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Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES Programa de Mestrado em Administração POLÍTICAS PÚBLICAS NO VALE DO JEQUITINHONHA: A difícil construção da nova cultura política regional. Joaquim Celso Freire Silva São Caetano do Sul 1

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Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES

Programa de Mestrado em Administração

POLÍTICAS PÚBLICAS NO VALE DO JEQUITINHONHA: A difícil construção da nova cultura política

regional.

Joaquim Celso Freire Silva

São Caetano do Sul2002

Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES

Programa de Mestrado em Administração

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POLÍTICAS PÚBLICAS NO VALE DO JEQUITINHONHA: A difícil construção da nova cultura política

regional.

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração do Centro Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Área de Concentração: Regionalidade e Gestão

Orientador: Professor Doutor Luiz Roberto Alves

Joaquim Celso Freire Silva

São Caetano do Sul2002

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CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL - IMESAvenida Goiás, n.º 3400 São Caetano do Sul (SP)

Diretor Geral: Prof. Marco Antônio Santos SilvaReitor: Prof. Dr. Laércio Batista da SilvaPró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Prof. Dr. René Henrique LichtCoordenador do Programa de Mestrado: Prof. Dr. Antonio Carlos Gil

Dissertação defendida e aprovada em 17/06/2002 pela Banca Examinadora constituída pelos professores:

Prof. Dr. Luiz Roberto AlvesProfª. Dra. Sandra LencioniProf. Dr. Johannes Jeroen Klink

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AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas contribuíram para realização deste trabalho. A todas elas quero expressar a minha gratidão. Apenas para seguir um critério, vou citar aqui aqueles que estiveram diretamente envolvidos em atividades concretas de apoio aos objetivos da pesquisa:

Prof. Dr. Luiz Roberto Alves, pela orientação sábia e paciente; Profra. Dra.

Sandra Lencioni e Prof.Dr.Jeroen Johannes Klink, pelas proveitosas

contribuições.

Profra. Maria do Carmo Romero e Profra. Irene Cantero Barone, pela

valiosa ajuda na montagem dos questionários.

Marcos Joseraldo Lemos, prefeito de Carbonita e Presidente da AMAJE –

Associação dos municípios da microrregião do Alto Jequitinhonha; Alvimar

Luiz de Miranda, prefeito de Gouveia; Telma Blandina Wenceslau, prefeita

de Minas Novas; Edson Viana dias, prefeito de Presidente Kubtschek; José

Edmar Cordeiro, prefeito de Veredinha; Maria do Carmo Ferreira da Silva

(Cacá), prefeita de Araçuaí; José Alves de Oliveira, prefeito de Itaobím;

Valdecy José de Souza. Prefeito de Águas Vermelhas; Jânio Murta Pinto

Coelho, prefeito de Felisburgo; Antonio B.G. Murta, prefeito de

Jequitinhonha; Ricardo Mendes Pinto, prefeito de Pedra Azul; Edmundo

Correa e Santos Junior, prefeito de Cachoeira do Pajeú e Presidente da

AMEJE – Associação de municípios da microrregião do Médio

Jequitinhonha. Todos atenciosos com as informações, respondendo ao

questionário ou atendendo ao telefone.

Edimar Antonio Godinho Pimenta, diretor geral/designado da CODEVALE –

Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha,

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Adriana Martins Oliveira, secretária executiva da AMEJE e Cleide

Rodrigues, da AMAJE, atenciosas e prestativas.

Marcos Antunes Maciel, ex-coordenador da Escola-Família Agroindustrial

de Turmalina, sempre paciente e esclarecedor.

Jose Pereira, secretário de cultura de Araçuaí; Erildo do Nascimento,

secretário de cultura de Diamantina; Guillardo Velloso; Tadeu Martins;

Gonzaga Medeiros; Omar Freire; Jean Freire; disponíveis fornecedores de

informações e inspiração.

Andréa Mamontow, André Barbosa, Bárbara Alves, Cíntia Azevedo,

Francisco Dias, Ivan Kraut, Juliano Testa, Kleber di Lázzari, Mercedes

Gomes, Roberta Teixeira, Renata D`Ádamo e Thiago Freire, relatórios de

viagem, precisos e apaixonados.

Artesãos, criadores de outras artes e outros trabalhadores, incansáveis

construtores da região.

RESUMOFREIRE SILVA, Joaquim Celso. Políticas Públicas no Vale do Jequitinhonha: A difícil construção da nova cultura política regional. São Caetano do Sul: Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, 2002. 135p. Dissertação de Mestrado (Administração).

De natureza exploratória, essa pesquisa busca entender os mecanismos de formulação das políticas públicas na região do Vale do Jequitinhonha, bem como a sua relação com o desenvolvimento regional. A intenção foi, a partir da compreensão do assunto, poder articular propostas e idéias no sentido de instrumentalizar decisões políticas que tratam do desenvolvimento local/regional. O estudo discute a noção de

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região, buscando compreender até que ponto o território do Vale do Jequitinhonha pode ser entendido como uma região. Foram utilizadas as idéias de Putnam (1996) apresentadas em “Comunidade e Democracia: a Experiência da Itália Moderna”, em que ele estuda as regiões da Itália durante as décadas de 70 e 80, como referência para o entendimento do desempenho institucional dos governos locais. Também estão presentes no estudo as idéias sobre “o novo regionalismo”, a partir da ótica das vertentes globalista, que defende uma política regional de inserção no mundo globalizado, e regionalista, que prega uma política de desenvolvimento regional baseada nas forças do próprio território. O estudo traz informações sobre as características sócio-econômicas, culturais, de desempenho institucional e de associatividade na região, sempre no intuito de compreender o fazer cotidiano local e a ação política para o desenvolvimento.

Palavras-Chave: Políticas Públicas, Desenvolvimento Regional, Região, Novo Regionalismo, Desempenho Institucional e Associatividade.

ABSTRACTFREIRE SILVA, Joaquim Celso. Políticas Públicas no Vale do Jequitinhonha: A difícil construção da nova cultura política regional. São Caetano do Sul: Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul, 2002. 135p. Dissertação de Mestrado (Administração).

As this is of an exploratory nature, this research tries to understand the mechanisms that generate Public Policies in the Jequitinhonha Valley, as well as how it relates to the regional development. The intention, through an understanding of the subject, is to be able to articulate proposals and ideas for the purpose of creating instruments of political decision-making that deal with the local/regional development. The research discusses the idea of a region and tries to understand up to what point the Jequitinhonha Valley can be considered as a region. The ideas presented by Putnam (1996) in the Community and Democracy: The Experience of Modern Italy” will be used. Putnam studied the regions of Italy during the

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70’s and 80’s, as a reference to understanding the institutional performance of local governments. Also present in the research are the ideas about “new regionalism”, according to global-oriented wings, that support a regional policy of insertion in the globalized world, and a region-oriented wings that prega regional development policy, based on the territory’s own strength.The research brings information about the socio-economical and cultural characteristics of institutional performance as well as the region’s association capacity, always trying to understand the local day-to-day life and the political actions that lead to development.

Key Words: Public Policies, Regional Development, Region, New Regionalism, Institutional Performance and association.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9 1 A ARTE E O MÉTODO 141.1 Revisão bibliográfica 141.1.1 O desempenho institucional 141.1.2 A comunidade cívica 191.1.3 O que é região? 221.1.4 O novo regionalismo 301.2 Metodologia 382 CONHECENDO A REGIÃO 41

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2.1 Características naturais e sócio-econômicas 412.2 Políticas públicas e programas culturais 522.2.1 Aspectos histórico-culturais da região 54 2.2.2 Programas culturais no Vale do Jequitinhonha 572.3 Um olhar cosmopolita sobre o Vale 612.4 O regionalismo no Vale do Jequitinhonha 713 DESEMPENHO INSTITUCIONAL, ASSOCIATIVIDADE

E DESENVOLVIMENTO 77

3.1 A região e o desempenho institucional 773.2 A região e a associatividade 1013.3 A região, políticas públicas e o desenvolvimento 110CONCLUSÃO 112BIBLIOGRAFIA 116ANEXOS 120

INTRODUÇÃO

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A gestão regionalizada pode contribuir, decisivamente, para a

arquitetura do funcionamento político-administrativo nacional e no

encaminhamento de soluções dos problemas globais por meio de um

ajustamento das bases regionais e locais. A relação de proximidade entre

eleitos e eleitores, governantes e população, cria condições bastante

favoráveis para um ajustamento positivo no modo de fazer política e de

tomar decisões administrativas mais apropriadas às necessidades e

anseios da população. Estando próximos ao governo, os cidadãos podem

cobrar de maneira mais direta os serviços públicos que esperam receber.

Por outro lado, o governo regional e local está em posição mais favorável

para ouvir com clareza as necessidades da população e pode

implementar medidas de atendimento a essas necessidades com melhor

utilização de recursos, sendo mais eficiente, eficaz e democrático. A

tendência vai, necessariamente, no sentido de maior equilíbrio entre o

discurso de campanha e a ação do governante durante o mandato. Fachin

e Chanlat (1998, p. 16) escrevem que a “...dinâmica do governo

municipal, eficiente, eficaz e democrática, é ambição a alcançar e precisa

ser melhor estudada para que tais metas sejam alcançadas."

Nesse sentido, Velloso, Albuquerque e Knoops (1995 ,p. 11)

destacam o razoável consenso existente de que a eficiência na prestação

dos serviços públicos é alcançada, mais facilmente, quando estes serviços

são executados por organismos que se localizam mais próximos dos

usuários. O argumento é de que tanto o acesso quanto o controle são

facilitados. Por outro lado destacam a existência de uma boa

concordância quanto ao reconhecimento da necessidade de um alto nível

de centralização, para que o Estado tenha condições de efetividade, na

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sua função redistributiva, operada através da arrecadação de receitas e

da realização de gastos públicos. Vê-se aí um dilema: Há que

descentralizar para otimizar a utilização de recursos, facilitar o acesso e

criar melhores condições de controle, mas, ao mesmo tempo necessita-se

de um razoável nível de coordenação central para minimizar os desníveis

regionais e alcançar um grau maior de equidade.

Para Nogueira (1998, p. 282) “a política está tendo dificuldades de

se pôr como espaço público destinado a abrigar uma complexa

operação: representar os interesses (mas também as expectativas, as

vontades, as paixões) elaborá-los e transformá-los em critério para a

estruturação de universos comuns de convivência, promovendo a

conversão do conflito em fator de avanço e construção”. Isso é grave até

porque a sociedade necessita da política, justamente, como um espaço

público de mediação que pensa, discute, elabora e transforma o universo

comum de convivência social. Há, pois, que se debruçar, atentamente,

sobre os nós desse embaraçado novelo e, alinhavar alianças substantivas,

que sejam capazes de fortalecer a relação entre os vários níveis de

governo e, entre governo e sociedade civil. E parece ser a partir do

local/regional que o entendimento será mais solidamente construído.

É sabido que o Brasil, em todos os níveis de governo, tem

enfrentado dificuldades para o encaminhamento de soluções adequadas

ao atendimento dos serviços básicos que a população espera e necessita

receber. Por que isso acontece? Por que alguns governos conseguem

desempenhos mais favoráveis à melhoria das condições gerais de vida da

população? Quais são os fatores que determinam a diferença? Como

governo e população podem articular-se na busca de saídas para a

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otimização de recursos e resultados? Que práticas vão nesse sentido?

Essas questões precisam ser mais profundamente discutidas e é a essa

problematização que este estudo se propõe.

A região a ser estudada apresenta condições bastante relevantes

para uma pesquisa dessa natureza. Dentre elas, vale ressaltar a sua forte

caracterização regional, notadamente, observada pelo modo de vida,

cultura, produção e ausência de infra-estrutura de serviços básicos, como

também pela submissão às contingências naturais desfavoráveis, como a

seca, que a coloca como uma das regiões menos favorecidas do Brasil.

Por outro lado, organismos para discussão da questão regional têm sido

formados, tanto pela estrutura dos governos nacional e estadual quanto

pela formação e articulação organizada da sociedade civil. É bem verdade

que os primeiros, ainda apegados à tradição clientelista brasileira e local,

têm tido desempenhos insignificantes no encaminhamento de soluções de

interesse coletivo e regional.

A região do Vale do Jequitinhonha situa-se no nordeste de Minas

Gerais. Sua superfície é de 85.027 Km² e corresponde a 14,5% do Estado.

É formada por dezenas de cidades e povoamentos que nasceram da

exploração econômica de seus recursos naturais no ciclo da mineração. A

colonização do Vale se dá a partir do século XVIII e, a história aponta que

a bandeira de Fernão Dias Paes Leme teria sido a primeira expedição a

chegar à região, por volta de 1678. Os primeiros povoamentos surgem no

alto Jequitinhonha: a Vila do Príncipe, hoje Serro, em 1700 e o Arraial do

Tijuco, Diamantina, em 1713 (Pereira, 1996, p.15). As lavras de ouro e de

diamantes atraíram expedições de bandeirantes e o interesse da corte o

que acelerou o processo de povoamento da região. Paralelamente ao

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crescimento da exploração mineral no Alto Jequitinhonha, os povoados

mais ao norte passam a dedicarem-se à agricultura de subsistência e à

pecuária. No final do século XXVIII a atividade mineradora entra em

decadência e os povoados e as pequenas cidades passam a se dedicar,

mais intensamente, às atividades agro-pastoris de subsistência. Com

índices pluviométricos extremamente baixos essas atividades ficaram,

sensivelmente, prejudicadas. No século XIX surgem os grandes latifúndios

na região. Com o passar do tempo, mediante o processo de distribuição

de pai para filhos, essas terras vão sendo desmembradas e

transformando-se em pequenas propriedades. Com uma população de um

milhão de habitantes distribuídos por 80 cidades que compõem três

micro-regiões (Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha), a região é "conhecida"

no país e no mundo pela carência de infra-estrutura de saúde, educação,

produção, transporte, entre outros, como também pela pobreza material,

da maioria da sua gente, contrastante, entretanto, com a riqueza de

manifestações culturais e artísticas peculiares e de beleza incontestável.

A região apresenta posições bastante precárias em termos de

desempenho econômico e desenvolvimento social. O Índice de

Desenvolvimento Humano – IDH – na quase totalidade dos municípios

encontra-se abaixo do parâmetro médio de 0,5 (zero vírgula cinco), o que

retrata uma situação social muito preocupante. A produção e baseada em

atividades agropecuárias, na prospecção mineral e no artesanato. As

atividades comerciais e de serviço são pouco diversificadas e sem

complexidade. Como o poder público local e a sociedade civil articulam-se

em âmbito regional e estadual para a definição de projetos e políticas

públicas de interesse social? Que categorias de políticas públicas estão

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sendo realizadas no Vale do Jequitinhonha? Como são elaboradas e

implementadas e qual a sua relação com o desenvolvimento regional? O

presente estudo propõe-se a dialogar com essas questões, buscando

delinear os paradigmas que caracterizam a prática de governar e como

essa “prática” repercute na condição de vida da população e no

desenvolvimento regional.

1 A ARTE E O MÉTODO

Este capítulo apresenta um breve apanhado do Estado da Arte no

campo da regionalidade e, também, mostrará o instrumental

metodológico utilizado para a coleta de dados e realização do estudo.

1.1 Revisão bibliográfica

1.1.1 O desempenho institucional

O suporte teórico de base será o trabalho de Putnam (1996)

apresentado em “Comunidade e Democracia: a experiência da Itália

Moderna”, em que ele estuda as regiões da Itália durante duas décadas,

mais precisamente no período de 1970 a 1989, buscando entender o

funcionamento e desempenho dos governos regionais implantados a

partir de 1970. O trabalho de Putnam mostra a mudança nas regras de

governança italiana partindo de um sistema de governo centralizado para

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um modo de governar descentralizado e regionalizado, em que cada

região passa a desfrutar de maior poder e recursos para decidir seu

caminho de desenvolvimento.

É importante lembrar que também no Brasil, guardadas as devidas

proporções, houve uma descentralização nos vários níveis de governo a

partir da constituição de 1988 e da abertura política. Os governos

municipais passaram a atuar com um nível maior de autonomia, na

década de noventa, em relação à condição anterior. Nesse sentido o

município foi fortalecido e adquiriu maior liberdade para determinar a

melhor alocação dos recursos disponíveis. A única restrição está no

percentual de 25% da sua receita total que deve ser despendido em

educação (Fachin e Chanlat, 1998, p. 40).

Putnam se propõe a entender a dinâmica dos governos regionais e

a origem da sua eficácia ou ineficácia. Nesse sentido, faz uma análise

comparativa do desenvolvimento das regiões italianas, avaliando os seus

desempenhos institucionais, ancorado nas respectivas políticas públicas

implementadas e no modo de fazer política de cada uma delas. A

pesquisa de Putnam estabelece, ainda, uma relação entre o desempenho

institucional das regiões e o modo de viver em comunidade de cada uma

delas, o que ele chama de Comunidade Cívica. De maneira geral, os

resultados indicam que os governos que adotam políticas de interesse

dos cidadãos apresentam também melhor desempenho institucional,

como é o caso das regiões ao norte da Itália. Assim, quanto maior o

número de cidadãos atuantes e organizados em torno do espírito público,

e, quanto mais a região apresentar características de Comunidade Cívica,

atribui-se melhor desempenho Institucional ao Governo. Os resultados do

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trabalho de Putnam sugerem que o desenvolvimento de uma

determinada região possa ser medido pela seguinte equação:

Desenvolvimento Nível de DesempenhoEconômico e

Social= Comunidade

Cívica+ Institucional

Para avaliação do Desempenho Institucional, Putnam baseia-se em

doze indicadores que abrangem três categorias: Os três primeiros, 1)

Estabilidade do gabinete; 2) Presteza orçamentária e 3) Serviços

estatísticos e de informação, buscaram avaliar se a instituição

conduzia suas principais atividades internas com regularidade e presteza.

Os indicadores seguintes, 4) Legislação reformadora e 5) Inovação

legislativa, analisaram a capacidade dos governos de identificar

necessidades sociais e propor soluções inovadoras. O grupo maior de

indicadores, 6) Criação de creches públicas; 7) Clínicas familiares;

8) Política industrial; 9) Capacidade de efetuar gastos na

agricultura; 10) Gastos com a unidade sanitária local; 11)

Habitação e desenvolvimento urbano e 12) Sensibilidade da

burocracia, avaliaram a eficiência dos governos no uso dos recursos

disponíveis para atender às necessidades e demandas da população.

Nesse trabalho, os indicadores propostos por Putnam serão utilizados

com pequenas adaptações, tornando-os mais apropriados à realidade da

região estudada. O quadro 1, na página seguinte, mostra os indicadores

propostos por Putnam e as adaptações efetuadas para este trabalho.

Quadro 1 – Indicadores para avaliação do desempenho institucional.

INDICADORES PARA INDICADORES DO

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AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO

INSTITUCIONAL UTILIZADOS POR

PUTNAM

CONCEITODESEMPENHO

INSTITUCIONAL UTILIZADOS NESTE

TRABALHO

1) Estabilidade do Gabinete Analisa o grau de aderência dos projetos subseqüentes aos projetos de governos

anteriores

1) Continuidade Administrativa

2) Presteza Orçamentária mede a capacidade do governo em ter o seu orçamento atualizado

2) Presteza Orçamentária

3) Serviços Estatísticos e de Informação

mede o nível de informação de um governo sobre os

eleitores e sua necessidades

3) Serviços Estatísticos e de Informação

4) Legislação Reformadora examina a produção legislativa, levando em

conta a sua abrangência, coerência e criatividade

4) Legislação Reformadora

5) Inovação Legislativa mede a capacidade de proposição de soluções

inovadoras

5) Inovação Legislativa

6) Creches avalia a capacidade de implementação de políticas que atendam as crianças

6) Serviços de Atendimento à Criança

7) Instrumento de Política Industrial

analisa como o governo local instrumentaliza o

apoio ao desenvolvimento da produção

7) Instrumentos de Política de Produção

8) Capacidade de efetuar gastos na Agricultura9) Clínicas Familiares mede a capacidade do

governo de investimento e implementação de

programas de saúde

8) Instrumentos de Política de Saúde

10) Gastos com Unidade Sanitária Local11) Habitação e

Desenvolvimento Urbanoavalia os investimentos e

programas em melhoria das condições das habitações

9) Instrumentos de Política de Habitação e

Desenvolvimento Urbano12) Sensibilidade da

Burocraciamede a sensibilidade do governo em encaminhar

com eficiência as demandas do cidadão comum

10) Sensibilidade da Burocracia

Os resultados da pesquisa de Putnam com os 12 indicadores para

avaliação do desempenho institucional mostraram-se bastante coerentes.

Constatou-se que “as regiões que têm gabinetes estáveis, que aprovam

seu orçamento dentro do prazo, que utilizam seus recursos conforme

planejado e que introduzem novas leis, costumam ser as mesmas que

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oferecem creches e clínicas familiares, têm um planejamento urbano

detalhado, concedem empréstimos aos agricultores e respondem

prontamente às cartas que lhes enviam os cidadãos” (Putnam, 1996, p.

87). São também essas, as regiões que apresentaram melhores

desempenhos institucionais.

De maneira geral, os governos dessas regiões foram reconhecidos

pelos eleitores - cidadãos comuns ou líderes comunitários - como bons

governantes. Também esses governos foram mais bem sucedidos do que

outros, mesmo quando contavam com os mesmos recursos e possuíam a

mesma estrutura. O estudo de Putnam mostra que esses governos foram

mais eficientes em suas atividades, mais criativos na elaboração de suas

políticas e mais eficazes na execução dessas políticas.

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1.1.2 A Comunidade Cívica

Comunidade Cívica significa, para Putnam, a cidadania sendo

praticada pela participação dos cidadãos nas atividades públicas. Essa

participação pressupõe o interesse de cada um pela realização do bem

público antes do interesse puramente individual e particular. Essa noção

de coletividade não representa necessariamente a abdicação do interesse

do bem particular mais “o interesse próprio, definido no contexto das

necessidades públicas gerais, o interesse próprio que é esclarecido e não

míope, o interesse próprio que é sensível aos interesses dos outros”

(Putnam, op. cit., p. 102)

Na Comunidade Cívica os cidadãos interagem como iguais,

compartilhando direitos e deveres iguais para todos. Não se trata de um

expurgo do poder, do abandono da divisão do trabalho ou da liderança,

mas da manifestação e emprego destas categorias em bases

responsáveis e civilizadas. “Tal comunidade será tanto mais cívica quanto

mais a política se aproximar do ideal de igualdade política entre cidadãos

que seguem as regras de reciprocidade e participam do governo"

(Putnam, op. cit., p. 102). Seriedade, confiança e tolerância constituem-se

elementos necessariamente presentes nas relações de uma Comunidade

Cívica. Embora não esteja livre de conflitos, eles se travam apenas no

campo das idéias, preservando e engrandecendo as relações humanas. As

discordâncias estão sempre presentes, mas expostas, de tal modo a

serem consensuadas pela força da melhor argumentação conforme

propõe Habermas.1

11 Em a Teoria da Ação Comunicativa Jürgen Habermas, filósofo alemão ligado à escola de Frankfurt, defende que os conflitos devam ser resolvidos pelo consenso argumentado, baseado na verdade, justiça e na autonomia dos sujeitos envolvidos em

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A Comunidade Cívica aparece em Putnam regada de estruturas

sociais de cooperação: as associações já defendidas por Alexis

Tocqueville. Destaca que no âmbito interno, as associações “incutem em

seus membros hábitos de cooperação, solidariedade e espírito público”

imprimindo nos seus participantes, o espírito de cooperação e a noção de

responsabilidade comum para com as atividades de natureza pública e

coletiva. No aspecto externo a associatividade, por meio da articulação e

agregação de interesses de várias categorias, contribui com a formação

de densas redes que promovem o debate de problemas sócio-políticos e,

por conseqüência, amplia as possibilidades do surgimento de governos

mais democráticos. (Putnam, op. cit., p. 103,104).

A seguir, serão apontadas as principais constatações da pesquisa de

Putnam relacionando as atitudes da comunidade cívica ao desempenho

institucional das regiões:

Nas regiões mais cívicas os cidadãos participam, ativamente, de todo

tipo de associações locais tais como: grêmios literários, clubes

desportivos e outros tipos de associações culturais, de saúde, de

recreação, técnicas econômicas e filantrópicas.

Nas regiões menos cívicas os índices de associatividade são baixos. Os

eleitores manifestam-se por razões de clientelismo e existe uma escassez

de meios de comunicação.

Finalmente, os resultados mostraram uma relação altamente positiva

entre o desempenho de um governo regional e o grau de participação dos

cidadãos na vida social e política da região. Quanto mais cívica a região,

mais eficaz é o seu governo.

um desentendimento.

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Putnam (op. cit., p. 112) afirma que “...parece que as regiões

economicamente mais adiantadas têm governos regionais mais eficientes

simplesmente porque nelas há maior participação cívica.” E continua “... o

desempenho de um governo regional está de algum modo estreitamente

relacionado com caráter cívico da vida social e política da região. As

regiões onde há muitas associações cívicas, muitos leitores de jornais,

muitos eleitores politizados e menos clientelismo perecem contar com

governos mais eficientes.” O trabalho de Putnam deixa bastante evidente

a importância da participação e da organização popular como

determinantes da ação e do desempenho do governo local. Isto mostra

que as pessoas de uma determinada região podem decidir por ter

governos mais eficientes e eficazes, comprometidos com as causas que

promovem o desenvolvimento local. Essa parece ser uma das bases para

a construção de uma nova cultura política regional. Difícil mais possível.

1.1.2 O que é uma região?

Entender o que é uma região passa, necessariamente, pela

discussão da totalidade e das partes que a constituem. Em princípio,

pode-se afirmar que o termo “região” designa uma parte de um todo que,

por sua vez, se recortado em duas ou mais partes, gera duas ou mais

regiões identificadas em função desses recortes. Do latim regione, o

termo é definido por Aurélio como o “território que se distingue dos

demais por possuir características próprias”. Regione deriva do verbo

regere que quer dizer governar, administrar, dirigir. Vê-se que na sua

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origem o termo região incorpora um significado bem mais amplo do que o

uso corrente e sua idéia genérica possam indicar.

A idéia de parte e totalidade leva-nos a entender o território2

(região) como sendo uma parte de um todo, formado por esta e por

outras, cada qual com características próprias. Tomando como apoio a

abordagem estruturalista, tem-se que cada uma das partes (regiões) na

constituição do todo (um país, por exemplo) se descobrem, se

diferenciam e ganham autonomia umas sobre as outras, de tal sorte a

manter a interação e a totalidade sem fazer uma soma ou

reunião entre si, mas buscando a sinergia pela diversidade e variação

entre elas.

O entendimento da noção de região requer que se faça a sua

distinção das idéias de paisagem e espaço. Santos (1997, p. 83) diz que

“paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é um conjunto de

formas que, num dado momento, exprimem as heranças que

representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a

natureza. O Espaço são essas formas mais a vida que as anima”. Nesse

sentido, a paisagem comporta a forma natural (os objetos da natureza) e

a forma cultural dada pela ação do homem (objetos passados e

presentes). O conceito de espaço abrange tudo isso e a forma de vida que

dá movimento à paisagem no presente. A região, por sua vez, pode ser

entendida como um espaço politicamente delimitado; um recorte que

permite a um ator controlá-lo ou entendê-lo.

2 “Território” no sentido empregado por Claude Raffestin em “Por uma geografia do Poder” onde o termo aparece como “um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia ou informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder.”

21

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Sandra Lencioni em Região e Geografia (1999) faz uma análise

bastante aprofundada do conhecimento do estudo regional ao longo da

história, destacando os principais autores que abordaram o tema e a idéia

que prevaleceu sobre o significado de região em cada momento. Nessa

perspectiva, este trabalho passa a destacar alguns dos aspectos

levantados por Lencioni buscando um maior entendimento do significado

de região. Inicialmente é importante salientar a idéia de Kant que

entendia o espaço geográfico dividido em regiões que se constituíam na

essência da história dos homens (Lencioni, 1999, p. 79). Essa posição

kantiana remete à noção de região enquanto um espaço em processo de

transformação em função da ação dos atores, sujeitos de sua história.

Carl Ritter (1779-1859), “pai” da geografia regional, estabeleceu

um procedimento de estudo geográfico que obedecia a seguinte ordem:

começar pelas análises do relevo, do clima, da população e das atividades

humanas a fim de alcançar uma síntese geral. As idéias de Ritter acabam

por influenciar o surgimento de vários estudos no campo da comparação

entre elementos de uma determinada região e entre diferentes regiões.

Assim, “o objeto essencial de estudo da geografia passou a ser a região,

um espaço com características físicas e socioculturais homogêneas, fruto

de uma história que teceu relações que enraizaram os homens ao

território e que particularizou este espaço, fazendo-o distinto dos espaços

contíguos”. (Lencioni, op. cit., p.100).

A noção de região para Ritter e seus seguidores compreende uma

distinção pela paisagem que a constitui e pela consciência do homem que

a habita. Lencioni (op. cit., p, 100)salienta que a região nesse sentido

“possui uma realidade objetiva e cabe ao pesquisador distinguir as

22

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homogeneidades existentes na superfície terrestre e reconhecer as

individualidades regionais.”

Vidal de La Blache (1845-1918) postula que é a partir da cidade que

se cria a região e a sua dinâmica propícia em que ela se forme e se

dissolva. La Blache “salientou que não é fundamental procurar limites da

região, mas conhecê-los como uma espécie de auréola, cujos limites não

são bem determinados” (Lencioni, op. cit., p, 108). Na visão de La Blache

a regionalização deveria conter uma análise detalhada do meio físico, das

formas de ocupação, das atividades humanas e de como o homem se

ajusta à natureza. No seu entender a analise da relação do homem com

o meio deveria ser feita a partir de uma perspectiva histórica. Assim,

caberia à síntese regional estabelecer a integração entre os elementos

físicos e sociais (Lencioni, op. cit., p. 105).

Alfred Hettner (1859-1941) entendia a região como uma parte da

superfície terrestre. Considerando a superfície terrestre uma totalidade, o

todo das diferenciações deveria levar em conta todos os aspectos da

natureza e do homem num determinado espaço, “cujas características

possuíssem uma coerência fisionômica e funcional que permitissem

configurar uma individualidade espacial” (Lencioni, op. cit., p. 123) - a

região. Hettner afirmava que os recortes feitos na realidade são frutos de

uma idealização intelectual, uma construção mental do homem, não

existindo em si mesmos. Na sua análise, a realidade pode ser dividida

com base em conjuntos homogêneos “definindo campos do conhecimento

como a geologia, a botânica, a física”. Por outro lado, pode também ser

fragmentada tomando como referência à heterogeneidade “de

fenômenos que possuam uma coerência interna própria, conformando

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uma individualidade referida no tempo e no espaço”. Esta última análise

é tida como análise regional (Lencioni, op. cit., p. 124). Para ele, as

grandes dimensões como os continentes e países não se constituíam em

unidades adequadas ao estudo regional. Apresentam diferenças e

diversidades que tornariam o entendimento obscurecido. O oposto, os

recortes em dimensões muito pequenas, reduziria o significado do estudo.

A seu ver, o estudo regional deveria basear-se numa escala que fosse

nem muito grande nem muito pequena.

Seguidor de Hettner, Richard Hartshorne, comumente emprega o

termo áreas-unidades para referir-se a regiões. No seu entender, as

áreas-unidades (regiões) não são auto-evidentes, definindo-se a partir da

constituição mental do pesquisador. Trata-se, pois, de uma construção

subjetiva da realidade, não se constituindo um objeto em si mesma.

Como Hettner, Hartshorne chama a atenção para o problema da escala

na divisão regional, pois no limite inferior, a região poderia se reduzir a

um ponto e no superior, obscurecer as particularidades. Outra idéia de

Hartshorne diz respeito ao fato da divisão das áreas não necessitar da

continuidade física do território. Assim pode-se aceitar, por exemplo, que

o Brasil, Portugal e Moçambique integrem uma mesma região, se o objeto

de estudo for a língua comum a todos eles. Embora esses paises estejam

localizados em continentes diferentes, existe uma dimensão que os une:

nesse caso a língua portuguesa.

Os estudos regionais basearam-se também na Teoria Geral dos

Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy, “tentando resolver várias questões

como delimitação funcional da região, o da definição da escala regional e

o da coesão do conteúdo regional”. Surge o termo subespaço, para

24

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indicar a região, e um dos principais objetivos do estudo regional passou

a ser o de determinar o papel desempenhado por cada subespaço na

constituição do espaço global, entendido “como uma totalidade fechada,

sistematicamente estruturada, resultado da soma de outras totalidades

menores” (Lencioni, op. cit., p. 137).

A partir dos anos sessenta do século XX, vários autores franceses

(Jean Labasse, Pierre George, Michel Rochefort, Ettienne Juillard,

Raymond Deegrand, Phillippe Pinchemel, Bernard Kayser e outros)

defendem que o espaço pode organizar-se através da ação do homem,

por via institucional, dando origem à chamada Geografia Ativa. Essa

corrente propunha a organização do espaço por intermédio da

intervenção do homem a partir do planejamento urbano e regional

buscando atingir o crescimento do espaço de forma harmoniosa. O

espaço passa a ser entendido como “um campo de ação de fluxos”. Para

esses autores, esses fluxos ao dirigirem-se para uma determinada cidade

transformaram-na em um pólo regional. “Nesse sentido, uma região se

coloca como uma área de ação de uma cidade” ( Lencioni, op. cit., p. 141

). Para Rochefort, por exemplo, as cidades que assumem essa posição

de pólo regional, desempenham um papel de coordenação e direção das

atividades produtivas da região, e acabam por garantir uma série de

funções às outras cidades da área. Rochefort dizia que esses pólos podem

ser de natureza regional, nacional ou internacional, dependendo da

relação hierárquica entre as cidades.

Bernard Kayser e Pierre George estabeleceram três parâmetros

para definir uma região: deve haver laços de natureza econômica e social

entre os habitantes; há a necessidade de uma cidade pólo para dirigir as

25

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demais cidades da região; e ela deve ser entendida como parte de uma

totalidade. Esses autores “consideram acima de tudo, que uma região

será mais madura, no sentido evolutivo do termo, quanto maior for a

importância de seu centro e quanto maior for a influência que esse centro

exerce sobre o território” (Lencioni, op. cit., p. 143).

Sandra Lencioni discorre sobre a importância da incorporação do

pensamento fenomenológico e do marxismo no estudo regional. Segundo

ela a perspectiva fenomenológica nos conduz a ver o espaço sob outra

ótica: o espaço vivido, aquele que é constituído socialmente e

interpretado a partir da percepção das pessoas e revelador das suas

práticas sociais. Essa noção de espaço coloca o lugar como o centro da

análise geográfica, o qual é entendido como sendo uma realidade que

transcende os aspectos puramente naturais e incorpora uma paisagem,

também cultural, cheia de significados. Dessa forma, a região é um lugar

com uma paisagem e a identidade do homem (sentimentos, laços

afetivos, valores culturais e sociais) com ela. A região passou a ser

considerada um produto da história e da cultura, “passou a ser vista não

como constituindo uma realidade objetiva; ao contrário, ela foi concebida

como uma construção mental, individual, mas, também, submetida à

subjetividade coletiva de um grupo social, por assim dizer, inscrita na

consciência coletiva” (Lencioni, op. cit., p. 155). Observa-se, numa

perspectiva fenomenológica, que o foco da análise regional supera os

aspectos socioeconômicos e busca, como ponto central, discutir e

entender o das relações conjuntas do homem com a região.

Numa perspectiva marxista, a região é concebida como uma parte

de um todo, porém, uma totalidade dialética, não harmônica, em que as

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injustiças e as desigualdades do capitalismo estão presentes. A idéia de

região relacionada a uma cidade, como centro de influência, é criticada.

Essa posição é apoiada pela argumentação de que existem , paisagens

físicas e humanas, onde não há um centro de polarização. Cita-se como

exemplo a região do Saara (Lencioni, op. cit., p. 164, 165, 166). É,

também, o caso da região amazônica, onde o sentido de região

transcende a idéia de centro de polarização vinculado a uma cidade.

Rebatendo a posição dos fenomenológicos os estudiosos da questão

regional de origem marxista não entendem a região como espaço vivido.

Para essa corrente “o espaço vivido corresponde ao espaço de vida das

pessoas, segundo o lugar que elas ocupam na sociedade e na divisão do

trabalho. Diferentemente, a região é um conjunto espacial bem mais

amplo que o espaço vivido” (Lencioni, op. Cit., p. 169).

27

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1.1.4 O Novo Regionalismo

A discussão em torno da questão regional têm sido alimentada

pelas idéias de duas vertentes teóricas: a globalista e a regionalista.

A vertente globalista, com destaque para Charles Tiebout e Kenichi

Ohmae, acredita na homogeneização dos espaços regional e local a

partir, por exemplo, da mobilidade de capitais, das telecomunicações, dos

transportes e da telemática. Na visão globalista, os fatores de produção

tornam-se bastante voláteis, deslocando-se de uma cidade para outra à

procura de melhores condições (incentivos, custos baixos, flexibilização,

visibilidade, qualidade de vida, lucros, etc.). Essa mobilidade de capital e

de trabalho provoca uma competição entre as cidades/regiões, no sentido

de atrair capital e a mão-de-obra qualificada necessários à criação de

valor agregado local. Para o discurso globalista, a competição entre as

regiões e cidades tende torná-las todas iguais. Assim seria inevitável a

desterritorialização do espaço e a adesão da região ao projeto de

globalização. Referindo-se a essa corrente Klink (2001, p. 16) cita que

“capital e trabalho se tornaram voláteis e mudam de uma cidade para

outra à procura de maximização de suas preferências (isto é, lucros,

salários, qualidade de vida urbana). De certa maneira, as preferências do

consumidor e do cidadão têm se tornado o elo entre o global e o local.

Como os fatores de produção se deslocam de acordo com as melhores

condições, as cidades têm de competir entre si par atrair mão-de-obra

qualificada e capital produtivo e financeiro. Num mundo onde as

preferências se tornaram cada vez mais homogêneas, as cidades se

tornarão também cada vez mais semelhantes e homogêneas.” A vertente

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regionalista com destaque para Michael Stoper, Allen Scott, Alain Lipietz,

George Benko, entre outros, advoga que as regiões e cidades têm

mecanismos para buscarem uma negociação bem sucedida com a

economia global, implementada a partir da própria região. Destaca a

importância da região e a possibilidade de imprimir articulações e

alianças regionais mais agressivas para competir no mercado global.

Coloca a formação da identidade regional (cultura, história, política) como

pré-condição para que o projeto regional seja bem sucedido. “A forma de

organização através de redes cooperativas entre atores locais facilita os

processos de aprendizagem, a inovação e a sua conseqüente difusão.

Além disso, essas redes proporcionam a criação de um conhecimento que

é territorialmente específico” (Klink, 2000, p. 31). A vertente globalista

assume que a nova ordem mundial cria condições favoráveis para que a

cidade-região possa buscar vantagens competitivas comparativas. A

recomendação é que a posição privilegiada deve ser alcançada por meio

de estratégias de redução de custos; por meio de efetiva inserção nas

redes mundiais de fluxo de informação ou, também, através do marketing

city3.

Os seguidores da vertente regionalista, embora não neguem a

globalização,

apontam e valorizam os fatores intrínsecos a cada região como a saída

para o desenvolvimento regional. São os fatores endógenos que devem

criar a motivação necessária para que o capital volátil decida permanecer

no ambiente e em condições de boa rentabilidade. A vertente regionalista

3 Promoção das especificidades do seu próprio espaço; oferecer uma ampla rede de serviços culturais e manter baixos níveis de violência e de qualquer tipo de marginalização para influenciar as empresas a investirem na região.

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defende que o setor público crie as condições, para a revitalização do

desenvolvimento regional, por meio de uma política pública, que

incentive o surgimento de parcerias privadas e forneça às empresas

locais condições de enfrentarem a competitividade global. Enfatiza-se,

também, a importância de criar um clima de confiança entre os atores

através de uma política de comunicação clara, utilizando a conversação

como instrumento para reduzir barreiras e gerar entendimentos.

Enquanto os globalistas recomendam uma política regional de

inserção no mundo globalizado, a visão regionalista assinala na direção

de uma política pública que busque as soluções de desenvolvimento

dentro do próprio território. Nesse sentido é a partir das particularidades

de cada região que vai se encontrar e criar o encaminhamento de

soluções. Se a proposta globalista aponta para fora, para uma zona de

livre comércio, a proposta regionalista aponta para dentro, para a

construção da alternativa regional.

Allen J. Scott da Escola de Políticas Públicas e de Pesquisas Sociais

da Universidade da Califórnia e um dos teóricos da vertente regionalista

destaca em “A Economia Cultural das Cidades”, o importante papel das

cidades como centros de atividades culturais e econômicas. Scott parte

da noção de que o capitalismo em si está caminhando para uma etapa

em que as atividades culturais e seus significados tornam-se dominantes

na estratégia produtiva local. A tradicional padronização produtiva do

modelo fordista é, aos poucos, substituída pelo chamado modelo

produtivo pós-fordista4, de características flexíveis e dinâmicas. Isso não

4 Um Modelo baseado na especialização e na flexibilidade significando a produção de pequenas quantidades de insumos especializados, para atender às exigências específicas de determinados nichos de mercado e, por outro lado, capaz de se adaptar à novas exigências e mudanças de certos segmentos.

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significa, segundo o próprio Scott, que a produção em massa fordista

tenha sido execrada da economia de hoje; o que há é um movimento

muito marcante da cultura pós-fordista intensificando a produção de

diversas variedades de produtos culturais – artifícios, moda, insumos de

desing e de informática – por todas as economias mais avançadas. Essa

nova arquitetura econômica sugere que as empresas e os governos

regionais e locais devem

desenvolver estratégias de marketing que valorizem a diferenciação

dos seus

insumos e produtos/serviços, ao mesmo tempo em que direcionam a

tecnologia e a

organização da produção para nichos de mercado específicos e

também sejam

capazes de se adaptar a novas exigências. Os bens e serviços gerados

por essa nova economia cultural e que Scott chama de produtos culturais

surgem sob variadas formas e origens. São vestuários, jóias, móveis ou

utensílios que ganham formas pela transformação de insumos dos setores

mais tradicionais; serviços turísticos, teatro ou propaganda que se situam

com transações personalizadas ou

como produção e transmissão de informações. Há, ainda, produtos

culturais como gravações de filmes, por exemplo, que assumem ao

mesmo tempo, aspectos das duas situações anteriores. Segundo Scott

(1997), qualquer que seja a composição físico-econômica de tais

produtos, os setores que os produzem estão todos envolvidos na criação

de insumos comerciais em que suas qualidades competitivas dependem

do fato de que pelo menos funcionem como um ornamento pessoal,

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formas de exibição social, objetos estilizados, formas de diversões e

distrações, ou fonte de informação e autopercepção.

Para Scott (op. cit.), lugar, cultura e economia são altamente

simbióticos. Lugar e cultura estão num constante processo de

interposição, intercalando-se um ao outro e produzindo bens e serviços

que revitalizam a dinâmica econômica. O lugar é o espaço de intensos

inter-relacionamentos humanos de onde a cultura emerge e estabelece as

características específicas locais, diferenciando um lugar dos outros. A

cultura local intervém e ajuda a formar a maneira pela qual as atividades

econômicas se realizam. Assim, produtos, cultura e lugar mantêm, um

elevado grau de identificação, o que confere, por certo, notada vantagem

competitiva à produção local e a conseqüente ampliação do mercado. Um

determinado setor produtivo utiliza-se de uma teia complexa de culturas

locais que deixam marcas nos bens e serviços produzidos e estes, por sua

vez, criam imagens reais ou imaginárias do seu lugar de origem que,

novamente, assimiladas pelos bens culturais do lugar, alimentam um

novo ciclo de produção.

O trabalho de Scott nos mostra que a preservação da cultura

local/regional é, também, um instrumento para a revitalização econômica.

A produção cultural do lugar pode ganhar o mundo por meio de extensas

redes de consumo criadas a parir dos processos globalizantes. Segundo

Scott (op. cit.), alguns lugares privilegiados representam pontos de onde

artefatos e imagens são transmitidas pelo mundo afora e este mesmo

processo possui efeitos profundamente erosivos ou pelo menos

transformativos sobre muitas culturas. E mais adiante lembra que, se

algumas culturas locais/regionais estão sob séria ameaça neste presente

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momento, outras estão encontrando audiências abrangentes e

receptivas. Scott nos oferece, entre outros, o exemplo do artesanato nas

cidades da Terceira Itália onde o emprego industrial tem crescido nos

últimos trinta anos, com os produtos culturais dessa região, ganhando

mercados internacionais com muito êxito e contribuindo com o seu

crescimento econômico recente. Graças à qualidade e ao estilo

empregado por seus artesãos em materiais têxteis de lã (Prado); roupas

tricotadas (Carpi); Cerâmicas (Sassuolo); sapatos de alta moda (Porto

Sant’ Elpidio); móveis (Pesaro); rendas (Como) e objetos de couro

(Florência).

Os bens, em uma economia cultural estão sob a influência de

imagens e sensibilidades locais enraizadas. Assim, estão suscetíveis a

algum tipo de convergência em seus aspectos de aparência. É o caso, por

exemplo, da cerâmica do Vale do Jequitinhonha que reproduzindo

utensílios domésticos, animais, figuras humanas e (dês)humanas, traz em

seus traços, pigmentos, formas e situações retratadas, a imagem cultural

da região. Essa identificação com o local representa uma vantagem

competitiva, para o conjunto de produtos de uma economia cultural. Ao

tratar essa questão, Scott cita cinco elementos organizacionais e/ou

tecnológicos inseridos no contesto de uma economia de produtos

culturais:

Consideráveis quantidades de manuseio humano, utilizadas pelas

tecnologias e processos produtivos desses produtos/serviços;

Densas redes de negócios de pequeno e médio porte dependentes

umas das outras em materiais e serviços, embora possa também haver

grandes organizações integradas participando dessas redes;

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A organização dos participantes das redes tende a exercer enormes

exigências sobre o mercado de trabalho local, principalmente no que diz

respeito aos atributos e habilidades dos trabalhadores, o que, no

conjunto, acaba por minimizar os riscos para ambos os lados;

A aglomeração localizada (presença de muitos negócios inter-

relacionados), gera sinergia e aprendizado mútuo proporcionando o

crescimento externo de múltiplos estímulos situados nos pontos de

interação entre os vários agentes;

Essa aglomeração surge de diferentes tipos de infra-estruturas

institucionais que podem amenizar o funcionamento da economia local,

fornecer os serviços gerais mais críticos, facilitar o fluxo de informação,

promover confiança e cooperação entre os produtores interligados e

assegurar-se de que um planejamento estratégico eficaz seja efetuado.

O trabalho de Scott traz fortes argumentos no sentido de mostrar

como as capacidades de geração de cultura das cidades e/ou das regiões

estão conectadas às finalidades produtivas, criando novas categorias de

vantagens competitivas localizadas que geram novas atividades e

melhoram a renda local.

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1.2 Metodologia

O Objeto de estudo em questão neste trabalho é o Vale do

Jequitinhonha e suas Políticas Públicas. Para problematização e exame

deste objeto optou-se por seguir, do ponto de vista de delineamento de

pesquisa, a estrutura de um Estudo de Caso. Gil (1999, p. 72) diz que o

Estudo de Caso "é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um

ou de poucos objetos, de maneira que permita o seu conhecimento amplo

e detalhado, tarefa praticamente impossível mediante os outros tipos de

delineamentos considerados". Pela sua natureza exploratória este

trabalho tem como objetivo alcançar uma visão mais ampla sobre o fato

estudado, sem a pretensão de se chegar a resultados, ou respostas

conclusivas. Nesse sentido pretende-se, aqui, alcançar um nível de

conhecimento mais aprofundado do Vale do Jequitinhonha, de suas

políticas públicas e da cultura política regional, de tal modo poder

contribuir com mais informações sobre o tema, que poderão ser úteis aos

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formuladores de políticas sociais, aos gestores públicos e estudiosos do

assunto.

Este trabalho buscou suporte em dados de natureza primária e

dados secundários. Os dados primários foram coletados, principalmente,

por meio de entrevistas, questionários e observação de campo. Os dados

secundários referem-se a informações bibliográficas, principalmente

contidas nos planos diretores locais e regionais. Utilizou-se, portanto, uma

combinação de dados quantitativos e qualitativos, o que permitiu um

entendimento mais claro da situação-problema.

A coleta de informações baseou-se num conjunto variado de

técnicas e instrumentos. Isso no intuito de dar ao pesquisador, um grau

maior de certeza na manipulação dos dados que o conduziram ao

entendimento da situação-problema. Como afirma Putnam (1996, p. 27):

“O cientista social prudente, assim como o investigador experiente, tem

que recorrer à diversificação para aumentar o potencial de um único

instrumento, compensando assim suas deficiências”.

Neste estudo, apesar da sua característica exploratória, o cuidado

com a averiguação sistematizada foi potencializado, dado, inclusive, o

conhecimento empírico do pesquisador sobre a região objeto de estudo.

Buscou-se isentar das posições particulares, fruto de tendências político-

teóricas ou de impressões tiradas puramente da vivência do dia-a-dia.

Putnam (1996:28) nos alerta que, “nossas impressões, por mais vividas

que sejam, têm que ser comprovadas, assim como nossas especulações

teóricas têm que ser disciplinadas por meio de vigorosa verificação..”

Para o alcance dos objetivos propostos neste estudo fez-se uso das

técnicas e instrumentos apontados a seguir:

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Análise de documentos oficiais do governo do Estado de Minas Gerais,

como o Plano Diretor de Recursos Hídricos para os Vales do Jequitinhonha

e Pardo - Planvale/1999; documento para discussão elaborado pela

Fundação João Pinheiro/1999 e 1º Censo Cultural de Minas Gerais /1995

elaborado pela Secretaria de Estado da Cultura;

Exame de documento alternativo elaborado pelo Partido dos

Trabalhadores, intitulado “Caravana do Jequitinhonha”, de 1995.

Exame de documentos em vídeo elaborados, na década de 90, por

organismos de comunicação social e universidades.

Análise de relatórios e entrevistas elaborados em 1998 e 1999 por

estudantes do IMES em viagem à região do Vale do Jequitinhonha, sob a

orientação deste pesquisador.

Entrevistas com líderes comunitários e membros da sociedade civil.

Questionário estruturado, aplicado aos gestores municipais.

Observação do fazer cotidiano dos habitantes da região e das práticas

políticas locais.

Quanto ao nível de investigação, o estudo apresenta um caráter

exploratório, já que tem como objetivo aprofundar o conhecimento sobre

o problema levantado, e formular possíveis hipóteses. Esse tipo de

pesquisa, segundo Gil (1999, p. 43), “têm com principal finalidade

desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vistam a

formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para

estudos posteriores”.

2 CONHECENDO A REGIÃO

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2.1 Características Naturais e Sócio-

Econômicas

Em primeiro lugar é necessário identificar os limites geográficos da

região conhecida como Vale do Jequitinhonha. Essa não é uma tarefa

fácil, já que os diversos organismos oficiais do Estado de Minas Gerais

estabelecem limites diversos para a área.

Quando o critério da regionalização é o de planejamento, encontra-

se o Estado dividido em oito macro-regiões sendo uma delas a macro-

região do Jequitinhonha formada por 80 municípios. Se o critério é o de

Regiões Administrativas, o Estado está dividido em 25 regiões, dentre

elas a Região do Alto Jequitinhonha e a Região do Vale do

Jequitinhonha, num total de 80 municípios. Por outro critério, o de

mesoregiões geográficas, o Estado está dividido em 12 as mesoregiões,

sendo uma delas a Mesoregião do Jequitinhonha. No critério de

Associações de Municípios, a área está dividida em quatro micro-regiões:

a micro-região do Alto Jequitinhonha com 21 municípios associados, a

do Médio Jequitinhonha, com 16 municípios, a do Baixo

Jequitinhonha com 18 municípios e a dos Municípios Mineiros da Sudene

com 26 municípios na área do Vale do Jequitinhonha. Os mapas 1, 2, 3 e

4 a seguir demonstram os diferentes limites da região.

Mapa 1

38

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Mapa 2

Mapa 3

39

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Mapa 4

Dados esses diferentes critérios de regionalização, optou-se, neste

estudo, por considerar como Vale do Jequitinhonha o espaço físico

formado pelas três micro-regiões: Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha,

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privilegiando o critério de regionalização por associações de municípios,

por entender ser ele o que melhor atenderá aos objetivos do trabalho.

Esse critério parece ser o que mostrará com maior clareza as identidades

regionais e também as suas diversidades. Pressupõe-se haver interesses

comuns a serem agregados e articulados entre aqueles que se associam.

Como diz Putnam (1996, p. 03): “No âmbito interno, as associações

incutem em seus membros hábitos de cooperação, solidariedade e

espírito público” e, mais adiante diz que “uma associação congrega as

energias de espíritos divergentes e firmemente os orienta para um

objetivo claramente definido” (Tocqueville apud Putnam, p.104).

A região está localizada no nordeste do Estado de Minas Gerais.

Limita-se ao norte com a Bacia do Rio Pardo (onde se encontram 26

municípios também pertencentes à Bacia do Jequitinhonha e que, antes

da lei 9690 de 15/07/98 e do decreto 2885 de 17/12/98, eram os únicos

sob área de atuação da SUDENE em Minas Gerais) e com o Estado da

Bahia; a leste, também com o Estado da Bahia; a oeste, com a Bacia do

Rio São Francisco e ao Sul, com as Bacias dos rios Doce e Mucuri.

Empresta o nome do rio Jequitinhonha, que nasce na Serra do Espinhaço

- nos municípios de Serro e Diamantina e deságua no Oceano Atlântico,

após percorrer 920 Km, dos quais 760 Km em Minas Gerais. É rica em

substâncias minerais de interesse econômico, como diamantes, ouro, e

outras pedras preciosas e semipreciosas. Existem, também minas de

minerais industriais como feldspato, quartzo, caulim, cassiterita, grafite,

etc. O quadro 2, mostra as principais características pluviométricas, clima

e temperatura da região:

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Quadro 2 - Características pluviométricas, clima e temperatura no Vale do JequitinhonhaINDICADORES CARACTERÍSTICASChuvas Concentradas nos meses de Novembro a

Janeiro Índices Pluviométricos 1060mm na parte mais ocidental e, 831mm

na parte mais orientalEstiagem Junho a AgostoTemperatura Média Anual da ordem de 21° C

Média Mínima Anual - 16° CMédia Máxima Anual - 28° C

Clima Quente e úmido na parte mais ocidental e, Semi-árido, quente e seco na parte mais oriental

Não bastassem as condições pouco favoráveis ocasionadas,

principalmente, pelo déficit hídrico (atinge 800mm) no Médio

Jequitinhonha, a situação agrava-se com a destruição da vegetação

natural ocasionada por mineração e garimpo, pelas grandes áreas de

plantação de eucalipto ou até mesmo pelo tradicional sistema de queima

para o plantio, ainda usado pelos pequenos produtores da zona rural.

O Plano Diretor de Recursos Hídricos para o Vale do Jequitinhonha -

PLANVALE (1999) cita que “as atividades antrópicas têm acarretado

redução de recursos vegetais, de populações de animais silvestres e da

disponibilidade hídrica, bem como dos processos erosivos, com

conseqüente perda da fertilidade do solo, assoreamento dos cursos d

´água e deterioração da qualidade das águas e da biota aquática.” (...)

“Com a destruição da vegetação natural e, consequentemente, de muitos

habitats naturais da fauna terrestre, os habitats remanescentes ficaram

dispersos, causando isolamento das populações animais.”

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Estudos recentes da Fundação João Pinheiro, ligada ao Governo do

Estado, afirmam que a mineração na região desrespeita a legislação

ambiental contribuindo para a eliminação da vegetação ciliar e expondo

as margens dos rios a um constante processo de erosão e que, na maioria

das vezes, o reflorestamento é feito sem os cuidados conservacionistas e

de uso do solo.

De maneira geral, a região apresenta condições precárias em

termos de desempenho econômico e de desenvolvimento social. Embora

o índice de urbanização tenha crescido nos últimos anos, a maior parte da

população economicamente ativa (63%) está na agropecuária, segundo

dados do PLANVALE. Mesmo assim, segundo dados da Fundação João

Pinheiro, a agropecuária, em termos de geração de riqueza, assume

posição relevante em apenas 14 municípios. No conjunto, tanto a

agricultura como a pecuária, têm uma participação bastante pequena na

produção do Estado. Nesse setor destacam-se os estabelecimentos

agroartesanais ligados à produção de queijo, cachaça, rapadura e farinha

de mandioca.

As atividades industriais mais relevantes na região estão ligadas à

exploração de diamantes, por uma empresa do Grupo Andrade Gutierrez

e às extensas florestas de eucalipto, plantadas por empresas de

metalurgia e celulose. Destacam-se, ainda, atividades industriais ligadas

à exploração de caulim, feldspato, mica, grafite, granito, além de vários

garimpos de pedras semipreciosas. Outra atividade marcante na região é

o artesanato, conhecido em todo país e até no exterior. Em quase todas

as cidades, artistas criam peças a partir do barro, madeira, couro, palha

etc, que vão resultar no sustento de muitas famílias.

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As informações do PLANVALE destacam, ainda, que a economia

regional não está sendo capaz de gerar os empregos suficientes para

reter a mão-de-obra local; os indicadores de saúde mostram a ocorrência

de endemias e doenças características da pobreza e subdesenvolvimento;

a educação é marcada pelo sub- dimensionamento das redes de ensino

fundamental e médio e embora o abastecimento de água e saneamento

seja, em geral, razoável, o esgotamento sanitário é bastante deficiente. O

quadro 3 mostra as unidades de ambulatórios, postos e centros de saúde

da região. Os dados são de dezembro de 1997 e se referem às unidades

vinculadas à rede prestadora de serviços do SUS.

Quadro 3 - Unidades de Saúde no Vale do JequitinhonhaTipo de Unidade Região % Estado % % em relação

ao EstadoPostos de Saúde 241 43,82 1617 19,56 14,9Centros de Saúde 109 19,81 1798 21,75 6,0Ambulatórios com

Especialidades10 1,81 255 3,08 3,9

Ambulatórios Hospitalares

26 4,27 563 6,81 4,6

Unidade Mestra 18 3,27 86 1,04 20,9Clínica Odontológica 17 3,09 90 1,08 18,8

Consultório Odontológico

62 11,27 1676 20,28 3,7

Outros Ambulatórios 68 12,36 2179 26,36 3,1TOTAL 550 100 8.264 100 6,6

POPULAÇÂO (1996) 997.009 16.673.097

5,9

ÁREA (KM2) 85.027 583.383,6 14,6Fonte:Fundação João Pinheiro.

Levando-se em consideração o critério de população observa-se um

equilíbrio entre a região e o Estado na distribuição das unidades de

saúde. Ressalta-se, todavia, que a grande maioria das unidades são

Postos de Saúde (43,82%), onde a presença do médico não é

permanente. Grande parte das unidades de saúde estão concentradas

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em algumas cidades da região como, Diamantina, Araçuaí, Bocaiúva,

Itamarandiba, Minas Novas, Salinas, Porteirinha, Rio Pardo de Minas,

Almenara, Joaíma, Itaobim, Capelinha, Taiobeiras. Essas treze cidades

possuem 265 unidades de saúde, o que representa 48% do total das

unidades ambulatoriais da região. Diamantina, a cidade mais importante

da região, possui 51 unidades o que equivale a 9,8% das unidades da

região.

Dos 80 municípios, apenas 35 possuem hospitais vinculados ao

Sistema Único de Saúde – SUS. O quadro 4, a seguir, mostra o número de

hospitais, natureza e regime do prestador de serviços hospitalares na

região. Observa-se que 50% dos hospitais da região são filantrópicos,

33% são contratados, 12% são municipais e 2,4% são federais. A grande

maioria desses hospitais pertence à rede privada (83%).

Quadro 4- Natureza e regime do Prestador de Serviços Hospitalares

Natureza Regime Total

Leitos

Contratado

Federal

Municipal

Filantrópico

Privado

Público

Região

14 2 5 21 35 7 42 2.144

Minas Gerai

s

289 9 67 290 580 95 675 47.970

Os hospitais têm uma capacidade de atendimento de 2.15

leitos/1000 habitantes, bem abaixo da média recomendada pela

Organização Mundial da Saúde - OMS - que é de 5 leitos/1000 habitantes.

No Estado de Minas Gerais a relação é de 2.81 leitos/1000 habitantes.

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Quando esta análise é feita cidade por cidade, apenas a cidade de

Diamantina apresenta um número acima da média recomendada pela

OMS: 6,1 leitos/1000 habitantes. Vale ressaltar que na região são

encontradas as seguintes endemias: Doença de Chagas, Leishmaniose

Legumentar e Visceral, Malária, Peste, Cólera e Esquistossomose.

No que se refere ao saneamento básico destaca-se o que segue:

47 dos oitenta municípios da região possuem serviço de abastecimento

de água prestado pela Companhia de Saneamento Básico de Minas Gerais

- COPASA.

No restante das cidades o serviço de abastecimento de água é

prestado pelas próprias prefeituras.

Na grande maioria dos municípios o abastecimento de água é bastante

satisfatório, com índice de abastecimento superior a 90% da população.

Em termos de esgotamento sanitário, os serviços estão sob

responsabilidade das Prefeituras Municipais, e não existem dados para

apurar o índice de atendimento. Apenas a cidade de Almerara, atendida

pela COPASA, apresentava, na época, índice de atendimento de 66,77%

da população.

Na Zona Rural e pequenos povoados, as necessidades de água são

atendidas por meio de poços, cacimbas e córregos e, geralmente, a água

é usada sem nenhum tratamento.

No campo da educação, os indicadores revelam a região como uma

das menos favorecidas pelo Estado. A rede pública é responsável pela

maioria das vagas, em todos os municípios. O ensino, normalmente, está

sob responsabilidade do Estado na Zona Urbana, e das prefeituras na

Zona Rural. Grande parte dos municípios conta, apenas, com o ensino

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fundamental e, na Zona Rural, quase todas as escolas atendem apenas às

quatro primeiras séries. O quadro 5, a seguir, mostra os Estabelecimentos

de ensino na região. Em 1992 existiam, apenas, cinco escolas

profissionalizantes na região, ligadas a agropecuária e, estavam

localizadas em Almenara, Araçuaí, Bocaiúva, Salinas e Virgem da Lapa. O

ensino superior está presente apenas em Diamantina, com os cursos de

Odontologia, Geologia, Filosofia e Letras.

Quadro 5 - Estabelecimento de ensino por dependência administrativa Localizaçã

oEstadual Municipal Particular Total

Pré 1º Grau

2ºGrau

Pré 1º Grau

2ºGrau

Pré

1ºGrau

2ºGrau

Pré 1º Grau

2ºGrau

Urbana 196 257 51 19 18 5 15 9 7 230 284 63

Rural 77 200 1 53 1780

--- --- 1 --- 130 1981

1

Total 273 457 52 72 1798

5 15 10 7 360 2265

64

Fonte: Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais - 1992

O Vale do Jequitinhonha apresenta, ainda, deficiência no

fornecimento de energia elétrica (transmissão e distribuição);

precariedade no sistema viário e de transporte, com baixo índice de

rodovias asfaltadas afetando o transporte de passageiros e cargas;

condições de moradia desfavoráveis nas cidades e, na Zona rural; alta

concentração da propriedade da terra, principalmente, nas microrregiões

do Alto e do Baixo Jequitinhonha; entre outras condições desfavoráveis

que colocam a região entre as menos desenvolvidas do país.

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2.2 Políticas Públicas e Programas

Culturais

Tem-se, aqui, o objetivo de identificar a relação entre as políticas

públicas e os programas culturais no Vale do Jequitinhonha. Entende-se

como política pública àquela que foi gerada pela ação discursiva e,

produtiva, dos vários atores sociais envolvidos em um processo de

trabalho político e cuja finalidade é buscar mudanças na qualidade dos

bens sócio-culturais. Espera-se que o resultado de sua aplicação leve,

necessariamente, à melhoria da qualidade de vida, ao desenvolvimento

de cidadania e ao atendimento de outras necessidades e desejos dos

sujeitos sociais.

Alves (1998), estabelece quatro premissas básicas ao conceituar o

que seja uma política pública ou social: Em primeiro lugar ele defende

que uma política pública deva constituir-se em um processo de trabalho

onde haja objetivos de mudança de qualidade e metodologia

fundamentada na participação grupal ou coletiva; a seguir diz que ela

tem que ser balizada em "procedimentos e ações capazes de produzir um

amplo processo de interlocução e atingimento de objetivos que

considerem a criação simbólica das pessoas e instituições envolvidas”; ela

deve abranger, "necessariamente, ações produtoras, difusoras e

consumidoras de bens sócio-culturais” e; finalmente deve-se supor "as

políticas de ênfase mercadológica, como alternativas preocupadas com as

mudanças políticas da sociedade, ou educacionais, bem como religiosas e

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comunitárias, exigindo dos analistas, intérpretes e gestores a adequada

adaptação do seu procedimento crítico" na "localização, avaliação e

superação de deficiências”.

Nesse sentido fica a expectativa de que as Políticas públicas de uma

cidade ou região devem ter como objetivo maior propiciar,

continuamente, o aumento da qualidade de vida dos munícipes sob todos

os aspectos. Assim as ações tomadas pelo gestor público têm como

objetivo dar respostas às necessidades e desejos da população na sua

relação com o espaço regional.

O termo cultura pode sugerir muitos sentidos: está associado à

educação formal; às manifestações artísticas, como a música, a pintura, o

teatro, a dança; às festas tradicionais de uma sociedade, que retratam

suas lendas e crenças; à comida, à vestimenta, à língua e em muitas

outras manifestações sociais. É comum, por exemplo, a cultura ser

“identificada com os meios de comunicação de massa, tais como o rádio,

o cinema, a televisão” (Santos, 1983). Santos (op.cit.) estabelece duas

concepções básicas para delinear o conceito de cultura. Para ele “a

primeira concepção de cultura remete a todos os aspectos de uma

realidade social; a segunda refere-se mais especificamente ao

conhecimento, às idéias e crenças de um povo”.

Entendendo cultura como o conjunto dos aspectos de uma realidade

social, este estudo parte da idéia de que os programas culturais referem-

se às ações capazes de interpretar uma dada realidade social e promover

transformações de qualidade a partir da manifestação dessa própria

realidade. Esses programas são subordinados a uma determinada política

ou conjunto de políticas sociais norteadoras das decisões do gestor

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público e, de outros agentes sociais envolvidos nos processos de

transformação de uma dada realidade social.

2.2.1 Aspectos Histórico-Culturais da Região

A região do Vale do Jequitinhonha, no nordeste do Estado de Minas

Gerais, é formada por dezenas de cidades e povoamentos que nasceram

da exploração econômica dos seus recursos naturais no ciclo da

mineração. Os nomes de muitas das cidades refletem o que foi uma

época de fartura: Diamantina, Turmalina, Minas Novas, Berilo, Pedra Azul,

Rubelita... O extenso território que forma da região (mais de 85.000 km2)

teve sua ocupação efetiva a partir da terceira década do século dezoito,

embora alguns núcleos de colonização tenham surgido já no início do

século. Esses primeiros núcleos, mais ao sul da região, exibem ricos

exemplares do seu acervo histórico. Além do seu significado, eles

retratam, a condição política e a relativa riqueza alcançada por esses

povoados na época da intensa atividade mineradora no século dezoito.

Diamantina, Serro e Minas Novas guardam os registros mais importantes.

O conjunto arquitetônico dessas antigas vilas apresenta características de

simplicidade e harmonia em suas construções e detalhes de

ornamentação e pintura, merecendo um destaque especial, as igrejas -

quase uma em cada esquina - e os casarões que serviram de residência

aos barões da corte.

Vivendo o auge da mineração a região também conheceu o

“apogeu” da escravidão, sendo povoada, durante o período colonial, por

contingentes de africanos que ali permaneceram após a abolição. O seu

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tecido cultural tem marcas evidentes dessas comunidades. Erildo do

Nascimento, historiador e estudioso da cultura da local, destaca que os

negros dessa região, ao contrário daqueles de outras regiões mineiras

que vieram do Rio de Janeiro, são oriundos da Bahia. São naturais de

tribos malés, na sua maioria mulçumanos, sendo esse um dos fortes

elementos de diferenciação da cultura da região.

As riquezas naturais se foram e junto com elas a época de

abundância. No final do século XVIII a região entra em decadência

econômica e social, até porque as atividades agro-pastoris de

subsistência que substituem o ciclo anterior são, inevitavelmente,

prejudicadas pelas condições pluviométricas locais. Fato é que, a região é

hoje detentora de indicadores socioeconômicos extremamente precários,

considerados como dos mais baixos do país.

Por outro lado, apesar das adversidades (ou talvez por elas) a

região desenvolveu uma forte característica cultural. As mais diversas

manifestações sociais convergem para a produção sócio-cultural que

retrata a situação de um povo e sua constante busca de melhores

condições de vida. A arte popular parece ser o emblema maior da

resistência social e nela um destaque especial para o artesanato. Por toda

parte, encontra-se algum tipo de atividade artesanal, desenvolvida e

transmitida de geração em geração. Muitas das famílias trabalham em

locais improvisados, em oficinas instaladas em suas próprias residências,

às vezes desconhecendo as facilidades e conforto da vida moderna como

a luz elétrica e a água encanada e, improvisando ferramentas para o

preparo das peças que produzem.

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O artesanato (barro, madeira, fibras vegetais, tecelagem, couro) os

grupos de dança, cantos e ritmos, as festas religiosas, as histórias, os

símbolos, apesar da diversificação, mantêm uma proximidade estética e

ética que lhes dá um sentido de unidade. Como diz Dilma de Melo Silva:

“trata-se de um exemplo raro de conjunto coletivo de produtores,

existente em nosso país. Esse fazer coletivo, realiza um registro

documental do cotidiano da comunidade, expressando plasticamente,

momentos da vida grupal. (...) Na verdade, os criadores/produtores dessa

região - uma das menos favorecidas em nosso país, há uma carência

secular de serviços básicos de água, saúde, transporte, ensino formal -

vivem o dia-a-dia em luta pela sobrevivência, extraindo da terra os

mínimos vitais para continuarem a existir; essa relação com a natureza

lhe propicia um realismo, um senso vivo dos limites exíguos de suas

ações, surgindo daí um novo tipo de sabedoria - única arma de que

dispõem para enfrentarem uma economia adversa” (Vivo-Vale, 1997).

2.2.2 Programas Culturais no Vale do

Jequitinhonha

Apesar da rica reserva cultural existente, muito pouco se tem feito -

ou pelo menos muito se tem a fazer - em nível de elaboração de políticas

públicas e de programas culturais, para revitalização do desenvolvimento

regional. Em 1993, o governo de Minas, através da Secretaria de Estado

da Cultura, promoveu o “Censo Cultural de Minas Gerais” para o

levantamento das potencialidades culturais do Estado. A partir das

informações coletadas pelo censo gerou-se uma série de Guias Culturais

das mais diversas regiões do Estado organizando informações que

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permitem um maior conhecimento sobre as origens, bens e

manifestações culturais de Minas Gerais.

Segundo Berenice Menegale, Secretária de Estado da Cultura na

ocasião, o guia de cada região oferece “subsídio técnico-informacional

para a implementação de ações, com origem tanto no campo

governamental quanto nas iniciativas dos produtores culturais”. Para ela,

a Secretaria de Estado da Cultura busca fomentar e incentivar a atividade

criadora em todas as regiões, situando a cultura como verdadeira fonte

de investimento não só humano, como também econômico, capaz de

gerar empregos, sem perda de seus valores fundamentais. Esta iniciativa,

certamente, será um instrumento fundamental para a definição de

políticas e elaboração dos projetos do Sistema Estadual de Cultura, como

cita o próprio documento.

A estrutura do documento traz as seguintes informações sobre cada

cidade: Características físicas; Atividades Econômicas; Serviços; Meios de

comunicação; Instituições Culturais; Espaços Culturais; Produção Cultural;

Patrimônio Cultural Eventos permanentes; Mercado Cultural; Históricos

sobre as origens da cidade e da região.

Ainda no âmbito do poder público, em 1964 foi criada a CODEVALE -

Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha - com a missão

de ser uma Agência de fomento ao desenvolvimento da região,

coordenando ações e projetos capazes de gerar desenvolvimento

econômico e social em benefício da população local. Como órgão

governamental responsável pela execução de políticas públicas na região,

esteve sempre subordinado às políticas do Estado e ao seu orçamento e

por conseqüência transformou-se num espaço de disputas partidárias e

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eleitorais o que desviou a sua linha de ação original, tornando-se mais um

órgão assistencialista e não um fomentador de políticas públicas de

desenvolvimento. Apesar desse desvio, no campo da cultura, a CODEVALE

tem desempenhado um papel importante, especialmente no artesanato.

A sua atuação abrange desde a qualificação de pessoal, passando pela

assistência técnica, promoção e distribuição da produção e, articulação de

pequenas linhas de financiamento.

Uma outra iniciativa em 1980, projeto individual de um jovem

idealista, Tadeu Rego Martins, transformou-se em um importante espaço

para produção, promoção e distribuição dos bens culturais do Vale do

Jequitinhonha: o Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha –

FESTIVALE.

A iniciativa individual logo ganhou adesão de associações culturais

ensejando a criação do CCVJ - Centro Cultural do Vale do Jequitinhonha,

mantenedora do Jornal Geraes, que passou a ser importante veículo de

divulgação da cultura local. Já na sua décima oitava edição, o evento,

itinerante, reúne durante uma semana, uma vez por ano, em uma

determinada cidade da região, os vários movimentos de manifestação

cultural. O programa oficial do evento prevê cursos e oficinas, debates

envolvendo questões econômicas, sociais, ecológicas e culturais,

apresentações de música, teatro, dança; exposições, feiras e uma série

de outros eventos. Desde a sua segunda edição, em 1981, o evento

passou a contar com a participação e apoio do poder público estadual

através da Secretaria de Estado da Cultura e da CODEVALE e do poder

público municipal, notadamente da prefeitura da cidade sede. Esses

encontros têm sido oportunidades relevantes para a agenda da produção

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cultural regional, tanto no aspecto da divulgação quanto no surgimento

de novos quadros, na troca de experiências, no fortalecimento da base

cultural e até no entendimento que o homem possa ter da sua realidade

para poder transformá-la.

Embora os níveis de poder público estadual e municipal tenham tido

participação importante no apoio às atividades culturais da região, ela

ainda pode ser considerada tímida em relação ao potencial que a região

apresenta. Tudo acontece muito mais em função de ações isoladas,

públicas ou privadas, do que pela articulação de uma política pública

cultural em nível regional. Uma política que articulasse, por exemplo,

programas nas áreas de cultura e turismo, poderia trazer importantes

resultados para o desempenho e para desenvolvimento econômico local.

Além de abrigar importantíssimo patrimônio histórico-cultural, a área

conta com uma formação geológica que proporciona belas paisagens e

oportunidades de lazer (seja pela sua formação rochosa, seja pelas suas

praias fluviais).

Outras tantas manifestações culturais poderiam contribuir para o

desenvolvimento do turismo na região. Dentre elas, pode-se destacar as

folias de reis, festas do divino, pastorinhas, marujadas, congadas, boi de

janeiro, festivais de música e artes e, evidentemente, o artesanato. Todas

essas manifestações são conhecidas nacionalmente e até mesmo no

exterior. Na verdade o Vale do Jequitinhonha necessita não apenas de

uma política cultural, mas de uma política pública que articule programas

de apoio à cultura com o desenvolvimento regional integrado e

sustentado.

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2.3 Um olhar cosmopolita sobre o Vale

De 27 de dezembro de 1997 a 15 de janeiro de 1998 e de 28

de dezembro de 1998 a 13 de janeiro de 1999, coordenei duas viagens ao

Vale do Jequitinhonha, acompanhando estudantes do IMES, cujo objetivo

principal foi propiciar aos estudantes conhecer “in loco” elementos de

cultura e condições sócio-econômicas da região. O projeto, intitulado

Vivo-Vale Extensão, surgira a partir do interesse manifesto pela direção

do IMES e dos alunos em conhecerem mais a região, motivados que

foram pelo projeto Vivo-Vale, uma grande feira cultural do Vale do

Jequitinhnonha no ABC Paulista, realizada pelo próprio IMES e pelo SESC

em São Caetano do Sul no ano de 1997.

Nestas expedições - a primeira composta por vinte estudantes e, a

segunda por treze - visitamos doze cidades (Itaobim, Pedra Azul, Pontos

dos Volantes e o vilarejo de Santana do Araçuaí, Itinga, Araçuaí, Coronel

Murta, Berilo, Chapada do Norte, Minas Novas, Turmalina, Diamantina e

Serro). Em todas elas, o grupo teve a oportunidade de conhecer aspectos

culturais, naturais e sócio-econômicos da região pela observação e pelo

diálogo e interação com os habitantes e autoridades locais.

A primeira viagem, de caráter mais exploratório e investigativo,

apresentou o seguinte roteiro:

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Itaobim – Primeira parada do grupo e base de apoio para visitar

outras cidades próximas. O grupo dialogou com moradores, comerciantes,

políticos e integrantes de grupos folclóricos. Visitou comunidades

carentes, assistiu apresentações das Pastorinhas e conheceu o Museu de

Arte e Cultura “Canjira”, catalogado pela USP no Guia dos Museus

Brasileiros..

Pedra Azul - Segunda cidade visitada. O grupo interagiu com a

população e com comerciantes, conheceu o prefeito e membros de

administração local, conheceu grupos de “Boi Janeiro” e outras

apresentações típicas da região, efetuou caminhada ecológica à Pedra da

Conceição e entrevistou o Padre Felíce, coordenador de um projeto para a

formação educacional de jovens da região.

Santana do Araçuaí - Neste vilarejo pertencente ao Município de

Ponto dos Volantes, os estudantes dialogaram com os moradores e

crianças e visitaram os artesãos D. Izabel, João e Glória, famosos por suas

bonecas de barro.

Itinga - Na cidade de Itinga, o grupo vivenciou a travessia do Rio

Jequitinhonha sobre canoas, entrevistou o prefeito municipal (Sr. Charles),

o artesão e contador de estórias Ulisses, moradores, comerciantes ,

visitou a rádio local e a cooperativa para produção de pães formada por

donas de casa.

Coronel Murta – Quinta cidade visitada, destaque para a visita a

garimpos de extração de pedras semipreciosas, diálogo com garimpeiros,

moradores e comerciantes. O grupo conheceu as tradicionais Folias de

Reis, as praias fluviais do Rio Jequitinhonha, a prefeita Vânia Murta e

visitou a aldeia indígena dos Pankaraús.

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Araçuaí – Em Araçuaí, o grupo entrevistou a prefeita Maria do Carmo

Ferreira da Silva, mais conhecida pelo apelido de “Cacá,” e os membros

da Associação dos Artesãos. Conheceu e interagiu com grupos de Folia de

Reis e, com os tradicionais corais da cidade. Visitou a Escola Agrotécnica

e a antiga estação férrea da estrada Bahia-Minas.

Berilo – Na sétima cidade visitada, o grupo contactou moradores e

comerciantes, dialogou com o prefeito da cidade e conheceu o processo,

artesanal, de tecelagem com a artesã Terezinha.

Chapada do Norte – O grupo dialogou com a população, políticos,

conheceu o comércio local e a história da formação da cidade.

Minas Novas – O grupo visitou o patrimônio histórico, dialogou com

os moradores, com jovens e com comerciantes e, entrevistaram o prefeito

municipal, Dr. Geraldo, e o Sr. Adão, Secretário Municipal de Cultura.

Turmalina – Na décima cidade visitada, o grupo entrevistou membros

do secretariado municipal, visitou e conheceu a Vila de Artesãos do

Campo Alegre e o Projeto Escola Família Agroindustrial.

Diamantina – Penúltima etapa da viagem, em Diamantina o grupo

pôde aprofundar o conhecimento sobre história e arte barroca, através de

um curso de 20h, oferecido pela Secretaria da Cultura local. Visitou o

amplo patrimônio histórico-cultural da cidade e também o natural.

Realizou visitas de reconhecimento a antigas vilas e ao Quilombo do Váu,

sempre na companhia do Sr. Erildo Nascimento, Secretário Municipal de

Cultura.

Serro – A viagem ao Vale do Jequitinhonha encerra-se na cidade do

Serro de onde, após conhecer o patrimônio histórico e dialogar com

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moradores e representantes da administração local, o grupo desloca-se

para São Paulo.

A seguir serão relatadas, em linhas gerais, as impressões dos

estudantes, extraídas de seus relatórios de trabalho, onde registraram os

resultados de suas observações, contatos e reflexões.

Thiago Freire, estudante de história, escreveu sobre os aspectos

naturais dizendo que essa região no nordeste de Minas Gerais causa

fortes impressões a todo e qualquer visitante e a primeira delas é o calor:

“um calor que em alguns momentos é quase insuportável e um sol muito

forte.” Entre Itaobim, Itinga, Araçuaí e Coronel Murta, a vegetação é uma

mistura de caatinga e cerrado, predominando a vegetação arbustiva. A

terra é comumente seca e amarelada. “Sem água a paisagem fica

amarelada e acinzentada, basta uma chuva para tudo verdejar. O fato é

que não há muita chuva, ou melhor, tudo o que chove num ano costuma

ser na mesma época, entre os meses de novembro a março,

aproximadamente. Conforme se sobe o vale em direção a Diamantina,

percebe-se o abrandamento do clima e a homogeneização da paisagem

na forma mais tipicamente de cerrado. Há, é claro, algumas distorções

bastante cruéis nessa paisagem, como as enormes plantações de

eucalipto na região de Turmalina, que representam uma violência ao

homem e ao meio. Entra-se, então, numa região denominada de campo-

rupestre, que cruza o Vale, se estendendo depois até a Bahia, muito

rochosa e de vegetação arbustiva. Próximo, às rochas, predominam as

gramíneas. É a região de Diamantina e Serro. Há, também, muitas rochas

nas micro-regiões do médio e baixo Jequitinhonha, constituindo às vezes

enormes morros de rocha, como na região de Pedra Azul, entre outras. O

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Rio Jequitinhonha não conserva as águas claras que se desejaria. São

antes águas turvas e barrentas, pela ação das chuvas também, mas

muito mais pela ação do homem. Dragas revolvem o leito do rio em busca

de ouro e pedras. Sente-se muito ao ouvir das pessoas que não fora

sempre assim.”

Os estudantes destacam a questão da posse da terra e de alguns

aspetos de condição humana como se segue nas palavras de Thiago: “Em

nenhum dos locais em que passamos, pude perceber o predomínio de

grandes propriedades de terras. Deve havê-las mas, em geral, a terra se

organiza em pequenas e médias propriedades. Todavia, resta em alguns

locais a lembrança de um tempo de coronéis, expressos em canções

populares e outras manifestações. Há mesmo quem seja chamado de

Coronel. O povo é, de um modo geral, bastante pobre. Mas entre

constatar isso e classificar o Vale do Jequitinhonha de Vale da Miséria, há

pelo menos um abismo. Há a pobreza sem dúvida e pode haver

necessidades básicas também, como as há em todo o Brasil; mas há

dignidade. O homem vive com mais dignidade do que o homem pobre das

cidades grandes por exemplo.”

Ivan Kraut, estudante de Ciência da Computação, destaca a renda

mensal de muitas famílias que fica entre R$120,00 e R$150,00. “A

maioria da população sobrevive com esse salário. A realidade de muitas

famílias em Itaobim é de R$120,00 por mês e sete filhos para cuidar.”

Ivan observa que a atividade artesanal é uma maneira de complementar

a renda familiar. “Uma artesã tecelã em Berilo, a exemplo de outros

artesãos, não sobrevive somente do artesanato. De dia trabalha na roça e

só à noite tece suas encomendas. Conversamos com várias pessoas em

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Chapada do Norte. Uma dessas pessoas é guarda noturno e ganha

R$105,00 por mês mais uma ajuda de R$12,00. Ele tem sete filhos, o mais

velho com 14 anos. Ele diz que ninguém passa fome, mas também, em

casa, não tem sofá, cadeira, televisão e outras facilidades. De vez em

quando faz um trabalho extra para melhorar a renda.”

Francisco Eduardo Dias, estudante de Economia, observa que

“muitas pessoas na região sobrevivem da extração de minérios, hoje já

em decadência. Como a agricultura de subsistência é bastante

prejudicada pelo clima seco e carente de chuvas, as pessoas buscam

resposta de vida através de outros meios como o artesanato de barro, a

tecelagem rudimentar, trabalhos com renda, couro e madeira.”

Juliano Testa, estudante de Comunicação Social, acrescenta: “As

pessoas mostram a cultura local através de belíssimos artesanatos de

barro e madeira, moldam personagens do dia-a-dia como pássaros, bois,

jangadas e, mantêm uma crítica social muito clara quando criam, por

exemplo, o sertanejo crucificado. Danças e cantos regionais e folclóricos

são outras manifestações sempre presentes: congadas, Folias de Reis,

Boi-de-Janeiro, Viola Caipira, flauta artesanal, tambores... tudo isso sendo

colocado na praça, nas ruas, nas casas... é muito bonito. O que eu achei

mais importante, o diferencial, é que a cultura não está só no artesanato,

na dança, na música, na arquitetura,... o principal é que a cultura está no

povo, no olhar, na fisionomia, no jeito de falar, de andar, no modo

fantástico como cozinham, no modo amável com que nos recebem, no

jeito como lidam com a terra, no modo que curam, no jeito como lidam

com a vida,...”

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A rivalidade entre as facções políticas locais e a influência dela no

desenvolvimento, pode ser captada pelos estudantes ao ouvirem a

população. A esse respeito, assim manifesta Juliano: “A população mais

simples entende que a briga entre os políticos prejudica as condições de

vida da população. Em muitas das cidades que visitamos, o povo reclama

da falta de continuidade de projetos importantes para a comunidade e

que muitos metem a mão no dinheiro público. Pudemos, também,

constatar que existem prefeitos e prefeitas que estão conseguindo

implementar projetos simples e com resultados positivos na educação, na

saúde e em outras áreas. Fica a expectativa de que estes projetos sejam

continuados pelos sucessores.”

Cíntia Daniela de Azevedo, estudante de arquitetura, revela: “Me

causou um impacto muito forte e positivo ver as contas públicas expostas

em grandes painéis na praça. Pude observar isso em Itinga e Turmalina.

Estava pintado em grandes quadros o balancete com todas as entradas e

saídas do dinheiro público. Isso, por mais falcatruas que possa haver, é

muito importante, é muito revelador.”(sic).

O fato de alguns governos locais tratarem as contas públicas com

esse nível de clareza causou muito boa impressão e surpresa aos

estudantes. Normalmente são governantes com características mais

progressistas que, utilizam modelos de orçamento participativo onde a

comunidade, por meio de entidades de representação, determina as

prioridades para aplicação dos recursos públicos.

Bárbara Ferreira Alves, estudante de Administração; André Barbosa

de Melo,, estudante de Ciência da Computação e Renata D’Ádamo,

estudante de Comunicação Social, dão destaque especial ao Projeto

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Educacional, idealizado pela equipe do Padre Felice, de Pedra Azul, que

consiste em subsidiar a formação dos jovens do Vale. Uma Fundação

criada para este fim assegura as condições para que os jovens possam

realizar os seus estudos na capital, com o compromisso de retornarem ao

Vale para aplicar o conhecimento adquirido em benefício das

comunidades. Destacam, ainda, o projeto da Escola Família, na cidade de

Turmalina, que utiliza a Pedagogia da Alternância e que, funcionando em

regime de semi-internato, permite que o adolescente mantenha uma

constante relação de aprendizagem na escola e em sua própria casa.

Roberta Teixeira, estudante de administração, destaca que “visitamos

uma cidade onde 60% da população estava com dengue. Esse parece ser

um problema sério em quase toda região; potencializado em razão das

precárias condições de infra-estrutura sanitária básica. Por outro lado,

encontramos em todas as cidades a fé evidente em todas as casas. Em

todas as casas, fotos da família nas paredes, planta no canto da sala,

biscoitos servidos com café e hospitalidade.”(sic).

Mercedes Gomes, jornalista; Kléber di Lázzare, Diretor Teatral, e

Ândrea Mamontow, estudante de Comunicação Social, retratam, entre

outros aspectos, o “calor” das relações humanas muito marcadas pela

simplicidade e companheirismo. Vêem a natureza e principalmente o rio,

numa visão bastante poética. Dão um destaque aos elementos da cultura

como lendas, folclore, artes e patrimônio histórico.

A análise dos relatórios e a síntese das discussões realizadas pelo

grupo durante e após a viagem, permite concluir uma visão geral que

representa a imagem dos estudantes sobre a região:

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O lugar, apesar da imposição da seca, é de características naturais,

carregadas de muita beleza.

O Povo é, de modo geral, digno e hospitaleiro, apesar da vida muito

dura que leva, principalmente pelo grau de pobreza e carência de infra-

estrutura de serviços públicos.

A renda familiar de famílias mais pobres é apenas suficiente para as

necessidades básicas de alimentação e, em alguns casos, pode-se

detectar que nem essa necessidade básica é atendida, requerendo a

intervenção e ajuda do poder público.

As condições de trabalho nas lavras e atividades rurais são bastante

penosas. As pessoas são submetidas a uma carga horária muito extensa

de serviços pesados e em condições ambientais desfavoráveis e com

recompensas questionáveis. É uma realidade dura.

As artes, principalmente o artesanato e as manifestações culturais

populares, são de uma riqueza e beleza incomparáveis.

O acervo histórico no alto Jequitinhonha é muito rico e, geralmente, em

bom estado de conservação.

Observou-se, sintetizando, dois tipos de governança local: um, mais

tradicional e conservador, com pouca visão dos problemas sociais. Esse

busca manter a população com o cabresto do assistencialismo no

pescoço. Opera com base na pequena ajuda financeira, no fornecimento

de alimentação, remédios e outros pequenos favores. Outro, com uma

postura mais contemporânea e progressista, administra o município

implementando programas e políticas públicas de real interesse da

comunidade, principalmente aquelas voltadas para educação, saúde,

saneamento básico e trabalho cooperado.

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2.4 O Regionalismo no Vale do

Jequitinhonha

É o Vale do Jequitinhonha uma região? Esta questão é

problematizada com base nos conceitos seguintes: Em primeiro lugar,

utilizando uma noção de região afinada com as idéias do alemão Carl

Ritter, pai da geografia regional, tem-se que a região constitui-se de um

espaço com características físicas e sócio-culturais homogêneas criadas

pelas relações dos homens em um determinado território, ao longo da

história, tornando-o diferente dos espaços que o contornam. Uma

segunda noção baseada na geografia ativa defende a idéia da

organização do espaço através da ação do homem por via institucional e

do planejamento. Nesse caso a região constitui-se uma área sob a

influência de uma cidade, que por sua vez, torna-se um centro que

coordena as atividades das demais cidades. E por último, utilizando uma

noção mais contemporânea, a região é entendida como sendo um lugar

com uma paisagem, seus aspectos naturais e sócio-econômicos, tendo

como foco de diferenciação a identidade do homem que a habita e

constrói; sua história e sua cultura.

Tomando as noções de região expostas acima, preliminarmente,

pode-se afirmar o caráter de região do Vale do Jequitinhonha. Contudo o

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espaço total da região apresenta características físicas um pouco

diferenciadas. Um observador leigo não terá dificuldade em identificar

naquele espaço geográfico, por este aspecto, duas regiões. Uma na parte

mais ocidental, que corresponde ao alto Jequitinhonha, mais próximo de

Belo Horizonte. Nesta área o clima é quente e úmido e, as estiagens são

menos rigorosas. A vegetação é do tipo arbustivo com características

típicas de cerrado. Já a parte mais oriental correspondente ao médio e ao

baixo Jequitinhonha apresenta clima predominantemente semi-árido,

quente e seco, com estiagens bastante rigorosas. A vegetação mostra-se

como uma mistura de caatinga e cerrado.

As características sociais apresentam também diferenças marcantes

e que Guilhardo Veloso, produtor cultural com formação em História,

resume muito bem: “o vale não é apenas um. Há pelo menos três vales

com características distintas: O Alto do Jequitinhonha onde prevalece a

perspectiva histórica marcada pelo período de mineração no Império com

destaque para o papel assumido pelas cidades de Diamantina, Serro e

Minas Novas. No outro extremo, o baixo Jequitinhonha, originalmente

constituído por grandes fazendas de gado, hoje em decadência em função

do desmatamento e da seca; e no meio, o médio Jequitinhonha, onde a

propriedade da terra é mais democrática, inclusive com experiências de

propriedades coletivas e é, também, onde se destacam os movimentos

sociais organizados”.

Por outro lado, se considerarmos o conceito de região a partir da

idéia da cidade-pólo, observa-se que a região se desintegra e cada parte

movimenta-se para fora dos limites geográficos da região. As cidades

localizadas ao sul pertencem à micro-região polarizada por Diamantina e

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que, num sentido mais amplo, voltam suas atenções para Belo Horizonte;

Ao Leste, distinguem-se dois outros pólos de atração, Teófilo Otoni e

Governador Valadares, que puxam para si a maioria das cidades do

médio e do baixo Jequitinhonha; ao norte e oeste, estão cerca de vinte e

seis municípios cujo pólo de atração é a cidade de Montes Claros. Cabe

aqui esclarecer que a cidade de Teófilo Otoni é a cidade-polo da região do

Vale do Mucuri; Governador Valadares é cidade-polo da região do Vale do

Rio Doce e; Montes Claros é a cidade-polo na região do Norte de Minas.

Apesar da existência de micro-pólos regionais - cidades que se

destacam em função de serem sede de Comarca, Diocese, sediar

organismos de fomento ou por possuir infra-estrutura de pequeno

comércio atacadista ou de atendimento hospitalar - não existe no vale a

figura de uma cidade-pólo capaz de agregar os vários interesses da

região. Diamantina, Araçuaí, Almenara, Salinas, Pedra Azul e Capelinha

são exemplos de micro-pólos em torno dos quais gravitam outros

municípios menores, mas não chegam a assumir as características de

cidades-pólo. Na verdade os três ou quatro grandes pólos estão

localizados fora da região. Nesse sentido, o Vale se organiza para fora de

si mesmo, em várias áreas distintas.

Sob a ótica dos aspectos acima abordados, aceita-se a hipótese de

que a região desintegra-se, por não possuir um núcleo comum. Não há

uma região, mas três micro-regiões, cada uma ligada a um pólo específico

localizado fora de suas fronteiras. Todavia, balizando-se no conceito de

região enquanto um lugar marcado por uma paisagem natural, histórica e

cultural, um lugar com uma paisagem, seus aspectos naturais e sócio-

econômicos, tendo como foco de diferenciação e identidade do homem

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que a habita e constrói, sua cultura e sua história, a análise toma outro

rumo, bem expressado pelas palavras de Erildo do Nascimento,

historiador e estudioso de cultura de Diamantina: “O Vale do

Jequitinhonha é um patrimônio cultural que deve ser tombado. Não como

um conjunto de construções físicas, mas como um conjunto material e

humano. A cultura e história dos homens que vivem lá, formam um

movimento cultural vivo.” Aí, há que se aceitar a idéia do Vale do

Jequitinhonha como uma região.

O Vale do Jequitinhonha é uma região, embora não se conheça lá,

um modelo de governança regional. Nem mesmo políticas públicas

voltadas ao desenvolvimento regional, a partir das potencialidades do

próprio território, como preconiza a corrente regionalista, em

contraposição aos ventos da globalização, podem ser observadas. Do

ponto de vista da nova regionalidade, o Vale pode ser entendido como

um espaço regional em condições bastante razoáveis, a um processo de

desenvolvimento estruturado na sua economia cultural. Se lugar, cultura

e economia são altamente simbióticos, como defende Scott (1997), essa

interposição carece, na região, de um grau mais alto de efetividade, em

que os seus bens e serviços culturais possam imprimir a sua revitalização

econômica.

No Vale, a matéria-prima cultural é abundante. Tem história cultural

e tem preservação da cultura. Os trabalhadores culturais são dotados de

imaginação e de capacidade técnica para realização da sua criação. O

homem dessa região sempre manteve uma relação muito próxima com a

natureza, na sua luta pela sobrevivência. Seja diamante, ouro, feijão,

barro,...foi extraindo da terra, a duras penas, que ele encontrou a energia

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mínima para continuar a existir. A adversidade econômica esteve sempre

presente no cotidiano do cidadão comum.Talvez resida nesse viver menos

favorecido a força da produção cultural. Para Dilma de Melo e Silva

(1997) “Nesse mundo de carências e recursos mínimos surge uma relação

profunda com o pré-existente, com as forças-vivas que permeiam o

universo; daí resultam as concretudes de entidades mítico-religiosas

presentes da produção plástica: santos, anjos, espíritos malignos ou

celestiais; mortos, mulas-sem-cabeça e também na dança, na música e no

teatro”. Observa-se um esforço vigoroso dos criadores da cultura popular

em fazer e em conservar viva a cultura do seu lugar. Falta uma ação de

coordenação dos agentes públicos, no sentido de canalizar os esforços

produtivos locais, na direção de um objetivo de transformação da

realidade econômica. Falta uma política que sintonize produtos, cultura e

lugar, de tal sorte a dar visibilidade e vantagem competitiva à produção

local e a conseqüente ampliação do seu mercado.

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3 DESEMPENHO INSTITUCIONAL, ASSOCIATIVIDADE E DESENVOLVIMENTO

3.1 A Região e o Desempenho Institucional

Esta parte do estudo será dedicada à análise e comentários dos

resultados do questionário estruturado aplicado junto às administrações

locais com o objetivo de entender o funcionamento dos governos locais.

Foram encaminhados 55 questionários aos municípios do Vale do

Jequitinhonha, integrantes das três associações micro-regionais, assim

distribuídos conforme relação das próprias associações:

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AMAJE – Associação dos Municípios da Microregião do Alto

Jequitinhonha 21 Municípios: Angelândia, Aricanduva, Capelinha,

Carbonita, Coluna, Couto de Magalhães de Minas, Datas, Diamantina,

Felício dos Santos, Gouveia, Itamarandiba, Leme do Prado, Minas Novas,

Presidente Kubitschek, Rio Vermelho, São Gonçalo do Rio Preto, Senador

Nordestino Gonçalves, Serra Azul de Minas, Serro, Turmalina, e Veredinha

AMEJE – Associação dos Municípios da Microregião do Médio

Jequitinhonha - 16 Municípios: Araçuaí, Berilo, Cachoeira do Pajeú,

Chapada do Norte, Comercinho, Coronel Murta, Francisco Badaró,

Itaobim, Itinga, Jenipapo de Minas, José Gonçalves de Minas, Medina, Novo

Cruzeiro, Padre Paraíso, Ponto dos Volantes, e Virgem da Lapa.

AMBAJE – Associação dos Municípios da Microregião do Baixo

Jequitinhonha 18 Municípios: Águas Vermelhas, Almenara, Curral de

Dentro, Divinópolis, Felisburgo, Jacinto, Jequitinhonha, Joaíma, Mata

Verde, Monte Formoso, Palmópolis, Pedra Azul, Rio do Prado, Rubim, Salto

da Divisa, Santa Maria do Salto, Santo Antônio do Jacinto e Jordânia.

O questionário foi respondido por onze dos municípios,

representando 20% do total. O quadro 6, a seguir, identifica o município

respondente, o partido da administração atual e a micro-região a que

pertence:

Quadro 4 – Identificação dos Municípios respondentes da pesquisa

%

CIDADE PARTIDO MICROREGIÃO Do Total Respondido

Por Microregião

Carbonita PT

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Gouveia PFLMinas Novas PSB Alto 45 24

Presidente Kubitschek PSDB JequitinhonhaVeredinha PSDB

Araçuaí PT Médio 18 13Itaobim PT Jequitinhonha

Águas Vermelhas PMDBFelisburgo PSDB

Jequitinhonha PSDB Baixo 36 22Pedra Azul PDT Jequitinhonha

Com relação à quantidade de respostas, pode-se observar o

seguinte:

A micro-região do Alto Jequitinhonha foi a que mais contribuiu com as

respostas (45% do total), a seguir, aparece a micro-região do Baixo

Jequitinhonha (36% do total) e, por último, a micro-região do Médio

Jequitinhonha (18% do total).

A micro-região do Alto Jequitinhonha teve 24% das suas administrações

respondendo ao questionário, a micro-região do Baixo Jequitinhonha teve

22% e apenas 11% das administrações do Médio Jequitinhonha se

prontificaram a respondê-lo.

A partir destas constatações, algumas questões podem ser

levantadas: Por que 80% das administrações municipais não responderam

ao questionário? Por que as administrações do Médio Jequitinhonha foram

as que menos responderam? Não é propósito deste trabalho responder a

estas questões. Preocupar-se e refletir sobre elas deve ser tarefa de todos

nós. Se se tratasse de uma pesquisa envolvendo empresas privadas ou

pessoas físicas, o percentual de retorno poderia até ser considerado alto.

Mas aqui não. Trata-se da coisa pública e, até pela sua natureza,

esperava-se que os gestores em questão se mostrassem mais

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comprometidos em dar um retorno. Provavelmente se tivesse sido feito

um trabalho de cobrança via telefone, ou uma segunda carta expondo às

administrações municipais a importância das informações e solicitando

empenho para que houvesse um retorno, o número de respostas teria

sido maior. Mas optou-se, neste estudo, pela não insistência, até como

método para avaliar a atitude dos governantes em dar respostas rápidas

ao que é solicitado pela comunidade. O questionário foi enviado

nominalmente ao Prefeito(a) com uma carta que mostrava o objetivo da

pesquisa e pedia empenho na devolução da resposta.

Em seu trabalho, Putnam nos mostra a existência de uma relação

entre a eficiência administrativa e a sensibilidade burocrática em dar

respostas à sociedade. “Nas regiões mais eficientes (Emília-Romana e

Vale d’Aosta), duas das três solicitações obtiveram respostas completas

no prazo de uma semana, a contar do primeiro contato pelo correio, e a

terceira exigiu uma única chamada telefônica. Nas regiões menos

eficientes (Calábria, Campânia e Sardenha), nenhuma das cartas recebeu

qualquer resposta, e duas das três solicitações levaram muitas semanas e

exigiram várias chamadas telefônicas e uma visita pessoal para serem

atendidas”, diz Putnam (op. cit. p. 87).

Ao analisar os partidos políticos que estão no poder, nas cidades

que responderam ao questionário, observa-se que cerca de 80% dos

respondentes pertencem às siglas com posicionamento político mais à

esquerda, os chamados partidos progressistas. Embora reconhecendo que

em muitos casos a sigla partidária não represente com fidelidade a

posição ideológica do governante, o dado é bastante relevante. Ainda

mais que ao analisar a distribuição dos vários partidos, no poder,

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constata-se que apenas algo em torno de 45% deles podem ser

classificados como progressistas. Os dados parecem indicar que os

governantes com formação política mais à esquerda estão mais

propensos a fornecer informações sobre sua administração.

Pediu-se, na pesquisa, para que fosse identificado o Deputado

Estadual mais votado em cada uma das cidades para os três últimos

mandatos. O resultado aparece no quadro 7 a seguir:

Quadro 7 – Candidatos a Deputados Estaduais mais votados na região

Legislatura Deputados mais votados na Cidade Domicílio Eleitoral

Atual

Márcio CangussúRomeu QueirózErmano BatistaAdelmo LeãoAlberto Ávila

Vanderlei Ávila

No ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do Vale

Anterior

Romeu QueirózErmano BatistaVanderlei Ávila

Agostinho PatrusMaria José Haveissein

Maria ElviriaKamil Kumaira

Fora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do Vale

Penúltima

Romeu QueirozVanderley Ávila

Agostinho PatrusOsmano Pereira

José Ferrais da Silva

Fora do ValeFora do ValeFora do ValeFora do Vale

No Vale

Os dados mostram que, de doze candidatos a deputados estaduais

apontados, apenas dois deles são do Vale do Jequitinhonha. Os outros dez

candidatos, mais votados no Vale do Jequitinhonha, são de outras regiões.

Uma informação importante é que, na atual legislatura, já aparece um

candidato local como sendo um dos mais votados na região. De qualquer

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maneira existe uma questão a ser respondida: O que leva o eleitor do

Vale Jequitinhonha a votar mais em candidatos forasteiros para sua

representação estadual?

Para Marcos Josevaldo Lemos, prefeito de Carbonita e Presidente da

Associação dos Municípios da Micro-região do Alto Jequitinhonha, a

principal causa está na pobreza, associada à falta de informação da

população. O candidato de fora, normalmente com maior poder

econômico, impõe a sua condição às lideranças locais na troca por

ambulâncias, cestas básicas, jogo de camisas para futebol, etc. A posição

de Edmundo Correia e Santos Júnior, prefeito de Cachoeira do Pajeú e

Presidente da Associação dos Municípios da Micro-região do Médio

Jequitinhonha, é idêntica. Ele acrescenta que é responsabilidade das

lideranças locais reverterem esse quadro e buscarem maior

representatividade política do Vale do Jequitinhonha na Assembléia

Legislativa, elegendo candidatos da própria região. Fica evidente a

prática da velha política do cabresto, do paternalismo, da compra do

voto.

É necessário que os mais necessitados continuem necessitando

para que no próximo ano o velho político tenha uma boa moeda de troca.

O que se constata, até aqui, é que o eleitor faz a sua escolha seguindo a

orientação de quem paga a sua conta do dia. Na verdade a escolha do

eleitor não é de natureza política, ela é de natureza fisiológica. Melhor

dizendo não existe uma escolha, o que há é a imposição de uma

condição.

Noutro ponto, esta pesquisa buscou identificar as relações dos

governos municipais com o Governo do Estado nas três últimas

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administrações, relativamente ao posicionamento político-partidário e

constatou o que aparece no quadro 8 a seguir:

Quadro 8 – Relação Político-Partidária dos Governos Municipais com o Governo do Estado

Governo Estadual

Administração Municipal

de

Relações com o Governo do Estado da Época

Mesmo Partido

Coligação Oposição

Itamar Franco PMDB

99-20022001 a 2004 10% 36% 54%

Eduardo AzeredoPSDB

95-981997 a 2000 10% 27% 63%

Newton CardosoPMDB91-94

1993 a 1996 20% 50% 30%

O quadro mostra uma ligeira tendência de mudança política no Vale

do Jequitinhonha, com os governos municipais assumindo postura mais de

oposição ao governo estadual, rompendo com a tradição clientelista,

segundo a qual os governos municipais, normalmente, buscam conviver

numa relação de adesão, mesmo que forçada, ao Governo do Estado.

Esta pesquisa buscou, também, conhecer a relação político-

partidária das últimas administrações com a Câmara de Vereadores e o

resultado aparece no quadro 9 a seguir:

Quadro 9 – Relação Político-Partidária da Administração com a Câmara de Vereadores

Administração Municipal Formação da CâmaraSituação Oposição

Atual (2001-2004) 45% 55%Anterior (1997-2000) 64% 36%

Penúltima (1993-1996) 73% 27%

Os resultados mostraram uma tendência no sentido da redução do

nível de adesão das câmaras de vereadores à Administração Municipal.

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No atual mandato os prefeitos iniciam a gestão dos seus mandatos, na

sua maioria, com câmaras municipais de oposição. Estes resultados

indicam, ainda, que as Câmaras Municipais, sob o aspecto político-

partidário, permanecem mais conservadoras em relação aos executivos,

visto que a maioria dos prefeitos respondentes da pesquisa situa-se no

campo dos partidos chamados de progressistas. Resta verificar se,

durante o transcorrer do mandato, não haverá cooptação ou adesão

voluntária de vereadores à gestão municipal, anulando assim, o esforço

de oposição.

Com relação aos indicadores do Desempenho Institucional,

utilizados neste trabalho, observou-se o que segue, tomando cada um

deles separadamente:

Continuidade Administrativa

Este indicador buscou medir se os governos subseqüentes deram

ou darão continuidade aos projetos de governos anteriores. As respostas

dos prefeitos atuais indicam uma intenção clara de dar continuidade a

estes projetos. 73% dos prefeitos afirmaram que nenhum projeto do

governo municipal anterior a essa gestão será paralisado. É importante

ressaltar que esta afirmação foi assumida por 100% dos prefeitos de

partido político diferente daquele que estava no poder. Apenas três

administrações declaram a intenção de paralisar projetos da

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Page 79: IMES - Instituto Municipal de Ensino Superior de … Web viewCentro Universitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES Programa de Mestrado em Administração POLÍTICAS PÚBLICAS

administração anterior e nesses casos trata-se de governos que foram

reeleitos, ou seja, estão paralisando projetos de sua própria

administração. Tudo indica, nesses casos, que esses projetos serão

retomados futuramente, já que os motivos alegados para a paralisação

estão relacionados à falta de recursos ou problemas de projetos

executivos. São os casos da construção de uma Igreja em Felisburgo e da

construção de uma Usina de reciclagem de lixo em Araçuaí.

Das administrações que responderam ao questionário, 50% são de

governos que foram reeleitos, o que já indica um índice razoável de

continuidade administrativa. Vale, contudo, ressaltar que, apesar da

intenção dos atuais prefeitos em dar continuidade aos projetos das

gestões anteriores, a prática política no Vale do Jequitinhonha tem

deixado registros diferentes desta posição. Em entrevistas com a

população e líderes comunitários, quando de nossa viagem com

estudantes em 1998 e 1999, registrou-se uma imagem de

descontinuidade administrativa, de interrupção de projetos iniciados em

administrações adversárias, de perseguição a adversários políticos e,

assim por diante. São realmente animadores os sinais de mudança

observados. Naquela oportunidade, estivemos presentes em quatro das

cidades que agora responderam à pesquisa (Araçuaí, Itaobim, Minas

Novas e Pedra Azul) e em outras que não responderam a pesquisa (Berilo,

Chapada do Norte, Coronel Murta, Diamantina, Itinga, Ponto dos Volantes,

Serro e Turmalina); em todas elas a população aponta a questão de

descontinuidade administrativa como também responsável pelos

problemas locais. As falas da população e dos líderes comunitários podem

ser sintetizadas pelo que diz uma moradora: “Aqui é assim, meu filho,

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aquilo que um prefeito começa, o outro pára, não dá continuidade, isso

aqui é uma politicagem... é só briga que dá nojo.” Isso querendo dizer

que: sendo o governo que assume de um grupo político contrário ao

governo que sai, os projetos do anterior são, normalmente, paralisados.

Essa nova posição, dos prefeitos atuais, representa mudança de postura

no gerenciamento da atividade e do bem público e abre para a região

perspectivas concretas de desenvolvimento.

Presteza Orçamentária

Este indicador visou conhecer a capacidade do governo em ter seu

orçamento atualizado, bem como identificar o grau de envolvimento da

comunidade com o orçamento municipal e os procedimentos para sua

elaboração. A seguir, um perfil de como esta questão é tratada na região:

73% das atuais administrações mantêm, de alguma forma, a

população informada sobre as contas públicas do município.

Os meios de comunicação mais utilizados para informar a população

sobre o orçamento municipal são: a rádio local, as sessões da câmara e

reuniões com associações e sindicatos, indicados por seis dos onze

municípios respondentes; informativos, placas e quadros de aviso na

prefeitura, indicados por três das onze cidades e; jornal da administração,

página na internet e os conselhos municipais, indicados cada um por um

município.

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Na maioria dos municípios que informam à população sobre as contas

públicas, o processo iniciou-se a partir de 1997.

A periodicidade mais freqüentemente utilizada para essa informação é

mensal.

Com relação ao processo para elaboração do orçamento, o mais

comum é aquele que segue os padrões tradicionais: O executivo prepara

uma proposta, encaminha até o final do mês de setembro à Câmara

Municipal para discussão, emendas e aprovação até o final do exercício.

Alguns municípios utilizam o orçamento participativo envolvendo,

inicialmente, os conselhos comunitários que indicam as prioridades de

cada comunidade.

Outros municípios utilizam-se do trabalho de empresas de assessoria

especializados na feitura de orçamento público.

De maneira geral, o quadro atual apresenta pouca inovação no

modo de operar as contas públicas. Salvo raras exceções, prevalece o

modelo tradicional, mais preocupado com os aspectos formais. Observou-

se, também, a intenção dos gestores atuais em buscar alternativas para a

formulação do futuro orçamento municipal, de tal modo a envolver a

população na sua feitura.

Serviços Estatísticos de Informação

Este indicador buscou medir o nível de informação que a

administração municipal tem sobre as atividades do município e

necessidades da população. O quadro 10, na pagina seguinte, mostra os

resultados das pesquisa.

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Perguntou-se se o município possuía informações precisas sobre os

itens listados. Não foi preocupação deste estudo averiguar se a

informação estava ou não disponível, mais o nível de conhecimento do

gestor sobre a situação. Existindo

ou não a informação, por exemplo, em nível nacional ou estadual, é

irrelevante para efetividade da gestão local, se for desconhecida sua

existência e/ou utilidade. Excetuando a base das informações sobre a

oferta e déficit de vagas escolares, as administrações locais encontram-se

fragilizadas com relação a informações importantes para formulação de

planos de governo coerentes e sustentados. Significa que, em muitos

casos, as decisões de gestão são puramente intuitivas ou baseadas em

interesses pontuais. Duas das principais atividades da região, a produção

mineral e a produção artesanal, acontecem sem que a governança

municipal tenha conhecimento da sua real dimensão. Apenas para citar

dois exemplos! E aí, necessariamente, vem a questão: Como elaborar

políticas públicas para o desenvolvimento, ou tomar outras ações eficazes

próprias das relações de governo com o ambiente produtivo, se não

existem informações para subsidiar o gestor público?

Quadro 10 – Serviços Estatísticos e de InformaçãoÍtens Pesquisados O município possui informações

precisas?Sim Não

Oferta e déficit de vagas nas escolas 100% -Oferta e déficit de leitos hospitalares 64% 36%

Nível de emprego/desemprego 9% 91%Produção agrícola 55% 45%

Produção industrial 18% 82%Produção pecuária 55% 45%Produção mineral - 100%

Produção artesanal 18% 82%Condições de moradia 9% 91%Níveis pluviométricos 27% 73%Inadimplência fiscal 36% 64%

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Mortalidade infantil 82% 18%

Legislação Reformadora e inovação legislativa

Os presentes indicadores de desempenho institucional buscaram

examinar a produção legislativa, levando em conta a sua abrangência,

coerência e capacidade de proposição de soluções inovadoras. Apenas

quatro cidades atenderam a esta questão: Felisburgo, Minas Novas, Pedra

Azul e Presidente Kubitschek. No questionário pedia-se que fossem

informados os cinco principais projetos aprovados pela Câmara Municipal

anterior, destacando a abrangência de cada projeto, ou seja, para qual

público foi direcionado e em que área geográfica. Pedia-se, também, para

destacar o objetivo e metas de cada projeto. De maneira

geral, os projetos apresentados pelos legislativos municipais estão

voltados para as necessidades dos moradores das zonas urbanas e

comunidades rurais. Destacam o atendimento à criança, saúde,

educação, saneamento básico, cultura, moradia e melhoria das condições

de vida e produção na zona rural. O quadro 11, na página seguinte,

mostra os projetos apresentados.

Os projetos apresentados pela câmara municipal de Felisburgo,

mais direcionados às dimensões social e cultural, parecem ser bastante

identificados com as necessidades regionais. Apresentam certo grau de

inovação na medida em que atuam sobre o homem, colocando-o no

centro dos processos de mudança.

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Quadro 11 – Projetos aprovados pelas Câmaras MunicipaisProjeto/ Objetivo e Abrangência

Cidade: Felisburgo1. Assistência à Criança e ao Adolescente: Atender crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social na rua e no trabalho.2. Programa de Agentes Comunitários de Saúde – PACS: Diminuir a mortalidade e desnutrição infantil, dando assistência à gestante e acompanhamento à criança até os seis anos de idade.3. Projeto para Terra: Estruturar a vida de muitas famílias carentes que não têm onde morar e trabalhar. Aumentar a produção agrícola e incentivar o associativismo no campo.4. Ampliação do Sistema de Água e Esgoto: Melhorar as condições de saneamento básico na cidade.5. Proteção do Patrimônio Cultural do Município: Fornecer às comunidades, informações básicas sobre o patrimônio cultural e sua preservação. Preservar as manifestações culturais locais. Melhorar a qualidade de vida das comunidades e garantir o exercício da cidadania.

Cidade: Minas Novas1. Plurianual para o Período 1998/2001: Definir o planejamento do governo local para os três anos.2. Orçamento Anual do Município: Estimar as receitas e fixar as despesas do município.3. Pró-Moradia: Atender às famílias sem habitação ou com habitação de alto risco, moradores de baixa renda da sede do município e distritos de Baixa-Quente e Cruzadinha.4. Autoriza Convênio com a CEMIG: Atender necessidades de eletrificação em comunidades da zona rural.

Cidade: Pedra Azul1. Calçamento de Avenidas: Melhorar o tráfego no centro da cidade.2. Construção de Escola Municipal: Criar condições para que os moradores do bairro Plataforma freqüentem a escola próxima de sua residência.3. Construção da Policlínica: Propiciar melhores condições de atendimento 24h à comunidade em geral.4. Rede de Esgotos: Melhorar as condições de saneamento básico da zona urbana5. Curso Superior de Educação: Não definido.

Cidade: Presidente Kubitschek1. Eletrificação Rural: Contribuir para o desenvolvimento rural e fixação do homem no campo. Atende à comunidade Raiz.2. Eletrificação Rural: Idem. Comunidades Trinta Reis e Capela Velha.3. Implantação do Sistema de Tratamento de Água, Esgoto e Lixo Urbano: Contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população da sede do município.4. Pró-Café: Criar alternativas de geração de emprego e renda no município (comunidades rurais).5. Nucleação de Escolas Rurais, Transporte Escolar e Capacitação de Professores: Melhorar a qualidade de ensino no município, sede e comunidades rurais.

Serviços de atendimento à criança

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Este indicador busca avaliar a capacidade da administração em

implementar políticas que atendam às crianças. Os prefeitos atuais

identificaram que as duas administrações anteriores desenvolveram

projetos de atendimento à criança. Isto aconteceu em sete das onze

administrações que responderam ao questionário. Atualmente, 100% dos

municípios assumem que os projetos direcionados ao atendimento às

crianças são considerados prioritários para seus governos.

Ao analisar os projetos aprovados, pelas câmaras municipais na

legislatura anterior, nota-se que quatro, de um total de dezenove que

foram relacionados, estão diretamente identificados com a criança: um

trata da atenção para redução de risco na rua e no trabalho; outro da

redução de mortalidade e desnutrição e; dois outros estão ligados à

educação e transporte escolar. Pôde-se constatar, também, in loco

durante a viagem com estudantes por doze cidades da região em 1998 e

1999, a existência de alguns programas voltados à criança, nas áreas de

educação, saúde e proteção contra a exploração no trabalho, a exemplo

da Escola-família em Turmalina e outras cidades.

A Escola-família Agroindustrial de Turmalina é um projeto bastante

interessante. Utiliza a Pedagogia da Alternância. As crianças, divididas em

dois grupos, um masculino e outro feminino, alternam-se a cada quinze

dias entre atividades presenciais na escola e atividades na sua

comunidade e com a família. Em regime de semi-internato, quando estão

na escola, as crianças têm aulas teóricas pela manhã e à tarde vão a

campo para as aulas práticas. Nos quinze dias em que estão com a família

desenvolvem atividades junto à comunidade relativas a aplicação dos

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conhecimentos adquiridos na escola, conforme conta o professor Marcio

Antunes Maciel, ex-coordenador da escola.

O professor Marcio observa que tudo, na escola, funciona de

maneira integrada e sustentada, inclusive interagindo com outros

projetos e programas da municipalidade: A padaria da escola produz 2600

pães por dia, que além de atender as necessidades da própria escola,

abastecem outras escolas da rede municipal, na cidade e na zona rural.

Existe a criação de aves de engorda e aves de “postura”. Os ovos

abastecem a padaria, a cozinha e, outros são colocados para chocar. Dos

pintinhos que nascem, alguns ficam na escola para repor a criação e

outros são entregues aos alunos que os levam para casa. O esterco das

aves é utilizado para adubação das hortas. Os porcos são alimentados

com os restos das atividades da própria escola e sobras de merendas das

outras escolas públicas e creches, recolhidos todos os dias. Este sistema

atende 80% dos custos com alimentação dos porcos. Os animais são

abatidos, a carne é vendida e os recursos empregados na aquisição de

outras necessidades da escola, como: adubos, rações, medicamentos,

alimentação e outros complementos. A horta, também, atende às

necessidades de alimentação dos alunos da escola e de outras escolas e

creches municipais. O excedente é utilizado para alimentar os porcos e as

aves. A Escola-família Agroindustrial mantém, ainda, uma relação de

intercâmbio com um outro projeto local: o Centro de Agricultura

Alternativa Vicente Nica, que funciona como uma espécie de laboratório

para a capacitação de produtores agrícolas e desenvolvimento da

produção.

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No município de Araçuaí, pode-se observar a implementação de

alguns importantes serviços de apoio à criança, por exemplo: Na faixa

etária de 0 a 6 anos, o município atende 1.272 crianças em creches e pré-

escolas na zona urbana e na área rural, em parceria com as associações

comunitárias. Na faixa etária dos 7 aos 14 anos, o projeto “Ser Criança”

em parceria com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, a

Natura Cosméticos e o Colégio Nazareth. O projeto atende cerca de 200

crianças e visa desenvolver a auto-estima, a socialização, a

aprendizagem, a criatividade, a higienização e a cidadania.

Instrumentos de política de produção

Este indicador visa analisar como o governo local instrumentaliza o

apoio ao desenvolvimento da produção. Puderam ser constatadas poucas

ações no sentido de apoiar a produção. Dos dezenove projetos aprovados

pelas câmaras municipais na legislatura anterior, apenas um deles está

ligado ao desenvolvimento da produção, o Pró-café, em Presidente

Kubitschek, que visa criar alternativas de geração de emprego e renda no

município.

Durante a viagem com estudantes pela região em 1998 e 1999,

pôde-se observar a existência de alguns projetos para o desenvolvimento

da fruticultura irrigada, ainda incipiente, mas já mostrando resultados.

Um deles, o projeto Frutaboa, em Araçuaí, e que começa a se expandir

para outras cidades da região visa fomentar a produção de frutas típicas

da região, utilizando um sistema de irrigação. O governo local estruturou

o projeto com o apoio do FAT, Fundação Banco do Brasil, Caixa Econômica

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Federal e GTZ - entidade alemã que apóia formas alternativas de

produção agrícola. Depois de implantado o projeto é gerido pela

Associação dos Produtores, e a administração pública fica na retaguarda,

apenas como suporte. No município de Turmalina, pôde-se conhecer o já

citado, Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica, um bom exemplo

de apoio ao desenvolvimento da produção agrícola de forma integrada. O

centro funciona como um laboratório e como agente capacitador de

agricultores. Os agricultores locais recebem cursos de treinamento e

acompanham novos experimentos na produção e estocagem agrícola.

Na avaliação dos atuais prefeitos, as administrações anteriores

(última e penúltima) pouco fizeram no sentido de apoiar a produção. Ao

se perguntar quais seriam os projetos de apoio à produção prioritários em

seus governos, manifestaram-se como se segue: 100% acham que os

programas de apoio à produção agrícola são prioritários; 91% são a favor

de programas de apoio à produção artesanal/cultural; 55% acham que

devem apoiar a produção industrial; e 45% avaliam que devem apoiar a

produção da pecuária.

Nesse campo, a população reclama da falta de apoio institucional. O

senhor João dos Santos, de 78 anos, na zona rural em Itaobim, diz que

trabalha na roça plantando milho, feijão e mandioca, mas nunca recebeu

nenhum tipo de orientação e/ou apoio. Assim diz ele: “A vida aqui tá

atrapalhada... Aqui no nosso lugar, a gente não tem ajuda. A gente

peleja... peleja... e tá vivendo. Nunca fiquei sem fazer a minha rocinha.

Nasci e cresci nessas raízes e nunca parei, e não posso parar. Mas era

bom se a gente tivesse uma orientação”. Ouvindo a fala do senhor João,

frente-a-frente, fica a nítida impressão que ele sabe que poderia produzir

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mais. Só não sabe como. A sua manifestação demonstra ainda, que ele e

outros na sua mesma situação esperam que o gestor público forneça

algum de tipo de infra-estrutura de apoio a produção rural.

Muitas categorias de trabalhadores no Vale do Jequitinhonha -

Garimpeiros, artesãos, pequenos agricultores, comerciantes e

trabalhadores rurais – manifestam-se sobre as carências de apoio e

informação no seu campo de atuação e, normalmente, creditam todas as

dificuldades à inoperância do(a) prefeito(a).Isso pode ser observado nas

frases a seguir: “prefeito só lembra da gente na véspera da eleição...”;

“...a prefeitura não ajuda em nada...”; ” ...o prefeito só sabe cobrar

impostos e cuidar da parte dele...”. E assim vão as lamentações. Observa-

se que as pessoas esperam que o administrador público resolva o seu

problema em particular. E de certa forma esse posicionamento é

alimentado nas campanhas políticas através da distribuição de uma série

de pequenos favores e pequenas ajudas econômicas individuais.

Se são poucos os projetos de incentivo à produção, se persiste um

vazio na formulação de políticas públicas, a população parece não ter

uma noção muito clara sobre a questão. A não ser aqueles que estão

organizados em torno de uma associação. Cada um vê o poder público

muito mais como um protetor do seu interesse em particular do que como

fomentador de uma política setorial.

Instrumentos de Política de Saúde

Este indicador busca medir a capacidade do governo de investir e

implementar programas de saúde. Ao serem questionados sobre os

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projetos de atendimento à saúde, os gestores reconhecem, em 63% dos

municípios respondentes do questionário, que as gestões anteriores -

última e penúltima - implementaram serviços de atendimento à saúde.

Dos dezenove projetos aprovados pelas câmaras municipais da legislatura

anterior (1997/2001), cinco são relacionados à saúde: Programas de

Agentes Comunitários de Saúde, em Felisburgo, Sistema de água e

esgoto e lixo urbano, em Felisburgo, Pedra Azul e Presidente Kubitschek.

Em Araçuaí, pode-se verificar programas interessantes como o

serviço de saúde mental, que prioriza a saúde preventiva e presta

atendimento individual, atendimento de grupos, oficinas terapêuticas,

atividades de socioterapia, visitas domiciliares, atendimento à família,

atividades enfocando a integração e a (re)inserção do portador de

sofrimento mental ao meio. Outro programa é o UBAM – Unidade Básica

de Atendimento da Mulher. Este programa visa prevenir o câncer do colo

do útero e da mama, identificar e controlar doenças sexualmente

transmissíveis, desenvolver atividades de planejamento familiar e

incentivar o aleitamento materno. Outros programas foram identificados

em Araçuaí: Programa de saúde da família, o Sistema de Vigilância

Alimentar e Nutricional, Atendimento odontológico e serviço de vigilância

sanitária.

Apesar de alguns projetos serem importantes e até inovadores no

campo da saúde, trata-se de programas localizados. A região carece de

uma política integrada de saúde, capaz de combater, por exemplo, surtos

de determinada doença epidêmica. No geral, existe, ainda, carência de

leitos hospitalares, unidades básicas de saúde e médicos na região.

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Instrumentos de política de habitação e desenvolvimento urbano

Este indicador avalia os investimentos e os programas em melhoria

das condições das habitações da população. Ao analisar os projetos

aprovados pelas câmaras de vereadores das onze cidades que

responderam ao questionário, observa-se que quatro dos projetos são

relacionados à melhoria das condições de habitação e ao

desenvolvimento urbano. Trata-se do Pró-Moradia, que visa atender às

famílias sem habitação ou com habitação de alto risco, em Minas Novas;

tratamento de água, esgoto e lixo em Felisburgo, Pedra Azul e Presidente

Kubitschek. O desenvolvimento urbano foi colocado como prioridade por

73% dos atuais prefeitos e eles entenderam que, apenas, 50% das

gestões anteriores cuidaram deste problema.

De maneira geral, o que se pode observar nas três micro-regiões, é

um certo descuido do poder público com relação ao desenvolvimento

urbano e à moradia. Normalmente, as cidades são mal cuidadas nos

aspectos de limpeza, estética e saneamento básico.

Sensibilidade da burocraciaEste indicador mede a sensibilidade do governo em encaminhar com

eficiência as demandas do cidadão comum. Neste aspecto, a condição da

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região é bastante desfavorável. Das onze prefeituras que responderam à

pesquisa, apenas duas (Presidente Kubitschek e Araçuaí) reconheceram

ter sido criados mecanismos para facilitar o acesso dos munícipes às

informações sobre documentação, pagamentos de taxas e impostos.

Essas ações consistiram de divulgação através de rádio, TV, quadros de

aviso, impressos, reuniões com associações comunitárias e, ainda,

apresentações teatrais. O próprio fato desta pesquisa não ter sido

respondida por 80% das administrações reflete e revela a pouca atenção

dos governos locais em encaminhar e facilitar o atendimento das

necessidades de informação do cidadão comum.

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4.2 A região e a associatividade

Os onze municípios que responderam à pesquisa, apresentaram um

número bastante diversificado de associações e sindicatos. Foram 11

(onze) associações de produtores, normalmente pequenos produtores

agrícolas e produtores de bens artesanais; 105 (cento e cinco)

associações comunitárias, envolvendo associações de bairros,

associações comunitárias rurais, associações beneficentes e outras; 12

(doze) sindicatos de trabalhadores rurais, 1 (uma) associação de

profissionais liberais; 1 (um) sindicato de professores e 1(um) sindicato de

funcionários públicos municipais.

Durante nossa visita à região, pudemos constatar, em várias

cidades, a existência de um elevado número de associações profissionais,

culturais e comunitárias, estruturadas em nível local e também regional.

Uma delas, o CCVJ –Centro Cultural do Vale do Jequitinhonha, congrega

várias associações culturais locais para difusão de produção cultural

regional.

Do ponto de vista político-administrativo, a associatividade dos

municípios se dá a partir de três associações micro-regionais: AMAJE –

Associação dos Municípios da Micro-região do Alto Jequitinhonha, AMEJE –

Associação dos Municípios da Micro-região do Médio Jequitinhonha e

AMBAJE – Associação dos municípios da Micro-região do Baixo

Jequitinhonha. Essas associações foram criadas na década de 80 para dar

suporte político aos prefeitos no encaminhamento de suas reivindicações.

A idéia era que, atuando em conjunto, os prefeitos teriam mais força.

Tanto junto ao governo estadual quanto em nível federal. Com o passar

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do tempo, os objetivos das associações foram se desvirtuando e elas

passaram a atuar mais como agentes de assessoramento técnico às

prefeituras, desenvolvendo projetos de engenharia ou dando

encaminhamento a processos burocráticos em órgãos estaduais e

federais. Passaram a manter patrulhas de equipamentos e máquinas

pesadas para socorrer os associados nas necessidades municipais de

conserto de estradas, barragens, limpezas diversas, etc. Essa posição

mais conservadora e, clientelista assumida pelas associações,

certamente, empobreceu a sua natureza principal que deve ser buscar o

fortalecimento político da região.

O Sr. Edimundo Correia e Santos Júnior, atual presidente da AMEJE e

o Sr. Marcos Josevaldo Nunes, presidente da AMAJE, têm com bastante

clareza sobre qual deve ser o papel das associações micro-regionais. Para

eles, as associações devem ser articuladoras das políticas para o

desenvolvimento regional. Devem atuar em torno de projetos e propostas

regionais e não limitar a sua atuação às necessidades pontuais de

determinado município associado. O foco deve ser a organização regional,

fortalecimento político e busca de maior representatividade dos

municípios e da região no cenário estadual. A esse respeito, é importante

o depoimento de Maria do Carmo Ferreira da Silva, prefeita de Araçuaí e

ex-presidente da AMEJE: (sic) “Avaliamos nossa atuação à frente da

presidência da AMEJE como extremamente positiva, pois o trabalho de

discussão aberta com os outros administradores municipais da região,

independente de coloração partidária, nos proporciona uma supervisão ou

visão mais acurada da situação dos municípios do médio Jequitinhonha. E

esta compartilha de problemas comuns que resultou em muitos

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encaminhamentos de busca de soluções em conjunto, criando um

elemento facilitador nas reivindicações: o grupo. Não se tratava mais da

reivindicação individual do município a, b ou c, mas de um conjunto de 16

municípios com características e problemas comuns, localizados numa

mesma região historicamente exclusa das políticas dos governos Estadual

e Federal”.

Um outro exemplo de associatividade, com resultados bastante

positivos para a região, é o da FEDI - Fundação Educacional de Itaobim. A

FEDI foi criada com o objetivo de apoiar projetos educacionais na região

do Vale do Jequitinhonha. Foi em 1983 com a chegada do Padre Felici

Bontempi que surgiu a idéia de se criar um projeto que pudesse financiar

a formação universitária de jovens do Vale, firmando estes um

compromisso de desenvolver a sua profissão na terra natal. Este projeto é

parte de uma experiência já vivida pelo pároco na Itália. A ajuda

financeira viria de amigos e familiares italianos. Os jovens a serem

beneficiados seriam escolhidos em vista a sua carência econômica, sua

vontade de estudar e sua participação na vida da sociedade local. O

projeto visava ainda sensibilizar as prefeituras do Vale para que estas

pudessem assim assumir esta responsabilidade ou participar dela. Ao

longo do tempo, o projeto acabou por sensibilizar pessoas que passaram

a contribuir direta e indiretamente com as suas propostas. A Fundação

adquiriu um apartamento em Belo Horizonte em 1992 e passou a usar

outro, em 1993, no Rio de Janeiro, que foram fundamentais para a

formação universitária de muitos jovens. Inicialmente os estudantes

completaram o segundo grau, ou freqüentaram um curso de pré-

vestibular para que pudessem, assim, concorrer a uma vaga na

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universidade. Deste grupo, hoje já estão graduados: médico, enfermeiras,

párocos, farmacêutica, advogado, matemática, filósofo e alguns em

formação na área de biológicas, humanas e exatas. Jean Mark, um dos

beneficiados com o projeto esclarece que “a função deste grupo agora, é

manter viva esta idéia: dar direito ao jovem daquela região a freqüentar

universidades públicas e particulares, sobretudo dar direito a sonhar. É

com idéias assim que se forma cidadãos, e o povo do Vale percebe que

tem valor. Que é procurando conhecer melhor o lugar onde se vive que o

transformaremos”.

A FEDI continuou a acreditar no potencial do vale do Jequitinhonha

e criou o Centro Santa Luzia - em uma fazenda que já pertencia a

Fundação - que funciona como centro de convenções e funcionou como

escola profissionalizante. Neste ano, será implementado no Centro a

Escola Família. É uma idéia nova de escola, onde a família será parte

integrante dela, como uma extensão.

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4.3 A região, políticas sociais e

desenvolvimento

O desenvolvimento na região do Vale do Jequitinhonha, como em

qualquer outra região passa, necessariamente, pela capacidade dos

governos em implementar políticas públicas nos vários segmentos, que

atendam às necessidades da população e sejam coerentes com as

características e com os recursos regionais.

Seguindo a orientação da pesquisa de Putnam, entende-se neste

trabalho que o desenvolvimento da região depende do desempenho

institucional dos governantes e da ação associativa da comunidade cívica.

Neste sentido, propõe-se a implementação de políticas públicas e ações

de governos com as seguintes características:

Os planos dos novos governantes devem resgatar projetos do

antecessor em função do seu interesse público;

O orçamento público bem realizado e atualizado é um importante

instrumento para efetividade de ação administrativa do governo;

Para eficiência e eficácia da gestão pública há que se contar com

serviços estatísticos e informações precisas. O governo tem de conhecer

os mais variados aspectos da vida da população, suas necessidades e

potencial de recursos, o que efetivamente se produz ou deixa de produzir;

O legislativo deve ser criativo e inovador, buscando gerar projetos e

programas que economizem recursos e sejam abrangentes e coerentes

com a realidade local/ regional;

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Os governos eficientes devem criar infra-estrutura de serviços públicos

e políticas de apoio ao desenvolvimento da produção. Parcerias,

programas de capacitação profissional, estradas, programas de incentivo

ao associativismo, centros de comercialização de produção, são alguns

dos exemplos de ações.

Há que dirigir investimentos para implementar programas de saúde

que atendam a população urbana e rural, principalmente aqueles

programas de caráter preventivo;

Espera-se do poder público, programas efetivos de melhoria das

condições de moradia tanto na zona urbana quanto na rural;

O cidadão comum precisa ter sua vida facilitada. Compete à

administração pública criar mecanismos que ajudem os munícipes a

terem acesso rápido às informações e documentos de que necessitem.

Enquanto ao governo compete gerir a coisa pública com zelo,

competência e inovação buscando melhorar os serviços públicos de apoio

à comunidade, ao cidadão compete a organização associativa para se

fazer representar e adquirir maior poder de influência nas decisões

administrativas e políticas que vão interferir na sua condição de vida na

cidade e no campo. Também o poder público local associando-se em nível

regional adquire melhores condições para atuar no benefício de sua

comunidade e da comunidade regional.

Tendo a regionalidade como referência e orientando-se nas

propostas regionalistas de Scott destaca-se a necessidade de articulação

no sentido da formação de alianças estratégicas com base na entidade

regional (envolvendo, por exemplo, governos locais, associações

regionais, associações profissionais, órgãos do governo central e

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produtores individuais) como mecanismo para garantir uma unidade

produtiva em melhores condições de competição no ambiente

globalizado. Essas alianças devem privilegiar a produção de bens e

serviços com forte vínculo cultural dentro do próprio território e,

desenvolver estratégias de comunicação que valorizem a diferenciação

desses bens e serviços ampliando, assim, os mercados de consumo.

O artesanato é, certamente, uma categoria de produtos culturais

que poderia contribuir de maneira muito positiva para o desenvolvimento

econômico da região. Os seus artesãos são possuidores de altíssima

capacidade técnica e de elevada reserva de inventividade e imaginação;

existe uma sólida tradição na formação de novos trabalhadores culturais;

a produção apresenta um alto grau de identidade com a história e com a

cultura local e; existem vários núcleos de produção artesanal, distribuídos

pelo território. Essa produção artesanal acontece sem a orientação de

uma diretriz aglutinadora do interesse regional. Desconhece-se uma ação

conjunta efetiva para distribuição da produção e, tampouco uma ação

comunicativa direcionada a dar maior visibilidade à região e sua produção

cultural, como também, a criação de novos mercados de consumo. Os

esforços nesse sentido têm sido implementados de maneira isolada, por

instituições, grupos informais ou pessoas, individualmente. Além do

artesanato e, interagindo com ele, a região apresenta potencialidades

para a pequena indústria, principalmente, aquela que utiliza o

conhecimento acumulado pela tradição cultural da população. É o caso da

pequena produção de cachaça, farinha de mandioca, rapadura, queijos,

tijolos, telhas, sucos, doces e biscoitos. As atividades de turismo podem,

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também, representar importante fonte de recursos para a revitalização

regional.

A CODEVALE – Comissão de Desenvolvimento do Vale do

Jequitinhonha foi criada em 15 de dezembro de 1965 com a finalidade de

conhecer todos os serviços, atividades, programas e estudos de

competência dos municípios, do estado e da união e integrá-los pensando

no desenvolvimento regional. Segundo seu diretor geral, Edimar Antonio

Godinho Pimenta, “compete à CODEVALE planejar, elaborar e executar os

planos e programas pertinentes ao desenvolvimento do Vale, com

destaque à potencialização dos recursos locais, sobretudo os humanos,

para coordenar e orientar a aplicação de recursos nas diversas áreas”,

sejam esses recursos estaduais, federais ou de instituições internacionais.

Tivesse, a CODEVALE, cumprido esse papel, o Vale seria outro. Pode-se

constatar em entrevista com prefeitos e outra lideranças municipais, a

existência de um consenso reconhecendo a ineficácia da CODEVALE,

enquanto agente fomentador do desenvolvimento regional. A ação

reconhecidamente positiva destacada diz respeito à promoção e

distribuição do artesanato local. Nesse sentido, a CODEVALE, adquire as

peças para revenda, como também promove feiras e amostras buscando

ampliar o campo de venda desses produtos. Edimar Pimenta destaca dois

outros programas desenvolvidos pela CODEVALE: O PAPP - Programa de

Apoio ao Pequeno Produtor Rural, que consiste na realização de obras –

açudes, estradas, pontes, escolas, abastecimento de água – e orientação

técnica na elaboração de projetos comunitários, para implementação de

pequenas fábricas de farinha, rapadura, povilho e, incentivo a criação de

pequenos animais. Outro programa é o PARATERRA, destinado à

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aquisição de terras para o assentamento de famílias carentes sem terra.

Atualmente, discute-se a extinção da CODEVALE, sendo o seu patrimônio

e funções incorporados pelo IDENE – Instituto de Desenvolvimento do

Norte e Nordeste de Minas Gerais, a ser criado.

Efetivamente, nesses 39 anos de existência, a estrutura criada com

a CODEVALE não atendeu aos interesses do desenvolvimento regional e a

sua derrocada final é inevitável. Tarde, talvez. Também não será a sua

transformação, em um outro órgão, a solução para a situação-problema.

Entendemos que o melhor encaminhamento para o desenvolvimento do

Vale do Jequitinhonha passa pela articulação das lideranças locais e das

comunidades, a partir da problematização das suas dificuldades e

carências e, da potencialização dos recursos da região.

O exemplo organizativo da região do Grande ABC paulista – na sua

caminhada de revitalização - poderia servir de referência para a

organização do Vale do Jequitinhonha no seu processo de reestruturação

e desenvolvimento. No Grande ABC a ação regional conta com os

seguintes organismos:

O Consórcio Intermunicipal das Bacias do Alto Tamanduateí

e Billings, criado em 1990, é uma associação das sete prefeituras da

região, que nasceu voltado a gestão dos recursos hídricos e, hoje trata de

diversos temas regionais, por meio dos seus grupos de trabalho.

Representa o conjunto dos municípios em matérias de interesse comum,

planeja e executa ações prioritárias ao desenvolvimento regional e,

promove formas articuladas de gestão e planejamento para o

desenvolvimento da região.

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0 Fórum da Cidadania do Grande ABC, criado em 1995 pela

sociedade civil, com o objetivo de fortalecer a representação política da

região, promove ações e debates, por meio dos seus vários grupos de

trabalho e, fornece subsídios e propostas para solução dos problemas

regionais, ao sistema político formal.

A Câmara Regional do Grande ABC, criada em 1997, é uma

instância de articulação política que reúne: o governo do Estado, as sete

prefeituras, os parlamentares da região e a sociedade civil para definição

e implementação de ações regionais, que promovam o desenvolvimento

sustentável da região.

Por último, a Agência de Desenvolvimento Econômico do

Grande ABC, criada em 1998, para ser o braço executivo da Câmara

Regional em conjunto com o Consórcio Intermunicipal. Trata-se de uma

ONG mista, que tem como objetivo promover e fomentar o

desenvolvimento econômico sustentável da região. Dela fazem parte, o

Consórcio Intermunicipal, e segmentos representativos da sociedade civil

– Associações Industriais, Associações Comerciais, Empresas do Setor

Petroquímico, SEBRAE, Sindicatos dos Trabalhadores e Universidades da

região.

Embora sendo uma região com características bastante diferentes

da região exemplificada acima, o modelo organizativo impregnado da

participação civil e de discussões em torno da problemática regional,

poderia ser muito proveitoso para a formulação e implementação de

políticas sociais voltadas ao desenvolvimento sustentável do Vale do

Jequitinhonha.

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CONCLUSÃO

A análise das informações sobre a região do Vale do Jequitinhonha

permite concluir que, é possível identificar nessa área três regiões com

características particulares e que se complementam em torno da idéia de

totalidade, principalmente pela sua referência cultural.

As informações permitem, ainda, concluir que sob o aspecto

político-administrativo, a região passa por um processo de mudança. O

velho modelo conservador e clientelista, tido como padrão local de fazer

política e ainda em evidência está, aos poucos, sendo superado.

Atualmente muitos municípios são administrados por meio de modelos

mais dinâmicos, participativos e comprometidos com as causas populares

e regionais. Alguns são os sinais dessas mudanças: Em pelo menos três

municípios de treze visitados, as contas públicas são efetivamente

tornadas públicas, por meio de placa, boletins, página na internet e pela

imprensa; em alguns municípios o orçamento passou a ser elaborado com

a participação de conselhos comunitários; as mulheres sempre colocadas

numa posição política inferior despontam e estão no comando da

administração, em prefeituras da região; dois prefeitos que também são

presidentes de associações de municípios vêem o papel das associações

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mais voltado para a articulação de políticas para o fortalecimento e

desenvolvimento regional e não como uma instância assistencialista.

Situações e/ou posições com estas não eram normais à uma década

atrás.

A partir destas constatações, abrem-se amplas perspectivas para o

desenvolvimento local e regional, embora haja que se considerar a

existência de muitas dificuldades a serem vencidas. Principalmente

aquelas relacionadas à velha concepção do modo de fazer política. Há, aí,

uma grande barreira cultural a ser vencida; a superação do modelo

tradicional, paternalista, dominante e centralizador e a construção de

uma nova cultura política regional baseada na flexibilidade, na integração

e na autodeterminação regional. Essa nova visão pressupõe a formulação

de políticas sociais, voltadas para o desenvolvimento regional integrado e

sustentado tendo como pano de fundo a vocação local. Para a formulação

dessas políticas sociais, capazes de realizar mudanças de qualidade na

vida das pessoas, faz-se necessária a participação coletiva da sociedade

civil discutindo e propondo ações abrangentes e transformadoras.

As características naturais da região e a tradição de seu povo

apontam o seu potencial para o desenvolvimento de atividades

produtivas necessárias à revitalização regional nos seguintes segmentos:

Indústria moveleira, notadamente em parte da micro-região do Alto

Jequitinhonha, com o aproveitamento da madeira das extensas

plantações de eucalipto;

Agroindústrias para produção de queijo, manteiga, farinha de

mandioca, rapadura, aguardente, sucos, etc;. Aproveitando o

conhecimento da população e as características naturais da região;

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Exploração e processamento (sustentado) de granito face às reservas

existentes;

Ecoturismo e turismo histórico. O primeiro em praticamente toda a

região e, o segundo especificamente na micro-região do Alto

Jequitinhonha;

Centros de comercialização e divulgação do artesanato local, um dos

principais bens culturais da região;

Processamento de pedras semipreciosas criando melhores condições

de comercialização da produção local.

Indústria oleira para produção de telhas, tijolos e congêneres.

Além de abrigar importantíssimo patrimônio histórico-cultural, a

área conta com uma formação geológica que proporciona belas paisagens

e oportunidades de lazer, seja pela sua formação rochosas, seja pelas

suas praias fluviais. Uma política que articulasse programas nas áreas de

cultura e turismo, poderia trazer importantes resultados para o

desenvolvimento regional.

De maneira geral, o que se conclui é que a região do Vale do

Jequitinhonha apresenta condições bastante viáveis para um processo de

desenvolvimento. Apesar das características pluviométricas

desfavoráveis, a região apresenta outras características naturais e de

cultura que podem favorecer o surgimento de projetos de

desenvolvimento ancorados no campo do turismo, da produção artesanal

e da pequena indústria. Esse processo de desenvolvimento requer,

contudo, políticas que garantam uma infra-estrutura básica para melhorar

as condições de vida das pessoas e o funcionamento das atividades

econômicas. Notadamente, deve haver investimentos para ampliar e

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modernizar: estradas, meios de comunicação, abastecimento de água e

saneamento, irrigação, geração de energia elétrica, conservação

ambiental, educação, unidades de saúde, capacitação de pessoal, como

medidas mais emergentes. Pelo que se pode observar há uma carência

de políticas públicas, em nível das três instâncias de governo, para o

desenvolvimento regional integrado e sustentado. As ações são muito

mais emergenciais e paliativas, o que tem deixado a região em um alto

grau de dependência em relação ao governo central.

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Anexo 1QUESTIONÁRIO

A. Identificação

Nome da Cidade:Micro região: ( )Alto Jequit. ( ) Médio Jequit. ( ) Baixo Jequit.

Cargo ou função do respondente:Órgão/representação a qual o respondente está vinculado:

B. Questões

1. Anote nos espaços correspondentes os partidos que estiveram no poder nas duas últimas administrações municipais e o partido que estará governando na próxima administração. Depois assinale com um “X” qual a relação entre esses partidos e o Governo Estadual.

Administração Municipal

Partido Relações com o governo do Estado da época

(assinale com x)Mesmo partido

Coligação Oposição

Próxima administração-2001

[ ] [ ] [ ]

Administração anterior [ ] [ ] [ ]Penúltima administração [ ] [ ] [ ]

2. Assinale com um "X" qual foi a formação da Câmara de Vereadores nos dois últimos mandatos e qual será a formação da Câmara para a próxima administração .

Administração MunicipalNa formação da

Câmara a maioria é da situação

Na formação da Câmara a Maioria é

da Oposição Próxima administração (2001) [ ] [ ]Administração anterior [ ] [ ]Penúltima administração [ ] [ ]

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3. Agora, pensando na esfera estadual, anote o NOME e o PARTIDO dos Deputados Estaduais mais votados na sua cidade, nas três últimas eleições e qual a cidade ou região domicílio eleitoral de cada um deles.

Legislatura

Anote o NOME do deputado Anote o PARTID

O

Anote o DOMICÍLIO ELEITORAL do

deputado atualanteriorlegislatura

4. Na sua cidade, existe algum projeto do governo municipal anterior a essa administração que será paralisado. ( ) 1. Sim - responda questão 4.a. ( ) 2. Não – vá para a questão 5

4.a. Se sim, anote o nome do(s) projeto(s) que será ou serão foram paralisado(s) e o principal motivo da paralisação de cada um deles.

Nome do projeto paralisado Anote, para cada projeto, apenas o que considera ser o principal motivo da sua paralisação

1)

2)

3)

5. O governo local mantém, de alguma forma, a população informada sobre as contas do município?

[ ] 1. Sim - vá para questão 6 [ ] 2 Não – vá para a questão 96. Se sim na questão anterior, assinale quais são as formas de

comunicação

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utilizadas para informar a população?

( ) 1. Jornal da cidade ( ) 2. Rádio local ( ) 3. Televisão local( ) 4. Sessões da Câmara( ) 5. Reuniões em associações, sindicatos ou cooperativas( ) 6. Informativos encaminhados para associações, sindicatos ou cooperativas( ) 7. Placas ou Outdoor( ) 8. Faixas( ) 9. Cartas encaminhadas aos munícipes e outros segmentos da sociedade( ) 10. Outra forma não indicada acima. Anote qual ____________________ ___________________________________________________________

7. Desde que ano, o governo local vem informando a população sobre suas contas?

[____|____|____|____] anote o ano

8. Assinale com que periodicidade esse governo informa a população sobre suas

contas?

ASSINALE APENAS A PERIODICIDADE MAIS FREQUENTEMENTE

UTILIZADA.

( ) 1. periodicidade semanal ( ) 2. periodicidade quinzenal ( ) 3 .periodicidade mensal ( ) 4. periodicidade bimestral ( ) 5. periodicidade trimestral ( ) 6. periodicidade semestral ( ) 7. periodicidade anual ( ) 8. Outra periodicidade. Anote qual_________________________

9. Vamos pensar na forma como é elaborado o orçamento de um município.

Descreva, resumidamente, como é elaborado o orçamento da sua cidade? Você

pode anotar, por exemplo, em que época é elaborado o orçamento, como as pro-

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postas são encaminhadas, quanto tempo demora, quando e onde é levado para a

aprovação, tempo para a aprovação, etc.

10. A forma de elaborar o orçamento da sua cidade já foi diferente desta queacabou de escrever? ( ) Não ( ) Sim. Poderia descrever como era __________________________ ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. Por favor, anote quem participa da elaboração do orçamento municipal de sua Cidade, ou seja, quais os cargos dos participantes desse processo?

12. A elaboração do orçamento sempre foi realizada por quem indicou acima?

[ ] 1. Sim, sempre foi assim [ ] 2. Não, já foi diferente. Poderia descrever por quem era elaborado o orça- mento de sua cidade?

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13. O quadro abaixo apresenta alguns itens que podem ou não compor um banco de informações sobre um município. Essa prefeitura mantém algum banco de dados contendo informações coletadas de forma precisa e que possa ser usado como fonte de dados sobre os itens descritos abaixo?

Assinale com um [ X ]ITENS Sim Não

Oferta e déficit de vagas nas escolas [ ] [ ]Oferta e déficit de leitos hospitalares [ ] [ ]Nível de emprego / desemprego [ ] [ ]Produção agrícola [ ] [ ]Produção industrial [ ] [ ]Produção pecuária [ ] [ ]Produção mineral [ ] [ ]Produção artesanal [ ] [ ]Condições de moradia [ ] [ ]Níveis pluviométricos [ ] [ ]Inadimplência fiscal [ ] [ ]Mortalidade infantil [ ] [ ]

14. Agora, no quadro a seguir, anote os nomes/temas dos 05 principais projetos aprovados pela Câmara Municipal anterior, destacando a abrangência de cada projeto, ou seja, para que público foi direcionado e em que área geográfica. Destaque, também, qual o objetivo ou meta de cada projeto.

Nº Nome/ tema do projeto Abrangência objetivo

1.

115

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2.

3.

4.

5.

15. O quadro a seguir apresenta alguns itens que podem ser ou não projetos realizados pela sua cidade. Indique se, entre esses itens, existe algum projeto realizado pelo penúltimo governo.

Projetos do atual governoAssinale com um [ X ] os projetos realizados pelo

penúltimo governoApoio à produção industrial [ ]Apoio à produção artesanal/cultural

[ ]

Apoio à produção agrícola [ ]Apoio à produção pecuária [ ]Projeto de atendimento a saúde [ ]Projeto de atendimento a criança [ ]Projeto de desenvolvimento urbano

[ ]

116

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Projeto de saneamento básico [ ]Outro. Anote qual._______________ [ ]

16. Ainda em relação aos mesmos itens apresentados, indique se o governo anterior realizou algum projeto.

Projetos do governo anteriorAssinale com um [ X ] os projetos realizados pelo

governo anteriorApoio à produção industrial [ ]Apoio à produção artesanal/cultural [ ]Apoio à produção agrícola [ ]Apoio à produção pecuária [ ]Projeto de atendimento a saúde [ ]Projeto de atendimento a criança [ ]Projeto de desenvolvimento urbano [ ]Projeto de saneamento básico [ ]Outro. Anote qual._______________ [ ]

17. Agora, na sua opinião quais seriam os projetos prioritários do futuro governo (2001), ainda em relação aos mesmos itens?

Projetos do futuro governoAssinale com um [ X ] os projetos prioritários do

futuro governoApoio à produção industrial [ ]Apoio à produção artesanal/cultural [ ]Apoio à produção agrícola [ ]Apoio à produção pecuária [ ]Projeto de atendimento a saúde [ ]Projeto de atendimento a criança [ ]Projeto de desenvolvimento urbano [ ]Projeto de saneamento básico [ ]Outro. Anote qual._______________ [ ]

18. Na sua cidade, nos últimos 4 anos?, foram criados mecanismos ou formas

que auxiliassem o munícipe a ter acesso às informações sobre documentação,

pagamentos de taxas, impostos, etc.?

117

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[ ] 1. SIM - responda questão 18.a [ ] 2. NÃO – vá para a questão 19

18.a . Quais seriam esses mecanismos ou formas?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

19. Gostaria que anotasse quais os nomes das associações, sindicatos e cooperativas que existem no município. Por favor, identifique da forma mais completa possível.

Associações: 1. ________________________________________________________2. ________________________________________________________3. ________________________________________________________4. ________________________________________________________5. ________________________________________________________

(e assim por diante)

Sindicatos1. ________________________________________________________2. ________________________________________________________3. ________________________________________________________4. ________________________________________________________5. ________________________________________________________

(e assim por diante)

Cooperativas:

1. ________________________________________________________2. ________________________________________________________3. ________________________________________________________4. ________________________________________________________5. ________________________________________________________

(e assim por diante)

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Page 119: IMES - Instituto Municipal de Ensino Superior de … Web viewCentro Universitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES Programa de Mestrado em Administração POLÍTICAS PÚBLICAS

Anexo 2DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS

AMAJE – Associação de Municípios da Microregião do Alto Jequitinhonha

População Produto Interno Bruto – PIB

Município 1996 2000Evolução96-2000

Urbana2000 1970 1990 1996

Evolução1970-96

Evolução1990-96

PIB 1996per capita

(hab.) (hab.) (% anual) % (US$) (US$) (US$) (% anual) (% anual) (US$)Angelândia 5 300 7 470 8,96 43 - - - - - -Aricanduva 3 862 4 254 2,45 25 - - - - - -Capelinha 28 359 31 014 2,26 64 7.020.375 44.355.995 54.348.199 8,19 3,44 1.752Carbonita 9 084 8 928 -0,43 62 3.727.148 8.806.040 18.309.316 6,31 12,97 2.051Coluna 8 634 9 993 3,72 36 5.382.306 5.807.920 9.145.234 2,06 7,86 915Couto de Magalhães de Minas 4 232 3 679 -3,44 90 1.329.934 7.916.215 9.879.354 8,02 3,76 2.685Datas 5 063 5 037 -0,13 52 1.412.228 3.706.932 5.796.981 5,58 7,74 1.151Diamantina 43 405 43 305 -0,06 86 46.016.971 84.919.770 86.739.219 2,47 0,35 2.003Felício dos Santos 5 565 5 729 0,73 35 2.190.463 5.609.044 9.023.637 5,60 8,25 1.575Gouvêa 11 424 11 675 0,54 66 11.260.326 16.653.823 21.070.512 2,44 4,00 1.805Itamarandiba 28 445 29 170 0,63 60 75.662.955 30.448.111 34.017.129 -3,03 1,86 1.166Leme do Prado 4 512 4 712 1,09 33 - - - - - -Minas Novas 28 934 30 630 1,43 25 14.658.351 18.381.661 45.221.935 4,43 16,19 1.476Presidente Kubitschek 2 554 2 948 3,65 59 842.050 2.406.627 4.351.882 6,52 10,38 1.476Rio Vermelho 15 342 14 910 -0,71 34 10.777.448 5.827.916 11.516.188 0,26 12,02 772São Gonçalo do Rio Preto 8 524 8 442 -0,24 45 - 1.538.949 4.539.177 - 19,75 538Serra Azul de Minas 4 016 4 191 1,07 40 2.913.575 1.447.926 3.027.898 0,15 13,08 722Serro 20 374 21 004 0,76 56 10.273.995 20.979.809 26.585.899 3,72 4,03 1.266Turmalina 15 932 15 644 -0,46 65 6.948.022 21.540.785 30.395.032 5,84 5,91 1.943Veredinha 5 239 5 262 0,11 59 - - - - - -

TOTAL 258 800 267 997 0,88 56 200.416.148 280.347.521 373.967.592 2,43 4,92 1.395

AMEJE – Associação de Municípios da Microregião do Médio JequitinhonhaPopulação Produto Interno Bruto – PIB

Município 1996 2000Evolução96-2000

Urbana2000 1970 1990 1996

Evolução1970-96

Evolução1990-96

PIB 1996per capita

(hab.) (hab.) (% anual) % (US$) (US$) (US$) (% anual) (% anual) (US$)Araçuaí 34 651 35 439 0,56 57 17.032.945 37.603.848 46.622.214 3,95 3,65 1.316Berilo 13 089 12 989 -0,19 23 6.656.629 8.357.338 17.316.392 3,75 12,91 1.333Cachoeira de Pajeú 9 188 8 520 -1,87 37 1.718.001 6.667.586 7.225.464 5,68 1,35 848Chapada do Norte 14 481 15 220 1,25 32 5.281.751 4.476.222 8.310.998 1,76 10,86 546Comercinho 10 216 8 705 -3,92 34 2.711.104 4.128.180 3.304.419 0,76 -3,64 380Coronel Murta 9 699 9 124 -1,52 71 3.611.099 10.164.561 18.440.056 6,47 10,44 2.021Francisco Badaro 10 350 10 294 -0,14 24 7.313.819 13.976.224 15.884.620 3,03 2,16 1.543Itaobim 21 724 21 258 -0,54 76 17.074.023 24.564.448 30.604.712 2,27 3,73 1.440Itinga 14 561 13 836 -1,27 41 10.618.140 12.431.076 20.283.921 2,52 8,50 1.466Jenipapo de Minas 7 025 6 461 -2,07 31 - - - - - -José Gonçalves de Minas 4 460 4 706 1,35 17 - - - - - -Medina 20 818 21 600 0,93 67 9.930.646 16.835.945 18.967.577 2,52 2,01 878Novo Cruzeiro 26 564 30 441 3,46 28 - - - - - -Padre Paraíso 17 221 17 466 0,35 61 - - - - - -Ponto dos Volantes 9 505 10 524 2,58 29 - - - - - -Virgem da Lapa 13 788 13 661 -0,23 43 9.930.646 16.835.945 12.336.009 0,84 -5,05 903

TOTAL 237 340 240 244 0,30 46 91.878.802 156.041.373 199.296.382 3,02 4,16 830

AMBAJE – Associação de Municípios da Microregião do Baixo JequitinhonhaPopulação Produto Interno Bruto – PIB

Município 1996 2000Evolução96-2000

Urbana2000 1970 1990 1996

Evolução1970-96

Evolução1990-96

PIB 1996per capita

(hab.) (hab.) (% anual) % (US$) (US$) (US$) (% anual) (% anual) (US$)Águas Vermelhas 10 894 11 864 2,16 68 7.243.813 23.576.610 36.102.865 6,37 7,36 3.043Almenara 32 728 35 356 1,95 79 25.944.936 38.474.907 47.653.760 2,37 3,63 1.348Curral de Dentro 5 160 5 966 3,70 60 - - - - - -Divisópolis 5 877 6 433 2,29 76 - 3.640.939 7.553.786 - 12,93 1.174Felisburgo 7 356 6 231 -4,06 73 2.389.959 9.709.749 9.508.175 5,45 -0,35 1.526Jacinto 11 850 12 067 0,45 72 7.211.389 16.646.285 20.783.023 4,16 3,77 1.722Jequitinhonha 23 457 22 855 -0,65 70 10.196.662 129.432.500 35.251.601 4,89 -19,49 1.542Joaima 14 892 14 559 -0,56 71 8.917.227 19.531.986 23.312.626 3,77 2,99 1.601Jordânia 10 112 9 869 -0,61 72 5.084.571 21.319.939 17.519.684 4,87 -3,22 1.775Mata Verde 6 403 7 056 2,46 80 - 3.262.316 8.691.344 - 17,74 1.232Monte Formoso 4 067 4 418 2,09 31 - - - - - -Palmópolis 7 350 10 706 9,86 59 - 2.435.571 9.586.452 - 25,65 895Pedra Azul 23 176 23 568 0,42 85 13.767.396 32.110.047 41.077.376 4,29 4,19 1.743Rio do Prado 5 770 5 384 -1,72 54 4.775.541 5.040.282 5.446.625 0,51 1,30 1.012Rubim 9 959 9 642 -0,81 78 7.331.055 123.675.074 117.975.743 11,28 -0,78 12.236Salto da Divisa 7 393 6 813 -2,02 82 5.768.210 15.272.123 22.575.059 5,39 6,73 3.314Santa Maria do Salto 5 024 5 283 1,26 69 3.012.194 4.543.568 6.941.427 3,26 7,32 1.314Santo Antônio do Jacinto 11 222 12 129 1,96 50 5.045.045 17.803.475 7.423.514 1,50 -13,57 612

TOTAL 202 690 210 199 0,91 71 106 688 098 466 475 543 417.403.275 5,39 -1,84 1.986Fontes: Microregiões e municípios: conforme relação fornecida. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Contagem da População-1996 e Censo Populacional-2000. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada: PIB dos Municípios em US$ de 1998. Elaborado por Joaquim Antonio Andrietta

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