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Setembro / Outubro 2002 34 Máquinas www.cultivar.inf.br A pesar dos muitos séculos passa- dos, as preocupações dos agricul- tores da atualidade não têm sido muito diferentes daquelas que tinham os ho- mens que iniciaram a semeadura da cevada, trigo e milho, quando deixaram de ser nôma- des. Os primeiros implementos utilizados na agricultura constituíam-se de hastes de madei- ra ou pedaços de ossos e tinham por principal finalidade o rompimento da camada superfici- al do solo, seca e compactada pela ação natural do tempo (ventos, impacto dos pingos de chu- va e translocação de partículas do solo). Hoje, a compactação do solo, devido à ação do homem, em decorrência da utilização e preparo intensi- vos do solo agrícola, valendo-se de máquinas, implementos e tratores cada vez maiores e mais pesados e, considerando-se a intensificação da migração das partículas do solo devido a sua mobilização, tem gerado graves problemas na agricultura moderna. A utilização de máquinas tais como o ara- do, grade e enxada rotativa, resolve o problema da compactação do solo nas camadas superfi- ciais; porém, na maioria dos casos, a transfere para camadas mais profundas. A utilização des- sas máquinas, quase sempre à mesma profun- didade de preparo do solo e por diversos anos consecutivos, tem contribuído para o surgimen- to das camadas compactadas logo abaixo da li- nha de ação dos órgãos ativos das mesmas, sen- do denominada de compactação subsuperfici- al (conhecida também como soleira, pé de ara- do ou pé de grade). O interesse no projeto de equipamentos para romper as camadas compactadas do sub- solo, principalmente aquelas oriundas da ação dos órgãos ativos das máquinas de preparo do solo, teve início em meados da década de cin- qüenta, nos Estados Unidos da América e, no Brasil, a partir de da década de setenta. A máquina utilizada para romper essas cama- das compactadas foi denominada subsolador (subsoiler) e, visto que é uma operação agrícola de aplicação ainda recente, sua implantação e Preparo do solo Preparo Mobilização do solo sem muita agressão Subsolagem Subsolagem Subsolagem Subsolagem Subsolagem ou escarificação ou escarificação ou escarificação ou escarificação ou escarificação Subsolagem Subsolagem Subsolagem Subsolagem Subsolagem ou escarificação ou escarificação ou escarificação ou escarificação ou escarificação

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Setembro / Outubro 200234

Máquinaswww.cultivar.inf.br

Apesar dos muitos séculos passa-dos, as preocupações dos agricul-tores da atualidade não têm sido

muito diferentes daquelas que tinham os ho-mens que iniciaram a semeadura da cevada,trigo e milho, quando deixaram de ser nôma-des. Os primeiros implementos utilizados naagricultura constituíam-se de hastes de madei-ra ou pedaços de ossos e tinham por principalfinalidade o rompimento da camada superfici-al do solo, seca e compactada pela ação naturaldo tempo (ventos, impacto dos pingos de chu-va e translocação de partículas do solo). Hoje, acompactação do solo, devido à ação do homem,em decorrência da utilização e preparo intensi-

vos do solo agrícola, valendo-se de máquinas,implementos e tratores cada vez maiores e maispesados e, considerando-se a intensificação damigração das partículas do solo devido a suamobilização, tem gerado graves problemas naagricultura moderna.

A utilização de máquinas tais como o ara-do, grade e enxada rotativa, resolve o problemada compactação do solo nas camadas superfi-ciais; porém, na maioria dos casos, a transferepara camadas mais profundas. A utilização des-sas máquinas, quase sempre à mesma profun-didade de preparo do solo e por diversos anosconsecutivos, tem contribuído para o surgimen-to das camadas compactadas logo abaixo da li-

nha de ação dos órgãos ativos das mesmas, sen-do denominada de compactação subsuperfici-al (conhecida também como soleira, pé de ara-do ou pé de grade).

O interesse no projeto de equipamentospara romper as camadas compactadas do sub-solo, principalmente aquelas oriundas da açãodos órgãos ativos das máquinas de preparo dosolo, teve início em meados da década de cin-qüenta, nos Estados Unidos da América e, noBrasil, a partir de da década de setenta.A máquina utilizada para romper essas cama-das compactadas foi denominada subsolador(subsoiler) e, visto que é uma operação agrícolade aplicação ainda recente, sua implantação e

Preparodo soloPreparo

Mobilização dosolo sem muitaagressão

SubsolagemSubsolagemSubsolagemSubsolagemSubsolagemou escarificaçãoou escarificaçãoou escarificaçãoou escarificaçãoou escarificaçãoSubsolagemSubsolagemSubsolagemSubsolagemSubsolagemou escarificaçãoou escarificaçãoou escarificaçãoou escarificaçãoou escarificação

acompanhamento não têm recebido o devidorespaldo técnico e científico, de forma a apre-sentar resultados operacionais favoráveis e re-tornos econômicos satisfatórios.

A primeira característica a considerar, an-tes de se optar pela subsolagem de uma áreaagrícola, é que esta é uma operação de alto con-sumo energético, provavelmente o maior den-tre as operações agrícolas. Portanto, somentedevem ser mobilizados os solos que realmentenecessitem desse trabalho, sendo que a profun-didade de subsolagem deve ser compatível coma faixa compactada do solo. Levantamentosiniciais sobre o tipo de solo e suas condições(densidade do solo, resistência mecânica à pe-netração, teor de água e profundidade da ca-mada compactada) são de extrema importân-cia para a tomada de decisão.

Deve-se observar também que, apesar deonerosa, a operação de rompimento das cama-das compactadas do solo, quando não realiza-da, representa uma sensível diminuição da pro-dução para a maioria das culturas comerciais,gerando prejuízo para os agricultores. Nestas

situações, a utilização dessa técnica se tornanecessária e a seleção adequada do equipamentopode representar sensíveis economias.

É importante esclarecer que as conclusõesde um diagnóstico para a subsolagem agrícolade certa área nunca devem ser extrapoladas paraáreas de características diferentes, mesmo quesejam de uma mesma propriedade agrícola.

Finalmente, deve-se salientar que os efei-tos visuais que a compactação do solo provocanas plantas muitas vezes podem advir da faltade água no solo, da toxidez por alumínio oupor manganês ou pelo ataque de nematóides.

Da mesma forma que a subsolagem do soloagrícola foi introduzida para resolver um pro-blema específico, outro equipamento muito pa-

recido com o subsolador passou a ser utilizadocom bastante sucesso pelos agricultores, tendosido denominado escarificador ou arado cin-zel. O escarificador tem o mesmo princípio derompimento do solo por propagação das trin-cas, ou seja, o solo não é cortado como na ara-ção ou gradagem e sim rompido nas suas li-nhas de fraturas naturais ou através das inter-faces dos seus agregados. Desta forma, ambosos equipamentos utilizam hastes que são cra-vadas no solo e provocam o seu rompimentopara frente, para cima e para os lados. É o cha-mado rompimento tridimensional do solo emblocos. Isto permite dizer que este tipo de mo-bilização é menos agressiva do que aquelas nosquais as lâminas cortam o solo de forma indis-criminada e contínua, destruindo sua estrutu-ra original.

Na agricultura moderna, os escarificadoresvêm substituindo com grandes vantagens osarados e grades e, em muitas regiões, estes pas-saram a fazer parte do passado histórico da agri-cultura.

As diferenças entre os subsoladores e os es-

Escarificador

Até 35 cm

Maior do que 5

Até 50 cm

Preparo do solo e rompimento decamadas compactadas superficial

Característica

Profundidade de trabalho

Número de Hastes

Espaçamento das Hastes

Função

Subsolador

Maior do que 40 cm

Até 7

Maior do que 50 cm

Rompimento de camadascompactadas subsuperficial

carificadores são conceituais e funcionais, ouseja, o primeiro tem a função básica de rompercamadas compactadas do solo e o segundo depreparar o solo.

Porém, em termos didáticos, suas diferen-ças básicas podem ser classificadas em: (videtabela).

Esses equipamentos foram introduzidos naagricultura quase na mesma época da adoçãode técnicas conservacionistas de preparo do solo,tais como o cultivo mínimo e o sistema de plan-tio direto. Essa coincidência na realidade nãofoi um mero acaso, pois os precursores dessasnovas tecnologias se ressentiam da falta de equi-pamentos específicos que mobilizassem de for-ma drástica e definitiva o solo anteriormente

manipulado com as técnicas convencionais,rompendo assim as camadas compactadas dosolo remanescentes para que pudessem implan-tar os sistemas conservacionistas sem sofreremas conseqüências nocivas e duradouras das ope-rações anteriormente adotadas. Desta forma, asubsolagem do solo passou a ser uma operaçãoobrigatória antes da implantação do sistema deplantio direto e, hoje em dia, é uma recomenda-ção fundamental para o sucesso desse sistema.

Também, em função da forma como o sis-tema de plantio direto é conduzido, ou seja,como é gerenciado o tráfego de máquinas notrato cultural e na colheita, principalmente notocante ao estado de umidade do solo duranteessas operações e o tipo de rodado do maqui-nário utilizado, o agricultor se vê obrigado ainterromper o ciclo de plantio sem mobilizaçãodo solo, sendo então recomendado o rompi-mento das camadas compactadas que passama influir significativamente no crescimento dasraízes, infiltração e capilaridade da água, absor-ção de nutrientes e troca catiônica e, finalmen-te, na produtividade das culturas. A partir do

Modelo de ponteiracom asas

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Foto

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aas

Setembro / Outubro 200236

Máquinaswww.cultivar.inf.br

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Ponteiras das hastes

Dimensões da haste

Modelos de hastes e ponteiras

Padrão de ruptura do solo

Escarificador montado

diagnóstico da profundidade e intensidade dacompactação existente na área, o agricultorpoderá optar pela escarificação ou subsolageme, caso a propriedade esteja georeferenciada esendo gerenciada através da agricultura de pre-cisão, decisões de adoção da subsolagem ou es-carificação poderão ser tomadas para toda a área,para talhões ou de forma localizada e em pro-fundidade variável.

As semeadoras utilizadas atualmente nossistemas de plantio direto estão cada vez maisevoluídas e eficientes, graças às pesquisas reali-zadas por alguns pesquisadores brasileiros e,hoje em dia, pode-se dizer que o conceito denão mobilização do solo (no tillage ou zero ti-llage) não mais existe na área agrícola. O siste-ma de plantio direto atual utiliza o conceito depreparo em faixa ou na linha de plantio, umavez que as semeadoras são equipadas com fa-cões em cada linha de plantio e estes nada maissão do que hastes (cinzel) que chegam até a 35cm de profundidade, dependendo do modelo etipo de semeadora. Portanto, este modelo de

preparo se aproxima bastante ao cultivo míni-mo ou ao cultivo com operações conjugadas,ou seja, preparo com equipamentos múltiplosnuma mesma passada (mobilização do solo, se-meadura, adubação e acabamento da superfí-cie do solo).

Talvez um exemplo de sistema de plantiodireto sem mobilização do solo que ainda per-manece sendo utilizado seja o coveamento di-reto no plantio de reflorestamento, principal-mente quando se utilizam coveadoras mecani-zadas com processo de trabalho contínuo, sema necessidade de parada do trator para realizaras covas. Já a subsolagem com adubação e pos-terior plantio nas entre-linhas das árvores an-teriormente retiradas é, tipicamente, um casode cultivo mínimo do reflorestamento e nãoplantio direto.

AVALIAÇÃO DA COMPACTAÇÃO DO SOLOOs métodos para detectar a camada com-

pactada do solo podem ser divididos em trêsgrupos:a) MÉTODOS VISUAIS, SUBJETIVOS OU GROSSEIROS:

Sulcos de erosão, fendas nos rastros dosrodados, crostas superficiais, restos de resíduosnão compostos meses após, raízes mal forma-das, sistema radicular raso e espalhado, falhaslocalizadas de germinação, plantas com tama-nhos menores que o padrão, emergência lentada plântula, coloração deficiente, sintomas decarência de N e P e toxidez de Mn (calagem).b) MÉTODOS PRECISOS:

Densidade do solo (Ds), percentagem demacroporos (%) (KIEHL, 1979), taxa de difu-são de oxigênio (g02/cm

2min) (BAVER et alii,1973), condutividade hidráulica saturada (cm/h) (BAVER et alii, 1973).c) MÉTODOS INTERMEDIÁRIOS:

Avaliação da resistência à penetração dosolo, utilizando Penetrômetros e Penetró-grafos.

A resistência à penetração é um indica-dor intermediário de compactação, não sen-do uma medição física direta das condiçõesdo solo, pois é muito variável em função deoutros fatores, principalmente com o teor deágua e o tipo de solo. Apesar das limitações,a resistência à penetração é freqüentementeusada para a indicação comparativa de com-pactação em solos de mesmo tipo e mesmoteor de água, por causa da facilidade e rapi-dez na qual numerosas medidas podem serrealizadas. Os resultados são normalmenteexpressos em termos de força por unidadede área do cone (kPa ou kgf/cm2).

O levantamento histórico da compactaçãode um solo, utilizando a resistência à penetra-ção, tem sido realizado com bastante sucesso,uma vez que os dados são levantados sempreno mesmo solo e, a cada ano, no período seco,quando o teor de água do solo é bastante ho-mogêneo.

MODELO DE RUPTURA DO SOLOO solo, quando considerado como um cor-

po rígido, rompe-se através do cisalhamento,podendo este processo acontecer através docorte puro, da compressão (propagação da ten-são de compressão) ou devido a ambos.

Em função do tipo de ferramenta que pe-netra no solo e dependendo da sua umidade ecompactação, haverá a predominância de umou outro tipo de ruptura do solo. A ferramenta

de ataque do solo utilizada no seu rompimen-to pode ser classificada em três tipos principais:

Chapas (blades), hastes (ripper, chisel outine) e pá (shovel).

As chapas ou lâminas largas rompem o soloem duas dimensões: Para frente e para cima. Jáas lâminas estreitas ou hastes (que é o caso dossubsoladores e escarificadores), rompem o solo,

Profundidade crítica

“Na agricultura moderna, os escarificadores vêm substituindo com grandes vantagens os arados egrades e, em muitas regiões, estes passaram a fazer parte do passado histórico da agricultura”

Kleber P. LançasUNESP

M

quando secos, em três dimensões: Para frente,para cima e para os lados.

Os parâmetros que influem na ruptura dosolo podem ser divididos em quatro categorias:a) CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS DA FERRAMENTA:

Profundidade de subsolagem (p), Ângulode inclinação da haste (ß), Largura da haste(W);b) CONDIÇÕES DO SOLO:

Densidade (ds), Ângulo de atrito interno(f), Coesão (c);c) INTERAÇÃO HASTE/SOLO:

Adesão do solo (Ad) na haste, Ângulo deatrito solo/haste (d).

SUBSOLADORES E ESCARIFICADORES:OPERAÇÃO E REGULAGENSPara se realizar uma operação adequada de

mobilização do solo são necessárias algumas es-colhas e regulagens:

a) Profundidade de subsolagem: deve serescolhida em função da localização da camadacompactada ou adensada no perfil do solo, ado-tando-se uma profundidade de subsolagem 5 a10 cm mais profunda do que a parte inferior dacamada compactada.

Existe uma profundidade máxima de tra-balho para cada geometria de haste, a partir daqual a área mobilizada do solo não apresentaaumentos significativos e a própria haste co-

meça a provocar a compactação do solo, alémde provocar um aumento significativo da resis-tência específica do solo (força de tração porunidade de área mobilizada). Essa profundida-de apresenta grande correlação com a geome-tria da ponteira da haste e com as condições etipo de solo, recebendo o nome de “PROFUN-DIDADE CRÍTICA”.

O solo se trinca a partir da profundida-de crítica (pc) até a sua superfície, indepen-dentemente da profundidade da haste (p).A profundidade crítica é uma função diretada largura da ponteira (b) e, em função dotipo e condições dos solos ensaiados, ficouestabelecida a relação: p = (5 a 7) b.

b) Número de hastes: o número de has-

tes a serem utilizadas num subsolador ouescarificador dependerá da disponibilidade depotência do trator para executar a tração.

c) Espaçamento entre hastes: influi di-retamente na largura de corte total do im-plemento que, por sua vez, é diretamenteproporcional à capacidade de campo.

SUBSOLADOR COM PONTEIRAS SEM ASAS:Espaçamento entre hastes na faixa de

1,0 a 1,5 vezes a profundidade de trabalho.SUBSOLADOR COM PONTEIRAS COM ASAS:1,5 a 2,0 vezes a profundidade de tra-

balho.

Profundidade de subsolagem recomendada