imunodeficiência comum variável: manifestações...

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Universidade de Lisboa Faculdade de Medicina de Lisboa Imunodeficiência Comum Variável: Manifestações gastrintestinais a Giardia lamblia Maria Dinah Jacob da Silva de Carvalho Mestrado em Microbiologia Clínica 2011

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Medicina de Lisboa

Imunodeficiência Comum Variável:

Manifestações gastrintestinais a

Giardia lamblia

Maria Dinah Jacob da Silva de Carvalho

Mestrado em Microbiologia Clínica

2011

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A impressão desta dissertação foi aprovada pela Comissão Coordenadora do Conselho Científico da Faculdade de Medicina da

Universidade de Lisboa em reunião de 26 de Outubro de 2011

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Universidade de Lisboa Faculdade de Medicina de Lisboa

Imunodeficiência Comum Variável: Manifestações

gastrintestinais a Giardia lamblia

Maria Dinah Jacob da Silva de Carvalho

Mestrado em Microbiologia Clínica

Dissertação orientada pela Professora Doutora Olga Matos

e co-orientada pelo Professor Doutor Thomas Hӓnscheid

Todas as afirmações efectuadas no presente documento são da exclusiva

responsabilidade do seu autor, não cabendo qualquer responsabilidade à Faculdade de

Medicina de Lisboa pelos conteúdos nele apresentados.

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A presente dissertação não foi redigida segundo o novo

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa por opção do autor.

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i  

Agradecimentos

 

À Professora Doutora Olga Matos pela oportunidade de realizar este trabalho, pelo

apoio, orientação e simpatia com que sempre me recebeu.

Ao Professor Doutor Thomas Hӓnscheid por ter aceite ser co-orientador deste trabalho.

À Dra. Susana Lopes da Silva pela sua colaboração dedicada e imprescindível.

Aos doentes de IDCV que deram o seu consentimento à participação neste estudo.

A toda a equipa do Grupo de Protozoários Oportunistas/VIH e Outras Protozooses do

Instituto de Higiene e Medicina Tropical, principalmente à Doutora Luisa Lobo pela

disponibilidade e ajuda na análise bioinformática realizada neste trabalho.

À Dra. Margarida Abecasis, Dra. Leonilde Ferreira e Dr. João Pedro Fernandes pelo

apoio e incentivo.

Ao Dr. Luis Marques Lito e à Dra. Rosário Barreto pelo seu incentivo e amizade.

Um agradecimento especial ao Professor Doutor Melo Cristino por entender esta minha

“viagem”.

Às minhas colegas de mestrado, Rita Cordeiro e Ana Paróla pela ajuda prestada e

amizade demonstrada.

Aos meus pais pelo seu amor incondicional e inestimável.

Ao Pedro pela impaciência mas permanente carinho, apoio e ajuda em mais um

"caminho" que percorremos juntos.

Aos meus filhos, Pedro e Dinis pela sua infinita paciência pelos “trabalhos” da mãe.

A todos aqueles que tanto me ajudaram na concretização deste trabalho,

Muito obrigada.

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ii  

Resumo

A imunodeficiência comum variável (IDCV) é segunda imunodeficiência primária

mais frequente a seguir à deficiência selectiva de IgA. As manifestações gastrintestinais

na IDCV apresentam uma prevalência de 20% a 60% e a infecção por Giardia lamblia é

a causa infecciosa mais frequentemente identificada de diarreia e mal-absorção, em

cerca de 30% dos doentes. Escassos estudos documentam a maior predisposição para

esta infecção em indivíduos hipogamaglobulinémicos, com taxas de prevalência da

infecção por G. lamblia de 10% a 50%.

Como tal, foram objectivos deste estudo investigar a prevalência da infecção por

G. lamblia e as consequentes complicações gastrintestinais, numa população de

doentes com IDCV, entre Maio de 2009 a Fevereiro de 2011. Adicionalmente,

propusemo-nos caracterizar geneticamente os isolados de G. lamblia obtidos,

recorrendo a técnicas de biologia molecular, e relacioná-los com os dados

epidemiológicos e clínicos desta população.

O índice de prevalência de infecção por G. lamblia para este grupo de doentes

foi de 13,8% (4/29). Na população estudada, a prevalência das manifestações

gastrintestinais foi 55,2% (16/29), sendo o sintoma mais comum a diarreia, verificada

em 51,7% (15/29) dos doentes, seguido de dores abdominais em 37,9% (11/29).

Os resultados entre as técnicas de microscopia óptica e a de PCR, baseada na

pesquisa do gene que codifica para a β-giardina, foram concordantes em 100% dos

casos positivos e de apenas 50% para o gene da tpi.

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iii  

Após caracterização molecular dos isolados obtidos, em dois doentes do sexo

feminino foi identificado o genótipo B de G. lamblia e em dois doentes do sexo

masculino o genótipo A.

Devido à reduzida dimensão da população, não pudemos inferir qualquer

correlação entre a infecção pelos genótipos A e B detectados e as manifestações

gastrintestinais presentes.

Em conclusão, são necessários mais estudos, com um maior número de

isolados, recorrendo à genotipagem e sub-genotipagem multilocus para avaliar o papel

dos genótipos e sub-genótipos na epidemiologia e virulência da infecção, que

permanecem controversas, no contexto específico desta população de doentes.

Palavras-chave: Giardia lamblia, Imundeficiência comum variável, genotipagem.

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iv  

Abstract

Common variable immunodeficiency (CVID) is the second most common primary

immunodeficiency following selective IgA deficiency. The gastrointestinal manifestations

in CVID have prevalence between 20% and 60% and infection by Giardia lamblia is the

most frequently identified infectious cause of diarrhea and malabsorption, in about 30%

of patients. Few studies have documented the increased predisposition to this infection

in hypogammaglobulinemic, with prevalence rates of infection by G. lamblia of

10%-50%.

Therefore, the objectives of this study were to investigate the prevalence of

infection by G. lamblia and the resulting gastrointestinal complications in a population of

patients with CVID, from May 2009 to February 2011. Additionally, the isolates of

G. lamblia obtained were genetically characterized, using molecular biology techniques,

and related with the epidemiological and clinical data of the study population.

The prevalence of G. lamblia infection for this group of patients was 13.8% (4/29).

In this population, the prevalence of gastrointestinal manifestations was 55.2% (16/29),

being diarrhoea the most common symptom 51.7% (15/29), followed by abdominal pain

37.9% (11/29).

The results between the techniques of optical microscopy and PCR, based on

amplification of a fragment of the gene coding for β-giardina, were 100% concordant and

50% concordant for the gene coding for tpi.

After molecular characterization of isolates obtained, in two female patients

G. lamblia genotype B was identified and two male patients presented genotype A.

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v  

Finally, due the small sample size, we could not infer any correlation between

infection with G. lamblia genotypes A and B detected and gastrointestinal symptoms

reported by patients.

In conclusion, further studies are needed, with a larger number of isolates, using

multilocus genotyping approaches, highly discriminatory, to assess the role of genotypes

and sub-genotypes in the epidemiology and virulence of infection, which remain at

present controversial issues, in the specific context of this population patients.

Keys-words: Giardia lamblia, Common variable immunodeficiency, genotyping

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vi  

Lista de Abreviaturas e Siglas

A Adenosina

C Citosina

CD4 Cluster of differentation 4

CHLN Centro Hospitalar Lisboa Norte

D Doente

DNA Ácido desoxirribonucleico

dNTP Desoxirribonucleótido-trifosfato

EDTA Acido Etilenodiaminotetraacético

EF-1α Gene que codifica para o factor de elongação 1 -alfa

EIA Enzyme-immunosorbent-assay

ESID European Society for Immunodeficiencies

EUA Estados Unidos da America

g Grama

G Guanina

gdh Gene que codifica para a glutamato desidrogenase

GPOOP Grupo de Protozoários Oportunistas/VIH e Outras Protozooses

HCl Ácido Clorídrico

HSM Hospital santa Maria

ICZN International Code of Zoological Nomenclature

IDCV Imunodeficiência Comum Variável

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vii  

IgA Imunoglobulina de classe A

IgG Imunoglobulina de classe G

IgM Imunoglobulina de classe M

IHMT Instituto de Higiene e Medicina Tropical

IL-1 Interleucina-1

M Molar

m/v Massa/volume

MgCl2 Cloreto de magnésio

ml Mililitro

mM Milimolar

nM Nanomolar

ºC Grau Celsius

OMS/WHO Organização Mundial de Saúde/ World Health Organization

ON Óxido nítrico

ORF-C4 Open reading frame C4

pb/bp Pares de bases / base pairs

PCR Polymerase Chain Reaction / Reacção em Cadeia da Polimerase

pmol Picomolar

RFLP Restriction Fragment Lenght Polymorphism

RNA Ácido ribonucleico

rpm Rotações por minuto

rRNA Ácido ribonucleico ribossomal

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viii  

Sida Síndrome de Imunodeficiência Adquirida

ssu rRNA Gene que codifica pequena subunidade ribossomal de RNA

T Timina

TAE Tampão Tris-base, Ácido acético e EDTA

TE Tampão Tris-base e EDTA

TNF-α Factor de necrose tumoral alfa

tpi Gene que codifica para a triose fosfato isomerase

Tris 2-amino-2-hidroximetil-1,3-propanodiol

U Unidade

V Volts

VIH Vírus da Imunodeficiência Humana

VSE Vesículas Secretórias Específicas

VSP Variant –specific Surface Proteins/ Proteínas de superfície variante

XLA Agamaglobulinémia associada ao cromossoma X

μl Microlitro

μM Micromolar

% Percentagem

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ix  

Índice Geral

Agradecimentos ................................................................................................................ i

Resumo ........................................................................................................................... ii

Abstract .......................................................................................................................... iv

Lista de Abreviaturas e Siglas ........................................................................................ vi

Índice Geral .................................................................................................................... ix

Índice de Figuras .......................................................................................................... xiv

Índice de Tabelas ......................................................................................................... xvi

Capítulo I: Introdução ...................................................................................................... 1

I. Imunodeficiência Comum Variável ............................................................................... 1

II. Giardia ......................................................................................................................... 6

1. Retrospectiva histórica .......................................................................................... 6

2. Taxonomia ............................................................................................................. 8

2.1. Espécies de Giardia ........................................................................................... 8

2.2. Genótipos de Giardia ........................................................................................ 10

3. Morfologia de Giardia lamblia .............................................................................. 15

3.1. Trofozoíto ......................................................................................................... 16

3.2. Quisto ............................................................................................................... 19

4. Ciclo de vida ........................................................................................................ 20

4.1. Desenquistamento ............................................................................................ 21

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x  

4.2. Ligação ao epitélio intestinal ............................................................................ 21

4.3. Multiplicação ..................................................................................................... 22

4.4. Enquistamento ................................................................................................. 23

5. Epidemiologia ...................................................................................................... 25

6. Transmissão ........................................................................................................ 29

6.1. Transmissão antroponótica .............................................................................. 30

6.2. Transmissão por fontes ambientais .................................................................. 30

6.3. Transmissão zoonótica ..................................................................................... 31

7. Quadro clínico da giardíase humana ................................................................... 34

8. Patogénese .......................................................................................................... 36

8.1. Acção directa do parasita no intestino .............................................................. 37

8.2. Histiopatologia .................................................................................................. 38

8.3. Alterações funcionais da mucosa intestinal ...................................................... 39

8.4. Factores do lúmen intestinal ............................................................................. 40

8.5. Imunopatologia ................................................................................................. 41

8.6. Relação com os genótipos ............................................................................... 42

8.7. Factores de virulência ...................................................................................... 48

9. Mecanismos de defesa e controlo da infecção por Giardia ................................. 49

10. Diagnóstico laboratorial da giardíase ............................................................... 55

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xi  

10.1. Métodos de microscopia ............................................................................... 56

10.2. Métodos imunológicos .................................................................................. 57

10.3. Métodos moleculares .................................................................................... 58

11. Profilaxia ........................................................................................................... 60

12. Tratamento ....................................................................................................... 61

Capítulo II: Objectivos ................................................................................................... 67

Capítulo III: Material e métodos ..................................................................................... 69

1. População estudada ............................................................................................ 69

2. Diagnóstico parasitológico ................................................................................... 70

2.1. Exame microscópico após concentração das amostras ................................... 71

2.1.1. Definição de amostra positiva ....................................................................... 71

3. Diagnóstico molecular ......................................................................................... 72

3.1. Extracção e purificação de DNA ....................................................................... 72

3.2. Aplicação da técnica de reacção em cadeia da polimerase (PCR) .................. 72

3.2.1. Nested-PCR. Amplificação de fragmento específico do gene da Triosefosfato

isomerase (tpi) ............................................................................................................ 72

3.2.2. Nested-PCR. Amplificação de fragmento específico do gene da β-giardina. 74

3.2.3. Detecção dos fragmentos de DNA amplificados ........................................... 76

3.2.4. Definição de amostra positiva ....................................................................... 77

3.3. Purificação dos produtos de PCR..................................................................... 77

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xii  

3.4. Sequenciação e análise dos fragmentos de DNA amplificados ....................... 77

Capítulo IV: Resultados ................................................................................................ 79

1. Prevalência de Giardia lamblia ............................................................................ 79

2. Resultados do diagnóstico parasitológico ............................................................ 79

3. Resultados do diagnóstico molecular .................................................................. 81

4. Resultados da genotipagem ................................................................................ 82

5. Análise dos dados epidemiológicos ..................................................................... 84

Capítulo V: Discussão e conclusão ............................................................................... 92

Perspectivas futuras .................................................................................................... 103

Referências bibliográficas............................................................................................ 105

Anexos ............................................................................................................................. i

Anexo I. Folha do inquérito, realizado a cada doente participante do estudo, para

recolha de dados epidemiológicos, laboratoriais e clínicos. ............................................ i

Anexo II. Concentração das amostras fecais pelo Método de Sedimentação Difásica

de Ritchie Modificado (modificado e adaptado de Casemore et al, 198536) .................... ii

Anexo III. Coloração de Ziehl-Neelsen Modificada (adaptado de Casemore et al,

198536) ............................................................................................................................ iii

Anexo IV.Extracção e purificação de DNA a partir de amostras fecais-Método de

Mini-Beadbeater/Tiocianato de guanidina (adaptado de Boom et al,199023 e Alves et

al, 20009) ........................................................................................................................ iv

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xiii  

Anexo V. Detecção de produtos de amplificação por Electroforese em Gel de

Agarose .......................................................................................................................... vi

Anexo VI. Marcador de peso molecular 100 pb DNA Ladder ........................................ viii

Anexo VII. Extracção e purificação dos produtos de PCR, a partir de gel de agarose. .. ix

Anexo VIII. Sequências nucleotídicas de Giardia lamblia obtidas neste trabalho........... xi

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xiv  

Índice de Figuras

Figura 1. Representação esquemática de um trofozoíto de Giardia lamblia com a

característica duplicação de organelos, núcleo, corpos medianos, quatro pares de

flagelos e o disco ventral (adaptado de Monis et al96). .................................................. 16

Figura 2. Representação esquemática de um quisto de Giardia lamblia, com a forma

oval, apresenta no citoplasma, entre dois a quatro núcleos, axonemas flagelares,

vacúolos, ribossomas e fragmentos do disco ventral. (adaptado de

http://charlesjerffesson-enfermagem.blogspot.com/) ..................................................... 19

Figura 3. Representação esquemática do ciclo de vida de Giardia lamblia. ................. 24

Figura 4. Esquema representativo dos principais ciclos de transmissão de

Giardia lamblia (adaptado de Monis et al96). ................................................................. 33

Figura 5. Esquema representativo da interacção de Giardia lamblia com o intestino

humano. As diferentes partes do sistema imunitário intestinal são apresentadas pela

ordem em que interagem com Giardia lamblia durante a infecção (adaptado de

Roxström-Lindquist et al121). .......................................................................................... 55

Figura 6. Imagem de quistos (A) de Giardia lamblia corados pelo Lugol (Foto cedida

pelo GPOOP, ampliação total 400x) .............................................................................. 80

Figura 7. Imagem da separação electroforética, em gel de agarose a 1,5 % corado

com Brometo de etídio, dos fragmentos amplificados pela Nested-PCR do gene que

codifica para a β-giardina. ............................................................................................. 82

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xv  

Figura 8. Algumas das questões que permanecem sem resposta relativamente a

Giardia lamblia. (adaptado de Jerlstrom-Hultqvist et al, 201072). ................................ 103

Figura 9. Representação do marcador de peso molecular Gene RulerTM 100bp DNA

Ladder, com fragmentos de DNA de 100pb a 1000pb (adaptado de

www.fermentas.com) ..................................................................................................... viii

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xvi  

Índice de Tabelas

Tabela 1. Género Giardia: espécies reconhecidas (adaptado de Monis et al96 ). ......... 10

Tabela 2. Genótipos ou Assemblages de Giardia lamblia e espécies estabelecidas e

propostas (*), designação baseada na descrição taxonómica original (adaptado de

Monis et al 96). ............................................................................................................... 15

Tabela 3. Dados reportados de prevalência de Giardia lamblia, em humanos, na

Europa (adaptado de Plutzer et al112). ........................................................................... 27

Tabela 4. Associação entre sintomas e os genótipos de Giardia lamblia. Resumo das

características e resultados de diversos estudos (adaptado de Robertson et al119). ..... 45

Tabela 5. Prevalência de Giardia lamblia - Genótipos A e B, em humanos. (adaptado

de Cacciò et al32). .......................................................................................................... 47

Tabela 6. Lista de marcadores genéticos, métodos e principais aplicações das

técnicas de biologia molecular na análise de isolados de Giardia lamblia. (adaptado

de Cacciò et al 33). ......................................................................................................... 59

Tabela 7. Fármacos anti-Giardia (adaptado de Robertson et al119). ............................. 64

Tabela 8. Sequências nucleotídicas dos primers utilizados nas duas etapas da

Nested- PCR para amplificação do gene da tpi, com indicação do fragmento

amplificado. ................................................................................................................... 73

Tabela 9. Condições utilizadas no processo de amplificação de DNA do gene da tpi

por Nested-PCR (adaptado de Sulaiman et al 138). ....................................................... 74

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xvii  

Tabela 10. Sequências nucleotídicas dos primers utilizados nas duas etapas da

Nested-PCR para amplificação do gene da β-giardina, com indicação do fragmento

amplificado. ................................................................................................................... 75

Tabela 11. Condições utilizadas no processo de amplificação de DNA do gene da

β-giardina por Nested-PCR (adaptado de Cacciò et al 30 e Lalle et al 81). ..................... 76

Tabela 12. Resultados positivos para Giardia lamblia no exame parasitológico e

características macroscópicas das amostras fecais. ..................................................... 80

Tabela 13. Resultados do diagnóstico molecular, através da aplicação da técnica

Nested-PCR para dois marcadores genéticos diferentes, tpi e β-giardina. ................... 81

Tabela 14. Resultados da genotipagem: genótipos determinados por sequenciação

dos produtos de DNA obtidos da amplificação do gene que codifica para a β-giardina. 84

Tabela 15. Resumo dos dados epidemiológicos dos doentes estudados e resultados

obtidos. .......................................................................................................................... 85

Tabela 16. Distribuição do número de doentes com IDCV estudados quanto à

presença ou ausência de manifestações gastrintestinais e relação com os resultados

do diagnóstico de infecção por Giardia lamblia. ............................................................ 86

Tabela 17. Apresentação dos resultados de genotipagem dos isolados de

Giardia lamblia e relação com os dados epidemiológicos dos doentes. ........................ 89

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1  

Capítulo I: Introdução

I. Imunodeficiência Comum Variável  

A imunodeficiência comum variável (IDCV), também denominada

hipogamaglobulinémia adquirida, hipogamaglobulinémia do adulto ou

disgamaglobulinémia abrange um grupo heterogéneo de doenças imunológicas de

etiologia desconhecida, caracterizadas por uma resposta deficiente da imunidade

humoral e celular. O defeito básico reside na imunidade humoral e consiste na

incapacidade dos linfócitos B se diferenciarem em plasmócitos capazes de produzirem

os vários isotipos de imunoglobulinas, embora se verifique que uma disfunção da

imunidade celular está também envolvida. A complexa disfunção imunológica origina a

hipogamaglobulinémia, daí resultando, clinicamente, um aumento da susceptibilidade a

infecções, nomeadamente na incidência de infecções respiratórias e gastrintestinais

recorrentes, doenças auto-imunes, granulomatosas e neoplásicas19,38,78,110,157.

A IDCV é considerada a imunodeficiência primária sintomática mais frequente na

população ocidental, tendo uma prevalência estimada de 1:50 000 a 1:200 000,

consoante os estudos, e uma incidência de 1:75 000 nascimentos21,110. A maioria dos

casos surge de forma esporádica. No entanto, a hereditariedade familiar, com

transmissão autossómica dominante, está documentada em cerca de 10% a 25% dos

doentes. Encontra-se também descrita a associação de deficiência selectiva de

Imunoglobulina A (IgA) e IDCV em membros da mesma família61,157. Esta doença afecta

igualmente ambos os sexos e a idade de aparecimento dos sintomas apresenta uma

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2  

distribuição bimodal, com dois picos de incidência: um a cinco anos e 18 – 25 anos.

Existe um intervalo significativo de quatro a nove anos de diferença entre o

aparecimento da sintomatologia e o diagnóstico, o qual contribui para um aumento das

complicações, agravamento do prognóstico e consequente aumento da morbilidade42.

A primeira descrição de um caso de IDCV deve-se a Janeway et al, em 1953 e, muito

embora tenham passado mais de cinco décadas, os mecanismos subjacentes da

doença não se encontram esclarecidos70. Apesar de nos últimos anos se terem

realizado avanços significativos na elucidação de alguns dos mecanismos genéticos

envolvidos, estes foram descritos em menos de 10% dos casos de IDCV19,124. No

entanto, o atendimento clínico destes doentes melhorou com o recurso a uma

classificação mais precisa, melhores formas de tratamento e uma maior

consciencialização da condição e da necessidade de um diagnóstico precoce e

assertivo.

Os doentes com IDCV apresentam, como característica laboratorial chave, marcada

redução dos niveis séricos de imunoglobulinas, embora o grau e o tipo de deficiência

em imunoglobulinas séricas assim como o curso clínico, sejam muito variáveis

consoante o doente. A redução acentuada dos níveis séricos de Imunoglobulina G (IgG)

é acompanhada pela redução dos títulos de Imunoglobulina A (IgA) e, em 50% dos

casos, nos níveis de Imunoglobulina M (IgM)22. Os critérios de diagnóstico definitivo de

IDCV, definidos pela European Society for Immunodeficiencies (ESID), baseiam-se na

diminuição de IgG, IgA e/ou IgM, em pelo menos dois desvios-padrão em relação ao

normal para a idade, associada à deficiência de produção de isohemaglutininas e/ou

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anticorpos específicos e após diagnóstico de exclusão, ou seja, eliminação de outras

causas possíveis de hipogamaglobulinémia44.

O espectro clínico da IDCV é extremamente amplo no tipo de manifestações clínicas

e na sua gravidade. As principais manifestações clínicas são as infecções bacterianas,

sinopulmonares e otites, recorrentes, causadas por Haemophilus influenza, Moraxella

catarrhalis, Streptococcus pneumoniae, Staphylococcus aureus e Mycoplasma

pneumoniae, associadas ao aparecimento de bronquiectasias. Existe uma elevada

incidência de neoplasias gastrintestinais e linforreticulares, verificando-se um aumento

da incidência de adenocarcinoma gástrico (cerca de 50 vezes) e de linfoma (cerca de

30 vezes), em relação à população em geral. Observa-se também um aumento da

predisposição para as doenças auto-imunes, com destaque para a anemia hemolítica e

púrpura trombocitopénica idiopática, tiroidite auto-imune, anemia perniciosa, síndrome

de Sjögren, hepatite auto-imune, cirrose biliar primária e vasculites, entre outras78,110.

De todas as imunodeficiências primárias é na IDCV que são mais frequentes as

manifestações gastrintestinais, apresentando uma prevalência de 20% a 60%

consoante os estudos5,13,42,74,124. Nalgum ponto da evolução da sua doença os doentes

apresentam queixas digestivas, sendo a mais frequentes a diarreia crónica bem como

dores abdominais, náuseas, vómitos e perda de peso.

As manifestações gastrintestinais da IDCV são muito variáveis e tendem a mimetizar

doenças tais como a doença celíaca, a anemia perniciosa e a doença inflamatória do

intestino43,80. É frequente encontrar em biópsias intestinais uma hiperplasia nodular

linfóide com infiltração linfóide difusa e perda das vilosidades intestinais. Igualmente a

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hipertrofia de outros tecidos linfóides, incluindo gânglios periféricos, baço e fígado pode

também ser encontrada76,159.

A infecção por Giardia lamblia é a causa infecciosa mais frequente de diarreia e má

absorção nestes doentes, sendo detectada em cerca de 30% dos doentes, que

apresentam também um risco maior de infecção por microrganismos enteroinvasivos

como Salmonella spp, Shigella spp e Campylobacter spp e menos frequentemente

Citomegalovírus74,143.

Diferentes estudos realizados em populações de doentes com IDCV, de dimensão

muito variável e utilizando metodologias diversas, demonstraram taxas de prevalência

de infecção por G. lamblia que variam entre 10% e 50%13,76,78,103. Muito embora haja

uma grande escassez de estudos científicos sobre a infecção por G. lamblia em

imunodeprimidos, alguns estudos revelam um aumento da predisposição ou do risco

para esta infecção em doentes hipogamaglobulinémicos, com diarreia crónica,

nomeadamente em doentes com IDCV, não só relativamente a hospedeiros

imunocompetentes mas também em relação a outras patologias imunodepressoras,

como por exemplo a infecção por vírus da imunodeficiência humana (VIH)51,103,134.

O tratamento base dos doentes com IDCV, que se realiza através da administração

de IgG por via endovenosa ou subcutânea, é dirigido ao défice imune e não afecta o

curso das infecções gastrintestinais; estas devem-se a um défice combinado da

imunidade celular e humoral não passível de ser corrigido pelas preparações de IgG,

que não atingem o lúmen intestinal e não contêm IgA (não administrável por via

parentérica), importante para prevenir as infecções do intestino. Nestes doentes, no

caso de infecção por G. lamblia, o tratamento com metronidazol é o recomendado e

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geralmente bem sucedido, embora, nalguns casos sejam necessários vários cursos

terapêuticos para debelar esta infecção13,105. Na verdade, os casos de infecção por

G. lamblia em doentes com IDCV caracterizam-se pela dificuldade de tratamento,

cronicidade da infecção e recaídas frequentes104,126.

Se, por um lado, a intrigante relação entre a predisposição de certos estados

imunológicos e a infecção por G. lamblia está ainda longe de ser totalmente

esclarecida, comprovado por vários estudos até à data controversos, por outro, os

factores que determinam a variabilidade de sintomas clínicos na infecção por Giardia

são também ainda mal compreendidos. Todavia reconhecem-se como determinantes

na gravidade da infecção, factores do hospedeiro como a idade e o estado imunológico

bem como diferenças na virulência e patogenicidade dos isolados de G. lamblia.

Na verdade, Giardia apresenta-se como um enigmático parasita que, apesar de

ancestral e muito estudado ao longo da história pela sua ubiquidade e reconhecido

impacto clínico, ostenta ainda muita controvérsia relativamente a quase todos os

aspectos da sua biologia e patologia, continuando a ser alvo de intenso estudo pois

várias questões permanecem ainda sem resposta.

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II. Giardia

Giardia é um microrganismo eucariota, unicelular, flagelado, o qual parasita o

intestino de diversos mamíferos, incluindo o homem, e de outros animais. É

considerado o protozoário flagelado mais comum a causar infecção humana em todo o

mundo142.

1. Retrospectiva histórica

 

Embora os seres humanos sofram desde há milhares de anos as consequências da

infecção por Giardia, foi necessário esperar pela invenção do microscópio para que

este parasita fosse descrito pela primeira vez, em 1681, por Antony Van Leeuwenhoek,

enquanto observava as suas próprias fezes diarreicas ao microscópio. Contudo, a

descoberta do flagelado Giardia acabou por ser atribuída a Vilem Lambl, 200 anos mais

tarde, em 1859, por ter descrito com grande detalhe este microrganismo, que designou

como Cercomonas intestinalis53. Em 1915, Kofoid e Christiansen propuseram o nome

Giardia lamblia e embora posteriormente, ainda no século XX, na década de 80, tenha

sido encorajado o uso do nome G. duodenalis e nos anos 90, a designação mais

recente G. intestinalis, as várias designações são aceites na literatura médico-científica

como sinónimos e sem total acordo até à actualidade3,20,35,54.

Conquanto fosse o primeiro parasita descrito, foi considerado durante muito tempo

como um microrganismo comensal do intestino e o seu papel como agente patogénico

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só foi reconhecido em meados da década de 70 do século XX, ao ser observado nas

fezes de um grande número de Norte-americanos sintomáticos que haviam viajado até

à União Soviética26 e por ter sido identificado como o agente causador de diferentes

epidemias diarreicas de origem aquática na Europa e Estados Unidos da América

(EUA)41,97. Somente em 1981 a Organização Mundial de Saúde (OMS) acrescentou

finalmente Giardia à sua lista de parasitas patogénicos151.

Mais de 300 anos após a sua descoberta, G. lamblia, o agente etiológico da

giardíase, é considerado o protozoário flagelado mais comum a causar infecção

humana em todo o mundo e actualmente não restam dúvidas acerca da sua

importância clínica137,142.

Com uma dispersão a nível mundial bastante significativa, estima-se que este

parasita provoque cerca de 280 milhões de infecções por ano, assegurando deste

modo o estatuto de parasita intestinal humano mais comum em países desenvolvidos82.

Nas regiões em vias de desenvolvimento, cerca de 200 milhões de pessoas têm

giardíase sintomática, sendo reportados 500 mil novos casos por ano150. 

Este enigmático parasita possui características morfológicas únicas e bem

conhecidas, mas as suas afinidades filogenéticas têm sido motivo de controvérsia

durante anos. Uma escola de opinião sugere que Giardia é um descendente primitivo

da linhagem eucariota que sofreu um processo de divergência evolutiva antes da

aquisição mitocondrial127,141, enquanto outros sugerem que Giardia corresponde a uma

das muitas linhagens eucarióticas divergentes que se adaptaram a um estilo de vida de

microaerofília96,99,112,141, indicando desde já o intenso debate que envolve este parasita.

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Giardia tornou-se assim um organismo chave na tentativa de compreender a

evolução das células eucarióticas. Com uma organização intracelular muito simples,

sem mitocôndrias e peroxissomas, mas com um sistema secretório vesicular primitivo

que foi proposto como o arquétipo do aparelho de Golgi de organismos superiores é,

actualmente, um dos organismos mais estudados, não só pela sua ubiquidade como

parasita mas também devido à sua importância na biologia evolutiva e genética

molecular.

2. Taxonomia

A posição taxonómica do género Giardia considerando a antiga sistematização

baseada na morfologia, define-se como pertencente ao Filo Sarcomastigophora, Subfilo

Mastigophora (Flagellata), Classe Zoomastigophorea, Ordem Diplomonadida e Família

Hexamitidae. De acordo com a nova sistematização, com base em dados estruturais,

bioquímicos e genéticos, o género Giardia pertence ao filo Metamonada, Subfilo

Trichozoa, Superclasse Eopharyngia, Classe Trepomonadae, Subclasse Diplozoa,

Ordem Giardiida e Família Giardiidae112.

2.1. Espécies de Giardia

O género Giardia corresponde a um flagelado intestinal que parasita uma grande

variedade de hospedeiros vertebrados. No passado, foram descritas diversas espécies

de Giardia com base no hospedeiro parasitado, o que levou à criação de mais de 50

espécies diferentes. Contudo, este conceito foi rejeitado por Filice, em 1952, tendo sido

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propostas somente três espécies: G. agilis, G. muris e G. duodenalis, com base nas

características morfológicas do trofozoíto observadas em microscopia óptica95.

Posteriormente, graças ao contributo da microscopia electrónica, foram detectadas

algumas diferenças morfológicas que levaram à inclusão de novas espécies cujos

isolados eram anteriormente classificados como G. duodenalis, nomeadamente

G. ardeae, G. psittaci e G. microti 94.

Actualmente considera-se que o género Giardia compreende seis espécies: G.agilis

nos anfíbios, G. ardeae e G. psittaci nas aves, G. microti e G. muris nos roedores e

G. duodenalis nos mamíferos (Tabela 1). Estas espécies distinguem-se entre si com

base na morfologia e ultra-estrutura dos seus trofozoítos, e foram definidas através da

sequenciação do gene da pequena subunidade ribossomal RNA (ssu rRNA) e

suportada pela sequenciação de outros genes32,112,142,155.

G. duodenalis (sin. G. intestinalis, G. lamblia) é a única espécie encontrada em seres

humanos. A nomenclatura de Giardia carece de uniformização, sendo aceite na

literatura actual os diferentes nomes de espécie G. duodenalis, G. intestinalis e

G. lamblia, referindo-se ao mesmo organismo155. Para efeito de consistência utiliza-se

neste trabalho o nome G. lamblia, no entanto segundo o International Code of

Zoological Nomenclature (ICZN) o nome G. duodenalis tem prioridade sobre todos os

outros142.

A espécie G. lamblia infecta diferentes espécies de mamíferos, incluindo o Homem.

Diversos isolados foram recolhidos em diferentes hospedeiros mas a aparente

uniformidade morfológica destes isolados esconde uma diversidade genética

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considerável, que tem estado na origem da dificuldade em estabelecer uma

classificação unânime3,106.

Tabela 1. Género Giardia: espécies reconhecidas (adaptado de Monis et al96 ).

2.2. Genótipos de Giardia

O advento da biologia molecular, com a aplicação directa das técnicas de PCR a

amostras ambientais e biológicas, tanto de origem humana como animal, em

conjugação com a análise de regiões genómicas conservadas ou loci de uma variedade

de genes housekeeping tais como os que codificam para a triosefosfato isomerase (tpi),

a glutamato desidrogenase (gdh), a β-giardina entre outros, tornou possível a evidência

de divisões genéticas fundamentais no grupo G. lamblia32.

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Assim sendo, com base no trabalho de diversos investigadores em diferentes países,

o consenso emergiu e considera-se, actualmente, que G. lamblia é um complexo de

espécies que engloba uma variedade de genótipos, genética e fenotipicamente distintos

mas morfologicamente similares, os quais apresentam ainda diferente especificidade de

hospedeiro141. Os seus membros podem ser englobados em sete agrupamentos

genéticos, também denominados Assemblages ou genótipos (A-G) 32,33,112.

Todos os isolados de G. lamblia de origem humana foram, até à data, classificados

dentro dos dois maiores Assemblages ou genótipos, A e B, assim designados por

Mayrhofer (1995)89 e que correspondem às classificações propostas por outros

investigadores ao longo do tempo. Assim, o genótipo A corresponde aos grupos I e II de

Andrews (1998)11, aos isolados de Polish de Homan (1992)67 e aos grupos 1 e 2 da

classificação de Nash and Keister (1985)101. Analogamente, o genótipo B corresponde

aos grupos III e IV de Andrews, aos isolados Belgian de Homan e ao grupo 3 de Nash.

Estes dois grupos apresentam diferenças significativas na sequência do ácido

desoxirribonucleico (DNA) de vários genes e dentro de cada grupo observa-se também

uma elevada heterogeneidade genética67,89,95, estando descritos para cada genótipo,

quatro sub-genótipos distintos: AI a AIV e BI a BIV94.

Apesar de serem os únicos identificados na infecção humana, estes genótipos foram

também identificados numa grande variedade de outros hospedeiros, incluindo gado,

cães, gatos e animais selvagens. A informação disponível sugere que o sub-genótipo AI

está amplamente distribuído na natureza e, uma vez que tem vindo a ser isolado de

amostras de origem humana e animal (cães, gatos, castores, animais de casco), é

considerado um grupo de grande potencial zoonótico. Por outro lado, o sub-genótipo AII

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parece ser específico dos humanos assim como o genótipo B, apesar de já se terem

identificado estes isolados em animais94,141. Quanto ao genótipo B a literatura

apresenta-se mais controversa, com alguns autores a sugerirem que os sub-genótipos

BIII e IV são exclusivos de humanos e os BI e BII exclusivos de animais enquanto

outros autores não reconhecem sub-genótipos neste genótipo94,155.

Quanto aos outros genótipos descritos, C a G, para isolados de Giardia de origem

animal, representam genótipos únicos e com uma marcada especificidade de

hospedeiros. Os genótipos C e D foram considerados específicos dos cães, embora já

tenham sido identificados em gatos. O genótipo E está associado a gado (animais de

casco fendido) e os genótipos F e G são específicos de gatos e ratos,

respectivamente94,141.

A distribuição e prevalência dos dois genótipos A e B nos humanos varia

consideravelmente de país para país e por vezes dentro da mesma região, consoante

os estudos. De qualquer modo, o número de estudos de epidemiologia molecular da

giardíase em humanos é ainda reduzido, não demonstrando uma clara diferença

geográfica ou socio-económica na distribuição dos genótipos A e B, nem indicando

claramente o papel das infecções zoonóticas na infecção humana33,155.

Paralelamente ao importante papel da caracterização genotípica dos isolados

humanos de G. lamblia na elucidação da questão sobre se a giardíase é ou não uma

zoonose, outros estudos têm visado a correlação de determinado genótipo com a

sintomatologia clínica e/ou com a gravidade da infecção humana por G. lamblia, mas

são ainda bastante inconsistentes e até controversos.

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Na verdade, embora estes dois grupos genéticos apresentem uma distância genética

entre eles maior do que a detectada entre diferentes espécies de outros

protozoários89,137, não existem ainda características fenotípicas que suportem a

diferenciação em duas espécies112,139.

No entanto, estudos recentes baseados na informação disponível resultante do

projecto “Genoma de Giardia lamblia” mostraram que os genomas parciais dos isolados

de G. lamblia genótipo A (isolado humano WB) e G. lamblia genótipo B (isolado

humano GS) apresentam uma semelhança nas regiões de codificação proteica de 77%

para os nucleótidos e de 78% para os amino-ácidos. Nestes estudos foi ainda possível

identificar 28 genes únicos, codificadores de proteínas, para o isolado G. lamblia

genótipo B e três genes para o isolado do genótipo A. Simultaneamente, demonstrou-se

que as proteínas de superfície variáveis (VSP) dos dois isolados são totalmente

distintas54,72,90.

As diferenças genómicas entre estes dois isolados (WB e GS) poderão explicar em

parte as diferenças biológicas e clínicas entre os dois, sugerindo deste modo que os

genótipos A e B podem na realidade ser duas espécies distintas. Por outro lado, outro

estudo que recorreu da proteómica, encontrou diferenças consideráveis nalgumas

proteínas, entre estes isolados112. As proteínas específicas de isolados representam

diferenças fenotípicas entre os isolados humanos de G. lamblia e suportam a tese da

necessidade de revisão da taxonomia deste parasita106,112. Assim a proposta de nova

nomenclatura seria de 11 espécies diferentes (Tabela 2). No entanto, mantém-se ainda

a discussão na comunidade científica sobre se o volume de dados é suficiente para

uma diferenciação fundamentada entre espécies96,112.

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Por outro lado, estudos recentes baseados numa abordagem de genotipagem

multilocus31, utilizando quatro marcadores genéticos, demonstraram que, para um certo

número de isolados, de origem humana e animal, não se conseguia determinar de

forma inequívoca o genótipo, especialmente no caso do genótipo B. A sequenciação

multilocus e a análise filogenética apoiam a existência de três sub-genótipos: AI, AII e o

novo AIII155, e que o nível de diversidade genética no genótipo B é superior ao

encontrado para o genótipo A112.

Assim, necessitamos de compreender melhor a variabilidade genotípica e fenotípica

desta espécie e as suas interacções com os hospedeiros para que seja possível uma

reavaliação taxonómica. A taxonomia incerta, assim como a falta de uniformização na

terminologia utilizada têm um impacto negativo nos estudos epidemiológicos de Giardia

além de que dificulta a comparação entre os diferentes estudos96,106.

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Tabela 2. Genótipos ou Assemblages de Giardia lamblia e espécies estabelecidas e

propostas (*), designação baseada na descrição taxonómica original (adaptado de

Monis et al 96).

 

 

 

3. Morfologia de Giardia lamblia

 

G. lamblia apresenta durante o ciclo evolutivo duas formas morfológicas distintas: o

trofozoíto ou forma vegetativa (Figura 1) e o quisto ou forma infectante (Figura 2).

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Figura 1. Representação esquemática de um trofozoíto de Giardia lamblia com a

característica duplicação de organelos, núcleo, corpos medianos, quatro pares de

flagelos e o disco ventral (adaptado de Monis et al96).

3.1. Trofozoíto

O trofozoíto coloniza a mucosa do intestino delgado, mede aproximadamente 12 a

15µm de comprimento e 6 a 8µm de largura e tem uma morfologia característica.

Quando observado de face, apresenta um contorno piriforme e simetria bilateral,

característica que o distingue de todos os outros protozoários que parasitam o homem.

O citoesqueleto é composto pelo disco de sucção (disco ventral ou disco estriado),

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corpos medianos e quatro pares de flagelos livres (anterior, caudal, posterior e ventral)

que emergem das duas fibras longitudinais ou axonemas3.

O disco ventral é um organelo único do género Giardia e uma estrutura essencial

para a sua sobrevivência, assegurando a aderência do parasita aos enterócitos,

permitindo a obtenção dos nutrientes essenciais e evitando a expulsão do parasita pelo

hospedeiro. Tem uma estrutura côncava com uma profundidade máxima de 0,4µm e

ocupa cerca de dois terços da superfície ventral do trofozoíto. É composto por uma

variedade de proteínas do citoesqueleto nomeadamente as giardinas, as quais

constituem uma família de proteínas únicas de Giardia, apenas encontradas no disco

ventral, e por proteínas contrácteis tais como a actina, α-actina, miosina e tropomiosina,

que constituem o suporte bioquímico para a contracção do disco, essencial para o

processo de aderência. A adesão é dependente do metabolismo activo, sendo inibido

por altas concentrações de oxigénio, temperaturas abaixo dos 37ºC, baixas

concentrações de cisteína e também pela acção de determinados fármacos35,47,109.

O corpo mediano é uma estrutura localizada na linha média do citoesqueleto, sendo

também uma estrutura única do género Giardia e as suas diferentes características

morfológicas foram o primeiro parâmetro a ser usado na identificação das diferentes

espécies. O trofozoíto de G. lamblia apresenta dois corpos medianos, no centro da

célula, em posição transversal e em forma de vírgula. As suas funções ainda

constituem uma área pouco esclarecida, mas a afinidade dos anticorpos anti-giardina e

anti-tubulina para os corpos medianos sugerem que estes possam estar relacionados

com o disco ventral3,35.

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Os quatro pares de flagelos (anterior, posterior, caudal e ventral) emergem dos

corpos basais, perto da linha média do citoesqueleto. Nove pares de microtúbulos estão

simetricamente enrolados na zona externa de cada flagelo enquanto dois microtúbulos

preenchem o seu interior. Apesar de as funções dos flagelos não estarem ainda

totalmente esclarecidas, são relacionadas com a mobilidade do parasita e com o

processo de adesão às células intestinais. O aparecimento precoce dos flagelos

durante o enquistamento pressupõe que estes devem desempenhar algum papel nesse

processo58.

No citoplasma estão presentes vacúolos lisossomais, grânulos ribossomais e de

glicogénio. O complexo de Golgi torna-se visível durante o processo de enquistamento

muito embora a sua presença não tenha ainda sido confirmada em trofozoítos, mas

outros organitos presentes nos eucariontes, como mitocôndrias, peroxissomas e

nucléolos não foram ainda identificados em G. lamblia3.

O trofozoíto de G. lamblia possui dois núcleos simétricos aparentemente idênticos. A

membrana nuclear está parcialmente revestida por ribossomas e ainda não se

evidenciou a existência de nucléolos no seu interior16,35,130. É genericamente aceite que

a replicação ocorre nos dois em simultâneo, sendo ambos transcripcionalmente activos

e com aproximadamente o mesmo número de genes de RNA ribossómico (rRNA) 4,158.

Contudo, estes pressupostos ainda não estão bem esclarecidos, existindo estudos

controversos sobre os mecanismos intervenientes neste processo, mantendo-se a

questão de como Giardia coordena a sua divisão celular de modo a produzir dois

núcleos idênticos122,130,146.

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Figura 2. Representação esquemática de um quisto de Giardia lamblia, com a forma

oval, apresenta no citoplasma, entre dois a quatro núcleos, axonemas flagelares,

vacúolos, ribossomas e fragmentos do disco ventral. (adaptado de

http://charlesjerffesson-enfermagem.blogspot.com/)

3.2. Quisto

O quisto é a forma infectante de G. lamblia. É resistente ao ambiente externo,

protegendo-se da lise em ambientes hipotónicos, assim como dos ácidos gástricos

produzidos pelo estômago do hospedeiro que parasita. Os quistos podem ser redondos

ou ovais e medem entre 10-14µm de comprimento e 7-10µm de largura, sendo

revestidos por uma fina parede de 0,3µm de espessura, composta por filamentos de

7-20nm de largura. Por baixo da zona externa filamentosa existe uma camada

membranosa interna, composta por duas membranas: a exterior, adjacente à parede

filamentosa, revestida interiormente por uma delgada camada de citoplasma; e a

interior que é a membrana citoplasmática dos futuros trofozoítos. O constituinte

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predominante da parede do quisto é a galactosamina, na forma

N-acetilgalactosmina3,35. No interior do quisto encontram-se os axonemas flagelares,

vacúolos, ribossomas, grânulos de glicogénio, fragmentos do disco e quatro núcleos

pequenos. Os axonemas posterolaterais, ventrais e caudais formam um simples cordão

que se estende ao longo do eixo longitudinal do quisto até à zona posterior terminal. Os

flagelos anterolaterais atravessam o quisto lateralmente de forma semelhante à

observada no trofozoíto. Cada quisto apresenta no citoplasma entre 2 a 4 núcleos,

axonemas flagelares, vacúolos, ribossomas e fragmentos do disco ventral. As

estruturas internas que se observam no trofozoíto estão incluídas, de forma

desordenada, no interior do quisto3.

Durante a fase quística o organismo é capaz de permanecer viável durante várias

semanas no ambiente. No caso, de permanecer em águas frias, mantém a sua

viabilidade durante cerca de três meses, sendo muitas vezes detectado em águas frias

superficiais, depósitos de água potável e cisternas56. Os quistos são ainda resistentes à

cloragem e à ozonização7, na concentração normalmente utilizada no processo de

desinfecção nas estações de tratamento de águas75.

4. Ciclo de vida

 

O ciclo de vida de G. lamblia é monoxeno, uma vez que não necessita de hospedeiro

intermediário, não invasivo e a infecção inicia-se após a ingestão de quistos, através de

água ou alimentos contaminados ou directamente pela via fecal-oral. A dose infectante

varia entre 10 a 100 quistos48,117.

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No interior do hospedeiro, o ciclo de vida, com a subjacente colonização do intestino

delgado, desenrola-se em quatro etapas fundamentais: desenquistamento, ligação dos

trofozoítos ao epitélio intestinal, multiplicação dos trofozoítos e enquistamento

(Figura 3).

4.1. Desenquistamento

O desenquistamento ocorre no duodeno, onde o pH de 6,8 a 7,0 é favorável a este

processo, após exposição dos quistos ao pH ácido do suco gástrico e à acção das

enzimas pancreáticas48. Este processo é precedido pela fusão dos espaços lacunais da

periferia do quisto, formando um espaço peritrófico confluente ao redor da célula

enquistada. Subsequentemente, os flagelos projectam-se através da ruptura observada

num dos pólos do quisto e o trofozoíto emerge através do ponto de ruptura

apresentando uma forma oval. O quisto, inicialmente com dois núcleos, sofre uma

mitose de forma que o trofozoíto que emerge do desenquistamento apresenta na sua

constituição quatro núcleos e oito pares de flagelos. Após a eclosão o trofozoíto

alonga-se e inicia-se a citocinerese formando-se dois trofozoítos binucleados a partir de

um único quisto. Durante esta fase observou-se que os vacúolos intracelulares

descarregam o seu conteúdo, sugerindo que as hidrolases são necessárias para

completar o processo de desenquistamento50.

4.2. Ligação ao epitélio intestinal

Após o desenquistamento o trofozoíto adere à mucosa intestinal do duodeno e

primeiras porções do jejuno onde se alimenta do conteúdo intestinal3.

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O disco ventral desempenha um papel principal no mecanismo de ligação, quer

através de forças hidrodinâmicas geradas pelo movimento dos flagelos sobre o disco,

ou ainda pelo movimento directo do disco, mediado pelas proteínas contrácteis que o

constituem, particularmente na sua região periférica48. No entanto, a ligação de Giardia

ao epitélio intestinal também é mediada por uma lecitina de superfície, que se liga

especificamente à manose e que é activada pela tripsina. Pensa-se que esta proteína

esteja associada ao início da ligação entre Giardia e o epitélio intestinal, uma vez que

se encontra distribuída uniformemente pela superfície do trofozoíto permitindo que, ao

contrário da ligação mediada pelo disco ventral, o parasita não necessite de estar

orientado especificamente para a mucosa. Experiências realizadas in vitro, utilizando

modelos animais, mostraram que, ambos os mecanismos (mecânico e mediado pela

lectina) são importantes para a ligação do trofozoíto ao epitélio intestinal50,121.

4.3. Multiplicação

Os trofozoítos de Giardia multiplicam-se assexuadamente por divisão binária

longitudinal3,50. No entanto, os mecanismos que controlam o seu crescimento e os

factores essenciais ao crescimento permanecem ainda pouco definidos. Giardia

parasita o lúmen do intestino delgado e portanto presume-se que seja dependente dos

nutrientes que aí circulam. Demonstrou-se, in vivo e in vitro, que a bílis promove o

crescimento de Giardia, tendo sido proposto que os sais biliares promovem a captação

de fosfolípidos biliares pré-formados, que este organismo não é capaz de sintetizar.

Outros factores essenciais para o crescimento incluem uma fonte de hidratos de

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carbono, normalmente a glucose e uma tensão relativamente baixa de oxigénio, uma

vez que se trata de um microrganismo microerofílico50.

Até à data, não foi possível demonstrar a existência de um ciclo sexuado. Durante os

estádios vegetativos o genoma dos trofozoítos varia entre tetraplóide (4N) e octaplóide

(8N), em resultado da divisão da célula e do núcleo16.

4.4. Enquistamento

O enquistamento ocorre à medida que os trofozoítos vão passando do intestino

delgado para o cólon3. Esta fase final do ciclo é alcançada, in vitro, expondo os

trofozoítos a concentrações elevadas de sais biliares e ácido mirístico a pH neutro. A

bílis e os sais biliares desempenham assim um papel duplo no ciclo parasitário. Por um

lado promovem o crescimento e a multiplicação e, por outro garantem o enquistamento

do parasita e a conclusão do seu ciclo de vida48,50.

Durante o processo de enquistamento os trofozoítos ficam arredondados e

destacam-se do substrato perdendo a mobilidade flagelar. As células ficam refractáveis,

os núcleos dividem-se e forma-se uma parede resistente87. Os estudos por microscopia

electrónica revelaram que antigénios específicos dos quistos aparecem no aparelho de

Golgi ao fim de cinco horas de indução do enquistamento e que, ao fim de seis a 18

horas, esses antigénios aparecem armazenados em vesículas secretórias específicas

(VSEs) que os transportam para a periferia de modo a integrarem a parede do quisto. A

formação das VSEs é a primeira alteração visível ao microscópio óptico. Após 44 a 77

horas de enquistamento a parede fica concluída e os dois núcleos dividem-se

simultaneamente, resultando um quisto maduro com quatro núcleos101.

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Figura 3. Representação esquemática do ciclo de vida de Giardia lamblia.

Os quistos são as formas de resistência e são responsáveis pela transmissão da

giardíase. Os trofozoítos e quistos podem ser encontrados nas fezes do hospedeiro e

representam formas de diagnóstico (1). A infecção ocorre através da ingestão de

água e alimentos contaminados com quistos ou através da via fecal-oral (2). Os

quistos no intestino delgado desenquistam, libertando os trofozoítos (3). Os

trofozoítos aderem à mucosa do intestino delgado através do disco ventral e

multiplicam-se por divisão binária longitudinal (4). O quisto é a forma normalmente

encontrada nas fezes não diarreicas (5). Os trofozoítos não sobrevivem no ambiente

e os quistos, mais resistentes, podem depois vir a infectar outros humanos e /ou

determinadas espécies de animais (adaptado http://www.cdc.gov/).

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A larga maioria dos quistos produzidos, assim como alguns trofozoítos, são

transportados através do intestino e expelidos com as fezes. Um indivíduo infectado

excreta aproximadamente 107 quistos/g de fezes, até um máximo de 1010 quistos/dia117.

No ambiente os quistos conseguem sobreviver durante meses, na água ou em

ambientes húmidos, podendo dar início a um novo ciclo se ingeridos por um hospedeiro

apropriado75,129.

5. Epidemiologia

Giardia é o protozoário entérico patogénico mais comum dos seres humanos e

animais domésticos e selvagens96.

As características de G. lamblia que podem influenciar a epidemiologia deste

microrganismo e explicar a sua elevada prevalência e subsequente difícil controlo são

diversas, nomeadamente: (i) alta infectividade (nos humanos a dose infectante é de 10

a 100 quistos117); (ii) o ciclo de vida completa-se num único hospedeiro, sendo a

capacidade de multiplicação e libertação de quistos elevada32; (iii) alta taxa de excreção

do parasita, que pode chegar a 1010 quistos por dia durante meses117; (iv) os quistos

são excretados na forma infectante, não necessitando de desenvolvimento ou

maturação posteriores, possibilitando a transmissão por contacto directo entre pessoas

ou entre animais140; (v) os quistos apresentam uma elevada resistência a condições

ambientais adversas e às doses de desinfectantes usadas normalmente no tratamento

de água, permanecendo viáveis durante vários meses7; (vi) a dispersão de quistos no

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ambiente conduz à contaminação de alimentos e água de consumo possibilitando a

transmissão indirecta do parasita75,129.

A OMS estima que 280 milhões de pessoas são infectadas por ano82. No entanto

calcula-se que os estudos epidemiológicos apresentem valores mais baixos que os

reais, dada a existência de portadores assintomáticos, ao facto de nem todos os

sintomáticos procurarem assistência médica e ainda de nem todos os médicos

avançarem para exames laboratoriais em doentes com diarreias não sanguinolentas156.

Em Setembro de 2004, Giardia foi incluída no Grupo de Doenças Negligenciadas

(Negleted Diseases Intiative) pela OMS112,125.

A giardíase tem distribuição mundial, afectando pessoas que vivem em diversas

zonas climáticas e pertencentes a diferentes grupos socioeconómicos e culturais. O

nível de higiene e a qualidade das condições sanitárias são outros dos factores que

mais influenciam a prevalência desta parasitose. Assim, nos países em vias de

desenvolvimento, onde o saneamento básico é precário e as estações de tratamento de

água de consumo ineficazes, a prevalência de giardíase pode atingir os 40%. Nos

países desenvolvidos da Europa e América do Norte esta prevalência situa-se entre os

2 e os 7%8,48,121,133. Para além das variações de prevalência entre os vários países,

registam-se, também, variações de prevalência entre regiões do mesmo país e entre

diferentes comunidades da mesma região33,112(Tabela 3).

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Tabela 3. Dados reportados de prevalência de Giardia lamblia, em humanos, na

Europa (adaptado de Plutzer et al112).

Nos EUA, G. lamblia é o protozoário intestinal patogénico mais frequentemente

diagnosticado, sendo detectados anualmente cerca de 20 000 novos casos da doença,

que correspondem maioritariamente a crianças entre um e nove anos de idade e

adultos entre 30-39 anos48,156.

A idade parece ser um factor de risco para a susceptibilidade à giardíase, uma vez

que a infecção é mais comum em crianças até aos cinco anos de idade, sendo no

entanto rara em crianças com idade inferior a seis meses, principalmente nas

alimentadas com leite materno48. A má nutrição também aumenta a susceptibilidade à

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infecção, como foi comprovado num estudo realizado na Gambia, onde a prevalência

desta protozoonose em crianças com diarreia crónica e má nutrição foi de 45%, ao

passo que nos casos controlo, crianças do mesmo sexo e idade saudáveis, foi apenas

de 12%48. Segundo a OMS, as crianças até aos 14 anos de idade são mais

susceptíveis às parasitoses intestinais desconhecendo-se se devido à imunidade ou a

outras condições fisiológicas151. Verifica-se também um pico sazonal, nos casos

relacionados com a idade, coincidente com a estação do Verão, reflectindo

possivelmente o aumento do uso de águas de rios, lagos, piscinas e parques aquáticos

para recreio155,156.

As situações com risco aumentado de contrair infecção por G. lamblia são: viagens a

áreas endémicas; contacto próximo com pessoas infectadas, o qual é promovido em

instituições fechadas como infantários, orfanatos e hospitais; ingestão de água de

consumo contaminada; ingestão de água de piscinas ou de outras actividades

aquáticas de recreio contaminada; deficientes cuidados de higiene pessoal; contacto

com animais infectados; e ainda hipogamaglobulinémia33,48,156.

A imunodeficiência predispõe à aquisição de giardíase e é provavelmente o factor

que mais contribui para o desenvolvimento de infecção crónica. A imunododeficiência

mais associada à giardíase crónica é a IDCV, com vários graus de

hipogamaglobulinémia ou agamaglobulinémia104,136. No entanto, nos infectados por VIH

ou com a síndrome de imunodeficiência adquirida (Sida) a giardíase crónica não é uma

situação clínica significativamente importante, embora seja mais prevalente em homens

homossexuais, com ou sem infecção por VIH49,51. Nos seropositivos para VIH a

infecção por G. lamblia tem apresentação clínica moderada, ao contrário da infecção

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por outros protozoários intracelulares como Cryptosporidium e Microsporidium, os quais

provocam doença diarreica crónica e grave. Esta situação continua por clarificar e pode

reflectir diferenças nas características de virulência, intrínsecas a cada microrganismo,

ou diferenças na resposta imunitária intestinal requerida para erradicar os diferentes

protozoários49,134.

A giardíase humana é uma doença notificada em diversos países industrializados

tais como, Canadá, Japão, EUA e Nova Zelândia. Os dados reportados na União

Europeia variam entre os países membros sendo, por exemplo, a notificação voluntária

na Espanha e na Bélgica, mas não requerida no Reino Unido, a não ser nos casos de

contaminação alimentar15.

Em Portugal, apesar de G. lamblia ser reconhecida como um parasita comum, existe

pouca informação disponível acerca da sua prevalência e quais os genótipos que

circulam nos humanos133, nos animais92 e na água86. Todavia encontram-se estimadas

prevalências de 12% em pessoas sintomáticas, em áreas limitadas8.

6. Transmissão

Como já referido, a infecção é adquirida directa ou indirectamente de um hospedeiro

infectado para um hospedeiro susceptível, por transmissão antroponótica ou de um

animal infectado para o hospedeiro, por transmissão zoonótica bem como de forma

indirecta, através de fontes ambientais, como a água e alimentos contaminados.

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6.1. Transmissão antroponótica

A transmissão directa de G. lamblia é reconhecida como a via mais significativa, por

contágio inter-pessoal pela via fecal-oral, sendo a responsável pela elevada prevalência

(35%) deste parasita em infantários, creches e instituições residenciais142. A

transmissão antroponótica pode ainda resultar de práticas de sexo anal ou oro-anal48. É

também responsável pela incidência nos adultos que vivem em condições precárias de

higiene, especialmente em localidades onde não há rede de distribuição de água e de

saneamento básico112.

6.2. Transmissão por fontes ambientais

A transmissão da giardíase através de águas contaminadas é a segunda via mais

comum e é importante devido ao potencial de propagação endémica da infecção a

partir de uma única origem para um elevado número de pessoas. De facto, na Europa71

e nos EUA41 foram registados vários surtos diarreicos epidémicos provocados pela

contaminação das águas de abastecimento com quistos de G. lamblia. As epidemias

por água contaminada ocorrem com maior frequência em climas frios, devido

provavelmente a maior sobrevivência dos quistos a baixas temperaturas (mais de dois

meses a 4ºC e menos de quatro dias a 37ºC) 32,120. Também foi demonstrada a

presença de quistos em águas recreacionais113.

A detecção de quistos de G. lamblia em vários alimentos tem sido referida e a

transmissão por esta via pode assumir também um papel importante no

desenvolvimento da giardíase no homem48,128.

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Nos países desenvolvidos, particularmente nos EUA, trata-se do protozário parasita

mais frequentemente associado a surtos de diarreia em humanos, por consumo de

água contaminada75,156. A transmissão resulta essencialmente da contaminação da

água superficial e subterrânea, com dejectos de animais e humanos infectados92. Os

quistos sobrevivem a condições de pressão ambiental e os processos de filtração,

floculação, sedimentação e desinfecção, normalmente utilizados no processo de

tratamento da água, não são totalmente eficazes na sua remoção ou inactivação7.

Recentemente, verificaram-se evidências epidemiológicas de que a utilização de

águas residuais urbanas na agricultura por questões de rentabilidade e valor nutritivo,

aumenta o risco de infecção por agentes patogénicos entéricos, dos agricultores, suas

famílias e consumidores dos produtos agrícolas18,127.

6.3. Transmissão zoonótica

Organismos com morfologia idêntica ao protozoário flagelado G. lamblia infectam

mais de 40 espécies de animais e são considerados potenciais agentes etiológicos de

infecção zoonótica pela OMS153. No entanto o homem é considerado o principal

reservatório do parasita embora alguns autores tenham preconizado que o castor52 e

outros animais como o gato148, o cão68,84,144, o rato e determinadas raças de carneiros,

também possam ser fontes de infecção96. De facto, foi conseguida a transmissão

cruzada demonstrando-se que o homem é susceptível a isolados de Giardia de origem

não humana e algumas infecções humanas parecem ter sido iniciadas por quistos

eliminados por castores88. Adicionalmente, a caracterização dos isolados de castores

demonstrou que o biotipo encontrado era semelhante ao do homem32. Por outro lado, a

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similaridade genética dos isolados de Giardia provenientes do homem e de animais

(cães, gatos, bezerros, carneiros) sugere evidências circunstanciais de transmissão

zoonótica37,39.

No entanto quando se estuda o potencial zoonótico de G. lamblia, a constatação de

que genótipos semelhantes ocorrem em diferentes espécies hospedeiras, não é, por si

só, evidência conclusiva de que existe transmissão zoonótica69,139.

Quanto ao potencial zoonótico dos vários agrupamentos genéticos de G. lamblia, o

assunto tem sido alvo de controvérsia ao longo dos anos, sendo actualmente

considerado que o genótipo A representará maior risco zoonótico, particularmente o

sub-genótipo AI e o genótipo B terá menos significado nesta via de transmissão33. As

consequências clínicas da infecção nos cães e gatos parecem ser mínimas. Contudo

tem havido grande especulação sobre o significado de tais parasitoses nos animais de

estimação. Estudos recentes demonstraram que o homem e os cães partilham os

mesmos genótipos, particularmente em zonas urbanas, podendo ocorrer transmissão

zoonótica dos genótipos A e B entre animais de estimação e os seus donos15. Os

isolados provenientes do gado, pertencentes ao genótipo AI poderão representar um

potencial problema de saúde pública, colocando em risco os produtores de gado,

através do contacto directo, bem como outros membros da comunidade devido à

contaminação das águas139,155.

Contrariamente, os genótipos específicos dos animais, restritos ao gado de casco,

cães, gatos e roedores não foram ainda identificados no homem e, por consequência,

não parecem representar um risco para a saúde pública139.

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Tendo por base as prevalências desta espécie em diferentes hospedeiros e o

conhecimento actual acerca dos principais grupos genéticos de G. lamblia, foram

propostos quatro ciclos principais de transmissão, que mantêm o parasita em

hospedeiros mamíferos140: um dos ciclos tem como hospedeiros principais cães e

gatos, outro os humanos, outro o gado e outro ainda os animais selvagens. Há a

possibilidade de transmissão entre hospedeiros de um mesmo ciclo e de um ciclo para

o outro directamente ou por via hídrica (Figura 4).

Todavia não se conhece a frequência de transmissão para os quatro ciclos descritos.

É necessário compreender de que modo estes ciclos interagem e conhecer qual a

frequência de transmissão de genótipos zoonóticos96,140.

 

Figura 4. Esquema representativo dos principais ciclos de transmissão de

Giardia lamblia (adaptado de Monis et al96).

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Assim podemos concluir que na giardíase as evidências epidemiológicas indicam

altas taxas de infecção por transmissão antroponótica enquanto que os dados de

genotipagem e subgenotipagem apenas apontam para o potencial papel da

transmissão zoonótica, com pouco suporte epidemiológico155.

São necessários mais estudos epidemiológicos moleculares sobre a giardíase em

humanos, com a análise dos resultados da genotipagem de amostras de humanos e de

animais, para se obterem conclusões mais definitivas e possivelmente detectar

diferenças geográficas na ocorrência de giardíase zoonótica. Comparações

sistemáticas dos subtipos dos genótipos A e B em vários loci e a elucidação da

genética das populações de parasitas são também necessários para melhor

compreender a transmissão zoonótica de G. lamblia.

7. Quadro clínico da giardíase humana

A infecção por G. lamblia pode apresentar uma grande variabilidade de quadros,

desde infecção assintomática, passando pela infecção sintomática com diarreia aguda

auto-limitada (três a quatro dias) ou com diarreia crónica (meses a anos), associada a

malabsorção e perda de peso48,65,137.

A infecção assintomática representa a forma mais comum de infecção,

correspondendo a cerca de 60% dos indivíduos infectados e ocorre tanto em adultos

como em crianças46,48,65. Estas pessoas, que apresentam quistos nas fezes sem

manifestações clínicas, representam importantes reservatórios na disseminação da

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infecção. Os factores intervenientes nesta relação especial hospedeiro-parasita, que

permitem a persistência da infecção sem ocorrência de expressão clínica, não estão

ainda definidos48,65. Mais uma vez, a resposta pode estar na capacidade de variação de

virulência do parasita ou/e em aspectos relacionados com os mecanismos de defesa,

imunes e não imunes, desenvolvidos no hospedeiro para prevenir a expressão da

doença.

O período de incubação da giardíase, em pessoas com infecção sintomática é de

uma a três semanas46,56,65,121. Segue-se uma fase aguda da infecção em que a

variedade de sintomas sinaliza o aparecimento da doença. A diarreia é o principal

sintoma, acompanhado de dores abdominais, náuseas, flatulência, cefaleias, pirexia,

fezes fétidas, com quantidades excessivas de gordura e muco (esteatorreia). Num

hospedeiro imunocompetente, os sintomas da fase aguda desaparecem em poucos

dias e a infecção pode ser debelada no espaço de duas a seis semanas48,65. A infecção

aguda é muito comum em viajantes para regiões endémicas48,156.

No entanto, cerca de 5-15% dos casos sintomáticos evoluem para a fase crónica da

doença, apresentando uma sintomatologia, recorrente, mais grave com diarreia profusa

e persistente, cólicas abdominais, malabsorção, anorexia, perda acentuada de peso

(10-20% do peso inicial) e desidratação46,48,62,121.

A principal complicação da giardíase é a insuficiência nutricional que, nos adultos,

pode produzir uma variedade de deficiências em macro e micro-nutrientes, em geral

sem grandes sequelas, desde que a infecção seja tratada ou ocorra a sua remissão, no

entanto nas crianças pode comprometer o seu desenvolvimento e crescimento48.

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Os factores determinantes da variabilidade do espectro clínico nesta infecção são

ainda mal compreendidos. No entanto, é consensual que se trata de um processo

multifactorial em que os dois componentes da relação parasita-hospedeiro interferem,

nomeadamente: factores do hospedeiro incluindo variáveis como a idade, o estado

imunológico e nutricional, a exposição prévia ao parasita; e factores do parasita,

possivelmente associados ao genótipo, assim como, a carga parasitária, a taxa de

multiplicação, diferenças na virulência dos isolados, resistência aos antimicrobianos e

capacidade de evasão à resposta imunitária do hospedeiro. Todos são reconhecidos

como factores determinantes e importantes na gravidade da infecção28,46,121,131.

8. Patogénese

A fisiopatologia da giardíase é um processo complexo, multifactorial que envolve

uma combinação de perturbações estruturais e funcionais na mucosa do intestino

delgado bem como factores adicionais que operam no lúmen intestinal, e que podem

também contribuir para a diarreia e má absorção. A característica fisiopatológica

dominante é a deficiência das funções digestivas e absorptivas dos enterócitos, devido

a alterações da área de superfície das microvilosidades intestinais. Várias explicações

têm sido propostas para explicar estas deficiências, designadamente: a capacidade do

parasita causar dano directo na mucosa intestinal, via aderência pelo disco ventral; a

redução da actividade das dissacaridases devido ao dano das microvilosidades; a

libertação de produtos citotóxicos, como tióis proteinases e lectinas; a estimulação da

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resposta imunitária, com libertação de citocinas e inflamação da mucosa; e a

hipermotilidade da musculatura lisa intestinal. O parasita pode influenciar vários

parâmetros fisiológicos no lúmen intestinal e interferir com o processo de digestão e

absorção do epitélio intestinal50. Adicionalmente, certos estudos indicam que a

diversidade genética encontrada nos isolados de Giardia pode estar relacionada com a

variação dos efeitos biológicos produzidos na infecção54,72.

8.1. Acção directa do parasita no intestino

Os trofozoítos de Giardia aderem ao epitélio da mucosa do intestino delgado e

frequentemente, grandes massas do parasita cobrem áreas consideráveis do intestino

tendo sido sugerido que esta barreira mecânica seria a responsável pela má

absorção50. No entanto, esta hipótese parece improvável pois a área colonizada, ao fim

de seis a 10 dias, seria ainda assim muito pequena comparada com o tamanho do

intestino, considerando o pequeno tamanho do parasita, a baixa dose infectante e o

tempo de geração (6-12 horas in vitro) 121.

O parasita encontra-se nos espaços entre as vilosidades e, com menos frequência,

nas criptas glandulares46,48,65. No decorrer da infecção, os trofozoítos não penetram no

epitélio, não invadem tecidos adjacentes nem entram na corrente sanguínea,

mantendo-se a infecção restrita ao lúmen intestinal do hospedeiro parasitado51. A

invasão da mucosa e submucosa é um acontecimento raro na patogénese de Giardia25.

A adesão de Giardia à superfície da célula não é permanente. Os parasitas aderem e

destacam-se, alterando a sua posição na mucosa. A adesão produz impressões

circulares nas microvilosidades correspondendo à superfície ventral do disco adesivo.

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Está descrito o deslocamento, deformação e vesiculação das microvilosidades na área

coberta pelo disco ventral. Embora estas lesões sejam superficiais e possam não ser as

responsáveis pelos danos severos observados, podem iniciar o processo patológico

quando amplificado, num processo repetitivo, realizado continuamente por muitos

parasitas132. Estudos mais recentes, realizados em linhas de cultura celulares,

demonstraram que os trofozoítos de Giardia induzem a condensação da F-actina com

consequente perda da α-actina perijuncional. Estes rearranjos no citoesqueleto podem

contribuir para as modificações iniciais na função das células epiteliais com

consequente aumento da permeabilidade celular49. Além disso, estudos de incubação

in vitro demonstraram a capacidade de Giardia induzir apoptose das células epiteliais

intestinais. Curiosamente, a magnitude da resposta apoptótica in vitro é altamente

dependente do isolado do parasita, muito embora não tenham sido ainda identificados

marcadores específicos no parasita que se relacionem com a indução de apoptose131.

8.2. Histiopatologia

No homem, a giardíase está associada a um repertório completo de alterações da

arquitectura das vilosidades, desde um aspecto normal até à atrofia parcial ou sub-total

das vilosidades65. Nos indivíduos assintomáticos, os estudos histológicos das mucosas

do jejuno e do duodeno não costumam apresentar modificações significativas. Contudo,

em indivíduos sintomáticos, as alterações incluem atrofia das vilosidades intestinais,

hiperplasia das criptas, danos nas células epiteliais e infiltração leucocitária acentuada

da Lamina propria. Biópsias intestinais revelam uma vasta distribuição dos parasitas ao

longo das vilosidades e dos espaços interviloidais, com um

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arredondamento/encurtamento da barreira microviloidal das células epiteliais. O grau de

alterações patológicas do intestino delgado na giardíase tem sido relacionado com a

sintomatologia46.

Contudo, indivíduos sintomáticos podem apresentar uma histologia normal do jejuno,

sem exsudado inflamatório25,46.

8.3. Alterações funcionais da mucosa intestinal

A alteração da permeabilidade da membrana epitelial intestinal é, de facto, uma das

alterações mais importantes desta infecção, parecendo resultar de efeitos citopáticos

directos induzidos por substâncias produzidas pelo parasita. Glicoproteínas,

proteinases e lectinas são algumas das substâncias citopáticas conhecidas que

parecem causar danos directos na mucosa intestinal28,145. O consequente aumento da

permeabilidade epitelial tem como resultado uma resposta inflamatória e alterações

digestivas ao nível da absorção intestinal. Estas alterações estão correlacionadas com

a lesão da barreira estriada e com a diminuição da actividade das dissacaridases

(lactase, sucrase e maltase) na bordadura em escova do intestino delgado. A redução

das actividades enzimáticas é máxima quando a diarreia e as alterações morfológicas

são mais acentuadas. De facto, foi demonstrado que o dano da mucosa e as

subsequentes alterações fisiológicas estão limitadas à porção do intestino colonizado

pelo parasita e que a extensão destas alterações dependia do número de trofozoítos

presentes no local de infecção. Estas alterações são reversíveis e a actividade

enzimática é restabelecida após a eliminação do parasita, em paralelo com a

regeneração da área de superfície das microvilosidades28,145.

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De salientar, ainda, que as alterações na permeabilidade epitelial podem resultar

numa maior expressão de antigénios no lúmen, podendo exacerbar a ocorrência de

alterações alérgicas, frequentemente reportadas em pessoas infectadas por este

parasita48.

8.4. Factores do lúmen intestinal

Em adição às alterações morfológicas no intestino delgado que podem contribuir

para a fisiopatologia da diarreia e má absorção, uma variedade de factores do lúmen

intestinal têm sido identificados como podendo actuar a nível dos processos digestivos

e na absorção dos nutrientes, fluidos e electrólitos28,145.

A diminuição da actividade de enzimas luminais pode contribuir para a má absorção

observada na giardíase. A deficiência de lipase pancreática foi relacionada com a

esteatorreia observada na criança. Igualmente, verificou-se uma redução na

concentração de tripsina e quimotripsina em indivíduos com infecção sintomática e os

níveis de actividade foram reversíveis após tratamento. Contudo, o pâncreas possui

uma elevada reserva funcional de enzimas e a magnitude da diminuição observada nos

estudos clínicos não parece ser a responsável directa da má absorção48,50.

Inicialmente, foi também sugerido que a sintomatologia da giardíase estava

associada a um aumento no número de bactérias aeróbias e/ou anaeróbias no intestino

delgado proximal, que poderiam interferir no processo de diarreia. Contudo, nas

infecções humanas, o crescimento bacteriano não foi associado à sintomatologia, e a

eliminação das bactérias não anulou os sintomas, sugerindo que o crescimento

bacteriano anormal não se relaciona com a diarreia observada na giardíase45,121.

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Por outro lado, e como referido anteriormente, a bílis e os sais biliares têm um papel

importante no ciclo de vida do parasita. A presença de bílis em baixas concentrações

estimula o crescimento do trofozoíto e reduz o tempo de geração, podendo ser um

factor determinante na colonização intestinal. O parasita consome os sais biliares

conjugados por um processo mediado pelo transporte activo que ocorre contra o

gradiente de concentração, dependente da via metabólica energética do parasita. Este

consumo pode traduzir-se in vivo por uma redução nas concentrações intraluminais de

sais biliares e alterar a absorção dos lípidos da dieta, não só por impedir a solubilização

micelar dos lípidos, mas também por impedir a acção da lipase e co-lipase pancreática,

ambas dependentes, em termos de actividade hidrolítica, dos sais biliares conjugados.

Deste modo, o parasita ao consumir os sais biliares em seu benefício pode contribuir

para a má absorção de lípidos, facto bem definido em hospedeiros com giardíase48,50.

8.5. Imunopatologia

Tem sido sugerido que a resposta imune inflamatória ao parasita tem um duplo efeito

de acção, protectora e lesiva, podendo contribuir para o dano epitelial observado nesta

patologia27,131. A atrofia das vilosidades, a hiperplasia das criptas e a resposta celular

na Lamina propria, alterações comuns na giardíase, são semelhantes às lesões da

mucosa associadas a desordens imunitárias do intestino delgado como, por exemplo,

na doença celíaca. De facto, respostas imunológicas mediadas pelas células T têm

vindo a ser associadas a diversas patologias intestinais idiopáticas e microbianas131.

Alguns estudos, que utilizaram modelos animais atímicos, comprovaram que muitas

das alterações epiteliais intestinais observadas durante a infecção por Giardia eram de

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facto, dependentes das células T. Em infecções experimentais por G.muris nos

murganhos atímico (nu/nu) e no imunocompetente (BALB/c) verificou-se que a atrofia

das vilosidades parece ser mediada pela activação de linfócitos T. As alterações da

arquitectura das vilosidades, foram mais pronunciadas no murganho imunocompetente

e o murganho atímico desenvolveu modificações histológicas na mucosa, após

transferência de linfócitos do murganho imunocompetente. Contudo, não se

observaram diferenças na altura das vilosidades bem como na actividade das

dissacaridases entre o murganho (nu/nu) e o BALB/c heterozigotos (nu/+). Resultados

encontrados noutros estudos realizados em ratos infectados por G. muris e em

murganhos infectados por G. lamblia demonstraram que a atrofia das vilosidades ocorre

antes da proliferação dos linfócitos intraepiteliais27,131. Assim, a participação dos

linfócitos intraepiteliais na lesão da mucosa intestinal durante a giardíase continua por

esclarecer.

8.6. Relação com os genótipos

A maioria dos isolados de Giardia apresenta diferenças nas características

fenotípicas e genotípicas. Contudo, a ausência de definição de factores de virulência

tem impedido a correlação dessa variação com a patogenia da infecção. De facto, os

estudos de epidemiologia molecular, elaborados com o objectivo de determinar a

correlação entre os genótipos de Giardia e os sintomas clínicos da infecção, são

escassos e apresentam resultados discrepantes quanto à associação entre

determinado genótipo e a sintomatologia desta infecção.

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Inicialmente, um estudo efectuado na Holanda demonstrou uma forte correlação

entre o genótipo A e a infecção por G. lamblia com diarreia moderada e intermitente e,

por outro lado, entre o genótipo B e a infecção com diarreia grave e persistente66. Estes

dados foram corroborados por outro estudo, realizado na Etiópia57, que demonstrou

uma associação significativa entre o genótipo B e a infecção sintomática.

Pelo contrário, estudos realizados na Austrália115, encontraram uma forte correlação

entre o genótipo A e a infecção sintomática, nomeadamente a presença de diarreia.

Esta associação foi também reportada, em estudos similares, realizados no

Bangladesh63. Outro estudo, oriundo de Espanha123, demonstrou igualmente uma

associação significativa entre o genótipo A e a infecção sintomática. Neste estudo

verificou-se inclusivé uma correlação significativa entre o genótipo A e a infecção

sintomática por G. lamblia em crianças com idades inferiores a cinco anos.

Pelo contrário, um estudo mais recente realizado na Malásia93, região onde a

giardíase é endémica, demonstrou que a infecção pelo genótipo B confere um risco,

duas vezes superior, de manifestações sintomáticas como diarreia, desconforto

abdominal, vómitos e náusea, mostrando uma forte correlação entre o genótipo B e a

infecção sintomática na população estudada. No entanto, não se verificou correlação

significativa para o grupo de idades inferior a 12 anos, embora a infecção sintomática

estivesse significativamente correlacionada com o genótipo B em todos os grupos

etários, resultado contrário ao estudo anteriormente mencionado.

No entanto, o estudo de Madhy confirma o risco aumentado de giardíase em

crianças com idade inferior a 12 anos (população de risco), dado consistente com os

relatórios globais93,156. Neste grupo populacional os resultados globais apontam que a

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susceptibilidade das crianças a ambos os genótipos, com variabilidade no predomínio

de um país para outro, de acordo com estudos realizados em diversos países

nomeadamente, Malásia93, Brasil77, Filipinas12, Etiópia57, Austrália115 e Espanha123. A

susceptibilidade aumentada nas crianças atribui-se ao facto de apresentarem maior

exposição à infecção devido à falta de hábitos de higiene adequados e pode também

estar relacionada com a falta de imunidade48.

Na verdade, o desenvolvimento de ferramentas de biologia molecular para estudar

os diferentes isolados de G. lamblia e o conhecimento do espectro de sintomas

associados à giardíase, tem fomentado a busca de associações entre genótipos

particulares e padrões de sintomatologia específicos. No entanto, a análise dos

resultados actuais é inconclusiva, com ambos os genótipos associados à infeccção por

G. lamblia com manifestações gastrintestinais, principalmente com a diarreia.

Efectivamente, diferentes espectros de sintomas estão aparentemente associados com

genótipos distintos em populações diferentes119.

De facto, quando avaliamos de uma forma sistematizada os diferentes estudos que

abordaram esta problemática verificamos que os desenhos dos estudos são

heterogéneos no que concerne à amostra, metodologia aplicada e até à definição de

sintomatologia, tornando difícil a sua comparação (Tabela 4).

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Tabela 4. Associação entre sintomas e os genótipos de Giardia lamblia. Resumo das

características e resultados de diversos estudos (adaptado de Robertson et al119).

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46  

Os resultados obtidos nestes estudos, pouco uniformes, têm ainda que ser

analisados à luz da variação geográfica, no predomínio dos diferentes genótipos de

Giardia, os quais permanecem por justificar32,33(Tabela 5).

A resposta pode estar na dinâmica da transmissão, pois o genótipo A encontra-se

mais frequentemente associado à transmissão zoonótica, existindo grande variedade

de animais como reservatórios, enquanto o genótipoe B está mais associado à

transmissão inter-humana, apesar de ter sido identificado nalguns animais e poder

representar também um potencial risco zoonótico. Por outro lado, a associação do

genótipo B com portadores assintomáticos10,14,63,115,123,133 pode ser uma das razões que

explica a elevada incidência deste genótipo em regiões desenvolvidas, uma vez que faz

com que as infecções sejam mais difíceis de detectar, continuando a haver propagação

do parasita pela comunidade. Por outro lado, os infectados por parasitas do genótipo A

seriam mais facilmente identificados e tratados, factor que pode contribuir para a

diminuição da frequência deste genótipo entre humanos115,139,142.

Em regiões onde um determinado genótipo é endémico, um novo genótipo pode

causar sintomas mais graves quando infecta a população e nas infecções mistas, assim

com mais do que um genótipo diferente pode haver um efeito sinérgico na gravidade da

patologia e consequentemente na sintomatologia. Adicionalmente, o grau de variação

intra-genotípica pode também ter impacto, particularmente para o genótipo B96.

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47  

Tabela 5. Prevalência de Giardia lamblia - Genótipos A e B, em humanos. (adaptado

de Cacciò et al32).

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De qualquer modo, verificam-se excepções, mesmo quando se detectam tendências

claras e portanto, estes dados reforçam, mais uma vez, a necessidade de incluir

variáveis quer do parasita quer do hospedeiro na tentativa de compreender a interacção

entre ambos.

8.7. Factores de virulência

Os factores de virulência melhor caracterizados em Giardia são as proteínas de

superfície variante (VSP). A sequenciação completa do genoma do isolado de

referência pertencente ao genótipo A (isolado WB) demonstrou a existência de cerca de

200 genes codificadores para diferentes VSPs espalhados por cinco cromossomas4.

Por outro lado, verificou-se que os genótipo A e genótipo B (isolados WB e GS) de

G. lamblia apresentam repertórios diferentes de VSP e, ainda, que certas VSP têm um

efeito toxinogénico sendo assim possível que a variabilidade de sintomatologia

verificada na infecção por Giardia seja devida não a genótipos distintos mas a

diferenças no seu repertório e expressão de VSPs54.

A variação antigénica das VSPs é também uma das possíveis razões para a

persistência da infecção. Um trofozoíto expressa apenas um membro destas proteínas

à superfície mas pode em determinada altura mudar (switching) a expressão destes

antigénios de superfície, possibilitando a evasão à resposta imunitária do hospedeiro2.

Durante o switching o trofozoíto expressa simultaneamente duas VSPs diferentes. Este

processo já foi descrito no decurso do enquistamento e desenquistamento114.  A

observação da produção de anticorpos citotóxicos contra as VSPs, conjuntamente com

o aparecimento de variantes antigenicamente diferentes, sugere que os anticorpos

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possam estar envolvidos no desencadeamento do switching das VSPs. Contudo, a

variação na expressão de VSPs também ocorre na ausência de qualquer pressão

imunológica100. Assim, levanta-se a questão de se o switching das VSPs exige um

determinado estímulo ou por outro lado é um processo determinado geneticamente.

Curiosamente, a frequência de mudança de antigénios de superfície não é apenas

dependente do isolado, mas também VSP-dependente, variando entre 6,5 e 13,5

gerações101.

Os mecanismos que garantem a expressão de apenas um único tipo de VSP

e as razões pelas quais a sua frequência de comutação varia entre

clones são questões relevantes a esclarecer, contribuindo para a compreensão da

variação antigénica, como função biológica nesta espécie114.

9. Mecanismos de defesa e controlo da infecção por Giardia

 

Dados clínicos e experimentais demonstraram que o hospedeiro infectado desenvolve

uma resposta imune adaptativa contra Giardia, pois a maioria dos doentes infectados

por este microrganismo eliminam a infecção espontaneamente, mesmo na ausência de

qualquer terapêutica121.

Além disso, pessoas que vivem em áreas onde a giardíase é endémica têm menos

episódios de infecções por Giardia e apresentam infecções de gravidade reduzida

relativamente às pessoas que viajam para estas áreas endémicas a partir de locais com

baixa prevalência da parasitose51. Estudos experimentais demonstraram também que

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existem defesas imunes eficazes contra Giardia, uma vez que infecções experimentais

com ratos e gatos infectados com este parasita conseguem debelar espontaneamente a

infecção tornando-se resistentes à reinfecção51. No entanto, a imunidade adquirida

contra Giardia não é completa e as reinfecções são comuns, embora não seja claro se

acontecem devido à incompleta defesa imunitária do hospedeiro ou a variações no

parasita infectante. Em qualquer caso, na ausência de defesas adequadas do

hospedeiro, as infecções por este parasita são frequentes e graves. Por exemplo,

crianças menores de seis anos de idade, ainda com um sistema imunológico imaturo,

são mais susceptíveis à infecção por Giardia, mas não à infecção por outros agentes

patogénicos entéricos (como por exemplo Entamoeba histolytica) com via de

transmissão similar. Os adultos com imunodeficiências primárias, particularmente os

que têm imunodeficiência comum variável e, em menor grau, deficiência selectiva de

IgA, apresentam também uma maior incidência de infecções por Giardia3,51,80.

O entendimento completo dos mecanismos de defesa do hospedeiro contra o parasita é

de crucial importância, para o desenvolvimento de estratégias de vacinação, de forma a

prevenir a infecção, melhorando as abordagens terapêuticas principalmente nos casos

de insucesso, com a gama de fármacos utilizada actualmente. Além disso, Giardia tem

sido utilizada como sistema modelo para a caracterização de estratégias utilizadas pelo

hospedeiro para controlar os microrganismos no intestino, o que pode ter implicações

no entendimento da fisiopatologia das infecções com outros microrganismos

patogénicos do lúmen intestinal, bem como do papel dos comensais intestinais na

saúde humana e doenças45.

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Ao analisar os mecanismos de defesa anti-Giardia, do hospedeiro, é necessário

considerar as principais características da infecção. Primeiro, os trofozoítos de Giardia

residem no lúmen do intestino e não invadem a mucosa, o que requer uma defesa

activa do hospedeiro, eficaz ao nível do lúmen intestinal121. Segundo, a giardíase é

tipicamente caracterizada por pouca ou nenhuma inflamação da mucosa45. Uma

afluência maciça de células efectoras para a mucosa e/ou lúmen intestinal não é

provavelmente importante para eliminar a infecção, o que sugere que a maioria das

células necessárias para uma defesa eficaz contra Giardia são susceptíveis de estar

presentes na mucosa normal45,131. Além disso, as defesas do hospedeiro que são

geralmente induzidas durante uma resposta inflamatória, como o factor de necrose

tumoral α (TNF-α) ou interleucinas (IL-1), são menos preponderantes na erradicação da

infecção por Giardia relativamente às infecções que são normalmente acompanhadas

pela inflamação80,131.

Muitas imunodeficiências primárias predispõem à infecção por Giardia. Nos doentes

com hipogamaglobulinemia observa-se um aumento da incidência de giardíase, com os

doentes com IDCV e XLA (agamaglobulinémia associada ao cromossoma X) a

apresentarem uma alta incidência de envolvimento gastrintestinal, especialmente

diarreia, associada à infecção5,49,80. Se, por um lado estes estudos sugerem que as

imunoglobulinas são centrais na resistência ao parasita83,136, outros estudos revelam

resultados controversos sobre o papel da deficiência selectiva de IgA na giardíase46,51.

Na verdade, alguns estudos sugerem que doentes deficientes em IgA não têm um risco

aumentado para esta infecção isto porque, embora a deficiência de IgA seja

considerada uma condição heterogénea, raramente é caracterizada por uma completa

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ausência de anticorpos IgA. Assim, pequenas concentrações de IgA poderiam ser

suficientes para controlar a infecção em determinados indivíduos45,46.

Por outro lado, a taxa de giardíase, segundo alguns estudos em infectados por VIH é

superior à registada nos grupos controlo, continuando por esclarecer se são factores

epidemiológicos, em vez da imunossupressão, os responsáveis por estas diferenças.

Nestes doentes, as infecções por outros agentes patogénicos, especialmente

Cryptosporidium, são clinicamente mais importantes que as infecções por

Giardia45,51,134.

Os dados clínicos apontam assim para um papel importante das células B,

particularmente IgA, e células T (CD4) no controlo da infecção em humanos. Esta

conclusão é sustentada por dados experimentais in vivo de infecções por Giardia em

murganhos, cuja ablação de células T (CD4) e células B, origina giardíase crónica131,136.

Estudos experimentais com ratos deficientes em células B demonstraram que estes não

conseguem controlar a infecção por Giardia indicando que as células B são

indispensáveis à erradicação do agente patogénico. Por outro, ratos geneticamente

deficientes para a produção de IgA apoiam também o papel protector da imunidade

humoral, por outro lado em ratos deficientes na produção de IgA, mas capazes de

produzir IgM, verificou-se a sua ineficácia na erradicação desta infecção45. Os

anticorpos do tipo IgA ligam-se aos trofozoítos nos hospedeiros infectados podendo

afectar a sua mobilidade, impedindo a ligação dos parasitas ao epitélio intestinal ou por

actividade citotóxica directa sobre o parasita46,51.

Embora os mecanismos de defesa do hospedeiro dependentes de células B sejam

especialmente importantes para a erradicação da infecção crónica por Giardia, outros

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mecanismos, independentes das células B desempenham também um papel no

controlo da infecção aguda121,131. Além disso, factores não imunes do hospedeiro

podem influenciar a duração ou gravidade da giardíase, uma vez que as infecções são

variáveis mesmo em hospedeiros imunocompetentes. Verificou-se que vários

componentes do meio do intestino delgado normal podem afectar a viabilidade ou

diferenciação in vitro de Giardia. Por exemplo, os sais biliares são detergentes potentes

que inibem o crescimento de muitos microrganismos no intestino delgado. Todavia, os

sais biliares estimulam fortemente o crescimento e enquistamento deste parasita. Da

mesma forma, verifica-se que os trofozoítos conseguem anexar fios de muco e fixar-se

à mucosa intestinal apesar da camada de muco intestinal, composta essencialmente

por água, imunoglobulinas e mucinas, que lhe confere uma estrutura gelatinosa e tem

como função proteger o epitélio intestinal. Por outro lado, os trofozoítos são mortos por

produtos de lipólise no fluido intestinal normal, tais como ácidos gordos livres

insaturados e fosfolípidos. Estudos in vitro demonstraram ainda a acção tóxica do leite

materno humano normal sobre trofozoítos de Giardia, mas não pelo leite de vaca ou de

cabra. Isto deve-se à libertação de ácidos gordos insaturados no leite, livres de

triglicéridos, por uma lipase específica, existente no leite humano, mas não de vaca ou

de cabra. No entanto, os trofozoítos não são eliminados pelo leito humano na presença

de uma associação do muco intestinal, sais biliares acima de sua concentração micelar

crítica e pH intestinal levemente alcalino. Outros agentes tais como péptidos catiónicos

com acção anti bacteriana que protegem a superfície das mucosas, a lactoferrina do

leite e defensinas intestinais produzidas pelas células de Paneth, podem também

eliminar os trofozoítos deste parasita in vitro45,121,131.

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O papel citotóxico do óxido nítrico (ON) no combate a diversos microrganimos

patogénicos intracelulares também é reconhecido, mas a sua acção no controlo de

infecções com agentes patogénicos extracelulares não está ainda bem

estabelecida45,121. As células epiteliais intestinais polarizadas produzem ON e libertam-

no bem como aos seus produtos, preferencialmente na zona apical, sugerindo que este

mediador pode afectar os trofozoítos localizados nas proximidades. Experiências in

vitro, demonstram que o ON inibe o crescimento de Giardia não destroindo os

trofozoítos45,46. Além disso, o ON inibe tanto o enquistamento como o

desenquistamento de Giardia, podendo portanto, interferir com a transmissão do

parasita. Curiosamente, Giardia tem uma estratégia para desarmar essa potente defesa

do hospedeiro: os trofozoítos metabolizam activamente a arginina, privando os

enterócitos do substrato para a produção de ON. A produção de ON pelo enterócito na

presença dos trofozoítos pode ser restaurada pela suplementação com arginina em

excesso. Assim, o consumo de arginina e a produção de ON definem uma relação

cruzada entre um agente patogénico não-invasivo e o epitélio intestinal do

hospedeiro45,46. Ambos os estudos in vitro sugerem que as defesas não imunes do

hospedeiro e a capacidade do parasita para se evadir podem ajudar na determinação

do resultado da infecção por Giardia. O papel in vivo dessas defesas não imunes no

controlo da infecção por Giardia poderá ser um tema importante para futuros estudos.

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55  

 

Figura 5. Esquema representativo da interacção de Giardia lamblia com o intestino

humano. As diferentes partes do sistema imunitário intestinal são apresentadas pela

ordem em que interagem com Giardia lamblia durante a infecção (adaptado de

Roxström-Lindquist et al121).

10. Diagnóstico laboratorial da giardíase

 

O quadro clínico associado à giardíase não é suficiente para determinar o

diagnóstico da doença, não só devido à sua inespecificidade, que exige diagnóstico

diferencial com outras doenças infecciosas mas, também, devido a variabilidade de

apresentação, consoante o estado imunitário e nutricional do hospedeiro.

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56  

10.1. Métodos de microscopia

Não existe um método de referência para o diagnóstico da giardíase. A identificação

de quistos ou, com menor frequência, de trofozoítos em amostras fecais, por

microscopia óptica, é o método tradicional de diagnóstico desta doença48,134.

Em geral, recomenda-se o exame parasitológico a fresco ou, após metodologia de

concentração, de três amostras de fezes recolhidas em dias alternados, ou dentro de

um período máximo de 10 dias. Devido ao carácter intermitente da excreção de quistos,

a sensibilidade do exame de uma única amostra de fezes situa-se entre os 35% e os

50%, aumentando para 85% a 90 % com a avaliação de três ou mais amostras, obtidas

em dias alternados, e após realização de técnicas de concentração64.

Os quistos podem ser observados a fresco ou após coloração tricrômica ou com

hematoxicilina de ferro. A presença de trofozoítos nas fezes é pouco frequente e está

limitada a fezes diarreicas, dado que os trofozoítos são muito sensíveis às condições do

meio exterior, desintegrando-se rapidamente.

Em pessoas com suspeita de giardíase, que apresentem diarreia crónica e quadro de

má absorção, um exame de fezes repetidamente negativo pode não excluir a

possibilidade de presença do parasita. Nestes casos procede-se à pesquisa de

trofozoítos no líquido duodeno-jejunal, recolhido mediante aspiração por endoscopia

digestiva e/ou em biopsia de tecido duodenal, através do estudo histológico59.

O diagnóstico da giardíase por microscopia óptica é um exame económico, simples

de executar mas dependente da experiência do microbiologista.

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57  

10.2. Métodos imunológicos

O diagnóstico de giardíase através de técnicas imunológicas baseia-se

essencialmente na detecção de antigénios de Giardia em amostras de fezes.

As técnicas mais utilizadas são a imunofluorescência, directa ou indirecta, que utiliza

anticorpos monoclonais que permitem a detecção do organismo no seu todo e, os

imunoensaios enzimáticos (EIA-Enzyme-immunosorbent-assay), que detectam os

antigénios solúveis presentes nas fezes7.

Para as técnicas de fluorescência estão reportadas sensibilidades e especificidades

de 96% a 100% e para as técnicas de EIA, uma sensibilidade de 94% a 97% e

especificidade de 99% a 100%73.

Outros testes qualitativos, não enzimáticos de imunocromatografia em fase sólida,

desenvolvidos mais recentemente, apresentam uma sensibilidade de 81% a 93% e uma

especificidade superior a 99%7,55. Porém, para os testes de detecção de antigénio de

Giardia nas fezes, estudos recentes apresentaram uma sensibilidade de 60,7% e uma

especificidade de 96,7%, quando comparado com a microscopia, sugerindo que este

teste pode ser menos sensivel na infecção prolongada135. Na verdade, os métodos de

detecção de antigénios de G. lamblia, nas fezes humanas, são simples, rápidos e fáceis

de executar, dispensando pessoal especializado para a sua execução e leitura. A sua

interpretação tem, contudo, que ser cuidada uma vez que, pelo facto de detectarem

antigénios solúveis, podem originar resultados falsos positivos mesmo quando já não

existem microrganismos íntegros e a infecção está em fase de resolução7,55.

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10.3. Métodos moleculares

A implementação dos métodos de biologia molecular, nomeadamente a aplicação da

técnica de amplificação de ácidos nucleicos (PCR -Polimerase Chain Reaction), ao

diagnóstico de giardíase a partir de amostras de fezes veio melhorar a capacidade de

detecção do parasita. Alguns autores reportam grandes diferenças de sensibilidade, em

estudos com amostras fecais de animais, entre a técnica de microscopia óptica e a

técnica de PCR, nomeadamente de 5% para 80%91 e 3% para 20%144.

As técnicas tradicionais, além da limitação de sensibilidade quando a carga

parasitária é muito baixa, não conseguem discriminar microrganismos que, embora

morfolgicamente idênticos, apresentam uma grande variabilidade genética10,30,60,91.

As técnicas de biologia molecular vieram dar esse grande passo na identificação de

Giardia, possibilitando a detecção e subsequente genotipagem.

Nos últimos anos, a aplicação destas metodologias na caracterização molecular de

um grande número de isolados, a partir de hospedeiros infectados assim como de

fontes ambientais, forneceram novas perspectivas à taxonomia de Giardia e ajudaram a

destrinçar a sua complexidade epidemiológica.

Os métodos moleculares, têm sido descritos e publicados por vários autores, variam

no marcador genético bem como no método utilizado, não havendo até à data uma

estandardização de metodologias que permita a comparação dos resultados obtidos

nos diferentes estudos17,31,32,33(Tabela 6).

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Tabela 6. Lista de marcadores genéticos, métodos e principais aplicações das

técnicas de biologia molecular na análise de isolados de Giardia lamblia. (adaptado de

Cacciò et al 33).

Acresce a este facto, a recente demonstração, por diversos autores, que a

classificação em genótipos dos diferentes isolados de G. lamblia não é comparável, isto

porque diferentes marcadores podem originar resultados díspares32,57,112,144. Este

fenómeno foi reportado em isolados humanos e animais e foi encontrado por técnicas

de biologia molecular que recorrem a diferentes combinações de marcadores32,33. Esta

descoberta tem implicações nos estudos epidemiológicos dado que se inferem

conclusões totalmente diferentes dependendo da forma como os dados de

genotipagem são obtidos e interpretados. Vários mecanismos têm sido propostos para

justificar estes resultados incluindo a presença de infecções mistas, introgressão e

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ainda, a possibilidade de ocorrência de fenómenos de recombinação genética dentro do

mesmo genótipo e mesmo entre genótipos32,40.

Assim, para que estas metodologias possam vir a ser aplicadas como técnicas de

rotina para diagnóstico de giardíase é essencial ultrapassar as dificuldades técnicas de

extracção e purificação de DNA de amostras fecais, e sobretudo, implementar

metodologias coerentes, suficientemente discriminativas, específicas e sensíveis que

permitam melhorar o conhecimento da epidemiologia da infecção.

11. Profilaxia

A profilaxia da giardíase deve compreender os programas de controlo aplicados a

outras infecções diarreicas137,151. A prevenção da transmissão via directa fecal-oral é

conseguida através da educação sanitária sobre medidas de higiene pessoal. Nos

países em desenvolvimento a contaminação indiscriminada do ambiente com fezes

contribui para a disseminação da parasitose tanto pela via directa, como através de

águas e alimentos contaminados, devendo, por isso, ser encorajado o uso de latrinas

nestes países. A protecção da água de consumo em relação à contaminação por

quistos é imprescindível, devendo incluir a filtração da água bem como a sua

monitorização de qualidade. O tratamento da água por filtração com areia é

considerado o método mais adequado para a remoção dos quistos de Giardia, uma vez

que os quistos só são moderadamente susceptíveis ao ozono e halogénios e não são

susceptíveis aos níveis de cloro recomendados para a água potável137. Nos países em

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desenvolvimento, onde não existe rede de distribuição municipal, a água deve ser

fervida. Os viajantes que se deslocam a áreas endémicas devem ser aconselhados a

não consumir fruta e vegetais crus e a beber água engarrafada7.

Outras medidas específicas, como a identificação e tratamento das fontes de

infecção, devem ser implementadas. Embora a importância dos animais domésticos na

transmissão da infecção ainda não esteja definitivamente esclarecida, aconselha-se o

tratamento de cães e gatos mesmo que a infecção seja assintomática15. Todas as

infecções humanas, sintomáticas e assintomáticas devem ser tratadas de forma a

reduzir os reservatórios do parasita7.

12. Tratamento

Em pessoass saudáveis e imunocompetentes a giardíase é, geralmente, uma

doença auto-limitada, em que o parasita é erradicado pelos mecanismos de defesa do

hospedeiro, sem tratamento específico. Nos casos sintomáticos, em crianças ou em

adultos, a administração de fármacos anti-Giardia permite reduzir a gravidade dos

sintomas, a duração da infecção e prevenir a evolução para a cronicidade56. Os doentes

imunodeprimidos, com baixa capacidade de produção de imunoglobulinas específicas

anti-Giardia, tais como os hipogamaglobulinémicos103, têm sido descritos como mais

susceptíveis ao desenvolvimento de giardíase crónica recomendando-se o seu

tratamento29,56,119.

Pelo menos, seis classes de fármacos com diferentes mecanismos, estão

actualmente disponíveis para o tratamento da giardíase mas os compostos

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5-nitroimidazois, nomeadamente o metronidazol, são os agentes de primeira escolha.

As alternativas podem ser usadas em casos particulares ou se ocorrer insucesso

terapêutico29,119 (Tabela 7).

Embora, os estudos realizados para avaliação da efectividade dos fármacos

anti-Giardia apresentem diferenças em muitas variáveis, tais como: metodologia,

população estudada, existência ou não de sintomatologia, dose e duração do

tratamento assim como avaliação dos resultados e período de acompanhamento

(follow-up), existe um relativo consenso sobre a efectividade dos diversos fármacos e

sobre as alternativas terapêuticas a adequar às diferentes situações clínicas56,98.

O metronidazol é considerado o fármaco de eleição no tratamento da giardíase em

muitos países e, para uma dose estandardizada administrada durante 5 a 7 dias,

apresenta uma taxa de sucesso de 90%56,108,154. A eficácia do metronidazol varia entre

36% a 60 %, quando administrado por um dia numa dose simples, e aumenta para 67%

a 80 % se o fármaco é administrado durante dois dias56.

A quinacrina, introduzida como anti-malárico, em meados dos anos 30 do século

passado, foi recomendada para o tratamento da giardíase em 1941 e manteve-se como

a única terapêutica para esta doença até ao aparecimento dos compostos

5-nitroimidazois154. Foi um dos primeiros fármacos efectivos no tratamento da giardíase,

com uma eficácia clínica superior a 90%56. Todavia, actualmente não é recomendada,

nalguns países, devido aos seus efeitos secundários sendo no entanto usada quando

os nitroimidazois não resolvem a infecção147.

A furazolidona, fármaco utilizado na terapêutica da giardíase desde 1960, é um

composto nitrofurânico sintético, com actividade in vitro comparável ao metronidazol e

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mais activo que a quinacrina. A furazolidona tem uma eficácia clínica inferior (cerca de

80%) mas é preferível no tratamento de populações pediátricas por estar disponível na

forma de suspensão oral, embora apresente a desvantagem de requerer um longo

período de tratamento56,119.

Dois compostos da classe dos benzimidazóis, nomeadamente o albendazol e o

mebendazol, introduzidos originalmente como anti-hemínticos, têm sido usados no

tratamento da giardíase56,154.

Os resultados clínicos mostram que estes dois fármacos apresentam uma eficácia

semelhante ao metronidazol em crianças, quando administrados durante 3 dias. O

tratamento com mebendazol apresentou uma grande variação nos resultados clínicos e,

portanto, o seu uso tem sido preterido em relação ao albendazol. O albendazol está

disponível em suspensão e a sua utilização em crianças é vantajosa uma vez que estão

referenciados poucos efeitos secundários, sendo também eficaz contra helmintas56,119.

A paromomicina é um antibiótico de largo espectro, da classe dos aminoglicosídeos,

com eficácia comprovada (55-90%), clinicamente e in vitro, no tratamento da

giardíase56. A actividade in vitro da paromomicina é geralmente mais baixa do que a

dos nitroimidazóis, quinacrina e furazolidona. Contudo, esta baixa actividade é

compensada pelas elevadas concentrações atingidas no intestino sendo por isso o

fármaco anti-Giardia recomendado na gravidez56,79,119,154.

Mais recentemente, a nitazoxanida, um derivado 5-nitrotiazol, é administrada a

doentes que não respondem ao tratamento com metronidazol, ou no caso de crianças

em idade pré-escolar que recusam a medicação, devido à longa duração do tratamento

ou às características organolépticas dos outros fármacos1,149,154.

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Tabela 7. Fármacos anti-Giardia (adaptado de Robertson et al119).

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Em caso de insucesso terapêutico é recomendada a combinação de fármacos para o

tratamento da giardíase65.

O insucesso terapêutico é confirmado pela presença de amostras fecais positivas,

uma semana após o fim da terapêutica, devendo ser assumida a utilização de outra

classe de fármacos ou o tratamento combinado. Poderemos porém, nalguns casos

estar perante a possibilidade de uma reinfecção sobretudo nas áreas endémicas.

Sendo por vezes opção a repetição de novo curso com o mesmo fármaco, por um

período de tempo mais prolongado, e com dose mais elevada56,98,154.

As resistências, clínica e in vitro, estão documentadas para todas as classes de

fármacos usados no tratamento da giardíase48,147,153.

Embora não existam ensaios clínicos alargados sobre o tratamento da giardíase

refractária, estudos abrangendo pequenas populações reportaram sucesso terapêutico

com diferentes classes de fármacos e terapêuticas combinadas34,98. No entanto,

questões práticas como o licenciamento dos diversos fármacos nos vários países

tornam difícil a comparação entre estudos119.

Os doentes imunodeprimidos tais como os hipogamaglobulinémicos têm sido

descritos como os mais susceptíveis ao desenvolvimento de giardíase crónica103.

Efectivamente, também nestes doentes a giardíase refractária é a de mais difícil

tratamento126. Num estudo retrospectivo de seis casos de doença refractária, com

quatro doentes imunodeprimidos, cinco casos responderam com sucesso à terapêutica

combinada de quinacrina com metronidazol e tinidazol102.

Também foi reportado um caso de sucesso terapêutico com nitazoxanida num

doente seropositivo para VIH, com giardíase resistente ao metronidazol/secnidazol e

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albendazol, tendo a resistência do isolado de Giardia sido confirmada por estudos in

vitro e in vivo1.

No entanto, a resistência in vitro nem sempre pode ser correlacionada com a

resposta clínica ao tratamento e os testes de susceptibilidade in vitro nem sempre estão

disponíveis24. Assim, baseado na evidência clínica e in vitro, quer do efeito sinérgico

quer da resistência cruzada entre os fármacos anti-Giardia, é recomendado o

tratamento combinado, com diferentes classes de fármacos, nos casos refractários56,147.

Num estudo realizado em 38 doentes com giardíase refractária ao metronidazol foi

avaliada a eficácia de esquema terapêutico em escada, iniciado com albendazol e

metronidazol, seguido de paromomicina nos casos de insucesso da terapêutica anterior

e por fim, quinacrina com metronidazol, tendo sido conseguida uma taxa de cura de

100% dos doentes: 79% dos doentes responderam ao primeiro regime terapêutico

(incluindo um doente com deficiência parcial de IgA). Dos restantes, dois doentes

resolveram a infecção e seis foram tratados com paromomicina, durante cinco a 10

dias. Destes, 50% respondeu ao tratamento e a outra metade foi sujeita a terapêutica

com quinacrina e metronidazol com sucesso, incluindo um doente com deficiência

selectiva de IgA98.

No tratamento da giardíase, o sucesso não depende apenas da eficácia do fármaco

mas, também, do conhecimento de possiveis características do parasita associadas ao

insucesso na resposta ao tratamento.Em conclusão, as características clínicas das

infecções individuais são determinadas por factores do parasita e do hospedeiro e da

interacção entre eles.

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Capítulo II: Objectivos

 

A IDCV é segunda imunodeficiência primária mais comum a seguir à deficiência

selectiva de IgA. No entanto, apesar da sua baixa prevalência é considerada a

imunodeficiência primária sintomática mais frequente110. As manifestações

gastrintestinais na IDCV apresentam uma prevalência que varia entre 20% a 60%

comprovado por vários estudos13,74,124,157 e a infecção por G. lamblia é a causa

infecciosa mais frequentemente identificada de diarreia e má absorção nestes doentes,

sendo detectada em cerca de 30% dos doentes74,143. Muito embora haja uma grande

escassez de estudos científicos sobre a infecção por G. lamblia em imunodeprimidos,

alguns estudos documentam a maior predisposição ou risco para esta infecção em

hipogamaglobulinémicos e diferentes estudos realizados em populações de doentes

IDCV, apresentam taxas de prevalência de infecção por G. lamblia entre 10% a

50%13,76,103.

Por outro lado, a giardíase tem distribuição mundial sendo a sua prevalência elevada

variando e bastante variável chegando a atingir os 40% em países em vias de

desenvolvimento e oscilando entre 2 a 7% na Europa e América do Norte8,48,121,133. Na

verdade, este parasita é considerado o protozoário entérico patogénico mais comum

dos seres humanos. Embora na maioria dos casos a infecção seja assintomática, a

sintomatologia quando presente é muito variável e os factores determinantes da

patogénese desta infecção são ainda mal compreendidos27,46,121. No entanto, é

consensual que se trata de um processo multifactorial em que os dois componentes da

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relação hospedeiro-parasita interferem sendo reconhecidos como determinantes na

gravidade da infecção, nomeadamente factores do hospedeiro incluindo variáveis como

a idade, o estado imunitário e nutricional, e factores do parasita, possivelmente

associados ao genótipo131. A maioria dos isolados de Giardia apresenta diferenças nas

características fenotípicas e genotípicas. Existem evidências contraditórias nos estudos

epidemiológicos que visam correlacionar a relevância biológica dessa variação genética

com a patogenia e consequente sintomatologia da infecção66,93,115,123.

Neste âmbito, este trabalho teve como objectivos:

1. Investigar a prevalência da infecção por G. lamblia e as complicações

gastrintestinais, devidas à infecção por este parasita, numa população de doentes com

imunodeficiência comum variável (IDCV) bem caracterizada.

2. Caracterizar geneticamente os organismos de G. lamblia obtidos, recorrendo a

técnicas de biologia molecular, e relacioná-los com os dados epidemiológicos e clínicos

da população estudada.

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Capítulo III: Material e métodos

 

Este estudo resultou de um projecto conjunto entre o Grupo de Protozoários

Oportunistas/VIH e Outras Protozooses (GPOOP) do Instituto de Higiene e Medicina

Tropical de Lisboa (IHMT) e o Serviço de Imuno-Alergologia do Hospital Santa Maria

(HSM), Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN).

Na consulta do Serviço de Imuno-Alergologia do HSM são seguidos cerca de 58

adultos com Imunodeficiências primárias, dos quais cerca de 39 com IDCV e 19 com

outras imunodeficiências primárias.

Os doentes-alvo do estudo, com diagnóstico confirmado de IDCV ou sob suspeita

clínica, foram seleccionados pelos médicos responsáveis pela Consulta de

imunodeficiências primárias do CHLN-HSM.

De referir que o presente projecto de investigação foi submetido e aprovado pela

Comissão de Ética do CHLN-HSM e foi obtido o consentimento informado de todos os

doentes que participaram neste estudo.

1. População estudada

 

Entre Abril de 2009 e Fevereiro de 2011, foram recolhidas amostras de fezes dos

doentes com IDCV, seguidos na Consulta de Imuno-Alergologia do CHLN-HSM.

Do total de 39 doentes com IDCV referenciados nesta consulta, estudámos 85

amostras de fezes correspondentes a 29 doentes. Destes, 16 (55,2%) eram do sexo

feminino e 13 (44,8%) do sexo masculino e apresentavam idades compreendidas entre

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20 e 73 anos, com uma média de 41 anos. Todos os doentes são caucasianos, de

naturalidade portuguesa excepto um que é sueco. À data da avaliação, 27 (93,1%)

doentes estavam sob terapêutica substituitiva com IgG polivalente, por via endovenosa

ou subcutânea, sete doentes estavam sob terapêutica imunossupressora e cinco

doentes estavam a tomar metronidazol.

Da totalidade dos doentes, foram recolhidas duas a três amostras de fezes, em dias

alternados, em recipientes secos e limpos sem adição de conservantes ou meios de

cultura. Após a recolha, as amostras fecais foram armazenadas e refrigeradas (4ºC) até

ao processamento por um período máximo de 15 dias152.

As amostras recolhidas de cada doente foram acompanhadas por um inquérito

(Anexo I), preenchido à data, com dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais, no

qual foi garantido o anonimato dos participantes e, respectiva confidencialidade no

tratamento dos dados.

2. Diagnóstico parasitológico

 

O exame parasitológico das amostras fecais realizou-se após processo de

concentração, pelo método de sedimentação difásica de Ritchie Modificado (adaptado

de Casemore et al 36). O método de Ritchie é um método de concentração difásico, que

permite separar os constituintes das fezes, dos elementos parasitários, através da sua

distribuição por duas fases líquidas, segundo o equilíbrio hidrofílico-lipofílico dos

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constituintes. A separação da fase líquida, contendo os elementos parasitários, é

realizada por sedimentação, após centrifugação. (Anexo II)

2.1. Exame microscópico após concentração das amostras

A pesquisa de parasitas nas fezes foi realizada por microscopia óptica. Colocou-se

uma gota do sedimento, resultante do processamento anterior, e uma gota de Lugol,

entre lâmina e lamela, e observou-se ao microscópio óptico composto (JENAMED2). As

lâminas preparadas foram observadas com objectivas de 10x e 40x, para identificação

de quaisquer ovos, quistos ou parasitas presentes. A identificação de quistos e

trofozítos de G. lamblia no exame microscópico directo baseia-se nas características

morfológicas do parasita.

Um esfregaço de cada amostra de fezes foi corado pelo Ziehl-Neelsen modificado

(Anexo III). As lâminas com os esfregaços corados foram observadas com objectiva de

imersão 100x para pesquisa de oocistos de Cryptosporidium spp.

2.1.1. Definição de amostra positiva

As amostras foram classificadas como positivas ou negativas de acordo com a

presença ou ausência de quistos de G. lamblia.

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3. Diagnóstico molecular

 

3.1. Extracção e purificação de DNA

A extracção de DNA parasitário realizou-se a partir das amostras fecais,

concentradas por centrifugação em gradiente de densidade, pelo método de

Mini-Beadbeater/Tiocianato de guanidina (adaptado de Boom et al,199023 e Alves et

al,20009) (Anexo IV).

3.2. Aplicação da técnica de reacção em cadeia da

polimerase (PCR)

Foram utilizados dois genes-alvo de detecção molecular de quistos de Giardia: gene

que codifica para a β-giardina, característico deste parasita30,81 e o gene que codifica

para a triosefosfato isomerase (tpi), região altamente heterogénea que pode fornecer

uma elevada resolução na análise dos genótipos10,17,138.

3.2.1. Nested-PCR. Amplificação de fragmento específico do gene da

Triosefosfato isomerase (tpi)

Um fragmento do gene da tpi foi amplificado, a partir do DNA extraído das diversas

amostras fecais humanas, pela técnica de Nested-PCR, adaptada da descrita por

Sulaiman et al em 2003138.

Para uma reacção final de 25µl em água destilada estéril, foram adicionados os

seguintes componentes: 1x PCR Buffer (Bioline®), 3 mM MgCl2 (Bioline®), 200µM de

cada dNTP (Applied Biosystems®), 200nM de cada primer (Eurofins MWG Operon,

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Ebersberg), 5,0 U/µl BIOTAQTM DNA Polymerase (Bioline®), água destilada estéril e 2µl

de DNA da amostra a amplificar.

Em cada ensaio utilizou-se um controlo negativo (CN) constituído por água

desionizada estéril e um controlo positivo (CP) constituido por uma suspensão de DNA

de G. lamblia previamente caracterizada no laboratório e disponibilizada pelo GPOOP.

Para a segunda PCR, a mistura reaccional foi preparada segundo o procedimento

descrito, utilizando primers distintos (Tabela 8). Adicionou-se 4 µl dos produtos da

primeira PCR à mistura reaccional. As reacções de amplificação foram realizadas num

Termociclador automático (Biometra®, Alemanha) programado de acordo com as

condições adaptadas de Sulaiman et al 138 (Tabela 9).

Tabela 8. Sequências nucleotídicas dos primers utilizados nas duas etapas da

Nested- PCR para amplificação do gene da tpi, com indicação do fragmento

amplificado.

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Tabela 9. Condições utilizadas no processo de amplificação de DNA do gene da tpi

por Nested-PCR (adaptado de Sulaiman et al 138).

3.2.2. Nested-PCR. Amplificação de fragmento específico do gene da

β-giardina.

Um fragmento do gene da β-giardina foi amplificado, a partir do DNA extraído das

diversas amostras fecais humanas, pela técnica de Nested-PCR adaptada da descrita

por Cacciò et al, em 2002 30 e Lalle et al, em 2005 81.

Na primeira reacção, para um volume final de 25 µl em água destilada estéril, foram

adicionados os seguintes componentes: 1xPCR Buffer (Bioline®), 1,5mM MgCl2

(Bioline®), 200µM de cada dNTP (Applied Biosystems®), 10pmol de cada primer

(Eurofins MWG Operon), 5,0 U/µl BIOTAQTM DNA Polymerase (BIOLINE®) e 1 µl de

DNA da amostra a amplificar.

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Conforme o procedimento anterior, em cada ensaio utilizou-se um controlo negativo

(CN) constituído por água desionizada estéril e um controlo positivo (CP) constituido por

uma suspensão de DNA de G. lamblia previamente caracterizada no laboratório e

disponibilizada pelo GPOOP.

Para a segunda PCR, adicionaram-se 2,5 µl dos produtos da primeira PCR à mistura

reaccional, utilizando os primers descritos por Lalle et al 30 (Tabela 10).

As reacções de amplificação foram realizadas num Termociclador automático

(Biometra®) programado de acordo com as condições abaixo (Tabela 11).

Tabela 10. Sequências nucleotídicas dos primers utilizados nas duas etapas da

Nested-PCR para amplificação do gene da β-giardina, com indicação do fragmento

amplificado.

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Tabela 11. Condições utilizadas no processo de amplificação de DNA do gene da

β-giardina por Nested-PCR (adaptado de Cacciò et al 30 e Lalle et al 81).

3.2.3. Detecção dos fragmentos de DNA amplificados

Os produtos amplificados foram separados por electroforese em gel de Agarose

concentrada a 1,5 % (Seakem®), corada com Brometo de etídio (0,5

µg/ml-Merck®).(Anexo V)

A visualização dos produtos amplificados foi realizada num transiluminador de luz

ultravioleta e as imagens captadas por uma câmara fotográfica digital.

Os produtos de amplificação esperados para o gene tpi são fragmentos de DNA de

530pb e de 511pb para o gene da β-giardina. Foi utilizado como marcador de peso

molecular 100bp DNA Ladder (Fermentas®) com fragmentos de DNA de 100pb a

1000pb (Anexo VI).

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77  

3.2.4. Definição de amostra positiva

As amostras foram classificadas como positivas ou negativas de acordo com a

presença ou ausência de bandas correspondentes ao tamanho de fragmentos de DNA

esperado, referido anteriormente, para as diferentes técnicas utilizadas.

3.3. Purificação dos produtos de PCR

Os produtos de amplificação das Nested-PCR realizadas foram purificados antes de

serem submetidos à técnica de sequenciação.

Para tal, após excisão das bandas de interesse do gel de agarose, procedeu-se à

extracção e purificação de DNA através do protocolo comercial JETQUICK PCR

Product Purification Spin kit (Genomed) (ANEXO VII).

3.4. Sequenciação e análise dos fragmentos de DNA amplificados

 

Os produtos de PCR, purificados, foram submetidos a sequenciação directa, no

Laboratório de Sequenciação da Macrogen (Seul, Coreia do Sul), num sequenciador

automático (3730 XL DNA Analyser; Applied Biosystems) com tecnologia de

electroforese capilar em gel de poliacrilamida. Triplicados de todas as sequências de

DNA, foram determinados em ambos os sentidos. Os resultados fornecidos

apresentaram-se sob a forma de sequências de nucleótidos e respectivos cronogramas.

A análise das sequências nucleotídicas consenso obtidas foi efectuada,

recorrendo-se a plataformas bioinformáticas específicas, de modo a confirmar a

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natureza dos fragmentos. Nesta análise, recorreu-se ao programa bioinformático

ChromasPro (versão 1.22), BLAST, Basic Local Alignment Search Tool

(http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi) e ClustalW2 - Multiple Sequence Alignment

(http://www.ebi.ac.uk/Tools/msa/clustalw2/).

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Capítulo IV: Resultados

 

1. Prevalência de Giardia lamblia

O índice de prevalência de infecção por G. lamblia para o grupo de doentes com

IDCV estudados é de 13,8%, isto é, dos 29 doentes prospectados, quatro

encontravam-se parasitados por G. lamblia.

2. Resultados do diagnóstico parasitológico

O exame parasitológico realizado incluiu a observação microscópica dos sedimentos

fecais após concentração e a observação dos esfregaços de fezes corados pelo

Zielh-Neelsen modificado.

Todas as amostras coradas pelo Ziehl-Neelsen modificado foram negativas à

microscopia e a observação microscópica dos sedimentos fecais permitiu apenas a

identificação de quistos de G. lamblia nas amostras estudadas (Figura 6). A pesquisa

de ovos, quistos e parasitas foi negativa para outros protozoários e helmintas.

Das 85 amostras fecais estudadas, correspondentes a 29 doentes, denominados de

D1 a D29, foram identificadas 11 amostras positivas para G. lamblia para o total de

quatro doentes, nomeadamente: D20, D25, D26, D28 (Tabela12).

Assim, obtivemos para o exame parasitológico uma taxa de positividade de 12,9%

(11/85).

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Figura 6. Imagem de quistos (A) de Giardia lamblia corados pelo Lugol (Foto cedida

pelo GPOOP, ampliação total 400x)

Tabela 12. Resultados positivos para Giardia lamblia no exame parasitológico e

características macroscópicas das amostras fecais.

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3. Resultados do diagnóstico molecular

 

A totalidade das amostras fecais, após extracção de DNA, foram sujeitas a

amplificação por Nested-PCR, com recurso a dois marcadores genéticos diferentes.

Apenas as amostras correspondentes aos doentes identificados como positivos no

exame parasitológico, foram positivas para as reacções de PCR com obtenção de

produtos de amplificação de DNA do tamanho esperado (Tabela 13).

Tabela 13. Resultados do diagnóstico molecular, através da aplicação da técnica

Nested-PCR para dois marcadores genéticos diferentes, tpi e β-giardina.

 

Verificou-se no entanto que embora nestes quatro doentes houvesse 100% (4/4) de

amplificação para o gene que codifica a β-giardina nas amostras testadas, para o gene

que codifica a tpi ocorreu concordância em apenas 50% dos casos positivos (2/4).

Assim, os resultados foram concordantes entre as técnicas de microscopia óptica e a

de PCR, baseada na pesquisa do gene que codifica para a β-giardina, apresentando

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uma taxa de positividade de 12,9% (11/85) nas amostras estudadas (Figura 7).

Contudo, para o gene que codifica para a tpi o mesmo não se verificou, pois a técnica

de PCR apenas apresentou uma taxa de positividade de 5,9% (5/85).

Figura 7. Imagem da separação electroforética, em gel de agarose a 1,5 % corado

com Brometo de etídio, dos fragmentos amplificados pela Nested-PCR do gene que

codifica para a β-giardina. A linha M representa o marcador de peso molecular 100bp

DNA Ladder com fragmentos de DNA de 100pb a 1000pb; as linhas 4-5 representam as

amostras 81 e 82 correspondente ao doente D28 (511pb) e as linhas 15 e 16

representam o CP e o CN, respectivamente e as restantes linhas correspondem a

amostras não incluidas no estudo.

4. Resultados da genotipagem

Os fragmentos de DNA, amplificados a partir dos quatro doentes positivos para

G. lamblia por Nested-PCR para o gene que codifica para a β-giardina e dos dois

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doentes positivos por Nested-PCR para o gene que codifica para a tpi foram enviados

para sequenciação.

As tentativas para sequenciar os fragmentos de DNA resultantes da amplificação do

gene que codifica para a tpi, no caso dos doentes D26 e D28 foram infrutíferas.

Todas as sequências obtidas neste trabalho foram identificadas por homologia com o

gene que codifica para a β-giardina, recorrendo à aplicação BLAST.

As sequências nucleotídicas obtidas (Anexo VIII) foram comparadas com as

sequências provenientes da base de dados do GenBank. O tamanho dos fragmentos

sequenciados nem sempre foi o mesmo. Determinou-se uma sequência de 507pb a

partir dos fragmentos isolados do doente D20; de 503pb da amostra correspondente ao

doente D25; de 480pb do fragmento isolado de D26 e de 581pb da amostra de D28. Os

resultados produzidos pelos alinhamentos mostraram as seguintes homologias com

isolados humanos de G. lamblia: os isolados dos doentes D20 e D25 apresentam 100%

de homologia com DQ090529, DQ090526; o isolado correspondente ao doente D26

mostrou 100% de homologia com DQ090542 e o isolado correspondente ao doente

D28 apresentou 100% de homologia com HM165227, GU396696, FJ971424,

FJ971419, FJ971418, FJ971417, FN386482, FJ560592, FJ560585, FJ560582,

FJ560576, FJ560575, FJ560572, FJ009208, EU188634, EU188633, EU188632,

EU188630, EU014393, AY072723, DQ116619, DQ116618, DQ116617, DQ116610,

DQ116609.

Resumindo, no grupo de doentes positivos para G. lamblia, os doentes D20 e D25,

ambos do sexo feminino, foram identificados com o genótipo B e os doentes D 26 e

D28, ambos do sexo masculino, foram classificados com o genótipo A (Tabela 14).

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Tabela 14. Resultados da genotipagem: genótipos determinados por sequenciação

dos produtos de DNA obtidos da amplificação do gene que codifica para a β-giardina.

5. Análise dos dados epidemiológicos

 

Os dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais recolhidos da população em

estudo assim como os respectivos resultados obtidos encontram-se resumidos na

Tabela 15.

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Tabela 15. Resumo dos dados epidemiológicos dos doentes estudados e resultados obtidos.

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Assim, verificamos que na população IDCV estudada, 29 doentes, a prevalência das

manifestações gastrintestinais foi de 55,2% (16/29), sendo o sintoma mais comum a

diarreia, verificada em 15 (51,7%) doentes, seguido de dores abdominais em 11

doentes (37,9%). Os restantes 13 doentes (44,8%) não apresentavam queixas

gastrintestinais.

Como já foi referido, no grupo de doentes com IDCV estudados quatro dos 29

doentes prospectados encontravam-se parasitados por G. lamblia.

Dos quatro doentes parasitados por G. lamblia, três doentes apresentavam

sintomatologia gastrintestinal e um doente era assintomático.

No grupo de doentes não parasitados, à data do estudo, verificámos que 13 doentes

apresentavam queixas gastrintestinais e 12 não referiam sintomatologia (Tabela 16).

Tabela 16. Distribuição do número de doentes com IDCV estudados quanto à

presença ou ausência de manifestações gastrintestinais e relação com os resultados do

diagnóstico de infecção por Giardia lamblia.

 

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Aparentemente a infecção por G. lamblia é responsável pelas manifestações

gastrintestinais em cerca de 18,8% (3/16) dos doentes com sintomatologia. Se

considerarmos a presença de Giardia nas biópsias duodenais a percentagem sobe para

31,3% (5/16). Mais, se considerarmos que cinco dos doentes que apresentam

sintomatologia estão sob terapêutica com metronidazol obtemos um total de 11 doentes

com sintomatologia, com possibilidade de ter infecção por Giardia. Deste modo, os

nossos resultados teriam uma expressão maior: a infecção por Giardia seria

responsável pelas manisfestações gastrintestinais em 45,4% dos doentes positivos

(5/11).

No entanto, analisando os dados globais (Tabela 15) verificamos que no grupo de

doentes referidos como sintomáticos (16), oito (50%) tinham referência de isolamento

de Campylobacter spp nas fezes podendo as manifestações gastrintestinais presentes

serem originadas por outros agentes infecciosos e não por Giardia. Também nestes

resultados não se observou unanimidade na associação da sintomatologia com a

presença de um agente infeccioso num determinado momento, verificando-se a

detecção de agentes infecciosos em doentes sem sintomatologia. Na verdade, um dos

doentes (D20) em que foram identificados quistos de G. lamblia nas fezes, à data do

estudo, não apresentava sintomatologia gastrintestinal.

Relativamente à prevalência de infecção por G. lamblia na população estudada, e

como já foi referido, observámos uma prevalência de 13,8% (4/29). Conjugando a

análise prospectiva, em que detectámos quatro doentes infectados por G. lamblia, com

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uma análise retrospectiva dos dados epidemiológicos conhecidos, em que mais cinco

doentes referiam infecções anteriores por este agente (em dois doentes apenas

detectado através das biópsias duodenais), teríamos uma prevalência de infecção por

Giardia nesta população de 31,0 % (9/29).

Quanto à idade, a nossa população apresenta idades compreendidas entre 20 e 73

anos, com uma média situada nos 41 anos. No grupo de doentes com infecção por

G. lamblia diagnosticada à data do estudo, as idades variam entre 33 e 53 anos, com

uma média de 42 anos. O grupo de doentes não parasitados apresenta igualmente uma

média de idades de 41 anos. A presença de manifestações gastrintestinais por si só, ou

seja, independentemente da presença ou não de quistos de Giardia nas fezes, está

associada a uma média de idades de 45 anos, ligeiramente superior à média de idades

dos doentes sem queixas que é de 36 anos.

Partindo de uma população equilibrada quanto ao género: 55,2% (16/29) do sexo

feminino e 44,8% (13/29) do sexo masculino, verificámos que, independentemente da

presença ou não de G. lamblia nas fezes, o grupo de doentes que apresenta

sintomatologia gastrintestinal se divide em 50% (8/16) do sexo feminino e 50% (8/16)

do sexo masculino. Especificamente, no grupo de doentes positivos para G. lamblia,

dois (50%) eram do sexo feminino e os outros dois (50%) eram do sexo masculino.

Quanto aos genótipos identificados, no grupo de doentes positivos para G. lamblia,

dois doentes do sexo feminino foram identificados como estando infectados por

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G. lamblia genótipo B e os dois doentes do sexo masculino pelo genótipo A de

G. lamblia. No entanto, nos doentes com o genótipo B, um apresentava sintomas

gastrintestinais e o outro era assintomático, assim como nos doentes identificados com

o genótipo A, um apresentava diarreia e dores abdominais enquanto o outro

apresentava sintomatologia mais moderada (Tabela 17).

Neste grupo de doentes, positivos para G. lamblia, verifica-se que os dois doentes

que apresentam sintomatologia gastrintestinal mais pronunciada nomeadamente, a

presença de diarreia, são aqueles com valores mais baixos de IgG (D25 e D26).

Tabela 17. Apresentação dos resultados de genotipagem dos isolados de

Giardia lamblia e relação com os dados epidemiológicos dos doentes.

No entanto, analisando os dados laboratoriais da totalidade da população,

apresentados na Tabela 15, podemos verificar que a nossa população apresenta

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valores de IgG com uma média de 744.6 mg/dl e desvio padrão de 245 mg/dl, o que,

supondo a distribuição Normal, nos permite obter um intervalo de confiança a 95% com

limite inferior e superior de 655,5 e 833,8 mg/dl, respectivamente. Deste modo,

constata-se de imediato que, mesmo o limite superior do intervalo de confiança

considerado, se encontra muito próximo do limite inferior do valor de referência para

este parâmetro, que se situa no intervalo de 700 a 1600 mg/dl.

Ainda, relativamente aos parâmetros IgA e IgM, uma análise semelhante, com

obtenção de intervalos de confiança com o mesmo nível de 95%, obtiveram-se limites

superiores de 11,5 e 25,7 mg/dl, respectivamente. Neste caso observa-se que mesmo

os limites superiores dos intervalos de confiança, estão bastante afastados dos limites

inferiores dos valores de referência, que são de 70 e 40 mg/dl para a IgA e IgM,

respectivamente.

Fez-se também um estudo da correlação entre o resultado do exame parasitológico e

os parâmetros IgG, IgA e IgM. Os valores da correlações obtidos foram de, -47,3%, 14,

8% e de 4,9%, respectivamente. Estes valores relativamente baixos, associados à

inexistência de valores de referência publicados na literatura especializada e ainda à já

referida reduzida dimensão da nossa população, tornam difícil concluir por qualquer

associação linear relevante em termos estatísticos. Faz-se notar que, o maior dos

valores absolutos das correlações é de aproximadamente 50% (-47,3%), resultante da

correlação entre o exame parasitológico e a IgG, está fortemente influenciado por dois

valores extremos da IgG presentes na população, nomeadamente de 162 (D25) e 91

mg/dl (D26), bastando que um deste valores se aproxime da média para que a medida

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de correlação diminua em quase de 50%. Ou seja, não é inverosímel que estejamos

perante dois outliers que estejam a condicionar o valor da correlação obtida.

Similarmente, na análise da totalidade da população, não se verificou correlação

entre os niveis de IgG, IgA e IgM e a presença de sintomas gastrintestinais,

contrariando a observação realizada para o grupo de doentes positivos para G. lamblia.

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Capítulo V: Discussão e conclusão

 

O intestino é o maior orgão do sistema imunitário do nosso organismo,

encontrando-se em permanente estado de “inflamação fisiológica” devido à exposição

contínua a antigénios alimentares ingeridos. Assim, não é surpreendente que doentes

com imunodeficiências apresentem manifestações do foro digestivo nalgum momento

da sua doença. Nos doentes com IDCV, a diarreia é uma das queixas gastrintestinais

mais frequentes, sendo que as principais hipóteses etiológicas a colocar sejam: doença

celíaca-like, infecção por Giardia, doença inflamatória intestinal, hiperproliferação

bacteriana e linfoma do intestino delgado74,143.

Neste estudo prospectivo foram analisadas 85 amostras fecais provenientes de 29

doentes com IDCV. O índice de prevalência de infecção por G. lamblia cifrou-se em

13,8%, o qual está em conformidade com os valores encontrados na literatura. Os

diferentes estudos realizados em populações de doentes IDCV, de dimensão muito

variável e apresentando metodologias diversas, apresentam taxas de prevalência de

infecção por G. lamblia entre 10% e 50%13,76,103. Um estudo prospectivo realizado numa

população de 252 doentes com IDCV reportou uma prevalência de infecção por

G. lamblia de 14%103. Por outro lado, dois estudos retrospectivos diferentes, realizados

em populações IDCV mais pequenas, 23 e 39 doentes respectivamente, apresentam

prevalências de infecção por G. lamblia de 52% e 10%13,76. O estudo que referiu a

maior percentagem (52%), considerou a presença de G. lamblia em amostras de fezes

e biópsias duodenais13. Na realidade, ao realizarmos a análise retrospectiva dos dados

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epidemiológicos da nossa população IDCV e considerando a presença de G. lamblia

nas amostras de fezes e biópsias duodenais, obtemos também uma prevalência de

infecção por G. lamblia superior, de 31,0% (9/29).

Relativamente, à prevalência das manifestações gastrintestinais, nas populações

IDCV, os dados da literatura apontam valores entre 20% e 60% consoante os

estudos5,13,42,74,124. De todas as imunodeficiências primárias, é na IDCV que são mais

frequentes as manifestações gastrintestinais. Os doentes apresentam queixas

digestivas sendo a mais frequentes a diarreia crónica mas também dores abdominais,

náuseas, vómitos e perda de peso. A infecção por G. lamblia é a causa infecciosa mais

frequente de diarreia e má absorção nestes doentes, sendo detectada em cerca de

30% dos casos74,143.

Na população estudada, 29 doentes com IDCV, a prevalência das manifestações

gastrintestinais é de 55,2% (16/29), sendo o sintoma mais comum a diarreia, verificada

em 51,7% (15/29) dos doentes, seguido de dores abdominais em 37,9% (11/29). Como

já foi referido nos resultados deste estudo, detectámos quistos de G. lamblia nas

amostras fecais de três doentes com sintomatologia gastrintestinal. Assim, G. lamblia

aparenta ser a causa infecciosa das manifestações gastintestinais, diarreia e dores

abdominais, em 18,8 % (3/16) dos doentes com sintomatologia estudados. Se

considerarmos que à data do estudo, em dois doentes com queixas gastrintestinais foi

detectado G. lamblia nas biópsias duodenais, mas não nas amostras fecais (D1 e D24),

temos 31,3% (5/16) de prevalência de infecção por G. lamblia nos doentes estudados

que apresentavam sintomatologia do foro gastrintestinal.

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No entanto, como já foi referido, os doentes IDCV apresentam também um risco

maior de infecção por microrganismos enteroinvasivos como Salmonella spp,

Shigella spp e Campylobacter spp, cujas infecções cursam com manifestações

gastrintestinais semelhantes às verificadas na infecção por G. lamblia74,143. No grupo de

doentes estudados referidos como sintomáticos (16), oito (50%) tinham referência de

isolamento de Campylobacter spp nas fezes podendo as manifestações gastrintestinais

presentes serem originadas por outros agentes infecciosos e não por Giardia. Na

verdade, numa análise retrospectiva verificámos que a nossa população de doentes

apresenta uma prevalência elevada de infecção por Campylobacter spp (34,5%). Mas,

efectivamente, nos nossos resultados não se observou unanimidade na correlação da

sintomatologia com a presença de um agente infeccioso num determinado momento,

verificando-se a detecção de agentes infecciosos em doentes sem sintomatologia,

nomeadamente, a presença de G. lamblia nas fezes de um doente sem sintomatologia

gastrintestinal.

Por outro lado, cinco dos doentes incluidos no estudo estavam sob terapêutica com

metronidazol ou tinham efectuado esta terapêutica nos três meses anteriores à data da

recolha das amostras de fezes. Este facto pode ter conduzido a um aumento do número

de casos negativos.

O diagnóstico de infecção por G. lamblia no grupo de doentes em estudo, foi

realizado recorrendo à metodologia tradicional, a microscopia óptica e a métodos de

biologia molecular, tendo estes últimos a vantagem de permitirem a caracterização

molecular dos isolados detectados.

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Alguns autores reportam grandes diferenças de sensibilidade, em estudos com

amostras fecais de animais, entre a técnica de microscopia óptica e a técnica de PCR,

nomeadamente de 5% para 80%91 e 3% para 20%144, mas neste estudo, os resultados

foram concordantes entre as técnicas de microscopia óptica e a de PCR, baseada na

pesquisa do gene que codifica para a β-giardina, apresentando uma taxa de

positividade de 12,9% (11/85) nas amostras estudadas, para ambas as metodologias.

No entanto, para o gene que codifica para a tpi o mesmo não se verificou, pois a

técnica de PCR apenas apresentou uma taxa de positividade de 5,9% (5/85). Estes

resultados desapontaram em certa medida as nossas expectativas que permitiam

esperar uma maior sensibilidade do diagnóstico molecular, especialmente nos casos de

doentes que apresentavam queixas à data e em que foi detectado a presença de

G. lamblia em biópsias duodenais mantendo-se os exames parasitológicos das fezes

sempre negativos. Não foi no entanto possível efectuar a genotipagem directamente a

partir das biópsias duodenais.

Na verdade, é reconhecido que as fezes são amostras biológicas de matriz complexa

contendo numerosas substâncias orgânicas com potencial inibidor da reacção de PCR,

e embora o método de extracção utilizado inclua etapas destinadas a remover ou

inactivar os inibidores, admite-se todavia, que a eliminação dos inibidores possa ter sido

incompleta, contribuindo deste modo para os resultados negativos.

Talvez o problema não esteja na capacidade de detecção das técnicas de PCR ou

na presença de inibidores, mas sim na dinâmica da interacção parasita-hospedeiro e

nos factores subjacentes à capacidade de enquistamento por parte do parasita ou das

condições associadas ao hospedeiro que permitam a sua ocorrência e eliminação nas

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fezes. A resposta a esta questão, não sendo o objectivo deste estudo, é uma das mais

aguardadas por médicos e doentes.

Vários estudos têm apresentado esforços continuados para desvendar os

mecanismos moleculares na origem do processo de enquistamento e dos eventos

metabólicos que ocorrem durante o desenquistamento7,54. No entanto, são necessários

mais estudos relativos à patogénese da infecção por G. lamblia, de modo a que se

consiga compreender a responsabilidade da acção do parasita no intestino e, por outro

lado, da resposta imunitária do hospedeiro, na patologia intestinal e no controlo desta

infecção35,106.

Neste trabalho, a caracterização molecular dos isolados encontradas foi realizada

recorrendo a métodos de Nested-PCR, adaptados dos descritos na literatura para dois

genes diferentes, o gene que codifica para a β-giardina 30,81 e o gene que codifica para

a tpi5,138, com posterior sequenciação dos fragmentos obtidos. Na verdade, diversos

são os métodos moleculares que têm sido descritos e publicados por vários autores,

variando no marcador genético utilizado e no tipo de ensaio, não havendo à data ainda

um método estandardizado que permita a comparação entre estudos17,31,32.

Mais, alguns estudos recentes demonstraram a inconsistência de resultados quanto

à atribuição dos genótipos consoante o marcador genético usado32,57,118,120. Este

fenómeno foi reportado em isolados humanos e animais e foi recorrente mesmo quando

se utilizam diferentes combinações de marcadores genéticos31,112. A sequenciação de

isolados de Giardia de primatas não-humanos revelou a presença de novos

polimorfismos para ambos os genótipos nos três loci (tpi, gdh, β-giardina) examinados.

A maioria dos isolados pertencentes ao genótipo B não pôde ser agrupada nos sub-

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genótipos recentemente descritos, particularmente com base no gene da tpi. Os

isolados só poderiam ser atribuídos a um grupo específico quando combinados os

polimorphisms dos três loci85,112. O que se verifica na maioria dos trabalhos é que um

grande número de isolados genotipados são classificados em genótipos diferentes

conforme o marcador utilizado, aumentando por vezes a discrepância nos resultados

em proporção directa ao número de marcadores utilizados20,31,85.

Esta descoberta tem implicações nos estudos epidemiológicos sendo possível inferir

conclusões totalmente diferentes dependendo da forma como os dados da

genotipagem são obtidos e interpretados. Vários mecanismos têm sido propostos para

justificar estes resultados incluindo a presença de infecções mistas, e ainda, a

possibilidade de ocorrência de fenómenos recombinação genética20,32,40.

As razões para a falta de sucesso na análise genotípica dos isolados do nosso

estudo para o gene da tpi não estão claras embora esteja descrito anteriormente que é

um gene de difícil amplificação. Primeiro, não houve amplificação para as duas

amostras positivas, nomeadamente, as que posteriormente foram identificadas como

genótipo B pela amplificação de um fragmento do gene que codifica para a β-giardina,

produtos de amplificação de DNA do tamanho esperado, mas cuja sequenciação não

foi possível. A possível justificação para este facto não passa por problemas

metodológicos, como a ocorrência de extracção de DNA deficiente ou presença de

inibidores da Taq polimerase dado que, a partir do mesmo DNA extraído foi possível,

em todos os casos, obter produtos de amplificação para o gene que codifica para a β-

giardina, os quais foram purificados e posteriormente sequenciados com consequente

identificação dos genótipos. As razões possíveis incluem inserções, deleções ou

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incompatibilidade na sequência dos primers demasiado extensa para permitir que a

amplificação por PCR de um fragmento do gene que codifica para a tpi obtivesse

sucesso para todos os isolados, indicando uma grande variabilidade para este

gene118,120. Na verdade, os genes-alvo disponíveis para a metodologia molecular são

bastante diferentes, em termos de polimorfismo4, com os genes tpi e gdh a serem os

mais variáveis, seguidos do gene β-giardina e ORF-C4 e depois, por fim os genes

ssu-rRNA e o gene EF-1α muito mais conservados. Por outro lado, o gene ssu-rRNA é

o que tem a maior sensibilidade, devido à sua natureza multicópia e especificidade por

ser uma região fortemente conservada4,32. A amplificação de genes de cópia única, que

é o caso de todos os outros referidos, parece ser mais irregular e tem sido relatado que

alguns isolados podem ser amplificado num locus, mas não noutro enquanto outros

isolados podem mostrar o comportamento oposto20,31,32,118.

Por outro lado, a existência de infecções mistas não pode ser excluída uma vez que

os primers descritos detectam os diferentes genótipos mas o tamanho dos diferentes

fragmentos amplificados é o mesmo20. No entanto, são muito utilizados em diferentes

estudos epidemiológicos e a sua escolha prende-se com a necessidade de consenso

inter-estudos. As PCR descritas amplificarão preferencialmente o genótipo mais

abundante. O ideal seria dispormos de primers específicos de genótipos para

possibilitar uma melhor diferenciação das infecções mistas20. A par das infecções

mistas, outra explicação plausível pode assentar na heterogeneidade nas sequências

intra-genótipo, correspondendo a uma mistura de alelos num isolado em vez de uma

mistura de isolados numa amostra20,32,40.

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Assim, o caminho desejado é no sentido de encontrar metodologias suficientemente

discriminativas, específicas e sensíveis para que possam ser implementadas como

técnicas de rotina para diagnóstico da infecção por G. lamblia, e permitam melhorar o

conhecimento da epidemiologia da infecção e da doença.

Na verdade, o desenvolvimento de ferramentas para dissecar a biologia molecular de

diferentes isolados de Giardia e o conhecimento do espectro de sintomas associados à

giardíase, tem fomentado diversos estudos com o objectivo de correlacionar um

determinado genótipo com a gravidade da sintomatologia gastrintestinal na infecção por

G. lamblia66,93,115,123. No entanto, há evidências contraditórias nos estudos

epidemiológicos que visam correlacionar a relevância biológica dessa variação genética

com a patogenia e consequente sintomatologia da infecção. Estudos recentes

demonstraram uma forte correlação entre o genótipo B e sintomas gastrintestinais na

infecção por G. lamblia, sendo este achado consistente com estudos anteriores

realizados em diferentes países66,57,93. Em contraste, outros estudos relataram uma

associação significativa entre o genótipo A e a infecção sintomática por

G. lamblia14,63,115,123. Assim, a análise dos dados actuais é inconclusiva, com ambos os

genótipos de G. lamblia, detectados por métodos distintos, associados a diferentes

espectros de sintomas da infecção, em populações variáveis e em diversos países120.

Na verdade, a comparação entre estudos é difícil devido às diferenças relativamente ao

desenho dos estudos, os quais diferem em termos de população estudada e na

metodologia utilizada. A falta de uniformidade é agravada pela não utilização de uma

definição rigída e coerente, entre estudos, para o conceito de sintomatologia

gastrintestinal nomeadamente de diarreia120. Mais, estes estudos podem ainda ser

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influenciados pela variação geográfica de predomínio dos genótipos A e B de

G. lamblia, descrita já por diversos autores33.

Este foi o primeiro estudo a providenciar informações sobre a caracterização

molecular de G. lamblia associada à infecção de doentes com imunodeficiência comum

variável.

Curiosamente, no grupo de doentes positivos para G. lamblia, dois doentes do sexo

feminino foram identificados como estando infectados por G. lamblia genótipo B e os

dois doentes do sexo masculino pelo genótipo A de G. lamblia.

No entanto, nos doentes identificados com o genótipo B, um apresenta sintomas

gastrintestinais e o outro é assintomático, assim como nos doentes identificados com o

genótipo A, um apresenta diarreia e dores abdominais enquanto o outro apresenta

sintomatologia mais moderada. Assim, devido à reduzida dimensão da população e em

particular ao pequeno número de casos positivos detectados à data do estudo, não

pudemos inferir qualquer correlação entre a infecção pelos genótipos A e B detectados

e a sintomatologia, nomeadamente as manifestações gastrintestinais referidas pelos

doentes. De igual modo, uma análise da associação das queixas gastrintestinais com a

idade e o género, na população estudada, resulta infrutífera.

De qualquer modo, os resultados obtidos podem ser entendidos como um primeiro

pequeno passo explorador na problemática da infecção por G. lamblia, a nível

molecular, nos doentes com IDCV.

De facto, todos os doentes, em que foi identificada infecção por G. lamblia no

decurso do nosso estudo, foram sujeitos a terapêutica antimicrobiana e foi verificado à

posteriori que independentemente do genótipo de G. lamblia identificado, todos os

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doentes tiveram recaída clínica para esta infecção. Os doentes

hipogamaglobulinémicos têm sido descritos como mais susceptíveis ao

desenvolvimento de giardíase crónica, de difícil tratamento103,126. Num estudo em

doentes com giardiase refractária ao metronidazol, a análise genética dos isolados de

G. lamblia revelou que na grande maioria (30/38) correspondiam ao genótipo B98. Outro

estudo, no âmbito de casos giardíase refractária ao tratamento, após surto, demonstrou

também predominância do genótipo B118. No entanto, isolados de Giardia do genótipo

supracitado, foram também identificados em doentes que responderam ao tratamento

inicial com metronidazol, de modo que não é possível associar este genótipo à

resistência ao tratamento per si. Também é possível que os doentes estivessem

infectados com mais do que um genótipo, alguns dos quais tenham sido erradicados

com o tratamento, mas os parasitas com um genótipo mais virulento e/ou resistente

tenham predominado ao longo do tempo.

Assim, seria interessante monitorizar estes doentes refractários, recorrendo a uma

metodologia estandardizada, através da avaliação da evolução intra-individual do

genótipo, em cada infecção por G. lamblia, de modo a determinar se estamos perante

uma susceptibilidade sempre ao mesmo genótipo ou se há aleatoridade no genótipo

identificado ao longo do tempo, indicando susceptibilidade à reinfecção genótipo-

independente.

Por fim, verificamos que os genótipos de G. lamblia identificados neste estudo, A e B,

são os únicos identificados na infecção humana até à data. Estes dois grupos

apresentam diferenças significativas na sequência DNA de vários genes e dentro de

cada grupo observa-se também uma elevada heterogeneidade genética67,89,95, estando

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descritos para cada genótipo, quatro sub-genótipos distintos: AI a AIV e BI a BIV94. No

entanto, estes genótipos foram também identificados numa grande variedade de outros

hospedeiros, incluindo gado, cães, gatos e animais selvagens.

Assim, sabendo que a infecção por Giardia é adquirida directa ou indirectamente de

um hospedeiro infectado para um hospedeiro susceptível, por transmissão

antroponótica, zoonótica ou de forma indirecta, através de fontes ambientais, como a

água e alimentos contaminados e, estando reconhecidos quatro ciclos principais de

transmissão, que mantêm o parasita em hospedeiros mamíferos140, é necessário uma

análise molecular aprofundada a nível de genotipagem e sub-genotipagem multilocus,

que nos elucide sobre a genética da população de parasitas detectada, para melhor

identificar as fontes de infecção e as vias de transmissão de G. lamblia.

Deste modo, embora na actualidade se considere que as características clínicas das

infecções individuais por G. lamblia são determinadas por factores do parasita e do

hospedeiro e da interacção entre eles, no contexto específico desta população de

doentes IDCV, são necessários mais estudos, com um maior número de isolados,

recorrendo à caracterização genética com múltiplos marcadores, suficientemente

discriminativos, capazes de identificar variações inter e intragénicas, e avaliar o seu

papel na frequência de transmissão, epidemiologia, sintomatologia e resistência à

terapêutica da infecção por G. lamblia, as quais permanecem por esclarecer.

 

 

 

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103  

Perspectivas futuras  

Relativamente, à infecção por G. lamblia como foi referido no ínicio e ao longo do

trabalho, várias questões pertinentes continuam por responder (Figura 8) 72,120,121.

Estas questões são efectivamente o campo de estudo de diversos investigadores na

actualidade e da sua compreensão, poderá resultar uma uniformização da taxonomia

de Giardia que, aliada ao esforço que deverá ser feito na estandardização de

metodologias de diagnóstico da infecção e caracterização molecular, contribuirão sem

dúvida para um estudo mais estruturado desta infecção, no contexto do hospedeiro e

do seu estado imunitário106.

Figura 8. Algumas das questões que permanecem sem resposta relativamente a

Giardia lamblia. O protozoário Giardia lamblia é um parasita intestinal flagelado e

binucleado. As estruturas especiais do citoesqueleto, como o disco adesivo e o corpo

mediano, conferem-lhe uma morfologia característica e é por vezes referido com o

parasita "happy-face". Os estudos de sequenciação do seu genoma identificaram os

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dois diferentes isolados: genótipo A e B. A identidade média de aminoácidos entre os

diferentes isolados é de 78% (A-B). As respostas a estas questões podem surgir com o

avanço nos estudos que decorrem de sequenciação do genoma e transcriptoma desta

espécie (adaptado de Jerlstrom-Hultqvist et al, 201072).

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124  

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i  

Anexos  

Anexo I. Folha do inquérito, realizado a cada doente participante do estudo,

para recolha de dados epidemiológicos, laboratoriais e clínicos.

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ii  

Anexo II. Concentração das amostras fecais pelo Método de Sedimentação

Difásica de Ritchie Modificado (modificado e adaptado de Casemore et al, 198536)

Equipamento:

Centrífuga (KUBOTA 4000)

Vórtex (VELP®SCIENTIFICA)

Procedimento:

Num tubo de 10 ml, colocou-se 3,0 ml de água destilada, 0,5 ml (ou equivalente) de

fezes e 2,0 ml de Éter etílico (Riedel-de Häen®). Após agitação vigorosa em vórtex,

filtrou-se a mistura, recorrendo a funil e gaze, para novo tubo de centrífuga. Neste novo

tubo, perfez-se o volume do tubo com água destilada e procedeu-se a uma primeira

centrifugação, a 1500 rpm durante 5 minutos. No passo seguinte, desprezou-se o anel

de gordura à superfície e transferiu-se o sobrenadante para novo tubo de centrífuga. O

primeiro sedimento obtido foi observado ao microscópio óptico (JENAMED2) para

pesquisa de ovos, quistos e parasitas. No tubo onde foi recolhido o sobrenadante,

perfez-se novamente o volume do tubo com água destilada e efectuou-se uma segunda

centrifugação, a 4500 rpm durante 10 minutos. Desprezou-se o sobrenadante e

utilizou-se o segundo sedimento para efectuar o esfregaço, a corar pelo método de

Ziehl modificado (Anexo II). No final, os dois sedimentos foram transferidos para um

eppendorf de 1,5 ml e armazenados a 4º C até processamento posterior.

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iii  

Anexo III. Coloração de Ziehl-Neelsen Modificada (adaptado de Casemore et al,

198536)

Procedimento:

Secar o esfregaço fecal à temperatura ambiente;

Fixar o esfregaço com Metanol (Panreac Química S.A.U.)durante 1 minuto;

Mergulhar o esfregaço em Fucsina básica fenicada (Fucsina básica em pó 1% m/v,

Fenol cristalizado 5% m/v, Álcool absoluto 10% v/v), durante 10 minutos;

Lavar com água corrente;

Descorar com Álcool clorídrico (Riedel-de Häen®) a 1%;

Lavar com água corrente;

Cobrir o esfregaço com Azul de Metileno (Panreac Química S.A.U.);

Lavar com água corrente;

Secar à temperatura ambiente;

Observação ao microscópio óptico com objectiva de imersão (x100).

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iv  

Anexo IV. Extracção e purificação de DNA a partir de amostras fecais-Método

de Mini-Beadbeater/Tiocianato de guanidina (adaptado de Boom et al,199023 e

Alves et al, 20009)

 

Equipamento:

Mini-BeadBeeter (Biospec Products – HowawrdTH Industries)

Centrífuga KUBOTA 3300

Agitador rotativo de Eppendorfs (Fröbel Labortechnik GmbH)

Termobloco (Stuart Scientific)

Micropipetas (Eppendorf)

Procedimento:

Este procedimento desenrola-se em quatro etapas fundamentais: lise celular,

adsorção do DNA, lavagem e eluição do DNA.

Para a primeira etapa, a lise celular, colocou-se num ependorf de 2,0 ml: 200µl dos

sedimentos obtidos no processo de concentração das amostras fecais, 900µl de

Tampão de lise (Tiocianato de guanidina 7M, Tris-HCl 50 mM pH 6,4, EDTA 25mM pH

8,0, Triton X-100 1,5 % v/v) e 60µl de Álcool isoamílico (Sigma®) e 0,3g de partículas de

zircónio (Biospec Products, INc). A mistura foi agitada vigorosamente, à velocidade

máxima durante 2 minutos, no aparelho Mini-Beadbeater (Biospec Products –

HowawrdTH Industries). Seguidamente, centrifugou-se a mistura a 14000rpm, durante

15 segundos. O sobrenadante foi recolhido e usado para a fase seguinte, a adsorção

do DNA.

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v  

Para tal, adicionou-se, num tubo eppendorf de 1,5 ml, 40µl da suspensão aquosa de

Sílica (1% pH 2,0, Sigma®) ao sobrenadante obtido na centrifugação anterior. Agitou-se

vigorosamente (Vortex-Thermolyne type 16700) e deixou-se a incubar, à temperatura

ambiente, num agitador rotativo (Fröbel Labortechnik GmbH), durante 1 hora. Após

incubação, centrifugou-se novamente a mistura a 14000rpm durante 15 segundos e

desprezou-se o sobrenadante.

De seguida, lavou-se o sedimento duas vezes com 200µl de Tampão de lavagem

(Tiocianato de guanidina 7M em Tris-HCl 50 mM pH 6,4), uma vez com 200µl Etanol

(Riedel-de Häen®) 80% a 4ºC e uma vez com 200µl de Acetona absoluta (Panreac®)

respectivamente. Posteriormente, o sedimento foi seco a 55º C em termobloco (Stuart

Scientific) até à evaporação completa do solvente.

Seguidamente, ressuspendeu-se a sílica em 40µl de água destilada esterilizada e

(previamente aquecida a 55ºC), colocou-se o tubo fechado no termobloco a 55ºC

durante 10 minutos para eluição do DNA. Após centrifugação a 14000rpm durante 2

minutos o sobrenadante contendo o DNA foi recolhido e usado directamente para a

técnica de PCR ou, armazenado a -20ºC até à análise posterior.

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vi  

Anexo V. Detecção de produtos de amplificação por Electroforese em Gel de

Agarose

 

Equipamento:

Tina de electroforese (Bio-Rad®, França)

Transluminador (Viber Lourmat)

Câmara fotográfica (Canon)

Micropipetas (Eppendorf)

Procedimento:

Dissolveu-se 1,5g de agarose (Seakem®) em 100mL de solução tampão TAE 1x

(1,5%m/v, preparado a partir da diluição stock de TAE a 10x em 90 mL de água

destilada), por meio de calor. Após arrefecimento, adicionou-se 5 µl de Brometo de

etídio (0,5 µg/ml, Merck®) e verteu-se o preparado para um suporte de electroforese,

onde previamente se colocou o pente apropriado para aplicação das amostras e

deixou-se a polimerizar durante 1 hora. Posteriormente, colocou-se o gel na tina de

electroforese e encheu-se a tina com tampão TAE 1x de modo a que o gel ficasse

completamente imerso. De seguida, aplicaram-se as amostras nos vários poços. Cada

amostra aplicada consistiu na mistura de 15µl do produto de PCR a analisar com 1,5µl

de solução de aplicação loading buffer (Loading Dye Solution-Fermentas®). Em cada

electroforese realizada, foi aplicado no primeiro poço um marcador de pesos molecular

apropriado (Gene Ruler TM 100bp DNA Ladder, Fermentas®)).

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vii  

Procedeu-se à migração dos fragmentos de DNA amplificados com uma voltagem

constante de 80V durante 60 minutos, no Agarose Gel Electroforesis Systems

(Bio-Rad®, França), constituído pela tina de electroforese (SubCell® GT) e uma fonte

alimentadora de corrente (Power Pac HC), tanto no caso dos produtos amplificados

pelo PCR do gene tpi como para o PCR do gene da β-giardina.

Por fim, realizou-se a visualização dos produtos amplificados no transiluminador de

luz ultravioleta e tirou-se uma fotografia.

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viii  

Anexo VI. Marcador de peso molecular 100 pb DNA Ladder

 

 

 

Figura 9. Representação do marcador de peso molecular Gene RulerTM 100bp DNA

Ladder, com fragmentos de DNA de 100pb a 1000pb (adaptado de

www.fermentas.com) 

 

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ix  

Anexo VII. Extracção e purificação dos produtos de PCR, a partir de gel de

agarose.

 

Os produtos de amplificação das PCR realizadas, para submeter à técnica de

sequenciação, foram purificados, após excisão das bandas de interesse, através do

protocolo comercial (JETQUICK PCR Product Purification Spin kit; Genomed).

Reagentes e Material:

Kit JETQUICK PCR Purification Spin (Genomed, GmbH), contendo os seguintes

reagentes e material:

Solução L1 (Solubilização do gel: NaClO4, Acetato de sódio e TBE-

Tris-Borato-EDTA)

Solução L2 (Lavagem: Etanol, NaCl, EDTA e Tris-HCl)

Tampão TE (Eluição: 10mM Tris-HCl pH=8)

Colunas e tubos colectores

Etanol a 96% v/v (Panreac Química S.A.U., Barcelona, Espanha)

Equipamento:

Balança (Sartorius 2001 MP2)

Centrífuga (Kubota 3300)

Micropipetas (Eppendorf)

Termobloco (Stuart Scientific)

Vórtex (Vortex-Thermolyne type 16700)

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x  

Procedimento:

De acordo com as instruções do fabricante, o referido protocolo consiste em quatro

etapas bem definidas: solubilização da agarose, adsorção do DNA, lavagem e eluição

do DNA. Primeiro, cortaram-se, cuidadosamente, as regiões do gel de agarose,

correspondentes às bandas com as dimensões pretendidas, colocaram-se em

microtubos de 1,5 ml e pesou-se. Por cada 100 mg de gel, adicionaram-se,

proporcionalmente, 300 μl da solução L1. Incubou-se a mistura a 50ºC durante 30

minutos, com agitação

O passo seguinte consistiu na adsorção do DNA: transferiu-se a mistura para uma

coluna JETQUICK spin, colocada num tubo colector de 2 ml e centrifugou-se à

velocidade a 14000rpm durante 1 minuto. No final, descartou-se o filtrado e o tubo

colector. Seguidamente, colocou-se a coluna num novo tubo colector de 2 ml,

adicionaram-se 500 μl de solução H2. Voltou-se a centrifugar seguindo o mesmo

procedimento. Desprezou-se o filtrado, colocou-se novamente a coluna no tubo colector

e promoveu-se nova centrifugação, igual à anterior, descartando-se, no final, o tubo

com o filtrado.

Por fim, realizou-se a eluição do DNA: colocou-se a coluna num microtubo de 1,5 ml

e adicionam-se 50 μl da solução Tampão TE, pré-aquecida no aparelho Block Heater

(Stuart Scientific) a 60ºC. Centrifugou-se a 14000rpm, durante 2 minutos e no final

recuperou-se o filtrado com o DNA purificado. O controlo de qualidade da purificação é

realizado através da técnica de electroforese em gel de agarose (1%).

Os produtos de amplificação purificados foram conservados a uma temperatura de

-20ºC até serem sequenciados.

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xi  

Anexo VIII. Sequências nucleotídicas de Giardia lamblia obtidas neste trabalho

Doente 20 - Genótipo B (507pb)

CGA ATC GAG GTC CGC CGC GTC GAC GAC GAC ACG CGT GTG AAG ATG ATC AAG

GAC GCC ATC GCG CAC CTC GAC AGA CTC ATC CAG ACA GAG TCG AGG AAG CGC

CAG GCC TCG TTC GAG GAC ATC CGC GAG GAA GTC AAG AAG TCT GCC GAC AAC

ATG TAC CTG ACG ATC AAG GAG GAG ATC GAC ACC ATG GCC GCA AAC TTC CGC AAG

TCT CTC GCT GAG ATG GGC GAC ACG CTC AAC AAC GTC GAG ACG AAC CTC CAG AAC

CAG ATC GCC ATC CAC AAC GAC GCC ATC GCA GCC CTC AGG AAG GAG GCC CTC

AAG AGC CTG AAC GAC CTC GAG ACA GGC ATC GCC ACG GAG AAC GCC GAG AGG

AAG AAG ATG TAT GAC CAG CTC AAC GAG AAA GTC GCA GAG GGC TTC GCC CGC ATC

TCC GCC GCC ATC GAG AAG GAG ACG ATC GCC CGC GAG AGG GCC GTC AGC GCC

GCC ACG ACA GAG GCC CTC ACA AAC ACG AAG CTC GTC GA

Doente 25 - Genótipo B (503pb)  

 

AAC GAG ATC GAG GTC CGC CGC GTC GAC GAC GAC ACG CGT GTG AAG ATG ATC

AAG GAC GCC ATC GCG CAC CTC GAC AGA CTC ATC CAG ACA GAG TCG AGG AAG

CGC CAG GCC TCG TTC GAG GAC ATC CGC GAG GAA GTC AAG AAG TCT GCC GAC

AAC ATG TAC CTG ACG ATC AAG GAG GAG ATC GAC ACC ATG GCC GCA AAC TTC CGC

AAG TCT CTC GCT GAG ATG GGC GAC ACG CTC AAC AAC GTC GAG ACG AAC CTC

CAG AAC CAG ATC GCC ATC CAC AAC GAC GCC ATC GCA GCC CTC AGG AAG GAG

GCC CTC AAG AGC CTG AAC GAC CTC GAG ACA GGC ATC GCC ACG GAG AAC GCC

GAG AGG AAG AAG ATG TAT GAC CAG CTC AAC GAG AAA GTC GCA GAG GGC TTC

GCC CGC ATC TCC GCC GCC ATC GAG AAG GAG ACG ATC GCC CGC GAG AGG GCC

GTC AGC GCC GCC ACG ACA GAG GCC CTC ACA AAC ACG AAG CT

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xii  

Doente 26 - Genótipo A (480pb)

AAT CGA GGT CCG CCG CGT CGA CGA CGA CAC GCG CGT GAA GAT GAT CAA GGA

CGC CAT CGC ACA CCT CGA CAG GCT CAT CCA GAC GGA GTC GAG GAA GCG CCA

GGC CTC GTT CGA GGA CAT CCG CGA GGA GGT CAA GAA GTC CGC CGA CAA CAT

GTA CCT AAC GAT CAA GGA GGA GAT CGA CAC CAT GGC TGC AAA CTT CCG CAA GTC

CCT TGC GGA GAT GGG CGA CAC ACT CAA CAA CGT TGA GAC AAA TCT CCA GAA CCA

GAT CGC CAT CCA TAA CGA CGC CAT CGC GGC TCT CAG GAA GGA GGC CCT CAA

GAG CTT GAA CGA CCT CGA GAC GGG CAT TGC CAC GGA GAA CGC AGA AAG GAA

GAA GAT GTA CGA CCA GCT CAA CGA GAA GGT CGC AGA GGG CTT CGC CCG CAT

CTC CGC CGC GAT CGA GAA GGA GAC GAT CGC CCG CGA GAG GGC CGT TAG TGC

TGC CAC GAC AGA AGC

Doente 28 - Genótipo A (518pb)

GAT GGA GAA CGA GAT CGA GGT CCG CCG CGT CGA CGA CGA CAC GCG CGT GAA

GAT GAT CAA GGA CGC CAT CGC ACA CCT CGA CAG GCT CAT CCA GAC GGA GTC

GAG GAA GCG CCA GGC CTC GTT CGA GGA CAT CCG CGA GGA GGT CAA GAA GTC

CGC CGA CAA CAT GTA CCT AAC GAT CAA GGA GGA GAT CGA CAC CAT GGC TGC AAA

CTT CCG CAA GTC CCT TGC GGA GAT GGG CGA CAC ACT CAA CAA CGT TGA GAC AAA

TCT CCA GAA CCA GAT CGC CAT CCA TAA CGA CGC CAT CGC GGC TCT CAG GAA GGA

GGC CCT CAA GAG CCT GAA CGA TCT CGA GAC GGG CAT TGC CAC GGA GAA CGC

AGA AAG GAA GAA GAT GTA CGA CCA GCT CAA CGA GAA GGT CGC AGA GGG CTT

CGC CCG CAT CTC CGC CGC GAT CGA GAA GGA GAC GAT CGC CCG CGA GAG GGC

CGT TAG TGC TGC CAC GAC AGA AGC GCT CAC AAA CAC GAA GCT CGT CGA GA