um orifício de quase seis centímetros de diâmetro entre os ossos parietais e o osso frontal. Tendo a barra, junto com fragmentos de osso e massa encefálica, ido parar a uns 20 metros de distância do sítio onde se encontrava Gage.

Incrivelmente, Phineas não morreu. Embora tivesse desmaiado com o impacto e tido convulsões, minutos depois já estava em pé conversando com os colegas. Tendo de seguida, sido levado ao médico da pequena cidade onde vivia, Jonh Harlow, que tentou recolocar os fragmentos do

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osso no seu lugar e unir da melhor forma possível o couro cabeludo. Porém, apesar de no momento aparentemente falar bem e poder caminhar, Phienas alguns dias depois, perdeu muito sangue. A sua enorme ferida infeccionou e pouco tempo depois entrou em coma. No entanto, esperando pelo pior, a sua família já preparava o enterro. Mas Gage recuperou. Não só sobreviveu à horrenda lesão, como também se recuperou bem fisicamente. Sendo que, no mês de janeiro, já estava levando uma vida normal.

No entanto, já não era Phineas Gage - embora após o assidente ter conservado todas as suas faculdades intelectuais. Alias, não contando com a perda do olho e a cicatriz, nada parecia indicar a gravidade do seu acidente (sem problemas de memória, os cinco sentidos perfeitos, movimentos em ordem, conversa fluente, inteligência normal...), foi a sua esposa e os seus mais próximos que notaram alterações dramáticas na sua personalidade.

Seus chefes, que o consideravam o trabalhador mais eficiente e capaz antes do acidente, disseram que as mudanças que tinha sofrido eram tão marcantes que não lhe poderiam devolver o seu antigo emprego. Era agora instável e irreverente, capaz das condutas e blasfêmias mais grosseiras, mostrando escasso respeito pelos seus mais próximos, impaciente, incapaz de escutar qualquer conselho que se opusesse aos seus desejos. Também se mostrava insistentemente obstinado, teimoso e ao mesmo tempo vacilante, imerso em muitos planos para o futuro mas, sendo incapaz de continuar uma tarefa demasiado longa, pois mudava-os constantemente. “Gage já não era Gage” diziam os seus amigos e familiares.

Mais tarde, sem emprego, esposa ou amigos, Phineas decidiu ganhar dinheiro com a sua desgraça, exibindo-se com a sua barra de ferro em cidades dos Estados Unidos e até provavelmente Europeias. Posteriormente, mudou-se para o Chile, para trabalhar como instrutor e condutor de carruagens.

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Contudo, apenas por lá ficou sete anos, pois devido a problemas de saúde, Gage voltou à sua casa materna nos Estados Unidos. Onde infelizmente, morreu no dia 20 de maio de 1860, treze anos após o acidente, devido a complicações provocadas por ataques epiléticos.

Alguns anos depois, em 1867, o corpo de Gage foi exumado, desenterrado. Tando atualmente, o crânio juntamente com a barra de ferro, exibidos numa sala especial do museu “Warren Medical Museum” da Faculdade de Medicina de Harvard.

Já na década de noventa, Phineas Gage foi caso de estudo de um casal de investigadores portugueses: António e Hanna Damásio. Tendo um grupo de pesquisadores liderados por Damásio, no ano de 1994, utilizando técnicas de neuro-imagem, reconstruido o crânio e o trajeto da barra de ferro, de forma a descobrir quais as áreas do cérebro de Phineas que tinham sido atingidas.

Concluindo-se, como já se suspeitava, que o acidente provocou a destruição de parte do lobo frontal esquerdo, embora a extensão total da lesão não pudesse ser definida.

Ou seja, apenas 150 anos após o acidente, é que a neurociência encontrou uma explicação aproximada sobre o que aconteceu com Phineas. Possibilitando-nos, hoje saber que a região mais anterior do cérebro é responsável pela nossa capacidade de planeamento, a fundamental capacidade de prever o que vai acontecer caso façamos isto ou aquilo. Ajudando-nos assim, a tomar a decisão correta, às vezes até de forma não consciente. Uma vez que, como consequência dessa capacidade de previsão, participa na inibição de respostas inadequadas, o que permite que nosso comportamento seja o mais apropriado para cada situação.

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Resumindo, o caso de Gage é considerado como uma das primeiras evidências científicas que indicavam que a lesão nos lóbulos frontais pode alterar a personalidade, emoções e a interação social. Antes deste os lobos frontais eram considerados estruturas silentes (sem função) e sem relação com o comportamento humano. Foi com o caso de Phineas Gage que se tornou evidente, pela primeira vez no século XIX uma ligação entre uma região cerebral específica e algo tão próximo da alma humana, como o juízo ético/moral e a personalidade de um indivíduo. Como afirmou Damásio "Gage foi o início histórico dos estudos das bases biológicas do comportamento".

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Máscara mortuária e crânio de Phineas Gage, no museu “Warren Medical Museum” da

Faculdade de Medicina de Harvard.

Personagens do documentário, "Frontal Lobes and Behavior: The Story of Phineas Gage"

Phineas Gage

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6.2.Caso Elliot

Nos fins do seculo XX, o investigador Português e diretor do departamento de neurobiologia da universidade de Iowa - António Damásio -, estudou de modo detalhado o caso de um dos seus pacientes, Elliot. 

Elliot, considerado o Phineas Gage moderno, era um jovem com seus trinta e poucos anos - bem sucedido profissionalmente, inteligente, e de fácil relacionamento.

Até que um dia, no decorrer da sua primeira lua-de-mel, começou a sofrer de dores de cabeça incapacitantes que, pelo facto de não pararem de aumentar, o levaram a consultar o médico de familia. Tendo este, infelizmente, com os exames realizados confirmado a existência de um meningioma, um tumor benigno que se forma nas membranas que envolvem o cérebro. Mas que embora benigno comprimia a parte do cérebro que fica sobre as órbitas. Aquela mesma região que tinha sido destruída pela barra de ferro em Phineas Gage.

Com o passar do tempo, o tumor cada vez ficara maior. Sendo que a certa altura, tal já era a dimensão do tumor, que este era comparado ao do tamanho de uma pequena laranja. Sendo urgente a realização de uma intervenção cirúrgica. Pois, caso não se sucedesse, a compressão do cérebro acabaria provocando a morte de Elliot.

A cirurgia para a remoção do tumor foi bem sucedida, mas boa parte do córtex cerebral próximo ao tumor foi danificada.

Embora, testes realizados após a cirurgia não revelaram nenhum problema com Elliot. Pelo contrário, revelaram: excelentes capacidades percetivas, inteligência acima da média, ótima memória, linguagem fluente e ótimo foco de atenção.

Contudo, a partir da cirurgia a sua vida transformou-se num verdadeiro caos. Uma vez que, antes da intervenção cirúrgica Elliot era

extremamente prático na hora de lidar com o seu trabalho, agora ficava ho-

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ras concentrado em detalhes irrelevantes. Tornou-se incapaz de planear as suas atividades a curto e a longo prazo, de respeitar as instruções e os prazos. Por exemplo, decisões simples como marcar um encontro com um cliente terminavam com a desistência deste último ante tantos prós e contras que Elliot encontrava para cada possibilidade de horário e local. Escolher entre uma caneta azul ou vermelha,podia demorar horas nas quais as diversas possibilidades de usar azul ou vermelho eram pormenorizadamente analisadas. Ou seja, tomar uma decisão tornou-se uma missão quase impossível.

Não sendo de estranhar que em pouco tempo, apesar da sua inteligência, Elliot perdera o emprego. Entrou em negócios de altíssimo risco. Foi abandonado pela esposa, casou e divorciou-se mais duas vezes. Tal como Phines Gage, caiu em desgraça social, incapaz de raciocinar e de decidir de que forma orientar a sua família e a si próprio. Mas o golpe final veio quando a Segurança Social se negou a renovar o seu auxílio de invalidez. Pois, não parecia haver de fato nada de “inválido” em Elliot, pelo contrário. 

Tendo sido, nesse momento que Damásio foi chamado.  Embora os testes realizados até esse momento não tivessem indicado nenhuma anormalidade, Damásio notou ao entrevistar Elliot que este, mesmo sendo gentil e respeitador possuía um ar irônico, um pouco condescendente, frio e distante e que não  parecia atingido quando os seus problemas eram evocados incluindo  as dificuldades mais íntimas. Reagindo como se fossem de uma pessoa à qual ele não dava a menor importância. Elliot contava a sua “aventura” com um desprendimento total e sem nenhuma emoção aparente.

Damásio, suspeitando de um problema emocional, confrontou-o com imagens perturbadoras, como corpos mutilados, tabus sexuais, imagens de violência explícita, que normalmente provocam alterações físicas de origem emocional, como mudança da frequência cardíaca e respiratória e aumento da transpiração. Mas Elliot não sentia nenhuma emoção positiva ou negativa vendo as imagens, permanecia sem evidenciar qualquer alteração.

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Assim, Damásio avançou na hipótese de que Elliot era capaz de “conhecer, mas não de sentir” e que a redução das suas capacidades emocionais estava na base da redução das suas capacidades de apreensão racional das situações.” Dado que, Damásio observou que o comportamento de Elliot era devido à patologia e não ao simples desvio conjuntural ou um traço de personalidade anterior. Uma vez que a região lesada de Elliot,tal como a de Gage, foi a região ventromedial do córtex pré-frontal (parte do córtex pré-frontal que é responsável pelo nossa auto perceção, como nós nos julgamos – tem o papel de inibir as respostas emocionais, e o processo de tomada de decisão).

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Em vermelho, córtex pré-frontal ventromedial, região que participa no

processo de tomada de decisão, danificada  após a cirurgia em Elliot.

Exemplo de localização de um meningioma (tumor benigno que se forma nas

membranas que envolvem o cérebro)

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7.O erro de Descartes

Descartes quando fala da razão separa-a completamente dos sentimentos. Sendo ele o responsável pela popularização do conceito que temos hoje em dia, que a razão e a emoção são coisas completamente distintas e que “misturá-las” é receita para a confusão e o fracasso. Quantas vezes já não ouvimos que devemos tomar as nossas decisões de forma racional, e que devemos manter os nossos sentimentos afastados dos nossos processos decisórios?

No entanto, segundo Antônio R. Damásio, na realidade, a falta de emoção é prejudicial ao processo de decisão e, mais importante, a emoção é peça fundamental nesse processo. Para Damásio, a dualidade cartesiana mente/corpo, razão/emoção desaparece. A mente é o resultado do funcionamento cerebral. É uma adaptação evolutiva que surge para melhorar as nossas chances em satisfazer necessidades físicas e psicológicas. 

Sendo que, para provar isso o neurocientista português parte de casos de pessoas com lesões em áreas do cérebro responsáveis por emoções para mostrar que apesar de essas pessoas serem normais no que diz respeito à suas capacidades intelectuais e cognitivas, o fato de não “sentirem emoção” prejudica a sua capacidade de tomar decisões de forma racional. Como por exemplo, os casos de Phineas Gage e Elliot que já referimos anteriormente.

Basicamente, no entender de Damásio, o erro de Descartes é a separação abissal entre corpo e mente, entre a substância corporal, infinitamente divisível, com volume, com dimensões e com funcionamento mecânico, de um lado, e a substância mental, indivisível, sem volume, sem dimensões e intangível, de outro; a sugestão de que o raciocínio, o juízo

moral e o sofrimento advenien

te da dor física ou agitação emocional poderiam existir independentemente do corpo. Especificamente: a separação das operações mais refinadas da mente, para um lado, e da estrutura e funcionamento do organismo biológico, para outro.

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Ou seja, segundo Damásio existimos e depois pensamos e só pensamos na medida que existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado por estruturas e operações do ser.

Resumindo, o “Penso, logo existo” de Descartes parece estar dando lugar ao “Existo, logo penso” da moderna neurociência.

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Retrato de René Descartes,por Frans Hals, 1644

António Damásio, médico neurologista e investigador português

Livro “O Erro de Descartes, Emoção, Razão e Cérebro humano”,

de António Damásio,1994.

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8.Conclusão NOTA: Antes de mais, queremos salientar que, se detetar algum erro a nível linguístico,

pedimos desculpa. Uma vez que é a primeira vez em todo o percurso do ensino secundário que estamos a trabalhar temas de conteúdo ligado à ”ciência”, dado que somos da área de economia. E como pode calcular, não somos especialistas a utilizar linguagem científica.

Com a sua dimensão modesta e a superfície acinzentada, o cérebro poderá não parecer um dos órgãos mais fascinantes do nosso corpo. Porém, assim que mergulhamos nele, por baixo das concavidades e saliências, sentimos a mesma “sensação de falta de ar” como quando tentamos compreender a coerência do universo.

Sensação essa, que ao longo destas últimas quatro semanas ao pesquisarmos, reunirmos informação, trabalha-la e seleciona-la, nos acompanhou a cada segundo que nos dedicávamos a realizar o trabalho.

No entanto, todo o esforço e dedicação valeu a pena. Este trabalho permitiu-nos, adquirir um conhecimento mais abrangente e enriquecido sobre os lobos cerebrais, principalmente sobre o lobo frontal e a área pré-frontal e possibilito-nos também, conhecer os casos de Phineas Gage e de Elliot, casos de indivíduos que foram estudados pelos investigadores portugueses António e Hanna Damásio, pelo facto de terem sofrido lesões no lobo frontal.

Resumidamente, a realização deste trabalho possibilitou-nos concluir que, os dois hemisférios cerebrais (hemisfério direito e o hemisfério esquerdo) são compostos por quatro lobos cerebrais, sendo eles – Lobo frontal, parietal, temporal e occipital – responsáveis por funções específicas. Cada um destes lobos integra áreas corticais com funções determinadas. E estas áreas fazem com que atuem de forma coordenada e complementar para realizar determinados processos.

Concluímos também, que as áreas pré-frontais desempenham um papel fundamental em algumas das características e competências fundamentais dos seres humanos, sendo de certa forma responsáveis por sermos aquilo que somos.

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E que o caso de Elliot, tal como ocaso de Gage, realçou o papel dos lobos frontais e, mais precisamente, da região pré-frontal, na adaptação do comportamento ao ambiente social. Sendo que, no entender de Damásio, a nossa razão tem uma base biológica e esquecê-la é iludir-se sobre uma verdade básica. As emoções e os sentimentos são os pilares do nosso funcionamento mental e do nosso agir.

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9.Webgrafia

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