aplicaÇÃo da anÁlise ergonÔmica do trabalho em...

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APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO EM UMA LAVANDERIA Debora Saraiva Ramos (UFRN) [email protected] Julio Bezerra de Medeiros (UFRN) [email protected] Marx Daniel Mendonca Oliveira (UFRN) [email protected] adriano carlos amorim de paiva sousa (UFRN) [email protected] Deyvson Lincoln de Oliveira Xavier Jardim (UFRN) [email protected] Este artigo tem o objetivo de apresentar o estudo demandado por problemas ergonômicos compreendendo desde fatores físico- ambientais, esforços biomecânicos e projeto dos postos de trabalho de uma lavanderia na cidade de Natal - RN, realizanddo algumas considerações sobre a ação ergonômica, as implicações sobre as cargas de trabalho e os espaços de regulação dentro da empresa. Foi utilizada a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), tentando-se extrair ao máximo a essência das atividades e as situações de trabalho vivenciadas pelos funcionários da empresa. O transporte de roupas do setor de lavanderia para a engomação foi apurado como um dos fatores determinantes da sobrecarga física dos trabalhadores; sendo a preocupação com a segurança das lavadeiras o critério principal que induziu para a análise focal. A intenção do grupo foi observar o posto, identificar os principais problemas relacionados a ele e sugerir alterações que o tornasse mais apropriado do ponto de vista ergonômico, propiciando maior conforto as funcionárias encarregadas das tarefas desse posto. O artigo mostra as etapas desenvolvidas na intervenção e as recomendações propostas para a lavanderia. Palavras-chaves: Análise Ergonômica do Trabalho, Lavanderia, Demandas Ergonômicas, Segurança do Trabalho. XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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APLICAÇÃO DA ANÁLISE

ERGONÔMICA DO TRABALHO EM

UMA LAVANDERIA

Debora Saraiva Ramos (UFRN)

[email protected]

Julio Bezerra de Medeiros (UFRN)

[email protected]

Marx Daniel Mendonca Oliveira (UFRN)

[email protected]

adriano carlos amorim de paiva sousa (UFRN)

[email protected]

Deyvson Lincoln de Oliveira Xavier Jardim (UFRN)

[email protected]

Este artigo tem o objetivo de apresentar o estudo demandado por

problemas ergonômicos compreendendo desde fatores físico-

ambientais, esforços biomecânicos e projeto dos postos de trabalho de

uma lavanderia na cidade de Natal - RN, realizanddo algumas

considerações sobre a ação ergonômica, as implicações sobre as

cargas de trabalho e os espaços de regulação dentro da empresa. Foi

utilizada a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET),

tentando-se extrair ao máximo a essência das atividades e as situações

de trabalho vivenciadas pelos funcionários da empresa. O transporte

de roupas do setor de lavanderia para a engomação foi apurado como

um dos fatores determinantes da sobrecarga física dos trabalhadores;

sendo a preocupação com a segurança das lavadeiras o critério

principal que induziu para a análise focal. A intenção do grupo foi

observar o posto, identificar os principais problemas relacionados a

ele e sugerir alterações que o tornasse mais apropriado do ponto de

vista ergonômico, propiciando maior conforto as funcionárias

encarregadas das tarefas desse posto. O artigo mostra as etapas

desenvolvidas na intervenção e as recomendações propostas para a

lavanderia.

Palavras-chaves: Análise Ergonômica do Trabalho, Lavanderia,

Demandas Ergonômicas, Segurança do Trabalho.

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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1 Introdução

Atualmente, nas grandes e pequenas empresas que atuam em diversos seguimentos está

ocorrendo um processo de conscientização em relação à importância da promoção de saúde e

da prevenção de doenças ocupacionais para seus funcionários. Tal tendência se traduz em um

processo que equilibra a qualidade de vida das pessoas à produtividade da empresa. O

homem, ou seja, o principal envolvido em um processo de trabalho sofre os efeitos positivos e

negativos do mesmo. No tocante aos efeitos negativos, estes devem ser analisados para que se

possa adequar o trabalho ao homem.

A finalidade principal da ação ergonômica é a adequação o do trabalho ao homem. Aquela

deve ajustar seus métodos e condições de sua aplicação ao/ contexto, às questões e ao que foi

identificado como parte envolvida. As possibilidades de transformações do trabalho decorrem

num processo de elaboração do qual participem ativamente os diferentes participantes

envolvidos, com seus pontos de vista e próprios interesses.

O presente trabalho foi realizado em uma lavanderia localizada na cidade de Natal, Rio

Grande do Norte. Este trabalho objetiva analisar ergonomicamente os postos de trabalho, bem

como, apresentar as medidas corretivas necessárias e suficientes para corrigir os riscos

advindos dos agentes ergonômicos, presentes nos ambientes, atividades, operações e postos

de trabalho. Para isso foi utilizado uma metodologia que envolveu abordagem de métodos e

técnicas observacionais, seguindo-se os passos da Análise Ergonômica do Trabalho, para

alcançar melhorias à empresa como um todo e principalmente aos funcionários, focando em

especial nos quesitos saúde e segurança.

Pretende-se após este estudo ter as referências necessárias que evidenciarão a necessidade de

se desenvolver e/ou aperfeiçoar instrumentos, equipamentos bem como uma nova proposta de

organização do trabalho deste profissional de modo a melhorar sua qualidade de vida.

2 Referências Teóricas

2.1 Análise Ergonômica do Trabalho

Segundo a ABERGO (2000), a ergonomia é uma disciplina que busca modificar os sistemas

de trabalho para adequar as atividades nele existentes às características, habilidades e

limitações das pessoas com vista a um desempenho eficiente, confortável e seguro. Para Vidal

(2008) a ergonomia visa entender as interações entre seres humanos e outros elementos de um

sistema e a aplicação dos conhecimentos desta, no tocante a teoria, princípios e métodos,

auxiliando na elaboração de projetos e modos operantes, otimizando o bem-estar humano e o

desempenho geral de um sistema.

Vidal (2002) diz que a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) compreende um conjunto de

análises globais, sistemáticas e intercomplementares que permitem a modelagem operante da

situação de trabalho, ou seja, a modelagem da atividade real em seu contexto, considerando os

fatores técnicos, humanos, ambientais, organizacionais e sociais. O autor diz ainda que é uma

metodologia que contém vários métodos e técnicas que auxiliam no entendimento da relação

da atividade de trabalho com o seu contexto.

O primeiro passo dessa metodologia consiste na instrução da demanda que, segundo Vidal

(2008), é a passagem da percepção dos problemas de produção à indicação daquilo que a

ergonomia pode contribuir para solucionar. O mesmo autor também afirma que para se chegar

à demanda ergonômica é preciso seguir alguns procedimentos como a percepção gerencial

dos problemas (demanda gerencial), realização da análise global e reconhecimento da

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empresa, bem como reuniões para uma construção conjunta de demandas e fazer a seleção e

hierarquização das demandas.

Segundo Carvalho e Saldanha (2001), a demanda que não se configura espontaneamente pela

empresa, ou seja, os pesquisadores que procuram a organização propondo ajudar em um

possível problema ou em desenvolver um estudo que identifique problemas que viessem a se

transformar em demandas, caracteriza-se por demanda provocada.

A demanda ergonômica é a primeira etapa do processo da Análise Ergonômica do Trabalho,

que tem por objetivo a clara definição do problema a ser analisado a partir de uma negociação

com os diversos atores envolvidos (SOARES, 1999).

Segundo Daniellou (2002), a situação de referência consiste na análise de situações de

trabalho que apresentem características próximas as do local definido, para nelas observar as

variabilidades reais e as estratégias empregadas para enfrentá-las.

De acordo com Saldanha (2004), a construção social é formada por pessoas que participam do

levantamento das informações as quais permitem o conhecimento sobre a atividade. Vidal

(2008) diz ainda que o funcionamento eficaz de uma ação ergonômica requer uma estrutura

de ação, de natureza participativa, técnica e gerencial.

Moraes (2005) denomina a primeira etapa de uma intervenção ergonômica como apreciação

ergonômica, e a define como sendo uma fase exploratória que compreende o mapeamento dos

problemas ergonômicos da empresa. A apreciação ergonômica consiste na sistematização

homem-tarefa-máquina e na delimitação dos problemas ergonômico-posturais,

informacionais, acionais, cognitivos, comunicacionais, interacionais, deslocacionais,

movimentacionais, operacionais, espaciais e físico-ambientais. A conclusão desta etapa é a

hierarquização dos problemas, priorização dos postos a serem diagnosticados e modificados e

sugestões preliminares de melhoria.

A distância entre o trabalho prescrito (tarefa) e o real (atividade) é a manifestação concreta da

contradição, sempre presente no ato de trabalho, entre “o que é pedido” e “o que a coisa pede”

(VIDAL, 2002 e GUERÍN, 2001).

2.2 Fatores ambientais e riscos em lavanderias

Os trabalhadores de lavanderia estão submetidos à riscos de várias ordens que podem explicar

os diferentes problemas de saúde que podem acometê-lo. Bartolomeu (1998); Lisboa e Torres

(1999); Prochet (2000) relacionam doenças pulmonares, do sistema músculo-esquelético,

fadiga ocular, irritações, lacrimejamento, cefaléia, riscos ambientais pelo não uso de

equipamentos de proteção individual (EPI’s), riscos ocupacionais, biológicos, físicos,

ergonômicos e posturais em função do espaço físico de trabalho.

De acordo com Mezzomo (1992), o planejamento físico da lavanderia deve ser realizado

considerando a dimensão, distribuição, localização das instalações, circulação e o fluxo de

serviço. Pois, acredita-se que uma lavanderia bem planejada possa oferecer melhores

condições de trabalho aos funcionários, menor risco à saúde, aumento de produtividade,

qualidade, e custos compatíveis (Candido; Vieira, 2003).

Segundo Castro e Chequer (2001), a racionalização do trabalho pode ser conseguida, além de

outros fatores, por níveis de conforto existentes no ambiente que compreende baixo índice de

ruído, nível de iluminação compatível com o trabalho a ser executado, nível de temperatura e

umidade relativa do ar, ventilação e exaustão, dentro dos limites aceitáveis.

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Toda lavanderia apresenta equipamentos que durante seu funcionamento produzem calor e

vapor e, portanto, devem ser previstas medidas que reduzam o aquecimento do ambiente

(Mezzomo, 1992; Lisboa; Torres, 1999).

Conforme Couto (1995), a exposição do trabalhador na execução de tarefas em altas

temperaturas pode causar doenças tais como a hipertermia ou intermação. A carga física de

trabalho na lavanderia é representada pelas variações atmosféricas como calor, frio, pressão,

ruído, vibração, umidade, vapor entre outros (Silva, 2006).

3 Metodologia

O estudo foi realizado a partir da aplicação de uma metodologia baseada na Análise

Ergonômica do Trabalho (WISNER, 1987; VIDAL, 2008; GUÉRIN, 2001), em uma

lavandeira da cidade de Natal, no qual envolveu a utilização de métodos e técnicas

conversacionais e observacionais, com o auxilio de recursos tecnológicos como máquina

fotográfica digital e filmadora para capturação de imagens e vídeos, e caderno de anotações,

com a autorização da empresa. A Figura 1 apresenta um esquema detalhado das etapas que

foram desenvolvidas para a instrução da demanda da atividade na lavanderia.

Figura 1 – Construção da demandas ergonômica selecionada na lavanderia

3.1 Hipóteses de demanda provocada

Seguindo os passos metodológicos, inicialmente foram realizadas pesquisas em referências

bibliográficas para entender o funcionamento de uma lavanderia. Ao ter conhecimento da

atividade, e conhecer as demandas de outras empresas após uma análise criteriosa das

informações levantadas, foram elaboradas as primeiras hipóteses de demanda provocada,

encontradas na etapa do estado da arte.

Após isso, outra empresa foi visitada para fazer o estudo em uma situação de referência, uma

lavanderia em um hotel da cidade de Natal, que possui características semelhantes as do local

definido. Tendo feito um estudo, conhecido o processo da empresa e levantado informações

sobre o ramo da empresa estudada, foram elaboradas as hipóteses de demanda provocada

encontradas na situação de referência, e confrontadas com as que foram elaboradas a partir da

pesquisa teórica, e foram listadas as hipóteses de demanda provocada a partir do estado da

arte e da analise da situação de referencia.

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As pesquisas exploratórias preliminares e preparatórias e hipóteses de demandas provocadas

formuladas a partir do estado da arte e do estado da prática foram imprescindíveis para a

formulação dos instrumentos de pesquisa e para a sustentação de uma ação conversacional na

situação de foco durante a análise global da empresa.

3.2 Construção social

A construção social consiste em uma estrutura de instrução da ação ergonômica na empresa

que auxiliará no levantamento das informações para chegar as demandas. Os grupos que

devem ser tomados como referências ao longo da intervenção são grupo de ação ergonômica,

sendo os graduandos de engenharia de produção, as lavadeiras e a inspetora de qualidade; o

grupo de suporte, com o presidente e a recepcionista; o grupo de acompanhamento,

representado pelo professor orientador da disciplina e a inspetora de qualidade, e os grupos de

foco, com as lavadeiras, a inspetora de qualidade e os recepcionistas.

3.3 Análise global da situação de foco

A análise global da situação de foco permitiu a confirmação ou negação das hipóteses

previamente formuladas, e identificar as demandas latentes, gerenciais e dos funcionários.

A análise se deu por meio de visitas sistemáticas na empresa em dias e horários alternados nos

meses de outubro, novembro e dezembro, onde foram utilizados métodos interacionais como

ações conversacionais com roteiros dinâmicos, escuta de verbalizações espontâneas e

provocadas, escutas ampliadas e questionários semi-estruturados, e métodos observacionais,

registrando tudo com fotos, filmagens e anotações para uma maior compreensão da atividade.

As ações conversacionais permitiram reconhecimento da empresa com um melhor

entendimento do funcionamento da lavanderia em seu contexto, esclarecimento da população

de trabalho, do perfil dos funcionários, das relações interpessoais e, juntamente com as

observações, permitiram identificar algumas variabilidades e regulações presentes na situação

de trabalho, e suas repercussões.

Este estudo se desenvolveu com todos os funcionários da empresa, posterior a uma explicação

sobre os objetivos da investigação. Os dados foram recolhidos dentro do procedimento ético

de pesquisa.

3.4 Formulação de demandas

Após feita a análise global da situação de foco no estado da prática, iniciou o confronto entre

as hipóteses de demanda previamente formuladas que foram encontradas a partir do

referencial teórico e a partir da situação de referência; e a partir da situação de foco, as

demandas gerenciais e demandas dos funcionários, que foram relatadas pelos gerentes e

demais funcionários da empresa, respectivamente, e as demandas latentes, encontrados pelos

pesquisadores na análise global.

Após esse confronto de demandas provocadas foi possível verificar as várias demandas

existentes na empresa, fazendo uma hierarquização posteriormente, e elegendo uma demanda

para ser estudada, que norteará a AET, e que tem como objetivo o desenvolvimento de ações

voltadas para a melhoria do transporte das roupas do setor de lavanderia para o setor de

engomação.

Essa demanda não foi encontrada em pesquisas teóricas, nem na situação de referência, sendo

então classificada como demanda latente.

4 Resultados

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4.1 Análise global da lavanderia

A lavanderia escolhida para estudo foi uma lavanderia situada na cidade de Natal, Rio Grande

do Norte. A empresa possui 25 anos no mercado, e recebe todo tipo de peças para lavagem.

Atualmente a lavanderia conta com 15 funcionários, sendo entre esses duas lavadeiras, oito

engomadeiras, uma pessoa responsável pelo setor de marcação das roupas, três recepcionistas,

uma pessoa responsável pelo setor de inspeção de qualidade e embalagem. Um dos

recepcionistas é sobrinho da dona da empresa e é o responsável pelo intermédio entre a

gerência e os demais funcionários. O horário de funcionamento é de segunda a sábado das

7:30 hrs as 18 hrs, porém o turno de trabalho dos funcionários com exceção da recepção é das

8 hrs as 17 hrs, com uma hora de intervalo para almoço.

Diariamente a empresa recebe em média entre 250 e 300 peças, aumentando a demanda em

épocas de final de ano. Entretanto como Natal é uma cidade que possui muitas lavanderias e

ela possui uma parcela fixa e estável de clientes, esse valor não é alterado consideravelmente.

Seu faturamento mensal varia muito, já que o valor que recebe por peça é correspondente ao

peso e não pela quantidade de unidades.

Na população de trabalho da lavanderia apenas 13% dos funcionários são do sexo masculino

enquanto os 87% restante representam o sexo feminino. Em termos quantitativos, isso quer

dizer que na empresa existem 13 mulheres e 2 homens. Analisando as idades, é possível

observar uma variação de 38 a 54 anos.

Ao estudar a escolaridade dos funcionários, chega-se a conclusão que a maior parte possui

ensino médio incompleto, representando o total de 40%, ou seja, 6 funcionários. A

porcentagem de 33% representa os cinco funcionários que cursaram um nível superior, tendo

concluído ou não. Em relação ao estado civil, conclui-se que há uma predominância no

número de funcionários casados, representando mais da metade do total, com 10 funcionários.

Desses, apenas três não possuem filhos.

E por fim, analisando o tempo dos funcionários na empresa, 53% estão trabalhando entre um

e cinco anos na lavanderia. Isso mostra a grande rotatividade dos funcionários, comprovada

quando se observa que apenas um funcionário possui entre 15 e 20 anos de serviço, e nenhum

apresenta tempo superior a isso.

Os funcionários moram nas mais variadas localidades da grande Natal, e apenas dois deles

vão de carro para o trabalho, enquanto todos os outros vão de transporte público. Os

funcionários reclamam muito do cansaço ao fim do dia, principalmente por se tratar, em sua

maior parte, de mulheres, que exerce atividades domésticas quando retornam para casa.

4.1.1 Fluxograma das atividades da empresa

As atividades da empresa compreendem desde o recebimento de roupas sujas até a entrega

das roupas limpas, engomadas, dobradas e embaladas para os seus diversos clientes. A

empresa possui seis setores, dividido em dois andares. No andar térreo está a recepção, o setor

de marcação e as duas lavanderias. O primeiro andar compreende as duas salas de engomação

e o setor de inspeção da qualidade e embalagem. O setor de lavanderia 1 possui duas

máquinas de lavar, duas centrífugas e duas secadoras, comportando a realização de dois

processos simultâneos. O setor de lavanderia 2 possui apenas um tanque onde as roupas são

lavadas a mão, e um varal para a secagem.

Em suma, a lavanderia é responsável por receber as roupas dos clientes, lavar, secar,

inspecionar quanto a qualidade, embalar e esperar o cliente voltar para pegar. O fluxograma

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da empresa é mostrado na Figura 2 abaixo. Cada cor do fluxograma representa um setor

diferente da empresa.

Figura 2 – Fluxograma da lavanderia

1

2

1

1 1

1

1

1 e 2

2

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4.2 Análise das demandas

A demanda apresentada nesse trabalho é caracterizada como demanda provocada, já que foi

levada a empresa por meio de uma análise prévia do trabalho, realizada através do estado da

arte e estado da prática, onde foram elaboradas hipóteses de demanda da atividade.

Com base nas hipóteses de demanda de referenciais teóricos e da situação de referência e na

análise global, foi possível identificar as demandas existentes em lavanderias. A partir do

confronto entre as hipóteses de demanda provocada e a análise global do trabalho na situação

de foco, foi possível realizar uma análise das demandas gerais existentes na empresa, nas

áreas de saúde, segurança do trabalho, gestão, processo, layout, problemas ambientais e meio

ambiente.

Tendo as demandas da situação de foco, elas foram todas comprovadas pelos funcionários da

empresa por meio de verbalizações espontâneas e provocadas. Segue abaixo a Figura 3 com o

quadro das demandas e os comentários registrados dos funcionários validando cada uma

delas.

LEGENDA: Origem das demandas: Gerência ; Funcionários ; Latente

Figura 3 – Demandas ergonômicas existentes na lavanderia

4.3 Demanda Selecionada

A demanda selecionada foi o transporte de roupas entre os setores de lavagem e engomação.

Todas as peças, após serem lavadas, são levadas para a engomação, setor que fica localizado

no pavimento superior da empresa (1° andar), onde também se encontra o controle de

qualidade, e onde os itens são embalados para novamente descerem para a recepção, prontos

para serem entregues aos clientes. O deslocamento das roupas é realizado em uma cesta presa

a uma corda que passa por uma roldana e é puxada pela funcionária no pavimento térreo.

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Essa demanda ergonômica foi selecionada por envolver várias das demandas apresentadas

anteriormente na Figura 3, como movimentos vigorosos e repetitivos, intensidade e duração

do trabalho físico, multifuncionalidade, adoção de posturas prejudiciais, levantamento

inadequado de pesos, e transporte inadequado das roupas de um setor para outro.

Além disso, esse transporte é uma atividade que pode causar grandes danos a saúde e a

segurança dos funcionários. Quando questionada a respeito, a funcionária do setor de

engomação, que é responsável por receber a cesta com as roupas limpas, respondeu: “Tão

doido??? Se eu soltar (a corda) isso (a cesta) cai nela e morre! ... Nunca aconteceu de

aparecer mosquito nenhum não...”

5 Transporte das roupas do setor de lavanderia para engomação: Um estudo de caso

5.1 Análise da tarefa

Na empresa não existe uma prescrição para essa tarefa. A tarefa das lavadeiras, se tratando do

transporte, é levar as roupas lavadas para baixo do setor de engomação, solicitar cesta vazia

ao setor, colocar roupas lavadas dentro da cesta, e retornar com as roupas para serem

engomadas.

5.2 Análise da atividade

O transporte das roupas do setor de lavanderia para o setor de engomação é feito por uma das

duas lavadeiras. Quando elas terminam de lavar as roupas colocam em uma cesta, juntando as

roupas que foram lavadas a mão e na máquina. Quando uma das duas lavadeiras percebe que

a cesta já foi completa, realiza o transporte para serem engomadas.

O setor de lavanderia é no primeiro piso, e o de engomação é no segundo, dificultando essa

movimentação. Uma das lavadeiras pega uma cesta cheia e pesada, vai para baixo da varanda

do segundo andar, chama uma das engomadeiras e pede que envie a cesta vazia que fica preza

a uma corda.

Ao receber, a lavadeira transfere as roupas da cesta em que estavam e organiza na cesta preza

a corda (com a coluna inclinada e rotacionando o corpo todo o tempo), avisa a lavadeira que

está enviando as roupas, e exerce uma força para puxar a corda fazendo com que a cesta

chegue no andar de cima, na varanda. Esse movimento além de requerer muito esforço físico,

tem que ser realizado com muito cuidado para a lavadeira não soltar a corda acidentalmente e

a cesta cair ocasionando danos. A engomadeira recebe a cesta, pega as roupas e leva para

engomar, retornando a cesta somente quando uma das lavadeiras solicitar novamente.

O trabalho da funcionária não exige grande utilização dos estímulos visual e auditivo, mas

grande esforço muscular. Os passos podem ser observados na Figura 4 a seguir:

LEGENDA

1: Local do transporte

2: Preparando a cesta

3: Colocando as roupas na cesta

4: Começado a subir a cesta

5: Cesta subindo

1 2 3 4

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Figura 4 – Transporte de roupas

Para analisar a atividade, foram seguidos os seguintes passos: focalização, pré-diagnóstico,

análise focada, diagnóstico e recomendações. Como auxilio, foram realizadas várias

filmagens da atividade para se fazer uma posterior análise e comparação entre os vídeos, e

conseguir fazer uma modelagem detalhada da execução das lavadeiras.

5.2.1 Análise Focal

A análise focal diz respeito à busca do primeiro esquema explicativo e especulativo sobre o

que se passa na empresa e que será modelado pela AET. Os critérios que induziram para a

análise focal foram a segurança, principalmente, e a saúde dos trabalhadores.

5.2.1.1 Focalização

O transporte de roupas do setor de lavanderia para o setor de engomação requer elevado

esforço físico e cognitivo. Esforço físico devido a elevada força que a trabalhadora tem que

aplicar na corda para fazer a cesta subir; e cognitivo devido a concentração que é requerida

para não cair.

As lavadeiras que fazem o transporte, variando entre as duas, porém sem nenhum tipo de

rodízio estabelecido: quem se propor a realizar, o faz. A lavadeira 2, que é responsável pela

lavagem das roupas a mão, é quem faz na maioria das vezes, por ser poucos anos mais nova

que a outra lavadeira, e possuir uma maior disposição.

As lavadeiras fazem força puxando a corda para levantar em média 15 quilos, com uma

postura bastante inadequada. Esse movimento é feito de 12 a 17 vezes ao dia, chegando ao

final do expediente com um resultado de levantamento de 180 a 255 quilos levantados. Elas

sentem bastante dores nos braços e na coluna devido ao grande peso que tem que levantar.

Outro ponto observado é a não utilização de luvas na hora de puxar a corda. Como é aplicada

muita força, a ausência de luvas provoca ferimentos nas mãos, dificultando a retomada do

trabalho na lavanderia. Esse problema se agrava quando se trata da pele das lavadeiras, que

possuem suas mãos mais finas devido ao constante contato com a água, e ainda mais quando

analisa a lavadeira 2, que é quem mais faz esse serviço, e possui suas mãos mais sensíveis

devido ao contato direto com produtos químicos.

Muitas vezes após o transporte elas precisam de um descanso para retomar as atividades. A

sazonalidade na lavanderia não é relevante, mas é existente, aumentando o número desse

transporte diário, prejudicando ainda mais a saúde das trabalhadoras.

Além da sazonalidade tem a diferença no número das roupas destinadas a lavanderia a mão e

na máquina. Quando as roupas destinadas a lavanderia a mão são em maior quantidade, a

lavadeira fica impossibilitada de ter intervalos entre o transporte e a retomada a lavagem.

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Com isso a trabalhadora é prejudicada, assim como as roupas, pois com ferimentos nas mãos

aumenta a dificuldade de lavagem, podendo não ser feita com total qualidade.

Em épocas de chuva, essa atividade é dificultada. Como o ambiente é ao ar livre, tem que

tomar cuidados especiais quando o clima não está favorável. Como Natal é uma cidade que

não possui estações bem definidas, com chuvas bem inconstantes, as lavadeiras na maioria

das vezes são pegas de surpresa, tendo que rapidamente tomar as providências. Quando

chove, as cestas que sobem com as roupas para a engomação não são tão cheias como dias

normais e tem que colocar uma toalha em cima das roupas. Como a menor quantidade que é

transportada por vez é menor, o transporte tem que ser repetido por mais vezes.

A altura que as cestas são levantadas para chegar ao setor de engomação é de

aproximadamente 6 metros. Altura considerável, causando um grande acidente caso a corda

venha a torar e a cesta cair, ou simplesmente a cesta despencar. Ainda é agravante o fato de

não possuir nós nas cordas. São pouquíssimos os nós existentes, dificultando segurar a

mesma, e facilitando o deslizamento e situações adversas.

5.2.1.2 Pré-Diagnóstico

Com base nas observações e interações com os trabalhadores foi visto que aparentemente a

forma de transporte das roupas do setor de lavagem para engomação pode comprometer a

segurança e a saúde do trabalhador com o levantamento excessivo de peso em uma postura

totalmente inadequada, bem como um alto risco de acidentes, talvez explicando as intensas

dores nos braços e nas costas reportadas pelas funcionárias.

Esse transporte é possível que prejudique também indiretamente a qualidade da lavagem das

roupas. Além das mãos da lavadeira ficarem feridas, dificultando o contato com a roupa na

hora de lavar, ela necessita de alguns intervalos após o transporte para recuperar os

movimentos das mãos, podendo compensar esse tempo lavando rapidamente as roupas para

não diminuir a produtividade.

A AET apresentada é a intervenção da ergonomia de correção, analisando e sugerindo

melhorias a um posto de trabalho já em operação, propondo modificar a forma de transporte

das roupas do setor de lavagem para engomação.

5.2.2 Análise Focada

Para verificar se o peso que a lavadeira levanta durante o transporte ocasiona riscos a saúde,

foi aplicado o método de Niosh, que determina a carga máxima a ser manuseada e

movimentada manualmente numa atividade de trabalho. Uma vez calculado o Limite de Peso

Recomendado (LPR), ele será comparado com a carga real levantada, obtendo-se o Índice de

Levantamento (IL). A partir desse índice pode-se dizer se o trabalhador corre riscos, ou não.

Para se calcular o LPR, utiliza-se a fórmula:

LPR = 23 x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC

onde FDH é o fator distância horizontal do indivíduo a carga, em centímetros; é calculado

dividindo a constante 25 pela distância mensurada. FAV é o fator altura vertical das mãos em

relação ao solo, em centímetros; o calculo se dá por meio da fórmula: 1 – (0,003 x [V-75]) –

para alturas até acima de 75 cm. FDVP é à distância vertical percorrida desde o início do

levantamento até o término da ação; é calculado pela fórmula: (0,82 + 4,5/D). FFL é o fator

freqüência de levantamento, que é obtido através de uma tabela pré-estabelecida observando

quantas vezes o funcionário realiza o levantamento dentro de um minuto, a duração da

atividade e a distância vertical que o levantamento acontece. O FRLT é o fator rotação lateral

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do tronco, verificado em graus durante o transporte da carga; calculado por: 1-(0,032 x A). E

por fim, o FQPC é o fator qualidade da pega da carga, seguindo alguns fatores mais

qualitativos, determinado a partir de uma tabela pré-estabelecida.

Sendo assim, o LPR é calculado: LPR = 23 x 0,833 x 0,796 x 0,827 x 0,85 x 1 x 0,9 = 9,65

O IL é calculado dividindo a constante levantada pelo LPR, então: IL = 15 / 9,65 = 1,55

Estando o IL entre os índices 1 e 2, este indica condição insegura para o trabalhador, com

risco de lesões.

O ministério do trabalho dispõe de normas regulamentadoras, as chamadas NR’s. Para o

transporte e movimentação de matérias existe especificamente a NR 11, cuja alguns itens

estão sendo descumpridos pela empresa, tais como segurança para operação de elevadores,

construção de equipamentos utilizados na movimentação de materiais que ofereçam garantias

de resistência e segurança, inspeção e substituição de partes defeituosas em cordas, utilização

de protetores de mãos em carros manuais para transporte.

5.2.3 Diagnóstico

O deslocamento é uma atividade que não agrega valor ao produto e, no caso em questão, com

levantamento excessivo de pesos, apresenta conseqüências para a pessoa que executa o

transporte, uma vez que ela executa uma série de posturas inadequadas, desencadeando

doenças relativas ao trabalho, além do perigo iminente na atividade, que é realizada com

equipamentos que não são adequados, representando perigo para a vida do funcionário que

realiza o transporte.

Para avaliar os impactos causados ao trabalhador por realizar essa função de transporte, seria

necessário a avaliação ergonômica do posto de trabalho, onde serão utilizadas técnicas

específicas, por profissionais capacitados para interpretar a situação e mensurar o impacto que

poderá ser causado ao operador a curto e longo prazo.

A empresa possui vários pontos de coleta em locais distintos da cidade, as roupas recolhidas

nesses pontos são lavadas para local onde foi realizada a observação; isto significa que um

volume intenso de roupas é transportado no “elevador” em questão.

6 Recomendações

A partir da análise dos dados obtidos durante as observações na lavanderia foi possível propor

algumas intervenções para a melhoria das condições do transporte das roupas do setor de

lavanderia para engomação.

Dentre as sugestões propostas estão algumas modificações simples, viáveis e de fácil

implementação, e algumas que requerem um maior estudo, como a possível aquisição de

equipamentos para dinamizar e melhorar o transporte em questão.

Propõe-se que a empresa avalie outras maneiras de elevar a carga de roupas lavadas. Podem

ser encontradas no mercado empresas especializadas em movimentação, que poderão

apresentar soluções adequadas à situação.

Soluções simples que podem ser apreciadas é fazer nós pontuais nas cordas, facilitando a

pegada, evitando que a mesma deslize das mãos da trabalhadora no momento da subida da

cesta; o uso de roldana móveis, para amenizar o peso da carga, já que diminui a intensidade

do esforço necessário para sustentar a carga, pois essa é dividida por dois. Poderiam ser

utilizadas ainda duas roldanas móveis, que dividiria a força necessária por quatro.

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E em outra instancia, recomenda-se a instalação de um equipamento elétrico que transporte as

roupas, como um elevador elétrico, por exemplo, em que leve as roupas do térreo ao primeiro

andar, sem ser necessário a aplicação de esforços físicos.

Em todo caso, é preciso levar em consideração as possibilidades financeiras da lavanderia e a

avaliação de tecnologias que podem ser empregadas, aliadas as necessidades da empresa.

7 Considerações finais

O diferencial do profissional Engenheiro de Produção em relação aos demais está no seu

poder de fazer um elo de conexão homem/máquina. Nenhuma outra profissão pode fazer isso

tão bem quanto esse profissional versátil, que a cada dia mais tem seu papel de destaque.

A análise ergonômica do trabalho permite uma compreensão profunda do que se faz e da

situação nela inserida, favorecendo a implementação de melhorias que permitam reduzir as

exigências do trabalho, analisando todas as frentes de qualquer situação de trabalho, desde os

estresses físicos nas articulações, músculos, até aos fatores ambientais que possam afetar a

audição, visão, conforto, segurança e saúde.

Depois de realizado o estudo fica evidenciado o valor de uma análise ergonômica do trabalho

dentro das empresas, lugares estes em que muitas vezes a importância dada à continuidade do

processo ofusca as necessidades daqueles que são responsáveis por manter este mesmo

processo saudável. Em razão deste estudo a empresa visitada poderá tomar medidas que, além

de sofisticar suas atividades, tornará o trabalho mais seguro e confortável, garantindo sempre

um bom serviço para seus clientes e para o meio em que seus trabalhadores atuam.

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GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de Segurança e Saúde no Trabalho. Ed. LTR, 2000.

VIDAL, Mário César. Guia para Análise Ergonômica do Trabalho na empresa: Uma

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SALDANHA, Maria Christine Werba et al. Ergonomia e sustentabilidade na atividade

jangadeira: Construção das demandas ergonômicas na praia de Ponta Negra – RN.

ErgoMar 1º Simpósio de ergonomia e sustentabilidade na atividade marítima e costeira.

SOARES, Aurélio et al. Aplicação da análise ergonômica do trabalho em uma empresa

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Santa Catarina: ENEGEP, 2004.

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de caso no hum. IV SIMPEPRO, 2010.

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CALEGARI, Andreia. Análise das posturas adotadas em postos de trabalho de uma

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Alegre, 2003.

TORRES, Lisana. O papel da análise da demanda e seus principais Componentes: um

estudo de caso em uma lavanderia Hospitalar. Dissertação de Mestrado – Programa de

Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis, 2003.

COUTO, Hudson de A. Ergonomia Aplicada ao Trabalho: Manual Técnico da Máquina

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ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 29., Salvador. Anais.

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NR 11 - Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais, Portaria GM

n.º 3.214, de 08 de junho de 1978.