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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS RAFAELA CRISTINA PEREIRA DA SILVA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA BRASILEIRA: CAPACITAÇÃO COMPETITIVA E A RELEVÂNCIA DA ATUAÇÃO DO GOVERNO VIA POLÍTICAS INDUSTRIAIS. VARGINHA/MG 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

RAFAELA CRISTINA PEREIRA DA SILVA

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA BRASILEIRA: CAPACITAÇÃO COMPETITIVA E A RELEVÂNCIA DA ATUAÇÃO DO GOVERNO VIA

POLÍTICAS INDUSTRIAIS.

VARGINHA/MG

2014

RAFAELA CRISTINA PEREIRA DA SILVA

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA BRASILEIRA: CAPACITAÇÃO COMPETITIVA E A RELEVÂNCIA DA ATUAÇÃO DO GOVERNO VIA

POLÍTICAS INDUSTRIAIS.

Trabalho de Conclusão Curso, apresentado ao Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria.

Orientador: Prof. Dr. Thiago Caliari Silva.

VARGINHA/MG

2014

RAFAELA CRISTINA PEREIRA DA SILVA

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA BRASILEIRA: CAPACITAÇÃO COMPETITIVA E A RELEVÂNCIA DA ATUAÇÃO DO GOVERNO VIA

POLÍTICAS INDUSTRIAIS.

A Banca examinadora abaixo-assinada aprova a monografia apresentada como parte dos requisitos à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria pela Universidade Federal de Alfenas.

Aprovada em: Varginha, de de 2014.

____________________________ Prof. Dr. Thiago Caliari Silva (Orientador)

Instituição: Universidade Federal de Alfenas

____________________________ Prof. Dr. Michel Deliberali Marson

Instituição: Universidade Federal de Alfenas

____________________________ Prof. Dr. Thiago Fontelas Rosado Gambi

Instituição: Universidade Federal de Alfenas

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, apoio maior que me fez superar as dificuldades, por

ter me dado a capacidade para realizar este trabalho, pela determinação, força e fé ao longo

desses anos, o que me possibilitou chegar até aqui e buscar meus objetivos.

Agradeço meus pais pelo amor e apoio incondicional cotidianamente, mesmo a

distância, pela educação e princípios ensinados. Obrigada por terem proporcionado minha

formação. Eu amo muito vocês. Esta conquista e todas as outras que Deus permitir serão por

vocês. Do mesmo modo, agradeço aos meus irmãos Ricardo e Rayssa e a minha família, por

ser minha base.

Agradeço ao Bruno, por sempre acreditar no meu potencial, com seu incentivo,

cuidado, ajuda e paciência em todos os momentos. A caminhada até aqui teria sido muito

mais difícil sem você para me apoiar e me ouvir.

Agradeço a amigos distantes, mas presentes, e àqueles de convivência diária pelo

companheirismo nesta etapa, especialmente Tais e Camila, pela torcida, pela parceria nos dias

e noites de estudo, pelas conversas e por contribuírem para o meu crescimento pessoal. Ao

Alan, por alegrar meus dias, mesmo os mais difíceis.

Agradeço ao meu professor e orientador Thiago Caliari pela disponibilidade,

ensinamentos e ajuda que foram essenciais para a concretização deste trabalho. Sua

inteligência e dedicação ao conhecimento são inspiradoras.

Agradeço aos professores pelo aprendizado.

Por fim, agradeço a UNIFAL, pela oportunidade.

RESUMO

O objetivo desse trabalho é estudar o processo de desenvolvimento da indústria farmacêutica

brasileira e as implicações das políticas públicas, especialmente as políticas industriais, na

conformação desse setor no país. Para isso, o trabalho se organiza de forma a considerar

primeiramente o histórico e a evolução da indústria farmacêutica nacional até o ano de 1990.

A partir desse período são analisadas, de maneira mais profunda, as políticas praticadas nessa

década, com destaque para a política de medicamentos genéricos, responsável por transformar

a estrutura produtiva dessa indústria no país. Após isso, são analisadas as principais políticas

industriais implantadas após o ano de 2000 até o período recente, procurando avaliar seus

resultados em relação à consolidação produtiva e às capacitações tecnológica e competitiva.

Os resultados apontam uma nova conformação da estrutura industrial nacional, com aumento

de relevância das empresas nacionais e novas possibilidades de desenvolvimento dessas

empresas pautadas no desenvolvimento de produtos biotecnológicos. Ademais, uma conexão

maior entre a indústria e demais agentes importantes para o seu desenvolvimento parece estar

sendo gerada com as políticas industriais ativas praticadas pelo governo federal.

Palavras – chave: indústria farmacêutica, desenvolvimento, política industrial.

ABSTRACT

The goal of this study is to investigate the process of the Brazilian pharmaceutical industry’s

development and the implications of the public politics, particularly the industrial policy

towards resignation in this sector in Brazil. In order to find out more about this subject, this

study starts by considerations on the history and the evolution of the national pharmaceutical

industry till 1990. From this period on, the implemented policy in this decade towards generic

drugs, which are responsible for a transformation of the national industry’s productive

structure, are analyzed in a more detailed way. Thereafter the implemented major industrial

policies from 2000 on, which tried to evaluate the results of production conciliation and the

technological and competitive capabilities, will be analyzed. The results point to a new

conformation of the national industrial structure with increasing relevance of domestic

enterprises and new possibilities for these guided companies of developing biotechnological

products. Moreover, there seems to be a connection between a bigger industry with other

important agents for the development and the policy implemented by the federal government.

Keywords: pharmaceutical industry, development, industrial policy.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8

1. A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NO BRASIL ............................................................. 9

1.1. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO ............................................................................................. 9

1.2. MUDANÇAS INSTITUCIONAIS A PARTIR DA DÉCADA DE 90 ............................. 13

1.2.1. ABERTURA COMERCIAL E FINANCEIRA ............................................................. 13

1.2.2. LIBERALIZAÇÃO DOS PREÇOS ............................................................................... 15

1.2.3. LANÇAMENTO DO PLANO REAL E A ESTABILIZAÇÃO MACROECONÔMICA .................................................................................................................................................. 17

1.2.4. PROPRIEDADE INTELECTUAL E A LEI DE PATENTES ...................................... 18

1.2.5. MEDICAMENTOS GENÉRICOS ................................................................................ 22

1.2.5.1. Características Gerais .................................................................................................. 22

1.2.5.2. O Mercado dos Medicamentos Genéricos no Brasil ................................................... 26

1.2.6. REGULAÇÃO E CRIAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA ............................................................................................................................. 31

1.2.6.1. Aspectos gerais ............................................................................................................ 31

1.2.6.2. Regulação no Setor Farmacêutico ............................................................................... 33

1.2.6.3. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) ................................................ 35

2. POLÍTICAS INDUSTRIAIS PÓS – 2003 ........................................................................ 37

2.1. POLÍTICA INDUSTRIAL, TECNOLÓGICA E DE COMÉRCIO EXTERIOR (PITCE)38

2.2. A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO (PDP) ................................... 39

2.3. O PLANO BRASIL MAIOR (PBM) ................................................................................ 40

2.4. PRINCIPAIS AÇÕES DAS POLÍTICAS INDUSTRIAIS PÓS-2003 ............................. 41

2.4.1. Profarma ......................................................................................................................... 42

2.4.2. Lei da Inovação e Lei do Bem ........................................................................................ 43

2.4.3. Financiamentos para Inovação e P&D ........................................................................... 45

2.4.4. O Uso do Poder de Compra do Estado ........................................................................... 45

2.4.5. Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde (GECIS) ....................................... 46

2.4.6. Parceria Público-Privada (PPP) e Parceria do Desenvolvimento Produtivo (PDP) ....... 46

2.4.7. Revisão da Resolução nº 2 da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) .................................................................................................................................... 47

2.4.8. Alteração da Lei de Licitações nº 8666 .......................................................................... 48

2.4.9. Revisão do Marco de Acesso à Biodiversidade.............................................................. 48

2.4.10. Ciência sem Fronteiras ................................................................................................. 49

3. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA ................................................................................................................. 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 53

8

INTRODUÇÃO

Uma característica particular da indústria farmacêutica compreende sua influência

tanto no âmbito econômico quanto na esfera social. Ao mesmo tempo em que uma política

industrial pode alterar a dinâmica competitiva do mercado, é capaz de proporcionar qualidade

de vida para a população por meio do acesso a medicamentos. Assim, a indústria farmacêutica

se mostra apropriada a atrair de forma intensa a atenção do governo através de políticas

públicas (PALMEIRA FILHO et al., 2012).

No âmbito social, existe a relevância do tratamento de doenças e aumento da

expectativa e qualidade de vida da população por meio da ampliação do acesso a produtos de

saúde (PALMEIRA FILHO et al., 2012; PRADO, 2011). Na esfera econômica a importância

setorial se traduz na perspectiva de ascensão do mercado farmacêutico nacional frente ao

mercado mundial, como uma estratégia de desenvolvimento econômico com um viés em

indústrias com alto poder inovativo.

No Brasil, a indústria farmacêutica tem se mostrado foco das ações de política

industrial nos últimos anos. Essas iniciativas do governo são principalmente de cunho

evolucionário, por ser considerado um setor science based, de acordo com a taxonomia de

Pavitt (1984), ou seja, um setor que possui um claro relacionamento entre ciência e tecnologia

(MAGALHÃES, 2006).

Diante da relevância do tema proposto, o presente trabalho realiza um estudo da

evolução da indústria farmacêutica nacional desde o começo do século XX. O objetivo é

analisar o ambiente estrutural no qual se conformou o padrão concorrencial que se encontram

as empresas da indústria farmacêutica brasileira no período atual. Assim, pretende-se

verificar, principalmente, a influência das políticas industriais no setor industrial farmacêutico

nacional. A hipótese que orienta este estudo é de que tais políticas de fomento da indústria

farmacêutica contribuíram ativamente para o entendimento da capacidade produtiva e

tecnológica das empresas nacionais no período atual.

Além desta introdução, o trabalho está organizado em 3 capítulos. O capítulo 1

apresenta o histórico e a evolução da indústria farmacêutica no Brasil. O capítulo 2 tem como

objetivo apresentar as mudanças institucionais a partir da década de 1990. No capítulo 3 são

analisadas as principais políticas industriais a partir do ano de 2003 e seus impactos na

configuração da indústria farmacêutica nacional de forma recente.

9

Por fim, a discussão e as considerações finais apresentam os resultados, as

contribuições e as limitações das políticas industriais na conformação da indústria

farmacêutica brasileira, bem como as perspectivas para o setor que, aparecem inseridas em

um cenário otimista com vistas à capacitação tecnológica e biotecnológica.

1. A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NO BRASIL

1.1. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO

O início das operações das empresas atuantes na indústria farmacêutica no Brasil

seguiu a evolução das empresas internacionais, tendo sua origem ligada ao surgimento das

boticas, que basicamente elaboravam medicamentos para contribuir no tratamento de

enfermidades das unidades familiares. O profissional, conhecido como boticário, responsável

pela elaboração dos medicamentos, realizava a atividade na presença do paciente de acordo

com a farmacopeia e a receita médica. Com o tempo, esse cenário evoluiu para o surgimento

de novos tipos de estabelecimentos, justamente as farmácias e os Laboratórios Industriais

Farmacêuticos (SINDUSFARMA, 2014; FERST, 2013; CRFSP, 2014).

À época da proclamação da República, em meados de 1889, já havia 35 laboratórios

farmacêuticos no Brasil. Alguns de relevante valor nacional, como os Institutos Manguinhos,

o Butantan e o Pasteur, que produziam medicamentos de origem vegetal, mineral e animal;

tais laboratórios se constituíam como instituições públicas de pesquisa, financiados, pelo

investimento estatal (RIBEIRO, 2001). A evolução das atividades farmacêuticas que se segue

a partir daí até a Primeira Guerra Mundial, em 1914, é caracterizada pelo início da importação

de medicamentos e pelo surgimento de alguns produtos farmacêuticos nacionais, fabricados

nas incipientes indústrias localizadas no mesmo espaço das boticas (SINDUSFARMA, 2014).

Em 1915 é fundado o Laboratório Fontoura, com capital nacional, responsável pela

criação do “Biotônico”, que se constituiria, em curto período de tempo, o produto

farmacêutico brasileiro mais popular da época, e daria início a uma produção em ampla escala

para o período (SINDUSFARMA, 2014).

Foi ainda nesse período, durante a Primeira Guerra Mundial, que a indústria de

transformação farmacêutica, a indústria farmoquímica, vivenciou um crescimento importante

que deu suporte à evolução da indústria farmacêutica nacional, embora possuísse uma forte

dependência externa de importação de insumos (LEMOS, 2008). Porém, devido à dificuldade

dessas importações durante a Guerra, é que foi proporcionado esse avanço na indústria

10

farmoquímica local, com a demanda interna por princípios ativos garantida, de modo que, já

em 1920 podiam ser encontradas 186 empresas nesse setor (CRFSP, 2014).

A década de 1930 é considerada o marco inicial da indústria farmacêutica no Brasil,

compreendendo a constituição das primeiras firmas do setor com propriedades industriais e a

implantação de instituições de pesquisa e produção de medicamentos para combater os

problemas de saúde pública. Até esse momento, as companhias farmacêuticas manipulavam,

sobretudo, substâncias derivadas de organismos vivos, mas, com o surgimento dos produtos

químicos, seria proporcionada a atividade produtiva em nível industrial (PALMEIRA FILHO;

PAN, 2003; BERTERO, 1972 apud LEMOS, 2008; BERMUDEZ, 1994).

Mesmo assim, de um modo geral, até 1939 a indústria farmacêutica nacional pode ser

considerada irrelevante, a se comparar com as indústrias em outras nações desenvolvidas

(SINDUSFARMA, 2014). Foi nas décadas de 1940 e 1950 que houve as políticas promotoras

da instauração das primeiras firmas multinacionais no país e, a chamada internacionalização

da indústria (PALMEIRA FILHO; PAN, 2003). Segundo Lobo (2013), o processo de

desenvolvimento da indústria farmacêutica se deu associado ao crescimento industrial total do

país e às políticas públicas dedicadas a impulsionar esse crescimento, de forma que, entre

1939 e 1952, a indústria química e farmacêutica cresceu 10,5%. Com a conjuntura

internacional afetada pela Segunda Guerra Mundial e o consequente período conturbado em

todo o mundo, o Brasil se encontrava diante da necessidade de desenvolver a indústria

nacional para atender a demanda interna de insumos que normalmente eram importados

(LEMOS, 2008). Durante esse processo de substituição de importações, houve a implantação

no país de várias empresas transnacionais, e o consequente crescimento da indústria

explicitado anteriormente pode ser visto como um efeito desse período de entrada de

multinacionais no mercado nacional, fato comum do período pós-guerra e que ocorreu em

consonância com o crescimento desse tipo de indústria em todo o mundo (LOBO, 2013).

Entretanto, o crescimento do parque industrial não foi seguido por um processo de

transferência de tecnologia; estas continuavam a serem desenvolvidas nas matrizes externas

dessas firmas multinacionais, em uma estratégia denominada P&D in house (BERTERO,

1972; BERMUDEZ, 1995 e GIOVANNI, 1980 apud LEMOS, 2008). Nesse cenário, as

antigas boticas dão lugar à produção industrial e aos produtos químico-sintéticos, deixando,

gradualmente, de ser somente o local de fabricação de medicamentos (LOBO, 2013).

Segundo Lemos (2008), após a Segunda Guerra Mundial, a entrada de medicamentos

conceituados como avançados foi amplamente acolhida no país, contribuindo de forma

11

relevante para a construção do conceito positivo da indústria farmacêutica e sua aceitação no

mercado nacional.

Os anos 1950 foram marcados pelo agravamento da dependência externa de insumos

para elaboração de novos medicamentos. E, concomitante a isso, a abertura da economia

propiciada pelo governo de Juscelino Kubitschek, a partir de 1956, agrava o atraso no

desenvolvimento da indústria farmacêutica nacional. As firmas farmacêuticas locais, que

haviam se constituído, em sua maioria, antes da década de 50, tiveram que competir

diretamente com empresas internacionais. Essa concorrência se dava com as multinacionais

que já haviam se estabelecido no país, além daquelas que se instalaram nesse período de

incentivos oferecidos pelo governo brasileiro. Nesse cenário concorrencial, houve a fusão de

algumas empresas locais com estrangeiras e outras tiveram que ser vendidas (LEMOS, 2008).

A indústria farmacêutica nacional passava por uma intensa desnacionalização, causada

pelas políticas facilitadoras1 da instalação de indústrias estrangeiras no Brasil e, pelo sistema

de importação, que ao permitir a entrada de insumos e produtos farmacêuticos no país por

meio de uma reduzida taxa de câmbio, fez com que a indústria farmacêutica nacional retraísse

seu desenvolvimento. Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

(BNDE), principal órgão de estímulo à indústria no Brasil, não considerava a indústria

farmacêutica uma prioridade de política industrial para aportes financeiros (BERMUDEZ,

1995; GIOVANNI, 1980, FRENKEL et al, 1978 apud LEMOS, 2008).

Nos anos 1960, as firmas estrangeiras passaram a liderar o mercado nacional em razão

de suas competências na oferta medicamentos complexos e sofisticados, fatores que a

indústria brasileira tinha dificuldade em seguir pela baixa inserção tecnológica presente em

seus produtos (LEMOS, 2008).

Em 1971, a promulgação do Código de Propriedade Industrial (Lei 5.772, de

21.12.1971) modificou o cenário competitivo, pois o mesmo não reconhecia o direito

patentário de produtos químicos e de tecnologias para sua obtenção (PALMEIRA FILHO;

PAN, 2003). A partir daí, segundo Lemos (2008),

1As políticas facilitadoras consistiam nas garantias oferecidas ao capital estrangeiro que quisesse investir no Brasil, com o objetivo de desenvolver a indústria nacional, por meio das políticas no setor de infraestrutura, realizadas no governo JK. Entre elas, destacam-se as Instruções 70 (1953/61) e 113 (1955/61), da Sumoc (Superintendência da Moeda e do Crédito). A primeira instituía um regime de taxas múltiplas de câmbio, sendo a taxa para importação inferior à de exportação. A segunda autorizava empresas a importarem equipamentos estrangeiros sem cobertura cambial. Desse modo, as empresas estrangeiras ficaram em situação vantajosa para transferir equipamentos de suas matrizes no exterior e incorporá-los a seu capital no Brasil (LEMOS, 2008, p. 62).

12

Os fabricantes brasileiros começaram então a investir em P&D, mas somente por meio de engenharia reversa, ou seja, através da decodificação de produtos originais, passaram a ser capazes de copiar alguns medicamentos e lançá-los no mercado com preços mais competitivos (LEMOS, 2008, p. 70).

Ao mesmo tempo, contudo, a estratégia das empresas multinacionais se modificou,

ampliando a aquisição de empresas nacionais a fim de diminuir a concorrência potencial

(LEMOS, 2008).

Ainda na década de 1970, foram criadas a Central de Medicamentos (CEME), em

1971, e a Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), em 1976, uma empresa

privada, mas incorporada na agenda de ações do governo (BERMUDEZ, 1994). A CEME

abarcava, em seu início, propostas de investimento em pesquisa e desenvolvimento de forma

integrada com a política de medicamentos do país e, no entanto, se limitou à aquisição

centralizada de medicamentos devido às limitações financeiras e esquemas de corrupção

denunciados no Governo Federal. O funcionamento da Codetec, da mesma forma, não

ocorreu de modo adequado. Essa empresa, que tinha como prioridade o desenvolvimento de

processos no campo de síntese química de fármacos, passou por dificuldades de repasse

financeiro por parte do Estado e encontrou rejeição em alguns setores governamentais, uma

vez que a aquisição de medicamentos pelo governo constituía uma tradicional forma de

corrupção (BERMUDEZ, 1994).

Segundo Lobo (2013), essas duas décadas, 1960 e 1970, não abrangem nenhuma

transformação estrutural da indústria farmacêutica brasileira no mercado internacional,

afirmando sua posição, estabelecida desde a década de 1930.

Já nos anos 1980, a política desenvolvimentista preconizada pelo processo de

substituição de importações, praticada desde os anos 1930, começa a dar lugar a outras

estratégias e necessidades macroeconômicas, em especial a inflação, o controle das contas

públicas e do balanço de pagamentos. Assim, as diversas medidas de controle de preços

praticadas a partir de 1986 incidiram diretamente sobre o preço dos medicamentos (LOBO,

2013).

Porém, em contrapartida à redução de lucratividade das empresas frente às políticas de

controle de preços, em 1984 é lançada a Portaria Interministerial nº 4, de 3 de outubro de

1984, dos Ministérios da Saúde (MS) e Ministério da Indústria e Comércio (MIC), que foi

responsável por definir instrumentos de estímulo e assistência à atividade produtiva nacional

de fármacos, de forma a estabelecer normas de concessão de licenças para a fabricação de

compostos utilizados na produção de medicamentos, além de proibir a importação de

13

fármacos que fossem produzidos internamente (LOBO, 2013; LEMOS, 2008; PALMEIRA

FILHO; PAN, 2003).

Entretanto, os objetivos traçados com o lançamento dessa legislação não foram

alcançados, uma vez que, a abertura comercial nos anos 1990 permitiu a ampliação das

importações de fármacos, ocasionando a suspensão de diversos planos de produção desses

fármacos no país (PALMEIRA FILHO; PAN, 2003).

Além disso, a persistência desse esforço de política industrial foi minada pelo lobby

ativo das empresas transnacionais e, de acordo com Lobo (2013), a força conjunta dessas duas

ações – políticas liberais e lobby – efetivam a conformação estrutural da indústria a favor das

empresas transnacionais que se vislumbra no início da década de 90.

1.2. MUDANÇAS INSTITUCIONAIS A PARTIR DA DÉCADA DE 90

A conformação estrutural da indústria farmacêutica nacional, mais uma vez, passa por

mudanças ao longo da década de 1990. Essas transformações vieram a alterar drasticamente o

ambiente competitivo da indústria farmacêutica brasileira (FURTADO; URIAS, 2009).

Nesse período, as alterações ocorridas na estrutura da indústria farmacêutica foram

fortemente influenciadas pelas políticas industriais horizontais, que não consideravam as

características específicas do setor na elaboração de propostas e nas ações efetivas, de forma a

causar um grande impacto na indústria farmacêutico nacional (RUIZ et al., 2011).

Conforme Gadelha (2003), o Brasil seguiu, de forma tardia, a orientação dos países

desenvolvidos, embora em condições históricas e estruturais particulares. De acordo com

Furtado e Urias (2009), cabe destacar a abertura comercial e financeira (1988-1993); a

liberalização dos preços (1991- 1992); o lançamento do Plano Real (1993); a promulgação da

Lei de Propriedade Industrial Brasileira (1996); o surgimento da classe de medicamentos

genéricos (1999); a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (1999); e

a retomada da adoção de controle direto sobre os preços da indústria através da Câmara de

Medicamentos (CAMED) (2000).

1.2.1. ABERTURA COMERCIAL E FINANCEIRA

O período que precede à década de 1990 foi marcado pela industrialização do país

baseada no processo de substituição de importações, que possibilitou a expansão e a

diversificação dos produtos industriais. Já a década de 1990 se caracterizou pelo rompimento

14

com esse modelo adotado anteriormente e, pela adoção de uma política liberal que fosse capaz

de reduzir a intervenção do Estado na economia, além de promover a competitividade externa

(CASTILHO, 2011).

Tendo como base as assimetrias estabelecidas pelo processo de substituição de

importações no que se refere à produtividade industrial, o presidente Fernando Collor, ao

assumir o governo do país no início dos anos 1990, foi responsável por uma profunda

mudança na economia nacional. Partia-se do pressuposto de que o país deveria se equiparar

aos países desenvolvidos de forma a adequar seus princípios e ações político-econômicas,

com o objetivo de obter destaque frente à esfera internacional. Dessa forma, a proposta de

abertura comercial e financeira e de renovação do parque industrial se fundamentava na

incorporação das características dos países desenvolvidos (MONTEIRO, 2007).

Esse cenário estabeleceu-se pelo “acirramento da instabilidade macroeconômica e, no

plano institucional, pela adoção de políticas de liberalização comercial e dos fluxos de

capitais” (CASTILHO, 2011, p. 4). A liberalização comercial foi um movimento que incluía

fundamentalmente a redução das tarifas alfandegárias de forma gradual e a redução ou

remoção das barreiras não tarifárias (TRAJANO DA SILVA, 2003).

De acordo com Trajano da Silva (2003), no que se refere à redução das tarifas de

importação da indústria farmacêutica, estas foram reduzidas de forma gradual de 60%, em

1990, chegando a 14% em 1995.

Essa mudança provocou grandes prejuízos aos produtores locais de fármacos, pois reduziu internamente o preço dos fármacos importados, originários de países com maior capacitação tecnológica que a nacional e, portanto, em posição vantajosa quanto à concorrência interna. Mesmo assim, o padrão do comércio internacional de fármacos e medicamentos não sofreu alteração significativa, permanecendo o comércio matriz-filial apoiado nos preços de transferência (TRAJANO DA SILVA, 2003, p. 15).

Já no plano das barreiras não tarifárias, os danos causados aos produtores nacionais

foram ainda mais intensos. A exclusão do Anexo C da Câmara de Comércio Exterior

(CACEX) do Banco do Brasil, que abrangia alguns produtos favorecidos, culminou no

término da reserva de mercado assegurada pelo governo à indústria farmoquímica nacional.

As empresas multinacionais passaram a importar fármacos diretamente de suas sedes como

forma de contenção de gastos, deixando de consumir das firmas locais (TRAJANO DA

SILVA, 2003).

15

No nível microeconômico, essas transformações ocasionadas pela liberalização

econômica determinaram novos modelos setoriais de produção e de introdução no mercado

internacional. As firmas locais reduziram o grau de internalização da produção, uma vez que a

concorrência passou a determinar maior articulação com o comércio exterior. Além disso, as

medidas implementadas como estímulo à competitividade, foram responsáveis por ampliar a

importação de bens de capital e matéria - prima, em detrimento da atividade produtiva local

(MOTA; CASSIOLATO; GADELHA, 2012).

Ao mesmo tempo, com relação ao contexto macroeconômico, a abertura comercial

teve um impacto negativo para a indústria farmacêutica nacional, de forma que o cenário

competitivo local foi prejudicado principalmente nas áreas de maior demanda tecnológica.

Nesse sentido, o mercado brasileiro não oferecia incentivos à produção nacional, o que

determinou um grande aumento das importações e, por conseguinte, o agravamento da

posição externa da indústria (GADELHA, 2002).

Segundo Oliveira (2005), a liberalização da economia efetivada pelo governo federal

ao longo dos anos 1990 não considerou um prazo de adequação das firmas nacionais ao novo

contexto comercial e, com isso, 1.096 unidades de produção na área da química fina foram

fechadas, além de 355 projetos cancelados. De forma mais específica, no setor de

farmoquímicos, 407 unidades foram paralisadas, e 110 unidades não implementadas.

De maneira evidente, essas medidas impostas pelo processo de abertura comercial

comprometeram diretamente o setor industrial farmacêutico, uma vez que o governo deixou

de estimular a produção nacional. O resultado foi a estagnação da produção nacional de

medicamentos, ao mesmo tempo em que as importações aumentavam de forma acelerada,

tanto no segmento de insumos, quanto na área de medicamentos prontos (HASENCLEVER,

2002; TRAJANO DA SILVA, 2003).

1.2.2. LIBERALIZAÇÃO DOS PREÇOS

Além da abertura comercial e financeira, a indústria farmacêutica nacional enfrentou

um processo de liberalização dos preços caracterizado, principalmente, pelo fim dos

mecanismos de regulação do por parte do Estado. Os preços eram controlados diretamente

pelo Estado ao longo as décadas de 1970 e 1980. Após esse período, houve um processo de

liberalização dos preços, verificado entre os anos 1991 e 1992 (ISSE, 2011).

Segundo Capanema e Palmeira Filho (2004),

16

até setembro de 1990, a indústria farmacêutica apresentou perdas reais de preços, quadro que se inverteu com o fim do controle de preços decorrente do Plano Collor I (agosto de 1990). Assim, o setor passou por um período de recomposição de preços que se encerrou com o congelamento do Plano Collor II, iniciado em fevereiro de 1991. Em seguida, ocorreu um novo período de perda real de preços, encerrado em outubro do mesmo ano, com o início da liberação de preços prevista no mesmo plano econômico. A partir de então, teve início um longo período de elevação real de preços, reforçada pela liberação de todas as câmaras técnicas em maio de 1992 e que se encerrou com a criação da URV em abril de 1994 (CAPANEMA; PALMEIRA FILHO, 2004, p. 6).

De forma específica para a indústria farmacêutica, em meados de 1990, foi

estabelecida uma medida que determinava o controle de preços somente para os

medicamentos de uso contínuo. Essa situação conservou-se até fevereiro de 1991, quando

ocorreu um congelamento geral de preços, que depois de finalizado deu início ao movimento

de liberalização dos preços. No fim de 1991 optou-se pela liberalização gradual, por classes

terapêuticas (TRAJANO DA SILVA, 2003).

Ainda segundo Trajano da Silva (2003), as etapas de liberalização de preços dos

medicamentos iniciaram-se em outubro de 1991 com as classes de venda livre, para,

posteriormente, liberar os preços das classes de produtos que se encontravam em maior

número e onde existisse maior número de firmas fabricantes. Esse processo seguiu-se até o

início do ano seguinte, período em que ocorreu a liberalização dos preços das classes

terapêuticas de medicamentos de uso contínuo.

Os preços dos medicamentos seguiram livres até 1994, sendo estabelecida uma

regulação que determinava reajustes periódicos, seguido até 1996. Após esse período, os

medicamentos mais uma vez passaram pela liberalização dos preços, até o final de 1998

(TRAJANO DA SILVA, 2003).

Nessa conjuntura, com os preços da maioria dos medicamentos liberados, o resultado

observado foi uma melhoria na rentabilidade das firmas farmacêuticas, que por sua vez, pode

ser confirmada pelo fato de que o número de unidades vendidas não sofreu alteração

importante em relação ao período anterior à liberalização dos preços (RUIZ et al., 2011).

Pode-se concluir que, por meio dessa política, o preço médio dos medicamentos se

elevou de forma substancial, porém, com aumento da oferta externa em detrimento da

produção local. Desse modo, a liberalização acabou por gerar um efeito contrário ao que era

esperado em tal caso, ou seja, de que seria gerada uma concorrência setorial capaz de regular

17

os preços, aumentar a qualidade e ampliar a oferta doméstica (RUIZ et al., 2011; FRENKEL,

2002).

1.2.3. LANÇAMENTO DO PLANO REAL E A ESTABILIZAÇÃO MACROECONÔMICA

O estabelecimento do Plano Real no Brasil conduziu a economia brasileira a

importantes transformações macroeconômicas. O pacote de políticas para estabilização

compreendia a abertura comercial, explicitada anteriormente e, a sobrevalorização da moeda

nacional. Essas medidas, aliadas à melhoria na distribuição de renda e ao aumento do

consumo da população, permitidos pela estabilização econômica, levaram a uma ampliação

intensa das importações, frente ao baixo crescimento das exportações decorrente da redução

da oferta de produtos. O resultado disso foi um período assinalado por contínuos déficits na

balança comercial a partir de 1994 (CASTILHO, 2011).

No que se refere de forma específica à indústria farmacêutica, esse quadro comercial

deficitário foi, em parte, devido ao intenso aumento das importações de fármacos e

medicamentos, incentivadas, sobretudo, pela longa permanência da valorização cambial,

promovida, justamente, pelo Plano Real (TRAJANO DA SILVA, 2003).

Segundo Oliveira (2005), esse longo período de apreciação cambial levou ao

sucateamento da indústria existente, principalmente daquela resultante das políticas para a

química fina dos anos 1980, período que contava com um grande programa de incentivo à

industrialização nessa área.

Por outro lado, a estabilização dos preços, permitida pelo Plano Real, favoreceu a

recuperação da rentabilidade das empresas farmacêuticas, ao mesmo tempo em que se

verificava a ampliação lucratividade das mesmas por meio do aumento de preços,

possibilitado, primeiramente, pela política de liberalização de preços (TRAJANO DA SILVA,

2003).

Outra questão favorável possibilitada pela estabilização, segundo o autor Trajano da

Silva (2003), foi o crescimento do mercado farmacêutico ocasionado por um efeito renda, que

se explica pela alta elasticidade da demanda de medicamentos em relação à renda,

especialmente nas classes de baixo poder aquisitivo e aposentados, em que, na maioria das

vezes, ocorre o uso irregular e descontínuo2 desses produtos.

2 O uso descontínuo de medicamentos pode ser denominado de “Ciclo do uso intermitente”, que ocorre quando

um indivíduo usa um medicamento e, se melhora, para de usar. Se piorar o seu estado de saúde, usa o medicamento de novo. Assim, melhora e para de usar novamente. E assim sucessivamente (FRENKEL, 2001).

18

Por fim, é possível depreender que a estabilização apresentou grande importância ao

apresentar a possibilidade de planejamento no longo prazo, que acabou por promover a

recuperação dos investimentos da indústria farmacêutica, ao mesmo tempo em que se

estabelecia a expectativa de uma nova lei de patentes, que ocorreria poucos anos depois

(TRAJANO DA SILVA, 2003).

1.2.4. PROPRIEDADE INTELECTUAL E A LEI DE PATENTES

O conceito de propriedade intelectual pode ser estabelecido como “as ideias e

expressões criativas da mente humana que possuem valor comercial e recebem proteção legal

de um direito sobre a propriedade” (MATIAS-PEREIRA, 2003, p. 4). Um dos segmentos

desse conceito compreende a propriedade industrial, que está associada ao benefício do uso

desse direito sobre a propriedade no âmbito da atividade industrial, como por exemplo, os

direitos relacionados às patentes. Estas, aliás, se constituem na principal forma de proteção do

conhecimento utilizada na indústria farmacêutica (MATIAS-PEREIRA, 2003; LEMOS,

2008).

A indústria farmacêutica necessita de mecanismos de apropriação e proteção legal

para garantir que as inovações estabelecidas intra-firma (ou dentro de um sistema de inovação

que permita a possibilidade de produção à firma) gerem lucros aos titulares de conhecimento

inédito. Desse modo, a patente, por meio de um direito provisório, constitui um mecanismo

de apropriação muito utilizado pela indústria farmacêutica, de forma a impedir a cópia não

autorizada de fármacos e medicamentos (TACHINARDI, 1993).

No mundo contemporâneo, a importância atribuída à propriedade intelectual se deve,

em grande parte, à globalização da economia e ao avanço tecnológico, que se traduziram na

grande importância do conhecimento no comércio internacional e, na criação de novas

técnicas de elaboração de produtos, respectivamente (BARRETO, 2011). Ao mesmo tempo, a

propriedade intelectual se mostra relevante em sua relação com o desenvolvimento, uma vez

que, por meio da apropriação de novos conhecimentos é possível promover a melhoria de

produtos e processos para a atividade industrial do país (MATIAS-PEREIRA, 2003).

Ao pesquisar o cenário referente à patente de processos e produtos farmacêuticos é

necessário destacar as questões e discussões importantes acerca do tema através da análise da

sua evolução (BARRETO, 2011).

Foi na Inglaterra durante a Revolução Industrial entre 1740 e 1830 que, a fim de

estimular o processo criativo, surge a ideia de instituir um contrato entre o Estado e o

19

inventor, que resultaria no atual significado de patente (INESC, 2003). Durante esse mesmo

período, as inovações passam a ser reconhecidas de forma mais intensa e, por consequência,

as patentes adquirem uma crescente importância (BRANDELLI, JAGUARIBE, 2007). É

nessa conjuntura que no século XIX, após a Revolução Industrial, passa a existir o direito de

propriedade industrial, admitindo o direito de patentes para a proteção de produtos e

invenções criados pelos industriais. Na época, a proteção patentária era conduzida pela

legislação de cada país em particular, não existindo um aparelho global que unificasse a

propriedade intelectual (CHAVES; OLIVEIRA; HASENCLEVER; MELO, 2007).

Nesse mesmo século, o comércio internacional de produtos industrializados se

encontrava em expansão, o que acarretou maior interesse de ampliação do espaço de proteção

patentária, além de perspectivas de criação de um sistema de proteção internacional. É nesse

contexto que surgem as Convenções de Paris e de Berna, geridas pelo Secretariado das

Convenções, a partir de 1880 (BRANDELLI, JAGUARIBE, 2007).

A Convenção da União de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP)

representou de maneira efetiva a ação inicial de compatibilizar as legislações de diversos

países através da criação de um sistema internacional, em 1883. Essa Convenção envolveu

dez países, além do Brasil, que manteve as áreas patenteáveis acordadas na Convenção por

mais de meio século (CHAVES; OLIVEIRA; HASENCLEVER; MELO, 2007;

TACHINARDI, 1993; GONTIJO, 2005).

A CUP pode ser vista como um Tratado de grande êxito, pois houve um grande

número de associados e sua longa duração não envolveu mudanças relevantes. Buscava-se

através dela a padronização da propriedade intelectual, de forma a abarcar o princípio do

Tratamento Nacional, em que cada país determinava sua legislação, porém, permitia o

benefício dela por outros países. Nesse sentido, para que fosse estabelecido o direito de

patente, um produto deveria constituir uma novidade; ter um aproveitamento inventivo; ter

uma aplicação industrial; e, o direito patentário teria que ser solicitado em um período de doze

meses a partir do seu descobrimento (GONTIJO, 2005; LEMOS, 2008).

Ainda nos dias atuais, não existe um sistema internacional que possibilite a obtenção

de patentes em todos os países por meio de uma única solicitação. Desse modo, as empresas

solicitam a proteção patentária de acordo com o nível de relevância dos mercados para seus

produtos. Nesse sentido, a Convenção de Paris criou outro principio básico, o da Prioridade,

que determina o prazo de um ano para o detentor do novo conhecimento requerer a patente

em outros locais, além daquele em que o direito já foi reconhecido. Esse prazo é importante

no sentido de impedir a apropriação indevida de informações contidas nos requerimentos de

20

patente e, além disso, é capaz de prevenir conflitos em situações de coincidência de invenções

(GONTIJO, 2005; LEMOS, 2008).

Por último, a CUP baseava-se também no princípio da Independência das Patentes, em

que é assegurada a autonomia dos países em relação às decisões locais sobre as patentes, ou

seja, a patente é um título válido em âmbito nacional. Todos esses princípios, estabelecidos

em comum acordo pelos países signatários da Convenção, em 1883, não foram modificados

por mais de cem anos (GONTIJO, 2005).

Mais tarde, no século XX, mais especificamente na década de 1970, foi criada a

Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), uma agência da Organização das

Nações Unidas (ONU), que tinha a responsabilidade de coordenar os acordos internacionais

referentes à propriedade intelectual (CHAVES; OLIVEIRA; HASENCLEVER; MELO,

2007).

A responsabilidade da OMPI consistia na ampliação e padronização das diferentes

legislações referente aos direitos de propriedade intelectual. Diversos reexames da CUP foram

abarcados por essa Organização, mas não houve nenhuma modificação relevante, uma vez

que os países eram independentes quanto à determinação de suas legislações sobre

propriedade intelectual. Dessa forma, mantiveram o poder de deliberar várias ações e

definições relacionadas às patentes, como a cobertura, as vantagens, as áreas, a validade, as

obrigações e os direitos do patenteado (BRANDELLI; JAGUARIBE, 2007; TACHINARDI,

1993).

Nesse sentido, a OMPI enfatizava a independência dos países pela ausência de

mecanismos compulsórios, de forma que os países aderiam apenas ao que era mais

conveniente. Na década de 1980, essa conjuntura levou alguns países, conduzidos pelos

Estados Unidos, a adotar medidas impositivas a fim de aumentar e garantir os direitos de

propriedade intelectual, de forma a fazer com que o tema fosse incluído no âmbito do GATT

(General Agreement on Tariffs and Trade), um acordo comercial transitório que era

responsável por tratar de transações multilaterais, com o objetivo de redução das barreiras

comerciais entre os países. Esse acordo daria lugar à Organização Mundial do Comércio

(OMC), fundada em 1995 (BRANDELLI; JAGUARIBE, 2007; BARRETO, 2011;

GONTIJO, 2005).

No âmbito de negociações comerciais multilaterais, destaca-se o Acordo sobre

Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio, estabelecido no

ano de 1994, conhecido como Acordo TRIPS, originalmente “Trade Related Aspects of

21

Intellectual Property Rights”, considerado uma das convenções que formam a composição

básica da OMC (BARRETO, 2011).

O Acordo TRIPS, que entrou em vigor em 1995, foi responsável por determinar

padrões de proteção à propriedade intelectual para todos os países membros da OMC, de

forma que as legislações deveriam atender aos critérios por ele estabelecidos (LEMOS, 2008).

Além disso, estabeleceu a associação entre a propriedade intelectual e o comércio

internacional, dois espaços associados pela globalização, que foram tratados de forma isolada

por longo tempo. De um modo geral, o TRIPS representou uma superação em relação aos

acordos precedentes ao alcançar, de forma efetiva, a harmonia entre as várias legislações

existentes nos diferentes países (BARBIERI; CHAMAS, 2008).

No contexto da saúde, o Acordo TRIPS foi responsável por modificar o cenário

referente à cobertura dos direitos de patente, com a ampliação dos objetos patenteáveis para

essa área, e por consequência, para o setor farmacêutico. Nesse contexto, os preços dos

medicamentos protegidos por patente mantiveram-se em nível elevado, prejudicando, assim,

grande parte da população, especialmente a parcela de menor poder aquisitivo, que tinha

acesso limitado aos produtos (BARRETO, 2011).

Diante desse problema, a OMS induziu seus países - membros ao cumprimento das

diversas flexibilizações incluídas no Acordo TRIPS, tendo em vista a segurança da proteção à

saúde pública e do acesso a medicamentos (BARRETO, 2011).

Nesse sentido, em consonância com os parâmetros da TRIPS foi sancionada no Brasil

a Lei de Propriedade Industrial, nº 9.279, de 14 de maio de 1996, também denominada Lei

das Patentes, que se constituiu com a finalidade de estabelecer novas regras para as patentes

(MATIAS-PEREIRA, 2003; SILVA, 2008).

No período precedente a esse processo, a União Geral para proteção da Propriedade

Industrial, fundada pela CUP, compreendia o setor farmacêutico na proteção às invenções e à

propriedade industrial (LOBO, 2013).

Os produtos e processos da área farmacêutica ficaram patenteáveis no Brasil até 1945, com prazos de quinze anos para patentes de medicamentos e de dez anos para processos. Porém, a partir do Decreto Lei nº. 7.903, de 28/08/45, os produtos químicos farmacêuticos de qualquer tipo passaram a não ter mais patente reconhecida. O patenteamento de processos, porém, vigorou até 1969, quando foram revogadas todas as formas de patentes existentes na área farmacêutica, através do decreto-lei nº 1.005, de 1969 (LOBO, 2013, p. 95).

22

Com relação às implicações no setor farmacêutico, portanto, a Lei de Patentes foi

responsável por reestabelecer no país o patenteamento de produtos farmacêuticos. Nesse

sentido, essa lei assegura a validade da patente de medicamentos pelo tempo limite de vinte

anos, além de estabelecer o cumprimento das condições de novidade, atividade inventiva e

aplicação industrial (SILVA, 2008).

Ainda no âmbito farmacêutico, existe um componente prejudicial à efetividade do

Acordo TRIPS, conhecido como TRIPS – Plus, acordos estabelecidos fora do domínio OMC,

que são responsáveis por ampliar a proteção da propriedade intelectual, de forma a inibir o

acesso a medicamentos nos países membros do acordo. No entanto, esses países devem

assegurar o acesso a medicamentos internamente, ainda que sejam participantes de qualquer

outra convenção (PIOVESAN; CARVALHO, 2008).

Nesse sentido, uma questão pertinente se traduz no possível equilíbrio entre o acesso a

medicamentos e o incentivo à inovação por meio do direito de patentes. Do ponto de vista da

saúde pública, se torna essencial a capacitação de recursos humanos a fim de estabelecer

acordos e negociações que não restrinjam esse acesso e, ao mesmo tempo possibilite o

desenvolvimento inovativo do setor no país (CHAVES; OLIVEIRA; HASENCLEVER;

MELO, 2007).

É nesse contexto que se torna importante analisar a acessibilidade aos produtos

farmacêuticos, especialmente no mercado das cópias das inovações, ou seja, no mercado de

medicamentos genéricos (CALDEIRA, 2010).

1.2.5. MEDICAMENTOS GENÉRICOS

1.2.5.1. Características Gerais

As questões acerca dos medicamentos genéricos começaram a ser discutidas na década

de 1970. Contudo, o primeiro passo legal rumo à Política de Medicamentos Genéricos foi a

promulgação do Decreto nº 793/1993, inserido no âmbito do Programa de Assistência

Farmacêutica, elaborado pelo Ministério da Saúde (AZARA et al., 2012).

Essa normatização foi responsável por evidenciar a denominação genérica dos

medicamentos e também a prescrição por essa denominação, apesar das várias dificuldades

enfrentadas para sua efetivação, com destaque para as diversas ações na Justiça, as

intimidações por parte de figuras diplomáticas, a vulnerabilidade do sistema nacional de

23

vigilância sanitária no país e a falta de ações do governo para a promoção desse tipo de

medicamento (BERMUDEZ, 1994).

Subsequente a esses fatos, cabe destacar que a via de entrada e o fortalecimento dos

medicamentos genéricos no Brasil ocorreu com a implementação da Política Nacional de

Medicamentos do Ministério da Saúde em 1998, que está inserida na responsabilidade do

Estado em formular e executar políticas que visem, entre outros, estabelecer condições de

proteção ao acesso a serviços de saúde (BRASIL, 2014; CALDEIRA, 2010).

O uso dos medicamentos genéricos é tratado como uma prioridade dessa política, e,

além disso, faz parte de uma política coordenada entre o Ministério da Saúde e os outros

ministérios, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e as indústrias

farmacêuticas nacionais, sendo, ao mesmo tempo, um instrumento promotor da saúde e um

incentivo à produção nacional de medicamentos (AZARA et al., 2012).

Essa política segue a conduta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que incentiva

e acompanha a concepção de políticas que assegurem a disponibilidade de medicamentos

básicos e, além disso, age de forma a recomendar a implantação de uma política de

medicamentos genéricos como caminho ao acesso a medicamentos a preços mínimos

(BERMUDEZ, 1994).

A transformação mais significativa no cenário farmacêutico do país que se segue a

partir desse contexto ocorre com a publicação da Lei nº 9.787, de 10 de janeiro de 1999,

conhecida como Lei dos Genéricos, cuja elaboração teve como objetivo básico proporcionar à

população o acesso a medicamentos com preços baixos e eficácia garantida (VALENTIM,

2003; CAPPI, 2007).

Conforme essa lei, os produtos farmacêuticos ficaram classificados de acordo com as

seguintes tipologias (LOPES, 2009, p. 25):

i. Medicamento de Referência - produto inovador registrado no órgão federal

responsável pela vigilância sanitária, e que possui autorização para ser comercializado

após ter comprovado sua eficácia, segurança e qualidade junto ao órgão regulador;

ii. Medicamento Similar - aquele que contêm o mesmo ou os mesmos princípios ativos,

que apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração,

posologia e indicação terapêutica, e que é equivalente ao medicamento original

registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, devendo ser

obrigatoriamente identificado por nome comercial ou marca;

24

iii. Medicamento Genérico - aquele similar a um produto de referência ou inovador,

geralmente produzido após a expiração ou renúncia da proteção de patente ou de

outros direitos de exclusividade, devendo ser comprovada sua eficácia, segurança e

qualidade. O produto genérico é vendido sem uma marca registrada e todos os

fabricantes utilizam um padrão comum de identificação definido pelo órgão regulador.

Assim sendo, a partir da implementação da Lei dos Genéricos, o mercado

farmacêutico nacional passou a apresentar três tipos de segmentos, a saber, medicamentos de

referência protegidos por patentes e vendidos sob uma marca, medicamentos similares e,

ainda, outro segmento de medicamentos comercializados conforme a denominação genérica.

Assim, o país detinha um mercado com estrutura equiparável à de outros países

(HASENCLEVER, 2004).

Nesse contexto de comercialização, os medicamentos genéricos permitiram uma

mudança estrutural no mercado de medicamentos, possibilitando o aumento da concorrência e

a redução dos preços. Isso ocorre de modo que provavelmente os medicamentos genéricos

passem a substituir os produtos de referência ou similares, o preço médio do mercado sofra

queda pelo aumento da concorrência e a quantidade vendida aumente, assim como o acesso

aos medicamentos, de forma a atingir o objetivo fundamental da política (HASENCLEVER,

2004; VALENTIM, 2003).

Diante dessa conjuntura, foi possível o desenvolvimento da indústria farmacêutica

local, o que fez surgir importantes empresas nacionais voltadas à produção desse tipo de

medicamento. Além disso, a aprovação da Lei de Genéricos no Brasil exigiu a criação de

centros de pesquisa clínica, indispensáveis para o desenvolvimento de pesquisa de

equivalência farmacêutica e bioequivalência, o que ocasionou a construção de uma estrutura

voltada a atender esses processos tecnológicos (CALIXTO, SIQUEIRA JR., 2008;

TOLENTINO, 2010).

Se o cenário econômico se revelava dessa forma, os estudos e testes de

bioequivalência3 e biodisponibilidade4 constituíam uma questão delicada quanto ao contexto

terapêutico, de forma que devem comprovar a igualdade do medicamento genérico e do 3 “Bioequivalência ocorre quando dois medicamentos são farmaceuticamente equivalentes e suas biodisponibilidades, após administração na mesma dose molar, são similares a tal grau que seus efeitos, com respeito à eficácia e segurança, sejam essencialmente os mesmos” (BERMUDEZ, 1994, p. 372). 4 “Biodisponibilidade consiste na velocidade e extensão da absorção de um princípio ativo de uma determinada forma farmacêutica, como determinado pela sua curva de concentração/tempo na circulação sistêmica ou pela sua excreção na urina” (BERMUDEZ, 1994, p. 372).

25

medicamento de referência quanto ao seu efeito terapêutico, para tornar possível a

intercambialidade5 através de um processo de padronização e domínio para constatação ao

paciente (CAPPI, 2007).

Quanto ao contexto legal, um conjunto de resoluções entrou em vigor em uma mesma

época, com destaque para a publicação da Resolução nº 4723 em 05 de abril de 2001,

tornando obrigatória a introdução do logotipo dos genéricos nas embalagens desses

medicamentos, pela percepção da necessidade de criação de uma identidade visual para esses

produtos, de forma que os consumidores passassem a reconhecê-los pela embalagem. Essa

estratégia se mostrou bem sucedida, ao mesmo tempo em que, nesse mesmo ano, as vendas

dos medicamentos similares sem marca foram encerradas, reduzindo os casos de possíveis

erros na diferenciação dos medicamentos genéricos dos similares (DIAS; ROMANO-

LIEBER, 2006; CAPPI, 2007).

Apesar do atraso do Brasil na efetivação dos medicamentos genéricos em relação a

outros países do mundo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) se mostra

competente ao praticar contínuas atualizações na legislação brasileira, possibilitando a

similaridade com leis publicadas por importantes agências estrangeiras como a Food and

Drug Administration (FDA), European Medicines Agency (EMA), Health Canada, e pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) (ARAÚJO et al., 2010).

Nesse sentido, atualmente, o mercado de genéricos constitui uma realidade no Brasil,

tendo permitido uma notável e crescente participação das empresas nacionais, que por sua

vez, promoveram um rápido crescimento desse segmento de mercado de medicamentos,

atingindo um nível de vendas que outros países levaram um longo tempo para conquistar

(BERMUDEZ, 1994; CANONGIA; PEREIRA; ANTUNES, 2002; DIAS; ROMANO-

LIEBER, 2006; HASENCLEVER, 2004).

Diante disso, é possível reconhecer que a política de genéricos constituiu uma

iniciativa amplamente favorável à produção dessa classe de medicamentos no país, com

grande impacto sobre o desenvolvimento da indústria farmacêutica nacional e a construção de

uma infraestrutura de serviços tecnológicos de base (QUENTAL et al., 2008).

De tal modo, a capacitação produtiva propiciada pelos genéricos poderia ser

incorporada a uma estratégia mais ampla de fortalecimento da base produtiva do setor, por

parte do governo e das próprias empresas, de forma a adquirir capacidades tecnológicas.

5 “A intercambialidade consiste na prerrogativa dos medicamentos genéricos em substituir os medicamentos de referência prescritos” (ISSE, 2011, p. 53).

26

Assim, seria possível a realização de atividades de P&D com uma perspectiva tecnológica

mais profunda, além daqueles processos ligados à pesquisa clínica e aos testes de equivalência

farmacêutica, já difundidos no país. Segundo os autores, essa capacitação tecnológica seria

facilitada pelo estabelecimento de parcerias entre empresas, universidades e centros de

pesquisa e desenvolvimento tecnológico (QUENTAL et al., 2008).

1.2.5.2. O Mercado dos Medicamentos Genéricos no Brasil

A Lei dos Genéricos foi introduzida no Brasil no início do ano de 1999, conforme

explicitado anteriormente, mas a comercialização dos produtos ocorreu somente a partir de

2000, de modo que o mercado de medicamentos genéricos pode ser considerado recente para

contexto nacional (ANDRADE, 2005).

A indústria farmacêutica é, em grande medida, dependente de inovações, portanto, os

medicamentos que valem de referência para os genéricos e já tiveram suas patentes vencidas,

provavelmente, utilizam processos mais disseminados e simples. Desse modo, a manutenção

das vendas desses medicamentos, que se encontram há bastante tempo no mercado e possuem

preços superiores aos dos genéricos se dá por meio por meio de estratégias de diferenciação

(CALIARI; RUIZ; OLIVEIRA, 2009).

Nesse sentido, o principal intuito da política de genéricos foi o barateamento dos

preços dos medicamentos por meio da redução do controle de mercado exercido pelas firmas

fabricantes desses produtos de referência, derivado das estratégias de diferenciação, como por

exemplo, a propaganda para divulgação das marcas (CALIARI; RUIZ; OLIVEIRA, 2009).

Segundo Caldeira (2010, p. 88), “a introdução de medicamentos genéricos no mercado

farmacêutico brasileiro contribuiu para oferta de medicamentos a preços menores”. Por outro

lado, a demanda de medicamentos genéricos e a sua relação com os preços dos medicamentos

de referência constitui uma questão controversa entre diversos autores (CALIARI, 2014).

Conforme o site Pró – genéricos (2014), os preços dos medicamentos genéricos são, mínimo,

35% mais baixos que os medicamentos de referência, mas na prática, os produtos chegam a

ser, em média, 50% mais baratos.

Embora essa política tenha tido como foco principal a minimização de preço, não há

dúvidas de que a Lei de Medicamentos Genéricos causou uma mudança estrutural da indústria

farmacêutica brasileira. A instituição dos medicamentos genéricos no mercado nacional

acarretou uma transformação significativa da indústria em favor das empresas domésticas

(CALIARI; MAZZOLENI; PÓVOA, 2013).

27

Conforme apontado pelos autores:

“…national firms had problems competing with foreign ones, mainly in innovation: the production scale did not allow national firms to create enough innovative scale to enter in more sophisticated markets. So, given the previous specialization in standardized products, the generic drugs law opened a comparative advantage guaranteed by law in favor of these firms” (CALIARI; MAZZOLENI; PÓVOA, 2013, p. 42).

A eficácia da política, portanto, também pode ser comprovada nesse sentido. Ao

mesmo tempo em que foi capaz promover a redução dos preços dos medicamentos, outro

efeito foi o aumento da participação de mercado das firmas nacionais, que, passaram a

integrar o cenário composto pelas grandes empresas do setor farmacêutico no país (RUIZ, et

al., 2011).

Nesse sentido, a tabela 1, a seguir, mostra que em 1998 apenas a empresa Aché de

capital nacional aparecia entre as maiores empresas da indústria. Em 2005, entre as dez

maiores empresas participantes do mercado, cinco possuíam capital nacional: Aché, EMS

Sigma Pharma, Medley, Eurofarma e Schering do Brasil. As quatro primeiras empresas

destacadas desenvolviam a produção de medicamentos genéricos, de forma a enfatizar a

importância desse segmento na capacitação produtiva dessas firmas (CALIARI; RUIZ;

OLIVEIRA, 2009). Já no ano de 2010, houve uma pequena redução da participação nacional,

especialmente pela aquisição da firma Medley, de capital nacional, pela empresa francesa

Sanofi-Aventis, em 2009 (CALIARI; RUIZ, 2013).

28

Tabela 1: Participação no mercado nacional das empresas farmacêuticas

Firma País de Origem

Participação de mercado (1998)

Firma País de Origem

Participação de mercado (2005)

Firma País de Origem

Participação de mercado (2010)

Novartis Suíça 6.30% Aché Brasil 6,9% EMS Sigma Pharma

Brasil 6.6%

Roche Suíça 5.50% Sanofi-Aventis França 6,8% Sanofi-Aventis

França 6.3%

Bristol-Meyers Squibb

USA 5.40% EMS Sigma Pharma

Brasil 5,1% Ache Brasil 5.8%

Hoechst Marion Roussel

Alemanha 5.20% Pfizer USA 5,0% Medley França 5.4%

Ache´/Prodome Brasil 4.70% Novartis Suiça 4,8% Eurofarma Brasil 4.1% Janssen Cilag Bélgica 3.70% Medley Brasil 3,7% Novartis Suiça 4.0% Boehringer Ing. Alemanha 3.70% Boehringer

Ing. Alemanha 2,9% Pfizer USA 3.0%

Glaxo Wellcome Reino Unido

3.50% Schering Plough

EUA 2,9% Bayer Schering Plough

Alemanha 2.8%

Schering Plough Alemanha 3.20% Eurofarma Brasil 2,8% Astrazeneca Suécia e Reino Unido

2.5%

Eli Lilly USA 3.00% Schering do Brasil

Brasil 2,7% Boehringer Ing.

Alemanha 2.2%

Outras firmas - 55.80% Outras firmas - 56,4% Outras firmas - 57.5%

Fonte: Caliari; Ruiz (2013) para 1998 e 2010 e Caliari; Ruiz; Oliveira (2009) para 2005.

Como pode ser obervado, o programa serviu para o fortalecimento da indústria

brasileira. Ainda que em 2010 a participação de capital nacional no mercado tenha retraído,

segundo o site Pró-genéricos (2014), hoje, entre as dez maiores empresas farmacêuticas, cinco

são nacionais. Essas firmas apresentam crescimento vertiginoso e todas elas produzem

medicamentos genéricos (BRASIL, 2014).

Segundo o site Pró-genéricos (2014), 88% da oferta de genéricos no mercado nacional

no ano de 2008 advinham de empresas de capital brasileiro. Atualmente, no mercado de

genéricos, por origem de capital, cerca de 90% são nacionais, 6,3 % indianas, 0,8% alemã,

0,5% espanhola e 0,6% canadense, ou seja, o capital nacional cresceu ainda mais desde 2008

(BRASIL, 2014).

Embora essa mudança na participação de mercado em benefício das empresas

nacionais seja uma realidade, a política de genéricos encontra limites na promoção da

liderança tecnológica do mercado por parte dessas firmas locais, que permanece em poder das

multinacionais. Isso ocorre devido ao crescimento das empresas nacionais baseado em

segmentos de baixa capacitação tecnológica (RUIZ, et al., 2011).

Ainda assim,

29

“... quando observamos os resultados da reestruturação da década de 1990, pode-se afirmar com certeza que essa política mostrou-se a mais eficaz que qualquer outra iniciativa do governo na constituição de alguma base produtiva nacional” (RUIZ, et al., 2011, p. 1055).

Ao mesmo tempo em que se apresenta como uma política bem sucedida, a

implantação dos medicamentos genéricos ocorreu de forma tardia no Brasil, se comparado a

outros países do mundo, o que reforça a diferença da participação dos desses produtos na

oferta total dos medicamentos em alguns países (CALIARI; RUIZ; OLIVEIRA, 2009).

De acordo com o site Pró-genéricos (2014), no ano de 2008, os genéricos

representavam 17% das vendas em unidades no mercado farmacêutico brasileiro. Em países

como Espanha, França, Canadá, Alemanha e Reino Unido, onde o mercado de genéricos já se

encontrava instalado há um tempo significativamente maior, a participação desses

medicamentos era de 30%, 35%, 45%, 60% e 60%, respectivamente. Nos Estados Unidos,

onde o mercado de genéricos possui mais de vinte anos de existência, o índice é de

aproximadamente 60% de participação em volume. Essa análise pode ser vista na Tabela 2.

De acordo com a tabela 2, também é possível observar que na maior parte dos países

analisados, especialmente os primeiros países da tabela, há grande participação dos genéricos

em unidades consumidas, ou na oferta total em unidades, ao mesmo tempo em que há uma

menor participação em valor, o que significa uma tendência de redução dos preços desses

produtos nesses países. Essa característica de mercado não é válida para o Brasil, visto que a

participação em unidade e valor é muito semelhante (CALIARI; RUIZ; OLIVEIRA, 2009).

Tabela 2: Genéricos na Oferta de Medicamentos (países selecionados, Junho 2008)

País % em valor (US$) % em unidades

EUA 13 60

Alemanha 26 60

Reino Unido 26 60

Canadá 22 45

França 14 35

Espanha 13 30

Brasil 14 17

Fonte: Caliari; Ruiz; Oliveira (2009)

30

No ano de 2011, a oferta de medicamentos genéricos nos mesmos países selecionados,

apresentou crescimento, em sua maioria, com destaque para o Brasil, com aumento de 10% na

participação dos genéricos em seu amplo mercado setorial. Porém, continuou a apresentar

participação semelhante em unidades e valor, o que não corresponde à tendência de redução

dos preços desses produtos, como verificado nos outros países analisados (BRASIL, 2014).

Esse diagnóstico pode ser verificado na tabela 3.

Tabela 3: Genéricos na Oferta de Medicamentos (países selecionados, dezembro 2011)

País % em valor (US$) % em unidades

EUA 21 80

Alemanha 19 66

Reino Unido 23 60

Canadá 22 45

França 18 42

Espanha 13 31

Brasil 22 27

Fonte: Brasil (2014)

Já para o ano de 2013, de acordo com o site Pró - Genéricos (2014), os medicamentos

genéricos evoluíram para uma participação de 27,26% em unidades vendidas e 23,77 % em

valor no conjunto do mercado farmacêutico nacional.

“Entre os fatores que explicam o crescimento do setor de genéricos destacam-se o maior conhecimento da população sobre esse segmento, maior prescrição e o fato de que atualmente já há genéricos aprovados pela ANVISA que cobrem cerca de 90% das doenças existentes. Outro fator importante para o aumento da procura por genéricos é o preço mais baixo, que pode representar uma economia de 35% ou mais no gasto com o remédio” (ISSE, 2011, p. 68).

Apesar de oferecer resultados que demonstram sua eficácia quanto à capacitação

produtiva e aumento da participação de empresas nacionais no mercado, a política de

genéricos se caracteriza pela capacidade limitada em transformar a conjuntura externa do

setor da saúde. Nesse sentido, é possível analisar que o setor apresenta vulnerabilidade

31

comercial e tecnológica devido, principalmente, à produção baseada em baixa tecnologia e a

dependência externa de produtos de alto nível tecnológico (RUIZ et al., 2011).

Nesse contexto, no início de suas operações, as empresas nacionais não representavam

uma ameaça às multinacionais, por se concentrarem nos segmentos de baixa tecnologia. No

entanto, o crescimento das firmas nacionais provocou uma redução da participação das firmas

estrangeiras nesses segmentos e ao mesmo tempo, possibilitou uma perspectiva positiva em

relação à concorrência por meio de produtos de maior conteúdo tecnológico (RUIZ et al.,

2011).

De acordo com os autores:

“... essa expansão permitiu às empresas nacionais uma escala de produção, um escopo de produtos e a constituição de uma rede de distribuição que as torna potenciais entrantes no segmento de especialidades farmacêuticas e, no limite, no segmento de produtos patenteados” (RUIZ et al., 2011, p. 1057).

Para reforçar essa avaliação, de forma conclusiva, Isse (2011) destaca que a Lei dos

Genéricos alcançou seu principal objetivo ao promover o acesso da população a

medicamentos de qualidade a preços baixos e, por consequência, proporcionou o crescimento

e a consolidação da indústria nacional, permitindo que as empresas locais alcançassem um

estágio de desenvolvimento avançado comparado ao período anterior.

1.2.6. REGULAÇÃO E CRIAÇÃO DA AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

1.2.6.1. Aspectos gerais

A questão da regulação econômica de mercado se evidenciou nas décadas atuais em

virtude da reorganização econômica com ênfase na oferta de bens públicos por parte do setor

privado. Entretanto, as discussões acerca do tema têm início com os teóricos da Organização

Industrial, na época da grande crise mundial de 1929 estendendo-se até a década de 1970.

Esses teóricos, institucionalistas, defendiam a regulação por meio da intervenção do Estado

como promotor da concorrência, que por sua vez, seria capaz de gerar resultados eficientes

para a sociedade e para a economia (ANDRADE, 2005; CALDEIRA, 2010).

32

Já no início dos anos 1980, o cenário verificado foi de um crescente afluxo de

privatização. Nesse contexto, houve uma modificação na função do Estado, que passou a ter

relevância como órgão regulador da economia, a fim de impedir os problemas da livre

concorrência, como por exemplo, a instauração de monopólios (ANDRADE, 2005).

Conservado o contexto acima, o período posterior, mais especificamente a década de

1990, foi fortemente influenciado pelas ideologias do Fundo Monetário Internacional (FMI) e

da Organização Mundial do Comércio (OMC), que incentivavam medidas como o controle

dos gastos públicos, arrocho salarial, liberalização econômica, privatização, estabilização

econômica e, outras políticas a serem seguidas pelos países em desenvolvimento, como o

Brasil. Contudo, ao permanecer a situação de déficit das contas públicas mesmo com a

aplicação desses métodos, foi reafirmada a importância do Estado com papel regulador dos

mercados e das atividades econômicas (BRANCO, 2008).

De forma mais específica, os anos 1990 assinalaram no país um momento de intensas

reformas e um processo de privatizações muito mais amplo que o observado na década de

1980. O Estado ofereceu por meio de concessões alguns serviços públicos que passaram a ser

oferecidos por empresas privadas através de concessões. Diante desse novo contexto, a

necessidade da regulação estatal, a fim de assegurar a realização adequada dos serviços

oferecidos pelo setor privado, passou a ser ainda mais preponderante (RAMALHO, 2011;

TAVEIRA, 2013).

De um modo geral, a teoria da regulação econômica defende a intervenção do Estado

em situações que forem observadas falhas de mercado ou desvios de eficiência, causados

pelos seguintes motivos (ANDRADE, 2005, p. 31; CALDEIRA, 2010, p. 114; GÉLIS

FILHO, 2006, p. 594):

i. Poder de mercado: ocorre quando o vendedor ou o comprador tem a capacidade de

influenciar o preço de determinado produto. Ou ainda, refere-se ao poder de formas de

mercado não competitivas como monopólio, oligopólio, monopsônio e oligopsônio,

em que o produtor possui o poder de estabelecer a quantidade e o preço da mercadoria

no mercado. Nesse caso, o resultado é uma perda por parte tanto dos compradores,

como dos vendedores, pois o produtor deixa de vender mais, e o consumidor compra

menos do que seria satisfatório, uma vez que a quantidade ofertada é geralmente

menor, e, o preço maior do que se estivesse em um mercado competitivo.

33

ii. Externalidades: são efeitos indiretos, positivos ou negativos, de uma decisão

econômica, ou, de atividades de consumo ou de produção sobre a atividade de outros

produtores ou consumidores, e que, não podem ser adequadamente negociados em um

mercado. Em condições de externalidades, o preço de um produto não reflete,

necessariamente, o seu valor social. Assim, as empresas podem produzir quantidades

demasiadas ou insuficientes, de modo que o resultado pode ocasionar uma ineficiência

ao mercado.

iii. Bens públicos: são bens não rivais e não excludentes, sendo que ninguém poder ser

excluído de seu consumo, ao mesmo tempo em que o consumo de um bem por um

indivíduo não reduz a disponibilidade para outro, a baixo ou a nenhum custo. A

ineficiência causada pelos bens públicos reside no fato de não se cobrar

adequadamente por eles, além de possuir um potencial conflituoso frente aos

interesses privados.

iv. Assimetria de Informação: refere-se à falta de informações perfeitas por parte dos

produtores ou consumidores, e, à transmissão imperfeita de informação sobre preço e

qualidades dos produtos e serviços a serem oferecidos. As ineficiências ocorrem

quando um dos agentes possui mais informações que o outro, possibilitando, por

exemplo, que produtores ofertem quantidades excessivas de um determinado bem, ou

que consumidores adquiram produtos que lhes causam prejuízo.

Portanto, na presença desses fatores apresentados acima, ou seja, na ausência de

eficiência econômica através da concorrência de forma isolada, se torna necessária a

regulação econômica (ANDRADE, 2005).

1.2.6.2. Regulação no Setor Farmacêutico

No Brasil, a discussão acerca da garantia de acesso aos medicamentos para a

população, que envolve diretamente o setor industrial farmacêutico, foi fortemente

influenciada pela teoria da regulação econômica (CALDEIRA, 2010).

Essa teoria, como explicitado anteriormente, justifica a adoção de políticas públicas

regulatórias pelas falhas e ineficiências de mercado existentes, ou seja, pelas condições que

levam a concorrência a não funcionar de modo adequado e eficaz. Assim, a regulação age de

34

modo a assegurar uma alocação mais eficiente de recursos (CALDEIRA, 2010; SILVA,

2003).

Nesse contexto, a indústria farmacêutica apresenta-se como um setor da economia que

apresenta diversas falhas de mercado, com destaque para a estrutura de mercado concentrada,

oligopolista e, com forte presença de barreiras à entrada, decorrente do direito de patentes, dos

altos investimentos em P&D, do controle da distribuição de fármacos, das renomadas marcas

de empresas líderes, e das normas sanitárias, técnicas e de dispensa dos produtos

(CALDEIRA, 2010; CAPANEMA; PALMEIRA FILHO, 2004).

Demais falhas são possíveis do lado da demanda, como a existência de riscos e

incerteza, dado que o estado de saúde é imprevisível, impossibilitando o planejamento de

consumo de medicamentos. Além disso, identifica-se a assimetria de informação, uma vez

que a informação completa sobre os medicamentos é controlada pelos laboratórios que

desenvolvem os produtos, que por sua vez, são capazes de influenciar os consumidores

através de propaganda e da publicação de informações que sejam convenientes à indústria

(CALDEIRA, 2010).

Diante dessas características, é possível observar que o mercado farmacêutico deve

funcionar, em sua maior parte, submetido a regulamentações por parte do governo. Os

mecanismos de regulação nesse setor são capazes de influenciar tanto os produtores e

vendedores, quanto os consumidores (GODOY; OLIVEIRA; CÂMARA, 2004).

Conforme Andrade (2005) a regulação da oferta de medicamentos tem a finalidade de

adequar a conduta da indústria farmacêutica. Já pela via da demanda, a regulação tem como

intuito atuar sobre o comportamento dos consumidores.

De modo geral, os instrumentos de regulação farmacêutica apresentam

fundamentalmente critérios sanitários e econômicos. Enquanto os critérios econômicos estão

ligados às falhas de mercado, a regulação por fundamentos sanitários tem o objetivo básico de

garantir a qualidade e segurança dos medicamentos comercializados (GODOY; OLIVEIRA;

CÂMARA, 2004). Esses mecanismos podem ser visualizados na Tabela 4.

35

Tabela 4 : Mecanismos de regulação farmacêutica pelo Estado

Metas Meios

A – Considerações de ordem sanitária Serviços de controle da qualidade dos

medicamentos

1) Controle do número de medicamentos no

mercado

Farmacopéia nacional, listas de medicamentos

essenciais, formulários

2) Controle da eficiência e da segurança de

medicamentos

Regulamentação de aprovação e registro

3) Controle das atividades de marketing das

empresas farmacêuticas

Regulamentação da propaganda e promoção

4) Controle da distribuição Classificação dos produtos em éticos/não éticos

B – Considerações de ordem econômica Serviços de controle de custo de medicamentos

5) Redução dos gastos públicos com medicamentos Regulamentação do preço e estímulo à prescrição

de medicamentos genéricos

6) Fortalecimento da própria indústria do país Subsídios e incentivos à indústria, controle de

importações, sistema de patentes

Fonte: Pinheiro (1999) apud Godoy; Oliveira; Câmara (2004)

O sistema de regulação atual, que ocorre por meio de agências reguladoras surgiu

apenas na década de 1990. Apesar da presença da regulação em anos anteriores, a proposta de

criação dessas agências surgiu no ano de 1996, quando foi criada a Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL), a primeira agência reguladora brasileira (RAMALHO, 2011;

TAVEIRA, 2013).

1.2.6.3. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

A regulação do setor farmacêutico brasileiro foi amplamente influenciada pela criação

da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pela Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de

1999, regulamentada pelo Decreto nº 3.029 de 16 de abril de 1999 (TAVEIRA, 2013).

De acordo com Lucchese (2001), a criação dessa agência reguladora alterou de forma

profunda a disposição existente da vigilância sanitária no país, que anteriormente era de

responsabilidade da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. As reformas ocorridas no

início da década de 1990 promovidas pelo Governo Collor afetaram negativamente as

condições de trabalho dessa Secretaria, de forma a ocasionar uma crise na vigilância sanitária

nacional. Essa crise se intensificou e tornou-se insustentável após as descobertas de

36

“medicamentos falsificados, empresas clandestinas e produtos roubados que eram vendidos

livremente na cadeia de comércio” (LUCCHESE, 2001, p. 90).

Na segunda metade da década de 1990, foi criado o Ministério da Administração

Federal e Reforma do Estado (MARE), de forma a enfatizar as mudanças no papel do Estado

e a relevância das agências reguladoras, que iniciaram sua presença no país nesse período

(KORNIS, et al., 2011).

Dessa forma, pode-se depreender que a ANVISA foi criada a partir desse processo de

reforma do Estado associada ao anseio de uma intervenção eficaz, a fim de que a população

fosse protegida de riscos graves na área de produtos e serviços de saúde, especialmente no

setor de medicamentos (LUCCHESE, 2001; MENDES, 2000).

A ANVISA age em todos os setores relacionados a produtos e serviços que possam

afetar a saúde da população brasileira e, se apresenta como uma autarquia sob regime

especial, ou seja, uma agência reguladora independente tanto financeiramente quanto à sua

administração. Na estrutura da administração pública federal, a ANVISA encontra-se

vinculada ao Ministério da Saúde e integra o Sistema Único de Saúde (SUS), assimilando

seus princípios e diretrizes (BRASIL, 2014).

Sua responsabilidade é tanto a regulação sanitária quanto a regulação econômica. Ao

mesmo tempo em que se responsabiliza por garantir a eficácia, segurança e qualidade dos

medicamentos, bem como seu acesso pela população, deve estimular a competitividade para a

indústria e promover a política de genéricos (HASENCLEVER et al., 2002; BRASIL, 2014;

ANDRADE, 2005).

Segundo Taveira (2013), o setor farmacêutico se constitui em um dos principais

segmentos de ação por parte da ANVISA, especialmente no que se refere aos seus

mecanismos de regulação sanitária. Nesse sentido diversas práticas são realizadas, como

aponta o autor:

“... registro de medicamentos; autorização de funcionamento dos laboratórios farmacêuticos e demais empresas da cadeia farmacêutica; regulação de ensaios clínicos; inspeção de fabricantes; controle de qualidade dos medicamentos; vigilância pós-comercialização (ações de farmacovigilância e regulação da promoção de medicamentos (PIOVESAN, 2009); além da análise e anuência prévia nos processos de concessão de patentes para produtos e processos farmacêuticos pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), dentre diversas outras ações” (TAVEIRA, 2013, p. 55).

37

Além de sua competência regulatória, a Anvisa ainda é responsável por coordenar o

Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), de modo integrado com outros aparelhos

públicos ligados à área da saúde e, atuar como Secretaria Executiva da Câmara de Regulação

do Mercado de Medicamentos (CMED) (BRASIL, 2014)

Cabe, nesse contexto, ressaltar a criação da Câmara de Regulação do Mercado de

Medicamentos (CMED), em 2003, como um órgão interministerial responsável por regular o

mercado e estipular formas de fixação e adequação de preços de medicamentos. Esse órgão

regulador é derivado da Câmara de Medicamentos (CAMED), instituída em dezembro de

2000, como forma de retomar o controle dos preços dos medicamentos (BRASIL, 2014;

CALDEIRA, 2010).

De acordo com a CMED,

os medicamentos fitoterápicos, homeopáticos e algumas classes sem tarja mantêm liberdade na comercialização. Para os demais medicamentos, são estabelecidas classes de medicamentos de acordo com a participação dos genéricos em seu mercado relevante, e determinado o controle com base em modelos de preço-teto, com reajustes anuais via IPCA e fatores de produtividade intra-setor e entre setores (RUIZ et al., 2011, p. 1085).

Por meio de todo esse exposto sobre a regulação no setor farmacêutico pela ANVISA,

é possível depreender que a atuação dessa agência foi capaz de promover a ampliação do

acesso aos medicamentos pela população, a segurança quanto à qualidade e eficácia desses

produtos, além de criar possibilidades de crescimento da indústria farmacêutica nacional

(KORNIS, et al., 2011).

2. POLÍTICAS INDUSTRIAIS PÓS – 2003

Os anos 1990 assistiram ao uso restrito de políticas industriais ativas frente ao cenário

macroeconômico de abertura da economia e a disposição do país ao novo cenário liberal.

Nesse período houve aumento da fragilidade externa do país, com a expansão do déficit na

balança de pagamentos, além de forte inibição do investimento na produção e do crescimento

econômico, decorrente, principalmente do câmbio sobrevalorizado e das altas taxas de juros

(CANO; SILVA, 2010; TZOVENOS, 2013).

Apesar disso, resultados favoráveis, como a contenção da queda da produtividade do

trabalho possibilitada pela modernização industrial e pelas novas técnicas de produção, que

38

por sua vez, permitiram uma combinação mais eficiente de fatores e insumos na produção,

puderam ser verificados pela maior concorrência gerada pela liberalização comercial

(NASSIF, 2003).

No entanto, mesmo frente a esses fatores positivos, não houve modificação na

capacidade competitiva da indústria nacional, que continuou a possuir uma posição frágil no

cenário externo (TZOVENOS, 2013). Diante disso, o país não foi capaz de absorver

vantagens comparativas naquelas indústrias dinâmicas produtoras de bens de alto valor

agregado frente ao mercado internacional, adequadas a sustentar um crescimento no longo

prazo. Na contramão desse cenário, o aparelho produtivo do país se especializou na produção

e exportação de produtos menos valorizados (NASSIF, 2003).

Assim sendo, não houve a superação de problemas na estrutura industrial do país,

devido à defasagem de tecnologias e ao baixo investimento em P&D (COUTINHO;

FERRAZ, 1994). Desse modo, ainda se mostrava notória a necessidade de se construir um

modelo de introdução da economia brasileira no comércio internacional.

Nessa conjuntura, o início dos anos 2000 apresentava a necessidade de resgate de

políticas industriais concretas que se conformassem com uma política de desenvolvimento

nacional, de forma a considerar as particularidades do Brasil (CANO; SILVA, 2010).

E, assim, a década passada compreendeu um conjunto de políticas do Governo Federal

indicando a importância do setor saúde no contexto do desenvolvimento industrial do país.

Foram lançadas as seguintes políticas industriais: Política Industrial, Tecnológica e de

Comércio Exterior (PITCE); Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e o Plano Brasil

Maior (PBM). Além de outros setores, tais políticas serviram de incentivo, especialmente, à

Indústria Farmacêutica.

2.1. POLÍTICA INDUSTRIAL, TECNOLÓGICA E DE COMÉRCIO EXTERIOR (PITCE)

No início de 2003, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

(MDIC) estabeleceu o Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva Farmacêutica com a

responsabilidade de desenvolvimento produtivo da cadeia de fármacos e medicamentos, além

de promover o acesso da população a medicamentos oferecidos pelo governo (CAPANEMA,

2006).

Segundo Capanema (2006), o Fórum foi responsável por tratar das políticas públicas

referentes ao setor farmacêutico e, para isso, possuía uma organização composta por diversos

participantes, dentre os principais, o MDIC, o Ministério da Saúde, a ANVISA, o Banco

39

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Instituto Nacional de

Propriedade Industrial (INPI), e sindicatos.

Como prosseguimento às ações estabelecidas por esse Fórum, em novembro de 2003,

foi lançada a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), que envolvia

setores como máquinas e equipamentos, softwares e semicondutores, além dos fármacos e

medicamentos, ou seja, setores que demandavam altos investimentos em P&D, constituindo

uma política na ótica da competência inovativa (RUIZ et al., 2011).

A condução dessa política considerava importante a articulação paralela entre o

estímulo capacitação produtiva, o comércio internacional, a inovação e a capacitação

tecnológica, como sendo determinante para a indústria nacional (CAPANEMA, 2006). No

que diz respeito à indústria farmacêutica, a política e seus planos de ação demonstravam

estímulo e suporte às instituições nacionais de P&D, promoção da capacidade produtiva de

medicamentos no país, além da consolidação do sistema de propriedade intelectual e do

fortalecimento da cooperação entre o governo e as empresas privadas nas atividades de

pesquisa (RUIZ et al., 2011).

Essa política se manteve em atividade até ser lançada pelo governo uma nova política

industrial que pretendia maior abrangência e densidade em relação à PITCE, denominada

Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) (CANO; SILVA, 2010).

2.2. A POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO (PDP)

A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) foi lançada em 12 de maio de 2008,

com o objetivo de promover a capacidade competitiva da economia nacional e sua sustentação

no longo prazo, de forma a integrar os mecanismos de políticas públicas disponíveis,

fortalecer o arranjo institucional do governo e intensificar a relação com o setor privado

(BRASIL, 2014; CANO; SILVA, 2010; RUIZ, et al., 2011).

Nesse sentido, a PDP, como uma continuidade da PITCE, pretendia maior amplitude,

densidade e articulação em relação às medidas anteriores. Buscava-se maior transparência em

relação às metas e ampliação dos setores incentivados e dos mecanismos de apoio,

principalmente nas áreas carentes de inovação e tecnologia. Além disso, o fortalecimento das

pequenas empresas constituía outro foco da política (BRASIL, 2014; TZOVENOS, 2013).

As ações propostas pela PDP compreendem três categorias: Ações Sistêmicas,

Destaques Estratégicos e Programas Estruturantes, de modo a conceder aportes financeiros e

40

incentivos fiscais de acordo com cada área relevante do complexo industrial brasileiro

(BERTOLINO, 2013).

O Complexo Industrial da Saúde está inserido no nível de Programas Estruturantes,

que compreende os setores industriais estratégicos, pelo motivo de ser um setor em que a

capacitação competitiva está ligada ao desenvolvimento científico e tecnológico para

promover atividades da inovação (BERTOLINO, 2013). Nesse sentido, houve uma sequência

e aprofundamento das ações da política industrial anterior para esse setor, com maior

intervenção e estímulo por parte do governo (RUIZ, et al., 2011).

Desse modo, a PDP estabeleceu alguns objetivos para o setor industrial da saúde,

como investir de forma mais intensa em inovação, elevar e variar as exportações; consolidar

as firmas nacionais e os laboratórios públicos, promovendo sua modernização, além de trazer

para o país a produção e centros de pesquisa de empresas internacionais com alto grau de

desenvolvimento tecnológico (CALDEIRA, 2010).

Uma série de ações, guiadas para atingir esses objetivos, foi compreendida pela

política. São elas: uso do poder de compra do Estado para estimular a capacidade produtiva;

desenvolvimento de mecanismos de financiamento para conformação da cadeia produtiva;

aumento dos benefícios para P&D; constituição parcerias ao desenvolvimento tecnológico e

industrial; e desenvolvimento dos instrumentos de regulação (RUIZ, et al., 2011).

Pode-se concluir que, embora a PDP considerasse a heterogeneidade industrial do

Brasil no estabelecimento dos setores emergentes, ainda assim, o setor da saúde destacou-se

como uma área estratégica a ser desenvolvida devido ao seu elevado potencial de difusão do

conhecimento e inovação (MITTELSTADT, 2012; SILVA, 2014).

Ainda que não seja possível avaliar profundamente os resultados, visto que se trata de

uma política de longo prazo, as metas estipuladas pela PDP possuem uma perspectiva

positiva, especialmente, para o setor da saúde (BRANDÃO; DRUMMOND, 2012).

2.3. O PLANO BRASIL MAIOR (PBM)

O Plano Brasil Maior foi implantado em agosto de 2011, durante o primeiro ano do

governo de Dilma Rousseff, se constituindo como a mais recente política industrial do

Governo Federal. A política apresentou bastante similaridade com a política industrial

anterior, seguindo a mesma orientação em relação às iniciativas para promover o

desenvolvimento de inovação e tecnologia, importantes para o setor industrial farmacêutico

41

(SOARES; CORONEL; MARION FILHO, 2013; MITTELSTADT, 2012; TZOVENOS,

2013).

Dentre as diretrizes compreendidas na sua dimensão setorial, o PBM tem como

referência o fortalecimento das cadeias produtivas e ações para promover a ampliação e

criação de novos conhecimentos científicos e tecnológicos e sua inserção nas empresas

(BRASIL, 2014).

Nesse sentido, o Complexo Industrial da Saúde, continua sendo evidenciado como

um setor relevante, de forma que para incentivar o desenvolvimento de sua cadeia produtiva e

estimular a capacitação tecnológica, o governo passou a atuar como consumidor de fármacos

e medicamentos produzidos no país que incorporem inovação. Essas compras consistem em

um importante instrumento de crescimento para o setor farmacêutico (TZOVENOS, 2013;

SILVA, 2014).

Entre outras ações, foi criado o Programa Inova Empresa, a fim de fomentar a

produção e a concorrência através do aumento dos investimentos em inovação em áreas

estratégicas, dentre elas, o complexo da saúde, recebendo grandes aportes financeiros. Os

agentes financiadores do programa são a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), e o

Banco Nacional Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (BRASIL, 2014;

TZOVENOS, 2013).

É possível depreender que o PBM é um plano amplo e sistematizado, de forma a

continuar com os planos anteriores, porém com uma perspectiva mais avançada. Com

dificuldades e características positivas, como seus predecessores, ainda não e possível analisar

profundamente seus resultados, visto que o a data limite estabelecida para o alcance dos

objetivos propostos é o ano de 2014 (TZOVENOS, 2013).

2.4. PRINCIPAIS AÇÕES DAS POLÍTICAS INDUSTRIAIS PÓS-2003

Todas as políticas industriais explicitadas anteriormente, resguardadas suas

particularidades, apresentam a característica comum de propor objetivos e instrumentos de

ação que enfatizam a importância do Complexo Industrial da Saúde no contexto de

desenvolvimento do país em relação ao seu potencial produtivo, inovativo e social. A seguir

são apresentadas algumas ações abarcadas nessas políticas, que foram responsáveis por

influenciar a indústria farmacêutica nacional (CALIARI; RAPINI, 2014).

42

2.4.1. Profarma

Dentre as ações compreendidas pela PITCE no setor farmacêutico, destaca-se o

Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica (PROFARMA),

instituído em 2004. O programa teve suas atividades financiadas pelo BNDES devido às

necessidades de investimento do setor farmacêutico, de modo a oferecer aporte financeiro às

atividades de produção, pesquisa, desenvolvimento e inovação, propiciando a consolidação e

o progresso da indústria local (PALMEIRA FILHO; CAPANEMA, 2010).

O Profarma dispunha de três propostas de ação, caracterizadas em torno de três subprogramas específicos: Profarma – Produção, Profarma – Fortalecimento de Empresas Nacionais (posteriormente denominado Profarma – Reestruturação) e Profarma – P,D&I (posteriormente denominado Profarma – Inovação). Enquanto os dois primeiros visavam, respectivamente, ao apoio financeiro a investimentos em ativos fixos e a ações envolvendo consolidação empresarial, o terceiro visava apoiar o investimento em ativos tangíveis e intangíveis necessários para a inovação (PALMEIRA FILHO et

al., 2012, p. 70).

De forma mais específica, Ruiz et al. (2011, p. 1152) destaca como ficou a subdivisão

do programa, após sua reformulação, em 2007:

i. Profarma Produção: direcionado às empresas com sede e administração no país e à

administração pública direta ou indireta. Apóia a construção, expansão e

modernização da capacidade produtiva, além da adaptação às normas da ANVISA,

bem como às exigências dos órgãos regulatórios internacionais e da OMS.

ii. Profarma Exportação: direcionado às empresas exportadoras, com objetivo de

financiar produtos destinados à exportação, na fase pré-embarque;

iii. Profarma Inovação: possui três frentes de apoio, a saber, projetos de empresas, em

cooperação ou não com Instituições Científicas Tecnológicas, relacionados a

inovações radicais ou incrementais; projetos que visem contribuir para a construção e

consolidação da infraestrutura da inovação em saúde no país; e projetos que

promovam a internalização de competências e atividades relacionadas à P,D&I no

país;

43

iv. Profarma Reestruturação: apoio à incorporação, aquisição ou fusão de empresas que

resultem na criação de empresas de controle nacional de maior porte e mais

verticalizadas;

v. Profarma Produtores Públicos: previsão de financiamentos a investimentos na

capacidade produtiva e em adequações aos padrões regulatórios; modernização ou

melhorias na estrutura organizacional e administrativa; apoio a projetos inovadores e à

infraestrutura pública e inovação em saúde no país.

Com relação a alguns resultados parciais do Profarma, Pieroni, Pereira e Machado

(2011) apontam resultados positivos no apoio à modernização, expansão e adequação do

processo produtivo das empresas farmacêuticas. Já em relação ao investimento em inovação,

o Profarma apresentou efeitos limitados no estímulo a atividades mais inovadoras na

indústria.

Entre o ano de sua criação, 2004, e o ano de 2007, 49 projetos foram financiados

pelo Profarma, totalizando um montante de R$ 2 bilhões em investimento, sendo que 49%

foram empregados na promoção da capacidade produtiva da indústria, 12% nos projetos de

P&D e 39% na reestruturação financeira de empresas locais. No ano 2007, o BNDES

disponibilizou recursos da ordem de R$ 3 bilhões (CALIARI; RAPINI, 2014).

Até o ano de 2012 estima-se que o BNDES tenha financiado projetos da ordem de

R$ 912 milhões, porém, mudando a direção dos investimentos em relação ao período anterior,

de modo que 49% dos projetos eram atuantes em atividades de P&D, 40% de projetos

voltados à estrutura industrial e 11% projetos destinados à exportação (CALIARI; RAPINI,

2014).

Em 2013, ainda por meio do Profarma foi reafirmado o apoio ao desenvolvimento do

complexo industrial da saúde, enfatizando a manutenção de ações promotoras de P&D e de

inovação no setor. Além disso, foi criado um novo subprograma denominado Profarma –

Biotecnologia, com o intuito de fomentar o desenvolvimento de biotecnológicos (BNDES,

2014).

2.4.2. Lei da Inovação e Lei do Bem

De forma específica no âmbito de inovação, a PITCE se apresentou como uma política

industrial com perspectivas de sustentação do crescimento de longo prazo através da

44

inovação, por meio da incorporação de tecnologia aos produtos nacionais, aumentando seu

valor agregado e, por conseguinte, as exportações do país (TZOVENOS, 2013).

Nesse sentido, há dois marcos legais importantes referentes à inovação, derivados da

PITCE, a saber: a Lei da Inovação (Lei 10.973, de 02/12/04) e a Lei do Bem (Lei 11.196, de

21/11/05).

A Lei da Inovação foi regulamentada em 11 de outubro de 2005 pelo Decreto 5.563, a

fim de incentivar as parcerias entre empresas, universidades e centros de pesquisa e

tecnologia, de forma a instituir um ambiente propício e facilitado para a criação de inovações

científicas e tecnológicas e, consequentemente, promover a capacidade competitiva das

firmas nacionais (MOREIRA, et al. 2007).

Já o segundo marco legal, conhecido como Lei do Bem, foi regulamentada pelo

decreto 5.798, de 7 de junho de 2006 e define, principalmente, os incentivos fiscais para as

empresas que investem em P&D em inovação e tecnologia. Os benefícios explicitados no

Capítulo III da Lei do Bem se referem a (MOREIRA et al., 2007, p. 36):

i. Dedução, na apuração do Imposto de Renda devido, dos dispêndios com P&D, até

mesmo aqueles com instituições de pesquisa, universidades ou inventores

independentes;

ii. redução de IPI na compra de equipamentos destinados a P&D;

iii. depreciação acelerada dos equipamentos comprados para P&D;

iv. amortização acelerada dos dispêndios para aquisição de bens intangíveis para P&D;

v. crédito do imposto de renda retido na fonte incidente sobre as remessas ao exterior de

valores para pagamento de royalties relativos à assistência técnica ou científica e de

serviços especializados para P&D;

vi. redução a zero da alíquota do imposto de renda retido na fonte nas remessas efetuadas

para o exterior destinadas ao registro e manutenção de marcas, patentes e cultivares.

45

Os benefícios determinados por essa lei são imediatos, de forma que não é necessário

a submissão de projetos para serem autorizados, bastando apenas declarar os gastos em P&D

à Receita Federal (MITTELSTADT, 2012).

Uma crítica a essa lei se constitui no prejuízo à pequena empresa, uma vez que a

declaração do imposto de renda é feita sobre o lucro. Dessa forma, somente as empresas que

adotam o sistema de lucro real são beneficiadas, enquanto as pequenas e médias empresas

que, normalmente, optam pelo sistema Simples de declaração não recebem incentivos dessa

natureza (RUIZ et al., 2011).

2.4.3. Financiamentos para Inovação e P&D

Os financiamentos para atividades inovativas envolvem um alto nível de incerteza e

risco em relação ao processo de P&D, o que faz com que os recursos disponibilizados pelo

setor privado sejam reduzidos e os requisitos para a obtenção de empréstimos sejam elevados.

Nesse contexto, as possibilidades de investimento das empresas se restringem a recursos

próprios ou financiamentos públicos (CALIARI; RAPINI, 2014).

Os financiamentos públicos direcionados às atividades de inovação são

disponibilizados, em sua maioria, pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do BNDES e das Fundações

de Assistência à Pesquisa Estaduais (FAPs) (CALIARI; RAPINI, 2014).

O BNDES garante investimentos em áreas que beneficiam a infraestrutura das

empresas e, por conseguinte, permite um maior financiamento via recursos próprios nas

inovações. Já a FINEP tem como foco o estímulo à capacitação científica e tecnológica no

setor industrial, universidades e centros de pesquisa, por meio de Fundos Setoriais de

financiamento. Quanto às universidades e institutos de ciência e tecnologia, existe um alto

nível de dependência das FAPs devido à ausência da possibilidade de autofinanciamento

(CALIARI; RAPINI, 2014).

2.4.4. O Uso do Poder de Compra do Estado

A partir do PBM houve a ampliação do uso do Poder de Compra do Estado no setor

farmacêutico (GADELHA; COSTA, 2012).

A utilização desse instrumento tem o intuito de assegurar a demanda pelos produtos,

ainda que exista um diferencial de preço positivo no curto prazo. Assim, esse subsídio

46

colabora com o desenvolvimento de novos processos e produtos por parte das empresas

nacionais. Além disso, estimula a competitividade dessas empresas no longo prazo

(CALIARI; RAPINI, 2014).

Nesse sentido, algumas ações efetivas foram implementadas, como a instituição da Lei

12.349, de 2010, que passa a considerar uma margem de preferência para produtos e serviços

que sejam de desenvolvimento e inovação tecnológica realizados no país, em um valor de

25% sobre o preço dos produtos e serviços estrangeiros (CALIARI; RAPINI, 2014).

Já em 2012, foram definidas novas especificações para a indústria farmacêutica

através do Decreto 7.713, de 2012. Essa legislação estabelece a aplicação de margem de

preferência nas licitações realizadas no âmbito da Administração Pública Federal para

aquisição de fármacos e medicamentos, com valores diferenciados: produtos que utilizam

insumos produzidos no Brasil e que são resultado de inovações tecnológicas dentro do país

tem margem de preferência de 20%; produtos nacionais que utilizam insumos estrangeiros

possuem margem de preferência de 8% (CALIARI; RAPINI, 2014).

2.4.5. Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde (GECIS)

Todas as orientações mais recentes acerca das políticas de apoio ao desenvolvimento

da indústria farmacêutica, bem como do complexo industrial da saúde como um todo, foram

estabelecidas e conduzidas pelo Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde (GECIS)

(VARGAS; BURD, 2012).

O GECIS foi criado por decreto presidencial em 12 de maior de 2008, vinculado ao

Ministério da Saúde. O grupo tem como objetivo a promoção de medidas e ações para

efetivação do marco regulatório referente à estratégia de desenvolvimento do Governo

Federal para a área da saúde, de acordo com as orientações das políticas nacionais de

fortalecimento do complexo produtivo e de inovação em saúde (BRASIL, 2014).

De modo geral, o Grupo é responsável pelas decisões e discussões acerca da condução

políticas industriais e de inovação para Sistema de Inovação de Saúde (CALIARI; RAPINI,

2014).

2.4.6. Parceria Público-Privada (PPP) e Parceria do Desenvolvimento Produtivo (PDP)

A formação das parcerias público-privadas (PPP’s) surgiu a partir do intuito

governamental de melhorar a eficiência no serviço público, através da Lei Federal 11.079/04.

47

De modo mais específico, foram institucionalizadas a partir de 2008, por meio da Portaria

978, inclusas no Sistema de Inovação em Saúde (CALIARI; RAPINI, 2014).

Com essa lei surgiu o modelo de concessão administrativa, utilizada no setor da saúde,

em que o Estado é usuário de um serviço, ao mesmo tempo em que é responsável pelo

pagamento do parceiro privado. Ao colaborar com o processo produtivo dos laboratórios

públicos, as empresas privadas têm participação nos lucros das vendas realizadas ao Estado

(BATISTA, 2012; CALIARI; RAPINI, 2014).

As parcerias do Desenvolvimento Produtivo (PDP), de forma mais recente, foram

estabelecidas a partir da Portaria 837, de 2012. Do mesmo modo que as PPP’s, esse tipo de

parceria estabelece o relacionamento entre as esferas pública e privada na produção de

medicamentos. A diferença se traduz na obrigação de transferência de tecnologia do setor

privado para os laboratórios públicos (CALIARI; RAPINI, 2014).

Esse tipo de parceria, além da diminuição dos custos originada pelo licenciamento do

produto, permite a capacitação tecnológica pelo conhecimento garantido pela transferência

tecnológica. Além de assegurar um ambiente sustentado pelos recursos no curto prazo,

garante melhores perspectivas para o desenvolvimento do setor no longo prazo (CALIARI;

RAPINI, 2014).

No ano de 2013 foram estabelecidos 104 parcerias para a produção de 97 produtos em

Saúde no Brasil, abrangendo 19 laboratórios públicos e 60 privados, de modo a economizar

de R$ 4,1 bilhões ao ano (CALIARI; RAPINI, 2014).

2.4.7. Revisão da Resolução nº 2 da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED)

A Resolução CMED nº 2, de 5 de março de 2004, que define os critérios para os

preços de produtos novo e novas apresentações, foi alterada pela Resolução CMED nº 4, de

18 de dezembro de 2006 (BRASIL, 2014).

Essa alteração trata do Coeficiente de Adequação de Preços (CAP), um desconto

mínimo que passa a ser obrigatório nas vendas de algumas categorias de medicamentos ao

setor público, por parte de todos os ofertantes dos produtos, sejam empresas distribuidoras,

produtoras, representantes e farmácias (BRASIL, 2014).

O CAP, que ficou definido em 24,69% é aplicado sobre o preço de fábrica que resulta

no preço máximo a ser cobrado do governo (BRASIL, 2014).

48

2.4.8. Alteração da Lei de Licitações nº 8666

A lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 trata das regras gerais sobre licitações e contratos

administrativos referentes a obras, serviços, compras, cessões e alugamentos no domínio dos

poderes públicos (BRASIL, 2014).

Essa lei foi alterada por outra lei de nº 12.715, que em seu artigo 73 passa a desobrigar a

licitação nos contratos em que existir transferência de tecnologia de produtos estratégicos para

o Sistema Único de Saúde (SUS), até mesmo na aquisição destes produtos durante as etapas

de assimilação tecnológica (BRASIL, 2014).

Da mesma forma, libera os órgãos ou entidades que produzem produtos estratégicos para

o SUS do limite temporal antes estabelecido para sua criação, em que era permitida à criação

somente em data anterior a vigência da lei nº 8.666 (BRASIL, 2014).

A adoção dessa mudança em favor de métodos específicos de compra para o setor de

tecnologia é capaz de tornar os processos de desenvolvimento de inovação no setor da saúde

mais rápidos, especialmente na indústria farmacêutica (AGENCIACTI, 2014).

2.4.9. Revisão do Marco de Acesso à Biodiversidade

O Brasil detém a maior parte da biodiversidade mundial, de modo a apresentar um

grande potencial na criação de princípios ativos no setor de fármacos e medicamentos para a

indústria farmacêutica. No entanto, o acesso aos recursos naturais disponíveis se encontrava

limitado por um marco legal de acesso a biodiversidade, criado como forma de proteção ao

uso ilegal desses recursos (IPDFARMA, 2014; ETHOS, 2014). Essa barreira ocorre por meio

da regulação do acesso ao patrimônio genético, ou seja, através do controle das atividades de

pesquisa, desenvolvimento e inovação derivadas da biodiversidade brasileira, bem como da

distribuição dos benefícios decorrentes de seu uso, que só pode ser efetivado por meio de

autorização do Estado (AZEVEDO, 2005; SACCARO JR., 2011).

Pelo fato de consistir em uma medida provisória, sem uma análise profunda da

questão, essa regulamentação resultou em contrariedades por parte de todos os agentes

envolvidos. A principal desaprovação partiu da comunidade acadêmica, uma vez que esse

marco cria regras muito rígidas e entraves burocráticos ao acesso ao patrimônio genético para

os pesquisadores, de forma a prejudicar o progresso científico local e, até mesmo a própria

distribuição de benefícios, visto que eles não chegam a ser produzidos (IPDFARMA, 2014;

CLEMENT, 2007).

49

Nesse sentido houve uma discussão para revisão da Medida Provisória nº 2.186-16, de

2001. A revisão desse marco legal teve o intuito de assegurar juridicamente as atividades de

pesquisa e inovação feitas a partir da biodiversidade brasileira e solucionar as dificuldades

relativas ao acesso aos recursos naturais, enfrentadas pela indústria farmacêutica há mais de

uma década (IPDFARMA, 2014).

O projeto de lei que propõe um novo marco regulatório nesse âmbito compreende uma

transformação na medida anterior, de forma a beneficiar a pesquisa científica garantindo o

acesso a recursos genéticos, reduzir a burocracia dos processos e promover a biotecnologia

local (BRASIL, 2014).

2.4.10. Ciência sem Fronteiras

Ciências sem Fronteiras se constitui em um programa de promoção da ciência,

tecnologia e inovação criado em 2011 pelo governo federal brasileiro. O incentivo dessas três

áreas se dá através do intercâmbio e da mobilidade internacional de alunos e pesquisadores

disponíveis a estabelecer uma relação de conhecimento que possibilitem a competitividade e a

capacitação tecnológica do país (BRASIL, 2014).

O subsídio concedido através de bolsas de estudos busca promover algumas áreas que

demandam inovação e tecnologia para o seu desenvolvimento, com destaque para os setores

de biologia, ciências biomédicas e da saúde, fármacos, biodiversidade e bioprospecção

(BRASIL, 2014).

As principais instituições promotoras do programa são o Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (Capes) (BRASIL, 2014).

Uma iniciativa recente, do ano de 2013, que merece destaque se refere à parceria da

Capes com a empresa farmacêutica Sanofi no domínio do Programa, de forma possibilitar a

participação de pesquisadores locais em processos essenciais à pesquisa e desenvolvimento de

um fármaco, nos núcleos de pesquisa internacionais da empresa. A parceria, além de

proporcionar a capacitação dos pesquisadores, oferece a possibilidade de colocação na Sanofi

(BRASIL, 2014).

Essa associação de uma grande empresa farmacêutica ao programa foi um passo

importante para fomentar o conhecimento nessa área e abre caminho para outras empresas do

setor farmoquímico aderirem a este modelo de cooperação que possui o potencial de difundir

mais rapidamente a inovação no setor (BRASIL, 2014).

50

3. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

A estrutura de oferta verificada na evolução histórica da indústria farmacêutica

brasileira possui um viés internacional desde já no começo do século XX. Essa tendência se

acentuou na década de 1950 com a chegada das multinacionais e a internacionalização da

indústria, tendo se mantido até a década de 1970, momento em que as firmas nacionais

começaram a obter espaço no mercado doméstico através da decodificação dos produtos

originas via engenharia reversa, facilitada pela Lei de Patentes. Essa prática, contudo, não

promoveu incentivo à aprendizagem de produção e de P&D, de forma que ainda na década de

90 as empresas nacionais se posicionavam em etapas de P&D de menor conteúdo tecnológico.

Ainda na década de 1970, algumas atuações governamentais buscaram o

desenvolvimento e diminuição da dependência externa do setor industrial farmacêutico, como

a criação da Central de Medicamentos (CEME), em 1971, e da Companhia de

Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), em 1976, uma empresa privada, mas incorporada

na agenda de ações do governo. No entanto, tanto a CEME quanto a Codetec passaram por

dificuldades financeiras e problemas de corrupção. Assim, é possível depreender que o país

perdeu uma janela de oportunidade que por meio dessas duas intervenções – associadas aos

demais apoios mencionados no texto – poderiam dar suporte à indústria nacional.

Os anos 1980 compreenderam tentativas de proteção à produção doméstica de

fármacos e de redução da dependência da indústria farmacêutica em relação à produção de

medicamentos. Porém, as necessidades macroeconômicas da década e a liberalização de

importações no início da década de 90 acabaram por favorecer as empresas multinacionais e,

assim, intensificar a dependência externa na oferta dentro do território nacional. Em suma, a

década de 1990 representou o período de maior transformação da indústria farmacêutica

nacional, alterando de forma radical seu ambiente competitivo. Essa fase foi marcada pelas

políticas industriais horizontais, tendo alguns resultados como: aumento das importações,

baixo crescimento das exportações, aumento dos preços; aquisições de firmas nacionais por

estrangeiras e estagnação da produção local (CALIARI; RUIZ, 2013).

Em meio a essa movimentação nociva à oferta nacional, em 1996, com a lei das

patentes, houve o intuito de formalizar de maneira legal a instituição do poder das empresas

estrangeiras. Essa lei foi conveniente às empresas multinacionais, de forma a promover um

aumento do número de suas patentes e, por conseguinte, a ampliação do poder das mesmas no

mercado nacional. Dessa forma, a Lei das Patentes representou uma barreira para as empresas

51

nacionais, sendo que estas possuíam dificuldades para alcançar escala suficiente na produção

e inovação para entrar em um mercado dominado por multinacionais. Nesse sentido, a

possibilidade de inserção em mercados menos dinâmicos se mostrou como uma viável

solução para as empresas nacionais com a implantação da lei de medicamentos genéricos, em

1999.

A política de medicamentos genéricos no Brasil foi responsável pela mudança

estrutural do mercado de medicamentos, bem como de todo o setor industrial farmacêutico,

não admitindo dúvidas dos resultados positivos quanto ao aumento de relevância e de

capacidade produtiva das empresas nacionais (TOLENTINO, 2010).

Antes da introdução dos genéricos, o mercado de medicamentos do país era

constituído, em sua maior parte, por empresas internacionais. Com a política de genéricos, o

mercado desse tipo de medicamento teve um crescimento superior ao mercado farmacêutico

total no país. Esse contexto permitiu o aumento da parcela de mercado dominada por

empresas locais, uma vez que conseguiram explorar as oportunidades ocasionadas pela

política, adquirindo capacitação produtiva, sobretudo nas fases de formulação dos

medicamentos (TOLENTINO, 2010; REIS; LANDIM; PIERONI, 2011).

Embora o mercado farmacêutico nacional ainda se apresente dominado por grandes

firmas multinacionais em alguns segmentos, a ampliação da participação de empresas locais

de capital nacional durante os anos 2000 foi significativa, tendo aumentado mais de 20% entre

os anos de 2003 e 2010. Enquanto em 1998 apenas uma empresa se encontrava entre as dez

maiores firmas do setor no país, já em 2010 essa participação aumentou para três empresas

farmacêuticas nacionais, a saber, Aché, EMS e Eurofarma. Ou seja, foi um aumento

significativo para um curto período de tempo (CALIARI; RUIZ; 2013). Desse modo, é

possível depreender que a política de genéricos e, o fortalecimento desse tipo de produto no

mercado, permitiu um desenvolvimento da capacidade produtiva que foi responsável por

transformar o setor industrial farmacêutico de forma estrutural (VARGAS; BURD, 2012).

Apesar da primeira movimentação das empresas nacionais, o mercado de

medicamentos genéricos tem visto o incremento de oferta via entrada de empresas

multinacionais. Esse cenário tem acontecido, em alguma parte, por meio da aquisição de

firmas nacionais já bem instaladas, como forma de capturar suas vantagens competitivas

produtivas e comerciais (VARGAS; BURD, 2012; CALIARI, 2014). Além disso, as empresas

nacionais, ainda que tenham aumentado sua capacidade produtiva e participação no mercado

nacional por meio dos genéricos, apresentam uma pequena participação no espaço de

52

produtos tecnológicos de maior valor agregado, principalmente na área de desenvolvimento

de biotecnológicos (VARGAS et al.; 2012).

Nesse sentido, algumas iniciativas foram tomadas pelas firmas nacionais, como

aumento de processos que incorporem inovação, aumento dos gastos em P&D e parcerias

com outras empresas. No ano 2000 foi criada a Coinfar, uma joint-venture para P&D,

formada pela Biolab Sanus, União Química e Biosintética. Em 2005, foi criada a Ybios, joint-

venture entre o grupo Centraflora, Natura e Orsa Florestal, com ênfase na agregação de valor

à biodiversidade nacional. A Biolab e a Eurofarma constituíram a Incrementha, com foco na

criação de inovações tecnológicas para novos produtos (TOLENTINO, 2010).

Mais recentemente, empresas domésticas criaram outras joint-ventures. Em particular,

destacam-se a Orygen Biotecnologia S.A., controlada pelos proprietários Biolab Sanus,

Crsitália e Eurofarma, com a finalidade de produção de biotecnológicos, uma vez que essas

firmas não possuem capacidades financeiras e tecnológicas separadamente para realizar esse

tipo de produção e a Bionovis S.A., possuindo como proprietários Aché, EMS, Hypermarcas

e União Química. Essa joint-venture, do mesmo modo, tem por objetivo o desenvolvimento

de produtos biotecnológicos (CALIARI, 2014). Essas iniciativas demonstram que a

capacitação tecnológica passou a fazer parte da estratégia de algumas das grandes empresas

nacionais.

Assim, pode-se destacar uma tendência positiva do país em relação à capacitação

inovativa do setor industrial farmacêutico nos últimos dez anos. Apesar das deficiências em

relação às grandes multinacionais, existe um considerável aumento dos esforços tecnológicos

e de inovação para as firmas nacionais, com destaque para o aumento crescente da taxa entre

P&D e receita de vendas (PIERONI; PEREIRA; MACHADO, 2011; SANTOS; PINHO,

2012).

Concomitantemente à capacitação produtiva privada, a década passada contemplou

uma sequência de políticas do Governo Federal evidenciando o setor da saúde e,

consequentemente, sinalizando a importância do desenvolvimento da capacidade tecnológica,

além da produtiva, para o progresso da indústria farmacêutica no país. De formas diversas,

várias ações destacadas dentro das políticas industriais promulgadas desde 2003 (primeiro a

PITCE e depois a PDP e a PBM) tem sinalizado a utilização de instrumentos verticais e

horizontais para promover fomento às atividades de produção, ciência e inovação na indústria

farmacêutica nacional. Na PITCE pôde ser destacada a relevância do Financiamento via

Profarma, a instituição do Grupo de Apoio ao Complexo Industrial da Saúde (GECIS) e as

Leis da Inovação e Lei do Bem. A PDP intensificou essas políticas e promoveu o espaço para

53

a utilização de parcerias público-privadas e parcerias de desenvolvimento produtivo. A PBM

tem se mostrado também uma estratégia de continuidade na utilização dessas políticas, com a

inclusão do uso do poder de compra do Estado, de novas capacitações científicas (como por

exemplo o Programa Ciência Sem Fronteiras) e de um ambiente regulatório modificado para o

uso da biodiversidade nacional.

Especificamente em relação às PPP’s, essas parcerias permitem, além do benefício à

capacidade produtiva de princípios ativos, maior rapidez na promoção da capacitação

tecnológica e inovativa no setor farmacêutico, abrindo espaço para o desenvolvimento de

medicamentos biotecnológicos no país, um dos resultados esperados das PPP’s. Até o início

de 2011, cinco parcerias público-privadas compreendiam a elaboração e fabricação de

produtos biológicos (REIS; LANDIM; PIERONI, 2011).

A incorporação da biotecnologia e dos medicamentos biológicos pelas empresas

farmacêuticas nacionais é importante no sentido de sustentar a competitividade do setor no

longo prazo, especialmente pela expectativa de aumento da concorrência no mercado de

genéricos, absorvido, em parte, pelas multinacionais (REIS; PIERONI; SOUZA, 2010). Nesse

sentido, nos últimos anos é possível observar uma maior atenção ao mercado de

medicamentos biológicos, por parte das empresas domésticas.

Em suma, a inserção na pesquisa e produção biotecnológica se apresenta como uma

janela de oportunidade para a indústria farmacêutica nacional, capaz de ser sustentada pelas

firmas consolidadas no país e por instrumentos eficazes por parte do Estado (REIS;

LANDIM; PIERONI, 2011).

Assim, pode-se concluir que por meio da união entre políticas industriais e parcerias

com empresas privadas, esse novo caminho biotecnológico pode representar uma tendência

promissora, uma vez que a incorporação de capacidades tecnológicas e inovativas na

produção de medicamentos, ao agregar valor aos produtos, é capaz de promover o

desenvolvimento da indústria farmacêutica (REIS; LANDIM; PIERONI, 2011; PIMENTEL

et al.; 2013). No sentido amplo da avaliação da evolução histórica da indústria farmacêutica

realizada nesse trabalho, o momento atual parece ser o mais promissor no sentido de fomento

dessas atividades.

54

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