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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO - CAMPUS SÃO CARLOS TECNOLOGIA EM PROCESSOS GERENCIAIS Aldrey Eduarda Teixeira de Oliveira POLÍTICAS MACROECONÔMICAS PRATICADAS NO BRASIL PELOS PRESIDENTES CARDOSO E LULA DA SILVA NO PERÍODO DE 1995 A 2010 São Carlos SP 2017

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DE SÃO PAULO - CAMPUS SÃO CARLOS

TECNOLOGIA EM PROCESSOS GERENCIAIS

Aldrey Eduarda Teixeira de Oliveira

POLÍTICAS MACROECONÔMICAS PRATICADAS NO BRASIL PELOS

PRESIDENTES CARDOSO E LULA DA SILVA NO PERÍODO DE 1995 A 2010

São Carlos – SP

2017

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ALDREY EDUARDA TEIXEIRA DE OLIVEIRA

POLÍTICAS MACROECONÔMICAS PRATICADAS NO BRASIL PELOS PRESIDENTES CARDOSO E LULA DA SILVA NO PERÍODO DE 1995 A 2010

Monografia apresentada ao Instituto Federal de São Paulo – campus São Carlos, como parte das exigências para a conclusão do Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais. Orientador: Prof. Dr. Antonio Cano

São Carlos – São Paulo 2017

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O45p Oliveira, Aldrey Eduarda Teixeira de Políticas macroeconômicas praticadas no Brasil pelos presidentes Cardoso e Lula da Silva no período de 1995 a 2010 / Aldrey Eduarda Teixeira de Oliveira; orientador, Prof. Dr. Antonio Cano - São Carlos, SP, 2017.

61 p. : il. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, Campus São Carlos, Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais.

Inclui referências bibliográficas 1. Processos gerenciais. 2. Política fiscal. 3. Política monetária.

4. Macroeconomia. 5. Economia brasileira. I. Cano, Antonio, orient. II. Instituto Federal de São Paulo. III. Título.

CDD 658

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que participaram direta ou indiretamente da confecção deste

trabalho. Em especial minha mãe e minha tia Neuza pelo incentivo e pelas

orações, minha irmã pelo apoio e meu orientador Prof. Dr. Antonio Cano por

acreditar na possibilidade deste trabalho.

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"Por um mundo onde sejamos

socialmente iguais, humanamente

diferentes e totalmente livres."

Rosa Luxemburgo

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é descrever as políticas macroeconômicas adotadas

no Brasil no governo dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio

Lula da Silva, no período de 1995 a 2010. Para a confecção deste trabalho foi

feito um levantamento bibliográfico e documental sobre conceitos relevantes à

política econômica e apresentados os mecanismos de política fiscal, monetária

e cambial adotados nos respectivos governos, além de seus desdobramentos

sobre a economia brasileira. Também foram descritas as principais estratégias

de política macroeconômica praticadas em cada um dos mandatos presidenciais,

levando-se em consideração variáveis como crescimento econômico, inflação e

balança comercial. Ao final pode-se concluir que cada um dos governos orientou

sua política econômica de modo a adaptar as práticas de gestão

macroeconômica à realidade do mercado financeiro e ao cenário econômico

nacional e internacional de cada período.

Palavras chave: política fiscal, política monetária, gestão macroeconômica,

mecanismos de política macroeconômica.

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РЕЗЮМЕ

Цель этой работы - описать макроэкономическую политику, принятую в Бразилии в правительстве президентов Фернандо Энрике Кардозу и Луиса Инасио Лула да Силва, с 1995 по 2010 год. Для подготовки этой работы было проведено библиографическое и документальное исследование по концепциям, относящимся к экономической политике и представлены механизмы фискальной и денежно-кредитной политики, принятых в соответствующих правительствах, а также их влияние на бразильскую экономику. Были также описаны основные методы стратегии макроэкономической политики, применяемые в каждом из президентских мандатов, с учетом таких переменных, как экономический рост, инфляция и торговый баланс. В итоге можно сделать вывод о том, что каждое из правительств ориентировало свою экономическую политику таким образом,чтобы адаптировать методы макроэкономического управления к реальностям финансового рынка и к сценарию национальной и международной экономики каждого периода.

Ключевые слова: фискальная политика, денежно-кредитная политика, макроэкономическое управление, механизмы макроэкономической политики.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - IPCA anual acumulado (%) a.a. - 1985 a 1997 ................................ 33

Figura 2 - Superávit Primário do setor Público (em % do PIB). ........................ 37

Figura 3 - Dívida Líquida Interna do Setor Público (% PIB) - 1994 a 2002 ....... 38

Figura 4 - IPCA anual acumulado (%) 1995 a 2002 ......................................... 39

Figura 5 - Taxa Básica de Juros SELIC (% a.a.) 1996 a 2002 ......................... 40

Figura 6 - Produto Interno Bruto (PIB) real Trimestral 1997 – 2002 ................. 41

Figura 7 - Balança de Comercial Anual FOB Saldo em Milhões de US$ ......... 42

Figura 8 - Taxa de Câmbio Nominal R$/US$ (valor de venda). ....................... 42

Figura 9 - Resultado Primário do Setor Público em % do PIB .......................... 47

Figura 10 - Gasto Social Federal com Previdência Social em % do PIB .......... 48

Figura 11 - Evolução do Gasto Social Federal em % do PIB ........................... 49

Figura 12 - Taxa Básica de Juros SELIC (% a.a.) 2002 a 2010 ....................... 50

Figura 13 – IPCA anual acumulado (% a.a.) & Metas de Inflação .................... 50

Figura 14 - Produto Interno Bruto (PIB) real Trimestral 2002 – 2010 ............... 51

Figura 15 - Taxa de Câmbio Nominal R$/US$ (valor de venda). ..................... 52

Figura 16 - Balança de Comercial Anual FOB Saldo em Milhões de US$ ....... 53

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10

2 REVISÃO TEÓRICA ..................................................................................... 12

2.1 A POLÍTICA MACROECONÔMICA. ......................................................... 12

2.2 METAS DE POLÍTICA MACROECONÔMICA. ......................................... 12

2.2.2 Alto nível de emprego. .......................................................................... 12

2.2.3 Estabilidade de preços ......................................................................... 13

2.2.3.1 Inflação ................................................................................................ 13

2.2.3.1.2 Causas da inflação ............................................................................ 13

2.2.3.1.2.1 Inflação de demanda ...................................................................... 13

2.2.3.1.2.2 Inflação de custos. .......................................................................... 14

2.2.3.1.2.3 Inflação Inercial. ............................................................................. 14

2.2.4 Distribuição de renda socialmente justa. ............................................ 15

2.2.5 Crescimento econômico. ...................................................................... 15

2.3 INSTRUMENTOS DA POLÍTICA MACROECONÔMICA .......................... 15

2.3.1 Política Fiscal. ....................................................................................... 16

2.3.1.2 Receitas do governo. ......................................................................... 17

2.3.1.3 Os gastos do governo. ....................................................................... 17

2.3.1.4 Resultados do Orçamento Público ................................................... 19

2.3.1.4.1 Resultado Primário ou Operacional. .................................................. 19

2.3.1.4.2 Resultado Nominal ou total................................................................ 19

2.3.1.4.3 Política Fiscal Expansionista e Restritiva .......................................... 20

2.3.2 Política Monetária .................................................................................. 21

2.3.2.1 O papel do Banco Central. ................................................................. 21

2.3.2.2 Instrumentos de Política Monetária .................................................. 22

2.3.2.2.1 Emissões ........................................................................................... 22

2.3.2.2.2 Reservas compulsórias. .................................................................... 23

2.3.2.2.3 Mercado aberto ou Open Market ....................................................... 24

2.3.2.2.4 Redesconto bancário ......................................................................... 25

2.3.2.2.5 Regulamentação de crédito e taxa de juros. ..................................... 25

2.3.3 Política Cambial ..................................................................................... 26

2.3.3.1 Regimes Cambiais.............................................................................. 26

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2.3.3.1.1 Câmbio de taxas fixas. ...................................................................... 26

2.3.3.1.2 Câmbio de taxas flutuantes. .............................................................. 27

3 DESCRIÇÃO DA GESTÃO DE POLÍTICAS ECONÔMICAS NO PERÍODO

DE 1995 A 2002 ...............................................................................................29

3.1 RETROSPECTOS POLÍTICO, ECONÔMICO INTERNACIONAL ............. 29

3.1.1 A Crise Asiática ..................................................................................... 29

3.1.2 A Crise Financeira Russa ..................................................................... 30

3.2 Retrospectos político e econômico Brasileiro....................................... 31

3.2.1 Abertura Econômica Brasileira ............................................................31

3.2.2 Período do ministro FHC no ministério da fazenda e o Plano Real...32

3.3 A política econômica de FHC e o Tripé Macroeconômico. ................... 34

3.3.1 O Tripé Macroeconômico. .................................................................... 34

3.3.2 A política fiscal da gestão FHC ............................................................ 35

3.3.3 A política monetária da gestão FHC .................................................... 39

3.3.4 A política cambial da gestão FHC ........................................................ 41

4 DESCRIÇÃO DA GESTÃO DE POLÍTICAS ECONÔMICAS NO PERÍODO DE

2002 A 2010 .....................................................................................................44

4.1 RETROSPECTOS POLÍTICO, ECONÔMICO INTERNACIONAL ............. 44

4.1.1 A Crise Financeira de 2008 ou Crise dos Subprime ........................... 44

4.2 A POLÍTICA ECONÔMICA DE LULA DA SILVA E A CONTINUIDADE DAS

POLÍTICAS MACROECONÔMICAS IMPLANTADAS POR FHC ................... 45

4.2.1 A política fiscal da gestão Lula da Silva .............................................. 46

4.2.2 A política monetária da gestão Lula da Silva ...................................... 49

4.2.3 A política cambial da gestão Lula da Silva .......................................... 52

5 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………55

6 REFERÊNCIAS ............................................................................................. .59

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1 INTRODUÇÃO

O estudo da macroeconomia torna-se relevante ao possibilitar a compreensão dos

mecanismos de gestão dos recursos públicos pelo Estado, por meio das estratégias de política

macroeconômica, ou seja, medidas que auxiliarão o gestor macroeconômico a planejar as

diretrizes da economia para determinado período. Diferentes políticas macroeconômicas podem

impactar de forma variada o processo de desenvolvimento de uma nação e, por isso, torna-se

importante contribuir para a universalização do conhecimento em relação à economia brasileira,

além de estabelecer uma reflexão sobre as estratégias que o governo utiliza para gerir os

recursos públicos, promovendo o desenvolvimento econômico, a geração de empregos, e a

estabilização dos preços. Dessa forma torna-se importante compreender quais as diferentes

políticas macroeconômicas empregadas no Brasil no período de 1995 a 2010, notadamente em

função da diferença ideológica observada nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz

Inácio Lula da Silva.

O objetivo geral do trabalho é descrever as políticas macroeconômicas empregadas no

Brasil, no período de 1995 a 2010, podendo ser elencados os seguintes objetivos específicos:

• Expor um breve retrospecto sobre o conceito de Política econômica, bem como seus

instrumentos e suas metas;

• Realizar um levantamento bibliográfico sobre as políticas fiscal, monetária e cambial

do período delimitado;

• Refletir sobre as estratégias macroeconômicas praticadas no Brasil pelos respectivos

gestores, e seus impactos na economia brasileira.

• Apresentar um estudo acessível à comunidade acerca da política econômica aplicada

durante um período tão importante da democracia brasileira.

Para a realização da pesquisa foi feito um levantamento bibliográfico, de caráter

qualitativo e quantitativo, utilizando como base documentos, informações e dados

disponibilizados em fontes secundárias, tais como livros, artigos já publicados e informações

disponibilizadas em sites da internet por instituições creditadas, como o Ministério da Fazenda,

o Banco Central, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, entre outras.

O trabalho está estruturado em cinco partes, sendo a primeira composta desta

introdução, seguida pelo segundo capítulo, que traz uma revisão teórica acerca dos conceitos

mais relevantes para a compreensão de política macroeconômica, ao passo que os capítulos três

e quatro apresentam um estudo sobre as políticas econômicas dos presidentes Cardoso e Lula

da Silva, respectivamente, apresentando um breve retrospecto do cenário econômico nacional

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e internacional da época e, posteriormente, expondo um estudo bibliográfico acerca das

políticas macroeconômicas fiscal, monetária e cambial adotadas em cada governo. Por fim,

seguem-se as conclusões, feitas a partir de análise dos dois capítulos anteriores e pela reflexão

sobre os desdobramentos de cada estratégia sobre a economia brasileira, e por último sendo

feita a conclusão do trabalho.

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2 REVISÃO TEÓRICA

Este capítulo aborda a fundamentação teórica sobre Política Econômica, bem como a

gestão das contas públicas e sua influência sobre os agregados econômicos. Inicialmente são

tratadas as metas e os objetivos macroeconômicos que auxiliam o governo a planejar o rumo

da economia em determinado período. Em seguida, são expostos os conceitos e mecanismos

em relação aos instrumentos de Política Econômica – Política Fiscal, Monetária e Cambial - os

quais o gestor macroeconômico utiliza para garantir que os objetivos e as metas, propostas

inicialmente, sejam devidamente cumpridas.

2.1 A POLÍTICA MACROECONÔMICA

A política macroeconômica refere-se ao conjunto de medidas praticadas pelo Governo

a fim de afetar agregados econômicos, como crescimento da economia, inflação, taxa de

desemprego, balanço de pagamentos e distribuição de renda. (MINISTÉRIO DA FAZENDA,

2017)

Para efetivar um bom planejamento de política macroeconômica, o governo faz uso de

mecanismos que o auxiliam na tomada decisões. Estes mecanismos são as metas e instrumentos

de política macroeconômica.

As metas de política macroeconômica são as prioridades que norteiam as decisões do

governo, a fim de efetivar o crescimento econômico e social de um país. Para cumpri-las, o

gestor macroeconômico utiliza ferramentas que o auxilia e orienta no planejamento econômico:

estes são os Instrumentos de Política Macroeconômica.

2.2 METAS DE POLÍTICA MACROECONÔMICA

Segundo Vasconcellos (2001), há quatro principais metas a serem cumpridas em política

macroeconômica:

• Alto nível de emprego;

• Estabilidade de preços;

• Distribuição de renda socialmente justa;

• Crescimento econômico;

2.2.2 Alto nível de emprego

Ao manter um alto nível de emprego, eleva-se a demanda agregada. O aumento dessa

demanda abre uma margem para o crescimento da produção das empresas, as quais têm a

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possibilidade de diminuir eventuais capacidades ociosas, a fim de ofertar um volume maior de

bens e serviços no mercado. Portanto, um alto nível de empregos gera demanda, que por sua

vez possibilita um aumento da produção das empresas, diminuindo sua capacidade ociosa.

2.2.3 Estabilidade de preços

A estabilidade de preços refere-se, basicamente, à contenção da inflação. Manter a

inflação controlada, segundo Vasconcellos (2001), é uma forma de garantir um crescimento

econômico contínuo e estável, e para mantê-lo é necessário entender o processo inflacionário,

conhecendo suas causas e a melhor forma de controlá-lo.

2.2.3.1 Inflação

Segundo Vasconcellos (2001) a inflação é o aumento contínuo e generalizado no nível

geral dos preços, mas também pode representar a redução do poder de compra da moeda, já que

a moeda vale aquilo que ela pode comprar. Nesse sentido, ao se elevarem os preços, a moeda

perde valor. Vale ressaltar que a inflação é calculada pela média ponderada dos preços de uma

cesta de produtos, o que implica dizer que se um preço específico aumenta, não necessariamente

isso resulta em elevação da inflação no período.

2.2.3.1.2 Causas da inflação

Em macroeconomia é muito importante entender as causas que levam ao processo

inflacionário. Ao entender este processo torna-se mais fácil encontrar soluções eficazes para

combatê-la.

2.2.3.1.2.1 Inflação de demanda

Este exemplo é bastante comum numa economia em expansão. Trata-se da inflação

devido ao aumento da demanda agregada, não acompanhado de um crescimento da produção,

ou seja, da oferta de bens e serviços.

Quando há muita demanda e pouca oferta por certa mercadoria ou serviço, seu preço

tende a aumentar. Na inflação de demanda isso também acontece, porém de forma agregada.

Se há muita demanda por produtos e serviços, isso significa que existe no mercado um elevado

poder de compra entre o público. Quando a economia atua em pleno emprego e não há

possibilidade de expansão da produção, em função de algum fator de produção já estar sendo

plenamente utilizado, desse modo, se não há como expandir a produção para equilibrar oferta e

demanda agregada, os preços tendem a subir.

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Quando uma economia opera próxima ao pleno emprego, é normal ocorrer um aumento

da inflação, tornando-se um problema grave se esta estiver fora de controle. O combate à

inflação de demanda, normalmente, é implementado via redução do consumo agregado,

podendo para isso serem tomadas, de forma isolada ou em conjunto, as seguintes medidas:

a) Aumento da taxa de juros, desestimulando o crédito e o investimento privado. Ao

reduzir o crédito e o investimento privado o governo desestimula a demanda agregada,

porém ao passo que desacelera a demanda, essa estratégia pode a desestimular a

produção, o que, posteriormente, pode acarretar no aumento da taxa de desemprego.

b) Elevação da taxa de reservas compulsórias dos bancos comerciais, e/ou a venda de

títulos da dívida pública, a fim de “enxugar” moeda em circulação;

c) Redução dos investimentos e despesas de custeio do próprio governo, caso análogo ao

primeiro, porém aplicado ao setor público;

2.2.3.1.2.2 Inflação de custos

A inflação de custos é basicamente é uma inflação de oferta, e dá-se a partir do aumento

do preço de certos insumos importantes e difíceis de substituir, o que eleva o custo da produção,

que é repassado ao consumidor. A elevação no preço dos insumos pode ser originada por um

aumento do preço das matérias primas, aumento dos salários, imperfeições no mercado, como

a formação de monopólios, oligopólios, trustes e cartéis, ou aumento no preço de itens que estão

sob o controle do governo, como energia e petróleo. Para combater esta inflação, o gestor

macroeconômico pode:

a) Reduzir a taxa básica de juros, a fim de baratear o investimento e elevar a produção;

b) Valorizar a moeda nacional diante das moedas estrangeiras a fim de incentivar a

importação de insumos mais baratos;

c) Subsidiar via redução de impostos ou criação de vantagens específicas1, a produção e

oferta dos produtos afetados pela elevação dos preços dos insumos críticos, a fim de que

tais elevações não afetem significativamente o nível de preços.

2.2.3.1.2.3 Inflação Inercial

Esse tipo de inflação está relacionado com a indexação da economia. A indexação da

economia decorre da expectativa dos agentes em relação à ocorrência de inflação no futuro. Em

assim sendo, tais agentes buscam se proteger ao realizar contratos atrelando os preços a índices

1 Vantagens específicas tais como a concessão de empréstimos com juros subsidiados, liberação de importações e

incentivos à entrada de novos fornecedores.

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que os reajustam automaticamente. Tais reajustes automáticos possuem a capacidade de

acelerar o processo inflacionário, já que a inflação do passado acaba sempre se refletindo nos

preços futuros. A contínua correção dos preços funciona como retroalimentação para a inflação.

2.2.4 Distribuição de renda socialmente justa

Por meio dessa distribuição é possível diminuir a disparidade no nível de renda entre as

classes sociais. Uma melhor distribuição de renda também tende a possibilitar o aumento do

poder de compra das famílias, ou seja, seus gastos na aquisição de bens e serviços e,

consequentemente, pode promover uma elevação na demanda agregada, movimentando a

economia.

2.2.5 Crescimento econômico

Segundo Vasconcellos (2001), crescimento econômico é o crescimento contínuo da

renda per capita ao longo do tempo. Tal crescimento ocorre quando o PIB, que segundo Simioni

(2010) consiste no somatório do valor de tudo que é produzido, entre mercadorias e serviços, e

sua variação é, portanto, a manifestação do ritmo de crescimento econômico, se eleva acima do

crescimento populacional em determinado período. Podem ser causas do crescimento

econômico:

a) O aumento na quantidade de mão de obra disponível, derivado da migração e

crescimento demográfico;

b) Melhorias na qualidade da mão de obra, por meio de treinamentos, programas de

educação e especialização;

c) Aumento do estoque de capital, ou da capacidade produtiva;

d) Melhoria tecnológica, a fim de elevar a eficiência na utilização do estoque de capital,

aumentando a capacidade produtiva e produtividade;

e) Eficiência alocativa, que se exprime na eficiência como os recursos produtivos são

utilizados.

2.3 INSTRUMENTOS DA POLÍTICA MACROECONÔMICA

Conforme Vasconcellos (2001), a Teoria Macroeconômica utiliza-se de instrumentos

para garantir o cumprimento de tais metas. Estes são:

• Política fiscal;

• Política monetária;

• Política cambial;

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• Política de rendas;

Este trabalho tem como foco uma análise a partir dos instrumentos das políticas fiscal,

monetária e cambial, sendo analisadas as políticas econômicas aplicadas no Brasil no período

de 1995 a 2010.

2.3.1 Política Fiscal

A Política Fiscal refere-se aos instrumentos de arrecadação de recursos, e despesas do

governo. Esta política orienta a execução das despesas e obtenção da receita pública pelo

Estado. Este instrumento coordena a tributação, dívida pública e despesas governamentais, com

o intuito de fomentar o desenvolvimento e a estabilização da economia. (CÂMARA DOS

DEPUTADOS, 2017).

Em suma, a política fiscal consiste na gestão dos recursos públicos, provenientes de

tributos ou não, que podem interferir na geração de empregos, crescimento econômico e

inflação.

Se o objetivo da Política Fiscal for o fomento ao crescimento econômico e maior

disponibilidade de empregos, o governo tende a aumentar seus gastos e/ou diminuir a carga

tributária para alavancar o investimento e o consumo. Ambas as escolhas precisam ser postas

em prática de uma forma equilibrada, pois numa economia como a brasileira na qual grande

parte da arrecadação do Estado é proveniente de impostos sobre o consumo, ao reduzi-los, a

arrecadação é comprometida, assim como aumentar os gastos no setor público ou privado pode

causar um déficit nas contas públicas e a receita fiscal do governo pode sofrer uma redução

significativa.

Se a intenção desta política for reduzir a inflação, o Estado pode reduzir seus gastos e/ou

aumentar a carga tributária, a fim de desacelerar o consumo e o investimento. Ao reduzir o

investimento no setor público ou privado, ou aumentar os impostos, o consumo e a produção

sofrerão uma queda, o que pode causar desemprego e uma diminuição no Produto Interno Bruto.

Para entender Política Fiscal é necessário efetuar previamente um estudo sobre:

a) As receitas do governo;

b) Os gastos do governo;

c) Resultados do orçamento público.

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2.3.1.2 Receitas do governo

A captação de recursos pelo Estado pode ser classificada em dois tipos de receita: receita

fiscal e receita não fiscal. A receita não fiscal decorre de atividades não vinculadas à cobrança

de impostos, como privatizações de ativos públicos, cobrança de multas em função do exercício

do poder da polícia, ou captação de recursos no mercado financeiro. Já a receita fiscal procede

da cobrança de tributos, que podem provir de impostos diretos e indiretos, taxas e contribuições.

Os impostos diretos incidem sobre as pessoas físicas e jurídicas e podem incidir sobre a

renda, como é o caso do Imposto sobe a Renda, ou ainda na propriedade de bens, como veículos

automotores, caso do IPVA, ou de imóveis, caso do IPTU. Há ainda os impostos diretos

específicos como o imposto sobre a transmissão causa mortis, devido no caso de recebimento

de herança e o “imposto por transmissão intervivos”, devido nas transações de imóveis, exceto

quando originada no recebimento de herança.

Os impostos indiretos incidem sobre a comercialização ou produção de bens e serviços.

Estes impostos não necessariamente são recolhidos pelo agente tributado, pois são cobrados de

produtores ou comerciantes, mas como estão embutidos no preço final dos produtos e serviços,

o consumidor é quem arca economicamente com o pagamento, sendo, por isso, chamados de

impostos indiretos. São exemplos de impostos indiretos: o ICMS – Imposto sobre a circulação

de mercadorias e serviços e o IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados.

As taxas originam-se na prestação de um serviço oferecido por um órgão público ou do

exercício do poder da polícia, como no caso das multas. São exemplos de taxas as emissões de

documentos, como RG e CPF, o licenciamento anual de veículos, etc.

Por sua vez, as contribuições representam realocação de recursos para entidades de

direito público ou privado, concedida em virtude de lei autorizativa específica (CÂMARA DOS

DEPUTADOS, 2017). As contribuições podem ser sociais, como a Previdência Social,

PIS/PASEP, COFINS, entre outras; e também podem ser de melhoria, cobradas para o custeio

de obras públicas, que valorizem uma determinada região ou imóvel.

2.3.1.3 Os gastos do governo

O planejamento dos gastos do governo está inserido no Orçamento Fiscal do Estado,

que representa o projeto de atuação fiscal do setor público para determinado exercício ou

período, isto é, a sistematização das intervenções pelas quais serão executadas as políticas

fiscais estabelecidas (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2017). Este orçamento faz parte da Lei

Orçamentária Anual, a qual se refere ao fundo orçamentário dos três poderes do Estado,

Executivo, Legislativo e Judiciário.

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Após planejar o orçamento público, o governo capta recursos, basicamente, por meio de

tributos e, posteriormente, deve decidir como gastá-los. Os gastos do governo podem ser

classificados como primários e serviço da dívida. Os gastos primários abrangem os

investimentos ou despesas de capital - que consistem na produção de novos bens e serviços,

como escolas, rodovias, hospitais, prisões, etc., - e custeio, que se refere à manutenção desses

serviços que foram investidos nas despesas de capital, como o pagamento do servidor,

manutenção de rodovias, escolas e hospitais, assim por diante.

Estes gastos, investimento e custeio, preveem um retorno, em bens ou serviços, para

aquilo que está sendo desembolsado. Por exemplo, quando o governo paga o salário de um

funcionário público, em contrapartida este presta um serviço à comunidade; ou no momento

em que o Estado investe construção de uma escola, este investimento resulta na disponibilização

de um bem.

Entretanto, podem existir transferências unilaterais que, ao contrário das despesas de

capital e custeio, não preveem retorno ou remuneração sobre a respectiva renda, mas consistem

apenas numa transferência financeira entre o Estado e um agente econômico (empresas,

famílias, instituições financeiras, etc.). Por exemplo, quando governo paga o bolsa família,

concede bolsas de estudo ou subsídios ao setor privado, a fim de baratear o preço algum produto

ao consumidor final.

Além do investimento e das despesas de custeio, o governo possui um segundo tipo de

gasto: o serviço da dívida. Este consiste no pagamento de juros e amortizações da dívida

pública, contraída através do resgate de títulos da dívida pública.

Quando o Estado realiza suas transações e faz seus investimentos, dependendo da

orientação da política fiscal adotada, nem sempre o resultado do caixa público é positivo, desse

modo, o governo pode ficar endividado, o que culminará num déficit nas contas públicas. A

dívida pública nasce no momento em que o governo não consegue quitar seus compromissos

oriundos de empréstimos tomados através venda de títulos da dívida pública, empréstimos, os

quais, o governo toma a fim de financiar o déficit contraído, proveniente dos gastos com

investimento e custeio. Por outro lado, se a receita pública for maior do que as despesas, o

orçamento público foi superavitário.

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2.3.1.4 Resultados do Orçamento Público

Estes resultados demonstram, de maneira detalhada, a situação orçamentária do

governo, expondo os resultados do exercício, da execução do planejamento orçamentário

propostas no plano de orçamento fiscal durante a aplicação da política fiscal, adotada pelo

Estado. Os resultados podem ser de dois tipos: primário/operacional ou nominal.

2.3.1.4.1 Resultado Primário ou Operacional

Este resultado consiste na diferença entre as receitas primárias e os gastos primários

durante um determinado período de tempo. Quando as receitas primárias são maiores que suas

respectivas despesas, ocorre um superávit primário - diferença positiva entre as receitas e

as despesas primárias num mesmo exercício. Quando o contrário acontece, diz-se que há um

déficit primário.

Em suma, o conceito de déficit e superávit primário consiste na diferença entre a receita

e os gastos do governo, sem levar em consideração os juros e amortizações da dívida.

O resultado fiscal primário é relevante, pois fornece a situação fiscal das contas públicas,

fornecendo uma comparação clara e direta entre receitas e gastos. Com este resultado é possível

conhecer o "caixa do governo".

2.3.1.4.2 Resultado nominal ou total

O resultado fiscal nominal, por sua vez, é o resultado primário acrescido do pagamento

de juros e amortizações da dívida pública – serviço da dívida, que se refere ao resultado

financeiro: juros e amortizações recebidas, subtraídos os juros e amortizações pagos.

Resumindo:

• Resultado Fiscal Primário = receitas primárias - gastos primários;

• Resultado Fiscal Nominal = resultado primário + resultado financeiro.

Havendo déficit, surge a Necessidade de Financiamento do Setor Público. O governo

pode compensar tal déficit a partir do aumento dos impostos, para elevar a receita, ou do corte

de gastos primários, a fim de diminuir a despesa. Porém, além dessas medidas, o Estado também

pode:

a) Emitir moeda através do Banco Central (BACEN);

b) Emitir títulos da dívida pública e tomar recursos emprestados de outros agentes;

Na primeira perspectiva ocorre a monetização da dívida, na qual o BACEN literalmente

produz moeda para financiar a dívida do Tesouro. Este processo é inflacionário, uma vez que

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aumentando a quantidade de moeda em circulação no mercado e o poder de compra do

consumidor, também aumentam os preços dos produtos.

Na segunda possibilidade, o governo coloca títulos de sua dívida para serem comprados

por agentes privados no Open Market (Mercado aberto de Títulos), trocando-os por moeda já

em circulação. Se por um lado este processo não é inflacionário, pois não disponibiliza mais

moeda no mercado, por outro lado faz aumentar a dívida pública, pois, por pagar juros, tende a

elevar o endividamento futuro.

Analisadas as Receitas e Despesas, assim como os conceitos déficit e superávit público,

é possível entender o conceito de Política Fiscal. Como visto anteriormente, a Política Fiscal

refere-se aos instrumentos de arrecadação de recursos e despesas do governo. Dependendo da

orientação dada à Política Fiscal, esta pode ter uma inclinação para o aumento ou redução dos

gastos públicos, dependendo daquilo que o gestor macroeconômico pretende incentivar.

As políticas fiscais podem ser empreendidas sob duas diferentes perspectivas:

expansionista ou restritiva. As políticas expansionistas visam elevar os gastos públicos com a

intenção de incentivar o crescimento econômico, enquanto as políticas restritivas objetivam

reduzir os gastos, a fim de, principalmente, reduzir os efeitos os gastos sobre a dívida pública,

o que será mais bem explicado a seguir.

2.3.1.4.3 Políticas Fiscais Expansionista e Restritiva

A política fiscal expansionista consiste de medidas que visam a elevação dos gastos

públicos, e/ou redução dos impostos, a fim de aumentar a demanda agregada. Com o aumento

dos gastos públicos, o governo também aumenta seu déficit, porém, ao realizar um investimento

ou uma despesa em custeio, o Estado terá maiores contrapartidas.

Ao investir em infraestrutura pública, o governo visa criar incentivos para que a

produção se eleve e mais empregos sejam criados. Como visto anteriormente, a geração de

empregos é uma das principais metas de política macroeconômica.

Porém, quando a economia atua numa conjuntura de pleno emprego, ou há uma redução

significativa nos impostos, uma das reações da população é aumentar seu consumo. Isso de

forma agregada e generalizada, de uma forma que a oferta agregada não acompanhe a demanda,

pode elevar à inflação.

Se por um lado a política fiscal expansionista consiste de elevações nos gastos do

governo, a política restritiva se exprime no contrário: uma redução dos gastos fiscais e/ou

aumento dos impostos para desacelerar a demanda agregada, a fim de controlar um processo

inflacionário.

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Em suma, a política fiscal trata-se da gestão de caixa do governo e como este gere seus

gastos a fim de promover o desenvolvimento econômico e social do país. Tais metas também

podem ser alcançadas por meio da combinação da política fiscal com de outros instrumentos de

política econômica, como a política monetária e cambial, que serão retratados a seguir.

2.3.2 Política Monetária

A Política Monetária consiste no manejo governamental sobre a emissão de moeda,

sobre a circulação monetária, sobre a quantidade de crédito disponível e no controle sobre a

taxa básica de juros. Para entender a Política Monetária é interessante efetuar um estudo sobre:

a) O papel do Banco Central (BACEN);

b) Os Instrumentos de Política monetária;

2.3.2.1 O papel do Banco Central

No contexto da política monetária, o BACEN – Banco Central do Brasil - tem um papel

fundamental na regularização da emissão de moeda, a fim de permitir a estabilidade de preços,

além de exercer o controle da taxa de juros, para garantir a confiança dos agentes econômicos

no sistema financeiro. Seu funcionamento adequado é fundamental para a estabilidade

financeira e condição indispensável para salvaguardar os canais de transmissão da política

monetária. (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2017).

Qualquer instituição atuante no mercado financeiro estará suscetível à fiscalização do

BACEN, além de necessitar da autorização do mesmo para funcionar, incluindo aquelas que

liquidam operações com títulos, valores mobiliários, moeda estrangeira e derivativos

financeiros. (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2017).

Deve-se observar que o Banco Central não deve emitir moeda sem fundamentação

econômica. A emissão monetária tem relação direta com a geração de inflação, já que emissões

que expandam a base monetária acima do recomendável podem gerar inflação. Por isso, o

BACEN tem como função principal manter a estabilidade do poder de compra da moeda,

regularizando a liquidez na economia brasileira. O Banco Centra também conduz a política

monetária, cambial e de crédito, além de:

• Receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras;

• Realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras;

• Efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais;

• Exercer o controle de crédito;

• Exercer a fiscalização das instituições financeiras;

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• Vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais e;

• Controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país;

2.3.2.2 Instrumentos de Política Monetária

Assim como em relação à Política Fiscal, o gestor de Política Monetária também faz uso

de instrumentos para garantir a solidez no sistema financeiro. Estes são:

• Emissões;

• Reservas compulsórias;

• Mercado aberto ou open Market;

• Redesconto bancário;

• Regulamentação de crédito e taxa de juros;

2.3.2.2.1 Emissões

Este instrumento fundamenta-se na produção de moeda que é colocada à disposição do

mercado. No Brasil, o controle da emissão de moeda é feito sob monopólio do Banco Central

(BACEN)2, o qual fica responsável pelo controle sobre a circulação de meios de pagamento

mediante os mecanismos de emissão e recolhimento.

A emissão ocorre quando o BCB entrega papel-moeda para o banco comercial por

meio de débito de sua conta Reservas Bancárias com o intuito de atender às

necessidades de saques dos clientes nas respectivas contas correntes. Desse modo, a

emissão de papel-moeda pelo BCB reflete a demanda do público por papel-moeda.

(BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2017).

Segundo Vasconcellos (2001 p. 291) "[...] a oferta da moeda é sinônimo de meios de

pagamento, que é definido como o estoque de moeda disponível para uso da coletividade (setor

privado não bancário) a qualquer momento", cujo principal objetivo é medir a liquidez do

mercado. O saldo dos meios de pagamento é dado pelo saldo de moeda em poder do público

(PP) mais o saldo disponível de moeda escritural.

Meio de pagamento = moeda em poder do público + moeda escritural. O saldo de moeda

em poder do público (PP) representa a moeda manual - papel moeda ou moeda metálica -

emitida pelo BACEN que, segundo Vasconcellos (2001 p. 290) "[...] é obtido retirando-se do

total de moeda emitida o montante que fica no Caixa das Autoridades Monetárias e no Caixa

dos Bancos Comerciais". Por sua vez, a moeda escritural, ou moeda bancária, consiste em

2 No Brasil, a produção de moeda física é realizada pela empresa pública Casa da Moeda do Brasil (CMB), mas

vale ressaltar que a CBM apenas faz a impressão das cédulas e as fornece ao Banco Central, a emissão de moeda

cabe apenas ao BACEN.

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depósitos à vista (depósitos em conta corrente) existentes nos bancos comerciais; essa forma de

meio de pagamento dispensa a utilização de papel moeda em suas transações, sendo muito

comum sua movimentação através de cheques e cartões eletrônicos.

Outros conceitos também podem se referir aos meios de pagamento. O conceito citado

acima foi o de M1, que representa a liquidez imediata dos meios de pagamento, porém também

são utilizados os conceitos de M2, M3 e M4, que são ativos financeiros que rendem juros e

também de alta liquidez, porém não imediata, sendo:

M1 =moeda em poder do público + moeda escritural

M2 = M1 + investimentos e títulos de alta liquidez realizados no mercado interno por bancos

comerciais, que abrange CDBs CDIs e títulos de alta liquidez negociados na CETIP3

M3 = M2 + captações internas em títulos de renda fixa e títulos registrados na SELIC - Sistema

Especial de Liquidação e Custódia.

M4 = M3 + títulos da dívida pública

2.3.2.2.2 Reservas compulsórias

As reservas compulsórias consistem de valores percentuais sobre os depósitos à vista

que os bancos comerciais obrigatoriamente devem reter junto ao BACEN diariamente. Estes

depósitos têm como objetivo controlar a quantidade de moeda escritural disponibilizada pelo

efeito multiplicador da moeda, fenômeno observado quando os bancos recebem depósitos à

vista e emprestam os recursos, ou parte deles, a terceiros e a bancos comerciais.

O Efeito Multiplicador de Moeda pode ser entendido da seguinte forma: diga-se que um

cidadão X faça um depósito a vista de R$100,00 num banco A. Se o BACEN estabelecer uma

taxa de reserva compulsória de 10% dos depósitos recebidos, o banco A deverá reter R$10,00

e poderá emprestar R$90,00 para um cidadão Y que deseja tomar um crédito. O cidadão Y

deposita no banco comercial B o valor de R$90,00 obtidos no empréstimo com banco A. O

banco B, por sua vez, deverá reter junto ao BACEN R$9,00 e poderá emprestar R$81,00 para

um cidadão Z, que depositará em outro banco, e assim por diante.

Neste exemplo é possível notar que houve uma multiplicação da moeda, na qual o

depósito à vista de R$100,00 iniciais transformou-se em R$100,00 + R$90,00 + R$81,00.

De acordo com o conceito dos meios de pagamento, percebe-se que M1 é igual à

quantidade de papel moeda em poder do público mais a quantidade de moeda escritural

3 CETIP - Central integradora do financeiro é uma instituição de capital aberto que faz a liquidação, registro,

custódia e negociação de títulos privados.

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disponibilizada nos bancos comerciais. Assim sendo, houve um aumento deste meio de

pagamento por meio de um efeito multiplicador.

Caso o BACEN aumente a taxa de reserva, os bancos comerciais poderão disponibilizar

uma quantidade menor de crédito ao público, o resultado do efeito multiplicador será menor e

o valor de M1 será reduzido.

Por esse motivo, as reservas compulsórias se tornam um importante instrumento de

política monetária, pois, assim sendo, o BACEN pode controlar a oferta de moeda pelos bancos

e financeiras além de aumentar/reduzir moeda de circulação pelo aumento/redução da taxa de

reservas.

2.3.2.2.3 Mercado aberto ou Open Market

O Mercado aberto engloba as negociações de compra e venda de títulos da dívida

pública no mercado financeiro. Quando o governo vende títulos ao público, realiza-se a troca

de moeda em circulação por tais títulos, fazendo com que a base monetária seja reduzida. Desse

modo, ao receber em moeda, o governo ”enxuga” moeda no mercado, reduzindo a liquidez

monetária. Do contrário, quando o governo recompra esses títulos, eleva-se a base monetária,

assim como a liquidez e disponibilidade para que tais recursos sejam carreados ao consumo e

investimento.

É importante ressaltar que o valor da taxa de juros é fundamental nesse mecanismo de

compra e venda de títulos. Taxa de juros maiores elevam a atratividade dos títulos públicos em

comparação à alternativas de investimento, assim como torna mais vantajoso o adiamento do

consumo de recursos na compra de bens pelas pessoas. Quanto maior a taxa de juros real-

diferença entre a taxa de juros nominal e a inflação esperada no período - maior a atratividade

de títulos públicos, em compensação, quanto menor a taxa, menor atratividade é dada para -

outros investimentos privados. Nesse contexto, operações no Open Market caracterizam,

também, um poderoso instrumento de controle de moeda e captação de recursos pelo o governo,

através do Banco Central.

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2.3.2.2.4 Redesconto bancário

Além dos instrumentos de política monetária já comentados anteriormente, as taxas de

juros cobradas nas operações de redesconto também são utilizadas pelo BACEN como

ferramenta de política monetária.

Como o Banco Central é o “banco dos bancos”, é a ele que as instituições bancárias que

operam com depósitos à vista recorrem quando se vêm diante de risco de caixa a descoberto.

Nessas situações, em função de emprestarem recursos recebidos a partir da captação de

depósitos à vista, os bancos podem se ver diante de desencaixes causados por volume de saques

maiores que os projetados, situação que causaria sua impossibilidade de honrar os depósitos

feitos por seus clientes. Para que o sistema não se contamine por operações feitas a descoberto,

o Banco Central realiza a cobertura dessas operações mediante a cobrança de taxas de juros em

operações chamadas de redescontos. Essas taxas devem ser necessariamente altas para que a

prática de emprestar mais do que o tecnicamente recomendável seja desestimulada. Quando o

BACEN deseja reduzir os volumes de moeda em circulação, eleva ainda mais as taxas de

redesconto. Isso faz com os bancos sejam mais conservadores em suas operações de crédito a

fim de não correrem o risco de pagarem tais juros, o que acaba reduzindo os volumes de moeda

em circulação. O crédito concedido pelo Banco Central aos bancos comerciais pode ser:

a) Redesconto de liquidez: ocorre quando os bancos comerciais têm problemas com

liquidez ou saldo negativo de depósitos voluntários.

b) Redesconto especial: crédito concedido aos bancos comerciais a fim de incentivar o

desenvolvimento de determinado setor econômico.

2.3.2.2.5 Regulamentação de crédito e taxa de juros

Esta regulamentação consiste num controle de crédito pelo BACEN, que estabelece

controle de prazos e regras de financiamento para consumidores. A regulamentação da taxa de

juros também funciona como um poderoso instrumento de política monetária, pois afeta a

disponibilidade de crédito, a oferta de moeda e o investimento.

Assim como a política fiscal, a política monetária também pode ter orientação

expansionista ou restritiva, e nesse contexto, a taxa de juros desempenha um papel fundamental

na gestão desse instrumento de política macroeconômica. A política monetária expansionista

consiste no aumento da oferta de moeda através de uma redução na taxa básica de juros pelo

BACEN. Ao reduzir a taxa de juros, o crédito fica mais barato e torna-se mais vantajoso investir

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no setor privado em detrimento de outras formas de investimento4 - no caso das famílias há um

aumento do consumo e para as empresas o investimento em máquinas, equipamentos e

estoques. Em suma, esta política pode possibilitar, mediante isso, um aumento no consumo e

na produção5.

A política monetária restritiva consiste no inverso das políticas expansionistas. Nesse

caso, o Banco Central aumenta a taxa de juros, tornando o crédito e os investimentos privados

mais caros. Em contrapartida, é possível que o investimento na compra de títulos públicos fique

mais vantajoso e a captação de recursos pelo governo tende a se elevar, o que acaba

“enxugando” a quantidade de moeda em circulação. Este processo pode propiciar uma redução

na inflação, ao passo que tende a reduzir o investimento, a produção e a oferta de empregos.

2.3.3 Política Cambial

Conforme Vasconcellos (2011), política cambial refere-se ao controle do Governo sobre

a taxa de câmbio que, segundo o Banco Central do Brasil, refere-se ao "preço de uma moeda

estrangeira medido em unidades ou frações (centavos) da moeda nacional". No Brasil, a moeda

estrangeira de referência (divisa) é o dólar americano, desse modo, se a taxa de câmbio entre

real e dólar for de 1,50, diz-se que US$ 1,00 (um dólar) pode comprar R$ 1,50. É através desta

política que é possível estabelecer uma relação entre moeda nacional e estrangeira.

2.3.3.1 Regimes Cambiais

Basicamente existem duas espécies de regime cambial:

a) Câmbio de taxas fixas;

b) Câmbio de taxas flutuantes;

2.3.3.1.1 Câmbio de taxas fixas

Nesse regime, o Banco Central determina a taxa de câmbio definindo um valor pelo qual

será trocada a moeda nacional por uma divisa. Quando a taxa de câmbio sobe, aumentando a

disparidade de valor entre a divisa internacional e a moeda nacional, reduzindo seu valor de

troca, diz-se que houve uma desvalorização da moeda nacional.

4 Tornar o investimento privado mais vantajoso pode acarretar numa queda no investimento em títulos públicos, o

que pode reduzir a captação de recursos pelo Estado. 5 Com o aumento do consumo e da produção, há a tendência de, como efeito último, reduzir-se a taxa de

desemprego. Porém isso não é uma regra, mas uma possível consequência.

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A desvalorização cambial se sucede ao passo que a moeda nacional fica mais barata em

relação à divisa estrangeira. Por exemplo: numa situação hipotética na qual o dólar e real se

encontram numa relação de troca na qual R$1,00 pode comprar US$1,00. Se o Banco Central

estipular um aumento na taxa de câmbio, por exemplo, fazendo com que US$ 1,00 passe a valer

R$1,25, pode-se perceber que agora 1 real e 25 centavos tem o poder de compra de 1 dólar,

desse modo o poder de compra do real em relação ao dólar diminuiu, e o real ficou mais barato

em relação à divisa

Caso contrário, se o BACEN determinar que a taxa de câmbio diminua, ao passo que

US$1,00 dólar equivale a R$ 0,75, agora 75 centavos de real podem comprar um dólar, ou seja,

houve uma valorização e aumento do poder de compra do real perante o dólar.

2.3.3.1.2 Câmbio de taxas flutuantes

No sistema de câmbio flutuante o valor da taxa de câmbio varia de acordo com a oferta

e demanda de divisas no mercado. A oferta de divisas depende, por exemplo, da quantidade de

dólares em poder de exportadores, ou da moeda estrangeira trazida por turistas, ou ainda de

entrada de captais investidos no país. Neste caso, podemos exemplificar como moeda

estrangeira que estão entrando e elevando as reservas internas. Já a demanda de moeda, por

sua vez, depende da quantidade de dólares que importadores buscam para pagar suas transações,

da quantidade de dólares levados pelos turistas brasileiros a outros países, ou ainda pela saída

de capitais antes investidos na economia nacional.

Existem também regimes intermediários entre o câmbio fixo e flutuante, como o regime

de bandas, flutuação suja e currency board. O regime de bandas consiste num regime de câmbio

flutuante, no qual se admitem flutuações no câmbio, porém dentro de limites (bandas cambiais)

estipulados pelo Banco Central. Caso a taxa de câmbio fique acima ou abaixo do limite das

bandas, o BACEN atua, comprando ou vendendo divisas para reequilibrar o câmbio e fazê-lo

se manter dentro das bandas. Este regime foi adotado no Brasil após a implantação do Plano

Real.

A flutuação suja (dirty floating) é um regime de câmbio flutuante, porém reconhecendo-

se intervenções do Banco Central, a fim de manter o câmbio equilibrado, sem grandes

flutuações. Nesse caso se o Banco Central perceber que existe uma elevada valorização do dólar

na economia brasileira, o BACEN pode vender dólares, aumentando a oferta deste no mercado,

a fim de reduzir seu valor no mercado brasileiro. Em contrapartida, quando o preço do dólar cai

demais, o BACEN intervém comprando dólares a fim de reduzir a oferta da divisa no mercado

nacional, e aumentar sua cotação, mantendo a flutuação controlada.

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Por fim, o regime de currency board consiste numa autoridade monetária (Currency

Board) que estipula uma taxa de câmbio fixa na qual o volume de moeda nacional no mercado

interno é ofertado em função da entrada de divisas no país. Nesse sistema, a moeda nacional é

convertida em numa moeda estrangeira de acordo com a entrada das divisas no país.

Por exemplo: admitindo-se que a moeda oficial do país seja o real, a divisa âncora seja

o dólar e a taxa de câmbio fixa seja de U$1,00 por R$2,00, num regime currency board, a

agência de Currency Board imprime dois reais para cada dólar que entra na economia brasileira.

Após a conversão, a moeda produzida é injetada na economia e a divisa é recolhida. No caso

das importações ocorre o inverso, para cada dólar que sai da economia o Currency Board

recolhe R$2,00.

Em suma, a política econômica desempenha um papel fundamental ao alicerçar às

diretrizes da economia de determinada região, e seus instrumentos auxiliam o gestor

macroeconômico a conduzir suas estratégias de política macroeconômica, a fim de alocar os

recursos públicos de maneira eficiente. Nos próximos capítulos serão abordadas as estratégias

políticas macroeconômicas dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da

Silva, bem como seus desdobramentos na economia do país.

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3 DESCRIÇÃO DA GESTÃO DE POLÍTICAS ECONÔMICAS NO PERÍODO DE

1995 A 2002

Este capítulo consiste numa descrição da gestão do presidente Cardoso, no período de

01/01/1995 a 31/12/2002. Inicialmente será apresentado o cenário político e econômico da

época, no que diz respeito ao ambiente internacional e nacional, a fim de expor um breve

retrospecto sobre contexto econômico que influenciou, direta ou indiretamente, as decisões do

gestor. Posteriormente será abordada a política econômica adotada pelo governo, no âmbito das

políticas fiscal, monetária e cambial.

3.1 RETROSPECTOS POLÍTICO, ECONÔMICO INTERNACIONAL

No ambiente econômico internacional no qual se insere o mandato presidencial de

Cardoso sucederam-se duas grandes crises do setor financeiro internacional, as quais serão

analisadas nesse trabalho: a crise asiática e a crise financeira Russa; crises que contribuíram

para a formação de um cenário financeiro internacional instável e sua repercussão na política

econômica brasileira.

3.1.1 A Crise Asiática

A crise asiática teve início na Tailândia, em 1997, e logo se espalhou para o sudeste

asiático, após a substancial desvalorização do Thai Baht, moeda tailandesa, após o governo

tornar o câmbio flutuante e desatrelar a moeda do dólar, o que causou imediata desvalorização

do Baht.

Segundo Canuto (2000, p.26) as duas características comuns que atingiram as

economias emergentes asiáticas, os chamados Tigres Asiáticos, Tailândia, Malásia, Indonésia,

Filipinas e Coréia do Sul, foram:

[...] a acentuada desvalorização de suas moedas em relação ao dólar, e a queda

substancial nos preços de ativos em seus mercados acionários. Ambas refletiram

fortes saídas de capital, com correspondente redução das reservas externas daqueles

países.

Após a queda nos preços dos ativos e a desvalorização cambial, a entrada de divisas na

economia tailandesa reduziu-se drasticamente, e quando a crise se espalhou para o sudeste

asiático, tais economias tiveram forte queda em relação às suas cotações monetárias, o que

desvalorizou ações e aumentou a dívida privada, principalmente com o Fundo Monetário

Internacional (FMI).

A crise financeira asiática também afetou fortemente os mercados globais. Em outubro

de 1997 a bolsa de Hong Kong despencou em 4,1 % e a Bovespa 14,98% em um dia. No Brasil,

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para evitar a fuga de capital estrangeiro, a taxa de juros foi dobrada pelo governo, o que resultou

numa queda no crescimento econômico brasileiro, que logo foi agravado pela crise financeira

na Rússia.

3.1.2 A Crise Financeira Russa

Símile à crise asiática, a crise financeira russa de 1998 também se deu a partir da intensa

desvalorização do Rublo, moeda russa, porém com o agravante da moratória sobre os serviços

da dívida a credores internos e externos.

Durante a década de 1990, após o colapso econômico e a desintegração da URSS - que

já estava imersa numa crise econômica - a Rússia passou por um fracassado processo de

transição de uma economia planificada para uma economia de mercado. Segundo Pinto; Vilela

e Lima (2005) a Rússia realizou uma ampla liberalização de preços a fim de transferir empresas

estatais para agentes privados, numa malsucedida onda de privatizações, transferindo à gerentes

e trabalhadores ações das empresas para que esses as pudessem vender para agentes de fora do

país a fim de atrair divisas, o que não aconteceu.

Além das privatizações, o governo russo também optou por uma estratégia de emissão

de títulos de curto prazo, para captar recursos e financiar o déficit público, porém, dada a

situação de crise, havia uma grande desconfiança por parte dos compradores dos títulos ao risco

de inadimplência do governo, o que fez este aumentar a taxa de juros para tornar os títulos

atraentes aos credores.

Enquanto economia centralizada, a União Soviética era uma forte exportadora de

commodities, principalmente petróleo e gás - sistema herdado pela Rússia - que mantinha uma

elevada entrada de divisas no país, sustentando, até então o modelo econômico planificado.

Contudo em 1997, uma queda no preço das commodities reduziu o valor das exportações russas,

além da crise asiática, do mesmo ano, que intensificou a escassez de crédito internacional

disponível, o que afetou ainda mais a entrada de divisas no país.

Diante desse cenário, em 1998, após a quebra de diversos bancos russos e a intensa

desvalorização do Rublo, o governo declarou que era, juntamente com o Banco Central, incapaz

de quitar suas dívidas. Desse modo, foi declarada moratória de 90 dias ao pagamento da dívida

externa contraída pelos bancos russos.

A crise da Rússia também acabou atingindo os países emergentes, incluindo o Brasil,

cujo câmbio estava ancorado na captação de recursos externos, durante a implantação do plano

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Real, o que reduziu a entrada de capital estrangeiro no país, dificultando a captação de recursos

para o financiamento da dívida6.

3.2 RETROSPECTOS POLÍTICO E ECONÔMICO BRASILEIRO

Visto o cenário econômico internacional durante o período, é importante entender como

as crises que se sucederam nos anos de 1990 interferiram no contexto econômico local. Para

tal, será revisada a conjuntura política e econômica em que se insere o mandato do presidente

Cardoso, analisando a economia antes de sua posse, levando em consideração a abertura

econômica realizada pelo presidente Fernando Collor de Mello, bem como o ambiente pós

Impeachment, período no qual Cardoso esteve à frente do Ministério da Fazenda, juntamente

com a implantação do Plano Real.

3.2.1 Abertura Econômica Brasileira

Após o processo de redemocratização do Brasil, no final da década de 1980, Fernando

Collor de Melo assume a presidência da república com um plano que se aproximava dos ideais

neoliberais até então difundidos mundialmente após o fim da URSS. O plano de desestatização

da economia e incentivos à importação a fim de reduzir a hiperinflação, herdado da gestão

Sarney, ficou conhecido como “Plano Collor” que, segundo Gennari (2002, p.16) envolviam a:

[...] desindexação geral, principalmente entre preços e salários, reformulação dos

mercados cambiais, com a criação do dólar livre para as operações de exportação,

importação e transações financeiras, programa de privatização, de desregulamentação,

supressão de subsídios, reforma administrativa com o objetivo de instalar a demissão

de funcionários públicos federais etc.

Um dos enfoques de tal plano foi a abertura e liberalização econômica que se sucedeu

principalmente após a obsolescência do programa de substituição de importações, na qual se

eliminou políticas protecionistas à indústria nacional, barreiras não tarifárias, além da redução

de tarifas de importações, que segundo Rego (2000) a tarifa nominal média de importação, que

era de cerca de 40%, no ano de 1990, foi sendo gradualmente reduzida até atingir seu nível mais

baixo em 1995, 13%.

Essa estratégia visava conter a inflação no país (através do aumento da concorrência

interna e da oferta de produtos no mercado), que em 1989 chegou a acumular 1.782,90% ao

ano. Juntamente à abertura, em 1990, o presidente Collor decreta o bloqueio das poupanças e

6 O ano de 1998 foi eleitoral no Brasil. Desse modo, qualquer proposta de reajuste fiscal ou aumento de

impostos não seria bem visto dado tal cenário político, assim como em relação à desvalorização cambial, que

só veio a acontecer após as eleições.

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contas correntes com saldo superior a NCz$50mi (cinquenta mil cruzados novos) por um

período de dezoito meses. O confisco das cadernetas de poupança somado à recessão

econômica, o fracasso na contenção da inflação e posteriormente o envolvimento em corrupção,

marcaram o cenário político e econômico do presidente Collor, que foi substituído em dezembro

de 1992 por seu vice Itamar Franco após um processo de Impeachment.

3.2.2 Período do ministro FHC no ministério da fazenda e o Plano Real

Após o Impeachment do presidente Collor, o vice Itamar Franco assumiu a presidência

do Brasil, governo no qual Fernando H. Cardoso foi ministro da fazenda até março de 1994,

auxiliando na implantação de um novo modelo de estabilização econômica, e posteriormente o

Plano Real.

O Plano Real teve um papel fundamental na estabilização econômica brasileira, cujo

objetivo principal era o combate à inflação e a consolidação dos preços e salários. Segundo

Bresser-Pereira (1994, p.129), o plano real “é certamente, entre os 13 planos de estabilização

tentados no Brasil desde que se iniciou a presente crise, em 1979, o melhor concebido”

Segundo Ferrari Filho (2001, p.7) o plano real "partiu do diagnóstico de que o processo

inflacionário brasileiro decorria de dois fatores básicos: o desequilíbrio das contas públicas e a

indexação generalizada dos contratos", e nesse contexto, a política anti-inflacionária adotada

pode ser dividida em três etapas:

a) Reajuste fiscal de curto prazo;

b) Ajustamento dos preços relativos;

c) A reforma monetária.

A primeira etapa de reajuste fiscal caracteriza-se por um período de políticas fiscais

restritivas, com medidas de austeridade fiscal, para reequilibrar as contas públicas, e aumento

da receita tributária a fim de eliminar o déficit público. Ambas as medidas surtiram efeito, e já

em 1994 a economia brasileira conseguiu chegar a um superávit fiscal de 2,6%, além conquistar

o reequilíbrio do déficit nominal do setor público.

A segunda etapa deu o início da estabilização monetária, com a criação da URV como

referência de valor monetário. Em 1993, então ministro da Fazenda, FHC anuncia o plano de

estabilização econômica, denominado “Plano FHC”, no qual é criado a URV (Unidade Real de

Valor), um indexador de preços, salários e tarifas e moeda de transição precursora do Real,

porém o Cruzeiro Real se manteve como meio de pagamento.

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Em 1994, quando entra em vigor, uma URV equivalia a CR$ 2.750,00 (Cruzeiros

Reais). Segundo Ferrari Filho (2001), a URV respeitou os mecanismos de mercado, o que

possibilitou que a estabilização de preços no país, assim como a redução na inflação, como é

possível observar na Figura 1, sem que fossem congelados preços e salários ou confisco de

ativos financeiros, conforme feito anteriormente em outros planos econômicos.

Fonte: Ministério da Fazenda

A terceira etapa caracterizou-se pela reforma monetária da economia, quando foi

substituído cruzeiro real pelo real como moeda oficial para as transações econômicas no país.

Segundo Ferrari Filho (2011, p.8) esta última etapa “veio acompanhada por medidas que

estabeleceram regras de emissão monetária e definiram a paridade máxima entre real e dólar,

condições imprescindíveis para assegurar a estabilidade monetária”. Estas medidas se

caracterizam pela adoção de âncoras monetária e cambial; quanto à âncora monetária, foram

fixadas metas de crescimento para a circulação de papel moeda em poder do público e sobre as

reservas bancárias; e no que tange à âncora cambial, esta foi caracterizada por um sistema de

flutuação em bandas, e a taxa de câmbio entre real e dólar foi fixada em US$1,00 por R$1,00.

Estas etapas de implantação do plano real e estabilização econômica perduraram até o

ano de 1994, com o fim do mandato do Presidente Itamar Franco. Em 1995, Fernando Henrique

Cardoso, então eleito presidente da república, dá continuidade às medidas de estabilização

adotadas no plano real. A conjuntura econômica nacional de contenção da inflação e

estabilização da economia, associada ao cenário internacional de crise financeira na Rússia e

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500

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1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997

Figura 1 - IPCA anual acumulado (%) a.a. 1985 a 1997

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na Ásia, contribuíram para a orientação conservadora adotado em seu modelo de política

econômica, como será visto no decorrer deste trabalho.

3.3 A POLÍTICA ECONÔMICA DE FHC E O TRIPÉ MACROECONÔMICO

Este capítulo aborda a política econômica adotada pelo presidente Fernando Henrique

Cardoso no âmbito dos instrumentos de política, fiscal, monetária e cambial. Inicialmente será

abordado o tripé macroeconômico, que deu suporte para a organização da política econômica

brasileira no final dos anos 90. Posteriormente, será analisada a política econômica do

presidente Fernando Henrique Cardoso e seus desdobramentos no cumprimento dos objetivos

macroeconômicos, como o crescimento econômico, dívida pública e estabilidade de preços.

Segundo Mattei e Magalhães (2001) para recuperar o crescimento econômico da

economia brasileira, o governo optou pela adoção de reformas estruturais, como a

desregulamentação bancária e financeira; a liberalização comercial, com ampla abertura da

economia do país aos produtos e bens do exterior; a redução da participação do Estado na

economia, através de um vultoso programa de privatização de empresas estatais; e a

estabilização dos preços, via política cambial fixa, esta que posteriormente torna-se obsoleta

perante o contexto econômico vigente e será substituída por uma política de câmbio flutuante,

a fim de executar a proposta do tripé macroeconômico.

3.3.1 O Tripé Macroeconômico

O tripé macroeconômico foi uma estrutura proposta em 1999, durante a gestão de FHC,

para estruturar a economia brasileira. O principal objetivo para a criação do tripé era promover

crescimento econômico e controlar a inflação. A estrutura econômica do tripé se baseia em três

principais pontos:

a) A meta fiscal

b) O câmbio flutuante

c) A meta de inflação

A meta fiscal se caracteriza por uma estratégia de corte de gastos, pois quando o governo

opta por cortar gastos, o resultado esperado é o aumento da receita pública diminuindo as

despesas com investimento e custeio por meio de um reajuste fiscal.

Durante o governo do presidente Cardoso, a estratégia de aumento da receita pública

era baseada na expectativa de geração de superávits primários, pois este poderia ser realocado

para o serviço da dívida. Ao gerar superávits primários, o governo demonstrava aos credores

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da dívida que havia um esforço para quitá-la o que mantinha a confiança dos investidores no

próprio governo, sem este correr o risco de uma fuga de investimentos na economia, pois o

mercado internacional perderia a confiança na economia brasileira, ou até mesmo a perda do

acesso ao mercado financeiro o que tornaria a captação de recursos mais difícil, o que

comprometeria o investimento do Estado, a geração de empregos, o crescimento econômico.

O câmbio flutuante viria a substituir o regime de âncora cambial adotado durante a

implantação do plano real. À mediada em que e o volume de importações foi aumentando numa

tal conjuntura que ultrapassou as exportações e o real foi se valorizou em relação ao dólar, o

volume de divisas se tornou escasso e a balança comercial desfavorável. As crises financeiras

da Rússia e da Ásia também contribuíram para aumentar a desconfiança do mercado

internacional em relação ao Brasil, provocando uma fuga de investimentos internacionais do

país. A troca do regime cambial culminou numa intensa desvalorização do real perante o dólar.

Por sua vez, a meta de inflação veio para encarecer o crédito e o investimento a fim de

reduzir a demanda agregada na expectativa de baixar a inflação e reduzir a déficit nas contas

públicas causado pela balança comercial desfavorável. Segundo o Banco Central, nos anos de

1999, 2000 e 2001, as metas para inflação foram estipuladas respectivamente em 8%, 6% e 4%

com intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%. Como será visto no decorrer da

pesquisa, essa estratégia pagou altos juros à credores da dívida, culminando em uma elevação

da mesma.

3.3.2 A política fiscal da gestão FHC

Este capítulo analisa a política fiscal adotada durante o governo do presidente Fernando

Henrique Cardoso, a qual serão expostos a receita, os gastos e o resultado do orçamento público

durante seu mandato presidencial.

Segundo Rezende (2009, p.22),

A política fiscal do governo FHC, no começo do seu mandato, era a continuação de ajustes

fiscais elaborados pelo próprio Fernando Henrique Cardoso e sua equipe econômica, ainda,

quando era Ministro da Fazenda no Governo de Itamar Franco, preparando a economia para

a entrada do plano Real, era uma política que já estava em andamento.

Essa política teve como precursora o PAI (Programa de Ação Imediata), ainda no plano

real, que segundo Filgueiras (2001 p. 103 apud Protski, 2014 p.25) o objetivo era prever "[...]

uma maior eficiência de gastos, recuperação da receita tributária, o fim da inadimplência dos

Estados e Municípios com a União, o controle dos bancos estaduais, o aperfeiçoamento a

ampliação do programa de privatizações, entre outros."

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Ao dar continuidade aos projetos de reajuste fiscal adotados durante o Plano Real, FHC

teve como objetivo reequilibrar as contas do governo por meio de uma política fiscal restritiva,

com corte de gastos em investimento e custeio, além do aumento dos impostos para aumentar

a receita fiscal. Nesse período foi reconstituído o imposto Provisório sobre Movimentação

Financeira (IPMF) além da criação do Fundo de Estabilização Fiscal (FEF), da Contribuição

Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), do Fundef (Fundo de Desenvolvimento

da Educação Fundamental) e do Fundo Social de Emergência (FSE), cujo nome será trocado

por Desvinculação de Receitas da União (DRU).

Em particular, o objetivo do Fundo Social de Emergência era dividir o orçamento em

duas partes: orçamento fiscal e orçamento da seguridade social. À seguridade social cabia o

recolhimento de contribuições sociais que compreendem as áreas da saúde, assistência social e

previdência social. Ao orçamento fiscal cabia o recolhimento de impostos tradicionais, diretos

e indiretos. Vale ressaltar que a constituição brasileira previa apenas que parte do orçamento

fiscal fosse repartida com estados e municípios, o que não aconteceria com as contribuições. A

criação do FSE fez permitiu um aumento da flexibilidade do uso dos recursos arrecadados pelo

governo, para que este os usasse considerando as despesas mais de maior prioridade, além

possibilitar a realocação de4 recursos para o serviço da dívida.

A criação do PAI e do FSE, além do aumento dos impostos, tinha por objetivo aumentar

a receita pública e, durante o primeiro mandato foi estabelecida uma âncora fiscal, ou seja, a

adoção medidas para conter os gastos públicos e garantir aos agentes econômicos que haveria

equilíbrio entre receitas e gastos e que não ocorreria a monetização da dívida pública, a Figura

2 mostra a geração de superávits primários durante a gestão FHC, os quais tiveram uma

continuação no governo seguinte.

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Fonte: Banco Central do Brasil

Segundo Mattei e Magalhães (2001) no primeiro mandato de Cardoso o governo pouco

se preocupou em poupar recursos, provocando consecutivos déficits fiscais, além de acumular

US$ 100 bilhões de déficit em contas correntes, levando o país a um estado de quebra às

vésperas das eleições de 1998, o que fez o governo recorrer a um empréstimo junto ao Fundo

Monetário Internacional (FMI) de U$ 41 bilhões, que foram cobrados já em janeiro de 1999,

primeiro ano do segundo mandato de Cardoso. É possível perceber um aumento significativo

da geração de superávits primários a partir de 1999, após as crises especulativas da Ásia e

Rússia, a fim de acalmar os credores da dívida pública e sinalizar o empenho do Brasil em

reduzir despesas e aumentar a receita para honrar seus compromissos o setor financeiro e

cumprir a exigência do (FMI) de controle fiscal e, nesse contexto foi aprovada a Lei da

Responsabilidade Fiscal adotando-se metas de inflação e câmbio flutuante.

Na tentativa de ajustar as contas públicas, para conter a inflação e gerar os superávits

fiscais, houve uma elevação na taxa básica de juros, que tornou mais atraente o investimento

em títulos da dívida o que aumentou o endividamento do setor público. Além do reajuste fiscal,

o governo também optou pelas privatizações de empresas Estatais. As privatizações tiveram

início ainda no governo Collor, mas ganharam força na gestão FHC, principalmente entre

empresas do setor de telecomunicações e das indústrias de base, como sistema Embratel, a

Telebrás, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Vale do Rio Doce, Eletropaulo,

Eletrobrás7, entre outras -, porém rodovias federais e bancos estaduais também foram

privatizados.

7A privatização das empresas Vale do Rio Doce e Eletrobrás gerou muitas críticas advindas de partidos políticos

de oposição e movimentos sociais, os quais apontavam irregularidades nesse processo, como pagamento de

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1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Figura 2 - Superávit Primário do setor Público (em % do PIB)

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Por meio da venda dos ativos públicos, estes recursos arrecadados seriam colocados à

disposição do pagamento da dívida, que além de "enxugar" moeda de circulação do mercado

(estratégia utilizada para conter a inflação), ainda retiraria a responsabilidade do governo em

administrar, dar manutenção e ampliar a capacidade produtiva das empresas, o que reduziria

seus gastos com investimento e custeio, transferindo essas funções ao setor privado, reduzindo

a participação Estatal na economia.

Calcula-se que este programa de privatizações tenha rendido aos cofres públicos cerca

de US$ 78,6 bilhões, porém esta arrecadação não conseguiu suprir o déficit público, que de

1994 até 1998 o déficit cresceu de R$ 60 bilhões para R$ 245 bilhões, pois na tentativa de

ajustar as contas públicas, para conter a inflação e gerar os superávits fiscais, houve uma

elevação na taxa básica de juros, que tornou mais atraente o investimento em títulos da dívida

o que aumentou o déficit do setor público, conforme mostra a Figura 3.

Fonte: Banco Central do Brasil

A política fiscal de FHC representou um período de fortes ajustes fiscais, com intensos cortes

de gastos e privatizações, com o intuito de gerar superávits fiscais a fim de tranquilizar o setor financeiro.

Apesar da tentativa, o reajuste ainda não foi o suficiente para cobrir a dívida e o déficit orçamentário

aumentou.

3.3.3 A política monetária da gestão FHC

propina em leilões, favorecimentos e subvalorizações das empresas. Ainda estão abertas ações judiciais que

refutam a validade das dessas privatizações.

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1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Figura 3 - Dívida Líquida Interna do Setor Público (% PIB) - 1994 a 2002

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A inflação registrada nos governos antecessores à FHC permanecia fora de controle, o

que acarretou na adoção de novos planos para estabilização da moeda, tendo fim com a

implantação do plano real, que possibilitou a estabilização de preços e posteriormente a redução

na inflação que perdurou até o fim do mandato presidencial de Cardoso.

Nesse sentido, a política monetária adotada na gestão do presidente FHC teve orientação

restritiva, com elevadas taxas de juros e de reservas compulsórias, além de uma elevada e oferta

de títulos da dívida pública, com o intuito de retirar moeda de circulação e reduzir a inflação,

que na época era um dos grandes desafios a serem controlados pelo governo, conforme expõe

a figura 4.

Fonte: Ministério da Fazenda

Segundo Rezende (2009) durante a implantação do plano real, entre julho de 94 e março

de 95 a elevação na taxa de juros não foi o suficiente para conter o aumento da demanda

agregada após pela estabilização monetária, uma vez que o público passou a guardar moeda já

que esta já não se desvalorizava, contribuindo para o aumento da liquidez no mercado. É

possível notar uma redução na taxa de juros a partir de 1996, quando já havia passado a crise

mexicana, conforme a Figura 5, porém a crise Asiática e a crise financeira Russa aguçam os

ataques especulativos dos investidores contra o real, o que levou à um aumento ainda maior da

taxa de juros a fim de defender moeda nacional.

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1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Figura 4 - IPCA anual acumulado (%) 1995 a 2002

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Fonte: Banco Central do Brasil

Com a elevação da taxa de juros a demanda agregada diminuiu, porém, também reduziu

o investimento, uma vez que o crédito se tornou mais caro, tornando mais atraente o

investimento em títulos da dívida, o que fez a dívida pública crescer consideravelmente no

período. Segundo Novelli (2010) tal política econômica "quebrou" a economia, a ponto de

necessitar um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), e a taxa de crescimento do

Produto Interno Bruto foi pífia, além do nível de desemprego crescer vertiginosamente em

regiões metropolitanas.

A Figura 6 mostra a evolução do PIB brasileiro durante a gestão de Cardoso. Como visto

anteriormente, é possível perceber uma queda entre os anos de 1998 e 1999 após a crise dos

ataques especulativos e a baixa na taxa de câmbio, que será discutido posteriormente. Entre os

anos de 2001, novamente há uma queda no PIB, pois, conforme mostra o gráfico 6, no segundo

mandato de FHC, houve uma elevação substancial na taxa e juros e dos impostos, o que afetou

o crescimento econômico no período.

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Dez/1996 Dez/1997 Dez/1998 Dez/1999 Dez/2000 Dez/2001 Dez/2002

Figura 5 - Taxa Básica de Juros SELIC(% a.a.) 1996 a 2002

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41

Fonte: IPEADATA

A política monetária contracionista adotada por FHC, com elevadas taxas de juros para

conter a inflação, elevou a dívida pública e afetou significativamente o investimento e o

crescimento econômico do país.

3.3.4 A política cambial da gestão FHC

A política cambial de Cardoso também se caracterizou como um desdobramento do que

havia sido proposto para o plano real. Inicialmente o câmbio era fixo, com uma taxa equivalente

a R$1,00 por U$1,00. A adotar esse sistema, a taxa de câmbio subiu, favorecendo as

importações, a fim de fomentar a competitividade interna, além de introduzir novos produtos

importados no mercado, aumentando a oferta agregada. Segundo Rezende (2010, p.15),

Uma vez que os preços estavam estabilizados, e a abertura econômica havia retirada

das alíquotas de bens importados, houve um grande aumento das importações. Além

disso, o poder aquisitivo da população brasileira havia aumentado, o consumo também

aumentou, crescendo principalmente o consumo de produtos importados. Assim, as

importações foram muitos maiores que as exportações o que determinou a

deterioração do saldo da balança comercial.

Em suma, as importações cresceram em ritmo acelerado e o nível de importações

excedeu o de exportações, afetando a balança comercial brasileira, conforme expõe a Figura 7,

o que ocasionou uma desvalorização do real que substituiu o câmbio fixo pelo sistema de

bandas cambiais, adotado pelo BACEN entre março de 1995 à janeira de 1999.

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6Figura 6 - Produto Interno Bruto (PIB) real

Trimestral 1997 - 2002

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42

Fonte: IBGE

Com a crise financeira na Ásia em 1997, e na Rússia em 1998, o Brasil também sofreu

ataques especulativos, o que levou investidores a retirarem capital investido no país com medo

de que acontecesse o mesmo no Brasil, o que levou à uma fuga de divisas do mercado brasileiro.

Devido à essa fuga e o aumento das importações, a âncora cambial já não poderia se sustentar,

pois a reserva de divisas ficava cada vez mais escassa. Desse modo, em 1999 o BACEN adotou

o regime de câmbio flutuante, proposto na estrutura do tripé macroeconômico, cuja

consequência foi a intensa desvalorização do real, conforme é possível observar na Figura 8.

Fonte: IPEADATA

Uma das soluções para conter o problema de falta de recursos foi o aumento da taxa de

juros, uma maneira de tornar o investimento em títulos da dívida atrativa aos investidores, a fim

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1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Figura 7 - Balança de Comercial Anual FOBSaldo em Milhões de US$

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Dez/1995 Dez/1996 Dez/1997 Dez/1998 Dez/1999 Dez/2000 Dez/2001 Dez/2002

Figura 8 - Taxa de Câmbio Nominal R$/US$ (valor de venda)

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de conter o saldo negativo provocado pela balança comercial deficitária. A meta de inflação

previa um aumento na taxa básica de juros a fim de reduzir a demanda agregada e

consequentemente a inflação. Como visto anteriormente, ao aumentar a taxa de juros o crédito

e o investimento ficam mais caros o que tende a reduzir o consumo, afetando o crescimento

econômico e a geração de empregos no país.

Segundo Armínio Fraga, ex-presidente do BACEN "O que se tem [hoje] é uma mudança

que dá à taxa de câmbio uma função diferente da função que ela tinha antes. Antes o Governo

dizia para a taxa de câmbio: ‘Você toma conta da inflação’ e dizia para a taxa de juros: ‘Você

toma conta do balanço de pagamentos. ’, que é um regime de taxa de câmbio fixa. Hoje nós

estamos escalando o time de forma diferente. Nós estamos dizendo para taxa de câmbio: 'Você

toma conta do balanço de pagamentos' ‘e para taxa de juros: ‘Você toma conta da inflação’.

Agora, nada disso funciona sem uma boa política fiscal."

Dessa forma, Armínio Fraga demonstra a inversão de funções entre taxa de câmbio e

taxa de juros. A taxa de câmbio, que antes deveria ser usada para reduzir a inflação ao facilitar

as importações, passou a ter a função de controlar o balanço de pagamentos, nesse caso, o

pagamento da dívida. Já a taxa de juros, antes utilizada para controlar o balanço de pagamentos,

passou a apresentar efeito no preço do crédito, afetando o investimento e a inflação.

Em suma a política econômica de FHC teve caráter conservadora pra reparar o

desequilíbrio das contas públicas, nesse contexto, a política fiscal adotada no Brasil durante o

período de 1995 a 2002, foi marcada por reformas estruturais, privatizações, cortes de gastos e

aumento de impostos, o que pode ser aferido como uma política fiscal de caráter restritivo, com

o intuito de atender às metas fiscais e gerar superávits primários para controlar a inflação e

manter a confiança dos agentes econômicos em relação à moeda nacional. Tal política, apesar

de ter aumentado a receita do orçamento público, não conseguiu alavancar o crescimento

econômico, esperado para a o período, com fortes quedas no PIB.

A política monetária tomou um rumo contracionista, com elevadas taxas de juros e

tentativa de redução de liquidez no mercado para conter a inflação. Tal política afetou

significativamente o investimento e o crescimento econômico do país, pois a alta nas taxas de

juros e a queda na demanda agregada contribuíram para a redução no investimento e, por sua

vez a política cambial representou uma mudança na estrutura da balança de pagamentos e taxa

de juros no Brasil e câmbio, passando este por três períodos: câmbio fixo, regime de bandas

cambiais e posteriormente câmbio flutuante, ocasionando uma intensa desvalorização deste.

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4 DESCRIÇÃO DA GESTÃO DE POLÍTICAS ECONÔMICAS NO PERÍODO DE 2002

A 2010

Este capítulo consiste numa descrição da gestão macroeconômica do presidente Luiz

Inácio Lula da Silva, no período de 01/01/2002 a 31/12/2010. Primeiramente será exposto o

cenário político e econômico da época, no que tange o ambiente internacional e nacional, a fim

de apresentar um breve retrospecto sobre contexto econômico que influenciou, direta ou

indiretamente, sua gestão. Posteriormente será abordada a política econômica adotada pelo

governo, no âmbito das políticas fiscal, monetária e cambial.

4.1 RETROSPECTOS POLÍTICO, ECONÔMICO INTERNACIONAL

A gestão do presidente Lula da Silva se sucedeu num momento relativamente tranquilo

do ponto de vista político e econômico internacional, já amenizados os efeitos das crises

financeiras e os ataques especulativos aos países subdesenvolvidos. Em relação às crises

financeiras, de maneira geral, a única grande crise que afligiu diretamente o governo de Lula

foi a crise financeira de 2008, já nos últimos anos de seu mandato presidencial, que será

abordada adiante.

4.1.1 A Crise Financeira de 2008 ou Crise dos Subprime

Segundo Bresser-Pereira (2009, p.133),

A causa direta da crise foi a concessão de empréstimos hipotecários de forma

irresponsável, para credores que não tinham capacidade de pagar ou que não a teriam

a partir do momento em que a taxa de juros começasse a subir como de fato aconteceu.

A crise teve início em meados de 2007, porém esta foi um desdobramento da crise

financeira nos EUA provocado pelo estouro da bolha da Internet8. Nesse contexto o FED

(Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, instituição análoga ao BACEN no Brasil)

procurou baixar a taxa básica de juros a fim de alavancar o investimento e conter a recessão de

2001. Segundo Ferreira (2008) os juros baixos direcionaram capitais para o setor imobiliário,

uma vez que possibilitou a expansão do crédito, que foram realocadas para o esse setor, no qual

foi possível observar um crescimento nas hipotecas, o que retomou o crescimento econômico e

aqueceu o setor imobiliário. Porém, o crédito foi concedido aos chamados clientes subprime ou

ainda NINJA (no Income, no Job, no Assets), acrônimo utilizado para se referir a pessoas “sem

8Crise Financeira ao final da década de 1990, após uma queda no índice Nasdaq (National Association of Securities

Dealers), ou bolsa de valores eletrônica, responsável por medir a variação de preços de ações de empresas do ramo

de telecomunicações e informática.

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renda, sem emprego e sem patrimônio”, características econômicas típicas de credores

subprime, que tomaram empréstimos hipotecários, representando alto índice de inadimplência

para com os bancos, mas havia a crença de que o setor permaneceria aquecido e os juros baixos

o que viabilizaria o crédito. Os bancos também apostaram na securitização das hipotecas, que

foram transformadas em títulos livremente comerciáveis que foram vendidos para outros

bancos, financeiras e seguradoras no mundo todo, os quais transformaram esses títulos de alto

risco em títulos AAA, ou seja, de baixíssimo risco.

Quando o FED aumentou a taxa de juros para conter a inflação gerada pela redução da

mesma, o preço do financiamento dos imóveis subiu e os clientes ninja não puderam mais

renegociar a dívida ou arcar com seu pagamento, e o valor dos títulos emitidos despencou,

culminando numa crise financeira global em 2008.

Essa crise afetou o Brasil em 2009, porém, através de uma elevação nos gastos públicos,

principalmente com infraestrutura, o país conseguiu gerar empregos e renda fim de aumentar o

consumo, movimentando a economia.

4.2 A POLÍTICA ECONÔMICA DE LULA DA SILVA E A CONTINUIDADE DAS

POLÍTICAS MACROECONÔMICAS IMPLANTADAS POR FHC

Ao contrário do presidente Cardoso, Lula da Silva assumiu o governo brasileiro com

um crescimento econômico em ascensão. Porém o início de seu mandato herdou de seu

antecessor, como visto anteriormente, uma taxa de juros e uma dívida externa muito alta, assim

como a inflação, esta que foi baixando durante a gestão lula.

Durante a gestão de Cardoso, Lula da Silva fez severas críticas à política econômica

conservadora adotada por ele em seu período como presidente. Lula acreditava que era de

extrema importância readquirir o controle sobre as políticas fiscal e monetária, que na época,

segundo ele, eram comandadas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), devido aos

empréstimos tomados durante a gestão FHC, o que gerou uma ânsia pela produção de superávits

primários a fim de realocá-los para o pagamento da dívida. Nesse contexto o PT (Partido dos

Trabalhadores) comprometeu-se em renegociar a dívida externa oficial e adotar um teto para o

pagamento dos juros da dívida pública.

"Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida

interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus

compromissos". Essa foi a declaração do presidente Lula em "Carta ao povo brasileiro"

documento redigido por ele em 2002, a fim de acalmar o setor financeiro, pois no mesmo ano

a dívida líquida pública chegou a ultrapassar 64% do PIB, trazendo a tona um receio quanto

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uma possível moratória, análoga aos dos países subdesenvolvidos na década de 1990, nesse

contexto o então presidente FHC negociou, com o apoio dos principais candidatos à presidência

da república, uma extensão do programa com o FMI para o ano de 2003, no qual o Brasil se

comprometeria a continuar gerando um superávit primário consolidado de 3,75% do PIB no

primeiro ano do futuro governo, o que realmente aconteceu, após as eleições no primeiro

mandato de Lula da Silva.

Desse modo, em 2003, o presidente Lula toma posse em meio a um cenário de elevada

inflação, desconfiança do setor financeiro e um elevado risco-país devido às incertezas do

mercado em relação ao rumo da economia brasileira. Nesse contexto, o principal objetivo do

governo se caracterizava na manutenção do tripé macroeconômico - geração de superávits

primários, metas de inflação e câmbio flutuante - aprofundando o mecanismo neoliberal

herdado pela gestão anterior, dando continuidade ao que já vinha sendo feito no âmbito das

políticas fiscal, monetária e cambial.

4.2.1. A política fiscal da gestão Lula da Silva

Segundo Giambiagi (2004) para cumprir os compromissos com o setor financeiro e

garantir a geração de superávits primários, o governo Lula da Silva:

a) Anunciou as metas de inflação previstas para 8,5% em 2003 e 5,5% 2004;

b) Aumentou a taxa de juros nominal para 26,5%, a fim de conter a inflação;

c) Elevou a meta de superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB em 2003 e;

d) Comprometeu-se em preservar a meta de superávit primário de 4,25%, durante todo o

período de seu governo.

As principais mudanças estruturais no governo durante o primeiro mandato, para

cumprir as metas fiscais o governo priorizou reduzir as despesas com previdência e aumentar a

tributação, por meio da aprovação de PECs (Propostas de Emendas Constitucionais) submetidas

ao Congresso Nacional. No caso da previdência, foi estabelecida uma idade mínima para

aposentadoria de servidores públicos, 55 anos para as mulheres e 60 anos para os homens, e

também foi elevado o teto de benefícios do INSS. No que tange a reforma tributária, renovou-

se a Desvinculação de Recursos da União (antiga FES criada na gestão de Cardoso) e prorrogou-

se a CPMF. A prática dessas medidas juntamente com a elevação do imposto sobre circulação

de mercadorias (ICMS) de alguns estados nos setores de energia, telefonia e gasolina

contribuíram para o aumento na geração dos superávits primários durante o primeiro mandato,

estendendo-se para os anos de 2006 e 2007, nos quais a elevação da carga tributária também

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possibilitou um aumento dos gatos públicos e o pagamento da dívida externa, que foi sendo

reduzida durante a gestão Lula da Silva.

Nesse contexto, o governo aos poucos foi devolvendo a confiança aos agentes

econômicos em relação ao mercado brasileiro; a taxa de câmbio caiu e a queda na taxa de juros

pode ser retomada. A Figura 9 mostra o resultado primário do setor público em % do PIB

durante a gestão de Lula.

Fonte: Banco Central do Brasil

Apesar do esforço em elevar a receita, as despesas também aumentaram, principalmente

o que tange as despesas previdenciárias e o aumento das transferências para estados e

municípios, custeio e assistência social. Os gastos com a previdência entre os anos de 2002 e

2005 aumentaram de 6,08% do PIB em 2002 para 7% do PIB em 2005, chegando a 7,04% do

PIB em 2007. A Figura 10 expõe a evolução do gasto social federal com a previdência.

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Figura 9 - Resultado Primário do Setor Público em % do PIB

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Fonte: IPEA

As despesas com custeio, as transferências para estados e municípios e assistência social

também aumentaram, segundo Rezende (2009) o gasto com as transferências passou de 21,6%

do PIB em 2002 para 22,6% do PIB em 2005. E em relação ao investimento público, esse

aumentou devido ao investimento dado ao PAC (Programa de aceleração ao Crescimento),

programa criado em 2007 para possibilitar a retomada do planejamento e execução de grandes

obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país, colaborando para o seu

desenvolvimento acelerado e sustentável (Ministério do Planejamento, 2017).

O PAC teve um papel essencial na economia brasileira durante a crise financeira de

2008, assegurando emprego e renda, o que por sua vez garantiu a continuidade do consumo de

bens e serviços, mantendo ativa a economia e mitigando os efeitos da crise sobre as empresas

nacionais. (Ministério do Planejamento, 2017)

Por sua vez, os gastos com assistência social também obtiveram um aumento expressivo

no governo de Lula da Silva, se comparado ao governo de Cardoso. Nesse contexto, o governo

priorizou o combate à pobreza por meio de programas que deram enfoque na transferência de

renda direta, como o Bolsa Família, programa criado em 2003, cujo principal objetivo é o

combate à miséria e à desigualdade social no Brasil, o que deu uma orientação mais

desenvolvimentista ao segundo mandato de Lula da Silva. A Figura 11 mostra a elevação do

gasto social federal durante os mandatos de Cardoso e Lula da Silva.

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Figura 10 - Gasto Social Federal com Previdência Social em % do PIB

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Fonte: IPEA

A elevação nos gastos foi possibilitada pela balança comercial, que se tornou favorável

a partir de 2003, quando o Brasil aumentou suas exportações para economias que se

encontravam em expansão como EUA e China, que será abordado melhor abordado na análise

da política cambial no período de 2002 a 2010.

4.2.2. A política monetária da gestão Lula da Silva

A política monetária adotada pelo gestor macroeconômico Lula da Silva também deu

seguimento àquilo que já vinha sendo feito e obtendo bom êxito desde a gestão anterior, no

caso elevação da taxa de juros para dar continuidade ao controle dos preços e atender às metas

de inflação9.

Segundo Silva e Longuinhos (2013) no primeiro trimestre de 2003, após a intensa

desvalorização do câmbio ocorrida em 2002 devido à fuga de capitais causada após os ataques

especulativos à moeda brasileira, o governo Lula decide combater a crescente inflação de forma

urgente ou perder-se-ia o controle inflacionário. Para conter a inflação o BACEN subiu a taxa

de juros, conforme exposto na Figura 12, com a qual no ano de 2003 o Brasil foi colocado no

Ranking de países com as maiores taxas de juros do mundo.

9 Vale ressaltar que durante o governo Lula, foi dada autonomia para o BACEN, para que este pudesse arbitrar o

controle inflacionário do país, transferindo ao banco a autoridade sobre o controle das metas de inflação e das

taxas de juros e de câmbio.

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Figura 11 - Evolução do Gasto Social Federal em % do PIB

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Fonte: Banco Central de Brasil

Entre 2003 e 2005 a taxa de juros crescente teve como objetivo controlar os preços a

fim de cumprir as metas de inflação, desse modo, durante o período de crise, o BACEN atuou

de forma comprometida a definir a taxa de juros de maneira a cumprir tais metas estabelecidas

em relação ao IPCA. A Figura 13 expõe o IPCA anual juntamente com as metas de inflação

estipuladas pelo BACEN.

Fonte: Ministério da Fazenda e BCB

Segundo Silva e Longuinhos (2013) concomitantemente à elevação na taxa de juros, as

reservas compulsórias também sofreram expressiva elevação, nesse contexto, em fevereiro de

2003 o compulsório se elevou de 45% para 60% de exigibilidade sobre os depósitos à vista,

permanecendo nesse patamar até agosto do mesmo ano, quando voltou a 45%. Ao elevar a taxa

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Figura 12 - Taxa Básica de Juros SELIC (% a.a.) 2002 a 2010

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IPCA Anual Acumulado Metas de Inflação

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de reservas compulsórias, acesso ao o crédito ficou limitado, tornando-se, esse, mais caro, e

como efeito reduziu a demanda agregada e o investimento, o que também refletiu numa redução

do crescimento econômico.

Nos anos de 2006 e 2007 a taxa permaneceu decrescente, possibilitada pelo alto nível

de exportações que favoreceram a balança comercial e o pagamento da dívida pública, porém

a partir de 2008 com a crise financeira global, afetando as exportações brasileiras,

desequilibrando a balança comercial e o câmbio, que se desvalorizou no período, forçando o

governo a adotar uma política monetária restritiva para conter a crescente inflação, com um

expressivo aumento da taxa de juros em 2008, porém em 2009, com uma redução favorecida

pela retomada das exportações, principalmente para a China que na época ostentava um

crescimento econômico superior a 11% ao ano.

Conforme é possível observar na Figura 14 entre os anos de 2005 e 2008, o PIB

brasileiro sofreu ciclos de crescimento seguidos por quedas expressivas logo em seguida, ou

seja, crescimentos "stop-and-go", causados pelos momentos de altas taxas de juros, as quais

refletem no investimento e demanda agregada afetando o crescimento econômico.

Fonte: IPEADATA

Segundo Mattei e Magalhães (2001) esse movimento stop-and-go pode ser explicado

sob a ótica externa, ou seja, um crescimento interno muito dependente da conjuntura econômica

internacional - principalmente em relação ao preço das commodities que estavam em alta e

depois caíram, afetando a balança comercial - e pela ótica interna durante a crise financeira

global de 2008, devido a uma expansão do crédito e dos gastos públicos a fim de elevar o

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Figura 14 - Produto Interno Bruto (PIB) real Trimestral 2002 - 2010

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consumo e a produção, o que fez o PIB crescer, e a política econômica anticíclica adotada para

reduzir a inflação no período, com altas taxas de juros, reduzindo o PIB. Porém em 2010 o

crescimento econômico foi retomado devido ao restabelecimento das exportações para a

economia chinesa em expansão.

4.2.3. A política cambial da gestão Lula da Silva

A política cambial do governo de Lula da Silva se caracterizou por um aumento das

exportações e a manutenção da estratégia de câmbio flutuante adotada no tripé

macroeconômico, favorecida pelo restabelecimento da confiança do setor financeiro na

economia brasileira, alcançada pelo comprometimento do governo com o reajuste fiscal. Desse

modo, com o aumento do volume de exportações e a relativa tranquilidade do setor financeiro,

o câmbio voltou a se estabilizar, sofrendo uma gradual valorização, conforme exibe a Figura

15, porém, em 2008 é possível perceber uma desvalorização, devido á crise financeira de 2008,

que desacelerou as exportações.

Fonte: IPEADATA

Segundo Mattei e Magalhães (2001) com uma demanda em expansão, a China ampliou

substancialmente suas taxas de investimento, o que elevou enormemente o PIB do país. Desse

modo, a China ampliou sua demanda por commodities, desencadeando um aumento dos preços

destes no mercado internacional. Apesar de a valorização cambial ser menos favorável às

exportações, com o preço das commodities em alta, o Brasil aproveitou essa oportunidade

proporcionada pelo mercado para aumentar o quantum exportado e tornar favorável a balança

comercial brasileira, conforme a Figura 16. Em 2008, devido à crise financeira global, que

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Figura 15 - Taxa de Câmbio Nominal R$/US$ (valor de venda)

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afetou significativamente a balança comercial brasileira, o câmbio sofreu uma intensa

desvalorização, contribuindo para um aumento da inflação no período

Fonte: IBGE

A partir da análise o gráfico 16, é possível perceber que há uma queda substancial das

exportações provocada pela crise financeira do subprime entre os anos de 2007 e 2008, com

uma elevação em 2009. Países que possuem suas exportações baseadas em commodities foram

os mais afetados com a redução nos preços destas, que além do mais, já possuem baixo valor

agregado.

Pode-se dizer que elevação das importações e as estratégias de reajuste fiscal para

acalmar o setor financeiro, além de conter a inflação possibilitaram ao Brasil aumentar suas

reservas de divisas, o que permitiu o pagamento da dívida externa, chagando, esta, a zerar em

2007. Com a dívida externa quitada, o Brasil pode até mesmo emprestar recursos para o FMI

em 2008 e 2009.

Em suma, a política cambial de Lula da Silva manteve o mecanismo de câmbio flutuante

adotado na gestão anterior, aproveitando uma elevação nos preços das commodities no mercado

internacional e o aumento das exportações para liquidar a dívida externa.

Enfim, pode-se dizer que a política econômica de Lula da Silva após um período de

continuidade à política econômica do ex-presidente Cardoso, em geral, tomou um caráter menos

conservador em relação ao seu antecessor a partir de seu segundo mandato, com o aumento do

gasto social, do gasto público e distribuição de renda, tudo isso favorecido pelo aumento nas

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Figura 16 - Balança de Comercial Anual FOB Saldo em Milhões de US$

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exportações que possibilitou o pagamento da dívida pública, a redução na taxa de juros e de

câmbio, retomando o crescimento econômico.

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5 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou os mecanismos de política fiscal, monetária e cambial

utilizados nos dois mandatos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso, assim como nos de

Luiz Inácio Lula da Silva. O mandato de Cardoso se sucedeu num momento de incertezas de

mercado, as quais recaíram sobre o Brasil, vindo este a sofrer com a especulação financeira, o

que provocou uma fuga de capitas estrangeiros, tanto de investimentos como de credores da

dívida interna. Nesse contexto o governo procurou acalmar o mercado a fim de não perder mais

investimentos e não comprometer sua captação de recursos no mercado de capitais.

As políticas monetária e cambial durante a gestão de Cardoso, primeiramente, deram

continuidade à o que vinha sendo feito à partir do plano real para conter a inflação.

Primeiramente a estratégia para controlar o aumento dos preços deu-se por uma política de

câmbio fixo, no caso um regime de bandas cambiais na qual o dólar foi pareado com o real

numa relação de US$1,00 para R$1,00, com poucas variações até o ano de 1998. O real

desvalorizado viabilizou as importações aumentando a oferta de produtos no mercado

brasileiro, como o esperado, porém as exportações foram inviabilizadas afetando a balança

comercial brasileira, que ficou deficitária entre os anos de 1995 a 2001. A quebra na balança

não foi o único transtorno da adoção dessa política por tanto tempo, pois os produtos brasileiros

tiveram uma grande dificuldade em competir em preço e qualidade com as mercadorias

estrangeiras, levando em consideração que o Brasil até o governo do Presidente Sarney a

economia era menos aberta, com mais barreiras legais e protecionistas, o que reduziu a

demanda por produtos nacionais; quando a demanda interna reduz, a produção e,

consequentemente, o crescimento econômico tendem a sofrer uma queda, como visto

anteriormente. Além da queda na produção, as privatizações e as demissões voluntárias no setor

público também contribuíram para agravar o desemprego no país, nesse contexto o PIB

brasileiro muito baixo, chegando a taxas de crescimento negativas nos anos de 1998 e 1999.

Em 1999, quando o Brasil fez a transição do câmbio fixo para o flutuante, o real, que

estava supervalorizado, se desvalorizou intensamente, encarecendo o preço das importações,

porém com cenário favorável para exportações devido a essa desvalorização cambial. Ao

colocar em prática a estratégia do tripé macroeconômico, elevou-se a taxa de juros a fim de

controlar da inflação e tornar a compra de títulos da dívida pública atraentes, com o intuito de

captar recursos para o pagamento da dívida externa, o que elevou a dívida interna; ao elevar a

taxa de juros a partir dos 2000, a demanda tende a cair, assim como o investimento, afetando

ainda mais o crescimento econômico.

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A política econômica do presidente Cardoso ao manter o câmbio fixo controlou a

inflação até certo ponto. A insistência nessa política tornou a balança comercial negativa até

1999, afetou a indústria nacional e não trouxe crescimento econômico expressivo, este que só

foi retomado no último trimestre de 1999 e voltou a regredir em 2001 com a elevação na taxa

de juros. Quanto ao setor financeiro, há de se reconhecer que o Brasil foi vítima da especulação

financeira, que culminou numa fuga de capitais, mesmo com os reajustes para elevar a receita,

o sucessor do presidente Cardoso herdou um mercado ainda coberto por incertezas e deu

continuidade à política fiscal restritiva

Em relação à política fiscal, estratégia usada pelo governo de Cardoso foi a adoção de

uma política fiscal restritiva a partir de 1999, com um forte reajuste fiscal que visava reduzir as

despesas e gerar superávits primários, cujos resultados seriam realocados para o pagamento do

serviço da dívida. Tais medidas visavam demonstrar ao mercado que o governo se preocupava

em cumprir seus compromissos financeiros, assim como em sinalizar aos credores externos que

o país não declararia a moratória, como haviam feito a Rússia e alguns países asiáticos. Ocorre

que tal estratégia não foi suficiente para reduzir efetivamente, em termos líquidos, nem a dívida

interna, nem a externa, que cresceram após o primeiro mandato do governo de Cardoso, no qual

despendeu recursos e pouco se esforçou em gerar superávits primários e mantendo uma dívida

crescente. No início de seu segundo mandato, em 1999, com as dívidas interna e externa

crescentes, Cardoso iniciou sua política de reajuste fiscal, principalmente após fazer

empréstimos com o FMI, em 1998, o que pressionou ainda mais o governo a conter seus gastos,

aprovando leis para aumentar a arrecadação do Estado, elevando impostos, reduzindo a

transferência de recursos para estados e municípios, além do programa de privatizações.

Já a política econômica do presidente Lula da Silva manteve os reajustes fiscais da

gestão anterior para dar continuidade à geração de superávits primários e tranquilizar o mercado

financeiro. Os impostos criados na gestão de Cardoso foram mantidos e alguns foram

aumentados por meio de PECs como intuito de elevar a receita pública. Apesar da orientação

restritiva da política fiscal no início do governo Lula, as despesas também aumentaram

principalmente no que tange a previdência, assistência social e investimento, este que em 2008

aumentou significativamente durante a crise financeira de 2008, a fim de gerar empregos e

elevar a demanda agregada. Esta elevação nos gastos foi possibilitada pelo aumento dos

impostos em circulação de mercadorias em alguns estados possibilitaram uma elevação dos

superávits. O resultado Fiscal do setor público foi crescente até 2005, sofrendo uma queda em

2006, com o aumento do investimento e das transferências para os estados e municípios, além

de pequenas oscilações até 2008, sofrendo uma substancial queda em 2009, quando o governo

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elevou seus gastos, com investimento para gerar empregos e demanda agregada. Pode-se dizer

que a elevação dos gastos públicos deu uma orientação mais desenvolvimentista ao segundo

mandato de Lula da Silva.

Quanto à política monetária, quando Lula da Silva assumiu, a inflação ainda estava alta e

a taxa de juros que se manteve em crescimento até cair em 2002 e voltar a crescer a partir de

2003. A fim de controlar a inflação, o BACEN se comprometeu em cumprir executar a política

monetária com o intuito de cumprir as metas fiscais, o que juntamente à continuidade do

reajuste fiscal acalmou o mercado financeiro. As reservas compulsórias também aumentaram,

dando uma orientação restritiva à política monetária de Lula até 2005, quando a taxa de juros

começou a cair, cenário possibilitado pela elevação das exportações e o pagamento da dívida

externa pública. Em 2008, devida a uma queda nas exportações o BACEN elevou a taxa de

juros após desvalorização cambial devido a uma queda nas exportações. Nesse cenário é

possível observar uma elevação na inflação no período, que foi reestabilizada após a retomada

das exportações para a China, possibilitando uma retomada no crescimento econômico e

redução na taxa de juros e na taxa de câmbio em 2009. Quanto à inflação é possível observar

uma queda de 2003 em diante, ao passo da elevação da taxa de juros, até aquela voltar a crescer

em 2007, 2008 e 2010, devido à política de elevação nos gastos públicos adotada no segundo

mandato de Lula da Silva.

Enfim, ao que tange a balança comercial, esta se tornou crescente a partir de 2001 e

manteve um substancial crescimento até 2007. Este crescimento foi possível devido ao aumento

das exportações para a China e EUA, que possibilitou uma balança comercial favorável devido

ao alto preço das commodities. É possível dizer que o Brasil se tornou um tanto dependente da

conjuntura econômica internacional, ou seja, do preço das commodities ao direcionar as

exportações para este tipo de produto. Vale ressaltar que o crescimento econômico acompanhou

as variações da taxa de juros e das exportações de commodities; nesse caso pode-se inferir que

o crescimento econômico se tornou substancialmente dependente da conjuntura internacional -

pelas exportações das commodities; pelos momentos de aumento e redução da taxa de juros; e,

posteriormente, pela elevação dos gastos públicos, para mitigar os efeitos da crise financeira de

2008.

Em suma, ambos os gestores macroeconômicos adotaram estratégias de gestão

orientadas para conter a inflação e se adaptar ao cenário econômico internacional vigente em

cada período, levando-se em consideração o contexto econômico interno e externo. Em geral,

o governo de Cardoso tomou uma orientação mais conservadora, com elevadas taxas de juros

e fortes reajustes fiscais dando continuidade ao processo de estabilização monetária e contenção

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da demanda agregada, o que afetou significativamente a taxa de desemprego e o crescimento

econômico, este que apresentou baixo crescimento em diversos períodos de seu mandato. Já o

governo de Lula da Silva, em seu primeiro mandato, manteve a postura conservadora, porém

conseguiu dar uma orientação mais progressista no segundo, elevando seus gastos e sendo capaz

de aproveitar as oportunidades advindas do comércio internacional, o que se pode dizer que

trouxe uma herança de dependência do agronegócio sobre a economia do país, mas possibilitou

ao Brasil quitar sua dívida externa e retomar o crescimento econômico.

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