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Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013 Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil Anna Sofia Pereira [email protected] Master em Arquitetura - IPOG Resumo O trabalho em questão faz uma abordagem da atividade dos gesseiros e mostra um estudo ergonômico realizado num canteiro de obra da cidade de Ipatinga, onde são analisados os principais problemas posturais relacionados à atividade de revestimento de alvenaria em gesso. Este tipo de revestimento vem sendo aplicado recentemente na região e por ser uma atividade que exige muito do trabalhador, surge a necessidade de analisar em que condições ela vem sendo realizada. A partir dos resultados obtidos sugere-se a adoção de procedimentos que visam melhorar ou amenizar as condições atuais de trabalho. Palavras-chave: construção civil; gesseiro; análise ergonômica. 1. Introdução Segundo dados do IBGE, o setor da construção civil foi responsável por 8,0% do total de riquezas geradas no país. Este setor específico é bastante conhecido nas estatísticas pelo seu alto índice de acidentes provocados em grande parte pela falta de controle e pela alta periculosidade das tarefas. Iida (1990) afirma que a construção civil é um ramo de atividade que ocupa um grande contingente de mão-de-obra em todo o mundo, principalmente a semiqualificada. A autora relata que neste setor um dos motivos do elevado índice de acidentes está relacionado à variedade de tarefas executadas por trabalhadores com pouco ou nenhum treinamento prévio. Tais atividades demandam grande esforço físico do trabalhador, por sua rotina de trabalho pesado e salvo exceções em condições inadequadas sem pausas de trabalho e em condições mínimas. Iida (1990) ressalta que um dos problemas que ocorrem aos trabalhadores da construção é que os mesmos subestimam os riscos por desconhecerem os seus verdadeiros perigos. Como resultado disso pode-se observar o histórico de acidentes na construção civil segundo estudos do Ministério do Trabalho (fonte MT, 2003), o qual mostra que a maior parte dos acidentes de trabalho documentado estão concentrados nesta área. A norma regulamentadora NR 17 faz referência à ergonomia, e esta contribui para minimizar os erros, promover melhorias nas condições de trabalho e conseqüentemente elevar o nível de qualidade de vida no trabalho, através da intervenção ergonômica por meio de ações preventivas e corretivas, onde se observam posturas, esforços físicos e mentais, efeitos dos horários e turnos de trabalho sobre o organismo humano, a organização do trabalho e os aspectos ambientais (Fonte: Segurança e medicina do trabalho lei n° 6.514, de 22 de dezembro de 1977). A aplicação do gesso no revestimento interno de alvenarias é uma atividade que se o operário não for orientado adequadamente pode sofrer comprometimento da sua saúde. O levantamento e transporte dos sacos de gesso e a execução do revestimento pode acarretar sérios problemas à coluna vertebral do trabalhador podendo até incapacitá-lo para o trabalho. A falta de ventilação, a falta de luminosidade, o excesso de umidade e as vibrações são comuns nos canteiros de obras. A não utilização dos EPI’s (equipamentos de proteção

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Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente

laboral da construção civil

Anna Sofia Pereira – [email protected]

Master em Arquitetura - IPOG

Resumo

O trabalho em questão faz uma abordagem da atividade dos gesseiros e mostra um estudo

ergonômico realizado num canteiro de obra da cidade de Ipatinga, onde são analisados os

principais problemas posturais relacionados à atividade de revestimento de alvenaria em

gesso. Este tipo de revestimento vem sendo aplicado recentemente na região e por ser uma

atividade que exige muito do trabalhador, surge a necessidade de analisar em que condições

ela vem sendo realizada. A partir dos resultados obtidos sugere-se a adoção de

procedimentos que visam melhorar ou amenizar as condições atuais de trabalho.

Palavras-chave: construção civil; gesseiro; análise ergonômica.

1. Introdução

Segundo dados do IBGE, o setor da construção civil foi responsável por 8,0% do total de

riquezas geradas no país. Este setor específico é bastante conhecido nas estatísticas pelo seu

alto índice de acidentes provocados em grande parte pela falta de controle e pela alta

periculosidade das tarefas. Iida (1990) afirma que a construção civil é um ramo de atividade

que ocupa um grande contingente de mão-de-obra em todo o mundo, principalmente a

semiqualificada. A autora relata que neste setor um dos motivos do elevado índice de

acidentes está relacionado à variedade de tarefas executadas por trabalhadores com pouco ou

nenhum treinamento prévio.

Tais atividades demandam grande esforço físico do trabalhador, por sua rotina de trabalho

pesado e salvo exceções em condições inadequadas sem pausas de trabalho e em condições

mínimas. Iida (1990) ressalta que um dos problemas que ocorrem aos trabalhadores da

construção é que os mesmos subestimam os riscos por desconhecerem os seus verdadeiros

perigos. Como resultado disso pode-se observar o histórico de acidentes na construção civil

segundo estudos do Ministério do Trabalho (fonte MT, 2003), o qual mostra que a maior parte

dos acidentes de trabalho documentado estão concentrados nesta área.

A norma regulamentadora NR 17 faz referência à ergonomia, e esta contribui para minimizar

os erros, promover melhorias nas condições de trabalho e conseqüentemente elevar o nível de

qualidade de vida no trabalho, através da intervenção ergonômica por meio de ações

preventivas e corretivas, onde se observam posturas, esforços físicos e mentais, efeitos dos

horários e turnos de trabalho sobre o organismo humano, a organização do trabalho e os

aspectos ambientais (Fonte: Segurança e medicina do trabalho – lei n° 6.514, de 22 de

dezembro de 1977).

A aplicação do gesso no revestimento interno de alvenarias é uma atividade que se o operário

não for orientado adequadamente pode sofrer comprometimento da sua saúde. O

levantamento e transporte dos sacos de gesso e a execução do revestimento pode acarretar

sérios problemas à coluna vertebral do trabalhador podendo até incapacitá-lo para o trabalho.

A falta de ventilação, a falta de luminosidade, o excesso de umidade e as vibrações são

comuns nos canteiros de obras. A não utilização dos EPI’s (equipamentos de proteção

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

individual) como luvas, óculos de proteção, botas, dentre outros ocasionam a maioria dos

acidentes de trabalho nesse setor que são caracterizados por pequenas lesões perfuro-cortantes

e contusões. Estas condições de trabalho comprometem a integridade física dos trabalhadores,

e opõe-se às normas regulamentadoras, NR 6 e 17, no que se refere aos equipamentos de

proteção e às condições ambientais dos postos de trabalho.

Neste estudo foram observados os trabalhadores que executam o revestimento em gesso em

um canteiro de obras da cidade de Ipatinga. O objetivo foi analisar ergonomicamente os

operários em atividade no seu ambiente laboral e avaliar a real situação em que as tarefas

foram realizadas, fundamentando-as na revisão bibliográfica pesquisada.

2. Método

O estudo de caso foi desenvolvido em uma obra vertical de médio porte na cidade de Ipatinga,

como caracteriza a tabela abaixo:

Número de pavimentos 6

Número de apartamentos 20

Área construída 2100m²

Área por pavimento 300m²

Número de funcionários 20

Número de gesseiros 8

Área dos apartamentos 71m²

Tabela 1: Caracterização da obra

Fonte: retirado do projeto executivo do empreendimento

Como pode ser observado na tabela 1, a obra atende ao objeto alvo deste trabalho em realizar

um estudo de caso evidenciando os problemas de um posto de trabalho em um canteiro de

obra específico. É uma obra vertical de médio porte na qual a parte estrutural e alvenaria são

executados por uma construtora e os outros serviços são terceirizados. Em ocasião à coleta de

dados, a obra contava com 20 funcionários de empresas terceirizadas uma vez que a fase em

que ocorria era a de acabamento. Desse quadro de trabalhadores, oito especificamente eram

gesseiros e trabalhavam no revestimento de alvenaria e na execução de forro de gesso.

De acordo com Wisner (1987), uma Análise Ergonômica, também chamada de Parecer

Ergonômico ou Laudo Ergonômico, tem como objetivo averiguar (quantitativa e

qualitativamente) as condições de trabalho de uma determinada tarefa, com a observância dos

vários aspectos a ela relacionados [...]. Esta análise procura mostrar uma situação global da

tarefa, abrangendo, dentre outros fatores: o posto de trabalho, as pressões, a carga cognitiva, a

densidade e a organização do trabalho, o modo operatório, os ritmos e as posturas. Baseada

nessas técnicas de observância, inciou-se a pesquisa descritiva, de campo onde as ferramentas

utilizadas para elaboração foram dados coletados em um questionário (ANEXO 1) aplicado

pelo encarregado da obra com cada trabalhador. O material impresso foi passado para o

encarregado contendo uma ficha de entrevista e um formulário designado a cada gesseiro. De

forma individual, o encarregado aplicou o questionário com cada funcionário com o

acompanhamento da pesquisadora de maneira que ele fazia as perguntas e o próprio escrevia

o que os funcionários respondiam. O trabalho foi fotografado durante execução das

atividades, sendo esse material utilizado para a análise postural do gesseiro, através de check

lists físicos, cognitivos e do meio laboral.

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

Para dar suporte ao estudo de caso, foi aplicado um questionário elaborado por Batista et al,

2007, posteriormente feita uma análise para classificação das condições ambientais do Posto

de Trabalho. No caso das variáveis condições ambientais e arranjo físico do Posto de

Trabalho, foram elaboradas escalas de classificação ordenadas, de forma a dar suporte à

avaliação destas variáveis.

As escalas variavam de 0 a 10, representando em ordem crescente a qualidade ambiental e a

organização dos postos de trabalhos estudados. O resultado foi apresentado em gráficos, o que

proporcionou ao estudo de caso correlacionar as atividades, além de serem elaboradas as

médias referentes aos resultados em cada variável. De posse dos dados coletados foram

realizadas as análises de forma a obter as devidas inferências sobre o assunto.

3. Resultados e discussão

Essa pesquisa contou com a participação de 8 gesseiros, todos do gênero masculino, com

idade média de 28 anos. 50% tinham primeiro grau incompleto, 37,5% segundo grau

completo e 12,5 % segundo grau incompleto.

Antes de trabalharem com o revestimento em gesso, 80% atuava na construção civil como

ajudante. O tempo de profissão dos gesseiros variou de dois a dez anos. Para o ingresso na

profissão, não foi realizado nenhum tipo de treinamento prévio ou admissional, a maioria

iniciou na profissão dentro dos canteiros de obras, através da observação de outros colegas de

profissão, adquirindo a prática e também os vícios.

Os operários relataram não conhecer os riscos inerentes a sua profissão, pois as informações a

que tem acesso provêm do próprio meio, dos operários mais antigos, que também não foram

orientados adequadamente a respeito dos métodos para realização de um trabalho seguro, sem

riscos à saúde dos trabalhadores.

A fundamentação dos termos técnicos e informações citadas abaixo sobre a incidencia dos

trabalhos executados erroneamente e suas consequências no corpo humano foram retirados

do site www.ergonet.com.br, saúde e trabalho on line.

Os gesseiros são os responsáveis por descarregarem o gesso e levá-los ao depósito e depois

transportar aos locais onde o gesso será utilizado. 50% sentem dores e essas variam entre

dores lombares, membros superiores (braços e ombros) e membros inferiores (joelhos).

No levantamento e transporte manual dos sacos, o operário realiza um esforço em flexão do

tronco que é maior ou menor segundo a distância da carga ao tronco, e ao peso da carga,

constituindo a causa mais frequente das lombalgias. O saco de gesso pesa em média 40 kg e

pode ser empilhados com até 15 sacos.

Na tarefa de empilhar, puxar ou transportar os sacos pode ocorrer movimentos abruptos

involuntários do tronco, desequilibrando o operário. A contração abrupta e desordenada das

grandes massas musculares do tronco pode originar forças de grande intensidade, que podem

causar lesões nas estruturas da coluna vertebral.

Com a repetição desses movimentos a musculatura das costas é a que mais sofre com o

levantamento de pesos. A estrutura da coluna vertebral é composta de discos superpostos,

ocasionando pouca resistência às forças sofridas por ela em direções contrárias ao seu eixo.

Portanto, na medida do possível, a carga sobre a coluna vertebral deve ser feita no sentido

vertical, evitando-se as cargas com as costas flexionadas. O esforço agudo e excessivo poderá

levar a ruptura de músculos, tendões e luxação das articulações.

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

A postura adotada pelos gesseiros durante a realização das tarefas é incorreta, provocando

esforços excessivos na coluna vertebral. A postura mais observada é caracterizada pela

inclinação do tronco à frente com flexão dos membros inferiores.

A lombalgia ou dor na região lombar surge em decorrência de lesões ósseas de ligamento de

discos intervertebrais, ou ainda da musculatura da coluna vertebral. Ela pode surgir de

imediato após um esforço físico excessivo, ou aparecer lentamente com o passar do tempo,

dificultando o reconhecimento de sua relação com o trabalho. A dor é de intensidade variável

podendo nos casos mais graves, incapacitar o indivíduo para o trabalho.

A NR-17(Norma Regulamentadora) diz que todo trabalhador designado para o transporte

manual deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho

que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes, bem como só

admite o transporte de cargas, cujo peso não comprometa a saúde e a segurança do

trabalhador.

Sendo assim, para o transporte de cargas, o gesseiro deve receber informações sobre a postura

correta para o levantamento e transporte, entretanto isso não ocorreu no caso em estudo.

A jornada de trabalho também é outro fator importante na avaliação ergonômica do

trabalhador. Neste estudo, foi observado que os operários trabalham em média 8 horas por dia

e 1 hora de almoço com algumas exceções que trabalham 9 horas por dia. Desta forma, o

organismo encontra dificuldade para se recuperar e os esforços excessivos sobre a coluna

vertebral são cada vez mais intensos, fato esse que levou a pesquisadora a sugerir a

implantação da ginástica laboral no início da jornada de trabalho como forma de prevenir

lesões e preparar as articulações e músculos durante toda as atividades. As descrições das

atividades do gesseiro que serão apresentadas abaixo foram retiradas do Manual do aplicador

de gesso, SENAI/DR/PE(2003).

a) Execução de forro

A atividade do gesseiro, na execução do forro de gesso, ocorre na fase de acabamento da

construção ou em casos de reforma que necessite da aplicação deste forro. O pico de trabalho

desse profissional é diurno, existindo, porém casos excepcionais de execução deste serviço

em grandes centros comerciais que exigem o trabalho em horário noturno.

A aplicação de forro de gesso é um processo que exige do operário técnica e movimentação

constante, pois, geralmente, a aplicação é realizada acima do tronco e em estruturas elevadas,

acima do nível do piso, sendo indispensável o conhecimento desse processo de execução, para

evitar lesões decorrentes de esforço repetitivos e/ou posturas inadequadas.

No processo de pré-execução é realizado o planejamento da área a ser assentada, verificando a

quantidade de placas a serem assentadas, a altura do forro em relação à laje (pé-direito) e

detalhes especificados no projeto.

Em seguida, é feita a montagem dos andaimes que podem ser de ferro ou madeira, sendo estes

últimos os mais utilizados. O transporte das placas de gesso para o Posto de Trabalho ocorre

logo após esses procedimentos.

Inicia-se então o processo de execução de assentamento do forro de gesso. É feita a marcação

das alturas e colocação de linhas que definem o nivelamento do forro. Em seguida, os

parafusos são fixados na laje com uso da pistola, os quais servirão de suporte aos arames de

sustentação das placas. No caso de telhados, os arames são amarrados nos caibros ou nas

ripas. Quando necessário, é feito o corte das placas. Nos cantos de parede e encaixe entre as

placas (macho-fêmea) é feita à união com a pasta, composta de sisal, gesso e água, para firmar

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

a junção entre as placas. Instalado o forro, o gesseiro inicia a fase do acabamento do forro,

que compreende basicamente a aplicação do emassamento, lixamento e pintura. A aplicação

de roda-tetos também faz parte desta fase.

Após o término do acabamento do forro de gesso, os andaimes são desmontados e é aplicada a

limpeza no local de assentamento. Desse modo, as tarefas dos gesseiros englobam o

levantamento da área a ser assentado o forro de gesso, o transporte das placas, montagem dos

andaimes, demarcação e nivelamento do local de assentamento, colocação da placas,

acabamento, desmontagem dos andaimes e limpeza do local.

b) Execução do revestimento da alvenaria

A execução do revestimento interno em gesso é realizada basicamente na posição de pé.

Entretanto, esta posição não indica o trabalho numa postura correta, normalmente o operário

assume postura inclinada, agachada ou caminha de um lado para o outro realizando suas

tarefas (nivelamento do revestimento).

Esta variação de posturas incorretas implica em esforços na coluna vertebral, a inclinação do

tronco para frente (11º-90º) implica alta carga nos discos e nos músculos, a postura totalmente

inclinada para frente (>90º) implica alta carga nos discos e ligamentos, e por um período

prolongado causa estiramento dos ligamentos e com isso pode diminuir a estabilidade da

coluna, fazendo com que a mesma fique vulnerável para esforços súbitos, esta postura

também causa distúrbios na nutrição dos discos e, portanto, acelera o processo degenerativo

no disco intervertebral.

c) Postura

A postura é a organização relativa das diversas partes do corpo no espaço. Uma postura

desequilibrada, confusa, retorcida sempre indica a existência de problemas de inadaptação ao

trabalho.

As posturas mais comuns são a posição horizontal, a posição sentada e a posição de pé.

Destas, a posição horizontal é a mais indicada para o repouso, por ser a que menos consome

energia. A posição sentada já exige uma atividade muscular de sustentação dos músculos

dorsais e abdominais, consumindo 10% a mais de energia, em relação à posição horizontal.

De pé, a fadiga aparece mais rapidamente, sobretudo se houver pouca movimentação,

exigindo um trabalho estático dos músculos de sustentação. A seguir, alguns exemplos do que

foi falado:

Figura 1: posição incorreta (curvatura do dorso) Figura 2: posição correta

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora

Figura 3: posição incorreta (curvatura do dorso) Figura 4: aplicação do gesso com o ombro em 90º

Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora

A foto 5 mostra a aplicação do gesso na posição limite de 90° em relação ao ombro, porém o

gesseiro chega a trabalhar com os braços na posição acima do limite indicado. Como os

andaimes não são adaptados a altura de cada trabalhador em relação ao pé direito da obra eles

acabam fazendo uma extensão de cervical quando olham para o teto ao colocar o gesso.

d) Processo executivo

O manuseio de cargas tem sido uma das mais freqüentes causas de trauma dos trabalhadores

em função do esforço agudo e excessivo que ele exerce, o que poderá levar à ruptura de

ligamentos, músculos, tendões e luxação das articulações.

Posturas incorretas e traumatismos diretos poderão levar a lesões irreversíveis, articulares,

ósseas, musculares, dores e deformidades da coluna vertebral.

As situações de trabalho, quanto ao levantamento de pesos podem ser classificadas em dois

tipos:

Primeira: refere-se ao levantamento esporádico de cargas e está relacionada com a

capacidade muscular para levantar a carga;

Segunda: é o trabalho repetitivo com levantamento de cargas, neste caso entra o fator de

duração do trabalho e está relacionada coma capacidade energética do trabalhador e a fadiga

física.

Nos revestimentos de alvenaria em gesso, o servente é o operário que mais sofre com os

esforços sobre a coluna vertebral, pois realiza as tarefas de carga e descarga dos caminhões e

transporta os sacos de gesso para o depósito e aos locais de aplicação.

Nesses casos, certos cuidados podem ser tomados no sentido de proteger a coluna de uma

solicitação superior à sua resistência. A recomendação mais usual é a de evitar o uso da

musculatura dorsal no levantamento de cargas. Assim, deve-se usar os músculos da perna

mantendo a coluna reta, numa posição parecida com a dos halterofilistas. E é uma

recomendação produtiva, já que uma pessoa é capaz de levantar 100kg com os músculos da

perna, mas somente 20kg se o dorso estiver com uma curvatura entre 60 e 90 graus. As

figuras abaixo ilustram esses cuidados:

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

Figura 5: postura correta para levantamento de cargas Figura 6: posturas incorreta e correta respectivamente

Fonte: ilustração feita pela autora Fonte: ilustração feita pela autora

Figura 7: postura incorreta, peso na coluna Figura 8: postura correta, peso nas pernas

Fonte: ilustração feita pela autora Fonte: ilustração feita pela autora

e) Equipamentos e ferramentas

Os equipamentos e ferramentas utilizados pelos gesseiros são o serrote, as trenas de madeira e

metálica, o martelo, a chave de fenda, o alicate, parafusos e buchas, espátulas, arames e

pistola. As ferramentas que o gesseiro utilizam normalmente ficam em cima do andaime,

próximo de onde será utilizado, porem na hora de utiliza-los eles tem que se abaixarem,

normalmente em posições incorretas.

A NR-17 regula que os trabalhos manuais, seja sentado ou em pé, devem proporcionar ao

trabalhador condições de boa postura, visualização e operação, caso que não se constatou na

obra estudada devido à localização das ferramentas, evidenciada anteriormente, serem no

chão. A referida norma aponta que os suportes para disposição de utensílios necessários ao

desenvolvimento da atividade devem atender as características do serviço.

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

Figura 9: ferramentas utilizadas pelos gesseiros

Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora

A NR 17 estabelece parâmetros para avaliar as condições ambientais do posto de trabalho e

sua organização. Com base no método utilizado para obter o resultado apresentado, observou-

se algumas limitações quando da realização deste trabalho, pois seria necessária a utilização

de equipamentos para realizar as aferições necessárias, no entanto esta se deu através da

perceptividade e da escala pré-estabelecida.

Após aplicado o questionário (citado anteriormente) e feito sua análise foram obtidos os

seguintes resultados como mostram os gráficos a seguir:

Gráfico 1: Resultados das condições ambientais na obra

Fonte: gráfico elaborado em cima dos resultados do questionário de Batista et al, 2007

O Gráfico 01 apresenta o resultado das condições ambientais da obra estudada com base na

escala de classificação estabelecida. Com base na escala de classificação elaborada

previamente, verifica-se que, especificamente nas variantes temperatura, e ventilação a obra

atingiu o nível de classificação bom, pois a obra ainda não possuía janelas favorecendo a

circulação de ar. Já na variável iluminação, vibrações e ruído, atingiu o nível de classificação

regular uma vez que a execução estava sendo realizada no interior da edificação e o uso de

pistola ocasiona aos trabalhadores convívio constante com o som emitido por este

equipamento interferindo na qualidade das variáveis mencionadas.

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

Elaborando-se uma média da classificação ambiental para a obra com base na escala adotada

de classificação ambiental, tem-se 5,5 estando numa condição regular. Apesar da amostra ser

relativamente pequena para o tema em estudo, constata-se que no caso da unidade autônoma,

as condições ambientais mostraram-se desfavoráveis em relação ao canteiro, requerendo

maiores cuidados quanto ao uso dos equipamentos de segurança.

Gráfico 2: resultados das condições do arranjo físico

Fonte: gráfico elaborado em cima dos resultados do questionário de Batista et al, 2007

O Gráfico 02 apresenta o resultado da disposição física da Obra estudada com base na escala

de classificação estabelecida. Especificamente foram estudadas a localização e disposição das

placas de gesso, ferramentas e equipamento e condições dos andaimes. Constatou-se que a

obra não chegou a atingir o valor de 6 numa classificação global de 0 a 10, o que representa

estado regular de organização. Descrevendo o observado na coleta de dados, verificou-se que

os problemas principais foram a inexistência de suportes e bandejas para acomodação das

ferramentas e equipamentos e placas de gesso, o que faz com que o gesseiro se locomova em

excesso, bem como as alturas inadequadas dos andaimes e sua instalação propriamente dita, o

que pode prejudicar o processo de assentamento e ocasionar problemas físicos nos operários.

f) EPI`S – equipamentos de proteção individual

Dentre os equipamentos listados na tabela abaixo, apenas 75% dos gesseiros os utilizam:

Capacete Bota Cinto Óculos Máscara Protetor

auricular

Abafador Macacão Luvas

X X X

Tabela 2: quadro de equipamentos de proteção individual

Apesar de não ser abordagem específica da NR-17, os equipamentos de segurança são

obrigatórios no exercício de qualquer atividade que apresente riscos ocupacionais. A NR-6,

que regula os Equipamentos de Proteção individual . EPI . conceitua-os como todo dispositivo

ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos

suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde do trabalhador. A citada norma

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

regulamentadora, aponta que cabe a empresa fornecer o EPI adequado ao risco, em perfeito

estado de funcionamento, e que compete ao Serviço Especializado em Engenharia de

Segurança e em Medicina do Trabalho, SESMT, ou à Comissão Interna de Prevenção de

Acidentes, CIPA, nas empresas desobrigadas de manter o SESMT, recomendar ao

empregador o EPI adequado ao risco existente em determinado atividade. Ainda cabe ao

empregador disponibilizar o EPI adequado ao risco de cada atividade, exigir o uso, orientar e

treinar quanto à utilização correta, entre outros (NR-6). O empregado tem a responsabilidade

principalmente de conservar o EPI e utilizá-lo para a finalidade correta (NR-6).

Apesar de falarem que utilizam os equipamentos citados na tabela 2, não foi constatado o

mesmo no ambiente laboral. Os acidentes relacionados ao manejo da espátula e às quedas de

andaimes, afirmados pelos gesseiros entrevistados, decorrem provavelmente, da não

utilização dos equipamentos de segurança necessários.

Figura 10: o gesseiro faz uso apenas de macacão e bota

Fonte: foto Fonte: foto retirada na obra em estudo por Anna Sofia

4. Conclusão

Todos os dados obtidos na presente pesquisa, através de questionário, observações, e fotos,

foram analisados e confrontados, servindo de base para as ações ergonômicas aqui sugeridas,

baseado na portaria MT/OS nº 3.751, de 23 de novembro de 1990, a NR 17. No entanto a

proposta vai além do prescrito na norma e estende-se à ergonomia em seu sentido mais

abrangente.

Para a melhoria das condições de trabalho sugere-se que o local de apoio para colocação de

placas e ferramentas tenha um suporte com bandeja ou carrinho móvel com trava. O

suplemento deve possuir um sistema que permita ajustar a altura de acordo com a necessidade

do gesseiro.

Para garantir maior segurança e estabilidade o uso de cavaletes mais estáveis é indicado,

sendo de metal, para o gesseiro no momento do desenvolvimento das tarefas. O cavalete deve

ser projetado observando as necessidades de largura e comprimento, para os trabalhos em

dupla ou individual. A confecção de um cavalete com dois ou três lances, em alturas

diferenciadas e reguláveis pode minimizar o esforço decorrente da flexão dos joelhos.

Devem ser usadas, luvas que mantenha o tato do gesseiro de forma a não comprometer o

desenvolvimento da tarefa. O uso desta luva é extremamente importante na etapa de

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

acabamento final, onde ocorre maior número de cortes na mão do gesseiro, devido ao uso da

espátula.

Os gesseiros devem receber treinamento e conscientização quanto ao uso de EPI´s. Esse

treinamento de conscientização deve ser suficientemente motivador e bastante explicativo,

utilizando-se de imagens de situações de riscos e realísticas e acidentes pela não utilização.

Sugere-se a utilização de um capacete que se compõe concomitamente com a máscara

respiratória, protetor auricular e óculos, deste modo evitaria o não uso de algum desses

equipamentos e, além disso, facilita a retirada espontânea do gesseiro.

Os resultados da pesquisa realizada demonstram que o gesseiros estão realizando suas

atividades de maneira incorreta, adotando posturas inadequadas que posteriormente podem

acarretar sérias lesões à coluna vertebral. Atualmente, os operários já estão sentindo os

primeiros sintomas, que são as dores lombares.

Alguns procedimentos podem ser adotados para reduzir os esforços excessivos sobre a coluna

vertebral, bem como melhorar as condições de trabalho, tais como: treinamentos e palestras

sobre como adotar posturas corretas no levantamento e transporte de materiais (manter a

coluna reta e usar a musculatura das pernas, manter a carga o mais próximo possível do corpo,

procurar manter cargas simétricas usando as duas mãos para evitar a criação de momentos em

torno do corpo) e introduzir pausas durante a jornada de trabalho que permitam equilibrar o

desgaste com a recuperação do organismo.

Durante a atividade, esse equilíbrio é essencial para o organismo humano, a atividade deve ser

organizada de forma a que as pausas sejam possíveis e até estimuladas, podendo até incentivar

a prática de exercícios de relaxamento muscular durante estas pausas; introduzir novas

máquinas e equipamentos que permitam a realização das tarefas com menos esforço físico;

incentivar a preservação da saúde do trabalhador; rever o regime salarial de forma que a

jornada de trabalho não supere o previsto na lei, reduzindo a fadiga e as lesões na coluna

vertebral.

Referências

BATISTA et al. Ergonomia da profissão do gesseiro: o caso de postos de trabalhos na cidade de João Pessoa.

In: II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica, João Pessoa/PB,

2007.

IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Ed. Edgar Bucher Ltda, 1990.

Instituto Brasileiro de geografia e estatísticas. Disponibilidade e acesso: <www.ibge.gov.br>. Acessado em 29 de

junho de 2011.

MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS. Segurança e Medicina do Trabalho. Equipe Atlas: vol.16, 36º

edição, 1997

Ministério do Trabalho e Emprego. Disponibilidade e acesso: <www.mtb.gov.br>. Acesso em 25 de junho de

2011

Segurança e Medicina do Trabalho: Lei nº 6.514, de 22 de Dezembro de 1977. Coleção Manuais de

Legislação Atlas. 61ª ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2007.

SENAI/DR/PE (2003) - Manual do aplicador de gesso. Recife, DITEC/DET.

Saúde e trabalho on line. Disponibilidade e acesso: <www.ergonet.com.br>. Acessado em 29 junho de 2011.

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

WISNER, Alain. Por dentro do trabalho: ergonomia: método & técnica. São Paulo: FTD/Oboré, 1987.

ANEXO 1

QUESTIONARIO – ANÁLISE ERGONÔMICA DO AMBIENTE LABORAL

NOME: _____________________________________________________________

IDADE:________________

ALTURA:_______________

TEMPO DE SERVIÇO:

( )2 ANOS ( )5 ANOS ( )10 ANOS ( )___________

GRAU DE ESCOLARIDADE:

( )1O

GRAU INCOMPLETO ( ) 1O

GRAU COMPLETO

( )2O

GRAU INCOMPLETO ( ) 2O

GRAU COMPLETO

( )_______________________

TRABALHA QUANTAS HORAS POR DIA? TEM HORAS DE DESCANÇO?

___________________________________________________________________________

UTILIZA EQUIPAMENTO DE SEGURANÇA? QUAIS?

( )SIM ( )NÃO

( )CAPACETE ( )BOTA ( )CINTO ( )ÓCULOS ( )MÁSCARA

( )PROTETOR AURICULAR ( )ABAFADOR ( )MACACÃO

( )LUVA

SENTE ALGUM TIPO DE DOR?

( )SIM ( )NÃO

( )DURANTE A ATIVIDADE ( )DEPOIS DA ATIVIDADE

QUE TIPO DE DOR?

( )LOMBAR ( )TORÁCICA ( )MEMBROS INFERIORES ( )MEMBROS

SUPERIORES

ATRAPALHAR A FAZER O SERVIÇO?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

JÁ SOFREU ALGUM ACIDENTE DE TRABALHO?

( )SIM ( )NÃO

QUAL?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

O QUE ACHA QUE DEVE SER MUDADO PARA MELHORAR O SEU SERVIÇO?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

ANEXO 2

PÉSSIMO (0-1): Ambiente totalmente desfavorável, sem possibilidade de permanecer no

ambiente de trabalho.

RUIM (2-3): Ambiente com muitas partes desfavoráveis ao trabalhador (mais de 70%). Caso

permaneça no local de trabalho, terá chances de adquirir danos irreversíveis à saúde.

REGULAR (4-6): Ambiente com diversas partes desfavoráveis ao trabalhador (cerca de

50%). È possível permanecer no local de trabalho, mas com risco de causar danos à saúde em

curto período.

BOM (7-8): Ambiente com poucas partes desfavoráveis ao trabalhador (menos de 30%). È

possível permanecer no local de trabalho, mas os danos à saúde aparecerão no decorrer do

tempo.

ÓTIMO (9-10): Ambiente totalmente favorável ao trabalhador, que não causa nenhum dano à

saúde.

CONDIÇÕES AMBIENTAIS:

VENTILAÇÃO:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

TEMPERATURA:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

ILUMINAÇÃO:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013

PARTÍCULAS:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

VIBRAÇÕES:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

ARRANJO FÍSICO:

LOCALIZAÇÃO E DISPOSIÇÃO DA PLACAS DE GESSO:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

LOCALIZAÇÃO E DISPOSIÇÃO DAS FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

CONDIÇÕES DOS ANDAIMES:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE LABORAL:

( ) PÉSSIMO ( )RUIM ( )REGULAR ( )BOM ( )ÓTIMO

Fonte: adaptação da autora em cima de um questionário elaborado por Batista et al, 2007

Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil janeiro/2013