ideias em destaque incaer 17

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1 Id. em Dest., Rio de Ja neiro, (x) : ..... -..... , jan./ abr. 2005 Nome do Autor Id. em Dest., Rio de Janeiro, n. 17, p. 80, jan./abr. 2005

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Ideias Em Destaque Incaer 17

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1Id. em Dest., Rio de Janeiro, (x) : .....-....., jan./abr. 2005

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Id. em Dest., Rio de Janeiro, n. 17, p. 80, jan./abr.2005

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Edição

 Divisão de Estudos e Pesquisa

Editor Responsável

 Manuel Cambeses Júnior 

Projeto G ráfico

 Mauro Bomfim EspíndolaWânia Branco Viana

 Jailson Carlos Fernandes Alvim Abdias Barreto da Silva Neto

Revisão de Textos

 Dirce Silva Brízida

Ficha Catalográfica elaborada pela

Biblioteca do Instituto H istórico-Cultural da Aeronáutica

Idéias em Destaque / Instituto Histórico-Cultural daAeronáutica. – n.1, 1989 –

v. – Quadrimestral.

Editada pela Vice-Direção do INCAER até 2000.Irregular: 1991–2004.

1. Aeronáutica – Periódico (Brasil). I. Instituto Histó-rico-Cultural da Aeronáutica. II. INCAER.

CDU 354.73 (05) (81)

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Apraz-se a direção do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáu-tica – INCAER – em apresentar o exemplar de número 17 doperiódico Idéias em Destaque.

Nesta edição, relativa ao primeiro quadrimestre do ano em cur-so, foram introduzidas significativas modificações, tanto no aspectovisual, apresentando um novo e moderno layout , quanto no con-teúdo dos instigantes textos elaborados por diversos autores naci-

onais, civis e militares, prestimosos colaboradores de nossa revista.Faz-se mister ressaltar que, nesta edição, procurou-se contem-

plar uma miríade de assuntos e temas que julgamos relevantes eimportantes de enfatizar, dentro de uma linguagem escorreita, atra-ente e agradável.

Destarte, acreditamos, estaremos contribuindo, sobremaneira,

para a difusão da História da Aeronáutica brasileira, de cultura ge-ral e do pensamento estratégico nacional.

Ten.-Brig.-do-Ar Ref. Octávio Júlio Moreira LimaDiretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

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Nº 17

 jan./abr. 2005

1. Pensamento Original e Sobrevivência....................................7

 Lauro Ney Menezes2. “Echelon” x Segurança Nacional.........................................11

Silvio Potengy

3. Maj.-Brig. Lysias Rodrigues: sua vida e sua obra................17 Manuel Cambeses Júnior 

4. Antropologia da Aviação....................................................25Solange Galante

5. Nação e Defesa.................................................................39 Luiz Paulo Macedo Carvalho

6. Uma visão da Atualidade Mundial......................................49Carlos de Meira Mattos

7. Chegada a Natal............................................................... 59 Milton Mauro Mallet Aleixo

8. Soberania e Defesa da Amazônia ..................................... 65

 Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery

9. As Forças Armadas e a Política de Defesa Nacional...........73 Manuel Cambeses Júnior 

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 Lauro Ney Menezes

 

Criado com o Ministério da Aeronáutica, o nosso primeiro Ins-tituto de Ensino – a então “Escola de Aeronáutica” – pouco maisfez do que se transmutar de um Curso de Armas das Escolas Mili-tar e Naval em Academia de Formação de Oficiais. Esposandoteses ambíguas, envergando uma filosofia de ensino mista de ver-de-oliva e azul-marinho, tumultuada pelos compromissos da Se-

gunda Guerra Mundial, a Escola de Aeronáutica não chegou a con-solidar os ideais que estimularam sua criação. A essa “melée” deidéias e pensamentos, adicionamos, importamos e adaptamos so-luções, desfigurando nosso esperado produto final, distorcendo ameta idealística a atingir.

Essa mistura gerou o sabor (até hoje, às vezes, sentido) de

insatisfação e da sensação do “objetivo não-atingido”, criando odesejo – constante – de uma reforma de princípios e posições.Em suma, da necessidade de fixar uma concepção FABIANA eBRASILEIRA para os assuntos magnos de seu interesse.

Ainda envolvido com esta primeira fase (não resolvida), partiuo Ministério da Aeronáutica para enfrentar a tarefa de instalarseus Institutos de Estudos intermediários e superiores: os cursosde Pós-Graduação para oficiais de nível Unidade Aérea e os deEstado-Maior e de Administração Superior. Da mesma maneira– porém em graus e degraus diferentes – repetiu o “approach”:foram misturadas soluções, importadas e adaptadas soluções.

A implantação dos Programas de Instrução e Padrões de Efi-ciência (PIPE), da Doutrina Básica, da sistemática de treinamen-

to e qualificação operacional, da estrutura organizacional etc. –como não podia deixar de ser – sofreu ponderável influência daexperiência vivida nos Cursos e Estágios no estrangeiro e, funda-mentalmente, do batismo de fogo da Segunda Guerra Mundial.

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 Lauro Ney Menezes

De uma certa forma, essa foi a conduta adotada, várias vezes,durante a vida como Força Singular Organizada. Fomos seguido-res e fruto de uma corrente de “elaboração intelectual-profissional”gerada (na realidade) extrafronteiras. Transformamo-nos em gran-des tradutores, adaptadores, e geramos um grande escritório de“copydesk” da cultura militar e aeronáutica, alienada da realidadebrasileira (e FABiana).

Mas, sendo tudo isto uma verdade, cabe compreender e justifi-car nossos antepassados e fundadores, e a nós mesmos: a criaçãoe a consolidação de uma Organização, como a do Ministério da

Aeronáutica, nascida de uma “cirurgia interna” do Exército e daMarinha e, ainda, fruto de uma época mundial em ebulição, exigiauma manobra rápida: a “queima de etapas”, o que justificava, por-tanto, a importação e a adaptação de soluções e fórmulas.

Mas este “modus faciendi” ganhou foros de “solução única”,durante longo período, e passou a ser justificado (?) para todos ostipos de atividade. Na realidade, em todos os campos da atividadecomunitária e organizacional, essa foi a maneira de conduzir a ma-nobra: importando, adaptando, imitando e copiando.

Hoje, a situação já se configura de maneira diferente. Se, àquelaépoca, estávamos pressionados pela necessidade de existir rapida-mente no cenário militar da Nação, estávamos justificados pelo atro-pelo. Se não tínhamos tempo (nem massa disponível) para conce-

ber, estabelecer, implantar, concluir e arrazoar sobre os resultadosde um programa interno de concepção e elaboração de idéias, es-távamos justificados. Se não havíamos preparado a formação deuma elite intelectual capaz de arguta e inteligentemente, produziridéias originais, fecundá-las, fazendo-as florescer, agigantando-seaté preencher os espaços, então tomados pelas fórmulas e solu-ções importadas, estávamos justificados.

Mas a situação brasileira evoluiu rapidamente e, de uma Naçãoclassificada no elenco mundial como “pobre”, emergimos para umafaixa de riqueza que chega a dificultar, em certos momentos, a ob-tenção de recursos financeiros desonerados e subsidiados.

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 Lauro Ney Menezes

Hoje, exportamos produtos acabados e manufaturados; somosa oitava economia do mundo, e ascendemos até ao palco dos“marchand des cannons”.

Ultrapassamos a faixa dos adaptadores e cultores do produtoimportado e passamos ao terceiro lugar do “marketing” internaci-onal, não só de produtos como, principalmente, de idéias. E, certa-mente, ao exportarmos uma plataforma aérea ou um instrumentode combate, uma ferramenta de trabalho ou instrumento sofistica-do, supõe o nosso “cliente” que, por trás, esteja uma concepção eum pensamento original, também “made in Brazil”...

Vale a pena recordar que, no começo do século, o geopolíticoRUDOLF KJELLEM considerava como atributos principais de umagrande potência: o espaço geográfico, a liberdade de movimento ea coesão interna. Em conceito mais recente, uma potência modernaé aquela que tem capacidade de exercer um poder coordenadorsobre área maior do que seu território.

O Brasil preenche todas essas condições. Porém, para termos “ca-pacidade de exercer o poder coordenador em um campo de açãomaior do que nosso território” há que sustentar nossas posições pormeio de algo mais duradouro e menos efêmero, mais substancioso emenos vazio do que aquilo que é copiado ou adaptado. Algo que duree perdure, e que deixe nosso timbre, indelevelmente marcado; algocapaz de resistir à ação deteriorante da inconsistência e das interroga-

ções sem resposta, das soluções novas para velhos problemas.Reduzindo o presente raciocínio a um campo de ação de menor

envergadura, poderíamos dizer que a Força Aérea será cada vezmaior quanto “maior for sua capacidade de atuar em área alémdaquela que naturalmente lhe cabe”... E, para tanto, necessário sefaz que essa atuação se processe, não mais pelo método simples datradução e importação de palavras, frases, técnicas, normas oudoutrinas. Mas, sim, por um processo de substituição de idéias,capazes de gerar modificação de comportamento e deconceituações, e de sustentar novas teses ou posições, e criar no-vas saídas... “made in FAB”.

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 Lauro Ney Menezes

Aqui nos referimos ao pensamento ou à idéia original renova-dora. Fruto ou resultado de um processo de elaboração intelectual,gerado na busca, na pesquisa, na criatividade do nosso homemfardado de “azul baratéia”...

Em um mundo de produtores de idéias em que mais simples ecômodo é adaptar, copiar, imitar, traduzir, do que conceber, criar,elaborar e gerar, não nos deve faltar ânimo para renovar o bradode alerta, clamando pela sobrevivência e afirmação, cada vez mai-or, do Poder Aeroespacial e da Força Aérea, através das idéias.

Parafraseando um filósofo que concluiu que “a Pátria será altivaou submissa, consciente ou amorfa, progressiva ou retrógrada emrazão direta do que a educação fizer de seus cidadãos”, podería-mos também dizer que a Força Aérea será eficiente ou incapaz,indispensável ou substituível, respeitada ou ignorada, eterna ou pas-sageira, “na razão direta em que as idéias e pensamentos originais,no seu âmago gerados, assegurarem uma perene e inquestionávelsobrevivência...”

Repitam-se, aqui, as palavras de Camões, aos responsáveis pelagrande empreitada dos desbravadores e descobridores. “Não jus-tificarei Capitão que disser: Não cuidei!”

Cuidemos, pois!

O autor é Major-Brigadeiro-do-Ar Reformadoe Presidente da Associação Brasileira de Pilotos de Caça.

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Silvio Potengy

Segurança Nacional, segundo a Escola Superior de Guerra, éconceituada da seguinte forma: “A Segurança Nacional é a ga-rantia relativa, para a Nação, da conquista e manutenção dosseus objetivos permanentes, proporcionada pelo emprego doseu Poder Nacional”.

Um dos temas debatidos hoje, em todo o mundo, é até que

ponto a Segurança Nacional dos Estados tem sido afetada sem quesaibamos. O fato novo que gerou toda essa discussão foi um proje-to conhecido como Rede Echelon.

Em fevereiro do corrente ano, esse projeto deu início a uma polê-mica de múltiplas dimensões. Interesses políticos, estratégicos e co-merciais, além da condução da política pública e análise de aspectos

legais, passaram a ser alvo da preocupação de estudiosos, de em-presários e de homens públicos em todos os continentes.

Mas, afinal, o que vem a ser esse projeto? Qual será o motivopara tanta preocupação?

Há pouco mais de meio século foi firmado o US 1948  Intelligence Cooperation Agreement (Acordo de Cooperação

de Inteligência), envolvendo Estados Unidos, Reino Unido, Cana-dá, Austrália e Nova Zelândia.

Nos anos 60, as redes de vigilância eram encaradas com na-turalidade sob o ponto de vista da segurança nacional das na-ções ocidentais. Ao mesmo tempo em que eram feitas asinterceptações e escutas de telecomunicações soviéticas, algu-mas poucas comunicações aliadas podem ter sido interceptadasacidentalmente. Ninguém foi alertado para essa possibilidade e,caso viessem a tomar conhecimento, não protestariam de formaveemente. Entretanto, havia uma grande diferença: o Echelon

ainda não existia.

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Silvio Potengy

Com o início da dissolução da União Soviética, no final dosanos 80, as prioridades começaram a mudar. Já não havia a neces-sidade premente de manter-se uma vigilância tão forte como antes.As prioridades foram reordenadas, com interesse maior para a áreaeconômica. Foi nesse momento que o Echelon começou a sermotivo de preocupação para todos.

O Echelon é um sistema de vigilância, instalado e operado pela NSA - US National Security Agency (Agência de Segurança Na-cional dos Estados Unidos) - com excepcional capacidade parainterceptar, localizar, ouvir, gravar e decodificar mensagens. Sua

eficácia é lendária, quase um mito.James Bamford, autor do livro The Puzzle Palace (1982), pu-

blicou um artigo em 28 de agosto de 1998, no qual apresentava,pela primeira vez, um balanço detalhado das operações da NSA,demonstrando a queda do ritmo de produção da Agência com asseguintes palavras: “Ao final da Guerra Fria, a Agência era ca- paz de reportar apenas 20% do processo de toda a informaçãoobtida. Na metade da década de 90, esse volume de dissemina-ção de informações caiu para 1%, quase nulo”.

O US News and World Report , em sua edição de 14 de fevereirode 2000, pintou um quadro apocalíptico da operação do NSA, credi-tando a sua queda de produção ao catastrófico espírito burocrático.

Nessa seqüência de fatos, em 23 de fevereiro de 2000, DonaldCampbell, do Reino Unido, submeteu um relatório ao ParlamentoEuropeu, detalhando certas atuações não usuais da NSA.

Uma delas foi a interceptação de uma comunicação de umaempresa européia anunciando o pagamento de comissões para in-termediários, com o objetivo de vencer uma colossal concorrênciainternacional de aeronaves. A NSA passou essa informação a uma

empresa americana, que retificou seus preços e suas comissões evenceu a concorrência, que era da ordem de 10 bilhões de dólares.

Tudo isso, entretanto, não explica como foi que Echelon veio ase tornar de conhecimento público e um objeto de intrigas, incitan-

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Silvio Potengy

do a curiosidade mundial. Aqueles fatos foram algumas das peçasde um “quebra-cabeça” que, aos poucos, vai tomando forma.

O Echelon foi realmente exposto através dos insistentes e per-

sistentes esforços de um grupo de usuários da Internet, cuja causafoi assumida por um representante do Partido Republicano, BobCarr, oficial aposentado da CIA, em meados de 1999.

Esta ação levou ao conhecimento do público em geral a existên-cia do Echelon, através da colocação na rede Internet, em feve-reiro de 2000, de documentações da NSA, obtidas sob a proteçãodo Freedom of Information Act .

Agora o Echelon está sob ataque: na Europa, uma ação podeser movida pela Comissão Européia; em vários países (França, Itá-lia, Dinamarca e Japão), dando início a procedimentos legais con-tra a  NSA; e, também, nos Estados Unidos, onde a  House of  Representatives marcou audiências sobre a atuação do Echelon.

Mas qual é o ponto crucial do problema? Por que os internautas

americanos querem mover uma ação contra o Echelon? A respostaé simples: eles se tornaram o alvo desse sistema de vigilância(monitoramento da Internet, interceptação de e-mail etc.). A lista depalavras-chaves usadas pela NSA (palavras usadas para a seleçãode mensagens a serem interceptadas e analisadas), que foi elaboradapelo Professor Simpson da  American University of New York ,mostra a orientação política doméstica que a Agência tem recebido(a NSA não tem direito de operar em território americano).

Palavras como “Clinton”, “Vince Foster”, “Militia”, “Davidian”,“Abolish the Federal Reserve” etc. são imediatamente intercepta-das e rastreadas pelos supercomputadores do Echelon. Isso dáuma clara noção do quanto a privacidade e a liberdade de opiniãoestão sendo colocadas em risco.

Se as telecomunicações estão sendo monitoradas até o pontoem que mesmo o seu computador pessoal não está livre de serinvestigado, se palavras-chaves de cunho político ou econômico,ao serem pronunciadas ou digitadas, não têm a necessária salva-

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Silvio Potengy

guarda e são interceptadas, e se essas informações, ao serem co-lhidas, podem ser usadas para fins políticos ou comerciais, entãocomo ficará a segurança nacional? Até que ponto as informaçõesque pensamos estar protegidas não são do conhecimento alheio?

A atividade de coleta de informações é tão antiga quanto a exis-tência da Humanidade. O que faz a diferença em nossos dias é onível de sofisticação que os equipamentos terrestres, aéreos eaeroespaciais podem atingir.

Alguns poderão apelar para o “direito” que as Nações têm denão sofrerem ingerências externas nos assuntos internos. Outrosapelarão para a necessidade de serem observados princípios éti-cos na condução de negociações comerciais entre as partes. Have-rá até quem acuse o agente que coleta as informações de cometerato ilícito de espionagem. De qualquer modo, essas atitudes nãoirão resolver o problema.

É fundamental que todos tenhamos a exata noção de nossas

vulnerabilidades. Esse é o primeiro passo que deve ser dado.Uma vez conscientes disto, já teremos, pelo menos, condiçõesde dificultar a coleta dos dados que sejam sensíveis, sendo maiscuidadosos.

Outro passo a ser empreendido é desenvolver, com nossos pró-prios recursos humanos e materiais, dispositivos que possam serbloqueadores e codificadores de nossos meios de telecomunica-ções mais sensíveis.

Em nenhuma hipótese devemos admitir a colaboração de pes-soas que não sejam brasileiros natos, ou a importação de tecnologiae equipamentos de segurança oriundos de outros países. Essa éuma tarefa que teremos de levar a cabo, sozinhos, caso contrárionão surtirá o efeito desejado.

O último passo será dotar nosso País de ferramentas eficazes decoleta de informações, diminuindo a imensa defasagem hoje existente.

O Echelon constitui um elevado fator de risco para a soberaniade qualquer país, isso é inegável. Entretanto, o verdadeiro perigo

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Silvio Potengy

está em ficarmos imóveis, omissos, sem encarar o problema defrente e sem buscar soluções concretas para nossa proteção.

Não será uma rede de vigilância que irá impossibilitar nosso País

de conquistar e manter os objetivos nacionais!Nosso futuro depende e sempre dependerá apenas de nós!

O autor é Coronel-Aviador da Reserva.

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L A N Ç A M E N T O

Pedidos ao

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 Manuel Cambeses Júnior 

 

   

O Major-Brigadeiro-do-Ar Lysias Augusto Rodrigues nas-ceu no Rio de Janeiro, em 23 de junho de 1896. É praça de 25de março de 1916, na Escola Militar do Realengo, tendo sido

declarado aspirante-a-oficial da Arma de Artilharia, em dezem-bro de 1918.

Em 1921, como tenente, integrou a primeira turma de Observa-dores Aéreos ao lado do Capitão Newton Braga, dos TenentesEduardo Gomes, Ivo Borges, Amílcar Velloso Pederneiras, GervásioDuncan de Lima Rodrigues, Ajalmar Vieira Mascarenhas, SylvinoElvidio Bezerra Cavalcante, Plínio Paes Barreto e Carlos Saldanha

da Gama Chevalier. Como capitão, em 1927, concluiu o curso depiloto realizado na Escola de Aviação Militar, conquistando o brevet de aviador. Sua turma era composta pelos Tenentes Floriano Pei-xoto da Fontoura Neves, Godofredo Vidal, Francisco de AssisCorrêa de Mello e do Aspirante-a-Oficial da Reserva João EgonPrates da Cunha Pinto.

Indubitavelmente, foi ele uma figura humana ímpar, cultura ex-traordinária, inteligência brilhante, historiador, pesquisador, desbra-vador, piloto militar, engenheiro, escritor, poliglota e profundo co-nhecedor de Geopolítica.

Lysias Rodrigues era uma personalidade tão multifacetada e ricaem sua abrangência que, com extrema facilidade, encontramos ad- jetivos laudatórios para definir a sua intensa vida intelectual e a bri-

lhante trajetória percorrida durante décadas, como aviador militar,geopolítico, escritor, desbravador e engenheiro-geógrafo.

Seus inúmeros livros e artigos publicados no Brasil e no exteriorconferem-lhe especial destaque, no meio acadêmico, e uma notá-

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18 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (17) : 17 - 23, jan./abr. 2005

 Manuel Cambeses Júnior 

vel repercussão como intelectual da mais alta envergadura, em ní-veis nacional e internacional.

A par de suas inúmeras virtudes intelectuais, o inolvidável briga-

deiro tinha como paradigma de vida a transparência e a sinceridade.Porte altivo, coragem e determinação, integridade moral e ho-

nestidade, aliados a um coração terno e generoso, outorgaram-lheuma personalidade muito especial, tal qual o raro brilho de um cris-tal puro e radiante de luz.

Não seria difícil distinguir-se entre as várias nuances de sua ím-

par e marcante personalidade – plasmada no amor e na dedicaçãoao trabalho – a de maior significação. Destacava-se, entretanto, oseu devotado amor à Aviação, seu acendrado patriotismo e seusinquebrantáveis dotes morais. Foi desses homens notáveis que sesobressaíram pela cultura, autenticidade, coragem e, sobretudo, pelagrandeza de alma. Qualidades que os tornam figuras incomparáveis– faróis balizando, nos meandros da caminhada humana, a direção

certa na incerteza aparente da existência. Homens dotados de inte-gridade de caráter e talento, aliados a longa existência adquirida nocontato com as asperezas da vida, características que lhes enrique-cem o espírito, que se transbordam, em busca do semelhante, pro-porcionando-lhes, sob variadas formas, ensinamentos, cultura eeducação, em prol do desenvolvimento da Pátria.

Com a criação do Correio Aéreo Militar, em 12 de junho de1931, que dez anos mais tarde passou a ser chamado de CorreioAéreo Nacional, o CAN – nome pelo qual ficou conhecido emtodo o Brasil e é lembrado até hoje – os bravos bandeirantes do arderam início à árdua tarefa de desbravar o interior do Brasil, im-plantando campos de pouso. Naquela época, havia grande interes-se da Pan American Airways em reduzir o tempo gasto por seusaviões cumprindo a rota Miami-Buenos Aires, e não dispondo deequipamento aéreo mais veloz, foi levada a procurar uma rota aé-rea que encurtasse o caminho. Assim, o Governo Federal resolveudesignar, por indicação tanto do Ministério da Guerra como peloda Viação, o então Major Lysias para acompanhar e fiscalizar a

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 Manuel Cambeses Júnior 

missão da companhia americana, dando a ele a incumbência deestudar, a par de sua atividade precípua na expedição, as possibi-lidades de ampliar os vôos do CAM pelo interior, pois havia amanifesta intenção de estender a Rota Rio-São Paulo até o esta-do de Goiás.

Em 19 de agosto de 1931, é dada a partida na expedição com-posta por Lysias Rodrigues, Felix Blotner, inteligente e destacadofuncionário da Panair do Brasil, a serviço da congênere america-na, e seu prestimoso auxiliar, um jovem chamado Arnold Lorenz,que percorreram os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e

Maranhão, até chegar a Belém. O objetivo dessa árdua jornadaera reconhecer o território e implantar campos de pouso, de modoa viabilizar a navegação aérea e criar as condições imprescindíveisque facultassem a execução de vôos dos grandes centros do Brasilpara a Amazônia e que permitissem, também, uma nova e econô-mica rota para os vôos realizados entre os Estados Unidos e oCone Sul do Continente. Àquela época, as aeronaves percorriam o

arco irregular de círculo que descreve o litoral brasileiro para sedeslocarem de um extremo a outro do País, devido à existência deaeroportos em várias cidades litorâneas. Por sobre a Amazônia e aregião central, apenas mata fechada. Daí a importância da missãoque foi atribuída a Lysias Rodrigues e o ímpeto com que o notáveldesbravador abraçou o desafio, penetrando em profundidade, comdestemor, na natureza virgem daquela região, em realidade, um

mundo desconhecido e cheio de mistérios sedutores para um ho-mem nascido e criado no Rio de Janeiro, então capital do País.Varando por terra o sertão bruto, com galhardia e tenacidade, lo-grou alcançar Belém do Pará, em 9 de outubro daquele mesmoano. Esta marcante epopéia ficou registrada em seu diário de via-gem e, mais tarde, foi incluída no livro que batizou de “ Roteiro doTocantins”.

Há pessoas que se identificam com a História pelo desempenhoextraordinário de sua missão, nas exigências de cada época. LysiasRodrigues foi uma delas. Durante a Revolução Constitucionalistade 1932, no posto de major, combateu ao lado de São Paulo, co-

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mandando o 1º Grupo de Aviação Constitucionalista, sediado noCampo de Marte. Foi com o cognome de “Gaviões de Penacho”que este combativo Grupo, a despeito dos parcos recursos, co-briu-se de glórias. Após o armistício de três de outubro, ele e seuscompanheiros insurretos Major Ivo Borges, Capitão Adherbal daCosta Oliveira, Tenentes Orsini de Araújo Coriolano e Arthur daMotta Lima foram reformados pelo Governo e exilaram-se emPortugal e na Argentina. Em 1934, foram anistiados e reintegradosao Exército.

Retornando do exílio, deu continuidade ao trabalho iniciado com

a exploração terrestre empreendida em 1931, na companhia dedois destacados funcionários da Panair do Brasil. Em 14 de no-vembro de 1935, decolando do Campo dos Afonsos, no Rio deJaneiro, em companhia do Sargento Soriano Bastos de Oliveira,em uma aeronave Waco C.S.O., deu início ao levantamento aéreoda área anteriormente esquadrinhada, inaugurando todos os cam-pos de pouso que havia implantado em seu famoso périplo, quatro

anos antes, percorrendo as cidades de Ipameri, Formosa, Palma,Porto Nacional, Tocantínia, Pedro Afonso, Carolina e Marabá, antesde atingir Belém. Por onde passaram causaram estupefação, curio-sidade e incredulidade, trazendo alegria e esperança àquela gentesimples do sertão.

Por uma feliz coincidência, o destino resolve juntar em torno

dos mesmos ideais do Correio Aéreo Militar, o Brigadeiro EduardoGomes e o então Tenente-Coronel Lysias. Aqueles que esposa-vam idéias antagônicas, na Revolução Constitucionalista de 1932,passaram a lutar bravamente por um pensamento comum: des-bravar pelos meios aéreos o interior do Brasil, cooperando inten-samente na integração nacional e com a pretendida unidade polí-tica da nação.

Como escritor de escol, vigoroso e ardente, projetou ascintilações de sua genialidade nos inúmeros e formidáveis artigospublicados no Correio da Manhã – expressivo jornal do Rio deJaneiro à época – e, ainda, através da publicação de dois livros

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intitulados “ Roteiro do Tocantins” e “ Rio dos Tocantins” – com-pêndios que ainda hoje constituem a mais completa radiografia daregião – instigando, como corolário, o despertar do Brasil para aimportância estratégica de integrar o território nacional, propugnandopela criação do Território Federal do Tocantins, tendo elaboradouma minuciosa carta geográfica da região e apresentado, em 1944,anteprojeto constitucional nesse sentido.

No dia 5 de outubro de 2001, o governador do Estado doTocantins, na presença do Presidente da República, inaugurou oaeroporto da capital, Palmas, que através do Projeto de Lei nº

233/2001, de 6 de março de 2001, foi batizado com o nome deBrigadeiro Lysias Rodrigues, em homenagem à memória do herói-co desbravador.

Além de “ Roteiro do Tocantins” e “ Rio dos Tocantins”, escre-veu, ainda, “ História da Conquista do Ar ”, “Geopolítica do Bra-sil”, “Estrutura Geopolítica da Amazônia”, “Formação da Na-cionalidade Brasileira” e “Gaviões de Penacho”, onde narra oemprego da Aviação Militar na Revolução Constitucionalista de1932.

Entretanto, sua intensa e profícua atividade não se limitou à lite-ratura, sendo o primeiro piloto a sobrevoar e pousar nos aeródromosque ele próprio implantou. Juntamente com o Brigadeiro EduardoGomes, iniciou as primeiras Linhas do Correio Aéreo Nacional

sobrejacentes às regiões Centro-Oeste e Norte, consolidando umacomplexa rede de aerovias, interligando-as aos centros mais avan-çados do Brasil.

Como renomada autoridade em Geopolítica, reconhecida inter-nacionalmente, ombreando-se a outros ilustres exegetas desta ci-ência, tais como Mário Travassos, Golbery do Couto e Silva, Carlosde Meira Mattos, Delgado de Carvalho e Therezinha de Castro,

lutou, enfaticamente, pela construção da rodovia Trasbrasiliana, hojedenominada Belém-Brasília.

De maneira análoga, exerceu notável influência para que fosseativado um organismo que congregasse a evolução e o emprego do

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avião, a exemplo do que já vinha ocorrendo nos Estados Unidos,na Inglaterra, na Itália e na França, defendendo a tese de que oBrasil necessitava de um Ministério próprio, de modo a dispor deuma aviação apta a atender à sua imensidão geográfica.

Movido por esse propósito, deu início a uma intensa campanhapara a criação do Ministério da Aeronáutica, publicando vários artigossobre o tema na imprensa do Rio de Janeiro, então capital da Repúbli-ca. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, eviden-ciou-se a importância do poder aéreo unificado para a segurança naci-onal, vindo justamente a corroborar a benfazeja idéia por ele esposa-

da, culminando, assim, com a criação do Ministério da Aeronáutica,em 20 de janeiro de 1941, hoje Comando da Aeronáutica.

Lysias Rodrigues foi um daqueles homens extraordinários quemarcaram os momentos gloriosos e históricos da Aeronáutica bra-sileira, através de uma intensa participação em várias iniciativas fér-teis, com energia inesgotável, tendo deixado como herança a suadevoção no cumprimento do dever e a confiança num notável en-grandecimento do Ministério da Aeronáutica e de uma ativa e fe-cunda participação da Aviação no desenvolvimento do País.

Há em cada cidadão brasileiro o sentimento desenvolvido denacionalidade e de apego ao torrão natal. Poucos, entretanto, pu-deram manifestá-lo de forma tão viva como Lysias Rodrigues.

O Brasil deve a Lysias Rodrigues o reconhecimento pela dedi-

cação, competência e patriotismo que demonstrou, de modo con-tumaz, durante toda a sua extraordinária carreira, sem medir esfor-ços para elevar e honrar a imagem de nosso País no cenário inter-nacional. Um nome querido e respeitado, uma reserva moral, umpatrimônio de inteireza e caráter e um exemplo edificante para osbrasileiros de todas as épocas.

Estamos convictos de que o Brigadeiro Lysias morreu tranqüiloquanto ao julgamento de seus concidadãos. Certamente a Pátriasaberá guindá-lo aos píncaros da glória, quando a perspectiva dotempo permitir uma avaliação mais exata de sua obra e um conhe-cimento perfeito de sua pureza de intenções.

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À época de seu desenlace, em 21 de maio de 1957, aos 61anos, a Força Aérea compartilhou com seus entes queridos, admi-radores e amigos, a amargura desse momento inexorável da exis-tência humana, última parte do desenrolar de uma vida em que ogênero humano – a exemplo dos inolvidáveis vôos empreendidospelo ilustre brigadeiro, nas asas do Correio Aéreo – realiza umadecolagem, deslancha um vôo de cruzeiro e, finalmente, vê chega-do o momento da aterrissagem e o final de uma gloriosa jornada.

Esteja onde estiver, Major-Brigadeiro-do-Ar Lysias AugustoRodrigues – insigne pioneiro do Correio Aéreo Nacional – rece-

ba os nossos agradecimentos pela prestimosa atenção e carinhodispensados à Aeronáutica brasileira. Que seus edificantes atri-butos morais e a intensa dedicação à Aviação, à vida militar e aoPaís, ecoem por muito tempo em todos os rincões deste nossoamado Brasil.

O autor é Coronel-Aviador da Reserva e Chefe da Divisão de Estudos

e Pesquisa do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

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Pedidos ao

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Solange Galante

“Embora de um ponto de vista aerodinâmico e eletromecâniconós compreendamos a dinâmica do vôo, do ponto de vista dainteração social, estamos apenas começando a entender comose processa essa dinâmica.”

Fronteiras Ilimitadas

Durante o século XX, o ser humano mudou radicalmente seuestilo de vida: deixou de morar em vilas e sobreviver da agricultura,migrando para as cidades e trabalhando na indústria. A industriali-zação de ontem foi a raiz da globalização de hoje, e o desenvolvi-mento das tecnologias de comunicação e de transportes trouxe omundo para perto de cada cidadão.

Redesenhando cada vez mais as fronteiras das civilizações, ostransportes e as comunicações, que têm desenvolvimentos até cer-to ponto interligados, afetam diretamente as populações em todo oplaneta. Espaço e lugar, hoje, são substantivos relativos; fronteirassão até onde conseguimos chegar e cada vez mais chegamos maislonge: os contatos interpovos são, atualmente, ilimitados.

Na área de tecnologia de transportes, o ápice é a Aviação. Não

importa se o ser humano cruza oceanos em um supersônico ou secom um monomotor atinge a longínqua Amazônia. Seja qual for ocaso, culturas e povos estão se tornando cada vez mais próximos,e a própria Aviação está deixando de ser nacional ou internacionalpara ser multinacional e multicultural.

Verificou-se, no fim do século passado, o nascimento de alian-

ças de multitransportadoras. Primeiro foi a Star Alliance ( Air Canada,  Air New Zealand ,  ANA,  Ansett Australia,  Austrian Airlines,  British Midland ,  Lauda Air ,  Lufthansa,  Mexicana Airlines, SAS , Singapore Airlines, Thai, Tyrolean Airways, United  Airlines e Varig).

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Depois surgiu a One World  ( American Airlines, Air Lingus,Cathay Pacific, Finnair , Iberia, Lan Chile, British Airways eQantas).

Uma surgida mais recentemente é a SkyTeam ( Aeromexico, Air France, Czech Airlines, Alitalia, Delta, Korean Air ).

Outras alianças ainda virão por aí. Algumas companhias aéreassaíram, outras entraram e ainda entrarão novas, portanto as própri-as fronteiras de cada uma dessas alianças se movem a todo o mo-mento. “– Qual a sua companhia aérea?” – poderá perguntar umpassageiro a outro no aeroporto. A resposta poderá ser em umfuturo bem próximo: “Star Alliance”. ou “One World ”, ou“SkyTeam”. Afinal, é possível que um padrão nivele marcas e ori-gens tão diferentes.

Dentre as funções já reunidas hoje, ou pelo menos já discutidaspara o futuro, dentro de cada aliança, estão:

– Code sharing: reservas de passageiros e vendas;

– Tripulações de vôo: intercâmbio entre as companhias aéreas;

–Facilidades de manutenção: reparo de aeronaves em locais remotos;

– Premiação aos passageiros: planos de milhagens;

– Publicidade e promoção: imagem unificada da aliança;

– Intercâmbio de aeronaves: “ permuta de cascos”;

– Financiamento e igualdade de interesses dos parceiros.

A Antropologia e as Viagens Aéreas

De todas as indústrias, a Aviação Comercial é uma das mais jovens, tendo aproximadamente a mesma idade da indústria eletrô-nica de consumo e sendo apenas um pouco mais velha que a indús-tria de computadores pessoais e “softwares”. Sua evolução estáligada às comunicações (o correio aéreo), e algumas das empresasaéreas que assim começaram ainda existem hoje (nos EUA, aUnited  e a American Airlines são bons exemplos).

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A Aviação, juntamente com (e talvez mais do que) as telecomuni-cações, têm alterado a interconexão moral do mundo. Cem anosatrás, mães podiam encorajar seus filhos a terminar suas refeiçõeslembrando das massas famintas da China; hoje, basta ligar a TV e veras mesmas massas, ao vivo. A miséria dos povos carentes está aapenas algumas horas de vôo dos povos mais ricos. Pela virtude daviagem quase instantânea que a Aviação fornece atualmente, umaguerra distante é uma realidade no noticiário das oito horas, porquecorrespondentes, diplomatas e organizações de ajuda já voaram paralá, a fim de entrar ao vivo no último plantão noticioso. O tempo e o

espaço são controlados e censurados com maior dificuldade.O Prof. Allen W. Batteau, da Wayne State University (Detroit,

Michigan, EUA), elaborou, em abril de 2000, um estudo denomi-nado “ Antropologia da Aviação e da Segurança de Vôo”. “ An-tropologia”? – é provável que vocês perguntem, acrescentando,ainda: “ Antropologia não é aquela ciência que tenta entender os pigmeus da África ou os yanomanis da Amazônia”?; ou, na

pior das hipóteses, “as ‘tribos’ urbanas das grandes metrópo-les”? Bem, a verdade é que, cada vez mais, a Antropologia tam-bém está se globalizando e, mais do que isso, nos ajudando a en-tender por que, na quase centenária Aviação, fatores aparentemen-te insignificantes ainda causam problemas sérios e até fatais.

Essa alteração do alcance pessoal e social é talvez o desafio

fundamental da Antropologia na Aviação e em outras tecnologiascontemporâneas. A Antropologia, aqui, tem uma missão muito maisurgente que apenas a de cutucar os sótãos empoeirados da Huma-nidade, embora os antropólogos ainda suspirem, freqüentemente,por lugares “ fora de estrada” para fazer seu trabalho de campo.

O Prof. Allen Batteau comenta que a Antropologia, em seu iní-cio, focava a Humanidade como um todo, tanto em sua evolução

histórica, quanto em sua diversidade contemporânea. Enquantoexistiu e era forte, o modelo geográfico-social de empresa colonial,esta se mantendo sempre informada sobre suas longínquas colôni-as, a Antropologia mudou do estudo da Humanidade para a Socio-

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logia comparada, a Economia comparada, a Ciência Política compa-rada e o Humanismo comparado, de povos tribais. Mas os últimoscem anos têm visto uma maior evolução da cultura, anunciando amorte do colonialismo e um aumento da sensibilidade de numero-sos povos, desejosos de estarem informados sobre tudo, antes deserem transformados em demografia, guardados em bancos dedados e reconstituídos no World Wide Web.

Hoje, os relacionamentos núcleo/periferia e as relações metró-pole/interior, uma vez associadas com distâncias geográficas, estãocaindo junto com as fronteiras. Cultura e etnicidade são descom-

postas e “reembrulhadas” como veículos para vender estilos devida, pois, na prática, nada está mais restrito a um povo ou a umaregião geográfica. Assim, você pode decorar sua casa em estiloindiano, alimentar-se seguindo a cozinha tradicional chinesa, usarroupas no melhor corte francês, beber vinho português etc. E, derepente, trocar tudo pelo artesanato e pela culinária senegaleses,mesmo residindo em São Paulo, Brasil, justamente porque todas as

culturas e todos os povos estão ao nosso alcance.Voltando à nossa Aviação: a Antropologia de hoje tem-se preo-

cupado menos com os ritos de iniciação de tribos longínquas e mais,por exemplo, com a segurança de duzentos corpos abarrotadosdentro de um cilindro de alumínio solto a 35 mil pés de altitude,lembrando que esses corpos são oriundos dos mais diversos lega-

dos culturais e tecnológicos. O estudo do Prof. Allen Batteau co-menta que, se a tecnologia fosse uma máquina autônoma, não de-veria haver falhas que causassem catástrofes. Ela poderia parar,mas nunca quebrar. Se a vida humana fosse puramente social, nãohaveria acidentes industriais. Haveria desentendimentos pessoais ehaveria guerra, mas não haveria destruição de vida humana em umaescala industrial. A característica única das civilizações é que elas

definem e são definidas por seus legados tecnológicos.Particularmente, as viagens aéreas comerciais unem os elemen-

tos do mundo contemporâneo de maneira jamais vista antes. Via-gens de longa distância desafiam quaisquer suposições antropoló-

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gicas relativas a sociedades, culturas e sua evolução. No que issoinfluencia as operações e o gerenciamento de vôo?

A grande ameaça para a segurança de vôo, atualmente, é menos

o antes perigoso céu, repleto de deuses ferozes e meteorologiaindecifrável, e mais os... próprios passageiros! Introduzido em 1935,o Douglas DC-3 revolucionou a indústria de transporte aéreo, por-que pela primeira vez conseguiu-se obter o equilíbrio entre veloci-dade, segurança e utilização com lucro, na operação com passa-geiros. As empresas aéreas não precisavam mais sobreviver doscontratos de correio aéreo e da cartelização patrocinada pelo go-

verno. O DC-3 foi a primeira aeronave projetada especificamentepara uma operação viável com passageiros, e continua sendo umgrande sucesso. Com mais de 13.000 aviões DC-3/C-47construídos pela Douglas Aircraft Corporation, muitos dos quais,após a Segunda Guerra Mundial, foram convertidos para o serviçocivil, centenas ainda permanecem em serviço, muitos provendo vôos“charters” em países do Terceiro Mundo.

O balanço entre economia, conforto, conveniência aos passa-geiros e segurança é mais delicado do que se imagina. Isso englobatudo que tenha participado da evolução das viagens aéreas: maispassageiros a bordo, para obter mais lucro. Mas são, também, maispassageiros reclamando por conforto. Como entretê-los e acomodá-los convenientemente e com toda segurança? Qual será o custo,

para empresa e passageiros, a partir dessa necessidade? Hoje, asegurança requer portas blindadas na cabine de comando. Que custoserá repassado para os passageiros? Valerá a pena para a seguran-ça, mas, também, para o bolso? E quais as condições para as pró-prias tripulações envolvidas?

A civilização industrial contém muito mais interdependências queas anteriores (agrícola, por exemplo). Assim como um automóvel

tem mais peças para falhar do que um carro de boi, em uma civili-zação industrial há muito mais oportunidades das coisas darem er-rado. Como indústria que é, a Aviação Comercial concentra pro-blemas, contradições e benefícios que são realmente básicos na

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indústria. Todos os meios de transporte experimentam desastres, masapenas o acidente aéreo e os grandes desastres de trens dão man-chetes internacionais. Todas as indústrias têm quedas econômicas,mas poucas podem rivalizar com os prejuízos da Indústria Aeronáu-tica. Todas as indústrias começam suas carreiras com alguma medidade capitalização pública, ou desapropriação privada; entre as com-panhias aéreas dependentes de suportes do setor público, particular-mente nas nações menores, isso foi essencial para a sobrevivência.Todas as indústrias devem equilibrar o balanço entre custo, seguran-ça e serviço, e na Aviação Comercial esse balanço é excepcional-

mente delicado. Essas características estão, de fato, interconectadas.As indústrias aeronáuticas, químicas e de geração de energia nu-

clear têm muito em comum. Acidentes esperam para acontecer echegam a ser considerados “normais” nessas indústrias. A comple-xidade e a rígida interligação da tecnologia da Aviação Comercialsão a origem dos seus riscos. A “normalidade” desses acidentes – echega a ser considerado “normal” dentro de poucos anos haver um

grande acidente aéreo por semana – é contrabalançada por váriasmedidas tomadas constantemente para assegurar “confiabilidadeelevada”. Uma delas é o intenso gerenciamento da segurança e daresponsabilidade. Exemplo: dentre os consumidores da Indústria daAviação, sempre estiveram incluídas elites políticas e sociais com ele-vada reputação pública. Qualquer mácula em seu bem-estar e segu-rança pode ser simplesmente a falência da companhia!

O equilíbrio entre segurança, lucro, carga de trabalho e servi-ço é tudo na Aviação. Passageiros querem conforto, horários con-venientes e segurança. Horários convenientes requerem numero-sas freqüências, que congestionam o espaço aéreo ao redor dosprincipais aeroportos e aumentam os riscos. A segurança é inten-sificada através de treinamento e manutenção meticulosos, am-

bos a um custo elevado. O gerenciamento de todo esse sistemarequer rendimento, que demanda a maximização do uso dos equi-pamentos mais caros e pessoais, incluindo aqueles que contribu-em para o conforto do passageiro. E o acidente ocasional é umalembrança da realidade dessas fronteiras.

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Assim, justamente como a Aviação tem transformado os con-tornos do mundo, são os desastres de Aviação que demonstram ofundamento social dessa transformação. Oficiais da indústria,freqüentemente, chamam a atenção de que a Aviação é mais segurado que outras formas mecânicas de transformação, medidas emtermos de fatalidades por passageiro/milha. Mas o antropólogosalienta que esta comparação faz vista grossa para o fato de queviajantes contemporâneos definem seus raios de alcance pessoaisnas dezenas de milhares de milhas, em vez das dúzias de milhas queeram os típicos alcances pessoais antes da revolução industrial.

Medido em termos de embarques de passageiros, ou acidentes porpartidas, o registro do caminho da Aviação é mais ou menos com-parável àquele de outros meios de transporte.

A Aviação Comercial depende de recursos comuns – espaçosaéreos, aeroportos e freqüências de rádio – e alguns destes estãose aproximando da saturação. Alguns aeroportos (Chicaco O’Hare,Atlanta Hartsfield, New York La Guardia), em certos momentos

do dia, estão se aproximando de sua carga máxima para o tráfego:as limitações são de espaço aéreo (e das separações requeridasentre vôos) e da largura da faixa de freqüências de rádio disponívelpara comunicações do ATC. No futuro, estes serão espremidospor separações menores (mais próximas) e a substituição da vozcom comunicação por rede de dados. Mas isso vai requerer umacidente ou dois (a perda de uma mensagem por linha de dados,

um avião pequeno cujo piloto esteja com pressa de chegar em casa,chegando muito perto do “wide-body” incorretamente identifica-do) para testar os novos limites.

A expectativa da maioria dos observadores da indústria é deque a freqüência de grandes acidentes se aproxime de um porsemana, no ano 2005. Embora isso não reflita um aumento de

taxa (que nos últimos vinte anos na América do Norte têm sido deperdas de 1.4 cascos por milhão de partidas), o entendimentopúblico vai estar baseado menos em conceitos estatísticos de taxade acidentes e mais em manchetes de (inevitáveis) acidentes dra-máticos. Se o público aceitará ou não um grande acidente por se-

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mana, sem as necessárias intervenções regulatórias (aumento dasseparações em vôo, equipamentos adicionais de segurança, restri-ções em bagagens de mão), que aumentarão os custos e diminuirãoo conforto e conveniência de voar, resta-nos esperar para ver.

A Cultura do Vôo

Nosso antropólogo observa que, ainda predominantemente mas-culina, a cultura da Aviação engloba pompa, fascinação pela má-quina, dominação etc. No desenvolvimento da organização aérea,a separação cultural entre aqueles que voam o avião e aqueles que

gerenciam a organização tornou-se evidente. Os pilotos, de um lado,formaram um grupo único, com suas próprias habilidades físicas(como a habilidade ao lidar com motores), formação (treinamentode vôo), rito de iniciação (o vôo solo) e, até mesmo, estilo de sevestir (a jaqueta de couro e o cachecol, hoje passando ao quepe).

O vôo humano é sedento de perfeição, que é perseguida, cons-

tantemente. Com a ajuda de inventos de Engenharia, os aviadorestranscendem as limitações humanas O casamento homem-máquinaou, mais precisamente, a subserviência do homem à máquina, é oque permite essa transcendência. Nesse espaço sagrado, os “ fato-res humanos” são quase uma reflexão tardia, uma afirmação heré-tica fatal de que é o mecanismo que deve se adaptar aos seus usu-ários humanos. Quem nunca ouviu falar que a parte mais frágil de

um avião é aquela entre o manche e a poltrona do piloto? A maiorparte dos estudos em fatores humanos na Aviação e na cultura dovôo veio dos fisiologistas, dos ergonomistas e dos psicólogos, comalguma contribuição dos lingüistas e dos cientistas organizacionais.A Medicina Aeronáutica contribui descrevendo o desempenho eas limitações de resistência do organismo humano.

Na maior parte da História da Aviação, os aviões eram opera-

dos por um único piloto. Mesmo quando na cabine de comandohavia dois assentos e dois conjuntos de controles, o aviador à direi-ta era mais um assistente do que uma parte integral da tripulação.Mesmo hoje, o voador solitário é parte da representação aceita de

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vôo, tanto que o vôo solo, verdadeiro rito de passagem, é a ex-periência compartilhada de todos pilotos brevetados.

Mas, atualmente, a complexidade e interconectividade da

tecnologia de controle de vôo e de motores, auxílios à navegação,FMCs e pilotos automáticos requerem o trabalho coordenado deuma tripulação de duas pessoas. Podemos chamar isso de “aglobalização do ́ cockpit´”. Em determinadas fases do vôo (prin-cipalmente na aproximação e no pouso), as tarefas como ajustar otrim, aproar a aeronave, controlar a velocidade aerodinâmica, man-ter as comunicações, e supervisionar a cabine excedem, claramen-

te, as habilidades de um tripulante. Isso conduziu a uma crescentepreocupação com o treinamento e a pesquisa de como os pilotosse coordenavam na cabine, nascendo, assim, o “gerenciamentode recursos de tripulação” – o CRM. Sabemos, também, que adinâmica do vôo começa bem antes do passageiro chegar ao “check in”. Ela é composta de grande variedade de pessoal operacionalenvolvido – pilotos, mecânicos, despachantes, pessoal de rampa –

que executa seu trabalho como parte de um sistema, como umaorquestra. Distúrbios ou desequilíbrios, em uma parte do sistema,podem ter severas conseqüências, em outra. Embora de um pontode vista aerodinâmico e eletromecânico nós compreendamos a di-nâmica do vôo, do ponto de vista da interação social, estamos ape-nas começando a entender como se processa essa dinâmica.

A “Cultura de Segurança” é definida, geralmente, como uma

combinação de atitudes e uma comunicação aberta, sincera, às cla-ras. O erro humano contribui em mais de 70 % de todos os aciden-tes na Aviação. É, geralmente (embora não universalmente), aceitoque pilotos vão cometer erros, inevitavelmente, e que a barreiraentre erro e acidente é a habilidade de reconhecer, capturar e cor-rigir erros, antes que eles se propaguem. Essa habilidade vem coma experiência direta, ou seja, “o que eu faria se fosse você”. O

compartilhamento de experiências entre si eleva o conhecimento demeteorologia, manobras etc.

Entretanto, práticas de algumas empresas ao longo da Históriada Aviação Mundial, de punição a pilotos por erros inadvertidos,

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são barreiras nesse hábito salutar, e os tripulantes tornam-se menosdispostos a compartilhar suas experiências, principalmente as más,o que, sem dúvida, os deixa mais propensos a errar novamente. Opior acidente de Aviação da História, a colisão em pista de doisBoeing 747, em Tenerife (1977), foi atribuída em parte à vontadedo comandante holandês de voltar logo para casa, e ao fato de aKLM, sua empresa, habitualmente aplicar sanções, dentro das leisholandesas, às tripulações que ultrapassassem seu máximo de ho-ras de serviço. Se um gerente supuser que o erro do piloto é sem-pre intencional, haverá então pouca oportunidade para os pilotos

aprenderem técnicas de gerenciamento de erros a partir de seuscolegas pilotos: ninguém vai admitir que já cometeu um erro.

No caso do CRM, assume-se que, no comando do convés devôo, comunicação e performance nas tarefas estão em rigoroso“equilíbrio homeostático” (de “homeostase”: capacidade do corpode manter um equilíbrio estável, a despeito das alterações exterio-res; estabilidade fisiológica). A disciplina de CRM, tanto no

“cockpit ”, quanto dentro da corporação, é projetada, segundo outroantropólogo, Westrum (WESTRUM, Ronald, ADMSKI, Anthony.Cockpit automation. In: WIENER, Earl L., NAGEL, D. C., editors. Human

 factors in aviation. San Diego: Academic Press, 1988. p. 433-461), parapromover “imaginação requerida (necessária)”, criando equipescoesivas com maior potencial adaptativo do que indivíduos únicos.A equipe de trabalho no “cockpit ” é reconhecida como essencial àsegurança. Considerando essa equipe de trabalho do ponto de vis-ta da adaptação (para diversas condições de vôo), essa medidacalibrada de diversidade no “cockpit ” contribui para um vôo segu-ro. Uma vez mais recorremos a um dos maiores exemplos de aci-dente aéreo: a colisão em pista dos dois Boeing 747, que matou583 pessoas, em Tenerife, tem sido associada ao colapso desseequilíbrio. A ciência dos sistemas identifica modos separados deequilíbrio neutro, estável e instável: o último destes está, singular-mente, sujeito a colapsos, porém é freqüentemente associado a sis-temas de alto desempenho. Há outros acidentes em que a degrada-ção do CRM teve parte. Entre eles inclui-se o vôo 052 da Avianca

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(Boeing 707), em La Guardiã, em 1990 (falha ao declarar umaemergência de combustível), e o vôo American 965 (Boeing 757),em Cali, em 1995 (proa indevida e falha de comunicação com oATC). Além, também, do vôo 140 da China Air Lines (AirbusA300), em Nagoya em 1994 (confusão na hora de cancelar umainadvertida seleção de TOGA).

Observem a barreira cultural usando esses acidentes comoexemplo: diálogo, em inglês, entre controladores espanhóis e pi-lotos holandeses (Tenerife), ou controladores colombianos e pi-lotos norte-americanos (Cali), ou ainda, tripulantes técnicos

venezuelanos e controladores norte-americanos ( Avianca), ouentre pilotos de Taiwan e uma tecnologia de gerenciamento devôo de origem européia. Enquanto a Aviação Comercial é,freqüentemente, citada como um exemplo de sistema altamenteconfiável, alguém pode dizer, por hipótese, que quando as fron-teiras culturais são introduzidas na situação operacional, ele setorna um “sistema vulnerável”, isto é, um estado de equilíbrio

instável. Tecnologias como o “glass cockpit ”, e aeronaves com fly-by-wire, são fronteiras culturais.

E é preciso lembrar que a comunicação extrapola as palavrasem si: entonação, sotaques etc. têm igual poder comunicativo e ser-vem, inclusive, para prender a atenção dos pilotos, no caso da falados controladores. Nem tudo pode ser substituído por sinais digi-tais. As palavras, em uma elocução na ATC como “ Desça para onível de vôo 230” (em inglês “ Descend to flight level 230”), ad-mite apenas uma interpretação possível e, assim, pode, de formaplausível, ser substituída por um sinal digital. Entretanto, qualquerum que tenha escutado os controladores de tráfego aéreo traba-lhando irá reconhecer que sua pronúncia é, freqüentemente, faladaritmicamente: “ De-scend´ to flight́ lev´l two ́ three oh´ ”, que pode

ser atenuado por “Could you...” (“Pode você...”: no caso de inclu-são desses termos para reforço) e, usualmente, pode incluir algumaforma de aperto de mãos verbal. Esses truques são usados peloscontroladores para focar a atenção e ter certeza de que os pilotosestão ouvindo.

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No Terceiro Mundo

Portanto, a Antropologia também se preocupa com os estudosda Aviação do Terceiro Mundo. O Terceiro Mundo tem um índice

de acidentes mais alto que o do mundo desenvolvido (lembrandoque, felizmente, no Brasil, esse índice é bem menor que a média daregião), por razões que têm sido muito discutidas pelos cientistas.Algumas delas são atribuídas às limitações da infra-estrutura de terrana África e América Latina em geral, e algumas delas são atribuídasao caráter emergente da indústria nesses países.

Outros aspectos da situação de vôo do Terceiro Mundo inclu-em o fato de, por toda a Ásia, África e (em alguma extensão) aAmérica Latina, a Aviação de passageiros usar, primeiramente,tecnologia do Primeiro Mundo. Apenas um tipo de aeronave, a daEmbraer, é construída na América Latina (Brasil) e vendida em todoo mundo, enquanto, comparativamente, as aeronaves da extintaUnião Soviética – os Ilyushin e os Tupolev – são consideradas tão

pouco confiáveis que praticamente não são compradas fora daRússia. Nações como a República da China e Israel constróemaeronaves militares, mas o mercado para aeronaves comerciais depassageiros é dominado pelos Estados Unidos, pela Grã-Bretanha,pela União Européia, pela Holanda (Fokker , até recentemente),pela Irlanda do Norte (Indústria Shorts) e pela Alemanha ( Dornier ).A transferência de tecnologia européia para a África, Ásia e Amé-

rica Latina é um problema reconhecido, mas não estudado, ainda.Particularmente, com a aeronave totalmente automatizada(tecnologias “ fly-by-wire” e “glass cockpit ”) a confusão dos pilo-tos, em meio aos controles da cabina e modos automáticos, temsido citada em numerosos acidentes.

As chamadas “ falhas catastróficas” ocorrem, geralmente, quan-do um grupo está mal preparado para usar uma tecnologia projeta-da ou difundida por outros grupos ou, então, quando um grupo estátão confiante, que experimenta uma tecnologia antes que o grupotenha acumulado experiência suficiente para ter conhecimento táci-to dos limites tecnológicos de desempenho seguro. Assim, na maior

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parte dos casos, o que aparenta ser uma falha tecnológica é de fatouma falha social organizada ao redor de um nexo tecnológico; umafalha de sistema em escala que os usuários e gerentes falham paranotar ou conter. Essa pode ser uma interpretação das peças dedominó que, caindo uma a uma, culminam em um acidente aéreo.

Conclusão

A conclusão é óbvia: a Aviação se desenvolveu tão rápido, queem muitos casos o ser humano não acompanhou esse progresso,convenientemente, justamente porque a diversidade humana, mui-

tas vezes, entra em choque com a globalização das tecnologias daIndústria Aeronáutica, nascidas nos países economicamente domi-nantes. Com isso, torna-se cada vez mais urgente conhecer, respei-tar e treinar, convenientemente, o homem por trás da máquina.

 A autora é jornalista especializada em Aviação e este artigo foi transcrito do “site” www.aironline.com.br,

com autorização da mesma.

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 Luiz Paulo Macedo Carvalho

 

“... Da nova Lusitânia, nova Corte, Julguei que era o Brasil jardim sem muro,Tesouro rico, porém mal seguro.” Brás Garcia de Mascarenhas, Viriato Trágico, canto II.

Durante as comemorações do V Centenário do Descobrimentodo Brasil, no apagar das luzes do século e milênio passados, fomos

induzidos a refletir sobre os versos do poeta-soldado luso, entãoforagido aqui, que lutou contra o invasor holandês e fez fortunacomerciando na Colônia.

Será que por ter sido o País batizado com o nome de Terra deSanta Cruz, Deus ser considerado brasileiro e nosso povo dito cor-dial julgar-se abençoado pelo Criador ou, por nos situarmos nos

trópicos, prevalece a vontade de nada fazer e a Nação não devapreocupar-se com a sua defesa?

Celebrar é repensar. As celebrações dos 500 anos de descobri-mento do Brasil só terão tido real significado se envolveremreavaliações da trajetória histórica percorrida ao longo desse perí-odo. Sempre que se tem em mente a comemoração de um aconte-cimento passado, de fato, está a se manifestar uma visão do pre-

sente especulando o porvir.Não se pode escapar ao julgamento dos anos. A História é feita

de fatos concretos, devidamente comprovados, justiça e verdade,e não subjetivamente, por antipatia ou simpatia.

Parece que a hora é propícia a uma reavaliação do nosso passado, dese fazer um exame de consciência e, também, de mudança. Somente o

domínio do já vivido nos leva ao autoconhecimento para assumirmos oque somos, a fim de saber o que podemos fazer  e aonde vamos.

“Os povos ressentem-se eternamente de sua origem”, preconi-zava Alexis de Tocqueville.

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 Luiz Paulo Macedo Carvalho

Vamos, pois, aos fatos num passeio através dos tempos, nessesquinhentos anos de existência.

Pagamos até hoje o pecado original, desde nossos primórdios –

posição geopolítica excêntrica em relação aos pólos do poder; oinício do ciclo do ouro só se verificar no século XVIII; a escassezde recursos do colonizador para enfrentar os silvícolas, dada apriorização das atividades marítimas em detrimento das econômi-cas e militares.

Do efetivo total aproximado de setecentos soldados da esqua-dra de Cabral – recrutados à força, sem formação militar – só

ficaram nas terras achadas cinco grumetes desertores e dois de-gredados.

Por três décadas após a viagem de Cabral os portugueses aban-donaram a Terra de Santa Cruz, até as incursões de corsários in-gleses e franceses.

Meio século se passara da chegada dos portugueses ao Brasil

quando, diante do fracasso das donatarias e da crescente ameaçados franceses, Tomé de Souza aportou na Bahia acompanhadoapenas de seiscentos soldados, arcando com o pesado ônus daocupação e defesa da Colônia. Isso não impediu os franceses, lide-rados por Villegaignon, de se estabelecerem no Rio de Janeiro, apartir de 1555, e só serem expulsos com reforços trazidos porEstácio de Sá, em 1567.

As invasões holandesas pegaram de surpresa a Colônia com-pletamente indefesa, com oitenta soldados guarnecendo o Presídiode Salvador e um efetivo um pouco menor em Pernambuco. Aincapacidade portuguesa de manter a Colônia levou a que Vieirasugerisse a venda do território ocupado aos holandeses. Só a resis-tência dos luso-brasileiros ao invasor na Guerra Brasílica fez com

que a metrópole esgotada reunisse meios e socorresse a Colônia.As batalhas de Salvador e dos Montes Guararapes, afora os exem-plos de heroísmo constantes das páginas da História pátria, tiveramo mérito de despertar a consciência da metrópole para a necessi-dade de defender as terras brasileiras.

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Em 1750, o Tratado de Madri, para configurar o contorno doterritório brasileiro, valeu-se das fortificações edificadas pelos por-tugueses no Brasil, desde o Forte de Macapá até o Forte de JesusMaria José, no Rio Pardo.

A extinção do Estado do Maranhão e a elevação do Brasil aVice-Reino ensejaram a reorganização militar pombalina, traduzidanas medidas adotadas pelo inglês de origem prussiana Conde deLippe, que trouxe ao Rio de Janeiro o Tenente-General Heinrich Böhme os regimentos de Moura, Bragança, Extremós e Elvas, para a defe-sa da cidade. Vale ressaltar, também, nessa ocasião, em face dos

sucessos alcançados no Prata, a atuação do Conde de Bobadela,Gomes Freire de Andrade, criando a Casa do Trem (1763), semdúvida o embrião do futuro Exército nacional. Outro marco na evo-lução da defesa do Brasil é encontrado nas providências tomadaspelo Príncipe Regente e depois D. João VI, em conseqüência datrasladação da Corte de Portugal para o Rio de Janeiro e a elevaçãodo Estado do Brasil à categoria de Reino-Unido a Portugal e Algarve,

arrimado no seu autêntico braço direito – o primeiro Ministro daGuerra do Brasil, D. Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares.As lutas para a consolidação da Independência exigiram a aberturade voluntariado e a contratação de mercenários estrangeiros, pornão dispor ainda o País de força militar capaz de garantir a sua defe-sa. Os liberais e extremistas opunham-se à existência de uma forçamilitar profissional nacional. Em 1828, na Câmara, um deputado já

afirmava: “O Exército e a Armada são as bocas que devoram ilegal-mente todos os anos os recursos da Nação”. Como se vê, é um fatocíclico, desde o nascimento do Brasil independente. À míngua deapoio político e de poder militar, acabou o Império perdendo aCisplatina, incorporada denodadamente por D. João.

Caracteriza-se o período das regências por indisfarçável redu-ção das forças militares, a pretexto de economia, como sempre. Oefetivo é reduzido, sustam-se as promoções e congelam-se os ven-cimentos dos militares. Erradicam-se os estrangeiros das fileiras doExército e burla-se o serviço militar mediante o pagamento de taxade 400 réis ou a apresentação de escravos em substituição.

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A Nação, despreparada para a guerra, foi levada aos camposde batalha contra López sangrando ainda dos embates anteriorescom os caudilhos dos Pampas, tendo de se valer dos corpos devoluntários. Embora cobertas de louros após ingentes sacrifícios,as armas nacionais saíram da Guerra da Tríplice Aliança fortalecidas,moral e numericamente, e orgulhosas de haver cumprido com a suamissão de assegurar a integridade e a soberania da Nação, maslogo as questões de defesa caíram no esquecimento.

As intervenções no Prata e a Guerra da Tríplice Aliança prova-ram a necessidade de se dispor de poder dissuasório

consubstanciado em forças compatíveis com a estatura da Naçãoem termos de valor, equipamento e preparo profissional.

Nesse quadro desolador, agravado pela abolição da escravatu-ra, pelas crises políticas e pela insensibilidade do imperador, é pro-clamada a República.

A Revolução Federalista e a Revolta da Armada colocaram em

risco a República por falta de estrutura de defesa.Os desastres das expedições militares em Canudos e no Con-

testado, a despeito de o Exército haver restabelecido a ordem pú-blica no cumprimento de sua missão constitucional e de ordem dasautoridades legais, decorreram da estagnação da capacidade dedefesa da Nação por negligência do Governo.

A Questão Acreana, que incorporou 152 mil quilômetros qua-drados de terras ao Brasil, só no final contou com o apoio mínimodas armas brasileiras institucionalizadas.

A Guerra da Tríplice Aliança e as lutas intestinas evidenciaram anecessidade de ligações e comunicações para a integração nacio-nal. A presença do Exército espalhado pelo interior do país facili-tou a obra de Rondon na integração telegráfica, nos levantamentosgeográficos, demarcações das fronteiras, confecção de cartas, bemcomo no desbravamento e na integração dos silvícolas. A essestrabalhos seguiram-se os de construção das primeiras ferrovias erodovias nacionais.

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Em meio a esse clima, despontou, no começo do século XX, ovulto do General Hermes da Fonseca, que deu impulso à reformamilitar naval e terrestre no País. Muito concorreu para o êxito daação de Hermes da Fonseca a política exterior desenvolvida peloBarão do Rio Branco, alicerçada em Forças Armadas profissionais eaptas para a guerra, que respaldou a demarcação de nossas frontei-ras com a Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela.

O enfraquecimento do poder militar brasileiro é responsável pelaparticipação modesta na Primeira Guerra Mundial.

A contratação da Missão Militar Francesa, embora haja des-

pertado o interesse pelo estudo dos problemas de defesa entre nós,na realidade preparou-nos para a guerra já travada e não a que seesboçava no horizonte.

A “Era Vargas” acarretou, paradoxalmente, vantagens e des-vantagens para o Exército e a Nação. Se, por um lado, unificou oPaís, introduziu avanços político-sociais e fortaleceu o Exército, por

outro prejudicou a sua imagem com a implantação do Estado Novoe o acirramento das posições político-ideológicas no interior dosquartéis. Em conseqüência, sobrevieram a RevoluçãoConstitucionalista de 1932, a Intentona Comunista de 1935 e oPutsch Integralista de 1938, permanecendo o Exército leal aoGoverno e servindo de fiel da balança do poder. Em que pesem asrealizações e os avanços levados a efeito no “Estado Novo” (aqui-

sição de material de artilharia, reaparelhamento das fábricas milita-res e do Arsenal de Guerra, reorganização do Serviço de Inten-dência, criação da Arma de Aviação e do Correio Aéreo Nacional,aparecimento dos CPOR, em conseqüência de nova lei do serviçomilitar, fomento da remonta, a construção da Academia Militar dasAgulhas Negras, o surgimento da Escola Preparatória de Cadetese da Escola Técnica do Exército, a edificação do Palácio da Guer-

ra e dos prédios da Escola de Comando e Estado-Maior e doInstituto Militar de Engenharia etc.), o Exército ficou com imperecí-veis cicatrizes e pagou caro o envolvimento na política. GóesMonteiro, em boa hora, divisou a necessidade de afastamento doExército da política e de uma política para o Exército.

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A Segunda Guerra Mundial colheu o Exército sem condiçõespara empreendê-la. Eram decorridas duas décadas que se seguia aorientação dada pela Missão Militar Francesa, que tanto contribuiupara a sua profissionalização e o aprimoramento cultural dos Qua-dros, embora a Nação continuasse despreocupada com os proble-mas de defesa, concentrando-se apenas na hipótese de conflito nafronteira sul. Não se possuía material bélico moderno. A Infantaria,armada do Mauser 1908, tinha o espírito voltado para a guerradefensiva de 1914-1918. Não era motorizada. A Cavalaria eratotalmente hipomóvel. A Artilharia ignorava a técnica e os proces-

sos de tiro modernos empregados. As comunicações e a logísticapraticamente inexistiam, ou se baseavam em métodos ultrapassa-dos. A generalização sobrepunha-se à especialização. Os efetivoseram limitados e não havia planos de mobilização. A defesa dolitoral, particularmente do estratégico saliente do Nordeste, apre-sentava-se por demais vulnerável. Apesar das medidas defensivastomadas com a divisão do território nacional em cinco teatros de

operações em 1942, a deficiente mobilização desencadeada para aocupação militar do Nordeste contrapunha-se às eventuais amea-ças ao Sul e à organização da FEB. Tal quadro desolador quasenos submeteu à humilhante situação de assistir, impassíveis, ao de-sembarque de tropas norte-americanas nos pontos chaves de de-fesa do saliente nordestino. Vale ressaltar, nesse transe, a ação de-cisiva do General Góes Monteiro, que, por meio de hábeis mano-

bras, desencadeou em curto prazo um plano de emergência paraum arremedo de defesa do Nordeste.

A organização da FEB, prevista inicialmente com efetivo de trêsdivisões, e não concretizada por falta de recursos humanos e mate-riais, assinala o começo da fase de influência norte-americana emnossa força terrestre, com o treinamento de oficiais nos EUA, acriação da Comissão Militar Mista Brasil-Estados Unidos e a assi-

natura de acordo militar que introduziria o armamento e a doutrinanorte-americana entre nós.

À custa de pesados sacrifícios, o Exército, uma vez mais, supe-rou o desafio imposto e cobriu-se de glórias nas montanhas dos

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Apeninos e na planície do Pó. Vencida a guerra, entretanto, porquestões políticas, não contabilizou os lucros auferidos nos camposde batalha italianos, caindo no esquecimento da Nação. Ainda quea criminosa desmobilização prematura da FEB gerasse problemasinsolúveis até o presente, o Exército passou por grande transfor-mação para melhor, dedicando-se ao aprimoramento profissional,científico-tecnológico e democrático. A incompatibilidade de cru-zar o Atlântico para combater o totalitarismo e manter uma ditadu-ra no País, agravada pela degenerescência do quadro político naci-onal, compulsaram-no a restabelecer a democracia, redimindo-se

da falta cometida de sustentar a implantação do Estado Novo.Sucumbindo às tentações das conhecidas vivandeiras em 1955 e

1961, voltou o Exército a se deixar envolver por inconfessáveis ape-tites políticos, dividiu-se e padeceu por tais experiências infortunadas.

Em decorrência da “Guerra Fria”, inesperadamente, não restoualternativa ao Exército senão reprimir as ações de guerrilha urbana

e rural, de natureza castrista e maoísta, sofrendo na carne as conse-qüências do seu despreparo. Mediante notável esforço e grandeimprovisação, constituiu-se na grande barreira à comunização doPaís, que podia arrastar com ele o resto da América do Sul, con-forme previa o Presidente Richard Nixon. Controlada a situação,restabelecida a ordem e alçada a economia nacional ao 8o lugar nomundo, o Exército tornou-se novamente fiador da democracia e

recebeu como prêmio a ingratidão da sociedade.Por experiência própria, foram lançadas as bases que permiti-

ram o desenvolvimento de uma doutrina militar brasileira. Chegou-se a esboçar a libertação da dependência externa com oflorescimento de uma indústria bélica nacional. Avançamos bem como projeto nuclear e recuamos sem tirar algum proveito político. Pro-curamos ocupar e integrar a Amazônia. Vimos colaborando com a

comunidade internacional participando de operações de paz pelomundo afora desde o envio do primeiro contingente do BatalhãoSUEZ em 1957, mas precisamos levar em conta previamente osapregoados dividendos da paz.

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 Luiz Paulo Macedo Carvalho

A Segunda Guerra Mundial ditou a criação do Estado-MaiorGeral em 1946, dois anos mais tarde transformado no EMFA, coma finalidade de planejar a organização e o emprego das ForçasArmadas na defesa do País, além de colaborar no preparo damobilização total da Nação para a guerra. Para o cumprimentodessa missão, tornou-se indispensável a divisão do território nacio-nal em Zonas de Defesa e a criação de Núcleos de Comando deDefesa, em 1953 e 1955, respectivamente. Passaram-se mais decinqüenta anos, contudo, sem que as questões de defesa fossemtratadas com a devida seriedade.

Afinal, depois de em mais da metade de um século termos per-dido boas oportunidades de elaborar uma efetiva e eficaz políticade defesa, esperamos que o Ministério da Defesa, criado faz algunsanos, proporcione a ansiada integração das forças militares, tragaeconomia, garanta unidade de comando, conduza à modernidade,à racionalidade e, sobretudo, à operacionalidade para otimizar osistema de defesa da Nação.

Na verdade, a Nação brasileira só se preocupou com os proble-mas de defesa nos momentos de crise e não se conscientizou, atéhoje, de que a defesa resulta, diretamente, da vontade coletiva e indi-vidual de cada um e de todos os seus cidadãos quererem se defen-der. A defesa não pode desconsiderar as raízes da própria Nação,nem deixar de estar em sintonia com o verdadeiro sentir, as aspira-

ções e os valores do seu povo. Numa sociedade livre, se os valoresda nacionalidade forem confundidos, muito provavelmente a estraté-gia de defesa será deturpada. O espírito de defesa, apesar de influen-ciado por diversas vertentes da realidade internacional em constantemutação, fundamenta-se no patrimônio histórico e cultural da Naçãoe representa valioso elemento de identidade. É função do dever , do poder , do saber  e do querer  defesa. O espírito de defesa emana do

querer  de governantes e governados e tem expressão no dever  que,por lei, é exigido de todos os cidadãos indiscriminadamente.

Eis nossas realizações e malogros. Qualquer balanço sobre opassado não pode ser exclusivamente otimista ou pessimista, a

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menos que se tenha um saldo acentuadamente positivo ou negativo.Não devemos nos envergonhar de nossas origens, nem ridicularizara figura histórica daqueles a quem muito se deve, recorda FernandoPessoa ao dizer que “pesa neles o passado e o futuro, dorme neleso presente”.

O Exército Brasileiro tem dado sobejas provas de que não so-mos militaristas nem alimentamos sonhos imperialistas. Desejamosuma Nação menos vulnerável, que leve mais a sério o problema dadefesa. Há que se preservar o legado precioso transmitido pelosnossos antepassados, mantendo a nossa soberania, identidade na-

cional e integridade territorial.A História do Exército confunde-se com a História do Brasil.

O momento, como dissemos ao iniciar, induz a reflexões. Seriarecomendável, pois, lembrar uma frase dita por Perón em 1973:“No final do milênio, estaremos unidos ou seremos dominados”.

O autor é Coronel Art. QEMA Reformado, Presidente do Institutode Geografia e História Militar do Brasil, Membro

do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiroe da Academia Portuguesa da História.

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Carlos de Meira Mattos

   

Após os atentados de 11 de setembro de 2001 às cidades deNova York e Washington, os padrões da política mundial mudaramcompletamente. Os sistemas de controle da política e da economiae os sistemas de defesa considerados invulneráveis mostraram-se

frágeis e superados. O próprio Secretário de Estado dos EstadosUnidos, General Collin Powell, à época, declarou: “iniciamos umanova conjuntura mundial, terminou o período pós-Guerra Fria”.

Qual o motivo de tamanha transformação da estrutura que pare-cia assegurar relativa normalidade ao cenário mundial? A nossover, foi a inacreditável associação de três fatores: o extraordinário

avanço da tecnologia, gerando instrumentos capazes de realizaragressões demolidoras ou tragédias biológicas ou químicas a gran-des distâncias; a existência de grupos fanatizados por idéias radi-cais de destruição, dispostos ao suicídio, numa falsa interpretaçãode missão sagrada; e, finalmente, disporem esses grupos radicaisde recursos financeiros para montar operações de longa prepara-ção e elevado custo.

A convergência destes três fatores permitiu a realização dosmencionados atentados e ameaçam os Estados Unidos e seus alia-dos de novas investidas terroristas. O terrorismo sempre existiu,mas estava inserido no rol das criminalidades. Os atentados perpe-trados contra as torres do World Trade Center  e o Pentágono, porsua dimensão catastrófica e pelos milhares de vítimas humanas, ino-centes, que causaram, surpreendeu e abalou os mais sólidos con-

ceitos de segurança política e militar até então vigorantes entre aspotências, e alçaram o terrorismo ao nível do poder político e militar.

O poder político (nele incluído o militar), em síntese, é caracte-rizado pela capacidade de impor a sua vontade ao antagonista. A

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ciência política, até hoje, considerava como poderes o político, oeconômico, o militar; o psicossocial e o técnico-científico. A partirde agora terá que incluir nesse rol o neoterrorismo, que provou suacapacidade de impor sua vontade à mais poderosa potência mun-dial. O abalo na estrutura e na normalidade do universo provocadopelos últimos atentados neoterroristas e a sensação de insegurançagerada por seu caráter fugaz atingiram em proporção maior ou menora todos os países, com reflexos alarmantes na economia mundial. Émais uma prova de que a globalização é um fenômeno inevitável,fruto dos avanços da tecnologia, particularmente nos campos dascomunicações instantâneas, dos transportes, das informações, daeletrônica e da missilística.

Não podemos negar e nem escapar da globalização. A virtudepolítica está em reconhecer os seus efeitos benéficos e os maléfi-cos; associarmo-nos aos primeiros e evitarmos os segundos.

O moderno terrorismo é um poder maligno alimentado pelo im-pulso animalesco, primitivo, de destruição humana. É covarde, por-

que não dá à vítima nenhuma possibilidade de defesa. Representauma regressão da Humanidade em vários milênios, através dos quaiso homem das cavernas veio, pouco a pouco, se civilizando, seespiritualizando, se humanizando. Esse progresso do espírito hu-mano consolidou-se há mais de mil anos, quando o Cristianismodefendeu o princípio do “amai o próximo como a ti mesmo”,princípio aceito por todas as civilizações. Esse ódio brutal e assas-

sino revelado agora pelos talibãs representa uma volta ao primitivismoselvagem. E o fazem em nome de Alá, o Deus do Islã, religião que,no seu apogeu, conviveu no mundo com outros povos e outrascrenças, produziu grandes sábios, destacados cientistas, astrôno-mos, geógrafos e descobridores, e que os fanáticos fundamentalistasde hoje interpretam como desumana, numa versão de atraso, con-denando à morte seus infiéis.

Diz o ditado popular que “não há mal que sempre dure”. Tal-vez, um efeito benéfico dessa hedionda tragédia praticada pelosterroristas seja obrigar os sete Grandes, que criaram e comandama chamada Nova Ordem estabelecendo os padrões de comporta-

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mento para a política e a economia mundiais, a repensar seus crité-rios e imposições ao restante do universo, o que vem suscitandocrescente sensação de injustiça, rejeição e exclusão entre os povosemergentes e os pobres. Uma nova política mundial mais solidária emais humanitária terá efeito benéfico para todos os povos.

Vários autores têm preferido denominar esta guerra neoterroristade guerra assimétrica, caracterizando a extrema desigualdade, des-proporção e disparidade de armas e de meios e instrumentos deagressão utilizados pelos contendores.

Os atentados terroristas de 11 de setembro representam atoshediondos, monstruosos, desumanos, assassinando cerca de cincomil inocentes, apanhados de surpresa, em nome de uma vingançacontra injustiças sociais e políticas e de uma intolerância religiosa.A Humanidade civilizada do século XXI não comporta tamanhaatrocidade. Os Estados Unidos tiveram a solidariedade de todosos países civilizados. Todos esqueceram as querelas, as rivalida-des, os antagonismos políticos e econômicos que poderiam ter comos norte-americanos diante da monstruosidade da agressão que atodos pode vir a afetar, e indiretamente já afetou.

Sejam quais forem as causas de rejeições, exclusões ou injusti-ças sociais que tenham sido praticadas pelos países ricos e pode-rosos, hoje liderados pelos Estados Unidos, nada disso justifica abarbaridade da agressão sofrida por milhares de pessoas inocen-

tes, surpreendidas e massacradas impiedosamente nos seus pacífi-cos locais de trabalho.

As ações terroristas levantaram uma enorme polêmica internaci-onal sobre a estratégia para combater a terrível ameaça que conti-nua presente. Houve discussão de várias ações estratégicas, durasou não. O Governo da nação agredida, apoiado integralmente peloPrimeiro-Ministro inglês, Tony Blair, traçou a sua estratégia: expul-sar do Afeganistão os talibãs e a organização terrorista Al Qaeda,aliados do principal responsável pela agressão, e negociar, atravésda ONU, a instalação em Cabul de um governo de união das prin-cipais tribos e etnias locais.

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Ocupados a capital e os centros mais importantes do país, se-gue-se a perseguição tenaz a Bin Laden e seus aliados, foragidosnas elevadas e multidobradas montanhas da cadeia Indo Kouchi,prolongamento oeste do sistema da Cordilheira do Himalaia. Apro-veitou-se o governo de Washington da existência, no país, de umaorganização guerrilheira antitalibã, denominada Aliança Norte; for-taleceu essa força local, assessorou-a militarmente, coordenou osbombardeiros aéreos em apoio aos avanços destes guerrilheiroslocais, que hoje, virtualmente, dominam quase todo o território, comexceção das montanhas Indo Kouchi, e já instalaram no governo oantigo Presidente Rabbani, deposto há cerca de cinco anos pelostalibãs. Tenta a ONU negociar a constituição de um governo quepacifique o país, uma vez que um governo exclusivo da AliançaNorte é contestado por inúmeras tribos e etnias locais. A guerra noAfeganistão dominado pelos talibãs dá sinais de que está no fim,restando a derrota de alguns focos de guerrilheiros foragidos nascavernas das montanhas do Indo Kouchi.

Os governos norte-americano e inglês vêm evitando envolverefetivos maiores em operações terrestres, atuando através de as-sessores e pequenos grupos de forças especiais em operações dotipo “comando”.

Consideramos as operações no Afeganistão a primeira parte daguerra contra o terrorismo. A segunda fase, que conta com o apoioda maioria dos países (inclusive os dois antes considerados princi-

pais adversários dos Estados Unidos, a Rússia e a China) será aeliminação dos diversos focos do terrorismo espalhados no plane-ta, por meio da pressão diplomática ou, se necessário, militar, so-bre os governos que os abrigam.

Em síntese, o que se apresenta hoje no mundo é uma nova di-mensão do terrorismo, elevado ao nível de Poder Político, capaz

de abalar a segurança e a estrutura do sistema de poder até entãoexistente. Movido por minorias enlouquecidas pelo fanatismo, cominsólita capacidade de agressão e de ameaças, despidas de qual-quer respeito por princípios éticos e morais que consagram omultimilenar processo civilizatório da Humanidade, o neoterrorismo

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representa um terrível malefício para a paz e para a harmonia dasociedade mundial.

Vejamos, agora, os reflexos do neoterrorismo em nosso País.

Antes, faremos um rápido repasse na nossa realidade geopolítica.Somos um país imenso (quarto, em extensão territorial do pla-

neta) e habitado por uma população numerosa (quinto, em quanti-dade, no planeta). Nação jovem, população miscigenada dinâmi-ca, vocacionada para o progresso, dispondo dos mais variados eamplos recursos naturais, muitos ainda inexplorados, dispõe de to-

das as condições geopolíticas para vir a formar entre as mais ricase prósperas nações do planeta.

Só nos falta impulsionar o desenvolvimento econômico e socialpara educar e enriquecer o nosso povo, explorar os nossos recur-sos naturais e fortalecer a nossa presença na economia mundial.Temos prova de como uma ação bem planejada e dirigida por fir-me vontade política pode ser capaz de impulsionar a arrancada

para o desenvolvimento social e econômico em prazo médio. Va-mos nos utilizar da palavra do renomado economista MárioSimonsen. Revelou Simonsen na revista Exame, abril de 1997, osseguintes dados: “Em 20 anos de esforço continuado do Plano deDesenvolvimento, de 1964 a 1984, a economia brasileira deu umsalto extraordinário; apresentou os seguintes índices de crescimen-to: passamos da posição 48ª para a de 8ª economia do mundo;

passamos de uma exportação de 1,5 bilhões para 27 bilhões dedólares; conseguimos um crescimento médio de 6,6% ao ano”. Hoje,a promessa mais otimista é de um crescimento nacional de 3% ao ano.

Para chegarmos a grande potência, conforme já visualizaramnotáveis escritores, economistas e políticos internacionais, tais comoStefan Zweig, Ray Cline e Henry Kissinger, teremos que retomar o

ritmo de nosso desenvolvimento econômico e social estancado em1985. Para que isto se torne possível, daqui para diante, precisa-mos, além de possuir governos dotados de competência e férreavontade política, desfrutar de uma situação internacional de estabi-lidade financeira e de expansão comercial.

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O clima de ameaças implantado pelo terrorismo internacional égerador de inquietações políticas e de imprevisível instabilidadeeconômica, de repercussão incontrolável, altamente prejudicial aoprocesso de desenvolvimento econômico e social que devemosretomar o quanto antes. Como tal, nossa política internacional deveser a de apoio às medidas e ações destinadas a combater e extirparo perigo das ameaças terroristas. Interessa-nos que essas medidase ações sejam tomadas sob égide da ONU.

Nossa diplomacia deverá manter-se extremamente alerta.

Não é de se esperar que sejamos vítimas diretas de agressõesterroristas de maior amplitude; entretanto, já estamos sendo pre- judicados pelos efeitos indiretos provocados pelo abalo da eco-nomia mundial. As repercussões psicológicas e econômicas so-bre a população, as empresas e a economia geral já estão noscastigando.

O Governo brasileiro assumiu duas atitudes diplomáticas princi-

pais diante dos atentados terroristas: manifestou imediata solidarie-dade aos Estados Unidos, em face da bárbara agressão sofrida, eapoio à política de luta global contra o terrorismo; propôs e viuaprovada a convocação do Tratado Interamericano de Defesa(TIAR), a fim de que as medidas e ações de combate ao terrorismosejam tomadas no âmbito coletivo das nações pan-americanas e,não, em caráter particular.

Perderam suspeitas de que haja um núcleo terrorista de conspi-ração árabe-islamita na região fronteiriça de Foz do Iguaçuconectado com as cidades vizinhas, Ciudad Del Este (Paraguai) eIguazu (Argentina). Essa suspeita está sob severa investigação, masnada ainda a confirmar.

Trataremos, agora, dos reflexos da guerra terrorista sobre os

fundamentos da Defesa Nacional.Destacaremos, nessa nossa apreciação, apenas os aspectos mi-

litares de nossa Defesa. Vejamos, pois, em síntese, como estáestruturada a Defesa Militar brasileira.

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Nossa estrutura militar atual interpreta uma estratégia Defensiva.Vivemos em paz com os dez países sul-americanos nossos vizinhosfronteiriços. Não sofremos qualquer ameaça em nossa fronteiramarítima e em nosso espaço aéreo. Não existe qualquer ameaçaclara à nossa integridade territorial. Existe, velada, mas insistente ecrescente, uma ameaça sobre a nossa soberania amazônica. Inú-meras Organizações Não-governamentais (ONGs), sediadas empaíses europeus e nos Estados Unidos, reivindicam, em nome deum internacionalismo moderno, o direito de intromissão em nossoespaço amazônico, defendendo o conceito de interesse da Huma-nidade. Há apoio não-oficializado de autoridades governamentaisde países poderosos e da imprensa internacional a essas tesesinternacionalistas. Alegam que o Brasil não possui condições deexplorar o seu imenso espaço amazônico e que permite a sua dete-rioração em prejuízo do meio ambiente vital para o planeta.

Nossa atitude militar defensiva, em face da nossa expressãogeopolítica (território, população, recursos naturais, industrializa-

ção, economia), não pode ser de uma defensiva passiva. Deve pos-suir as características de constante vigilância, alerta e mobilidadepara atuar prontamente em possíveis áreas ameaçadas. Assim, alémde uma Marinha de Guerra e uma Força Aérea aptas a atender àsmissões de defesa territorial e de transportes, o Exército ocupa oterritório com um dispositivo que deve atender às seguintes mis-sões: vigilância e cobertura das fronteiras terrestres, presença da

união em todos os estados e territórios federais e manutenção deuma reserva móvel para atender às missões eventuais a longa dis-tância, em particular nas fronteiras.

A ameaça presente à nossa soberania é a pressão internacionalde intromissão na Amazônia, sob o pretexto de preservação deárea do interesse da Humanidade. Essa pressão cresce de ano paraano. Nossa defesa preventiva deve assentar-se em intensa e com-petente ação diplomática e na demonstração inequívoca e perma-nente de disposição militar de defender a soberania territorial naAmazônia. Para isso, a Estratégia de Dissuasão deve ser adotada,a fim de convencer previamente os possíveis inimigos, ONGs ou

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Estados de que a violação de nossa soberania territorial na Amazô-nia representará o alto custo de uma guerra longa, em terreno denatureza hostil, com elevado sacrifício em vidas e vultoso custo fi-nanceiro. Os especialistas na Estratégia de Dissuasão insistem emque ela só será efetiva e convincente se demonstrar, permanente-mente, férrea vontade de lutar e a existência de meios militares ca-pazes de combater tenazmente. Temos procurado montar na Ama-zônia um dispositivo dissuasivo, mas não podemos ignorar que umaforça de dissuasão efetiva precisa contar com uma logística pró-pria, nacional; não poderá depender de suprimentos de indústrias

estrangeiras, que nessa hora crítica nos faltarão. Cabe-nos, comurgência, mobilizar a indústria nacional, para que nos assegure aindispensável autonomia estratégica para as possíveis operaçõesde uma força de dissuasão.

No quadro de nossas missões militares atuais, não nos pareceque tenhamos maiores necessidades de efetivos; entretanto, nossagrande carência é o acompanhamento da moderna tecnologia mili-

tar. Um grande esforço precisa ser feito na pesquisa tecnológica, namodernização dos equipamentos e no incentivo a uma indústriabélica, capaz de satisfazer e, no mínimo, de sustentar a credibilidadeem nossa estratégia de dissuasão. Urge pensarmos em criar umalogística nacional que atenda às necessidades essenciais de moder-nização das três Forças Armadas.

Repetimos: não nos parece que possamos estar ameaçados di-retamente de uma agressão terrorista de maiores proporções; en-tretanto, devemos redobrar a vigilância em nosso território e nosmantermos em ligação com a rede de informações contra o terro-rismo. Será uma missão de inteligência que exigirá muita competên-cia e meios modernos de captação de informações.

Dos efeitos indiretos do terrorismo (recessão econômica mun-

dial, limitações no comércio exterior, instabilidade nos contratos detrabalho, aumento do desemprego, inquietação social) já estamossendo vítimas, e somente deles nos livraremos quando for extirpa-do o perigo. Os economistas internacionais avaliam que os efeitos

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econômicos e psicológicos dos atentados de 11 de setembro foramtão graves que serão necessários, depois da eliminação da ameaça,no mínimo alguns anos para a economia mundial voltar ao normal.

Nosso interesse de desenvolvimento econômico e social, indis-pensável ao fortalecimento de nosso poder militar, coloca-nos emposição de decidida cooperação na luta internacional de combateao terrorismo.

Vivemos outras conjunturas de grandes incertezas; delas sem-pre saímos vitoriosos e com nosso território intocado, graças aoschefes da estirpe de Caxias, Osório, Mascarenhas de Moraes eCastello Branco. O Exército nunca faltou ao Brasil e, certamente,não faltará.

O autor é General-de-Divisão Reformado do Exército, veterano daSegunda Guerra Mundial, Doutor em Ciência Política e

Conselheiro da Escola Superior de Guerra.

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Pedidos ao

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 Milton Mauro Mallet Aleixo

 

Aconteceu em 1969; para ser preciso, em 14 de abril de 1969.

Nós éramos aspirantes-a-oficial aviador, recém-formados pelalendária Escola de Aeronáutica dos Afonsos, de tantas glórias.

Compúnhamos um grupo de uns cinqüenta (não lembro o nú-mero exato), que realizariam o Estágio de Instrução em bimotor

no 5º GAv, na Base Aérea de Natal. Naquele 14 de abril, partíra-mos do Galeão a bordo de um C-130. Como de hábito, à época,o uniforme para apresentação numa nova Unidade era o 5ºA: gra-vata, túnica e quepe, apesar de não ser nem de longe o uniformeideal para viajar no cargueiro Hércules, que em toda a extensãode seu compartimento de carga (onde estávamos nós) possui di-versas tubulações hidráulicas. É sabido que, em face da grande

pressão (3.000 lb) no interior dessas linhas, ocorrem eventual-mente alguns vazamentos, obviamente nada compatíveis com apompa do uniforme que usávamos para a apresentação, quandona chegada em Natal.

E foi, mais ou menos como esperado, o que aconteceu. Eu esta-va distraído fazendo gozação com alguém (naquele tempo nós ría-mos até de desastre de trem), quando senti um pingo vindo do alto,e não era chuva, porque era um líquido quente. Não, também nãoera isso que você pensou. Era fluido hidráulico mesmo, e felizmenteeu notei logo no primeiro pingo. Ainda bem que por causa do calorambiente nós todos estávamos sem a túnica. O prejuízo foi o menorpossível, só a camisa manchada.

Isso já era um mau presságio, um indicativo do que estaria para

acontecer após a chegada em Natal. Mas, como eu já disse, nãoera qualquer coisinha que iria tirar o nosso entusiasmo. O resto daviagem transcorreu normalmente e, lá pelas 11h 30 da manhã, pou-samos em Natal.

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Após isso, entramos em forma para a apresentação ao oficialque nos recebeu... sim, porque se não fizer uma formatura não temgraça... “milico” adora formatura. Aliás, isso me lembra uma via-gem que fiz ao Estados Unidos, muito tempo depois, já major, quan-do era chefe (Team Chief ) de uma equipe de competição em Trans-porte de Tropa. O chefe da delegação era um companheiro maisantigo, tenente-coronel. Nós pousamos no destino, POPE Air Force Base, na Carolina do Norte, e, obviamente, fomos colocados emforma pelo mais antigo. Só que lá não tinha ninguém para nos rece-ber, só o oficial de ligação, um major da USAF, e “ pegava mal”

apresentar a tropa para um mais moderno, mesmo para nós“cucarachas”. Então não houve a apresentação e acabou a forma-tura. Frustração.

Voltando à nossa história. Estávamos em forma em Natal, paravariar. Após a apresentação, dirigimo-nos para o ônibus que noslevaria ao Cassino dos Oficiais. Aliás, cabe lembrar aos leigos quenesse lugar não tem roleta, bacará ou outro joguinho qualquer;

Cassino, na FAB, é sinônimo de Hotel de Trânsito. Estariam lá asnossas confortáveis instalações, aquelas onde passaríamos nossospróximos oito meses. Esse Cassino, por sinal, foi palco de memo-ráveis histórias.

Como boas-vindas, o ônibus faria um roteiro turístico no per-curso até nosso destino, passando pela estrada que circunda a la-

goa da Base. Naquela época, a lagoa tinha até uma pequena praia,uma faixa de areia que nós nos arriscávamos a freqüentar na faseinicial, em que não conhecíamos ninguém na cidade. Ou, no meucaso, durante o tempo (um mês) em que esperei o meu carro, umpoderoso Aero-Willys 63, que estava vindo de carreta do Rio.

O ônibus em si, em virtude do seu estado meio segunda guerra –não fora a nossa distração devido ao entusiasmo – já indicava o

que estava por vir. Muita coisa na Base Aérea de Natal ainda eraherança do americano, quando ainda se chamava Trampolim daVitória. O ônibus talvez fosse uma dessas relíquias, apesar de aindafuncionar, graças ao carinho e à dedicação com que os funcionários

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civis do Setor de Transportes tentavam manter as viaturas. Muitosdeles também eram oriundos daqueles tempos românticos e herói-cos, tempos de “For All”.

Pois então, como já estava “escrito nas estrelas”, pouco de-pois de passar pela lagoa, o ônibus enguiçou. A primeira providên-cia, naturalmente, era pedir o apoio daqueles bravos guerreiros, osaspirantes. Afinal, nós éramos quase cinqüenta para um pobre ecombalido remanescente da Segunda Guerra. Covardia. Apesarde já estarmos devidamente paramentados com os nossos 5ºA –túnica, quepe e o “escambo” – seria uma rápida empurradinha. Mas

não foi. Empurramos, empurramos e nada. O ônibus não pegou.Estávamos a uns bons 1.500 metros do Cassino. Para você que

conhece o local, nós estávamos logo depois que acaba a curva dalagoa, antes de chegar à curva que leva à reta que conduz ao Cas-sino. Parece até o Grande Prêmio de Mônaco, em Montecarlo.

Eis que o oficial que nos conduzia, gostaria muito de lembrar

quem era, mas infelizmente não lembro, colocou o grupo em forma,para variar, e lá fomos nós, de 5ºA, marchando. Acabava ali, pelomenos por um tempo, o sonho de ter saído aspirante e de, entreoutras coisas, dar adeus àquelas intermináveis sessões de OrdemUnida que nos perseguiam desde Barbacena, naquele já longínquo1963. E assim fomos nós, bufando, até a porta do Cassino de Ofi-ciais, onde pretendíamos ser logo dispensados a fim de, rapida-

mente, nos dirigirmos ao Rancho para almoçar. Afinal, já estavamais do que na hora, a fome apertava.

Em frente ao Rancho, havia uma multidão nos esperando. Eramos oficiais da Base e do 5º GAv aguardando o almoço. O oficialque nos conduzia comandou “ Alto”. E, em seguida, “Cobrir”.Enfim, todos aqueles comandos detestáveis dos quais julgáramosestar livres para o resto de nossas vidas. Mas vinha coisa pior,

muito pior. Até hoje, agora mesmo, escrevendo, “tô” ficando fuloda vida.

Fomos apresentados, formalmente, a um major-aviador que ne-nhum de nós jamais havia visto. Era um sujeito baixinho, careca,

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vermelho feito uma pimenta. Ele começou o seu discurso, do qualsó me lembro o principal, talvez eu tenha depois tido um apagão,uma privação de sentidos. Ele começou dizendo:

–“Aqui vocês serão tratados de estagiários ou cães.”Assim mesmo! Depois disso eu não lembro de mais nada.

Quando recuperei um pouco da consciência, quis sair de forma e“chutar o pau da barraca”. Pensava em pedir desligamento, masnão sabia se, como aspirante, isso seria possível. Só sei que otormento acabou quando deram fora de forma, para que pudés-semos pegar nossas malas já colocadas nos respectivos quartos.Em seguida iríamos, finalmente, almoçar. É, mas não era assimtão simples, não.

Parte II

Ainda no Rio, antes do embarque, etiquetaram cuidadosamentenossas bagagens para que, na chegada a Natal, elas fossem enca-

minhadas diretamente para nossos quartos, coisa de Primeiro Mun-do. Parecia que finalmente estávamos desfrutando das “mordomi-as” dos oficiais. Esse era nosso entendimento como aspirantes.

Ao chegarmos a Natal, realmente, enquanto embarcávamos paraa odisséia no ônibus (que você já conhece), nossas malas eramcolocadas por alguns soldados num caminhão. Era tudo muito sim-

ples. Afinal, nós já estávamos distribuídos nos quartos, em duplas,através de um sociograma. Eu estava com o meu parceiro Aguieiras,no Amarelo 2. No Cassino, havia duas alas de quartos, cada umacom vinte (se não me engano), Amarela e Verde. Portanto, era sódesembarcar as malas do caminhão para os benditos quartos, cujarelação estava pendurada no Quadro de Avisos do Cassino. Maisque isso, na própria etiqueta havia o número do quarto. Coisa de

Primeiro Mundo. Finalmente, depois de seis anos de Escola. Nadamais justo.

Infelizmente, não foi bem assim que aconteceu. Ao chegar nomeu quarto, a mala que estava lá era a de um colega de um outro

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 Milton Mauro Mallet Aleixo

quarto bem distante, e da mesma forma aconteceu com todo mun-do. Era como se um Dr. Silvana, o gênio do mal, tivesse sido esca-lado para fazer a distribuição. Imagino o trabalho que não teve o“ filho duma égua” que espalhou aquelas malas, enquanto nós mar-chávamos e levávamos “mijada” do “ Major”  ALVERI.

Até hoje não sei se, “ por uma falha na distribuição”, alguémteve a sorte de receber em seu quarto a sua própria mala. Atégostaria de saber. Eu só sei que, se não desistisse de procurar,talvez estivesse lá até hoje. Portanto, lá pelas tantas, soltei os co-mandos. É como a gente faz quando não consegue sair do parafu-

so. E fui para o Rancho, faminto e furioso. Imagine que almoço!Quando chegamos, o Rancho já estava praticamente vazio e pude-mos almoçar em paz... pelo menos isso. Quanto às malas, lá pelasonze da noite ainda tinha gente procurando.

Não consigo lembrar o que aconteceu após o almoço. Mas de-vem ter dado uma trégua, do contrário eu ainda lembraria. Se bemque eu tinha períodos de privação de sentidos, por ódio profundo.

No fim da tarde, após o expediente, eu sentei sobre minha cama,na posição de Buda, de meditação, e entrei em Alfa. Não sei quan-to tempo fiquei nessa regressão profunda. Só sei que quando“retornei” já era noite. O Aguieiras me olhava assustado, talvezarrependido de ter sido escalado para conviver com um doido du-rante todo o resto do ano. Afinal, havia um longo caminho a per-

correr e que estava apenas começando.O Aguieiras então me falou, com aquele jeitão de carioca de

Vila Isabel:

– “Comparsa, não fica assim não. Tem algo estranho. Não podeser assim. Alguma coisa vai acontecer. Precisa acontecer.”

Eu só sei que, em seguida, eu chorei baixinho, engasgado,

e falei:

– “Isso não vai ficar assim não. Eu não aceito isso. Amanhã euvou aloprar, vou pedir desligamento. Vou fazer uma m... qualquer.De amanhã não passa.”

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64 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (17) : 59 -64, jan./abr. 2005

 Milton Mauro Mallet Aleixo

O dia seguinte, o dia em que eu iria “rasgar a fantasia”, jácomeçou mal, muito mal. Logo de manhã, às 5h 30 da matina,advinha o que aconteceu? Imagina uma coisa, além de Ordem Uni-da, que a gente quer esquecer ao ser declarado aspirante. Issomesmo, acho que essa é fácil de adivinhar. A CORNETA! A AL-VORADA! Um corneteiro, como que surgido das profundezas doinferno, tocou a Alvorada bem ali na entrada entre os dois corredo-res (ala Amarela e Verde). Imagine que o meu quarto, sendo logo oprimeiro da ala Amarela, foi contemplado com a plenitude do somdaquele objeto detestável.

Mais um período de apagão; não lembro do que aconteceu de-pois. Só lembro que ao chegar no Rancho, para tomar café, o pe-sadelo acabou. Estava vestido, com seu verdadeiro uniforme, comsuas verdadeiras insígnias, o Aspirante Especialista em Aviação ALVERI João Raimundo, recém-chegado da Escola (EOEIG) deCuritiba. Ele pediu desculpas, disse que tudo não passara de umtrote, e que ele fora escalado justamente porque, devido à sua pro-

cedência, dificilmente nós, aspirantes aviadores, iríamos conhecê-lo. Era, portanto, tudo armação, desde o enguiço do ônibus etc.

Ao longo do tempo, o ALVERI revelou-se um companheirão,ralando na manutenção das nossas aeronaves. Pena que nós nãopudemos ir à forra no ano seguinte, pois depois inventaram o CFPM,tendo sido a nossa turma a última de Estagiários no 5º GAv, assim

como tinha sido a última a voar T-6 na Escola de Aeronáutica.Esse foi o final feliz, como nas novelas da Globo.

Assim, está contado mais um capítulo da Saga dos Panteras(minha turma de aspirantes).

O autor é Coronel-Aviador da Reserva.

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 Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery

A tese da internacionalização da Amazônia nada tem a ver comas razões ecológicas que agora são levantadas. É uma tese cíclica,que sob pretextos vários – direito exploratório da natureza, neces-sidade de espaço demográfico, liberdade de navegação nos gran-des rios, e, agora, ecologia – após uma fase de esquecimento, volta

sob a forma de pressões políticas sobre o Governo do Brasil.

A imensidão geográfica da Amazônia não poderia deixar de serobjeto de ambição das nações ricas e poderosas do mundo,instrumentadas com maior capital e tecnologia, cujo sentimento deexpansão muitas vezes se esconde sob o véu de missões messiânicasa serviço da Humanidade.

Em um rápido retrospecto histórico, veremos, que a tese dainternacionalização da Amazônia foi motivo de pressão sobre osgovernantes brasileiros em várias ocasiões, desde os primórdios danossa colonização.

A conquista e a manutenção da integridade territorial da Ama-zônia brasileira tem sido uma epopéia escrita com sangue, coragem

e determinação. E o sangue foi derramado em acirrados combatesna selva, onde a criatividade e o emprego das técnicas da guerra deguerrilhas sempre estiveram presentes.

No século XVII, lutas violentas foram travadas pelas forças luso-brasileiras para expulsão de ingleses, franceses, holandeses e irlan-deses, que, em incursões permanentes para exploração e comér-cio, procuravam também o domínio da terra, com a edificação de

fortificações às margens dos rios. Um nome destaca-se dos demaisnestas lutas: Pedro Teixeira, o Conquistador da Amazônia.

Em meados do século XIX, o governo americano dirigiu movi-mento a favor da abertura do Rio Amazonas à navegação mundial.

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66 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (17) : 65 - 71, jan./abr. 2005

 Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery

Em 1902, a Alemanha pressionou para que o Brasil não privasse omundo das riquezas naturais da Amazônia. Nos anos 30, o Japãopretendia instalar 20 milhões de japoneses na Amazônia.

Em 1948, a UNESCO tentou criar o Instituto Internacional daHiléia Amazônica, uma “autarquia” internacional com jurisdiçãosobre um território que abrangia quase a metade do Brasil. O Esta-do-Maior das Forças Armadas (EMFA) foi contra e impediu essaameaça à soberania brasileira.

A tese é sempre a mesma, “internacionalização da Amazô-nia”, são sempre os mesmos atores, desempenhando o mesmopapel. Só trocam o cenário: ora é patrimônio científico da Humani-dade; ora a navegação internacional dos grandes rios; ora a neces-sidade de matérias-primas para o progresso da civilização; ora aconquista da tecnologia; e, por fim, a ecologia.

Não há dúvida de que uma grande ameaça ronda as fronteirasdo Brasil. A presença de tropas americanas em bases localizadas

ao longo da fronteira amazônica indica a possibilidade de se repe-tirem, em curto prazo e, em maior escala, as antigas tentativas de aspotências imperialistas nos subjugarem. Embora ninguém maisduvide da realidade desse perigo, ainda há quem não pressintacerta iminência.

O Presidente americano George W. Bush, em debate pela TVamericana quando ainda estava em campanha, ao referir-se ao Ter-ceiro Mundo e suas dívidas com o FMI, declarou: “Existem paí-ses que não têm mais como pagar suas dívidas, por isso podementregar parte de suas florestas tropicais como pagamento”.

É claro que estava se referindo ao Peru, ao Equador, à Colôm-bia, à Venezuela, ao Brasil e ao tesouro natural da floresta amazô-nica, a maior reserva florestal mineral do planeta.

Já há algum tempo sabemos que campanhas ministradas porgrupos ecológicos internacionais vêm defendendo ainternacionalização da Amazônia, trazendo, em alguns mapas daAmérica Latina, o Brasil sem o Estado do Amazonas.

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 Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery

Se atentarmos para as possibilidades energéticas da Amazônia,verificamos que o uso da biomassa como fonte energética, os rios,a energia das diversas fontes de óleos naturais, o sol equatorial,entre outras fontes de energia eleva a Amazônia a um “status”energético sem precedentes em todo o mundo. Este potencial, con- jugado com a capacidade da Petrobrás, certamente seria o maiorpotentado energético do planeta.

A Amazônia é hoje o maior tesouro da Humanidade e, segundoa cobiça internacional, não pode pertencer aos países terceiro-mundistas. Com o sucateamento e aviltamento das Forças Arma-

das do Brasil, entendemos que o processo já está armado paraencenarem a farsa da Política de Globalização, agora com novaroupagem, a “governança progressista”.

É preciso lembrar que a Amazônia brasileira mede, aproxima-damente, quatro milhões de km2, é região de floresta tropical pri-mária, praticamente virgem, apenas 8% da sua superfície foi ex-posta à ação antrópica, quer dizer, a vegetação primária foi reti-rada e substituída por outra natural, esta por sinal só avança narazão de 0,2%. Note-se que, nos 300.000 km2 alterados pelohomem, acham-se incluídos 150.000 km2 de cidades, fazendas,núcleos institucionais etc.

A luta pelo domínio e pela posse de grandes áreas da RegiãoAmazônica está mais acesa do que nunca. O problema diz respei-

to, sim, à segurança nacional.Ao contrário dos tempos em que o País tomava cuidados espe-

ciais com a preservação da Soberania Nacional sobre a Amazônia,nestes últimos anos o Governo brasileiro tem aberto a região à co-biça mundial, permitindo ali o ingresso de interesses econômicosespúrios, mas que podem servir de pretexto a uma eventual inter-venção naquela região brasileira.

A subdivisão do Brasil já começa a ser defendida em academiasamericanas, como Harvard. Um de seus intelectuais, Juan Henriquez,defende a tese de desmembramento dos países gigantes e fim dasoberania nacional, dizendo que, quanto mais globalizado se tornar

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 Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery

o mundo, menos traumático para os nacionalistas será a separaçãode seus estados.

Como a Amazônia brasileira constitui 50% do território nacio-

nal, ao dividi-la, o Brasil estará totalmente desmembrado.A presença militar americana em bases situadas em países

limítrofes com o Brasil é um fato.

No Governo Menem, a Argentina ofereceu aos EUA uma áreade 10 mil hectares de seu território, próximo à fronteira com o Bra-sil, com pistas de pouso para aviões e campos de treinamento den-

tro de uma área de selva.É oportuno lembrar que, partindo dessa base, é possível atingir,

em missão de ataque, os centros do poder brasileiro – São Paulo,Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro – como resposta a qual-quer tentativa do Brasil de defesa da sua integridade territorial.

O povo brasileiro precisa saber que essa nova forma de ocupa-

ção militar, tanto pode ser propícia a uma invasão armada, a qual-quer momento, quanto ser um obstáculo à ação do Brasil em re-presália ou de defesa da sua soberania.

Para quem julgava paranóia essa história da internacionalizaçãoda região, eis mais uma evidência de que estão não apenas de olhona floresta, mas anunciando quando e como tomá-la. A primeiraproposta de troca por dívidas deveu-se a Margaret Thatcher, quando

era primeira-ministra da Inglaterra, exortando as nações do Tercei-ro Mundo a venderem suas riquezas. De lá para cá, foi uma suces-são de pirataria explícita, da qual não escaparam FrançoisMitterrand, da França, Felipe Gonzales, da Espanha, e até MikailGorbachev, com a participação decisiva, também, de Al Gore, eaté de Bill Clinton, sem esquecer John Major, também da Inglater-ra. Quer dizer, a rapinagem supera as ideologias.

O grave no caso do Sr. Bush é que não há saída, pois é presi-dente da maior potência mundial, aquela que defende seus valo-res e seus interesses através da utilização de mísseis, tanques,frotas e bombardeiros.

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 Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery

Não se trata de imaginar os boinas verdes americanos emManaus ou os bombardeiros sobre a Amazônia, mas, sim, a conti-nuação do domínio por outros métodos tão eficazes como o con-trole da economia dos países pobres, a cooptação de suas elites ea compra de seus governantes.

O processo de internacionalização da Amazônia avança a olhosvistos. Não é preciso citar a campanha promovida por organiza-ções não-governamentais de toda espécie, subsidiadas diretamen-te por Washington ou pelas multinacionais.

A criação de Nações Indígenas independentes vai de vento em

popa, com a delimitação de áreas que, por pura coincidência, loca-lizam-se nas fronteiras nacionais e contêm reservas de minerais no-bres. Por outro lado, o cumprimento do Programa Brasileiro deFlorestas implica na criação do “ Regime de Concessão de Flores-ta”, onde serão atingidos 50 milhões de hectares a serem explora-dos por madeireiras internacionais que já devastaram, entre outrospaíses, as florestas da Indonésia.

Seria preciso que o Brasil acordasse. A solução é alertar a socie-dade. Esperar que ela se mobilize. A verdade é que estamos cami-nhando para uma situação da qual não haverá retorno, iniciada com aalienação de patrimônio estratégico e a abertura de nossas fronteirasao capital especulativo predador. Um belo dia acordaremos saben-do que a Amazônia não nos pertence mais, que alguns tecnocratas

acabaram de vendê-la em troca de uma parte de nossa dívida exter-na sempre multiplicada. Que as Nações Unidas reconheceram “anação independente dos ianomanis”, e que nos mapas da AméricaLatina distribuídos pelas escolas do Primeiro Mundo os jovens apren-dem que a Amazônia e o Pantanal pertencem “à Humanidade”.

O que esperar? Valeria um ato de indignação, seguido de medi-das concretas. O que está em jogo é a soberania nacional. Em

risco, a integridade territorial conquistada com tanta luta, tanto suore tanto sangue.

O Estado-Maior do Exército, órgão responsável pela formula-ção das políticas e concepções estratégicas do Exército, já definiu

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 Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery

em diretriz estratégica específica que, para fazer face a ameaça dessanatureza, que envolve a possibilidade de ocorrência de um conflitocontra uma força militar multinacional extracontinental invasora,dotada de um superior poder de combate, há que se adotar umaestratégia que preveja um conflito prolongado, de caráter total, ten-do, na maioria das vezes, fraca intensidade, normalmente à base daguerrilha, e que busca obter a decisão pelo desgaste moral e ocansaço material do inimigo.

Nesta forma de atuar é fundamental saber durar. A adoção des-sa estratégia no nível operacional pressupõe a adoção da guerra

irregular como principal forma de conduta de uma guerra convenci-onal, na qual fica evidente o desequilíbrio de poder de combateentre as nossas Forças e as dos possíveis oponentes.

Implica na impossibilidade de fazer face ao invasor por meiosconvencionais de atuação em força, quer ofensiva, quer defensiva-mente, devido à inferioridade de recursos materiais e à grande

disparidade na área científico-tecnológica.Seu grande objetivo será demonstrar ao invasor que o preço a

pagar para manter o domínio sobre determinada região não com-pensa os benefícios decorrentes.

Nesta concepção, as nossas Forças Especiais estabelecerãoas Áreas Operacionais da Guerra Irregular no contexto de umMovimento de Resistência, trabalhando com as comunidades bra-sileiras, quando da ameaça ou da ocorrência de uma invasão donosso território.

Não se pode esquecer também que a adoção desta Estratégiapressupõe sacrifícios, que serão impostos à Nação, que ficará ex-posta ao poder do adversário que, certamente, tentará quebrar avontade nacional. E este é verdadeiramente o ponto focal a ser

desenvolvido: estabelecer e consolidar a Vontade Nacional, desde já, em torno da defesa dos interesses vitais do Brasil na Amazônia.

Mas, a defesa dos interesses vitais do Brasil naquela área não éobra exclusiva dos soldados da Amazônia. É uma responsabilidade

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 Durval Antunes Machado Pereira de Andrade Nery

de todos os brasileiros militares e civis, inclusive de outras regiões.E, quando for o caso, todos, irmanados, se necessário empregan-do a Guerra de Guerrilhas, irão defendê-la, como o fizeram no pas-sado e o estão fazendo no presente.

O autor é General-de-Brigada da Reserva do Exércitoe Vice-Presidente da Associação de Diplomados

da Escola Superior de Guerra.

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Pedidos ao

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 Manuel Cambeses Júnior 

 

   

O Brasil é um país guiado por um sentimento de paz. Não abrigaqualquer ambição territorial, não possui litígios em suas fronteiras e,tampouco, inimigos declarados. Toda ação por ele empreendidanas esferas diplomática e militar, busca, sistematicamente, a manu-tenção da paz. Porém, tem interesses a defender, responsabilida-

des a assumir, e um papel a desempenhar, no tocante à Segurançae Defesa, em níveis hemisférico e mundial, em face de sua estaturapolítico-estratégica no concerto das nações.

O primeiro objetivo de nossa Política de Defesa, portanto, deveser o de assegurar a defesa dos interesses vitais da Nação contraqualquer ameaça forânea. Não se pode precisar, a priori, a fron-

teira entre os interesses vitais e os interesses estratégicos. Os doisdevem ser defendidos com ênfase e determinação. Essencialmente,os interesses estratégicos residem na manutenção da paz no conti-nente sul-americano e nas regiões que o conformam e o rodeiam,bem como os espaços essenciais para a atividade econômica e parao livre comércio (Setentrião Oriental, Costão Andino, Cone Sul eAtlântico Sul).

Fora deste âmbito, o Brasil tem interesses que correspondem àsresponsabilidades assumidas nos Fóruns Internacionais e Organis-mos Multilaterais e ao seu status na ordem mundial. Este é confor-mado por uma combinação de fatores históricos, políticos, estraté-gicos, militares, econômicos, científicos, tecnológicos e culturais.

Sem uma Defesa adequada, a Segurança Nacional e a pereni-

dade desses interesses estarão seriamente comprometidas e, con-seqüentemente, não poderão ser asseguradas. Daí, se ressaltar aimperiosa necessidade de contarmos com Forças Armadas prepa-radas, suficientemente poderosas e aptas ao emprego imediato,capazes de desencorajar qualquer intenção de agressão militar ao

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 Manuel Cambeses Júnior 

País, pela capacidade de revide que representam. Esta estratégia éenfatizada para evitar a guerra e exige, como corolário, o fortaleci-mento da Expressão Militar do Poder Nacional, além de impor umexcelente grau de aprestamento e prontificação das Forças Arma-das, desde o tempo de paz, através da realização de treinamentos,de exercícios operacionais dentro de cada Força Singular, não sen-do excluída a necessidade de Planejamento e do treinamento deOperações Conjuntas e Combinadas, no âmbito das FFAA.

O estudo da História, particularmente da História Militar de umanação, conduz a conclusões e realça aspectos capazes de influir na

Expressão Militar de seu Poder Nacional.O estudo das campanhas militares, com seus erros e acertos, o

respeito às tradições, o culto aos heróis etc, trazem reflexos à for-mulação da doutrina, ao moral e à estrutura militares.

As tradições históricas e militares constituem, ainda, fatores de influ-ência sobre a Expressão Militar. Essas tradições – que cumpre cultuar e

manter – não devem, por outro lado, apresentar obstáculos intransponíveisà evolução, ao desenvolvimento e à tecnologia militares.

No equilíbrio entre essas idéias, às vezes opostas, está o acertoque revigora a Expressão Militar.

Assumem, também, papel de destaque, os aspectos qualitativosdos recursos humanos; o apoio em maior ou menor grau da opinião

pública nacional e mesmo internacional; a coesão interna; e a von-tade nacional.

E, nesse contexto, ressalta a fundamental importância do Povo– expressão máxima das forças vivas da Nação – como verdadeiroesteio das Forças Armadas, quando a elas se une, nelas se apóia ecom elas se confunde. A população traduz sua indispensável soli-dariedade à Expressão Militar, através da opinião pública, que deve

constituir, sem dúvida, preocupação constante quando se pretendemanter em alto nível aquela Expressão do Poder Nacional.

Nesse sentido, é imperioso o esforço para conservar integradoso homem militar e o homem civil, sem discriminações de qualquer

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 Manuel Cambeses Júnior 

natureza, sem privilégios, embora respeitadas suas diversas, masnaturais destinações.

O papel que caberá às Forças Armadas brasileiras, nas próxi-

mas décadas, é multifacetado e deve estar calcado em amplo de-bate, cujo resultado deverá ser tão satisfatório quanto maior for odesenvolvimento da sociedade. O esboço de qualquer arranjo deDefesa, em um Estado democrático, para que possa contar comrecursos, deve estar respaldado por uma base de legitimidade. En-tendemos que, para a consecução desses objetivos, devem serconsultadas personalidades representativas de diferentes espectros

de opinião: ministros de estado, acadêmicos, analistas políticos,economistas, diplomatas, militares, jornalistas, todos com reconhe-cida competência na área de Defesa, e alguns críticos do atual sis-tema de Defesa Nacional.

Evidentemente, que não se trata de deixar em mãos destes pen-sadores a formulação de políticas e estratégias militares. Trata-se,tão-somente, de ouvi-los e de reunir novos conceitos e idéias, quepermitam oxigenar antigos preceitos e identificar referenciais para adefesa do País, os quais estejam mais em sintonia com os desafiosdos novos tempos e consentâneos com a realidade nacional. Taiscontribuições, depois de avaliadas, por setores competentes doMinistério da Defesa, poderão ou não ser incorporadas no plane- jamento estratégico.

Indubitavelmente, para a consecução dessa tarefa, mister se fazuma conjunção de esforços. Nesse sentido, se somam, num pro-cesso sinérgico, o imprescindível apoio do Presidente da Repúbli-ca, a compreensão do Congresso Nacional, a efetiva colaboraçãodo Ministério da Defesa e de outras áreas do Governo, a confiançae o respaldo dos Comandantes de Forças, e a ativa participaçãode todas as forças vivas da Nação.

Temos plena consciência de que não se pode justificar ahipertrofia das Forças Armadas em prejuízo do processo de de-senvolvimento da Nação, mas não se pode admitir, por ilógico etemerário, que a Expressão Militar do Poder Nacional seja coloca-

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 Manuel Cambeses Júnior 

da em plano inferior – vivenciando um processo gradual desucateamento e de desmantelamento, devido à crônica insuficiênciade recursos financeiros – na falsa concepção de que a prioridadeabsoluta deve ser dada ao Desenvolvimento.Não existem nações desarmadas, porque nenhuma delas seria capazde desfazer-se de sua Expressão Militar para merecer, por esse atoingênuo, o respeito e a simpatia de todos os países. Não há fórmulamiraculosa capaz de manter a paz sem ameaças de conflitos internosou de guerra entre os povos.Torna-se imperativo conferir maior prestígio às Forças Armadas e

racionalizar, modernizar e fortalecer o aparato defensivo brasileiro.Lembremo-nos das sábias palavras do insigne Barão do Rio Branco– o Chanceler da Paz – que, de modo contumaz, enfatizava aimperiosa necessidade de possuirmos um bom sistema de armaspara respaldar as nossas proposições no concerto das nações.

O autor é Coronel-Aviador da Reserva e Chefe da Divisão deEstudos e Pesquisa do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

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COLEÇÃO AERONÁUTICA DO INCAER

SÉRIE

HISTÓRIA GERAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA

VOL. 1 – Dos Primórdios até 1920.

VOL. 2 – De 1921 às Vésperas da Criação do Ministério da Aeronáutica.

VOL. 3 – Da Criação do Ministério da Aeronáutica ao Final da Segunda Guerra

Mundial.

VOL. 4 – Janeiro de 1946 a Janeiro de 1956 – Após o Término da Segunda Guerra

Mundial até a Posse do Dr. Juscelino Kubitschek como Presidente da

República.

SÉRIE

HISTÓRIA SETORIAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA

  1 – Santos-Dumont e a Conquista do Ar - Aluízio Napoleão

  2 – Santos-Dumont and the Conquest of the Air - Aluízio Napoleão

  3 – Senta a Pua! - Rui Moreira Lima

  4 – Santos-Dumont – História e Iconografia - Fernando Hippólyto da Costa  5 – Com a 1ª ELO na Itália - Fausto Vasques Villanova

  6 – Força Aérea Brasileira 1941-1961 – Como eu a vi - J. E. Magalhães Motta

  7 – A Última Guerra Romântica – Memórias de um Piloto de Patrulha - Ivo

Gastaldoni (ESGOTADO)

  8 – Asas ao Vento - Newton Braga

  9 – Os Bombardeiros A-20 no Brasil - Gustavo Wetsch

10 – História do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica - Flávio José Martins

11 – Ministros da Aeronáutica 1941-1985 - João Vieira de Sousa12 – P-47 B4 – O Avião do Dorneles - J. E. Magalhães Motta

13 – Os Primeiros Anos do 1º/14 GAv - Marion de Oliveira Peixoto

14 – Alberto Santos-Dumont - Oscar Fernández Brital (ESGOTADO)

15 – Translado de Aeronaves Militares - J. E. Magalhães Motta

16 – Lockheed PV-1 “Ventura” - J. E. Magalhães Motta

17 – O Esquadrão Pelicano em Cumbica – 2º/10º GAv - Adéele Migon

18 – Base Aérea do Recife – Primórdios e Envolvimento na 2ª Guerra Mundial -

Fernando Hippólyto da Costa

19 – Gaviões de Penacho - Lysias Rodrigues

20 – CESSNA AT-17 - J. E. Magalhães Motta

21 – A Pata-Choca - José de Carvalho

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SÉRIE

ARTE MILITAR E PODER AEROESPACIAL

1 – A Vitória pela Força Aérea - A. P. Seversky

2 – O Domínio do Ar - Giulio Douhet3 – A Evolução do Poder Aéreo - Murillo Santos

4 – Aeroportos e Desenvolvimento - Adyr da Silva (ESGOTADO)

5 – O Caminho da Profissionalização das Forças Armadas - Murillo Santos

6 – A Psicologia e um novo Conceito de Guerra - Nelson de Abreu O’ de Almeida

7 – Emprego Estratégico do Poder Aéreo - J. E. Magalhães Motta

8 – Da Estratégia – O Patamar do Triunfo - Ivan Zanoni Hausen

SÉRIE

CULTURA GERAL E TEMAS DO INTERESSE DA AERONÁUTICA

  1 – A Linha, de Mermoz, Guillaumet, Saint-Exupéry e dos seus companheiros

de Epopéia - Jean-Gérard Fleury

  2 – Memórias de um Piloto de Linha - Coriolano Luiz Tenan

  3 – Ases ou Loucos? - Geraldo Guimarães Guerra

  4 – De Vôos e de Sonhos - Marina Frazão

  5 – Anesia - Augusto Lima Neto

  6 – Aviação de Outrora - Coriolano Luiz Tenan

  7 – O Vermelhinho – O Pequeno Avião que Desbravou o Brasil -Ricardo Nicoll

  8 – Eu vi, vivi ou me contaram - Carlos P. Aché Assumpção

  9 – Síntese Cronológica da Aeronáutica Brasileira (1685-1941) - Fernando

Hippólyto da Costa

10 – O Roteiro do Tocantins - Lysias A. Rodrigues

11 – Crônicas... no Topo - João Soares Nunes12 – Piloto de Jato - L. S. Pinto e Geraldo Souza Pinto

13 – Vôos da Alma - Ivan Reis Guimarães

14 – Voando com o Destino - Ronald Eduardo Jaeckel (no prelo)

Pedidos ao:INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA

Praça Marechal Âncora, 15-A, Centro - Rio de Janeiro - RJCep: 20021-200 - Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail: [email protected]

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