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1 1. Introdução A gestão dos estoques, os inventários físicos e o planejamento e controle da produção (PCP), são assuntos de extrema importância em uma organização que busca o melhor controle possível de seus recursos e processos, que mantém foco no cliente e que busca garantir que o produto final chegue ao consumidor no tempo certo, na quantidade correta e na qualidade desejada. Atualmente, muitas empresas que trabalham com a transformação de matéria prima em produto acabado, tiveram que refazer seu planejamento em geral e se adequarem a uma nova realidade cada dia mais comum. Esta nova realidade, trata-se da considerável mudança nos ambientes produtivos impulsionada pelo comportamento dinâmico do mercado principalmente por parte dos clientes, devido ao aumento na competitividade e favorecida por transformações globais ocorrendo em ritmos acelerados. As organizações estão reféns do mercado globalizado, o qual determina os seus preços de venda, a demanda e a qualidade do produto, pois com a concorrência acirrada a busca pela redução de custos e pela reorganização ou reengenharia dos processos de forma contínua se tornou um cotidiano empresarial. Diante este novo cenário, tornou-se ainda mais necessário manter o controle de tudo o que envolve uma produção em fábrica, desde o planejamento de necessidades de materiais, a compra de matéria prima, a verificação do que há fisicamente em estoque e o planejamento e controle da produção que reúne estas e outras informações e as disponibilizam para que seja possível fazer a produção proposta. Para isso, técnicas de controle na produção se tornaram fundamentais, por mais simples que sejam, elas devem ser existir. Sendo assim, neste presente artigo, trataremos a realização dos inventários físicos de estoque como uma técnica facilitadora que aproxima, interliga e proporciona uma comunicação única e eficaz entre a gestão de estoques e o PCP. Portanto, este trabalho justifica-se pela importância em conhecer assuntos essenciais em organizações que visam controlar seu capital de forma a conseguir potencializar e favorecer o seu crescimento. Logo o objetivo é estudar e analisar a importância de se fazer a correta gestão dos estoques no ambiente produtivo, para manter o melhor controle

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1. Introdução

A gestão dos estoques, os inventários físicos e o planejamento e controle da produção (PCP), são assuntos de extrema importância em uma organização que busca o melhor controle possível de seus recursos e processos, que mantém foco no cliente e que busca garantir que o produto final chegue ao consumidor no tempo certo, na quantidade correta e na qualidade desejada.

Atualmente, muitas empresas que trabalham com a transformação de matéria prima em produto acabado, tiveram que refazer seu planejamento em geral e se adequarem a uma nova realidade cada dia mais comum. Esta nova realidade, trata-se da considerável mudança nos ambientes produtivos impulsionada pelo comportamento dinâmico do mercado principalmente por parte dos clientes, devido ao aumento na competitividade e favorecida por transformações globais ocorrendo em ritmos acelerados.

As organizações estão reféns do mercado globalizado, o qual determina os seus preços de venda, a demanda e a qualidade do produto, pois com a concorrência acirrada a busca pela redução de custos e pela reorganização ou reengenharia dos processos de forma contínua se tornou um cotidiano empresarial.

Diante este novo cenário, tornou-se ainda mais necessário manter o controle de tudo o que envolve uma produção em fábrica, desde o planejamento de necessidades de materiais, a compra de matéria prima, a verificação do que há fisicamente em estoque e o planejamento e controle da produção que reúne estas e outras informações e as disponibilizam para que seja possível fazer a produção proposta.

Para isso, técnicas de controle na produção se tornaram fundamentais, por mais simples que sejam, elas devem ser existir. Sendo assim, neste presente artigo, trataremos a realização dos inventários físicos de estoque como uma técnica facilitadora que aproxima, interliga e proporciona uma comunicação única e eficaz entre a gestão de estoques e o PCP.

Portanto, este trabalho justifica-se pela importância em conhecer assuntos essenciais em organizações que visam controlar seu capital de forma a conseguir potencializar e favorecer o seu crescimento. Logo o objetivo é estudar e analisar a importância de se fazer a correta gestão dos estoques no ambiente produtivo, para manter o melhor controle possível, visando ainda à redução dos impactos principalmente na produtividade, causados pelas variáveis deste processo. Sendo assim, mostraremos qual a correlação existente entre inventários físicos, gestão de estoque e PCP no intuito de esclarecer qual a importância de cada um nas etapas que envolvem um processo e de que forma estes fatores podem contribuir para que haja produções cada vez mais enxutas, reduzindo gastos desnecessários e aumentando o lucro das organizações.

2. Planejamento e controle da produção (PCP)

O sistema de PCP é descrito por Vollmann, Whybark, Berry e Jacobs (2006) como uma atividade que se ocupa do planejamento e controle de todos os aspectos da produção, inclusive do gerenciamento de materiais, da programação de máquinas, pessoas e da coordenação de fornecedores e clientes chave. No entanto, para Russomano (2000) o PCP é uma função de apoio e coordenação das várias atividades de acordo com os planos de produção de modo que os programas pré-estabelecidos possam ser atendidos nos prazos e quantidades estabelecidas.

Desta forma o PCP reúne informações de várias áreas, transformando-as em dados, números e indicadores que possam dar suporte a um ambiente de produção, para assim responder as

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necessidades baseando-se na capacidade e na disponibilidade dos fornecedores de matéria prima.

Com a finalidade em gerenciar de forma mais eficiente toda a produção, existem indicadores de desempenho que devem ser acompanhados diariamente, alguns deles são:

Os resultados de volume de produção; A taxa de utilização dos equipamentos; Percentuais de perda e estrago de matéria prima; Produtividade da mão de obra ou homem/hora; Número de horas extras; Percentual de ociosidade, tanto de pessoas quanto equipamentos.

No entanto deve-se medir também a satisfação do cliente, quantidade de retorno do produto que já estava no varejo e erros de quantidade enviada ou recebida. Fatores estes que impactam resultados, mas que devem ser medidos a fim de melhorar os índices de atendimento e aceitação do produto no mercado.

Através deste tipo de acompanhamento, deve-se manter a comunicação com clientes e fornecedores sobre a situação de produção e se haverá alguma alteração inesperada do cenário até então conhecido pela organização, como exemplo a mudança no comportamento ou nível de exigência do consumidor. Este tipo de evento pode impactar diretamente uma organização, principalmente os fornecedores, que neste caso deverão antecipar outros recursos, no entanto em muitos casos não estão preparados para atender a demanda.

O PCP não toma as decisões, mas sim reúne informações que juntamente aos indicadores, dão suporte e facilitam na tomada de decisão da alta gerência. A figura 1 mostra simplificadamente como deve ser o sistema de PCP.

Figura 1 – Sistema de Planejamento e Controle da Produção (simplificado) Fonte: SLACK, 1997

Manter a maior precisão possível no nível e na qualidade das informações que se referem á

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produção são fatores de suma importância para um PCP eficaz. Estas informações tratam-se do conjunto de vários aspectos, dentre eles:

A cadeia de suprimentos; A programação de manutenção; Qualidade da matéria prima; Cumprimento de lotes; Volume; Cumprimento do prazo de entrega do fornecedor; Metas relacionadas á produção; Correta visão de estoque de matéria prima.

Este último fator, a (correta visão de estoque de matéria prima) está diretamente ligado ao planejamento de necessidades de materiais.

2.1. Planejamento de necessidades de materiais

Para Chase, Jacobs e Aquilano (2006), o planejamento de necessidades de materiais na sua forma básica é um programa de computador que determina o quanto de cada item é necessário para completar um número específico de unidades num período específico, sendo que este programa consegue fazer isso entrando no arquivo da lista de materiais e nos arquivos dos registros de estoque para criar uma programação de tempo e o número de unidades necessárias a cada etapa do processo. Acrescentam ainda que o principal propósito está em controlar os níveis de estoque, atribuir as prioridades operacionais e planejar a capacidade para carregar o sistema de produção.

Sendo assim este sistema administra também a carteira de pedidos e desta forma emite ordens de produção baseando-se na quantidade disponível para consumo do qual este próprio sistema esteja enxergando naquele certo momento através de uma interface com o banco de dados que contempla a quantidade de matéria prima no estoque.

Fazendo o cálculo através de um valor ideal para cada subitem da ordem de produção, o planejamento de necessidades de materiais agrupa estas informações e determina se é possível produzir o volume solicitado, ou se deixará de produzir devido à falta de algum material específico ou subitem.

Maiores controles em ambientes produtivos se tornaram necessários de acordo com o aumento da complexidade de produção, da diversificação dos produtos impulsionada pela maior exigência por parte dos consumidores e na redução do volume por lotes.

Mas este controle não seria possível sem a utilização de um sistema computacional, ou mesmo um sistema de gestão empresarial, que através de um banco de dados consiga de forma rápida e confiável reunir inúmeras informações e assim associá-las para facilitar e tornar cada vez mais eficiente o PCP. Inicialmente para a sua implantação, é necessário alto investimento com mão de obra especializada, limpeza da base de dados, suporte ao pessoal, dentre outros, mas os resultados obtidos garantem o retorno principalmente do ponto de vista de impedir que a produção finalize prematuramente devido a informações desencontradas, o que pode ocasionar a falta do produto no mercado e abrir espaço à concorrência.

Por se tratar de um sistema fundamental para a sobrevivência no mercado e ter grande relevância, muitas organizações tentaram implantá-las, no entanto como não houve planejamento do projeto e investimento suficiente algumas delas vieram à falência ou foram obrigadas a realizar fusões com concorrentes, mas neste caso, saindo sempre na desvantagem,

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pois tinham como opção aceitar a junção ou fechar as portas.

Os sistemas de gestão empresarial vieram para facilitar no fornecimento de dados e procedimentos comuns, na disponibilidade de informações em tempo real, facilitando assim as ações a serem tomadas principalmente as de curto prazo. Desta forma houve otimização nos meios que controlam a produção.

Como o PCP tem o princípio de dar suporte ao ambiente de produção que quando foi associado a um sistema de gestão empresarial, ocorreram melhorias significativas no processo como um todo, desde a rapidez das ações necessárias, nas tomadas de decisão que se tornaram mais assertivas, bem como a ocorrência de produções com menores índices de falhas e desvios.

Ações de curto, médio e longo prazo, devem envolver o setor de PCP, pois deve-se levar em consideração a capacidade de todos os recursos envolvidos, seja de mão de obra, equipamentos, fornecedores, entre outros. Com base nestes fatores, é fundamental que haja também uma comunicação transparente entre os envolvidos, para que decisões precipitadas não sejam tomadas antes de serem analisadas, visando não colocar o ambiente produtivo e a própria organização em risco.

3. Gestão de estoques

A gestão de estoques é uma atividade que tem como foco o gerenciamento por meio de técnicas que auxiliam a manter em equilíbrio o consumo de materiais, definindo parâmetros e níveis de reabastecimento baseado em estoque de segurança, data de entrega, consumo planejado versus real, entre outros fatores. È responsável pelo controle econômico dos estoques, visando maximizar a utilização dos recursos mantendo alinhadas as áreas de logística e de produção de tal forma que não acumule e não falte material. Esta interação entre áreas facilita e permite á organização o maior controle de diferentes setores, que originalmente, tinham visões e estratégias diferentes.

No entanto, Viana (2002) resume a atividade de “gestão” como uma ferramenta que visa o gerenciamento de estoques por meio de técnicas que permitam manter o equilíbrio com o consumo, definindo parâmetros e níveis de ressuprimento e acompanhando sua evolução.

Controlar o nível dos estoques é primordial e definitivamente importante para garantir o bom resultado da empresa. Desta forma, para Bertaglia (2003) as organizações devem ter uma preocupação especial com o volume dos seus estoques, as quantidades á serem obtidas e os recursos capacitados para administrá-las.

A eficiência no controle e gestão dos estoques pode significar agregação de diferenciais competitivos que virão a influenciar em uma sobrevivência eficaz num mercado cada vez mais seletivo e exigente, sendo assim, este controle inicia-se desde o recebimento dos materiais, para que haja garantia da qualidade da matéria prima até a sua completa transformação em produto acabado, podendo reduzir os tempos de processamento do produto, o que resultará em maior produtividade e menor tempo de entrega.

Os números de lotes devem ser controlados e obrigatoriamente seguidos, garantindo que o primeiro que entre, seja o primeiro a sair, evitando assim possíveis perdas de matéria prima decorrentes ao vencimento do prazo de validade.

As devoluções devem sempre passar por auditorias, visando garantir que a quantidade informada sistemicamente, seja a mesma que a quantidade física. Da mesma forma, os materiais que chegam aos armazéns para serem descarregados, também devem passar por

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vistoria, garantindo que não esteja chegando quantidade a maior ou a menor que o informado pelas notas fiscais.

A boa estocagem, por se tratar de um fator fundamental para garantir que o material bom não se deteriore, deixou de ser feita em locais úmidos, escuros ou ao fundo das organizações e passou a ocupar estanterias verticais, ambientes climatizados, áreas exclusivas e devidamente sinalizadas. Isso ocorreu devido as grandes organizações identificarem este fator como uma área de oportunidade para a redução de perdas e gastos desnecessários.

Atualmente, qualquer tipo de armazenagem é facilmente controlada utilizando os sistemas computacionais, e não mais pranchetas e as muitas folhas de contagem de estoque como antigamente.

3.1 Estoque

Pelo conceito de indústria, estoque é todo material ou matéria prima que está armazenado aguardando o início de sua transformação ou consumo, mas que possui valor econômico devido ao custo de aquisição.

Para Slack (2002), estoque refere-se á acumulação armazenada e recursos materiais em um sistema de transformação, sendo assim transmite um entendimento de que todo e qualquer estoque representa capital ocioso na organização, evidenciando uma ineficiência da gestão de estoques. No entanto, Corrêa, Gianesi & Caon (1997), alertam que os estoques não devem ser reduzidos à zero, conforme premissa dos sistemas japoneses, para eles o que se deve buscar seria a não existência de um grama a mais de estoque do que a quantidade exatamente necessária estrategicamente.

Se há elevado estoque, menor será o capital de giro, logo o poder de barganha diminuirá, haverá o risco de perda do material devido ao vencimento do prazo de validade, possível sucateamento ou mesmo algum incidente, além da grande ocupação física.

Para Abreu (1997), definir qual o nível de estoques que o sistema produtivo deverá operar, constitui-se em uma atividade complicada, já que a existência do mesmo representa custos para a empresa, e por outro lado, é essencial para o funcionamento do sistema, no entanto a ausência do mesmo pode provocar parada na produção ou representar o não atendimento aos clientes.

Para Bertaglia (2003), muito se tem comentado sobre as pressões que os estoques excessivos representam para a lucratividade das organizações. Dentre as situações que dificultam o controle dos estoques, estão:

Ciclos de vida cada vez mais curtos dos produtos, o que os tornam cada vez mais obsoletos, como é o caso dos eletrônicos e automóveis;

Flutuação da demanda; Processo cada vez mais comum de customização, causando dificuldades de planejamento.

O autor ainda complementa afirmando a necessidade de usar todos os princípios, conceitos e técnicas para se conhecer quais itens pedir, quanto pedir, quando são necessários, como e onde armazená-los.

Como não é possível eliminar todo o estoque, há a necessidade de se calcular o quanto deve ser o estoque de segurança, pois é ele quem define qual será o estoque mínimo que deverá existir na fábrica a fim de continuar atendendo a demanda. O estoque de segurança é aquele que dá proteção ou margem as possíveis irregularidades ou aumento inesperado de demanda dos materiais.

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Para Chase, Jacobs e Aquilano (2006) o estoque de segurança pode ser definido como a quantidade de estoque necessária além da demanda esperada e que deve, portanto ser mantido para prover certo nível de proteção contra a falta de matéria prima. Sendo assim ele deve garantir que o processo produtivo não pare e que independente do que ocorrer com as variáveis de um processo, o produto final seja entregue com a mesma qualidade e no tempo certo, não permitindo que haja impactos na satisfação do cliente.

Para facilitar no controle dos estoques, existem algumas técnicas, dentre elas o inventário físico de estoque.

4. Inventários Físicos

Uma empresa organizada, com foco em resultados e que efetivamente controla tudo o que ocorre em chão de fábrica, deve ter uma estrutura de controle de materiais com políticas e procedimentos claramente definidos.

Sendo assim, o inventário físico é definido, segundo Viana (2002) como sendo o estabelecimento de auditoria permanente de estoques, objetivando garantir a plena confiabilidade e exatidão de registros contábeis e físicos, essencial para que o sistema funcione com a eficiência requerida.

Uma das funções do inventário físico é manter a precisão nas contagens e registros de estoque, que podem ser feitos em simples planilhas, mas para melhor controle deve-se utilizar um sistema computacional. Reforçando o parágrafo anterior, Bertaglia (2003) afirma que dificilmente será encontrada uma organização que controle o fluxo de materiais sem a utilização de ferramentas computadorizadas, desde aplicativos simples, até os mais complexos que se baseiam em códigos de barras.

Uma vez que o armazém, almoxarifado ou depósito tem como principal função preservar a qualidade e o controle físico de todo o estoque, as operações em termos de movimentações devem estar bem alinhadas e de encontro aos objetivos de custo e de serviços pretendidos pela alta gerência da organização.

O ideal da realização deste controle seria semanalmente, mas há situações em que o número de materiais recebidos e as quantidades que saem do estoque são muito pequenas, sendo possível realizá-lo mensalmente, semestralmente ou até uma vez por ano. No entanto para Martins e Campos (2003) o inventário físico pode ser classificado e realizado de duas formas: O periódico e o rotativo.

Inventários periódicos: São realizados ao término do exercício, abrangem todos os itens de uma só vez. O tempo para realizar este procedimento completo é relativamente alto e requer em alguns casos até mais de uma semana por tratar de quantidades elevadas de itens além das análises das causas de tal divergência e o acerto sistêmico.

Inventários rotativos: Trata-se de uma distribuição de contagens ao longo do ano, mas que ocorre todos os meses, sendo que em cada período deste é feita a contagem em diferentes grupos de mercadoria. Sendo assim, abrange através de uma programação todos os itens do estoque ao longo do ano. Em muitas das vezes, as contagens são distribuídas de acordo com a relevância e a quantidade consumida destes materiais, por exemplo:

a) Grupo de mercadoria A: São contados os itens mais significativos, por representarem maior valor em estoque, por serem estratégicos e essenciais para a produção;

b) Grupo de mercadoria B: São contados os itens de importância intermediária em relação ao valor de estoque, estratégia e manejo;

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c) Grupo de mercadoria C: Serão formados pelos demais itens, normalmente composto por muitos códigos diferentes, com pequenas quantidades e representarem baixo valor.

Para Bertaglia (2003) a grande vantagem nesta segunda opção (rotativo) está na possibilidade de descobrir as causas que propiciam os erros no processo, sendo assim uma vez encontrada, é mais simples tratar a causa raiz, pois como os estoques costumam ser muito dinâmico, quanto mais demorar a identificação da causa, maior será o tempo gasto para a solução. Independente da forma de contagem, como resultado busca-se a identificação de possíveis falhas, tais como:

Discrepâncias entre o saldo físico e o sistêmico (contábil); Variação na quantidade física na prateleira ou posição de estanterias; Confirmação do valor total de estoque para efeito de encerramento do ano fiscal e até

mesmo para a valorização dos itens parados aguardando futuras produções.

4.1. Preparação e planejamento para a realização do inventário físicoA preparação e o planejamento são de fundamental importância á organização para que seja realizada uma boa contagem objetivando bons resultados e evitando retrabalhos. Para isso, é necessário:

Garantir que as requisições de compra tenham seus respectivos pedidos aprovados pelo setor de cadeia de suprimentos;

Garantir que todas as notas fiscais referentes ao período estejam no sistema; Definir a equipe de colaboradores e conferentes que realizarão a contagem do inventário

físico; Disponibilizar as folhas de contagem ou leitores óticos aos colaboradores; Verificar a organização física de estanterias, embalagens e paletes.

4.2. Organização física e sistêmicaA organização das áreas e itens a serem contados, deverá ser disponibilizada da melhor maneira possível, devendo agrupar em estanterias ou paletes os produtos iguais, identificando os materiais com seus respectivos códigos, deixando os corredores livres e desimpedidos facilitando a movimentação tanto de pessoas e também de máquinas que podem ajudar no trabalho.

Equipamentos, tais como: balanças, empilhadeiras, paleteiras e escadas devem ser providenciadas e aferidas (balanças) com antecedência, visando não causar imprevistos e atrasos.

Quando esta contagem é realizada com a fábrica parada, é considerada uma atividade simples. No entanto, quando a organização tem seu regime de produção constante e sem interrupção, esta atividade precisa de atenção redobrada e certos cuidados, para que ao término, o inventário não deixe de corresponder ao esperado.

Sendo assim, é necessário evitar movimentações físicas e sistêmicas, em alguns casos o ideal seria bloqueá-las, isso somente durante a realização das contagens e solicitar ao departamento de suprimentos que determine junto aos fornecedores para que não haja envio e abastecimento de material na organização durante este período. Para isso, o setor de produção deverá fazer com antecedência a requisição física de toda a matéria prima que será consumida durante os dias de contagem e o pessoal de controle deverá fazer este envio sistêmico anterior ao início desta atividade.

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4.3. Contagem de estoqueToda e qualquer contagem deverá ser conferida, ou seja, são feitas duas contagens a fim de confrontá-las e desta forma identificar alguma falha. A primeira equipe de contadores fará a contagem, observando minuciosamente em que unidade de medida o item está cadastrado, evitando, por exemplo, que um material que foi comprado em quilogramas, seja contado em unidades.

Feita a contagem em todos os itens, a segunda equipe entra em ação fazendo a mesma contagem, que deve ser realizada em folhas ou leitores diferentes e ao término deve-se fazer o confronto destas informações. Se os valores coincidirem, aquele item estará marcado como correto, caso contrário, deverá haver a terceira contagem, se possível com outra equipe, a fim de identificar a possível falha. Uma vez conferida a quantidade, este item poderá retornar a sua posição inicial de estanteria, diminuindo a ocupação física e desafogando o pessoal envolvido no trabalho.

4.4. Ajustes de inventárioOs setores responsáveis pelo controle de estoque deverão buscar justificativas para as variações ocorridas entre o estoque físico e sistêmico. Desta forma, as diferenças deverão ser corrigidas, sendo necessário fazer a valorização da quantidade que está divergente.

No caso de quantidade sistêmica maior que a quantidade física, uma das formas de corrigir é emitindo uma nota fiscal, descrevendo o motivo e o valor envolvido que será dado a baixa pelo setor contábil da organização. Em caso de quantidade física maior que sistêmica, uma forma de corrigir é descartando fisicamente a quantidade excedente, deixando o saldo físico igual o sistêmico.

Muitas vezes a busca da causa raiz pode levar a identificação de áreas extremamente críticas, que até então não tinham a atenção devida, pois pode se tratar de dificuldades no manuseio, até mesmo na capacidade de as pessoas registrarem as informações nos sistemas de controle, podendo ser elas as responsáveis por possíveis desvios.

5. Desenvolvimento

5.1. A correlação entre o inventário físico de estoques, a gestão de estoques e o PCP

Dentre as várias funções do PCP, a gestão de estoque tem grande representatividade no todo, devido ao grande fluxo de atividades e informações geradas, além de envolver várias áreas e setores desde a produção, a logística e suprimentos.

Para que uma organização possa se sobressair na gestão de estoques, esta deve ter as informações alinhadas com o PCP, para planejar e manter controle de recursos e de desempenho dos mais variados fatores do processo produtivo, buscando responder as mudanças internas e externas.

Segundo Russomano (2000), o PCP é uma função de apoio e coordenação das várias atividades de acordo com os planos de produção de modo que os programas pré-estabelecidos possam ser atendidos nos prazos e quantidades.

Já a gestão de estoques pode ser entendida como o planejamento, organização e controle dos recursos materiais guardados em um sistema de transformação. O objetivo da gestão de estoques de acordo com Russomano (2000) é buscar não deixar faltar material sem imobilizar demasiadamente os recursos financeiros, um detalhe importante na gestão de estoques é

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definir o momento certo do ressuprimento do item, para atender às necessidades da demanda.

No entanto, Bertaglia (2003) cita que a compreensão dos objetivos estratégicos da existência do gerenciamento dos estoques é fundamental para definir metas, funções, tipos de estoque e a forma como eles afetam as organizações em suas atividades produtivas e de relacionamento com o mercado.

Para Ballou (1993) os estoques consomem grandes somas de capital que poderiam ser utilizadas em outros projetos da empresa, mas que, no entanto é necessário manter o nível de serviço ao cliente, assim como a operação eficiente das atividades de produção e distribuição. Sendo assim Ballou (1993) conclui afirmando que o gerenciamento dos estoques é essencial.

Já a programação de necessidades de materiais tem papel fundamental no PCP, principalmente após a atualização da quantidade de estoque, que na sequência dará visão ao PCP do que será possível produzir e do que deixará de ser produzido devido á falta de algum subitem. Desta forma foi apresentado por Solon e Finotti (2010) um artigo sobre a programação de necessidades de materiais em uma indústria de química pesada. Segundo Solon e Finotti (2010) o artigo atingiu o objetivo de apresentar uma análise para desenvolver sistemática de planejamento para a linha de produção sob demanda e para reposição de estoques de modo a garantir o ressuprimento do estoque de matérias-primas, a acuracidade das informações de toda a cadeia produtiva, como também o objetivo maior de elevar o nível de satisfação do consumidor final, tornando-se assim mais forte junto à concorrência globalizada. Pois, quando há uma gestão eficiente de estoques, consegue-se reduzir os custos operacionais e de armazenagem, consegue alimentar de forma eficiente a produção sem deixar faltar matérias-primas, e principalmente consegue reduzir o tempo de entrega dos produtos ao consumidor final, elevando a satisfação e, por conseguinte o nível de serviço.

Mas para que este fluxo ocorra sem falhas, é extremamente importante a realização dos inventários físicos, pois esta atividade é a base fundamental quando se quer uma correta gestão de estoques e visão do que realmente existe de material armazenado ou aguardando transformação, para que assim seja formado o PCP.

Para Martins e Campos (2003) o inventário físico é definido como uma contagem física em estoque e cita que podem ser realizados de duas formas, o periódico e o rotativo. Mas para Viana (2002), o inventário físico trata-se de uma contagem periódica dos materiais existentes para efeito de comparação com os estoques registrados e contabilizados em controle da empresa a fim de comprovar sua existência e exatidão.

Já Ballou (1993) cita que as auditorias são essenciais no sistema de estocagem e que muitos ajustes nos registros de estoque somente são realizados após o esgotamento da demanda, no reabastecimento, nas devoluções ou ás obsolescências dos produtos, mas que também outros fatores podem provocar divergências entre os registros no sistema e os estoques reais, como por exemplo: erros nas quantidades de lançamento, produtos danificados, falhas em relatórios entre outros.

Baseado na quantidade física de estoque após o término de um inventário físico pode-se calcular o quanto chegou, o quanto foi consumido e o quanto virou produto acabado, sendo a diferença entre estes dois, o resultado de estrago de matéria prima em determinado período.

Desta forma também é possível calcular a representatividade que o estoque está exercendo e assim auxiliar no monitoramento e desempenho deste controle, pois segundo Bertaglia (2003), os estoques incorrem em custos, oneram o capital, ocupam espaço e necessitam de gerenciamento tanto na entrada como na saída, pois caso contrário, podem tornar-se obsoletos e ultrapassados.

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Na figura 2, está representada a importância que cada uma destas atividades tem em um ambiente produtivo, sendo destacadas as suas vantagens e desvantagens, para assim facilitar o entendimento.

Figura 2 – As vantagens e desvantagens em utilizar cada tipo de controle (PCP, gestão de estoques e inventários físicos de estoque)

Fonte: Elaborado pelo autor

De acordo com a figura 2, estão representadas as vantagens e desvantagens para cada tipo de atividade, mas que, no entanto, funcionam melhor quando trabalham juntas, pois não haverá benefícios para a organização em implantar um PCP sem a gestão de estoques, ou mesmo tentar realizar gestão de estoques sem a realização dos inventários físicos. Sendo assim o ideal seria manter e instalar estas três ferramentas, mesmo conhecendo algumas das desvantagens, como por exemplo, o elevado custo de implementação.

No entanto já está mais do que claro em relação aos benefícios de realizar controles que envolvam a produção, inicialmente pode-se parecer inviável, mas com o passar do tempo, o nível na qualidade das informações aumentarão, juntamente a acuracidade dos dados, o tempo de resposta aos imprevistos irão reduzir, havendo melhor atendimento aos padrões da empresa e fazendo valer o investimento.

5. ConclusãoDe acordo com o que foi citado neste artigo, para que uma empresa possa se sobressair na realização de um bom PCP, esta deve ter as informações alinhadas com a gestão de estoques, que por sua vez deverá ter uma ligação direta na realização dos inventários físicos. Sendo assim, será possível planejar e manter controle de recursos e desempenho dos mais variados fatores do processo produtivo, buscando responder as mudanças internas e externas.

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Por sua vez, a gestão de estoques sendo entendida como o planejamento, organização e controle dos recursos materiais guardados em um sistema de transformação, terá seu papel fundamental, pois o PCP somente planejará depois de informadas as quantidades em estoque para cada subitem.

Já o planejamento de necessidades de materiais, efetua a solicitação, emite os pedidos de compra e cria a requisição dos mesmos, caso não haja em estoque e assim sinaliza o que poderá ser produzido e também quais são os subitens que apresentaram falta de estoque.

Mas para que tal situação ocorra sem falhas, é extremamente importante a realização dos inventários físicos, pois esta atividade é a base fundamental quando se quer uma correta gestão de estoques e visão do que realmente existe de material armazenado ou aguardando transformação.

Enfim, a implantação destas ferramentas de controle, que trabalham melhor quando estão de forma integrada, demostra ser um bom investimento, mas que depende da alta gerência da organização querer ou não criar esta estrutura organizacional.

Como principal ponto forte do qual citamos neste artigo, está o agrupamento das informações, aumentando a rapidez nas tomadas de decisão bem como na assertividade delas, obtendo maior controle das quantidades e do valor presente em estoque, bem como evitar situações indesejadas em um ambiente produtivo, como o não cumprimento de produções por falta de matéria prima ou mesmo elevadas quantidades de sobra de material devido a falta de um controle que poderia ser solucionado com um simples inventário físico de estoques.

Quanto aos pontos fracos, os mais significativos tratam-se do custo de implementação, seguido da necessidade de reorganização dos processos, desde o aumento no número do pessoas que sejam conhecedoras da área e que tenham formação adequada, até na necessidade de aquisição de recursos computacionais, com treinamento, sendo necessária manutenção nas redes informatizadas e aumento no espaço físico.

O objetivo de desenvolvimento deste artigo buscou tratar as vantagens, desvantagens e a funcionalidade de três ferramentas (PCP, gestão de estoques e inventários físicos) que trabalhando juntas poderão trazer resultados surpreendentes a organização, mas que estando elas separadas, podem não trazer bons resultados, por se tornam incompletas e incapazes de responder as inúmeras variáveis de um ambiente produtivo.

Portanto, neste artigo, buscou-se analisar a importância existente na correlação entre a realização dos inventários físicos de estoque, a gestão de estoques e o PCP, por se tratar de atividades que devem trabalhar em conjunto devido à sua representatividade no todo, por serem responsáveis pela formatação das informações e assim maximizá-las, transformando-as em indicadores, que serão analisados e servirão como base para tomadas de decisão que podem representar a sobrevivência ou não de uma organização em um mundo de concorrência globalizada, favorecendo assim para que haja produções cada vez mais enxutas, reduzindo perdas no processo ou gastos desnecessários e aumentando a lucratividade das organizações.

Referências

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ABREU, L. F. P. Gestão de estoque. Gestão de operações: a engenharia de produção a serviço da modernização da empresa. São Paulo: Edgard Blücher, 1997

BALLOU, R. H. Logística empresarial: transportes, administração de materiais e distribuição física. Tradução Hugo T. Y. Yoshizaki. 1 ed. São Paulo: Atlas, 1993.

BERTAGLIA, P. R. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. 1. Ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

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