implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

87
Universidade Federal de Juiz de Fora Pós-graduação em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados Dissertação em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados Adbeel de Lima Santos IMPLANTAÇÃO DE UM PROCEDIMENTO DE HIGIENIZAÇÃO EM UMA UNIDADE PRODUTORA DE QUEIJO MINAS ARTESANAL NA REGIÃO DA CANASTRA E AVALIAÇÃO PELO MÉTODO DE ATP-BIOLUMINESCÊNCIA Juiz de Fora 2010

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Page 1: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

Universidade Federal de Juiz de Fora

Pós-graduação em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados

Dissertação em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados

Adbeel de Lima Santos

IMPLANTAÇÃO DE UM PROCEDIMENTO DE HIGIENIZAÇÃO EM UMA

UNIDADE PRODUTORA DE QUEIJO MINAS ARTESANAL NA REGIÃO

DA CANASTRA E AVALIAÇÃO PELO MÉTODO DE ATP-BIOLUMINESCÊNCIA

Juiz de Fora

2010

Page 2: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

Adbeel de Lima Santos

IMPLANTAÇÃO DE UM PROCEDIMENTO DE HIGIENIZAÇÃO EM UMA

UNIDADE PRODUTORA DE QUEIJO MINAS ARTESANAL NA REGIÃO

DA CANASTRA E AVALIAÇÃO PELO MÉTODO DE ATP-BIOLUMINESCÊNCIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados, área de concentração: Qualidade do Leite e Derivados, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. D.Sc. Luiz Carlos Gonçalves Costa Júnior

Juiz de Fora 2010

Page 3: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

Adbeel de Lima Santos

IMPLANTAÇÃO DE UM PROCEDIMENTO DE HIGIENIZAÇÃO EM UMA

UNIDADE PRODUTORA DE QUEIJO MINAS ARTESANAL NA REGIÃO

DA CANASTRA E AVALIAÇÃO PELO MÉTODO DE ATP-BIOLUMINESCÊNCIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados, área de concentração: Qualidade do Leite e Derivados, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre.

Aprovada em: 03/03/2010

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Prof. Dr.Sc. Luiz Carlos Gonçalves Costa Júnior

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

_______________________________________________

Prof. D. Sc. Fernando Resplande Magalhães

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

_______________________________________________

Prof. Dra .Sc. Renata Golin Bueno Costa

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

_______________________________________________

Prof. D.Sc. José Manoel Martins

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais

Page 4: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

À minha mãe, com amor e gratidão.

Page 5: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

iv

AGRADECIMENTOS

À EPAMIG, pela oportunidade de qualificação profissional.

À FAPEMIG, pelo apoio financeiro.

Aos professores da EPAMIG, EMBRAPA e UFJF pelos ensinamentos.

Ao Professor Dr. Luiz Carlos Gonçalves Costa Junior pela orientação e amizade.

Aos produtores de queijo Minas artesanal Marquinhos e sua mulher Angelita pela

oportunidade.

Ao Professor Dr. Fernando Resplande Magalhães pela amizade.

Ao pessoal do IFET - Campus Bambuí pelo apoio.

A todos que de uma forma ou de outra contribuíram para a realização deste

trabalho.

A minha mulher Luciana pela paciência.

À Deus, minha fonte de conhecimento e sem o qual nada disso seria possível.

Page 6: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

v

RESUMO

A segurança e a viabilidade econômica da transformação do leite em seus

diversos derivados dependem fundamentalmente da correta aplicação das técnicas

de higienização. Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho foi avaliar as

condições higiênico-sanitárias do ambiente e das superfícies de processamento de

uma unidade produtora de queijo Canastra por meio da técnica de ATP-

Bioluminescência e propor um procedimento de higienização que contribua para a

segurança e melhoria desse sistema de produção. Também foi avaliada a água

utilizada na obtenção do leite e no interior da queijaria. No período mais susceptível

às contaminações, ou seja, no verão, foram escolhidos 12 pontos de amostragem

pertencentes ao fluxograma de produção do queijo Minas artesanal, além da água

utilizada na sala de ordenha e da água utilizada no interior da queijaria. Esses

pontos foram avaliados pelos métodos tradicional (referência) e ATP-

Bioluminescência. Após isso, foi sugerido um novo procedimento de limpeza e

sanitização para esses pontos, que foram avaliados ao longo das quatro estações

também por ambos os métodos. Houve diferença (p<0,05) entre os resultados

obtidos para as avaliações realizadas antes e após a aplicação do procedimento

proposto para a maioria dos pontos amostrados. A microestrutura das superfícies de

equipamentos e utensílios apresentaram uma forte interferência, pois os resultados

para os pontos de amostragem mesa de enformagem e prensagem (MEP),

prateleira de maturação (PM) e formas (F) não diferiram (p>0,05)

independentemente do procedimento de higienização e das estações do ano. O

método de ATP-Bioluminescência não apresentou concordância com o método de

tradicional quanto à classificação das condições higiênicas das superfícies

avaliadas. Isso deve muito possivelmente à presença de ATP de origem não

microbiana oriunda de resíduos que não foram completamente eliminados na etapa

de limpeza. Os resultados encontrados indicam que o método de ATP-

Bioluminescência deve ser empregado como indicador da presença de material

biológico na superfície ou água, não substituindo o método tradicional.

Palavras–chave: Higienização. Queijo Minas artesanal. ATP-Bioluminescência.

Sanitização. Laticínios.

Page 7: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

vi

ABSTRACT

The food safety and the economical viability of milk processing depend on

appropriated higyenization techniques. The main goal of this work was to evaluate

higienics conditions of food processing environment and surfaces of a producer farm

of Canastra cheese by using ATP- Bioluminescence. In addition it was also proposed

a higyenization procedure to improve safety and quality of manufacture proceeding. It

was also evaluated the water quality used in milking and during cheese production.

During summer, which is more probability to microbial contamination, 12 points of

Canastra cheese production flow were chosen. Such samples were analyzed by

traditional and ATP- Bioluminescence techniques during all seasons. It was

suggested a new procedure of cleaning and sanitation for both traditional and ATP-

Bioluminescence methods. There was diference (p<0.05) between the results

obtained before and after the proposed higyenization procedure for the most samples

evaluated. The microstructure of equipments and utensils surfaces showed a strong

influence in results. The results for forming and pressing table, ripening rack and

forms did not differ (p>0.05) independent of higyenization procedure and year

seasons. ATP- Bioluminescence did not agree with the reference method in relation

to the classification of higyenic conditions of evaluated surfaces. Probably, the

presence of non-microbial ATP from food residues contributed to increasing the ATP

level. The results found in the present work showed that ATP- Bioluminescence

technique should be used as an indicator of biological material in water and/or

surface; and it does not replace the traditional method.

Keywords: Higyenization. Minas traditional cheese. ATP- Bioluminescence.

Sanitation. Dairy.

Page 8: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

vii

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Composição média do leite com valores máximos e mínimos..................................................................................

24

Quadro 2 Principais substâncias usadas na elaboração de detergentes.............................................................................

32

Quadro 3 Pontos de amostragem e seus respectivos códigos de uma unidade produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra..................................................................

45

Quadro 4 Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) na avaliação da unidade produtora de queijo artesanal da Canastra no verão antes da implantação do procedimento proposto............................

47

Quadro 5

Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) na avaliação da unidade produtora de queijo artesanal da Canastra no após a implantação do procedimento proposto.................................

54

Quadro 6 Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) em cada ponto de amostragem de uma unidade produtora de queijo Minas artesanal da região da Serra da Canastra, obtidos por avaliação antes e após a implantação do procedimento de higienização proposto durante as quatro estações do ano....

61

Quadro 7 Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Formadoras de Colônias (UFC.cm-2), em cada ponto de amostragem de uma unidade produtora de queijo Minas artesanal da região da Serra da Canastra, obtidos por avaliação antes e após a implantação do procedimento de higienização proposto durante as quatro estações do ano.........................................................................................

63

Quadro 8 Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) e das das Unidades Formadoras de Colônias (UFC.cm-2) referente à cada ponto de amostragem antes e após a implantação dos procedimentos de higienização propostos na unidade produtora de queijo artesanal da Canastra nas quatro estações do ano.....................................................................

68

Page 9: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

viii

Quadro 9 Valores absolutos e médias dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) obtidos para a água utilizada na sala de ordenha, antes e após a implantação do procedimento de higienização proposto................................

71

Quadro 10 Valores absolutos e médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) obtidos antes e após a implantação dos procedimentos de desinfecção de água proposto para a água utilizada no interior da queijaria...........

72

Page 10: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Regiões produtoras de queijo Minas artesanal no Estado de Minas Gerais...........................................................................

20

Figura 2 Região produtora de queijo Minas artesanal da Canastra...... 21

Figura 3 Representação do processo de remoção de sujidades da superfície de aço-inoxidável....................................................

28

Figura 4 Ciclo de Sinner contendo as quatro variáveis pela eficiência da higienização.......................................................................

29

Figura 5 Coeficiente de velocidade de remoção k em função da 1tensão de cisilhamento τw, por uma solução de NaOH a 80°C, x = 0,65.........................................................................

33

Figura 6 Fluxograma de produção do queijo Minas artesanal da Canastra....................................................................................

44

Figura 7 Percentual de condições higiênicas encontradas em um unidade produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra, avaliadas nas quatro estações do ano após a implantação dos procedimentos de higienização propostos e antes da implantação, na estação do verão.......................................................................................

55

Figura 8 Percentual de condições higiênicas dos pontos de amostragem das instalações e equipamentos de uma unidade produtiva de queijo Minas artesanal da Região da Canastra, medidas em logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL)...........................................

58

Figura 9 Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) em cada ponto de amostragem de uma unidade produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra, obtidos no verão, antes da implantação do procedimento de higienização proposto e nas quatro estações do ano, após a implantação do procedimento.................................................

59

Figura 10 Percentual de condições higiênicas dos pontos de amostragem dos utensílios e equipamentos de uma unidade produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra, medido em (Log10) das Unidades Formadoras de Colônias (UFC.cm-2), após a implantação do procedimento

Page 11: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

x

de higienização proposto........................................................

64

Figura 11 Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Formadoras de Colônias (UFC.cm-2) em cada ponto de amostragem de uma unidade produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra, obtidos no verão, antes da implantação do procedimento de higienização proposto e nas quatro estações do ano, após a implantação do procedimento.................................................

66

Figura 12 Correlação entre os métodos tradicional e de ATP-Bioluminescência para avaliação das condições higiênicas de superfícies de uma unidade produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra.............................

71

Page 12: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

xi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 15

2 REVISÃO DE LITERATURA..............................................................

18

2.1 QUEIJO MINAS ARTESANAL............................................................

18

2.2 O QUEIJO MINAS ARTESANAL DA REGIÃO DA CANASTRA..........

20

2.3 HIGIENIZAÇÃO NO PROCESSAMENTO DO LEITE.........................

22

2.3.1 Características dos resíduos do processamento do leite.............

23

2.3.2 A limpeza...........................................................................................

25

2.3.3 Fatores que influenciam no procedimento de higienização..........

28

2.3.3.1 Tempo..................................................................................................

29

2.3.3.2 Temperatura.........................................................................................

29

2.3.3.3 Ação química........................................................................................

30

2.3.3.4 Ação mecânica.....................................................................................

33

2.3.4 A sanitização.................................................... ..................................

34

2.4 QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA.......................................

35

2.5 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE

HIGIENIZAÇÃO ...................................................................................

36

Page 13: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

xii

2.5.1 O método tradicional e a técnica de ATP-Bioluminescência.........

36

3 OBJETIVOS.........................................................................................

38

3.1 GERAL.................................................................................................

38

3.2 ESPECÍFICOS.....................................................................................

......

38

4 MATERIAL E MÉTODOS...................................................................

39

4.1 LOCALIZAÇÃO....................................................................................

39

4.2 APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIO.....................................................

39

4.3 ESCOLHA DA QUEIJARIA.................................................................

40

4.4 IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS DE AMOSTRAGEM........................

40

4.5 DESENHO EXPERIMENTAL..............................................................

40

4.6 CONDIÇÕES MICROBIOLÓGICAS ANTES E APÓS A

IMPLANTAÇÃO DO PROCEDIMENTO PROPOSTO.........................

40

4.6.1 Metodologia para avaliação das condições microbiológicas das

superfícies e utensílios pelo método tradicional...........................

42

4.6.2 Metodologia para avaliação das condições microbiológicas das

superfícies e utensílios pelo método de ATP-Bioluminescência..

42

4.6.3 Metodologia para avaliação das condições microbiológicas da

água utilizada na produção do leite e no interior da queijaria

pelo método de ATP-Bioluminescência .........................................

43

Page 14: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

xiii

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................

43

5.1 FLUXOGRAMA DE PRODUÇÃO DO QUEIJO MINAS ARTESANAL

DA CANASTRA ..................................................................................

43

5.2 PONTOS DE AMOSTRAGEM INDICADOS APÓS SELEÇÃO DA

QUEIJARIA .........................................................................................

44

5.3 AVALIAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE HIGIENIZAÇÃO

EMPREGADO NA UNIDADE DE PRODUÇÃO DO QUEIJO MINAS

ARTESANAL DA SERRA DA CANASTRA ANTES DA

IMPLANTAÇÃO DO PROCEDIMENTO PROPOSTO.........................

45

5.4 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES MICROBIOLÓGICAS ANTES DA

IMPLANTAÇÃO DO PROCEDIMENTO PROPOSTO PELA

TÉCNICA DE ATP – BIOLUMINESCÊNCIA.......................................

47

5.5 PROCEDIMENTOS DE HIGIENIZAÇÃO PROPOSTOS.....................

48

5.5.1 Equipamento de ordenha (sistema “balde ao pé”)........................

48

5.5.2 Tubulação de transferência do leite da sala de ordenha até a

queijaria e latão do equipamento de ordenha................................

49

5.5.3 Água utilizada no interior da queijaria............................................

50

5.5.4 Utensílios, mesas, formas e tanque de produção.......................... 51

5.5.5

Pisos....................................................................................................

51

5.5.6 Paredes................................................................................................

52

5.5.7 Manipulador ..................................................................................... 52

Page 15: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

xiv

5.5.8 Prateleiras de maturação..................................................................

52

5.5.9 Recomendações gerais....................................................................

53

5.6 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES MICROBIOLÓGICAS DAS

SUPERFÍCIES PELA TÉCNICA DE ATP–BIOLUMINESCÊNCIA,

NAS QUATRO ESTAÇÕES DO ANO, APÓS A IMPLANTAÇÃO DO

PROCEDIMENTO DE HIGIENIZAÇÃO PROPOSTO .........................

53

5.7 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES MICROBIOLÓGICAS DAS

SUPERFÍCIES PELO MÉTODO TRADICIONAL, NAS QUATRO

ESTAÇÕES DO ANO, APÓS A IMPLANTAÇÃO DO

PROCEDIMENTO DE HIGIENIZAÇÃO PROPOSTO.........................

62

5.8 ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS MÉTODOS TRADICIONAL E

DE ATP–BIOLUMINESCÊNCIA..........................................................

67

5.9 AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES MICROBIOLÓGICAS DA ÁGUA

UTILIZADA NA PRODUÇÃO DO LEITE E DA ÁGUA UTILIZADA NO

INTERIOR DA QUEIJARIA PELO MÉTODO DE ATP-

BIOLUMINESCÊNCIA.........................................................................

71

6 CONCLUSÕES....................................................................................

73

REFERÊNCIA ....................................................................................................

ANEXOS ............................................................................................................

Page 16: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

15

1 – INTRODUÇÃO

O crescente desenvolvimento do mercado de laticínios, sobretudo após o fim

do período de tabelamento de preços por parte do governo federal, tem exigido um

constante aperfeiçoamento das tecnologias de produção, sendo que qualidade,

segurança e eficiência nas operações de processamento são fundamentais nesse

ambiente competitivo (GOMES & LEITE, 2001; SILVA & NEVES, 1999).

O aumento da capacidade de processamento para atender à demanda do

mercado tem trazido novos problemas: perdas pós-processamento, diminuição da

vida de prateleira e contaminações por microrganismos patogênicos (FIGUEIREDO,

2000). Como exemplo, a adoção da refrigeração do leite logo após a ordenha e o

seu transporte a granel, melhorou de forma significativa a sua qualidade

microbiológica, mas selecionou um grupo indesejável de microrganismos

denominados psicrotróficos. Se sua contagem atingir valores próximos a 106

UFC/mL ou mais, enzimas termorresistentes proteolíticas e lipolíticas poderão ser

produzidas, resultando em alterações físico-químicas e sensoriais como gelificação

em leite UHT, “off flavor” no leite pasteurizado, diminuição do rendimento de

fabricações e sabores estranhos em queijos (FEIJÓ et al., 2002).

Praticamente, todas as preocupações existentes para o nível industrial podem

ser transferidas para o nível artesanal, tornando a situação mais crítica ainda, pois

os métodos de fabricação dos produtos, geralmente são arcaicos e com risco

potencial à saúde do consumidor.

O queijo Canastra, dentre suas características de queijo artesanal, apresenta-

se como um queijo que deve ser submetido ao processo de maturação após a

fabricação. Porém, o que se tem notado na prática, é a comercialização e

consequentemente o consumo, com poucos dias ou até mesmo imediatamente após

sua fabricação. Isto força uma descaracterização dos atributos sensoriais

tradicionais do produto, além de expor o consumidor a possíveis problemas de

toxinfecções.

A microbiota do leite cru, de maneira geral, depende do estado de saúde do

animal, das condições higiênicas de obtenção, transporte e manipulação, dos

hábitos higiênicos dos colaboradores, da temperatura de conservação, do tempo

Page 17: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

16

gasto até seu processamento e da capacidade dos microrganismos de se

desenvolverem nestas condições. Ao se eliminar a variável saúde animal, ou seja,

considerando-se que o leite foi obtido de animais sadios, os microrganismos

contaminantes podem ser oriundos do ambiente, superfícies e da água (PINHEIRO

& MOSQUIM, 1991).

Assim, as operações de higienização em uma queijaria artesanal, como em

qualquer estabelecimento produtor de leite e derivados, devem ser consideradas sob

quatro aspectos fundamentais:

• Exigências legais: a legislação brasileira exige que os produtos alimentícios

produzidos e comercializados atendam a um padrão de identidade. Para o

queijo minas artesanal especificamente, a legislação mineira estabelece

parâmetros microbiológicos mínimos de qualidade e ainda que as queijarias

apliquem programas que vise à segurança e a qualidade dos produtos

obtidos;

• Competitividade: o atual mercado onde estão inseridas as queijarias

artesanais mineiras exige qualidade, confiabilidade e segurança. Esses

fatores são fundamentais para a competitividade desse sistema de produção,

manutenção e ampliação dos consumidores;

• Econômicas: reduzem custos com perdas de matéria-prima e produtos

acabados além de custos com produtos químicos de limpeza e sanitização; e

• Tecnológicas: a aptidão do leite para processamento e transformação em

queijos, depende fundamentalmente da qualidade microbiológica.

Assim, a escolha correta e a aplicação eficiente das técnicas de limpeza e

sanitização são essenciais para garantir a eficácia do processo e a sustentabilidade

dessa importante atividade produtiva, que é a produção do queijo Minas artesanal.

Outro fator muito importante a ser considerado é o método para avaliação do

procedimento de higienização adotado (ANDRADE, 2008). Esse é responsável por

indicar se as superfícies e ou ambiente higienizados estão em condições de

processamento. Para isso, vários métodos podem ser utilizados, com destaque nos

últimos anos para o método de ATP-Bioluminescência, que apresenta algumas

vantagens interessantes em relação ao método tradicional (método de referência),

como o fornecimento de resultados rápidos, permitindo, quando necessário, fazer

correções durante o processo de fabricação dos produtos.

Page 18: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

17

A aplicação das boas práticas agropecuárias e de fabricação para os queijos

artesanais são fundamentais para a melhoria da qualidade dos produtos e a

diminuição de riscos à saúde dos consumidores.

Procedimentos de higienização incorretos de equipamentos e utensílios têm

como consequência a permanência de resíduos que servem de substratos para o

crescimento de microrganismos deteriorantes e patogênicos, que podem interagir

com essa superfície condicionante formando biofilmes, complexo mais resistente

aos sanitizantes que, durante a fabricação podem ser transferidos para os queijos,

aumentando a sua carga microbiana.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar as condições higiênico-

sanitárias dos equipamentos, superfície e água utilizados na elaboração do queijo

Minas artesanal em uma queijaria típica da região da Serra da Canastra por meio da

técnica de ATP-Bioluminescência, propor um procedimento de higienização capaz

de contribuir para a segurança e melhoria desse sistema de produção e avaliar pelo

mesmo processo a eficácia deste procedimento.

Page 19: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

18

2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.1 – Queijo Minas artesanal

Quando se fala em Minas Gerais, ou em “mineiros” é impossível não associar

a idéia do queijo. O modo de fabricar é um costume permanente e dinâmico que

está fortemente ligado à história do Estado, tendo papel econômico e social

fundamental para grande parte do povo mineiro, pois em muitas regiões, a produção

e comercialização do queijo Minas artesanal se configura na única fonte de renda

para muitas famílias, sendo a base da economia para muitos municípios e regiões

(SILVA, 2007).

A produção de queijos no Brasil teve início com a colonização portuguesa,

que trouxe o gado bovino para o Brasil. Martim Afonso de Souza, em 1534, trouxe

gado procedente das Ilhas da Madeira e Canárias, o que muito contribuiu para a

interiorização do Brasil (RIBEIRO, 1959).

Mais adiante, com a descoberta do ouro e de pedras preciosas na segunda

metade do século XVIII em Minas Gerias, vários garimpeiros e toda sorte de

aventureiros, além de pessoas de vários outros ofícios, vieram para esta região,

trazendo consigo o gado bovino. Esse era utilizado principalmente para tração

animal e alimentação dos desbravadores. A partir daí, já se admitia em certas

regiões, um nascente comercio de queijos, manteiga e carne seca (RIBEIRO, 1959).

As regiões montanhosas de Minas Gerais dificultavam o desenvolvimento de

um comércio ativo e que cobrisse grandes distâncias, assim, a transformação do

leite em queijos se tornou uma alternativa para a conservação do leite. A distância e

as condições das estradas e acessos às propriedades rurais, principalmente no

período de chuvas tornava difícil a venda do leite in natura (SILVA, 2007). Esses

fatores contribuíram para que aos poucos fosse construída a cultura de produção do

queijo Minas artesanal.

Com o desenvolvimento da tecnologia no século XX, principalmente em

termos de velocidade de transporte e condições das estradas, aliada a proximidade

Page 20: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

19

de grandes centros consumidores, houve um significativo incremento dessa

atividade produtiva.

Minas Gerais se destaca como maior e mais importante produtor de queijos

artesanais do Brasil. São 9.445 produtores pertencentes as cinco regiões

caracterizadas: Serra da Canastra, Serro, Cerrado, Araxá e Campos das Vertentes ,

que produzem anualmente 29.005 mil toneladas de queijo, gerando 26.792

empregos diretos (EMATER, 2010).

Além de Minas Gerais, há queijos artesanais produzidos no Nordeste (queijo

de coalho e queijo manteiga); no sul (queijo Colonial ou Serrano); e no Centro-oeste

o queijo Caipira (SILVA, 2007).

Em um reconhecimento à importância econômica e social dessa atividade

produtiva para o estado de Minas Gerais, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico

e Artístico de Minas Gerias – IEPHA – MG, registrou o modo de fazer do queijo

artesanal do Serro como “Patrimônio Imaterial de Minas Gerais”, pelo decreto

n°42.505 de 15 de abril de 2002 (MINAS GERAIS, 2002a).

Em 2008, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN

reconhece o modo de fazer queijo Minas artesanal nas regiões do Serro e das

serras da Canastra e do Salitre como patrimônio imaterial.

O artigo 1° da Lei n° 14.185 de 31 de Janeiro de 2002 (MINAS GERIAS,

2002b) considera queijo Minas artesanal, aquele elaborado conforme tradição

histórica e cultural da região do Estado onde for produzido, a partir do leite integral,

fresco e cru. Os queijos devem ainda ser produzidos exclusivamente com leite

obtido na própria propriedade e apresentar consistência firme, cor e sabor próprios,

massa uniforme, isenta de corantes e conservantes, com ou sem olhaduras

mecânicas.

A Figura 1 apresenta as Regiões produtoras de queijo Minas artesanal no

Estado de Minas Gerais.

Page 21: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

20

Figura 1- Regiões produtoras de queijo Minas artesanal no Estado de Minas Gerais

(Fonte: EMATER, 2010).

2. 2 – O Queijo Minas artesanal da Região da Canastra

A região da Canastra localiza-se no sudoeste do estado de Minas Gerais,

limitando-se ao norte com a região do Triângulo Mineiro, ao sul com a região do

Lago de Furnas e a oeste com a região Centro-oeste de Minas Gerias, em uma

posição privilegiada, próxima a grandes centros consumidores.

Devido à grande parte da região ser caracterizada como área de campo, a

agricultura se dava, no início, de forma incipiente, sendo somente de subsistência.

Os primeiros colonizadores trouxeram consigo o conhecimento da produção de

queijo, a partir do leite cru, e encontraram aqui ambiente propício para a

perpetuação da arte (SILVA, 2007).

Page 22: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

21

A microrregião da Canastra, que é caracterizada como região produtora de

queijo Minas artesanal, é composta pelos municípios de: Bambuí, Medeiros, Piumhí,

São Roque de Minas, Tapiraí, Vargem Bonita e Delfinópolis. São 1529 produtores

que produzem 5.787 toneladas por ano, gerando 4281 empregos diretos (EMATER,

2010).

A Figura 2 apresenta a Região produtora de queijo Minas artesanal da

Canastra.

Figura 2 - Região produtora de queijo Minas artesanal da Canastra (Fonte:

EMATER-MG, 2010).

O relevo constituído de chapadões, e a altitude permitem o surgimento de

inúmeras nascentes e cachoeiras. Além das características físicas, os fatores

edafoclimáticos são favoráveis a produção de queijo, muito possivelmente devido a

um ambiente propício para o desenvolvimento de bactérias endógenas responsáveis

pelo sabor característico do queijo. Essa microbiota encontra-se presente no “pingo”,

Page 23: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

22

um soro salgado e fermentado, coletado no final da dessoragem dos queijos, que é

adicionado ao leite durante a fabricação do queijo (EMATER, 2004).

2. 3 – Higienização no processamento do leite

A higienização pode ser definida como: “Um conjunto de técnicas e

procedimentos que visa manter a estabilidade microbiológica dos alimentos ao longo

de todo o seu fluxo de processamento e garantir, no que a ela se referir, condições

de operação dos equipamentos e instalações utilizados na elaboração dos produtos,

na forma mais segura e eficiente possível”. Essas técnicas e procedimentos muitas

vezes acontecem em duas etapas distintas: a limpeza e a sanitização (SANTOS &

OLIVEIRA, 2007).

A limpeza tem por objetivo a remoção dos resíduos orgânicos e inorgânicos

das superfícies de processamento, já a sanitização visa a eliminação dos

microrganismos patogênicos e a redução a níveis seguros os alteradores

(ANDRADE, 2008). A limpeza é realizada por meio de soluções detergentes, sendo

constituídas por várias substâncias atuando de forma sinérgica. Por sua vez,

sanitizantes podem ser físicos ou químicos. Do primeiro tipo, o mais utilizado é o

calor, seja na forma de vapor ou de água quente. No entanto, devido às

características de processamento do leite, como em queijarias artesanais, os

sanitizantes químicos são mais utilizados (HAYES, 1995; LELIEVELD et al., 2003).

De acordo com o layout de produção, os sistemas de higienização utilizados

podem ser de dois tipos básicos: Open-Plant-Clean (OPC) ou Clean-in-Place (CIP).

O primeiro tipo é aplicado para superfícies, ambientes e equipamentos abertos. O

segundo é aplicado em situações onde não é possível o acesso manual (HAYES,

1995).

Uma superfície pode se encontrar da seguinte forma (LELIEVEL et al., 2003):

a) Superfície limpa fisicamente, na qual há ausência de sujidades opticamente

detectada ou fisicamente mensurada;

b) Superfície limpa quimicamente, na qual a ausência de sujidades determinadas por

métodos analíticos; e

Page 24: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

23

c) Superfície limpa biologicamente, isto é, ausência de microrganismos

sobreviventes.

Uma ótima condição da superfície envolvida na transformação do leite em

seus diversos derivados deve contemplar os três aspectos, pois uma superfície pode

estar limpa do ponto de vista físico e não do ponto de vista microbiológico, ou então

do ponto de vista químico e não biológico.

É importante observar, que durante a limpeza também ocorre eliminação de

microrganismos. A intensidade dessa redução vai depender principalmente do tipo

de solução detergente utilizada, da concentração e da temperatura (LELIEVELD et

al., 2003). No entanto, não é essa a sua finalidade. A superfície deve estar em

condições de garantir que o leite resulte em produtos seguros e com viabilidade

econômica e isso só será possível com a aplicação da segunda etapa, que a

sanitização. Em algumas situações é possível que a limpeza e a sanitização

ocorram simultaneamente, isso é mais comum na higienização manual, com o uso

dos chamados “limpadores sanitizantes” a exemplo de detergentes alcalinos

clorados e detergentes contendo tensoativos catiônicos. Essa técnica deve ser

utilizada com muita cautela e em situações de mínimos riscos (HAYES, 1995).

2.3.1 - Características dos resíduos do processamento do leite

Para que se possa desenvolver um procedimento de higienização eficiente, é

muito importante conhecer as características das sujidades e o efeito que cada

etapa do processamento do alimento tem sobre ele. Assim, deve-se fazer um

levantamento de todo processo produtivo, com ênfase nas operações unitárias que

provocam alteração na sua estrutura física e química, como por exemplo: o

tratamento térmico, resfriamento, ultrafiltração, homogeneização, etc. Isso torna

possível (HAYES, 1995):

• Conhecer os seus efeitos sobre os materiais: corrosão, redução de troca

térmica;

• Identificar os microrganismos capazes de se desenvolver nesse meio; e

• Escolha correta da técnica e da solução detergente adequadas.

Page 25: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

24

No caso do processamento característico de uma queijaria artesanal que

segue o fluxograma tradicional de produção de queijos, não há tratamento térmico

nem uma outra operação capaz de promover alterações no leite. No entanto,

tratando-se de leite cru, o risco de contaminação é muito potencializado, portanto os

cuidados com a higienização como um todo devem ser muito rigorosos.

O Quadro 1 apresenta uma visão geral da composição do leite e portanto, da

característica dos resíduos oriundos da fabricação dos queijos artesanais, pois

nesse caso não é permitido adição de aditivos alimentares e nem o tratamento

térmico.

Quadro 1 – Composição média do leite com valores máximos e mínimos

(WALSTRA et al., 2001).

Constituintes Teor (g.kg-1) Variação (g.kg-1)

Água 873 855-887 Extrato seco desengordurado 88 79-100 Gordura 39 24-55 Lactose 46 38-53 Proteínas 32 23-44 Substância Minerais 6,5 5,3-8,0 Ácidos orgânicos 1,8 1,3-2,2 Outros 1,4 -

É muito importante estabelecer as especificidades de cada tipo de alimento e

de cada tipo de processo. Para o leite, que é o caso, o principal carboidrato é a

lactose, que é solúvel em água, portanto, muito fácil de ser removida. Já as

soroproteínas lácteas sofrem desnaturação e insolubilização durante tratamento

térmico, dando inicio à formação de incrustações que são difíceis de serem

removidas. Também ocorre insolubilização de sais minerais com o tratamento

Page 26: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

25

térmico, dificultando ainda mais à remoção desses resíduos da superfície (SANTOS

& CHELINE, 2009)

2.3.2 – A limpeza.

De uma forma geral, a limpeza acontece em etapas distintas (HAYES, 1995):

1) Umectação da sujidade por meio de uma solução de limpeza;

2) Deslocamento ou remoção da sujidade da superfície, por ação detergente e,

ou, mecânica;

3) Dispersão da sujidade na solução, por dissolução ou emulsificação das

partículas; e

4) Suspensão das partículas de sujidade na solução e impedimento de uma

nova deposição nas superfícies.

Ao contrário do alto desenvolvimento das técnicas de limpeza,

comparativamente, o conhecimento sobre o mecanismo envolvido na remoção das

sujidades não é muito grande (FRYER et al., 2006). O que se conhece de fato é que

tanto a remoção como a adesão ocorrem em várias fases. Como um todo, o

processo de limpeza é uma complexa reação entre componentes individuais das

soluções de limpeza e as substâncias capazes de se aderirem às superfícies. Essas

substâncias, sólidas ou líquidas, presentes no leite que está sendo utilizado, podem

vir a ter influência de forças atrativas de Van de Waals quando próximas à

superfícies metálicas. Com uma distância de 5nm ou menos, a atração torna-se

irreversível. Isto reflete o fato de que nessa distância, as partículas não são mais

objetos de movimento browniano, e para se movimentarem novamente, é necessário

fornecer energia adicional (GRASSHOFF, 1997). Isto é possível por meio de limpeza

por aspersão, a exemplo. Nesse contexto, a ação mecânica promovida pelo

manipulador no caso de limpeza manual e pelo escoamento das soluções de

limpeza em sistema CIP, é fundamental.

De acordo com GRASSHOFF (1997), o processo de remoção das sujidades

ocorre em várias fases. A primeira fase, de (1a) a (1c), consiste na difusão e

intumescência, que pode ser subdividida em três fases. Nesse período os

Page 27: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

26

componentes da solução de limpeza penetram na sujidade aderida, ligando-se a

elas, seguido de uma rápida intumescência. Tanto pela parcial hidrólise de proteínas

como pela inserção adicional de moléculas de água na complexa matriz, a força de

adesão dessa última é diminuída e o movimento do fluxo de solução é suficiente

para iniciar a remoção na camada superior do depósito de sujidade, mesmo antes

da solução penetrar totalmente (1a). Em seguida, (1b), ocorre uma contínua

intumescência no restante do depósito até atingir a superfície metálica (1c).

Na segunda fase, ocorre então o desprendimento de placas, cujo tamanho é

variável e depende da velocidade do fluxo da solução de limpeza e da estrutura

interna do depósito, no caso da limpeza por circulação, CIP ou da força aplicada no

caso da limpeza manual. Ao término da segunda fase restam aproximadamente 5%

do depósito inicial de sujidades, que é retirado mais lentamente durante a terceira

fase. Resta na superfície uma fina camada transparente constituída por cálcio e

fosfato principalmente, embebidos em material orgânico. Essa subcamada é

removida por meio de agentes ácidos de limpeza (VISSER, 1997).

A Figura 3 representa a sequência do processo de remoção de sujidades de

uma superfície de aço-inoxidável.

0) t = 0

1 a) t = 30s

Depósito poroso ≈ 0,3 mm Subcamada homogênea ≈ 4 - 10µm Aço Inoxidável

Intumescência da camada mais externa ≈ 1,0 – 1,2 mm

Page 28: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

27

1 b) t = 60

1 c) 3 – 10 min

2) 3 - min

3) 10 - min

Remoção parcial da camada superior ≈ 0,3 mm

Intumescência da camada residual ≈ 0,5 – 0,8 mm

Deslocamento de placas de depósitos

A remoção ocorre e menos que 5% da camada inferior não é removida

ou

Page 29: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

28

Figura 3 – Representação do processo de remoção de sujidades da superfície

de aço-inoxidável (GRASSHOFF, 1997).

2.3.3 – Fatores que influenciam no procedimento de higienização.

A Figura 4 apresenta o “Círculo de Sinner”. Nele podem ser vistas as quatro

variáveis responsáveis pela eficiência da higienização: o tempo, a temperatura, as

ações mecânica e química. Todo o dimensionamento de um sistema de higienização

deve ser feito levando-se em consideração essas variáveis e a sua relação com as

características das sujidades e das alterações provocadas nelas devido ao

processamento (FRYER, 2006).

Figura 4 – Ciclo de Sinner contendo as quatro variáveis pela eficiência da

higienização (SANTOS & OLIVEIRA, 2007).

A superfície é totalmente limpa

Page 30: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

29

2.3.3.1 – Tempo

De forma geral, a quantidade de sujidade diminui com o tempo de limpeza.

Esta aproximação não é válida para todas as situações. Na prática, a remoção é

rápida no início e mais lenta no final. Por que isso acontece ainda não é bem

conhecido, no entanto, sabe-se que para uma sujidade aderida a uma superfície, a

sua parte mais externa é removida mais facilmente e a parte interna com maior

dificuldade (LELIEVELD et al., 2003).

O tempo estabelecido para o contato entre a sujidade e a solução de limpeza

deve ser estritamente o necessário, pois um tempo menor não será suficiente para

que as reações possam ocorrer e um tempo excessivo é inviável economicamente.

Além do mais, quase todas as reações químicas acontecem com maior velocidade

no início (ANDRADE, 2008).

2.3.3.2 – Temperatura

A adesão de sujidades à superfície é um processo físico que envolve

liberação de energia, dessa forma, energia também é requerida para que o processo

de adesão seja revertido. Durante a difusão e intumescência, como se vê na Figura

3, os agentes de limpeza devem ser transportados para o interior do depósito e

reagir com os constituintes das sujidades, mecanismo esse que consome energia. É

importante observar que a quantidade de energia fornecida deve ser somente a

necessária, pois caso seja insuficiente, haverá um aumento no tempo dos ciclos de

limpeza, e por outro lado se a quantidade de energia for demasiada, poderá acelerar

o desgaste do equipamento, como corrosão, por exemplo, e até mesmo o

desprendimento de gases, com no caso da utilização do ácido nítrico a altas

temperaturas. Além do mais, os equipamentos de processo também possuem

componentes que devem ser levados em consideração, como gaxetas e sensores.

Uma elevação na temperatura de 10°C duplica a ação química das soluções de

Page 31: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

30

limpeza. Temperaturas acima de 50°C parecem não incrementar muito a eficiência

da limpeza (LELIEVELD et al., 2003).

2.3.3.3 - Ação química

O principal componente das soluções de limpeza é á água. Sendo assim, é

muito importante que apresente a qualidade desejada para ser utilizada na

preparação das soluções de limpeza. Ela tem a importante função de desestabilizar

a estrutura das sujidades (HAYES, 1995). Além disso:

• É um solvente requerido para os produtos químicos utilizados na solução de

limpeza;

• Transporta e mantém os sólidos removidos em suspensão; e

• Transporta energia térmica e química.

Na formulação de soluções detergente, a proporção entre a água e as

substâncias químicas ativas deve ser menor que 5%, e sempre que possível

mantida o mais baixo possível, pois é preciso considerar que quanto mais produto

químico for utilizado, mais dispendioso economicamente o procedimento de limpeza

se torna, tanto pelo maior volume utilizado, quanto no aspecto ambiental, pois o

volume de resíduos a ser tratado também aumentará (GRASSHOFF, 1997).

O incremento na concentração de detergentes maximiza a taxa de limpeza e

uma ótima concentração dos produtos químicos, reduz o tempo de operação. No

entanto, existe um ponto de saturação (CMC – Concentração Micelar Crítica), onde

acima dele, concentrações adicionais de detergentes não melhoram de forma

significativa a eficiência do procedimento (ANDRADE, 2008).

Para que uma solução de limpeza, “detergente”, possa desempenhar uma

ótima ação química, ela deveria apresentar as seguintes características (ANDRADE,

2008):

• Emulsificação: é a capacidade de manter os óleos e gorduras na forma

dispersa, sem se aglomerarem e formarem depósitos;

• Saponificação: é a reação química entre um álcali e uma gordura animal ou

vegetal, resultando em um sabão;

Page 32: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

31

• Umectação: é a ação da água ao entrar em contato com todas as superfícies

de deposição ou do equipamento. Está ligada à redução da tensão superficial;

• Penetração: é a ação de um líquido que penetra em materiais porosos

através de fissuras, pequenos orifícios ou pequenos canais. Esta ação pode

ser considerada como parte da umectação;

• Dispersão: é a ação de fracionar flocos ou agregados em partículas

individuais. Assim essas partículas diminutas são mais facilmente suspensas

e removidas do equipamento pelo enxágue;

• Suspensão: é a ação que mantém partículas insolúveis suspensas em uma

solução, impedindo a formação de depósitos;

• Peptização: é a transformação física das deposições que só podem ser

parcialmente solúveis em soluções coloidais. Esta ação, em parte, é similar á

dispersão, mas é particularmente aplicável a materiais tais como deposições

de proteína;

• Enxágue ou ação de molhagem: é a facilidade que tem uma solução ou

suspensão de ser removida de uma superfície pela lavagem.

• Poder sanitizante: alguns detergentes podem conter sanitizante; e

• Abrandamento: é a remoção ou inativação dos constituintes da dureza da

água.

Pelo exposto, não existe uma substância que apresente todas as

características ideais para constituir uma solução de limpeza, em outras palavras,

para constituir um detergente. Na prática são utilizadas uma combinação de várias

substâncias atuando de forma sinérgica a fim de conseguir uma excelente ação

química, e no procedimento de limpeza como um todo, muitas vezes são

necessários mais de um detergente, cada um, constituído de diferentes substâncias.

Por exemplo, não se pode conseguir uma solução detergente alcalina forte que

também tenha caráter de ácido forte. Nesse caso é necessário que se tenha uma

solução que possua um ingrediente alcalino forte e uma outra solução que contenha

uma substância ácida forte. Isso explica por que em um procedimento de limpeza

básico, existe a etapa alcalina e a etapa ácida (FRAYER, 2006).

A limpeza das superfícies é obtida pelo uso de determinados agentes

químicos ou por formulações destes que apresentam ação específica sobre os

resíduos dos alimentos. As soluções de limpeza podem ser aplicadas: a)

Page 33: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

32

manualmente; b) pela imersão de partes desmontáveis de equipamentos e

tubulações, como válvulas conexões e, ainda, para o interior de tachos e tanques; c)

por meio de máquinas “lava jato” tipo túnel, como as usadas para lavagem de latões

de leite; d) por meio de equipamento “spray” com alta ou baixa pressão; e) por

nebulização ou atomização, como em silos de leite; f) pelo uso de espuma; g) pelo

uso de gel; e h) ou por circulação (Cleaning In Place - CIP) (ANDRADE, 2008).

Os principais constituintes das soluções detergentes podem ser vistas no

Quadro 2.

Quadro 2 – Principais substâncias usadas na elaboração de detergentes.

Agentes Funções Alcalinos Saponificam ácidos graxos e solubilizam proteínas

Fosfatos Auxiliam a emulsificação de gordura. Abrandam a água

por formação de complexos solúveis com os sais divalentes e auxiliam a emulsificação de gordura.

Ácidos Controlam depósitos minerais.

Sequestrantes Abrandam a água por sequestro dos sais divalentes e também controlam depósitos minerais. Suspendem resíduos.

Tensoativos Emulsificam resíduos de gordura. Melhoram a ação de molhagem e diminuem a tensão superficial da água.

Adaptado de Andrade (2008).

2.3.3.4 - Ação mecânica

No dimensionamento de um sistema de limpeza a ação mecânica é muito

importante, principalmente na limpeza CIP. Estudos realizados por FRAYER & BIRD

(1994) , demonstraram que usando velocidades de fluxo que variavam de (0,17; 0,35

e 0,53ms-1) houve incremento na velocidade de remoção das sujidades. Há uma

Page 34: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

33

relação exponencial entre o coeficiente de velocidade de remoção e a tensão de

cisilhamento1, como pode ser visto na Figura 5 (VISSER et al., 1997).

Figura 5 - Coeficiente de velocidade de remoção k em função da 1tensão de

cisilhamento τw, por uma solução de NaOH a 80°C, x = 0,65.

Fonte: VISSER et al. (1997).

A energia mecânica é requerida para:

• Remoção das partículas quimicamente modificadas;

• Quebra de maiores agregados em menores agregados; e

• Prevenir a sedimentação e readerência das partículas já desprendidas.

A ação mecânica tem papel fundamental para a redução dos tempos dos

ciclos de limpeza.

O consumo de energia das bombas varia linearmente com o quadrado da

velocidade do fluxo, assim, no dimensionamento de um sistema de higienização é

preciso avaliar a relação entre o custo do aumento na velocidade de fluxo e a

melhoria da eficiência como um todo. Apesar da limpeza ser realizada em um fluxo

contínuo, existe um tempo mínimo de contato entre os constituintes da solução de

limpeza e a sujidade, seja no processo manual ou por circulação. Recomenda-se a

1 É a componente tangencial da força que age sobre a superfície de adesão.

Page 35: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

34

velocidade mínima de 2,0m.s-1 para o escoamento de limpeza em tubulações por

meio da limpeza CIP (SANTOS & OLIVEIRA, 2007).

É interessante observar que com o aumento da velocidade de escoamento,

diminui o tempo de contato, de qualquer forma, é suficiente para promover uma

ótima limpeza (LELIEVELD et al., 2003).

As quatro variáveis responsáveis pela higienização não apresentam uma

relação linear. Por exemplo: o fato de se elevar a temperatura de uma solução de

40°C para 80°C, ou seja, dobrá-la, não significa que se pode reduzir a concentração

da solução por 2, e o inverso também é valido. De alguma forma, quando ocorre o

deslocamento para mais ou para menos de alguma das quatro variáveis, todo o

sistema fica alterado, o que pode acarretar, por exemplo, em maior tempo de

limpeza. O que existe é uma ação sinérgica entre as variáveis (SANTOS &

OLIVEIRA, 2007).

2.3.4 – A sanitização

Após a limpeza, é necessário que seja realizada a sanitização. Esta tem a

finalidade de eliminar microrganismos patogênicos e reduzir a níveis seguros os

alteradores. Ela deve ser realizada, sempre que possível, imediatamente antes da

utilização dos equipamentos e instalações, pois pode haver desenvolvimento de

microrganismos que não foram eliminados totalmente da superfície com

recontaminação (ANDRADE, 2008).

Na escolha de um sanitizante, deve-se levar em consideração (ANDRADE,

2008):

a) Aprovação pelos órgãos competentes, como o Ministério da Saúde;

b) O espectro de ação antimicrobiana e velocidade para destruir os microrganismos;

c) Sejam estáveis sob variadas condições de uso; e

d) Apresentem baixa toxicidade e corrosividade.

Page 36: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

35

Como não existe um sanitizante que tenha todas essas características, a

escolha do produto a ser utilizado deve ser realizada em função das características

de processamento (ANDRADE, 2008).

Os sanitizantes físicos mais usados são vapor, água quente e ar quente. O

mecanismo básico de ação sobre os microrganismos, envolve desnaturação

protéica, desorganização de lipídios celulares e oxidação de substâncias essenciais

ao metabolismo microbiano (ANDRADE, 2008).

Os sanitizantes químicos mais utilizados são os compostos liberadores de

cloro, os compostos iodados, clorexidina, ácido peracético, amônia quaternária,

álcool e dióxido de cloro. O mecanismo de ação desses compostos sobre os

microrganismos é uma complexa sequência de reações que causam danos à

membrana celular, oxidação de substâncias essenciais ao metabolismo,

abaixamento de pH do interior celular, alterações cromossomáticas dentre outras

(AKUTSU, 2001).

A legislação brasileira que regulamenta a utilização de sanitizantes

estabelece que os princípios ativos dos produtos desinfetantes em uso na indústria

de alimentos devem ser aqueles que constam da lista do “Code of Federal

Regulation” nº 21, parágrafo 178.1010 e as da Diretiva n° 98/8/CE (BRASIL, 2007).

2.4 – Qualidade microbiológica da água

A água desempenha um papel muito importante quando se trabalha com leite

e também para a higienização. Como é o principal componente das soluções de

limpeza, ela tem a importante função de desestabilizar a estrutura das sujidades.

Além disso (HAYES, 1993):

• É um solvente requerido para os produtos químicos utilizados na solução

de limpeza;

• Transporta e mantém os sólidos removidos em suspensão;

• Transporta energia térmica e química;

• É utilizada para higiene pessoal;

Page 37: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

36

• Componente de formulações: padronização de creme, requeijão,

aquecimento de massa de queijo etc;

• Produção de vapor; e

• Resfriamento.

A água é considerada fonte de contaminação primária quando se trata do

leite e de sua transformação nos mais diversos derivados. Muitos dos

microrganismos presentes no leite têm origem na obtenção, e nessa, a água é a

principal veículo de contaminação. Não é incomum encontrar fazendas produtoras

de leite que utilizam água sem nenhum tratamento (PINHEIRO & MOSQUIM, 1991).

Ela pode estar contaminada por uma variedade enorme de microrganismos

que vão desde psicrotróficos alteradores de alimentos a patogênicos, como

Salmonella spp, Clostridio perfringens, Escherichia coli (ANDRADE, 2008).

A legislação que trata do queijo Minas artesanal exige que as queijarias só utilizem

água tratada (MINAS GERAIS, 2002).

2.5 – Métodos de avaliação do procedimento de higienização

2.5.1 – O método tradicional e a técnica de ATP-Bioluminescência

A higienização deve ser avaliada periodicamente de forma a garantir a pro-

dução de alimentos seguros, devendo-se adotar medidas corretivas em casos de

desvios desses procedimentos, e ser realizada sempre que possível em condições

reais de utilização (ANDRADE,2008).

A amostragem das superfícies consiste na recuperação de microrganismos

por meio de líquidos ou sólidos (ANDRADE, 2008; SERRANO, 1984). Métodos do

“swab” seguido de contagem padrão em placas, placas de contato, rinsagem e

impressão em Agar, são exemplos aplicáveis, sendo o método do “swab”

considerado classe O pela APHA (American Public Health Association), ou seja,

uma metodologia de referência (tradicional) (ANDRADE, 2008).

Page 38: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

37

Métodos rápidos, sensíveis e precisos têm sido desenvolvidos para a

enumeração de microrganismos e detecção de resíduos orgânicos, a fim de atender

às necessidades das indústrias de alimentos (AKUTSU, 2001). As respostas das

técnicas tradicionais demandam determinado tempo e quase sempre o

processamento foi terminado e pouco se pode fazer caso a avaliação não tenha sido

satisfatória.

Sistemas de “Hygiene Monitoring Systems” (HMS) que utilizam técnicas de

Bioluminescência baseadas na determinação do ATP (adenosina tri-fosfato), têm se

mostrado muito eficientes. A grande vantagem dessa técnica é o fato dela fornecer

resposta durante o processamento (MURPHY et al., 1998).

A técnica de ATP-Bioluminescência tem sido usada pelas indústrias de

alimentos e dentre elas, a indústria de laticínios, para se avaliar a eficiência dos

procedimentos de higienização e a presença de resíduos nas linhas de

processamento (GRIFFITHS, 1993). Essa técnica também foi utilizada por Marques

(2007) para avaliar o processo de higienização de tanques de resfriamento de leite.

A avaliação do procedimento de higienização de uma indústria de laticínios

por meio da técnica de ATP-Bioluminescência e a comparação com aquela que

emprega a contagem em placas, não apresentam concordância. Porém, a mesma

pode ser utilizada como indicadora de boas condições de limpeza e também

possibilidade de adesão microbiana e formação de biofilmes. Sendo assim, para se

obter melhores resultados, recomendam-se mais de uma análise na superfície

avaliada (COSTA, 2001).

A técnica consiste da remoção do ATP, seja de origem microbiana ou não, da

superfície por meio de um “swab” esterilizado. Em seguida, ele é colocado em uma

solução contento o complexo luciferina–luciferase. Utilizando a energia química

contida na molécula de ATP, a enzima luciferase promove a descarboxilação

oxidativa da luciferina, o que provoca a emissão de luz, sendo que cada ATP é

responsável pela emissão de um fóton de luz. Assim, é obtida uma relação entre a

quantidade de ATP na superfície e a quantidade de luz emitida. Para se medir a luz

emitida, utiliza-se de fotômetros, sendo que os resultados são dados usualmente em

unidades relativas de luz. Dentre as vantagens apresentadas pela técnica do ATP-

Bioluminescência pode-se citar: rapidez na obtenção dos resultados, identificação de

problemas higiênicos antes do início do processamento, fácil aplicação e pouca

Page 39: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

38

utilização de laboratório (COSTA, 2001). Assim, é possível avaliar e corrigir

eventuais falhas no sistema de higienização e evitar grandes perdas de leite e

produtos.

3 – OBJETIVOS

3.1 – Geral

Avaliar as condições higiênico-sanitárias do ambiente e das superfícies de

processamento de uma unidade produtora de queijo Canastra por meio da técnica

de ATP-Bioluminescência e propor um procedimento de higienização que contribua

para a segurança e melhoria desse sistema de produção.

3.2 – Específicos

I. Selecionar uma unidade produtora de queijo artesanal da região da Canastra por

meio de questionário próprio que atenda à Legislação.

II. Conhecer o nível de contaminação microbiológica das superfícies de contato com

o leite e com o queijo antes da implantação do procedimento higienização

proposto.

III. Empregar a técnica de ATP-Bioluminescência como alternativa para se avaliar o

nível de contaminação microbiológica em água, superfícies de contato e ambiente

de processamento no período mais crítico do ano;

IV. Observar o comportamento da técnica de ATP-Bioluminescência nessas condições

de trabalho;

V. Avaliar a influência das estações do ano nas condições higiênico-sanitárias nessa

atividade de produção; e

Page 40: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

39

VI. Propor e avaliar um sistema de higienização para uma unidade produtora de queijo

artesanal da Canastra nas quatro estações do ano.

VII. Correlacionar e comparar a técnica de ATP-Bioluminescência com a metodologia

de referência.

4 – MATERIAL E MÉTODOS

4.1 – Localização

O trabalho foi realizado em uma queijaria artesanal localizada no município de

Medeiros, situado na região da Serra da Canastra, no estado de Minas Gerais.

4.2 – Aplicação de questionário

Foi aplicado um questionário, não estruturado (Anexo A), a produtores de

queijo artesanal do município de Medeiros, Região da Serra da Canastra, visando

conhecer o nível de entendimento desses em relação às técnicas de higienização,

mais precisamente: limpeza, sanitização, utilização de detergentes e sanitizantes,

relação da higienização com a segurança alimentar, relação da higienização com a

viabilidade econômica da atividade produtiva. A partir das avaliações dos

questionários e das condições “in loco’, elegeu-se aquela que apresentou melhores

condições gerais e concordância do proprietário em conduzir o experimento.

Page 41: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

40

4.3 – Escolha da queijaria

A escolha foi realizada em função de critérios estabelecidos em um

questionário, apresentando boas características de instalação, higiene e representar

o processo tradicional do queijo, além de já contar com o controle zootécnico

fornecido pela assessoria da EMATER - MG (Empresa de Assistência Técnica e

Extensão Rural - Minas Gerais).

4.4 – Identificação dos pontos de amostragem

Os pontos de amostragem foram escolhidos conhecendo-se o fluxo de

produção da queijaria escolhida, e com base nas visitas e aplicação do questionário

em todas as outras queijarias.

4.5 – Desenho experimental

O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado (DIC)

com quatro repetições.

Os resultados foram avaliados por meio de análise descritiva (processo

tradicional e no comparativo entre o métodos tradicional e ATP-Bioluminescência),

de análise descritiva e análise de variância seguida pelo teste de Tukey (técnica de

ATP-Bioluminescência). Utilizou-se o software Sisvar® (FERREIRA, 1999) para o

tratamento dos dados.

Page 42: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

41

4.6 - Condições microbiológicas antes e após a implantação do procedimento

proposto

Visando conhecer as condições microbiológicas das superfícies, utensílios e

água utilizados na queijaria selecionada para a produção do queijo Minas artesanal,

optou-se pela avaliação no verão, visto ser a estação do ano com maior intensidade

de calor e precipitações, portanto mais propícia às contaminações. Assim, antes de

se iniciar a aplicação do procedimento proposto, foram realizadas 4 amostragens em

cada ponto selecionado, tanto pela técnica de ATP–Bioluminescência quanto pela

técnica tradicional. Após avaliação das condições higiênico sanitárias da queijaria

nos pontos selecionados como mais críticos, foi proposto um procedimento para

implantação imediata na queijaria, que foi acatado e bem recebido pelo proprietário,

que adquiriu os produtos e foi orientado na forma de aplicação dos mesmos.

Posteriormente, após o início da aplicação do procedimento proposto de

higienização, foram realizadas, em cada ponto de amostragem selecionado, 4

avaliações (repetições) nas quatro estações do ano. Todas as amostragens foram

realizadas imediatamente antes do início da fabricação dos queijos.

As metodologias utilizadas nas avaliações são descritas em seguida.

4.6.1 – Metodologia para avaliação das condições microbiológicas das

superfícies e utensílios pelo método tradicional.

Para essa avaliação, seguiu-se a metodologia proposta por (ANDRADE et al.,

2008), onde foram utilizados swabs esterilizados e mantidos em solução diluente à

base de água peptonada. A técnica consistiu em friccionar o swab na superfície dos

pontos selecionados, com a utilização de um molde que delimitou a área amostrada

em 100cm2. O swab foi aplicado com pressão constante, em movimentos giratórios,

numa inclinação aproximada de 30°, descrevendo movimentos da esquerda para a

direita inicialmente e depois de baixo para cima. O diluente foi então plaqueado em

Page 43: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

42

ágar PCA a 35°C/48h, com o objetivo de determinar de mesófilos aeróbios e o

resultado expresso em UFC.cm-2 de superfície. Nos pontos onde não foi possível a

utilização do molde de 100cm2 devido ao tamanho e forma, a amostragem foi

estimada.

4.6.2 – Metodologia para avaliação das condições microbiológicas das

superfícies e utensílios pelo método de ATP-Bioluminescência.

Empregou-se um luminômetro modelo AccuPoint Hygiene Monitor 9600,

marca Neogen Corporation® fabricado no Canadá e swab compatível com o

equipamento fornecidos pelo mesmo fabricante. Adotou-se a recomendação do

fabricante do luminômetro na avaliação do processo de sanitização, ou seja, áreas

de 10 cm x 10 cm (100 cm2). As áreas escolhidas foram adjacentes à utilizada nas

amostragens pelo método tradicional. Nos pontos onde não foi possível a utilização

do molde de 100cm2 devido ao tamanho e forma, a amostragem foi estimada.

O luminômetro fornece em sua escala de leitura valores de URL (unidades

relativas de luz) e classifica os resultados obtidos das leituras no display em 3 faixas:

aceitável, duvidosa e inaceitável. A sugestão do fabricante para classificação é:

1. Até 150 URL: aceitável;

2. De 151-300 URL: faixa intermediária, onde o processo de sanitização pode não

estar adequado; e

3. Acima de 300 URL: inaceitável.

É importante observar que esses valores podem ser alterados de acordo com as

características de processamento e com o nível desejado de sanitização. Optou-se

por manter a escala sugerida.

Page 44: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

43

4.6.3 – Metodologia para avaliação das condições microbiológicas da água

utilizada na produção do leite e no interior da queijaria pelo método de ATP-

Bioluminescência.

Seguiu-se a mesma metodologia adotada para a avaliação das superfícies e

utensílios (ANDRADE, 2008), diferenciando-se na utilização de swab apropriados

para água. Assim como nas superfícies, as amostragens também foram realizadas

imediatamente antes do início do processamento.

5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1- Fluxograma de produção do queijo Minas artesanal da Canastra

A Figura 6 apresenta o fluxograma utilizado na produção do queijo Minas

artesanal, compreendendo as etapas de obtenção do leite, transferência para o

interior da queijaria e elaboração do produto.

Page 45: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

44

Figura 6 – Fluxograma de produção do queijo Minas artesanal da Canastra.

5.2 - Pontos de amostragem indicados após seleção da queijaria

Os pontos identificados como críticos e, portanto, a serem avaliados estão

apresentados no Quadro 3, seguidos dos seus respectivos códigos.

Page 46: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

45

Quadro 3 – Pontos de amostragem e seus respectivos códigos de uma unidade

produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra.

Latão de leite do equipamento de ordenha

LEO

Teteira 1 T1 Teteira 2 T2 Teteria 3 T3 Teteira 4 T4

Entrada da tubulação de transferência do leite

ETL

Saída da tubulação de transferência do leite

STL

Tanque de produção TP Mesa de enformagem e prensagem MEP

Prateleira de maturação PM Forma F

Mão do manipulador MP Água utilizada na sala de ordenha SO

Água utilizada no interior da queijaria IQ

5.3 – Avaliação do procedimento de higienização empregado na unidade de

produção do queijo Minas artesanal da Serra da Canastra antes da implantação

do procedimento proposto.

Os resultados obtidos com a aplicação dos questionários informaram que o

proprietário da queijaria e os responsáveis pela obtenção do leite e pela produção

dos queijos tinham conhecimento sobre a importância das boas práticas

agropecuárias e de uma boa higienização para a obtenção de produtos de

qualidade, e que esses não transmitam doenças de origem alimentar, pois já haviam

realizado vários treinamentos que tratavam do assunto. No entanto, durante as

visitas, observou-se o contrário, falta de conhecimento sobre as técnicas adequadas

de limpeza quanto da sanitização.

Page 47: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

46

A água utilizada na produção do leite, ou seja, na sala de ordenha e

mediações, era obtida de uma nascente na própria propriedade e não sofria nenhum

tipo de tratamento. Já a água utilizada no interior da queijaria, também obtida da

nascente, passava pela filtragem em areia, seguido de desinfecção com

Cl2Na(NCO)3 dicloro-s-triazinatriona sódica (composto clorado orgânico), sem

contudo, haver um procedimento para se avaliar o nível de cloro ativo da água.

O procedimento utilizado para higienização do equipamento de ordenha

consistia em lavagem com água, a temperatura ambiente, seguido da aplicação de

detergente alcalino, um enxágue intermediário e posterior aplicação de solução

clorada. A aplicação dos produtos era realizada por meio da utilização de

equipamento automático (batedor) próprio para este tipo de ordenhadeira (sistema

“balde ao pé”).

Havia higienização de algumas partes desmontáveis de forma manual,

usando-se para isso solução clorada. O latão de leite do equipamento de ordenha e

a tubulação de transferência do leite do curral para o interior da queijaria eram

higienizados por um “CIP” (clean-in-place), ou seja, era realizado um pré-enxágue

com água a temperatura ambiente, seguido da circulação de uma solução clorada,

também a temperatura ambiente. A circulação da solução clorada era obtida com o

auxílio de uma bomba centrífuga sanitária. Posteriormente, a higienização do latão

era completada manualmente com solução a base de composto clorado orgânico.

No interior da queijaria, o procedimento de higienização utilizado consistia

simplesmente em lavagem com água a temperatura ambiente, seguido da utilização

de solução a base de composto clorado orgânico para todos os equipamentos e

utensílios, pisos, paredes.

Todos os procedimentos, tanto na obtenção do leite quando na queijaria,

eram realizados imediatamente após o término da utilização dos equipamentos.

Observou-se que a solução clorada estava sendo utilizada com a função

“detergente”, sem periodicidade para aplicação dos produtos. Não havia a utilização

da etapa ácida de forma regular, dentre várias outras falhas. De uma forma geral,

percebeu-se que eram desconhecidas por todos os envolvidos na produção dos

queijos as técnicas de limpeza e sanitização.

Page 48: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

47

5.4 - Avaliação das condições microbiológicas antes da implantação do

procedimento proposto pela técnica de ATP – Bioluminescência.

O Quadro 4 apresenta as médias de unidades relativas de luz (URL) obtidas

pelo método de ATP–Bioluminescência antes da aplicação do procedimento

hgienização proposto.

Quadro 4 – Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas

de Luz (URL) na avaliação da unidade produtora de queijo artesanal da Canastra no

verão antes da implantação do procedimento proposto.

Pontos de amostragem URL

Latão de leite do equipamento de ordenha

5,00

Teteira 1 5,00 Teteira 2 5,00 Teteria 3 5,00 Teteira 4 5,00

Entrada da tubulação de transferência do leite

4,81

Saída da tubulação de transferência do leite

3,15

Tanque de produção 4,01 Mesa de enformagem e

presagem 4,51

Prateleira de maturação 3,94 Forma 2,62

Mão do manipulador 4,43

Os dados obtidos demonstram que, no verão, 100% das avaliações foram

classificadas como inaceitável, ou seja, apresentaram leituras superiores a (Log10) >

2,18, indicando que os métodos utilizados de limpeza e sanitização não estavam

sendo eficientes, representado um risco potencial tanto para a saúde dos

consumidores quanto para a sustentabilidade da atividade produtiva. A literatura

Page 49: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

48

subsidia esses resultados, pois não estavam sendo respeitados os parâmetros

técnicos e funcionalidade de cada produto químico utilizado, a exemplo do cloro

(HAYES,1993).

5.5 – Procedimentos de higienização propostos

Visando corrigir as falhas observadas nos métodos de higienização utilizados

tanto na obtenção do leite quanto na produção dos queijos, foram propostos novos

procedimentos de limpeza e sanitização para as instalações, superfície e água

utilizada. Para isso, além dos aspectos técnicos, foi levado em consideração o

aspecto social e econômico da atividade produtiva, principalmente no que se refere

aos custos com produtos químicos e equipamentos. Procurou-se elaborar

procedimentos que utilizassem as instalações e equipamentos já existentes, bem

como a menor quantidade possível de produtos químicos. Além disso, a facilidade

de compreensão e aplicação da técnica pelos produtores também foi considerada.

Assim feito, o produtor se comprometeu a adquirir os produtos a serem usados na

higienização.

5.5.1 - Equipamento de ordenha (sistema “balde ao pé”)

A higienização era feita imediatamente após o final da ordenha, de acordo

com as seguintes recomendações:

1 - Efetuar o enxágue de cada unidade de ordenha com água morna (38°C a 43°C),

passando água através das teteiras com a unidade em funcionamento. Após o

enxágue, desligar o vácuo e enxaguar as demais superfícies;

2 - Conectar o equipamento de ordenha ao dispositivo de limpeza automático;

3 - Limpar com detergente alcalino: circular a solução de detergente alcalino à 70°C

por 10 minutos;

Page 50: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

49

4 – Realizar o enxágüe intermediário com água morna (38°C a 43°C), até remoção

completa da solução de detergente alcalino;

*5 – Limpar com detergente ácido: circular a solução de detergente ácido à

temperatura média (38°C a 43°C) por 10 minutos;

6 - Enxágue intermediário com água morna (38°C a 43°C), até remoção completa da

solução de detergente ácido;

7 – Sanitizar por meio da circulação da solução a base de composto clorado

orgânico à temperatura ambiente por 10 minutos na concentração de 200 mg/L do

princípio ativo e drenar completamente.

* Essa etapa deverá ser realizada de quatro em quatro dias.

Deve-se observar que as soluções alcalinas e ácidas devem ser utilizadas

nas concentrações recomendadas pelos fabricantes.

Imediatamente antes do início da ordenha:

1 - Sanitização: Circular a solução a base de cloro orgânico à temperatura ambiente

por 10 minutos na concentração de 200 mg/L do princípio ativo e drenar

completamente.

5.5.2 - Tubulação de transferência do leite da sala de ordenha para a queijaria e

do latão pertencente ao equipamento de ordenha

Para a higienização da tubulação de transferência do leite do curral para a

queijaria, deve-se utilizar o sistema “CIP”. Para isso, utiliza-se o latão do

equipamento de ordenha, uma bomba sanitária, a mesma utilizada para transferir o

leite do curral para a queijaria, e a própria tubulação, constituindo um circuito

fechado por onde ser circuladas as soluções de limpeza e sanitização.

Após a passagem do leite:

1 - Enxaguar com água morna (38°C a 43°C);

2 - Limpar com detergente alcalino: circular a solução de detergente alcalino à 70°C

por 10 minutos;

Page 51: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

50

3 – Realizar enxágue intermediário com água morna (38°C a 43°C) até remoção

completa da solução de detergente alcalino;

* 5 – Limpar com detergente ácido: circular a solução de detergente ácido à

temperatura média (38°C a 43°C) por 10 minutos;

6 - Realizar enxágue intermediário com água morna (38°C a 43°C) até remoção

completa da solução de detergente ácido;

7 – Sanitizar por meio da circulação da solução a base de cloro orgânico à

temperatura ambiente por 10 minutos na concentração de 200 mg/L do princípio

ativo e drenar completamente; e

8 – Completar a limpeza do latão pertencente ao equipamento de ordenha

manualmente, usando para isso detergente neutro, que deve ser esfregado até a

completa remoção das sujidades.

Deve-se observar também que as soluções alcalinas e ácidas devem ser

utilizadas nas concentrações recomendadas pelos fabricantes.

Todos os dias antes da passagem do leite:

1 – Sanitizar por meio da circulação da solução a base de cloro orgânico à

temperatura ambiente por 10 minutos na concentração de 200 mg/L do princípio

ativo e drenar completamente.

5.5.3 - Água utilizada no interior da queijaria

Quando o nível da água estiver muito baixo, e for necessário encher a caixa

novamente, proceder da seguinte maneira:

1 – Esvaziar completamente a caixa d’água;

2 – Encher completamente a caixa d’água até a marca de 1000 litros;

3 – Adicionar 2 pastilhas de Cl2Na(NCO)3 dicloro-s-triazinatriona sódica (cloro

orgânico) e aguardar por 30 minutos; e

4 – Todos os dias antes de iniciar a produção, verificar o teor de cloro ativo por meio

da utilização do “kit teste” apropriado.

Page 52: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

51

5.5.4 - Utensílios, mesas, formas e tanque de produção

Imediatamente após a produção

1 – Enxaguar com água à temperatura ambiente;

2 – Esfregar detergente neutro na concentração recomendada pelo fabricante até

remoção das sujidades;

3 - Enxaguar com água à temperatura ambiente; e

4 – Passar solução sanitizante à base de cloro orgânico à concentração de 150 mg/L

do principio ativo à temperatura ambiente.

Imediatamente antes de iniciar uma produção:

1 – Passar solução sanitizante a base de cloro orgânico à concentração de 150 mg/L

do principio ativo à temperatura ambiente e drenar completamente.

Deve-se observar que para as formas, uma vez por semana deverá ser feita

uma limpeza com solução detergente ácida, aplicando-se o produto por imersão,

assim, deve-se preparar a solução na concentração recomendada pelo fabricante e

a temperatura ambiente, e mergulhar completamente, deixando-as imersas por 4

horas. Em seguida, se necessário, esfregar com o auxílio de uma escova até a

completa remoção dos resíduos aderidos. Para esta operação, o manipulador

deverá utilizar luvas de proteção.

5.5.5 – Pisos

1 – Após a produção, limpar com detergente neutro para uso geral; e

2 – Espalhar um pouco de solução do sanitizante a base de cloro orgânico à

concentração de 150 mg/L do principio ativo à temperatura ambiente.

Deve-se observar que para esta operação, utilizam-se as soluções

preparadas para a realização dos outros procedimentos.

Page 53: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

52

5.5.6 – Paredes

1 – Quando houver a presença de mofos, aspergir (utilizando o equipamento

aspersor manual) solução sanitizante solução a base de cloro orgânico à

concentração de 150 mg/L do principio ativo à temperatura ambiente, por toda a

superfície contaminada. Em seguida, abrir a porta e a janela da queijaria a fim de se

permitir completa ventilação do local.

5.5.7 – Manipulador

Imediatamente antes de iniciar uma produção:

1 - Lavar as mãos e ante braços com detergente neutro; e

2 - Passar a solução sanitizante à base de digluconato de clorexidina na

concentração recomendada pelo fabricante, à temperatura ambiente, não sendo

necessário enxaguar.

Deve-se observar que todas as vezes que o manipulador deixar a queijaria ou

tiver contato com utensílios e equipamentos que não foram sanitizados, repetir o

procedimento.

5.5.8 – Prateleiras de maturação

O manipulador deve ser estar atento e observando as condições higiênicas

das prateleiras de madeira utilizadas para a maturação dos queijos. Quando

necessário, proceder da seguinte maneira:

1 - Esfregar detergente neutro com a ajuda de uma escova e enxaguar;

2 – Passar solução sanitizante à base de hipoclorito de cálcio à concentração de 150

mg/L do principio ativo à temperatura ambiente; e

3 – Deixar secar em local ventilado.

Page 54: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

53

5.5.9 - Recomendações gerais:

Visando complementar o processo proposto, foi sugerido também:

• A solução de hipoclorito de cálcio de uso geral (10 litros) deve ser preparada

diariamente antes do inicio da produção, não devendo ser aproveitada no dia

seguinte. O volume que sobrar deve ser usado na sanitização dos pisos e

paredes;

• Em dias chuvosos, caso as duas pastilhas de desinfetantes não sejam

suficientes para atingir o nível de cloro ativo desejado, adicionar uma terceira;

• A manipulação dos produtos alcalinos e ácidos deve ser feita com cautela,

evitando-se o contato manual, e sempre com a utilização de luvas protetoras;

• Os materiais de higienização utilizados devem ficar em local apropriado, fora

da área de produção, livre de umidade e de luz, acondicionados em suas

embalagens de origem; e

• A solução sanitizante utilizada no curral nunca deve ser reaproveitada na

queijaria.

5.6 - Avaliação das condições microbiológicas das superfícies pela técnica de

ATP–Bioluminescência, nas quatro estações do ano, após a implantação do

procedimento de higienização proposto

O Quadro 5 apresenta as médias de unidades relativas de luz (URL) obtidas

pelo método de ATP-Bioluminescência após aplicação dos procedimentos e

implantação dos mesmos nas quatro estações do ano.

Page 55: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

54

Quadro 5 – Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas

de Luz (URL) na avaliação da unidade produtora de queijo artesanal da Canastra no

após a implantação do procedimento proposto.

.

URL Pontos de amostragem

Verão Outono Inverno Primavera

Latão de leite do equipamento de ordenha

3,15 2,49 2,30 3,07

Teteira 1 4,06 2,05 2,21 2,76 Teteira 2 3,91 2,24 2,07 2,74 Teteria 3 4,68 2,40 2,24 3,18 Teteira 4 4,63 2,32 2,29 3,18

Entrada da tubulação de transferência do leite

2,16 2,10 2,12 2,51

Saída da tubulação de transferência do leite

2,18 1,85 1,81 2,17

Tanque de produção 2,76 2,47 2,73 2,61 Mesa de enformagem e

presagem 4,60 4,77 4,71 4,30

Prateleira de maturação 4,92 4,35 4,29 4,28 Forma 2,89 3,36 3,09 2,33

Mão do manipulador 2,52 2,72 2,59 2,52

Os resultados obtidos após avaliação inicial e implantação dos procedimentos

propostos de higienização, ainda no verão, mostraram que 2 das 12, ou seja, 17%

das avaliações foram consideradas aceitáveis, (Log10) ≤ 2,18, e 10 das 12 (83%)

inaceitáveis.

No outono, 25% dos resultados obtidos classificaram o ponto amostrado em

condições aceitáveis e 33% classificaram como duvidosa 2,18 < (Log10) ≤ 2,5, sendo

que os pontos de amostragem restantes (42%) foram classificados como estando

em condições inaceitáveis, (Log10) > 2,5.

As avaliações obtidas no inverno seguiram a mesma distribuição do outono,

ou seja: 25% dos pontos amostrados em condições aceitáveis, 33% em condições

duvidosas e 42% inaceitáveis.

Page 56: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

55

Na primavera, apenas 8% dos resultados obtidos foram classificados como

em condições aceitáveis e 8% classificaram como duvidosa. Todas as outras

avaliações foram classificadas como inaceitáveis.

As condições climáticas, principalmente a temperatura, influenciam de forma

expressiva o desenvolvimento microbiano (ROBINSON, 2002).

A Figura 7 apresenta a Classificação dos resultados obtidos para as leituras

dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) para cada

estação do ano antes, ou seja, avaliação inicial, e após implantação dos

procedimentos de higienização propostos.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Avaliação inicial Verão Outono Inverno Primavera

Inaceitável

Duvidoso

Aceitável

Figura 7 – Percentual de condições higiênicas encontradas em um unidade

produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra, avaliadas nas

quatro estações do ano após a implantação dos procedimentos de higienização

propostos e antes da implantação, na estação do verão.

Quando se analisa as leituras obtidas em cada ponto de amostragem após a

implantação dos procedimentos de limpeza e sanitização, percebe-se que: 100%

dos resultados indicaram o manipulador, a mesa de enformagem e prensagem, bem

como a prateleira de maturação em condições inaceitáveis de utilização para

Page 57: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

56

produção do queijo Minas artesanal, independentemente das estações do ano e do

procedimento de higienização adotado, apesar de ter havido alguma melhoria, como

pôde ser observado nas médias apresentadas no Quadro 5. Isso se deve muito

possivelmente em virtude das características das superfícies desses pontos. A mesa

de prensagem e enformagem são feitas de mármore.

As superfícies dos mármores são consideradas menos compactas devido à

sua dureza relativamente baixa. Possuem vulnerabilidade ao desgaste físico e

reações químicas, com grande sensibilidade a agentes ácidos e alcalinos, o que

pode acarretar o surgimento de manchas e danos na superfície (ANDRADE, 2008).

A presença de ranhuras, fendas e depressões podem alojar microrganismos que

dificultam o processo de higienização (ANDRADE, 2008; BOWER et al., 1996). Na

literatura são encontradas referências relacionado as superfícies utilizadas no

processamento de alimentos à adesão microbiana e formação de biofilmes

(O’TOOLE et al., 2000; HOOD & ZOTTOLA, 1995; ZOTTOLA, 1994). As

características das superfícies influenciam de forma significativa o desenvolvimento

de biofilmes microbianos (DENYER et al., 1993). O mesmo raciocínio pode ser

utilizado para a madeira.

Para os manipuladores, era esperada a obtenção de leituras elevadas. Isso

se deve muito possivelmente à micro topografia da pele. Além disso, devido às

características do processo produtivo, o manipulador responsável pela elaboração

dos queijos em alguns momentos deixa a área restrita da queijaria para manipular

outros objetos ou até mesmo dentro da própria queijaria ele toca com as mãos em

superfícies que não foram sanitizadas.

Os resultados obtidos para o latão do equipamento de ordenha indicaram que

em 25% das amostragens realizadas, essa superfície estava em condições

duvidosas e 75% em condições inaceitáveis.

As teteiras 1 e 2 apresentaram 25% das amostragens em condições

aceitáveis, 50% em condições duvidosas e 50% em condições aceitáveis. As

teteiras 3 e 4 apresentaram 50% das amostragens em condições duvidosas e 50%

em condições inaceitáveis. O conjunto desses pontos caracteriza o setor de

produção do leite, ou seja, ordenha. Nota-se que houve uma significativa melhoria

nos resultados, considerando que antes da aplicação do procedimento, 100% as

avaliações consideram esses pontos em condições inaceitáveis. Esses pontos ficam

Page 58: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

57

dentro da sala de ordenha, próximo ao curral onde se encontram os animais, o que

dificulta a eficiência da higienização, considerando ainda a alta sensibilidade do

método de ATP-Bioluminescência.

Os pontos entrada e saída da tubulação de transferência do leite para a

queijaria foram os que apresentaram melhores resultados. Classificados em

respectivamente, condições inaceitáveis antes da aplicação do procedimento,

apresentaram 75% e 100% das avaliações em condições aceitáveis após a

implantação do procedimento de higienização. Isso se deve muito possivelmente à

aplicação do método de limpeza por circulação (CIP). O alto grau de turbulência

gerado no interior da tubulação, quando da circulação das soluções, facilita a

remoção das sujidades e microrganismos aderidos, além de permitir um maior

controle do tempo de aplicação dessas soluções (LELIEVELD et al., 2003).

O tanque de produção apresentou 50 % das avaliações em condições

duvidosas e 50% em condições inaceitáveis. Já as formas apresentaram 25% das

amostragens em condições duvidosas e 75% em condições inaceitáveis.

O tanque de produção e as formas são constituídos de polipropileno. Que

está entre os materiais mais populares em indústrias alimentícias, uma vez que tem

sido usado em fabricação de tanques, tubulações, acessórios e superfícies

envolvidas no preparo de alimentos (POMPERMAYER & GAYLARDE, 2000). Esse

tipo de material possui ranhuras e fendas que possibilitam a adesão e formação de

biofilmes microbianos que produzem ATP, elevando o nível de leitura em URL

durante a amostragem. Além disso, também facilita a adesão de resíduos de leite, o

que contribui para a elevação do nível de ATP. Existe relação direta entre a

quantidade de resíduos de leite e o nível de URL (NIZA-RIBEIRO et al., 2000).

Nas avaliações durante outono, percebeu-se a presença de incrustações

nessas superfícies, sendo em maior quantidade nas formas. Ele é constituído pela

transferência de massa do leite que está sendo escoado para a superfície,

ocorrendo até mesmo onde não há tratamento térmico. A presença de incrustações

pode ainda favorecer a adesão e o desenvolvimento de microrganismos alteradores

e patogênicos, o que reduz o valor econômico e a segurança alimentar dos produtos

e contribuir para a formação de pontos de corrosão (SANTOS & CHELLINE, 2009).

Em virtude disso, optou-se por uma etapa ácida para as formas a fim de remover e

prevenir a formação das citadas incrustações.

Page 59: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

58

A Figura 8 apresenta a classificação dos resultados obtidos para as leituras

de logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL) por ponto

amostrado.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

LEO T1 T2 T3 T4 ETL STL TP MEP PM F MP

Inaceitável

Duvidoso

Aceitável

LEO - Latão de leite do equipamento de ordenha TP - Tanque de produção

T1 - Teteira 1 MEP - Mesa de enformagem e prensagem

T2 - Teteira 2 PM - Prateleira de maturação

T3 - Teteira 3 F - Forma

T4 - Teteira 4 MP - Mão do manipulador

ETL - Entrada da tubulação de tranferência do leite SO - Água utilizada na sala de ordenha

STL - Saída da tubulação de transferência do leite IQ - Água utilizada no interior da queijaria

Figura 8 – Percentual de condições higiênicas dos pontos de amostragem das

instalações e equipamentos de uma unidade produtiva de queijo Minas artesanal da

Região da Canastra, medidas em logaritmos decimais (Log10) das Unidades

Relativas de Luz (URL).

Page 60: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

59

A Figura 9 apresenta os logaritmos decimais (Log10) Unidades Relativas de

Luz (URL), das médias de cada ponto de amostragem em função das estações do

ano.

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

LEO T1 T2 T3 T4 ETL STL TP MEP PM F MP

Pontos de amostragem

Log

10 U

RL

Avaliação inicial

Verão

Outono

Inverno

Primavera

LEO - Latão de leite do equipamento de ordenha TP - Tanque de produção

T1 - Teteira 1 MEP - Mesa de enformagem e prensagem

T2 - Teteira 2 PM - Prateleira de maturação

T3 - Teteira 3 F - Forma

T4 - Teteira 4 MP - Mão do manipulador

ETL - Entrada da tubulação de tranferência do leite SO - Água utilizada na sala de ordenha

STL - Saída da tubulação de transferência do leite IQ - Água utilizada no interior da queijaria

Figura 9 – Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas

de Luz (URL) em cada ponto de amostragem de uma unidade produtora de queijo

Minas artesanal da Região da Serra da Canastra, obtidos no verão, antes da

implantação do procedimento de higienização proposto e nas quatro estações do

ano, após a implantação do procedimento.

Podo-se observar que, na avaliação inicial no período do verão, antes da

aplicação do procedimento de higienização proposto, foram obtidos os maiores

Page 61: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

60

valores de URL. Posteriormente, mesmo após a aplicação dos procedimentos, o

verão foi o período do ano onde se verificou os maiores valores de URL para a

maioria dos pontos de amostragem. O outono e o inverno apresentaram os menores

valores de URL e a primavera ficou em uma posição intermediária.

Pode-se observar na Figura 9, que há uma forte indicação da interferência da

microestrutura das superfícies de equipamentos e utensílios nos resultados. Os

pontos mesa de enformagem e prensagem (MEP), prateleira de maturação (PM) e

formas (F) apresentaram tendência aos mesmos resultados, independentemente do

procedimento de higienização e das estações do ano.

O Quadro 6 apresenta o resultado simplificado da análise de variância dos

logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas de Luz (URL), referente às

médias de cada ponto de amostragem em função das estações do ano e também na

avaliação antes da aplicação do procedimento proposto.

Quadro 6 – Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas

de Luz (URL) em cada ponto de amostragem de uma unidade produtora de queijo

Minas artesanal da região da Serra da Canastra, obtidos por avaliação antes e após

a implantação do procedimento de higienização proposto durante as quatro estações

do ano.

Pontos de amostragem

Avaliação inicial

Verão Outono Inverno Primavera

LEO 5,00c 3,15b 2,49ab 2,30a 3,07ab T1 5,00b 4,06b 2,05a 2,21a 2,76a T2 5,00c 3,91bc 2,24a 2,07a 2,74ab T3 5,00b 4,68b 2,40a 2,24a 3,18a T 4 5,00c 4,63c 2,32a 2,29a 3,18b ETL 4,81b 2,16a 2,10a 2,12a 2,51a

STL 3,15b 2,18a 1,85a 1,81a 2,17a

TP 4,01b 2,76a 2,47a 2,73a 2,61a MEP 4,51a 4,60a 4,77a 4,71a 4,30a

PM 3,94a 4,92a 4,35a 4,29a 4,28a

F 2,62a 2,89a 3,36a 3,09a 2,33a MP 4,43b 2,52a 2,72a 2,59a 2,52a

* Médias seguidas por letras iguais na mesma linha não diferem entre si pelo teste Tukey (p>0,05).

Page 62: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

61

O ponto de amostragem LEO apresentou diferença (p<0,05) nos resultados

comparando-se antes e depois da aplicação do procedimento de limpeza e

sanitização proposto. Após a implantação do procedimento de higienização, não

houve diferença (p>0,05) entre o verão, outono e primavera, porém houve diferença

(p<0,05) entre o verão e o inverno, indicando que a temperatura mais elevada

influencia no aumento de URL.

Para os pontos de amostragem T1 e T3 não houve diferença (p>0,05) antes e

depois da implantação do procedimento somente no verão, porém houve diferença

(p>0,05) entre os resultados obtidos antes e após a aplicação do procedimento nas

estações do outono, inverno e primavera. Não houve diferença (p>0,05) antes e

depois da implantação do procedimento no verão para o ponto T2 , mas a diferença

foi significativa quando se contrasta os resultados de antes e depois com as demais

estações do ano. A mesma análise relativa ao ponto T2 é válida para o ponto T4.

A análise dos resultados para o ponto de amostragem ETL, STL, TQ e MP,

demonstra que houve diferença (p<0,05) nas médias obtidas antes e depois da

implantação do procedimento proposto de higienização em cada ponto para todas as

estações. Após a implantação, os valores obtidos não diferiram (p>0,05) entre as

estações.

A implantação dos procedimentos de limpeza e sanitização não provocaram

diferença (p<0,05) nos pontos MEP, PM e F. Isso se deve muito possivelmente às

características construtivas desses pontos de amostragem. Isso vem confirmar a

análise descritiva realizada anteriormente, quando esses pontos, que são

constituídos de mármore, madeira e polipropileno, apresentaram as maiores médias

de leituras em Log10 das URL obtidas.

Os resultados da análise de variância reforçam as impressões obtidas por

meio da análise descritiva dos dados. A adoção do procedimento correto de

higienização influencia as condições microbiológicas das superfícies de

processamento (Hayes, 1993). A influência determinante das características das

superfícies nos resultados obtidos também fica evidenciada, uma vez que os pontos

MEP (construído em mármore), PM (construída em madeira) e F (constituída em

polipropileno) não diferiram (p>0,05) entre antes e depois da adoção do método de

higienização proposto.

Page 63: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

62

5.7 - Avaliação das condições microbiológicas das superfícies pelo método

tradicional, nas quatro estações do ano, após a implantação do procedimento

de higienização proposto

Os resultados obtidos nas análises microbiológicas podem ser vistos no

Quadro 7.

Quadro 7 – Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades

Formadoras de Colônias (UFC.cm-2), em cada ponto de amostragem de uma

unidade produtora de queijo Minas artesanal da região da Serra da Canastra,

obtidos por avaliação antes e após a implantação do procedimento de higienização

proposto durante as quatro estações do ano.

Pontos de amostragem Avaliação Verão Outono Inverno Primavera

Latão de leite do equipamento de ordenha

4,83 1,97 1,54 3,30 2,97

Teteira 1 4,97 2,33 1,70 1,00 1,85 Teteira 2 3,77 2,63 1,70 2,23 1,60 Teteria 3 3,91 3,35 2,36 2,28 3,00 Teteira 4 4,88 2,89 1,85 2,65 2,94

Entrada da tubulação de transferência do leite

4,45 1,35 1,00 2,98 2,20

Saída da tubulação de transferência do leite

3,98 1,10 1,48 2,00 2,08

Tanque de produção 4,94 3,13 2,41 1,00 2,58 Mesa de enformagem e

prensagem 3,80 2,33 2,60 3,09 2,90

Prateleira de maturação 4,42 2,78 3,26 3,00 3,27 Forma 4,83 2,48 2,59 3,08 3,16

Mão do manipulador 3,61 2,18 1,00 2,48 2,45

A Associação Americana de Saúde Pública (APHA) recomenda, para

superfícies que entram em contato com alimentos, um limite de 2 UFC.cm-2, ou 0,3

expressos como Log10 UFC.cm-2. Esse valor é considerado por muitos

Page 64: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

63

pesquisadores como muito rigoroso (Andrade, 2008). Outros padrões como os da

Organização Pan – Americana de Saúde (OPAS) e da Organização Mundial de

Saúde (OMS) permitem valores de até 50 UFC.cm-2, ou até 1,7 expressos como

Log10 UFC.cm-2.

Adotando-se a recomendação da Organização Mundial de Saúde, verifica-se

no Quadro 4 que 82% total de avaliações realizadas, antes e após a implantação do

procedimento de higienização proposto, consideraram os pontos de amostragem

avaliados em condições insatisfatórias para a produção de alimentos.

Os resultados demonstraram que antes da adoção do procedimento de

higienização recomendado, 100% das avaliações classificaram os pontos

amostrados como em condições inaceitáveis, confirmando a necessidade de

práticas corretas de limpeza e sanitização.

Page 65: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

64

A Figura 10 apresenta a classificação dos resultados obtidos para as leituras

expressas em (Log10) das Unidades Formadoras de Colônias (UFC.cm-2), referente

às médias obtidas em cada ponto de amostragem após a adoção do procedimento

de higienização proposto.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

LEO T1 T2 T3 T4 ETL STL TP MEP PM F MP

Inaceitável

Aceitável

LEO - Latão de leite do equipamento de ordenha TP - Tanque de produção

T1 - Teteira 1 MEP - Mesa de enformagem e prensagem

T2 - Teteira 2 PM - Prateleira de maturação

T3 - Teteira 3 F - Forma

T4 - Teteira 4 MP - Mão do manipulador

ETL - Entrada da tubulação de tranferência do leite SO - Água utilizada na sala de ordenha

STL - Saída da tubulação de transferência do leite IQ - Água utilizada no interior da queijaria

Figura 10 – Percentual de condições higiênicas dos pontos de amostragem dos

utensílios e equipamentos de uma unidade produtora de queijo Minas artesanal da

Região da Serra da Canastra, medido em (Log10) das Unidades Formadoras de

Colônias (UFC.cm-2), após a implantação do procedimento de higienização proposto.

Analisando-se os resultados obtidos para cada ponto de amostragem, pode-

se observar que os pontos T1, T2, ETL e STL foram classificados como aceitáveis

por 50% das avaliações. Os pontos LEO, TP e MP foram classificados em condições

aceitáveis em 25% das amostragens. Todos os outros pontos, ou seja, T3,T4, MEP,

PM e F foram considerados em condições insatisfatórias para produção de

alimentos.

Page 66: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

65

De um modo geral, as avaliações microbiológicas realizadas por meio da

técnica tradicional em cada ponto de amostragem na produção do queijo Minas

artesanal indicaram melhoria expressiva dos resultados após a implantação do

método proposto para limpeza e sanitização. Todos os valores (Log10) das Unidades

Formadoras de Colônias (UFC.cm-2) obtidos após a implantação procedimento

proposto foram inferiores aos obtidos anteriormente, ou seja, antes da implantação

do procedimento. Mesmo assim, os pontos de amostragem T3, T4, TP, MEP, PM e F

apresentaram condições inaceitáveis em todas as estações do ano.

Page 67: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

66

A Figura 11 apresenta as médias de Logaritmos decimais (Log10) de Unidades

Formadoras de Colônias (UFC.cm-2) de cada ponto de amostragem nas estações do

ano.

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

LEO T1 T2 T3 T4 ETL STL TP MEP PM F MP

Avaliação

Verão

Outono

Inverno

Primavera

LEO - Latão de leite do equipamento de ordenha TP - Tanque de produção

T1 - Teteira 1 MEP - Mesa de enformagem e prensagem

T2 - Teteira 2 PM - Prateleira de maturação

T3 - Teteira 3 F - Forma

T4 - Teteira 4 MP - Mão do manipulador

ETL - Entrada da tubulação de tranferência do leite SO - Água utilizada na sala de ordenha

STL - Saída da tubulação de transferência do leite IQ - Água utilizada no interior da queijaria

Figura 11 – Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades

Formadoras de Colônias (UFC.cm-2) em cada ponto de amostragem de uma unidade

produtora de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra, obtidos no

verão, antes da implantação do procedimento de higienização proposto e nas quatro

estações do ano, após a implantação do procedimento.

Observa-se na Figura 11 que todas as contagens microbianas obtidas após a

implantação do procedimento de limpeza e sanitização proposto foram inferiores às

obtidas na avaliação inicial, ou seja, antes da implantação do procedimento de

Page 68: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

67

higienização proposto, indicando alguma melhoria, ainda que é muitos casos não se

tenha alcançado o nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

5.8 – Estudo comparativo entre os métodos tradicional e de ATP–

Bioluminescência

O estudo foi realizado por meio de análise descritiva dos dados obtidos por

ambos os métodos. Os métodos tradicional e de ATP–Bioluminescência são

utilizados para se avaliar a mesma coisa, ou seja, as condições higiênico-sanitárias

das superfícies e instalações utilizadas para o processamento de alimentos, no

entanto, possuem princípios totalmente diferentes (GRIFFITHS, 1993). Sendo assim

uma das maneiras de se comparar os métodos é por meio de análise descritiva

entre os resultados obtidos (MARPHY et al., 1998).

Para essa comparação de métodos foi organizado o Quadro 8, onde estão

apresentados os resultados obtidos pelos métodos de ATP-Bioluminescência (ATP)

e pelo método tradicional (UFC). Para o método de ATP, os valores coloridos de

azul representam aqueles que foram classificados como aceitáveis (Log10 URL ≤

2,18), os de vermelho foram classificados como insatisfatórios (Log10 URL > 2,18).

Para o método tradicional, os valores coloridos de azul foram classificados como

aceitáveis (Log10 UFC.cm-2 ≤ 1,7) e os coloridos de vermelho em condições

higiênicas insatisfatórias (Log10 UFC.cm-2 > 1,7).

Page 69: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

68

Quadro 8 – Valores médios dos logaritmos decimais (Log10) das Unidades Relativas

de Luz (URL) e das das Unidades Formadoras de Colônias (UFC.cm-2) referente à

cada ponto de amostragem antes e após a implantação dos procedimentos de

higienização propostos na unidade produtora de queijo artesanal da Canastra nas

quatro estações do ano.

Pontos de amostrage

m

Avaliação inicial

Verão Outono Inverno Primavera

ATP UFC ATP UFC ATP UFC ATP UFC ATP UFC LEO 5,00 4,83 3,15 1,97 2,49 1,54 2,30 3,30 3,07 2,97 T1 5,00 4,97 4,06 2,33 2,05 1,70 2,21 1,00 2,76 1,85 T2 5,00 3,77 3,91 2,63 2,24 1,70 2,07 2,23 2,74 1,60 T3 5,00 3,91 4,68 3,35 2,40 2,36 2,24 2,28 3,18 3,00 T4 5,00 4,88 4,63 2,89 2,32 1,85 2,29 2,65 3,18 2,94

ETL 4,81 4,45 2,16 1,35 2,10 1,00 2,12 2,98 2,51 2,20 STL 3,15 3,98 2,18 1,10 1,85 1,48 1,81 2,00 2,17 2,08 TP 4,01 4,94 2,76 3,13 2,47 2,41 2,73 1,00 2,61 2,58

MEP 4,51 3,80 4,60 2,33 4,77 2,60 4,71 3,09 4,30 2,90 PM 3,94 4,42 4,92 2,78 4,35 3,26 4,29 3,00 4,28 3,27 F 2,62 4,83 2,89 2,48 3,36 2,59 3,09 3,08 2,33 3,16

MP 4,43 3,61 2,52 2,18 2,72 1,00 2,59 2,48 2,52 2,45

Houve concordância entre os métodos quando ambos avaliaram os pontos de

amostragem antes da utilização do procedimento proposto de higienização, ou seja,

em todos os casos, os dois métodos classificaram 100% dos pontos avaliados como

em condições insatisfatória.

No verão, após ter início a adoção das novas práticas de limpeza e

sanitização, também houve concordância entre os métodos, pois os pontos ETL e

STL foram classificados como em condições aceitáveis pelos dois métodos e todos

os outros pontos de amostragem avaliados foram considerados em condições

inaceitáveis.

Não houve concordância entre os métodos no outono, uma vez que o método

tradicional considerou os pontos LEO, T2 e MP em condições aceitáveis e o método

de ATP-Bioluminescência considerou esses mesmos pontos em condições

insatisfatórias, sendo portanto mais rigoroso.

Page 70: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

69

Não houve concordância entre os métodos também no inverno. O método

tradicional classificou os pontos T1 e TP como em condições satisfatórias, quando o

outro método considerou esses mesmos pontos em condições insatisfatórias. Nos

dois últimos casos, essa discrepância se deu de modo positivo, pois o método

testado foi mais rigoroso que o tradicional. Ainda no inverno, o método de referência

(tradicional) classificou os pontos T2, ETL e STL como em condições insatisfatórias

e o método de ATP-Bioluminescência classificou esses mesmos pontos em

condições aceitáveis. Nesse caso, a não concordância entre os métodos é

preocupante, pois, no método de ATP-Bioluminescência aprovou um procedimento

de higienização que foi considerado falho quando avaliado pelo método tradicional.

Na primavera não foi diferente, os métodos também não concordaram. O

método testado, ou seja de ATP-Bioluminescência classificou o ponto de

amostragem STL como em condições satisfatórias, diferentemente do método

tradicional que classificou o mesmo ponto como estando em condições

insatisfatórias em relação à higienização. Analisando ainda os resultados obtidos na

primavera os métodos forneceram resultados contrastantes também para os pontos

T2 e F.

Existem vários motivos que podem explicar a não concordância entre os

métodos. O fato do método de ATP-Bioluminescência quantificar ATP de origem

microbiana ou não, pode interferir de maneira significativa (LARSON et al., 2003).

Outro fator a ser considerado é o limite de detecção desse método, que tem sido

reportado na literatura como 102 UFC.cm-2 (CORBITT et al., 2000; Davidson et al.,

1999).

Estudos têm demonstrado haver variação considerável entre as leituras de

ATP e UFC (GRIFFTH et al, 2000). MARENA et al, ( 2002) encontraram significativa

correlação entre ATP e CFU em mãos, mesmo assim, menos de 1/3 dos pares

comparativos entre ATP e UFC (limpo ou sujo) não concordaram. Esse é um

parâmetro usado por (LARSON et al, 2003). MARPHY et al., (1998) avaliando as

condições microbiológicas de quatro plantas de processamento de leite também

encontrou discrepância entres o métodos, sugerindo que essa discrepância exista

muito possivelmente pelo fato do método de tradicional ser mais sensível que o

método de ATP-Bioluminescência quando o nível de ATP total é baixo e também

Page 71: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

70

devido ao modo de avaliação, pois apesar de se avaliar áreas adjacentes, são áreas

diferentes.

Os resultados obtidos neste trabalho são compatíveis com outros encontrados

na literatura. COSTA (2001) avaliou comparativamente os métodos de ATP e

tradicional antes e depois de realizada a higienização de vários pontos pertencentes

a uma linha de processamento de leite, não obtendo concordância entre os

métodos. SANTOS et al., (2009), avaliou a performance de sistemas de higienização

em laticínios, comparando os métodos ATP e tradicional, não encontrando

concordância entre os métodos.

Outra forma de se comparar os métodos é determinando-se qual o percentual

de superfícies higienizadas atendem ambos os métodos. Isso aconteceu em 82%

das avaliações, e não em 18% e considerando “duvidoso” como inaceitável.

A Figura 12 apresenta a correlação obtida entre os métodos tradicional e de

ATP-Bioluminescência.

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

5,00

1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00

Log10 UFC.cm-2

Log

10 URL

Figura 12 – Correlação entre os métodos tradicional e de ATP-Bioluminescência

para avaliação das condições higiênicas de superfícies de uma unidade produtora

de queijo Minas artesanal da Região da Serra da Canastra.

Page 72: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

71

A análise de correlação mede o grau de associação entre duas variáveis

aleatórias quantitativas, descrevendo o comportamento conjunto de ambas. Numa

situação de comparação entre dois métodos de análise é desejável um coeficiente

de correlação positivo e o mais próximo possível de 1. Isso demonstra que os dois

métodos apresentam comportamento semelhante, facilitando a aceitação de que

eles fornecem respostas equivalentes. No estudo em questão, o coeficiente de

correlação de Pearson determinado foi de 0,65, indicando um moderado grau de

associação entre os métodos. Apesar dos métodos apresentarem correlação

positiva, eles não apresentam concordância quanto às faixas de classificação das

condições da superfície avaliada, como discutido anteriormente. Os métodos de

contagem padrão em placas (tradicional) e o método de ATP-Bioluminescência

possuem princípios totalmente diferentes, sendo muitas as variáveis que influenciam

nos resultados de cada um (LARSON et al., 2003).

5.9 - Avaliação das condições microbiológicas da água utilizada na produção

do leite e da água utilizada no interior da queijaria pelo método de ATP-

Bioluminescência.

Os quadros 9 e 10 apresentam as leituras obtidas pelo método de ATP-

Bioluminescência para amostragens da água utilizada na sala de ordenha (SO) e no

interior da queijaria (IQ).

Quadro 9 – Valores absolutos e médias dos logaritmos decimais (Log10) das

Unidades Relativas de Luz (URL) obtidos para a água utilizada na sala de ordenha,

antes e após a implantação do procedimento de higienização proposto.

Repetição Avaliação inicial Verão Outono Inverno Primavera R1 1,94 2,26 0,00 0,00 2,74 R2 1,26 2,14 1,83 1,83 2,95 R3 2,49 2,32 1,78 1,78 2,32 R4 1,72 2,55 2,53 2,53 1,89

Média 1,85 2,32 1,53 1,53 2,47

Page 73: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

72

Quadro 10 – Valores absolutos e médios dos logaritmos decimais (Log10) das

Unidades Relativas de Luz (URL) obtidos antes e após a implantação dos

procedimentos de desinfecção de água proposto para a água utilizada no interior da

queijaria.

Repetição Avaliação Verão Outono Inverno Primavera R1 0,00 0,00 0,00 0,00 1,99 R2 0,00 0,00 0,00 0,00 1,75 R3 0,00 2,32 0,00 0,00 1,38 R4 0,00 1,60 0,00 0,00 1,04

Média 0 1,96 0 0 1,54

Pode-se observar que os resultados obtidos para a água utilizada na sala de

ordenha classificaram 65% dos valores como aceitável, ou seja, log10 URL < 2,18 e

45% classificou como inaceitável. Para a água utilizada no interior da queijaria, 95%

dos valores obtidos classificam a água como aceitável, ou seja, log10 URL < 2,18,

sendo que apenas uma avaliação (5%) excedeu esse limite. Entre outros fatores, as

leituras superiores obtidas para a água utilizada na sala de ordenha se devem muito

possivelmente ao fato de essa não sofrer tratamento algum, pois não foi possível

viabilizar um procedimento de tratamento e desinfecção dessa água durante a

realização do experimento.

As leituras obtidas pelo método de ATP-Bioluminescência tanto para a água

utilizada na sala de ordenha quanto no interior da queijaria podem ser de origem

microbiana ou não. A presença de material orgânico, ainda que em pequenas

quantidades, afetam de maneira significativa as leituras de URL, ainda mais no caso

de uma queijaria artesanal, onde a água recebe apenas o tratamento de filtragem

em filtro de areia e desinfecção com composto clorado. Isso foi percebido

nitidamente durante a realização do experimento, pois os maiores valores de URL

coincidiram com dias chuvosos, quando ocorre arraste de material orgânico para os

leitos de água.

Page 74: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

73

6 – CONCLUSÕES

Durante a realização do trabalho pôde-se concluir que:

• Houve bom entendimento e assimilação por parte do produtor de queijo Minas

artesanal sobre os riscos para a saúde humana e para a viabilidade

econômica dessa atividade produtiva caso não haja preocupação com a

qualidade;

• Há falta de conhecimento entre os produtores sobre aplicação de técnicas de

limpeza e sanitização, principalmente do ponto de vista operacional,

explicitando a necessidade de mais ações com esse objetivo;

• Após a implantação do procedimento de higienização proposto, houve

significativa melhoria das condições higiênico-sanitárias nos pontos avaliados,

apesar de em muitos casos não se ter atingido os níveis recomendados por

algumas instituições que tratam do assunto;

• Não existem parâmetros específicos para condições microbiológicas de

superfície nas condições de produção de queijos artesanais;

• Os materiais utilizados e as características construtivas dos equipamentos e

utensílios influenciam na eficiência dos procedimentos de higienização.

• O método de ATP-Bioluminescência não apresentou concordância com o

método de tradicional quanto à classificação das condições higiênicas das

superfícies avaliadas;

• Ambos os métodos dependem muito da área amostrada, e mesmo que as

amostragens sejam feitas em áreas adjacentes, são áreas diferentes;

• O método de ATP-Bioluminescência não se mostrou adequado para

avaliação microbiológica de superfícies de processamento de alimentos, e sim

como um indicador de presença de material biológico na superfície e alerta

para limpeza mais eficiente.

• Com relação à água, o método de ATP-Bioluminescência também não se

mostrou adequado para avaliação, pois qualquer leitura em URL obtida pode

ser indicativo da presença de microrganismos patogênicos na água,

Page 75: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

74

principalmente porque essa não passa por tratamentos físicos de purificação

e possui muito material biológico;

• O método de ATP-Bioluminescência se mostrou aplicável, pois,

independentemente se as leituras em URL fornecidas são de origem

microbiana ou não, são reflexo das condições higiênicas da superfície.

A técnica de ATP-Bioluminescência se configura uma excelente ferramenta

para tomada de decisão, sendo que as avaliações e interpretações dos resultados

devem ser realizadas por profissional que tenha conhecimento das características

do processo produtivo que está sendo avaliado bem como do método utilizado.

Sugere-se que as associações de produtores, órgãos de inspeção ou

extensão adquiriram e implantem o controle nas unidades produtivas de queijos

artesanais, visando orientar os produtores quanto às necessidades de melhorar e ou

implantar processos de limpeza e sanitização, favorecidos pela implantação das

boas práticas agropecuárias e de fabricação.

Page 76: Implantação de um procedimento de higienização em uma unidade

75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

MODELO DO QUESTIONÁRIO APLICADO NAS UNIDADES DE QUEIJO CANASTRA PARA AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS E

IMPLANTAÇÃO DE PROCESSO DE LIMPEZA HIGIENIZAÇÃO

1) A queijaria possui registro no IMA e faz parte de APL? 2) Nome do produtor, grau de instrução e tempo na atividade produtiva: 3) Pessoas envolvidas na produção: ______ Família: _______ Extra família: ______ 4) Volume de leite utilizado / dia:_____litros Há variação anual?: Mín.____ Max.____ 5) O rebanho possui controle higiênico-sanitário? 5) O produtor recebeu algum tipo de treinamento sobre manipulação de alimentos? 6) Se a resposta anterior for positiva, quais os treinamentos e quem forneceu? 7) O produtor tem algum conhecimento sobre microrganismos e doenças alimentares? 8) O produtor tem algum conhecimento sobre microrganismos e prejuízos com perdas de produtos? 9) Existe algum procedimento de higienização para o equipamento de ordenha? 10) Caso a resposta seja positiva, responda: a) Quais os produtos químicos utilizados? b) Como é feita a aplicação desses produtos, ou seja: qual o tempo, a temperatura

e concentração utilizada? c) Em que momento é feita a aplicação de cada produto? 11) Existe algum procedimento de higienização para as instalações equipamentos e utensílios utilizados na produção dos queijos? 12) Caso a resposta seja positiva, responda: a) Quais o produtos químicos utilizados?

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b) Como é feita a aplicação desses produtos, ou seja: qual o tempo, a temperatura e concentração utilizada?

c) Em que momento é feita a aplicação de cada produto? 13) Os manipuladores passam por algum tipo de procedimento de higienização? Qual? 14) A água utilizada na produção de queijos passa por algum método de tratamento? 15) Caso a resposta seja positiva, como é feito o controle desse tratamento? 16) Como são feitos descartes de embalagens e resíduos?

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Resumo da análise de variância dos pontos amostrados para as estações do

ano

Latão do equipamento de ordenha ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ FV GL SQ QM Fc Pr>Fc ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Estações do ano 4 18.278570 4.569643 36.703 0.0000 Erro 15 1.867550 0.124503 Total corrigido 19 20.146120 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ CV (%) = 11.02 Média geral: 3.2020 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano DMS: 0,770683785241996 NMS: 0,05 ---------------------------------------------------------------------------------- Tratamentos Médias Resultados do teste ---------------------------------------------------------------------------------- Inverno 2.302500 a1 Outono 2.490000 a1 a2 Primavera 3.067500 a1 a2 Verão 3.150000 a2 Avaliação 5.000000 a3 --------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.

Teteira 1 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- FV GL SQ QM Fc Pr>Fc ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estações do ano 4 25.887720 6.471930 20.234 0.0000 Erro 15 4.797775 0.319852 Total corrigido 19 30.685495 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- CV (%) = 17.59 Média geral: 3.2145 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano DMS: 1,23526472984009 NMS: 0,05 -------------------------------------------------------------------------------- Tratamentos Médias Resultados do teste -------------------------------------------------------------------------------- Outono 2.047500 a1 Inverno 2.210000 a1 Primavera 2.760000 a1 Verão 4.055000 a2 Avaliação 5.000000 a2 --------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.

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Teteira 2 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ FV GL SQ QM Fc Pr>Fc ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Estações do ano 4 24.579680 6.144920 18.481 0.0000 Erro 15 4.987400 0.332493 Total corrigido 19 29.567080 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ CV (%) = 18.05 Média geral: 3.1940 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano, DMS: 1,25943919028878 NMS: 0,05 ----------------------------------------------------------------------------------- Tratamentos Médias Resultados do teste ----------------------------------------------------------------------------------- Inverno 2.075000 a1 Outono 2.245000 a1 Primavera 2.735000 a1 a2 Verão 3.915000 a2 a3 Avaliação 5.000000 a3 ----------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.

Teteira 3 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ FV GL SQ QM Fc Pr>Fc ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Estações do ano 4 26.131820 6.532955 23.951 0.0000 Erro 15 4.091475 0.272765 Total corrigido 19 30.223295 ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ CV (%) = 14.92 Média geral: 3.4995 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano, DMS: 1,14072262051385 NMS: 0,05 -------------------------------------------------------------------------------- Tratamentos Médias Resultados do teste -------------------------------------------------------------------------------- Inverno 2.240000 a1 Outono 2.397500 a1 Primavera 3.185000 a1 Verão 4.675000 a2 Avaliação 5.000000 a2 -------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.

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Teteira 4 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- FV GL SQ QM Fc Pr>Fc ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estações do ano 4 25.914220 6.478555 51.279 0.0000 Erro 15 1.895075 0.126338 Total corrigido 19 27.809295 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- CV (%) = 10.20 Média geral: 3.4845 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano DMS: 0,776342396631683 NMS: 0,05 ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- Tratamentos Médias Resultados do teste -------------------------------------------------------------------------------- Inverno 2.292500 a1 Outono 2.320000 a1 Primavera 3.180000 a2 Verão 4.630000 a3 Avaliação 5.000000 a3 -------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.

Entrada da tubulação de transferência do leite ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- FV GL SQ QM Fc Pr>Fc ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estações do ano 4 22.172530 5.543132 170.680 0.0000 Erro 15 0.487150 0.032477 Total corrigido 19 22.659680 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- CV (%) = 6.62 Média geral: 2.7240000 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano DMS: 0,3936 NMS: 0,05 -------------------------------------------------------------------------------- Tratamentos Médias Resultados do teste -------------------------------------------------------------------------------- Outono 2.097500 a1 Inverno 2.112500 a1 Verão 2.155000 a1 Primavera 2.440000 a1 Avaliação 4.815000 a2 -------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.

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Saída da tubulação de transferência do leite --------------------------------------------------------------------------------------------------------- FV GL SQ QM Fc Pr>Fc --------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estações do ano 4 4.664800 1.166200 9.071 0.0006 Erro 15 1.928375 0.128558 Total corrigido 19 6.593175 --------------------------------------------------------------------------------------------------------- CV (%) = 16.06 Média geral: 2.2325 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano DMS: 0,78313358456329 NMS: 0,05 --------------------------------------------------------------------------------------------------------- Tratamentos Médias Resultados do teste -------------------------------------------------------------------------------- Inverno 1.815000 a1 Outono 1.855000 a1 Primavera 2.165000 a1 Verão 2.177500 a1 Avaliação 3.150000 a2 -------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.

Tanque de produção --------------------------------------------------------------------------------------------------------- FV GL SQ QM Fc Pr>Fc --------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estações do ano 4 6.156370 1.539093 10.680 0.0003 Erro 15 2.161725 0.144115 Total corrigido 19 8.318095 ---------------------------------------------------------------------------------------------------- CV (%) = 13.00 Média geral: 2.9195000 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano DMS: 0,829163784924 NMS: 0,05 -------------------------------------------------------------------------------- Tratamentos Médias Resultados do teste -------------------------------------------------------------------------------- Outono 2.475000 a1 Primavera 2.612500 a1 Inverno 2.732500 a1 Verão 2.767500 a1 Avaliação 4.010000 a2 -------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.

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Mesa de enformagem e prensagem -------------------------------------------------------------------------------------------------------- FV GL SQ QM Fc Pr>Fc -------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estações do ano 4 0.548350 0.137088 1.440 0.2692 Erro 15 1.427825 0.095188 Total corrigido 19 1.976175 -------------------------------------------------------------------------------------------------------- CV (%) = 6.74 Média geral: 4.5775000 Número de observações: 20

Prateleira de maturação -------------------------------------------------------------------------------------------------------- FV GL SQ QM Fc Pr>Fc --------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estações de ano 4 2.034770 0.508693 2.435 0.0927 Erro 15 3.133650 0.208910 Total corrigido 19 5.168420 -------------------------------------------------------------------------------------------------------- CV (%) = 10.49 Média geral: 4.3570000 Número de observações: 20

Formas ------------------------------------------------------------------------------------------------------ FV GL SQ QM Fc Pr>Fc ------------------------------------------------------------------------------------------------------ Estações do ano 4 2.580420 0.645105 1.407 0.2794 Erro 15 6.879675 0.458645 Total corrigido 19 9.460095 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ CV (%) = 23.68 Média geral: 2.8605000 Número de observações: 20

Mão do manipulador

------------------------------------------------------------------------------------------------------ FV GL SQ QM Fc Pr>Fc ------------------------------------------------------------------------------------------------------- Estações do ano 4 10.873150 2.718288 29.615 0.0000 Erro 15 1.376825 0.091788 Total corrigido 19 12.249975 ------------------------------------------------------------------------------------------------------- CV (%) = 10.24 Média geral: 2.9575000 Número de observações: 20 Teste Tukey para a FV Estações do ano DMS: 0,661727943339729 NMS: 0,05 --------------------------------------------------------------------------------

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Tratamentos Médias Resultados do teste -------------------------------------------------------------------------------- Verão 2.522500 a1 Primavera 2.525000 a1 Inverno 2.592500 a1 Outono 2.722500 a1 Avaliação 4.425000 a2 -------------------------------------------------------------------------------- *Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade.