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Abril de 2002 30 Cultivar www.cultivar.inf.br Café O bicho-mineiro ou minador das folhas do cafeeiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville, 1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é talvez a principal praga do cafeeiro (Coffea spp.) na atualidade, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e de maior défi- cit hídrico. É uma praga exótica, que tem como re- gião de origem o continente africano. Foi constatada no Brasil a partir de 1851, vindo provavelmente em mudas atacadas proveni- entes das Antilhas e Ilha de Bourbon. É con- siderada praga monófaga, atacando somen- te cafeeiros. À semelhança do que ocorreu com a bro- ca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Scolytidae), o surgimen- to da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemi- leia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 70, é também um marco para o bicho- mineiro. Cafeeiros plantados em espaçamen- tos adequados para alta tecnologia ao con- trole da ferrugem propiciam melhores con- dições para o ataque do bicho-mineiro que, ao contrário da broca-do-café, se desenvolve bem em condições de maior insolação e bai- xa umidade do ar. O adulto do bicho-mineiro é um microle- pidóptero cuja mariposinha mede 6,5 mm de envergadura, tem coloração branco-prateada e asas anteriores e posteriores franjadas. Quan- do em repouso, as asas anteriores cobrem as posteriores (Figura 1). Coloca os ovos na su- perfície superior das folhas e a lagartinha, ao eclodir, penetra diretamente para o interior da mesma, sem entrar em contato com a par- te externa. As lagartinhas vivem dentro de le- sões ou minas foliares por elas mesmas cons- truídas e, quando completamente desenvol- vidas, medem cerca de 3,5 mm de compri- mento (Figura 2). Após completo desenvolvi- mento, abandonam as folhas pela parte supe- rior das minas e, com o auxílio de um fio de seda, por elas mesmas produzido, descem até as folhas baixeiras para empupar em casulos construídos com fios de seda no formato da letra X (Figura 3). As lesões são inconfundí- veis, apresentando o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções. O con- torno, em geral, tende para o formato arre- dondado. A epiderme superior da folha, no Insetos na folha Insetos na folha Insetos na folha Insetos na folha Insetos na folha Fig.03 O bicho-mineiro já é considerado por alguns pesquisadores a pior praga do cafeeironaatualidade;saiba como fazer o controle adequado Fig.09 Fig.09 Fig.03

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Page 1: Insetos na folha - grupocultivar.com.br · to da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemi-leia vastatrix Berk. & Br., no início da década de 70, ... envergadura, tem coloração branco-prateada

Abril de 200230 Cultivar www.cultivar.inf.br

Café

Obicho-mineiro ou minador dasfolhas do cafeeiro, Leucopteracoffeella (Guérin-Mèneville,

1842) (Lepidoptera: Lyonetiidae) é talvez aprincipal praga do cafeeiro (Coffea spp.) naatualidade, principalmente nas regiões detemperaturas mais elevadas e de maior défi-cit hídrico.

É uma praga exótica, que tem como re-gião de origem o continente africano. Foiconstatada no Brasil a partir de 1851, vindoprovavelmente em mudas atacadas proveni-entes das Antilhas e Ilha de Bourbon. É con-siderada praga monófaga, atacando somen-te cafeeiros.

À semelhança do que ocorreu com a bro-ca-do-café, Hypothenemus hampei (Ferrari,1867) (Coleoptera: Scolytidae), o surgimen-to da ferrugem-do-cafeeiro no Brasil, Hemi-leia vastatrix Berk. & Br., no início da décadade 70, é também um marco para o bicho-mineiro. Cafeeiros plantados em espaçamen-tos adequados para alta tecnologia ao con-trole da ferrugem propiciam melhores con-dições para o ataque do bicho-mineiro que,ao contrário da broca-do-café, se desenvolvebem em condições de maior insolação e bai-xa umidade do ar.

O adulto do bicho-mineiro é um microle-pidóptero cuja mariposinha mede 6,5 mm deenvergadura, tem coloração branco-prateadae asas anteriores e posteriores franjadas. Quan-do em repouso, as asas anteriores cobrem asposteriores (Figura 1). Coloca os ovos na su-

perfície superior das folhas e a lagartinha, aoeclodir, penetra diretamente para o interiorda mesma, sem entrar em contato com a par-te externa. As lagartinhas vivem dentro de le-sões ou minas foliares por elas mesmas cons-truídas e, quando completamente desenvol-vidas, medem cerca de 3,5 mm de compri-mento (Figura 2). Após completo desenvolvi-mento, abandonam as folhas pela parte supe-

rior das minas e, com o auxílio de um fio deseda, por elas mesmas produzido, descem atéas folhas baixeiras para empupar em casulosconstruídos com fios de seda no formato daletra X (Figura 3). As lesões são inconfundí-veis, apresentando o centro mais escuro, comoresultado do acúmulo de excreções. O con-torno, em geral, tende para o formato arre-dondado. A epiderme superior da folha, no

Insetos na folhaInsetos na folhaInsetos na folhaInsetos na folhaInsetos na folha

Fig. 03

O bicho-mineiro já éconsiderado por algunspesquisadores a pior praga docafeeiro na atualidade; saibacomo fazer o controle adequado

Fig. 09Fig. 09 Fig. 03

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local da lesão, destaca-se com facilidade (Fi-gura 4). De modo geral e, principalmente, nasépocas de grande infestação, o maior númerode lesões é encontrado nas folhas do topo dasplantas (terço superior).

O ciclo evolutivo de ovo a adulto duraentre 19 e 87 dias, sendo menor em tempera-turas mais elevadas, e a fase de lagarta, que é aque causa danos, leva de 9 a 40 dias, passan-

do por pelo menos três ecdises, e em médiapodem ocorrer 8 gerações por ano, podendochegar a 12.

A ocorrência do bicho-mineiro está con-dicionada a diversos fatores: (1) climáticos -temperatura e chuva, principalmente; (2) con-dições da lavoura - lavouras mais arejadas têmmaior probabilidade de serem atacadas; e (3)presença ou ausência de inimigos naturais -parasitóides, predadores e entomopatógenos.

As épocas em que são constatadas as mai-ores populações da praga são os períodos se-cos do ano, com início de junho a agosto eacme em outubro, sendo menor antes e apósesses meses. Há casos em que a população au-menta em março-abril, em decorrência de ve-ranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, comoocorreu em 1990, na região Sul de MinasGerais e como freqüentemente ocorre na ca-feicultura do cerrado mineiro. As condiçõesdo tempo que influenciam negativamente apopulação da praga são a precipitação pluviale a umidade relativa, ao contrário da tempe-ratura, que exerce influência positiva.

As pulverizações de oxicloreto de cobre,para o controle da ferrugem, já foram tam-bém correlacionadas com o aumento da po-

pulação do bicho-mineiro, porém as causasnão foram determinadas.

DANOAs lesões, causadas pelas lagartas do bi-

cho-mineiro nas folhas, reduzem a capaci-dade de fotossíntese em função da reduçãoda área foliar e, se o ataque for intenso ocorrea desfolha da planta, de cima para baixo,devido à distribuição da praga. Em geral, asplantas que sofrem intenso ataque do bi-cho-mineiro apresentam, principalmente,o topo completamente desfolhado poden-do, no entanto, sofrer desfolha total. Emconseqüência da desfolha, há redução daprodução e da longevidade dos cafeeiros. La-vouras intensamente desfolhadas pela pra-ga podem levar até dois anos para se recu-perar.

No Sul de Minas foi constatada, em1976, uma redução na produção de café daordem de 52%, devido a uma desfolha de67% no mês de outubro, em conseqüênciado ataque do bicho-mineiro, ocasião em queocorreu a maior florada daquele ano. Poste-riormente, entre 1987 e 1993, também fo-ram constatados altos prejuízos, sendo en-contrada uma redução na produção entre34,3 e 41,5% (Vide Cultivar v.2, n.22, p.14-16, nov. 2000). Maior prejuízo, de aproxi-madamente 72 % de redução na produção,foi observado na cafeicultura do cerrado mi-neiro, em 1998, região quente e favorável àpraga.

CONTROLEAlém do controle químico convencional,

serão discutidas algumas formas de controlenatural ou aplicado, que podem auxiliar naredução da praga, porém nem sempre comeficiência que permita reduzir significativa-mente os danos.

Controle Cultural - A utilização de que-Fig. 02

O controle do bicho-mineiroé abordado por PauloRebelles Reis

Fig. 09 - Rasgadurasproduzidas por vespas pararetirada da lagarta bicho-mineiro

Fig. 03 - Casulo do bicho-mineiro construído por fios deseda no formato de X

Fig. 02 - Lagartas de bicho-mineiro no interior da mina,tendo sido retirada a epidermesuperior da folha na lesão

Fig. 02

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Fig. 08 - Insetos capturados por armadilhaadesiva de cor amarela em cafezal, sendo amaioria vespas predadoras do bicho-mineiro

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bra-ventos, ou arborização, com plantas apro-priadas para tal fim, e devidamente planeja-dos, auxiliam na redução do ataque da praga,que tem preferência por locais mais secos earejados. São indicadas a seringueira, maca-dâmia, abacateiro, cajueiro, ingazeiro, grevílearobusta, bananeira entre outras.

A arborização pode ser um componenteimportante no equilíbrio ecológico do cafezal,também devido ao abrigo que oferece aos ini-migos naturais de pragas. Faixas de vegeta-ção, denominadas de “corredores biológicos”,entre talhões, que têm auxiliado no controlenatural de pragas em diversas culturas, certa-mente o farão também em cafezais.

Resistência Genética - Embora hajam es-pécies de cafeeiro que apresentam resistênciagenética ao bicho-mineiro, como Coffea ste-nophylla G. Don. e Coffea racemosa Lour., en-tre outras, as fontes de resistência ainda nãoestão presentes nos cultivares comerciais, comojá existem naqueles resistentes à ferrugem-do-cafeeiro, talvez a forma ideal de resolver o pro-blema da praga, com menor custo de produ-ção e nenhum impacto ambiental.

Controle por Comportamento - Já é co-nhecido o feromônio sexual do bicho-mi-neiro, o qual pode ser utilizado para moni-toramento da praga e mesmo na capturade machos adultos, em armadilhas de fe-romônio e cola, reduzindo a possibilidadede acasalamento e, conseqüentemente, apopulação da praga.

Controle Biológico - O controle biológicodo bicho-mineiro é feito por predadores, pa-rasitóides e entomopatógenos.

Controle Biológico por Predadores - EmMinas Gerais, o predatismo das lagartas dobicho-mineiro, feito principalmente pelas ves-

pas Protonectarina sylverae, Brachygastra leche-guana, Synoeca surinama cyanea, Polybia scu-tellaris e Eumenes sp. (Hymenoptera: Vespi-dae) (Figuras 7 e 8), está em torno de 70% deeficiência.

Os vespeiros formados nos cafeeiros, ape-sar de poucos, via de regra são destruídos pe-los trabalhadores rurais, pois as vespas sãoagressivas e podem causar acidentes. Resta,portanto, a preservação de matas remanescen-tes, e o reflorestamento com espécies nativasda região, o que contribuirá para a preserva-ção e aumento das vespas predadoras que ne-las se abrigam (Tabela 1).

Em condições de laboratório, já foi verifi-cado que larvas do predador Chrysoperla ex-terna (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopi-dae) conseguem predar as fases de pré-pupa epupa do bicho-mineiro, mas não conseguempredar as fases de ovo e lagarta, esta últimapor estar protegida dentro das lesões, consti-tuindo-se, assim, em mais um agente de con-trole biológico da praga.

Controle Biológico por Parasitóides - Oparasitismo natural das lagartas de bicho-mi-neiro apresenta cerca de 18% de eficiência nocontrole da praga, feito principalmente pelosmicrohimenópteros Colastes letifer, Mirax sp.(Hymenoptera: Braconidae), Closteroceruscoffeella, Horismenus sp. (Hymenoptera: Eu-lophidae) e Proacrias sp. (Hymenoptera: En-tedontidae). Outras espécies também já fo-ram constatadas parasitando lagartas de bi-cho-mineiro no Brasil (Tabela 2).

Controle Biológico por EntomopatógenosDos agentes de controle biológico do bicho-mineiro, os patógenos ou microorganismosentomopatogênicos são os menos conhecidos,passando até mesmo despercebidos, emborapossam causar epizootias quando as condi-ções lhes são favoráveis. Sabe-se, entretanto,de sua existência e do potencial que possuempara o controle da praga. Já foram relatadasas presenças de bactérias e fungos em lagartasagonizantes ou mortas (Tabela 3). As bactéri-as Erwinia herbicola (Enterobacteriaceae) ePseudomonas aeruginosa (Pseudomonadaceae)

são apontadas como os microorganismos maiseficientes até agora conhecidos em epizootiasde lagartas de bicho-mineiro, com ocorrênciade 65 e 90 %, respectivamente.

Controle por Extratos Vegetais - Uma dasespécies vegetais cujo extrato mais tem sidopesquisado é a Azadirachta indica A. Juss.(Meliaceae), conhecida como “nim”. A aza-diractina, encontrada principalmente nas se-mentes, e em menor quantidade na casca ena folhas do nim, é o principal composto res-ponsável pelos efeitos tóxicos aos insetos. Re-sultados promissores foram obtidos na redu-ção da postura e da sobrevivência de ovos dobicho-mineiro com a utilização de extrato denim. Outros extratos de plantas têm mostra-do também resultados promissores no con-trole do bicho-mineiro, como o extrato de fo-lhas de chagas (T. majus) e do mentrasto (A.conyzoides).

Controle por Biofertilizantes e Caldas Fi-toprotetoras - O uso de biofertilizantes e decaldas fitoprotetoras tem se difundido, prin-cipalmente, em sistemas agrícolas familiares.O “super-magro”, um biofertilizante fermen-tado e enriquecido, empregado em pulveriza-ção como adubação complementar no cafeei-ro, tem sido utilizado por agricultores com oobjetivo de controlar o bicho-mineiro e o áca-ro-vermelho do cafeeiro. Semelhantemente,

Fig. 04 - Lesões ou minasproduzidas pelas lagartasdo bicho-mineiro

Fig. 01 - Adulto do bicho-mineiropousado sobre uma folhade cafeeiro

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Abril de 2002 Cultivar 33www.cultivar.inf.br

Paulo Rebelles Reis eJúlio César de Souza,EPAMIG/EcoCentro

Tab. 01 - Predadores do bicho-mineiro relatados no Brasil,pertencentes à ordem Hymenoptera e família Vespidae

ESPÉCIES

Apoica pallens FabriciusBrachygastra augusti St. Hill.Brachygastra lecheguana (Latreille, 1824)Eumenes sp.Polistes versicolor (Olivier, 1791)Polybia paulista IheringPolybia scutellaris (White, 1841)Protonectarina sylverae Saussure, 1854Protopolybia exigua SaussureSynoeca surinama cyanea (Fabricius, 1775)

SUPERFÍCIE DA FOLHA DILACERADA

-InferiorInferiorSuperior

--

InferiorSuperior

-Inferior

Tab. 02 - Parasitóides (Hymenoptera) dobicho-mineiro encontrados no Brasil

ESPÉCIES

Centistidea striata (Rohwer, 1914)Cirrospilus sp.Closterocerus coffeelae Ihering, 1913Colastes letifer (Mann, 1872)Eubadizon punctatus RedolfiEulophus cemiostomastis Mann, 1872Horismenus aenicollis Ashmead, 1904Horismenus sp.Mirax sp.Neochrysocaris coffeae (Ihering, 1913 (=Proacrias coffeae)Orgillus niger (Haliday, 1833)Proacrias coffeae Ihering, 1913Stiropius reticulatus (Cameron, 1911)Tetrastichus sp.

FAMÍLIAS

BraconidaeEulophidaeEulophidaeBraconidaeBraconidaeEulophidaeEulophidaeEulophidaeBraconidaeEulophidaeBraconidaeEulophidaeBraconidaeEulophidae

Tab. 03 - Microorganismos entomopatogênicosencontrados causando mortalidade em bicho-mineiro no Brasil

MICROORGANISMOS

ESPÉCIES

Cladosporium sp.Erwinia herbicola (Lonis) DyePseudomonas aeruginosa (Schroeter) MigulaPseudomonas sp.

GRUPOS

FungoBactériaBactériaBactéria

o uso de caldas fitoprotetoras, como a caldaviçosa e a calda sulfocálcica, tem sido propa-gado como eficiente para o controle do bicho-mineiro.

Apesar da difusão desses compostos comoum método alternativo ao tratamento fitos-sanitário convencional, pouco se sabe a res-peito de suas eficiências como inseticidas/aca-ricidas. Além disso, em alguns casos pode ha-ver problemas de fitotoxicidade, como é o casoda calda sulfocálcica em algumas culturas,dependendo da dosagem. É necessário, por-tanto, mais pesquisas no assunto que com-provem ou não a ação inseticida/acaricida des-ses compostos.

Controle Químico Convencional - Em-bora não se saiba exatamente qual a popula-ção do bicho-mineiro capaz de causar danoeconômico, os trabalhos de pesquisa realiza-dos pela EPAMIG em Minas Gerais, desde1973, mostram que quando ocorrer 30% defolhas minadas, sem apresentarem rasgadu-ras provocadas por vespas predadoras (Figura9), nos terços médio e superior das plantas,principalmente entre os meses de junho eoutubro (período mais seco), há necessidadede ser efetuado o controle químico. Caso nãoseja feito, e as condições nos meses de agosto,setembro e outubro forem favoráveis à praga,os prejuízos serão consideráveis.

A pulverização de inseticidas, somentequando a população atingir o nível de contro-le, deve influir pouco sobre o equilíbrio bioló-gico, pois se a praga apresentar um aumentopopulacional significa que os inimigos natu-rais não estão sendo eficientes e que as condi-ções para aumento da praga estão mais favo-ráveis do que para aumento dos inimigos na-turais. Tal fato justifica a adoção de medidasde controle para abaixar a população do bi-cho-mineiro, restabelecendo o equilíbrio en-tre a praga e os inimigos naturais.

A amostragem de folhas, para ser conhe-cida a população do bicho-mineiro, deve serfeita nos terços médio e superior das plantas,em função da distribuição do inseto nas mes-mas. Deve-se evitar a coleta de folhas apicaisdos ramos ou do interior das plantas; reco-

menda-se folhas do 3º ao 5º par,a partir do ápice do ramo.

Caso não seja constatado onível de controle (30%), não érecomendável o controle quími-co, pois somente o controle na-tural, através do parasitismo epredatismo, está sendo suficien-te para manter baixa a popula-ção da praga. Esse nível de con-trole não se aplica a cafeeirosnovos, de até três anos de idade,onde a desfolha, mesmo em bai-xos níveis, é prejudicial à sua for-mação. O controle químicoquando realizado com produtosrecomendados, e com base nonível de controle da praga, nãoafeta de maneira significativa osinimigos naturais do bicho-mi-neiro.

As lavouras devem ser ins-pecionadas constantemente naépoca crítica de ataque da pra-ga, principalmente as muito ex-postas a ventos constantes. Namaioria das vezes, o controle énecessário somente em algunstalhões do cafezal, e as inspeçõesdevem continuar até que come-cem as chuvas mais freqüentese haja início de novas brotaçõesnas plantas.

Uma segunda pulverização,nos talhões já pulverizados, so-mente deve ser feita após 20-30dias, se nas amostragens foremconstatadas lagartas vivas do in-seto dentro das minas.

Caso hajam condições extre-mamente favoráveis ao bicho-mineiro nos meses de janeiro efevereiro (veranico), pode ocor-rer um pico nos meses de abril emaio, que também deve ser con-trolado, muito comum na regiãodos cerrados de Minas Gerais.Esse pico não ocorre quando sãousados inseticidas sistêmicosgranulados na época das chuvas (aldicarb, di-sulfoton, phorate, imidacloprid e thiametho-xam), porém o efeito residual dos granuladosnem sempre é suficiente para manter baixa apopulação do inseto até junho, havendo ne-cessidade de complementar o controle compulverizações foliares. Diversos produtos, oumistura de produtos, em pulverização, apre-sentam eficiência no controle do bicho-mi-neiro, tais como os fosforados chlorpyrifos,ethion, fenthion, triazophos etc., o carbama-to cartap e diversos piretróides, sendo que es-tes últimos, pelo amplo espectro de ação quepossuem, são mais prejudiciais aos parasitói-des e predadores da praga.

Em resumo, o manejo integrado do bi-

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cho-mineiro nas regiões onde sua incidêncianão é freqüente, fica restrito ao uso de pulve-rizações quando for constatado o nível de 30%de folhas minadas, sem a presença de rasga-duras produzidas pelas vespas predadoras. Nasregiões onde o inseto freqüentemente se cons-titui em praga, o controle deve ser feito cominseticidas sistêmicos granulados aplicados dosolo, na época recomendada pelos fabrican-tes, e complementado com pulverização (en-tre junho e outubro) caso seja constatado 30%de folhas minadas sem sinais de predação.

Fig. 07 - Vespas predadoras: Synoeca cyanea,Polybia ignobilis, P. fostidiosuscula, Brachygastralecheguana, P. scutellaris e Protonectarina sylverae