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1 Impressões Sobre Imagens de Relatórios Anuais: Uma Análise Goffmaniana e Barthesiana da RSC Relatada pela Petrobras 1 Introdução O relatório anual é tradicionalmente a comunicação entre uma corporação e suas partes interessadas (Stanton, Stanton e Pires, 2004). Ele é uma forma visual usada pelas organizações para se representarem e se constituírem (Preston, Wright e Young, 1996). Como espaço de representação tal relatório é análogo a um palco, em que várias cenas são apresentadas e histórias contadas. Em conjunto com imagens suas narrativas contam histórias das organizações, refletindo-as de maneira abrangente evidenciando atividades, criação de valor, outras (Steenkamp e Hooks, 2011). As imagens ajudam a melhorar as histórias contadas (Steenkamp e Hooks, 2011) nos relatórios anuais. O ato de ver implica mais do que visualizar pelos olhos, ele possibilita a experiência de outras faculdades perceptivas, os conhecimentos culturais, sociais e psicológicos acumulados são acionados afim de entender o que se está visualizando ou experimentando (Warren, 2005). “Além disso, o olhar é político. Quem pode ser visto e quem é invisível? Quem olha quem e por que? Quem tem o poder de revelar e esconder?” (Warren, 2005, p.863). Tendo em vista o poder comunicativo das imagens a pergunta dessa investigação é como e porque imagens foram usadas em capas de relatórios de atividades da Petrobras? O objetivo deste artigo é compreender o uso de imagens em capas de relatórios de atividades da Petrobras. Especificamente analisar o uso das imagens à luz de conceitos de Barthes, Goffman e do gerenciamento de impressões. É um estudo qualitativo interpretativo, e também um estudo de caso ilustrativo. São analisados conteúdos de relatórios de atividades da Petróleo Brasileiro S.A Petrobras do período de 1954-1984. Para as interpretações são utilizadas lentes teóricas de Goffman (1985)

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Impressões Sobre Imagens de Relatórios Anuais: Uma Análise Goffmaniana e

Barthesiana da RSC Relatada pela Petrobras

1 Introdução

O relatório anual é tradicionalmente a comunicação entre uma corporação e suas partes

interessadas (Stanton, Stanton e Pires, 2004). Ele é uma forma visual usada pelas organizações

para se representarem e se constituírem (Preston, Wright e Young, 1996). Como espaço de

representação tal relatório é análogo a um palco, em que várias cenas são apresentadas e

histórias contadas. Em conjunto com imagens suas narrativas contam histórias das

organizações, refletindo-as de maneira abrangente evidenciando atividades, criação de valor,

outras (Steenkamp e Hooks, 2011). As imagens ajudam a melhorar as histórias contadas

(Steenkamp e Hooks, 2011) nos relatórios anuais.

O ato de ver implica mais do que visualizar pelos olhos, ele possibilita a experiência de

outras faculdades perceptivas, os conhecimentos culturais, sociais e psicológicos acumulados

são acionados afim de entender o que se está visualizando ou experimentando (Warren, 2005).

“Além disso, o olhar é político. Quem pode ser visto e quem é invisível? Quem olha quem e

por que? Quem tem o poder de revelar e esconder?” (Warren, 2005, p.863).

Tendo em vista o poder comunicativo das imagens a pergunta dessa investigação é como

e porque imagens foram usadas em capas de relatórios de atividades da Petrobras? O objetivo

deste artigo é compreender o uso de imagens em capas de relatórios de atividades da Petrobras.

Especificamente analisar o uso das imagens à luz de conceitos de Barthes, Goffman e do

gerenciamento de impressões.

É um estudo qualitativo interpretativo, e também um estudo de caso ilustrativo. São

analisados conteúdos de relatórios de atividades da Petróleo Brasileiro S.A – Petrobras do

período de 1954-1984. Para as interpretações são utilizadas lentes teóricas de Goffman (1985)

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e Barthes (1990, 2012). Entrevistas do projeto Memória Petrobras subsidiaram parte das

análises.

Davison (2015) aponta que grande parte da pesquisa visual em relatórios anuais tem

ocorrido nos EUA e Reino Unido e instiga a necessidade de pesquisas sobre o visual em

relatórios anuais de empresas de outros países, este artigo contribui para minimizar essa lacuna

uma vez que analisa relatórios anuais de uma empresa brasileira.

Trabalhos empíricos que adotem a retórica visual são relevantes, inclusive pesquisas

que adotaram Barthes podem ser estendidas (Davison, 2015). A exemplo do que fez Davison

(2007, 2011) esta pesquisa usa a lente de Barthes (1990, 2012) para as análises das fotografias

das capas dos relatórios. Davison (2015) aponta oportuno o uso de aspectos teóricos da

psicologia como lentes de análises para o visual. Goffman (1985) como representante da

psicologia social pode ser utilizado para análises de aspectos visuais. Assim, o artigo contribui

teoricamente ao acrescer a lente de Goffman nas análises das imagens.

Além da introdução, o artigo se divide em revisão da literatura que trata sobre: o

relatório anual e o uso de imagens, RSC, o gerenciamento de impressões e abordagens teóricas

de Barthes e Goffman; metodologia; análises das imagens à luz de Barthes e Goffman; e a

conclusão.

2 Revisão da literatura

2.1 O relatório anual e o uso das imagens

Geralmente o relatório anual é usado para formar a identidade, reputação e intangíveis

de uma organização, já que as contas no geral silenciam sobre eles (Davison e Warren, 2009);

concomitantemente para “fortalecer a posição de mercado da empresa, especialmente no que

diz respeito a suas marcas, gestão, recursos humanos e atividades comunitárias” (Hooks,

Steenkamp e Stewart, 2010, p.353). E o visual corrobora para a comunicação desses aspectos.

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O visual comunica sinais ligados à contabilidade (Davison e Warren, 2009). Relatos

financeiros e outros documentos correlatos possuem aspectos visuais como fotografias,

gráficos, diagramas, letra (formato, tipo e cor) (Davison, 2013), cartoons, pinturas, mapas,

vídeos, teatros, livros de história, arquitetura (Davison, 2011). A intencionalidade do uso das

imagens é forjar impressões dos leitores sobre assuntos como: identidade profissional,

liderança, marca (Davison, 2013).

A capa do relatório anual é o primeiro elemento desse relatório que os stakeholders tem

contato e não é criada aleatoriamente. No geral, a capa de frente é elaborada com esmero e é

importante para a construção da imagem da organização que representa, além de retratar e

promover aspectos contábeis (Davison, 2011). A capa deve chamar a atenção e demonstrar

parte do que há no texto (Gomes, 2015) e é carregada de mensagens conotativas (Davison,

2011).

Davison (2004) ao abordar sobre a ascensão de empresas em capas de relatórios anuais,

afirma que no inconsciente coletivo estão enraizados traços religiosos sobre a ascensão, como

o subir ao céu em sinal de salvação. O tema religião pode ser usado em narrativas e retóricas

de relatórios de uma organização para gerenciar impressões dos públicos (Evans e Pierpoint,

2015). Sinais de ascensão são encontrados em um caminho com direção a montante, rodeado

de vegetação verde e montanhas (Davison, 2004). O alcance da ascensão requer esforço,

trabalho e fé na recompensa futura (Davison, 2004). A fotografia imprime realismo à cena de

ascensão, exemplificando, funcionários uniformizados na escada de uma instalação da

organização, sob o céu azul denota a impressão de indústria sólida e real, isso aguça a fé no

futuro da organização (Davison, 2004). Embora imagens não integrem as demonstrações

contábeis elas possuem um poder de comunicação que não se separa na totalidade da

informação financeira (Davison, 2004).

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Imagens são também meios de accountability em relatórios anuais (Davison, 2007). A

marca de uma organização é um elemento visual, que pode conter valores culturais associados

que ao longo dos anos geraram valores econômicos intangíveis (Davison, 2009). As imagens

são onipresentes, fornecem mensagens com interpretações variadas, transmitem informações

incrementais ou com a intenção de gerenciamento de impressões, elas ocupam lugar na

memória, na cognição e exercem influência emocional (Davison, 2014). Os públicos dos

relatórios anuais devem atentar para as mensagens das imagens, pois, elas podem refletir uma

realidade, mascarar e perverter uma realidade, mascarar a falta da realidade e constituir uma

realidade (Preston et al., 1996). Imagens são usadas estrategicamente em relatórios anuais para

divulgar a RSC (Bernardi, Bean e Weippert, 2005).

2.2 RSC

Na história da evolução do relato corporativo aspectos de RSC se fazem presentes. Uma

explicação para isso é que os “princípios de responsabilidade social são valores fundamentais

que motivam ações e comportamentos organizacionais. Como as organizações operam dentro

da sociedade da qual dependem para recursos vitais, elas estão vinculadas a suas normas e

regras” (Brennan, Merkl-Davies e Beelitz, 2013, p.667), e necessitam comprovar a sua

legitimidade à sociedade e públicos de interesse.

Práticas de RSC são suscetíveis a moldar a reputação de uma organização frente aos

seus stakeholders (Johnson-Young e Magee, 2019). Fundamentadas em iniciativas de práticas

socialmente responsáveis, como o fornecimento de produtos, proteção ambiental, direitos

humanos, educação (Johnson-Young e Magee, 2019). Há na tabela 1 conceitos sobre RSC.

Tabela 1 – Definições de RSC

Ações voluntárias de empresas que denotem preocupação social e ambiental e sua interação com as

partes interessadas.

Compromisso de negócios em contribuir com o desenvolvimento econômico sustentável, trabalhando

para a melhoria de vida de funcionários e familiares, comunidade local e sociedade.

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Práticas comerciais abertas e transparentes, fundadas em valores éticos e respeito por funcionários,

comunidades e meio ambiente.

Obrigação de prestar contas as partes interessadas sobre as operações e atividades da empresa,

considerando o impacto das tomadas de decisões para as comunidades e o meio ambiente.

A RSC está concomitantemente no alcance do sucesso comercial e na honra aos valores éticos, respeito

às pessoas, comunidade e ambiente natural.

Tratamento das partes interessadas de forma ética e responsável.

Inclusão dos interesses de concidadãos e sociedade junto aos interesses próprios.

Fonte: adaptada de Dahlsrud (2008)

Embora as práticas de RSC tenham aumentado, existem preocupações sobre elas, como

a falta de relação entre elas e a qualidade das informações divulgadas, pois a impressão é que

elas são adotadas para influenciar os stakeholders, comprometendo-se com atividades aparentes

que os levam a crer no compromisso da empresa com os anseios da sociedade (Michelon,

Pilonato e Ricceri, 2015). Isto se alinha às práticas de gerenciamento de impressões (Michelon

et al., 2015) que têm uma tendência simbólica.

Quando uma organização divulga sobre RSC com o intuito simbólico, a divulgação não

passa de um amontoado de sentenças que não alargam o conhecimento das partes interessadas

sobre as atividades da organização (Michelon et al., 2015). Para manter a legitimidade as

organizações aparentam fazer a coisa certa ou não se envolverem em coisas erradas, mas na

verdade isso não se relaciona com o desempenho real (Buhr, 1998). Elas adotam metas

socialmente aceitáveis ou não; negam ou ocultam informações que prejudicariam a

legitimidade; e oferecem desculpas e justificativas (O'Sullivan e O'Dwyer, 2009). Os relatórios

abordam temáticas como funcionários, clientes e meio ambiente, mas podem não informar aos

stakeholders a realidade da empresa (Michelon et al., 2015).

2.3 O gerenciamento de impressões

Na psicologia social, o gerenciamento de impressões enfoca que o indivíduo ao se

apresentar busca gerar percepção favorável sobre si (Hooghiemstra, 2000). Nas interações

sociais as pessoas gerenciam a impressão que causam a outras pessoas, modificando a maneira

de agir, a aparência e o cenário que atuam (Goffman,1985). No contexto organizacional o

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gerenciamento de impressões é usado para minimizar a contradição entre o eu privado e o

público, ou entre identidade e imagem, cuja intenção é moldar a identidade desejada (Tata e

Prassad, 2015). Geralmente ele ocorre reativamente, quando há ameaça à identidade de uma

organização adota-se mecanismos de reparação em resposta à situação vivenciada (Aerts,

2005), como a adoção intencional de impressões falsas aparentando uma RSC superior à que

praticam (Windscheid, Bowes-Sperry, Jonsen e Morner, 2016). Os relatos corporativos são

meios de projeção de uma imagem socialmente responsável, de elevar a legitimidade e de

melhorar a reputação da organização (Tata e Prassad, 2015), eles projetam a imagem positiva

e modelam as percepções dos stakeholders (Bozzolan, Cho e Michelon, 2015).

Há técnicas distintas de gerenciamento de impressões aplicáveis ao visual (Cooper e

Slack, 2015) entre elas a manipulação visual e estrutural (ênfase) cuja ideia é enfatizar

deliberadamente uma apresentação, seja ela narrativa, quantitativa ou visual (Yang e Liu, 2017).

A ideia é torná-la mais óbvia com o uso de cor, repetições e reforços (Leung, Parker e Courtis,

2015), ou colocá-la em local de manchete (Brennan, Guillamon‐Saorín e Pierce, 2009). A

repetição é inerente à retórica visual e às artes da memória (Davison, 2014). Objetiva-se com a

repetição, por meio de palavras e imagens, a memorização e a ênfase (Davison, 2008). A

repetição tende a legitimidade das atividades de uma organização (Pesci, Costa e Soobaroyen,

2015). Aspectos visuais podem ser usados por uma organização com o intuito de autopromoção.

Essa é uma técnica de gerenciamento de impressões que visa o convencimento de uma

audiência, sobre a capacidade de uma organização (Ogden e Clarke, 2005) e a ênfase na sua

excelência (Talbot & Boiral, 2015). Ocorre manipulação temática ao divulgar temas positivos

em detrimento dos negativos (Brennan e Merkl-Davies, 2013).

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2.4 Abordagens teóricas

Nesta secção são apresentadas as abordagens teóricas de Barthes (1990, 2012) e

Goffman (1985), oportunas para as análises propostas.

2.4.1 Barthes

Em a Retórica da Imagem, Barthes (1990) propõe um modelo para análises de imagens

visuais da marca Panzani. Ele divide em três as mensagens do anúncio analisado. A primeira

mensagem é linguística, é extraída da legenda e etiquetas que acompanham a cena; a segunda

mensagem é icônica, uma representação da realidade, ou denotação; a terceira mensagem é

simbólica ou conotativa, ela precede a mensagem literal (Barthes, 1990).

Em A Câmara Clara: Nota sobre a Fotografia, Barthes (2012) apresenta um quadro

teórico para análises de fotografias. Entre os conceitos desse quadro está o referente que é o

que a fotografia mostra (Barthes, 2012). A distinção entre a foto e o seu referente não ocorre

imediatamente e nem por todas as pessoas, o significante fotográfico pode ser percebido por

profissionais, mas será necessário compreensão ou reflexão (Barthes, 2012). O spectator é a

pessoa que suporta a foto, em jornais, livros, álbuns, arquivos, outros (Barthes, 2012). O

studium se relaciona ao conhecimento e cultura do observador da fotografia (Barthes, 2012).

Punctum são pontos sensíveis nas fotos, ele casualmente punge quem vê, ao mesmo tempo que

mata e fere (Barthes, 2012). O punctum faz surgir um campo cego (Barthes, 2012). Ao analisar

uma foto da rainha Vitória sobre um cavalo, o punctum para Barthes (2012) é o auxiliar que

segura as rédeas do cavalo; o autor questiona se o cavalo se agitasse, então imagina o que

aconteceria com a rainha ou com sua saia, esse é o campo cego. O noema da fotografia é

nomeado de isso-foi, ou seja, o que se vê já esteve lá (Barthes, 2012). Ele é um traço que não

necessita ser explicado, é indiferente (Barthes, 2012). Uma fotografia que agrada requer

escrutá-la isso significa “virar a foto, entrar na profundidade do papel, atingir sua face inversa

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o que está oculto é, para nós, ocidentais, mais “verdadeiro” do que o que está visível” (Barthes,

2012, p.91).

2.4.2 Goffman

Para Goffman (1985, p.29) a representação é “toda atividade de um indivíduo que se

passa num período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo particular de

observadores e que tem sobre estes alguma influência”. Compreende-se por cenário os

elementos de suporte para o palco onde ocorrerá a representação (Goffman, 1985). A

dramatização se embasa na ênfase da representação do indivíduo frente aos outros (Goffman,

1985). Os indivíduos quando se apresentam podem incorporar em seu desempenho valores

reconhecidos pela sociedade (Goffman, 1985). A depender dos valores cultuados socialmente

o autor incorpora em seu personagem a representação idealizada pela sociedade e não o que

efetivamente ele é (Goffman, 1985). Tais valores podem se relacionar com a orientação

ascendente, como a riqueza material e o status do indivíduo, apontando para uma idealização

positiva (Goffman, 1985). A manipulação é usada nas representações idealizadas (Goffman,

1985). “Uma vez obtido o equipamento conveniente de sinais e adquirida a familiaridade na

sua manipulação, este equipamento pode ser usado para embelezar e iluminar com estilo social

favorável as representações diárias do indivíduo” (Goffman,1985, p.41). Em situações de

conflitos os protagonistas precisam observar a sua conduta e não mostrar ao opositor sua

vulnerabilidade, isso é o controle de expressões (Goffman, 1985).

Goffman (1985, p. 99) afirma que “uma equipe é um grupo, mas não um grupo em

relação a uma estrutura ou organização social, e sim em relação a uma interação, ou série de

interações, na qual é mantida a definição apropriada da situação”. Dificuldades podem surgir

nas representações se algo estiver em desacordo com a estrutura de interação proposta

(Goffman, 1985). Por isso, a cooperação é fundamental entre uma equipe, é uma espécie de

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conluio entre os seus integrantes (Goffman, 1985). A confiança na boa conduta entre membros

de uma equipe gera dependência mútua (Goffman, 1985). Todos os membros da equipe devem

se mostrar familiarizados com os fatos (Goffman, 1985). A eficácia de uma representação em

equipe depende da extensão e da cooperação entre seus membros, e isso ocorre muitas vezes de

maneira dissimulada e secreta (Goffman, 1985). Por isso, uma equipe se assemelha a uma

sociedade secreta (Goffman, 1985). O lugar onde a representação ocorre é denominado como

região de fachada (Goffman, 1985). A interação social entre membros de uma equipe de

funcionários e o suporte de “palco” de instrumentos contábeis auxiliam o controle das

performances e sustenta a impressão da equipe (Jeacle & Carter, 2012). O gerenciamento de

impressões pode ocorrer por meio do esforço em equipe (Lamertz & Martins, 2011).

3 Metodologia

Adota-se a análise de conteúdo qualitativa que não prioriza a contagem de palavras, ou

o pressuposto reducionista e positivista (Berg, 2001). É feita uma leitura interpretativa do

simbolismo existente nas fontes de dados que se tem em mãos (Berg, 2001, p.243). Cujo

objetivo é “interpretar os significados dos fenômenos apresentados ao pesquisador [...]”

(Campos, 2007, p.266). Nesse tipo de análise se dispõe a elucidar o sentido, desvelando as

intenções, comparando, avaliando, descartando os acessórios, para que reconhecendo o

essencial, possa dar sentido às ações (Campos, 2007).

É um estudo de caso ilustrativo que exemplifica empiricamente a inclusão da teoria

(Scapens, 2004), sem a intenção de mostrar práticas superiores, mas ilustrar categorias teóricas

observáveis na prática (Scapens, 2004). Segue como Davison (2008) a tradição de pesquisas

que se embasaram em teóricos sociais, entretanto usando as bases teóricas da psicologia social

de Goffman e da filosofia de Barthes (1990, 2012).

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São analisadas capas dos relatórios de atividades da Petrobras de 1954-1984, tais

relatórios são também denominados pela empresa como relatório anual e relatório consolidado.

Durante a maior parte do período analisado vivia-se uma política econômica

desenvolvimentista no Brasil (Brasil, 1991) e a RSC quase inexistia. Além disso, em grande

parte do período vigorava o regime militar (1964-1985) e as comunicações eram censuradas

(Teixeira, 2004). Mesmo assim, a Petrobras possui um rico acervo de comunicações

corporativas com muitas divulgações voluntárias que suscitam aspectos de RSC. Foram

selecionadas capas com imagens com pano de fundo do céu, em conformidade com Davison

(2004). Nessa fase primou-se pela análise de conteúdo manifesto (Berg, 2001) ou a mensagem

literal. Já o conteúdo latente foi analisado à luz de conceitos teóricos de Barthes (1990, 2012)

e de Goffman (1985). O conteúdo manifesto de duas entrevistas do projeto Memória Petrobras

foi utilizado para complementar as análises.

Os conceitos de Goffman (1985) utilizados foram: cena, cenário, conluio, controle de

expressões, dependência mútua, dramatização, equipes, familiaridade, idealização positiva,

personagens, região de fachada, representação, sociedade secreta e valores reconhecidos pela

sociedade. Já os de Barthes (1990, 2012): mensagem linguística, denotação e conotação;

referente, spectator, studium, punctum, noema, campo cego e escrutar. As obras de Barthes são

fundamentais aos que desejam explorar a semiótica da imagem visual (Davison, 2013) e são

frutíferas fontes interdisciplinares em ambientes de contabilidade (Davison, 2013). As técnicas

de gerenciamento de impressões utilizadas foram manipulação visual e estrutural (ênfase),

autopromoção e manipulação temática.

A escolha da Petrobras se deu por ela atuar em um ramo de atividade com sérios

impactos sociais, ambientais e econômicos, o que propicia um campo fértil de divulgações

sobre o cumprimento de RSC, ou de gerenciamento de impressões sobre elas. Até os anos de

1970 prevalecia no relato corporativo informações financeiras (Beattie, 2000), logo justifica-se

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o período de análise uma vez que a Petrobras divulgava mais do que isso, o que suscita a ideia

do gerenciamento de impressões e busca da legitimidade.

4 Imagens à luz de Barthes e Goffman

4.1 As Imagens e os seus sinais

A propagação da Petrobras em ascensão, por qualquer meio, reforçava a ideia da

independência econômica do País, isso era importante para a empresa e para o Governo.

Embora as importações de petróleo continuassem altas, o sonho do Povo brasileiro de

independência econômica precisava ser nutrido, e a Petrobras fazia isso de diferentes maneiras.

Eis uma capa (figura 1) que indica ascensão. A mensagem linguística que acompanha a

imagem da figura 1 traz os nomes da empresa e do relatório e o ano. Há o gerenciamento de

impressões ao enfatizar a palavra Petrobras com uso da cor e do negrito. Essa é uma

manipulação visual (Cooper & Slack, 2015) da logomarca da empresa. O referente da fotografia

mostra o cenário típico de um ambiente de exploração de petróleo. O olhar de spectator permite

ler as mensagens transmitidas. A mensagem denotativa da fotografia mostra um equipamento

usado na busca de petróleo, dois homens subindo em direção a ele, em volta do equipamento

árvores, o céu com nuvens e caminhos apontando para uma subida. Uma representação da

realidade vivida em locais de exploração petrolífera.

Figura 1 – Capa do Relatório das Atividades

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Fonte: Petrobras (1958)

A mensagem conotativa mostra uma região íngreme com dois caminhos a serem

seguidos, o que os trabalhadores percorrem e um caminho lateral a esse, o segundo caminho

parece de difícil acesso. Ambos direcionam para a torre e essa para o céu com muitas nuvens,

o que sinaliza ascensão. A imagem gera a impressão que o petróleo no solo brasileiro trará a

ascensão para a empresa, para o Brasil e para seus funcionários que sobem um caminho traçado

pela empresa e que parece ser o mais fácil de subir, entretanto subir (ascensão) sinaliza trabalho

com esforço (Davison, 2004). A vegetação em redor, especificamente os pés de coco, lembram

a região da Bahia, local de atividades da empresa, o que conota a ascensão dessa região. A torre

é um símbolo da exploração de petróleo, usada em “busca do ouro negro”, ou como o próprio

nome da empresa denota: o Petróleo Brasileiro. A torre, as árvores, o caminho percorrido todos

apontam para cima, em direção ao céu sinalizando ascendência, corroborando com a

investigação de Davison (2004).

Ao olhar a fotografia (figura 1) o studium extraído advém de memórias propagadas

sobre a empresa. Mesmo sem ter estado em um local de exploração de petróleo o símbolo

Petrobras foi tão entronizado no imaginário do Povo brasileiro que basta ver uma representação

como essa para remeter a locais de exploração da empresa, como a Bahia. O céu e o pés de coco

foram detalhes que despertaram a atenção, isso é o punctum. O céu serve de pano de fundo para

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os demais elementos da fotografia, ao mesmo tempo ele parece tão soberano, indicando uma

grandeza maior do que a perceptível de modo imediato. O céu faz enxergar que por trás das

atividades da empresa está a concretização do sonho de ascensão, da Petrobras e da Nação

brasileira.

Aspectos sobre RSC são aguçados por meio da imagem (figura1), pois há a mimetização

das atividades da Petrobras com a natureza sinalizando equilíbrio entre elas, como se não

houvessem impactos. A representação conjunta de funcionários, meio ambiente e atividades da

empresa materializa uma realidade de preocupação com elementos de RSC (ver Dahlsrud,

2008).

A retórica visual por meio da repetição de imagens (Davison, 2014) que conotam a

ascensão foi usada pela Petrobras em diferentes capas de relatórios anuais. Ao fazer isso a

empresa aguça a memorização e a ênfase nas informações transmitidas, corroborando com

Davison (2008). Embora as imagens não sejam semelhantes um elemento chave está sempre

presente, o céu. Ascensão conota desenvolvimento, progresso, crescimento e essa era a ideia,

mostrar ao público de interesse que a empresa estava em constante ascensão.

Na capa do relatório de 1967 (figura 2) a mensagem linguística comunica sobre a marca

da empresa, que é formada por um losango com bordas verdes, o fundo da parte interna do

losango é de cor amarela e a palavra Petrobras é escrita em letras maiúsculas e de cor azul. O

nome do relatório e o ano são outros componentes da capa. A representação da fotografia (figura

2) denota uma torre de sondagem da Petrobras, o petróleo do poço perfurado jorrando para

cima, cinco funcionários da empresa e o céu fazendo fundo para a cena.

O petróleo jorrando para cima tendo como pano de fundo o céu gera uma mensagem

conotativa sobre a jazida de petróleo encontrada, um ativo para a Petrobras, e sua contribuição

para a melhoria e ascensão da empresa. Cenas como essa geram a impressão de cumprimento

dos propósitos da empresa, de encontrar o petróleo e de tornar o País economicamente

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independente. O jorro de petróleo dá a impressão de abundância, embora não esteja explícito o

tempo de vida útil de tal jazida. Ao mostrar a descoberta de petróleo a empresa está enfatizando

sua capacidade produtiva e se autopromovendo. Gerenciando as impressões com elementos

visuais que convença o público (Ogden & Clarke, 2005) sobre sua capacidade de produção.

Figura 2 – Capa do Relatório de Atividades

Fonte: Petrobras (1967)

Outra mensagem conotativa extraída da fotografia está ligada aos funcionários. Eles

estão sempre presentes nas comunicações da Petrobras e geram valor para a empresa pois são

valiosos ativos intangíveis. Os braços levantados dos funcionários mostram euforia e

entusiasmo de alguns deles ao jorrar o petróleo, o funcionário de blusa branca levanta além dos

braços os pés, o que enfatiza o seu entusiasmo. Encontrar petróleo é sinal de conquista, de

crescimento, a emoção dos funcionários conota o sentimento do povo brasileiro com as vitórias

da Petrobras.

A imagem do jorro de petróleo e dos trabalhadores é algo que ocorreu, é um

passado, ou o noema da foto. Mesmo mostrando uma imagem passada, a fotografia sugere

assim como Davison (2004) uma mensagem de solidez da indústria e a esperança intangível

no futuro. O punctum da fotografia é o jorro do petróleo para cima. Pois é ele que causa o

entusiasmo nos funcionários. E se o petróleo não jorrasse, se aquele poço não tivesse uma vida

útil que colaborasse de forma eficaz para o suprimento do Brasil? O que aconteceria com os

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trabalhadores retratados? Como eles reagiriam? Talvez não se mostrassem tão entusiasmados.

O punctum faz com que os personagens saiam da foto, eis um campo cego. A imagem lança um

desejo que vai além do que ela retrata (Barthes, 2012).

A marca que fica no topo da capa do relatório imprime continuidade a conotação sobre

ascensão, embora não esteja sobre o fundo do céu azul, está na parte superior. A marca é um

ativo intangível e conota o valor de uma empresa, por trás dela há uma série de mensagens.

Assim como Barthes (1990) associou a marca Panzine a italianidade, há na marca Petrobras

uma “brasilidade”, pois representa o Brasil e suas conquistas. Quando complementada por

outras imagens, como a do petróleo jorrando, há o aumento no seu valor e uma representação

do êxito da operacionalidade da empresa. Isso corrobora com as abordagens de Davison (2009)

sobre os valores culturais que estão por trás da marca e de como eles geram valores econômicos

intangíveis.

A ideia de brasilidade e de valor econômico da marca Petrobras permeia o imaginário

coletivo de brasileiros e de pessoas de outros países sobre isso um entrevistado do projeto

Memória Petrobras afirma que:

Eu já tinha o conhecimento do valor da empresa e do que ela representava para a nacionalidade, porque eu conhecia

todo o movimento da criação da Petrobras. Como tinha trabalhado em uma revista dessa área, eu já conhecia isso

dos noticiários e tinha me interessado mais por isso. Tinha conhecimento do conteúdo de brasilidade, de

nacionalismo que a Petrobras levava junto com a sua marca e da importância que o petróleo representava para o

país e para a humanidade, como maior combustível, maior fonte de energia utilizada em todo o mundo. Esse valor,

eu levei comigo à Petrobras e é um valor que eu guardo até hoje (“Entrevista de Celso Luis Mansur”, 2008).

Percebe-se que o sentimento nacionalista em torno da empresa povoa a mente dos

brasileiros desde o início. O principal ativo da empresa, o Petróleo, tem uma carga de valor

muito alta em todo o mundo, logo uma empresa genuinamente brasileira que produz petróleo

sinaliza a riqueza para o Brasil, e sua marca colabora para isso.

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O formato da marca Petrobras (figura 2) é carregado de sinais que conotam brasilidade,

como o losango e suas cores (verde, amarelo e azul). O losango é um elemento da bandeira

brasileira. A ideia desse símbolo era enfatizar a sua identidade como empresa genuinamente

brasileira (Petrobras, 2013). As cores usadas são encontradas na bandeira brasileira, logo

remetem à Nação, corroborando com Barthes (1990) quando interpreta as cores da imagem da

massa Panzine sinalizando a Itália. Na bandeira do Brasil o verde representa as matas, o azul

os rios, o amarelo as riquezas e o branco a paz. Sobre a primeira marca da Petrobras Campos

(2007) em entrevista ao Memória Petrobras aborda:

A grande cor era o amarelo, porque o losango era amarelo e o resto eram frisos: um friso verde em volta e a letra

azul, que também era um friso. Era tudo frágil, tudo fino, transparente, tudo sem contraste (“Entrevista de Joaquim

de Sales Redig de Campos”, 2007).

Na marca da Petrobras preponderava o amarelo, isso conota a ideia da riqueza gerada

pelo petróleo. As bordas do losango são da cor verde, conotando a ideia de que o petróleo está

imerso ao meio ambiente, entretanto a importância dada a cor que representa a riqueza

petrolífera é maior do que a das matas. A impressão que se tem é de que, embora haja impacto

das atividades da Petrobras ao meio ambiente, as riquezas que ela produz superam os impactos

causados. O azul da palavra Petrobras conota as atividades da empresa nas águas, essas

atividades se principiaram em 1954 (Petrobras, 1960). Logo, as cores da marca Petrobras são

carregadas de significados que permeiam a mente dos brasileiros e dos não brasileiros que

conhecem um pouco sobre o Brasil. Sobre os não brasileiros, parafraseando Barthes (1990), há

um saber sobre essas cores oriundo de estereótipos turísticos do País.

A empresa escolheu um local de manchete, a capa, para enfatizar com uma imagem o

cumprimento do compromisso social de encontrar petróleo para suprir o Brasil. Essa é uma

forma de gerenciamento de impressões (Brennan et al., 2009). Concomitantemente, sua RSC

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(Dahlsrud, 2008) é enfatizada, pois conota a contribuição ao desenvolvimento econômico do

País, melhoria de vida dos funcionários e familiares, das comunidades do entorno e sociedade

em geral. Uma vez que o seu produto é essencial para a sociedade (Johnson-Young & Magee,

2019).

A capa do relatório de 1976 (figura 3) se modifica na mensagem linguística apenas por

não ter a marca e por ser agora denominado de relatório consolidado. Todas as mensagens

escritas estão em fonte maiúscula, na cor preta e em negrito. Isso é uma forma de manipulação

visual e estrutural, por meio da ênfase no estilo de letra utilizado, o que torna as palavras mais

óbvias (Leung et al., 2015).

Figura 3 – Capa do Relatório Consolidado

Fonte: Petrobras (1976a)

A mensagem denotada mostra o céu azul, com nuvens cinzas e brancas, um equipamento

e uma vegetação amarelo dourado. Diante da foto (figura 3) escrutá-la é o que resta. Ela chamou

atenção pelo céu e tamanho da vegetação, mas não somente por isso, ela se difere de símbolos

da extração de petróleo. O que está oculto nela? Essa foi a indagação que surgiu ao olhá-la. Sua

mensagem conotativa fala sobre uma instalação provavelmente usada em uma das atividades

da Petrobras. A imagem da planta conota o trigo, por sua cor e formato. A autossuficiência do

trigo no Brasil era um desejo do Governo brasileiro (Petrobras, 1976b). Entretanto, isso

dependia de fatores como o preço dos fertilizantes, que era alto devido ser importado (Petrobras,

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1976b). Ao projetar a imagem de uma planta com aparência de trigo, com o tamanho aumentado

se comparado com o equipamento que está próximo, a impressão que dá é que a produção se

tornaria grande, apoiada à estrutura da instalação que aparece ao fundo. O tamanho da planta

conota crescimento e ascensão em uma área que comprometia o saldo de divisas do Brasil.

A representação remete a ideia de que a Petrobras Fertilizantes S.A, inaugurada em

março de 1976 (Petrobras, 1976a), ajudaria o Brasil a crescer na área agrícola, especificamente

no plantio de trigo. A ascensão pode ser percebida no imobilizado e na planta direcionados para

o céu. Uma esperança de modificação do cenário agrícola do Brasil, advinda da criação de uma

fábrica de fertilizantes subsidiária da Petrobras. Mais uma vez empresa e País em ascensão. Isso

suscita a ideia de RSC (Dahlsrud, 2008), pois a empresa incluía os interesses da sociedade junto

aos seus. Em conjunto com a mensagem linguística sobre a consolidação, há o reforço sobre a

ideia de expansão e ascensão, pois um relatório consolidado traz informações da própria

empresa e de outras que ela detém participação, cuja Lei determine divulgações conjuntas.

Na capa do relatório de 1981 (figura 4) a mensagem linguística das legendas traz

informações sobre o nome do relatório que passou a ser relatório anual, o ano, o nome da

empresa e a logomarca. A fotografia da capa de 1981 denota uma plataforma de petróleo em

alto mar, o fundo preto do relatório mostra a cena a noite, com uma luz que sinaliza a lua,

predominam as cores preto e branco.

Retratar uma plataforma marinha sob o fundo de um céu noturno com a luz da lua

iluminando parte do céu e da plataforma e refletindo no mar, propaga uma mensagem

conotativa de que a esperança de ascensão está no mar. A logomarca colocada no fim da página

do lado direito, dá a impressão de estar dentro do mar, isso conota a conquista da atuação

marítima. Embora a logomarca esteja em uma posição inferior, a plataforma de petróleo está

sob o fundo de um céu com feche de luz que se assemelha a ascensão.

Figura 4 – Capa do Relatório Anual

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Fonte: Petrobras (1981)

Houve modificação na marca da empresa (figura 4), que passou a ser um hexágono,

embora o losango estivesse dentro dele. A relação entre a identidade da empresa e sua marca é

tão forte que as modificações sofridas pela empresa refletiam em sua marca, sobre isso um

entrevistado afirma:

Na nova logomarca, tirou-se a Petrobras da clausura do losango e a colocou abaixo do losango. Foi aí que houve

maior preocupação com imagem e com marcas, em função do crescimento da empresa que, no final dos anos 1970,

começou a produzir petróleo no mar. A empresa se expandia para o exterior, com descoberta de petróleo no Iraque,

descoberta em Angola e na Colômbia. A exploração no Irã era um reflexo do desenvolvimento da Companhia, não

só internamente, mas no exterior (“Entrevista de Celso Luis Mansur”, 2008).

Percebe-se que o nome dentro do losango gerava a impressão de que a Petrobras estava

presa no Brasil, isso não soava bem para a sua imagem pois ela expandia internacionalmente.

“A nova marca deveria refletir o crescimento e a expansão da companhia, até mesmo para fora

do País. Daí o hexágono, quase uma auto-representação (o símbolo do carbono), mais forte e

robusto” (Petrobras, 2013, p.28). Entretanto, na fotografia a expansão estava envolta a uma

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escuridão ou incerteza quanto aos resultados advindos dela. Mesmo com essa incerteza há

uma luz que indica o céu e sinaliza a ascensão vinda das atividades marítimas.

A capa analisada é do início dos anos de 1980, naquela época o mundo vivia os

reflexos da crise do petróleo de 1979/80 (Fausto, 1999), a expansão da Petrobras em plena crise

contribuía com sua imagem de RSC. Pois buscava meios do desenvolvimento econômico que

melhorassem a vida da sociedade (Dahlsrud, 2008) brasileira. Agindo assim, com cenas que se

fundamentam em temas positivos, há a manipulação temática (Brennan & Merkl-Davies, 2013)

das representações realizadas.

Apesar do material visual não integrar as demonstrações contábeis, o seu poder

comunicativo não deve se dissociar na totalidade da informação financeira (Davison,

2004). Imagens do céu povoam o imaginário coletivo, grande parte da responsabilidade

disso vem de traços religiosos entronizados no mundo (Davison, 2004). Portanto, a

Petrobras fez uso de imagens em seus relatórios de atividades para sinalizar ascendência.

Concomitantemente, apresentou cenas de RSC que projetavam sua imagem positivamente

frente aos stakeholders, para influenciá-los (Michelon et al., 2015).

4.2 As Capas à Luz dos Conceitos Goffmanianos

Cada capa carrega consigo uma teatralização, uma cena que retrata atividades

relacionadas à empresa. Na primeira capa a cena mostra a atividade de exploração, cujo cenário

é composto de elementos essenciais para aguçar o imaginário de quem se interessava pela

Petrobras: uma torre de sondagem, a vegetação, estradas para se chegar à torre e o céu que

coloca a torre em ascensão. Ao explorar uma cena relacionada à ascensão a capa fala de um

tema voltado para a religião, esse tema foi encontrado na pesquisa de Davison (2004) e de

Evans e Pierpoint (2015). Em direção a torre vão funcionários, únicos personagens da

representação.

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Em 1967 o cenário representado na região de fachada, ou capa do relatório de atividades,

usa elementos repetidos: a torre de sondagem e o céu. Os personagens agora são cinco e

representam uma das equipes de trabalhos da Petrobras em busca do petróleo, seu ativo mais

valioso. Os funcionários são apresentados de modo a gerar a impressão de familiaridade, agindo

todos em prol de um mesmo propósito: a descoberta de mais petróleo. A interação entre os

funcionários sustenta a impressão sobre a equipe (ver Jeacle & Carter, 2012). O petróleo

jorrando para cima representa o alcance de valores reconhecidos pela sociedade. A ascensão do

produto é uma riqueza material e dá a impressão de idealização positiva, ou seja, o alcance do

sonho de independência econômica idealizado pelo Povo brasileiro e imputado à Petrobras.

A capa de 1976 retrata um cenário cujo elemento que se repete nos anos anteriores é o

céu. Apontando para ele estão plantas e um equipamento, ambos dão a impressão de ascensão.

Nessa capa, embora não existam personagens, há equipes trabalhando em conluio, ou seja, o

Governo e a Petrobras trabalhando em dependência mútua em prol da melhoria na produção do

trigo. É como se existe uma sociedade secreta entre as equipes, em prol de um objetivo comum.

Há um esforço da equipe para gerir as impressões, assim como na pesquisa de Lamertz e

Martens (2011).

Em 1981 o cenário mostra um elemento novo, o mar, a torre de petróleo está sobre ele.

Mesmo na escuridão, como nos momentos de crise, a torre e o mar aparecem mediante uma luz

vinda do céu. Uma dramatização, como ocorre nos espetáculos quando o feche de luz foca o

que se deseja representar. Uma manipulação da representação idealizada da conquista do

petróleo no mar. A empresa se representa nutrindo as expectativas sociais sobre o seu

desempenho, Evans e Pierpoint (2015) apontam que instituições usam seus relatórios para isso.

Em meio aos problemas mundiais da crise do petróleo e de vulnerabilidade, ter a ascensão da

Petrobras no mar realimenta a emoção e os sonhos da Nação brasileira e a empresa mostra que

mantém o controle das expressões.

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5 Conclusão

Os relatórios anuais são instrumentos de comunicações corporativas constituídos por

signos diversos, entre eles as imagens. O poder comunicativo das imagens desses relatórios não

pode ser ignorado, pois elas são intencionalmente escolhidas pela instituição para divulgar

alguma atividade relacionada a ela.

A capa de um relatório é a porta de entrada para as demais comunicações que o

compõem. Então, quando nela há signos eles sinalizam a comunicação de alguma mensagem.

Eles não são inseridos aleatoriamente, no geral servem como reforço de alguma ideia. As

análises permitiram compreender que as imagens das capas de relatórios de atividades da

Petrobras, dos anos ilustrados, foram usadas para propagar a ascensão e RSC da empresa,

concomitantemente para o gerenciamento de impressões de seus stakeholders.

Imagens são divulgações voluntárias e têm sido usadas de forma recorrente em tipos

distintos de comunicações organizacionais. Tal prática pode ser constatada nos relatórios de

atividades da Petrobras, com exceção do relatório de 1954, 1962 e 1971, nos demais anos as

capas são compostas de imagens que denotam e conotam mensagens diversas sobre a empresa.

Indústrias do petróleo atuam em ambientes sensíveis, e a Petrobras particularmente foi

criada sob a égide de que solucionaria os problemas de suprimento do petróleo do Brasil, essa

é uma RSC cobrada desde o início de suas atividades. Logo, a empresa se projetava por meio

de imagens em ascensão e com nuances de RSC como forma de gerenciar as impressões de

seus stakeholders e legitimar suas atividades.

A análise interpretativa pode ser considerada uma limitação. Entretanto, as

interpretações se embasaram em lentes teóricas de Goffman e Barthes o que justifica a opção

pelo tipo de análise. A ideia não é generalizar os resultados, mas mostrar o uso de teorias na

prática, em conformidade com Scapens (2004).

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O artigo contribui empiricamente ao apresentar análises de imagens em relatórios anuais

de uma empresa do Brasil, minimizando a lacuna apontada por Davison (2015). O uso de

conceitos teóricos de Barthes e Goffman oferece contribuições aos interessados em

comunicações corporativas, pois servem de parâmetros para outras análises. Pesquisas futuras

podem usar essas ou outras lentes para análises de outros relatos corporativos, ou de instituições

de outros países.

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