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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E COMPORTAMENTO CAROLINE ZECHLINSKI XAVIER DE FREITAS PREVALÊNCIA DE SINTOMAS ARTICULARES EM ADULTOS PORTADORES DE HIV/AIDS ATENDIDOS EM CENTRO DE REFERÊNCIA EM PELOTAS, RS Pelotas 2016

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  • UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E COMPORTAMENTO

    CAROLINE ZECHLINSKI XAVIER DE FREITAS

    PREVALÊNCIA DE SINTOMAS ARTICULARES EM ADULTOS

    PORTADORES DE HIV/AIDS ATENDIDOS EM CENTRO DE REFERÊNCIA

    EM PELOTAS, RS

    Pelotas

    2016

  • 2

    CAROLINE ZECHLINSKI XAVIER DE FREITAS

    PREVALÊNCIA DE SINTOMAS ARTICULARES EM ADULTOS

    PORTADORES DE HIV/AIDS ATENDIDOS EM CENTRO DE REFERÊNCIA

    EM PELOTAS, RS

    Dissertação apresentada ao Programa de

    Pós Graduação em Saúde e

    Comportamento da Universidade

    Católica de Pelotas como requisito

    parcial para obtenção do título de

    Mestre em Saúde e Comportamento.

    Orientador: Prof. Dr. Fábio Monteiro da

    Cunha Coelho

    Pelotas

    2016

  • Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    F866p Freitas, Caroline Zechlinski Xavier de

    Prevalência de sintomas articulares e artrite em adultos portadores de

    HIV/AIDS atendidos em centro de referência em Pelotas, RS. / Caroline Zechlinski Xavier de. – Pelotas: UCPEL, 2018.

    79 f.

    Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Pelotas, Mestrado em

    Saúde e Comportamento, Pelotas, BR-RS, 2018. Orientador: Fábio Monteiro da

    Cunha Coelho.

    1. HIV. 2. Síndrome da imunodeficiência adquirida. 3. artropatia. 4.

    prevalence. I. Coelho, Fábio Monteiro da Cunha, or. II. Título.

    CDD 610

    Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Cristiane de Freitas Chim CRB 10/1233

  • 3

    PREVALÊNCIA DE SINTOMAS ARTICULARES EM ADULTOS

    PORTADORES DE HIV/AIDS ATENDIDOS EM CENTRO DE REFERÊNCIA

    EM PELOTAS, RS

    CAROLINE ZECHLINSKI XAVIER DE FREITAS

    Conceito final: _______

    Aprovado em: _____ de _____________ de ________.

    BANCA EXAMINADORA:

    ______________________________________________________________

    Profa. Dra. – Elaine Pinto Albernaz

    ________________________________________________________________

    Prof. Dr. – Cezar Arthur Tavares Pinheiro

    ____________________________________________

    Orientador – Prof. Dr. Fábio Monteiro da Cunha Coelho

  • 4

    Agradecimento

    Ao meu pai, eterno incentivador, a quem admiro pela grande capacidade de trabalho,

    perseverança e determinação.

    A minha mãe por me ensinar o significado de merecimento, renúncia e fé.

    Ao meu esposo Vinícius por estar ao meu lado, sempre com muito carinho e paciência,

    em mais esta jornada profissional.

    Ao meu filho Germano, amor transformador de minha vida.

    A grande amiga Prof. Dra. Janaína Motta pela fundamental ajuda,

    sempre muito bem humorada e extremamente competente.

    Ao meu orientador Prof. Dr.Fábio Coelho pelo apoio e estímulo para que conseguisse

    trilhar este caminho com as próprias pernas.

    Aos pacientes do SAE que dedicaram mais minutos de seu tempo, já tão dispensado a

    cuidados médicos, para participar desta pesquisa.

  • 5

    RESUMO

    Introdução: Devido a reconstituição imune, proporcionada pela terapia anti-retroviral

    (TARV), as manifestações articulares que eram principalmente de origem séptica na era

    pré-TARV vêm mudando seu espectro e dando espaço a doenças articulares crônicas.O

    objetivo deste estudo é avaliar a prevalência de sintomas articulares e artrite em pacientes

    vivendo com HIV/AIDS atendidos em centro de referência na cidade de Pelotas-RS.

    Métodos: Estudo transversal realizado no ambulatório especializado em HIV/AIDS da

    cidade de Pelotas-RS, onde cerca de 3200 pacientes fazem acompanhamento. Os

    participantes responderam a questionário que avaliou a presença de sintomas articulares e

    artrite (as duas variáveis dependentes deste estudo). Além disso, foram coletadas variáveis

    sociodemográficas (sexo, idade, estado civil, escolaridade, situação laboral), variáveis

    comportamentais (tabagismo e estado nutricional) e de saúde (tuberculose, hepatite B,

    hepatite C, CD4 atual, uso de TARV, uso de inibidor de protease). Para verificar diferenças

    de proporção de sintomas articulares e artrite em relação às categorias das variáveis

    independentes foi utilizado o teste qui-quadrado. A análise ajustada para potenciais fatores

    de confusão foi feita através da regressão de Poisson.

    Resultados: De um total de 413 participantes, 55% (n=227) eram mulheres e 45% (n=186)

    homens. A prevalência geral de sintomas articulares encontrada foi de 65% (n=271) sendo

    maior em mulheres (p=0,012), pessoas com excesso de peso (p=0,000) e indivíduos com

    idade entre 40 e 49 anos (p=0,028). A prevalência geral de artrite foi de 14% (n=58), sendo

    maior em mulheres (p=0,002) e pessoas com excesso de peso (p=0,047). Na análise

    ajustada tendo como desfecho sintomas articulares, apenas a associação com idade foi

    perdida. Na análise ajustada para artrite, a associação com excesso de peso foi perdida,

    entretanto, a associação com tuberculose tornou-se significativa (p=0,038). Dentre os

    indivíduos que apresentavam dor articular, 67,6% usava medicação para alívio da dor e de

    todos entrevistados apenas 5,8% (n=24) tinham algum diagnóstico prévio de reumatismo.

    Conclusão: Os estudos que abordam condições articulares em pacientes vivendo com HIV

    tem como objetivo em sua imensa maioria investigar a ocorrência de doenças

    reumatológicas como um todo e não a prevalência de sintomas articulares nesta população,

    como o realizado aqui. Os achados deste estudo reforçam a idéia de que os pacientes

    vivendo com HIV, devido a TARV e a reconstituição imune, hoje são doentes crônicos e

    merecem maior atenção a condições que diminuam sua qualidade de vida, como a dor

    articular e suas implicações.

  • 6

    Palavras-chave: HIV, Sintomas articulares, Prevalência.

  • 7

    ABSTRACT

    Introduction: Due to immune reconstitution, provided by antiretroviral therapy (HART),

    the articular manifestations that were mainly of septic origin in the pre-HAART era have

    changed its spectrum and giving rise to chronic joint diseases. The aim of this study is to

    evaluate the prevalence of joint symptoms and arthritis in patients living with HIV / AIDS

    in a reference center in the city of Pelotas.

    Methods: Cross-sectional study in the outpatient clinic specializing in HIV / AIDS in the

    city of Pelotas, where about 3200 patients are monitoring. Participants answered a

    questionnaire that assessed the presence of joint symptoms and arthritis (the two dependent

    variables in this study). In addition, socio-demographic variables were collected (gender,

    age, marital status, education, employment status), lifestyle factors (smoking and

    nutritional status) and health (tuberculosis, hepatitis B, hepatitis C, current CD4, use of

    antiretroviral therapy, use of protease inhibitor). To verify differences in the proportion of

    joint symptoms and arthritis in relation to the categories of the independent variables we

    used the chi-square test. The analysis adjusted for potential confounders was performed by

    Poisson regression.

    Results: From a total of 413 participants, 55% (n=227) were women and 45% (n=186)

    men. The overall prevalence of joint symptoms found was 65% (n=271) was higher in

    women (p=0.012), people with overweight (p= 0.000) and individuals aged between 40

    and 49 (p=0.028). The overall prevalence of arthritis was 14% (n=58), being higher in

    women (p=0.002) and those with overweight (p=0.047). In adjusted analysis as having

    outcome joint symptoms, only the association with age was lost. In analysis adjusted for

    arthritis, the association with overweight was lost, however, the association with

    tuberculosis became significant (p=0.038). Among the individuals with joint pain, 67.6%

    used medication for pain relief and all respondents only 5.8% (n=24) had a previous

    diagnosis of rheumatism.

    Conclusion: The studies that address joint conditions in patients living with HIV aims

    overwhelmingly investigate the occurrence of rheumatic diseases as a whole and not the

    prevalence of joint symptoms in this population, as done here. The findings reinforce the

    idea that patients living with HIV due to antiretroviral therapy and immune reconstitution,

    are now chronically ill and deserve greater attention to conditions that reduce their quality

    of life, such as joint pain and its implications.

  • 8

    Keywords: HIV, Joint Symptoms, Prevalence.

  • 9

    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Figura 1 – Busca de artigos....................................................................................... 20

    Figura 2 – Modelo Hierárquico ................................................................................ 28

    Figura 3 – Cronograma ............................................................................................. 30

    Figura 4 – Orçamento ...............................................................................................

    Figura 5 –Figura 1: Frequência dos diferentes sintomas articulares e artrite, em

    pacientes portadores de HIV/AIDS, de acordo com características sócio-

    demográficas, comportamentais e de saúde, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil,

    2015. ...........................................................................................................................

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  • 10

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 – Descrição da amostra e da prevalência de sintomas articulares e artrite, em

    pacientes portadores de HIV/AIDS, de acordo com características sócio-demográficas,

    comportamentais e de saúde, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil,

    2015..………………………………………………………………………………......

    Tabela 2 – Razões de prevalências brutas e ajustadas de sintomas articulares e artrite,

    em pacientes portadores de HIV/AIDS, de acordo com características sócio-

    demográficas, comportamentais e de saúde, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, 2015.

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  • 11

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana

    AIDS - Sindrome de Imunodeficiência Adquirida

    TARV - Terapia Antirretroviral

    CME - Condições Musculoesqueléticas

    SAE - Serviço de Assistência Especializada em HIV/AIDS

    WHO - World Health Organization

    DILS - Síndrome de Linfocitose Infiltrativa Difusa

    UFPEL - Universidade Federal de Pelotas

    UCPEL - Universidade Católica de Pelotas

  • 12

    SUMÁRIO

    APRESENTAÇÃO..................................................................................................

    PROJETO.................................................................................................................

    1.IDENTIFICAÇÃO.................................................................................................

    1.1 Título ....................................................................................................................

    1.2. Mestrando............................................................................................................

    1.3 Orientador ............................................................................................................

    1.4 Instituição .............................................................................................................

    1.5 Curso ....................................................................................................................

    1.6 Linha de pesquisa .................................................................................................

    1.7 Data ......................................................................................................................

    2 INTRODUÇÃO .........................................................................................................

    3 OBJETIVOS ..............................................................................................................

    4 HIPÓTESES ..............................................................................................................

    5 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................

    6 MÉTODO ..................................................................................................................

    6.1 Delineamento ...........................................................................................................

    6.2 Participantes .............................................................................................................

    6.3 Procedimentos e instrumentos..................................................................................

    6.4 Análise dos dados.....................................................................................................

    6.5 Aspectos éticos ........................................................................................................

    6.6 Cronograma ..............................................................................................................

    6.7 Orçamento ................................................................................................................

    7 REFERÊNCIAS ........................................................................................................

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  • 13

    8 ALTERAÇÕES DO PROJETO ..............................................................................

    9 ARTIGO...................................................................................................................

    10 CONSIDERAÇÕES FINAIS OU CONCLUSÃO.................................................

    ANEXOS .......................................................................................................................

    Anexo A –Instrumentos.................................................................................................

    Anexo B - Carta de aprovação no comitê de ética........................................................

    Anexo C -Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.............................................

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  • 14

    APRESENTAÇÃO

    O presente trabalho foi elaborado como requisito para a obtenção do título de mestre

    em Saúde e Comportamento na Universidade Católica de Pelotas. Ele fez parte de um

    estudo maior, intitulado “Prevalência de alterações neurocognitivas por comprometimento

    subcortical em pacientes com HIV/AIDS em uma região do sul do Brasil”.

    O material apresentado está disposto em três partes: o projeto de pesquisa intitulado

    “Prevalência de sintomas articulares em adultos portadores de HIV/AIDS atendidos em

    centro de referência em Pelotas, RS”; o artigo, resultante da atividade desenvolvida com o

    projeto, que leva o mesmo título; e, por fim, as considerações finais e anexos.

    Na primeira parte, o projeto de pesquisa é apresentado. Inicialmente é feita a

    delimitação do problema em estudo, sendo estabelecidos os objetivos, e as hipóteses a

    serem testadas. Após, é apresentada a revisão da literatura disponível sobre o tema e

    descrita a metodologia empregada. Na segunda parte, o artigo confeccionado a partir dos

    resultados obtidos com a execução do projeto é apresentado. A terceira parte traz os

    comentários finais, com uma breve retomada do tema abordado e uma síntese dos

    principais resultados obtidos. Após as considerações finais encontram-se os anexos

    (tabelas, figuras, questionários, termo de consentimento e carta do comitê de ética).

  • 15

    PROJETO

    1. IDENTIFICAÇÃO

    1.1 Título: Prevalência de sintomas articulares em adultos portadores de HIV/AIDS

    atendidos em centro de referência em Pelotas, RS.

    1.2 Doutorando: Caroline Zechlinski Xavier de Freitas

    1.3 Orientador: Prof. Dr.Fábio Monteiro da Cunha Coelho

    1.4 Instituição: Universidade Católica de Pelotas (UCPel)

    1.5 Curso: Mestrado em Saúde e Comportamento

    1.6 Linha de pesquisa: Saúde Pública

    1.7 Data: Outubro de 2016

  • 16

    2. INTRODUÇÃO

    Segundo o boletim epidemiológico de Vírus da Imunodeficiência Humana

    (HIV)/Sindrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS) do ministério da saúde, publicado

    em 2012, a maior taxa de incidência de AIDS no país, no ano de 2011, ocorreu na região

    sul. O Rio Grande do Sul apresentou a maior taxa (40,2/100.000) entre os três estados e

    está entre as 10 Unidades Federativas que apresentaram uma taxa maior que a média

    nacional (20,2/100.000). Entre os casos acumulados de HIV/AIDS notificados de 1980 a

    2012, a região sul ocupa o segundo lugar (19,9%), perdendo apenas para a região sudeste,

    também mais populosa, que é a responsável por 56% dos casos de AIDS no país neste

    período1.

    Com os avanços da Terapia Antirretroviral (TARV) e as políticas em saúde permitindo

    seu uso de maneira amplificada, a maioria dos pacientes passam pelo processo de

    reconstituição imune, o que por sua vez está associado a uma dramática redução nas taxas

    de mortalidade relacionadas ao HIV. Assim, vem sendo concebível dizer atualmente que a

    mortalidade nos pacientes HIV positivos em tratamento é semelhante aquela encontrada

    em pacientes não-HIV2. Com o sucesso da TARV os indivíduos infectados vêm

    conseguindo envelhecer. Além disso, paralelamente, tem aumentando o número de casos

    novos diagnosticados na terceira idade3. Então, a infecção pelo HIV deixou de ser uma

    condição fatal e passou a ser uma doença crônica. Neste cenário de alterações imunes,

    polimedicação e envelhecimento, o manejo das comorbidades destes pacientes tem sido

    um grande desafio.

    Desde a descrição da infecção pelo HIV/AIDS em 1981 uma grande variedade de

    doenças reumatológicas tem sido relatadas4. A prevalência de manifestações

    reumatológicas no HIV varia amplamente entre os estudos. Antes da implementação difusa

    da terapia anti-retroviral (TARV) estudos retrospectivos apresentavam uma taxa de

    complicações musculoesqueléticas de 11 a 72%. Na era TARV as complicações

    reumatológicas diminuíram significativamente, porém continuam prevalentes e também

    novas manifestações vêm emergindo5.

    As manifestações articulares mais comuns relacionadas ao HIV são artralgia e o

    espectro das espondiloartrites. A prevalência de artralgia no HIV foi relatada em torno de

    5% em estudos retrospectivos e de 45% em estudos prospectivos6. Condições articulares

    como artralgia, artrite e espondiloartrites são causadas pela infecção pelo HIV por si,

    desencadeadas por mudanças adaptativas do sistema imune ou secundárias a infecções

  • 17

    associadas. Além disso, alguns anti-retrovirais odem causar hiperuricemia e precipitação

    de cristais levando a artralgia e uma série de outras complicações reumatológicas7. A causa

    exata da dor articular não foi determinada, mas pode ser atribuída a circulação de imuno-

    complexos vírus-hospedeiro ou devido à associação com outras infecções (como hepatite

    C, por exemplo)8.

    O impacto negativo da dor na qualidade de vida já foi documentado em vários estudos.

    Dor é um problema grave para as pessoas portadoras de HIV e é a causa principal e mais

    freqüente de estresse psicológico. Sentir dor pode reduzir a adesão ao tratamento e a

    qualidade de vida nos pacientes com HIV/AIDS. Estudo africano recente encontrou uma

    prevalência de 83,7% de dor em indivíduos HIV, sendo que destes, 82% receberam alguma

    medicação para controle da dor e apenas 23,5% obtiveram resposta adequada com o

    tratamento instituído. O controle inadequado da dor continua um desafio para o indivíduo

    com HIV e causa grande impacto em sua qualidade de vida9.

    Existem poucos estudos de países em desenvolvimento abordando o impacto de

    Condições Musculoesqueléticas (CME), não relacionadas a trauma, na população em geral.

    Nesses países as CME são geralmente negligenciadas pelos pesquisadores devido a uma

    aparente maior urgência em investigar condições infecciosas10. A organização mundial de

    saúde reconheceu que existe um número muito maior de pesquisas direcionadas a doenças

    fatais enquanto doenças que levam a deformidades são negligenciadas e o impacto social

    e econômico destas últimas é provavelmente maior11.

    Em estudo recente com 1903 pacientes HIV/AIDS a dor esteve associada,

    independentemente de distúrbios de humor ou abuso de substâncias, ao comprometimento

    da função física em três domínios (mobilidade, auto-cuidado e atividades diárias)12.

    No Brasil não existem estudos avaliando a prevalência de sintomas articulares e seu

    impacto em pacientes HIV positivos. O grande número de pessoas vivendo com HIV no

    sul do país, o atual estado de cronicidade que a infecção atingiu, o aumento de idosos com

    HIV, as comorbidades associadas (tanto pela imunossupressão quanto pelas complicações

    do tratamento) e o impacto da dor na capacidade funcional, qualidade de vida e adesão ao

    tratamento nesses pacientes é que nos fez considerar relevante investigar a prevalência de

    sintomas articulares nestes pacientes e seus fatores associados.

  • 18

    3. OBJETIVOS

    3.1 Geral

    Avaliar a prevalência de sintomas articulares em pacientes portadores de HIV/AIDS que

    fazem acompanhamento no SAE (Serviço de Assistência Especializada em HIV/AIDS) de

    Pelotas-RS.

    3.2 Específicos

    Relacionar sintomas articulares com fatores sociodemográficos: sexo, idade, ocupação,

    estado civil, classe socioeconômica, escolaridade, cor da pele;

    Relacionar sintomas articulares com situação trabalhista, tabagismo, obesidade,

    atividade física;

    Relacionar sintomas articulares com infecções crônicas concomitantes como hepatite B,

    hepatite C, tuberculose;

    Relacionar sintomas articulares com a contagem de linfócitos T-CD4;

    Relacionar sintomas articulares com estágio do HIV;

    Relacionar sintomas articulares com terapia anti-retroviral.

  • 19

    4. HIPÓTESES

    A prevalência de sintomas articulares será de 30%.

    A prevalência de sintomas articulares será maior em mulheres, pessoas de maior idade,

    sem companheiro (a), menor escolaridade e negros.

    A prevalência de sintomas articulares será maior em quem trabalha atualmente, em

    indivíduos obesos, tabagistas, usuários de drogas, e em quem não realiza atividade física.

    A prevalência de sintomas articulares será maior na infecção concomitante com

    tuberculose, hepatite B e principalmente hepatite C.

    A prevalência de sintomas articulares será maior nos pacientes que apresentam CD4

    maior que 500.

    A prevalência de sintomas articulares em pacientes soropositivos será influenciada pelo

    estágio da infecção pelo HIV, sendo maior no estágio 2 e 3.

    A prevalência de sintomas articulares será maior em pacientes que estão em tratamento

    com inibidores de protease em comparação aos outros tratamentos e à pacientes sem

    indicação de anti-retrovirais.

  • 20

    5. REVISÃO DE LITERATURA

    5.1 Estratégia de busca

    A partir de junho de 2013 até novembro de 2013, foi realizada uma revisão de literatura

    nas bases de dados PUBMED, MEDLINE, LILACS, SCIELO com objetivo de encontrar

    trabalhos que abordassem o tema de interesse desta pesquisa, utilizando os descritores:

    - (arthralgia OR articular pain OR articular symptoms) AND (hiv OR aids OR hiv/aids OR

    acquired immunodeficiency syndrome)

    Figura 1: Busca de artigos.

    PUBMED LILACS SCIELO Outras fontes Total

    Encontrados 732 9 13 20 774

    Referente ao tema 34 0 1 20 55

    Utilizaram-se os seguintes limites:

    - humanos

    - adultos

    - inglês

    - estudos de revisão

    - estudos randomizados

    Após definidas as limitações foram identificados 774 artigos. Além disso, a busca foi

    complementada por referências bibliográficas de alguns artigos selecionados e páginas da web

    da World Health Organization (WHO) e do Ministério da Saúde do Brasil.

    Após exclusão daqueles não relevantes ao tema, a revisão, até o momento, ficou restrita a

    27 artigos.

  • 21

    5.2 Corpo da revisão

    Os mecanismos que ligam o HIV a doenças reumatológicas não estão totalmente

    esclarecidos. Uma possível explicação é a invasão direta do vírus no endotélio, sinóvia e células

    hematopoiéticas resultando na expressão de auto-antígenos. Outra hipótese é a do mimetismo

    molecular, onde agentes infecciosos como o HIV, possuem uma similaridade molecular a um

    antígeno humano, induzindo uma resposta auto-imune. Outro argumento desta hipótese é que

    na AIDS a ativação e expansão policlonal de células B gera a produção de vários anticorpos

    como o FAN e as anticardiolipinas, ambos auto-anticorpos. Além disso, no HIV ocorre um

    número elevado de imunocomplexos circulantes. Outro fato interessante, é que em casos

    avançados de AIDS, a reconstituição imune após TARV, leva a uma ativação auto-imune, o

    que faz doenças reumatológicas prévias que estavam assintomáticas (devido ao baixo número

    de CD4) se reativarem e outras aparecerem neste momento, pois esta fase caracteriza-se

    também por altos níveis de citocinas pró-inflamatórias e ativação de células CD4 e CD84.

    Estudos antigos questionavam a existência de uma verdadeira associação entre doenças

    reumatológicas e a infecção pelo HIV. Porém, estudos prospectivos e principalmente a

    experiência na África, onde as espondiloartrites eram raras antes da epidemia pelo HIV e hoje

    muito comuns confirmaram uma real associação entre sintomas articulares e a infecção pelo

    HIV8.

    Evidências do efeito direto do HIV em produzir manifestações reumáticas foi fornecido

    por dois estudos (na Argentina13 e no México6) que pesquisaram pacientes HIV positivos e HIV

    negativos. O resultado desses estudos mostrou uma prevalência significativamente maior de

    manifestações reumáticas em soropositivos comparado a soronegativos nos mesmos centros.

    As manifestações reumatológicas vistas em indivíduos com HIV podem ser classificadas

    da seguinte maneira14:

    Desordens específicas de HIV positivos:

    Síndrome de Linfocitose Infiltrativa Difusa (DILS)

    Artrite associada ao HIV

    Desordens freqüentes em HIV positivos:

    Artralgia e mialgia associada ao HIV

    Artrite reativa

    Artrite psoriásica

  • 22

    Polimiosite

    Miosite por corpúsculo de inclusão

    Vasculites

    Artrite séptica, osteomielite, piomiosite

    Desordens secundárias a TARV:

    Miopatia pela zidovudina

    Osteonecrose

    Rabdomiólise

    Lipomatose de parótidas

    Desordens que remitem com a infecção pelo HIV:

    Artrite reumatóide

    Lúpus eritematoso sistêmico

    Sarcoidose

    Já o espectro das manifestações articulares relatadas na infecção pelo HIV podem ser

    descritas assim8:

    Artralgia

    Síndrome articular dolorosa

    Artrite associada ao HIV

    Artrite reativa

    Artrite psoriásica

    Espondiloartrite indiferenciada

    Artrite séptica

    Osteonecrose avascular

    Artralgia é um achado comum em pacientes HIV positivos, porém inespecífico5. Sua

    prevalência varia conforme o tipo de estudo entre 4,5 e 46%8. Aproximadamente 5% dos

    pacientes, ao longo da doença, vão queixar-se de artralgias difusas. Ainda não foi determinado

    se é atribuída a circulação viral e complexos imunes do hospedeiro devido a infecção pelo HIV

    por si ou devido a outras infecções associadas (ex: hepatite C)14. Em artigo de revisão 5 as

    principais causas de artralgia no cenário do HIV citadas são: infecção primária pelo HIV, a

    síndrome dolorosa articular intermitente, uso de indinavir, ritonavir, saquinavir e artrite. As

  • 23

    articulações mais comumente envolvidas são os joelhos, ombros e cotovelos15. Mas assim como

    em outras infecções virais, poliartralgia é comumente vista no HIV, em uma freqüência de até

    45%16.

    A síndrome articular dolorosa caracteriza-se por uma crise de dor articular aguda de forte

    intensidade e curta duração, permanecendo menos de 24 horas e leva o paciente a procurar

    atendimento médico de urgência, geralmente necessitando uso de opióides para alívio da dor.

    Ao exame físico não há indícios de inflamação. As articulações mais frequentemente

    envolvidas são joelhos, ombros e cotovelos8.

    Artrite também é um achado comum e em artigo de revisão as principais causas de artrite

    em pacientes HIV-positivos encontradas foram a artrite associada ao HIV, artrite reativa, artrite

    psoriásica, gota, artrite séptica, crioglobulinemia5.

    A artrite associada ao HIV pode ocorrer em qualquer momento, no curso da doença, e tem

    geralmente um padrão de acometimento oligoarticular assimétrico de membros inferiores,

    porém um padrão monoarticular ou poliarticular (artrite reumatóide-like) também é visto.

    Tende a ter um curso limitado até 6 semanas, porém, pode causar destruição articular

    significativa. Então além desta apresentação com padrão articular bem variável e curso auto-

    limitado, também diferencia-se da artrite reativa associada ao HIV por não cursar com entesites,

    envolvimento mucocutâneo ou ter associação ao HLA-B27 (antígeno leucocitário humano) 14.

    As demais doenças reumatológicas citadas acima, que cursam com sintomas articulares,

    seguem os mesmos critérios diagnósticos estabelecidos para os pacientes HIV-negativos,

    embora tenham peculiaridades em sua apresentação e em seu curso por estarem associadas ao

    vírus do HIV.

    Um estudo Chinês com 98 pacientes encontrou como principais fatores de risco para

    manifestações reumáticas em pacientes HIV a velocidade de hemossedimentação, o estágio da

    infecção pelo HIV e a coinfecção com a hepatite C,- devido ao provável sinergismo com o HIV

    agravando as anormalidades imunológicas.Neste estudo 75% dos pacientes estavam em estágio

    3 do HIV e as manifestações mais vistas foram vasculites, DILS, lúpus-like e miosite, enquanto

    manifestações articulares não foram comuns17.

    Desde o início dos relatos de manifestações reumatológicas na AIDS as espondiloartrites

    são uniformemente as mais comumente associadas ao vírus18. Além disso, estudos em países

    desenvolvidos19 mostravam uma baixa ocorrência de acometimento séptico osteoarticular

    nestes lugares, locais estes, onde o comportamento homosexual é o maior fator de risco. Já em

    estudo espanhol as manifestações sépticas foram comuns, o que foi atribuído a alta prevalência

    de usuários de drogas endovenosas na amostra20.

  • 24

    Em estudo americano mais recente com 75 pacientes que apresentavam um CD4 médio

    de 250 cópias, as manifestações sépticas foram as mais comuns (31%), e tiveram como fatores

    de risco o uso de drogas endovenosas e transmissão heterosexual, enquanto envolvimento

    articular ocorreu em 26%. Nesta pesquisa comportamento homosexual, assim como em outros

    estudos, foi fator de risco para espondiloartrites18.

    Com a instituição da TARV, ocorre a supressão da replicação viral e inicia-se a restauração

    do número de linfócitos T CD4, porém alguns componentes do “repertório” imune são perdidos

    irreversivelmente com a progressão da doença e apesar da “normalização” do número de CD4,

    estudos funcionais mostram que raramente ocorrerá uma completa restauração imune. A

    introdução da TARV está associada a uma mudança no espectro das doenças reumáticas no

    HIV, com uma maior ocorrência de artralgia, mialgia, rabdomiólise, osteopenia, osteonecrose

    e uma diminuição nas manifestações articulares sépticas e neoplásicas sendo relatadas21. Além

    disso, DILS teve uma redução dramática e doenças antes relatadas como não coexistirem com

    o HIV, como a artrite reumatóide por exemplo tem sido vistas frequentemente devido a

    reconstituição imune14.

    Porém, devido a grande variação de métodos e critérios diagnósticos utilizados nos artigos,

    uma revisão recente22 considera que são necessários estudos controlados para definir mais

    claramente o efeito da TARV nas doenças reumáticas e salienta que estes pacientes com

    doenças reumatológicas auto-imune podem, não raro, necessitar terapia imunossupressora para

    controle destas patologias e então estudos avaliando este cenário são urgentes. Levando-se em

    consideração esta recente mudança no espectro das manifestações reumatológicas no HIV e

    visando uma melhor qualidade de vida é que se torna relevante averiguar a prevalência de

    sintomas articulares nesses pacientes. Além disso, não há estudos no Brasil abordando este

    tema.

  • 25

    6. MÉTODO

    6.1 Delineamento

    Estudo transversal.

    6.2 Participantes e coleta de dados

    Pacientes portadores de HIV/AIDS maiores de 18 anos, atendidos no SAE. Neste serviço

    3.200 pacientes adultos realizam acompanhamento, dos quais cerca de 1.500 retiram TARV

    mensalmente.

    Os pacientes serão entrevistados por seis entrevistadores, em uma sala de atendimento nas

    dependências do ambulatório de clínica médica da faculdade de Medicina-Universidade

    Federal de Pelotas (UFPEL), onde funciona o SAE, antes ou após consulta médica previamente

    agendada, assim como na retirada de medicamentos na farmácia do SAE, e responderão ao

    instrumento de pesquisa (Anexo A).

    O cálculo do tamanho amostral foi realizado no programa aberto Open Epi, partindo-se de

    uma população estimada em 3200 indivíduos e uma prevalência de sintomas articulares

    estimada em 30%, com intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 3,5%. Tais

    parâmetros resultaram em um tamanho amostral estimado em 547 indivíduos, aos quais serão

    acrescidos 10% para compensar possíveis perdas ou recusas.

    6.2.1 Estudo Piloto

    Foi realizado um estudo piloto com 60 pacientes (10% da amostra estimada), no mês de

    janeiro de 2014, com o objetivo de identificar tempo da aplicação dos questionários,

    compreensão e aceitação por parte dos pacientes, assim como dificuldades na aplicação

    identificadas pelos pesquisadores e pacientes, e adequação do espaço físico utilizado para as

    entrevistas.

  • 26

    6.2.2 Critérios de inclusão

    Serão incluídos pacientes com 18 anos de idade ou mais, portadores de HIV/AIDS, que

    consultarem no SAE no período de fevereiro a dezembro de 2015, e que aceitarem participar

    da pesquisa.

    6.2.3 Critérios de exclusão

    Serão excluídos os indivíduos que apresentarem qualquer condição clinica no momento da

    entrevista que dificulte a compreensão e o diálogo com o entrevistador assim como as gestantes.

    6.3 Procedimentos e Instrumentos

    6.3.1 Desfecho primário

    Presença de sintomas articulares.

    6.3.2 Desfecho secundário

    Idade (numérica contínua)

    Sexo (categórica dicotômica)

    Escolaridade (numérica ordinal)

    Situação laboral (categórica politômica)

    Situação conjugal (categórica dicotômica)

    Obesidade (categórica dicotômica)

    Tabagista (categórica dicotômica)

    Usuário de drogas (categórica dicotômica)

    Atividade física (categórica dicotômica)

    Infecção concomitante hepatite C (categórica dicotômica)

    Infecção concomitante hepatite B (categórica dicotômica)

    Infecção atual de tuberculose (categórica dicotômica)

    Contagem de linfócitos T CD4 (numérica contínua)

    Estágio da infecção pelo HIV (numérica contínua)

  • 27

    Uso de anti-retrovirais (categórica dicotômica)

    Qual anti-retroviral (categórica politômica)

    6.3.4 Instrumentos

    A variável dependente, sintomas articulares, foi coletada de maneira adaptada do

    questionário do módulo de artrite do Behavioral Risk Factor Surveillance System23. Este tipo

    de adaptação já foi realizada em outros estudos de forma semelhante24. Não existe um

    questionário validado para pesquisar sintomas articulares de uma forma ampla, como é o

    objetivo deste estudo. A maioria dos questionários que abordam sintomas articulares o fazem

    dentro de questionários para doenças específicas, que não é o objetivo aqui.

    Como o processo inflamatório articular se expressa geralmente por dor, edema, rigidez

    matinal e limitação da mobilidade na topografia da articulação comprometida, alguns

    pesquisadores25,26 têm avaliado a prevalência de artrite na comunidade por intermédio do relato

    de sintomas articulares crônicos ou do diagnóstico médico referido.

    Certamente a avaliação médica dos indivíduos com queixas articulares é mais precisa do

    que o auto-relato, todavia, não é factível para rastreamento. Além do que, a acurácia do relato

    de condições reumatológicas quando comparadas aos dados de prontuários médicos, apresenta

    uma boa concordância geral – 87%, segundo a literatura27.

    A presença de sintomas articulares será definida como a resposta positiva a pelo menos

    uma das seguintes perguntas: No último ano, você teve dolorimento na juntas? No último ano,

    você teve inchaço na juntas? No último ano, você teve endurecimento ou dificuldade para

    mexer as juntas, ao levantar pela manhã? (Anexo A)

    6.4 Análise de dados

    Após a aplicação e codificação dos instrumentos, a digitação dos dados será realizada

    no programa Epi-Info 6.0. Para garantir maior fidelidade às informações coletadas, será

    realizada dupla entrada dos dados, checagem automática no momento da digitação e verificação

    das inconsistências da digitação comparando as duas entradas de dados. Para o tratamento

    estatístico dos dados será utilizado o programa STATA 12.0. A análise inicial terá como

    objetivo obter frequências das variáveis independentes, a fim de caracterizar a amostra do

    estudo. As médias aritméticas e desvio-padrão (DP) serão calculados para todas as variáveis

    quantitativas da amostra com o mesmo intuito. Será realizada uma análise de significância

  • 28

    estatística para verificar diferenças de proporção de sintomas articulares em relação às

    categorias das variáveis independentes em estudo utilizando teste qui-quadrado. A análise

    multivariada será realizada através da regressão de Poisson.

    As variáveis independentes que na análise bivariada apresentarem um valor p

  • 29

    a presença de sintomas articulares identificada por esta pesquisa, para que as providências

    necessárias sejam tomadas.

    6.5.1 Riscos

    A pesquisa oferece riscos mínimos aos participantes visto não apresentar nenhum exame

    invasivo, por exemplo. Podemos considerar como risco de algum grau de angústia ou

    constrangimento pelo fato de responder um questionário amplo com perguntas de saúde física

    e emocional.

    6.5.2 Benefícios

    Os pacientes que apresentarem sintomas aticulares ou artrite serão, caso a necessidade,

    encaminhados para atendimento com especialista, o que pode levar a um diagnóstico precoce

    de patologia articular e com isto trazer um benefício ao paciente.

    6.5.3 Divulgação dos Resultados

    A divulgação dos resultados do estudo será em forma de trabalho de conclusão do

    Mestrado em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas, e artigo para

    publicação científica na Revista Brasileira de Reumatologia.

  • 30

    6.6 Cronograma

    Figura 3: Cronograma.

    M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

    Escolha do tema X

    Rev. bibliografia X X X X X X X X X X X X X X X X X

    Elaboração projeto

    X X X

    Qualificação projeto

    X

    Avaliação comitê

    X

    Estudo piloto

    X

    Coleta de dados

    X X X X X

    Proces. dados

    X X X

    Análise resultados

    X X

    Redação artigo

    X X X X

    Defesa

    X

    Divulgação

    X

    6.7 Orçamento

    Figura 4: Orçamento.

    DESCRIÇÃO VALOR TOTAL R$

    Impressões e material de Xerox 12.000

    Material de consumo 500.00

    Total geral 17.000

    10% de reserva técnica 170.00

  • 31

    7. REFERÊNCIAS

    1- MINISTÉRIO DA SAÚDE - SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE -

    COORDENAÇÃO NACIONAL DST/AIDS. Boletim Epidemiológico - AIDS-DST ano VIII

    nº 01 - 1ª a 26ª semanas epidemiológicas-janeiro a junho de 2012. Disponível em:

    http://www.aids.gov.br.

    2- LEWDWN, C.; BOUTELOUP, V.; DE WIT,S.; et al. All-cause mortality in treated HIV-

    infected adults with CD4 ≥500/mm3 compared with the general population: evidence from a

    large European observational cohort collaboration. International journal of epidemiology, v.

    41,p. 433-445, 2012.

    3- PARIKH, S.M.; OBUKU, E.A.; WALKER, S.A.;et al.Clinical Differences between

    Younger and Older Adults with HIV/AIDS Starting Antiretroviral Therapy in Uganda and

    Zimbabwe: A Secondary Analysis of the DART Trial. PLoS One, v. 8, p. e76158, 2013.

    4- YAO, Q.; FRANK, M.; GLYNN, M.; et al.Rheumatic manifestations in HIV-1 infected in-

    patients and literature review. Clinical and experimental rheumatology, v. 26, p. 799-806,

    2008.

    5- WALKER, U.; A.; TYNDALL, A.; DAIKELER, T. Rheumatic conditions in human

    immunodeficiency virus infection. Rheumatology (Oxford, England),v. 47, p. 952-959, 2008.

    6- MEDINA-RODRIGUEZ, F.; GUZMAN, C.; JARA L.J.; et al. Rheumatic manifestations

    in human immunodeficiency virus positive and negative individuals: a study of 2 populations

    with similar risk factors. The Journal of rheumatology, v. 20, p. 1880–1884, 1993.

    7- FLORENCE, E.; SCHROOTEN, W.; VERDONCK, K.;et al. Rheumatological

    complications associated with the use of indinavir and other protease inhibitors. Annals of the

    rheumatic diseases, v. 61, p. 82-84, 2002.

    8- MODY, G.M.; PARKE, F.A.; REVEILLE, J.D. Articular manifestations of human

    immunodeficiency virus infection. Best practice & research. Clinical rheumatology,v. 17 p.

    265-287, 2003.

    9- NKHOMA, K.; SEYMOUR, J.; ARTHUR, A. An educational intervention to reduce pain

    and improve pain management for Malawian people living with HIV/AIDS and their family

    carers: study protocol for a randomised controlled trial. Trials, v. 214-216, 2013.

    10- ADEBAJO, A.O. Tropical rheumatology. Epidemiology and community studies: Africa.

    Baillière's clinical rheumatology, v. 9, p. 21-30, 1995.

    11- MUIRDEN,K.D. Tropical rheumatology. Epidemiology and community studies:

    Asia/Pacific region. Baillière's clinical rheumatology, v. 9, p. 11-20, 1995.

    12- MERLIN, J.S.; WESTFALL, A.O.; CHAMOT, E.;et al.Pain is Independently Associated

    with Impaired Physical Function in HIV-Infected Patients. Pain medicine (Malden, Mass.),v.

    14, p. 1985-193, 2013.

  • 32

    13- BERMAN, A.; REBOREDO, G.; SPINDLER, A.; et al. Rheumatic manifestations in

    populations at risk for HIV infection: the added effect of HIV. The Journal of rheumatology,

    v. 18, p. 1564–1567, 1991.

    14- REVEILLE, J.D.; WILLIAMS, F.M. Infection and musculoskeletal conditions:

    Rheumatologic complications of HIV infection. Best practice & research. Clinical

    rheumatology, v. 20, p. 1159-1179, 2006.

    15- BERMAN, A.; ESPINOZA, L.R.; DIAZ, J.D.;et al. Rheumatic manifestations of

    humanimmunodeficiency virus infection. The American journal of medicine, Peru, v. 85, p.

    59–64, 1988.

    16- CALABRESE LH, KELLEY DM, MYERS A et al. Rheumatic symptoms and human

    immunodeficiency virus infection. The influence of clinical and laboratory variables in a

    longitudinal cohort study. Arthritis and rheumatism,v. 34, p. 257–263, 1991.

    17- ZHANG, X.; LI, H.; LI, T.;et al. Distinctive rheumatic manifestations in 98 patients with

    human immunodeficiency virus infection in China. The Journal of rheumatology, v. 34, p.

    1760-1764, 2007.

    18- MARQUEZ, J.; RESTREPO, C.S.; CANDIA, L.;et al.Human immunodeficiency virus-

    associated rheumatic disorders in the HAART era. The Journal of rheumatology, v. 31, p.

    741-746, 2004;

    19- REVEILLE, J.D.The changing spectrum of rheumatic disease in human

    immunodeficiency virus infection. Seminars in arthritis and rheumatism, v. 30, p. 147-166,

    2000.

    20- CASADO, E.; OLIVE, A.; HOLGADO, S.; et al. Musculoskeletal manifestations in

    patients positive for human immunodeficiency virus: correlation with CD4 count. The

    Journal of rheumatology, v. 28, p. 802-804, 2001.

    21- CALABRESE, L.H.; KIRCHNER, E.; SHRESTHA, R. Rheumatic complications of

    human immunodeficiency virus infection in the era of highly active antiretroviral therapy:

    emergence of a new syndrome of immune reconstitution and changing patterns of disease.

    Seminars in arthritis and rheumatism, v. 35, p. 166-174, 2005.

    22- LAWSON, E.; WALKER-BONE, K.The changing spectrum of rheumatic disease in HIV

    infection. British medical bulletin, v. 103, p. 203-221, 2012.

    23- CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Behavioral risk factor

    surveillance system survey questionnaire. Atlanta: Centers for Disease Controland

    Prevention, US Department of Health and Human Services; 2001.

    24- SILVA, V.R.; MENEZES, A.M.; NOAL, R.B. Sintomas articulares crônicos em adultos

    de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil: prevalência e determinantes.Caderno de Saúde Publica,

    v. 25, p. 2571-2581, 2009.

  • 33

    25- BADLEY, E.M.; TENNANT, A. Impact of disablement due to rheumatic disorders in a

    British population: estimates of severity and prevalence from the Calderdale Rheumatic

    Disablement Survey.Annals of the rheumatic diseases, v. 52, p. 6-13, 1993.

    26- CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Prevalence of self-

    reported arthritis or chronic joint symptoms among adults – United States, 2001.MMWR.

    Morbidity and mortality weekly report, v. 51, p. 948-950, 2002.

    27- RASOOLY, I.; PAPAGEORGIOU, A.C.; BADLEY, E.M.Comparison of clinical and self

    reported diagnosis for rheumatology outpatients. Annals of the rheumatic diseases, v. 54, p.

    850-852, 1995.

  • 34

    8. ALTERAÇÕES DO PROJETO

    Este projeto de pesquisa teve seu cronograma alterado, tendo sido qualificado no

    ano de 2013, porém como fez parte de um estudo maior, intitulado “Prevalência de alterações

    neurocognitivas por comprometimento subcortical em pacientes com HIV/AIDS em uma

    região do sul do Brasil”, e recebeu incentivo financeiro da FAPERGS e do CNPQ, ocorreu um

    atraso no trabalho de campo pois foram necessários instrumentos que só estiveram disponíveis

    no ano de 2015 quando então iniciou a coleta de dados desta pesquisa.

  • 35

    ARTIGO 1

  • 36

    Prevalência de sintomas articulares e artrite em adultos portadores de

    HIV/AIDS atendidos em centro de referência em Pelotas, RS

    Objetivo: Avaliar a prevalência de sintomas articulares e artrite em pacientes vivendo com

    HIV/AIDS atendidos em centro de referência na cidade de Pelotas-RS.

    Métodos: Estudo transversal realizado no Serviço de Assistência Especializada em

    HIV/AIDS (SAE-HIV/AIDS) da cidade de Pelotas-RS. Os participantes responderam a

    questionário que avaliou a presença de sintomas articulares e artrite. Além disso, foram

    coletadas variáveis sociodemográficas, comportamentais e de saúde. Para verificar diferenças

    de proporção de sintomas articulares e artrite em relação às categorias das variáveis

    independentes foi utilizado o teste qui-quadrado. A análise ajustada para potenciais fatores de

    confusão foi feita através da regressão de Poisson.

    Resultados e Conclusão: De um total de 413 participantes, 55,0% (n=227) eram mulheres. A

    prevalência geral de sintomas articulares encontrada foi de 65,0% (n=271) sendo maior em

    mulheres (p=0,012), pessoas com excesso de peso (p=0,000) e indivíduos com idade entre 40

    e 49 anos (p=0,028). A prevalência geral de artrite foi de 14,0% (n=58), sendo maior em

    mulheres (p=0,002) e pessoas com excesso de peso (p=0,047). Na análise ajustada tendo como

    desfecho sintomas articulares, apenas a associação com idade foi perdida. Na análise ajustada

    para artrite, a associação com excesso de peso foi perdida, entretanto, a associação com

    tuberculose tornou-se significativa (p=0,038). A alta prevalência de sintomas articulares e

    artrite encontrada no presente estudo alerta para quanto este tema é relevante e deve ser

    abordado no seguimento clínico de pacientes vivendo com HIV. Além disso, os achados deste

    estudo reforçam que os pacientes vivendo com HIV atualmente são doentes crônicos e

    apresentam condições semelhantes a população geral, as quais não devem ser negligenciadas.

    Palavras-chave: HIV, Sintomas articulares, Prevalência.

  • 37

    ABSTRACT

    Objective: To evaluate the prevalence of joint symptoms and arthritis in patients living with

    HIV / AIDS in a reference center in the city of Pelotas.

    Methods: Cross-sectional study in the outpatient clinic specializing in HIV / AIDS in the city

    of Pelotas. Participants answered a questionnaire that assessed the presence of joint symptoms

    and arthritis. In addition, socio-demographic, behavioral and health variables were collected.

    To verify differences in the proportion of joint symptoms and arthritis in relation to the

    categories of the independent variables we used the chi-square test. The analysis adjusted for

    potential confounders was performed by Poisson regression.

    Results and Conclusion: From a total of 413 participants, 55,0% (227) were women and 45%

    (186) men. The overall prevalence of joint symptoms found was 65,0% (271) was higher in

    women (p= 0.012), people with overweight (p= 0.000) and individuals aged between 40 and

    49 (p= 0.028). The overall prevalence of arthritis was 14,0% (58), being higher in women (p

    = 0.002) and those with overweight (p= 0.047). In adjusted analysis as having outcome joint

    symptoms, only the association with age was lost. In analysis adjusted for arthritis, the

    association with overweight was lost, however, the association with tuberculosis became

    significant (p= 0.038). The high prevalence of arthritis and joint symptoms found in this study

    shows how this topic is relevant and should be addressed in clinical follow-up of patients

    living with HIV. In addition, the findings of this study reinforce that patients living with HIV

    are now chronically ill and in conditions similar to the general population, which should not

    be neglected.

    Keywords: HIV, Joint symptoms, Prevalence.

  • 38

    Introdução

    Com os avanços da terapia antirretroviral (TARV) pacientes vivendo com HIV em

    tratamento atualmente vêm conseguindo envelhecer e atingir uma mortalidade próxima àquela

    encontrada em pacientes não-HIV.1 Devido a reconstituição imune, as manifestações

    articulares que eram principalmente de origem séptica na era pré-TARV vêm mudando seu

    espectro e dando espaço a doenças crônicas, como as articulares. 1 Então, neste cenário onde

    a infecção pelo HIV tornou-se uma doença crônica, o manejo das comorbidades destes

    pacientes, incluindo a dor articular, tem sido um grande desafio.

    As manifestações articulares mais comuns relacionadas ao HIV são a artralgia e o

    grupo das espondiloartrites. A prevalência de artralgia no HIV foi relatada em torno de 5,0%

    em estudos retrospectivos e de 45,0% em estudos prospectivos.2 Pesquisas anteriores

    questionavam a existência de uma associação entre doenças reumatológicas e a infecção pelo

    HIV. Porém, principalmente a experiência na África, onde as espondiloartrites eram raras

    antes da epidemia pelo HIV e hoje muito comuns apontaram uma associação entre a infecção

    pelo HIV e sintomas articulares.3

    Dor articular é um problema grave, principalmente para portadores de HIV, pois a dor

    é a causa mais frequente de estresse psicológico, o que pode reduzir a adesão ao tratamento e

    a qualidade de vida nesses pacientes.4 Apesar disso, existem poucos estudos de países em

    desenvolvimento abordando o impacto de condições musculoesqueléticas (CME), não

    relacionadas a trauma. Corroborando com este fato a Organização Mundial da Saúde

    reconhece que existe um número muito maior de pesquisas direcionadas a doenças fatais

    enquanto doenças que levam a deformidades articulares são negligenciadas e o impacto social

    e econômico destas últimas é provavelmente maior. 5,6

  • 39

    No Brasil não existem estudos avaliando a prevalência de sintomas articulares em

    pacientes vivendo com HIV. Logo o objetivo desta pesquisa foi avaliar a prevalência de

    sintomas articulares e artrite em pacientes portadores de HIV/AIDS na cidade de Pelotas-RS.

    Material e Métodos

    Trata-se de um estudo transversal com pacientes portadores de HIV/AIDS maiores de

    18 anos, atendidos no Serviço de Assistência Especializada (SAE) em HIV/AIDS em Pelotas,

    RS no ano de 2015. Foram excluídos os indivíduos que apresentaram qualquer condição

    clínica, no momento da entrevista, que dificultasse a compreensão e o diálogo com o

    entrevistador assim como as gestantes. Os pacientes foram entrevistados no ambulatório do

    SAE, antes ou após consulta médica agendada.

    O cálculo do tamanho amostra foi realizado no programa Open Epi, partindo-se de

    uma população de 3.200 indivíduos, número de pacientes que faz acompanhamento no SAE,

    e uma prevalência de sintomas articulares estimada em 50,0%, com intervalo de confiança de

    95% e margem de erro de 5,0%. Tais parâmetros resultaram em um tamanho amostral

    estimado em 344 indivíduos, aos quais foram acrescidos 20,0% para compensar possíveis

    perdas ou recusas, totalizando 412 indivíduos.

    Com relação às variáveis independentes, as sócio demográficas utilizadas foram sexo

    (Masculino e Feminino), idade em anos (18-29; 30-39; 40-49 e ≥50), escolaridade em anos

    (0-4; 5-8; 9-11 e ≥12), estado civil (com e sem companheiro), trabalha atualmente (não e sim).

    Em relação as variáveis comportamentais foram coletadas informações sobre tabagismo (sim

    ou não) através da questão “Nos últimos três meses você usou cigarro pelo menos uma vez ao

    dia?”. Para a construção da variável Estado Nutricional o peso foi aferido, em quilos, através

    de uma balança com precisão de 100 gramas e a altura, em metros, através de um estadiometro

    com precisão de 1 milimetro e operacionalizados através do Índice de Massa Corporal

    calculado através da equação peso (em quilos) dividido por altura (em metros) ao quadrado,

  • 40

    os indivíduos com menos de 60 anos foram classificados em desnutridos (< 18,5 kg/m2),

    eutróficos (entre 18,5 e 24,9 kg/m2) e excesso de peso (≥ 25 kg/m2), enquanto aqueles com 60

    anos ou mais foram classificados em desnutridos (< 22 kg/m2), eutróficos (entre 22 e 27 kg/m2)

    e excesso de peso (≥ 27,1 kg/m2).

    Através do prontuário foram coletadas variáveis de saúde como informações sobre

    história prévia ou atual de hepatite B (não e sim), hepatite C (não e sim), tuberculose (não e

    sim) e CD4 atual em cópias/ml (

  • 41

    frequências absolutas e relativas, para verificar diferenças de proporção de sintomas

    articulares e artrite em relação às categorias das variáveis independentes foi utilizado o teste

    qui-quadrado. A análise multivariada foi realizada através da regressão de Poisson conduzida

    de acordo com um modelo hierárquico em três níveis. Foram incluídas no primeiro nível de

    análise as variáveis sócio demográficas, ajustadas entre si: sexo, idade, escolaridade, estado

    civil e trabalho atual; o segundo nível incluiu o estado nutricional, tabagismo, hepatite B e C

    e tuberculose; enquanto no terceiro nível foram incluídas uso de inibidores da protease, uso

    de terapia anti-retroviral e contagem de células CD4. Essas últimas foram ajustadas para todas

    as variáveis dos níveis anteriores que se mantiveram no modelo com p

  • 42

    Sintomas articulares

    A prevalência geral de sintomas articulares foi de 65,6%. A Figura 1 mostra a

    distribuição dos sintomas articulares na população estudada. A prevalência isolada de dor

    articular foi de 23,2%, de edema 1,2%, de rigidez 4,1%, de dor mais edema 8,5%, dor mais

    rigidez 14,5%, dor mais edema mais rigidez 14% e ninguém apresentou edema mais rigidez.

    A prevalência de sintomas articulares nas mulheres foi significativamente maior

    (70,9%) em relação aos homens (59,1%), com p= 0,012. As pessoas com idade entre 40 e 49

    anos apresentaram maior ocorrência de sintomas articulares que nos demais grupos etários

    (72,0%; p= 0,028). Indivíduos com excesso de peso apesentaram mais sintomas articulares

    que pacientes eutróficos e desnutridos, respectivamente (74,3%; 57,2%; 47,1%; p= 0,000)

    (Tabela 1).

    De acordo com a Tabela 2, na análise ajustada, a associação entre sintomas articulares

    e idade foi perdida, enquanto com sexo e estado nutricional se mantiveram, sendo que a força

    da associação da variável sexo permaneceu igual, enquanto o do estado nutricional diminuiu

    nas duas categorias em relação ao baixo peso.

    Quanto às características da dor articular, dentre os indivíduos que apresentavam dor

    articular, 67,6% usava medicação para alívio da dor, sendo que destes 35,4% fazia uso

    eventualmente de medicamentos com esta finalidade, 20,0% dos pacientes relataram já ter

    apresentado dor articular aguda que fez com que procurasse atendimento médico de urgência

    por este motivo (dados não apresentados nas tabelas).

  • 43

    Artrite

    A prevalência geral de artrite foi de 14,0%. De todos entrevistados apenas 5,8% (n=24)

    tinham algum diagnóstico prévio de reumatismo.Artrite foi observada em 18,9% das mulheres

    e 8,1% dos homens (p=0,002). Pacientes com excesso de peso tiveram maior ocorrência de

    artrite (18,1%; n=38), seguido dos desnutridos (17,7%; n=3) e de indivíduos eutróficos (9,4%;

    n=17), p= 0,047 (Tabela 1).

    Na análise ajustada em que artrite foi o desfecho, apenas a variável sexo manteve-se

    associada (p=0,002), porém após o ajuste a razão de prevalência que era 2,35 diminuiu para

    1,99 (p= 0,022), enquanto que tuberculose que não apresentava associação significativa (p=

    0,186) passou a apresentar (p= 0,038) (Tabela 2).

    Discussão

    Os estudos de manifestações osteoarticulares em indivíduos com HIV têm como

    objetivo em sua grande maioria pesquisar a prevalência de doenças reumatológicas nessa

    população, e não de sintomas articulares isoladamente.8 O presente estudo apresenta os

    resultados de sintomas articulares de maneira ampla, quantificando desta forma a prevalência

    das principais queixas articulares, e não de diagnostico das doenças reumáticas. Os sintomas

    articulares, que antes eram considerados secundários, nesta população, de agora doentes

    crônicos, merecem maior atenção.

    Dentre as limitações do estudo, consideramos que a avaliação médica dos indivíduos

    com queixas articulares seria mais precisa do que o auto relato; porém, estudos populacionais

    têm avaliado a prevalência de artrite por intermédio do relato de sintomas articulares ou do

    diagnóstico médico referido.24,25,26 Além do que, a acurácia do relato de condições

  • 44

    reumatológicas quando comparadas aos dados de prontuários médicos, apresenta uma boa

    concordância geral – 87,0%, segundo a literatura. 9,10

    Não há estudos prévios tendo como desfecho a prevalência de sintomas articulares em

    pacientes vivendo com HIV. A significativa maior prevalência de sintomas articulares

    encontrada no presente estudo em mulheres vai ao encontro de achado em estudo prévio de

    base populacional com 2.953 pacientes, também na cidade de Pelotas, que também encontrou

    uma maior prevalência de sintomas articulares crônicos em mulheres (42,4%) do que em

    homens (28,7%; p< 0,001).9 Assim como um estudo africano, de prevalência e características

    de manifestações articulares em pacientes HIV positivos, também apresentou uma maior

    prevalência dessas manifestações em mulheres.11

    Os indivíduos com excesso de peso também apresentaram uma significativa maior

    prevalência de sintomas articulares (74,3% p= 0,000) neste estudo, dado também semelhante

    ao encontrado na população em geral da mesma cidade onde a prevalência de sintomas

    articulares crônicos em indivíduos obesos foi de 48% enquanto em eutróficos de 28,5% (p<

    0,001).9 Obesidade e doençaarticular apresentam associação em diversos estudos

    epidemiológicos, além disso, sabe-se que além dos fatores mecânicos que fazem a obesidade

    levar a dano articular, as adipocinas apresentam um grande papel pró-inflamatório levando

    tanto ao aparecimento quanto a progressão de doenças articulares crônicas e recentemente um

    estudo em HIV positivos encontrou relação inversamente proporcional entre índice de gordura

    com o volume de cartilagem articular.12,13,14

    Estudos populacionais mostram que com o avançar da idade, ocorre um declínio na

    função musculoesquelética e com isto a suscetibilidade a doenças degenerativas e lesões

    articulares aumenta, além disso, a capacidade de recuperação de lesões diminui e a associação

    destes fatores leva ao aumento de sintomas articulares com a idade.15No presente estudo, na

    análise bruta, a idade esteve associada a sintomas articulares, porém a prevalência foi maior

  • 45

    em pessoas de meia idade (40-49 anos), seguido de adultos jovens (30-39 anos) e não daqueles

    com cinquenta anos ou mais, logo a associação não foi linear nesta população HIV estudada,

    porém na análise ajustada a associação não mantevesse.

    Sintomas articulares e artrite não mostraram associação com estado civil, escolaridade

    e trabalho. A relação entre estado civil e dor articular tem achados controversos na literatura,

    mas estudo anterior em pacientes com artrite reumatóide mostrou dado interessante: a dor

    articular nos pacientes solteiros foi semelhante àqueles casados que tinham estresse conjugal,

    porém pacientes casados sem estresse tiveram menos dor que os solteiros.16,17 Estudo

    populacional prévio encontrou associação entre baixa escolaridade e sintomas articulares

    crônicos, atribuindo esta relação a uma provável maior porcentagem de pacientes que

    realizavam trabalho braçal neste subgrupo.9 No presente estudo não foi encontrada diferença

    significativa quanto a escolaridade e o fato de trabalhar ou não, possivelmente aqueles

    pacientes que não trabalham atualmente já foram aposentados, também devido a incapacidade

    física para desempenhar atividades laborais que provavelmente eram braçais.

    Embora o papel do tabagismo em agravar o prognóstico na artrite reumatóide e em

    outras artropatias inflamatórias seja conhecido, nesta pesquisa o tabagismo atual não

    apresentou associação com sintomas articulares ou artrite.18 Um estudo recente, em

    fibromialgia, mostrou que cerca de 70,0% das pacientes que fumavam consideravam ajudar

    na ansiedade, na irritabilidade e a lidar melhor com a dor.19 Além disso, pesquisa recente

    mostrou que o tabagismo está associado ao alívio, a curto prazo, da dor, mas também a uma

    piora da dor crônica.20 Outro estudo em mulheres vivendo com HIV em estágio avançado

    apontou o tabagismo como um dos fatores de piora da dor.21 Logo, não é bem estabelecido o

    papel do tabagismo na dor.

    Vários agentes infecciosos estão relacionados ao aparecimento de sintomas articulares

    e algumas doenças infecciosas comoa hepatite B, mas principalmente a hepatite C e

  • 46

    tuberculose, por vários mecanismos imunológicos, são capazes de mimetizar doenças

    reumatológicas, desencadeá-las ou causar manifestações articulares diretamente.22 Nesta

    pesquisa a tuberculose apresentou associação com artrite (p=0,038), ao passo que não foi

    encontrada associação estatística, em hepatite B e hepatite C, provavelmente pelo pequeno

    número de indivíduos com essas condições na amostra. Entretanto, verificar tais associações

    não era o objetivo primário deste estudo.

    O número atual de CD4, o uso de TARV e o uso de inibidores de protease não

    mostraram associação com sintomas articulares e artrite. Achado este que vem ao encontro de

    estudos recentes onde também não foi encontrada associação, por exemplo, entre TARV e

    artrite autoimune ou TARV e exacerbações de lúpus eritematoso sistêmico.23,24

    É importante pensar em estudos multicêntricos, que possam ajudar na garantia de

    poder estatístico e assim compreender as associações que ainda são ambíguas e muitas vezes

    incompreendidas pelo pequeno número de observações. Além disso, apesar de dois terços dos

    pacientes em nossa amostra relatarem pelo menos um sintoma articular, a literatura sobre o

    assunto ainda é escassa. Este resultado atrelado a pequena proporção de pacientes com

    diagnóstico prévio de patologias reumatológicas, traz à tona a importância de uma maior

    atenção para estas condições no seguimento clínico destes pacientes.

  • 47

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  • 51

    Tabela 1 – Descrição da amostra e da prevalência de sintomas articulares e artrite, em pacientes portadores de HIV/AIDS,

    de acordo com características sócio-demográficas, comportamentais e de saúde, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, 2015.

    Sintomas Articulares Artrite

    N(%) Prev. RP (IC95%) Valor-p Prev. RP (IC95%) Valor-p

    Sexo 0,012 0,002

    Homens 186 (45,0) 59,1 1,00 8,1 1,00

    Mulheres 227 (55,0) 70,9 1,20 (1,04;1,39) 18,9 2,35 (1,35;4,09)

    Idade 0,028 0,059

    18-29 56 (13,5) 53,6 1,00 5,4 1,00

    30-39 114 (27,4) 70,8 1,32 (1,01;1,73) 20,4 3,8 (1,19;12,13)

    40-49 127 (30,5) 72,0 1,34 (1,03;1,76) 13,6 2,54 (0,77;8,32)

    ≥ 50 119 (28,6) 59,7 1,11 (0,84;1,48) 12,6 2,35 (0,71;7,81)

    Escolaridade 0,229 0,876

    0-4 106 (29,9) 74,5 1,00 15,1 1,00

    5-8 109 (30,9) 66,1 0,89 (0,74;1,06) 15,6 1,03 (0,55;1,94)

    9-11 106 (29,9) 61,3 0,82 (0,68;0,99) 12,3 0,81 (0,41;1,60)

    ≥ 12 33 (9,3) 66,7 0,89 (0,68;1,17) 12,1 0,80 (0,29;2,24)

    Estado Civil 0,875 0,242

    Sem companheiro 198 (48,1) 65,9 1,00 12,2 1,00

    Com companheiro 214 (51,9) 65,2 1,01 (0,88;1,16) 16,2 0,75 (0,46-1,22)

    Trabalha

    atualmente

    0,870 0,314

    Não 195 (47,3) 65,1 1,00 15,9 1,00

    Sim 217 (52,7) 65,9 1,01 (0,88;1,16) 12,4 0,78 (0,48;1,26)

    Estado

    Nutricional

    0,000 0,047

    Baixo peso 17 (4,2) 47,1 1,00 17,7 1,00

    Eutrófico 180 (44,2) 57,2 1,22 (0,72;2,05) 9,4 0,54 (0,17;1,64)

    Excesso de peso 210 (51,6) 74,3 1,58 (0,95;2,63) 18,1 1,03 (0,35;2,98)

    Tabagismo 0,406 0,876

    Não 274 (66,3) 64,2 1,00 14,2 1,00

    Sim 139 (33,7) 68,4 1,06 (0,92;1,23) 13,7 0,96 (0,58;1,6)

    Hepatite B 0,788 0,701

    Não 400 (98,8) 65,8 1,00 14,0 1,00

    Sim 5 (1,2) 60,0 0,91 (0,44;1,87) 20,0 1,42 (0,24;8,4)

    Hepatite C 0,374 0,479

    Não 372 (91,9) 65,1 1,00 13,7 1,00

    Sim 33 (8,2) 72,7 1,11 (0,89;1,39) 18,2 1,32 (0,62;2,86)

    Tuberculose 0,703 0,186

    Não 373 (92,1) 65,4 1,00 13,4 1,00

    Sim 32 (7,9) 68,8 1,05 (0,82;1,34) 23,9 1,63 (0,81;3,30)

    Cd4

    < 200 59 (14,7) 67,8 1,00 0,339 15,3 1,00 0,795

    200 a 499 132 (32,9) 60,6 0,89 (0,71;1,12) 12,1 0,79 (0,37;1,70)

    ≥ 500 210 (52,4) 68,1 1,00 (0,82;1,23) 14,3 0,94 (0,47;1,86)

    TARV 0,992 0,924

    Não 44 (10,9) 65,9 1,00 13,6 1,00

    Sim 360 (89,1) 65,8 0,99 (0,79;1,25) 14,2 1,04 (0,47;2,28)

    Inibidor de

    Protease

    0,140 0,761

    Não 264 (64,9) 63,1 1,00 13,7 1,00

    Sim 142 (35,1) 70,4 1,12 (0,97;1,28) 14,8 1,08 (0,66;1,78)

    Total 413 (100) 65,6 - 14,0 -

  • 52

    Figura 1 - Frequência dos diferentes sintomas articulares e artrite, em

    pacientes portadores de HIV/AIDS, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, 2015.

    .

    34,4

    23,2

    1,2

    4,1

    8,5

    14,5

    0

    14

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    %

    Nenhum

    Dor

    Edema

    Rigidez

    Dor + Edema

    Dor + Rigidez

    Edema + Rigidez

    Dor + Edema + Rigidez

  • 53

    Tabela 2 – Razões de prevalências ajustadas de sintomas articulares e artrite, em pacientes portadores de

    HIV/AIDS, de acordo com características sócio demográficas, comportamentais e de saúde, Pelotas, Rio Grande

    do Sul, Brasil, 2015.

    Nível Sintomas Articulares Artrite

    Ajustada Valor -p Ajustada Valor-p

    1 Sexo 0,018 0,022 Homens 1,00 1,00

    Mulheres 1,20 (1,03;1,40) 1,99 (1,10;3,59)

    Idade 0,123 0,069 18-29 1,00 1,00

    30-39 1,27 (0,94;1,71) 4,94 (1,15;21,14)

    40-49 1,31 (0,98;1,75) 2,90 (0,66;12,82)

    ≥ 50 1,10 (0,81;1,50) 2,99 (0,68;13,19) Escolaridade 0,251 0,879

    0-4 1,00 1,00

    5-8 0,91 (0,76;1,08) 1,19 (0,64;2,22) 9-11 0,82 (0,68;0,99) 0,92 (0,47;1,81) ≥ 12 0,96 (0,74;1,23) 1,12 (0,39;3,21)

    Estado Civil 0,744 0,096

    Com companheiro 1,00 1,00 Sem companheiro 1,02 (0,89;1,19) 0,64 (0,38;1,08)

    Trabalha atualmente 0,775 0,523

    Não 1,00 1,00

    Sim 1,02 (0,88;1,18) 0,85 (0,51;1,40) 2 Estado Nutricional 0,003 0,118

    Baixo peso 1,00 1,00

    Eutrófico 1,13 (0,68;1,88) 0,54 (0,20;1,44) Excesso de peso 1,47 (0,89;1,43) 0,93 (0,37;2,31) Tabagismo 0,107 0,739

    Não 1,00 1,00

    Sim 1,13 (0,97;1,31) 1,09 (0,66;1,78) Hepatite B 0,668 0,679

    Não 1,00 1,00

    Sim 0,88 (0,49;1,57) 1,32 (0,35;4,98)

    Hepatite C 0,370 0,499 Não 1,00 1,00

    Sim 1,10(0,89;1,37) 1,28 (0,63;2,60)

    Tuberculose /n 0,609 0,038 Não 1,00 1,00 Sim 1,07 (0,83;1,37) 1,92 (1,04;3,56)

    3 Cd4 0,489 0,945

  • 54

    CONSIDERAÇÕES FINAIS/ CONCLUSÃO

    O Rio Grande do Sul apresenta uma das maiores taxas de diagnóstico da infecção pelo

    HIV entre as Unidades Federativas do país. O serviço de atendimento especializado em

    HIV/AIDS da cidade de Pelotas-RS é referência no sul do Estado no acompanhamento destes

    pacientes. Além disso, o Brasil é um dos países de vanguarda no tratamento do HIV, tendo

    sido citado como exemplo a ser seguido na última conferência da Sociedade Internacional de

    AIDS em 2015.

    Logo, durante a elaboração do projeto de pesquisa deste trabalho, durante a revisão da

    literatura consideramos que poderíamos sim colaborar com novos dados a respeito de um tema

    ainda pouco explorado nesta população, que são os sintomas articulares e artrite.

    Os estudos iniciais sobre manifestações articulares em HIV abordavam em sua maioria

    condições agudas como artrite infecciosa, manifestações reumatológicas especícicas do HIV

    como DILS (síndrome de linfocitose infiltrativa difusa) ou o espectro das espondiloartrites

    (principalmente artrite reativa e psoriásica). Porém, não há estudos em HIV que tenham como

    desfecho sintomas articulares e artrite.

    A prevalência relevante de 65% de sintomas articulares encontrada e sua maior

    ocorrência em mulheres e pessoas com excesso de peso, assim como, artrite encontrada em

    14% dos participantes, também mais prevalente em mulheres, faz com que se reflita sobre a

    semelhança destes achados com os dados de literatura na população em geral, sendo mais um

    argumento no sentido de que as pessoas vivendo com HIV se tornaram doentes crônicos e que

    estão envelhecendo, trabalhando, enfim, mantendo uma vida normal, semelhante a população

    não-HIV.

    Logo, queixas como dor, rigidez e edema articular devem ser investigadas no

    seguimento clínico destes pacientes no sentido de promover um diagnóstico precoce de

    patologias articulares e de orientar corretamente o paciente quanto a medidas de proteção

    articular, entre elas o exercício físico adequado, por exemplo, que é extremamente importante

    para esses pacientes. A prática de exercícios nesta população, já é uma recomendação atual

    para prevenção da baixa densidade mineral óssea, extremamente prevalente nos pacientes

    vivendo com HIV/AIDS. Assim, o reconhecimento precoce de condições articulares, além de

    poder melhorar o controle da dor, funcionalidade e assim a qualidade de vida, também pode

    auxiliar na prevenção de outras patologias.

  • 55

    ANEXOS

  • 56

    ANEXO A - Instrumentos

    UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E COMPORTAMENTO

    Questionário Geral

    Sou da Universidade Católica de Pelotas e faço parte do estudo sobre a saúde dos pacientes atendidos no SAE.

    Podemos conversar?

    N° do questionário: ___ ___ ___ ___ ___ Nº do prontuário:____________________

    Nome do entrevistador:____________________________________________________________________

    Nome do entrevistado:_______________________________________________________________________

    Telefone: ( ) _______________________________________________________________________

    Endereço: ____________________________________ Bairro:___________________________

    Existe algum ponto de referência por perto? Qual?________________________________________

    Idade: __________________ Data: ___ / ___ / ___

    Dados Gerais 1) Sexo do entrevistado? (1) masculino (2) feminino

    g1 ___

    2) Cor da pele do entrevistado? (0) Branca (1) Negra (2) Parda (3) Amarela (4) Outra: __________________

    g2 ___

    3) Qual a sua data de nascimento? ___ ___ / ___ ___ / ___ ___ ___ ___ g3 ___ 4) Até que série e grau você estudou? ___ ___ série do ____ grau g4 ___

    Relacionamentos Agora vamos conversar um pouco sobre seus relacionamentos. O senhor (a) fique a vontade ao responder estas questões, pois todos os dados coletados aqui são extremamente sigilosos, e em nenhum momento seu nome será exposto. Quanto mais verdadeira sua resposta, melhor será o resultado se nossa pesquisa, assim como os frutos dela. 5) Você tem um relacionamento estável (duração de um ano ou mais)? ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    g5 ___

    6) Seu parceiro também é HIV? ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    g6___

    7) Nas relações sexuais você usa preservativo? ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    g7 ___

    8) Você teve relações sexuais nos últimos 12 meses? ( 0 ) Não- Pula para questão 10 ( 1 ) Sim

    g8 ___

    9) Com quantas pessoas você teve relações sexuais nos últimos 12 meses? _ _ _ pessoas. g9 ___

    10) Você já teve relações sexuais com: Homens ( 0 ) Não ( 1) Sim Mulheres ( 0 ) Não ( 1) Sim

    g10 ___

  • 57

    11) Nas últimas três vezes que você teve relação sexual, em quantas vezes você ou seu parceiro(a), usou camisinha? (0) nenhuma vez (1) 1 vez (2) 2 vezes (3) 3 vezes

    g11 ___

    12) Nos últimos 12 meses, você teve relação(s) sexual (is) onde pagou ou recebeu dinheiro, favores ou brindes, para realizar a relação? ( 0 ) Não - Pula para questão14 ( 1 ) Sim

    g12 ___

    13) Você trocou sexo por:

    a) Dinheiro ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    b) Favores ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    c) Drogas ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    d) Presentes( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    e) Outros: _____________________________________

    g13a ___ g 13b ___ g 13c ___ g 13d ___

    14) Nas últimas três vezes que você teve relações sexuais estava sob o uso de álcool ou alguma outra droga? (0) nenhuma vez (1) 1 vez (2) 2 vezes (3) 3 vezes

    g 14 ___

    A seguir faremos algumas perguntas relacionadas ao HIV.

    15) Há amigos, parentes ou outra pessoa que apoie você em relação à infecção pelo HIV? ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    g 15 ___

    16) Alguma vez na vida você tomou alguma medicação para HIV? ( 0 ) Não – Pular para questão 23 ( 1 ) Sim

    g 16 ___

    17) Você faz ou fez uso de medicação para HIV nos últimos 12 meses? ( 0 ) Não – Pular para questão 23 ( 1 ) Sim

    g 17 ___

    18) Desde da semana passada até hoje, quantas doses do seu medicamento para o vírus você deixou de tomar? __ __ doses.

    g 18 ___

    19) Quando usou medicação, nos últimos três meses, teve auxílio de algum familiar ou amigo? ( 0 ) Não -Pular para questão21 ( 1 ) Sim

    g 19 ___

    20) Sem sim, Quem? ______________________

    g 20 ___

    21) Nos últimos três meses, quando você se sentiu mal, parou de tomar sua medicação para o vírus?

    (0) não, não me senti mal em função da medicação nesse período.

    (1) não, me senti mal em função da medicação nesse período, mas segui tomando-a.

    (2) sim

    g21 ___

    22) Há quanto tempo, em meses, você toma algum tipo de medicação para HIV? _______meses_______ano(s)

    g22 ___

  • 58

    23) Você já esteve hospitalizado alguma vez por problemas relacionados com o HIV? ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    g23 ___

    24) Você já esteve hospitalizado alguma vez por problemas dos nervos? ( 0 ) Não ( 1 ) Sim

    g 24 ___

    Agora vamos conversar um pouco sobre o uso de algumas substâncias 25) Nos últimos três meses você usou alguma dessas substâncias

    a) Bebidas Alcoólicas (0) não (1) sim g 25a ___

    b) Maconha (0) não (1) sim g25b ___

    c) Cocaína (0) não (1) sim g25c ___

    d) Crack (0) não (1) sim g25d ___

    e) Estimulantes como anfetaminas ou ecstasy (bolinhas,

    rebites) (0) não (1) sim

    g25e ___

    f) Inalantes (cola de sapateiro, cheirinho-da-loló, tinta,

    gasolina, éter, Lança-perfume, benzina) (0) não (1) sim

    g25f___

    g) Hipnóticos / sedativos (remédios para dormir; diazepam, lorazepan, lorax, dienpax, rohypnol...)

    (0) não