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N. 2 - 1. semestre de 2000 CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES 1

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N. 2 - 1. semestre de 2000

CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES

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N. 2 - 1. semestre de 2000

CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES

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EXPEDIENTE

CADERNO DE PESQUISA CEAPOG/IMES

Programa de Mestrado em AdministraçãoCEAPOG – Centro de Estudos de Aperfeiçoamento e Pós-Graduação do IMES -Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul

Ano 1 – N. 21. semestre de 2000ISSN 1517-820X

Diretor da MantenedoraProf. Marco Antonio Santos Silva

Reitor do Centro UniversitárioProf. Laércio Baptista da Silva

Pró-reitoresProf. Carlos Alberto de Macedo (Graduação), Prof. Dr. Sílvio Minciotti (Pós-Graduação e Pesquisa) eProf. Joaquim Celso Freire Silva (Comunitária e Extensão)

CEAPOG

Coordenador GeralProf. Dr. Silvio Minciotti

Coordenador do Laboratório de Gestão da Sociedade RegionalProf. Dr. Luiz Roberto Alves

EditorProf. Dr. Roberto Elísio dos Santos (MTb – 15.637)

SecretáriasRoseli Tamiazi, Neusa Aparecida Marques e Marlene Forestiere de Melo

Estagiárias do Laboratório de Gestão da Sociedade RegionalTelma Tania V. F. de Carvalho, Lígia Roza e Leticia Lopez

RevisãoSimone Zaccarias

CorrespondênciaIMES – Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do SulA/C Caderno de Pesquisa CEAPOG-IMESAvenida Goiás, 3400São Caetano do Sul – São Paulo – BrasilCEP 09550-051E-mail: [email protected]

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SUMÁRIO

Crônica

Cotidianíssimo (Prof. Joaquim Celso Freire Silva).............................................................................4

Introdução

Prof. Dr. Luiz Roberto Alves................................................................................................................5

Normas para apresentação de trabalhos...............................................................................................6

Artigos

1. Grande ABC: regionalidade e história cultural em questão (Prof. Dr. Luiz Roberto Alves).........7

2. Megacidades: uma proposta para o eixo Tamanduatehi (Prof. Angélica Benatti Alvim/Prof. Enio Moro Junior/Prof. Mario Figueroa).................................................................................... 14

3. Reinventando o planejamento regional em um contexto de reestruturação econômicalocal: o caso da Região do Grande ABC (Prof. Dr. Jeroen Klink)....................................................... 22

4. Comunicação nas organizações voltadas para a qualidade (Prof. David Garcia Penof)................. 28

Seminários

II Seminário Interno............................................................................................................................. 32

1. Planejamento econômico regional (Claudia Polo Denadai Gonçalves/Carlos Rogério Prado/Francisco F. da Silva)........................................................................................................................... 33

2. Inclusão social e cidadania no século XXI (Maria Aparecida R. Belezi/Carlos Eduardo Ferrari)........................................................................................................................ 40

3. Políticas públicas de Cultura (Telma Tania V. F. de Carvalho)....................................................... 48

Resenha

COMPANS, Rose. “O paradigma das global cities nas estratégias de desenvolvimento local”(Telma Tania V. F. de Carvalho).......................................................................................................... 55

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Cotidianíssimo

CRÔNICA

Prof. JOAQUIM CELSO FREIRE SILVA*

* Professor do IMES e da FSA; coordenador de Comunicação do IMES, poeta e aluno do PMA doCEAPOG-IMES.Ilustração: Rodrigo Dias Arraya, desenhista e publicitário e aluno do curso de Publicidade e Propagandado IMES.

Subindo uma ladeira de pés no chãoCorrendo atrás de uma bola de pano(feita com uma meia que já deixavanu o calcanhar do pai)Tecendo os fios do algodãocolhido ano passadoPreparando a terra para quandoa chuva chegarSentado ou em pé numa sala deaulaAbrindo o armazém numa ruaqualquerJogando conversa numajanela ou num barTocando boiada pra outrainvernadaEscrevendo uma carta pro filhode longeAmassando o barro e construindoesperançaOuvindo prosa de gente mais velhaRezando novena em comunhãode féCantando modinhas e riscando violasFazendo quitutes pro café da manhãRegando angélicas ao entardecerPulando num rio de águas (ainda) cristalinasTomando uma pura caninha de engenhoLigando o rádio na “Voz do Brasil”…

Vive uma gente que ama e faz o seu lugar.

Descendo de terno do décimo andarEnfrentando o trânsito letárgico de todo dia

Fazendo o “B.O.” do último assaltoComprando um presente no shopping-centerRecebendo e enviando precisos “e-mails”Marcando ofegante o eletrônico pontoVivendo aventuras num videogameSaindo de casa apressado e ao celularPagando alguma prestação vencidaEsperando numa fila de escassoempregoAnalisando o relatório das vendas domêsFechando os vidros em um cruzamentoLendo as últimas notícias do dia

Maldizendo o voto da última eleiçãoConstruindo prédios e vendendomiçangasDiscutindo economia, competitividade,e globalizaçãoApertando botões na sessão demontagem

Criando modernas tecnologias e sistemasFazendo apressado um trabalho escolarEsperando o domingo pra nada fazerBebendo um bom vinho português“Speaking in English” e “hablando en Español”…

Vive uma gente que faz e ama o seu lugar.

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INTRODUÇÃO

Prof. Dr. LUIZ ROBERTO ALVES*

AS MEGACIDADES E A COMPLEXA TAREFA DE CONSTRUÍ-LAS

A tarefa que consiste na revitalização das cidades e regiões será muito complexa. Apesar dobombardeio de informações áudio-visuais que nos anunciam a vida facilitada. Ora, como seria fácilcombinar a mudança de sistemas administrativos e tecnológicos com a conquista de uma nova atitudediante da cidade? Fica evidente, pois, que a vida virtual glamurizada pela mídia e pelos outdoors nãoresiste a três dias de falta d’água, a um assalto ou à fila de hospital. Parece que convivemos com o céu einferno, diariamente.

Mas não é assim. A vida nas megacidades, nas metrópoles, escapará das dicotomias tradicionaispor uma nova consciência superadora do cômodo ou incômodo, do bem/mal, da felicidade e seucontrário. No lugar dessa sensação de vida dividida (que para a maioria dos segmentos sociais significapouquíssima alegria e muito enfado) o que se espera de nós, megacidadãos e megacidadãs, é a amplia-ção dos sentidos que nos educaram e nos treinaram a viver nesses espaços em contínua construção.Um novo sentido para o uso dos equipamentos coletivos, a melhor compreensão do fim das fronteirasentre urbes, a avaliação adequada dos investimentos na construção das coisas públicas e a criação decritérios para compatibilizar (e esclarecer!) o que é privado e o que é público.

Quando participamos do congresso de Hong Kong denominado Megacities (fevereiro de 2000),ouvimos sistematicamente o discurso da consciência da cidade, do resgate da pessoa na metrópole, decomo conciliar o desenvolvimento “com a criação de passarinhos e a plantação de verduras na casa”.

Que fiquem de fora os mitos que nos embalaram, ou seja, que as tecnologias necessariamentefacilitariam a vida, que a democratização do todo social traria governos melhores às cidades, que asintervenções dos especialistas resolveriam os problemas dos centros e dos bairros em que vivemos epor onde passamos. Ninguém e nada nos salvará fora da criação de novas formas de participação econsciência. Mais vigilância e melhor inteligência sobre a cidade plural e complexa que nos abriga.Consciência de que a ação política que vige sobre as cidades ainda é medíocre.

O presente caderno de pesquisa do IMES, agora Centro Universitário, trata da nossa grandecidade sem fronteiras físicas, mas repleta de fronteiras de conhecimento, éticas, políticas. Elas setornam laboratórios para inovações técnicas e sociais, mas acima de tudo ainda devem ser o nossolugar de viver e conviver. E aí residem as grandes questões. Devemos acompanhar os projetos demudança com atitude crítica, pautada por valores coletivos e a melhor capacidade avaliadora.

Assumir a complexidade, considerar que vivemos na cidade multicultural, exigir direitos pes-soais, avaliar cada projeto e cada processo, demandar políticas públicas prioritárias, produzir memóriada história metropolitana. Fazer história.

Não obstante diversos e diferentes, os textos básicos deste caderno sugerem a criação de novasensibilidade para com a cidade, condição para que as intervenções técnicas e políticas, mais a memó-ria acumulada, não nos alienem das responsabilidades, direitos e deveres, mas ao contrário, os torneminadiáveis. Assumir a cidade, ser cidadão da polis, é tarefa para já.

* Professor e pesquisador da USP e do IMES; coordenador do Laboratório de Gestão da SociedadeRegional do CEAPOG/IMES, e autor de, entre outras publicações, Culturas do Trabalho – comunica-ção para a cidadania (Santo André: Alpharrabio Edições, 1999).

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NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS

Os artigos acadêmicos enviados à Comissão Editorial do Caderno de Pesquisa do CEAPOG-IMES devemseguir às seguintes normas:

1. Ser entregues em disquete (Word 6.0), com cópia impressa anexa;2. Ser digitados em corpo 12, espaço duplo (com endentação de 12,4 mm na primeira linha de cada parágrafo),

fonte Times New Roman, alinhamento justificado;3. Conter: Resumo e 3 palavras-chave, em português e inglês (Abstract e Key words);4. Indicar as citações: os autores referidos no corpo do texto (nome do autor, ano de publicação e página da

citação) devem ter obrigatoriamente referência completa na bibliografia básica, no final do texto. O autor deveconferir as informações das citações com as da bibliografia.

5. Conter bibliografia, com a seguinte padronização:SOBRENOME DO AUTOR, nome. Título da obra, n. da edição. Local: editora, ano de publicação.

6. Registrar o(s) nome(s) do(s) autor(es) do artigo, assim como seu(s) cargo(s), titulação e vinculação com o CEAPOG-IMES.

O Editor

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GRANDE ABC: REGIONALIDADE E HISTÓRIACULTURAL EM QUESTÃO

Prof. Dr. LUIZ ROBERTO ALVES*

Trabalho apresentado ao evento internacional“Megacities 2000”, realizado em Hong Kong, de 8 a 10de fevereiro de 2000.

ABSTRACT: This paper should be seen within theperspective of cultural studies. Its main objective is toshow how cultural memory is conducive in creating aclear sense of belonging to a microregion within asociety that is undergoing profound transformationsin its social and economic mode of production. In otherwords, how the communications process organizesitself as an epistemology within the historical movementof the city, itself subject to the tension between

globalization and regionalization. Located within theBrazilian micro-region of the Greater ABC region, thebiggest industrial complex in Brazil from the 1950onwards, the region has both gone through a phase ofsocial advance and the development of its politicalawareness regarding the intense urbanization of theseven cities. The latter includes an increasing awarenessabout the severe problems the region is facing fromthe 1980s onwards which are related to the impact ofglobalization of the labor processes and theinternationalization of the capital markets. Despite ofthe severe nature of these new situations, the papershows how the collective memory of migrants andimmigrants was able to update itself within the contextof these new situations. That is, in the middle of asituation of tension, it created answers through newforms of representation and through the elaborationof new instruments of production and disseminationof information capable of realizing a new social synergy,a new consensus and, consequently, political agreementswith a potentially problem solving character. Examplesare given on the formation of a consorcio among cities,a Regional Chamber, a Regional Development Agency,and a Forum for Issues on Citizenship, all opening upperspectives for a new regional visibility and an influencecapable of changing the traditional political culture.

PALAVRAS-CHAVE: regionalidade; cultura política;globalização; exclusão; consensos coletivos.

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RESUMO: Trabalho realizado na perspectiva dosestudos culturais, que busca mostrar como a memóriacultural colabora para a criação de um senso agudo demicrorregionalidade na sociedade que sofre profundastransformações em seus modos de produção social eeconômica. Noutras palavras, como o processo decomunicação se organiza como epistemologia nomovimento histórico da cidade sujeita à tensão entreglobalização e regionalização. Localizado namicrorregião brasileira do Grande ABC, maior parqueindustrial do Brasil a partir dos anos 50, evidencia osavanços sociais e o desenvolvimento de consciênciapolítica sobre a intensa urbanização desse conjunto desete cidades e os graves problemas sofridos nos anos80 pela ocorrência da globalização dos processos detrabalho e da internacionalização dos capitais. A despeitoda gravidade das novas situações, faz ver o modo comoa memória coletiva migrante e imigrante foi capaz deatualizar-se no contexto das novas situações e, no meioda tensão, produzir respostas sob a forma de novosmodos de representação social e da criação deinstrumentos de produção e disseminação deinformação capazes de realizar nova sinergia social,novos consensos e conseqüentes acordos políticosprenunciadores de superação de problemas. Exemplificacom a formação de consórcio de cidades, câmararegional, agência de desenvolvimento e fórum dacidadania, abrindo perspectivas para uma novavisibilidade regional e sua influência na mudança dacultura política tradicional.

KEY WORDS: new regionalism; political culture;globalization; social exclusion; collective consensus.

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avanços, os desafios e as dificuldades do projeto coletivoem curso. Nessas periferias metropolitanas, amodernidade se nutre da tradição, veiculada pelamemória coletiva de trabalhadores que tiveram deconquistar salário, espaço social e liberdade desde ostempos de substituição da mão-de-obra escrava do finaldo século passado. Qualquer novo projeto e condiçãosocial é questionado e sentido por esta base culturalcomum.

1. INTRODUÇÃO

A presente reflexão realiza-se no campo dahistória cultural aplicada à periferia metropolitana,precisamente à microrregião sudeste de São Paulo,denominada Grande ABC. Considera que a história dacultura provê equipamentos simbólicos ao grupo socialque se defronta com mudanças significativas em seusmodos de produção social. Cultura, aqui, é entendidacomo criação e circulação de símbolos de coesão social.Como parte dos estudos culturais aplicados à vida damegacidade, considera uma microrregião, no caso a maisindustrializada do Brasil a partir dos anos 50. Destacaos seus diversos impactos originados no processo deglobalização, quer as mudanças dos processos detrabalho, quer o movimento de mundialização doscapitais. Observa que a acumulação simbólica dosgrupos sociais imigrantes e migrantes, chegados à regiãoentre fins do século passado e os anos 60 deste século,acompanhou tais processos, respondendo a eles namedida da necessidade de produção de identificação eorganização social, notadamente a partir do início destadécada. Noutras palavras, na história cultural aquianalisada, produziu-se um senso agudo demicrorregionalização no interior da metrópole, no qualos novos modos de reorganização social e política nãorespondem somente à exigência do mercado e do capitalinternacionalizados, mas também a uma posiçãoepistemológica elaborada pelas culturas do trabalho,cujos valores acumulados e intensamente veiculadosexigem, hoje, repensar sentidos para o território na erada desterritorialização, identificações sociais no tempoda perda de identidades, inclusão na sociedade quedispersa ações e segrega grupos empobrecidos, quesugere fluxos de participação social diante do eventodos fluxos virtuais. Se não mais podem fazer, taisculturas do trabalho, criadas pelos fluxos de imigrantese migrantes na sociedade intensamente industrializada,pelo menos têm conseguido produzir consensos sociaismínimos, novos modos de organização da sociedadecivil, crescimento da participação social, agenda de açõese políticas urbanas para a inclusão social e umquestionamento sobre os modos como podemos edevemos nos orientar para a inserção da grande cidadenos fluxos globais. Internamente, esse processo culturalquestiona os velhos modos de produção da política eda administração das cidades, abrindo perspectiva demudança da cultura política. Uma narrativa dos novosfluxos da organização da polis microrregional mostra os

2. HISTÓRIA, CULTURA E

CONTEXTO URBANO

A microrregião sudeste do espaçometropolitano de São Paulo ocupa área de 742 km edistribui seus dois milhões e trezentos mil habitantespor sete cidades, estabelecendo a ocupação de quasequatro mil pessoas por quilômetro quadrado. Colocadana rota de passagem entre o litoral e o planalto, a regiãosomente é descoberta como lugar auxiliar ao projetode desenvolvimento de São Paulo a partir do fluxo deimigrantes de 1877 e do estabelecimento da linhaferroviária pelos ingleses, na mesma época, ligando SãoPaulo ao porto marítimo de Santos. Em 1920 suapopulação era de 25.215 habitantes, que chegam a90.726 durante a Segunda Guerra Mundial, 300 milna época da segunda revolução industrial, década de60 e hoje quase dois milhões e meio de pessoas, nocontexto dos 17 milhões da megacidade de São Paulo.Enquanto os imigrantes, notadamente italianos,espanhóis, eslavos e depois japoneses, constituem-sena base profissional e cultural de sua população até osanos 30, a explosão do projeto capitalista de baseindustrial na seqüência da Segunda Guerra Mundialatrai milhares de brasileiros das regiões maisempobrecidas do país. Ergue-se nos anos 50 o póloindustrial de empresas com tendência globalizadora,destacando-se os ramos químico, petroquímico, deauto-peças eletro-mecânicas e montadoras deautomóveis. Esse pólo substitui as antigas formaspioneiras e de base cooperativa da indústria oriundada primeira revolução industrial do início do século:moveleira e têxtil. Hoje, a região conta com 4.768indústrias, mais vinte mil estabelecimentos comerciaise prestadores de serviços, sendo 46% dos empregosainda oferecidos nas grandes indústrias detransformação. Da força de trabalho de cerca de um

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a alienação e o silêncio da contigüidade periférica.Esse esforço engendrou atos de conhecimento queinterpenetraram dois sistemas de comunicaçãohistoricamente acumulados, o imigrante e o migrante,produzindo a metáfora dos consensos coletivos emtorno da cidadania. A memória cultural imigrante,educada para a associatividade e para a coesão cultural– que precisa superar o trauma da quase-forçadaemigração européia para o Novo Mundo – encontra-se com a memória de grupos sociais nordestinoscansados da migração de seus ancestrais e exigente doenraizamento social e familiar. O fato é que a perigosacontigüidade de uma extensa mão-de-obra habitandoperiferias faz-se alta comunicabilidade pela experiênciada memória histórica tecida em torno do valor maiordo trabalho e do enraizamento que finaliza o processomigratório. O que se observa é que a comunicaçãosocial, historicamente acumulada, torna-seepistemologia, sucessão de atos de conhecimentoampliadores da educatividade social para a participaçãona vida da polis. Sader lembrou-nos que os projetos epráticas dessas populações organizadas da periferiasinalizam a vitória sobre a desintegração física esimbólica, a conquista de direitos em meio à tensãocrítica, a intercomunicação de segmentos a produzir acondição de pessoa dentro da associatividade detrabalhadores e o aproveitamento da riqueza das cidadespara efetuar uma melhor distribuição de renda. Umprojeto de humanidade, no qual diminuem as distânciasentre o saber e o fazer. Assim, essas culturasorganizadas em torno do trabalho apresentam, desdeo início do século, provas e exemplos de organizaçãosocial, criação partidária, associatividade de moradorese bairros para a exigência de infra-estrutura de serviçospúblicos, cooperativas de trabalho e crédito,reivindicações sindicais. A despeito de nichos deprecariedade e de contradições, sempre denunciadas,o fato é que os indicadores de qualidade de vida daregião do Grande ABC são amplamente superiores àmédia nacional. Três das nossas sete cidadesencontram-se entre as cinqüenta com melhor qualidadede vida do Brasil, no universo de 5.500 municípios.Prova-se, pois, que esse lugar já globalizante há várias

milhão e duzentas mil pessoas, 22% encontram-sedesempregadas. Acresce-se o fato de que 56% da áreatotal de 742 km são protegidos como reserva ambientalda Mata Atläntica e sofrem especulação imobiliária einvasões dos que reclamam moradia. A renda per capitaregional é de 12 mil dólares anuais, enquanto a do Brasilé de 5 mil. O país tem a taxa de 19% de analfabetos ea região do Grande ABC alcança 10%. 40 milhões dos160 milhões de brasileiros vivem na miséria, mas naregião a taxa dos mais empobrecidos, que habitamcortiços e favelas, é de 11%. No entanto, o rendimentomédio dos trabalhadores caiu 40% nos últimos oitoanos e na região metropolitana de São Paulo a economiainformal já atinge 55% das pessoas ocupadas com oprocesso produtivo. Pela ótica de sua história cultural,a região cruzou três ciclos e se encontra, hoje, no quartoperíodo histórico-cultural. O primeiro ciclo foi o daspassagens, pois foi caminho das mercadorias e produtosnaturais para o primeiro ciclo importador-exportadordo século XIX. Nesse período se materializa aimportância estratégica da região, que começa a atrairimigrantes. O segundo ciclo pode ser denominado deconstrução da identidade industrial, associada à autonomiapolítica, concluída nos anos 50 deste século. Consolida-se nesse ciclo a simbolização do espaço inquieto,reivindicador, berço de movimentos sociais e políticos,que ajudarão sobremaneira a garantir aredemocratização do Brasil nos anos 70 e 80, na saídada ditadura militar. O terceiro ciclo foi o do conflito agudoentre capital e trabalho, concluído no início dos anos 90,que ajudou o Brasil a construir sentidos para acidadania e a participação social e acumulou valorespara a criação dos novos consensos da sociedade regionalinserida no quarto ciclo, em processo acelerado deglobalização, com suas conhecidas conseqüências parao terceiro mundo.

O estudo etnográfico, a leitura dos documentoshistóricos e o o trabalho de ouvir descendentes dosantigos trabalhadores, representantes populares, líderessindicais e patrões da indústria revelam liçõessignificativas para a história social de aglomeraçõesauxiliares às metrópoles. A melhor imagem para oprocesso histórico-cultural dessa microrregião é a figurametonímica da contigüidade, pela qual a forte tensão socialproduzida pela parte globalizadora do Brasil – desde oinício do século – exigiu das formações étnico-históricas concentradas nesse espaço de passagem e emmeio à falta de raízes um alto esforço capaz de superar

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SADER, Eder. Quando novos personagens entraram emcena. Experiências e lutas dos trabalhadores da Grande SãoPaulo, 1970-1980. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1988.

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décadas, embora de modo de produção fordista e hojequase obsoleto, de fato foi construtor de um modeloque posso denominar “culturas do trabalho”, capaz decombinar a simbolização histórico-cultural com a

refaz-se nos últimos nove anos. Não somente paraadaptar a sociedade regional ao imperativo das novasredes urbanas globalizadas, mas para analisar einterpretar seus processos de desenvolvimento, atitudeepistemológica, e para fortalecer suas instituições locaise regionais, educando-se e produzindo estratégiasculturais como política de inserção crítica nas redes.Questionar os modos e lugares da concentração doscapitais, destacar a tendência humanista de apontar parapessoas concretas, inseguras em processo de mudançacultural e não somente nós de uma cadeia produtivavirtual. Produzir comunicação, no contexto dessamemória cultural, vai muito além de submeter-se a novosprocessos de informação; ao contrário, exige oentendimento coletivo da informação e suainterpretação, como contribuintes, cidadãos e

diversidade étnica, a favor da melhor qualidade devida, que a região tem ostentado nos últimos trintaanos. Tais valores acumulam sentidos e forças para onovo momento histórico.

3. GLOBALIZAR TAMBÉM A

INTELIGÊNCIA REGIONAL

Uma região como o Grande ABC jamais poderiater negado os avanços da globalização de processos deprodução e difusão e da internacionalização dos capitais,pois os conhece e vive desde décadas. Não somente vêacontecer dentro de si as novas estratégias de mercado,a flexibilização dos modos do trabalho, as mutaçõesdos modos de produção, circulação e consumo de bense valores. Sofre o drama das exclusões sociais crescentese do empobrecimento, tanto pela submissão dosgovernos ao esquema monetarista quanto peladiminuição das políticas públicas e pela precarizaçãodo trabalho. Sofre também a perda do empregoindustrial: em agosto de 1990 era de 51% da força de

trabalho regional e, em 1999, de 30%. Cresce oemprego nos serviços e no comércio, mas com saláriosinferiores e precariedade na forma de contratação. Emagosto de 1990 tínhamos desemprego de 9,9%. Emoutubro de 1999, o desemprego chegava a 22% detrabalhadores disponíveis.

A memória cultural criada em torno do trabalhoincumbiu-se de questionar o modo da globalização nesselugar altamente industrializado, principalmente o seucaráter não-inclusivo, a descontinuidade das políticas, afragmentação do conhecimento, a alta integração departes privilegiadas e o abandono de amplos setores eseus contingentes humanos. Às novas marcas daurbanidade em processo de globalização: alta tecnologia,sofisticação das finanças e ampliação dos serviços, essahistória cultural aduziu a exigência de repensaridentificações sociais, uso tecnológico para novosprojetos educativos e revitalização do habitat urbano,ampliação da capacidade associativa para o encontrode soluções baseadas em consensos coletivos. Isto é, oque sempre foi tendência historicamente atualizada,

consumidores. Como seres culturais. Mais que nunca,fazer ver as crescentes exclusões dos mais periféricos eexigir políticas públicas adequadas de parte das diversasinstâncias dos governos. Essa região, que conviveu comos sentidos de periferia e os superou, tem dificuldadede aceitar novas e mais cruéis formas de periferizaçãoeconômica, política e cultural.

Para alcançar esses objetivos e aprofundar essestemas, a sociedade civil da região e as administraçõespúblicas das sete cidades têm criado novas instituições,novos objetivos e métodos de articulação social e novaagenda política. Com base em experiências européias eamericanas, debatidas em seminários internacionaisrealizados no Brasil e no exterior, criaram-se nos últimosnove anos três instituições produtoras, veiculadoras enegociadoras de informação e serviço: o ConsórcioRegional de Prefeitos, a Câmara Regional e a Agênciade Desenvolvimento. O Consórcio, formado pelos seteprefeitos e assessores especializados nas políticasregionais prioritárias, é o lugar onde se geram os estudosiniciais em torno de programas e políticas. Formadoem 1991, tem se preocupado especialmente com odesenvolvimento sustentado, a destinação final dosresíduos, a revitalização das cadeias produtivas, a criaçãode estrutura para o turismo de negócios e ecológico e apriorização das crianças e adolescentes em situação derisco, bem como o combate ao analfabetismo. ACâmara Regional, composta pelos prefeitos, assessores,deputados, funcionários do governo de São Paulo erepresentantes da sociedade civil, iniciou suas atividadesem 1997 e buscou organizar as prioridades, ampliarestudos por meio de dez grupos de trabalho, aprovar

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consensualmente 31 exigências básicas da região enegociar com o governo do Estado acordos e processosde implantação das políticas negociadas. Os principaisacordos já assinados e em processo de implantação,acompanhados pelos representantes da sociedade,priorizam a implementação de um pólo tecnológico naregião, o aumento da competitividade das cadeiasprodutivas, a criação de novos sistemas de drenageme efluentes industriais, a implantação de um hospitalregional, o aumento da oferta de habitação popular, aqualificação da mão-de-obra, a revitalização deprocessos industriais, por exemplo a indústria de móveis,a melhoria do transporte coletivo e o fortalecimentodo movimento em favor de crianças e adolescentesempobrecidos. De seu lado, a Agência deDesenvolvimento é produto das instituições anteriorese um misto de banco de dados e instrumento demarketing regional. Concentra informações sócio-econômicas, produz pesquisas, apóia e fomenta odesenvolvimento de empresas, com vistas aodesenvolvimento sustentado. Constitui-se como umaONG, enquanto a Câmara Regional é um instrumentopolítico de parceria entre poderes e o Consórcio umnúcleo oficial de geração de projetos e necessidades.No entanto, foi de fundamental importância para acriação da Câmara e a Agência a formação do Fórumda Cidadania, órgão exclusivo da sociedade civil criadoem 1994 por algumas dezenas de associações, escolas,sindicatos e clubes de serviço. Teve ele a função deombudsman de todo o processo, estimulando, criticandoe analisando as ações do Consórcio, da Câmara e daAgência. O Fórum da Cidadania tem representantes emtodas as demais instituições. Efetivamente, esse novomecanismo de ação da sociedade organizada criou-sepela consciência das profundas transformações dessasociedade periférica antigamente industrial. A partir de1990 ficou evidente que um novo modo derepresentação social teria de contar com problemasampliados pelo processo de globalização einternacionalização de capitais. São eles: a evasão deindústrias e sua implantação em outros centros do paíse do exterior; os desafios do velho analfabetismo,ampliado pelo analfabetismo diante das novastecnologias; as novas atribuições do município para coma saúde e a educação; o crescimento acelerado dodesemprego e a dificuldade de requalificação

estratégias de desenvolvimento baseados na agenda21; a falta de sintonia entre os poderes públicos e asinstituições de ensino superior, ainda voltadas para omodo de produção do conhecimento anterior aoprocesso de globalização.

Conhecida a agenda, vários estímulos vindos doVale do Ruhr, de Detroit, da Grande Leipzig, de Roterdã,da periferia de Milão, mais os projetos de inclusãosocial latino-americanos, animaram as pessoas einstituições a fortalecer a tendência já iniciada nos anos50 de criar nesse espaço regional movimentosassociativos, reivindicatórios e políticos capazes degarantir o equilíbrio social e a relativamente melhorqualidade de vida. Um intenso processocomunicacional e uma nova rede política levou àcriação das novas instituições organizadas em tornode consensos progressivos. Um grande jornal regional,o Diário do Grande ABC, abraçou plenamente o projetoe foi veiculador cotidiano de todas as ações, críticas epropostas. Duas instituições ainda não se envolveramplenamente: as universidades e as câmaras devereadores. As primeiras somente agora começam apensar a nova dinâmica regional e a sua necessidadede insumos científicos para o fortalecimento dosprojetos negociados e as câmaras, com exceções, aindarespondem a um modo tradicional, mesmo arcaico, defazer política. Por isso mesmo, a Agência deDesenvolvimento busca alternativas para aimplantação regional de pólos tecnológicos (como sedá na região italiana da Emilia Romagna), enquanto oFórum da Cidadania cria novos modos de representaçãopopular e institucional, não como substituição de umpoder ou de uma função social, mas como estímulopara o seu crescimento. O que se deve destacar desseprocesso de interlocução, de criação de comunicação ede novos mediadores sociais é que o estigma da exclusão,conhecido nos processos imigratórios e migratórios,combatido nos movimentos de urbanização de favelase amplamente veiculado pelos fortes sindicatosregionais, foi reconhecido em toda a sua amplitude nofinal dos anos 80. Tratou-se, pois, de dar respostasintensamente dialogadas como combate e superaçãodaquele estigma. A despeito da difícil situação dotrabalho e da empregabilidade, dos riscos de perda dasidentidades urbanas das sete cidades em mudança, doslentos progressos da educação da juventude e suaprofissionalização e das crises dos antigos “clusters”regionais, os acordos atingidos já saem do papel, a

profissional; a ruptura das cadeias produtivas; acrescente degradação ecológica e a falta de planos e

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novas representações sociais, poderão sugerir novasrelações entre cidades metropolitanas, querinternamente ao Brasil, quer no contexto do Mercosule talvez mais amplamente. Hoje são fortes as relaçõesdo Grande ABC com a Emilia Romagna, Itália, e comregiões da Holanda e da Alemanha. Temos bastante aaprender e talvez algo a oferecer, notadamente na

sociedade organizada está vigilante, novosinstrumentos para apoio ao trabalho e à renda familiarjá foram implementados (exemplo: os denominadosBancos do Povo), algumas cidades descobrem suavocação turística, outras reorganizam seus espaços pormeio de eixos de urbanização de vocação múltipla,

construção de nova cultura política. Esperamos queas relações entre cidades signifiquem amplamente

aceleramse projetos de renda mínima das famíliasassociados à freqüência escolar das crianças. Alteram-se estruturas de atendimento ao público nas prefeiturase os conselhos de vigilância sobre o meio ambientefuncionam com eficiência. Acima de tudo, amplia-se aconsciência crítica da população, o que fica provadopelo debate público de idéias, pela interlocução atravésda mídia regional, pela crítica às velhas práticaspolíticas.

CONCLUSÃO

Estamos diante de uma forma de regionalizaçãonascida a partir da consciência local e regional, semuma estrutura oficial do Estado brasileiro. No entanto,cremos que não cabe ao Estado ser o autor dadescentralização microrregional, pois tal experiência, jáconhecida em nossa história política e administrativa,resultou em clientelismo, divisão de poderes entre aselites e ampliação de privilégios em poucas mãos. Nossofeudalismo agrário projeta-se simbolicamente naconsciência política das elites que hegemonizamcontinuamente o poder. Sabemos, porém, que naampliação das relações interregionais e das regiões comexperiências internacionais, poder-se-á criar não ummodelo, mas modos ainda não conhecidos deexperiência de governos da polis, e estes modos novos,resultados da memória atualizada em consciência de

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PUTNAM, Robert. Comunidade e Democracia. Aexperiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: FundaçãoGetúlio Vargas, 1996.

encontros de cultura e não somente encontros demercado.

É claro que algumas experiências européias foraminduzidas por uma estruturação legal, como nosmostrou a pesquisa de Putnam na Itália moderna. NoBrasil, os projetos regionais precisam modelizar-se,alçar-se à condição de excelência por si mesmos,produzindo-se pela consciência de que o dilema podenão ser maior do que as forças coletivas. Deve dar-seum amplo processo de comunicação capaz de educaras comunidades cívicas e remetê-las às práticas.

A região trabalha, hoje, no desenvolvimento deum plano estratégico, por meio de grupos ampliadosde participantes. Buscam-se novos consensos naconstituição de políticas públicas que formulemalternativas concretas para estas prioridades: educaçãoe tecnologia, sustentabilidade dos mananciais, infra-estrutura, diversificação e fortalecimento das cadeiasprodutivas, qualidade ambiental, identidade regional esuas estruturas institucionais. A grande questão, hoje, égarantir a futura governabilidade das propostas coletivase ter a certeza de que elas podem propiciar a reversãodo quadro de precariedade regional revelado no finaldos anos 80.

Não se pode ignorar que tal processo encontra-se no meio do caminho, às vezes no purgatório político.Depende das respostas governamentais às reformastributária e política, ora em discussão nacional. Dependedo comportamento do governo perante as dívidasexterna e interna, a primeira causadora da dependênciainternacional e a segunda, secular, evidencia o Brasilcomo um dos países mais injustos do mundo emdistribuição de renda e atendimento a crianças eadolescentes. Depende, também, de alternativas àsdívidas dos municípios junto ao tesouro nacional. Porisso, alguns projetos avançam lentamente; por exemploo de requalificação profissional, que pretendia capacitarduzentos mil trabalhadores no domínio de novastecnologias até o ano 2000, mas não chegará à metade,por falta de recursos. No entanto, a região prefereafirmar a negar. Propor no lugar de somente conjecturar.Organizar-se politicamente em vez de exorcizar astransformações internacionais. Ela aprendeu isso emseu processo histórico de comunicação, em seumovimento de identificação de vocações para amudança. Deste modo, afirma-se o fim da condição de

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periferia e se constitui parte do coração metropolitano,anunciando claramente a necessidade de consolidarculturas democráticas regionalizadas, capazes de

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visibilizar-se nacional e internacionalmente; capazestambém de mudar a nossa cultura política, ainda muitodistante da experiência que se gesta em alguns dessesespaços regionais.

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MEGACIDADES: UMA PROPOSTA PARA OEIXO TAMANDUATEHY

Equipe Megacidades:

Coordenação do projeto: Professores Angélica BenattiAlvim, Carlos Leite de Souza e Mario Figueroa; alunos:José Gilberto Pires, Norberto Martins, VitórioUltremari, Leonardo Garcia e Leonard Grava;colaboração: Jaime Vega e Luciana Brasil.

RESUMO: A região metropolitana da Grande SãoPaulo atravessa um de seus momentos mais importantes.Em função de um intenso processo de reconversãoeconômica, sua principal base produtiva, o setorindustrial, transforma-se em um importante pólo decomércio e serviços. Esta situação gera novasnecessidades de espaços na cidade, solicitando soluçõesurbanas que possibilitem sua implantação edesenvolvimento. A análise, a discussão e as propostasde intervenção para o Eixo Tamanduatehi são objetivosdeste artigo.

ABSTRACTS: The Greater São Paulo metropolitainregion is the main industrial complex in Brazil, and itseconomy is diversifying with new enterprises in the areasof commerce, services, tourism and enterteinament.The region needs of new urban spaces and this articleintends discussing about the possibilities for programsand projects to Eixo Tamanduatehi, a new developmentregion in this special area.

PALAVRAS-CHAVE: urbanização; região metro-politana; Região do ABC.

KEY WORDS: urbanization; metropolitain region;ABC Region.

1. INTRODUÇÃO

No evento “São Paulo MEGACIDADES2000”, exposto na 4 ª Bienal Internacional deArquitetura, realizada em São Paulo de novembro de1999 a janeiro de 2000, e no Seminário “Megacities2000”, realizado em Hong Kong, China, em fevereirode 2000, a equipe do curso de Arquitetura e Urbanismo

da UniABC – Universidade do Grande ABC – pesquisouuma recente problemática da metrópolecontemporânea: a súbita transformação de seusespaços, não se configurando como ambiente urbanode qualidade, mas vazios urbanos gerados pela evasãoindustrial ao longo do antigo sistema de transporteferroviário.

Nestas áreas, a paisagem metropolitana altera-se radicalmente. A fase atual de urbanizaçãotransforma-se em uma contra-urbanização, na qualinúmeros vazios são substituídos por grandes estruturasterciárias isoladas.

A área de estudo escolhida envolve um trecholinear da metrópole (14 km de extensão – cerca de 10,5milhões m ), limitada, por um lado, pelo binômio RioTamanduateí/Avenida dos Estados e, por outro, pelaantiga Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, entre as EstaçõesMoóca e Santo André. Sua área de inf luênciacompreende parte do município-sede e da sub-regiãosudeste da Região Metropolitana de São Paulo: São Paulo(distritos Moóca, Ipiranga e Vila Prudente); São Caetanodo Sul e Santo André, abrangendo um total de 1,23milhões de habitantes.

A proposta é não encará-la como fragmentosurbanos de vários municípios autônomos, mas comoum espaço a ser tratado integradamente, com caracte-rísticas próprias, parte do espaço metropolitano.

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Prof. ANGÉLICA BENATTI ALVIM/Prof. ENIO MORO JUNIOR/

Prof. MARIO FIGUEROA*

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2. “DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL”

DA METRÓPOLE

No Brasil, o Estado de São Paulo mantém hádécadas privilegiada posição econômica e demográficaem relação aos demais estados do país. Segundos dadosdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em1996 São Paulo concentrava cerca de 38% do ProdutoInterno Bruto (PIB) do país e 22% da população bra-sileira.

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP),considerada a maior metrópole nacional, é compostapor 39 municípios que juntos abrigam 16,6 milhões dehabitantes, cerca de 48,6% da população estadual e10,5% população nacional. Seus municípios estãodistribuídos em sete sub-regiões com níveis de desenvol-vimento e vocações distintas: norte, leste, oeste, sudoeste,nordeste, sudeste e centro.

É “ainda” líder econômica dentro de um Estadoconsiderado o mais desenvolvido no país. Entretanto,vem perdendo ano a ano sua posição para o interior doEstado e outras regiões do país que crescemrapidamente, atraindo diversos empreendedores, alémde uma significativa parcela da população que está àprocura de “cidades sustentáveis”.

“A metrópole paulista, que na década de 70atraiu cerca de 2 milhões de pessoas de diversos locaisdo Brasil, vem vivenciando, desde os anos 80, umainversão da tendência histórica de concentraçãopopulacional, onde sua taxa de crescimento populacionalreduziu-se de 4,46% no período 70/80 para 1,76% aoano no período 80/91 (...)” (ALVIM, 1996).

A redução do ritmo de crescimento demográficona RMSP é acompanhada por importantes mudançasno mercado de trabalho. Desde o final dos anos 70, ametrópole vem enfrentando os efeitos perversos daglobalização que atuam principalmente na suareestruturação produtiva, implicando nadesconcentração industrial, aliada ao crescimento dosetor terciário.

Os dados da Fundação Seade (1999)demonstram que no período 1986/1996 houve reduçãoda participação da RMSP no Valor Adicionado naindústria estadual de 59,6% em 1986 para 51,96% em1996, sendo a percentagem de pessoal, ocupado no setorsecundário da metrópole paulistana reduzida de 32,8%a 21,1%, no mesmo período, enquanto no setor de

serviços o aumento verificado foi de 40,7% a 50,2% e,no comércio, de 14,1% a 16,9%.

Como causas internas da desconcentraçãoindustrial ocorrida na RMSP podem ser apontados: aausência de terrenos baratos, restrições legais, elevadocusto salarial e a pressão dos sindicatos. As externasestão relacionadas à mundialização da economia, àexpansão do mercado nacional, à melhoria de infra-estrutura em outras regiões, além das vantagens fiscaisoferecidas por outros estados e municípios.

Existe uma grande interrelação entre o nível deatividades industriais e o crescimento do terciáriometropolitano. O setor terciário, desde os anos 70, vemsendo estruturado em forte articulação com as demandasgeradas pelo secundário: demanda intensiva por serviçosespecializados de produção, ligada à expansão ediversificação industrial; demanda de serviços pessoaisligada à expansão das ocupações de alta qualificação erenda; centralização de serviços especializados com altograu de sofisticação; exigência de desenvolvimento denovos segmentos de apoio, a partir dos ajustespromovidos pela indústria nos anos 80, quando aterciarização de vários serviços torna-se fundamental(EMPLASA, 1994).

O setor terciário torna-se então o principal res-ponsável pela geração de novos empregos, mudando atendência dos anos 70, fase em que o setor secundárioexercia esse papel. Ou seja, a desconcentração industrialda metrópole passa a ser entendida em função de umatendência de desaparecimento da indústria como unida-de principal de produção substituída pelo setor terciário.Esse, por sua vez, está ligado principalmente às novastendências mundiais de informatização das empresas eterciarização das relações de trabalho, além do aumentode mão-de-obra alocada na economia informal.

3. A ATUAL SITUAÇÃO DA

ÁREA DE ESTUDO

Inicialmente, a industrialização da Grande SãoPaulo estava diretamente associada à linha férrea. Aferrovia consistia até a década de 40 no melhor meiopara o transporte de carga. O transporte de cargas dosestabelecimentos industriais se fazia pelos desviosferroviários que muitas empresas construíam.

A suburbanização residencial das faixasferroviárias na metrópole paulista se relaciona com a

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industrialização da orla ferroviária e a localização dasestações. Tanto o processo de suburbanizaçãoresidencial como o de suburbanização industrial eramnorteados pela linha ferroviária. Nas principais zonasindustriais da Grande São Paulo, as fábricas antecederamas residências, constituindo uma reserva potencial demão-de-obra de imediata utilização.

A primeira ferrovia a cortar o planalto paulistanofoi a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. O chamado“trinômio ferrovia/terreno grande e plano/cursod’água” caracterizou a implantação de várias indústriasimportantes na faixa entre a Moóca e Santo André:Rhodia, Antarctica, Pirelli, Moinho São Jorge, etc. “Eraconveniente implantar estabelecimentos industriais juntoà ferrovia que unia Santos a São Paulo, além dosbenefícios que os rios Tamanduateí e dos Meninosofereciam, de transporte a curta distância e água.”(LANGENBUCH, 1971).

Nos anos 40, a rodovia entra em cena e atraiinúmeros estabelecimentos industriais ao longo de seupercurso. A inauguração da Via Anchieta em 1947 foifundamental para mudar o eixo de industrialização dosmunicípios do ABC, que antes concentrava-se ao longodo rio Tamanduateí e linha férrea, entre os municípiosde São Caetano e Santo André, passando a localizar-seem São Bernardo. No domínio da auto-estrada houveum verdadeira pulverização de empresas, ao passo queno domínio ferroviário a polarização verificava-se emtorno das estações.

A partir dos anos 50, a indústria automobilísticaganha vulto e tanto as áreas situadas ao longo da ferroviacomo ao longo da rodovia, no sentido São Paulo-Santos,recebem instalações produtivas do setor ou ligadas a este.

A sub-região Sudeste, onde se localiza grandeparte de nossa área de estudo, sempre foi considerada asegunda maior concentração econômica da RMSP(depois do município-sede), distinguindo-se por conterum amplo mercado de trabalho especializado, com acoexistência de dois ramos industriais predominantes:automobilístico e químico, além de elevada renda percapita de seus habitantes. Entretanto, recentemente,“sob efeitos da saturação da Região Metropolitana deSão Paulo, do explícito incentivo dos governos estaduaisà interiorização do desenvolvimento e dos constantesentreversos sindicais” (LIMA & MARCOCCIA, 1997),observa-se um esvaziamento industrial aliado a vaziosurbanos, áreas deterioradas e conseqüente desemprego.

Na nossa área de estudo, apesar do predomínioda atividade industrial (90% de indústrias contra 10%de residências e atividades terciárias) inúmerosestabelecimentos estão sendo desativados e transferidospara outras localizações que oferecem melhoresvantagens fiscais, terra e mão-de-obra mais barata, alémde não sofrerem a pressão dos sindicatos. Outrasempresas estão simplesmente reduzindo sua capacidadeprodutiva e seu pessoal como forma de superar a crise eou entrar no mundo da automação, gerando inúmerosespaços ociosos em suas unidades.

De acordo com levantamento de camporealizado pela equipe Megacidades da UniABC, do totalde 136 empresas existentes no trecho, cerca de 51% estãoem pleno funcionamento, 5% em funcionamento parciale 44% desativadas, sendo a maioria das indústrias desa-tivadas de grande e médio porte.

É interessante notar que as indústrias localizadasdentro do limite do município de São Paulo encontram-se com nível superior de atividades quando comparadasÀs empresas situadas nos municípios do ABC.Provavelmente, esse fato deve-se à diversificação deatividades existentes neste trecho, diferente das atividadesdas empresas do ABC, ligadas em geral ao setorautomobilístico.

Outra tendência que se observa ao longo daárea é o processo de substituição das unidades industriaispor grandes estruturas comerciais tais comohipermercados, concessionárias de automóveis,shopping-centers, etc., o que está longe de configurar-se em um novo padrão urbano consolidado.

Decorrente dessas rápidas transformações, a pai-sagem deste trecho da metrópole alterou-se radicalmente.Observa-se a presença de muitos vazios urbanos e emalguns casos a substituição destas unidades por grandesestruturas terciárias isoladas do entorno urbano.

Aliados às transformações produtivas e espaciaisocorridas destacam-se, também, sérios problemasurbanos decorrentes da falta de infra-estrutura relativa atransporte, saneamento básico, habitação, segurança,saúde, educação, áreas livres, entre outros, os quaisrefletem diretamente no declínio da qualidade de vidado habitante metropolitano.

Outro dado relevante é a limitação daacessibilidade na área de estudo se considerarmos ospadrões de locomoção: menor tempo, menor custo,

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maior segurança, maior conforto e maior número deviagens no modo individual. Na sub-região sudeste,segundo a Pesquisa Origem-Destino da Companhia doMetrô – OD/97 – o aumento da taxa de motorizaçãoda população registrada foi a mais alta da RMSP: de 142automóveis a cada mil habitantes em 1987, para 197 em1997. Isso significa que a população opta cada vez maispelo uso do automóvel em função da baixa e precáriaoferta de transporte coletivo.

Atualmente, o transporte ferroviário depassageiros é operado pela Companhia Paulista de TrensMetropolitanos (CPTM). O número de viagens nosistema ferroviário metropolitano vem diminuindo anoa ano. Em 1987 esse modo de transporte representava4,38% do total de viagens motorizadas da metrópole,contra 7,68% de metrô, 42,83% de ônibus e 42,50% deautos; em 1997 o trem reduziu sua pequena participaçãopara 3,15%, contra 8,23% de metrô, 38,44% de ônibuse 47,24% de autos (Fonte: OD/97)

Apesar da falta de dados específicos sobre aoperação do sistema ferroviário no trecho estudado, apesquisa confirmou que o serviço ofertado está aquémdo desejado: acessibilidade precária às estações, poucaintegração entre outros modos de transporte, falta desegurança, conforto, confiabilidade no horário etc.

O sistema viário da sub-região sudeste apresentavárias deficiências, principalmente a incapacidade deabsorver o tráfego de autos e cargas que disputam omesmo espaço. As duas portas de entrada dosmunicípios do conhecido ABC paulista (onde se insereparte da área de estudo), a Av. dos Estados e a via Anchie-ta, desafiam a paciência dos motoristas que trafegam alidiariamente. Na área de estudo, a Av. dos Estados “éuma sucessão de pistas mal conservadas que se estreitamà medida que se alarga o leito do rio Tamanduateí. Suasenchentes em época de chuvas provocam inúmerosprejuízos e em épocas de seca, ela vive em obras” (LIMA& MARCOCCIA, 1997).

O Plano Integrado de Transportes Urbanos(PITU 2020), elaborado pelo Governo do Estado, prevêa ampliação de infra-estrutura de transportes da RMSP,com propostas de redes de alta, média e baixa capacidadeintegrando os modos de transportes: sistemas sobretrilhos e sobre pneus. Conforme a proposta, a rede futurade transportes metropolitanos prevista terá, no ano 2020,cerca de 446 Km de extensão, contra 79 Km existentesatualmente. Para a linha sudeste de trem metropolitano

está prevista a sua modernização e transformação emmetrô de superfície, fato que, se concretizado,solucionaria, em parte, vários problemas da área.

4. TENDÊNCIAS E VOCAÇÕES

A área de estudo escolhida reflete de modobastante claro tendências da metrópole paulista. Por umlado, observa-se a desconcentração industrial em plenoandamento, conseqüência de diversos fatores internose externos à metrópole: preço da terra, acessibilidadereduzida, plantas compactas, aliados a informatizaçãoe terciarização de serviços, custo da mão-de-obra epressão dos sindicatos, fortemente organizados nas áreasurbanas de maior porte. Por outro lado, grandes vaziosurbanos, resultantes da própria transformação produtivada metrópole, são apropriados, em alguns casos, porocupações irregulares ou aleatoriamente pelo setorterciário. Outros ficam simplesmente abandonados,deteriorando ainda mais a paisagem metropolitana.

Aliadas a essas constatações, observam-sevocações da área que são consideradas no decorrer dotrabalho: importante e estratégica localização – entre ocentro da metrópole e o caminho para a metrópoleSantista (área portuária); fácil acessibilidade a sermelhorada pela implantação da rede de transportecoletivo integrada; a presença do Rio Tamanduateí, quehoje representa problemas e no futuro, se recuperado,um elemento de renovação; grandes terrenosdisponíveis, que facilitam a implantação de novasedificações com usos diversos, integradas a espaçospúblicos; população lindeira carente e emergente de umanova centralidade urbana, além da proximidade a centrosurbanos equipados e com nível de renda per capitaelevado (São Caetano, Santo André).

Essas e outras tendências nos levam a pensar naurgência de requalificação desse espaço. As disfunçõesurbanas, contidas atualmente nessa área, não são únicase nem exclusivas da metrópole paulista; por isso, devemser tratadas tanto em sua essência como parte de umametrópole mundial: São Paulo.

5. A PROPOSTA

O objetivo principal da intervenção é aconstituição de um novo eixo metropolitano que refaça a

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cidade a partir de suas infra-estruturas e anule seus resíduosurbanos, reconstruindo uma nova centralidademultifuncional, integrante de uma metrópole mais justa esustentável.

A equipe propõe uma Estratégia de

Ocupação, a qual deve orientar um projeto urbano

para a área de estudo. Dois conjuntos de diretrizes foramdefinidos: Diretrizes Estruturais, ou seja, orientaçõesde caráter metropolitano, as quais são fundamentais paraa requalificação não somente deste trecho, mas de outrasáreas com tais características na metrópole. Diretrizes

Articuladoras, de caráter interno, são orientaçõesimportantes para a real reinserção desta área em seuentorno.

As propostas ligadas a estas diretrizes sãodiscriminadas a seguir:

5.1. Diretrizes Estruturais

• Aprimoramento da infra-estrutura existente

Ações:

– Recuperação e modernização do sistema ferroviário(metrô de superfície) e integração com demaissistemas de transportes metropolitanos conferindoà região a acessibilidade necessária para a suadinamização;

– Implantação de novas estações a cada 800m em médiade modo a facilitar o acesso de pedestres à área.Associação das estações a novos equipamentosurbanos (comércioserviços/instituições) quefuncionarão como elementos catalisadores detransformações do espaço urbano.

– Recuperação do Rio Tamanduateí/utilização comomeio de transporte de curta distância (cargas e lixo).Recuperar o Rio Tamanduateí e outros riosmetropolitanos é condição básica para asustentabilidade da metrópole. Além de serem nossosmananciais, contribuem, em muito, para a qualificaçãodo ar e da paisagem urbana, como elementocontemplativo e atenuante dos conflitos urbanos. Oalargamento de seu leito e recuperação de seupercurso original, em trechos possíveis, poderáamenizar suas enchentes e conferir ao entorno umapaisagem mais qualificada. A sua utilização como

meio de transporte para cargas intra-urbanas e partedo lixo urbano é outra possibilidade a ser exploradae que contribuiria para a redução da circulação decargas na área de estudo.

– Implantação da via perimetral metropolitana: traçadointra-urbano. Propõe-se a adoção do traçado intra-urbano do anel viário metropolitano, conformeproposta preliminar apresentada pelo arquitetoespanhol Eduardo Leira no seu projeto para o “EixoTamanduathey” (Prefeitura de Santo André). Trata-se de uma revisão crítica do Rodoanel, propondo-seque este passe internamente à mancha urbanaconsolidada – na sua borda periférica –, atuandoassim como nova possibilidade de conexão.

5.2. Diretrizes Articuladoras

• Melhoria da acessibilidade interna

Ações:

– Alterações de circulação no sistema viário principal– implantação de um novo binômio Avenida dosEstados/ferrovia – Avenida dos Estados/rio.Deslocamento de uma pista da Av. dos Estados parajunto do eixo da ferrovia, de forma a amenizar oproblema de sua transposição. Desta forma a áreafica limitada por dois binômios de melhor absorçãojunto à estruturação urbana lindeira: de um lado obinômio rio-avenida (apenas uma pista) e de outro, obinômio ferrovia-avenida (apenas uma pista), agorainseridos junto a um eixo verde (parque linear).

– Continuidade do tecido urbano – hierarquização devias internas coletoras e de distribuição. Estabelecera continuidade do tecido urbano do entorno atravésda extensão ou correção do sistema viário coletor ede distribuição; desenho de novas morfologiasinternas à área. A idéia é proporcionar a apropriaçãoda área pelo pedestre e integrá-la ao entorno.

– Estímulo às novas transposições das barreiras físicas(veículos, pedestres, áreas edificadas). Passarelas,viadutos, edifícios-ponte programáticos e as novasestações poderão ser distribuídos ao longo de todoo eixo, em pontos estratégicos, gerando um conjuntode novas possibilidades de transposição transversalda área, atualmente separadas pelas barreiras físicas– rio e ferrovia.

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• Recuperação ambiental

Ações:

– Implantação de um eixo verde linear ao longo dovale do rio de forma a recuperar a permeabilidadedas áreas da várzea e integrar as diversas sub-áreaspropostas.

– Implantação de três bolsões de parques urbanos.Articulado ao parque linear, um conjunto de parquesurbanos é proposto em pontos que se apropriam dosvazios mais significativos e articulam-se comequipamentos já existentes na área lindeira. Nestestrechos, o rio deverá voltar ao seu percurso originalonde o elemento água conferirá ao entorno umapaisagem mais qualificada, recuperando as várzeas ereduzindo significativamente suas enchentes.

entre empresas e poder público, visando à reduçãode seus custos internos e à possibilidade deusufruírem de vantagens coletivas: implantação denovos usos ligados à terciarização dos serviços sociaisinternos às empresas e de serviços de apoio àsempresas e de equipamentos urbanos que beneficiema comunidade como forma de garantir a qualidadedo espaço e valorizá-lo.

– Estímulo à formação de eixo industrial tecnológico(tecnopólo metropolitano) e parcerias com centrosde pesquisas universitários. Paralelamente àreconfiguração e manutenção das indústriasexistentes, é necessário estimular a formação de novasunidades produtivas, ligadas à indústria limpa e deponta atuando como requalificadora do estoqueindustrial existente. Também é preciso estabelecerparcerias entre as novas empresas, universidades epoder público, no intuito de desenvolver centros depesquisa que contribuirão para formação de pessoalqualificado e mudança do padrão cultural dapopulação.

“O sucesso de uma cidade depende de algum modo deseus habitantes e governo, mas prioritariamente de ambos,para sustentar um ambiente urbano e humano.”(Richard Rogers, Cities for a small planet, 1997).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A redução da planta industrial devido ao novopadrão produtivo contemporâneo, por um lado, e aefetiva saída das indústrias da Região Metropolitana, poroutro, têm gerado enormes estoques urbanos – áreasdesqualificadas, normalmente situadas ao longo doantigo eixo de infra-estrutura que lhe dava suporte – aferrovia. Essa áreas atualmente configuram-se emresíduos urbanos, “terrain vague”, dentro da cidadecontemporânea. Este não é um problema absolutamentenovo e nem mesmo localizado. Trata-se de umaverdadeira tendência de quase todas as áreasmetropolitanas contemporâneas.

Se as conseqüências advindas da globalizaçãoimpõem de imediato estas disfunções urbanas, numsegundo momento, no qual a metrópole se projeta comonova, reequipada, é obrigada a concorrer com suasvizinhas – por vezes nem tão próximas geogra-ficamente. As cidades mundiais concorrem entre si edisputam acirradamente o mesmo mercado. Não é por

• Estímulo a uma nova ocupação urbana

Ações:

– Eliminação das áreas residuais (vazios urbanos)através de novo parcelamento do solo erequalificação dos vazios como espaços geradoresde urbanidade, incentivando a implantação de novosedifícios ou reciclagem de antigos aliados a espaçospúblicos/semi-públicos necessários à vitalidadeurbana.

– Dinamização e criação de novos sub-centros aliadosà ocupação diversificada – mix de usos. Novos sub-centros integrados a edifícios plurifuncionais devemser implantados, nos quais um mix de usos coexistaem um mesmo espaço de forma equilibrada:habitação; comércio, serviço, lazer e cultura –favorecendo a sinergia da metrópole.

– Incentivo à reconfiguração do parque industrialexistente. Estímulo à transformação da capacitaçãogerencial interna da iniciativa privada à parceria dopoder público e do próprio setor privado narequalificação da área através de parcerias e formaçãode cooperativas. Internamente, a redução da plantaindustrial, associada à modernização das basesprodutivas, gera espaços ociosos, que devem seraproveitados para outros fins pelos própriosempresários, que atualmente querem diversificar seusnegócios: áreas culturais, prestação de serviços,atividades comerciais. Externamente, podem serdesenvolvidas parcerias entre as próprias empresas e

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acaso que há, desde o início da década de 80, váriosprojetos urbanos, em todo o mundo, destinados à revita-lização urbana de áreas degradadas, requalificação de cen-tros urbanos, reutilização de áreas residuais industriais.

É extremamente necessário reconfigurar áreasmetropolitanas dentro das novas demandas impostas pe-la globalização, mas sem ignorar suas fragilidades, confli-tos e potencialidades locais, além do cotidiano de seushabitantes. Pensar globalmente, agir localmente. Ou seja,requalificar suas áreas “doentes”, dotá-las de suportefísico para serem competitivas mundialmente e, ao mes-mo tempo, proporcionar qualidade de vida a seushabitantes.

Acredita-se que áreas como estas necessitem deum projeto urbano que mostre seu potencial físico, rein-serindo-as no tecido urbano do entorno conferindo ur-banidade, e da concepção de um plano estratégico quecorrija suas atuais disfunções urbanas e reintegre-as aoespaço metropolitano. Entretanto, cabe dizer, o sucessode projetos como este depende de todos os atores envol-vidos, responsáveis pela construção de uma nova cidade.

As disfunções urbanas, contidas atualmentenessa área, não são únicas e nem exclusivas da metrópolepaulista; por isso devem ser tratadas tanto em suaessência como parte de uma metrópole mundial – SãoPaulo. A metrópole deve, ao mesmo tempo, equipar-separa as novas demandas de uma cidade mundial econferir aos seus usuários espaços qualificados dentrode uma cidade justa e sustentável.

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REINVENTANDO O PLANEJAMENTO REGIONAL EM UM CON-TEXTO DE REESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA LOCAL: OCASO DA REGIÃO DO GRANDE ABC*

Prof. Dr. JEROEN KLINK**

RESUMO: O dramático impacto da reestruturaçãoeconômica local na Região do Grande ABC.

ABSTRACT: The dramatic impact of local economicrestruturing on the Greater ABC region.

PALAVRAS-CHAVE: Economia regional; Novo Re-gionalismo; Grande ABC.

KEY WORDS: Regional economy; New Regionalism;Greater ABC.

1. INTRODUÇÃO

A Região do Grande ABC, composta de setemunicípios localizados nos arredores da regiãometropolitana de São Paulo, tem sofrido um processode reestruturação econômica que se intensificou nosúltimos anos. Primeiramente, e como parte de umprocesso que começou já na década de 70, diversas desuas indústrias mais importantes vinham implementandoinvestimentos fora da região, manifestamente por causados elevados níveis de deseconomias de aglomeraçãona área de São Paulo, associados ao congestionamentoviário, aos problemas ambientais, à falta de espaço, àforte pressão sindical e à baixa qualidade de vidageneralizada (CANO, 1995). Em segundo lugar, tornou-se evidente que o modelo de desenvolvimento brasileiro,baseado na substituição de importações, chegara a seulimite. Conseqüentemente, e também como resultadoda abertura da economia brasileira, os setores industriaisdomésticos estão sendo forçados a se modernizar e aintroduzir novas técnicas de produção e gerenciamentocom o objetivo de aumentar o nível de produtividade.

As conseqüências das tendências acima citadastêm repercutido no aumento dos níveis de desempregoe na redução do valor agregado gerado na Região doGrande ABC. A evolução do valor agregado nesta regiãoe sua participação na economia geral do Estado de SãoPaulo são mostradas na Tabela 1 (ver p. 24), enquantoo desenvolvimento dos níveis de empregos formais édescrito na Tabela 2 (ver p. 25). Como pode ser visto, adiminuição do emprego industrial tem sido dramática,particularmente naqueles setores altamente relevantespara a região, a exemplo das montadoras de automóveise dos setores metalúrgicos e mecânicos.

O que dizer das iniciativas políticas que têm seapresentado até o momento? De fato, um númerocrescente de municípios brasileiros tem começado aimplementar frentes de trabalho locais e projetos degeração de renda (KLINK, 1999). De certa forma,esta tendência pode ser vista como uma conseqüêncialógica do caráter do federalismo brasileiro, no qual osmunicípios possuem uma vasta autonomia em umagrande variedade de atribuições. Contudo, percebe-senormalmente que esses esforços municipais ainda falhamno que tange à escala e à coordenação, sem mencionar adramática falta de recursos financeiros que sustentamessas políticas (ARRETCHE, 1996).

O objetivo deste artigo é mostrar queadministrações locais, ao unir forças e formar parceriascom os investidores do setor privado, da sociedade civile do Governo do Estado, podem prosperar tanto naescala como na efetividade de suas políticas derevitalização. Além disso, argumentamos que trata-se deuma promissora proposta complementar aos modelos

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Exemplo claro desta tendência é a criação de pro-gramas de micro-crédito, a implementação de frentes detrabalho e a manutenção e elaboração de programas paraincubadores de empresas e cooperativas.

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Tabela 1: Valor Agregado no Estado de São Paulo, na cidade de São Paulo e na Região do Grande ABC Paulista(valores em reais*)

1980 Part em v. a. estad. 1993 Part em v. a. estad.Estado de São Paulo 177.673.825.528 100,00% 161.077.074.122 100,00%Cidade de São Paulo 65.735.919.984 37,00% 47.829.088.692 29,69%Grande ABC Paulista 24.750.125.208 13,93% 18.917.049.688 11,74% Diadema 2.501.744.322 1,41% 2.239.479.605 1,39% Santo André 6.401. 190.267 3,40% 3.177.451.443 1,97% São Bernardo do Campo 9.519.790.567 5,36% 7.697.892.340 4,78% São Caetano do Sul 3.529.187.903 1,99% 2.521.567.823 1,57% Mauá 2.749.670.416 1,55% 2.867.750.905 1,78% Ribeirão Pires 372.755.688 0,21% 369.297.161 0,23% Rio Grande da Serra 35.786.045 0,02% 43.610.411 0,03%

Fonte: Fundação SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados, Perfil Municipal)* Em 25 de agosto de 1999, 1 US $ = R$ 1,92.

de planejamento metropolitano rígidos e autoritários,que, também no Brasil, provaram-se pouco eficientesna coordenação do planejamento local.

2. INICIATIVAS DE DESENVOLVIMENTO

REGIONAL NO GRANDE ABC

No início da década de 90, um processo começoua ser estabelecido, pelo qual a região passou a dar ênfasea sua própria identidade econômica, política e cultural.Há uma crescente percepção de que o número deproblemas e de potencialidades da região excede atotalidade daqueles que existem nos sete municípios.

No que concerne ao setor público, por exemplo,esta consciência levou à criação, em dezembro de 1990,do Consórcio Intermunicipal da Região do Grande ABC,cujo foco principal residia na coordenação das políticasmunicipais, uma vez que estas têm consideráveisimplicações sobre as decisões tomadas. Inicialmente, osesforços foram concentrados nas questões doarmazenamento de resíduos sólidos e do controlehídrico. Um ano depois, um Fórum de DesenvolvimentoEconômico Regional foi criado em Santo André, porcausa da ativa participação dos líderes públicos,empresariais, sindicais e comunitários. O Fórum, ao ladodo Consórcio Intermunicipal, organizou, no segundosemestre de 1992, um seminário regional com o tema“Fórum ABC para o ano 2000”, que levou a um acordo,fixado entre os mais relevantes participantes do processodecisório regional, sobre os elementos essenciais que

seriam necessários para uma estratégia regional derevitalização.

O processo de coordenação regional de políticasmunicipais passou por uma crise profunda de 1993 a1996 devido ao enfraquecimento do Consórcio. Nessemeio tempo, porém, a comunidade local estava tomandoiniciativas complementares relevantes por conta própria,refletindo o despertar da identidade regional e aconsciência dos problemas comuns que as prefeiturasda região estavam compartilhando. Sem sombra dedúvida, uma das iniciativas mais importantes nessesentido foi a criação do Fórum da Cidadania, compostopor mais de cem Organizações Não-Governamentais(ONGs) da sociedade civil, a exemplo de associaçõesempresariais, sindicatos, movimentos ecológicos, gruposambientalistas, entre outros. A pauta do Fórum deuênfase às demandas regionais.

3. A CRIAÇÃO DA CÂMARA REGIONAL DO

GRANDE ABC

Em 1996, o Governo do Estado de São Paulo,por meio da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia,lançou uma proposta concernente a uma câmara para aRegião do ABC, com o propósito de discutir questõesde desenvolvimento econômico local. A Câmara seriacomposta por representantes da comunidade local. Emseguida, a proposta foi discutida pelo Fórum daCidadania do Grande ABC. Com a posse de sete novosprefeitos, em janeiro de 1997, todos eles dedicados às

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questões regionais, foi dado um decisivo passo emdireção a uma nova forma de regionalidade. Em 12 demarço daquele ano, na presença dos mais importanteslíderes regionais e do Governo estadual, a Câmara foioficialmente criada.

Existem três tipos de atores envolvidos naCâmara, advindos da sociedade civil, do setor público eda economia local (sindicatos de trabalhadores eassociações empresariais). Na prática, evidentemente, aparticipação de tais atores não é homogênea. Em relaçãoà participação do nível estadual, por exemplo, pode serpercebido que, além do consciente embora genéricoenvolvimento do governador, há um papel ativo para

Tabela 2: Evolução do emprego formal de 1986 a 1996. Confronto entre a Região doABC e o Estado de São Paulo

Região do ABC Estado de São Paulo

Subsetor IBGE 1986 1996 1986 1996

Total Total Total TotalExtração mineral 546 184 23.579 21.143Produtos minerais não metálicos 21.233 9.980 192.706 120.990Indústria metalúrgica 78.493 42.847 504.969 313.311Indústria mecânica 46.073 23.283 379.112 221.749Eletrônicos e Comunicações 28.834 13.250 328.347 155.468Transportes e montadoras de veículos 155.914 89.406 409.764 262.882Processamento de madeira e mobiliário 19.172 8.577 186.260 107.255Indústria gráfica, de papel e editorial 13.175 12.393 229.03 1 207.648Borracha, plásticos, couro etc. 39.671 17.666 320.849 151.951Químico, farmacêutico etc. 69.104 53.928 440.972 361.326Têxtil 26.831 20.037 684.510 393.072Calçados 1.258 294 137.246 70.354Processamento de alimentos 18.579 19.654 467.724 500.742Serviços industriais 750 3.352 67.989 118.663Construção civil 21.298 32.738 643.896 710.771Comércio varejista 75.724 83.739 1.208.959 1.385.436Comércio atacadista 16.692 15.917 343.331 357.266Bancos e seguros 18.473 10.406 453.895 308.116Imobiliário 48.467 105.088 1.213.89 1.414. 461Serviços de Transporte e Comunicação 40.726 45.148 550.304 608.021Serviços hoteleiros, de alimentação, dereparos, conserto de eletrodomésticos etc. 55.424 41.806 1.127.140 940.750Serviços médicos 13.889 22.283 156.278 345.633Educação 5.581 17.733 79.459 316.355Administração Pública 32.997 36.291 1.330.356 1.336.514Agricultura 193 3.983 253.012 634.601Outros/Ignorado 2.381 1.102 65.025 20.088

Total 851.478 751.085 11.798.610 11.384.566

Fontes: Ministério do Trabalho, RAIS, Arquivos administrativos, Base Estatística 1986 e 1996.

seu secretário de Ciência e Tecnologia. Os governoslocais, por meio do envolvimento direto dos prefeitos,complementados por uma ativa participação de umgrande número de planejadores nos grupos de trabalho,podem ser considerados a espinha dorsal da Câmara.Em uma região conhecida pelo grau de organização deseus sindicatos de trabalhadores, é um fato significativoque os trabalhadores estão sendo representados pelosmais poderosos sindicatos da região do ABC. Estasrepresentações de trabalhadores estão se tornandoconscientes do fato de que uma aproximação maiscoordenada com outros participantes é necessária como fito de manter e aumentar os níveis de emprego. A

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Tabela 3: Evolução dos acordos regionais

Grupos Temáticos Novembro/1997 Agosto/1998Desenvolvimento Agência de Desenvolvimento Regionaleconômico Competitividade de cadeias produtivas Comércio local Pólos tecnológicos Montadoras de automóveis Indústria moveleira Indústria petroquímica Investimentos no sistema viárioDesenvolvimento Microdrenagemfísico Transporte público regional

Sistema viário e trânsito regional Habitação Rejeitos líquidos industriais

Turismo regional Revisão da legislação ambiental do Estado

Desenvolvimento Crianças de ruasocial Saúde Campanha contra o analfabetismo

Fonte: Conselho da Região do Grande ABC (1999)

participação empresarial foi diferente no começo, mastem crescido significativamente após a fase inicial. Poroutro lado, há uma confiável e estável participação docomércio local e dos setores industriais menores,representados por suas associações comerciais e pelasdelegações da CIESP – Centro de Indústrias do Estadode São Paulo. Além disso, importantes segmentos daeconomia regional (isto é, montadoras de automóveis,assim como seus fornecedores, e o setor petroquímico)também confirmaram sua participação na Câmara noinício de 1998. Finalmente, as instituições da sociedadecivil têm participado de uma forma consistente,reforçando seu papel pelo envolvimento ativo no Fórumem questões de cidadania.

4. OS PRIMEIROS ACORDOS REGIONAIS

Desde o primeiro instante, em março de 1997,os chamados grupos de trabalho temáticos foram criadose começaram suas discussões. Esses debates levaram apropostas para a elaboração de acordos regionais,definindo também atores e fontes de recursos. O desafioinicial com o qual a Câmara se deparou foi definir asprioridades dessas propostas e organizá-las a fim demanter suas consistências internas. Por conseguinte, um

seminário de trabalho foi organizado, em julho de 1997,o qual teve por conseqüência a aprovação de umaprimeira lista composta por 31 propostas para acordosregionais específicos para o desenvolvimento social,econômico e territorial.

Um esforço seletivo foi feito com a intenção detransformar as recomendações mais viáveis nosprimeiros nove acordos regionais, firmados emnovembro de 1997. Nesse ínterim, a participação denovos parceiros, do setor de montadoras de veículos,de seus fornecedores e da indústria petroquímica, jámencionados, representou um importante passo adiantepara a conquista de doze acordos complementares, emagosto de 1998. Os 21 acordos estabelecidos até 1999estão resumidos na Tabela 3. Deve-se enfatizar que,dependendo do caráter desses acordos, os participantese as fontes de recursos definidos serão diferentes. Osacordos sobre a semana de trabalho (no comércioregional), por exemplo, foram arquitetados pelossindicatos e as entidades patronais. Outro exemplorefere-se ao movimento de erradicação do analfabetismo,elaborado pelos prefeitos, pelo Governo do Estado epor organizações comunitárias.

Fica além do escopo deste artigo descrever emdetalhes o conteúdo dos 21 acordos. Ao invés disso,

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CONCLUSÃO

eles serão analisados a partir dos resultados concretosjá auferidos.

No que diz respeito ao componente de desenvol-vimento econômico, por exemplo, a Agência Regionalde Desenvolvimento foi criada em outubro de 1998. Suadiretoria é composta pelo setor privado (associações em-presariais, sindicatos de trabalhadores, SEBRAE; juntospossuem 51% dos membros) e o Consórcio In-termunicipal (com uma participação de 49%). Entreoutros, está atualmente desenvolvendo um sistemaregional de dados e indicadores sócio-econômicos, umaestratégia de renda e emprego para pequenas e médiasempresas e uma estratégia de marketing que tem porobjetivo reverter a imagem negativa que a Região aindaacredita possuir. O trabalho de competitividade das prin-cipais cadeias produtivas tem conduzido a resultadosconcretos para as empresas manufaturadoras de plástico.As empresas de pequeno e médio portes deste setor co-meçaram a adotar práticas mais cooperativas entre si,por meio, por exemplo, da implementação de procedi-mentos centralizados de compra e de exportação. Éimportante mencionar, ainda, o programa para um fundode crédito em nível estadual que está em um estágio muitoavançado de elaboração e negociação com o Governodo Estado de São Paulo. Este fundo será crucial parafacilitar o acesso de pequenas e médias empresas a linhasde créditos, imensamente necessários para suamodernização tecnológica e gerencial. Finalmente, umambicioso plano para treinar cerca de doze miltrabalhadores a partir do ano 2000 já foi iniciado nopólo petroquímico, beneficiando principalmentetrabalhadores recém-demitidos pelo setor de plásticos.

No que se refere aos acordos para o desenvol-vimento físico e territorial, progresso concreto tem sidofeito em pouco tempo. Primeiramente, concluíram-seas melhorias físicas nas vias expressas “Anchieta” e“Avenida dos Estados”, estradas que ligam a Região doABC à cidade de São Paulo. Foram aplicados recursosdos três municípios afetados e do Governo do Estado.Vários investimentos complementares ao longo dosistema rodoviário “Anchieta” foram concluídos em1999, envolvendo o município de São Bernardo e oGoverno do Estado. Em segundo lugar, enchentes têmcausado progressivamente mais danos ao sistema viárioda região metropolitana. Como parte de uma estratégiade prevenção às enchentes, cinco reservatórios de con-tenção estão sendo implementados. A construção dereservatórios adicionais foi iniciada em 1999. Em terceiro

lugar, a Câmara está ativamente envolvida nasdiscussões para criar condições, por meio da revisãoda legislação ambiental do Estado, para aimplementação de atividades industriais não poluentescompatíveis com a preservação das áreas demananciais. Os participantes destas discussões são oEstado, os poderes locais, indústrias e sociedade civil.O envolvimento da Câmara não pode ser superestimadoconsiderando-se o fato de que diversas cidades daRegião do ABC têm mais da metade de suas superfíciesem zonas sensíveis do ponto de vista ambiental, asquais se encontram sob uma rígida legislação estadualrestritiva a quase toda atividade econômica. Ao memotempo, a Câmara, por meio de um grupo de trabalhoespecífico, está elaborando um plano regional voltadoà exploração do potencial para o eco-turismo nas vastasáreas verdes próximas e ao redor dos mananciais.

A primeira avaliação das atividades da Câmarademonstra que há, ainda, muito trabalho pela frente.Alguns dos acordos inerentes a temas físicos oueconômicos precisam ser aperfeiçoados, e outros,particularmente os que se referem a moradia e transporte,estão esperando implementação efetiva.

Portanto, como uma decisão consciente demelhorar sistematicamente as questões acima descritas,quase que totalmente como um mecanismo informal deplanejamento, no começo de 1999, a Câmara deu inícioaos trabalhos para um processo formal de planejamentoestratégico que está sendo apoiado por um subsídio doBID (para a Agência de Desenvolvimento Regional, suaparte legalmente estabelecida). Em conseqüência, emjulho de 1999, o documento “Cenário desejado dofuturo”, que inclui seus projetos prioritários, foiaprovado pelo Comitê Executivo da Câmara Regional.Este é o primeiro passo para um plano estratégicointeligível aprovado no final daquele ano, abarcandoações prioritárias e investimentos, atores responsáveispor sua implementação e pelos recursos financeiros.

De acordo com Daniel (1997), a Câmara podeser considerada como um novo modelo de governance emnível regional. Sua primeira dimensão é seu foco nademocracia participativa. De fato, a Câmara do GrandeABC representa a fundação de uma ampla esferademocrática, ao mesmo tempo pública e “não estatal”.Este fato facilita um processo de planejamento que

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contempla participantes com interesses conflitantes,onde, de maneira transparente, negociações de interessesespecíficos são transformadas em decisões consensuais.Em segundo lugar, a Câmara possui mecanismos sutispara a coordenação horizontal e vertical. A proposta detrabalhar com vistas a acordos regionais está sintonizadacom a tendência mundial de enfatizar a importância danegociação entre os parceiros, em lugar de mecanismosdecisórios hierarquizados. A presença do Governo doEstado significa que a coordenação não ocorre apenashorizontalmente. Ao contrário, a coordenação da Câmaraé mais complexa, é horizontal e vertical. Em terceirolugar, e em direta relação com o prévio argumento sobrea coordenação, a estrutura institucional da Câmara émuito flexível – em contraste com a rigidez institucionalque caracteriza o modelo formal de planejamentometropolitano de vários países, inclusive o do Brasil. Omodelo de planejamento metropolitano do Brasil,engendrado na década de 60, durante a vigência doregime militar, prova-se inviável. Assim, considerandoo vácuo institucional vigente e o cenário de rápidatransformações, esta flexibilidade institucional é umaimportante vantagem da Câmara.

Deve-se enfatizar, contudo, que a Câmara nãopode ser vista como uma panacéia para todos osproblemas de desenvolvimento urbano e regional. Maisparticularmente, uma de suas principais fraquezas, suainabilidade de gerar sistematicamente seus própriosrecursos financeiros, relaciona-se à falta de definição nalegislação a respeito dessas novas formas degovernabilidade regional. Ironicamente, porém, a maiorforça da Câmara, sua flexibilidade, está intrinsecamenteligada a sua fraqueza, a falta de fluxo contínuo de recursospara a Região.

BIBLIOGRAFIA

ARRETCHE, Marta T. S. A descentralização comocondição de governabilidade: solução ou miragem.Espaço e Debates, 1996, v. 39.

CANO, Wilson. Auge e inflexão da desconcentraçãoeconômica regional. In: AFFONSO, Rui de BritoÁlvares e SILVA, Pedro Luis Barros (orgs.). Afederação em perspectiva. Ensaios selecionados. São Paulo:FUNDAP, 1995, p. 399-416.

Câmara Regional do Grande ABC. Relatório Anual. SãoBernardo, 1999.

DANIEL, Celso. Uma experiência de desenvolvimento econômicolocal: a Câmara Regional do Grande ABC. Santo André,dezembro de 1999.

KLINK, Jeroen. The future is coming. Economicrestructuring in the São Paulo fringe: the case ofDiadema. Habitat International n. 3, v. 23, 1999.

* Tradução do original em inglês: Prof. Dr.Roberto Elísio dos Santos. ** Assessor especial de Relações Internacionaise de Captação de Recursos da Prefeitura de SantoAndré, doutor em Economia Urbana pelaFaculdade de Arquitetura e Urbanismo daUniversidade de São Paulo e professor do PMAdo CEAPOG-IMES.

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COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES VOLTADAS PARA A QUALIDADE

Prof. DAVID GARCIA PENOF*

RESUMO: O texto tem por objetivo evidenciar o forterelacionamento existente entre a comunicação e aqualidade nas organizações. A comunicação exerce umgrande e expressivo poder, legitimando outros poderesexistentes, como o poder coercitivo, de recompensa etécnico. A comunicação deve ser praticada como umprocesso que ocorre entre pessoas, muito além da idéiasimplória de emissor, mensagem e receptor; ela é tambémuma ferramenta de gestão empresarial.

ABSTRACT: This article has as objective todemonstrate the strong relationship betweencommunication and quality in organizations.Communication has a great and expressive power, whichputs in evidence other existing powers, like coercitive,rewarding and technical ones. Communication must bepracticed like a process that occurs among people,beyond the simple idea of emissor, message andreceptor; and it is a management tool.

PALAVRAS-CHAVE: comunicação; qualidade; poder;gestão empresarial.

KEY WORDS: communication; quality; power;management.

1. INTRODUÇÃO

O extraordinário progresso experimentado pelastécnicas de comunicação nas últimas décadas representapara a Humanidade uma conquista e um desafio.Conquista, na medida em que propicia possibilidadesde difusão de conhecimentos e de informações numaescala antes inimaginável. Desafio, na medida em que oavanço tecnológico impõe uma séria revisão ereestruturação dos pressupostos teóricos de tudo o quese entende por comunicação.

Neste artigo, procuro fazer uso dos resultadosobtidos em diversas experiências pelas quais passei como

consultor em Implantação de Sistemas da Qualidade.O objetivo deste trabalho é permitir um delineamentode como os sistemas comunicacionais interferem nogerenciamento da qualidade nas organizações.

É importante identificar nos elementos queformam o processo comunicacional os condicionantessociológicos e antropológicos que envolvem as fontes,os codificadores, os decodificadores e os receptores. Sãoestes fatores que estão à disposição das organizações

2. A COMUNICAÇÃO COMO PODER

NAS ORGANIZAÇÕES

Podemos caracterizar uma empresa, como sendouma unidade sócio-econômica voltada para a produçãode um determinado produto – bem ou serviço. Aempresa reúne os recursos econômicos capital e trabalho,e ainda normas e procedimentos de natureza técnica quepermitem a operacionalização dos demais.

Uma empresa não apenas objetiva gerar benseconômicos, para uma relação de troca entre produtor econsumidor, mas procura também desempenhar papelsignificativo no tecido social, missão que deve cumprirqualquer que seja o contexto político.

Se entendermos por organização oordenamento, a disposição das partes que compõem umtodo, ou, no dizer de TALCOTT PARSONS (1974), aunidade social direcionada à consecução de suas metasespecíficas, vamos constatar na extensão do conceito,os fundamentos dos princípios sistêmicos. Na visão deWALTER BUCKLEY (1971), o sistema é uma entidadeconcreta ou abstrata, que reúne componentes que serelacionam mutuamente. Vale ressaltar uma característicafundamental do sistema que permite inferir que o todo,pela Teoria de Sistemas, é maior que a soma de suaspartes, evidenciando-se o caráter organizacional queconstitui o elemento comprobatório do conceito.

Segundo REGO (1986), a comunicação é umsistema aberto, semelhante à empresa; e como tal, acomunicação é organizada pelos elementos – fonte,codificador, canal, mensagem, decodificador, receptore ingredientes que revitalizam o processo.

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para o ordenamento e cumprimento de metas e estrutura dos sistemas de gestão, propiciando umconjunto de procedimentos fundamentais: odesenvolvimento das pessoas para uma condutacomunicacional voltada para a ação e a construção desistemas de comunicação.

Segundo AMORIM (1999), a proposta dedesenvolvimento pessoal consiste em sensibilizar aspessoas para um certo grupo de conceitos básicos e dedistinções lingüísticas , apresentando em seguida, a partirda estrutura dos atos ilocucionários, as ferramentas paraa comunicação eficaz. O sistema de comunicação, porsua vez, deve ser elaborado de modo a fazer fluir oconjunto dos atos de fala da instituição.

Observamos, ainda, em muitas empresas, formasde gerenciamento tradicionais inspiradas no modeloFordista, pelo qual a comunicação submete-se aomarketing, referente à dimensão externa da empresa eao endomarketing quando interna (em que pesem ascríticas quanto ao uso da palavra) ou, em última instância,a comunicação submete-se à atuação do profissional de

provocará a demissão de funcionários diversos,envolvendo o poder coercitivo e a respectivacomunicação para tal.

Relações Públicas. Algumas empresas têm ainda suaspróprias publicações, porém não passam de açõesfragmentadas e evidentemente mostram o desperdíciodo potencial da comunicação efetiva.

O fenômeno da comunicação deve ser algo queocorre entre as pessoas, muito além da idéia simplóriade emissor, mensagem, receptor. A comunicação temde ser usada como ferramenta de gestão, melhorando a

objetivos.

De nada vale uma palestra sobre a situaçãoeconômico-financeira da empresa, aos operadores demáquinas de uma área de usinagem de blocos de motorse os mesmos não tiverem como relacionar o tema comsua condição social na estrutura , e ainda não perceberemonde se inserem no contexto da palestra. Muitas vezestais palestras são insinuantes de desequilíbrio financeiroe buscam minimizar insatisfações e prováveis alteraçõesde grupos nas organizações. Tais atos comunicacionaissão desprovidos de corpo e seus resultados, altamentequestionáveis. Podemos afirmar que tal procedimentonão se trata de um processo comunicacional.

Para atingir seus objetivos, uma organização deveperseguir um equilíbrio entre as partes que a formam.Tal equilíbrio é resultante da disposição ordenada entreas partes. Essa disposição é obtida graças ao processocomunicacional. Pode-se afirmar, em conseqüência, que,ao se organizar uma empresa, como bem lembra LEETHAYER (1979), na verdade está se organizando oprocesso de comunicação entre suas partes.

A comunicação exerce um grande poder,conforme lembra DEUTSCH (1979), que mostra opoder como possibilidade de uma pessoa ou umaentidade gerar influência sobre outrem. A comunicaçãoexerce, em sua plenitude, um poder que Rego colocacomo sendo um poder expressivo, legitimando outrospoderes existentes na organização, como o podercoercitivo, de recompensa e técnico, entre outros.

Um exemplo clássico de poder de recompensaé o fato de a empresa constantemente expor aos seuscolaboradores suas metas e objetivos de produção efaturamento e, alavancado por esses dois, um programade remuneração variável. Quanto melhor a comunicaçãode tais metas e objetivos, maior será o empenho porparte dos colaboradores em atingir tais resultados. Emmuitos outros casos, o não alcance dos objetivos

Atualmente, as empresas perseguemexaustivamente metas, tais como: compromisso emtorno dos objetivos da empresa, perdas zero, flexibilidadee capacidade de reação rápida e positiva às mudanças,envolvimento efetivo de pessoas com as inovações emelhorias dos sistemas gerenciais e produtividade dostrabalhos em equipe. A comunicação enquadra-se na

Quando uma empresa necessita implementarprojetos para melhoria da qualidade organizacional, porexemplo o Sistema da Qualidade NBR ISO 9000,costuma lançar mão de campanhas pontuais. Taiscampanhas pontuais têm no seu conteúdo, por exemplo,a elaboração de slogan, bottons, palestras isoladas etc.

Em muitas dessas empresas fordistas, os perfisautoritários de seus gestores, geralmente avessos àtransparência e à participação, buscam por esconder emanipular informações, procurando, em última instância,que as pessoas saibam o menos possível. Desnecessáriodizer que além da provável ineficácia, as estratégiascentralizadoras desperdiçam energia e desrespeitam aspessoas. Observa-se tal procedimento nos treinamentosrealizados para que os funcionários de determinadaorganização gravem em suas mentes a política daqualidade como um fato isolado, apenas para atender aoprovável questionamento de um auditor externo. Ofuncionário não sabe sequer o porquê daqueletreinamento.

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relação entre as pessoas e a relação entre pessoas einstituição.

A unidade básica da comunicação é a linguagem,à qual adiciona-se a noção de compromisso e de escutar,de inspiração heideggeriana. A linguagem pode estaradequada para obter a ação ou, ao contrário, paradificultá-la.

Um grupo de distinções lingüísticas é a base paraa organização posterior das ferramentas para acomunicação. As distinções são: juízo; aprender; escutare conversar.

O juízo expressa a subjetividade, os valores deuma pessoa. Frases do tipo ‘ele é competente’, ou ‘ele éimaturo’ ilustram um juízo, não sendo possíveldeterminar se são verdadeiras ou falsas, certas ou erradas.

importante é informar o sistema das mudanças noambiente, informar que a situação não está se repetindo,estando inviabilizadas as velhas estratégias, vitoriosas nopassado, mas obsoletas e inadequadas no presente. Adificuldade reside em que a percepção da informação e,sobretudo, seu aprendizado não é um processo isentode resistências tanto no que se refere ao indivíduo,quanto à organização.

As instituições empenhadas em mudançasorganizacionais ou na adoção de quaisquer novastécnicas se deparam, em maior ou menor grau, com aresistência das pessoas ao novo. Parte dessa resistênciadecorre da experiência do aprendizado enquanto perda,e não enquanto adição de um outro ‘saber’.

Um exemplo é a necessidade de se documentaro procedimento operacional de uma máquina qualquer.O operador não aceita a possibilidade de que existe ummodo melhor de operação além daquele que ele executahá 10 anos. Nesse caso, a dificuldade de implementação

A primeira lição para o trabalho em grupo é que,literalmente, não se perde tempo discutindo a veracidadede um juízo. A formação de um juízo origina-se em umou mais fatos anteriores; portanto, apresentar os fatose contexto é oferecer àquele que escuta os fundamentos do procedimento é imensa. Por outro lado, o fato de

chamar o operador a participar da elaboração de umnovo procedimento para melhoria da sua condição detrabalho poderá motivá-lo a aprender mais e até mesmoreduzir sua resistência à mudança.

Objetivando apreender o pano de fundo

Seguindo a tradição de Heidegger, o estado deânimo é um fenômeno fundamentalmente unido aoentendimento, um certo sintonizar-se com nossasituação, o que nos abre certas possibilidades e,simultaneamente, nos fecha outras (Heidegger, apudFLORES, 1989).

À estrutura unificada de entendimento e estadode ânimo dá-se o nome de escutar (FLORES,1989).Desenvolver a habilidade de escutar é empenhar-se emaguçar a percepção do contexto e do mundo particulardo outro. Quanto às pessoas, a escuta faz-se a partir detodas as evidências possíveis, tais como tom de voz,expressão corporal, etc.

nos quais se originou o juízo.As auditorias para certificação dos Sistemas da

Qualidade anteriormente descritos trazem consigoalguns juízos elaborados pelos auditores externos e quenormalmente, se inseridos no contexto da auditoria eapoiados em normas e procedimentos documentados(conforme exigido pelos sistemas), são aceitos pelosauditados sem grandes questionamentos. Porém, apenasum juízo externalizado sem base e/ou fundamentaçãoteórica (suporte documentado) pode provocar uma sériadiscussão e até mesmo o abandono da auditoria, queem muitos casos tem valor expressivo. O juízo é umveredicto, fecha ou abre possibilidades de açãocomunicativa.

O fenômeno da aprendizagem respeita asparticularidades de organizações complexas ou criativas.Pode ocorrer por meio da tentativa e erro, por ganhos eperdas, dado o ambiente e a necessidade de adaptação.Este é o processo biológico imposto aos seres vivos,lento e incômodo. Uma organização precisa aprendermuito mais rapidamente, sendo instada a dar respostascéleres. Essa dinâmica é possível através da avaliação deseu comportamento na cadeia, evitando alternativasmalsucedidas e repetindo aquelas bem-sucedidas nopassado (BEER,1969).Tal mecanismo de aprendizado,se, de um lado, reduz o tempo de respostas às demandasda adaptação, por outro, torna o sistema relativamenteresistente às mudanças, alimentando a tendência àperpetuar procedimentos. Entende-se, portanto, que o

presente na comunicação e na articulação decompromissos, define-se primeiramente o estado deânimo, apresentado como o modo particular de cadaum situar-se no mundo, algo que o indivíduo é, criado apartir da própria presença.

À conveniência dos objetivos voltados à gestãoorganizacional, propõe-se conteúdos diferentes àsexpressões convencer e conversar. Convencer destaca otermo vencer – a aproximação visando aoconvencimento é um gesto de imposição. No conversar,

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destaca-se o termo versar (aprender) – a aproximação uma unidade humana dependente de interações. Maisque desenvolver o espírito corporativo, o que se pretendeé que cada um perceba com clareza no contexto daorganização, e perceba a organização no contexto dasociedade.’”

BIBLIOGRAFIA

* Professor do IMES e aluno do PMA doCEAPOG-IMES.

visando conversar é um gesto de apresentar os meusjuízos ao outro, dispondo-me a abrigar também os seusjuízos, mantendo-me interessado e aberto ao seumundo.

Resumidamente, as reflexões levadas a efeito pelaontologia da linguagem e pela cibernética ensinam aperceber que as instituições são também fenômenoslingüísticos, de modo que a comunicação deveria fazerparte dos procedimentos organizacionais fundamentais,o que permitiria avançar na descentralizaçãoadministrativa sem perda de coerência, com maioreficácia na realização das tarefas e na construção deespaços profissionais pautados também pelo respeitoàs pessoas e suas condutas individuais.

A comunicação organizacional deve serconduzida por um centro de coordenação responsávelpor pesquisas, estratégias., táticas, políticas, normas,métodos, processos, canais, fluxos, níveis, programas,planos, projetos, tudo isso apoiado por técnicas quedenotem uma cultura e uma identidade organizacional.

Rego finaliza seu texto enfatizando a idéia deum mundo que se renova e a de um mundo em relações,onde o sistema empresa não pode ser dissociado doconjunto de variáveis e fatores que integram a célulasocial.

O que se deseja, enfim, é a aproximação entreos valores reais do trinômio sociedade – empresa –comunicação.

De acordo com GUIMARÃES (1995), “emartigo intitulado ‘A hora e a vez dos empresários dosaber’, escrito para Ícaro – Revista de Bordo da Varig, osociólogo e consultor educacional em São Paulo, Albertode Oliveira, descreve brilhantemente as virtudes daempresa enquanto uma comunidade de aprendizagem.Ele diz: ‘...a empresa é um organismo vivo, em mutação:

AMORIM, Maria Cristina Sanches. Comunicaçãoplanejada, recurso fundamental para a eficácia da gestãoorganizacional. Caderno de pesquisas emadministração. São Paulo, v.1, n.9, 2. trimestre/99.

BUCKLEY, Walter. A sociologia e a moderna teoria dossistemas. São Paulo: Cultrix, 1971.

DEUTSCH, Karl W. Política e governo. Trad. Maria Joséda Costa e Félix Matoso Miranda Mendes. Brasília:Universidade de Brasília, 1979.

GUIMARÃES, Jorge Lessa. Qualidade competitiva no Brasil.Salvador: Casa da Qualidade,1995.

PARSONS, Talcott. O sistema das sociedades modernas. SãoPaulo: Pioneira, 1974.

REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Comunicaçãoempresarial, comunicação institucional: conceitos, estratégias,sistemas, estrutura, planejamento e técnicas. São Paulo:Summus, 1986.

THAYER, Lee. Comunicação: fundamentos e processos; naorganização, na administração, nas relações interpessoais. SãoPaulo: Atlas, 1979.

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II SEMINÁRIO INTERNO

O Laboratório de Gestão da Sociedade Regional do IMES e a disciplina “PolíticasSociais para a Administração da Cidade”, com o objetivo de refletir sobre as políticas públicasdesenvolvidas e implementadas na região do Grande ABC, promoveram o II Seminário Interno nosdias 20 e 27 de outubro e 10 de novembro de 1999, quando foram discutidos, respectivamente, ostemas “Políticas de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC”, “Políticas de Inclusão Social eCidadania” e “Políticas Públicas de Cultura”, com ênfase ao processo de regionalização do ABC.

Realizado em 20 de outubro de 1999, o debate sobre “Políticas de DesenvolvimentoEconômico do Grande ABC promoveu o encontro entre três prefeituras, com a participação deAyrton Cardoso (da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Santo André), Evaristo Peroni(diretor do Fomento do Comércio e Serviços de São Bernado do Campo) e Jerson Ourives (secretáriodo Desenvolvimento Econômico de São Caetano do Sul), além de Jorge Hereda (do ConsórcioIntermunicipal) e José L. Pechtol (do Fórum da Cidadania).

O debate sobre “Políticas Públicas de Inclusão Social e Cidadania”, realizado em 27 deoutubro de 1999, contou com a participação de Marlene Zola (da Secretaria do DesenvolvimentoSocial e Cidadania de São Bernardo do Campo), Gil Gonçalves (da Secretaria da Criança, Família eBem Estar Social de Mauá), Cormarie G. Perez (assistente social da Secretaria de Assuntos Jurídicose Cidadania de Ribeirão Pires), Olivier Negri Filho (vereador de Mauá), Marcos Gonçalves (daAVAPE) e Wagner Barbato (do Procon de São Caetano do Sul). Seu objetivo foi o de levantar asquestões da inclusão social e cidadania (condição da criança e do adolescente em situação de risco,desemprego, violência e a implantação da “Loas”), buscando verificar o que foi realizado até opresente momento e qual a visão dos convidados em relação às abordagens destes temas dentro deum modelo de Gestão Regional.

Participaram do debate sobre “Políticas Públicas de Cultura” Altair José Moreira (da Secretariade Cultura de Santo André), Martha de Bethânia (da Secretaria de Cultura de Diadema), JúlioMendonça (da Secretaria de Cultura de São Bernardo do Campo) e José Aparecido Barbosa (daSecretaria de Cul-tura de Mauá). Todos os municípios caminham para a implementação de políticasque visam à parceria entre comunidade e município, procurando dessa maneira atender de formamais completa a demanda da população e viabilizando seu desenvolvimento sociocultural.

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1. INTRODUÇÃO

PLANEJAMENTO ECONÔMICO REGIONAL

CLAUDIA POLO DENADAI GONÇALVES/

CARLOS ROGÉRIO PRADO/ FRANCISCO F. DA SILVA*

politicamente neutra. Implica, na realidade,rearticulação de interesses e realocação de recursos.

Pareto havia desenvolvido um conceito maisamplo de eficiência, onde ninguém melhora às custasda piora de alguém. Tiebout usou o conceito de Paretopara desenvolver a definição do que seria um governolocal eficiente: todos recebem os serviços para os quaishá demanda econômica e ninguém recebe serviços não-desejados. Ao aproximar-se desse ideal, os governoslocais alcançam uma relação muito favorável entre nívelde impostos cobrados e volume e qualidade de serviçosprestados; assim, a localidade se torna atraente.

Na atual fase da economia mundial, éprecisamente a combinação da dispersão global dasatividades econômicas e da integração global, medianteuma concentração contínua do controle econômico eda propriedade, que tem contribuído para o papelestratégico desempenhado por certas grandes cidades,denominadas cidades globais [global cities] (SASSEN, 1998).Algumas têm sido centros do comércio mundial e daatividade bancária durante séculos, mas, além dessasfunções de longa duração, as cidades globais daatualidade são:1. pontos de comando na organização da economia

mundial;2. lugares e mercados fundamentais para as indústrias

de destaque do atual período, isto é, as finanças e osserviços especializados destinados às empresas;

3. lugares de produção fundamentais para essasindústrias, incluindo a produção de inovações.

O papel do governo local varia em cada época ecircunstância, segundo os atores que participam dadefinição da cena política e as funções exercidas peloEstado no qual aquele governo local está inscrito.Tocqueville é um dos primeiros a defender ofortalecimento do governo local como modo deenfrentamento do poder absolutista e desenvolvimentoda democracia. Também em Montesquieu encontra-sea defesa da divisão de poderes e da fragmentação doEstado em vários níveis, como modo de assegurar ocontrole democrático do Estado.

Durante o período do fordismo os governos locaistiveram papéis bastante definidos. Nesse período osEstados Nacionais têm um papel claro em relação àsempresas monopolistas e intervêm no mercado atravésde renda e preços. Os principais atores políticos –sindicatos, partidos políticos – estão organizadosnacionalmente. As atividades ligadas às guerras tambémcolaboraram para uma maior centralização efortalecimento dos Estados Nacionais.

O papel do governo local dentro do Estado de Bem-Estar é o de prestar serviços tais como educação,habitação, transportes e outros serviços sociais. Emoutras palavras, produzir os serviços de consumocoletivo. São essas as condições para manter a demandae a produção em massa.

A crise do fordismo provoca o aumento dodesemprego, das ocupações temporárias, a fragmentaçãoda classe trabalhadora e o conseqüente enfraquecimentodos sindicatos. As negociações deixam de ser nacionaispara se darem no âmbito das empresas. O mercado detrabalho passa a ter um caráter mais acentuadamentelocal, flexibilizando-se.

O fortalecimento da localidade como centroimpulsionador de políticas tem gerado, tanto nos EstadosUnidos, como na Europa Ocidental, estratégias dedesenvolvimento econômico local. A busca de eficiência não é

Várias cidades também preenchem funçõesequivalentes em escalas geográficas menores, no que serefere a regiões transnacionais e subnacionais.

O rápido crescimento da indústria financeira ede serviços altamente especializados gera não apenasempregos técnicos e administrativos de alto nível, comotambém empregos que não exigem qualificação e queapresentam baixa remuneração, além de novas

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desigualdades econômicas nas cidades, sobretudo nascidades globais e em suas contrapartidas regionais.(SASSEN, 1998).

As cidades globais são os lugares-chaves paraos serviços avançados e para as telecomunicaçõesnecessárias à implantação e ao gerenciamento dasoperações econômicas globais. Segundo SASSEN (1998,p.47) “o surgimento de um novo tipo de sistema urbanoopera em níveis regionais, globais e transnacionais. Trata-se de um sistema no qual as cidades são pontos centraisfundamentais para a coordenação internacional e para aprestação de serviços das empresas, mercados e atémesmo de economias inteiras que, cada vez mais, sãotransnacionais. Essas cidades despontam como lugaresestratégicos na economia global. A maioria delas, porém,incluindo a maior parte das grandes cidades, não fazparte desses novos sistemas urbanos transnacionais. Ossistemas urbanos são co-extensivos com os Estados-Nação”.

2. DESCRIÇÃO

Sobre esse plano de trabalho, o município partiupara a formação de parcerias e de campos de trabalhos.Como parcerias foram procurados o SEBRAE e aACISCS, e compuseram um plano de trabalho, que jáfazia parte das idéias do SEBRAE, a EPC – Empresa deParticipação Comunitária. O objetivo deste trabalho écaptar pequenas economias, gerando mais empregos enovos empreendedores para o município. SegundoJerson Ourives, a função do órgão público é justamentecriar novas ações e novas oportunidades a essesempreendedores que estavam à margem do processo.

Talvez estejamos presenciando um processo derecentralização em certas cidades que, de certo modo,têm sido periféricas. Algumas das cidades menores daEuropa, América e Ásia provavelmente se beneficiarãodo mercado à medida que puderem expandir suasatividades e funcionarem como pontos de conexão comregiões mais amplas.

Enquanto a política interna continua a reger-sepelas questões locais e paroquiais, o mundo – queiramosou não – está entrando na era planetária, o que nãoimplica, pelo menos a curto prazo, a redução das tensõese conflitos e um grau mais elevado de governabilidade;não se trata, apenas, de interesses econômicos. Estãoem jogo os símbolos e valores que conferem significadoà existência humana, individual e coletivamente. Naimpossibilidade de retornar ao passado ou mesmo demanter o status quo, cumpre-nos desenvolver e postularum paradigma alternativo, com parâmetros diferentesdo Estado-Nação tradicional. À medida que o sistemaeconômico se torna globalizante, tendem a surgirpressões sobre as identidades culturais, cuja diversidadee riqueza constituem um dos pilares de uma sociedadedemocrática e sustentável.

“Governar tornou-se a arte de relações públicas,de marketing e de administração de recursos financeiros,muito distante da preocupação de gerar uma culturapolítica democrática em sociedades crescentementeheterogêneas, complexas e dinâmicas e onde todos estãoem busca de seus rumos e destinos.”

Santo André – O representante do municípiode Santo André, Ayrton Cardoso, chamou a atenção àsraízes culturais da região, que andam esquecidas eprecisam ser resgatadas; ao mesmo tempo, é precisorepensar algumas posições mais regionais e menosindividualizadas. Para Ayrton, o planejamento é umtrabalho de pesquisar, analisar, divulgar informações paradepois se tomar decisões seguras na execução de açõesfuturas. A Região está passando por grandes mudançascujo naipe é a prestação de serviços, principalmenteindustriais.

O seminário sobre DesenvolvimentoEconômico Regional, realizado no dia 20 de outubrode 1999, buscou chamar a atenção dos atores entãopresentes para a relevância dos aspectos político-institucionais do Grande ABC, que, num âmbito geral,encontram-se ainda negligenciados, e portanto deixandode facilitar o desenvolvimento regional. Nesse sentidodescrevermos a seguir as estratégias adotadas pelos atoresindividualmente, que participaram efetivamente desteseminário, procurando identificar as políticas regionaisrelevantes para o desenvolvimento econômico da Regiãodo Grande ABC.

São Caetano do Sul – O representante domunicípio de São Caetano do Sul, Jerson Ourives,mostrou a preocupação em elaborar um plano detrabalho que se coloque regionalmente por meio dasações do Consórcio, da Câmara Regional do ABC e aAgência de Desenvolvimento Econômico. O trabalhodesenvolvido no município prioriza a micro e a pequenaempresa, buscandosubstituir a grande empresa pelasmenores. Isto se deve às mudanças ocorridas nos 10últimos anos na região do Grande ABC, com oesvaziamento de grandes parques industriais, e SãoCaetano está inserido neste contexto.

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Foi levantada a questão do zoneamento urbano,pois é preciso se preocupar com o uso certo do solo edas águas, evitando mais poluição. Portanto, serviçosindustriais devem ser fixados em pólos industriais, ecomerciais, em zonas comerciais. Com base nestaquestão, deve-se pensar numa melhor maneira de seexecutar a cadeia produtiva da cidade. É precisoidentificar as falhas de mercado existentes para entãogerar incentivos e, assim, supri-las, com isso gerandonovos empregos, novos postos de trabalhos e novascomunidades sem falhas de planejamento.

O município possui um programa de formaçãode novos empreendedores, as micro-empresas abertascom recursos originados de uma demissão. Segundoíndices do próprio SEBRAE, as micro-empresasapresentam dificuldades econômicas no prazo de apenas2 anos, devido principalmente à falta de preparo dessesnovos empreendedores. Nesse sentido, o município, emconjunto com o SEBRAE e o BID, elaborou umprograma de treinamento e desenvolvimento dessesempresários, para que suas empresas tenham umasobrevida maior.

O município apresenta também programas deformação de cooperativismo entre os micro e pequenosempresários para identificar novos seguimentos demercado, mercados onde tais empresas não conseguematuar sozinhas por falta de demanda na produção, o quefaz com que elas atuem juntas na forma de associação.Essa foi a forma encontrada pelo município para que asempresas obtivessem sucesso na busca de novosmercados.

Criou-se um conselho de desenvolvimentoeconômico, com a participação de um conselhopartidário, tendo na sua composição 18 integrantes,sendo nove da sociedade civil para a discussão dofortalecimento do desempenho em geral das empresase programas ligados ao turismo. Pensa-se no turismovoltado para a vocação da região, o turismo cultural,realização de eventos e o turismo empresarial.

Em complemento a esses programas, SantoAndré está desenvolvendo um programa chamado SantoAndré Cidade Futuro, que visa a discutir oencaminhamento de projetos relativos a melhora nourbanismo, no caso o eixo Tamanduatei e a Cidade Pirelli.

São Bernardo do Campo – Evaristo Peroni,representante do município de São Bernardo do Campo,abriu seu discurso conceituando desenvolvimentoeconômico. Segundo Evaristo, desenvolvimento

econômico nada mais é do que a plena utilização dosrecursos para produzir o bem estar da humanidade, dapopulação. Esse conceito vem mudando com o passardo tempo; antigamente, o que provocava odesenvolvimento econômico eram basicamente trêsfatores: a terra, o capital e o trabalho, mais tarde seinserindo na terra os recursos naturais e maisrecentemente, com a revolução industrial, a tecnologia.Na década de 80, porém, identificou-se a existência decapitais tangíveis e intangíveis, sendo que, somados,geram o novo conceito de desenvolvimento econômico.Os capitais tangíveis são a terra, capital, trabalho etecnologia e os capitais intangíveis são os recursos quepodem ser materiais, humanos, psicossociais einvestimentos na sociedade.

As molas mestras para essa nova visão, para essenovo conceito de desenvolvimento econômico são oconhecimento científico, o consenso social e o poderpolítico coletivo. É preciso que haja na sociedade umconsenso social e maior participação. Hoje, o conceitode desenvolvimento é sinergético, diferentemente doconceito que provinha da utilização dos benefíciosgerados pelos recursos. O importante, atualmente, é oíndice de desenvolvimento humano, não interessando,por exemplo, quantas escolas existem, mas se toda apopulação tem acesso a elas.

Em relação ao município de São Bernardo doCampo, dentro da Câmara foi criado um grupo pararecuperar o setor moveleiro não só da cidade comotambém da região. Este grupo conseguiu importantesadesões, como a do SEBRAE, de prefeituras interessadasno projeto e do sindicato moveleiro de São Bernardodo Campo. Foram traçadas algumas políticas, que vãodesde a planta da fábrica até o empresário. Outro fatorimportante no setor moveleiro é a reciclagem de resíduosólido; quanto a isso, foi feito um acordo com a FEI –SBC, segundo o qual alunos orientados pelos professoresdesenvolveram novas técnicas para tornar esse materialeconomicamente viável; nesse sentido, estão procurandoparceiros para construir uma mini-usina para processaresse material.

Outra política que nasceu de reuniões na Câmarafoi a de homogeneização das alíquotas de ISS, a qualtem atraído empresas de serviços para a região e para osmunicípios, não pela guerra fiscal, mas sim de acordocom a vocação de cada uma.

Como última política, foi mencionada a rede demerco-cidades, que é a reunião de cidades do Mercosul

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com 500 mil habitantes ou até menos, mas que sedestacam de alguma forma em sua região. Essa rede demerco-cidades é a troca de experiências e acordos entreessas cidades.

Fórum da Cidadania – O representante doFórum da Cidadania, José L. Pechtool, destacou apreocupação do Fórum com as políticas voltadas aodesenvolvimento econômico regional. O Fórum não asexecuta, mas as formula, estuda, analisa e encaminha paraas prefeituras, para a Câmara Regional, para quem dedireito possa executar essas políticas.

A preocupação inicial era a geração de empregoe de renda, pois achava-se que, dentro desta questão,poderia se dar a cidadania. Outra preocupação do Fórumno momento é: será que realmente haverá umdesenvolvimento se nós trouxermos mais grandessupermercados para a região? Como ficam os pequenoscomerciantes? O grande desafio é trazer grandesmercados sem matar os já existentes.

Outra visão dentro do grupo dedesenvolvimento econômico do Fórum é a noção desustentabilidade que está por trás desse desenvolvimentoeconômico, que implica numa necessária interrelaçãoentre qualidade de vida, equilíbrio ambiental e essanecessidade de desenvolvimento.

O Fórum também se preocupa com a auto-gestão, no sentido de recuperação de empresas antesque elas quebrem, tornando os empregados tambémdonos participantes nos rumos da empresa. Comoexemplo de sucesso, Auto Forja e Cobertores Paraíba.

Consórcio – O representante do Consórcio,Jorge Fontes Hereda, mostrou a preocupação do órgâoem como chegar à sociedade mais fortemente. Oplanejamento estratégico na região não está relacionadocom planejamento dos planos plurianuais, socialismoreal e similares. Seria até impossível fazer isso, pois nãoexiste o controle dos meios de produção.

Com a globalização, na qual os governos domundo estão envolvidos, até a ONU se descaracterizoupara descobrir soluções locais. É neste momento queaparece no mundo o fato dos municípios começam aassumir novos tarefas, preocupando-se com odesenvolvimento econômico, desemprego e outrosfatores que se concentravam em outros níveis degoverno. Para Hereda, é preciso impor um mínimo deregras para haja um processo de globalização que nãoseja tão desordenado.

A região do grande ABC há algum tempo vemperdendo a interlocução com o Estado que mantinhanas décadas de 60 e 70; assim, os municípios tiveramque assumir certas atribuições. Foi através deste consensoque o Consórcio e a Câmara foram criados, para darmaior autonomia à Região perante o Estado e maiorinterlocução junto a todos os atores e agentes quebuscam minorar a crise ou até reverter seus efeitos. Oque está se fazendo é buscar um consenso entre governo,entidades representativas e a sociedade.

Desde 1997/1998, estão sendo firmados acordose protocolos de intenções, totalizando 21 acordos deplanejamento estratégico. Elaborou-se uma avaliação queproporcionou uma visão mais completa da Região,chegando a um cenário ideal para o ABC. Foi feito umdocumento para ser discutida a situação da Região, cujaleitura revelou que o ABC sempre foi consideradoperiferia da capital, porém com uma potência econômicamuito grande. Para reverter a lógica da periferia urbana,realizou-se uma reunião no qual foram estabelecidos seteeixos estruturantes, que formam um conjunto de metasa se traçar para se chegar ao cenário desejado para aRegião. Definiram-se quais os eixos seriam trabalhadosa curto, médio e longo prazos até o ano de 2010,aproximadamente.

Entende-se por fatores fundamentais educaçãoe tecnologia, seja com o intuito de melhorar o níveleducacional do trabalhador ou de qualificar a populaçãocomo um todo. Quanto à tecnologia, é preciso criarpólos de tecnologia e pesquisa (eixo 1).

Outra questão importante é que há 56% de áreade preservação de mananciais, ou seja, áreas que nuncaforam preocupação quanto ao desenvolvimento, e queagora exigem planos para a sua sustentabilidade, embusca de alternativas para que se desenvolvam de formaordenada, porque hoje são consideradas regiões queatrapalham a vida das pessoas.

Deve-se ressaltar, ainda, na análise da pesquisa,a sensibilidade e a infra-estrutura. Um eixo que mereceudestaque diz respeito à diversificação e ao fortalecimentodos meios e cadeias produtivas. A estrutura da região évertical, fordista. A própria pesquisa do SEADE,encomendada pelo Consórcio, aponta um perfil diferentedo resto de São Paulo. A grande indústria no ABC é aque mais contrata e mais gera recursos, ao contrário deoutras partes de São Paulo. As grandes indústrias doABC empregam 46% da população economicamenteativa.

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Não se deseja acabar com o que o ABC tem dediferente, mas fortalecer e desenvolver adequadamente,manter essa cadeia de produção, criar sinergia dentrodessa cadeia e conseguir uma lógica com a criação denovas cadeias produtivas.

Outros eixos de discussão muito importantes sãoos de caráter institucional, pois qualquer lugar que obteveum crescimento endógeno teve de considerar estaquestão. Curitiba, por exemplo, conseguiu formar oconsenso da importância do verde na cidade.

Por fim, uma questão que não é só regional,mas também mundial: a da inclusão social.

3. VISÃO ANALÍTICA E CRÍTICA

e a Agência de Desenvolvimento produzam programasde trabalho. A região necessita de uma resposta.

Não é sem razão que os temas ligados a essaspolíticas públicas estão representados no PlanejamentoEstratégico Regional, os famosos eixos estruturantes,que aqui merecem uma definição: a concepçãoestratégica compreende a realidade em permanentemudança, resultado do desenvolvimento dos conflitose das disputas que o animam. O adjetivo estratégicoqualifica, então, algo que é orientador e estruturante deum conjunto de ações intencionais e articuladas, voltadasao alcance de objetivos de médio e longo prazo, emmeio a ações e reações de iniciativa externa; a formulação,a decisão e a execução geralmente são exercidas pordiferentes atores. Nos parecem frágeis, desconectados,sem uma visão global da conjuntura a ser enfrentada.

Em vez de nos espelharmos nas experiênciasregionais de sucesso pelo mundo afora e tirarmos delaslições para melhor desenvolver a região, ficamos muitasvezes admirando como algumas áreas degradadas eultrapassadas tecnologicamente estão conseguindodespontar como alternativas econômicas para o próximoséculo, e com isso permanecer num seleto grupo deregiões vencedoras. Não podemos admitir apossibilidade de sermos periferia econômica da cidadede São Paulo, produzindo aproximadamente 45% dariqueza industrial do Estado de São Paulo.

Não existem receitas econômicas para odespreparo administrativo público como precatórios,déficit orçamentário e outras políticas públicasequivocadas entre outras. Nem especialistas como AllenScott, Tomas Grohé, Jodi Borja, entre outros, podemdar respostas para a nossa regionalidade, se entre nósisto não for aprofundado e expandido para maisinterlocutores locais. Não podemos crescerendogenamente sem quebrar estas barreiras municipais.Muitas vezes estamos repetindo para nós mesmos asações realizadas; temos que avaliar que estas açõespropostas têm a dimensão de 2,5 milhões de habitantesà espera de soluções ou de atitudes que vislumbrem umapossível solução.

Pode-se analisar os representantes municipaisde São Caetano do Sul, Santo André e São Bernardodo Campo, que trabalham na política pública dedesenvolvimento econômico em conjunto com oConsórcio Intermunicipal do Grande ABC e a CâmaraRegional, como bem intencionados, transformando aintenção em seqüências de ações que buscam informare formar para o crescimento local e regional.

Para continuar nossa análise, devemos refletirsobre uma falha comum aos sete municípios quecompõem a Região em sua capacidade de interlocuçãopara a queda de fronteiras municipais e a consecuçãode programas que enfrentem os problemas, com aeleição das políticas sociais como início das estratégiasregionais. Percebemos a pouca integração entre ossecretários e diretores municipais da região num todo,não realizando estudos em profundidade, transferindoou esperando que as lideranças regionais realizem aspolíticas regionalizadas, aguardando que o Fórum daCidade, a Câmara Regional, o Consórcio Intermunicipal

Quando ouvimos os responsáveis por taispolíticas econômicas, percebemos terem conhecimentoda realidade dos problemas econômicos locais, a questãoda informalidade, dos conflitos da municipalidade como governo do Estado e dos próprios errosadministrativos ligados à burocracia, precáriacomunicação e a duplicação de esforços em nívelregional. Isto posto, sucedem-se várias práticas desucesso, como o fato de cada cidade contar com o seumix, não havendo confronto umas com as outras, aviabilização da formalidade dos empreendedores, aformação de cooperativas e o apoio das AssociaçõesComerciais e do SEBRAE.

CONCLUSÃO

Um novo “espaço de fluxos” precisa substituiro “espaço dos lugares”. O elemento central da

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produtividade no novo modo de desenvolvimentoinformacional, que sucede ao industrial, baseia-se agorana qualidade do conhecimento e no processamento dainformação, convertida ao mesmo tempo em matéria-prima e produto, e não mais nas fontes de energia e naqualidade do seu uso como no modelo anterior, deacordo com CASTELLS (1995).

Os aspectos da acessibilidade e da qualidadede vida oferecidos são igualmente cruciais para aescolha da localização das sedes empresariais e doscentros de produção chaves.

Um bom exemplo é o fenômeno da “TerceiraVia”, considerado uma experiência bem-sucedida de“desenvolvimento local endógeno”, ou seja, devidoessencialmente à sua dinâmica interna, cujascaracterísticas fundamentais poderiam ser tambémencontradas nas grandes metrópoles, como nos distritosde alta tecnologia, eletrônica e aeronáutica, de confecção,de cinema e televisão, além do distrito comercial efinanceiro central, existentes na cidade de Los Angeles,como observa SCOTT (1994).

Destaque para a contribuição de Scott é o caráterainda tipicamente industrial que pode assumir odesenvolvimento urbano, negligenciado nas análisesanteriores que pareciam sugerir uma especializaçãofinanceira e de serviços avançados das economiasmetropolitanas.

O novo papel das cidades no quadro dereestruturação produtiva e da globalização, descoladasdos contextos nos quais foram formuladas, e, assim,reproduzidas como leis positivas cuja validade dispensamediações e relativizações temporais e históricas, umavez tendo sido comprovadas empiricamente.

A articulação entre o local e o global, o núcleoduro do paradigma que sugere a não pertinência doespaço, Estado e economia nacionais para odesenvolvimento econômico das cidades, bastando paratanto estratégias endógenas de atratividade e inserçãonas redes de fluxos econômicos globais, não correspondeà lógica do investimento estrangeiro que segueobedecendo as antigas relações entre centro e periferia(LEVY, 1998).

Borja & Castells consideram que é na articulaçãoentre o local e o global que se encontra, em últimainstância, “a fonte dos novos processos detransformação urbana, e, portanto, os pontos deincidência de políticas urbanas, locais e globais, capazesde inverter o processo de deterioração da qualidade devida nas cidades” (1998, p .35).

Desde os anos 90, no Brasil, ou desde a décadade 80, nos Estados Unidos e Europa, os municípiosdevem responder a uma agenda ampla de desafios.“Temas como o desenvolvimento econômico, aformação e reciclagem de mão-de-obra ou a articulaçãosupramunicipal, que antes implicavam apenas aresponsabilidade de governos regionais ou nacionais,entraram na agenda municipal, somando-se a outros quedemandam esforços permanentes dos governos locais– saúde, educação, proteção a grupos desfavorecidos”(PACHECO, 1999, p. 39).

A mudança nas estratégias de localização dasempresas, que acompanhou a superação do paradigmafordista de produção e os efeitos da globalização sobrea produção e os serviços trouxeram à tona um aparenteparadoxo: a mundialização dos fluxos é acompanhadapela emergência da localidade. Nesse contexto, cabe aosmunicípios um novo desafio: serem mais competitivos,por meio de estratégias que não se baseiem na guerrafiscal, pois esta leva a um jogo de soma zero (HARVEY,1996). O que se precisa é de um jogo virtuoso cuja somaseja positiva: competição e colaboração entre municípiose atores sociais têm sido a chave de estratégias locaisbem-sucedidas.

Na administração das cidades, não há ponto deequilíbrio ou movimento sem aceleração. Emdecorrência de ameaças externas ou de problemaspróprios, a gestão de uma cidade tende a se deparar comnovos desafios. Uma atitude passiva em relação ao futuroque se desenha deixa poucas alternativas aoadministrador municipal, sendo a mais usual o aumentodos gastos públicos para superar dificuldades decorrentesda falta de planejamento. É o caminho para ampliaçãodo endividamento e o aumento de taxas e impostos. Afalta de planejamento está associada a uma máadministração financeira.

Outro elemento de destaque na nova realidademundial globalizada é a crescente concorrência entre ascidades. Os municípios competem entre si na atraçãode investimentos e de visitantes. Segundo Philip Kotler,a atratividade de uma cidade é resultado da composiçãode três capacidades: investibilidade, habitabilidade evisitabilidade. Essas três capacidades reforçam-semutuamente, concorrendo para a melhoria contínua dasituação das cidades. Em outras palavras, quem querinvestir busca cidades bem administradas e com boaqualidade de vida.

É interessante notar que o descobrimento dopapel a ser exercido pelo município no campo social

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ocorreu tanto pelo lado dos que advogam os princípioseconômicos neoliberais, como daqueles que, apesar dacrise financeira do Estado, do tamanho do desempregoe da competitividade internacional provocada peloaprofundamento da mundialização do capital, aindadefendem a manutenção da proteção social concedidapelo Welfare State. Dessa forma, hoje é possível seencontrar, discutindo a mesma agenda, políticos,administradores e pesquisadores de origem ideológicadiferente. Embora com motivações diferentes, todosbuscam a melhor maneira de o município assumir o papelde organizador e ou executor de diferentes políticassociais. Todos acreditam que o município tem vocaçãopara fazer uma política social mais integrada, maiseficiente, mais participativa e mais eqüitativa.

Com todas essas nuances, os processos demunicipalização, democratização e, agora, deglobalização, deram maior legitimidade aos governoslocais e fizeram emergir a cidade, no Brasil, como atorpolítico capaz de assumir acordos e associações,passando a representar o papel de pólo central naarticulação entre a sociedade civil, a iniciativa privada eas diferentes instâncias do Estado (CASTELLS &BORJA, apud VIANNA, 1998).

Percebe-se que os representantes das prefeiturasreunidos no IMES não conseguiram disfarçar adificuldade de não gozarem de autonomia funcional paradesenvolver políticas públicas que satisfaçam asnecessidades regionais, pois as secretarias ou diretoriasda área econômica passaram a integrar as preocupaçõesmunicipais a partir de 1997 e, em nível regional, a partirde 1998, com a Agência de DesenvolvimentoEconômico. Nota-se que a estrutura atual é insuficientepara atender à demanda existente, concentrando osesforços somente em seus municípios. Osadministradores públicos da região ainda nãoperceberam que o temário regional vai além de questõeseconômicas e socioculturais, que se desdobram noschamados sete eixos estruturantes da Câmara do GrandeABC.

CASTELLS, M. La ciudad informacional. Tecnologías de lainformación, reestructuración económica y el processo urbano-regional. Madrid: Alianza Editorial, 1995.

DUNLEAVY, P. Urban Political Analysis, The Politics ofCollective Consumption. London: Macmillan, 1980.

GEDDES, Patrick. Cidades em evolução. Campinas: Papirus,1994.

GOLDSMITH, M. “The Future of Local Government”,paper apresentado para a Conference on the future ofEuropean Cities. Porto, Portugal: European ScienceFoundation, 1991.

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LASH, S. e URRY, J. The end of organized capitalism. Oxford:Poity Press/Basil Blackwell,1987.

LEVY, Evelyn. Democracia nas cidades globais, um estudo sobreLondres e São Paulo. São Paulo: Studio Nobel, 1998.

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RATTER, Henrique. Liderança para uma sociedadesustentável. São Paulo: Studio Nobel, 1998.

* Alunos do PMA do CEAPOG-IMES.

BIBLIOGRAFIA

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“ Cada pessoa equivale a um grão de areia, mas uma multidão é como uma pedra de

ouro.” Provérbio chinês

RESUMO: Este artigo tem como objetivo abordar aspolíticas públicas de Inclusão Social e Cidadania, naregião do grande ABC, e o que se tem feito paraminimizar essa problemática, que a cada dia ocupa maisespaço no meio social.

O texto é embasado nos depoimentos derepresentantes das prefeituras e ONGs, responsáveispor essas políticas, durante o 2º Seminário realizado peloLaboratório de Gestão da Sociedade Regional, no cursode Mestrado do IMES, realizado em outubro de 1999, ecomplementado com referencial teórico.

O que se pode observar é que as políticas deInclusão Social e Cidadania são trabalhadas localmente,sem a preocupação de se criar um plano mais abrangente,para facilitar as ações de Inclusão Social e a prática daCidadania regionalmente.

ABSTRACT: This article has the purpose ofapproaching the public politics of Social and CitizenshipInclusion, in the Greater ABC region, and what has beendone for reducing this problem, which day by day isincreasing in the social atmosphere.

The text is based in the ONGs and Town hallsdelegates’ depositions, responsables by these politics,during the 2nd Seminar accomplished by the RegionalSociety Administration Laboratory, in the IMESmastership course, which had taken place in October1999, and was complemented by the theoricalreference.

It can be observed that the politcs of SocialCitizenship Inclusion are worked on the premises,without the concern to produce a plan of inclusion tomake easy the Social Inclusion and the practice of theCitizenship regionally.

1. INTRODUÇÃO

Os alunos do curso de Mestrado emAdministração do IMES, dentro da linha temática“Gestão da Sociedade Regional”, e orientados pelosprofessores Luiz Roberto Alves e Jeroen Klink,promoveram em outubro de 1999 o 2º Seminário sobrePolíticas Públicas, destacando as políticas dePlanejamento Estratégico, Inclusão Social e Cidadania ePolíticas de Culturas.

No encontro estiveram presentes MarcosAntônio Gonçalves, diretor da AVAPE (Associação paraValorização e Promoção de Excepcionais); Cormarie G.Perez, assistente social da prefeitura de Ribeirão Pires,Marlene B. Zola, representante da Secretaria deDesenvolvimento Social e Cidadania de São Bernardodo Campo; Gil Gonçalves Júnior, Secretário do Bem-estar Social de Mauá; Olivier Negri Filho, vereador deMauá, e Wagner Barbato, diretor do Procon de SãoCaetano do Sul.

O presente artigo abordará as políticas públicasde Inclusão Social e Cidadania, e se estas políticas estãoconseguindo equacionar problemas relacionados aodesemprego, geração de renda, desigualdade social,portadores de deficiência física e direitos à Cidadania.

A exclusão social é crescente em todos ossegmentos sociais, principalmente após o início dos anos90, com a globalização, quando regiões e países maisdesenvolvidos usufruem de riqueza, progresso, melhorescondições de vida, e os demais são condenados àexclusão, à marginalizacão e à miséria.

KEY WORDS: public politics; social inclusion;citizenship.

PALAVRAS-CHAVE: políticas públicas; inclusãosocial; cidadania.

Na América Latina, com o perde-ganha daabertura ao comércio e aos investimentos externos,

INCLUSÃO SOCIAL E CIDADANIA NO SÉCULO XXI

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formado, de um lado, por polarização social edeterioração das condições de emprego e, de outro, porsofisticação da produção e amadurecimento da relaçãoempregado-empregador, há um movimento multi-direcional de inclusão e exclusão social.

Segundo Gilberto Dupas, há uma dialética dainclusão e da exclusão social em países periféricos comoo Brasil: a primeira se dá por meio do trabalho flexível einformal, enquanto a segunda consiste na eliminação doemprego formal.

No Brasil, há dez anos havia um milhão debancários empregados, hoje são 450 mil. No GrandeABC, em 1995, as empresas metalúrgicas empregavam150 mil, hoje são 35 mil.

Entre 1991 e 1998, o número de empregosformais caiu 27%, enquanto os informais aumentaram32%. Há uma fragmentação da cadeia produtiva, quebusca fatores mais favoráveis como mão-de-obra maisbarata, trabalho infantil ou leis ambientais mais flexíveis.

Em São Paulo, atualmente existem 8,4 milhõesde pessoas abaixo da linha de pobreza, com renda percapita mensal de R$ 149,00, segundo pesquisa realizadapelo IPEA.

organizado, a agressão ao meio ambiente e adesigualdade social.

Explodirão operações pessoais via redeseletrônicas, a crença na solidariedade , na auto-ajuda e aadesão às tecnologias de informação.

Várias cidades se rebelarão contra governoscentrais, provocando grandes crises nos Estados-nação.

Haverá grande aumento da participaçãocomunitária, os setores públicos e privados sem finslucrativos intensificarão as parcerias com ONGs ativas,promovendo a educação e a assistência social.

Hoje, os principais países estão se preocupandocom os gastos de bem-estar social, que crescerão naspróximas décadas. Uma das razões para isso é o rápidoaumento do número de idosos em todos os países,inclusive o Brasil.

As necessidades sociais ocorrerão de duasformas: por caridade, por meio de ajuda aos pobres,incapacitados, desamparados e vítimas, e por mudançasna comunidade decorrentes da força de trabalho e naspessoas pela demanda por aptidões e conhecimento,devido à exigência do mercado de trabalho porqualificação da mão-de-obra.

O estudo faz um alerta para reflexões sobre aspolíticas públicas implementadas hoje no mundo.

Um dos problemas sociais que preocupam associedades do mundo todo neste fim de século é aexclusão social, contingente de excluídos que coloca emrisco cada vez mais o menor número de incluídos.

Segundo Dom Helder Câmara, ex- arcebispo doRecife, os excluídos são os analfabetos, osdesempregados, vítimas da globalização e da automação,quando o mercado passou a exigir um menor númerode empregados e profissionais mais qualificados.

São os pobres que têm fome e sede de justiça,que desejam estudar e não encontram vagas, os que pre-cisam de saúde e o Estado não oferece; os aposentados,deficientes físicos, que não são respeitados em seusdireitos mais legítimos. Diante desse quadro, uma questãopode ser formulada: como será o próximo século?

Segundo um estudo sobre os cenários futuros,visto por um observador no ano de 2010, realizado pelaForward Studies Unit (órgão da Comissão Européia),citado por Gilberto Dupas, a Terceira RevoluçãoIndustrial será acompanhada por uma explosão dacapacidade empresarial ligada à tecnologia dainformação, inovação tecnológica e capacidade deorganização, com grande ênfase na iniciativa e naautoconfiança.

O consumismo será exacerbado e a exclusãosocial aceita como inevitável. Crescerão o crime

2. REFLEXÃO SOBRE POLÍTICAS

PÚBLICAS E DE INCLUSÃO SOCIAL

“Políticas Públicas são ações dos governosdestinadas a distribuir e alocar valores para acomunidade” (FINGERMANN, 1992).

Políticas Públicas também podem ser entendidascomo ações de atores políticos, visando a uma melhorqualidade de vida cultural e social, e ao desenvolvimentoda cidadania e das necessidades básicas de seus cidadãos,como educação, saúde, emprego e lazer.

Segundo Luiz Roberto Alves, Políticas Públicasdevem constituir-se em um processo de trabalho ondeos objetivos e metodologias são fundamentados naparticipação grupal ou coletiva. As ações eprocedimentos capazes de produzir a interação e osobjetivos devem considerar a criação simbólica daspessoas e instituições envolvidas e ser abrangentes,quanto à difusão e ao consumo de bens socioculturais.

Em um processo de Políticas Públicas, énecessária a participação de três atores. O gerador é

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aquele que implementa a Política Pública. O transmissoré aquele que a executa, difunde e desenvolve. Já oreceptor se beneficia dela e fornece feedback ao agentegerador, de forma que permita uma avaliação constanteda Política Pública implementada, bem como de seusresultados.

Portanto, políticas públicas são ações geradaspor discurso e produção de atores envolvidos numprocesso de trabalho político, visando à melhoria naqualidade de vida, ao desenvolvimento da cidadania eao atendimento de outras necessidades e desejos sociais.

Segundo Shahif Yusuf, assessor do BancoMundial de Desenvolvimento (BIRD), o último relatóriodo BIRD sobre a globalização no século XXI destacaquatro pontos essenciais para o sucesso de políticaspúblicas nesse próximo milênio:

– a estabilidade macroeconômica é essencial parao crescimento e indispensável para o desenvolvimento;

– as políticas públicas devem priorizar asnecessidades humanas;

– nenhuma política isolada promoverá odesenvolvimento, é necessária uma abordagemabrangente;

– o desenvolvimento sustentado precisa sersocialmente inclusivo e flexível para adaptar-se àevolução das circunstâncias.

3. POLÍTICAS DE INCLUSÃO SOCIAL

E CIDADANIA

Dentre as Políticas Públicas, a de Inclusão Sociale Cidadania, tema desse artigo, constitui a prática maisrecente de que se tem notícia no campo das necessidadesespeciais, tanto no Brasil como em outros países.

A Inclusão Social vem aos poucos substituindoa prática da integração social, que há quatro décadasocupa o lugar da segregação e da exclusão de pessoasconsideradas diferentes da maioria da população dequalquer sociedade.

Conceitua-se a inclusão social como o processopelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, emseus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidadesespeciais que, simultaneamente, preparam-se paraassumir seus papéis na sociedade.

A inclusão social constitui, então, um processobilateral no qual as pessoas (ainda excluídas) e a sociedadebuscam, em parceria, equacionar problemas, decidir

sobre soluções e efetivar a equiparação deoportunidades para todos (SASSAKI, 1997, p.3).

Para apoiar ações concretas nesse sentido, existeo Fundo Voluntário das Nações Unidas sobreDeficiência, aprovado pela Assembléia Geral por meioda resolução 40/31 (UNITED NATIONS, 1997, p. 5).

A prática da inclusão social repousa emprincípios até então considerados incomuns, tais como:a aceitação das diferenças individuais, a valorização decada pessoa, a convivência dentro da diversidadehumana, a aprendizagem por meio da cooperação.

A diversidade humana é representada,principalmente, por origem, nacionalidade, opção sexual,

Em várias partes do mundo, já é realidade aprática da inclusão, tendo as primeiras tentativascomeçado há cerca de 10 anos nos Estados Unidos e naEuropa. O processo de inclusão vem sendo aplicadoem cada sistema social; quanto mais sistemas comunsda sociedade adotarem a inclusão, mais cedo secompletará a construção de uma verdadeira sociedadepara todos, “a sociedade inclusiva”.

A ONU (Organização das Nações Unidas) foiprovavelmente a primeira entidade a cunhar explicita-mente a expressão “sociedade para todos”, que está regis-trada na resolução 45/91 da Assembléia Geral das Na-ções Unidas, ocorrida em 1990. Desde então, seus docu-mentos vêm relembrando constantemente a meta de umasociedade para todos em torno do ano 2010. Em outraspalavras, foi dado ao processo de consecução da metade uma sociedade inclusiva o prazo de cerca de 20 anos(1991-2010).

Os governos têm responsabilidade direta decriar ações para minimizar esse problema, por meio dapromoção do crescimento econômico sustentado, coma adoção de políticas corretas. Devem promoverprogramas em parceria com o setor privado destinadosao treinamento dos trabalhadores dispensados e reciclaraqueles que ainda se encontram empregados. Estimulara flexibilização de regras relativas às relações de trabalho,de modo a preservar o número de empregos, e facilitaras negociações entre empresas e trabalhadores. Por fim,viabilizar a concessão de créditos pelos bancos estataise a inclusão de incentivos na legislação tributária(CARDOSO, 1996).

“A sociedade para todos, consciente dadiversidade da raça humana, é aquela que estariaestruturada para atender às necessidades de cada cidadão,das maiorias às minorias, dos privilegiados aosmarginalizados” (WERNECK, 1997, p. 21).

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Empresa inclusiva

religião, gênero, cor, idade, raça e deficiência.Para incluir pessoas, a sociedade deve ser modi-

ficada, a partir do entendimento de que ela é que precisaser capaz de atender às necessidades de seus membros.

A inclusão social, portanto, é um processo quecontribui para a construção de um novo tipo desociedade por meio de transformações, pequenas egrandes, nos ambientes físicos (espaços internos eexternos, equipamentos, aparelhos e utensílios,mobiliário e meios de transporte), nos procedimentostécnicos e na mentalidade de todas as pessoas, portantotambém do próprio portador de necessidades especiais.

4. POLÍTICAS DE INCLUSÃO SOCIAL E

O DEFICIENTE FÍSICO

Assim, a sociedade é chamada a ver osproblemas que ela cria para as pessoas portadoras denecessidades especiais, causando-lhes incapacidade (oudesvantagem) no desempenho de papéis sociais emvirtude de: seus ambientes restritos; suas políticasdiscriminatórias e suas atitudes preconceituosas querejeitam a minoria e todas as formas de diferenças; seusdiscutíveis padrões de normalidade; seus objetos eoutros bens inacessíveis do ponto de vista físico; seuspré-requisitos atingíveis apenas pela maioriaaparentemente homogênea; sua quase totaldesinformação sobre necessidades especiais e sobredireitos das pessoas que têm essas necessidades; suaspráticas discriminatórias em muitos setores da atividadehumana.

Atualmente, vem crescendo muito a parceriaentre setores públicos e privados, ONGs em projetossociais, buscando a inclusão na sociedade de pessoasmenos favorecidas.

O incentivo às organizações comunitáriasautônomas no setor social é um passo importante nareformulação do governo para que ele recupere seudesempenho.

Assim, a inclusão social pode ocorrer nomercado de trabalho, na educação, no esportes e lazer,etc. Quando isso acontece, pode-se falar em:

Os praticantes da inclusão social de deficientesfísicos se baseiam no modelo social da deficiência, noqual os problemas das pessoas com necessidades espe-ciais não estão nelas, mas na sociedade em que elas vivem.

Para WESTMACOTT (1996), “o modelo socialda deficiência diz que são as atitudes da sociedade e onosso ambiente que necessitam mudar”.

FLETCHER (1996, p. 7) explica que o modelosocial da deficiência “focaliza os ambientes e barreirasincapaci-tantes da sociedade e não as pessoas deficientes.O modelo social foi formulado por pessoas comdeficiência e agora vem sendo aceito também porprofissionais não-deficientes. Ele enfatiza os direitos hu-manos e a equiparação de oportunidades”.

Em meados da década de 80, CLEMENTEFILHO (1985, p. 21-22) já afirmava que a comunidadecomo um todo deveria aprender a ajustar-se àsnecessidades especiais de seus cidadãos portadores dedeficiência. Para este autor, o desenvolvimento (pormeio da educação, reabilitação, qualificação profissionaletc.) das pessoas deficientes deve ocorrer dentro doprocesso de inclu-são e não como um pré-requisito paraque possam fazer parte da sociedade, como se elas“precisassem pagar ‘ingressos’ para integrar acomunidade” (1996, p. 4).

Cabe, portanto, à sociedade eliminar todas asbarreiras físicas, programáticas e atitudinais para que aspessoas com necessidades especiais possam ter acessoaos serviços, lugares, informações e bens necessáriosao seu desenvolvimento pessoal, social, educacional eprofissional.

Diz-se que a empresa é inclusiva quando nãoexclui funcionários ou candidatos a emprego em razãode qualquer atributo individual do tipo: nacionalidade(país de nascimento), naturalidade (cidade denascimento), sexo, cor (etnias diversas), deficiência (física,mental, visual, auditiva ou múltipla), compleiçãoanatômica (gordas, magras, altas, baixas), idade etc. Todosos funcionários, com ou sem alguns desses atributosindividuais, trabalham juntos.

Empresas que investem na implementação deuma filosofia de inclusão social, no ambiente de trabalho,preocupam-se em:

– adaptar alguns postos de trabalho bem comoferramentas e procedimentos;

– revisar a política de admissão e desen-volvimento de recursos humanos;

– capacitar seu quadro de pessoal a respeito deabordagens inclusivas na empresa.

Buscam, assim, melhoria nas relações de

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Na área da educação, escolas que implementampolíticas de inclusão social não excluem alunos, sejameles crianças ou jovens candidatos à matrícula em razãode: sexo, cor (etnias diversas), deficiência (física, mental,visual, auditiva ou múltipla), classe social (situação sócio-econômica), condições de saúde (vírus HIV, epilepsia,síndrome de Tourette, transtorno mental etc.) e outros.

trabalho; aumento da produtividade com qualidade ecriatividade; maior satisfação de empregados edirigentes, e melhoria da imagem da empresa perante a

Todos estudam juntos nas mesmas classes.Tomam algumas medidas simples e econômicas

como:

– adaptar regras bem como procedimentos erecursos físicos para cada atividade;

– capacitar monitores de lazer, esporte e re-creação a respeito de abordagens e técnicas inclusivas;

.

– pesquisar experiências de inclusão no lazer,esporte e recreação.

O empenho desses centros de recreação e deseus atores na implementação da filosofia de inclusãosocial no lazer e nos esportes poderá proporcionar umaumento na variedade de modelos sociais peladiversidade dos participantes; aumento da auto-estima

e melhoria da competência física e social, e crescimentodo senso de ‘pertencer à comunidade’.

Cidadania

Cidadania é a disposição de contribuir para opaís. Significa compromisso ativo, responsabilidade,fazer diferença na comunidade, na sociedade, no seupaís. Sem cidadania a política se esvazia, o nacionalismose degenera (DRUKER, 1999, p. 159, 161,162).

É promover uma mudança de consciência naspessoas, mostrando a elas a necessidade de sereconhece-rem como agentes de transformação no meioem que vivem. Para isso, é necessário divulgar a idéiade que é preciso agir localmente, fazendo o que forpossível, pen-sando que a mudança de atitudes em nívellocal irá se refletir como um exemplo a ser seguido emnível global.

É mudança da mentalidade comum de que nãoé possível se fazer nada em favor do melhoramento do

o bem-estar de todos, pois a educação possibilita ao ci-dadão uma capacidade melhor de reflexão, quanto aosseus direitos e deveres, dentro da sociedade em que vive.

A sobrevivência na sociedade depende cada vezmais de conhecimento, pois diante da complexidade daorganização social, a falta de recursos para obter e

didáticas e atividades de aprendizagem;

– revisar a política de contratação etreinamento de professores e funcionários; paraprofessores de educação especial e do ensino regular,adotar esquemas de apoio e treinamento, para trabalharcom alunos que apresentem necessidades especiais,

comunidade local e internacional.Educação inclusiva

interpretar informações impede a participação efetiva ea tomada de decisões em relação as problemas sociais.Impede, ainda, o acesso ao conhecimento mais elaboradoe dificulta o acesso ao trabalho.

– investir no capital humano;

– adaptar recintos da escola bem como técnicas

decorrentes ou não da deficiência;– capacitar seu quadro de pessoal a respeito

de abordagens inclusivas na escola.

A implementação de uma filosofia de inclusãosocial no ambiente educacional poderá proporcionarmelhoria nas relações entre os estudantes e professores,na qualidade de ensino e no desempenho escolar detodos os alunos; maior satisfação de alunos eprofessores, e melhoria da imagem da escola peranteas famílias e a comunidade local e internacional.

A educação promove uma força de trabalho me-lhor preparada para enfrentar os desafios de um mundoem constante transformação e é fundamental para oexercício da cidadania.

Esporte e lazer inclusivos

As áreas de lazer e esportes públicas ou privadasque se preocupam com a inclusão social não excluemde suas atividades pessoas em razão de qualquer atributoindividual. Todos os participantes, com ou sem algunsatributos individuais, participam juntos no lazer e nosesportes. Tomam algumas medidas simples e econômicascomo:

mundo. É a busca das semelhanças ao invés de foconas diferenças. É a divulgação de idéias que possamcontribuir para o melhoramento da comunidade e domundo, por meio da cooperação entre as pessoas.

A educação é um fator primordial para formaratores multiplicadores de ações coletivas, voltadas para

5. O LOCAL E A INCLUSÃO SOCIAL

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O século XXI está criando uma nova realidadepara as cidades, o local interage com o global em temporeal. E as cidades, embora nem sempre de formasatisfatória, devido a seus restritos recursos para investirna área social, ainda acabam sendo mais eficientes eeficazes do que o governo central.

As cidades que entenderem que são o centrode gravidade de atividades econômicas sociais,políticas, culturais e lugar de identificação poderão criarmodelos e políticas adequadas, contribuindo para o bemestar de seus munícipes (FACHIN e CHANLAT, 1998).

Borja & Castells consideram que é na articulaçãoentre o local e o global que se encontra “a fonte dosnovos processos de transformação urbana e, portanto,os pontos de incidência de políticas urbanas, locais eglobais, capazes de inverter o processo de deterioraçãoda qualidade de vida nas cidades” (1998, p. 35).

As cidades têm encontrado certa dificuldadepara atender às necessidades sociais, pois as despesastêm crescido muito mais que as receitas nesse setor,devido ao aumento da demanda por serviços públicos,da população mais carente.

No Planejamento Regional Estratégico do ABC,aprovado em 02 ago. 1999, no Eixo Estruturante nº 7,que trata da Inclusão Social, foram destacados programase ações para serem desenvolvidos nos próximos 10 anos,como: programa de renda mínima; frentes de trabalho;estímulo a cooperativas de trabalhadores; amparo àcriança; campanha de orientação para prevenção dedrogas; apoio à pessoa portadora de deficiência física;urbanização de favelas; ampliação da oferta de moradiapelo CDHU; redução dos índices de violência ecriminalidade; implantação de policiamento comunitário,entre outros.

Na região do Grande ABC, os governos locais,o Fórum da Cidadania, a Câmara Regional e ONGs, jáestão desenvolvendo alguns desses projetos relacionadoscom a geração de emprego e renda, saúde, violênciacontra mulheres e adolescentes, alfabetização de adultos,programas voltados à criança, segurança pública,habitação, saúde e outros.

6. RELATÓRIO DO SEMINÁRIO

Estes representantes abordaram projetos deinclusão social que estão sendo desenvolvidos em seusmunicípios, bem como seus pontos de vista em relaçãoa essa problemática. Procuramos elencar de maneirasintética as idéias e propostas de cada expositor. Marcos Antônio Gonçalves, diretor da AVAPE,

(Associação para Valorização e Promoção deExcepcionais), sediada em São Bernardo do Campo,representante do terceiro setor, iniciou sua apresentaçãofalando sobre a importância das ONGs no atualcontexto nacional e mundial.

O terceiro setor no mundo, segundo ele, é umdos setores que mais movimentam capitais e geram 8%dos empregos: só no Brasil temos cerca de 200.000entidades. É o setor que vem empregando mais ecrescendo de forma violenta (70% das entidadessurgiram a partir de 1982). Seus integrantes sãovoluntários, portanto quem está salvando o país quantoaos trabalhos de caráter social é o terceiro setor.

A AVAPE é uma entidade filantrópica sem finslucrativos, a primeira a ter ISO 9002, que atende, hoje,sete mil pessoas portadoras de deficiência. Emprega,em média, 1.300 por ano, e tem mais de 40 unidades.Seu foco principal está em São Paulo, Grande ABC eVale do Paraíba e sua filosofia é desenvolver trabalho

no mer-cado. O Pão de Açúcar emprega idosos,presidiários e portadores de deficiência.

Um acordo com o SEBRAE envolve pequenasentidades, pois são essas pequenas entidades queatendem à grande demanda de excluídos.

Marcos Antônio Gonçalves critica a ausênciade políticas públicas específicas, o uso inadequado deverbas e a postura do Estado que, em alguns momentos,segundo ele, não atua como parceiro do terceiro setor,mas como oponente. Ressalta a importância de se iniciartrabalhos em nível local, e destaca órgãos como CâmaraRegional, Fórum da Cidadania e Agência de

Esses projetos foram relatados pelos secretários

Desenvolvimento, para o fortalecimento do GrandeABC como região. Lembra da necessidade de trabalharpolí-ticas de inclusão, voltadas não só ao PPD, mastambém às minorias como negros, mulheres e idosos. Asoma de todas estas minorias constitui uma grandemaioria.

das prefeituras dos municípios que compareceram ao2º Seminário sobre Políticas Públicas, ONGs e sociedadecivil dos municípios da Região do Grande ABC.

junto com a sociedade.

O projeto Avape Verde envolve produtoscultiva-dos sem agrotóxico, que serão comercializados

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Cormarie G. Perez, assistente social daPrefeitura de Ribeirão Pires, destacou programas quenorteiam a condução dessas políticas; o enfrentamentoà pobreza tendo como eixo a família; extensão aosdireitos de cidadania; mobilização social, e fortalecimentopermanente dos mecanismos de gestão.

O projeto de complementação de renda, emparceria com o Governo do Estado de São Paulo,atende atualmente 54 famílias com renda de até 2salários mínimos, e que tenham filhos menores de 18anos. A família recebe 50 reais por criança que estiverna escola, sendo o valor pago proporcional ao númerode crianças que freqüentam a escola.

O Integrar, criado em parceira com a CUT, visaà qualificação profissional de trabalhadores desem-pregados para o mercado de trabalho, formando mão-de-obra mais especializada.

Quanto ao direito à Cidadania, a sessão deassuntos jurídicos dá assistência à criança e aoadolescente e encaminha menores infratores julgadospelo Poder Judiciário a prestar serviços à comunidadecomo reparação do mal causado à sociedade.

No que concerne aos portadores de deficiência,há somente a APAE. O município também conta com aCasa da Juventude, o Centro de Referência do Idoso, aCasa da Cidadania, onde funciona o Procon e o ConselhoTutelar do Menor e é feito o atendimento e orientaçãoao munícipe, quanto a suas necessidades básicas.

No que se refere aos migrantes e moradores derua de Ribeirão Pires, ainda não existe programa algumsendo desenvolvido.

Segundo Cormarie G. Perez, os menoresinfratores e os direitos da criança e do adolescente devemser tratados regionalmente.

Em sua exposição, Cormarie G. Perez salientouas dificuldades na aplicação de recursos financeiros, emvirtude das limitações do município.

Marlene B. Zola, representante da Secretariade Desenvolvimento Social e Cidadania de SãoBernardo do Campo, destacou que a reordenação depolíticas públicas (até então muito diversificadas esegmentadas) e a criação da Secretaria deDesenvolvimento Social e Cidadania foram grandesvitórias da atual administração.

A transformação da Fubem em FundaçãoCriança deu uma nova lógica de funcionamento eproporcionou o repensar da instituição e suas diretrizes.Também foi colocado o interesse do município em

trabalhar políticas dentro de um contexto regional.Hoje, São Bernardo do Campo, em parceria com aCâmara Regional do ABC, trabalha o projeto “CriançaPrioridade 1”, voltado para políticas públicas decultura, educação e trabalho. Os cursos de iniciaçãoprofissional, que preparam jovens para o mercado detrabalho, já prepararam mais de 2.500 jovens em 4meses.

Marlene B. Zola citou uma cooperativa decostureiras (onde se trabalha a cultura de associativismo),o programa de qualificação profissional a váriossegmentos da sociedade, e o programa decomplementação de renda que atende a cerca de 200famílias carentes.

A Secretaria de Desenvolvimento Social eCidadania vem desenvolvendo programas que possamconstruir a base de uma sociedade que prioriza a questãoda cidadania e do desenvolvimento humano.

Gil Gonçalves Júnior, secretário do Bem-estarSocial da Prefeitura de Mauá, diz que a assistência socialdo ponto de vista de políticas públicas é muito recente,começou a partir de 1993.

Ele destaca a importância de pensarmosregionalmente, lembrando problemas comuns à regiãocomo desemprego, habitação, educação etc. Para GilGonçalves Júnior, um dos grandes fatores para que otrabalho regional seja fortalecido é o desenvolvimentode parcerias com Organizações Não-Governamentais,criando-se assim uma rede de trabalho com qualidade.

Para ele, o problema dos moradores de rua deveser resolvido regionalmente, já que se deslocam comfacilidade.

Wagner Barbato, diretor do Procon de São Cae-tano do Sul, enfatizou a importância da conscientizaçãoda população quanto aos seus direitos sociais. Destacouo Procon, que a cada ano atende a um maior númerode reclamações de serviços públicos e privados, o quecontribuiu para uma melhoria na qualidade dos serviços

programas voltados à terceira idade, os quaisproporcionam aos idosos uma vida mais saudável e

e produtos, bons indícios de que a sociedade estávalorizando seus direitos de cidadão.

Ele destacou também os programas sociais daprefeitura que dão muita importância à criança e aoadolescente na área de esporte, educação, e os

participativa.

Segundo Olivier Negri Filho, vereador de Mauá,

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há excelentes leis, mas não colocadas em prática, o quedificulta a evolução e a condução das políticas públicas.Sendo assim, para que ocorram mudanças éfundamental que as pessoas adquiram consciênciacrítica e cidadania.

7. ANÁLISE CRÍTICA

A necessidade de se pensar em PolíticasPúblicas em âmbito regional ficou evidente na fala detodos os participantes. Pode-se observar que estanecessidade, em grande parte das colocações, estáatrelada a questões pontuais. Não se fala em um

problemas que a região enfrenta.

CONCLUSÃO

*Alunos do PMA do CEAPOG-IMES.

ALVES, Luiz Roberto. Políticas Sociais; como localizá-las,pro ceder a sua avaliação e superar deficiências emsua prática social. Apostilado. São Paulo: ECA/USP,1998.

CAMPANS, Rose. O paradigma das global cities nas estratégias de desenvolvimento local. O local e o global.Revista de Estudos Urbanos e Regionais n. 1. São Paulo:USP, maio 1999.

CARDOSO, Fernando Henrique. Conseqüências sociais daglobalização.[Conferência] Nova Delhi, Índia, 27 jan.1996.

DRUKER, Peter Ferdinand. Sociedade pós- capitalista.SãoPaulo: Pioneira, 1999.

DUPAS, Gilberto. Globalização promove inclusão eexclusão social, O Estado de São Paulo, 5 dez. 1999,Caderno B4.

DUPAS, Gilberto. Onde está o poder econômico no século 21, O Estado de São Paulo, 17 set.1999, Caderno A13.

FACHIN, Roberto e CHANLAT, Alain. Governo municipalna América Latina: Inovações e perplexidades.PortoAlegre: Sulina/UFRGS, 1998.

planejamento de Políticas Públicas regionais demaneira mais ampla, falta comunicação e troca deinformação entre os representantes dos sete municípios.

Hoje, o Grande ABC passa por um momentode transição. Verifica-se redução nos postos de trabalho,em função do esvaziamento do setor industrial na região

e um crescimento das demandas sociais. Com isso tem-se um número cada vez maior de excluídos, e porconseqüência a necessidade de uma quebra de fronteiras

municipais e de paradigmas na concepção de PolíticasPúblicas de Inclusão e Cidadania.

Algumas ações práticas, como a criação doscentros de referência do idoso, mulher, juventude edeficiente, bem como os esforços em capacitar erecapacitar mão-de-obra, são indícios de que o GrandeABC começa a caminhar para um processo demudanças, mas ainda é muito pouco, diante dos

O objetivo deste Seminário foi promover odebate entre os mestrandos, representantes dosmunicípios e instituições da Região do Grande ABC,levantando as questões que dificultam a inclusão socialbem como o desenvolvimento da cidadania, buscandoverificar o que já foi realizado até o presente momentoe qual a visão dos convidados em relação à abordagemdesses temas.

Observa-se que há um consenso entre ospalestrantes dos municípios presentes nesse seminárioquanto à necessidade de se discutir determinadosproblemas sociais regionalmente e não localmente.

Urge criar massa crítica, abrir polêmicas eexpectativas de soluções para os problemas emconjunto com a sociedade local e regional; estimular aparticipação de representantes dos sete municípios emencontros de interesses comuns, para equacionarproblemas sociais, de meio ambiente, que afetam todaa região; facilitar a troca de informações entre secretariase órgãos competentes sobre projetos que sejam deinteresse comum, e que propiciem o aumento dainclusão social; despertar na sociedade o compromissocom a região, pois é o lugar em que se vive, local do seucotidiano, de sua sobrevivência e desenvolvimento.

A Região do Grande ABC é muito importanteno contexto social, tem uma das melhores renda percapita do país é considerada o maior pólo industrial deSão Paulo, e poderá se tornar um modelo de gestão socialpara outras regiões.

O curso de mestrado de Gestão da SociedadeRegional tem como objetivo criar um banco de dados

sobre toda a Região do Grande ABC, e desenvolvertrabalhos e dissertações que possam contribuir para olevantamento dos problemas da região, propor soluções,promover encontros entre as universidades locais e asociedade para discutir políticas públicas e ofortalecimento da cidadania.

BIBLIOGRAFIA

SASSAKI R K i I l ã C t i d

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POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA

TELMA TANIA V. F. DE CARVALHO*

A globalização da economia mundial impõenovos desafios para as sociedades/cidades. A velocidadee a abrangência das comunicações invadem limitesterritoriais de forma devastadora e impositiva, ditandonovas tendências e formas de organização social queacontecem em todos os cantos do mundo.

Outras culturas e costumes coletivos entramem nossas mentes através dos mais diversos meios decomunicação e parecem ser comuns às nossassociedades.

Segundo Aloísio Magalhães, citado porGONÇALVES (1995), “um dos problemas com que sedefrontam os países no mundo moderno é a perda daidentidade cultural, isto é, a progressiva redução devalores que lhes são próprios de peculiaridades que lhesdiferenciam as culturas”.

A reflexão que passa do global e vai para oregional tem que enfocar como as cidades estãoenfrentando esta quantidade de informação oriunda detodas as partes do planeta e seus efeitos quanto àidentificação local das cidades por seus habitantes.

Preservar a identidade local é criar símbolos deligação entre a cidade e seus cidadãos; é criar uma relaçãode parceria entre a comunidade e seus representantes; édesenvolver o sentimento de cidadania. GLAUCIAVILLAS BÔAS (1995) afirma que estas ações sãofundamentais para evidenciar as diferenças entre gruposhumanos e acentuar as relações de solidariedade e coesão.

Com o objetivo de conhecer e discutir aspolíticas públicas de cultura da Região do Grande ABC,o Laboratório de Gestão da Sociedade Regional e adisciplina de Políticas Sociais para a Administração daCidade realizaram, em 10 de novembro de 1999, o IISeminário Interno “ Políticas Públicas de Cultura”, ondese verificou como os municípios do Grande ABC estãoarticulando esses novos desafios e que propostas têmpara a identificação da comunidade/cidade edesenvolvimento da cidadania através dos elementos decultura.

Participaram deste seminário os representantesdas Secretarias das Prefeituras de Diadema, Martha deBethânia; de Mauá, José Aparecido Barbosa, de SantoAndré, Altair José Moreira e de São Bernardo do Campo,

Júlio Mendonça; produtores culturais regionais comoDaniel Lima (Livre Mercado) e Rosana Costa (Diário doGrande ABC), Roberto Elísio dos Santos e Jeroen Klink(professores do IMES), Alexandre Takara (professor daUMESP), Dilma de Melo Silva (professora da ECA/USP), escritores e alunos do curso de mestrado do IMES.

A coordenação coube ao prof. Luiz RobertoAlves, que agradeceu aos participantes a oportunidadede debater e refletir sobre políticas públicas de culturae educação, e propôs uma análise de como estas políticasacompanham as demais políticas regionais ligadas adesenvolvimento, economia etc., por acreditar serem oselementos de cultura e educação os sinais para ondecaminha a região.

Diadema – Para Martha de Bethânia, as políticaspúblicas de cultura de Diadema têm como prioridadeas políticas de formação. A compreensão destas políticasestá fundada na efetiva participação da comunidade. Éatravés do processo de formação, ou seja, existência deoportunidades e acesso aos instrumentos culturais, quese criam os mecanismos mais eficientes de inclusãosocial.

Os elementos de cultura são os melhoresinstrumentos de inclusão social e se o Brasil tivesseinvestido em Educação e Cultura, a situação estariabem menos trágica. O ensino público passa por muitasdificuldades. O investimento em educação e culturadeveria ser em torno de 60% do orçamento, mas issonão acontece. Diadema trabalha políticas da periferiapara o centro, e não o inverso, como geralmente ocorre.Desde as artes plásticas até teatro e outras linguagensculturais, são oferecidas 6000 vagas nas oficinas. Apercepção é que não basta trabalhar, oferecendo políticasvoltadas para oficinas culturais, sem que haja apreocupação com as condições sócio-econômicas daspessoas.

Diadema conta hoje com 10 centros culturais,12 bibliotecas que atendem qualitativamente seus clientes,cerca de 300 mil pessoas da cidade e região.

EXPOSITORES

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Existe também um espaço chamado Casa daMúsica, um espaço de diagnóstico e sensibilização dacomunidade, por meio de seu centro de atendimentointegral, que contempla mais de 1.000 pessoas com aulasque vão desde piano, técnica vocal e quase todos osnaipes de linguagem musical, com o acompanhamentoda vida escolar do aluno.

tinham a perspectiva esportiva. A partir da gestão de1989 e 1993, percebeu-se que eles eram locais

Para atender à demanda de pessoas oriundas deoficinas, que tenham passado pelo processo desensibilização e não possam continuar com as aulas depiano, violino, teatro etc., surgiu, nesta gestão, a idéiade criar centros permanentes de formação para os alunosque optarem por qualquer uma das linguagens artísticas.

Entre os vários grupos que fazem parte desseprocesso de formação, há também uma videoteca, umcentro de memórias, a companhia de dança (que éprofissional), uma orquestra sinfônica e o centro dafotografia, onde foi montado um laboratório deampliação de fotos e revelação. Portanto, a pedrafundamental é essa política de formação com ênfase àcultura e à literatura.

Portanto, este trabalho de formação tem osentido de não apenas saber manusear ou terminar aleitura, mas é a referência que o aprendizado produzpara o desenvolvimento não só individual comocoletivamente.

Nesse sentido, foi criada a Escola Municipalde Iniciação Artística (EMIA). Estas escolas trabalhamcom crianças na faixa de 5 a 16 anos e funcionam commódulos de acordo com a faixa etária. Existem osmódulos de artes plásticas, dança, teatro até serralheria,por exemplo.

A estratégia de formação começa com asensibilização das crianças, das pessoas na EMIA. Nosegundo momento, na Casa do Olhar (artes plásticas),na Casa da Palavra (letras) e na Escola Livre (teatro),espaços mais específicos, as pessoas teriamaprofundamento cultural.

privilegiados para a processo de descentralização epromoção do acesso às linguagens artísticas.

A grande discussão no processo educativobaseia-se em culturalizar a educação, olhar a criança oupessoa como detentora de um conhecimento. Não trataros indivíduos de forma autônoma, mecânica. A maioragressão na escola de educação é sua forma impositiva.

O princípio desta política de formação é aquestão de como reforçar e projetar uma identidadelocal em virtude dos processos globalizantes. Atravésda formação e difusão, garante-se que a população tenhaacesso à informação e às mudanças tecnológicas.

A escola de formação não precisa se preocuparem formar um artista, o objetivo é sensibilizar oindivíduo com relação à questão cultural, criar aidentidade cultural com o local. É lógico que este acessopropicia a algumas pessoas a profissionalização, oaprofundamento desta linguagem.

O Cine Teatro Carlos Gomes é um bem culturalda cidade extremamente importante, tombado peloprefeito Celso Daniel como patrimônio cultural dacidade, cuja expectativa é tornar-se um centro deformação audiovisual.

Existe, ainda, uma biblioteca central, outraregional e dez bibliotecas em centros comunitários.

Está em desenvolvimento o programa de leituravoluntária, no qual as pessoas dedicam algumas horaspara contar histórias etc., e formam-se leitoresvoluntários nos centros comunitários. É impressionantecomo as pessoas da sociedade civil são sensíveis a estechamamento. As pessoas doam seu tempo com umprazer enorme, e já existem crianças de 8 e 9 anosenvolvidas neste projeto.

Há um fundo de cultura que dá apoio à produçãolocal. Este fundo começou em 1991, timidamente. Naatual administração, o fundo começou a ser usado. Osrecursos estão na ordem de 383 mil reais, porque nãoforam utilizados nas gestões de 1994 a 1997, e sãooriundos da arrecadação das bilheterias do teatro e vendade qualquer produto do departamento de cultura pelaadministração. Os conselheiros de cultura escolhem osprojetos que serão beneficiados pelo fundo.

Santo André – Altair José Moreira enfatiza que aformação é, num sentido mais amplo, a oportunidadede as pessoas terem acesso às linguagens artísticas e aomesmo tempo saírem com subsídio, capacitadas paralerem sua realidade e reconstruir, através disso, uma novaperspectiva e alternativa de vida.

São Bernardo do Campo – Para Júlio Mendonça, SãoBernardo e Santo André têm, sob alguns aspectos, umasituação um pouco diferente das demais cidades no

Cerca de 46% do orçamento da prefeitura sãodestinados à formação. Existem 22 centros comunitáriosde médio e grande porte. Esses centros, em sua criação,

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ABC, por terem já uma tradição anterior, uma políticade investimentos em eventos culturais com espaçosculturais e teatros voltados para uma programaçãocultural. Nos últimos anos, Diadema teve uma política

anos de experiência comprovam um avanço sobretudoqualitativo, principalmente na área de teatro.

cultural bastante voltada para eventos culturais ou pelomenos em parte, sendo importante na formação depúblico. No caso de Santo André e São Bernardo, maisparticularmente neste último, se criam alguns impassese dificuldades. A Administração de 1989 a 1992 procuroudescentralizar alguns programas da secretaria de cultura.Uma das formas, bandeira da administração de 1992,foi a questão da integração.

Uma linha de atuação estabelecida durante aquelaadministração é a questão da articulação, da difusão, daformação e da informação. O objetivo é estender estalinha norteadora de difusão, informação e formação aprojetos especiais como, por exemplo, o projeto TerceiraIdade, a programação de oficinas e palestras no EspaçoHenfil.

Com a ampliação do foco, passou-se a investirtambém na formação de oficinas. Já na amostra desteano, nas regiões menos centralizadas, os bairros sãobeneficiados pelo projeto Cine Mambembe.

As oficinas de teatro estão mais desenvolvidas;os grupos que delas surgiram têm se mantido comogrupos autônomos, utilizando o espaço da prefeiturapara desenvolver seus trabalhos. São Bernardo doCampo tem uma tradição de oferecer espaços paragrupos de teatro, não só da cidade, como também daregião, pretendendo, no último ano da atual gestão, criaruma política de temporadas de apresentação de teatrocom grupos da região, como o circuito de teatro do ABC,que mostrou produções de qualidade na região.

Enfim, as experiências e ações que deram maiornotoriedade foram a criação de espaços culturais nomunicípio, o Cine Teatro Carlos Gomes, a Câmara deCultura e outros. Houve uma prioridade, nos doisprimeiros anos da administração, na reforma dopatrimônio, espaços e equipamentos.

Mauá – Na opinião de José Aparecido Barbosa, Mauáse encontra numa situação caótica em todos os sentidos.A cidade ficou durante dez anos sem cinema e aindanão possui teatro. A ênfase do trabalho está em reabilitar,criar uma base para que possamos começar a implantarpolíticas culturais na cidade.

A gestão da Secretaria da Cultura estavavinculada à de Educação, que, posteriormente, foidesmembrada, e as ações estavam mais direcionadas parao esporte.

A Prefeitura não dispõe de espaços e implantouum programa de recuperação de áreas públicas.

O processo de formação busca, por meio deoficinas, possibilitar o acesso da juventude à cultura, coisaque não existia.

Luiz Roberto Alves, em seu livro Culturas doTrabalho – comunicação para a cidadania, fala da necessidadede superar a fragmentação das ações. De 1993 a 1996ocorreu um refluxo das ações desenvolvidas em SãoBernardo do Campo de 1989 a 1992. Ainda assim, algunsavanços feitos na descentralização da atuação daSecretaria foram em parte mantidos, como é o caso doprojeto da terceira idade que foi criado durante aadministração de 1989 a 1992 e teve continuidade nagestão posterior. O grupo Viver Bem a Idadepermanece atuante até hoje.

A Mostra do Cinema Brasileiro,um eventotradicional em São Bernardo do Campo com mais de20 anos de existência, a partir do ano passado recebeumais investimentos para contemplar a difusão daprodução crescente do Cinema Brasileiro.

Atualmente, os trabalhos estão sendodesenvolvidos com o envolvimento de várias secretarias,como é o caso do lixão do Alvarenga, uma região muitoextensa, carente, violenta e onde se concentra muitavegetação. As ações foram pactuadas conjuntamente coma Secretaria do Meio Ambiente.

Infelizmente, algumas políticas implementadaspor certos governos têm caráter predatório, o que acabacomprometendo governos futuros, como é o caso deMauá. As ações estão voltadas para a recuperação deespaços e criação de alternativas de utilização destas áreas.

São Bernardo do Campo compromete um terçode seu orçamento com projetos de formação. Hoje existebasicamente uma grade de programação e informaçãoque deu início a esse processo de formação. Os nove

A proposta é a construção de um “espaço”, nosentido de poder sediar alguns eventos, para que apopulação local tenha acesso a uma diversificação decultura..

Independente disso, alguns resultados foramobtidos com outros programas. Entre eles, o mais forteé o teatro. Podemos citar, por exemplo, a montagem dapeça Auto da Compadecida, encenada e produzida pelospróprios alunos. Como não existe um teatro, o

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Educandário sediou uma temporada e, agora com adescentralização, as apresentações acontecem ao ar livre;desta forma é feita a divulgação das oficinas já existentes.

preocupação muito grande com a estetização daviolência, mas não se pensou ainda na cultura comosolução do problema. O que se pretende fazer para geraroportunidade cultural e conseqüentemente propiciar ainclusão social?

Um dos objetivos deste programa, além de daracesso à cultura, é tornar os projetos independentes davontade do governo e sensibilizar a população quanto àimportância da cultura.A participação da comunidade éo eixo de todos os projetos.

Mauá conta com uma biblioteca central e trêsramais, com acervo estimado em 23.000 livros. Dentroda biblioteca, foi criado um espaço para debates, ondehá palestras e discussões mensalmente.

O Museu, que é a casa da cultura, tem o papelde resgatar a identidade local, recuperar a história dacidade, preservar o espaço e o patrimônio, e ser o palcode atividades que possibilitem essa manifestação e criaçãode novos valores e expectativas culturais.

Anualmente, acontecem mostras de teatro. Oteatro é, de fato, um segmento, com tendência amanifestação e ampliação da participação da população.

Essa é a linha prioritária na questão daformação: o envolvimento da comunidade nos projetosque estão em desenvolvimento para garantir acontinuidade política.

DEBATE

O professor Alexandre Takara comentou aimportância que os parâmetros curriculares nacionaisdão às humanidades, focalizando a estética dasensibilidade, política de igualdade e ética de identidade.Na primeira questão, indagou se as Secretarias de Culturae Educação, já que ambas constituem interface domesmo processo de ensino e aprendizagem, estão sendoadministradas de forma integrada.

A segunda questão colocada diz respeito a tempoe espaço. Considerando o fator tempo e ação cultural,quais os projetos culturais para o futuro levando-se emconta as descontinuidades políticas administrativas queacontecem de quatro em quatro anos após as eleições?

A terceira pergunta refere-se à sociedadebrasileira. Sendo a sociedade brasileira uma sociedadede classes e portanto uma sociedade de desigualdadessociais, de que maneira a política cultural visa a atender,ao mesmo tempo, a classe média dos centros das cidadese população da periferia?

A quinta questão tem como preocupação opreconceito dos habitantes das cidades e da região emrelação aos produtos culturais locais. Até que ponto aprofissionalização dos grupos da região é o caminhopara acabar ou não com o preconceito?

O circuito do teatro do grande ABC percorreuos seis municípios, menos Rio Grande da Serra. Asrealidades culturais variam muito nas cidades. Quandose pensa na gestão pública da cultura em termos deregião, observa-se que Diadema não cobra ingressos, eque, por outro lado, Rio Grande da Serra, um municípiopobre, que não tem recursos para projetos culturais. Emvista disso, a sexta e última questão é: o que fazer paraatender as necessidades destes municípios considerandosuas realidades e como pensar em termos de umaidentidade cultural regional?

Os expositores fizeram as seguintes reflexõessobre as questões levantadas :

Martha de Bethânia – Em relação ao preconceito àprodução cultural da região, levanto dúvidas se ele existeou se existe na verdade uma ausência de um espaço,onde a região possa agir mais. Parece ser mais a falta demapeamento, de diagnóstico. A região não estámobilizada para ter uma grande agenda que contemplea produção regional. Não existe o preconceito; é a faltade articulação, organização e identificação dessestalentos, o que significa que a região poderia estarpropondo, a exemplo de Diadema, que está lançandoum guia, um senso cultural pelo qual a população poderiater ciência de todos os produtos, os artistas, produtores,equipamentos, manifestações, ou seja, uma radiografiacompleta das atividades culturais. O profissionalismo nãoé a solução, via de regra. Diadema tem contratado gruposde São Bernardo do Campo e de outros municípios quesão produtos de oficinas e com bom desempenho.

A questão das desigualdades, Diadema respondeatravés da gratuidade absoluta, quer seja da difusão, sejanos equipamentos, ou na divulgação dos produtosculturais. Quanto à descentralização, os grandes eventosque são desenvolvidos nas áreas mais centrais estãosendo levados para as periferias e vice-versa, havendodesta forma uma troca de experiências dos grandes

A quarta questão contempla o problema crucialno século XX: a questão da violência. Há uma

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produtores com aqueles que estão iniciando agora, oque tem produzido grandes resultados.

Lima foram direcionadas para cada expositor, comosegue:

Altair José Moreira – A municipalização pode propiciara criação de uma cultura e educação com o jeito de cadacidade. As administrações e a cultura possuem temposdiferentes. Uma gestão acaba e a cultura permanece, poissua velocidade de desenvolvimento é bem mais lenta.As administrações não devem implementar políticas decultura imediatista, ainda mais quando se considera oprocesso de formação, que deve ser constante.

Educação e Cultura municipalizadas podem,com maior facilidade, desenvolver as identidades dascidades e conseqüentemente das regiões, construindocaminhos que atendam à demanda localindependentemente da vontade do governo estatal.

Julio Mendonça – Com base no que foi exposto porAltair José Moreira, a municipalização da Cultura eEducação viabiliza os projetos culturais da região. Porexemplo, em São Bernardo do Campo era muito difícilconsolidar um projeto integralmente, pois haviadependência da vontade e disponibilidade estatal.Coma municipalização, a cultura está mais próxima e inseridadentro da realidade e identidade local.

O trabalho de formação não pode considerarapenas as quatro linhas tradicionais de cultura.Consideremos o exemplo de Diadema, com o hip hop,que surtiu efeitos satisfatórios, mostrando a capacidadedos jovens de reinventar a realidade que vivenciam e deperceber as raízes de seus problemas.

Mauá – Por que os setores de cultura não estabelecemtemas-eixo e os transformam em planejamentoestratégico dentro das especificidades de cada município,trabalhando conjuntamente de forma empresarial,como, por exemplo, desenvolvendo programas demarketing regionais?

trabalhados regionalmente, salvo as diferençaspertinentes a cada cidade. Talvez, a partir desteseminário, surja uma base para a integração regional.

São Bernardo do Campo – Por que não se trabalhamais no sentido da sinergia, de haver integração entreas escolas particulares e empresas de grande, médio epequeno porte para estarem mais próximos dacomunidade na formação desses projetos culturais?

Júlio Mendonça – Em relação à integração do SetorPúblico, no caso do Departamento de Cultura junto aoempresariado, como primeira dificuldade temos aformação no funcionalismo. A maioria dos funcionáriosé formada na área humanística, não há muita ligaçãocom marketing.

Quanto à descontinuidade política,desenvolvem-se estudos para formatar legalmente algunsdos projetos de Diadema, que estão referendados econsolidados com a comunidade: as companhias dedança e teatro, por exemplo, podem ser transformadasem fundações, tendo assim vida própria e independênciade vontade política, ou não podendo ser inativadas como término de mandato de governos.

Os eixos pragmáticos são aspectos pensados emconjunto pelos orgãos como Câmara Regional, Agênciade Desenvolvimento e Consórcio Intermunicipal. Se asprefeituras desenvolverem políticas distintamente, estarãocompetindo com estes órgãos. Cabe ao governomunicipal executar e implementar as políticas estudadase desenvolvidas por estes orgãos regionais.

Daniel Lima argumenta que o poder público eo empresariado em geral não possuem sensocooperativo: o grande ABC ainda existe só na formametafórica, pois são sete cidades com realidades epolíticas distintas. Com interesse nas articulações depolíticas regionais, as questões formuladas por Daniel

José Aparecido Barbosa – Com relação aoestabelecimento de eixos para trabalhar em conjunto,isso já é feito pela Câmara Regional e pelo ConsórcioIntermunicipal. É uma situação nova, como esteseminário aqui no IMES, o que possibilita a formaçãode políticas conjuntas entre os municípios.

A orientação tanto do governo, quanto doprefeito, é de estabelecer eixos que possam ser

Estamos procurando fazer cursos, entendermelhor as leis de incentivo à cultura, etc; mas quanto àquestão da regionalização, eu gostaria de trazernovamente à tona que os municípios, por mais que se

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preparem para enfrentar essa questão, tenho a impressãode que não teriam muito sucesso. Os problemas que osmunicípios estão enfrentando são mais ou menoscomuns, de forma regional, mas é como José Aparecidocomentou: Mauá não tem o parque industrial igual aode São Bernardo do Campo, mas a realidade é quegrandes empresas, sejam nacionais ou multinacionais,apóiam projetos culturais; a maioria das vezes, porém,são projetos de grande valor e custo, o que infelizmenteestá longe da realidade local. Como exemplo, temos oprojeto Nova Vera Cruz, cujos incentivos são bemmodestos; até a Volkswagen, que fica sediada na cidade,vem diminuindo o seu incentivo ao projeto.

é um elemento fundamental para a consolidação doequilíbrio social?

A saída está no diálogo para se achar novassoluçoes regionais, traçar metas e executá-las da melhorforma possível. Gostaria de aproveitar para elogiarnovamente essa iniciativa do IMES.

Santo André – Quais os efeitos da globalizaçãocultural para a nossa região, historicamente fragmentadapelos imigrantes que aqui se instalaram e que, salvoalgumas exceções, não contribuiram muito com a regiãoquanto ao aspecto de cidadania e não corporativismonas fábricas?

Altair José Moreira – Os efeitos da globalização emSanto André, que acompanham a evolução e os efeitosdo capital, trouxeram um desafio: pensar em políticaspúblicas para o futuro.

Martha de Bethânia – As políticas culturais, em todasas suas formas, têm contribuído bastante para melhoraros índices de violência. Juntamente com outrosprogramas das demais Secretarias, estas políticas fazemparte da sinergia dessa gestão, a exemplo da urbanizaçãode favelas, entre outras.

Diadema, sem essas políticas culturais e outrasque vêm sendo desenvolvidas, estaria pior do que antes.A população sempre tende a crescer gerando umademanda de serviços.

CONCLUSÕES/PROPOSTAS

As Secretarias de Cultura demonstraram grandepreocupação e empenho no desenvolvimento de açõesque promovam a Cultura em seus municípios.

Todos os municípios caminham para aimplementação de políticas que visam à parceria entrecomunidade e município, procurando desta maneiraatender de forma mais completa a demanda dapopulação e viabilizando seu desenvolvimentosociocultural.

Nesse sentido, JORGE ANDRADE (1999)descreve que é fundamental conhecer profundamente arealidade da população a ser atingida, definindo suasituação sócio-econômica-cultural para planejar açõesculturais direcionadas, capazes de atender às necessidadeshumanas e culturais destes grupos.

Para tanto, a cultura de cada local/cidade deveser minuciosamente estudada, a ponto de identificarquais os anseios e alternativas para a inserção culturaldestes indivíduos.

JORGE ANDRADE (1999) afirma ocorrerneste processo a transformação do homem, “dar culturaé fazer crescer, é, conseqüentemente, dar visão, é libertara criatividade que existe latente em cada ser”.

As indústrias de automóveis não são mais asgrandes promotoras de empregos no Grande ABC, osetor de serviços e o de entretenimento são as novasformas. As cidades foram surpreendidas pelaglobalização.

Diadema – O que seria de Diadema sem o aporte dacultura, no tocante à violência, considerando que a cultura

O indivíduo inserido promove o processo detransformação e fortalecimento cultural da sociedade,onde passa a interagir e otimizar os elementos decomunicação que são indispensáveis na formação daidentidade cultural.

Podemos apontar o êxodo industrial decorrenteda guerra fiscal, os produtos importados mais baratosque os nacionais e o fechamento de empreendimentos/empresas scom muita facilidade.

Hoje, existem identidades com característicaslocais que podem ser mundiais. O sentimento que setem numa região pode ser o mesmo no mundo inteiro,há mais agilidade na comunicação e circulação de valores,mas um dado é muito animador: o Brasil é o terceiromercado mundial que consome sua própria cultura.

No Grande ABC, observa-se portanto umagrande diversificação cultural em decorrência dos

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diferentes níveis sócio-econômicos presentes nascidades, que se refletem na oferta de cursos e atividadesvariados como respostas para a integração edesenvolvimento da comunidade: oficinas de arte, teatro,dança, expressão, hip hop etc., estando as Secretariassensíveis aos modos culturais contemporâneos.

O objetivo principal destas políticas culturaisem Aloísio Magalhães, citado por GONÇALVES(1995), deve ser a identificação e a defesa doscomponentes da cultura brasileira. O autor consideraque os governos priorizam as políticas tecnológicas eeconômicas, como sendo as protagonistas do processode desenvolvimento urbano, e negligenciam que aformação do caráter nacional/local, através deprocessos culturais, é os verdadeiro alicerce para asustentabilidade do desenvolvimento tecnológico-econômico.

Os grandes entraves aos planos culturaisencontram-se nas limitadas verbas das Secretarias. Afalta de patrocinadores e investimentos dificulta aprodução e difusão de cultura localmente. Osmunicípios desenvolvem seus projetos culturaisisoladamente e a interlocução de políticas regionais nasáreas culturais é inexistente, o que constitui umagrande lacuna e entrave para as políticas regionalizadas.

Em grande parte dos problemas levantados,como patrocínio e divulgação (suporte de marketing), aimplementação de ações regionais aparece comoalternativa para a aquisição de recursos e fortalecimentoda produção local.

Há um consenso nas Secretarias de Cultura quea administração e os investimentos em políticas decultura devem contemplar a formação.

A Região conta com organismos regionais, comoa Câmara Regional, o Consórcio Intermunicipal dePrefeitos, a Agência de Desenvolvimento Econômico eo Fórum da Cidadania. A Câmara Regional, porexemplo, possui um programa para recuperar econservar o patrimônio histórico-cultural da Região.

Estes estudos compreendem o conhecimentoe identificação da comunidade regional, bem como ademanda de cursos, oficinas e outras formas culturais,com intuito de conjuntamente, elaborar umplanejamento estratégico que atenda os anseios epropiciem o desenvolvimento da cidadania.

Estes atores regionais poderão ser osarticuladores e interlocutores de processosregionalizados, mobilizando as universidades, centrosuniversitários e prefeituras para a formação de parcerias,com o objetivo de desenvolver estudos e pesquisas.

Há, neste mecanismo, dois objetivosfundamentais para o desenvolvimento cultural nascidades: 1) mobilizar as universidades para os processosculturais e, principalmente, desenvolver o sentido dacidadania na classe estudantil; 2) elevar a qualidadede ensino, pois os projetos sociais, econômicos, culturaisetc. desenvolvidos pelos grupos envolvidos, proveriamos municípios de propostas/projetos nas áreas técnicas/socias, econômicas etc.

Isso estimularia a concorrência positiva entreas universidades para desenvolver pesquisa, poismelhores projetos seriam implementados pelasprefeituras da Região.

O encontro permitiu a reflexão e deuoportunidade para as prefeituras reavaliarem seusobjetivos, incluindo em suas agendas a questão regionalcomo nova tendência na gestão pública.

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Luiz Roberto. Culturas do Trabalho –

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RESENHA

O artigo de Rose Compans apresenta as novasestratégias de desenvolvimento econômico considerandoos processos de reestruturação produtiva com adescentralização da produção e concentração do controledos fluxos de capitais, mercadorias e, fundamentalmente,da informação, proporcionando às cidades novas formasde articulação entre o local e o global sem a interferênciadas esferas regional e nacional.

Primeiramente, faz uma abordagem sobre aprodução teórica no Terceiro Mundo, enfocando osnovos papéis das cidades como centros de gestão dosfluxos de capitais, denominando estes lugares como“nós de conexão” desta rede mundial. Esta forma deorganização sociotécnica da produção consiste no novociclo de desenvolvimento impulsionado pelas inovaçõesna tecnologia de informação.

Neste novo modelo organizacional, o pontoprincipal é a qualidade do conhecimento e doprocessamento da informação que converge para avalorização da matéria-prima e da produtividade,deixando supostamente para o segundo plano aspreocupações com os meios e a forma de produçãoexistente no período predominantemente industrial.

A autora cita exemplos de estratégias delocalização de algumas empresas americanas na fixaçãode unidades junto a centros universitários de investigaçãocientífica e a centros financeiros que possuem modernastécnicas de intercâmbio que continuamente inovam seusprocessos técnico-administrativos.

Isto significa acessibilidade a uma rede detelecomunicações e meios modernos e eficientes detransporte que possibilitem às empresas descentralizaratividades com o objetivo de aumentar a produtividadee expandir suas atividades em novos mercados.

Portanto, estes locais, os chamados “centrosnodais”, devem possuir infra-estrutura urbana quesatisfaça as necessidades técnico-socias que podem sertraduzidas em uma presença de uma rede de serviços

COMPANS, Rose. “O paradigma das global cities nas estratégias de desenvolvimento

local”, in Revistas de Estudos Urbanos e Regionais n. 1. São Paulo: USP, maio/1999.

avançados, tecnologia de comunicação/informação euma especialização financeira. Por último, os centrosnodais se caracterizam por proporcionar uma qualidadede vida atraente ao pessoal altamente qualificado oriundode empresas multinacionais.

Em seguida, a autora analisa as característicasdas “global cities”, estabelecendo parâmetros para aavaliação da realidade existente nos países periféricos.Ela assinala alguns destes pressupostos que sãoelementares nas paradigmáticas global cities:

– O determinismo tecnológico, referente àscondições de comunicação/transmissão, o suporte deinfra-estrutura de telecomunicações e as facilidades nossistemas de transportes, bem como a manutenção e odesenvolvimento de novas tecnologias, dificultam ainserção de outras cidades nesta rede mundial;

– A articulação entre o local e global promove

TELMA TANIA V. F. DE CARVALHO*

Rose Compans descreve que os processosgloba-lizantes impõem desafios às cidades: tornarem-se com-petitivas e, dessa forma, serem inseridas nasredes de fluxos econômicos globais.

transformações urbanas que desenham novas formasde desenvolvimento econômico e conseqüente melhorana qualidade de vida, fundamentada na constataçãoempírica de que os serviços avançados e as empresasde alta tecnologia oferecem maior crescimentoeconômico e oferta de postos de trabalho, representandoum aumento do PIB nestes países estudados;

– O novo papel das cidades, como lugares deprodução pós-industrial, está associado aos processosde reestruturação produtiva atribuídos ao aparecimentode várias empresas de serviços que atendem à produçãoe promovem a concorrência e aprimoramento dasunidades produtivas.

A autora finaliza assinalando as novas estratégiasde desenvolvimento local implementadas por consulto-res internacionais que estão voltadas para a identificaçãoda vocação das cidades para o setor terciário.

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Para tanto, transformações endógenas, sejampolíticas, institucionais ou físicas, fazem-se necessáriaspara melhorar a atratividade da cidade e promover o mar-keting urbano.

As redes de comunicação estruturadas a partirda globalização dos mercados mundiais desenham novasformas culturais que determinam a criação de símbolose códigos nas cidades. Esta flexibilização das cidades naredefinição das suas relações capital/trabalho e a leiturada realidade local/global parecem ser o ponto deter-minante para sua participação nos fluxos de capitalmundial.

O novo modelo de gestão urbana pressupõe umasubordinação do local ao global, na qual os sistemaspúblicos não são os únicos determinantes na definiçãode ações a serem implementadas, tendo que consideraros fenômenos externos para adaptar e conceber aspolíticas urbanas em ascensão, direcionadas à elaboraçãode estratégias que coloquem as cidades em condiçõesde enfrentar a concorrência internacional e ofertarserviços, atividades produtivas e recursos humanos quecanalizem condições básicas para a instalação deempresas globais nas cidades, como:

– infra-estrutura urbana de suporte às atividadeseconômicas;

– sistemas modernos de conexão a redesinternacionais;

– desenvolvimento e provimento de mão-de-obra qualificada;

– excelência na prestação de serviços públicos;– criação de símbolos e códigos que fortaleçam

a imagem das cidades.

CONCLUSÃOCONCLUSC ÃOC

Já o segundo elemento está fundamentado nadeterminação da vocação das cidades para o setor ter-ciário avançado.

Por fim, o terceiro elemento é a dester-ritorialização das cidades, visto que a globalização invadefronteiras político-administrativas dos Estados-nação,em função da existência de sistemas de informaçãoligando todos os locais/cidades em redes, o queevidencia uma relação de subordinação do local aoglobal, pois as articulações acontecem sem aintermediação das esferas regional e nacional.

Esta subordinação local/global traduz uma novaforma organizativa, na qual as cidades são administradascomo empresas, priorizando a implementação de açõesque atendam aos interesses de grupos representados porempresas multinacionais, em detrimento da funçãoprincipal, nata, da instituição pública, que é oestabelecimento de políticas urbanas voltadas para odesenvolvimento econômico-social, objetivando o bemcomum da população local.

A crítica de Rose Compans baseia-se nestedualismo que determina o aumento da segregação socialnas cidades. De um lado, elementos paradigmáticos estãofundamentados em aspectos econômicos que visam aatingir níveis de competitividade e produtividade capazesde transformar as cidades em locais atraentes parainvestimentos e implantação de novas empresas; poroutro lado, a diminuição dos investimentos nas áreassociais, que implica o aumento e o agravamento deproblemas urbanos, como a violência, delinqüênciajuvenil, precárias formas de habitação, degradaçãoambiental etc., promovendo o crescente distanciamentoentre a população integrada e a excluída.

A autora termina sua conclusão propondo aseguinte reflexão: qual o futuro poderá este modelo deprogresso, segregador e excludente, reservar às nossascidades e aos nossos povos?A autora faz uma reflexão crítica baseada em

três elementos paradigmáticos que sustentam asestratégias de desenvolvimento local.

O primeiro elemento está relacionado aos novospapéis assumidos pelas cidades como centros de coman-do da gestão de fluxos de capitais, mercadorias e infor-mações. Para suportar este novo modelo de gerencia-mento, onde o sistema produtivo é descentralizado emunidades multilocalizadas e as funções de controle estãocentralizadas, é imprescindível a existência de infra-estrutura urbana de qualidade.

* Aluna do PMA do CEAPOG-IMES eestagiária do Laboratório de Gestão da SociedadeRegional.