informativo ebeji 56 janeiro 2014

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http://www.ebeji.com.br – Informativo de Jurisprudência Nº 56 – Janeiro/2014 Este informativo é uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurídico na Internet - EBEJI. 1 Estudando para a AGU? Não deixe de conhecer o Curso Preparatório para as carreiras da Advocacia-Geral da União (AGU) Totalmente online e com todos os pontos do edital! www.ebeji.com.br Selecionado a partir dos informativos 726 a 732 do STF ADMINISTRATIVO 01. Entes públicos e acessibilidade: É dever do Estado- membro remover toda e qualquer barreira física, bem como proceder a reformas e adaptações necessárias, de modo a permitir o acesso de pessoas com restrição locomotora à escola pública. Com base nessa orientação, a 1ª Turma deu provimento a recurso extraordinário em que discutido: a) se o ato de se determinar à Administração Pública a realização de obras significaria olvidar o princípio da separação dos Poderes, porquanto se trataria de ato discricionário; b) se necessário o exame de disponibilidade orçamentária do ente estatal. Consignou-se que a Constituição (artigos 227, § 2º, e 244), a Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência, a Lei 7.853/1989; e as Leis paulistas 5.500/1986 e 9.086/1995 asseguram o direito das pessoas com deficiência ao acesso a prédios públicos. Frisou-se o dever de a Administração adotar providências que viabilizassem essa acessibilidade. Pontuou-se presente o controle jurisdicional de políticas públicas. Asseverou-se a existência de todos os requisitos a viabilizar a incursão judicial nesse campo, a saber: a natureza constitucional da política pública reclamada; a existência de correlação entre ela e os direitos fundamentais; a prova de que haveria omissão ou prestação deficiente pela Administração Pública, inexistindo justificativa razoável para esse comportamento. Destacou-se a promulgação, por meio do Decreto 6.949/2009, da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, incorporado ao cenário normativo brasileiro segundo o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição. Ressalvou-se o disposto no artigo 9º do mencionado decreto [“1. A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as medidas apropriadas para assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural. Essas medidas, que incluirão a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras à acessibilidade, serão aplicadas, entre outros, a: a) Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras instalações internas e externas, inclusive escolas, residências, instalações médicas e local de trabalho”]. Sublinhou-se que, ao remeter à lei a disciplina da matéria, a Constituição não obstaculizou a atuação do Poder Judiciário, em especial quando em debate a dignidade da pessoa humana e a busca de uma sociedade justa e solidária (CF, artigos 1º, III, e 3º, I). Reputou-se que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais teriam aplicação imediata, sem que fossem excluídos outros direitos decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais de que a República Federativa do Brasil fosse parte (CF, art. 5º, §§ 1º e 2º). Assinalou-se que o acesso ao Judiciário para reclamar contra lesão ou ameaça de lesão a direito seria cláusula pétrea. Observou-se que a acessibilidade, quando se tratasse de escola pública, seria primordial ao pleno desenvolvimento da pessoa (CF, art. 205). Lembrou-se que o art. 206, I, da CF asseguraria, ainda, a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. Registrou-se que barreiras arquitetônicas que impedissem a locomoção de pessoas acarretariam inobservância à regra constitucional, a colocar cidadãos em desvantagem no tocante à coletividade. Concluiu-se que a imposição quanto à acessibilidade aos prédios públicos seria reforçada pelo direito à cidadania, ao qual teriam jus as pessoas com deficiência (RE 440028/SP / i-726). 02. AG. REG. NO ARE N. 661.760-PB / RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI / EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Concurso público. Candidata aprovada, inicialmente, fora das vagas do edital. Desistência dos candidatos mais bem classificados. Direito a ser nomeada para ocupar a única vaga prevista no edital de convocação. Precedentes. 1. O Tribunal de origem assentou que, com a desistência dos dois candidatos mais bem classificados para o preenchimento da única vaga prevista no instrumento convocatório, a ora agravada, classificada inicialmente em 3º lugar, tornava- se a primeira, na ordem classificatória, tendo, assim, assegurado o seu direito de ser convocada para assumir a referida vaga. 2. Não se tratando de surgimento de vaga, seja por lei nova ou vacância, mas de vaga já prevista no Dr. George Felício, advogado do Banco do Nordeste do Brasil S/A. Informativo de Jurisprudência Supremo Tribunal Federal

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  • http://www.ebeji.com.br Informativo de Jurisprudncia N 56 Janeiro/2014

    Este informativo uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurdico na Internet - EBEJI. 1

    Estudando para a AGU? No deixe de conhecer o Curso Preparatrio para

    as carreiras da Advocacia-Geral da Unio

    (AGU) Totalmente online e com todos os pontos do edital!

    www.ebeji.com.br

    Selecionado a partir dos informativos 726 a 732 do STF

    ADMINISTRATIVO 01. Entes pblicos e acessibilidade: dever do Estado-membro remover toda e qualquer barreira fsica, bem como proceder a reformas e adaptaes necessrias, de modo a permitir o acesso de pessoas com restrio locomotora escola pblica. Com base nessa orientao,

    a 1 Turma deu provimento a recurso extraordinrio em que discutido: a) se o ato de se determinar Administrao Pblica a realizao de obras significaria olvidar o princpio da separao dos Poderes, porquanto se trataria de ato discricionrio; b) se necessrio o exame de disponibilidade oramentria do ente estatal. Consignou-se que a Constituio (artigos 227, 2, e 244), a Conveno Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficincia, a Lei 7.853/1989; e as Leis paulistas 5.500/1986 e 9.086/1995 asseguram o direito das pessoas com deficincia ao acesso a prdios pblicos. Frisou-se o dever de a Administrao adotar providncias que viabilizassem essa acessibilidade. Pontuou-se presente o controle jurisdicional de polticas pblicas. Asseverou-se a existncia de todos os requisitos a viabilizar a incurso judicial nesse campo, a saber: a natureza constitucional da poltica pblica reclamada; a existncia de correlao entre ela e os direitos fundamentais; a prova de que haveria omisso ou prestao deficiente pela Administrao Pblica, inexistindo justificativa razovel para esse comportamento. Destacou-se a promulgao, por meio do Decreto 6.949/2009, da Conveno Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia e seu Protocolo Facultativo, incorporado ao cenrio normativo brasileiro segundo o procedimento previsto no 3 do art. 5 da Constituio. Ressalvou-se o disposto no artigo 9 do mencionado decreto [1. A fim de possibilitar s pessoas com deficincia viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomaro as medidas apropriadas para assegurar s pessoas com deficincia o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio fsico, ao transporte, informao e comunicao, inclusive aos sistemas e tecnologias da informao e comunicao, bem como a outros servios e instalaes abertos ao pblico ou de uso

    pblico, tanto na zona urbana como na rural. Essas medidas, que incluiro a identificao e a eliminao de obstculos e barreiras acessibilidade, sero aplicadas, entre outros, a: a) Edifcios, rodovias, meios de transporte e outras instalaes internas e externas, inclusive escolas, residncias, instalaes mdicas e local de trabalho]. Sublinhou-se que, ao remeter lei a disciplina da matria, a Constituio no obstaculizou a atuao do Poder Judicirio, em especial quando em debate a dignidade da pessoa humana e a busca de uma sociedade justa e solidria (CF, artigos 1, III, e 3, I). Reputou-se que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais teriam aplicao imediata, sem que fossem excludos outros direitos decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados ou dos tratados internacionais de que a Repblica Federativa do Brasil fosse parte (CF, art. 5, 1 e 2). Assinalou-se que o acesso ao Judicirio para reclamar contra leso ou ameaa de leso a direito seria clusula ptrea. Observou-se que a acessibilidade, quando

    se tratasse de escola pblica, seria primordial ao pleno desenvolvimento da pessoa (CF, art. 205).

    Lembrou-se que o art. 206, I, da CF asseguraria, ainda, a igualdade de

    condies para o acesso e permanncia na escola. Registrou-se que barreiras arquitetnicas que impedissem a locomoo de pessoas acarretariam inobservncia regra constitucional, a colocar cidados em desvantagem no tocante coletividade. Concluiu-se que a imposio quanto acessibilidade aos

    prdios pblicos seria reforada pelo direito cidadania, ao qual teriam jus as pessoas

    com deficincia (RE 440028/SP / i-726).

    02. AG. REG. NO ARE N. 661.760-PB / RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI / EMENTA: Agravo regimental no

    recurso extraordinrio com agravo. Administrativo. Concurso pblico. Candidata aprovada, inicialmente, fora das vagas do edital. Desistncia dos candidatos mais bem classificados. Direito a ser nomeada para ocupar a nica vaga prevista no edital de convocao. Precedentes. 1. O Tribunal de origem assentou que, com a desistncia dos dois candidatos mais bem classificados para o preenchimento da nica vaga prevista no instrumento convocatrio, a ora agravada, classificada inicialmente em 3 lugar, tornava-se a primeira, na ordem classificatria, tendo, assim, assegurado o seu direito de ser convocada para assumir a referida vaga. 2. No se tratando de surgimento de vaga,

    seja por lei nova ou vacncia, mas de vaga j prevista no

    Dr. George Felcio, advogado do Banco do Nordeste do Brasil S/A.

    Informativo de Jurisprudncia

    Supremo Tribunal Federal

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    Este informativo uma cortesia da Escola Brasileira de Ensino Jurdico na Internet - EBEJI. 2

    edital do certame, aplica-se ao caso o que decidido pelo Plenrio da Corte, o qual, ao apreciar o mrito do RE n 598.099/MS-RG, Relator o Ministro Gilmar Mendes, concluiu que o candidato aprovado em concurso pblico dentro do nmero de vagas previstas no edital tem direito subjetivo nomeao. 3. Agravo regimental no provido (i-726). 03. Licena mdica e dispensa: No possvel a dispensa com o consequente rompimento do vnculo trabalhista de servidor ocupante apenas de cargo em comisso, em licena mdica para tratamento de doena. Com base

    nessa orientao, a 1 Turma, negou provimento a agravo regimental (AI 759882 AgR/MG / i-732). 04. Processo administrativo: contraditrio e ampla defesa: Por ofensa aos princpios do contraditrio e da ampla defesa, a 2 Turma deu provimento a recurso ordinrio em mandado de segurana para declarar nulo ato administrativo e seus consectrios, a fim de garantir impetrante manifestao prvia em processo administrativo destinado a verificar a regularidade da concesso de benefcio fiscal. Asseverou-se que a prerrogativa de a Administrao Pblica controlar seus prprios atos no dispensaria a observncia dos postulados supramencionados em mbito administrativo. Ademais, ressaltou-se que a manifestao em recurso administrativo no supriria a ausncia de intimao da recorrente. Pontuou-se que caberia Administrao dar oportunidade ao interessado em momento prprio e que a impugnao, mediante recurso, de ato que anulara benefcio anteriormente concedido, mesmo diante de exame exaustivo das razes de defesa apresentadas, no satisfaria o direito de defesa da impetrante (RMS

    31661/DF / i-732). 05. TCU Desconsiderao da Personalidade Jurdica Poderes Implcitos Princpio da Legalidade (Transcries) / MS 32.494-MC/DF* / RELATOR: Ministro Celso de Mello / EMENTA: PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DESCONSIDERAO EXPANSIVA DA PERSONALIDADE JURDICA. DISREGARD DOCTRINE E RESERVA DE JURISDIO: EXAME DA POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAO PBLICA, MEDIANTE ATO PRPRIO, AGINDO PRO DOMO SUA, DESCONSIDERAR A PERSONALIDADE CIVIL DA EMPRESA, EM ORDEM A COIBIR SITUAES CONFIGURADORAS DE ABUSO DE DIREITO OU DE FRAUDE. A COMPETNCIA

    INSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIO E A DOUTRINA DOS PODERES IMPLCITOS. INDISPENSABILIDADE, OU NO, DE LEI QUE VIABILIZE A INCIDNCIA DA TCNICA DA DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA EM SEDE ADMINISTRATIVA. A ADMINISTRAO PBLICA E O PRINCPIO DA LEGALIDADE: SUPERAO DE PARADIGMA TERICO FUNDADO NA DOUTRINA TRADICIONAL? O PRINCPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA: VALOR CONSTITUCIONAL REVESTIDO DE CARTER TICO-JURDICO, CONDICIONANTE DA LEGITIMIDADE E DA VALIDADE DOS ATOS ESTATAIS. O ADVENTO DA LEI N

    12.846/2013 (ART. 5, IV, e, E ART. 14), AINDA EM PERODO DE VACATIO LEGIS. DESCONSIDERAO DA PERSONALIDADE JURDICA E O POSTULADO DA INTRANSCENDNCIA DAS SANES ADMINISTRATIVAS

    E DAS MEDIDAS RESTRITIVAS DE DIREITOS.

    MAGISTRIO DA DOUTRINA. JURISPRUDNCIA. PLAUSIBILIDADE JURDICA DA PRETENSO CAUTELAR E CONFIGURAO DO PERICULUM IN MORA. MEDIDA LIMINAR DEFERIDA (i-732).

    CIVIL E PROCESSO CIVIL 01. Vara especializada e competncia: constitucional lei estadual que confere poderes ao Conselho da Magistratura para atribuir aos juizados da infncia e juventude competncia para processar e julgar crimes de natureza sexual praticados contra criana e adolescente, nos exatos limites da atribuio que a Constituio Federal confere aos tribunais. Com base nesse

    entendimento, a 2 Turma denegou habeas corpus em que se discutia a incompetncia absoluta de vara especializada para processar e julgar o paciente pela suposta prtica de delito de atentado violento ao pudor contra menor (CP, artigos 214 e 224). Reputou-se que no haveria violao aos princpios constitucionais da legalidade, do juiz natural e do devido processo legal, visto que a leitura interpretativa do art. 96, I, a, da CF admitiria a alterao da competncia dos rgos do Poder Judicirio por deliberao dos tribunais. Consignou-se que a especializao de varas consistiria em alterao de competncia territorial em razo da matria, e no em alterao de competncia material, regida pelo art. 22 da CF (HC 113018/RS / i-726). 02. Complementao de precatrio e citao da Fazenda Pblica: O pagamento de complementao de dbitos da Fazenda Pblica Federal, Estadual ou Municipal, decorrentes de decises judiciais e objeto de novo precatrio no d ensejo nova citao da Fazenda Pblica. Com base nessa orientao, a 1 Turma, em

    concluso de julgamento e por maioria, reformou deciso do Ministro Ricardo Lewandowski, que, ao conhecer de recurso extraordinrio, determinara a expedio de novo precatrio derivado do reconhecimento, pelo tribunal de origem, de saldo remanescente de parcelas de acordo, com a conseguinte citao da Fazenda Pblica v. Informativo 623. A Turma destacou que o recurso extraordinrio fora interposto em data anterior regulamentao do instituto da repercusso geral. Asseverou que, ante a insuficincia no pagamento do precatrio, bastaria a requisio do valor complementar do depsito realizado. Pontuou que eventual erro de clculo no impediria que a Fazenda Pblica viesse aos autos para impugn-lo. O Ministro

    Ricardo Lewandowski reajustou o voto proferido anteriormente. Vencido o Ministro Dias Toffoli, que negava provimento ao recurso, por entender necessria a citao da Fazenda Pblica (AI 646081 AgR/SP / i-730).

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    Prepare-se para os concursos da Advocacia-

    Geral da Unio com

    GEAGU Resoluo de questes

    objetivas, peas, pareceres e dissertaes

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    ELEITORAL 01. MED. CAUT. EM ADI N. 4.795-DF / RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI / EMENTA: Aes diretas de inconstitucionalidade. Julgamento conjunto da ADI n 4.430 e da ADI n 4.795. Artigo 45, 6, e art. 47, incisos I e II, da Lei n 9.504/97 (Lei das Eleies). Conhecimento. Possibilidade jurdica do pedido. Propaganda eleitoral no rdio e na televiso. Inconstitucionalidade da excluso dos partidos polticos sem representao na Cmara dos Deputados. Violao do art. 17, 3, da Constituio Federal. Critrios de repartio do tempo de rdio e TV. Diviso igualitria entre todos os partidos que lanam candidatos ou diviso proporcional ao nmero de parlamentares eleitos para a Cmara dos Deputados. Possibilidade constitucional de discriminao entre partidos com e sem representao na Cmara dos Deputados. Constitucionalidade da diviso do tempo de rdio e de televiso proporcionalmente representatividade dos partidos na Cmara Federal. Participao de candidatos ou militantes de partidos integrantes de coligao nacional nas campanhas regionais. Constitucionalidade. Criao de novos partidos polticos e as alteraes de representatividade na Cmara dos Deputados. Acesso das novas legendas ao rdio e TV proporcionalmente ao nmero de representantes na Cmara dos Deputados (inciso II do 2 do art. 47 da Lei n 9.504/97), considerada a representao dos deputados federais que tenham migrado diretamente dos partidos pelos quais foram eleitos para a nova legenda no momento de sua criao. Momento de aferio do nmero de representantes na Cmara Federal. No aplicao do 3 do art. 47 da Lei 9.504/97, segundo o qual, a representao de cada partido na Cmara Federal a resultante da ltima eleio para deputados federais. Critrio inaplicvel aos novos partidos. Liberdade de criao, fuso e incorporao de partidos polticos (art. 17, caput, CF/88). Equiparao constitucional. Interpretao conforme. 1. O no conhecimento da ADI n 1.822/DF, Relator o Ministro Moreira Alves, por impossibilidade jurdica do pedido, no constitui bice ao presente juzo de (in)constitucionalidade, em razo da ausncia de apreciao de mrito no processo objetivo anterior, bem como em face da falta de juzo definitivo sobre a compatibilidade ou no dos dispositivos atacados com a Constituio Federal. A despeito de o pedido estampado na ADI n 4.430 se assemelhar com o contido na ao anterior, na atual dimenso da jurisdio constitucional, a soluo ali apontada no mais guarda sintonia com o papel de tutela da Lei Fundamental exercido por esta Corte. O Supremo Tribunal Federal est autorizado a apreciar a inconstitucionalidade de dada norma, ainda que seja para dela extrair interpretao conforme Constituio Federal, com a finalidade de fazer incidir contedo normativo constitucional dotado de carga cogente cuja produo de efeitos independa de intermediao legislativa. 2. A excluso da propaganda eleitoral gratuita no rdio e na televiso das agremiaes partidrias que no tenham representao na Cmara Federal representa atentado ao

    direito assegurado, expressamente, no 3 do art. 17 da Lei Maior, direito esse indispensvel existncia e ao desenvolvimento desses entes plurais e, sem o qual, fica cerceado o seu direito de voz nas eleies, que deve ser acessvel a todos os candidatos e partidos polticos. 3. A

    soluo interpretativa pela repartio do horrio da propaganda eleitoral gratuita de forma igualitria entre todos os partidos partcipes da disputa no suficiente para espelhar a multiplicidade de fatores que influenciam o processo eleitoral. No h igualdade material entre agremiaes partidrias que contam com representantes na Cmara Federal e legendas que, submetidas ao voto popular, no lograram eleger representantes para a Casa do Povo. Embora iguais no plano da legalidade, no so iguais quanto legitimidade poltica. Os incisos I e II do 2 do art. 47 da Lei n 9.504/97, em consonncia com o princpio da democracia e com o sistema proporcional, estabelecem regra de equidade, resguardando o direito de acesso propaganda eleitoral das minorias partidrias e pondo em situao de privilgio no odioso aquelas agremiaes mais lastreadas na legitimidade popular. O critrio de diviso adotado proporcionalidade representao eleita para a Cmara dos Deputados adqua-se finalidade colimada de diviso

    proporcional e tem respaldo na prpria Constituio Federal, que faz a distino entre os partidos com

    e sem representao no Congresso Nacional, concedendo certas prerrogativas,

    exclusivamente, s agremiaes que gozam de representatividade nacional (art. 5, LXX, a; art. 103, VIII; art. 53, 3; art. 55, 2 e 3; art. 58, 1). 4. O contedo do art. 45, 6, da Lei n 9.504/97 no afronta a exigncia de observncia do carter nacional pelos partidos polticos, reforando, ao contrrio, as diretrizes de

    tal exigncia constitucional, ao possibilitar ao partido poltico que se utilize, na

    propaganda eleitoral em mbito regional, da imagem e da voz de candidato ou militante de

    partido poltico que integre a sua coligao em mbito nacional. Cabe Justia Eleitoral ponderar

    sobre eventuais abusos e excessos na participao de figuras nacionais nas propagandas locais. 5. A histria dos partidos polticos no Brasil e a adoo do sistema proporcional de listas abertas demonstram, mais uma vez, a importncia do permanente debate entre elites locais e elites nacionais no desenvolvimento de nossas instituies. O sistema eleitoral brasileiro de representao proporcional de lista aberta surgiu, exatamente, desse embate, resultado que foi da conjugao de nossa ausncia de tradio partidria com a fora das nossas bases eleitorais regionais. 6. Extrai-se do princpio da liberdade de criao e transformao de partidos polticos contido no caput do art. 17 da Constituio da Repblica o fundamento constitucional para reputar como legtimo o entendimento de que, na hiptese de criao de um novo partido, a novel legenda, para fins de acesso proporcional ao rdio e televiso, leva consigo a representatividade dos deputados federais que, quando de sua criao, para ela migrarem diretamente dos partidos pelos quais foram eleitos. No h razo para se

    conferir s hipteses de criao de nova legenda tratamento

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    diverso daquele conferido aos casos de fuso e incorporao de partidos (art. 47, 4, Lei das Eleies), j que todas essas hipteses detm o mesmo patamar constitucional (art. 17, caput, CF/88), cabendo lei, e tambm ao seu intrprete, preservar o sistema. Se se entende que a criao de partido poltico autoriza a migrao dos parlamentares para a novel legenda, sem que se possa falar em infidelidade partidria ou em perda do mandato parlamentar, essa mudana resulta, de igual forma, na alterao da representao poltica da legenda originria. Note-se que a Lei das Eleies, ao adotar o marco da ltima eleio para deputados federais para fins de verificao da representao do partido (art. 47, 3, da Lei 9.504/97), no considerou a hiptese de criao de nova legenda. Nesse caso, o que deve prevalecer no o desempenho do partido nas eleies (critrio inaplicvel aos novos partidos), mas, sim, a representatividade poltica conferida aos parlamentares que deixaram seus partidos de origem para se filiarem ao novo partido poltico, recm criado. Essa interpretao prestigia, por um lado, a liberdade constitucional de criao de partidos polticos (art. 17, caput, CF/88) e, por outro, a representatividade do partido que j nasce com representantes parlamentares, tudo em consonncia com o sistema de representao proporcional brasileiro. 7. Continncia entre os pedidos da ADI n 4.430 e da ADI n 4.795. Uma vez que se assenta a constitucionalidade do 6 do art. 45 da Lei 9.504/97 e que o pedido maior, veiculado na ADI n 4.430, autoriza o juzo de constitucionalidade sobre os vrios sentidos do texto impugnado, inclusive aquele referido na ADI n 4.795, julga-se parcialmente procedente o pedido da ADI n 4.430, no sentido de i) declarar a inconstitucionalidade da expresso e representao na Cmara dos Deputados contida na cabea do 2 do art. 47 da Lei n 9.504/97 e ii) dar interpretao conforme Constituio Federal ao inciso II do 2 do art. 47 da mesma lei, para assegurar aos partidos novos, criados aps a realizao de eleies para a Cmara dos Deputados, o direito de acesso proporcional aos dois teros do tempo destinado propaganda eleitoral gratuita no rdio e na televiso, considerada a representao dos deputados federais que migrarem diretamente dos partidos pelos quais foram eleitos para a nova legenda no momento de sua criao. Por

    conseguinte, fica prejudicado o pedido contido na ADI n 4.795 (i-726). 02. Voto impresso e art. 14 da CF: O Plenrio julgou procedente pedido formulado em ao direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 5 da Lei 12.034/2009, que dispe sobre o voto impresso [Art. 5 Fica criado, a partir das eleies de 2014, inclusive, o voto impresso conferido pelo eleitor, garantido o total sigilo do voto e observadas as seguintes regras: 1 A mquina de votar exibir para o eleitor, primeiramente, as telas referentes s eleies proporcionais; em seguida, as referentes s eleies majoritrias; finalmente, o voto completo para conferncia visual do eleitor e confirmao final do voto. 2 Aps a confirmao final do voto pelo eleitor, a urna eletrnica imprimir um nmero nico de identificao do voto associado sua prpria assinatura digital. 3 O voto dever ser depositado de forma automtica, sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado. 4 Aps o fim da votao, a Justia Eleitoral realizar, em audincia pblica,

    auditoria independente do software mediante o sorteio de 2% (dois por cento) das urnas eletrnicas de cada Zona Eleitoral, respeitado o limite mnimo de 3 (trs) mquinas por municpio, que devero ter seus votos em papel contados e comparados com os resultados apresentados pelo respectivo boletim de urna. 5 permitido o uso de identificao do eleitor por sua biometria ou pela digitao do seu nome ou nmero de eleitor, desde que a mquina de identificar no tenha nenhuma conexo com a urna eletrnica]. Asseverou-se que, nos termos do caput da norma questionada, seria permitido ao eleitor conferir seu voto, pois associado o contedo desse ato de cidadania com a assinatura digital da urna. Entretanto, anotou-se que a inviolabilidade e o segredo do voto suporiam a impossibilidade de se ter, no exerccio do voto ou no prprio voto, qualquer forma de identificao pessoal. Registrou-se, ademais, que o sigilo da votao tambm estaria comprometido caso ocorresse falha na impresso ou travamento de papel na urna eletrnica, visto que necessria interveno humana para resolver o problema, o que exporia os votos registrados at ento. Alm disso, em eventual pedido de recontagem, seria novamente possvel a identificao dos eleitores. Salientou-se que a introduo de impressoras potencializaria falhas e impediria o transcurso regular dos trabalhos nas diversas sees eleitorais. O mdulo impressor, alm de apresentar problemas de conexo, seria vulnervel a fraudes. Ademais, haveria a possibilidade de cpia, adulterao e troca de votos decorrente da votao impressa. Seria tambm maior a vulnerabilidade do sistema, porque o voto impresso no atingiria o objetivo de possibilitar a recontagem e a auditoria. Lembrou-se que o voto impresso

    teria sido anteriormente previsto, por fora da Lei 10.408/2002, mas no teria sido levado a efeito em razo das dificuldades jurdicas e materiais constatadas. Por esse motivo, promulgara-se a Lei 10.740/2003, que abandonara aquele modelo, segundo o qual o voto digital era impresso e depositado em urna lacrada. Rememorou-se, ademais, que a partir da implementao paulatina do voto eletrnico, desde 1996, abandonara-se a impresso de votos, para incrementar o segredo desse ato, conforme assegurado na Constituio. A respeito, discorreu-se que o segredo do voto seria conquista destinada a garantir a inviolabilidade do querer democrtico do eleitor e a intangibilidade do seu direito por qualquer forma de presso. Registrou-se que a histria do Pas conteria diversos vcios nos processos eleitorais, que teriam sido consideravelmente atenuados com o sistema de votao eletrnica. Retroagir nesse ponto configuraria afronta Constituio, e a impresso do voto feriria o direito ao segredo. Consignou-se que o cidado no poderia ser compelido a prestar contas sobre seu voto, porquanto a urna seria espao de liberdade cidad, onde ele poderia realizar sua escolha livre e inquestionvel, no podendo ser tolhido pelo exigir do outro, sob pena de viciar todo o sistema. Frisou-se que, se o ato de votar seria prprio, no haveria necessidade de prov-lo ou de prestar contas. Corroborou-se que o sistema seria dotado de segurana incontestvel, como reiteradamente demonstrado. Acentuou-se que eventual vulnerao do segredo do voto comprometeria no apenas o art. 14 da CF (A soberania popular ser exercida pelo sufrgio universal e pelo voto

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    direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: ...), mas tambm o art. 60, 4, II ( 4 - No ser objeto de deliberao a proposta de emenda tendente a abolir: ... II - o voto direto, secreto, universal e peridico), que ncleo imodificvel do sistema. Acresceu-se que o 2 do dispositivo questionado

    retiraria o segredo do voto, pois o nmero de identificao associado assinatura digital poderia favorecer a coao de eleitores pela possibilidade de vincular o voto a compromissos esprios. O eleitor seria identificado e poderia ser compelido a comprovar sua ao na cabine de votao. Explicou-se que o sistema atual permitiria que o resultado fosse transmitido s centrais sem a identificao do eleitor e com alterao sequencial dos eleitores a cada sesso, a reforar o segredo. Sublinhou-se, ademais, que a impresso do voto criaria discrmen em relao s pessoas com deficincia visual e aos analfabetos, que no teriam como identificar seus votos, razo pela qual pediriam ajuda de terceiros, em violao ao direito de sigilo constitucionalmente assegurado. Destacou-se o princpio um eleitor, um voto, conquista recente que seria reforada no sistema eletrnico, pois somente seria aberta a urna aps a identificao do eleitor, que no seria substitudo e no votaria mais de uma vez. Entretanto, vedada a conexo entre o instrumento de identificao e a respectiva urna, nos termos da lei questionada, possibilitar-se-ia a permanncia da abertura da urna, e o eleitor poderia votar mais de uma vez, a contrariar a garantia da unidade eleitor e voto. Esse princpio sustentaria a democracia representativa, haja vista que asseguraria a correlao entre o contedo das urnas e a vontade do eleitorado. Pontuou-se que a justia eleitoral estaria em constante aperfeioamento de rigoroso sistema de segurana, paralelamente ao sistema de informatizao, o que garantiria total inviolabilidade e transparncia da votao eletrnica. Destacou-se, ainda, a Lei 10.740/2003, que institura o Registro Digital de Voto - RDV, a permitir o armazenamento dos votos em formato digital e a resguardar o sigilo. Com o RDV seria possvel recontar os votos de forma automatizada, sem comprometer o segredo dos votos ou a credibilidade do sistema de votao. Alm disso, os interessados poderiam auditar o sistema antes, durante e depois das eleies. Mencionou-se, tambm, outro sistema de segurana, a denominada votao paralela, uma simulao realizada um dia antes das eleies, monitorada por empresa de auditoria externa e acompanhada pela imprensa, pelo Ministrio Pblico, pela OAB e por fiscais dos partidos. O Ministro Celso de Mello sublinhou o art. 312 do Cdigo Eleitoral, a tipificar o crime de violar ou tentar violar o sigilo do voto, o que demonstraria a gravidade dessa prtica. Alm disso, destacou que esse diploma estabeleceria, em seu art. 220, a sano da nulidade de votao, quando preterida a formalidade essencial do sigilo dos sufrgios (ADI 4543/DF / i-727). 03. AG. REG. NO ARE N. 757.179-MG / RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI /EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINRIO COM AGRAVO. ART. 127

    DA CONSTITUIO FEDERAL. PROCESSO ELEITORAL. LEGITIMIDADE RECURSAL DO MINISTRIO PBLICO. SMULA 11 DO TSE. MATRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA CONSTITUIO. 1. Segundo a Smula 11 do TSE, No processo de registro de candidatos, o partido que no o impugnou no tem legitimidade para recorrer da sentena que o deferiu, salvo se se cuidar de matria constitucional. A aplicao desse entendimento ao Ministrio Pblico no incompatvel com o disposto no art. 127 da Constituio, que atribui a esse rgo a incumbncia de defender a ordem jurdica, o regime democrtico e os interesses sociais e individuais indisponveis. A atribuio constitucional dessa incumbncia no inibe o legislador de dar conformao processual ao seu efetivo exerccio no mbito jurisdicional. 2. Agravo regimental a

    que se nega provimento (i-730). 04. AG. REG. NA MED. CAUT. NA AC N. 3.298-PB / RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI / EMENTA: CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. AO CAUTELAR. MORTE DE PREFEITO NO CURSO DO MANDATO, MAIS DE UM ANO ANTES DO SEU TRMINO. INELEGIBILIDADE

    DO CNJUGE. CF, ART. 14, 7. INOCORRNCIA. 1. Evidencia risco de dano irreversvel a

    subtrao ao titular, ainda que parcial, do contedo do exerccio de um mandato

    poltico. (ADI 644-MC, Rel. Min. Seplveda Pertence, Pleno, DJ de 21.2.1992). 2. H plausibilidade na alegao de que a morte de Prefeito, no curso do mandato (que passou a ser exercido pelo Vice-Prefeito), no acarreta a inelegibilidade do cnjuge, prevista no art. 14, 7, da Constituio Federal. Trata-se de

    situao diferente da que ocorre nos casos de dissoluo da sociedade

    conjugal no curso do mandato, de que trata a Smula Vinculante 18. 3. Agravo

    regimental improvido (i-730).

    PENAL E PROCESSO PENAL 01. Lei penal no tempo e combinao de dispositivos: vedada a incidncia da causa de diminuio do art. 33,

    4, da Lei 11.343/2006 ( 4o Nos delitos definidos no

    caput e no 1o deste artigo, as penas podero ser reduzidas de um sexto a dois teros, desde que o agente seja primrio, de bons antecedentes, no se dedique s atividades criminosas nem integre organizao criminosa), combinada com as penas previstas na Lei 6.368/76, no tocante a crimes praticados durante a vigncia desta norma. Essa a concluso do Plenrio que,

    por maioria, proveu parcialmente recurso extraordinrio para determinar o retorno dos autos origem, instncia na qual dever ser realizada a dosimetria de acordo com cada uma das leis, para aplicar-se, na ntegra, a legislao mais favorvel ao ru. Prevaleceu o voto do Ministro Ricardo Lewandowski, relator. Inicialmente, o relator frisou que o ncleo teleolgico do princpio da retroatividade da lei penal mais benigna consistiria na estrita prevalncia da lex mitior,

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    de observncia obrigatria, para aplicao em casos pretritos. Afirmou que se trataria de garantia fundamental, prevista no art. 5, XL, da CF e que estaria albergada pelo Pacto de So Jos da Costa Rica (art. 9). Frisou que a Constituio disporia apenas que a lei penal deveria retroagir para beneficiar o ru, mas no faria meno sobre a incidncia do postulado para autorizar que algumas partes de diversas leis pudessem ser aplicadas separadamente para favorecer o acusado. O relator destacou que o caso em exame diferenciar-se-ia da simples aplicao do princpio da retroatividade da lei penal mais benfica, pois pretendida a combinao do caput do art. 12 da Lei 6.368/76 com a causa de diminuio do art. 33, 4, da Lei 11.343/2006. Explicou que a lei anterior estabelecera, para o delito de trfico, pena em abstrato de 3 a 15 anos de recluso, mas a norma atual cominara, para o mesmo crime, reprimenda de 5 a 15 anos de recluso. Assim, este diploma impusera punio mais severa para o delito, mas consagrara, em seu art. 33, 4, causa especial de diminuio a beneficiar o agente primrio, de bons antecedentes, no dedicado a atividade criminosa e no integrante de organizao criminosa. Concluiu, no ponto, que o legislador teria procurado diferenciar o traficante organizado do traficante eventual. Observou, entretanto, que essa causa de diminuio de pena viera acompanhada de outra mudana, no sentido de aumentar consideravelmente a pena mnima para o delito. Assim, haveria correlao entre o aumento da pena-base e a insero da minorante. O relator considerou no caber ao julgador aplicar isoladamente a pena mnima prevista na lei antiga em combinao com a novel causa de diminuio, que teria sido prevista para incidir sobre pena-base mais severa. Acresceu que a minorante representaria benefcio para os que tivessem praticado crime de trfico sob a vigncia da lei anterior. Porm, para que isso ocorresse, dever-se-ia considerar a pena-base nos termos da Lei 11.343/2006. No seria lcito, portanto, combinar a pena mnima de uma norma com a minorante de outra, criada para incidir sobre pena-base maior. Ressaltou que, ao assim proceder, o juiz criaria nova lei e atuaria como legislador positivo. Embora o crime fosse o mesmo, a combinao de dosimetrias implicaria uma sano diversa da previamente estabelecida pelo legislador, seja sob o enfoque da lei antiga, seja sob a tica da lei nova. Destacou precedentes da Corte a corroborar esse entendimento. Vislumbrou, ainda, situao absurda provocada por essa combinao, a significar que o delito de trfico poderia ser punido com reprimenda de at um ano de recluso, semelhante s sanes cominadas a crimes de menor potencial ofensivo. Ponderou que, na dvida sobre qual o diploma que seria mais benfico em determinada hiptese, caberia ao juiz analisar o caso concreto para verificar qual a lei que, aplicada integralmente, seria mais favorvel ao ru. O Ministro Luiz Fux acrescentou que o Cdigo Penal Militar contm norma que serviria de norte interpretativo para solucionar a questo, em seu art. 2, 2 (2 Para se reconhecer qual a mais favorvel, a lei posterior e a anterior devem ser consideradas separadamente, cada qual no conjunto de suas normas aplicveis ao fato). Vencida a Ministra Rosa Weber e os Ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello, que proviam o recurso. Consideravam cabvel a retroao da norma penal nos aspectos em que beneficiaria o ru, sem que isso implicasse a criao de terceira lei. Ressaltavam que a minorante no existia na legislao pretrita e, por seu

    ineditismo, constituiria lei nova mais benfica, razo pela qual deveria retroagir. Nesse caso, adequar a causa especial de diminuio pena prevista na lei antiga no significaria combinar normas, porque o juiz, ao assim agir, somente movimentar-se-ia dentro dos quadros legais para integrar o princpio da retroatividade da lei mais benfica. Vencido, tambm, parcialmente, o Ministro Marco Aurlio, que desprovia o recurso, por considerar que o caso diria respeito apenas inadmissvel mesclagem de normas, sem que se pretendesse relegar ao juzo de origem a definio da lei a ser aplicada (RE 600817/MS / i-727). 02. Aplicao retroativa da Lei 12.015/2009 e juzo da execuo: Cabe ao juzo da execuo criminal avaliar a aplicao retroativa da Lei 12.015/2009 norma considerada mais benfica em favor de condenados pela prtica dos crimes de atentado violento ao pudor e estupro, em concurso material. Com base nesse

    entendimento, a 2 Turma no conheceu, por maioria, da impetrao, mas concedeu a ordem de ofcio para determinar que o juiz da execuo aprecie as condutas criminosas praticadas pelo paciente e, se for o caso, proceda ao redimensionamento das penas. Preliminarmente, consignou-se que seria incabvel impetrao de habeas corpus em face de deciso monocrtica de Ministro do STJ, sendo indispensvel a interposio de agravo regimental. Vencidos os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello. Pontuavam que o recurso de agravo seria voluntrio e no necessrio. Portanto, a parte poderia perfeitamente abster-se de interp-lo. Alm disso, afirmavam que o relator no STJ, ao proferir a deciso monocrtica, com apoio no art. 38 da Lei 8.038/90, pronunciar-se-ia em nome do Tribunal. Aludiam que no haveria, em relao ao habeas corpus, o mesmo tratamento dado ao recurso extraordinrio, que imporia o exaurimento da via recursal ordinria. Assinalavam que essa exigncia restringiria o direito de liberdade (HC 117640/SP / i-728). 03. HC N. 117.837-SP / RELATORA: MIN. CRMEN LCIA / EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE HOMICDIO QUALIFICADO, FORMAO DE QUADRILHA, PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO E COAO NO CURSO DO PROCESSO. REVOGAO DE PRISO PREVENTIVA. QUESTO NO SUSCITADA NAS INSTNCIAS ANTECEDENTES. INDEVIDA SUPRESSO DE INSTNCIA: IMPOSSIBILIDADE. ALEGAO DE OFENSA COISA JULGADA. HABEAS CORPUS CONHECIDO PARCIALMENTE E, NESSA PARTE, DENEGADO. 1. O Supremo Tribunal Federal no admite o conhecimento de habeas corpus com argumentos inditos, no apresentados nas instncias antecedentes.

    Ausncia de ilegalidade apta a provocar, no caso, a supresso de instncia. 2. Ao acolher alegao da existncia de vcio na quesitao, e determinar a realizao de novo julgamento do Paciente pelo Tribunal do Jri, o Tribunal de Justia de So Paulo no apreciou, por prejudicada, a outra tese deduzida no recurso de apelao interposto pelo Ministrio Pblico relativa manifesta contrariedade da deciso recorrida prova dos autos. 3. Afastado o reconhecimento da nulidade na quesitao pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justia no Habeas Corpus n. 206.008, hgida a determinao de que aprecie o juzo de 2

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    instncia a outra tese deduzida no recurso do Ministrio Pblico, da no se inferindo ofensa coisa julgada. 4. Habeas corpus conhecido parcialmente e, nessa parte, denegado (i-728). 04. HC N. 114.591-RS / RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO / Ementa: HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIO A RECURSO ORDINRIO. 1. O condenado que estiver cumprindo pena privativa de liberdade em regime aberto no tem direito remio da pena pelo trabalho, nos termos do art. 126 da Lei n 7.210/1984. 2. Esse entendimento no foi alterado com a

    edio da Lei n 12.433/2011. Precedentes. 3. Habeas Corpus extinto sem resoluo de mrito por inadequao da via processual (i-728). 05. HC N. 111.076-MS / RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI / EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. TRFICO INTERESTADUAL. DESNECESSIDADE DE TRANSPOSIO DE FRONTEIRA ENTRE ESTADOS DA FEDERAO. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. 1. A jurisprudncia desta Corte firmou-se no sentido de ser desnecessria a efetiva transposio das fronteiras interestaduais para a incidncia da majorante prevista no inciso V do art. 40, bastando a comprovao inequvoca de que a droga adquirida num estado teria como destino outro estado da Federao (HC 115893, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe de 04-06-2013). Precedentes. 2. Ordem denegada (i-728). 06. Jri - Soberania - Reviso Criminal - Possibilidade (Transcries) / ARE 674151/MT* / RELATOR: Ministro Celso de Mello / EMENTA: REVISO CRIMINAL. CONDENAO PENAL PELO JRI. ERRO JUDICIRIO. INOPONIBILIDADE DA SOBERANIA DO VEREDICTO DO CONSELHO DE SENTENA PRETENSO REVISIONAL. JULGAMENTO DESSA AO AUTNOMA DE IMPUGNAO PELO TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU. CUMULAO DO JUDICIUM RESCINDENS COM O JUDICIUM RESCISSORIUM. POSSIBILIDADE. RECURSO DO MINISTRIO PBLICO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. - O Tribunal de segunda instncia, ao julgar a ao de reviso criminal, dispe de competncia plena para formular tanto o juzo rescindente (judicium rescindens), que viabiliza a desconstituio da autoridade da coisa julgada penal mediante invalidao da condenao criminal, quanto o juzo rescisrio (judicium rescissorium), que legitima o reexame do mrito da causa e autoriza, at mesmo, quando for o caso, a prolao de provimento absolutrio, ainda que se trate de deciso emanada do jri, pois a soberania do veredicto do Conselho de Sentena, que representa garantia fundamental do acusado, no pode, ela prpria, constituir paradoxal obstculo restaurao da liberdade jurdica do condenado. Doutrina. Precedentes

    (i-728).

    07. HC N. 115.831-MA / RELATORA: MIN. ROSA WEBER / EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. EMENDATIO LIBELLI. LAVAGEM DE ATIVOS. DESCLASSIFICAO NO RECEBIMENTO DA DENNCIA, PARA ESTELIONATO. ART. 383 DO CDIGO DE PROCESSO PENAL. MOMENTO PROCESSUAL ADEQUADO. RELATIVIZAO. ESPECIALIZAO DO JUZO. 1. Segundo a jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal a sentena o momento processual oportuno para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do Cdigo de Processo Penal. 2. Tal posicionamento comporta relativizao hiptese em que admissvel juzo desclassificatrio prvio , em caso de erro de direito, quando a qualificao jurdica do crime imputado repercute na definio da competncia. Precedente. 3. Na

    espcie, a existncia de peculiaridade ao penal relacionada a suposto esquema criminoso objeto da ao em trmite na vara especializada em lavagem de ativos , recomenda a manuteno do acrdo recorrido que chancelou a remessa do feito, comandada pelo Tribunal Regional Federal da 1 Regio para a 1 Vara Federal da Seo Judiciria do Maranho, que detm tal especializao. 4. Ordem denegada (i-729).

    08. HC N. 107.090-RJ / RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI / EMENTA: HABEAS CORPUS.

    PENAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICDIO. CIME. MOTIVO FTIL. QUALIFICADORA

    ADMITIDA NA PRONNCIA. EXCLUSO PELO TRIBUNAL DE JUSTIA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO PARA DETERMINAR SUA INCLUSO. ADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. I - A jurisprudncia desta Corte est assentada no sentido de que apenas a

    qualificadora manifestamente improcedente deve ser excluda da

    pronncia, o que no acontece na hiptese dos autos. II - De todo modo, a

    anlise da existncia ou no da qualificadora do motivo ftil deve ser feita pelo Tribunal do Jri,

    que o juiz natural da causa. Precedentes. III - Ordem

    denegada (i-729). 09. Remio e clculo da pena: O clculo da remio da pena ser efetuado pelos dias trabalhados pelo condenado e no pelas horas, nos termos da Lei de Execuo Penal (Lei 7.210/84). Com base nesse

    entendimento, a 2 Turma denegou habeas corpus em que se discutia a possibilidade de se adotar o critrio de dezoito horas para um dia remido, com o mnimo de seis horas como correspondente a uma jornada de trabalho. Enfatizou-se que, nos termos dos artigos 33 e 126 da LEP, a contagem feita pelos dias trabalhados pelo apenado, razo de 1 (um) dia de pena a cada 3 (trs) dias de trabalho (LEP, art. 126, 1, II) (HC 114393/RS / i-731).

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    TRIBUTRIO 01. Simples Nacional: vedao e isonomia: constitucional a exigncia contida no art. 17, V, da LC 123/2006 (Art. 17. No podero recolher os impostos e contribuies na forma do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte: ... V - que possua dbito com o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, ou com as Fazendas Pblicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade no esteja suspensa). Essa a concluso do Plenrio ao desprover, por maioria, o recurso extraordinrio. De incio, rememorou-se que o Simples Nacional teria sido criado com o objetivo de concretizar as diretrizes constitucionais do tratamento jurdico diferenciado s microempresas e empresas de pequeno porte (CF, artigos 170, IX, e 179). Lembrou-se, ainda, que a EC 42/2003 trouxera modificaes ao texto constitucional, dentre elas a necessidade de edio de lei complementar para se definir o tratamento favorecido s microempresas e s empresas de pequeno porte, e facultara a instituio de regime nico de arrecadao de impostos e contribuies da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios (CF, art. 146, III, d, e pargrafo nico). Salientou-se existir o princpio constitucional do tratamento favorecido para microempresas e empresas de pequeno porte, fundado em questes sociais e econmicas ligadas necessidade de se conferirem condies justas e igualitrias de competio para essas empresas. Destacou-se, no ponto, a relevncia do setor na gerao de emprego e renda no Pas. Sinalizou-se, ainda, que a alta carga tributria seria o segundo principal motivo para o encerramento das atividades em empresas dessa categoria. Frisou-se que, nesse contexto, teria sido promulgada a LC 123/2006, a estabelecer tratamento diferenciado e favorecido especialmente no que se refere a regime de arrecadao tributria; cumprimento de obrigaes trabalhistas e previdencirias; acesso a crdito e ao mercado; capitalizao e inovao tecnolgica; associativismo; regras de incluso; acesso justia, dentre outros. Esse tratamento favorvel estaria inserto no contexto das polticas pblicas voltadas concretude dos objetivos da Constituio. Assinalou-se que o Simples Nacional seria regime especial de tributao de carter opcional por parte dos contribuintes, mas de observncia obrigatria pelos entes federados. No configuraria mero benefcio fiscal, mas microssistema tributrio prprio, aplicvel apenas a alguns contribuintes, no contexto constitucional aludido. Assim,

    mesmo que a adeso fosse facultativa e que as vedaes ao ingresso no regime constassem expressamente do texto legal, os critrios da opo legislativa precisariam, necessariamente, ser compatveis com a Constituio. No que se refere aos critrios adotados pelo legislador, observou-se que, primeiramente, ter-se-ia definido o universo dos contemplados pela proteo constitucional com base na receita bruta auferida pela pessoa jurdica. Alm disso, ter-se-ia estipulado requisitos e hipteses de vedaes, norteados por aspectos relacionados ao contribuinte e por fatores predominantemente extrafiscais (LC 123/2006, art. 17). Sublinhou-se que a Corte j teria afirmado no haver ofensa ao princpio da isonomia tributria se a lei, por motivos extrafiscais, imprimisse tratamento desigual a microempresas e empresas de pequeno porte de capacidade contributiva distinta, ao afastar do Simples Nacional as pessoas jurdicas

    cujos scios teriam condio de disputar o mercado de trabalho sem assistncia do Estado. A Corte, ainda, teria reconhecido a possibilidade de se estabelecerem excluses do regime simplificado com base em critrios subjetivos. Dessa forma, reputou-se no haver bice a que o legislador infraconstitucional criasse restries de ordem subjetiva a uma proteo constitucionalmente prevista. Asseverou-se, no tocante vedao disposta no inciso V da norma em debate, que toda e qualquer exigncia de regularidade fiscal sempre teria, como efeito indireto, a induo ao pagamento, ainda que parcelado, de tributos. Caberia perquirir, portanto, se a citada regra imporia discriminao arbitrria, desarrazoada e incompatvel com a isonomia, considerada a capacidade contributiva dos agentes. No ponto, anotou-se que a instituio do Simples Nacional teria por escopo implementar justia tributria, ao diferenciar microempresas e empresas de pequeno porte dos demais contribuintes, em razo da capacidade contributiva presumidamente menor naqueles casos. Observou-se que, em razo desse regime tributrio favorecido, houvera significativa reduo na carga tributria das empresas, a tornar mais fcil o cumprimento das obrigaes para com o Fisco. Frisou-se que essa presuno de capacidade contributiva reduzida, porm, no seria vlida, aprioristicamente, aos inadimplentes. Assim, o tratamento tributrio a ser conferido nesses casos no poderia implicar desonerao, pois todos os contribuintes estariam adstritos ao pagamento de tributos. Afirmou-se que no seria razovel favorecer aqueles em dbito com o Fisco, que participariam do mercado com vantagem competitiva em relao aos adimplentes. Consignou-se, ainda, que nos termos da lei complementar, para que o empreendedor usufrusse de outras benesses do sistema, como o acesso a crdito, dentre outros, tambm no poderia estar em dbito com o Fisco e com o INSS. Salientou-se, ainda, que as micro e pequenas empresas teriam a prerrogativa de parcelamento de dbitos dessa natureza, o que corroboraria a ideia de que o Simples Nacional estimularia o ingresso de contribuintes. Ponderou-se que admitir o ingresso no programa daquele que no possui regularidade fiscal, e que sequer pretende parcelar o dbito ou suspender seu pagamento, significaria comunicar ao adimplente que o dever de pagar seus tributos seria inconveniente, pois receberia o mesmo tratamento dado ao inadimplente. Dessa perspectiva, a norma em discusso no violaria o princpio da isonomia, mas o confirmaria, pois o adimplente e o inadimplente no estariam na mesma situao jurdica. Ressaltou-se que a imposio de confisso de dvida mediante parcelamento de dbito para aderir ao regime no violaria o acesso justia, o contraditrio e a ampla defesa, pois seria requisito exigido de todo contribuinte que pretendesse parcelar seu dbito. Alm disso, no haveria impedimento ao acesso ao Judicirio. Ademais, lembrou-se que a Corte inadmitiria apenas expediente sancionatrio indireto para forar o cumprimento da obrigao tributria pelo contribuinte, o que no seria o caso. Reputou-se, de outro lado, que a regularidade fiscal, nos termos da LC 123/2006, tambm teria como fundamento extrafiscal o incentivo ao ingresso dos empreendedores no mercado formal. Registrou-se que a condicionante em anlise no seria fator de desequilbrio concorrencial, pois seria exigncia imposta a todas as empresas, e representaria forma indireta de se reprovar a infrao das leis fiscais, de forma a garantir a neutralidade, com enfoque na livre concorrncia. Vencido o

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    Ministro Marco Aurlio, que provia o recurso por reputar inconstitucional o preceito em questo, que configuraria coao poltica (RE 627543/RS / i-726). 02. Imunidade tributria e servio de impresso grfica: As prestadoras de servios de composio grfica, que realizam servios por encomenda de empresas jornalsticas ou editoras de livros, no esto abrangidas pela imunidade tributria prevista no art. 150, VI, d, da CF

    (Art. 150. Sem prejuzo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, vedado Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios: ... VI - instituir impostos sobre: ... d) livros, jornais, peridicos e o papel destinado a sua impresso). Com base nesta orientao, a 2 Turma, em concluso de julgamento e por maioria, negou provimento a agravo regimental em recurso extraordinrio em que discutida a exigibilidade do ISS relativamente confeco/impresso (insumos intangveis) de jornais para terceiros v. Informativos 497, 541 e 550. A Turma destacou que a garantia da imunidade estabelecida pela Constituio, em favor dos livros, dos jornais, dos peridicos e do papel destinado sua impresso revestir-se-ia de significativa importncia de ordem poltico-jurdica, destinada a preservar e a assegurar o prprio exerccio das liberdades de manifestao do pensamento e de informao jornalstica. Pontuou que a mencionada imunidade objetivaria preservar direitos fundamentais como a liberdade de informar e o direito do cidado de ser informado , a evitar situao de submisso tributria das empresas jornalsticas. Frisou que, no

    ponto, os servios de composio grfica realizados por empresas contratadas para realizar esses trabalhos, seriam meros prestadores de servio e, por isso, a eles no se aplicaria a imunidade tributria. Vencido o Ministro Eros Grau, que dava provimento ao recurso. (RE 434826 AgR/MG / i-729). 03. RE N. 470.520-SP / RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI / EMENTA: Imunidade. Entidade educacional. Artigo 150, inciso VI, alnea c, da Constituio Federal. ITBI. Aquisio de terreno sem edificao. Fato gerador. Momento da aquisio. Destinao s finalidades essenciais da entidade. Presuno. nus da prova. Precedentes. 1. No caso do ITBI, a destinao do imvel s finalidades essenciais da entidade deve ser pressuposta, sob pena de no haver imunidade para esse tributo. 2. A condio de um imvel

    estar vago ou sem edificao no suficiente, por si s, para destituir a garantia constitucional da imunidade. 3. A regra da imunidade se traduz numa negativa de competncia, limitando, a priori, o poder impositivo do Estado. 4. Na regra imunizante, como a garantia decorre diretamente da Carta Poltica, mediante decote de competncia legislativa, as presunes sobre o enquadramento originalmente conferido devem militar a favor das pessoas ou das entidades que apontam a norma constitucional. 5. Quanto imunidade prevista no art. 150, inciso VI, alnea c, da Constituio Federal, o nus de elidir a presuno de vinculao s

    atividades essenciais do Fisco. 6. Recurso extraordinrio provido (i-729). 04. RE N. 606.107-RS / RELATORA: MIN. ROSA WEBER / EMENTA: RECURSO EXTRAORDINRIO. CONSTITUCIONAL. TRIBUTRIO. IMUNIDADE. HERMENUTICA. CONTRIBUIO AO PIS E COFINS. NO INCIDNCIA. TELEOLOGIA DA NORMA. EMPRESA EXPORTADORA. CRDITOS DE ICMS TRANSFERIDOS A TERCEIROS. I - Esta Suprema Corte, nas inmeras oportunidades em que debatida a questo da hermenutica constitucional aplicada ao tema das imunidades, adotou a interpretao teleolgica do instituto, a emprestar-lhe abrangncia maior, com escopo de assegurar norma supralegal mxima efetividade. II - A interpretao dos conceitos utilizados pela Carta da Repblica para outorgar competncias impositivas (entre os quais se insere o conceito de receita constante do seu art. 195, I, b) no est sujeita, por bvio, prvia edio de lei. Tampouco est condicionada lei a exegese dos dispositivos que estabelecem imunidades tributrias, como aqueles que fundamentaram o acrdo

    de origem (arts. 149, 2, I, e 155, 2, X, a, da CF). Em ambos os casos, trata-se de

    interpretao da Lei Maior voltada a desvelar o alcance de regras tipicamente

    constitucionais, com absoluta independncia da atuao do legislador tributrio. III A apropriao de crditos de ICMS na aquisio de mercadorias tem suporte na tcnica da no cumulatividade, imposta para tal tributo pelo art. 155, 2, I, da Lei Maior, a fim de evitar que a sua incidncia em

    cascata onere demasiadamente a atividade econmica e gere distores

    concorrenciais. IV - O art. 155, 2, X, a, da CF cuja finalidade o incentivo s

    exportaes, desonerando as mercadorias nacionais do seu nus econmico, de modo a

    permitir que as empresas brasileiras exportem produtos, e no tributos -, imuniza as operaes de exportao e assegura a manuteno e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operaes e prestaes anteriores. No incidem, pois, a COFINS e a contribuio ao PIS sobre os crditos de ICMS cedidos a terceiros, sob pena de frontal violao do preceito constitucional. V O conceito de receita, acolhido pelo art. 195, I, b, da Constituio Federal, no se confunde com o conceito contbil. Entendimento, alis, expresso nas Leis 10.637/02 (art. 1) e Lei 10.833/03 (art. 1), que determinam a incidncia da contribuio ao PIS/PASEP e da COFINS no cumulativas sobre o total das receitas, independentemente de sua denominao ou classificao contbil. Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informao ao mercado, gesto e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinao das bases de clculo de diversos tributos, de modo algum subordina a tributao. A contabilidade constitui ferramenta utilizada tambm para fins tributrios, mas moldada nesta seara pelos princpios e regras prprios do Direito Tributrio. Sob o especfico prisma constitucional, receita bruta pode ser definida como o

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    ingresso financeiro que se integra no patrimnio na condio de elemento novo e positivo, sem reservas ou condies. VI - O aproveitamento dos crditos de ICMS por ocasio da sada imune para o exterior no gera receita tributvel. Cuida-se de mera recuperao do nus econmico advindo do ICMS, assegurada expressamente pelo art. 155, 2, X, a, da Constituio Federal. VII - Adquirida a mercadoria, a empresa exportadora pode creditar-se do ICMS anteriormente pago, mas somente poder transferir a terceiros o saldo credor acumulado aps a sada da mercadoria com destino ao exterior (art. 25, 1, da LC 87/1996). Porquanto s se viabiliza a cesso do crdito em funo da exportao, alm de vocacionada a desonerar as empresas exportadoras do nus econmico do ICMS, as verbas respectivas qualificam-se como decorrentes da exportao para efeito da imunidade do art. 149, 2, I, da Constituio Federal. VIII - Assenta esta Suprema Corte a tese da inconstitucionalidade da incidncia da contribuio ao PIS e da COFINS no cumulativas sobre os valores auferidos por empresa exportadora em razo da transferncia a terceiros de crditos de ICMS. IX - Ausncia de afronta aos arts. 155, 2, X, 149, 2, I, 150, 6, e 195, caput e inciso I, b, da Constituio Federal. Recurso extraordinrio conhecido e no provido, aplicando-se aos recursos sobrestados, que versem sobre o tema decidido, o art. 543-B, 3, do CPC (i-730). 05. EMB. DECL. NO RE N. 581.906-SC / RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI / EMENTA: Embargos de declarao recebidos como agravo regimental. Tributrio. Repercusso geral. Prodec. Programa de incentivo fiscal de Santa Catarina. Reteno, pelo Estado, de parcela destinada aos municpios. Inconstitucionalidade. RE n 572.762RG. 1. A jurisprudncia da Corte pacfica no sentido de que o repasse da quota constitucionalmente devida aos municpios no pode sujeitar-se condio prevista em programa de benefcio fiscal de mbito estadual. A limitao acaba por configurar indevida interferncia do Estado no sistema constitucional de repartio de receitas tributrias. 2. Agravo regimental ao qual se nega

    provimento. Multa (i-731).

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    Selecionado a partir dos informativos 531 e 532 do STJ

    CIVIL E PROCESSO CIVIL 01. Direito processual civil. Competncia para processar e julgar execuo fiscal. Recurso repetitivo (art. 543-C do CPC e Res. 8/2008-STJ): Na hiptese em que, em razo da inexistncia de vara da Justia Federal na localidade do domiclio do devedor, execuo fiscal tenha sido ajuizada pela Unio ou por suas autarquias em vara da Justia Federal sediada em local diverso, o juiz federal poder declinar, de ofcio, da competncia para processar e julgar a demanda, determinando a remessa dos autos para o juzo de direito da comarca do domiclio do executado. Isso porque, nas comarcas do interior onde

    no funcionar vara da Justia Federal, os juzes estaduais so competentes para processar e julgar os executivos fiscais da Unio e de suas autarquias ajuizados contra devedores domiciliados nas respectivas comarcas (art. 15, I, da Lei 5.010/1966). Portanto, a deciso do juiz federal que declina da competncia quando a norma do art. 15, I, da Lei 5.010/1966 deixa de ser observada no est sujeita Smula 33 do STJ, segundo a qual a incompetncia relativa no pode ser declarada de ofcio. No mesmo sentido o teor da Smula 40 do TFR, segundo a qual "a execuo fiscal da Fazenda Pblica Federal ser proposta perante o Juiz de Direito da comarca do domiclio do devedor, desde que no seja ela sede de vara da Justia Federal". "Ser proposta", diz o texto, a significar que no h opo, nem relatividade. Cabe ressaltar, ademais, que essa regra pretende facilitar tanto a defesa do devedor quanto o aparelhamento da execuo, que assim no fica, em regra, sujeita a cumprimento de atos por cartas precatrias (REsp

    1.146.194-SC / i-531). 02. Direito civil. Possibilidade de financiamento do IOF. Recurso repetitivo (Art. 543-C do CPC e Res. 8/2008-STJ): Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operaes Financeiras e de Crdito (IOF) por meio de financiamento acessrio ao mtuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. No se discute que a obrigao tributria arrecadatria e o recolhimento do tributo Fazenda Nacional so cumpridos por inteiro pela instituio

    financeira, o agente arrecadador, de sorte que a relao existente entre esta e o muturio decorrente da transferncia ao Fisco do valor integral da exao tributria. Esse o objeto do financiamento acessrio, sujeito s mesmas condies e taxas do mtuo principal destinado ao pagamento do bem de consumo. Nesse contexto, o fato de a instituio financeira arrecadadora financiar o valor devido pelo consumidor Fazenda no padece de ilegalidade ou abusividade. Ao contrrio, atende aos interesses do financiado, que no precisa desembolsar de uma nica vez todo o valor, ainda que para isso esteja sujeito aos encargos previstos no contrato. Tese firmada para fins do art. 543-C do CPC: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operaes Financeiras e de Crdito (IOF) por meio de financiamento acessrio ao mtuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. (REsp

    1.251.331-RS e REsp 1.255.573-RS / i-531).

    03. Direito processual civil. Competncia do juzo deprecado para a degravao de

    depoimentos colhidos: O juzo deprecado e no o deprecante o competente para a degravao dos depoimentos testemunhais colhidos e registrados por mtodo no convencional (como taquigrafia, estenotipia ou outro mtodo idneo de documentao) no cumprimento da carta precatria. De

    fato, a redao dada pela Lei 8.952/1994 ao caput do art. 417 do CPC, ao

    possibilitar o registro dos depoimentos de testemunhas por taquigrafia, estenotipia ou

    outro mtodo idneo de documentao, no s permitiu tornar mais cleres os depoimentos tendo em

    vista a desnecessidade, em princpio, de sua reduo a termo, mas tambm possibilitou registro fiel da ntegra do ato, com imagem e som, em vez da simples escrita. Alm disso, no que diz respeito necessidade de degravao dos depoimentos colhidos, tem-se que, nos termos do 1 do art. 417 do CPC, os depoimentos somente devero ser datilografados quando houver recurso da sentena ou noutros casos, quando o juiz o determinar, de ofcio ou a requerimento da parte. Nessa conjuntura, o Poder Judicirio tem buscado, nos recursos tecnolgicos, meios para otimizar a prestao jurisdicional em busca de celeridade. Todavia, devem-se harmonizar todos os interesses daqueles que atuam no feito, observando-se o devido processo legal. Nesse contexto, a regra trazida pelo CPC de desnecessidade de degravao e de no transcrio dos

    Dr. George Felcio, advogado do Banco do Nordeste do Brasil S/A.

    Informativo de Jurisprudncia

    Superior Tribunal de Justia

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    depoimentos orais registrados por taquigrafia, estenotipia ou outro mtodo idneo de documentao deve adequar-se hiptese em que ocorra a deprecao do ato, pois, para que o juzo deprecante tome conhecimento do contedo dos depoimentos colhidos pelo juzo deprecado, tem-se por necessria a degravao dos testemunhos. Dessa maneira, torna-se de observncia obrigatria pelo juzo deprecado a realizao do procedimento de transcrio dos depoimentos como parte do cumprimento integral da carta precatria (CC 126.747-RS / i-531).

    04. Direito processual civil. Competncia para o processamento de execuo de prestao alimentcia: Na definio da competncia para o processamento de execuo de prestao alimentcia, cabe ao alimentando a escolha entre: a) o foro do seu domiclio ou de sua residncia; b) o juzo que proferiu a sentena exequenda; c) o juzo do local onde se encontram bens do alimentante sujeitos expropriao; ou d) o juzo do atual domiclio do alimentante. De fato, o descumprimento de obrigao alimentar, antes de ofender a autoridade de uma deciso judicial, viola o direito vida digna de quem dela necessita (art. 1, III, da CF). Em face dessa peculiaridade, a interpretao das normas relativas competncia, quando o assunto alimentos, deve, sempre, ser a mais favorvel aos alimentandos, sobretudo em se tratando de menores, por incidncia, tambm, do princpio do melhor interesse e da proteo integral criana e ao adolescente (art. 3 da Conveno sobre os Direitos da Criana e art. 1 do ECA). Nesse contexto, relativa (e no absoluta) a presuno legal de que o alimentando, diante de seu estado de premente necessidade, tem dificuldade de propor a ao em foro diverso do seu prprio domiclio ou residncia, que d embasamento regra do

    art. 100, II, do CPC, segundo a qual competente o foro do domiclio ou da residncia do alimentando, para a ao em que se pedem alimentos, de modo que o alimentando pode renunciar referida presuno se lhe for mais conveniente ajuizar a ao em local diverso. Da mesma forma, ainda que se trate de execuo de alimentos forma especial de execuo por quantia certa, deve-se adotar o mesmo raciocnio, permitindo, assim, a relativizao da competncia funcional prevista no art. 475-P do CPC, em virtude da natureza da prestao exigida. Desse modo, deve-se resolver a aparente antinomia havida entre os arts. 475-P, II e pargrafo nico, 575, II, e 100, II, do CPC em favor do reconhecimento de uma regra de foro concorrente para o processamento de execuo de prestao alimentcia que permita ao alimentando escolher entre: a) o foro do seu domiclio ou de sua residncia (art. 100, II, CPC); b) o juzo que proferiu a sentena exequenda (art. 475-P, II, e art. 575, II, do CPC); c) o juzo do local onde se encontram bens do alimentante sujeitos expropriao (pargrafo nico do art. 475-P do CPC); ou d) o juzo do atual domiclio do alimentante (pargrafo nico do art. 475-P do

    CPC) (CC 118.340-MS / i-531). 05. Direito civil. Impossibilidade de priso civil do inventariante pelo inadimplemento de penso alimentcia: No cabe priso civil do inventariante em razo do descumprimento do dever do esplio de prestar alimentos. Isso porque a restrio da liberdade constitui

    sano de natureza personalssima que no pode recair

    sobre terceiro, estranho ao dever de alimentar. De fato, a priso administrativa atinge apenas o devedor de alimentos, segundo o art. 733, 1, do CPC, e no terceiros. Dessa forma, sendo o inventariante um terceiro na relao entre exequente e executado ao esplio que foi transmitida a obrigao de prestar alimentos (haja vista o seu carter personalssimo), configura constrangimento ilegal a coao, sob pena de priso, a adimplir obrigao do referido esplio, quando este no dispe de rendimento suficiente para tal fim. Efetivamente, o inventariante nada mais do que, substancialmente, auxiliar do juzo (art. 139 do CC/2002), no podendo ser civilmente preso pelo descumprimento de seus deveres, mas sim destitudo por um dos motivos do art. 995 do CC/2002. Deve-se considerar, ainda, que o

    prprio herdeiro pode requerer pessoalmente ao juzo, durante o processamento do inventrio, a antecipao de recursos para a sua subsistncia, podendo o magistrado conferir eventual adiantamento de quinho necessrio sua mantena, dando assim efetividade ao direito material da parte pelos meios processuais cabveis, sem que se ofenda, para tanto, um dos direitos fundamentais do ser humano, a liberdade (HC 256.793-RN / i-531). 06. Direito civil e processual civil. Legitimidade para buscar reparao de prejuzos decorrentes de violao da imagem e da memria de falecido: Diferentemente do que ocorre em relao ao cnjuge sobrevivente, o esplio no tem legitimidade para buscar reparao por danos morais decorrentes de ofensa post mortem imagem e memria de pessoa. De acordo com o art. 6 do CC - segundo o qual a existncia da pessoa natural termina com a morte [...] -, os direitos da personalidade de pessoa natural se encerram com a sua morte. Todavia, o pargrafo nico dos arts. 12 e 20 do CC estabeleceram duas formas de tutela pstuma dos direitos da personalidade. O art. 12 dispe que, em se tratando de morto, ter legitimidade para requerer a cessao de ameaa ou leso a direito da personalidade, e para reclamar perdas e danos, o cnjuge sobrevivente ou qualquer parente em linha reta, ou colateral at o quarto grau. O art. 20, por sua vez, determina que, em se tratando de morto, o cnjuge, os ascendentes ou os descendentes so partes legtimas para requerer a proibio de divulgao de escritos, de transmisso de palavras, ou de publicao, exposio ou utilizao da imagem da pessoa falecida. O esplio, entretanto, no pode sofrer dano moral por constituir uma universalidade de bens e direitos, sendo representado pelo inventariante (art. 12, V, do CPC) para questes relativas ao patrimnio do de cujus. Dessa forma, nota-se que o esplio, diferentemente do cnjuge sobrevivente, no possui legitimidade para postular reparao por prejuzos decorrentes de ofensa, aps a morte do de cujus, memria e imagem do falecido (REsp 1.209.474-SP / i-532). 07. Direito processual civil. Momento adequado para a alegao de suspeio do perito: A parte no pode deixar para arguir a suspeio de perito apenas aps a apresentao de laudo pericial que lhe foi desfavorvel.

    Por se tratar de nulidade relativa, a suspeio do perito deve ser arguida na primeira oportunidade em que couber parte manifestar-se nos autos, ou seja, no momento da sua nomeao, demonstrando o interessado o prejuzo eventualmente suportado sob pena de precluso (art. 245 do

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    GEAGU Resoluo de questes

    objetivas, peas, pareceres e dissertaes

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    CPC). Permitir que a alegao de irregularidade da percia possa ser realizada pela parte aps a publicao do laudo pericial que lhe foi desfavorvel seria o mesmo que autoriz-la a plantar uma nulidade, o que no se coaduna com o sistema jurdico ptrio, que rejeita o

    venire contra factum proprium (AgRg na MC 21.336-RS / i-532).

    COMERCIAL / EMPRESARIAL 01. Direito empresarial. Sujeio de crdito derivado de honorrios advocatcios sucumbenciais recuperao judicial: Os crditos derivados de honorrios advocatcios sucumbenciais esto sujeitos aos efeitos da recuperao judicial, mesmo que decorrentes de condenao proferida aps o pedido de recuperao. De fato, essa

    verba no pode ser considerada como "crditos existentes data do pedido de recuperao judicial" (art. 49 da Lei 11.101/2005) na hiptese que tenha nascido de sentena prolatada em momento posterior ao pedido de recuperao. Essa circunstncia, todavia, no suficiente para exclu-la, automaticamente, das consequncias da recuperao judicial. Cabe registrar que possuem natureza alimentar os honorrios advocatcios, tanto os contratualmente pactuados como os de sucumbncia. Desse modo, tanto honorrios advocatcios quanto crditos de origem trabalhista constituem verbas que ostentam natureza alimentar.

    Como consequncia dessa afinidade ontolgica, impe-se dispensar-lhes, na espcie, tratamento isonmico, de modo que aqueles devem seguir na ausncia de disposio legal especfica os ditames aplicveis s quantias devidas em virtude da relao de trabalho. Assim, em relao ordem de classificao dos crditos em processos de execuo concursal, os honorrios advocatcios tm tratamento anlogo quele dispensado aos crditos trabalhistas. necessrio ressaltar que os crditos trabalhistas esto submetidos aos efeitos da recuperao judicial, ainda que reconhecidos em juzo posteriormente ao seu processamento. Dessa forma, a natureza comum de ambos os crditos honorrios advocatcios de sucumbncia e verbas trabalhistas autoriza que sejam regidos, para efeitos de sujeio recuperao judicial, da mesma forma. Sabe-se que o art.

    24 do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994) prev a necessidade de habilitao dos crditos decorrentes de honorrios quando se constatar a ocorrncia de "concurso de credores, falncia, liquidao extrajudicial, concordata ou insolvncia civil". importante ressaltar que o Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994) anterior publicao da Lei de Recuperao Judicial e Falncia (Lei 11.101/2005), de modo que, por imperativo lgico, no se poderia exigir que vislumbrasse nas hipteses de concesso de recuperao judicial (REsp 1.377.764-MS / i-531). 02. Direito empresarial. Compensao no processo falimentar: Os valores a serem restitudos massa falida

    decorrentes da procedncia de ao revocatria no podem ser compensados com eventual crdito habilitado no processo de falncia pelo ru condenado. Isso porque ao revocatria subjaz uma situao de ilegalidade preestabelecida em prejuzo da coletividade de credores, ilegalidade que no pode beneficiar quem a praticou, viabilizando satisfao expedita de seus crditos. Nessa ordem de ideias, a ao revocatria, de eficaz instrumento vocacionado restituio de bens que escoaram fraudulentamente do patrimnio da falida, tornar-se-ia engenhosa ferramenta de lavagem de capitais recebidos em desconformidade com a par conditio creditorum. Ademais, a doutrina vem apregoando

    que as hipteses legais que impedem a compensao do crdito perante a massa no esto listadas exaustivamente no art. 46 do Decreto-Lei n. 7.661/1945 (correspondente, em parte, ao art. 122 da Lei n. 11.101/2005). Aplicam-se tambm ao direito falimentar as hipteses que vedam a compensao previstas no direito comum, como aquelas previstas nos arts. de 1.015 a 1.024 do CC de 1916, entre as quais se destaca a compensao realizada em prejuzo de direitos de terceiros

    (art. 1.024) (REsp 1.121.199-SP / i-531).

    03. Direito empresarial. Termo inicial dos juros de mora relativos a crdito veiculado em cheque:

    Os juros de mora sobre a importncia de cheque no pago contam-se da primeira apresentao pelo portador instituio financeira, e no da citao do sacador. A mora ex re independe de

    qualquer ato do credor, como interpelao ou citao, porquanto decorre do prprio inadimplemento de obrigao positiva, lquida e com termo implementado, desde

    que no seja daquelas em que a prpria lei afasta a constituio de mora automtica.

    Assim, em se tratando de mora ex re, aplica-se o antigo e conhecido brocardo dies interpellat

    pro homine (o termo interpela no lugar do credor). Com efeito, fica lmpido que o art. 219 do CPC, assim

    como o 405 do CC, deve ser interpretado luz do ordenamento jurdico, tendo aplicao residual para casos de mora ex persona - evidentemente, se ainda no houve a prvia constituio em mora por outra forma legalmente admitida. Assim, citao implica caracterizao da mora apenas se ela j no tiver ocorrido pela materializao de uma das diversas hipteses indicadas no ordenamento jurdico. No caso, a matria referente aos juros relativos cobrana de crdito estampado em cheque por seu portador regulada pela Lei do Cheque, que estabelece a incidncia dos juros de mora a contar da primeira apresentao do ttulo (art. 52, II). Ademais, por materializar uma ordem a terceiro para pagamento vista, o momento natural de realizao do cheque a apresentao (art. 32), quando a instituio financeira verifica a existncia de disponibilidade de fundos (art. 4, 1), razo pela qual a apresentao necessria (REsp 1.354.934-RS / i-532).

    CONSUMIDOR 01. Direito do consumidor. Exigncia de cauo para

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    atendimento mdico de emergncia: incabvel a exigncia de cauo para atendimento mdico-hospitalar emergencial. Antes mesmo da vigncia da Lei 12.653/2012, a Quarta Turma do STJ (REsp 1.256.703-SP, DJe 27/9/2011) j havia se manifestado no sentido de que dever do estabelecimento hospitalar, sob pena de responsabilizao cvel e criminal, da sociedade empresria e prepostos, prestar o pronto atendimento. Com a superveniente vigncia da Lei 12.653/2012, que veda a exigncia de cauo e de prvio preenchimento de formulrio administrativo para a prestao de atendimento mdico-hospitalar premente, a soluo para o caso expressamente conferida por norma de carter cogente (REsp 1.324.712-MG / i-532).

    CRIANA E ADOLESCENTE 01. Direito da criana e do adolescente e penal. Aplicabilidade de escusa absolutria na hiptese de ato infracional: Nos casos de ato infracional equiparado a crime contra o patrimnio, possvel que o adolescente seja beneficiado pela escusa absolutria prevista no art. 181, II, do CP. De acordo com o referido artigo, isento de

    pena, entre outras hipteses, o descendente que comete crime contra o patrimnio em prejuzo de ascendente, ressalvadas as excees delineadas no art. 183 do mesmo diploma legal, cujo teor probe a aplicao da escusa: a) se o crime de roubo ou de extorso, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaa ou violncia pessoa; b) ao estranho que participa do crime; ou c) se o crime praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Efetivamente, por razes de poltica criminal, com base na existncia de laos familiares ou afetivos entre os envolvidos, o legislador optou por afastar a punibilidade de determinadas pessoas. Nessa conjuntura, se cumpre aos ascendentes o dever de lidar com descendentes maiores que lhes causem danos ao patrimnio, sem que haja interesse estatal na aplicao de pena, tambm no se observa, com maior razo, interesse na aplicao de medida socioeducativa ao adolescente pela prtica do mesmo fato. Com efeito, tendo em mente que, nos termos

    do art. 103 do ECA, ato infracional a conduta descrita como crime ou contraveno penal, possvel a aplicao de algumas normas penais na omisso do referido diploma legal, sobretudo na hiptese em que se mostrarem mais benficas ao adolescente. Ademais, no h razoabilidade no contexto em que prevista imunidade absoluta ao sujeito maior de 18 anos que pratique crime em detrimento do patrimnio de seu ascendente, mas no qual seria permitida a aplicao de medida socioeducativa, diante da mesma situao ftica, ao adolescente. De igual modo, a despeito da funo reeducativa ou pedaggica da medida socioeducativa que eventualmente vier a ser imposta, no razovel a ingerncia do Estado nessa relao especfica entre ascendente e descendente, porque, a teor do disposto no art. 1.634, I, do CC, compete aos pais, quanto pessoa dos filhos menores, dirigir-lhes a criao e educao. Portanto, se na presena da imunidade absoluta aqui tratada no h

    interesse estatal na aplicao de pena, de idntico modo, no deve haver interesse na aplicao de medida socioeducativa (HC 251.681-PR / i-531).

    PENAL E PROCESSO PENAL 01. Direito penal. Comunicabilidade do arrependimento posterior: Uma vez reparado o dano integralmente por um dos autores do delito, a causa de diminuio de pena do arrependimento posterior, prevista no art. 16 do CP, estende-se aos demais coautores, cabendo ao julgador avaliar a frao de reduo a ser aplicada, conforme a atuao de cada agente em relao reparao efetivada. De fato, trata-se de circunstncia comunicvel, em razo de sua natureza objetiva. Deve-se observar,

    portanto, o disposto no art. 30 do CP, segundo o qual "no se comunicam as circunstncias e as condies de carter pessoal, salvo quando elementares do crime" (REsp 1.187.976-SP / i-531). 02. Direito processual penal. Processo administrativo para aplicao de falta disciplinar ao preso. Recurso repetitivo (art. 543-C do CPC e Res. 8/2008-STJ): Para o reconhecimento da prtica de falta disciplinar, no mbito da execuo penal, imprescindvel a instaurao de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constitudo ou defensor pblico nomeado. No

    mbito da execuo penal, a atribuio de apurar a conduta faltosa do detento, assim como realizar a subsuno do fato norma legal, ou seja, verificar se a conduta corresponde a uma falta leve, mdia ou grave, e aplicar eventual sano disciplinar do diretor do estabelecimento prisional, em razo de ser o detentor do poder disciplinar (Seo III do Captulo IV da LEP). No se olvida, entretanto, que, em razo do cometimento de falta de natureza grave, determinadas consequncias e sanes disciplinares so de competncia do juiz da execuo penal, quais sejam, a regresso de regime (art. 118, I), a revogao de sada temporria (art. 125), a perda dos dias remidos (art. 127) e a converso de pena restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 181, 1, d, e 2). A propsito, o art. 48 estabelece que a autoridade administrativa representar ao juiz da execuo penal para adoo dessas sanes disciplinares de competncia do juiz da execuo penal. Dessa forma, constata-se que a LEP no deixa dvida ao estabelecer que todo o "processo" de apurao da falta disciplinar (investigao e subsuno), assim como a aplicao da respectiva punio, realizado dentro da unidade penitenciria, cuja responsabilidade do seu diretor. Somente se for reconhecida a prtica de falta disciplinar de natureza grave pelo diretor do estabelecimento prisional, que ser comunicado ao juiz da execuo penal para que aplique determinadas sanes, que o legislador, excepcionando a regra, entendeu por bem conferir carter jurisdicional. No tocante formalizao dessa sequncia de atos concernentes apurao da conduta faltosa do detento e aplicao da respectiva sano, o art. 59 da LEP expresso ao determinar que: praticada a falta disciplinar, dever ser instaurado o procedimento para a sua apurao,

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    conforme regulamento, assegurado o direito de defesa. E mais, mesmo sendo a referida lei do ano de 1984, portanto, anterior CF de 1988, ficou devidamente assegurado o direito de defesa do preso, que abrange no s a autodefesa, mas tambm a defesa tcnica, a ser realizada por profissional devidamente inscrito nos quadros da OAB. No por outro motivo o legislador disciplinou expressamente nos arts. 15, 16 e 83, 5, da LEP, a obrigatoriedade de instalao da Defensoria Pblica nos estabelecimentos penais, a fim de assegurar a defesa tcnica daqueles que no possurem recursos financeiros para constituir advogado. Ademais, vale ressaltar que o direito de defesa garantido ao sentenciado tem assento constitucional, mormente porque o reconhecimento da prtica de falta disciplinar de natureza grave acarreta consequncias danosas que repercutem, em ltima anlise, em sua liberdade. Com efeito, os incisos LIV e LV do art. 5 da CF respaldam a obrigatoriedade da presena de defensor regularmente constitudo na OAB, em procedimento administrativo disciplinar, no mbito da execuo da pena. No particular, registre-se que a Smula Vinculante 5, a qual dispe que a falta de defesa tcnica por advogado no processo administrativo disciplinar no ofende a Constituio, no se aplica execuo penal. Primeiro, porque todos os precedentes utilizados para elaborao do aludido verbete sumular so originrios de questes no penais, onde estavam em discusso procedimentos administrativos de natureza previdenciria (RE 434.059); fiscal (AI 207.197); disciplinar-estatutrio militar (RE 244.027); e tomada de contas especial (MS 24.961). Segundo, porque, conforme mencionado, na execuo da pena est em jogo a liberdade do sentenciado, o qual se encontra em situao de extrema vulnerabilidade, revelando-se incompreensvel que ele possa exercer uma ampla defesa sem o conhecimento tcnico do ordenamento jurdico, no se podendo, portanto, equipar-lo ao indivduo que responde a processo disciplinar na esfera cvel-administrativa. Ademais, observa-se que o Regulamento Penitencirio Federal, aprovado pelo Dec. 6.049/2007 que disciplina as regras da execuo da pena em estabelecimento prisional federal, seguindo a diretriz traada pela Lei 7.210/1984 (LEP), determina expressamente a obrigatoriedade de instaurao de procedimento administrativo para apurao de falta disciplinar, bem como a imprescindibilidade da presena de advogado. Seria, portanto, um verdadeiro contrassenso admitir que o preso que cumpre pena em estabelecimento penal federal, regido pelo aludido Decreto, possua mais direitos e garantias em relao quele que esteja cumprindo pena em presdio estadual. Ademais, quanto ao disposto no art. 118, I e 2, da LEP que determina que o apenado deva ser ouvido previamente antes de ser regredido definitivamente de regime, mesmo que se entenda que somente o juiz possa ouvi-lo, no se pode perder de vista que antes de ser aplicada qualquer sano disciplinar pela prtica de falta grave deve ser instaurado o devido procedimento administrativo pelo diretor do presdio. Somente aps todo esse procedimento que o diretor do estabelecimento prisional representar ao juiz da execuo para que aplique

    as sanes disciplinares de sua competncia, dentre elas, quando for o caso, a regresso de regime, ocasio em que o apenado dever ser previamente ouvido, por meio de sua defesa tcnica. Dessarte, verifica-se que a defesa do sentenciado no procedimento administrativo disciplinar revela-se muito mais abrangente em relao sua oitiva prevista no art. 118, 2, da LEP, tendo em vista que esta tem por finalidade to somente a questo acerca da regresso de regime, a ser determinada ou no pelo juiz da execuo. Nota-se que os procedimentos no se confundem. Ora, se de um lado, o PAD visa apurar a ocorrncia da prpria falta grave, com observncia do contraditrio e da ampla defesa, bem como a aplicao de diversas sanes disciplinares pela autoridade administrativa; de outro, a oitiva do apenado tem como nico objetivo a aplicao da sano concernente regresso de regime, exigindo-se, por bvio, que j tenha sido reconhecida a falta grave pelo diretor do presdio. Conquanto a execuo penal seja uma atividade complexa, pois desenvolve-se nos planos jurisdicional e administrativo, da leitura dos dispositivos da LEP, notadamente do seu art. 66, que dispe sobre a

    competncia do juiz da execuo, conclui-se que no h nenhum dispositivo autorizando o

    magistrado instaurar diretamente procedimento judicial para apurao de

    falta grave. Assim, embora o juiz da Vara de Execues Penais possa exercer, quando provocado, o controle de legalidade dos atos administrativos realizados pelo diretor do estabelecimento prisional, bem como possua competncia para determinadas questes no mbito da

    execuo penal, no lhe permitido adentrar em matria de atribuio

    exclusiva da autoridade administrativa, no que concerne instaurao do

    procedimento para fins de apurao do cometimento de falta disciplinar pelo preso, sob

    pena de afronta ao princpio da legalidade (REsp

    1.378.557-RS / i-532). 03. Direito penal. Prescrio da pretenso executria: A possibilidade de ocorrncia da prescrio da pretenso executria surge somente com o trnsito em julgado da condenao para ambas as partes. Isso porque o ttulo penal executrio surge a partir da sentena condenatria definitiva, isto , com o trnsito em julgado para acusao e defesa, quando tambm surgir a possibilidade de ocorrncia da prescrio executria. Antes do trnsito em julgado para ambas as partes, eventual prescrio ser da pretenso punitiva. Todavia, esse entendimento no altera o termo inicial da contagem do lapso prescricional, o qual comea da data em que a condenao transitou em julgado para a acusao, conforme dispe expressamente o art. 112, I, do CP (HC 254.080-SC / i-532).

    04. Direito processual penal. Ilegalidade no reconhecimento de falta grave: A mudana de endereo sem autorizao judicial durante o curso do livramento condicional, em descumprimento a uma das condies impostas na

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    deciso que concedeu o benefcio, no configura, por si s, falta disciplinar de natureza grave. Com efeito, essa

    conduta no est prevista no art. 50 da LEP, cujo teor estabelece, em rol taxativo, as hipteses de falta grave, a saber, as situaes em que o condenado pena privativa de liberdade: a) incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina; b) fugir; c) possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade fsica de outrem; d) provocar acidente de trabalho; e) descumprir, no regime aberto, as condies impostas; f) inobservar os deveres previstos nos incisos II e V do artigo 39 da LEP; e g) tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefnico, de rdio ou similar, que permita a comunicao com outros presos ou com o ambiente externo. Desse modo, no possvel o reconhecimento da falta grave com fundamento na simples mudana de endereo durante o curso do livramento condicional, sem que evidenciada situao de fuga, sob pena de ofensa ao princpio da legalidade (HC 203.015-SP / i-532).

    TRIBUTRIO 01. Direito tributrio. Formao da certido de dvida ativa: A ausncia de prvio processo administrativo no enseja a nulidade da Certido de Dvida Ativa (CDA) nos casos de tributos sujeitos a lanamento de ofcio. Com efeito, cabe ao contribuinte impugnar administrati