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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL IMPLANTAÇÃO DE CICLOVIAS E CICLOFAIXAS EM UM TRECHO URBANO - ESTUDO DE CASO: CIDADE DE SANTA MARIA, RIO GRANDE DO SUL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Bianca Cassanego Mensch Santa Maria, RS, Brasil 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

IMPLANTAÇÃO DE CICLOVIAS E CICLOFAIXAS EM UM TRECHO URBANO - ESTUDO DE CASO:

CIDADE DE SANTA MARIA, RIO GRANDE DO SUL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Bianca Cassanego Mensch

Santa Maria, RS, Brasil 2015

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IMPLANTAÇÃO DE CICLOVIAS E CICLOFAIXAS EM TRECHOS URBANOS - ESTUDO DE CASO: CIDADE DE

SANTA MARIA, RIO GRANDE DO SUL

Bianca Cassanego Mensch

Trabalho apresentado ao Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito

parcial para obtenção do grau de Engenheira Civil.

Orientador: Prof. Dr. Eng. Carlos José Antônio Kümmel Félix

Santa Maria, RS, Brasil 2015

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Ficha catalográfica elaborada por Nome do(a) bibliotecário(a) e número do CRB Biblioteca Central da UFSM © 2015 Todos os direitos autorais reservados a Bianca Cassanego Mensch. A

reprodução de partes ou do todo deste trabalho só poderá ser feita mediante a citação da fonte.

Endereço: Avenida Nossa Senhora Medianeira, nº 678, apartamento 401 Bairro Nossa Senhora Medianeira, Santa Maria, RS. CEP 97060-000. Fone (0xx)55

81186560; E-mail: [email protected]

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Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Tecnologia Curso de Engenharia Elétrica

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

IMPLANTAÇÃO DE CICLOVIAS E CICLOFAIXAS EM TRECHOS URBANOS - ESTUDO DE CASO: CIDADE DE SANTA MARIA, RIO

GRANDE DO SUL

elaborado por Bianca Cassanego Mensch

como requisito parcial para obtenção do grau de

Engenheira Civil

COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof. Dr. Eng. Carlos José Antônio Kümmel Félix (Orientador - UFSM)

Prof. Me. Eng. Fábio Pereira Rossato (URI)

Prof. Me. Eng. Usama Samara (UFSM)

Santa Maria, 22 de julho de 2015.

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AGRADECIMENTOS

Os meus maiores e mais sinceros agradecimentos são aos meus pais, meus

maiores incentivadores, pela educação que proporcionaram a mim, e pelo amor

incondicional e valores que sempre estiveram presentes na minha criação.

A minha mãe, meu alicerce, meu exemplo de resiliência e fé, que mesmo nos

momentos mais críticos da minha vida acadêmica nunca me deixou fraquejar,

sempre me impulsionando a frente e acreditando no meu potencial.

Ao meu pai, pelo seu amor pelo conhecimento, pela sua incansável busca por

sabedoria, sempre se empenhando para dar o seu melhor, a todos, por dedicar-se

com tanto amor a nossa família.

Ao meu irmão, meu orgulho, por ser tão presente na minha vida mesmo

quando distante, por sempre fazer parte das minhas escolhas, me guiando sempre

pelo melhor caminho, caminhos estes que muitas vezes percorreu na minha frente,

como garantida para eu obter êxito ao final.

Ao Mateus José, pelo companheirismo, carinho e amor dedicados a mim ao

longo dessa jornada. Por estar ao meu lado e me conferir forças quando precisei,

bem como celebrar juntos cada pequena vitória.

Ao professor Carlos Félix, um apaixonado pelo que faz, pelo seu entusiasmo

e amor no que transmite aos seus alunos. Pelo incentivo e orientação dada, não

somente na realização desse trabalho, como em diversas outras oportunidades que

tive de ser sua aluna.

Aos amigos, colegas e professores, que de alguma forma participaram dessa

caminhada comigo, que foi mais longa do que de costume, mas muito bem

aproveitada, me fazendo acreditar que nem sempre o fim é o principal, mas sim o

caminho que percorremos.

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RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Engenharia Civil

Universidade Federal de Santa Maria

IMPLANTAÇÃO DE CICLOVIAS E CICLOFAIXAS EM TRECHO URBANOS – ESTUDO DE CASO: CIDADE DE SANTA MARIA, RIO

GRANDE DO SUL

AUTORA: BIANCA CASSANEGO MENSCH ORIENTADOR: CARLOS JOSÉ ANTÔNIO KÜMMEL FÉLIX

Data e Local da Defesa: Santa Maria, 22 de julho de 2015.

A busca pelo equilíbrio com a natureza, por modos de vida mais sustentáveis em

harmonia com o meio ambiente tem sido foco de debates entre a população em

geral, bem como entre gestores e planejadores urbanos. Para alcançar esse

objetivo, deve-se debater a mobilidade urbana, onde os meios de transportes não

motorizados vêm ganhando notoriedade. Através da Lei 12.587 de janeiro de 2012 -

a Lei da Mobilidade, que institui diretrizes para o planejamento da mobilidade

urbana, os municípios do Brasil passaram a dedicar atenção especial para essa

questão, que por muito tempo teve pouco espaço dentro dos debates, de modo a

promover melhorias nos serviço de transporte público, infraestrutura urbana,

acessibilidade, entre outros fatores. Tudo isso da forma mais amigável possível ao

meio ambiente. É nesse contexto que o modal cicloviário passou a ganhar destaque.

Visando essas novas questões, esse trabalho tem por objetivo fazer um estudo de

caso baseado no Plano Diretor de Mobilidade elaborado para a cidade de Santa

Maria pelo Instituto de Planejamento Urbano em relação ao planejamento cicloviário

da cidade, avaliando as condições da rede cicloviária atualmente implantada na

cidade, e se esta atende as necessidades e expectativas dos usuários, a fim de

observar se o espaço urbano pode vir a fazer parte dos muitos exemplos nacionais e

internacionais no que diz respeito à mobilidade sustentável. Palavras-chave: Ciclovia. Ciclofaixa. Plano diretor de mobilidade urbana. Plano

diretor cicloviário.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: CICLO DOS CONGESTIONAMENTOS ................................................................. 12

FIGURA 2: VIAGENS POR ANO, POR MODO PRINCIPAL (BILHÕES DE VIAGENS) – 2012. ........ 16

FIGURA 3: DIVISÃO MODAL – 2012. ............................................................................... 16

FIGURA 4: DIVISÃO MODAL POR PORTE DO MUNICÍPIO – 2012. ......................................... 17

FIGURA 5: ALTERAÇÃO NO ALINHAMENTO HORIZONTAL DA VIA. ......................................... 19

FIGURA 6: ESTREITAMENTO AO LONGO DA VIA COM BAIA DE ESTACIONAMENTOS. .............. 19

FIGURA 7: REFÚGIO PARA PEDESTRES NO CANTEIRO CENTRAL DA VIA. ............................. 20

FIGURA 8: MINI-RÓTULA ORGANIZANDO O FLUXO NA VIA. ................................................. 20

FIGURA 9: ZONA DE TRÁFEGO COMPARTILHADO. ............................................................. 21

FIGURA 10: SONORIZADORES AO LONGO DA VIA. ............................................................ 21

FIGURA 11: ESPAÇO ÚTIL DO CICLISTA. .......................................................................... 31

FIGURA 12: EXEMPLO DE CICLOVIA (UNIDIRECIONAL E BIDIRECIONAL). .............................. 33

FIGURA 13: EXEMPLO DE CICLOVIA UNIDIRECIONAL SEM DESNÍVEL. .................................. 34

FIGURA 14: EXEMPLO DE CICLOVIA UNIDIRECIONAL COM DESNÍVEL. .................................. 34

FIGURA 15: EXEMPLO DE CICLOVIA UNIDIRECIONAL COM VEGETAÇÃO LATERAL. ................. 35

FIGURA 16: EXEMPLO DE CICLOVIA BIDIRECIONAL. .......................................................... 35

FIGURA 18: TRECHO DE CICLOVIA EM PATAMARES AO LADO DE UMA RODOVIA. .................. 36

FIGURA 19: EXEMPLO DE CICLOFAIXA COMUM. ............................................................... 38

FIGURA 20: ESPAÇO REQUERIDO NOS ESTACIONAMENTOS. ............................................. 39

FIGURA 21: PARACICLO NA CIDADE DE SÃO PAULO. ........................................................ 40

FIGURA 22: PARACICLO NA CIDADE DE LONDRES. ........................................................... 40

FIGURA 23: BICICLETÁRIO INDIVIDUAL, DO TIPO “BICICLEX” COM SISTEMA DE

COMPARTILHAMENTO. ........................................................................................... 41

FIGURA 24: BICICLETÁRIO NO LARGO DA BATATA NA CIDADE DE SÃO PAULO. ................... 41

FIGURA 25: MODO DE TRANSPORTE VERSUS TEMPO DE VIAGEM. ...................................... 45

FIGURA 26: ESPAÇO CONSUMIDO POR MODO DE TRANSPORTE. ........................................ 46

FIGURA 27: ESPAÇO CONSUMIDO POR MODO. ................................................................ 48

FIGURA 28: PARACICLO PERSONALIZADO NA COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA -

COPEL. .............................................................................................................. 49

FIGURA 29: BICICLETÁRIO EM ESCOLA MUNICIPAL DE NOVA SANTA RITARS. ................... 50

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FIGURA 30: DELIVERY POR BICICLETA, REALIZADO PELA EMPRESA ESPECIALIZADA ECOBIKE

COURIER EM PORTO ALEGRERS. ......................................................................... 50

FIGURA 31: BICICLETA UTILIZADA COMO “FOOD BIKE” NA VENDA DE CACHORRO QUENTE. .. 51

FIGURA 32: BICITÁXI NA CIDADE DE BARCELONA. ............................................................ 51

FIGURA 33: ESQUEMA DE UM ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO DE MOBILIDADE POR BICICLETAS. . 56

FIGURA 34 – LOCAL DISPONIBILIZADO PARA TRANSPORTE DE BICICLETAS DENTRO DE ÔNIBUS

EM BELO HORIZONTE. ........................................................................................... 63

FIGURA 35: BICICLETÁRIO JUNTO À ESTAÇÃO DA CTPM EM MAUÁ. .................................. 64

FIGURA 36: ESPAÇO DESTINADO À BICICLETA DENTRO DE VAGÃO DO TRENSURB. .............. 65

FIGURA 37: BICICLETÁRIO NA ESTAÇÃO DE SÃO LEOPOLDO DO TRENSURB. ...................... 65

FIGURA 38: FATORES QUE IMPEDEM A INTEGRAÇÃO PARA OS POTENCIAIS USUÁRIOS. ........ 66

FIGURA 39: MOTIVOS DA FALTA DE INTERESSE PELA INTEGRAÇÃO. ................................... 66

FIGURA 40: CENA DO DOCUMENTÁRIO HOW THE DUTCH GOT THEIR CYCLE PATHS, ONDE

CICLISTAS PROTESTAM EM FRENTE AO PALÁCIO REAL EM AMSTERDAM. ..................... 69

FIGURA 41: ESTACIONAMENTO FLUTUANTE NA ESTAÇÃO CENTRAL DE AMSTERDAM. .......... 70

FIGURA 42: AS 20 CIDADES MAIS AMIGÁVEIS DO MUNDO COM BICICLETAS. ........................ 71

FIGURA 43: MAPA DO VELIB’. ........................................................................................ 73

FIGURA 44: ROTAS CICLÁVEIS DO SISTEMA TRANSMILÊNIO COM LOCALIZAÇÃO DOS

ESTACIONAMENTOS PARA BICICLETA. ...................................................................... 74

FIGURA 45: MAPA CICLOVIÁRIO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. ...................................... 76

FIGURA 46: CICLOVIA DA AVENIDA PAULISTA EM SÃO PAULO, NO DIA DE SUA INAUGURAÇÃO.

........................................................................................................................... 77

FIGURA 47: MALHA CICLOVIÁRIA DA CIDADE DE PORTO ALEGRE. ..................................... 78

FIGURA 48: CARACTERIZAÇÃO DA MOBILIDADE EM SANTA MARIA. ................................... 81

FIGURA 49: OBJETIVOS QUANTO À MOBILIDADE SUSTENTÁVEL DA UNIÃO EUROPEIA. ......... 81

FIGURA 50: DIVISÃO MODAL POR RENDA. ....................................................................... 82

FIGURA 51: DIVISÃO MODAL POR GÊNERO. ..................................................................... 82

FIGURA 52: DIVISÃO MODAL NA POPULAÇÃO DE ESTUDANTES. ......................................... 83

FIGURA 53: DIVISÃO MODAL NA POPULAÇÃO DE TRABALHADORES. ................................... 84

FIGURA 54: DEFINIÇÃO DAS ZONAS DE TRÁFEGO. ........................................................... 84

FIGURA 55: DENSIDADE DE DESLOCAMENTOS. ............................................................... 85

FIGURA 56: PRINCIPAIS RELAÇÕES DE MOBILIDADE. ........................................................ 86

FIGURA 57: DESLOCAMENTOS POR MOTIVOS DE ORIGEM ................................................ 87

FIGURA 58: DESLOCAMENTOS POR MOTIVOS DE DESTINO. .............................................. 87

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FIGURA 59: DESLOCAMENTOS HBW, HBS E HBO. ........................................................ 88

FIGURA 60: MODO X MOTIVO DE ORIGEM. ...................................................................... 88

FIGURA 61: MODO X MOTIVO DE DESTINO. ..................................................................... 89

FIGURA 62: SENTIDOS DE CIRCULAÇÃO EM SANTA MARIA. .............................................. 90

FIGURA 63: PROPOSTA CICLOVIÁRIA. ............................................................................. 92

FIGURA 64: LOCALIZAÇÃO DA CICLOFAIXA DA AVENIDA JOÃO MACHADO SOARES. ............. 93

FIGURA 65: CONDIÇÕES DA CICLOFAIXA DA AV. JOÃO MACHADO SOARES ........................ 95

FIGURA 66: CONDIÇÕES DA CICLOFAIXA DA AV. JOÃO MACHADO SOARES ....................... 96

FIGURA 67: CICLISTAS NA AV. JOÃO MACHADO SOARES. ................................................ 96

FIGURA 68: LOCALIZAÇÃO CICLOVIA AVENIDA HÉLVIO BASSO. ......................................... 97

FIGURA 69: CONDIÇÕES ATUAIS DA CICLOVIA DA AV. HÉLVIO BASSO. ............................... 99

FIGURA 70: CICLOVIA DA AV. HÉLVIO BASSO NA SUA INAUGURAÇÃO. ............................... 99

FIGURA 71: LOCALIZAÇÃO CICLOVIA AVENIDA MAESTRO BORGES RIBAS E AVENIDA DON IVO

LORSCHEITER. .................................................................................................... 100

FIGURA 72: ACÚMULO DE LIXO AO LONGO DA CICLOVIA NO TRECHO DA AV. MAESTRO RIBAS.

......................................................................................................................... 102

FIGURA 73: TRECHO DA CICLOVIA DA AV. MAESTRO RIBAS. .......................................... 102

FIGURA 74: CRUZAMENTO E ENCONTRO DOS TRECHOS DA AV. MAESTRO RIBAS E AV. D. IVO

LORSCHEITER. .................................................................................................... 103

FIGURA 75: PAVIMENTO PRECÁRIO NO TRECHO DA CICLOVIA NA AV. D. IVO LORSCHEITER.

......................................................................................................................... 103

FIGURA 76: FALTA DE SINALIZAÇÃO DA CICLOVIA NO TRECHO DA AV. D. IVO LORSCHEITER.

......................................................................................................................... 104

FIGURA 77: SINALIZAÇÃO DA CICLOVIA DA AVENIDA DOS QUARTÉIS. .............................. 105

FIGURA 78: CICLOVIA LOCALIZADA NO SENTIDO DE QUEM VAI AOS QUARTÉIS. .................. 106

FIGURA 79: MUDANÇA DE LADO DA CICLOVIA. ............................................................... 106

FIGURA 80: CICLOVIA LOCALIZADA NO SENTIDO DE QUEM VOLTA DOS QUARTÉIS. ............. 107

FIGURA 81: LOCALIZAÇÃO DA CICLOFAIXA DA BR-158. ................................................. 107

FIGURA 82: INTERSEÇÃO DA CICLOVIA DA AVENIDA DOS QUARTÉIS COM A CICLOFAIXA DA

BR-158. ............................................................................................................ 108

FIGURA 83: INÍCIO DA CICLOFAIXA DA BR-158. ............................................................. 109

FIGURA 84: CICLISTAS NA CICLOFAIXA DA BR-158. ...................................................... 109

FIGURA 85: LOCALIZAÇÃO DA CICLOFAIXA DE LAZER AO LONGO DA AVENIDA NOSSA

SENHORA MEDIANEIRA. ....................................................................................... 110

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FIGURA 86: DETALHE DA CICLOFAIXA NA INTERSECÇÃO DA AV. Nª SENHORA MEDIANEIRA

COM A RUA DUQUE DE CAXIAS. ............................................................................ 111

FIGURA 87: CICLOFAIXA EM FUNCIONAMENTO, EM JUNHO DE 2014. ............................... 112

FIGURA 88: CONDIÇÕES ATUAIS DA CICLOFAIXA DA AVENIDA MEDIANEIRA. ..................... 115

FIGURA 89: INÍCIO DA PISTA MULTIUSO........................................................................ 116

FIGURA 90: LIGAÇÃO ENTRE A CICLOVIA DA AVENIDA RORAIMA E A PISTA MULTIUSO. ...... 117

FIGURA 91: INTERSECÇÕES NOS CRUZAMENTOS, COM SINALIZAÇÃO VERTICAL E ELEVAÇÃO

DA PISTA SOBRE A VIA DESTINADA AOS VEÍCULOS MOTORIZADOS. ............................ 117

FIGURA 92: PISTA MULTIUSO SOB O VIADUTO. .............................................................. 118

FIGURA 93: PISTA MULTIUSO SOB O VIADUTO EM FRENTE AO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO.

......................................................................................................................... 118

FIGURA 94: DETALHE DA INTERSEÇÃO DA PISTA MULTIUSO COM OS PASSEIOS EXISTENTES

ANTERIORMENTE. ................................................................................................ 119

FIGURA 95: CAMINHO ATÉ O PRÉDIO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA, PONTO MAIS

DISTANTE DO ARCO DE ENTRADA DO CAMPUS. ....................................................... 119

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: CARACTERÍSTICAS DE CICLOVIAS. .................................................................. 34

TABELA 2: APLICAÇÃO DO GRÁFICO DE RAMPAS. ............................................................. 36

TABELA 3: CARACTERÍSTICAS DE CICLOFAIXAS. .............................................................. 38

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: AÇÕES PARA INCORPORAÇÃO DA BICICLETA NO SISTEMA DE MOBILIDADE

URBANA. .............................................................................................................. 25

QUADRO 2: LOCALIZAÇÃO DE ESTACIONAMENTOS PARA BICICLETAS. ................................ 42

QUADRO 3: COMPARAÇÃO DE CUSTO POR QUILÔMETRO. ................................................. 43

QUADRO 4: BENEFÍCIOS DO USO DA BICICLETA. .............................................................. 47

QUADRO 5: COMPOSIÇÃO DO PLANO DIRETOR CICLOVIÁRIO. ............................................ 53

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ASCOBIKE – Associação dos Condutores de Bicicletas ANTP – Agência Nacional de Transportes Públicos CDC – Copenhagenize Design Company CET – Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo CISM – Campo de Instrução do Exército CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos CTB – Código de Trânsito Brasileiro DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte GEIPOT – Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes ECMT – Conferência Europeia de Ministros de Transporte IEMA – Instituto de Energia e Meio Ambiente IPLAN – Instituto de Planejamento de Santa Maria ITDP – Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento OECD – Organization for Economic Cooperetion and Development ONU – Organização das Nações Unidas PDDUA – Plano de Desenvolvimento Urbano e Ambiental PDMU – Plano Diretor de Mobilidade Urbana SAMBA – Solução Alternativa de Mobilidade por Bicicleta SEMOB – Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana TRENSURB – Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre UFSM – Universidade Federal de Santa Maria VLT – Veículo Leve sobre Trilhos

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................... 9

1.1 Objetivos .............................................................................................. 10

1.1.1 Objetivo geral ......................................................................................... 10

1.1.2 Objetivos específicos ............................................................................. 10

1.2 Organização dos capítulos .................................................................... 10

2. REVISÃO TEÓRICA ............................................................ 12

2.1. Democratização do espaço urbano ...................................................... 12

2.1.1 Mobilidade urbana ................................................................................. 13

2.1.2 Conceito de Traffic Calming e incorporação para melhoria da mobilidade

.................................................................................................................................. 17

2.1.3. Qualidade ambiental e inclusão social .................................................. 22

2.2 A incorporação da bicicleta um modo de transporte .......................... 25

2.2.1 Breve histórico do uso da bicicleta......................................................... 26

2.2.2 A bicicleta e a legislação brasileira ........................................................ 27

2.2.3 Tipologias e Configurações dos Espaços para a Bicicleta ..................... 29

2.2.4 Fatores favoráveis e desfavoráveis do uso da bicicleta ......................... 42

2.2.5 Modalidades dos usos da bicicleta ........................................................ 49

3. PLANEJAMENTO CICLOVIÁRIO ....................................... 52

3.1 A importância do planejamento cicloviário .......................................... 52

3.2 O plano diretor cicloviário ..................................................................... 52

3.2.1 Exigências para o planejamento cicloviário ........................................... 54

3.2.2 Elaboração do plano de mobilidade por bicicleta ................................... 55

3.3 Aspectos inibidores da inclusão da Bicicleta no Cenário Urbano ..... 58

3.4 Fatores que influenciam na mobilidade dos ciclistas. ........................ 60

3.5 Integração da bicicleta com modos de transporte coletivo ................ 61

3.6 Exemplos internacionais ........................................................................ 67

3.6.1 Holanda ................................................................................................. 68

3.6.2 Dinamarca ............................................................................................. 70

3.6.3 França .................................................................................................... 72

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3.6.4 Colômbia ................................................................................................ 73

3.7 Exemplos Brasileiros ............................................................................. 74

3.7.1 Rio de Janeiro ........................................................................................ 75

3.7.2 São Paulo .............................................................................................. 76

3.7.3 Porto Alegre ........................................................................................... 77

4. ESTUDO DE CASO ............................................................. 80

4.1 Apresentação do estudo de caso .......................................................... 80

4.2 O cenário atual da mobilidade em Santa Maria .................................... 80

4.2.1 Principais relações de mobilidade.......................................................... 84

4.2.2 Motivos dos deslocamentos ................................................................... 86

4.3 O Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Santa Maria ....................... 89

4.3.1 Proposta cicloviária ................................................................................ 91

4.4 Análise da implantação e operação das ciclovias e ciclofaixas da

cidade de Santa Maria ............................................................................................. 93

4.4.1 Ciclofaixa da Avenida João Machado Soares ........................................ 93

4.4.2 Ciclovia Avenida Hélvio Basso .............................................................. 97

4.4.3 Ciclovia Avenida Maestro Borges Ribas e Avenida Don Ivo Lorscheiter

................................................................................................................................ 100

4.4.4 Ciclovias e ciclofaixas federais. ........................................................... 104

4.3 Casos Especiais.................................................................................... 110

4.3.1 Ciclofaixa de lazer da Avenida Nossa Senhora Medianeira ................ 110

4.3.2 Pista multiuso da Universidade Federal de Santa Maria ..................... 115

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA ESTUDOS

FUTUROS .......................................................................................... 121

5.1 Conclusões ........................................................................................... 121

5.2 Sugestões para estudos futuros ......................................................... 122

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................. 124

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9

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a sociedade brasileira vem enfrentando uma crise de mobilidade

urbana, oriunda de congestionamentos, oferta insuficiente de transporte público e

falta de infraestrutura adequada que por fim prejudicam a cinesia. Tendo em vista

esse cenário, é notável o uso crescente da bicicleta no Brasil, como meio de

deslocamento, o que implica em ações públicas de incentivo a este modal.

A bicicleta é um modo de transporte eficiente, com baixo custo de aquisição e

manutenção, alta flexibilidade de rota, necessidade de pouco espaço para

estacionamento e pouco ou nenhum tempo perdido em congestionamentos, além de

não exigir consumo de combustível e não agredir o meio ambiente.

Sabe-se que grande parte das cidades brasileiras não possuem infraestrutura

e equipamentos adequados que fomentem o uso da bicicleta, principalmente de

forma integrada a outros modais, assim, políticas públicas que estimulem o seu uso

visam atingir um melhor cenário de mobilidade urbana e de sustentabilidade.

Projetos que incentivem o uso da bicicleta são capazes de reduzir os impactos

ambientais causados pelo uso dos automóveis, bem como diminuir

significativamente a sua utilização, otimizando o trânsito e acessos a áreas

conflitivas.

Segundo a Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana (SEMOB,

2007), é a presença de infraestrutura contínua, especialmente para manutenção de

um nível homogêneo de segurança de tráfego ao longo de todo o trajeto, que

influencia na mobilidade dos ciclistas, sendo assim, as vias destinadas a circulação

de bicicleta contribuem para o oferecimento à população de opções seguras e

confortáveis de transporte por esse modo. Entre essas vias estão às ciclovias,

ciclofaixas e as faixas compartilhadas.

Precisa-se salientar que não bastam que as vias destinadas a circulação de

bicicletas sejam seguras e confortáveis, elas precisam também estar posicionadas

adequadamente de modo a atender as necessidades da demanda e permitir a

integração da bicicleta com os demais modais do transporte público.

Analisando essa tendência global de busca pela sustentabilidade e alternativas à

mobilidade, tanto do ponto de vista do usuário, como dos gestores públicos, esse

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10

trabalho visa avaliar a implementação de ciclovias e ciclofaixas de modo a incluir a

bicicleta como um modal de transporte ativo e com ampla procura pela população.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Esse trabalho tem por objetivo avaliar a viabilidade e impactos da implantação

de ciclovias e ciclofaixas em trechos urbanos.

1.1.2 Objetivos específicos

a) Revisão teórica sobre a implantação da bicicleta como um modal, de que

forma deve ser feito o planejamento cicloviário em trechos urbanos e uma

breve análise sobre a tendência da democratização do espaço urbano;

b) Realizar análise das ciclovias e ciclofaixas já implantadas na cidade de Santa

Maria e fazer um estudo baseado no Plano Diretor de Mobilidade Urbana, no

que se refere ao assunto em questão;

1.2 Organização dos capítulos

Esse trabalho é composto por 5 capítulos:

No capítulo 2 é apresentado uma revisão teórica acerca de aspectos

relacionados à mobilidade urbana, a respeito da inclusão da bicicleta como modal

cicloviário, abordando conceitos de tipologias e configurações dos espaços cicláveis

dentro das cidades. Abordam-se também fatores favoráveis e desfavoráveis da

inclusão da bicicleta como modal e seu impacto.

No capítulo 3 é apresentado o conceito de planejamento cicloviário, sua

importância e alguns exemplos nacionais e internacionais que obtiveram sucesso

com seus planos.

No capítulo 4 é apresentado o estudo de caso, aplicado a cidade de Santa

Maria, apresentando o seu Plano de Diretor de Mobilidade e onde a bicicleta se

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encaixa nesse plano. Também é apresentada uma análise da implantação e

operação das ciclovias existentes na cidade.

O capítulo 5 contará com a conclusão do trabalho e considerações a respeito

de estudos futuros que podem ser feitos.

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2. REVISÃO TEÓRICA

2.1. Democratização do espaço urbano

Diariamente as pessoas enfrentam problemas ao se locomoverem nas

cidades, e tais problemas são na maioria dos casos tratados de forma desconectada

e fragmentada, resultado da dissociação entre o planejamento dos sistemas de

transporte público, a circulação de veículos particulares, uso do solo e proteção

ambiental.

Devido à ausência de planejamento integrador e implementação de políticas

que absorvessem a rápida urbanização das cidades brasileiras, estabeleceu-se um

quadro de exclusão e agravamento das desigualdades sociais. Tais desigualdades

são mais facilmente observadas em cidades de países de terceiro mundo, onde

podem ser traduzidas sob aspectos como a desordem dos espaços urbanos, das

habitações, e também nos espaços viários que rapidamente tornam-se inadequados

para comportar a quantidade crescente de veículos motorizados em harmonia com

as pessoas que ali realizam seus deslocamentos a pé ou de bicicleta.

Os congestionamentos, que são vistos como um dos maiores problemas das

grandes e médias cidades vem recebendo tradicionalmente as mesmas respostas

para tentar soluciona-lo, que consiste no aumento da capacidade viária. Desta

forma, os espaços públicos urbanos antes destinados a atividades de lazer, feiras,

áreas comerciais, vem sido abolidos pela necessidade da fluidez do trânsito, e desta

forma as cidades acabam sendo reconstruídas para os carros.

Figura 1: Ciclo dos congestionamentos

Fonte: A Bicicleta e as Cidades IEMA (2010, página 12).

Segundo Liane Born (Vá de Bicicleta, 2008) nos grandes centros urbanos, as

vias para automóveis ocupam em média 70% do espaço público e transportam

apenas 20% a 40% dos habitantes. Tal percentagem confirma o fato de que a

maioria dos planejadores de políticas urbanas age como se o automóvel fosse o

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desejo e destino final de todas as pessoas, como se, assim que possível todo

pedestre, ciclista e usuário do transporte coletivo fosse aderir aos meios de

transporte motorizados e individuais.

Essa tendência de ocupação dos espaços públicos pelos automóveis esta

associada às mudanças na dinâmica urbana. No início do século XX a vida urbana

consistia na ocupação dos espaços pelas pessoas, primordialmente utilizado para

sociabilidade, atividades comerciais e de lazer. Com o surgimento do automóvel,

grandes distâncias não desprendiam mais altos tempos de deslocamento, o que

acabou segregando e espraiando o crescimento urbano, consequentemente, os

espaços públicos foram deixados de lado, perdendo importância e dando lugar a

expansão viária, principalmente a partir dos nos 60.

Desta forma, o espaço urbano cai num ciclo destrutivo, onde a degradação

desses espaços causada pela construção de infraestrutura viária, muitas vezes

inadequada e ineficiente, locadas principalmente em áreas centrais, força os

habitantes a ocuparem outras áreas habitáveis, gerando necessidade de

urbanização.

A reorganização do espaço urbano e devolução de tal espaço para as

pessoas reafirma a ideia de que é preciso agir de forma ampla e permanente para

que se possa atingir um nível de sustentabilidade ambiental e redemocratização

social, onde a inclusão passe a ser o foco de ações públicas, contemplando uma

igualdade de oportunidades para as pessoas com deficiência e restrição de

mobilidade, bem como priorização do pedestre e do ciclista.

2.1.1 Mobilidade urbana

Mobilidade urbana consiste em tudo que diz respeito ao deslocamento das

pessoas e bens dentro do perímetro urbano. Parece um conceito simples, mas as

variáveis que integram esse termo são de extrema complexidade. Inicialmente

usava-se mobilidade como sinônimo de transporte, porém, hoje já existe um

consenso de que a busca por uma mobilidade urbana de qualidade, ou mais

sustentável, de acordo com Kneib (2012) deve-se considerar uma série de fatores

que impactam diretamente nos deslocamentos na cidade, que devem basear-se na

priorização e valorização de modos coletivos e não motorizados de transporte.

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No ano de 2012, com a publicação da Lei Federal 12.581 (Brasil, 2012), ou

Lei da Mobilidade, a referida questão recebeu a devida atenção, visto que a lei

institui diretrizes da política federal de mobilidade urbana. Segundo a citada lei, a

mobilidade urbana é considerada a condição em que se realizam os deslocamentos

de pessoas e cargas no espaço urbano.

Segundo Silva (2004) há uma crescente utilização dos indicadores de

mobilidade para medir níveis de desenvolvimento e de qualidade de vida. Isto se

deve a sua importância, tanto para o desenvolvimento das cidades, quanto para a

inclusão social. Áreas com maior mobilidade têm mais chances de crescimento,

além disso, dispõe de melhores oportunidades de emprego e geração de renda.

Uma cidade sustentável é fortalecida se parte de seu sistema de transporte

puder ocorrer por meio da mobilidade verde, ou seja, deslocar-se preferencialmente

a pé, de bicicleta ou de transporte público. Esses meios proporcionam benefícios à

economia e ao meio ambiente, reduzem o consumo de recursos, limitam as

emissões de poluentes atmosféricos, diminuem o nível de ruídos e promovem

melhoria da qualidade de vida da população (Gehl, 2010).

Conforme o ITDP, Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento

(2013), a mobilidade sustentável se baseia em um grupo de princípios básicos que

visem à integração entre transporte e desenvolvimento, sendo esses princípios os

seguintes:

Compactar: promover deslocamentos menores, realizando atividades em

locais mais próximos, de forma que haja um menor consumo de tempo e

energia.

Densificar: promover a expansão vertical da cidade, no intuito ainda de

promover uma menor necessidade de deslocamento e aumentar o

atendimento dos meios de transporte à população.

Conectar: criar áreas urbanas permeáveis, onde seja possível integrar

facilmente o deslocamento a pé, por bicicleta e por transporte público,

tornando os deslocamentos mais diretos.

Transportar: a existência de um transporte de massa de qualidade é

fundamental para conectar as áreas mais distantes de uma cidade, tornando-

a mais acessível a todos.

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Misturar: promover o uso diversificado do solo, tornando a cidade mais viva e

animada além de, consequentemente, encurtar os deslocamentos ou torná-

los desnecessários.

Mudar: a promoção de mudanças de infraestrutura no sentido de reduzir o

número de carros nas ruas é fundamental. Ruas com menos faixas para

carros, menos espaços dedicados a estacionamentos e controle do tráfego de

automóveis particulares liberam espaço da cidade para as pessoas e para o

transporte público eficaz, desestimulando o uso do carro.

Andar de bicicleta: assim como a diversificação do uso do solo, o uso da

bicicleta traz mais vida às ruas e proporciona a população uma maneira

conveniente e eficiente de se deslocar individualmente a médias distâncias.

Ciclovias ainda funcionam como um sistema alimentador ao transporte de

massa, tornando-o mais abrangente.

Andar a pé: a combinação de todos os princípios em funcionamento são

claramente percebidos e sentidos pelos pedestres que passam a possuir uma

cidade mais segura e mais agradável para deslocar-se a pé.

Conforme o Relatório 2012 da SIANTP de julho de 2014, a população em estudo

(analisada nos 438 municípios brasileiros que em 2003 possuíam 60 mil habitantes

ou mais) fez em 2012, 62,7 bilhões de viagens. Isso corresponde à cera de 210

milhões de viagens por dia. Conforme a figura 2, as viagens feitas a pé e em

bicicleta foram a maioria (25,1 bilhões), seguidas pelo transporte individual

motorizado, automóveis e motocicletas (19,4 bilhões) e pelo transporte coletivo (18,2

bilhões), como mostra a figura a seguir.

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Figura 2: Viagens por ano, por modo principal (bilhões de viagens) – 2012.

Fonte: Relatório 2012 SIANTP (2014, página 5).

De acordo com o relatório da SIANTP, este número de viagens corresponde

a uma mobilidade média de 1,76 viagens por habitante por dia. Quando esta

mobilidade é estimada por porte dos municípios, observa-se uma grande variação:

ela cai de 2,48 nas cidades com mais de um milhão de habitantes para 1,06 nas

cidades entre 60 e 100 mil habitantes.

No que se refere à divisão modal do Brasil, a maior parte das viagens foi

realizada a pé e por bicicleta (40,0%), seguidos dos meios de transporte individual

motorizado (31,0%) e do transporte público (29,0%), como observado na figura

abaixo.

Figura 3: Divisão modal – 2012.

Fonte: Relatório 2012 SIANTP (2014, página 6).

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Observou-se também que conforme o porte do município aumenta, a

utilização do transporte coletivo diminui de 32% para 24% dos maiores para os

menores, bem como a participação do transporte individual (automóveis e

motocicletas, que passa de 33% para 24%). Em contramão, o transporte não

motorizado (a pé e bicicletas), eleva-se com a diminuição do município, passando de

36% para 52%.

Através destes números detectamos a necessidade de diferentes olhares em

relação às políticas de mobilidade urbana em função do porte do município.

Enquanto os municípios maiores possuem maior quantidade de viagens nos modos

motorizados, os municípios menores possuem maior quantidade de viagens a pé e

por bicicleta, como observado a seguir.

Figura 4: Divisão modal por porte do município – 2012.

Fonte: Relatório 2012 SIANTP (2014, página 7).

2.1.2 Conceito de Traffic Calming e incorporação para melhoria da mobilidade

O conceito de “Traffic Calming” surgiu na década de 60 na Holanda, com

objetivo de redução da velocidade dos veículos em zonas residenciais. Moradores

frustrados com o grande número de acidentes causados pelos veículos em alta

velocidade, geralmente nos períodos noturnos foram à rua e criaram uma rota em

serpentina, conformada com grandes pedras. Observou-se que os condutores

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passaram a circular em velocidades significativamente mais baixas, e desse modo

surgiu o primeiro projeto de acalmia de tráfego.

A acalmia de tráfego faz parte de um grupo de estratégias e medidas de

planejamento usadas pela engenharia de tráfego, juntamente com iniciativas de

estímulo ao uso do transporte coletivo, restrição de estacionamentos, gestão de

mobilidade, planejamento do uso do solo, que são usadas para melhorar a

segurança, o meio ambiente, a atração e vivencia nos centros urbanos e áreas

residenciais.

Sendo assim podemos definir Traffic Calming como uma técnica (ou um

conjunto de técnicas) para reduzir os efeitos negativos do trânsito, ao mesmo tempo

em que cria um ambiente seguro, calmo, agradável e atraente.

2.1.2.1 Objetivos da incorporação de Traffic Calming

As medidas adotadas para acalmia de tráfego caracterizam-se pela

implementação de técnicas que alteram a geometria das vias, induzindo a redução

da velocidade pelos condutores de veículos automóveis, de forma a proteger os

usuários mais vulneráveis da via, os pedestres e ciclistas.

Segundo Almeida (2004), aplicação de modelos de acalmia de tráfego podem

aumentar as viagens a pé, de bicicleta e por meio de transporte público, e reduzir as

viagens de automóvel. Observa-se que as viagens não motorizadas além de

trazerem vantagens para o próprio usuário, como economia de despesas, benefícios

à saúde e aumento da mobilidade para não condutores, são vantajosos para todos

os usuários do trânsito, pois, reduz os congestionamentos, reduz as despesas com

estacionamentos e áreas dispensadas a estes, reduz os acidentes de trânsito, e

principalmente, reduz a poluição sonora, ambiental e visual.

2.1.2.2 Métodos e técnicas de Traffic Calming

Podemos dividir as medidas de Traffic Calming em duas categorias: para

redução da velocidade dos veículos e para criar um ambiente que induza ao um

modo prudente de dirigir.

O condutor avalia a sua velocidade de acordo com vários fatores da via em

que ele está circulando, por exemplo, geometria da via, tipo de pavimentação, se há

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sinalização, limitadores de velocidade, bem como do motivo do deslocamento do

mesmo. Sendo assim, as medidas de acalmia de tráfego devem ser exploradas n

contexto destes fatores.

Dentre as medidas mais populares e eficazes de acalmia, pode-se citar:

Alterações nos alinhamentos horizontais: consiste em alterar o perfil

transversal da via, como mostrado na figura 5, ou do entroncamento, fazendo

com que o condutor seja obrigado a reduzir a velocidade e tomar o percurso

imposto.

Figura 5: Alteração no alinhamento horizontal da via.

Fonte: Manual de Traffic Calming da BHTRANS (2013).

Estacionamentos ao longo da via: estes podem ser feitos em forma obliqua,

ou alternados, ora de um lado da via, ora de outro. Tal solução reduz a

largura da faixa de rolagem e exige maior atenção do motorista, visto que a

exige a possibilidade de que, a qualquer momento, veículos podem estar

manobrando para sair do estacionamento.

Figura 6: Estreitamento ao longo da via com baia de estacionamentos.

Fonte: Manual de Traffic Calming da BHTRANS (2013).

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Ilhas e refúgios para pedestres: são ilhas localizadas no centro da via, que

conferem segurança ao pedestre durante a travessia. Além de conferir essa

segurança ao pedestre, também servem para redução da velocidade e divisão

dos sentidos de tráfego, disciplinando o condutor.

Figura 7: Refúgio para pedestres no canteiro central da via.

Fonte: Manual de Traffic Calming da BHTRANS (2013).

Rótulas e mini-rótulas: a incorporação de rótulas em cruzamento obriga os

condutores a reduzir a velocidade bem como organiza o fluxo, como ilustra a

imagem da figura 7, reduzindo os conflitos entre veículos. Nessas

intersecções também é possível implantar refúgio para travessia de pedestres

e ciclistas.

Figura 8: Mini-rótula organizando o fluxo na via.

Fonte: Manual de Traffic Calming da BHTRANS (2013).

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Zonas de tráfego compartilhado: vias em que não há segregação entre

veículos motorizados e não motorizados. Tais zonas são projetadas

priorizando os pedestres e ciclistas, de modo que o automóvel é apenas um

“convidado” a unir-se no tráfego. É usado um único tipo de pavimento, de

fachada a fachada, sendo que a restrição física é intuitiva do usuário.

Figura 9: Zona de tráfego compartilhado.

Fonte: Manual de Traffic Calming da BHTRANS (2013).

Sonorizadores: as faixas sonorizadoras e barras de trepidação são pequenas

áreas elevadas de um lado ao outro da pista de rolamento (em ângulo de 90°

em relação à direção do tráfego), que são projetadas primeiramente para

alertar os motoristas e incentivá-los a desacelerar devido à existência de uma

situação de perigo.

Figura 10: Sonorizadores ao longo da via.

Fonte: Manual de Traffic Calming da BHTRANS (2013).

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O fato de que as cidades vêm desenvolvendo-se com ausência de

planejamento do trânsito, da infraestrutura e da mobilidade urbana, acarretou na

degradação dos sistemas de circulação, e em muitos casos na desumanização do

espaço urbano. Medidas de moderação de tráfego desempenham um importante

papel para o desenvolvimento sustentável e humanização do transito, buscando

incentivar o uso de transportes não motorizados, valorização das pessoas e a

redução do volume e velocidade do tráfego motorizado. Tais práticas promovem um

novo desenho urbano, tornando os espaços, na escala das pessoas, mais humano.

2.1.3. Qualidade ambiental e inclusão social

Nos dias atuais, ainda é mantida uma visão de que a cidade pode crescer e

se expandir continuamente sem mensurar os custos de implantação da

infraestrutura necessária para suportar o atual padrão de mobilidade, onde o

automóvel é protagonista, cujos efeitos negativos são divididos por toda a

sociedade, incluindo aqueles que não possuem um veículo particular. Pode-se

caracterizar essa visão como uma patologia que afeta as relações internas, tanto em

nível físico estrutural quanto sociocultural, fazendo com que os órgãos públicos de

planejamento urbano tentem reverter essa situação de forma pontual, num processo

curativo e não preventivo o que muitas vezes acaba por agravar o problema.

[...] a expansão urbana acelerada e desordenada, tendo como

causas, as diversas intervenções públicas localizadas (pontuais),

desarticuladas (aplicação parcial de planos e projetos, como

também, descontinuidade no processo de planejamento, etc.) e

paliativas nas cidades brasileiras, vem acarretando uma acelerada

deterioração da qualidade de vida de seus habitantes, principalmente

aqueles de baixa renda. (FERREIRA, 1997).

Além do perecimento da qualidade de vida das pessoas, o que implica

diretamente na saúde pública, esse padrão de mobilidade, baseado no uso massivo

do transporte privado individual, o planejamento e transportes também desencadeia

sérios problemas ambientais.

Observou-se que a partir da década de 1980, os impactos ambientais,

econômicos e sociais, causados pelo modelo atual de transporte, fez com que

diversas cidades pelo mundo passassem a rever suas prioridades, com a intenção

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de tornar as vias urbanas compatíveis com os diversos modos de transporte, bem

como reestabelecer a utilização do espaço urbano como local de convivência e

circulação urbana.

2.1.3.1 A melhoria da qualidade ambiental

A priorização do automóvel como padrão de mobilidade durante décadas

acaba por acarretar sérios problemas ambientais. A degradação da qualidade do ar

e o aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis emitindo

gases do efeito estufa são os mais notáveis.

Aos poucos, diversas cidades ao redor do mundo vêm adotando medidas

para controlar o uso de transportes motorizados, aonde estes vem sendo

substituídos por meios de transporte de maior capacidade de passageiros e mais

econômicos, como o metrô, trens, VLTs (veículos leves sobre trilhos), ônibus

coletivos e bicicletas.

De acordo com dados do International Transport Forum da OECD –

Organization for Economic Cooperetion and Development de 2008, os meios de

transporte terrestres contribuem com 44% das emissões de CO2 no Brasil, e existem

indicadores que apontam um crescimento de duas vezes nas emissões ligadas as

atividades de transporte nos próximos 30 anos, ainda que exista uma metal global

de redução de 50% das emissões de carbono até 2050.

Visto que as cidades são locais onde há uma alta circulação da frota de

veículos, e consequentemente, maior emissão de CO2, elas tem recebido especial

preocupação quanto aos impactos ambientais, bem como, deve-se atentar aos

efeitos imediatos da piora da qualidade do ar sobre a saúde publica, como doenças

respiratórias e cardíacas.

Além da deterioração da qualidade do ar, mudanças climáticas devido à

emissão de gases de efeito estufa e a poluição sonora têm recebido enfoque nas

discussões referentes os danos ambientais. Tal desconforto causa irritabilidade,

dificuldade de concentração insônia e dores de cabeça. O tráfego motorizado gera

ruídos de 75 dB (automóveis) e até 90 dB (caminhões), valores muito superiores aos

níveis de conforto sonoro, que estão entre 45 e 65 dB (Ibama, 2008).

Com tantos dados e pesquisas acerca da necessidade de se pensar na

sustentabilidade, a União Europeia, em seu Programa de Mudanças Climáticas,

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além da melhoria do transporte público e da revalorização do espaço urbano,

também foi incorporado o uso integrado da bicicleta como uma das estratégias na

redução das emissões de gases de efeito estufa, da poluição do ar e dos

congestionamentos (União Europeia, 2007).

2.1.3.2 A impulsão da inclusão social

Apesar de muitos gestores e planejadores ainda manterem uma percepção

mais individualista do cenário da mobilidade urbana, priorizando o uso dos

transportes particulares, o que de certo modo, restringe gradativamente o convívio

social, há uma forte tendência de humanização da cidade no planejamento urbano,

onde se observa uma grande atenção para os aspectos sociais e ambientais.

O planejamento urbano deve visar a busca pela qualidade de vida nas

cidades, de modo que seus habitantes não somente passem pelos espaços

urbanos, mas que realmente os vivam. Deve-se almejar a equiparação de

oportunidades, a democratização do espaço público, bem como a promoção da

acessibilidade, o que garante o direito à cidade a todos os cidadãos.

No Brasil, a maioria da população não possui renda suficiente para adquirir

um veículo próprio, e a desigualdade social se agrava à medida que a mobilidade é

limitada, e visto que a relação rendaacesso ao automóvel, esta diretamente ligada a

quantidade de deslocamentos diários. Classes de renda mais alta, que possuem

acesso aos veículos privados, ou a um grande numero de viagens de transporte

público, possuem maior mobilidade do que aquelas de renda inferior. A mobilidade

esta intimamente ligada a questão social, visto que, uma maior mobilidade esta

relacionada a facilidade de locomoção, de maior acesso aos equipamentos sociais

da cidade, como hospitais, escolas, centros culturais e de lazer. Bem como as áreas

de maior concentração de oportunidades de emprego.

Ao aumentar a mobilidade da população, principalmente a de renda mais

baixa, criam-se oportunidades iguais aos demais cidadãos. Quanto maior a

facilidade de locomoção na cidade, maior é o acesso e utilização da infraestrutura

social urbana, a mobilidade urbana favorece a mobilidade social.

No âmbito social, é possível dizer que a bicicleta desempenha um papel de

democratização do espaço urbano, pois ela permite uma maior mobilidade,

autonomia e acessibilidade a todas as classes sociais e etárias. A incorporação do

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modal cicloviário pode proporcionar uma ampla inclusão social e recuperação das

áreas urbana.

2.2 A incorporação da bicicleta um modo de transporte

De acordo com o Instituto de Energia e Meio Ambiente (2010), a incorporação

da bicicleta na mobilidade urbana precisa ser planejada, considerando-se as

características locais, e se da através as seguintes ações, conforme o Quadro 1.

Incorporação da bicicleta no sistema de mobilidade

Implantar infraestrutura

Construção de ciclovias.

Construção de ciclofaixa.

Implantação de ciclorrotas.

Conexão dos trechos de ciclovias já existentes.

Integração com o sistema de transporte coletivo: implantação de bicicletários e infraestrutura de apoio em estações e terminais de transporte.

Promover a microacessibilidade

Promoção do uso da bicicleta nas escolas de bairros, por meio da construção de ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas e bicicletários.

Promover a segurança

Desenvolver programas de educação para ciclistas e motoristas.

Implantar sinalização de trânsito específica

Estimular o uso

Desenvolvimento de campanhas de valorização e estímulo ao uso da bicicleta.

Desenvolvimento de ações facilitadoras (aluguel de bicicletas, por exemplo).

Garantir o controle social sobre as

ações

Estímulo à organização das entidades do setor.

Criação de espaços de discussão com o poder público.

Articular com a política ambiental

Fazer do uso da bicicleta um meio de inserção nas políticas de sustentabilidade.

Quadro 1: Ações para incorporação da bicicleta no sistema de mobilidade urbana.

Fonte: IEMA (2010) elaborado pela autora.

Para um melhor entendimento da inclusão da bicicleta como um modal

representativo dentro do cenário da mobilidade urbana, e necessário o entendimento

de alguns conceitos e referências que serão abordados a seguir.

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2.2.1 Breve histórico do uso da bicicleta

A invenção da bicicleta - do latim bi (dois) e do grego kyklos (rodas) -,

cronologicamente antecede os motores a vapor e explosão, também é considerada

o primeiro veículo mecânico para transporte individual, não conta com uma data

específica, e a verdadeira história de sua origem ainda é cercada de mitos e

mistérios. Foi nos registros do Código Atlântico, coletânea de estudos e projetos de

Leonardo da Vinci, que foi encontrado um dos primeiros desenhos da bicicleta, bem

como estudos sobre transmissões por corrente que remetem ao final do século XV.

É pertinente observar o desenvolvimento da bicicleta como objeto no continente

europeu no século XVIII ao século XIX, região que apresenta a maior adoção do

modal.

Dados mais precisos remetem ao ano de 1790, quando o conde francês Mede

de Sivrac desenvolveu o “celerífero” – do latim celer (rápido) e fero (transporte) - ,

que consistia basicamente de duas rodas ligadas por uma ponte de madeira em

forma de cavalo, acionado por impulso alternado dos pés sobre o chão.

Em 181617 o barão alemão Karl Freiderich Drais implementou um guidão na

invenção de Sivrac, com a roda dianteira servindo de diretriz, e nomeou de

draisiana. Tal modificação proporcionou um sistema de direção livre, que permitia os

usuários realizar curvas, bem como manter o veiculo em equilíbrio e o mesmo tempo

realizar manobras quando em movimento. A draisiana também contava com um

sistema rudimentar de freios e ajuste de altura do selim.

No ano de 1938 a bicicleta toma uma forma bastante diferente das

anteriormente conhecidas, pelas mãos do ferreiro escocês Kirkpartick MacMillan.

Agora nomeada de velocípede, era dotada de duas rodas de bielas de acoplamento,

montadas no miolo da roda traseira e acionadas por duas alavancas presas na

estrutura principal. Em 1865, Pierre Michaux (França) incorporou pedais à roda

dianteira do velocípede, e em 1880, o inglês Lawson, introduziu a tração nos pedais

sobre disco que, através de uma corrente repassava o esforço para a roda traseira.

Alguns anos depois foi incorporado o cambio de marcha, por Johann Walch

(Alemanha), o quadro trapezoidal por Humber (Inglaterra), e em 1981 os pneus

tubulares desmontáveis, por Michelin, da França. Essas últimas mudanças

caracterizam a bicicleta como conhecemos nos dias de hoje.

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Não existem registros precisos da chegada da bicicleta no Brasil, estima-se

que tenham surgido na capital do império (Rio de Janeiro), entre 1850 e 1870, que

era o local onde se concentravam as pessoas de maio poder aquisitivo, e que tinha

acesso a bens vindos da Europa, onde nasciam as primeiras fábricas de bicicletas.

Desde a sua chegada, a bicicleta tornou-se popular entre a classe operaria e

prestadores de serviços.

O ano de 1973 e de grande relevância no contexto histórico da bicicleta, visto

que nessa época surgiram problemas decorrentes do acréscimo nos preços dos

combustíveis e seus derivados junto aos consumidores, que ficou conhecido com o

Primeiro Choque do Petróleo. Neste momento as manchetes dos principais jornais

do mundo mostravam fotos dos reis da Holanda e da Dinamarca andando de

bicicleta, sob os dizeres: “Nos temos uma boa alternativa de transporte.”.

Sob tais circunstâncias, em 1976, a Empresa Brasileira de Planejamento de

Transportes - GEIPOT - publicou o manual Planejamento Cicloviário – Uma Política

para as Bicicletas. Na década de 1980 muitas cidades realizaram planos diretores

de transportes urbanos, onde estavam inclusos estudos e projetos voltados à

melhoria as condições de segurança e circulação dos ciclistas. Somente no ano de

2004, com o Programa Bicicleta Brasil, o país passou a ter um programa específico

para a bicicleta, cujo objetivo é dar uma nova dimensão ao uso da bicicleta como

meio de transporte integrado as redes de mobilidade, cujo planejamento deve

considerar os aspectos locais e regionais.

2.2.2 A bicicleta e a legislação brasileira

O Código de Trânsito Brasileiro – CTB, que entrou em vigor em 1998,

reconhece a bicicleta e estabelece deveres e direitos para os condutores, porém,

apesar de ser um marco legal já instituído, para sua implementação faz-se

necessário vários outros instrumentos, como campanhas educativas e fiscalização

efetiva.

“Art.21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:

(...)

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II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de

pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da

segurança de ciclistas; (...)”

“Art.24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos

Municípios, no âmbito de sua circunscrição:

(...)

II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de

pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da

segurança de ciclistas; (...)”

Tais artigos incluem a bicicleta como um agente do trânsito, nas rodovias e

estradas, e também nas vias urbanas.

Encontra-se nos artigos 58, 59, 68, e 201 regras de circulação tanto para

ciclistas como pra os agentes motorizados do trânsito. Sendo assim:

“Art.58. Nas vias urbanas e rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas

deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa ou acostamento, ou quando

não for possível a utilização destes, nos bordos das pistas de rolamento, no mesmo

sentido de circulação regulamentado para a via, com preferencia sobre os veículos

automotores.

Parágrafo único. A autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via

poderá autorizar a circulação de bicicletas no sentido contrário ao fluxo dos veículos

automotores, desde que dotado o trecho com ciclofaixa.”

“Art.59. Desde que autorizado e devidamente sinalizado pelo órgão ou

entidade com circunscrição sobre a via, será permitida a circulação de bicicletas nos

passeios.”

“Art.68. (...)

§1º O ciclista desmontado, empurrando a bicicleta, equipara-se ao pedestre

em direitos e deveres. (...)”

“Art.105. São equipamentos obrigatórios dos veículos, entre outros a

serem estabelecidos pelo CONTRAN:

(...)

VI – para as bicicletas, a campainha, sinalização noturna dianteira, traseira,

lateral e nos pedais, e espelho retrovisor do lado esquerdo. (...)”

“Art.201. Deixar de guardar distancia lateral de um metro e cinquenta

centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta. Infração: média; penalidade: multa.

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Ainda que existam diversas iniciativas, poucas leis conseguiram de fato

estabelecer uma política pública de bicicletas. Aspira-se que a política de mobilidade

por bicicleta traga diretrizes, princípio, metas e prazos a serem alcançados, além de

mapas com localização da malha cicloviária bem como de equipamentos de apoio

aos ciclistas. Precisa-se também, que haja uma definição concreta dos órgãos

responsáveis pelo gerenciamento da política além de garantir o envolvimento da

população.

Desta forma se faz necessário uma boa legislação, que só existira com a

realização de um complexo processo de estudo e planejamento. É para atingir esse

objetivo que se desenvolve um Plano Diretor Cicloviário.

2.2.3 Tipologias e Configurações dos Espaços para a Bicicleta

De acordo com o Manual de Planejamento Cicloviário do GEIPOT (2001), o

sistema cicloviário, no sentido estrito, é composto de ciclovias e ciclofaixas, além de

bicicletários e paraciclos e outros componentes da infraestrutura de uso dos

ciclistas.

Os espaços para bicicletas dentro das áreas urbanas são bastante variados,

tanto no conceito como na forma. O arranjo dentro da via já existente ou em novos

sistemas de vias, os esquemas de redes propostos para reorganização do trânsito, a

concepção de novas formas de circulação, seja com tráfego exclusivo, ou de forma

compartilhada, podem proporcionar maior ou menor grau de uso e aceitação da

bicicleta pelos cidadãos que estão constantemente em movimento nas cidades.

Segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (2010), em princípio, toda e

qualquer via pode ser utilizada para circulação de bicicletas. Porém, quanto maior o

volume de tráfego e velocidade que pode ser desenvolvida pelos automóveis, menos

o ciclista se sente seguro e estimulado. A questão da segurança é inerente aos tipos

de deslocamentos realizados nas cidades, isso leva a uma conclusão errônea de

que a bicicleta não é um meio de transporte seguro. Essa afirmação gera diversos

equívocos intrínsecos ao transporte cicloviário.

Uma prerrogativa aplicada de forma incorreta é condicionar o uso da bicicleta

à construção de ciclovias, ciclofaixas e demais intervenções que segreguem o

tráfego. Tal afirmação consolida o primeiro obstáculo na implementação de um

sistema de transporte cicloviário. Também se tem a errada associação da segurança

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somente com a construção de faixas exclusivas de uso dos ciclistas. A segurança

como atributo de qualidade do sistema, pode ser em grande parte minimizado,

mesmo sem as ciclovias e ciclofaixas, por meio de ações educativas, como as

campanhas de conscientização e projetos de moderação de tráfego motorizado

(IEMA, 2010).

2.2.3.1 Espaço útil do ciclista

Para avaliar as diversas configurações dos espaços para bicicletas, precisa-

se entender o espaço ocupado pelo ciclista, de modo a obter-se o melhor

aproveitamento possível dos espaços nas vias urbanas.

O modelo de bicicleta mais utilizado pelos ciclistas no Brasil é o conhecido

como “mountain bike”, em tradução livre para o português, as bicicletas de

montanha são assim chamadas devido ao fato de se adequarem bem a todo tipo de

terreno. Introduzidas no mercado brasileiro na década de 80, os modelos hoje

comercializados são bastante variados, podendo ser dotados de freio a disco,

suspensão dianteira eou traseira, com sofisticado sistemas de marchas, de modo

que os valores atendem a todas s classes econômicas, sendo uma bicicleta bastante

democrática.

Apesar das mudanças ao longo das décadas, a bicicleta não sofreu

alterações relevantes nas suas dimensões básicas, onde a maioria dos modelos tem

dimensão longitudinal bastante semelhante, próxima de 1,75 m. Sendo assim, pode-

se admitir que o ciclista inscreva-se em uma figura prismática, conforme a figura 4.

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Figura 11: Espaço útil do ciclista.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (2001, página 33).

A largura de 1,00 m é resultada da largura do guidão (0,60 m), somada ao

espaço necessário ao movimento dos braços e pernas (0,20 m para cada lado). O

gabarito a ser adotado, por medida de segurança, será superior em 0,25 m na altura

e para cada lado, tendo em vista a manutenção do equilíbrio do ciclista.

2.2.3.2 Redes cicloviárias

De acordo com Rau (2012) as redes cicloviárias levam em consideração

todas as possibilidades de conciliar o uso da bicicleta com outros modos de

transporte, auxiliando assim as demais formas de deslocamento não motorizado.

Uma rede cicloviária deve oferecer conexões entre origem e destino de forma

segura e atrativa, em especial nos trajetos mais importantes da cidade, caso ela não

atenda esses preceitos, os ciclistas acabarão por utilizar rotas alternativas, não

planejadas e inadequadas para o trafego de bicicletas.

Tem sido comum no Brasil a construção de ciclovias isoladas, como

se uma determinada extensão de espaço exclusivo à circulação de

ciclista pudesse atender as necessidades de viagens dos ciclistas.

[...] As cidade que apresentam melhores resultados quanto à

reintrodução da bicicleta como veículo de transporte mostram a

importância da construção de redes cicloviárias. (Miranda, 2009)

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2.2.3.3 Rotas cicláveis

O conceito de rotas cicláveis é de extrema importância para que se possa

rever a prerrogativa que o ciclista deve se deter a ciclofaixas e ciclovias, conforme o

PlanMob, no seu Caderno de Referência para ode Plano de Mobilidade Urbana.

Rotas são todos e quaisquer caminhos, formados por segmentos viários ou

espaços e trilhas naturais, que podem ser usados pelos ciclistas. Uma rota ciclável

deve interligar um par de Origem e Destino, através do uso de todas as vias e

caminhos disponíveis, desde que estes sejam minimamente preparados de modo a

garantir segurança e mobilidade ao ciclista.

Providelo e Sanches (2006) apresentaram um método para a definição de

rotas cicláveis em áreas urbanas. A metodologia definida foi aplicada através de um

estudo de caso em dois polos geradores de viagens utilitárias por bicicleta na cidade

de São Carlos, São Paulo. Os dados necessários para o estudo foram obtidos

através da realização de entrevistas, que incluíram um questionário para caracterizar

os entrevistados e as viagens realizadas por eles, e uma pesquisa de preferência

declarada com três atributos: condições do pavimento, velocidade dos veículos e

tempo de viagem. Os ciclistas também identificaram, na pesquisa, quais os pontos

mais problemáticos do seu trajeto para andar de bicicleta. Dentre os resultados

alcançados, destacaram-se os problemas relacionados a conflitos viários, como o

tráfego de bicicletas em rotatórias e cruzamentos. Os resultados apontaram que o

atributo "pavimento" (qualidade do pavimento) teve o coeficiente de maior valor,

sendo, portanto o mais importante para os entrevistados, em detrimento da

velocidade dos veículos motorizados e do tempo de viagem. Desta forma, projetistas

e gestores podem partir do princípio que melhorando a pavimentação de vias com

potencial cicloviário, podem estimular o uso da bicicleta.

Numa rota ciclável, os ciclistas poderão percorrer várias infraestruturas,

partindo, por exemplo, de um trecho na forma compartilhada com veículos

motorizados na via pública, depois por uma ciclovia, em seguida num trecho sobre a

calçada e adiante um trecho com ciclofaixa. O mais importante numa rota ciclável e

fazer a ligação do ciclista de um determinado ponto “A” para um ponto “B”, de modo

que todas as situações enfrentadas pelos usuários estejam pensadas e projetadas.

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2.2.3.4 Ciclovias

Conceitua-se ciclovia como:

É o espaço destinado à circulação exclusiva de bicicletas, separado

da pista de rolamento dos outros modos por terrapleno, com mínimo

de 0,20 m de desnível, sendo, habitualmente, mais elevada do que a

pista de veículos motorizados. No sistema viário, pode localizar-se ao

longo do canteiro central ou nas calçadas laterais. A ciclovia também

pode assumir traçado totalmente independente da malha viária

urbana ou rodoviária (como as ciclovias situadas sobre antigos leitos

ferroviários). Nesses casos, deverá ter controle de acesso, ou seja, a

acessibilidade dos ciclistas a ele deverá ser projetada de forma

segura e eficiente em todos seus cruzamentos com outras estruturas

viárias. (GEIPOT, 2001).

Figura 12: Exemplo de ciclovia (unidirecional e bidirecional).

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (páginas 34 e 35, 2001).

O volume de usuários irá definir se a ciclovia será uni ou bidirecional, bem

como a sua largura, além de considerar o desenho urbano e a situação da

implantação da mesma. As dimensões básicas para cada tipo de estrutura são

apresentadas na tabela 1:

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Tabela 1: Características de ciclovias.

Tipo Volume de tráfego

(bicicletas/hora) Largura efetiva

Ciclovia

unidirecional

até 1000 bicicletas/hora 2,00 m a 2,50 m

de 1000a 2500 bicicletas/hora 2,50 m a 3,00 m

de 2500 a 5000 bicicletas/hora 3,00 m a 4,00 m

acima de 5000 bicicletas/hora 4,00 m a 6,00 m

Ciclovia

Bidirecional

até 1000 bicicletas/hora 2,50 m a 3,00 m

de 1000a 2500 bicicletas/hora 3,00 m a 4,00 m

de 2500 a 5000 bicicletas/hora 4,00 m a 6,00 m

acima de 5000 bicicletas/hora maior que 6,00 m

Fonte: Brasil (2001).

Países como a França, Holanda e Alemanha adotam como largura mínima

para pista unidirecional (de sentido único) 2,00 m, porem, quando se tem bordas

desniveladas superiores a 0,10 m deve-se aplicar um acréscimo de 0,50 m à largura

da ciclovia.

Figura 13: Exemplo de ciclovia unidirecional sem desnível.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (página 41,2001).

Figura 14: Exemplo de ciclovia unidirecional com desnível.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (página 41, 2001).

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Em caso de arborização lateral à ciclovia, deve ser acrescentado, além da

sobrelargura de 0,50m, mais 0,25m, afastamento mínimo para que não haja

interferência do tronco das árvores ou de qualquer obstáculo fixo sobre os ciclistas.

(GEIPOT, 2001)

Figura 15: Exemplo de ciclovia unidirecional com vegetação lateral.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (página 41, 2001).

A ciclovia bidirecional é bastante empregada no Brasil, normalmente adotada

nas grandes cidades como espaços de lazer, e nas cidades de menor porte, como

ciclovias funcionais. A sua largura ideal e 3,00 m, porém se aceita dimensiona-la

com 2,50 m, e como no caso das ciclovias unidimensionais, deve-se adotar

sobrelargura de 0,50 m quando houver desnível maior que 0,10 m.

Figura 16: Exemplo de ciclovia bidirecional.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (página 42, 2001).

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As rampas das ciclovias são um aspecto determinante na escolha do melhor

trajeto. Constatou-se que, em muitos casos, os ciclistas preferem circular em

inclinações mais elevadas, porém de pequena extinção, do que em trecho mais

extensos de rampas mais suaves.

Deste modo, é indicado adotar rampas escalonadas, ou seja, com a definição

do greide de projeto onde ocorram patamares nivelados, após a realização de

rampas acentuadas com pequenas extensões. Proceder dessa forma evita grandes

movimentações de aterro e promovo maior conforto aos usuários da ciclovia.

Tabela 2: Aplicação do gráfico de rampas.

Desnível a vencer Rampa normal Rampa máxima

2 metros 5,0% 10,0%

4 metros 2,5% 5,0%

6 metros 1,7% 3,3%

Fonte: Adaptado de Coleção Bicicleta Brasil (2007).

Projetar os trechos inclinados em patamares confere ao ciclista sensação de

que pode realizar a subidas em demandar grande esforço, devido ao bem estar

físico ao alcançar os trechos planos entre as rampas, visto que, esses trechos na

podem ser longos.

Figura 17: Trecho de ciclovia em patamares ao lado de uma rodovia.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (página 44, 2001)

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Outra questão relevante quanto às ciclovias é a pavimentação. De acordo

com o Manual do GEIPOT (2001), a superfície de rolamento deve ser regular,

impermeável, antiderrapante e, se possível, de aspecto agradável. Como a ciclovia

não é submetida a grandes esforços, não há necessidade de uma estrutura superior

às destinadas para pedestres, apenas onde eventualmente o seu traçado cruze

áreas de acesso a garagens ou estacionamentos se faz necessário um reforço na

sua base.

É impreterível a diferenciação visual na pavimentação entre a ciclovia e as

outras vias contíguas, como um recurso auxiliar na sinalização. Em pavimentos de

concreto pode-se adicionar oxalato de ferro ao concreto durante a usinagem,

conferindo coloração vermelha após a cura. Em pavimentos betuminosos, de rocha,

de blocos de concreto, ou outros materiais, faz-se a pintura com tinta adequada para

conferir a caracterização da ciclovia.

2.2.3.5 Ciclofaixas

Pode-se definir a ciclofaixa como:

É o espaço viário destinado à circulação de bicicletas, contíguo a

pista de rolamento de veículos automotores, sendo dela separada

por pintura, dispositivos delimitadores (chamados de “tachinhas”,

“tartarugas” ou “calotas”, dependendo de sua dimensão) ou por

ambos. (GEIPOT, 2001)

Diferentemente da ciclovia, a ciclofaixa sempre será unidimensional, de modo

a conferir maior segurança ao ciclista. Próximo a cruzamentos, quando há espaço,

se convém canalizar a ciclofaixa, tornando-se uma ciclovia, nessa pequena

extensão.

A largura mínima adotada para ciclofaixas, bem como nas ciclovias, baseia-se

no espaço útil do ciclista, descrito no item 2.2.3.1. Parâmetros técnicos definem

como sendo 1,20 m para ciclovias comuns, sem situações de riscos permanentes, e

de 2,00 m para casos em que existe perigo de acidentes com os ciclistas, como por

exemplo, ciclofaixas adjacentes a espaços destinados a estacionamento de

automóveis. Essa largura confere espaço para que o ciclista desvie de eventuais

aberturas de portas, por exemplo.

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Figura 18: Exemplo de ciclofaixa comum.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (página 38, 2001).

Tabela 3: Características de ciclofaixas.

Tipo Volume de tráfego

(bicicletas/hora) Largura efetiva

Ciclofaixa

unidirecional Todos

1,80 m (externa)

1,20 m (interna)

Fonte: Brasil (2001).

Fatores como o custo construtivo e o espaço necessário para construção de

ciclovias muitas vezes impedem a sua implantação, desta forma as ciclofaixas

costumam ser uma boa alternativa, visto que possuem infraestrutura priorizada, com

faixa exclusiva para bicicleta demarcada através de sinalização, de modo a separá-

la das outras faixas de tráfego.

2.2.3.5 Estacionamentos para bicicletas

Não basta o ciclista conseguir deslocar-se pelo meio urbano, se quando

chegar ao seu destino não houver espaço adequado para deixar sua bicicleta com

segurança. Para que isso não ocorra, ao longo das ciclovias ou ciclofaixas faz-se

necessária a instalação de estacionamentos adequados.

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Define-se como bicicletário, um espaço com grande capacidade e de longa

permanência, fechado, que possui vigilância e controle de acesso. Já os paraciclos

são espaços abertos destinados à permanência de curta e média duração e com

baixa capacidade. Um automóvel ocupa o espaço de estacionamento de 6 a 10

bicicletas, deste modo, os estacionamentos destinados a elas não demandam

grandes áreas e sua execução é bastante simples e de custo razoável.

Figura 19: Espaço requerido nos estacionamentos.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (página 99, 2001).

É importante salientar que vagas ou espaços destinados ao estacionamento

de bicicletas ao longo das vias não devem comprometer a fluidez e as condições de

visibilidade dos pedestres, bem como não atrapalhar a circulação de pessoas com

mobilidade reduzida, sendo necessária sinalização adequada.

Os paraciclos são caracterizados por serem estacionamento de curta ou

média duração (até 2 horas) com ate 25 vagas (numero que corresponde a área de

duas vagas para automóveis), de uso público e sem controle de acesso nem

zeladoria. O acesso ao paraciclo não deve ter obstáculos como degraus, portas ou

desníveis acentuados, caso seja em nível inferior ou superior à via, recomenda-se

que o acesso seja feito por rampas suaves.

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Figura 20: Paraciclo na cidade de São Paulo.

Fonte: <http://vadebike.org> (julho de2014).

Figura 21: Paraciclo na cidade de Londres.

Fonte: <http://www.cyclehoop.com> (março de 2014).

Os bicicletário são estacionamentos de longa permanência, com grande

capacidade e provido de vigilância e controle de acesso, podendo ser público ou

privado. Para seu dimensionamento devem-se observar os horários de pico de

movimento dos ciclistas conforme sua localização.

Preferencialmente, os bicicletários devem ser cobertos, com vigilância

integral, e providos com equipamentos que podem ser uteis aos usuários, como por

exemplo, bombas de ar comprimido, borracheiro, banheiros, bem como de

equipamentos para dispor-se a bicicleta.

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Figura 22: Bicicletário individual, do tipo “biciclex” com sistema de compartilhamento.

Fonte: <http://ascobike.org.br/> (janeiro de 2015).

Figura 23: Bicicletário no Largo da Batata na cidade de São Paulo.

Fonte: < http://vadebike.org> (novembro de2014).

O Manual de Planejamento Cicloviário do GEIPOT apresenta sugestões para

localização de estacionamento para bicicletas, do tipo paraciclo e bicicletário, e a

quem cabe à responsabilidade de implantá-los e mantê-los.

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Locais Bicicletários Paraciclos

Público Privado Público Privado

Indústrias X

Grandes áreas de lazer X X

Integração com o transporte coletivo de

grande capacidade X

Feiras de alimentos X

Grandes feiras de exposições X X

Centros urbanos X X

Escolas X X X

Cinemas X

Hospitais X

Praças de esportes X X

Comércio local X

Supermercados X

Pontos comerciais aglutinados (shoppings) X

Quadro 2: Localização de estacionamentos para bicicletas.

Fonte: Adaptado de Coleção Bicicleta Brasil (2007).

2.2.4 Fatores favoráveis e desfavoráveis do uso da bicicleta

A inserção do modal cicloviário dentro de um contexto urbano de

predominância do transporte individual motorizado apresenta claras vantagens sobre

os outros meios de transporte, porém, algumas de suas particularidades são

caracterizadas como desfavoráveis à sua utilização, e são estas as áreas de

oportunidade para melhorias, de modo a estimular o seu uso.

A bicicleta implica num custo por quilômetro equivalente a menos 16 das

despesas referentes a um automóvel, essa vantagem foi observada através do

estudo de Coelho et al. (2011) que comparou os custos do modal cicloviário em

rotas curtas no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, e os comparou aos dados da

Agência nacional de Transportes Públicos para outros modais. Segundo dados da

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pesquisa, o custo médio do transporte por bicicleta é de R$ 0,121 por quilômetro, de

ônibus R$ 0,324, motos R$ 0,481 e automóveis a gasolina R$ 0,763, o que sugere

que, para trecho de até sete quilômetros, viagens de bicicleta podem ser até seis

vezes mais baratas que o mesmo trecho percorrido por automóvel.

Modos de Transporte Custo por quilometro (R$/km) Comparação

Bicicleta 0,121 1,0

Ônibus 0,324 2,7

Moto 0,481 4,0

Automóvel (álcool) 0,723 6,0

Automóvel (gasolina) 0,763 6,3

Quadro 3: Comparação de custo por quilômetro.

Fonte: Adaptado de Coelho et al. (página 13, 2011).

Publicações da Conferência Europeia de Ministros de Transporte (ECMT,

2004) apontaram vantagens de impacto ambiental do uso da bicicleta quando sobre

os demais meios de transporte motorizados. Em comparação ao automóvel, ela

consome 8% do seu espaço na via e representa um risco de acidentes 98% menor,

ainda conforme Mikko Ojajärvi, em um artigo de 1992, intitulado Cycling in a

Northern Contry (Finlândia), a fabricação de uma bicicleta requer somente o

equivalente a 170 dos recursos naturais necessários à produção de um automóvel.

2.2.4.1 Características favoráveis

Diversos são os pontos positivos do uso da bicicleta, desde para a economia

do país, devido à produção e comercialização das mesmas, até outros benefícios

indiretos. Seguem-se outros aspectos de relevância que constam no Caderno 1 da

Coleção Bicicleta Brasil do Ministério das Cidades de 2007:

Baixo custo de aquisição manutenção: o custo de aquisição de uma bicicleta

é o mais barato dentre todos os veículos de transporte urbano, em média R$

500,00, sendo que a tributação sobre o valor da bicicleta no Brasil é superior

a 70%. No que diz respeito à manutenção, pode-se desprezar o valor,

comparada aos demais veículos de transporte individual.

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Eficiência energética: Para percorrer a mesma distância, um ciclista consome

cinco vezes menos energia que um pedestre e cinquenta vezes menos que

um automóvel compacto. Embora o automóvel tenha uma eficiência

energética semelhante ao homem, a carga que ele arrasta corresponde a

mais de 10 vezes o peso do seu motorista.

Baixa perturbação ambiental: O impacto ambiental negativo da bicicleta

ocorre basicamente somente durante a sua fabricação, visto que não existe

nenhum processo industrial totalmente limpo e não poluente, porém ao

realizar uma análise ampla, esse impacto é pequeno se comparado aos

demais veículos individuais. No que se refere ao momento do uso, a

perturbação é praticamente nula, visto que seu mecanismo baseia-se na

propulsão devido a força humana, e sua intrusão visual não se aplica, visto

que o ciclista torna-se parte da paisagem.

Contribuição à saúde do usuário: O ciclismo é comprovadamente uma forma

eficiente de restaurar o bem-estar físico e mental dos praticantes, bem como

ser uma atividade terapêutica. Devido ao fato de que andar de bicicleta é um

mecanismo que exige a movimentação do ciclista, tornando-se não apenas

um meio de transporte como também um exercício aeróbico. Assim, o uso da

bicicleta melhora o condicionamento físico do usuário, e seu uso recorrente

reduz a probabilidade de doenças cardíacas, melhora a ansiedade e reduz a

retenção de líquidos, entre outras vantagens ao bem-estar.

Equidade: A autonomia conferida pela bicicleta a torna o veículo individual

que mais atende o principio da equidade. Por se barata, de fácil manutenção

e manipulação, seu acesso é garantido pela grande maioria da população,

independente da classe social ou faixa etária.

Flexibilidade: Por não estar atrelada a horários e rotas preestabelecidas, a

bicicleta confere elevada flexibilidade ao seu usuário, além disso, ela pode

circular e locais inacessíveis em outras mobilidades, como parques e vias

estreitas. Em congestionamentos, por exemplo, o ciclista não precisa ficar

peso ao problema, esperando até sua superação, ele pode desmontar e

seguir sua viagem como pedestre, empurrando seu veículo na calçada.

Rapidez: Para deslocamentos “porta-a-aporta” em viagens até cinco

quilômetros, a bicicleta é o meio de transporte mais rápido, no que se refere a

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áreas de alta densidade nas cidades. Nesses trechos o ciclista tem a

mobilidade de um pedestre, porém com velocidade muito superior, podendo

ser equiparável com um automóvel.

Figura 24: Modo de transporte versus tempo de viagem.

Fonte: IEMA (2010).

Em condições favoráveis, o ciclista consegue desenvolver velocidades de até

19 kmh, e mesmo em condições normais de tráfego, considerando cruzamentos e

demais fatores, ele consegue manter uma velocidade entre 12 kmh e 15 kmh,

portanto, sendo de 3 a 4 vezes mais velozes do que caminhada, e muitas vezes,

devido a condições adversas do tráfego, como congestionamentos, mais rápidas

que automóveis.

Menor necessidade de espaço público: Ao se deslocarem as pessoas

ocupam uma media diferente de espaço publico, conforme o tipo de meio de

transporte que utilizam. De acordo com o GEIPOT (2010) em uma hora

passam até 1.500 bicicletas por metro de largura de via. Desta forma, uma

faixa de 3 metros comporta um fluxo de cerca de 4.500 bicicletas, enquanto

permite a passagem de apenas 450 automóveis, aproximadamente.

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Figura 25: Espaço consumido por modo de transporte.

Fonte: Associação dos ciclistas de Belo Horizonte (2010).

É importante lembrar que o espaço requerido pelos meios de transporte não

se limita apenas durante o seu deslocamento, mas também no que se refere a

estacionamentos, e como visto anteriormente no item 2.2.3.5, uma vaga de

automóvel pode comportar 10 bicicletas, ou até mais, com esquemas que utilizem

mais de um nível.

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Benefícios do uso da bicicleta

Econômicos Ambientais Sociais

Redução de

congestionamentos Redução da emissão de

poluentes atmosféricos e

gases d efeito estufa,

como o material

particulado, CO, CO2 e

compostos voláteis.

Redução de internações

hospitalares por

problemas

cardiorrespiratórios

Redução de gastos dos

usuários

Criação de empregos Redução da obesidade,

sedentarismo, etc

Criação de pequenos

negócios Acessibilidade universal

Redução de acidentes

de trânsito

Redução da poluição

sonora

Melhoria do

deslocamento

Redução do consumo de

combustíveis

Redução da produção

de resíduos gerados

pelo transporte

motorizado

Recuperação de bairros

e áreas residenciais em

decorrência da

moderação do trânsito

Valorização dos espaços

públicos

Redução dos gastos em

saúde pública

Redução da

contaminação da água

Quadro 4: Benefícios do uso da bicicleta.

Fonte: IEMA (2010) elaborado pela autora.

2.2.4.2 Características desfavoráveis

Apesar das diversas vantagens já citadas anteriormente, como benefícios à

saúde do usuário e ao meio ambiente, como qualquer meio de transporte, a bicicleta

apresenta características intrínsecas que podem ser consideradas negativas. Alguns

fatores negativos são listado pelo Ministério das cidades no Caderno 1 da Coleção

Bicicleta Brasil.

Raio de ação limitado: Tal fator é bastante subjetivo, visto que essa limitação

decorre do modo de tração do veículo, que se baseia no esforço físico do

usuário, que varia conforme a capacidade e condicionamento físico de cada

indivíduo. As características da cidade, como topografia, clima, infraestrutura

viária, e condições de trafego também exercem influência. Quando a bicicleta

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passa a ser utilizada como um transporte complementar e integrada a outros

modos de transporte, o raio de ação limitado deixa de ser um fator

desfavorável.

Sensibilidade às rampas: Topografias muito acidentadas afetam diretamente

o percurso do ciclista, o desestimulando. Porem além do fato de que se em

algum momento da viagem o ciclista se deparar com uma ladeira muito

inclinada, que lhe exigiria um esforço muito grande, ele simplesmente pode

descer e percorrer esse segmento empurrando o seu veículo, como pedestre.

Também se faz necessário ressaltar que a tecnologia evolui diariamente,

onde as bicicletas atuais são mais leves e dispõe de um sistema de marchas

aperfeiçoado, sem esquecer-se das bicicletas elétricas, que não demandam

esforço do usuário.

Exposições ás intempéries e à poluição: Dentre todos os usuários vias

urbanas, o ciclista é o mais exposto aos rigores do clima. O Calor e o frio

excessivos, a chuva, a umidade e a intensidade do vento são relevantes,

porém existem diversas formas de atenuá-los, como o uso de roupas

adequadas, arborização dos trajetos, dentre muitas outras.

Figura 26: Espaço consumido por modo.

Fonte: IEMA (2010).

Vulnerabilidade física do ciclista: o Código Brasileiro de Trânsito prioriza o

ciclista na via, porém, a maioria dos motoristas de veículos motorizados

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desconhece ou ignora tal prerrogativa, o que acaba sendo um problema para

o ciclista, que acaba sendo desrespeitado, e tendo sua segurança

comprometida. Uma conduta defensiva adotada pelo ciclista confere

segurança ao mesmo, bem como o uso de equipamentos adequados, como o

retrovisor, buzina ou campainha, e capacete.

Vulnerabilidade ao furto: A inexistência de estacionamentos específicos e

seguros em locais públicos é um fator importante no desestímulo do uso da

bicicleta. A inexistência desses estacionamentos, principalmente em terminais

de transporte público, é determinante na não utilização da bicicleta, de forma

a não haver integração dos modais, bem como na limitação da mobilidade do

ciclista dos seus destinos de viagens.

2.2.5 Modalidades dos usos da bicicleta

Além do uso como veículo de passeio, para o lazer e o esporte, a bicicleta

dentro do meio urbano apresenta diversas aplicações como meio de transporte de

pessoas e mercadorias, sendo listados a seguir seus principais usos:

1) Deslocamentos para o trabalho – Tanto em áreas urbanas quanto rurais,

constitui o principal emprego da bicicleta, sendo mais comum em pequenas e

médias cidades, principalmente em locais onde há forte atividade industrial.

Figura 27: Paraciclo personalizado na Companhia Paranaense de Energia - COPEL.

Fonte: <http://www.bicicletarios.com.br> (2014).

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2) Deslocamento para o estudo – Segundo maior uso da bicicleta no Brasil e no

mundo, utilizado por diversas faixas etárias, principalmente crianças e

adolescentes, cujas escolas em geral, situam-se a menos de dois quilômetros

do local de moradia. Visto que crianças possuem baixo discernimento de

normas de trânsito, e noção de situações de perigo, é imprescindível

investimento de medidas moderadoras de tráfego e implementação de

infraestrutura cicloviária no entorno desses locais.

Figura 28: Bicicletário em escola municipal de Nova Santa RitaRS.

Fonte: <http://diariogaucho.clicrbs.com.br> (2015).

3) Uso no transporte de mercadorias – Diversos tipos de comércio fazem uso da

bicicleta para transportarem suas mercadorias ou para entrega-las na casa

dos clientes disponibilizando serviços de Delivery, como por exemplo,

farmácias, padarias, distribuidoras de água mineral, entre outras.

Figura 29: Delivery por bicicleta, realizado pela empresa especializada EcoBike Courier em Porto

AlegreRS.

Fonte: <http://wp.clicrbs.com.br> (2014).

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4) Uso no transporte de correspondência – No Brasil, os Correios e Telégrafos

fazem uso de bicicletas-cargueiras e individuais utilizada pelos carteiros, para

entrega de correspondências, encomendas e documentos.

5) Uso como veículo propulsor de baú – Modalidade utilizada por pequenos

comerciantes para venda e transporte de seus produtos.

Figura 30: Bicicleta utilizada como “Food Bike” na venda de cachorro quente.

Fonte: <http://www.foodbikes.com.br> (2015).

6) Uso como transporte de pessoas além do condutor – No sudeste asiático

existem os chamados riquixás que nada mais são do que bici-táxis.

Geralmente essa modalidade é utilizada com fins turísticos.

Figura 31: Bicitáxi na cidade de Barcelona.

Fonte: <http://www.prestigeelectriccar.com> (2011).

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3. PLANEJAMENTO CICLOVIÁRIO

3.1 A importância do planejamento cicloviário

Não existe solução única para tornar o uso da bicicleta mais seguro e

agradável, deve-se então fazer uso de diversas alternativas para proporcionar uma

infraestrutura adequada para os ciclistas no meio urbano, neste contexto que o

planejamento cicloviário se apresenta. Apesar da Organização das Nações Unidas

(ONU) ter elegido a bicicleta como meio de transporte ecologicamente mais

sustentável do planeta, muitos países não dão a devida atenção às necessidades

dos usuários desse modal.

Segundo Kirner (2006), a bicicleta é muito utilizada no mundo inteiro e em

alguns países tais como China, Índia, Holanda e Japão, a posse deste tipo de

veículo é mais comum que a de veículos motorizados. Por outro lado, ressalta a

autora, que as facilidades voltadas a este uso são implementadas de maneira muito

lenta, principalmente, devido a problemas no planejamento intermodal dos sistemas

de transportes e acrescenta que o uso da bicicleta integrada ao transporte público

tem se mostrado imprescindível para atender aos requisitos da mobilidade urbana

sustentável.

3.2 O plano diretor cicloviário

O Plano diretor de um município representa o principal instrumento de

planejamento de uma cidade. Na sua elaboração deverão constar tanto as diretrizes

gerais dos itens referentes à mobilidade, como suas interligações com outros

subsistemas, em especial aqueles relacionados a uso do solo, transporte e trânsito.

Um plano diretor de transportes e mobilidade deve conter preceitos,

instrumentos e projetos voltados a organização dos espaços de circulação e dos

serviços de trânsito e transportes públicos, e propiciar condições adequadas de

mobilidade, facilitando a acessibilidade da população e a logística de distribuição de

mercadorias. Sendo assim, o plano cicloviário deverá estar inserido na rede de

mobilidade estruturada conforme o plano diretor de mobilidade.

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Deve-se salientar, mais uma vez, que embora desejável em diversas

circunstâncias, a ciclovia não deve ser o objetivo central dos técnicos e

planejadores. É necessário usar todo o potencial que cada cidade possui, como

espaços compartilhados, passeios compartilhados, ciclofaixas, rotas prioritárias, que

podem ser excelentes alternativas para atrair ciclistas.

De acordo com o IEMA (2010) consiste basicamente em quatro programas,

apresentados no quadro 5:

Plano Diretor Cicloviário

Programa de

Gestão

Programa de

Intermodalidade

Programa de

Educação /

Informação

Programa de

implantação de

Infraestrutura

Diretrizes de gestão

do Plano Diretor

Cicloviário

Localização

potencial dos Polos

Cicloviários

Modelo de gestão

da rede cicloviária

Definição e projeto

da rede cicloviária

Base legal e

normativa

Localização

potencial de

bicicletários e

paraciclos

Estímulo ao uso da

bicicleta

Modelo de

implantação da rede

cicloviária

Regulamentação da

circulação

cicloviária

Modelos de

integração da

bicicleta e outros

meios de transporte

Orientação

Comportamental

Definição do prazo

de implantação do

sistema cicloviário

Audiências Públicas

Modelo de gestão

de bicicletas

públicas

Eventos ciclísticos Definição das fases

de implantação

Financiamento da

implantação e

gestão Definição das

etapas de

implantação

O Plano Diretor

Cicloviário junto às

escolas

Custos de

implantação

Programas de

incentivo à compra

de bicicletas

O Plano Diretor

Cicloviário junto às

autoescolas

Alternativas de

financiamento

Quadro 5: Composição do plano diretor cicloviário.

Fonte: IEMA (2010) elaborado pela autora.

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3.2.1 Exigências para o planejamento cicloviário

Podem-se estabelecer cinco exigências fundamentais pra execução de um

bom plano cicloviário conforme o Caderno 1 da Coleção Bicicleta Brasil do Ministério

das Cidades de 2007, listadas a seguir:

1) Segurança viária: De todas as premissas que devem ser adotadas para

um planejamento e projeto de infraestrutura cicloviaria, a questão da

segurança é a mais complexa e deve atender a quatro níveis: redes;

seções; cruzamentos e piso.

Para compor uma infraestrutura cicloviária, esta deve atender questões de

segurança não só no âmbito do ciclista, como também dos demais

usuários das vias, conferindo visibilidade e previsibilidade, sendo pensada

sempre como função do volume de tráfego e velocidade. Medidas como

projetos geométricos adequados, moderação de tráfego, proteção física

para pedestres e ciclistas, sinalização e fiscalização, são fundamentais

para segurança do sistema viário como um todo e para redução de

acidentes.

2) Rotas diretas: O esforço despendido para o deslocamento do ciclista é

definitivo para adesão ao modal, bem como tempos de viagens reduzidos.

Deste modo a infraestrutura deve oferecer ao ciclista rotas diretas e claras,

sem desvios e com o mínimo de interferências.

3) Coerência: A infraestrutura deve apresentar uma unidade coerente através

de desenho facilmente reconhecível, larguras constantes nas ciclovias e

ciclofaixas e oferecer sistemas de informação e sinalização que possibilite

ao ciclista fazer uso além da infraestrutura cicloviaria propriamente dita,

como também comunicá-lo a respeito de rotas alternativas, informações

das condições de trânsito, topografia, por exemplo.

4) Conforto: Para que o usuário sinta-se confortável ao usufruir da

infraestrutura cicloviária, além de ser necessário um piso adequado, que

proporcione suavidade ao pedalar, com superfície regular, antideslizante,

é preciso que as larguras das faixas sejam compatíveis com a via e que as

rotas sejam de preferencia protegidas das intempéries do clima, com

arborização e drenagem apropriada.

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5) Atratividade: Diversos são os fatores que geram atratividade ao uso da

infraestrutura cicloviaria, bem como os que geram inibem o seu uso.

Alguns meios de tornar a infraestrutura atrativa aos usuários é desenhá-la

de forma integrada ao ambiente, de maneira que o caminhar e pedalar

seja prazeroso, conformando seu traçado com ambientes variados e

coincidindo o mínimo possível com vias arteriais de trânsito. Por ser um

aspecto bastante amplo, será dedicada maior atenção a este assunto no

item 2.3.4 desse trabalho.

3.2.2 Elaboração do plano de mobilidade por bicicleta

A elaboração de um plano cicloviário requer diversas ações prévias, como

obtenção de plantas e mapas; contagem do tráfego e dados sobre a movimentação

de ciclistas no território de análise; contatos prévios com ativistas da bicicleta, clubes

de ciclismo ou associações de ciclistas, para conhecer quais são as características

dos futuros usuários; definição de áreas com demanda potencial à instalação de

paraciclos e bicicletários; entre outras. De posse dessas informações torna-se

possível fazer alguns lançamentos exploratórios quanto ao lançamento de uma rede

cicloviaria preliminar.

É imprescindível realizar estudos, levantamentos e pesquisas diretas para

identificação de demanda e dos diversos aspectos físicos, socioeconômicos,

culturais e ambientais a ela associados. O GEIPOP (2001) apresenta um esquema

referente ao estudo da bicicleta dentro do cenário urbano, conforme a figura 27, que

pode guiar os elaboradores dos planos cicloviários.

A delimitação da área de estudo possibilita uma análise mais específica,

podendo dessa forma realizar a implementação de rotas cicloviárias mais

adequadas ao local e a demanda. Posteriormente devem-se definir quais são as

expectativas e objetivos tantos das autoridades quanto da população em estudo, tal

como realizar as pesquisas pertinentes (estudos de demanda, por exemplo), e deste

modo conceber alternativas de projetos a serem possivelmente executados.

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Figura 32: Esquema de um estudo de implantação de mobilidade por bicicletas.

Fonte: Manual de Planejamento cicloviário GEIPOT (página 16, 2001).

Há duas abordagens que devem coexistir e combinar ao longo da elaboração

do plano de mobilidade por bicicleta: uma técnica e outra da discussão social.

No que se refere à abordagem técnica, esta faz uso de metodologias

clássicas de planejamento de transporte, estabelecidas no levantamento de dados

quantitativos, no emprego de meios de representação dos atributos e relações

espaciais (mapas, desenhos, esquemas ilustrativos), no uso de métodos de previsão

de demanda (modelos de transporte) e no uso de instrumentos de simulação do

desempenho de redes de transporte baseados em indicadores de desemprenho

econômico e social.

Já na abordagem social, é oportuno utilizar métodos que permitam a partir da

discussão com a sociedade, uma compreensão do que as pessoas, entidades e

setores econômicos pensam das condições de mobilidade na cidade e da

receptividade e aprovação das medidas que venham a ser estabelecidas. Tal

abordagem pode produzir indicadores quantitativos e qualitativos que expressem

algumas variáveis importantes à análise.

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De acordo com o Manual de Projeto Geométrico de Travessias urbanas do

DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte), de 2010, existem

variáveis que auxiliam e norteiam estudos para localização e implantação de

sistemas cicloviários. Segue algumas dessas variáveis:

Nível de habilidade dos usuários – Orienta que deve ser considerada a

habilidade e preferencia de diferentes tipos de ciclistas que irão usufruir dessa

infraestrutura para se deslocar próximo a escolas, parques e áreas

residenciais, onde a porcentagem de ciclistas infantis e inexperientes é

superior a de ciclistas mais experientes;

Impedimentos físicos – Em áreas de topografia muito acidentada, rios,

ferrovias e vias expressas, por exemplo, deve-se avaliar a viabilidade de

dispositivos viários ou de passagens exclusivas para atender ao tráfego

potencial de ciclistas;

Atendimento mais direto – Quando o tráfego de ciclistas foi muito elevado

entre origens e destino, deve-se analisar a viabilidade de uma solução mais

racional e adequada para os usuários do sistema;

Acessibilidade – Considerar a provisão de acessos frequentes e apropriado,

em especial nas áreas residenciais;

Aparência – A paisagem urbana é de extrema importância durante um

percurso cicloviário, principalmente no que se refere a viagens recreativas e

contemplativas;

Segurança pessoal – Levar em conta possíveis atos criminosos contra

ciclistas, especialmente em trechos de uso geral isolados, e a possibilidade

de roubos e vandalismo em locais de estacionamento;

Paradas – Ao decorrer de seu percurso, grande parte dos ciclistas tende a

seguir em velocidades constantes, caso isso seja contrario, ou seja, os

ciclistas são forçados a realizar paradas frequentes, isso pode fazer com que

os mesmos abandonem a via ou desrespeite a sinalização e demais

dispositivos de controle de tráfego;

Manutenção – Esse item é essencial para que os ciclistas continuem a utilizar

o sistema cicloviário, pois projetos que facilitam e simplificam os serviços de

manutenção melhoram a segurança e a operação;

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Qualidade da superfície do pavimento – As vias de bicicleta devem

apresentar pavimentação rigorosamente regular, livres de saliências e

buracos. Desta forma, o ciclista sente-se seguro ao trafegar. Os dispositivos

de drenagem, como poços de inspeção, boca de lobo e grelhas, devem

respeitar a continuidade da superfície, e se possível, ficar fora do trajeto das

bicicletas;

Condições das intersecções – As vias para ciclistas devem ser selecionadas

de modo a reduzir o número de intersecções a atravessar, ou, quando estas

forem inevitáveis, devem ser melhoradas, de modo a reduzir os conflitos nas

travessias. As intersecções em nível de grande volume, ou de velocidades

elevadas, e travessias de meio de quadra devem ser analisadas, tendo em

mente as necessidades dos ciclistas, a fim de determinar as melhores

condições para os projetos de travessia;

Custodisponibilidade de recursos – Uma boa solução normalmente envolve

uma análise de custos de alternativas. Sendo assim, estas alternativas podem

ser limitadas pela falta de recursos. É importante, entretanto, que a falta de

recursos não resulte em uma solução de má qualidade. A decisão de

implantar um sistema de vias para ciclistas tem que levarem conta seu

funcionamento em longo prazo, com adequada manutenção e que seja viável

para a cidade. Quando os recursos são limitados, o foco deve ser dado em

melhorias de baixo custo, como por exemplo, estacionamentos de bicicletas,

remoção de barreiras e obstruções ao trafego de bicicletas.

O sucesso de um plano de mobilidade por bicicleta não se restringe a uma

boa elaboração, no que se refere a dimensionamentos ou em uma boa

implementação, mas também, a educação e respeito de motoristas e ciclistas são

fundamentais, bem como a ideia de que todo o sistema viário existente deve abrigar

diferentes modais de transporte.

3.3 Aspectos inibidores da inclusão da Bicicleta no Cenário Urbano

Já foram apresentados diversos fatores benéficos da inclusão da bicicleta

como modal de transporte, tanto para os usuários quanto para o meio ambiente

urbano, no entanto ainda existem alguns elementos que representam pontos de

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permanente conflito no que se refere à circulação de bicicletas nas cidades. Tais

aspectos são nada mais do que desafios a serem superados ou contornados, para

que nasça uma nova ordem na mobilidade urbana que inclua em larga escala os

ciclistas. A seguir, listam-se alguns desses aspectos:

Crescimento desordenado: processos acelerados de urbanização aliados a

falta de planejamento integrado entre as politicas de desenvolvimento

urbano, transportes e mobilidade, bem como a total ausência do controle de

uso e ocupação do solo resultou numa segregação sócio-espacial e em

intervenções urbanas pontuais. Apesar de gerarem uma vasta infraestrutura,

esta foi rapidamente apropriada pelos veículos motorizados, e pouco

contribuiu na promoção de facilidades para os deslocamentos de todos os

habitantes das cidades.

Desinteresse da Gestão Pública: Devido à dificuldade em administrar

interesses contrários e promover mudanças no comportamento coletivo,

dirigentes e órgãos públicos omitem-se ou preferem não alterar os espaços

urbanos, solucionando paliativamente a questão de maior fluidez no trânsito

para os automóveis através de obras viárias.

A premissa inicial para promover mudanças parte da distribuição equitativa

dos espaços de circulação, e para isso tornar-se realidade é preciso vontade

politica, planejamento e educação para o trânsito. Conforme o Código de

Trânsito Brasileiro, as prioridades nas vias públicas são dos transportes

coletivos e dos usuários mais frágeis, são eles: pessoas com necessidades

especiais, idosos, pedestres e ciclistas. Colocando essa premissa em prática,

conseguimos uma redemocratização de oportunidades.

Para tal, recursos devem ser disponibilizados para a remodelação dos

espaços urbanos, hierarquizando os meios não motorizados, dispondo de

uma mobilidade mais equilibrada e mais segura, acordando com exigências

ambientais.

Cultura do automóvel: Observa-se que no Brasil, bem como em outros países

em desenvolvimento, possuir um carro é sinônimo de status, seja por

representar poder aquisitivo ou por ele proporcionar conforto. Por outro lado,

a utilização de automóvel é um item indispensável para a classe média

reproduzir seu modo de vida.

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60

As ações políticas realizadas nas últimas décadas ainda priorizam a

infraestrutura para o automóvel e pouco contribuíram para aumentar a

eficiência e qualidade dos transportes coletivos. O planejador urbano ainda

está limitado a garantir prioridade para o automóvel e assim a ideia do direito

de ir e vir, utilizada erroneamente para justificar o direito dos automobilistas,

esquecendo- se de o direito de ir e vir é da pessoa, e não do veículo.

Por tal razão, autoridades públicas precisam começar a devolver aos

pedestres e ciclistas espaços urbanos que hoje são apropriados pelos

automóveis, o que se torna extremamente difícil, visto que, novas vias de

circulação passaram a ser um bem muito escasso. Para obtenção de tais

espaços existem duas alternativas, a primeira é a desapropriação de espaços

já edificados com prédios, casas, entre outros. A segunda refere-se à

diminuição dos espaços de circulação de veículos motorizados. O elevado

custo da primeira opção torna a segunda uma obrigação a ser enfrentada.

Insegurança por meio dos usuários: Pode-se segregar esse aspecto em dois

pontos: 1) a vulnerabilidade física do ciclista: por ser um veículo de baixo

poder de aceleração e sem estrutura protetora, a bicicleta apresenta um

maior grau de vulnerabilidade em uma via de rolamento. A sensação de

insegurança resultante desse fato se agrava pelo comportamento

inapropriado de grande parte dos motoristas de veículos motorizados e pela

negligência do próprio ciclista. 2) a vulnerabilidade ao furto: a carência de

bicicletários ou outros tipos de estacionamento adequados para bicicletas a

torna mais suscetíveis a furtos, visto que é um veiculo leve e de fácil

transporte.

3.4 Fatores que influenciam na mobilidade dos ciclistas.

Para que haja uma massificação do uso do transporte cicloviário, algumas

iniciativas devem ser tomadas e algumas percepções ajustadas (BOARETO, 2010,

p.46). Assim, encontram-se abaixo alguns fatores que tem influencia na escolha da

bicicleta como modo de transporte:

Qualidade física da Infraestrutura: independentemente de ser uma ciclovia,

ciclofaixa, via ciclável ou outra, a largura e adequação do pavimento da via,

proteção lateral e dispositivos de alerta e redução de velocidade na

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aproximação de pontos perigosos, como cruzamentos, bem como a

sinalização e iluminação.

Qualidade ambiental dos trechos: refere-se ao paisagismo, tornando-o

agradável ao usuário, sejam eles manutenção de canteiros, terraplenos,

sombreamento e pontos de apoio ao ciclista.

Infraestrutura contínua: em especial conferir um nível homogêneo de

segurança ao longo de todo trajeto. Deve-se ter especial cuidado em

intersecções, onde a bicicleta deve dispor de espaços adequados e

independentes para realizar as travessias necessárias à continuidade do

trajeto com conforto e segurança.

Facilidade para guardar as bicicletas: Colocar a disposição do usuário

bicicletários e paraciclos em diversos pontos do espaço urbano, onde de

preferência, em sua maioria, sejam dotados de controle de acesso e

vigilância permanente.

Integração da bicicleta com os demais modais: Item imprescindível para

fomento do uso bicicleta, conferindo ampliação da mobilidade aos ciclistas.

Porém, não basta somente a integração, se faz necessário espaço para a

guarda em segurança da bicicleta, vestiários, banheiros e bebedouros, e

outros elementos que gerem atratividade pelo uso desses espaços e

permanência no uso do transporte público. Esse item será tratado mais

minuciosamente a seguir.

3.5 Integração da bicicleta com modos de transporte coletivo

Segundo Silva (2014), o planejamento cicloviário deve ter a finalidade de

alcançar o conceito de Cidade Ciclável, que nada mais é do que permitir que o

ciclista, independente da sua condição física, tenha conforto e segurança para

realizar o deslocamento por bicicleta de porta a porta, da origem ao destino. Para

que isto aconteça, principalmente em regiões metropolitanas, ou até mesmo em

cidades de grane porte, com polos geradores de viagens de numero considerável, é

essencial a integração da bicicleta com os demais modos de transporte.

A integração entre a bicicleta e os demais modos de transporte pode ser dito

como o maior desafio a ser superado pelo plano diretor de mobilidade, pois é preciso

haver mudanças operacionais nos sistemas já implantados e inventividade dos

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planejadores de modo a promover essa unificação. Deve-se focar em dois objetivos

base para integração, primeiro, inserir a bicicleta como modo de transporte habitual

nas viagens por motivo de trabalho e estudo nas cidades; e segundo, reforçar os

modos coletivos como meios de transporte principal para viagens médias e longas

das populações.

De acordo com Bianco (2003) estudos mostram que sistemas cicloviários

criados sobre reais linhas de desejo de viagem podem carregar muito mais que três

mil bicicletas / hora, o que permite inúmeras possibilidades de integração da bicicleta

com outros modos de transportes, principalmente em equipamentos de transferência

intermodal, de forma que se possa no limite chegar a um tipo de integração total,

tanto física, quanto operacional e tarifária.

Além da integração, outra possibilidade que a bicicleta apresenta em relação

aos outros modos de transportes é a interpenetração, ou seja, a possibilidade de se

transportar a própria bicicleta em outros modos de transportes. Desta forma, é

possível analisar que, além da necessidade de paraciclos eou bicicletários próximos

a estações e terminais de transporte público, sejam eles, trem, metrô, ônibus ou até

mesmo balsas, para que o ciclista tenha confiabilidade em fazer a integração, é

necessário também, que estes meios de transporte estejam preparados para

receber ciclistas, como por exemplo, nas cidades que possuem sistema de metrô,

alguns vagões tem capacidade de receber ciclistas com suas bicicletas, porém, em

dias e horários específicos.

Em Belo Horizonte, ciclistas que possuem bicicletas dobráveis podem

transportá-las a qualquer horário e dentro de qualquer modalidade de transporte, até

mesmo em táxis, já os que possuem o veículo tradicional possuem restrições de

horários e dias para transportarem suas bicicletas dentro dos ônibus e metrôs.

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Figura 33 – Local disponibilizado para transporte de bicicletas dentro de ônibus em Belo Horizonte.

Fonte: <http://bhemciclo.org/> (2014).

Uma das mais bem sucedidas experiências nacionais de integração, é junto à

estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) em Mauá, São

Paulo. Junto à estação existe um bicicletário com capacidade de 2.000 vagas e

cerca de 10.000 usuários cadastrados, e tem um volume médio de 1.700 usuários

por dia. O bicicletário é organizado pela Associação dos Condutores de Bicicletas –

ASCOBIKE, que conta com ficha de controle de acesso dos associados, oferta de

oficina mecânica no interior do estacionamento em apoio aos ciclistas, oferta de

bicicletas de socorro aos associados no caso de pane de suas bicicletas e atuação

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constante na educação dos ciclistas quanto à conduta no interior e fora do

estacionamento.

Dados da CPTM referentes ao modo de deslocamento dos usuários do trem

as estações, mostram que o maior percentual de acesso por bicicleta é exatamente

a Estação Mauá. Tais dados conduzem a duas interpretações: primeira a de que

existe uma efetiva concentração de ciclistas no município de Mauá; e a segunda a

de que a presença de estacionamento organizado, com segurança contra o furto e

outras facilidades como as ofertadas pela ASCOBIKE, induzem a demanda, gerando

interesse no uso da bicicleta.

Um reforço à segunda hipótese está nos dados de outra pesquisa realizada

pela CPTM com 110 usuários do Bicicletário de Mauá. O resultado mostra que cerca

da metade dos usuários realizam viagens com distância de cinco quilômetros,

pedalando mais de trinta minutos diariamente. Outro fato interessante é que quase

20% dos usuários não tem como interesse o acesso ao sistema e trem, mas sim ao

comércio central de Mauá, que é vizinho à estação, bem como para acessar o

sistema de ônibus. Portanto, conclui-se que o bicicletário opera como um fator

positivo ao uso da bicicleta.

Figura 34: Bicicletário junto à estação da CTPM em Mauá.

Fonte: <http://ascobike.org.br/> (2015).

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Em uma pesquisa realizada em Porto Alegre, pela Empresa de Trens

Urbanos de Porto Alegre - Trensurb, no primeiro semestre de 2005, foram

entrevistados 627 usuários do trem, nas cinco estações de maior movimento, de um

total de 17 estações em toda a linha. Desses, 25,7% declararam serem usuários da

bicicleta e 14,3% afirmaram fazer uso da integração da bicicleta com o trem, como

forma de economia (Braga e Miranda, 2006). Conforme pesquisa de Ribeiro e

Freitas (2005, apud Braga e Miranda, 2006), na cidade de Salvador, 60% dos

usuários de ônibus e trem entrevistados, declararam que usariam a bicicleta se

houvesse integração com o transporte coletivo, com instalação de estacionamentos.

Nessa pesquisa, feita em quatro estações de trem, apenas 2% chegaram de

bicicleta ao local, devido à deficiência de estacionamento, apesar de que 35% dos

entrevistados faziam uso regular da bicicleta como modo de transporte e 53% deles

tinham ao menos uma bicicleta no domicílio.

Figura 35: Espaço destinado à bicicleta dentro de vagão do Trensurb.

Fonte: <http://gaucha.clicrbs.com.br/> (2014).

Figura 36: Bicicletário na estação de São Leopoldo do Trensurb.

Fonte: <http://bicianjo.wordpress.com/> (2011).

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Segundo artigo de Castro (2012), em pesquisa realizada para análise do

potencial de integração da bicicleta com o transporte público em Belo Horizonte,

quando foi questionado o que impedia as pessoas de utilizar a bicicleta para se

deslocar até à estação, a falta de segurança pública e de segurança viária foram os

problemas mais citados nas respostas dadas pelos potenciais usuários do sistema

de integração, como ilustra o gráfico da figura a seguir.

Figura 37: Fatores que impedem a integração para os potenciais usuários.

Fonte: Castro (2012).

Também foram questionados os motivos para a falta de interesse por parte

das pessoas na opção de integrar a bicicleta com o transporte coletivo, no caso o

trem metropolitano, como mostra a figura 39, as razões mais relevantes foram à

distância da origem até à estação (29%) e o fato de grande parte não possuir

bicicleta (30%). O sedentarismo aparece em terceiro lugar com 19% de respostas, e

as intempéries climáticas apresentaram percentual inferior a 1%.

Figura 38: Motivos da falta de interesse pela integração.

Fonte: Castro (2012).

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A experiência holandesa de integração da bicicleta com o transporte coletivo

apresenta lições para outros países, na visão de Martens (2007). Primeiro, a falta de

valor dado à bicicleta como modo alimentador para as viagens para o transporte

público sugere que medidas para promover a integração da bicicleta com o

transporte público, denominada bike-and-ride, são dificilmente prováveis de serem

implementadas se não houver uma política clara para integração. Segundo, a

experiência holandesa mostra que o uso da bicicleta em viagens de acesso pode ser

promovido simplesmente pela implantação de instalações suficientes e atrativas de

estacionamento para bicicletas. Terceiro, as possibilidades de promover o uso da

bicicleta para viagens de saída (egressa) em outros países e cidades são limitadas.

O nível mais baixo de uso de bicicletas e a infraestrutura menos desenvolvida

irão reduzir consideravelmente o número de pessoas que poderiam ponderar o uso

da bicicleta como modo egresso de transporte. Novamente segundo Martens (2007),

dada a experiência holandesa, a única medida que tem alguma chance de sucesso

em outras cidades ou países é a bicicleta de aluguel, introduzir estas bicicletas em

locais estratégicos de destino, onde não há uma malha densa de transporte público

para viagens egressas, como por exemplo, estações de trem fora de áreas centrais,

com grande potencial de geração de viagens como universidades, áreas de

escritório, centro de convenção, localizados além de uma distância confortável para

se realizar a pé (3 a 4 quilômetros).

3.6 Exemplos internacionais

Em vários países europeus a bicicleta se consolidou como principal meio de

transporte da população, bem como em alguns países asiáticos como a China e a

Índia. Isso se deve ao fato que a bicicleta esta incorporada na cultura da população

há muito tempo, e calcou seu espaço aos poucos. A seguir, apresentam-se alguns

exemplos de países e cidades em que o planejamento cicloviário tem fundamental

importância entro da mobilidade urbana.

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3.6.1 Holanda

Atualmente a Holanda é vista como um exemplo a ser seguido, no que se diz

respeito a planejamento e infraestrutura cicloviaria, porém, nem sempre foi assim. O

documentário How the Dutch got their cycle paths (Como os Holandeses

conseguiram suas ciclovias, em tradução livre) fala que apesar de existirem ciclovias

no início do século XX, não havia planejamento de modo que a bicicleta faça parte

de um sistema de mobilidade. Antes da década de 1970 as ciclovias na Holanda

eram estreitas e com pavimentação precária, sem nenhum tipo de sinalização em

cruzamentos, além de não existir conectividade. De acordo com o documentário,

após a Segunda Guerra Mundial, a economia deu um salto de 222%, fomentando o

uso de carros pela população, no entanto, as cidades holandesas, constituídas por

canais, não comportavam essa demanda, desta forma, muitos edifícios e estruturas

cicloviárias foram destruídas para dar espaço aos automóveis. Após 1970, a

população de ciclistas reduzia significativamente a cada ano, e o número de mortes

de usuários de bicicletas, principalmente crianças, em acidentes de trânsito cresciam

de forma alarmante, e foi este fato que levou milhares de pessoas as ruas, pedindo

segurança e infraestrutura cicloviária adequada.

A crise do petróleo em 1973 foi um fator determinante no reestabelecimento

da cultura da bicicleta no país, começando por pequenas ações como, por exemplo,

os domingos sem carro, onde a população saia às ruas sem temer pela segurança

fazendo uso das suas bicicletas. Foi a partir do ano de 1975 que, através da voz da

população, que o governo passou a investir em infraestrutura cicloviária,

aumentando o ciclismo na ordem de 75%.

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Figura 39: Cena do documentário How the Dutch got their cycle paths, onde ciclistas protestam em

frente ao palácio real em Amsterdam.

Fonte: Youtube < https://www.youtube.com/watch?v=XuBdf9jYj7o> (2011).

Existe um alto volume de tráfego de bicicletas junto às estações de trens das

cidades holandesas, visto que um percentual considerável da população trabalha em

uma cidade e mora em outra, sendo o sistema ferroviário o elo entre os núcleos

residências e industriais. Destacam-se as estações de Utrecht e Leiden, onde juntos,

concentram-se cerca de 50.000 bicicletas em seu entorno. Ambos possuem diversos

bicicletários em suas imediações, bem como infraestrutura adequada e segura para

os ciclistas. Em Utrecht destacam-se as passagens de nível e em desnível dos

diversos modos de transporte, como por exemplo, sob a via férrea há uma

passagem onde ciclistas e pedestres convivem harmoniosamente.

Em Amsterdam, atualmente existem cerca de 10.000 vagas de bicicleta no

entorno da estação central, para 2020, de acordo com o Plano de Ação de Bicicleta

2012-2016 de Amsterdam, serão 17.000 vagas em barcos conforme a figura 35.

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Figura 40: Estacionamento flutuante na estação central de Amsterdam.

Fonte: Correa (2014).

3.6.2 Dinamarca

De acordo com a Copenhagenize Design Company, organização que se

dedica a assessoria, elaboração e desenvolvimento de planos diretores de

mobilidade, Copenhague foi eleita a cidade mais amigável com bicicleta no mundo

em 2015. Segundo o estudo realizado pela CDC, foram eleitas 20 cidades do mundo

mais amigáveis, conforme 13 categorias:

1. Apoio

2. Cultura de Bicicletas

3. As instalações para bicicletas

4. Infraestrutura para bicicletas

5. Sistemas de aluguel de bicicletas públicas

6. Sexo: Percentagem de ciclistas que são mulheres ou homens.

7. Percentagem modal para bicicletas

8. Percentagem modal para bicicletas desde 2006

9. Percepção de Segurança

10. Política

11. A aceitação social

12. Urbanismo

13. Acalmia de tráfego

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Figura 41: As 20 cidades mais amigáveis do mundo com bicicletas.

Fonte: http://copenhagenize.eu/ (2015).

De 2012 para 2014 o uso da bicicleta em Copenhague subiu de 36 para 45%,

de acordo com a CDC, sendo assim necessários mais investimentos e infraestrutura,

que já estão sendo executados como, por exemplo, a ponte para pedestres e

ciclistas The Snake, a renovação de ciclovias que atravessam a cidade, a

construção de duas novas pontes e testes nos semáforos com tempos para bicicleta

e não para carros.

Se hoje Copenhague é reconhecida mundialmente pelo uso da bicicleta –

mais da metade da população utiliza o modal para se deslocar diariamente –, isso se

deve, em grande parte, aos ativistas que, em 1905, fundaram a Federação de

Ciclistas Dinamarqueses, a fim de reivindicar a construção de mais ciclovias. Em

paralelo, outras iniciativas de fomento ao uso da bicicleta começavam a se espalhar

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pela cidade, como a escola de ciclismo para mulheres que, já no início do último

século, encorajava a emancipação feminina.

É importante salientar que a cultura do uso da bicicleta é fundamental para

modificação de panoramas em que o carro é protagonista no trânsito, fazendo com

que a transformação da mentalidade da população seja um fator determinante na

incorporação do modal.

3.6.3 França

No ano de 2003, por ocasião do Congresso Velocity (congresso bianual

promovido pela Eurpean Cyclists’Federation), a administração de Paris, de modo a

aumentar sua rede de vias favoráveis a circulação de bicicletas, alargou em um

metro as faixas exclusivas e canaletas dos ônibus para acomodar o tráfego

compartilhado de ciclistas e coletivos.

O Velib’, criado pela prefeitura de Paris e gerido pelo grupo JCDecaux, criou

um novo conceito de bicicletas compartilhadas, foi lançado em 2007 e foi inspirado

no congresso acima citado.

Um dos principais conceitos do programa são as bicicletas públicas

compartilhadas estarem associadas a terminas de retirada a 300 metros de distância

entre si, possibilitando o deslocamento praticamente porta-a-porta. Outro fator

importante para o conceito porta-a-porta de deslocamento é a localização das

estações nas proximidades do transporte coletivo em uma grande área de destino

final de viagem, ou seja, de grande densidade. Esta relação de proximidade do

destino e área de abrangência é o fator que definirá o úmero de bicicletas e de

estações para o sucesso do sistema.

Desta forma, o Velib’ oferece os 30 primeiros minutos gratuitamente aos

usuários, em 20.000 unidades instaladas em 1.450 pontos de autoatendimento

distribuídos pela cidade.

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Figura 42: Mapa do Velib’.

Fonte: Velib’ <http://www.velib.paris/> (2015).

Em Lisboa uma iniciativa parecida esta em desenvolvimento, a Empresa de

Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) vai criar uma rede de 1.200

bicicletas partilhadas, distribuídas na zona alta da cidade e na zona ribeirinha, junto

à região dos Cais.

3.6.4 Colômbia

A cidade de Bogotá é um caso bastante especial, pois além de possuir um

modal cicloviário bastante ativo, possui um excelente sistema de transporte público,

onde a integração desses dois modais é bastante incentivada.

Desde o início da década de 1990 políticas de desestímulo do uso do

automóvel e a construção de um sistema de corredores de ônibus, juntamente com

melhorias nas vias de pedestres e incentivo ao uso de bicicletas, fizeram com que os

tempos de viagens, congestionamentos e os níveis de poluição sonora e do ar

fossem reduzidos em 30%. Esse sistema, chamado de Transmilênio recebe

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investimentos contínuos e prevê a implementação de bicicletários em seus

terminais, a fim de promover a integração.

A rede cicloviaria de Bogotá possui aproximadamente 340 quilômetros de

extensão, além disso, nos finais de semana a circulação de automóveis é restringida

por mais 100 quilômetros de vias que se tornam temporariamente exclusivas para

pedestres e ciclistas.

Figura 43: Rotas cicláveis do sistema Transmilênio com localização dos estacionamentos para

bicicleta.

Fonte: Transmilênio <http://www.transmilenio.gov.co/> (2015).

3.7 Exemplos Brasileiros

A incorporação da bicicleta ao sistema de mobilidade em várias cidades foi

impulsionada nos últimos anos e, muito se deve a nova Lei da Mobilidade Urbana, a

Lei Federal 12.587/2012, que traz instrumentos fundamentais para garantir

sustentabilidade e eficiência nos deslocamentos nas cidades. O governo tanto em

níveis estaduais como municipais vem investindo fortemente no estímulo do uso de

modais sustentáveis e do transporte coletivo.

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Em 2004, o Ministério das Cidades lançou o Plano Bicicleta Brasil, que visa a

inclusão da bicicleta como modal de transporte regular de forma a abordá-la como

um novo conceito de mobilidade urbana sustentável, visto que, também representa a

redução do custo da mobilidade para as pessoas.

Objetivos do programa:

Inserir e ampliar o transporte por bicicleta na matriz de deslocamentos

urbanos;

Promover sua integração aos sistemas de transportes coletivos, visando

reduzir o custo de deslocamento, principalmente da população de menor

renda;

Estimular os governos municipais a implantar sistemas cicloviários e um

conjunto de ações que garantam a segurança dos ciclistas nos

deslocamentos urbanos;

Difundir o conceito de mobilidade urbana sustentável, estimulando os meios

não motorizados e transporte, inserindo-os no desenho urbano.

Este plano, que define diretrizes para incorporação do modal cicloviário,

estimulou principalmente municípios com população em torno de 500 mil habitantes

a desenvolver planos de mobilidade que valorizam a bicicleta, e, em cidades que já

tinham alguma infraestrutura destinada aos ciclistas, procuraram ampliá-la.

3.7.1 Rio de Janeiro

Desde 2008 a cidade do Rio de Janeiro possui um sistema de bicicletas

públicas nomeado de Solução Alternativa de Mobilidade por Bicicleta (SAMBA), tal

iniciativa faz parte de um projeto municipal de planejamento cicloviário chamado

“Bike Rio”, apoiado pelo banco Itaú. O SAMBA conta com 60 estações e 600

bicicletas, distribuídas nos bairros de Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim

Botânico, Gávea, Botafogo, Urca, Flamengo e Centro, todas elas autônomas e

monitoradas eletronicamente. Devido as Olimpíadas de 2016, a cidade receberá 200

novas estações até o final do ano.

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Conforme dados de 2011 fornecidos pela Prefeitura do Rio de Janeiro, a

cidade conta com 350 quilômetros de ciclovias já implantadas e 150 quilômetros em

estudo de implantação.

Figura 44: Mapa cicloviário da cidade do Rio de Janeiro.

Fonte: Prefeitura do Rio de Janeiro <http://www.rio.rj.gov.br/>.

3.7.2 São Paulo

Conforme a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo – CET – até

o final de 2015 a cidade contará com 400 quilômetros de vias cicláveis, atualmente,

após a inauguração da ciclovia da Avenida Paulista dia 28 de junho de 2015, a

cidade conta com 346,4 quilômetros de infraestrutura cicloviária permanente, sendo

a líder no ranking nacional, e na América Latina, perdendo somente para Bogotá.

São Paulo conta com dois sistemas de aluguel de bicicletas, o “Ciclo Sampa”,

que possui 18 estações distribuídas na cidade, apoiadas pelo Bradesco Seguros. O

segundo sistema é o “Bike Sampa”, que conta com 240 estações, em que o usuário

pode inclusive usar o Bilhete Único (sistema de bilhetagem eletrônica do transporte

público) e solicitar a bicicleta por aplicativo de smatphone. O Bike Sampa tem apoio

do banco Itaú, que desenvolve esse projeto em várias outras cidades do Brasil.

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Figura 45: Ciclovia da Avenida Paulista em São Paulo, no dia de sua inauguração.

Fonte: <http://www.greenme.com.br/> (2015).

3.7.3 Porto Alegre

Em 2007 a prefeitura de Porto Alegre apresentou o primeiro Plano Cicloviário

do Brasil, que tem como objetivo implantar 495 quilômetros de ciclovia na cidade.

Tal plano é integrado com o Plano de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (2º

PDDUA), estando diretamente atrelado ao novo Plano Diretor Setorial de Transporte

Coletivo. Para sua elaboração foi realizado um diagnóstico contendo:

Pesquisa da experiência relacionada às questões cicloviárias;

Pesquisa dos aspectos legais, institucionais e administrativos;

Pesquisa institucional;

Levantamento dos aspectos socioeconômicos;

Caracterização da área de estudo;

Caracterização do sistema viário estrutural;

Caracterização do serviço de transporte coletivo;

Caracterização dos empreendimentos urbanos de maior porte;

Caracterização dos serviços de Trens Urbanos;

Pesquisas sobre a utilização de bicicletas em Porto Alegre;

Geração de dados relativos as pesquisas Origem Destino Domiciliar – EDOM

86972004;

Execução das pesquisas de Demanda Manifesta, análise das pesquisas

Origem Destino (2003 e anteriores) de Transporte Coletivo.

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Outro dado importante levantado pela prefeitura foram os locais de ocorrência

de acidentes envolvendo ciclistas, de modo a avaliar pontos de conflito e que

necessitam de maior atenção.

Através dos resultados obtidos, pode-se traçar uma rede potencial preliminar,

e posteriormente, através de avaliações de demanda, a locação de uma rede

estrutural, bem como de que forma essa rede seria implantada, analisando os

tramos cicloviários prioritários e cronograma de implantação e investimentos.

Figura 46: Malha cicloviária da cidade de Porto Alegre.

Fonte: Prefeitura de Porto Alegre <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/> (2013).

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Porto Alegre também conta com um sistema de aluguel e compartilhamento

de bicicletas, chamado de “Bike PoA”, que como em São Paulo e Rio de Janeiro tem

apoio do banco Itaú. Conta com 40 estações com 10 bicicletas em cada estação, e o

serviço pode ser contratado via internet ou aplicativo de smartphone.

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4. ESTUDO DE CASO

4.1 Apresentação do estudo de caso

O estudo de caso consiste na avaliação do Plano Diretor de Mobilidade

Urbana (PDMU) da cidade de Santa MariaRS, restringindo-se no que diz respeito

ao plano cicloviário. Não cabe a este estudo traçar rotas cicloviárias para a cidade,

tampouco propor um Plano Diretor Cicloviário, e sim avaliar as possibilidades

apresentadas pelo Instituto e Planejamento de Santa Maria (IPLAN), no que se

refere à mobilidade por bicicleta na cidade.

4.2 O cenário atual da mobilidade em Santa Maria

Santa Maria é a mais importante cidade da região central do Rio Grande do

Sul, com área territorial de 1.781,757 Km² e cerca de 275.000 habitantes. A

população é composta na sua maioria de jovens de 25 a 30 anos, reflexo dos dois

grandes polos de atração da cidade, que são a Universidade Federal de Santa Maria

e a Base Aérea.

Conforme dados do DENATRAN (2010), Santa Maria possui um índice de

2,06 habitantes/veículo, abaixo da média nacional que é de 2,57 habitantes/veículo,

mas ainda assim fazendo parte das 150 cidades brasileiras com maior índice de

automóveis por habitante. Conforme pesquisa domiciliar de Origem e Destino

realizada para desenvolvimento do PDMU mais de 47% dos deslocamentos na

cidade são feitos por veículo motorizado particular.

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Figura 47: Caracterização da Mobilidade em Santa Maria.

Fonte: IPLAN (2013).

A pesquisa domiciliar de origem e destino desenvolvida revelou que são

realizados 577.272 deslocamentos diariamente, cujo índice de mobilidade calculado

é de 2,3 deslocamentospessoa. Para efeito comparativo, São Paulo tem um índice

de 1,95 e cidades do sul da Europa são caracterizadas por índices entre 3,0 e 4,0

deslocamentospessoa.

É válido observar na figura 42, que apenas 52,8% dos deslocamentos

realizados são feitos por modos considerados sustentáveis (a pé, de bicicleta ou

transporte coletivo), sendo que na Europa, exemplo de mobilidade sustentável,

busca um mínimo de 66,6% dos deslocamentos deve ser feitos de modo

sustentável, conforme a figura abaixo:

Figura 48: Objetivos quanto à mobilidade sustentável da União Europeia.

Fonte: IPLAN (2013).

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82

Conforme analisado no início deste trabalho, a mobilidade esta intimamente

ligada ao nível socioeconômico da população, e em Santa Maria não seria diferente.

A pesquisa OD revelou um alto uso dos modos não motorizados e do transporte

coletivo pela população de renda mais baixa, bem como um baixo índice de

mobilidade (1,7), e na medida em que a renda aumenta, aumente também o uso dos

veículos privados motorizados, bem como o aumento da mobilidade (3,69). Como

demostrado abaixo:

Figura 49: Divisão modal por renda.

Fonte: IPLAN (2013).

Nas pesquisas realizadas, a amostra era de 52% mulheres e 48% homens, no

caso dos homens, eles usam na sua maioria o transporte privado (56,3%) chegando

o uso do transporte coletivo e modos não motorizados até 43% conjuntamente. No

caso das mulheres, os números são invertidos: os modos a pé e coletivo

representam 62% e o transporte privado 38% dos deslocamentos distribuídos por

modo. Poderia falar-se então de uma distribuição modal mais equilibrada na

população feminina.

Figura 50: Divisão modal por gênero.

Fonte: IPLAN (2013).

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83

No que se refere à divisão modal por atividade, os estudantes apresentam

uma distribuição similar nos modos transporte privado (39%) e a pé (36,3%),

conforme a figura 46, o fato que chama a atenção é o transporte público não ter

tanta relevância nessa faixa da população, que tradicionalmente é usuária deste

modo por motivos econômicos. Os estudantes de Santa Maria preferem o

deslocamento a pé, em relação ao transporte coletivo e a bicicleta, situação que

pode ter inúmeros motivos, como precariedade do sistema de transporte público,

carência de rotas cicláveis, entre outros.

Figura 51: Divisão modal na população de estudantes.

Fonte: IPLAN (2013).

Quanto aos trabalhadores, o uso do automóvel é significativo (50%).

Comparando com a população de estudantes, observa-se um aumento dos

deslocamentos com transporte privado e redução dos deslocamentos a pé. Pode-se

concluir através desta análise que, o estudante é obrigado por motivos econômicos

a andar a pé, e assim que egressa na vida laboral compra um carro.

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84

Figura 52: Divisão modal na população de trabalhadores.

Fonte: IPLAN (2013).

4.2.1 Principais relações de mobilidade

Através da pesquisa domiciliar, foi possível caracterizar a concentração dos

deslocamentos, tanto em origem como em destino, definindo as zonas de tráfego

segundo o número de deslocamentos de saída e chegada, que cada uma apresenta.

A seguir estão definidas as 16 zonas de tráfego caracterizadas pelas pesquisas:

Figura 53: Definição das zonas de tráfego.

Fonte: IPLAN (2013).

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As principais relações que afetam a mobilidade de Santa Maria estão focadas

nas relações Leste – Oeste, os destinos dos deslocamentos são em sua maioria os

bairros Camobi e Tancredo Neves, zonas destacadas com o verde mais escuro na

figura abaixo:

Figura 54: Densidade de Deslocamentos.

Fonte: IPLAN (2013).

Estas mesmas relações nos destinos estão localizadas nas conexões de

origem pela complementaridade dos deslocamentos, onde novamente se observa as

zonas Camobi, Tancredo Neves, Juscelino Kubitscheck e Caturrita como uma

grande porcentagem dos deslocamentos de origem com destino ao bairro Centro.

Observa-se a grande importância que os deslocamentos da área Oeste até o

Centro da cidade assim como a existência de um eixo Oeste – Centro – Leste

influente para os deslocamentos em ônibus urbano. Os deslocamentos na área

central são significativamente feitos a pé.

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Figura 55: Principais relações de mobilidade.

Fonte: IPLAN (2013).

4.2.2 Motivos dos deslocamentos

Observando detalhadamente o gráfico da figura 51, verifica-se que o motivo

residência (43%) é predominante, por ser origem comum em muitos deslocamentos.

No que diz respeito à mobilidade obrigada (gerada por estudo e trabalho), cuja

dependência de horários fixos (horários de entrada e saída de indústrias e escolas,

por exemplo), revela fortes picos no trânsito, neste caso, a mobilidade gerada pelo

estudo ou trabalho é responsável por mais de um quarto dos deslocamentos (27%),

e depois o lazer (6%) ocupa a terceira posição.

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Figura 56: Deslocamentos por motivos de Origem

Fonte: IPLAN (2013).

Também há destaque ao motivo residência como destino de deslocamento,

com cerca de 240.000 viagens diárias, conforme gráfico da figura 52. A estrutura dos

deslocamentos de origem e destino é bastante similar, o que significa que há um

padrão de rotina diária (laboral oi de outro gênero) nos deslocamentos.

Figura 57: Deslocamentos por motivos de Destino.

Fonte: IPLAN (2013).

Existe uma apresentação usada internacionalmente para caracterizar

deslocamento com origem ou destino no trabalho (HBW – home based work), os

deslocamentos com origem ou destino na escola ou universidade (HBS – home

based school) e também os deslocamento com origem ou destino por outros motivos

(HBO – home based others).

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Figura 58: Deslocamentos HBW, HBS e HBO.

Fonte: IPLAN (2013).

Juntamente ao motivo é importante ressaltar o modo a ser usado. No caso

dos motivos de origem o lazer tem destaque pelo alto uso do automóvel, sendo mais

da metade. Mas em volume o motivo residência segue sendo superior. Observa-se

novamente um alto índice de mobilidade a pé para motivo de estudo, e lazer, e no

que se refere à integração (viagens cujo motivo foi dirigir-se a um local para

realização de integração com outro modo, ou veiculo), o ônibus tem protagonismo

(77%).

Figura 59: Modo x Motivo de origem.

Fonte: IPLAN (2013).

No que se refere aos motivos de destino, os padrões são variados. Por

exemplo, no motivo trabalho e modo a pé, é normal um maior volume com origem

(saída do trabalho) (23%), por causa da volta a casa a pé depois do trabalho. O

fenômeno contrário acontece no motivo trabalho e modo transporte coletivo.

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Aparecem também outros padrões típicos, como um menor número de viagens a pé

no motivo estudo como destino (começo da aula) (26%) e um incremento nos modos

motorizados individuais no motivo estudo como origem (saída da aula) (28%) por

causa do deslocamento em grupo, com outros colegas.

Figura 60: Modo x Motivo de destino.

Fonte: IPLAN (2013).

4.3 O Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Santa Maria

Foi em 2012, após a criação da Lei nº 12.587, a Lei da Mobilidade Urbana,

que o município de Santa Maria licitou um Plano Diretor de Mobilidade, que havia

sido proposto em 2006, com argumento de, além de conformar-se legalmente, que a

cidade precisa de uma reordenação no que diz respeito ao trânsito, demonstrando

que, além de perdas de investimentos, as regiões onde se localizam os principais

polos de comércio, instituições de educação e saúde estavam com as vias

saturadas.

De acordo com as análises preliminares do plano os principais desafios a

serem enfrentados são os seguintes:

Santa Maria mudou muito nos últimos anos, e se produziu uma dispersão da

população para os bairros mais periféricos, como Pinheiro Machado, São

João, Nova Santa Marta e Camobi.

O nível médio das rendas tem sido incrementado em quase todos os bairros.

Como é sabido, uma maior renda implica uma maior mobilidade, e os

incrementos mais elevados se deram principalmente no centro, mas também

em bairros periféricos com Camobi o Pinheiro Machado.

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Hoje ainda existe uma grande concentração de polos e zonas comerciais no

centro, ainda que se esteja desenvolvendo iniciativas que vão abrandar essa

realidade, como abertura de novos hospitais, concentração de lojas na

periferia, etc. Este caráter produtor da periferia e atrativo do centro implica

necessidade de mobilidades para as pessoas.

As condições atuais da cidade e da sua mobilidade remarcam claramente

alguns aspetos a considerar:

• A potenciação dos modos mais sustentáveis: melhora da oferta para os

modos não mecanizados e melhora da oferta do transporte coletivo.

• Contenção da oferta para o veículo privativo, que pode converter-se no

modo principal na mobilidade na cidade, sobretudo com um perfil de

habitantes jovens na cidade, e incrementos progressivos da renda.

Um dado de grande relevância para o estudo do plano é quanto à rede viária

urbana, onde 86% são de mão dupla, e encontram-se bastantes dispersas no

município. As vias de mão única compõe o restante da porcentagem, concentram se

em oito zonas de transporte, sendo estas zonas 1 a 5 no bairro Centro, as zonas 11

e 12 no bairro Bomfim e a 13 no bairro Nossa Senhora de Fátima.

Figura 61: Sentidos de circulação em Santa Maria.

Fonte: IPLAN (2013).

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Conforme dados do IPLAN, a cidade possui 4,5 quilômetros de rede

cicloviária, dos quais aproximadamente 1,5 quilômetros estão localizados na zona

que contempla a UFSM e na Avenida Roraima, no bairro Camobi. O restante da

rede situa-se em outro extremo da cidade, ao longo da Avenida do Exército e da

Avenida Hélvio Basso. São ciclovias bidirecionais, e que atualmente não tem

recebido manutenção, estando com sinalização e delimitação bastante precárias.

O PDMU apresentou as seguintes linhas estratégicas de atuação:

Converter ao pedestre o protagonismo da mobilidade na cidade;

Fomentar a utilização do transporte público;

Empreender atuações que ajudem a melhorar a circulação de veículos na

cidade;

Favorecer outros meios de transporte alternativos: bicicleta.

Organizar o espaço para o estacionamento em superfície, desestimulando

uso indiscriminado do automóvel privado;

Fazer da dissuasão e a prevenção a base da disciplina circulatória na cidade;

Conseguir uma distribuição de mercadorias e uma ágil e ordenada carga e

descarga;

Melhorar a segurança viária;

Conseguir uma mobilidade mais respeitosa com o meio ambiente;

Fazer da formação e a informação as chaves para um futuro melhor.

4.3.1 Proposta cicloviária

O objetivo deste trabalho se restringe a avaliação quanto à proposta

cicloviária do PDMU, sendo assim, o foco será mantido nesta questão.

Segundo o PMDU, para favorecer o uso da bicicleta nos deslocamentos

cotidianos da cidade se propõe a criação de ciclovias que unam as zonas da cidade

com uma topografia mais favorável para os deslocamentos de bicicleta como

mostrado na figura abaixo.

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Figura 62: Proposta cicloviária.

Fonte: IPLAN (2013).

Como complemento à rede cicloviária proposta se sugere a criação de uma

rede de estacionamentos de bicicletas, recomendam-se dois tipos de

estacionamentos, os bicicletários e os paraciclos. Também consta no plano

desenvolver um sistema de bicicletas elétricas de aluguel público na cidade, como

os existentes em cidades como Porto Alegre e São Paulo, citadas anteriormente.

Fundamentalmente essas são todas as diretrizes que constam no Plano

Diretor de Mobilidade Urbana de desenvolver um sistema de bicicletas elétricas de

aluguel público Santa Mania no que se refere à bicicleta como um modal a ser

utilizado na cidade. Não existe um detalhamento de onde as ciclovias seriam

implantadas nas Avenidas Borges de Medeiros e Presidente Vargas, se seria junto

ao canteiro central ou ao lado do passeio de pedestres, e em qual sentido de tráfego

seriam locadas. No que diz respeito à Faixa Velha de Camobi, RS-509, o engenheiro

da prefeitura Marcelo Rosés, falou superficialmente na possibilidade de locar-se uma

ciclovia no canteiro central entre duas pistas, após conclusão da duplicação da

rodovia. No mais, não foi oferecido nenhum esclarecimento mais aprofundado do

tema.

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4.4 Análise da implantação e operação das ciclovias e ciclofaixas da cidade de

Santa Maria

Atualmente a cidade de Santa Maria conta com 6,7 quilômetros de ciclovias e

ciclofaixas municipais mais 4,4 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas federais, além

da Pista Multiuso, inaugurada em março do presente ano, dentro do campus da

universidade de Santa Maria.

Não existe uma padronização de tais rotas cicloviárias, desta forma cada uma

será abordada de forma individual a seguir.

4.4.1 Ciclofaixa da Avenida João Machado Soares

Projeto: Foi solicitado o projeto da ciclofaixa para a Prefeitura Municipal

de Santa Maria e ao Instituto de Planejamento, porém não foi

concedido, tampouco explicado por qual motivo não poderia ser

fornecido.

Caracterização: Ciclofaixa bidirecional.

Localização: está disposta no sentido bairro centro ao longo de toda

extensão da Avenida João Machado Soares, que vai do trevo da Igreja

do Amaral até as proximidades da Base Aérea, conforme figura abaixo.

Figura 63: Localização da ciclofaixa da Avenida João Machado Soares.

Fonte: Google Maps < www.google.com.br/maps> (2015).

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94

Extensão: 3,5 quilômetros.

Início de operação: a ciclofaixa foi implantada após a execução da

pavimentação asfáltica da avenida, em abril de 2008.

Condição atual: a ciclofaixa encontra-se em condições de extrema

precariedade. Não há nenhuma sinalização vertical, indicando início e

término da ciclofaixa, tampouco indicação da existência da mesma. Na

maioria de sua extensão a pintura que a delimita está desgastada e por

vezes totalmente apagada e, como não há meio fio nem calçada em

grande parte de sua extensão, a vegetação por vezes toma conta do

pavimento, subtraindo todo espaço destinado a ciclofaixa. Possui em

média 1,0 metros de largura, do bordo interno da pista até a faixa

delimitadora, em trechos chega a 1,1 metros, em desacordo com a

recomendação de projeto, que exige no mínimo 1,2 metros de largura

ciclável, ou seja, descontando a pintura delimitadora e eventualmente o

tachão. Não se apresenta em conformidade com as diretrizes

propostas pelo GEIPOT no Caderno Bicicleta Brasil para execução de

infraestrutura cicloviária, o pavimento não se encontra em condições

mínimas de circulação e, devido ao fato de ser uma ciclofaixa

bidirecional, o espaço reservado ao ciclista na mesma é de

aproximadamente um metro, como citado anteriormente, está

totalmente fora de um padrão mínimo de segurança, fazendo com que

o usuário não utilize o espaço reservado a ele.

Opinião do usuário: em abordagem informal, dois usuários foram

ouvidos, dando os seguintes relatos:

• Fábio Correa, 35 anos, representante comercial – usa a

ciclofaixa de duas a três vezes por semana, como esporte.

Como morador da região, relatou que desde a implantação,

nunca houve manutenção da ciclofaixa, salienta o grande fluxo

de ciclistas na região, visto que muitos utilizam a avenida como

rota para chegar a trilhas localizadas em Faxinal do Soturno.

Alega que a falta de manutenção e a infraestrutura inadequada

desestimulam o uso da bicicleta na população local.

• Gioavane Tonetto, 18 anos, estudante – usa a ciclofaixa cinco

vezes na semana, como esporte. Relata que além de utilizar a

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ciclofaixa em questão, também pedala na RS-509, Faixa Velha

de Camobi e na BR-287, Faixa nova de Camobi, bem como na

Universidade Federal de Santa Maria, pois não há infraestrutura

cicloviária no centro da cidade, o que o força a utilizar as vias

acima citadas. Salienta a falta de respeito do motorista para com

o ciclista e a insegurança que existe em utilizar as faixas não

destinadas a eles.

Atende ao seu propósito Apesar do local onde está implantada a

ciclofaixa ter uma alta demanda de usuários, a infraestrutura que foi

executada não atende a necessidade destes ciclistas. Uma ciclovia,

totalmente segregada do tráfego de veículos, com sinalização

adequada e infraestrutura de boa qualidade seria mais bem

aproveitada pela comunidade.

Registro fotográfico:

Figura 64: Condições da ciclofaixa da Av. João Machado Soares

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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Figura 65: Condições da ciclofaixa da Av. João Machado Soares

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 66: Ciclistas na Av. João Machado Soares.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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4.4.2 Ciclovia Avenida Hélvio Basso

Projeto: Foi solicitado o projeto da ciclovia para a Prefeitura Municipal

de Santa Maria e ao Instituto de Planejamento, porém não foi

concedido, tampouco explicado por qual motivo não poderia ser

fornecido.

Caracterização: Duas ciclovias unidirecionais.

Localização: está disposta no canteiro central da Avenida Hélvio

Basso, ao longo de toda sua extensão. São dispostas duas ciclovias

independentes, uma em cada sentido de tráfego. A seguir, encontra-se

localização da ciclovia:

Figura 67: Localização ciclovia Avenida Hélvio Basso.

Fonte: Google Maps < www.google.com.br/maps> (2015).

Extensão: 1,5 quilômetros.

Início de operação: a ciclovia foi executada juntamente com a

duplicação da Av. Hélvio Basso, com sua conclusão e início de

operação em dezembro de 2013.

Condição atual: encontra-se em condições razoáveis no que diz

respeito à conservação, apenas a pintura esta desgastada, porém sem

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problemas no pavimento e na sinalização vertical. Composta por duas

ciclovias unidirecionais, cada uma com 1,5 metros de largura ciclável,

está de acordo com o espaço requerido pelo ciclista. A interseção com

pontos críticos, como as rótulas que delimitam o início e fim das

ciclovias é bem sinalizada, porém poderia haver ilhas ou refúgios de

modo a garantir maior segurança aos ciclistas. A ciclovia é usada

quase que exclusivamente por pedestres, sendo que é rara a

observação de ciclistas no local, apesar da infraestrutura segura e

adequada.

Opinião do usuário: em abordagem informal, dois usuários foram

ouvidos, dando os seguintes relatos:

• Lurdes de Castro, 55 anos, comerciária – usa a ciclovia para

fazer caminhadas de cinco a seis vezes por semana. Alega que

sabe que não é o lugar certo para pedestre, mas justifica que as

calçadas não têm condição de serem usadas, e que na ciclovia

sente-se mais segura.

• Bruno Rigão, 24 anos, estudante – usa a ciclofaixa no mínimo

cinco vezes na semana, como esporte. Confirma que a ciclovia

é utilizada massivamente por pedestres, o que em certos

horários impossibilita a circulação de bicicletas. Relatou que em

seus percursos utiliza a BR-158, que atualmente esta em obras

bem como a RS-509, Faixa Velha de Camobi e a BR-287, Faixa

nova de Camobi, e eventualmente pedala até o “Farrezão”, o

Centro Desportivo Municipal, utilizando a Avenida Ângelo

Bolson, Presidente Vargas e Borges de Medeiros.

Atende ao seu propósito Independentemente da ciclovia ter

infraestrutura de boa qualidade, bem dimensionada, os usuários que a

utilizam não são ciclistas, e sim pedestres, desta forma ela não atende

ao que foi proposto. A execução de passeios adequados seria uma

solução à carência de espaços para pedestres, desta forma eles

passariam a utilizar os lugares destinados a eles, não ocupando o

espaço que é restrito aos ciclistas.

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Registro fotográfico:

Figura 68: Condições atuais da ciclovia da Av. Hélvio Basso.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 69: Ciclovia da Av. Hélvio Basso na sua inauguração.

Fonte: <www.diariodesantamaria.com.br> (2013)

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4.4.3 Ciclovia Avenida Maestro Borges Ribas e Avenida Don Ivo Lorscheiter

Projeto: Foi solicitado o projeto da ciclovia para a Prefeitura Municipal

de Santa Maria e ao Instituto de Planejamento, porém não foi

concedido, tampouco explicado por qual motivo não poderia ser

fornecido.

Caracterização: Ciclovia bidirecional.

Localização: disposta no sentido Avenida Walter Jobim – Rua Ernesto

Becker da Avenida Maestro Borges Ribas, que posteriormente passa a

se chamar Avenida Don Ivo Lorscheiter.

Figura 70: Localização ciclovia Avenida Maestro Borges Ribas e Avenida Don Ivo Lorscheiter.

Fonte: Google Maps < www.google.com.br/maps> (2015).

Extensão: 1,7 quilômetros.

Início de operação: a ciclovia foi executada juntamente com a obra da

Perimetral Dom Ivo Lorscheiter, com sua conclusão e início de

operação em dezembro de 2014.

Condição atual: a ciclovia encontra-se em estado de abandono. Ao

longo de toda sua extensão, que passa pela margem do Arroio

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Cadena, está disposto lixo doméstico entre outros tipos de resíduos.

No que diz respeito à infraestrutura, apenas a parte que pertence a Av.

Maestro Borges Ribas esta com pintura e sinalização vertical

adequada, sendo que a parte pertencente a Av. Dom Ivo Lorscheiter

está sem nenhum tipo de sinalização. A largura da ciclovia varia de 2,6

metros até 3,0 metros, dimensões em acordo com o que é proposto no

manual do GEIPOT. O pavimento não possui drenagem, contando com

acúmulo de água em vários pontos. Não há registros por parte da

vizinhança local do uso da ciclovia propriamente por ciclistas, apenas

pedestres circulam ali, eventualmente.

Opinião do usuário: não foram observados usuários da ciclovia em

questão, contando apenas com relatos dos vizinhos a ciclovia:

• Não quis se identificar, 47 anos, comerciário – proprietário de

um comércio vizinho à ciclovia comenta que após a conclusão

das obras houve aumento do fluxo de veículos, porém não

despertou o interesse de ciclistas. Acredita que a falta de

segurança do local não colabora com a circulação de pedestres

e ciclistas, visto que a iluminação é precária e existe um grande

número de assaltos e roubos na região.

Atende ao seu propósito Ainda que a infraestrutura da ciclovia seja

adequada, a falta de manutenção e de segurança inibe a utilização

pelos ciclistas. Não basta executar a infraestrutura sem que haja

manutenção da mesma, bem como, se o local é de risco, devem ser

tomadas medidas que garantam a segurança da população local e dos

possíveis usuários da ciclovia, seja com policiamento ou quaisquer

outras medidas cabíveis.

Registro fotográfico:

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Figura 71: Acúmulo de lixo ao longo da ciclovia no trecho da Av. Maestro Ribas.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 72: Trecho da ciclovia da Av. Maestro Ribas.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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103

Figura 73: Cruzamento e encontro dos trechos da Av. Maestro Ribas e Av. D. Ivo Lorscheiter.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 74: Pavimento precário no trecho da ciclovia na Av. D. Ivo Lorscheiter.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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104

Figura 75: Falta de sinalização da ciclovia no trecho da Av. D. Ivo Lorscheiter.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

4.4.4 Ciclovias e ciclofaixas federais.

Existe ainda na cidade uma ciclovia com 3,0 quilômetros de extensão na BR-

158, conhecida como Avenida dos Quartéis e uma ciclofaixa com 1,4 quilômetros de

extensão também na BR-158, que vai do trevo dos quarteis até a Avenida Walter

Jobim, ambas no bairro Boi Morto.

A ciclovia da Avenida dos Quartéis foi inaugurada pelo DNIT em abril de 2011

e vai do Trevo dos Quartéis até o Campo de Instrução do Exército – CISM. É uma

ciclovia bidirecional, com 3,6 metros de largura, com sinalização e pavimentação em

bom estado de conservação, conforme figura abaixo:

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Figura 76: Sinalização da ciclovia da Avenida dos Quartéis.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Apesar da infraestrutura apropriada, a ciclovia não possui grande movimento

de ciclistas, a maioria dos usuários são militares que moram próximos aos quartéis e

crianças e adolescentes estudantes da Escola Marechal Humberto de Alencar

Castelo Branco que se localiza na avenida.

Pode-se observar, conforme as figuras 78, 79 e 80, que a ciclovia muda de

lado ao longo de sua extensão, contando com sinalização na transição e mantendo

largura adequada, de 3,6 metros.

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Figura 77: Ciclovia localizada no sentido de quem vai aos quartéis.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 78: Mudança de lado da ciclovia.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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Figura 79: Ciclovia localizada no sentido de quem volta dos quartéis.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Em 2013 durante a obra de duplicação da BR-158, entre as avenidas Walter

Jobim e BR-287, após conversa com a prefeitura de Santa Maria e com a

comunidade da região o DNIT, aprovou a inclusão de uma ciclofaixa no projeto da

rodovia. A ciclofaixa liga-se com a ciclovia da Avenida dos Quartéis e termina na

interseção com a Avenida Walter Jobim, conforme figura:

Figura 80: Localização da ciclofaixa da BR-158.

Fonte: Google Maps < www.google.com.br/maps> (2015).

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Com 1,4 quilômetros de extensão, começou operar juntamente com a

inauguração do trecho duplicado da rodovia em julho de 2014, é uma ciclofaixa

bidirecional com 3,0 metros de largura, segregada da rodovia por pintura e tachões

ao longo do trecho. Apesar de não existirem normas conformando a implantação de

ciclofaixas bidirecionais, entende-se que a largura é suficiente para conferir

segurança. Abaixo estão alguns registros fotográficos da ciclofaixa.

Figura 81: Interseção da ciclovia da Avenida dos Quartéis com a ciclofaixa da BR-158.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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Figura 82: Início da ciclofaixa da BR-158.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 83: Ciclistas na ciclofaixa da BR-158.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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4.3 Casos Especiais

Existem duas situações que merecem estaque especial, a primeira é a

ciclofaixa de lazer que foi implantada na Avenida Nossa Senhora Medianeira em

março de 2014 e desativada em dezembro e 2014, a segunda é a pista multiuso

dentro da Universidade Federal de Santa Maria iniciada em julho de 2014 e

concluída em março de 2015.

4.3.1 Ciclofaixa de lazer da Avenida Nossa Senhora Medianeira

Inaugurada em março de 2014 a ciclofaixa de lazer da Avenida Nossa

Senhora Medianeira, estava localizada junto ao canteiro central nos dois sentidos de

tráfego (bairro-centro e centro-bairro), ocupando largura de uma pista de rolamento,

conforme figura a seguir:

Figura 84: Localização da ciclofaixa de lazer ao longo da Avenida Nossa Senhora Medianeira.

Fonte: <www.santamaria.rs.gov.br> (2014).

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Figura 85: Detalhe da ciclofaixa na intersecção da Av. Nª Senhora Medianeira com a Rua Duque de

Caxias.

Fonte: <www.santamaria.rs.gov.br> (2014).

De acordo com a Prefeitura Municipal de Santa Maria a execução da

ciclofaixa de lazer da Avenida Medianeira seguiu uma determinação do prefeito

Cezar Schirmer, e também fazia parte dos objetivos de atuação contidos no novo

Plano Diretor de Mobilidade Urbana (PDMU) da cidade e visava incentivar os

cidadãos a usarem meios alternativos de locomoção, bem como harmonizar o

convívio entre ciclistas e automóveis.

O início da sua operação foi no feriado de aniversário da cidade, e, tendo em

vista que a ciclofaixa tinha fins recreativos, seus horários de funcionamento eram

diferenciados, apenas em domingos e feriados, no período entre às 8h e 17h. O

material utilizado para demarcar a ciclofaixa foi obtido com recursos provenientes de

um Termo de Ajuste de Conduta aplicado à Construtora Jobim, que se

responsabilizou por fornecer 500 cones, 33 placas de sinalização vertical, 13 latas

de tinta, cimento e areia. A ideia inicial apresentada pela prefeitura à comunidade, é

que a ciclofaixa teria início na Avenida Hélvio Basso, passando pela Avenida Dores,

até o Santuário de Schoenstatt, porém não foi esse o trecho executado.

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Figura 86: Ciclofaixa em funcionamento, em junho de 2014.

Fonte: <www.santamaria.rs.gov.br> (2014).

Em 23 de dezembro de 2014 a ciclofaixa foi desativada, sem explicações

mais detalhadas, a prefeitura informou que apesar de não terem sido registrados

acidentes ou outras ocorrências a ciclofaixa pararia de funcionar. Em conversa com

o engenheiro da prefeitura, Marcelo Rosés, em junho de 2015, ele fala que devido à

ciclofaixa ser destinada ao lazer, ela poderia se implantada e retirada a hora que a

prefeitura achasse interessante, sem maiores esclarecimentos.

Logo que a ciclofaixa começou a operar, diversas foram as opiniões, muitas

críticas e alguns elogios, gerando debate intenso na comunidade. O jornal local,

Diário de Santa Maria realizou uma enquete on-line no dia 13 de maio de 2014 onde

perguntava aos leitores “O que você acha da ciclofaixa pintada na Avenida

Medianeira?”. Algumas das respostas dadas pelos leitores:

Adilson Costa: “Achei uma péssima ideia a forma como foi demarcada

esta ciclovia. Mas como sempre a prefeitura e seus responsáveis ficam

inventando pseudo-obras com tinta e tachões, esta ciclovia só deixara

os ciclistas mais expostos a riscos, quer queiram ou não”.

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113

Luiz Alexandre: “Um verdadeiro absurdo, simplesmente pintar ruas

para dar ao povo opção de lazer, atravancando ainda mais o transito

que em nossa cidade já é caótico, senhores políticos, olhem para

nossas praças, locais que deveriam ser de lazer, estão hoje caindo aos

pedaços, jogados ao descaso e a inercia dos senhores”.

Alberi Walter: “Horrível. Esteticamente de muito mau gosto. Como

ciclo via é um absurdo. Confundem motoristas, pedestres, ciclistas.

Não vai oferecer a mínima segurança. Pelo contrário, poderá causar

muitos acidentes expondo a vida dos ciclistas. Ciclo via, ou se constrói

ou NÃO se inventa. Péssima ideia da Prefeitura Municipal”.

Fabio Bayer: “Parabéns pela iniciativa, mas espero que nos primeiro

dias da liberação exista fiscalização para evitar algum desastre mais

uma vez parabéns”.

Diego Nunes: “Acho um absurdo, está claro que não vai dar certo e só

vão desistir da ideia de pintar faixas nas ruas mais movimentadas da

cidade no momento em que começar ocorrer acidentes”.

Anderson Costa: “Considero uma excelente iniciativa, porém poderia

ser melhor se retirassem os canteiros centrais da Avenida Medianeira e

no local colocassem ciclovia realmente assim como existe na Av.

Hélvio Basso, onde observamos um uso significativo por ciclistas e

corredores. Nossa cidade precisa valorizar mais o uso da bicicleta e a

prática dos demais esportes ao ar livre”.

Josias Chagas: “Acredito que seja uma ótima iniciativa, pois é

necessário que tenha um espaço próprio para as bicicletas, mas em

Santa Maria os motoristas não estão preparados para tal mudança. a

ciclovia em uma via arterial de transito intenso assim como no

domingo, para que seja com devida segurança para o ciclista a ciclovia

deveria ser demarcada com canteiro para melhor proteção,

infelizmente temos muitos motoristas infratores e com pouquíssima

educação”.

Giselle Machado: “Moro na Av. Medianeira e acompanho diariamente

o trânsito caótico, mesmo nos finais de semana. Penso que a ciclofaixa

está muito mal localizada dado o fluxo intenso de veículos e agora com

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a perda de uma pista a tendência é que isso piore. Deveriam ter feito

essa ciclofaixa em um lugar de menor movimento. As mudanças no

trânsito de Santa Maria estão deixando a cidade cada vez pior e mais

engarrafada.”

Cleber Augusto Michels: “Sinceramente acho que precisamos de

ciclovias em nossa cidade, mas na Av. Medianeira não é o local certo,

porque se formos ver em datas anteriores a RBS TV fez uma

reportagem e quando a velocidade na Avenida é de 60 km por hora

colocando um radar foi constatado que a velocidade sempre é superior

a máxima, imagina um ciclista descendo a avenida, um pai passeando

de carro com a família e um desses malucos do transito resolve descer

a avenida em alta velocidade, se depara com o carro na velocidade

correta e resolve ultrapassar como manda o código pela esquerda, vai

atropelar o ciclista e se for só lesões muito que bem, mas e se for algo

mais grave. Repensem antes que aconteçam acidentes com ciclistas.”

Angelo Oliveira: “A ciclofaixa é válida desde que se a utilize para

bicicletas. Agora, se as pessoas continuarem a utilizando como pista

de caminhada/corrida e passeio com o cachorro, como ocorre na Av.

Helvio Basso, então é melhor que nem haja uma ciclofaixa, pois servirá

somente para zona de conflito entre transeuntes e ciclistas e para

causar possíveis acidentes com os mesmos”.

Rui Telmo Fontoura Ferreira: “Prezados Senhores, Paz e Bem! É o

inicio de um processo de humanização, tão necessário, em um

momento de tanta carência de possibilidades construtivas, em uma

cidade como Santa Maria que, deveria ser exemplo de qualidade e

sustentabilidade de vida. Cordialmente, Rui Telmo”.

Agnaldo Brum: “É o começo na busca por maior espaço destinado ao

lazer. Mas do jeito que está sendo feito, aliado a educação no trânsito

de nossos motoristas, será arriscado usar aquele espaço. Vamos torcer

para que haja respeito por parte dos condutores de veículo

automotores e dos ciclistas”.

Observa-se com essa pesquisa a grande variedade de opiniões geradas pela

implantação da ciclofaixa, e também que não houve discussão dos órgãos

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executores com a comunidade, gerando inúmeras dúvidas e falta de esclarecimento

sobre o assunto.

Atualmente a ciclofaixa continua desativada, sem sinalizações verticais e com

a sinalização horizontal indicando a via exclusiva a ciclistas e horários de

funcionamento apagados.

Figura 87: Condições atuais da ciclofaixa da Avenida Medianeira.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

4.3.2 Pista multiuso da Universidade Federal de Santa Maria

O projeto da Pista do campus da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM) surgiu como maneira de fornecer infraestrutura de mobilidade alternativa na

universidade. O projeto é desenvolvido em parceria com o Departamento de

Arquitetura e Urbanismo, do Centro de Tecnologia e o PARQ – Laboratório de

Paisagismo.

Em julho de 2014 começaram as obras de implantação, cujo foco vai além de

facilitar a locomoção dentro do campus e fomentar a prática do esporte, ela foi

pensada também como forma de transporte seguro para os acadêmicos dentro do

campus. Com largura de 3,0 em praticamente todos os segmentos e quase 3,0

quilômetros de extensão, a pista tem por objetivo suprir duas demandas encontradas

na UFSM: circulação em dias úteis de estudantes, professores e funcionários e

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circulação de lazer, visto que a UFSM é tida como uma grande área verde e de lazer

nos finais de semana.

Tais objetivos foram cumpridos assim que sua operação foi iniciada, em maio

de 2015, sendo observado grande movimento tanto nos dias de semana quanto aos

finais de semana, por ciclistas, pedestres, skatistas e demais usuários.

A seguir apresentam-se alguns registros fotográficos da pista.

Figura 88: Início da Pista Multiuso.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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Figura 89: Ligação entre a ciclovia da Avenida Roraima e a Pista Multiuso.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 90: Intersecções nos cruzamentos, com sinalização vertical e elevação da pista sobre a via

destinada aos veículos motorizados.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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Figura 91: Pista Multiuso sob o viaduto.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 92: Pista Multiuso sob o viaduto em frente ao Restaurante Universitário.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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Figura 93: Detalhe da interseção da Pista Multiuso com os passeios existentes anteriormente.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

Figura 94: Caminho até o prédio do curso de Educação Física, ponto mais distante do Arco de

entrada do campus.

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2015).

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120

Além da execução da infraestrutura da Pista Multiuso, que já foi concluída,

numa segunda etapa, a ideia dos planejadores é construir refúgios dentro do trajeto

para que as pessoas possam conversar sem atrapalhar o fluxo, com um mobiliário

específico. Além disso, consta nessa etapa a ampliação do trajeto e a implantação

de bicicletários.

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121

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

5.1 Conclusões

A mudança dos padrões de deslocamento da população através do uso de

meios de transporte não motorizados é fundamental para a construção de centros

urbanos com padrões de qualidade de vida mais elevados. Dito isto, a bicicleta

torna-se um elemento importante de reorganização e reconfiguração do espaço

urbano e da logica social, além de ser um vetor de melhoria ambiental.

O que foi observado no Plano Diretor de Mobilidade Urbana da cidade de

Santa Maria, no que se refere ao planejamento cicloviário, é que não houve nenhum

estudo focado no assunto, não consta onde seriam locados os estacionamentos de

bicicleta, tampouco o sistema de aluguel de bicicleta. Pouco foi pensando na

bicicleta como de fato um modal de transporte a ser incorporado de forma

abrangente, visto que a cidade possui um potencial ciclável elevado.

A questão da integração com o transporte público também não foi colocada,

sendo que atualmente se observa um grande número de ciclistas na Universidade

Federal de Santa Maria, por exemplo, onde a rota centro – UFSM é a segunda mais

utilizada pelos usuários de transporte coletivo. Esse número crescente de usuários

de bicicleta nas imediações se deve a implantação da Pista Multiuso, construída nas

dependências da universidade, que nada mais é que uma rota compartilhada, de

pedestres, ciclistas, skatistas, e etc. É importante notar esse fato, pois se percebe

que, tendo infraestrutura a população passa a ser usuária assídua.

Ao comparar as ciclovias em operação na cidade de Santa Maria com cidades

que já tem o modal cicloviário implantado com sucesso, é possível destacar alguns

pontos:

Não houve um planejamento específico, com pesquisas destinadas a

conhecer os usuários e usuários potenciais;

Não houve diálogo com a comunidade, tampouco com clubes de

ciclistas locais para saber quais são suas necessidades e aspirações

no que se refere à infraestrutura cicloviária;

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As ciclovias e ciclofaixas já implantadas não suprem as necessidades

da população, não havendo conectividade em pontos geradores e

atratores de viagens;

Faltam políticas de segurança viária, e de estimulo aos modais não

motorizados;

Não existe militância por parte da população, que é pouco participativa

nas decisões acertadas pelos órgãos diretores do município.

Existe um alto potencial no que se refere à bicicleta, faltando apenas

planejamento e boa vontade política para execução de rotas cicláveis

adequadas.

De fato, com vontade política, maior engajamento da população, e

principalmente com planejamento, Santa Maria possui condições de equiparar-se

com cidades brasileiras que buscaram a bicicleta como solução ao uma mobilidade

sustentável.

Um plano cicloviário é fundamental para consolidar uma política pró-bicicleta

e compreende um processo de planejamento, implantação e gestão de um sistema

cicloviário. O plano permite a criação de infraestrutura eficiente e de alta qualidade

para os usuários, que ofereça conforto e segurança para ciclistas e pedestres, além

de estimular através de ações concretas, uma mudança cultural relativa ao modo de

apropriação e uso do espaço urbano, de forma a torná-lo mais humano e

sustentável.

Prover a bicicleta de infraestrutura segura, contínua e farta poderá

representar mais do que um importante passo para uma mobilidade sustentável,

mas também a sobrevivência da própria cidade como meio de integração da

população com o ambiente.

5.2 Sugestões para estudos futuros

O desenvolvimento do estudo de caso para a cidade de Santa Maria, sobre a

implantação de ciclovias e ciclofaixas em trechos urbanos é apenas um dos diversos

estudos que podem ser feitos acerca deste assunto que é tão amplo, de modo a

estimular o poder público a dar mais atenção a esse tema que é de interesse de

toda população, bem como dos planejadores e administradores, tanto em nível

municipal, quanto estadual e até mesmo federal.

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123

Ainda dentro do município de Santa Maria, podem-se desenvolver estudos

direcionados, que contemplem pesquisas voltadas aos usuários e potenciais

usuários da bicicleta na cidade, de modo a obter resultados mais específicos,

revelando o real cenário da bicicleta dentro da cidade, assim podendo ser

desenvolvidas análises de vias cicláveis que atendam as expectativas dos ciclistas,

de modo a incorporar de forma efetiva a bicicleta como modal significativo na

mobilidade urbana da cidade.

A integração modal pode ser abordada de forma particularizada, visto que de

acordo com o PDMU, haverá uma reformulação do transporte público municipal,

abrindo margem para análises mais profundas da intermodalidade na cidade.

Outros estudos com este mesmo intuito podem ser realizados em outras

cidades da região, de menor porte, porém com alto potencial cicloviário, de modo a

até mesmo viabilizar a integração no transporte interurbano também.

A questão social e ambiental também pode ser abordada de forma mais

minuciosa, bem como a segurança pública. Ante isto, e para que existam

ferramentas de apoio à segurança para o ciclista, estudos sobre políticas de

segurança podem ser desenvolvidos, tanto referentes aos estacionamentos como à

segurança no trânsito.

Avançar em pesquisas sobre a bicicleta alertando sua importância no

planejamento de transportes é necessário para preencher uma das lacunas do

material técnico científico que temos no nosso país.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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