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INDICADORES DE ECO-EFICIÊNCIA: APLICAÇÃO À INDÚSTRIA DE AÇO NO BRASIL Mary Laura Delgado Montes (USP) [email protected] Mariana Maia de Miranda (USP) [email protected] Este trabalho apresenta a avaliação da eco-eficiência da indústria de aço no Brasil por meio de indicadores de consumo de energia, consumo de água, consumo de materiais, emissão de CO2 e geração de resíduos. Essa avaliação foi realizada parra o intervalo de anos de 2003 a 2008 e, em geral, foi obtido um aumento na eco-eficiência da produção do aço no país. Pôde-se observar que o Brasil tem adotado medidas para melhorar a eco-eficiência do setor através da substituição de combustíveis, da reciclagem de materiais e do reaproveitamento de resíduos. Por fim, a aplicação do conceito de eco- eficiência se mostrou bastante útil para avaliar o comportamento ao longo do tempo de como as dimensões ecológicas e econômicas estão se relacionando. Palavras-chaves: Indicadores de eco-eficiência, aço, Brasil, sustentabilidade XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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INDICADORES DE ECO-EFICIÊNCIA:

APLICAÇÃO À INDÚSTRIA DE AÇO NO

BRASIL

Mary Laura Delgado Montes (USP)

[email protected]

Mariana Maia de Miranda (USP)

[email protected]

Este trabalho apresenta a avaliação da eco-eficiência da indústria de

aço no Brasil por meio de indicadores de consumo de energia,

consumo de água, consumo de materiais, emissão de CO2 e geração de

resíduos. Essa avaliação foi realizada parra o intervalo de anos de

2003 a 2008 e, em geral, foi obtido um aumento na eco-eficiência da

produção do aço no país. Pôde-se observar que o Brasil tem adotado

medidas para melhorar a eco-eficiência do setor através da

substituição de combustíveis, da reciclagem de materiais e do

reaproveitamento de resíduos. Por fim, a aplicação do conceito de eco-

eficiência se mostrou bastante útil para avaliar o comportamento ao

longo do tempo de como as dimensões ecológicas e econômicas estão

se relacionando.

Palavras-chaves: Indicadores de eco-eficiência, aço, Brasil,

sustentabilidade

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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1. Introdução

O reconhecimento de que as atividades humanas causam impactos no meio ambiente levou à

procura por uma maneira de atender as necessidades da sociedade de uma forma mais

equilibrada, resultando na definição do conceito de desenvolvimento sustentável que é “o

desenvolvimento que assegura as necessidades da geração atual sem comprometer a

capacidade das gerações futuras de assegurarem as suas próprias necessidades” (WCED,

1987). Desde a criação desse termo, muitos países têm buscado formas de atingi-lo e é muito

importante que existam ferramentas adequadas para medir quanto à sociedade está se

aproximando ou se afastando do desenvolvimento sustentável.

Nessa tarefa de medir o progresso em direção ao desenvolvimento sustentável, os indicadores

se mostram muito úteis, pois possuem a capacidade de retratar as mudanças do sistema

estudado ao longo do tempo e ajudar na tomada de decisão (MEADOWS, 1998). Diversos são

os indicadores que podem ser utilizados, mas um que tem se mostrado bastante importante e

capaz de traduzir os requisitos da sustentabilidade em metas de trabalho nas indústrias,

governos e outras organizações é o indicador de Eco-Eficiência – EE (OECD, 1998).

O conceito de EE surgiu no início da década de 1990 para descrever atividades que criam

valor econômico enquanto reduzem continuamente os impactos ambientais e o uso de

recursos. A primeira palavra do conceito engloba tanto os recursos ecológicos quanto os

econômicos e a segunda sugere que seja feito um uso ideal deles (DESIMONE; POPOFF;

WBCSD, 1997). Assim, o conceito expressa a “eficiência com que os recursos ecológicos são

utilizados para satisfazer as necessidades humanas” (OECD, 1998). Esse indicador tem sido

utilizado por diversos países e setores industriais para avaliar o desempenho ambiental das

atividades econômicas.

Particularmente, um setor que se destaca é a siderurgia, responsável pela produção do aço. O

aço é uma commodity de extrema importância para a economia mundial, principalmente se

considerarmos as atividades econômicas subsequentes que fazem uso de seus produtos como

a indústria automobilística e a construção civil. Além disso, seu processo produtivo está

relacionado a um grande consumo de energia, de recursos renováveis e não-renováveis, além

da geração de resíduos e de emissão de gases de efeito estufa. De acordo com IEA (2009),

entre os setores industriais, o setor do aço é o segundo maior consumidor de energia e o maior

emissor de CO2. Ainda, Caneghem et. al (2010) mostram que podem haver outros impactos

ambientais associados a produção do aço como acidificação, formação fotoquímica do ozônio,

toxicidade humana, ecotoxicidade, eutrofização e consumo de água.

No Brasil, o setor siderúrgico é extremamente importante. A indústria do aço está presente em

10 estados brasileiros e é composta por 27 usinas que produziram 26,5 milhões de toneladas

de aço bruto no ano de 2009, colocando o Brasil no 9° lugar no ranking da produção mundial

(INSTITUTO AÇO BRASIL, 2010).

Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo avaliar a EE da indústria do aço através de

indicadores de produção, faturamento, consumo de energia, água e materiais, emissão de CO2

e geração de resíduos no Brasil.

2. Metodologia

O cálculo dos indicadores de EE foi baseado na abordagem do World Business Council for

Sustainable Development (WBCSD, 2000) e na literatura existente (THANT;

CHARMONDUSIT, 2010).

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Os indicadores de EE relacionam o valor do produto e o seu desempenho ambiental através da

expressão abaixo (1) em que o valor do produto pode ser a quantidade de bens produzidos, ou

produção, (em unidades de massa) ou o faturamento (em unidades monetárias), enquanto a

influência ambiental se relaciona ao impacto causado no ambiente pela criação do produto:

(1)

O WBCSD recomenda a utilização da razão valor do produto por influência ambiental, ao

invés do contrário, pois dessa forma um aumento na razão da eficiência reflete uma melhoria

positiva no desempenho do produto a semelhança das análises econômicas.

Para a influência ambiental foram selecionados os seguintes indicadores: consumo de energia,

consumo de água, consumo de materiais, emissão de CO2 e geração de resíduos.

Neste trabalho, foram definidos dois grupos de indicadores de EE:

Grupo 1(G1), relaciona as influências ambientais à produção;

Grupo 2(G2), relaciona as influências ambientais ao faturamento.

A seguir, o método de cálculo e as fontes de dados para cada um desses indicadores inseridos

nos Grupos 1 e 2 são apresentados.

2.1. Indicadores de valor do produto

2.1.1. Indicador de produção

Expressa a quantidade de bens produzidos em unidade de massa. Os dados foram obtidos no

Anuário Estatístico do Setor Metalúrgico (MME, 2007; 2008; 2009) e referem-se à produção

de ferro-gusa e aço em toneladas (t).

2.1.2. Indicador de faturamento

Representa todas as receitas do setor expressas em unidade monetária. Os dados foram

obtidos no Anuário Estatístico do Setor Metalúrgico (MME, 2007; 2008; 2009) e referem-se

ao faturamento obtido com a venda de ferro-gusa e aço em dólar (US$).

2.2. Indicadores de influência ambiental

2.2.1. Indicador de consumo de energia

Expressa a quantidade de energia consumida em unidades energéticas e deve incluir

eletricidade, aquecimento, combustíveis fósseis, energia derivada de outros combustíveis (por

exemplo, biomassa e resíduos) e energia não-derivada de combustíveis (por exemplo, eólica e

solar). Os dados foram obtidos no Balanço Energético Nacional (MME, 2010) e referem-se ao

consumo de energia pela produção do ferro-gusa e aço. Foi considerado o consumo de: gás

natural, carvão vapor, carvão metalúrgico, óleo diesel, óleo combustível, GLP, querosene, gás

de cidade e coqueria, coque de carvão mineral, eletricidade, carvão vegetal, outras

secundárias de petróleo e alcatrão. Esses dados foram expressos em joule (J).

2.2.2. Indicador de consumo de água

Expressa a quantidade de água comprada ou obtida a partir do subsolo em unidades de

volume. O consumo de água foi calculado com base nos dados do Relatório de

Sustentabilidade do Instituto Aço Brasil (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2004, 2007, 2008,

2009) que representa o setor no país. Esses dados consideram o consumo de água doce

captada ou adquirida. Há também o consumo de água salgada ou salobra, mas dados

referentes a esse consumo só começaram a ser monitorados pelo Instituto a partir do ano de

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2007, sendo, portanto excluídos dessa análise. Os dados de consumo de água estão expressos

em m3.

2.2.3. Indicador de consumo de materiais

Expressa a soma de todos os materiais comprados de fontes externas e deve incluir matérias-

primas para conversão, outros materiais do processo, tais como catalisadores e solventes,

mercadorias ou componentes pré- ou semi-acabados, excluindo embalagens, consumo de água

e materiais usados para fins energéticos. Os dados foram obtidos no Anuário Estatístico do

Setor Metalúrgico (MME, 2007; 2008; 2009) e consideram o consumo de carvão mineral

coqueificável, minério de ferro, minério de manganês, sucata de ferro e aço, ferro-esponja,

ferroligas, ferro-gusa, dolomita, zinco, calcário, fluorita, estanho, chumbo, alumínio e

eletrodos. Esses dados foram expressos em toneladas (t).

2.2.4. Indicador de emissão de CO2

A metodologia do WBCSD sugere que o indicador de emissões seja calculado para gases do

efeito estufa em geral, que inclui CO2, CH4, N2O, HFC's, PFC's e SF6. No entanto, optou-se

por avaliar somente as emissões de CO2 por uma questão de disponibilidade de dados.

Os dados foram obtidos a partir dos Inventários Brasileiros de Emissões (MCT, 2010a;

2010b) e estão relacionadas aos processos de produção de produção de sínter, ferro-gusa, aço

e cal. Estas emissões estão expressas em toneladas de CO2 (tCO2).

2.2.5. Indicador de geração de resíduos

Expressa a quantidade de resíduos destinados para disposição final. Os dados foram obtidos

no Relatório de Sustentabilidade do Instituto Aço Brasil (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2004,

2007, 2008, 2009) e estão expressos em toneladas (t).

3. Resultados e discussão

3.1. Descrições do processo

A produção do aço, de forma geral, acontece em quatro etapas: preparação da carga, redução

do minério de ferro, refino e laminação (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2010), conforme está

apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Fronteiras do sistema de produção de aço

Entradas Saídas Limites do processo

Preparação da carga Matéria Prima - Sucata de ferro e aço - Ferro-gusa

- Ferro-esponja

- Ferroligas

- Eletrodos

Resíduos

- Lamas

- Finos e pós - Sucata de ferro e aço

- Agregados siderúrgicos

- Água

Emissões ao ar

- CO2

Recursos naturais - Água

- Carvão mineral coqueificável - Minério de ferro

- Minério manganês

- Dolomita - Zinco

- Calcário

- Fluorita - Estanho

- Chumbo

- Alumínio

Redução

Refino

Lingotamento

Laminação

Produtos terminados

Ferro-gusa

(líquido)

Aço (líquido)

Sinter e Coque

Aço (sólido)

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Inicialmente, a matéria-prima é preparada para melhoria do rendimento e economia do

processo. Assim, o minério de ferro é aglomerado utilizando-se cal e finos de coque dando

origem ao sinter em um processo chamado sinterização e o combustível/agente redutor a ser

utilizado no alto forno é preparado.

Dependendo do tipo de processo de redução e do alto forno empregados, utiliza-se carvão

mineral, carvão vegetal ou gás natural. Em altos fornos a coque, o carvão mineral,

previamente transformado em coque em uma coqueria, serve como combustível aquecendo o

minério e transformando-o em ferro-gusa (metal líquido) e como agente redutor retirando o

oxigênio do minério. Nos altos fornos a carvão vegetal, a madeira previamente transformada

em carvão em fornos de alvenarias, tem o mesmo papel do carvão mineral e também é

produzido o ferro-gusa. Quando se utiliza o gás natural, o processo de retirada do oxigênio é

chamado de redução direta. Nesse processo, o combustível é o gás natural e o agente redutor

pode ser o hidrogênio, o monóxido de carbono, certas misturas desses dois gases e o carbono.

Ainda, diferentemente dos outros dois tipos de redução, o minério é mantido sólido e forma-

se o ferro esponja. Em seguida, o ferro-gusa é transformado em aço em um processo de refino

em que ocorre a diminuição do teor de carbono e das impurezas dependendo das

características desejadas para o aço. As tecnologias mais utilizadas são os conversores a

oxigênio (Basic Oxygen Furnace, BOF) e o arco elétrico (Electric Arc Furnace, EAF). O aço

líquido é solidificado em equipamentos de lingotamento contínuo para produzir semi-

acabados, lingotes e blocos, que no processo de laminação são transformados em uma grande

variedade de produtos siderúrgicos, cuja nomenclatura depende de sua forma e/ou

composição química.

Figura 2 – Processo produtivo do aço

A produção de aço a partir das etapas descritas anteriormente (Figura 2) é característica das

usinas integradas que representam 66% da produção brasileira (INSTITUTO AÇO BRASIL,

2010). Outra possibilidade é a produção de aço a partir de ferro-gusa, ferro esponja ou sucata

metálica adquiridos de terceiros e esta rota é utilizada nas usinas semi-integradas.

Minério de ferro, cal e

finos de coque Sinterização

Redução

Refrigeração

Refino

Lingotamento

Laminação

Sinter

Ferro-gusa

Ferro-gusa

Aço

Lingotes e blocos

de aço

Produtos

Carvão, sucata, dolo-mita,

Zn, Pb, Al, Sn

Água fria

Sucata

Sucata, água morna

Humos, CO2, escória

Água morna

CO2, sílica, carvão,

cinzas, escoria

CO2, calcário

Carvão mineral, coque, ar,

minério manganês

Água fria

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3.2. Os indicadores de EE

Os dados utilizados para o cálculo dos indicadores de EE estão apresentados na Tabela 1 e os

resultados obtidos nas Figuras 3 a 7. Os indicadores de EE que se referem à relação entre

produção e influências ambientais são chamados de G1 e os indicadores de EE que se referem

à relação entre faturamento e influências ambientais são chamados de G2.

Indicador 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Percentual

03/08

GR

UP

O 1

Produção (t) 6.32E+07 6.75E+07 6.55E+07 6.34E+07 6.94E+07 6.86E+07 8.55

Faturamento (1000 US$) 1.27E+10 2.01E+10 2.49E+10 2.75E+10 3.58E+10 4.81E+10 278.88

Consumo de energia (J) 6.99E+17 7.51E+17 7.31E+17 7.11E+17 7.64E+17 7.63E+17 9.14

Consumo de água (m3) 5.01E+08 4.93E+08 5.01E+08 4.62E+08 3.39E+08 3.54E+08 -29.38

Consumo de materiais (t) 9.18E+07 9.45E+07 8.84E+07 9.00E+07 1.00E+08 1.01E+08 10.23

Emissão de GEE (tCO2) 4.45E+07 4.48E+07 4.31E+07 3.96E+07 4.05E+07 4.17E+07 -6.42

Geração de resíduos (t) 1.36E+07 1.09E+07 1.27E+07 1.30E+07 2.11E+07 2.30E+07 69.68

GR

UP

O 2

EE do consumo de energia (tp/J) 9.03E-11 8.98E-11 8.96E-11 8.91E-11 9.08E-11 8.99E-11 -0.54

EE do consumo de água (tp/m3) 1.26E-01 1.37E-01 1.31E-01 1.37E-01 2.04E-01 1.94E-01 53.71

EE do consumo de materiais (tp/t) 6.88E-01 7.14E-01 7.41E-01 7.04E-01 6.90E-01 6.78E-01 -1.53

EE da emissão de GEE (tp/tCO2) 1.42E+00 1.51E+00 1.52E+00 1.60E+00 1.71E+00 1.65E+00 16.00

Produção (t) 6.32E+07 6.75E+07 6.55E+07 6.34E+07 6.94E+07 6.86E+07 8.55

Fonte: Elaboração própria

Tabela 1 – Indicadores de EE para a indústria de aço no Brasil

3.2.1. EE de consumo de energia.

A evolução do indicador de EE de consumo de energia ao longo dos anos está representada na

Figura 3. Em (a) pode-se observar que o indicador de EE é decrescente, com uma recuperação

no ano de 2007, mas acumulando uma redução de 0,54% de 2003 para 2008.

E isso ocorre, pois apesar das duas variáveis do indicador apresentar crescimento, o consumo

de energia cresce a uma taxa maior que a produção de ferro-gusa e aço. Em (b) o indicador de

EE aumenta progressivamente no período de 2003 a 2008, levado principalmente pelo grande

crescimento do faturamento que foi de 278,88% enquanto o consumo de energia obteve um

crescimento menor, de 9,14%.

Da avaliação conjunta de Figura 3 (a) e (b), observa-se que o faturamento tem crescido a uma

taxa muito maior que a produção. Ainda, o crescimento na produção levou a um maior

consumo de energia, mostrando que não houve uma melhoria da eficiência do consumo de

energia em relação à tonelada de ferro-gusa e aço produzida. Dentre as fontes energéticas

utilizadas, o carvão mineral é a maior representando 72% da energia utilizada pelas

siderúrgicas (INSTITUTO AÇO BRASIL, 2009), mas quem apresentou o maior crescimento

no consumo, de 27%, no período de 2003 a 2008 foi o gás natural.

3.2.2. EE de consumo de água

A evolução do indicador de EE de consumo de água ao longo dos anos está representada na

Figura 4. Tanto na Figura 4 (a) quanto em (b) observa-se um aumento dos indicadores de EE,

pois o consumo de água reduziu 29,38% entre 2003 e 2008 enquanto a produção e o

faturamento aumentaram, respectivamente, de 8,55% e 278,88%.

A redução do consumo de água é um fato importante, pois a produção do aço demanda

grandes volumes de água, principalmente nos sistemas de refrigeração de máquinas,

equipamentos e produtos. Nesse sentido, as usinas têm adotado cada vez mais a reciclagem

interna de água que alcançou, em 2009, uma taxa de 85%, reduzindo o descarte e a demanda

por captação da água dos rios.

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3.2.3. EE de consumo de materiais

A evolução do indicador de EE de consumo de materiais ao longo dos anos está representada

na Figura 5: Em (a) o indicador de EE apresenta inicialmente um crescimento, mas no período

de 2003 a 2008 a queda é de 1,53%, justificado pelo aumento maior do consumo de materiais

do que da produção. Em (b) o indicador de EE cresce progressivamente, pois o faturamento

cresce a taxas muito maiores que o consumo de materiais.

8.8E-11

8.9E-11

8.9E-11

9.0E-11

9.0E-11

9.1E-11

9.1E-11

0.0E+00

1.0E+07

2.0E+07

3.0E+07

4.0E+07

5.0E+07

6.0E+07

7.0E+07

8.0E+07

9.0E+07

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Eco

-efi

ciê

nci

a (t

p/J

)

Pro

du

ção

(t)

e C

on

sum

o d

e e

ne

rgia

(1

01

0 J)

(a)

Produção Consumo de energia Indicador de eco-eficiência G1

0.00E+00

1.00E-08

2.00E-08

3.00E-08

4.00E-08

5.00E-08

6.00E-08

7.00E-08

0.00E+00

1.00E+07

2.00E+07

3.00E+07

4.00E+07

5.00E+07

6.00E+07

7.00E+07

8.00E+07

9.00E+07

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Eco

-efi

ciê

nci

a (U

S$/J

)

Fatu

ram

en

to (1

00

0U

S$) e

Co

nsu

mo

de

e

ne

rgia

(1

01

0 J)

(b)

Faturamento Consumo de energia Indicador de eco-eficiência G2

Figura 3 – EE do consumo de energia (a) G1 e (b) G2.

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Figura 4 – EE do consumo de água (a) G1 e (b) G2

6.4E-016.5E-016.6E-016.7E-016.8E-016.9E-017.0E-017.1E-017.2E-017.3E-017.4E-017.5E-01

0.0E+00

2.0E+07

4.0E+07

6.0E+07

8.0E+07

1.0E+08

1.2E+08

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Eco

-efi

ciê

nci

a (t

p/t

)

Pro

du

ção

(t p

) e C

on

sum

o d

e m

ate

riai

s (t

)

(a)

Produção Consumo de materiais Indicador de eco-eficiência G1

0.00E+00

5.00E+01

1.00E+02

1.50E+02

2.00E+02

2.50E+02

3.00E+02

3.50E+02

4.00E+02

4.50E+02

5.00E+02

0.00E+00

2.00E+07

4.00E+07

6.00E+07

8.00E+07

1.00E+08

1.20E+08

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Eco

-efi

ciê

nci

a (U

S$/t

)

Fatu

ram

en

to (

10

00

US$

) e C

on

sum

o d

e

mat

eri

ais

(t)

(b)

Faturamento Consumo de materiais Indicador de eco-eficiência G2

Figura 5 – EE do consumo de materiais (a) G1 e (b) G2

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Figura 6 – EE da emissão de CO2 (a) G1 e (b) G2

Similar ao caso do consumo de energia, na Figura 5 (a) e (b) observa-se que o faturamento

tem crescido a uma taxa muito maior que a produção e o crescimento na produção levou a um

maior consumo de materiais, mostrando que não houve uma melhoria da eficiência do

consumo de materiais em relação à tonelada de ferro-gusa e aço produzida. De acordo com o

INSTITUTO AÇO BRASIL (2009), as empresas siderúrgicas têm adotado diversas iniciativas

para redução do consumo de matéria-prima, principalmente aquelas não renováveis. Assim, as

usinas integradas têm feito a reciclagem da sucata gerada internamente e o reaproveitamento

dos gases de alto-forno, aciaria e coqueria para gerar geração de energia, enquanto as usinas

semi-integradas têm implantado melhorias tecnológicas no forno elétrico, para citar alguns

exemplos.

3.2.4. EE de emissões de CO2

A evolução do indicador de EE de emissão de CO2 ao longo dos anos está representada na

Figura 6. Para o cálculo do indicador de EE de emissões de CO2, foram considerados os

processos de produção do sinter, de ferro-gusa, de aço e da calcinação do calcário e dolomita.

Similarmente ao caso do consumo de água, o indicador de EE de emissões de CO2 tem

aumentado tanto na Figura 6 (a) quanto na Figura 6 (b). Esse fato é explicado pela redução na

emissão de CO2 de 6,42% enquanto a produção e o faturamento cresceram. Algumas

iniciativas têm sido adotadas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em geral, no

qual o CO2 se enquadra, como: modernização de equipamentos, utilização de biomassa

(carvão vegetal) para produção do aço, reciclagem e uso de resíduos e co-produtos e

utilização de bio-combustíveis nas frotas das empresas.

EE de geração de resíduos. A evolução do indicador de EE da geração de resíduos ao longo

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dos anos está representada na Figura 7. Em (a) observa-se um aumento do indicador de EE em

2004 seguida de uma queda, que no período de 2003 a 2008 é 36,03%. A taxa de aumento da

geração de resíduos (69,68%) é maior que a de produção (8,55%) justificando a redução na

EE no período total. Em (b) o indicador aumenta de 2003 a 2006, sofre uma queda em 2007 e

volta a crescer em 2008, apresentando um crescimento no período total de 123,29%. Nesse

caso, a taxa de aumento da geração de resíduos é muito menor que a do faturamento

(278,88%), explicando o aumento da EE em Figura 7 (b).

Os principais resíduos gerados por essa indústria são: finos e pós provenientes de sistemas de

despoeiramento; lamas das estações de tratamento de águas e efluentes; sucatas de aço;

agregados siderúrgicos oriundos dos altos fornos, fornos elétricos de redução e aciarias

(elétrica e LD); subprodutos do processo carboquímico e outros (INSTITUTO AÇO BRASIL,

2008).

Para reduzir a geração de resíduos, o setor adota práticas de reciclagem e reaproveitamento

para minimizar os impactos ambientais e os custos relativos à disposição em aterros

(INSTITUTO AÇO BRASIL, 2009). No ano de 2008, o reaproveitamento de resíduos e co-

produtos foi de 93%, sendo que os 7% restante foram para disposição final. Ainda, os

agregados siderúrgicos são aplicados, principalmente para produção de cimento (INSTITUTO

AÇO BRASIL, 2009).

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Figura 7 – EE da geração de resíduos (a) G1 e (b) G2.

4. Conclusão

EE é um conceito chave para guiar as empresas em direção a um desenvolvimento mais

sustentável. De acordo com DeSimone; Popoff e WBCSD (1997), esse conceito envolve a

redução da geração de resíduos e poluição e do uso de materiais e energia, que trazem tanto

benefícios para o ambiente quanto para a economia da empresa.

Na aplicação desse conceito aos processos produtivos muitos resultados interessantes podem

ser obtidos como o fornecimento de informações de desempenho ambiental em relação ao

desempenho econômico de uma forma sistemática e consistente durante períodos de tempo.

Particularmente, nesse trabalho foram calculados os indicadores de EE para a indústria de aço

do Brasil e o que se observa é que, em geral, os indicadores obtiveram melhoria no período de

2003 a 2008.

Para os indicadores que relacionam a produção com as influências ambientais (G1), foram

obtidos três indicadores negativos que são: a EE do consumo de energia, de materiais e da

geração de resíduos, explicado pelo fato de a taxa de aumento das influências ambientais

desses três indicadores ter sido maior que a taxa de crescimento da produção. Ainda, os outros

dois indicadores de EE, que são o de consumo de água e o de emissão de CO2, obtiveram

resultados positivos devido à redução dos seus indicadores de influência ambiental enquanto a

produção aumentava.

Para os indicadores que relacionam o faturamento com as influências ambientais (G2), todos

os cinco indicadores de EE foram positivos. No caso dos indicadores de EE de consumo de

energia, de consumo de materiais e de geração de resíduos a melhoria é justificada pelo

aumento do faturamento maior que as influências ambientais desses indicadores. Já no caso

dos indicadores de EE de consumo da água e emissão de CO2, o aumento no indicador é

explicado pelo acontecimento conjunto do aumento do faturamento e da redução das

influências ambientais desses indicadores.

Com o objetivo de aumentar a EE da produção do aço, algumas medidas podem ser adotadas,

com destaque para:

a) A substituição de combustíveis – o gás natural e o carvão vegetal são opções já

empregadas no Brasil para substituir o carvão mineral, ainda o combustível mais utilizado,

nos altos-fornos das usinas, contribuindo para a redução das emissões de CO2;

b) A reciclagem do aço – a produção do aço a partir sucata evita o consumo de minério de

ferro novo e é um processo menos intensivo em energia e provoca menos emissões de

CO2; e

c) O reaproveitamento dos resíduos do processo produtivo: os gases siderúrgicos (gás de alto

forno, gás de aciaria, etc.) podem ser reaproveitados como combustíveis no próprio

processo de produção do aço e os agregados oriundos dos altos fornos como matéria-prima

pela indústria do cimento.

Assim, a aplicação do conceito de EE se mostrou útil para avaliar o como as dimensões

ecológicas e econômicas estão se relacionando ao longo do tempo. Mas deve ser utilizado

com cautela, pois como o indicador de EE é uma combinação de dois outros indicadores, a

melhoria do indicador do numerador pode esconder a piora do indicador do denominador. É

importante que a avaliação da tendência do indicador de EE seja feita juntamente com a

avaliação do comportamento dos indicadores de valor do produto e de influência ambiental

para que se obtenha uma avaliação completa e consistente.

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