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Dissertação Artigo de Revisão Bibliográfica Mestrado Integrado em Medicina 2014/2015 IMUNODEFICIÊNCIA COMBINADA SEVERA SERÁ PLAUSÍVEL A IMPLEMENTAÇÃO DO RASTREIO NEONATAL? AUTOR Joana Sofia Pereira Magalhães Estudante do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina Nº aluno: 200801487 Endereço eletrónico: [email protected] ORIENTADOR Margarida Maria dos Santos Guedes Carolino Professor Auxiliar Convidado de Pediatria - ICBAS/ UP Título Profissional: Assistente Hospitalar Graduado de Pediatria AFILIAÇÃO Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar- Universidade do Porto Rua de Jorge Viterbo Ferreira n.º 228, 4050-313 Porto, Portugal

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Dissertação – Artigo de Revisão Bibliográfica

Mestrado Integrado em Medicina – 2014/2015

IMUNODEFICIÊNCIA COMBINADA

SEVERA

SERÁ PLAUSÍVEL A IMPLEMENTAÇÃO DO RASTREIO

NEONATAL?

AUTOR

Joana Sofia Pereira Magalhães

Estudante do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina

Nº aluno: 200801487

Endereço eletrónico: [email protected]

ORIENTADOR

Margarida Maria dos Santos Guedes Carolino

Professor Auxiliar Convidado de Pediatria - ICBAS/ UP

Título Profissional: Assistente Hospitalar Graduado de Pediatria

AFILIAÇÃO

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar- Universidade do Porto

Rua de Jorge Viterbo Ferreira n.º 228, 4050-313 Porto, Portugal

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“Não há nada mais próximo da insanidade, que

fazer várias vezes a mesma coisa, da mesma

forma e esperar resultados diferentes”

(Albert Einstein)

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3 | P á g i n a

Não posso deixar de agradecer ao conjunto de pessoas que contribuíram para a realização deste trabalho e

concretização da vontade de ser médica.

À Dra Margarida Guedes que me orientou pacientemente durante este trabalho. A quem devo a paciência e a

dedicação.

À minha família pela oportunidade e esforço para que pudesse cumprir este sonho – de ser médica.

Aos meus amigos a quem devo o companheirismo e ânimo

ao longo de todo o percurso.

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ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................... 5

RESUMO ........................................................................................................................ 6

ABSTRACT..................................................................................................................... 6

PALAVRAS-CHAVE: ...................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7

MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 9

DESENVOLVIMENTO .................................................................................................... 9

PORQUE SE PENSA EM RASTREAR O SCID? ........................................................ 9

QUE TESTES DE RASTREIO ESTÃO DISPONÍVEIS? ............................................ 11

RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO: .............................................................................. 15

PROGRAMA NACIONAL DE DIAGNÓSTICO PRECOCE EM PORTUGAL .............. 16

LIMITAÇÕES DO RASTREIO NEONATAL DE SCID ................................................ 17

CONCLUSÕES ............................................................................................................. 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 22

TABELAS E FIGURAS ................................................................................................. 28

Tabela 1 – Genes associados à Imunodeficiência Combinada Severa, incidência na

população e respectivo perfil linfocítico. .................................................................... 28

Figura 1 – Árvore de decisão para avaliar o custo de rastreio da imunodeficiência

combinada severa em recém-nascidos ..................................................................... 29

Tabela 2 – Dados obtidos do rastreio neonatal realizado entre outubro de 2004 e

dezembro de 2014 em Portugal ................................................................................ 30

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADN – Ácido desoxirribonucleico

BCG - Bacillus Calmette-Guérin

GPIP – Grupo Português de Imunodeficiências Primárias

NBS – Newborn screening

PNDP – Programa Nacional de Diagnóstico Precoce

QALY – Quality-adjutes life year

RTqPCR – PCR quantitativo em tempo-real (real-time quantitative PCR)

SCID – Imunodeficiência Combinada Severa (Severe Combined Immunodeficiency)

SPI – Sociedade Portuguesa de Imunodeficiências

TREC – Circulos de excisão dos receptores de células T (T Cell Receptor Circles)

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RESUMO

A imunodeficiência combinada severa (SCID) engloba um conjunto de doenças

raras e fatais caracterizadas por alterações genéticas que levam ao bloqueio na

diferenciação de linfócitos. Estas alterações apresentam consequências graves no

sistema imunológico dos indivíduos com SCID cujo diagnóstico só é habitualmente feito

após aparecimento de infeções graves e/ou recorrentes. O transplante de células

hematopoiéticas é curativo, e a sua taxa de sucesso é tanto maior quanto mais cedo for

aplicado.

Tendo em vista a obtenção de melhores resultados no tratamento e sobrevida das

crianças com SCID, tem sido estudada a possibilidade de implementação do rastreio

neonatal, já integrado nos programas de alguns estados dos Estados Unidos da

América (EUA).

Este trabalho avalia os resultados obtidos nos estudos realizados, tendo em conta

a eficácia do rastreio, o seu custo-benefício e o tipo de teste que apresenta melhores

resultados, de modo a compreender a pertinência de estudar a possibilidade de

introdução deste rastreio em Portugal.

Os resultados obtidos demonstram que a introdução do rastreio neonatal do SCID

traz benefícios não só no diagnóstico e tratamento precoce destes doentes (evitando o

aparecimento de sintomatologia grave e recorrente) como também em termos da

relação custo-benefício. Quanto ao teste a aplicar conclui-se que o que apresenta

melhores resultados é através da quantificação dos círculos de excisão dos recetores

das células T (TREC) pela técnica de RTqPCR.

ABSTRACT

Severe combined immunodeficiency is a group of rare and fatal diseases

characterized by genetic disorders leading to the blockage in lymphocyte differentiation.

Affected children have severe consequences in their immunologic system and the

diagnosis is usually done only after these children developed serious and recurrent

infections. Early diagnosis and treatment, in most cases, with allogeneic hematopoietic

stem cell transplantation are crucial for the success of these patients.

Bearing in mind better outcomes respecting to treatment and survival of patients

with SCID, several studies about the possibility of implement the newborn screening of

SCID have been carried out, and in some states of USA had already add this screening

to the NBS program.

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7 | P á g i n a

This revision aim to assess the results of the studies realized considering the

screening efficacy, cost-effectiveness of screening for SCID and what is the test with

better results in order to thinking of the importance of apply this screening in Portugal.

The conclusions reveal that this newborn screening is really important for the

survival of patients with SCID presenting advantages not only in the early diagnosis and

treatment, but also respecting the cost-effectiveness. About the test applied for the

screening we could conclude that TREC test by RTqPCR is the one who presents better

outcomes.

PALAVRAS-CHAVE:

Imunodeficiência combinada severa, SCID, TREC, rastreio neonatal, linfopenia

INTRODUÇÃO

A imunodeficiência combinada severa (SCID) engloba um conjunto de doenças

raras, potencialmente fatais, caracterizadas por um conjunto heterogéneo de alterações

genéticas que levam ao bloqueio na diferenciação dos linfócitos (1–3). Atualmente estão

identificados pelo menos 20 genes, apresentados na Tabela 1, cujas mutações dão

origem a uma imunodeficiência combinada severa (4). Estes genes estão envolvidos na

codificação de proteínas importantes no desenvolvimento imunológico e a sua alteração

acarreta diferentes fenótipos linfocíticos. Os vários tipos de expressão de SCID a têm

em comum a deficiência ou ausência de produção de células T podendo também ser

acompanhados de deficiência ou ausência na produção de células B, como é o caso

das mutações nos genes RAG1, RAG2, Artemis e Ligase IV; na produção de células

NK, como é o caso das mutações nos genes IL2RG e JAK3; ou mesmo deficiências de

todas estas células (T, B e NK) como acontece nas mutações ADA e AK2 (6–8). A

alteração mais comum está associada ao cromossoma X, ocorrendo em cerca de 45%

dos casos (6,7), seguida da alteração associada à ausência da enzima ADA (adenosina

desaminase) que está documentada ocorrer em cerca de 15% dos casos (6,7).

Apesar da maioria das crianças afetadas apresentar linfopenia, há alguns tipos de

SCID que apresentam valores normais de linfócitos ou mesmo linfocitose. A Síndrome

de Omenn é o melhor exemplo de tradução laboratorial de SCID sob a forma de

linfocitose, em vez de linfopenia (9–11). Pensava-se, inicialmente, que esta síndrome

estaria associado a mutações em RAG1 e RAG2, no entanto, tem-se verificado que

ocorre também noutras mutações, como Artemis ou Ligase IV. Além dos doentes

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portadores desta síndrome, também os recém-nascidos e crianças que, por alguma

imunodeficiência mantêm os linfócitos T recebidos da mãe durante a vida in utero

podem apresentar valores normais na contagem de linfócitos(12). Estima-se que o

grupo de doentes não linfopénicos, nos quais se incluem os portadores de Síndrome de

Omenn, represente 10% de todos os casos de SCID (13,14).

Os doentes com SCID são extremamente susceptíveis a infecções graves e

recorrentes que conduzem à morte a não ser que a sua imunidade seja rapidamente

reconstituída(15,16) através de transplante de medula óssea(1,13), substituição

enzimática(17), nomeadamente nos casos de défice de ADA, ou, em alguns casos

específicos, como o SCID ligado ao cromossoma X, por terapêutica genética (18–20).

A clínica do SCID apresenta-se, na maioria das vezes, sob a forma de infeções

causadas por diversos tipos de agentes comuns, como o vírus sincicial respiratório e o

vírus parainfluenza – que provocam um quadro semelhante a bronquiolite crónica – ou o

rotavírus – que provoca diarreia persistente. Outros tipos de agentes que costumam

provocar quadros graves nestas crianças são agentes oportunistas como o

Pneumocystis jirovecci. Um quadro de apresentação mais rara mas grave está

associado à infeção por citomegalovirus que provoca uma infeção disseminada

podendo decorrer com pneumonia, hepatite e encefalite(21). Outro alerta importante

nestes recém-nascidos é a reação vacinal a vacinas vivas atenuadas, como é o caso da

BCG, provocando uma Becegeíte disseminada nas crianças com SCID(22).

A gravidade da apresentação clínica e a emergência da realização do transplante

de células hematopoiéticas levantaram a hipótese de implementação de um rastreio que

permitisse identificar os recém-nascidos com SCID o mais precocemente possível. Num

estudo levado a cabo por Buckely et al. em 2004, verificou-se que nas crianças em que

o transplante de medula óssea foi realizado nos primeiros 3,5 meses de vida a

sobrevida a longo prazo foi de 95% em contraponto com crianças transplantadas após

os 3,5 meses de vida em que a sobrevivência reduziu para os 66%, demonstrando a

importância de um diagnóstico precoce (5,23). Também em 2013, Dvorak et al. (24)

concluíram que quando o diagnóstico é feito precocemente, através de rastreio ou por

suspeita devido a história familiar positiva, o tratamento é muito mais atempado. A

maioria dos diagnósticos foi feito antes do mês de idade, o que possibilitou o tratamento

da maior parte (74%) antes dos 3,5 meses de vida, idade em que já foi demonstrado

estar associada a melhores resultados (20,25). Além disso, este estudo demonstra

ainda que nos casos mais raros de imunodeficiência, que não se manifestam tão

precocemente ou têm uma sintomatologia diferente da comum, o atraso no diagnóstico

torna-se muito maior (24).

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O rastreio do SCID já está implementado em alguns estados nos EUA (26–29) e

estão a ser feitos estudos para a implementação em diferentes países, nomeadamente

em vários países europeus.

Este trabalho pretende fazer uma revisão sobre a importância do rastreio neonatal

do SCID e avaliar a oportunidade da implementação deste rastreio em Portugal, tendo

em conta o melhor teste a selecionar, a sua eficácia na detecção deste conjunto de

doenças e a relação custo-benefício.

MATERIAIS E MÉTODOS

A revisão bibliográfica efetuada baseou-se na pesquisa no PUBMED (em

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed) com as seguintes indicações: Title: severe

combined immunodeficiency AND All Fields: neonatal screening + Date: 2000-2015.

Dos 47 artigos encontrados, foram seleccionados 26. Os restantes artigos foram

excluídos pelos seguintes motivos: tratarem-se de artigos de revisão, serem artigo tipo

case report, ou não se adequarem aos tópicos a rever nesta publicação - importância da

aplicação do rastreio, que tipos de teste e relação custo-benefício.

Além destes artigos, que sustentam o fundamental desta revisão, estão ainda

referenciados outros que pela sua pertinência, pelo enquadramento histórico e do

estado da arte sobre o tema, demonstraram relevância em serem incluídos neste

estudo.

DESENVOLVIMENTO

PORQUE SE PENSA EM RASTREAR O SCID?

A incidência do SCID estava inicialmente estimada entre 1:70.000 a 1:100.000

nascimentos (30–32). No entanto, publicações mais recentes que têm em conta os

dados obtidos desde a aplicação do rastreio desta imunodeficiência em alguns estados

dos Estados Unidos da América têm revelado que a incidência deverá ser mais alta

(cerca de 1:58.000 nascimentos) (33,34), sendo ainda maior nas populações com um

alto índice de relações de consanguinidade (35,36).

O principal objectivo de implementação de um rastreio neonatal é a identificação

pré sintomática de doenças graves ou potencialmente fatais em recém-nascidos com o

objectivo de efectuar tratamento, reduzindo a morbilidade e mortalidade associada a

essa mesma doença (37). Os critérios para a inclusão de um rastreio neonatal definem,

na sua generalidade que a incidência da doença deve compensar o custo do rastreio;

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que a doença não possa ser diagnosticada por exame objetivo; que a doença cause

graves complicações, comprometendo a sobrevida; que o diagnóstico precoce e

tratamento melhorem o prognóstico e conduza a bons resultados; e que o rastreio seja

sensível, específico, económico, validado e esteja disponível (38). Vários estudos

demonstram que a implementação do rastreio de SCID preenche muitos destes

critérios, apontando algumas das seguintes razões para incluir o rastreio do SCID no

programa de rastreios neonatais: ser assintomático ao nascimento; o tratamento ser

tanto mais eficaz quanto mais precocemente for instituído, reduzindo a taxa de infeções

e complicações graves; poder potenciar o aconselhamento genético; permitir conhecer a

verdadeira incidência e espetro do SCID; e potenciar o aconselhamento genético e o

diagnóstico pré-natal (4,20,39–41)

Num estudo referenciado por Puck em 2007 (5) verificou-se que as crianças com

história familiar de SCID e, portanto, cujo diagnóstico foi mais precoce, em média aos 2

meses de idade, apresentaram uma taxa de sobrevivência de 100%, ao contrário do

grupo de crianças cujo diagnóstico foi feito apenas na presença de sintomas associados

às complicações do SCID. Nas 32 crianças que faziam parte deste último grupo, 8

faleceram antes de poder ser feito o tratamento e das outras 24 a quem foi aplicado

tratamento apenas 14 sobreviveram, apresentando uma taxa de sobrevivência de 44%

entre as crianças com SCID e sem história familiar positiva(5).

Num estudo realizado na Califórnia por Kwan et al em 2013, após 2 anos de

aplicação do rastreio neonatal do SCID neste estado, verificou-se que o SCID e outras

doenças com uma contagem de linfócitos inferior a 1500 células T/µL apresentavam

uma incidência maior do que mais de metade das doenças que fazem parte do

programa nacional de rastreio dos EUA(33)

Também na Europa têm sido feitos estudos em vários países com interesse em

aplicar este rastreio. Estudos recentes desenvolvidos no Reino Unido, França, Espanha,

Suécia, Holanda e antiga Sérvia-Montenegro apresentam como útil e benéfica a

implementação do rastreio de SCID(16,42–44).

No estudo realizado na antiga Sérvia-Montenegro em que avaliaram os casos

diagnosticados com SCID entre 1986 e 2010, chegaram à conclusão que, em média,

havia um período de 2 meses entre o aparecimento das primeiras infeções e o

diagnóstico, sendo que, em média, os sintomas iniciavam por volta do 45º dia de

vida(44). Validaram também neste estudo a ideia de que quanto mais cedo for o

diagnóstico melhores são os resultados obtidos com o tratamento.

Em 2011, Brown et al publicaram um estudo realizado no Reino Unido (Newcastle

e Ormond) em que crianças com diagnóstico de SCID a quem tinha sido feito o rastreio

neonatal precoce tinham uma taxa de sobrevivência de 90%, ao passo que o grupo de

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crianças não rastreadas apresentava uma taxa de sobrevivência de 40%(19). Patger et

al, em 2015, revelaram resultados de um estudo retrospectivo do diagnóstico de SCID

na Holanda onde concluem que a taxa de mortalidade é menor nos doentes

diagnosticados mais precocemente, com menor número de infeções e de

hospitalizações(16).

QUE TESTES DE RASTREIO ESTÃO DISPONÍVEIS?

O facto de o SCID ser uma doença rara significa que mesmo nos testes mais

específicos, há um baixo valor preditivo positivo. McGhee et al num estudo publicado

em 2005 estimam que para que o rastreio do SCID apresente uma boa relação custo-

benefício, que compense a sua implementação, o mesmo deve apresentar uma

especificidade de pelo menos 97%, assumindo que o estado está disposto a pagar

cerca de 90.000€ ($100.000) por cada QALY(45). Assim sendo, a especificidade deverá

ser maximizada em qualquer programa de rastreio de SCID. Em alguns programas de

rastreio, como é o caso do rastreio do hipotiroidismo congénito, a especificidade foi

melhorada pela utilização de um teste duplo, em que um primeiro teste positivo é

confirmado por um segundo teste utilizando a mesma amostra (46).

Desde que foi considerado o rastreio de SCID, várias alternativas foram avaliadas

para a seleção do teste a utilizar, como a contagem absoluta de linfócitos (20,47),

detecção de proteínas de células T CD3, CD4 e de marcadores de leucócitos CD45

baseados na ligação ao anticorpo(48), o imunoensaio com IL-7 (5), o resequenciamento

genético(49) e a quantificação de círculos de excisão dos receptores das células T

(TREC).

A contagem absoluta do número de linfócitos considera o pressuposto de que as

formas típicas de SCID se apresentam com linfopenia, considerando-se que uma

contagem absoluta de linfócitos inferior a 2500/µL seria suspeita de imunodeficiência

combinada severa (12,15). De seguida, seria realizada citometria de fluxo que permite

determinar a presença de células T, B e NK, a quantidade de receptores de células T e

a resposta a uma estimulação mitogénica e antigénica, podendo confirmar o

diagnóstico(50).

Apesar de terem sido obtidos bons resultados, esta técnica não se revela a mais

eficaz por ser pouco sensível, isto é, deixar de fora os doentes que apresentam elevado

número de células B e NK ou os doentes com linfócitos T residuais, auto-reativos (como

na Síndrome de Omenn) ou aloreativos (células maternas adquiridas durante a vida in

utero e que ainda se mantém em circulação). Ou seja, ainda que esta seja uma técnica

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útil em alguns casos, nomeadamente, nos casos de alto risco de serem portadores de

SCID, não se revela suficientemente útil para ser aplicada como método de rastreio,

principalmente devido à sobreposição de resultados entre indivíduos saudáveis e

doentes (15).

Sobre a hipótese de realização de imunoensaios, Janik e al em 2010

desenvolveram um estudo que avalia a possibilidade de aplicação do imunoensaio

múltiplo (CD345) como forma de detecção de SCID em recém-nascidos(48). Neste

imunoensaio, onde foram ser utilizados os cartões de Guthrie já utilizados actualmente

no rastreio de outras doenças, recorreram ao CD3 como marcador de céulas T e ao

CD45 como marcador do número total de linfócitos. Os resultados obtidos foram

positivos, contudo, devido à possibilidade de nem todos os recém-nascidos portadores

de SCID apresentarem linfopenia, consideraram que este teste ainda que fosse útil na

detecção da grande maioria dos casos não seria o método ideal (48). Estes resultados

foram validados pelo mesmo autor num estudo apresentado no ano seguinte. Mesmo

utilizando um método de rastreio mais específico e melhor calibrado para o SCID, Janik

chegou à mesma conclusão – que estes marcadores poderiam apenas ser utilizados

como métodos de rastreio complementares (51).

Também, num outro estudo realizado por McGhee et al em 2005, foi testada a

aplicação de um imunoensaio com IL-7, uma citocina envolvida no desenvolvimento das

células T. Neste estudo estimaram uma especificidade de cerca de 85% para este

método de rastreio, pelo que, tal como referido por Janik, este teste não poderia ser

aplicado isoladamente com risco de se perderem os casos de doentes não

linfopénicos(52).

Uma outra possibilidade apresentada foi estudar a sequência ADN nos genes que

provocavam os vários tipos de SCID. Ainda que esta possa ser uma técnica utilizada em

alguns testes de rastreio como por exemplo na fibrose quística (53), não é possível de

ser aplicada no SCID uma vez que não estarão ainda descobertos todos os tipos e

variantes deste conjunto de doenças. Num estudo realizado em 2008 por Lebet et al. foi

utilizada a técnica de resequenciação capaz de detetar variantes de SCID, desenvolvida

por Puck e Warrington, tendo-se demonstrado que era possível detetar apenas 90% dos

casos de SCID (49). Apesar de ser bastante específico, quando o resultado é positivo,

esta técnica apresenta um número de falsos negativos muito elevado para um teste de

rastreio(53).

Assim, a técnica mais utilizada e que tem apresentado melhores resultados,

detectando os vários tipos de SCID, é a técnica de quantificação de moléculas TREC

por PCR (37,39,54,55). As moléculas TREC são excelentes marcadores de actividade

tímica(56) e de diferenciação de células T no timo. Estas moléculas são produtos do

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rearranjo dos receptores das células T que se formam aquando da diferenciação das

células T mas não estão envolvidas em processos de mitose, pelo que enquanto num

período inicial de vida a sua concentração sanguínea é elevada, à medida que vai

ocorrendo mitose de células T as moléculas TREC vão-se diluindo(15,53). Normalmente

os recém-nascidos apresentam uma elevada produção de células T o que resulta numa

concentração de moléculas TREC de cerca de 10% do total de células T, ao contrário

das crianças mais velhas e dos adultos que apresentam progressivamente um número

mais baixo de moléculas de TREC (4). A detecção de moléculas TREC no sangue

periférico reflecte portanto um processo de diferenciação de células T no timo(15,56).

A técnica de quantificação de moléculas TREC por RTqPCR é a que tem

demonstrado melhores resultados na determinação em sangue periférico(15,37,39). O

rastreio de imunodeficiência combinada severa por esta técnica requer, contudo, uma

amostra de sangue periférico, extracção de ADN manual, amplificação de ADN através

de RTqPCR com uma curva de calibração e um controlo genético e interpretação dos

dados e resultados obtidos(57). Devido à utilização de moléculas de ADN, esta técnica

teve inicialmente algumas dificuldades de implementação como método de

rastreio(4,48). Contudo, apesar dessas reticências, foi aceite como o melhor método de

rastreio, apresentando vantagens como: possibilidade de utilizar os cartões Guthrie

(utilizados para rastreio neonatal de outras patologias em recém-nascidos), baixo custo,

alto rendimento e alta sensibilidade que permite detetar os casos de SCID mesmo em

recém-nascidos que tenham um elevado número de células B, de células T maternas

em circulação(55,58) ou células T que apresentam expansão oligoclonal como ocorre

no Síndrome de Omenn(11,53,55). Nestes dois últimos casos, estes indivíduos

apresentam elevados valores de linfócitos mas baixos valores de moléculas TREC uma

vez que os linfócitos que possuem são essencialmente células T memória(12,37), pelo

que é possível a sua identificação quando se recorre ao teste TREC, ao contrário do

que acontece com as técnicas anteriores.

Baker et al em 2009 foram os primeiros a amplificar e adaptar o teste TREC de

modo a que fosse possível aplicá-lo a todo o Estado de Wiscosin. Neste estudo foi

demonstrado não só que o rastreio recorrendo à quantificação de moléculas TREC era

muito sensível (99,98%) como também apresentava um baixo custo – cerca de 5,5€

($6) por amostra(37).

No mesmo ano, Morinishi publicou um estudo em que comparou os valores das

moléculas TREC em indivíduos saudáveis e em indivíduos com diagnóstico de SCID,

tendo verificado 100% de sensibilidade do teste ao utilizar a quantificação de TREC por

RTqPCR(55).

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Além de demonstrar bons resultados para rastreio da imunodeficiência combinada

severa, esta técnica permite ainda a identificação de outras patologias que, não fazendo

parte deste conjunto de doenças, reflectem um número baixo de células T em circulação

como é o caso da Síndrome de DiGeorge(59).

Os Estados Unidos da América foram os primeiros a aprovar a implementação do

rastreio e a sugerir a sua aplicação, ficando a cargo dos vários estados cumprir esta

orientação. Jennifer Puck em 2011, fez um levantamento dos resultados obtidos com os

rastreios levados a cabo em Wisconsin, Massachusetts e Califórnia, utilizando o método

TREC. Neste estudo verificou que os rastreios haviam revelado excelentes resultados

tendo sido detetados todos os casos de SCID. Além disso, todos os recém-nascidos

que revelaram alguma linfopenia foram avaliados e seguidos por especialista desde o

primeiro mês de vida(4). Numa outra publicação deste autor é comparado o sucesso do

teste que utiliza a quantificação das moléculas TREC com outros ensaios,

nomeadamente com CD3, CD45 e IL-7, já referidos anteriormente, chegando à

conclusão que o teste TREC é aquele que obtém melhores resultados, tendo

identificado não só os casos de SCID mas também outros associados com anomalias

na produção dos linfócitos(53). Também Verbsky conduziu um estudo para avaliar os

resultados da aplicação do rastreio no estado de Wisconsin, que publicou em 2012,

onde demonstrou uma excelente eficácia do teste TREC, apresentando uma

especificidade de 99,98% e um número de falso-positivos de 0,018%. Além destes

resultados puderam também comprovar que este teste permite a identificação quer de

causas conhecidas quer de causas desconhecidas de SCID(60).

Num estudo realizado em Nantes (França) que utilizou as amostras recolhidas

para outros diagnósticos pré-natais já implementados, demonstrou que o teste por

quantificação de moléculas TREC apresentou bons resultados, salvaguardando no

entanto que o cut-off de mais de 183 cópias de moléculas TREC por amostra para

considerar um teste negativo (indivíduo normal) pode ser bastante elevado, dado o

número de confirmações, através de um segundo teste que foi necessário realizar, e

que se vieram a verificar negativas. Quando comparado com um cut-off de mais de 100

moléculas TREC por amostra, verificou-se que os resultados obtidos eram iguais,

havendo um menor número de testes com necessidade de repetir(43). Num estudo

apresentado no Reino Unido, por Adams et al em 2014, os resultados obtidos foram

igualmente favoráveis à eficácia do rastreio utilizando a quantificação de moléculas

TREC, sendo possível detetar todos os casos de imunodeficiência combinada severa.

Os autores deste estudo sugerem ainda que um cut-off de <20 moléculas TREC/µL é

considerado um bom valor para detecção dos casos de SCID propondo este valor no

caso de ser implementado o rastreio de SCID no Reino Unido(42).

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RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO:

Além da eficácia do rastreio, é importante ter também em conta, aquando da

inclusão de um novo rastreio no programa de rastreios neonatais, o fator económico

associado ao seu custo-benefício. Neste campo são vários os estudos que têm provado

que a aplicação do rastreio de SCID preenche também estes critérios, demonstrando

que dependendo da gravidade da doença, da eficácia do tratamento aplicado e do custo

associado ao rastreio, a detecção de uma doença de baixa prevalência pode apresentar

uma melhor razão custo-benefício do que muitas doenças mais comuns.

McGhee em 2005, estimou que a realização de rastreio de SCID poderia ser

vantajosa em 86% dos casos, em termos de relação custo-benefício, ainda que o valor

a aplicar a este rastreio seja elevado em relação ao que é considerado para outros

rastreios. Prevendo um valor de cerca de 21.200.000€ ($23.920.000) para

implementação do rastreio nos Estados Unidos da América mas que, estimam, estaria

associado a 760 anos de vida salvos em cada ano de implementação do rastreio(45).

Nomeadamente no que toca à comparação do custo associado ao rastreio com o

tratamento, quer da doença, quer das infecções que estes doentes acabam por

desenvolver quando não são diagnosticados precocemente, está demonstrado ganho

efectivo na detecção precoce.

Num estudo norte americano, realizado por Oskin em 2004, está descrito que um

transplante efectuado nos primeiros 3 meses de vida pode custar menos 46.000€

($50.000), e que este valor aumenta substancialmente quando é necessário tratar os

estados agudos, graves e recorrentes desenvolvidos pelo decurso natural da doença

enquanto não é feito o seu diagnóstico) (61).

Chan et al, em 2011, demonstram que a implementação do rastreio poderá custar

cerca de 20 milhões de euros ($22.400.000) com um ganho de 880 anos de vida e 802

QALY, tendo a realização de cada rastreio um custo de cerca de 4€ ($4,25) por

criança(62).

Num outro estudo, publicado em 2015 por Clement et al., onde foi avaliado o

custo-benefício associado ao rastreio na região de Nantes (França)(57), foi

demonstrado que esse rastreio era benéfico em termos de custo, com um valor por

teste a variar entre os 4,69€ e os 6,79€ para 33.000 amostras por ano que estava

dependente da utilização e saturação do material, isto é, o custo por teste vai ser tanto

menor quanto mais maximizada for a utilização dos materiais utilizados para a

realização do teste. Além disso, validaram também a ideia de que as crianças tratadas

mais cedo têm melhores sobrevidas e passam menos tempo hospitalizadas, diminuindo

também os custos.

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Em 2014, Modell et al desenvolveram um algoritmo – “árvore de decisão" – que

permite avaliar o custo-benefício do rastreio de SCID(63), representado na fig. 1, e

sendo sugerida a sua utilização pelas entidades competentes pela regulamentação de

serviços de saúde norte americanos. Este algoritmo pode ser uma ferramenta útil no

processo de decisão sobre a implementação deste rastreio. Nesta publicação os

autores referem também o estudo de Chan et al (62), onde foi estimado um custo de

aproximadamente 4€ ($4,25) por criança, que inclui a utilização do equipamento,

laboratório e reagentes, estimando um gasto de cerca de 400.000€ ($425.000) para

rastrear 100.000 recém-nascidos. A estes valores soma-se o tratamento por transplante

de cada caso diagnosticado de cerca de 110.000€ ($120.000) e o custo do follow-up

durante 5 anos deste doente de cerca de 180.000€ ($200.000), baseados em dados de

hospitais e unidades de saúde. Do outro lado da balança encontra-se o custo associado

ao tratamento das infeções decorrentes de uma imunodeficiência combinada severa

não diagnosticada ou sub diagnosticada que se estima ser de 1.800.000€ ($2.000.000).

Este estudo vem, mais uma vez, confirmar o benefício quando avaliada a relação custo-

benefício e justificar a implementação do rastreio.

PROGRAMA NACIONAL DE DIAGNÓSTICO PRECOCE EM PORTUGAL

Em Portugal, o Programa Nacional de Diagnóstico Precoce (PNDP) foi iniciado em

1979 no Instituto de Genética Médica Doutor Jacinto de Magalhães com o rastreio da

Fenilcetonúria, ao qual, em 1981, se juntou o do Hipotiroidismo Congénito. A partir de

2004, após a aquisição de nova tecnologia que facilitou a introdução de mais rastreios,

o Programa Nacional de Diagnóstico Precoce foi sendo alargado progressivamente a

outras Doenças Hereditárias do Metabolismo até ao ano de 2008 em que se rastreavam

25 tipos diferentes de doenças hereditárias do metabolismo, apresentadas na tabela 2

juntamente com as respectivas incidências registadas a nível nacional entre o período

de outubro de 2004 a dezembro de 2013(64). Em 2013 implementou-se o rastreio à

fibrose quística, sendo esta a última adição ao PNDP(65). Num estudo publicado em

2006 por Vilarinho et al, a taxa de cobertura à altura era de 99,3%, com um tempo

médio de tratamento de 11,2 dias após o nascimento(64), no relatório do Programa

Nacional de Diagnóstico Precoce publicado em 2013 pelo Instituto Nacional de Saúde

Doutor Ricardo Jorge está apontada uma taxa de cobertura de cerca de 100% e uma

comunicação global dos casos positivos de, em média, 10,1 dias de vida do recém-

nascido(66) validando os dados obtidos anteriormente.

Estes dados vêm corroborar a importância de aplicação do diagnóstico precoce

destas 26 doenças que apesar de raras, com a implementação de rastreio passaram a

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ter menos implicações na vida das crianças que são portadoras das mesmas diminuindo

a sua mortalidade e morbilidade(64,67).

Além destas 26 patologias tem sido estudada a possibilidade de implementação

de outros rastreios, nomeadamente o da infecção por citomegalovirus(68) ou mesmo a

imunodeficiência combinada severa(3). O GPIP tem estudado a incidência deste

conjunto de doenças em Portugal, no entanto ainda não existem dados concretos sobre

a incidência nacional, pelo que em muitos estudos baseia-se a presunção da incidência

nacional por extrapolação dos resultados obtidos em outros países da Europa.

LIMITAÇÕES DO RASTREIO NEONATAL DE SCID

Como em qualquer rastreio, também no rastreio da imunodeficiência combinada

severa há um conjunto de situações em que o mesmo é mais susceptível a falhas,

aumentando o número de falsos negativos, diminuindo dessa forma a eficácia do

rastreio. Estas situações devem ser também ponderadas aquando do estudo sobre a

sua implementação.

Como já foi descrito anteriormente, dentro do conjunto de alterações que

conduzem à imunodeficiência combinada severa, há algumas que fogem à regra da

linfopenia. Esta alteração é ultrapassável se o teste de rastreio a utilizar for a

quantificação de moléculas TREC uma vez que, como também já foi referido, estas

moléculas relacionam-se com a formação de novas células T, estando esta produção

diminuída também nestes casos.

Outra limitação do rastreio de SCID surge quando um recém-nascido, a quem é

feito o rastreio, apresenta uma infecção congénita. Neste tipo de situações, existe em

circulação um grande número de células T de memória associada a uma escassez de

células T naive o que leva a que o número de moléculas TREC no rastreio seja

extremamente baixo, conduzindo a um resultado falso-positivo(37). Ainda que este tipo

de situações seja raro é importante ter em atenção estes casos quando se avalia a

potencial aplicação deste rastreio.

Os recém-nascidos pré-termo e os que se encontram em unidades de cuidados

intensivos são outros grupos de doentes em que o número de falsos-positivos é

elevado.

Nos vários estudos realizados e nos locais onde já tem sido implementado o

rastreio, os recém-nascidos pré-termo têm-se apresentado como um factor importante

no número de resultados falsos-positivos obtidos(39,69). São apontadas algumas

razões que podem explicar a obtenção de um baixo número de moléculas TREC num

teste de rastreio a um recém-nascido pré-termo. Uma das explicações é a técnica

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utilizada para a obtenção de sangue para o cartão que em vez de ser feito por uma

picada no pé é feito através de um cateter venoso podendo ocorrer diluição do sangue

no cateter ou mesmo conter substâncias que impeçam um leitura correta na técnica de

PCR utilizada(53,69). Além disso, o valor de cut-off estabelecido para considerar um

resultado positivo foi baseado em curvas de distribuição obtidas com recém-nascidos a

termo o que é normalmente variável quando estamos perante recém-nascidos pré-termo

uma vez que formação do sistema imunológico não está completa, havendo uma

velocidade de formação de células T mais diminuída(69). Apesar de se conhecer esta

limitação não há ainda estudos suficientes que permitam inferir o valor cut-off nestes

indivíduos para que sejam considerados não-SCID(12). Não obstante, Baker et al.

apresentaram em 2011 um estudo baseado nos dados obtidos no programa de rastreio

implementado em Wisconsin onde estimava que o número de moléculas TREC

aumentava 9,8% por cada semana de gestação(70).

Os recém-nascidos internados em cuidados intensivos por englobarem situações

consideradas dentro dos grupos já referidos anteriormente – com infeções graves ou

prematuros – apresentam as mesmas situações que podem conduzir a valores falsos-

positivos(4,5,36).

Outras limitações remetem-se ao tratamento associado à detecção de um SICD.

Enquanto grande parte das patologias detectadas no diagnóstico neonatal possuem

tratamento através da evicção de determinados comportamentos, a imunodeficiência

combinada severa é tratada através de transplante de medula, que tem associada um

risco considerável de mortalidade e morbilidade(71). Além disso, a especificidade do

teste e do tratamento implicam que só possam ser realizados em determinados

laboratórios e hospitais, respectivamente, constituindo também uma limitação à

implementação do rastreio(71).

CONCLUSÕES

O SCID retrata um conjunto de doenças às quais se tem dado considerável

relevância por se tratar de uma patologia com significado importante entre os recém-

nascidos e pequenos lactentes. Embora ocorram alguns casos de diagnóstico num

período de vida mais tardio (após um ano de vida), o SCID manifesta-se entre os

recém-nascidos e crianças nos primeiros meses de vida, acarretando graves

consequências para a saúde dos mesmos. Como foi descrito, este conjunto de doenças

cumpre muitos dos critérios definidos para implementação de rastreio neonatal, sendo a

sua implementação defendida por vários grupos. Não obstante todos os argumentos a

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favor do rastreio, a sua raridade e o custo associado apresentam-se como as principais

razões de resistência na sua implementação.

Ao longo deste trabalho foi feito um levantamento dos vários estudos conduzidos

em alguns países, nomeadamente em alguns estados dos Estados Unidos da América

e em alguns países da Europa, onde se provou que o rastreio da imunodeficiência

combinada severa, além de útil, com uma eficácia de detecção da doença muito

próxima de 100%, apresenta também uma boa relação custo-benefício. Aliados a estes

resultados, na defesa da implementação deste rastreio, surgem o facto de que este

conjunto de doenças apresenta uma taxa de mortalidade muito elevada que está

intimamente relacionada com a idade de diagnóstico e o facto de os doentes que não

apresentam história familiar só serem diagnosticados após início da sintomatologia que

surge, na grande maioria dos casos, sob a forma de infeções graves e recorrentes com

várias hospitalizações e tratamentos aos quais estão associados importantes

comorbilidades.

Como foi demonstrado é indiscutível o sucesso obtido com o teste utilizado para

rastreio da imunodeficiência combinada severa, designadamente quando se recorre à

quantificação de moléculas TREC em sangue de indivíduos. Além do sucesso do teste

por si só, outra mais-valia prende-se com a possibilidade de efetuar utilizando os

cartões de Guthrie já utilizados para outros rastreios e, portanto, sem necessidade de

recorrer a nova colheita de sangue.

Nos estudos apresentados neste artigo não houve nenhum caso de crianças não

diagnosticadas com SCID. No entanto é relevante ter em conta o número de falsos

positivos que se demonstrou ser significativo em alguns estudos. Estes resultados são

explicados tanto pelos cut-off utilizados, que não são uniforme nos vários estudos, como

pela realização de testes em recém-nascidos prematuros e/ou internados em unidades

de cuidados intensivos. Nestes últimos casos, é necessário uma discussão mais

profunda sobre a pertinência de realização de rastreio a estes recém-nascidos,

colocando-se em alternativa a utilização de valores de cut-off ajustados a estas

situações, que necessitam por si só de estudos mais específicos, ou, por outro lado,

aguardar que estes recém-nascidos estejam em condições de normalidade equiparáveis

àquelas para as quais os testes e valores foram calibrados.

O teste utilizando a quantificação de moléculas TREC foi aquele que demonstrou

melhores resultados, apresentando uma eficácia melhor do que as outras hipóteses

apresentadas, nomeadamente porque permite detetar os casos em que não há

linfopenia, que escapam quando é aplicado o teste de contagem absoluta de linfócitos,

e porque não é dependente do conhecimento de todas as mutações associadas à

imunodeficiência combinada severa, que, como foi também demonstrado, apesar de já

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se conhecer um grande número de mutações genéticas provocadoras de SCID ainda há

uma percentagem importante (cerca de 10%) por descobrir. Além da detecção da

imunodeficiência combinada severa, este teste permite a identificação de outras

patologias associadas a uma deficiência do sistema imune, como é o caso da Síndrome

de DiGeorge.

Relativamente ao custo-benefício do rastreio, vários estudos demonstram a sua

mais-valia, comprovando que a realização de rastreio, que será ela mesma tanto menos

dispendiosa quanto mais ajustado estiver o rastreio à população para a qual se dirige,

diminuindo o número de falsos positivos e de segundos testes confirmatórios nestes

casos, é economicamente mais rentável do que os tratamentos e hospitalizações

associados às intercorrências decorridas no período até ao diagnóstico de

imunodeficiências combinada severa numa criança, nomeadamente as infeções graves

e recorrentes que lhe estão associadas, assim como do que o tratamento aplicado após

diagnóstico cujo custo e dificuldade associados estão intimamente relacionados com a

idade de diagnóstico.

No que respeita a aplicação deste rastreio em Portugal, é inquestionável que

representa uma mais-valia no Programa Nacional de Diagnóstico Precoce. No entanto,

antes da sua aplicação, é necessário um estudo mais aprofundado sobre os casos de

SCID que ocorrem em Portugal. São poucos os estudos realizados, não sendo possível

caracterizar exactamente a população acometida por este conjunto de doenças. A

estimativa inicial de incidência de SCID apontava para 1 em cada 100.000 nascimentos

o que poderia tornar inviável a prática deste rastreio em Portugal, principalmente tendo

em conta o número total de nascimentos, que se tem cifrado inferior a 100.000

nascimentos desde 2011, e com tendência decrescente. No entanto, tem-se verificado

que a incidência destas patologias é mais elevada, aproximando-se de metade do

estimado anteriormente (1:58000 nascimentos).

Pela especificidade do rastreio realizado, só alguns laboratórios o poderiam

realizar, havendo, provavelmente, necessidade de centralizar o processo em

laboratórios específicos. Devido à utilização de cartões de Guthrie, em uso nos

restantes rastreio de diagnóstico neonatal, seria necessário ponderar a centralização

também destes rastreios ou a utilização de cartões diferentes conforme se tratasse das

patologias actualmente diagnosticadas ou do rastreio de SCID, o que poderia

acrescentar mais probabilidades de erro e mais custos.

Conclui-se portanto que apesar do inquestionável benefício da adição deste

rastreio ao Programa Nacional de Diagnóstico Precoce, estão ainda por cumprir

algumas etapas desse processo, sendo recomendado a implementação destes estudos

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que permitam viabilizar a implementação do rastreio da imunodeficiência combinada

severa em Portugal.

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TABELAS E FIGURAS

Gene Mutado % casos SCID Perfil Linfocitário

IL2RG (Ligado ao X) 45-50% T- B+ NK-

ADA 16% T- B+ NK-

IL7R 9% T- B+ NK+

JAK3 6% T- B+ NK-

RAG1, RAG2 5% T- B- NK+

DCLRE1C (Artemis) <5% T- B- NK+

TCRD, TCRE, TCRZ Raro T-ou baixo B+ NK+

CD45 Raro T-ou baixo B+ NK+ ou baixo

LCK Raro T-ou baixo B+ NK+

PNP Raro T baixo B baixo NK baixo

LIG4 Raro T- B+ NK+

DNAPKCS Raro T- B- NK+

NHEJ1 (Cernunnos) Raro T- B- NK+

AK2 Raro T- B- NK-

FOXN1 Raro T-ou baixo B+ NK+

STATSa Raro T-ou baixo B+ NK-

CORO1A Raro T-ou baixo B+ NK+

Atualmente desconhecidos ≈ 10%

Tabela 1 – Genes associados à Imunodeficiência Combinada Severa, incidência

na população e respectivo perfil linfocítico(4).

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Figura 1 – Árvore de decisão para avaliar o custo de rastreio da imunodeficiência

combinada severa em recém-nascidos(63).

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Doença Rastreada Incidência

Fenilcetonúria (PKU) 1:12 622

Hiperfenilalaninemia/DHRR 1:41 022

Leucinose (MSUD) 1:205 108

Tirosinemia Tipo I (Tyr I) 1:136 739

Tirosinemia Tipo II/III (Tyr II/III) 1:820 433

Homocistinúria clássica (Hcy) 1:410 217

Deficiência em metionina adenosiltransferase II/III (MAT II/III) 1: 28 291

Citrulinemia tipo I (Cit I) 1:91 159

Acidúria argininosuccinica (AAS) 1:410 217

Argininemia (Arg) 1:164 087

3-metilcrotonilglicinúria (3-MCC) 1:35 671

Acidúria isovalerica (IVA) 1:205 108

Deficiência em holocarboxilase sintetase (Def HCS) 1:410 217

Acidúria propiónica (PA) 1:273 478

Acidúria metilmalónica tipo Cbl (Cbl C/D) 1:91 159

Acidúria 3-hidroxi-3-metilglutárica (3-HMG) 1:102 554

Acidúria malónica (MA) 1:820 433

Deficiêmncia de Desidrogenase dos Ácidos Gordos da Cadeia Média (MCAD)

1:8 372

Deficiência da Desidrogenase de 3-Hidroxe-Acil-CoA de Cadeia Longa (LCHAD)

1:117 205

Deficiência Múltipla das Acil-CoA-Desidrogenases dos Ácidos Gordos (MADD)

1:164 087

Deficiência primária de carnitina (CUD) 1:102 554

Deficiência da Desidrogenase dos Ácidos Gordos de Cadeia Muito Longa (VLCAD)

1:102 554

Deficiência de Carnitina-Palmitol Transferase I (CPT I) 1:410 217

Deficiência de Carnitina-Palmitol Transferase II (CPT II) 1:273 478

Deficiência de Desidrogenase de 3-Hidroxe-Acil-CoA de Cadeia Curta (SCHAD)

1:410 217

Tabela 2 – Dados obtidos do rastreio neonatal realizado entre outubro de 2004 e

dezembro de 2014 em Portugal(67).