ideias em destaque incaer 18

96
1 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (x) : .....-....., jan./abr. 2005 Nome do Autor Id. em Dest., Rio de Janeiro, n. 18, p. 96, maio/ago. 2005 Id. em Dest., Rio de Janeiro, n. 18, p. 01-96, maio/ago. 2005

Upload: elzo-freitas

Post on 04-Dec-2015

221 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Ideias Em Destaque Incaer 18

TRANSCRIPT

Page 1: Ideias Em Destaque Incaer 18

1Id. em Dest., Rio de Janeiro, (x) : .....-....., jan./abr. 2005

Nome do Autor

Id. em Dest., Rio de Janeiro, n. 18, p. 96, maio/ago. 2005Id. em Dest., Rio de Janeiro, n. 18, p. 01-96, maio/ago. 2005

Page 2: Ideias Em Destaque Incaer 18

EdiçãoDivisão de Estudos e Pesquisa

Editor Responsável

Manuel Cambeses Júnior

Projeto Gráfico

Mauro Bomfim EspíndolaWânia Branco Viana

Jailson Carlos Fernandes AlvimAbdias Barreto da Silva Neto

Revisão de TextosDirce Silva Brízida

Ficha Catalográfica elaborada pelaBiblioteca do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

Idéias em Destaque / Instituto Histórico-Cultural daAeronáutica. – n.1, 1989 –

v. – Quadrimestral.

Editada pela Vice-Direção do INCAER até 2000.Irregular: 1991–2004.

1. Aeronáutica – Periódico (Brasil). I. Instituto Histó-rico-Cultural da Aeronáutica. II. INCAER.

CDU 354.73 (05) (81)

Page 3: Ideias Em Destaque Incaer 18

� ����������

É com subida honra e grata satisfação que a Direção do InstitutoHistórico-Cultural da Aeronáutica (INCAER) apresenta o exem-plar de número 18 da revista Idéias em Destaque.

Nesta edição, concernente ao segundo quadrimestre do anoem curso, apresentamos doze artigos da lavra de diversos auto-res nacionais, contumazes colaboradores deste Instituto e do pres-tigioso periódico.

Como sói acontecer, neste compêndio procurou-se contemplaruma ampla gama de temas que julgamos por oportuno destacar,quer pela importância histórica em resgatar acontecimentosmarcantes da vida nacional quer como forma de transmitir conheci-mentos de fatos vivenciados por nossa Força Aérea, além de ino-cular instigantes idéias sobre temas de natureza estratégica.

Focados nesses objetivos, cremos estar contribuindo, sobre-maneira, para a divulgação de nossos vultos históricos, para o re-gistro de fatos marcantes da Aeronáutica brasileira e, acima de tudo,para a difusão de cultura geral.

Tenente-Brigadeiro-do-Ar Ref. Octávio Júlio Moreira Lima

Diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

Page 4: Ideias Em Destaque Incaer 18
Page 5: Ideias Em Destaque Incaer 18

����� ��� �������Nº 18maio/ago. 2005

�������

1. Desenvolvimento e Soberania................................................7Sérgio Xavier Ferolla

2. Marechal do Ar Casimiro Montenegro Filho:Um Notável Brasileiro ........................................................15Manuel Cambeses Júnior

3. Os Militares e o “Direito de Opinar” ....................................23Lauro Ney Menezes

4. A Epopéia do 2068 - Uma Nova Abordagem .......................27Fernando de Almeida Vasconcellos

5. Conseqüências e Reflexos da Participação da FEB naSegunda Guerra Mundial .....................................................33Luiz Paulo Macedo Carvalho

6. Reflexões sobre a Educação ...............................................47Tacarijú Thomé de Paula Filho

7. A Inesquecível 8BA .......................................................... 53Milton Mauro Mallet Aleixo

8. Uma Política de Defesa para a Amazônia ........................... 57Carlos de Meira Mattos

9. O Estado: Apreciação sob quatro Enfoques .........................61Manuel Cambeses Júnior

10. O Processo de Criação na Pintura ..................................... 73Araken Hipólito da Costa

11. Centros Mundiais de Poder ................................................ 79Paulo César Milani Guimarães

12. Abreviaturas ..................................................................... 91Pasqual Antônio Mendonça

Page 6: Ideias Em Destaque Incaer 18
Page 7: Ideias Em Destaque Incaer 18

7Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 7 - 13, maio/ago. 2005

Sérgio Xavier Ferolla

���� ������� ���������

����������������

As Constituições brasileiras consagram como fundamentos do Es-tado os princípios da soberania e da autodeterminação nacional,sem os quais não pode existir a cidadania e a nacionalidade.

São esses fundamentos que orientam as estratégias do Estado-na-ção, entendido este como categoria histórica e instituição política, eco-nômica e social.

Contudo, o princípio da soberania acompanha a evolução históri-ca, já não se limitando à questão geográfica dos limites territoriais, queno passado produziram as denominadas “políticas de fronteiras”,militares ou diplomáticas.

Tem-se atualmente como certo que a soberania implica uma visãosócio-econômica, científica e tecnológica, política e cultural, que tenhacomo ponto de partida o interesse nacional e como objetivo a perma-nente consolidação do País e sua continuidade histórica.

Nos dias atuais, a revolução tecnológica no setor das telecomuni-cações e da informática tem propiciado à grande massa da sociedadea ilusória sensação da convivência em uma aldeia global, sob o impériodo diálogo e do respeito ao direito universal.

A realidade palpável, porém, de forma bastante diversa, é um acir-ramento na disputa pelos bens essenciais à sobrevivência dos povos,dentro de um espectro de convivência que está longe de ser definitiva-mente organizado e no qual têm predominado as desigualdades soci-ais, o desemprego e a recessão.

Como fator agravante para os perceptíveis desajustes nessemacrocenário, destaca-se a assimetria entre os Estados nacionais, comuma minoria industrial e economicamente muito desenvolvida, atuandono centro do sistema, buscando sobrepor seus interesses a um mundoconsiderado, por eles, periférico, cada vez mais dependente detecnologias e recursos financeiros, concentrados, de forma monopolista,em poucos e poderosos grupos transnacionais.

Page 8: Ideias Em Destaque Incaer 18

8 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 7 - 13, maio/ago. 2005

Sérgio Xavier Ferolla

No caso do Brasil, em especial, soma-se a histórica e perniciosainfluência da geopolítica norte-americana, visando à inviabilização deum sólido Estado industrializado ao sul do Equador, para tal fazendoconfundir os sentimentos nacionalistas em efervescência desde a dé-cada dos 30 (1930), com os interesses do comunismo internacional e,mais recentemente, como símbolo de eras pré-históricas e do atraso.

Sua ação nos dias atuais prossegue de forma mais sutil, usandocomo instrumento as Agências internacionais que habilmente manipu-lam (FMI, BIRD, CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU, OMCetc.), bem como, cooptando destacados técnicos, veículos de comu-nicação, burocratas e influentes lideranças políticas. Boa parte desseslíderes de ocasião, cumprindo o papel submisso que lhes é imposto,vem conduzindo o País à deprimente dependência do capital internaci-onal e à alienação espoliativa de grande parte do estratégico patrimônioarduamente edificado pelo povo brasileiro.

Associado a todos esses malefícios, interesses políticos e econômi-cos alienígenas, sob o símbolo diabólico do neoliberalismo, buscamargumentos para eliminar o pouco que resta do conceito de soberanianos países periféricos, apregoando para os Estados já enfraquecidos,como o Brasil, o fim das fronteiras geográficas, a ideologia do Estado-mínimo e a submissão passiva aos interesses do mercado.

Por tudo isso, já é passado o momento da sociedade brasileira, emuníssono e em oposição à globalmente falida cantilena do modeloneoliberal, bradar com ênfase que não nos interessam modelos impor-tados e que o desenvolvimento de uma nação não se mede tão-so-mente pelas variáveis comuns das estatísticas econômicas, mas, prin-cipalmente, pela existência de um clima de igualdade de oportunidadespara todos os cidadãos, bem como pela capacidade de atendimentoàs necessidades de alimentação, trabalho, saúde, educação e seguran-ça do seu povo.

Como o estamento militar representa um dos pilares para oposicionamento soberano da nação brasileira, esses parâmetros tam-bém devem ser realçados em uma Política de Defesa, pois não podemexistir Forças Armadas, capazes de dissuadir aventureiros, além-fron-

Page 9: Ideias Em Destaque Incaer 18

9Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 7 - 13, maio/ago. 2005

Sérgio Xavier Ferolla

teiras, se internamente nos permitimos conviver com uma populaçãofragilizada, sob os aspectos mínimos e essenciais para uma vida dignaem sociedade.

Faz-se, portanto, urgente declarar a falência do modelo dependen-te e do pacto neoliberal a que fomos submetidos, cuja continuidadecertamente conduzirá a nação brasileira a uma situação de crise semretorno e, como tem enfatizado o ilustre brasileiro, renomado escritore incansável defensor dos fundamentos da nacionalidade, ProfessorLUIZ DE TOLEDO MACHADO, “romper as condicionantes ex-ternas e internas como pressuposto básico para nossa sobrevivên-cia, através de um projeto efetivamente nacional”.

Tal projeto, maximizando a “Questão Nacional” acima dos inte-resses menores de pessoas, organizações, correntes políticas e, espe-cialmente, do mercado globalizado, se choca frontalmente com os con-ceitos da ALCA, da privatização danosa de empresas estratégicas emsetores como telecomunicações, geração e distribuição de energia elé-trica, jazidas minerais e de produtos fósseis; bem como a participaçãodo capital externo na mídia e nas Universidades; tudo acompanhadodo sucateamento dos Laboratórios, Centros de Pesquisa e Desenvol-vimento e das Forças Armadas nacionais, entre outros.

Sobre a pretensa ALCA, trabalhos de competentes estudiosos bra-sileiros, minuciosos e exaustivamente fundamentados, sobressaindo-se aqueles de autoria do Embaixador SAMUEL PINHEIRO GUI-MARÃES, demonstram, com clareza de detalhes, o falso argumentodas vantagens relativas da participação em uma hipotética área de livrecomércio das Américas, citando, entre outros exemplos, osinexpressivos resultados obtidos pelo México, após sua adesão aoNAFTA (1), permanecendo 40% da população abaixo da linha depobreza, em que pese sua fronteira de mais de 3.000 quilômetros comos Estados Unidos, parâmetro facilitador para uma proposta e teori-camente desejada integração.

Sobre o setor serviços, em especial, é importante destacar o fir-me e esclarecedor posicionamento do Professor Doutor PAULONOGUEIRA BATISTA Jr. em artigo sob o título “Os EUA e a ALCA”,

Page 10: Ideias Em Destaque Incaer 18

10 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 7 - 13, maio/ago. 2005

Sérgio Xavier Ferolla

quando informa que “Os Estados Unidos oferecem e buscarão emcontrapartida, amplo acesso a mercados em setores como servi-ços financeiros, telecomunicações, informática, serviçosaudiovisuais, construção e engenharia, turismo, publicidade, ser-viços de entrega rápida, serviços profissionais (arquitetos, enge-nheiros, contadores, advocacia etc.), certos serviços de transpor-tes, serviços de energia e serviços relacionados à atividade indus-trial”. Para realçar a ameaça dessa cláusula o Prof. NOGUEIRABATISTA Jr. alerta, especialmente, “para os aspectos do mandatonegociador aprovado pelo Congresso dos Estados Unidos –´Bipartisan Trade Promotion Authority Act´ – o qual especifica,por exemplo, que os EUA devem preservar as suas leis comerci-ais, largamente utilizadas como instrumento de proteção contra aconcorrência de produtores do Brasil e de outros países”.

Outro aspecto, mais do que relevante sobre o setor serviços, éminuciosamente analisado pelo Professor Doutor DALMO DEABREU DALLARI, em trabalho sob o título “ALCA e Comércio deServiços”, mostrando o grave aspecto da inobservância de Princípi-os e Normas Constitucionais, caso o trato da questão ALCA, mui-to além de opiniões pessoais, não se subordine aos interesses maioresdo Estado-nação e que, “após a conclusão de negociações formais,culmine com sua aprovação pelo Congresso Nacional”.

Graças ao patriótico e maiúsculo posicionamento do ChancelerCELSO AMORIM e sua competente equipe de diplomatas, nossopaís tem contornado e sobrepujado as pressões e ameaças, internas eexternas, assegurando caminhos alternativos envolvendo a questãonacional e a própria soberania do nosso país, desenvolvendo harmoni-osa e viável convivência no âmbito das Américas, bem como desbra-vando novos canais de relacionamento com países que, como o Brasil,buscam se viabilizar como atores regionais, nesse conturbado cenário,ainda unipolar, decorrente do esfacelamento do império soviético.

Se os possíveis acordos de livre comércio têm motivado a benéficae auspiciosa mobilização da sociedade, em defesa dos interesses mai-ores da nacionalidade, no campo interno, de forma sorrateira e in-compreensivelmente tolerada pelos novos governantes, a equipe

Page 11: Ideias Em Destaque Incaer 18

11Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 7 - 13, maio/ago. 2005

Sérgio Xavier Ferolla

encastelada pelos interesses dos ideólogos do neoliberalismo na Agên-cia Nacional do Petróleo – ANP prossegue alienando as jazidas nacio-nais do precioso e valioso ouro negro, abrindo sua exploração a empre-sas transnacionais, cujo único objetivo é o lucro imediato e a satisfaçãode interesses alienígenas, facilmente identificáveis, e que vêem em nossopaís um porto seguro para a satisfação de suas vorazes necessidades deconsumo comprometidas pela inevitável escassez do produto em futuronão muito remoto e pelas ameaças constantes de turbulência nas regiõestradicionalmente produtoras, particularmente no oriente médio.

Se o Governo brasileiro não bloquear, de imediato, essa inconcebí-vel sangria do nosso subsolo, com as seguidas rodadas de licitaçãosendo promovidas pela ANP, o mínimo que poderá acontecer seráuma exploração predatória das reservas nacionais, vulnerabilizando oPaís, que não disporá de recursos financeiros e bélicos para asseguraro suprimento de óleo importado, quando o quadro de escassez e detensões se acentuar no cenário internacional, fragilizando de formairreversível a nossa soberania.

Com os dados disponíveis no momento, alguns pontos merecemespecial atenção:

1. É esperado que a PETROBRÁS produza o volume diário depetróleo necessário à demanda interna, já em 2005;

2. A empresa, que já teve assegurado reservas nacionais capazesde atender por 30 anos o consumo nacional, só dispõe, no momento,de estoques garantidos por uma década, ou seja, até 2014, aproxima-damente, caso não venha a descobrir novas jazidas;

3. Dois terços das áreas já licitadas foram entregues a empre-sas estrangeiras, que assinaram contratos com a ANP com 30anos de validade;

4. Os contratos já firmados permitem a exportação do petróleodescoberto, uma vez supridas as necessidades domésticas de consu-mo. Assim, as empresas estrangeiras poderão exportar o petróleo ex-cedente, oriundo de suas jazidas, durante a fase em que a PETROBRÁSainda terá capacidade de assegurar o fornecimento interno;

Page 12: Ideias Em Destaque Incaer 18

12 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 7 - 13, maio/ago. 2005

Sérgio Xavier Ferolla

5. Em aproximadamente 10 anos a PETROBRÁS poderá não es-tar mais em condições de suprir, autonomamente, a demanda nacionale, neste caso, as empresas estrangeiras serão obrigadas, pelo contra-to, a abastecer nosso País, porém cobrando os preços do mercadointernacional, bem como prosseguindo com a exportação da produ-ção excedente;

6. Autores e estudiosos conceituados garantem que o preço do petró-leo será sempre crescente a partir de algum momento entre 2004 e 2010;

7. Dessa forma, o modelo vigente é pernicioso para o País, poisnos conduzirá, em curto prazo, a uma dependência onerosa das em-presas estrangeiras, inclusive para adquirir o petróleo retirado de nos-so próprio subsolo e a elas concedido pelas injustificáveis cláusulascontratuais, além de possibilitar o acelerado esgotamento das jazidasnacionais, como decorrência da exportação dos excedentes.

É, portanto, prioridade nacional a reformulação do modelo nosetor dos combustíveis fósseis, determinando novos rumos nas con-denáveis ações da ANP; incentivando a prospecção de novas áreaspela PETROBRÁS, bem como intensificando a busca por fontes al-ternativas de combustíveis, especialmente aqueles oriundos dabiomassa, como o álcool e os óleos vegetais, sobre os quais nossoPaís detém total domínio tecnológico e industrial, de forma a com-plementar o crescente consumo doméstico e, assim, alongando operíodo de exploração econômica das preciosas jazidas ainda incor-poradas ao patrimônio nacional.

No campo científico, tecnológico e industrial, cujos fundamentosforam seriamente comprometidos pelo modelo até recentemente vi-gente, impõe-se um planejamento e ações com visão de mais longoprazo, priorizando os setores ainda sob controle nacional e investindoem segmentos estratégicos que, de forma direta e/ou indireta, gerarãosubsídios para a participação da tecnologia e das empresas brasileirasem produtos mais elaborados, viabilizando a competição no complexoe seletivo mercado que a nova realidade internacional tem propiciado.

Também nesse campo, desmentindo a falácia do modelo neoliberal,não é outro o caminho ainda seguido pelos países industrializados, com

Page 13: Ideias Em Destaque Incaer 18

13Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 7 - 13, maio/ago. 2005

Sérgio Xavier Ferolla

o Estado investindo pesadamente em tecnologia e industrialização, sobo argumento de necessidades no campo da defesa.

Na OCDE, a média da participação estatal em pesquisa e desen-volvimento está em 35%, destacando-se os Estados Unidos, que apre-sentam um gritante predomínio de gastos públicos direcionados aocomplexo industrial-militar, constando para a área de defesa aproxi-madamente 54% do orçamento de P&D.

O Brasil já auferiu resultados significativos com o modelo pro-posto, ainda que modestos se comparados ao cenário internacional,mas que poderão orientar ações dos órgãos de fomento e financia-mento, com destaque para o novo e eficiente posicionamento doBNDES. São palpáveis e exemplares: o sucesso da EMBRAER; afabricação de navios e submarinos; a produção de radares e equipa-mentos de interesse do controle da navegação aérea; o desenvolvi-mento e a industrialização dos motores a álcool e o pleno domíniotecnológico da agroindústria suero-alcooleira; a produção de arma-mentos convencionais e mísseis com tecnologia 100% doméstica;além do domínio da tecnologia dos combustíveis nucleares, com aprodução local do urânio enriquecido para o complexo de Reatoresde Angra dos Reis; bem como dos inigualáveis recordes tecnológicose industriais da nossa PETROBRÁS.

São conquistas que, se corretamente divulgadas e submetidas aocrivo imparcial da sociedade, mostrariam a capacidade de realizaçãoda gente brasileira, que enchem de orgulho os anônimos cientistas,engenheiros, técnicos e operários, civis e militares, que com as armasda inteligência e da dedicação, superaram dificuldades materiais e blo-queios absurdos, a fim de assegurar, com a missão que lhes foi atribu-ída, a liberdade, o progresso e a soberania da nação brasileira.

O autor é Tenente-Brigadeiro-do-Ar Reformado,ex-Ministro do Superior Tribunal Militar.

Page 14: Ideias Em Destaque Incaer 18

Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail:[email protected]

Pedidos ao

Page 15: Ideias Em Destaque Incaer 18

15Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 15 - 21, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

������ ������

������������������� ���

�������� ����� ���

���� ���������������

Neste trabalho, movidos por um profundo sentimento de justiça egratidão cívica, procuramos realçar a memória do insigne Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho, figura inconteste de um invulgare notável cidadão que, pela sua diligente atuação, inexcedível clarivi-dência e acendrado patriotismo, tornou-se merecedor do galardão edo prestígio que ora lhe conferimos, nesta edição da revista “Idéiasem Destaque”.

O Marechal Montenegro, Patrono da Engenharia da Aeronáutica eex-Conselheiro do INCAER, onde ocupou a Cadeira número 3 – cujoPatrono é Alberto Santos-Dumont – nasceu em Fortaleza, Ceará, em20 de outubro de 1904. Desde cedo, ainda na adolescência, interes-sou-se pela Aviação, que, naquela época, dava os primeiros passos ecomeçava a apresentar os contornos de algo que marcaria o modo deviver das pessoas em todo o mundo.

Em 1923, ingressou na Escola Militar do Realengo, no Rio de Ja-neiro, alcançando com rapidez destacadas e importantes posições,mostrando, de modo contumaz, habilidade, responsabilidade e com-petência nas funções para as quais era destacado. Foi declarado aspi-rante-a-oficial do Exército, em 20 de janeiro de 1928, na primeiraturma da Arma de Aviação Militar da então nascente Escola de Avia-ção Militar, no Campo dos Afonsos. Embalado pelo ardente sonho debem servir à pátria, em 1931 foi designado para servir no Grupo Mistode Aviação, comandado por Eduardo Gomes. Naquele ano, fruto dainspiração e obstinação de um grupo de oficiais idealistas como EduardoGomes, Lavenère-Wanderley, Lemos Cunha e o próprio Montenegro,nascia o Correio Aéreo Militar. Tal era o grau de interesse, entusiasmoe comovente denodo dos homens envolvidos no desafio, que um mês

Page 16: Ideias Em Destaque Incaer 18

16 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 15 - 21, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

após a criação da Unidade Aérea, a 12 de junho de 1931, a bordo daaeronave Curtiss Fledgling K-263, os então Tenentes CasimiroMontenegro Filho e Nélson Freire Lavenère-Wanderley, partindo dolegendário Campo dos Afonsos, realizaram a viagem inaugural, trans-portando uma mala postal do Rio de Janeiro para São Paulo, e de látrouxeram outra, a 15 do mesmo mês. Com pleno êxito, completava-seassim a primeira missão do Serviço Postal Aéreo Militar, mais tardebatizado como Correio Aéreo Militar. Destarte, rompera-se a limitaçãoaté então imposta pela Missão Francesa ao restringir os vôos a um cilin-dro de 10 km de raio, em torno do Campo dos Afonsos. Estava dada apartida para a consagração deste prestimoso serviço que tanto contri-buiu para a integração nacional, aproximando os brasileiros dos rincõesmais longínquos e carentes aos centros mais avançados do país. Atual-mente, denominado Correio Aéreo Nacional, é detentor de um legadode glórias e, merecidamente, goza de consagrado prestígio no seio dasociedade brasileira.

Seu espírito irrequieto e empreendedor, sua contumaz teimosia emperseguir objetivos e sua incrível capacidade de aglutinar, coordenar eentusiasmar seus pares e subordinados, levou-o a desbravar novasrotas aéreas valendo-se de todos os meios de transporte terrestre,percorrendo de trem, de automóvel, a cavalo e a pé o interior paulista,goiano e mineiro, fixando os marcos de novos aeroportos, onde pou-co tempo depois, ele mesmo e seus companheiros viriam a pousar.

O Marechal participou ativamente da Revolução de 1930, sendoum dos revolucionários de primeira hora, não por idealismo político-partidário, mas pelo seu imenso desejo de ver o país dirigido no rumodo desenvolvimento educacional e tecnológico, de libertá-lo do condi-cionamento em que se mantinha preso, sob a orientação de uma polí-tica interesseira e subserviente às conveniências da oligarquia agrícola,das monoculturas do açúcar no Nordeste e do café em Minas e SãoPaulo. Confabulou com alguns companheiros simpáticos à causa como:Juarez Távora, Eduardo Gomes, Siqueira Campos e outros. A Revo-lução eclodiu em 3 de outubro e, três dias depois, Montenegro, acom-panhado de Lemos Cunha, decolou, sem que ninguém soubesse, doCampo dos Afonsos, em um avião POTEZ T.O.E., com destino a

Page 17: Ideias Em Destaque Incaer 18

17Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 15 - 21, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

Minas Gerais. Em lá chegando, entrou em contato com alguns revolu-cionários como Cordeiro de Farias e outros. Daí passou a engajar-seem missões que objetivavam sobrevoar os quartéis de Minas Gerais,jogando bombas e panfletos ameaçadores. O intuito dessas investidasera intimidá-los e conseguir a adesão de alguns batalhões à causa re-volucionária.

O insigne Marechal sempre demonstrou, ao longo de sua vida, for-te vocação de pioneiro e visionário. Acreditava firmemente na forçada educação como ferramenta do desenvolvimento. Dedicou-se in-tensamente à construção de bases para atividades industriais que as-segurassem o desenvolvimento da Aviação e, conseqüentemente, doparque industrial do País.

Prosseguindo em sua brilhante carreira, concluiu, em 1938, o Cur-so de Engenheiro Militar na Escola Técnica do Exército, atual InstitutoMilitar de Engenharia.

Na década de 1940, ganhava corpo a idéia de se criar uma indús-tria aeronáutica que pudesse atender às crescentes necessidades daAviação em benefício do Brasil. Era um sonho que fascinava e umdesafio a enfrentar. Casimiro Montenegro partilhava desse ideal e ima-ginava ser primordial o preparo de uma base sólida de recursos huma-nos e a formação de técnicos de alto nível, fatores fundamentais para aimplantação e o desenvolvimento de uma indústria aeronáutica.

Em 1943, no posto de tenente-coronel, assumiu a Diretoria Técnicada Aeronáutica, quando começou a pensar que somente teríamos umaindústria aeronáutica, no Brasil, quando dispuséssemos de uma escolaque pudesse proporcionar a formação e a preparação de técnicos dealto nível, os quais seriam imprescindíveis para deslanchar projetos maisambiciosos que demandassem o pleno domínio de tecnologias sensíveis.Germinava, em sua mente fértil e privilegiada, a idéia da criação do Ins-tituto Tecnológico da Aeronáutica.

A primeira Comissão de Organização do Centro Técnico de Aero-náutica (COCTA) surgiu em janeiro de 1946, tendo sido reestruturadaem 1949. Entregue à sua capacidade e ao seu fervoroso idealismo, oentão Cel. Casimiro Montenegro Filho foi à procura das escolas que

Page 18: Ideias Em Destaque Incaer 18

18 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 15 - 21, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

mais se destacavam no ramo, especialmente nos Estados Unidos. Lávisitou o Massachussetts Institute of Technology e o Wright Field, no-tável centro de treinamento e de formação de pessoal para a ForçaAérea daquela nação. Seus pensamentos caminhavam na direção deum modelo que foi perseguido por uma estratégia definida pela trilogia:Ensino, Pesquisa e Indústria. Foi assim que, auxiliado por uma equipede oficiais da Aeronáutica e assessorado pelo Professor-Reitor RichardSmith, em 1948, começou a transformar o sonho em realidade. Foi,portanto, sob essa ótica inspiradora que nasceu o ITA, em 1950, eque, juntamente com o CTA, que surgiu em 1953, veio a constituir-sena pedra angular para o desenvolvimento da promissora Indústria Ae-ronáutica brasileira.

Finalmente, em 1950, o Curso de Engenharia Aeronáutica teve iní-cio em São José dos Campos, local escolhido para implantar o CentroTécnico de Aeronáutica que, em 1969, transformou-se no CentroTécnico Aeroespacial, o qual, até hoje, tem a seu crédito além daextraordinária folha de serviços, a preparação e formação de quasecinco mil engenheiros, contemplando um enorme cabedal de realiza-ções nos campos da Ciência e da Tecnologia, sendo responsável dire-to pelo elevado grau de desenvolvimento nos campos aeronáutico eaeroespacial de nosso País, fortalecendo, conseqüentemente, o PoderAeroespacial brasileiro.

Como corolário da criação do complexo ITA/CTA, o nosso par-que industrial experimentou uma notável expansão, evidenciando anossa capacidade em produzir e exportar aviões, sistemas de armas eequipamentos de comunicação e navegação. O CTA registra umaabrangência e multiplicidade de atividades que ultrapassa suas cerca-nias físicas, o que lhe confere elevado prestígio em nível internacional;o ITA e os engenheiros dele oriundos contribuem decisivamente paraa ampliação de nossa cultura tecnológica no amplo espectro de aplica-ção da tecnologia de ponta. O tempo se encarregou de evidenciarquão preciosa e visionária foi a promissora semente originalmentelançada pelo Marechal Montenegro. Regada inicialmente com o suorde seu labor e com o carinho e a firmeza de propósitos pelos seuspósteros, esta germinou em uma frondosa árvore que frutificou em

Page 19: Ideias Em Destaque Incaer 18

19Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 15 - 21, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

grandes conquistas como a produção de aviões civis e militares emgrande escala e o domínio das técnicas de produção e lançamentode foguetes.

Por todos esses notáveis feitos em prol da ciência, foi agraciadocom o título de Doutor Honoris Causa pelo Instituto Tecnológico daAeronáutica, gesto amigo e carinhoso do ITA em homenagear e retri-buir ao homem que dedicou à Aviação em geral, e em particular aoCTA, ingentes esforços e extremada dedicação.

No dia dois de dezembro de 1975, ao receber o título de DoutorHonoris Causa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),proferiu as seguintes palavras: “Em toda minha vida profissional, ja-mais acreditei em messianismo, estrelismo, concentração do poder edo mérito em um só indivíduo. Sempre trabalhei em equipe. E se algummerecimento tenho, é o de ter sabido despertar em meus companhei-ros o entusiasmo, delegar-lhes autoridade com responsabilidade, exortá-los ao pleno uso de suas potencialidades e qualidades, em proveito dopovo brasileiro”.

Objetivando prestar uma significativa homenagem póstuma ao ilus-tre Marechal, em 26 de abril de 2000, a Academia Nacional de En-genharia o galardoou com o título de Patrono da Área de EngenhariaAeronáutica da Academia, em reconhecimento por notáveis feitos e,também, como forma de cultuar os grandes vultos nacionais de nos-sa Engenharia.

A vida do Marechal Montenegro sempre foi um exemplo constantede retidão e nobreza, padrão de senso de equilíbrio, patriotismo eespírito empreendedor. Toda a sua vida transcorreu na labuta, tanto navida acadêmica quanto nas lides castrenses. Mesmo ao atravessar osmomentos mais críticos de sua existência, jamais perdeu a serenidade,faceta fascinante de sua atraente personalidade. A verdade é que umhomem de tal envergadura moral, profissional, histórica e ética deixoumarcas indeléveis, em várias iniciativas fecundas, em inúmeros setoresda vida pública brasileira.

Em todas as múltiplas atividades que exerceu, com devotamento,energia inesgotável, probidade, maestria e tenacidade, uma constante

Page 20: Ideias Em Destaque Incaer 18

20 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 15 - 21, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

balizava seus esforços: o bem de nossa Aeronáutica. Ademais, a disci-plina modulava os seus passos e, altruísmo e dignidade foram o seuparadigma de vida.

A brilhante carreira de dedicado e destemido aviador militar, asso-ciada à condição de criativo engenheiro, proporcionou-lhe amplo eatraente enfoque, porque nada pode produzir um brilho mais intensodo que as luzes radiantes da glória. Seus relevantes serviços à pátriasempre tiveram, como marca registrada sem intermitências nem fugas,o límpido fulgor das causas nobres. No decorrer de sua vida castrensepode ser olhado sob o halo, também esplendoroso, das mais positivasvirtudes cívicas.

É pela multiplicidade de sua presença na vida pública do País queo Marechal Montenegro há de ser conhecido, perpetuado, entendi-do e louvado. Como valoroso militar, como administrador diligente eíntegro, como leal companheiro e como chefe de família exemplar.

O Marechal Casimiro Montenegro Filho faleceu aos 95 anos, nodia 26 de fevereiro de 2000, em Petrópolis, região serrana do Riode Janeiro, deixando um legado de extrema importância ao desen-volvimento do País e um exemplo dignificante para todas as gera-ções vindouras.

Pela dimensão de sua vida, pela preciosidade de seu exemplo,pela grandeza de suas lições e por suas brilhantes realizações, onosso insigne homenageado tornou-se um gênio inspirador que pairasobre a pátria inteira, extrapolando dos contornos de sua gloriosae pujante Instituição para fazer-se credor de título mais amplo emais proporcional à grandeza e à multiplicidade de sua edificantevida: Patrono do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.

Naquele momento histórico marcado por forte emoção, em que oINCAER, em prestigioso e concorrido evento, proclamou o Mare-chal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho Patrono do Instituto Históri-co-Cultural da Aeronáutica, em tributo a um homem cuja vida foi umeterno sonhar e sua magnífica obra o doce despertar para amaterialização de idéias benfazejas, restou a todos agradecer ao Cria-dor por nos ter brindado com o privilégio de ter acolhido, por muitos

Page 21: Ideias Em Destaque Incaer 18

21Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 15 - 21, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

anos, nas fileiras de nossa Força Aérea, um brasileiro dotado dasmais excelsas virtudes e poder entronizar, na Galeria de Patronos denosso Instituto, personalidade tão fascinante e destacada dahistoriografia nacional.

Ao Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho,

Vulto proeminente e personalidade marcante da vida nacional;

Chama viva de idealismo e de visão prospectiva;

Exemplo vivificante de cidadão e de soldado;

Que o transforma em presença eterna e cristalina em nossos corações;

O nosso respeito, admiração e profunda gratidão.

O autor é Coronel-Aviador da Reserva eChefe da Divisão de Estudos e Pesquisa do INCAER.

Page 22: Ideias Em Destaque Incaer 18

Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail:[email protected]

Pedidos ao

Page 23: Ideias Em Destaque Incaer 18

23Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 23 - 26, maio/ago. 2005

Lauro Ney Menezes

���� ������������������������

����������������

A participação dos militares brasileiros na arena política é sobeja-mente conhecida. Mesmo tentando discuti-la ou questioná-la, comofazem alguns, é um fato histórico e irretorquível. Não caberia, nestasnotas rápidas e sintéticas, avaliar o quanto de espaço no cenário po-lítico as elites (?) brasileiras, por força de sua decrepitude, falência ouomissão, cederam aos militares. Nem mesmo cabe julgar o quanto aformação castrense, “fechando-se em si mesma” por muito tempo,ficou imune ao processo de esquerdização ostensivamente implantadoem toda a nossa universidade e na nossa mídia em épocas passadas,permanecendo, portanto, “imune e descontaminada” aos olhos dasociedade. Essa iniciativa das Forças Armadas assegurou ao processode formação e desenvolvimento dos seus componentes o cultivar emanter valores e ética no seio da sua comunidade, independentementedo processo externo.

Além disso, há um quê de “caldo de cultura”, incutido nas mentesdos cidadãos civis, o qual parte da premissa inquestionável de que“organização-metodologia-isenção-disciplina-hierarquia-despren-dimento-vocação etc.” são os apanágios permanentes dos militares,em detrimento daquilo que possa ocorrer (ou estar em prática) na so-ciedade civil, razão pela qual, em circunstâncias emergenciais do pas-sado, os cidadãos-fardados foram convocados pela própria socieda-de civil para participar na solução do impasse político de momento.

Como decorrência da orientação, chamada de “retorno aos quar-téis”, inaugurada e implementada após o ocaso dos governos milita-res, as lideranças fardadas naturais foram abandonando o cenário, nãoexistindo, na data de hoje, personalidades castrenses desejosas deaglutinar a caserna, mesmo para a defesa de seus mais lícitos direitos.Assim, as Forças Armadas brasileiras impuseram-se a figura do “GrandMuet”, o grande mudo, mas que, felizmente, mesmo não falando...pensa!

Page 24: Ideias Em Destaque Incaer 18

24 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 23 - 26, maio/ago. 2005

Lauro Ney Menezes

Sem muito se diferenciar da postura geral com relação ao que po-deria ser titulado CRISE NACIONAL, a opinião castrense (muitoantes do que tratar simplesmente de questões salariais) poderia sersintetizada como abaixo:

a) “a apatia das lideranças nacionais” (vista como “superfluida-de”) compele a buscar o comprometimento das elites para fazer face aqualquer clima de crise;

b) o clima político em que vivemos é de “revolução branca”, emque se inscrevem fisiologismo, descrédito, auto-outorga de saláriosde forma indiscriminada, descomprometimento político e partidáriopara com o bem-estar social, a justiça, a saúde pública e a educa-ção;

c) a inflação é, antes de tudo, fundamentalmente originada da (omis-são) política;

d) o sistema judiciário está em estado falimentar;

e) a Constituição é, por si própria, contraditória, não responde aosanseios da Nação e, portanto, deve ser urgentemente reformada;

f) o País vem sendo progressivamente “libanizado”, e é compla-cente com a permissividade que conduz ao aparecimento de “Estadosdentro do Estado”, através da falta do controle do tráfico de drogas,do banditismo e da corrupção, da banalização da violência e do des-prezo pelos valores éticos e morais;

g) as lideranças políticas e comunitárias estão falidas;

h) a “convulsão social” (caso venha a ocorrer), proveniente dafome e da miséria que imperam, será um inimigo quase impossível deconter, mesmo pelas próprias Forças Armadas;

i) as Forças Armadas não se despojam, em nenhuma circunstância,da posição de fiadores máximos da ordem e da lei. E, como tal, nãoquerem estar “cegas, surdas e, principalmente, mudas” em face deuma realidade que poderá vir a lhes impor atuação no cenário, inde-pendentemente até mesmo de sua vocação.

Page 25: Ideias Em Destaque Incaer 18

25Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 23 - 26, maio/ago. 2005

Lauro Ney Menezes

Hoje, alguns membros das gerações militares passadas (na Reser-va) voltam ao cenário, estimulados a participar no equacionamento dagrande problemática nacional. Como cabe a qualquer membro da so-ciedade. E agora, motivados pelo abrandamento dos Regulamentos(naquilo que se refere à participação de militares no processo políticopartidário), assim como pela facilidade de acesso à mídia e à opiniãopública, somados à expansão do sentimento de “associatividade emtorno de interesses comuns”, promovem declarações à imprensa, como fim de gerar um “movimento de opinião”. E o fazem com plenodireito de cidadão. Principalmente no que tange à profissionalização,reequipamento das Forças e sua destinação constitucional e emprego.

Além disso, as novas (e, por que não, as velhas) gerações, insatis-feitas com a baixa prioridade atribuída pelo Governo à condução e otratamento dado às mais urgentes e justificadas aspirações das ForçasArmadas, buscam saídas. A solução, como é fácil concluir, é encon-trar uma forma de aglutinar a “massa de opinião militar” e direcioná-la em busca da conquista de suas expectativas e atendimento de suascarências. E é aqui que a Reserva, (principalmente) “inferindo a mis-são”, se dispõe a abandonar o mutismo e vir à luz e expor posições,com mais ênfase.

Tentando, portanto, se contrapor ao status quo e a quaisquer po-sições radicalizadas, o que as Forças Armadas hoje procuram são osbons (velhos) soldados, indiscutíveis profissionais das armas, queencarnem na realidade as figuras dos representantes de uma comuni-dade que - na busca e manutenção de seus princípios basilares deexistência e sobrevivência - tornem público sua filosofia e conceitos,na expectativa de, através deles, sensibilizar a parcela silenciosa dasociedade civil (e da própria militar), com o objetivo de se integraremlegitimamente na condução do processo político brasileiro, sem aban-donar o exercício do regime democrático, assim como opinar na formu-lação das soluções para o encaminhamento dos assuntos profissionais.

Em assim sendo, não há por que entender de outra forma a partici-pação dos militares no “momento” brasileiro, já que esta faz parte doprocesso característico dos regimes democráticos de “mobilizaçãode opinião”. O que causa estranheza, isto sim, é o fato de que, a partir

Page 26: Ideias Em Destaque Incaer 18

26 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 23 - 26, maio/ago. 2005

Lauro Ney Menezes

da prática dessa mobilização (mesmo aquelas totalmente alinhadas comas da própria sociedade), os militares possam ser vistos por algunscomo “saudosistas do passado”, em busca da ressurreição de movi-mentos que não se coadunam nem com a realidade e nem com asnecessidades do Brasil de hoje. E, principalmente, de amanhã. So-mente porque pensam e, conseqüentemente, se expressam!

Em suma, na democracia do século 21, a manifestação de militares(principalmente os da Reserva) não pode mais ser vista como exce-ção, mas, sim, como uma forma de atuação permanente de tornar pú-blico seus pensamentos e seu ideário, como o fazem os outros diver-sos segmentos da sociedade! Sem inibições.

Visto de outra forma, seria como entender a participação dos mili-tares no panorama político como se “um mastodonte fossilizado”,trazido à vida de um “parque jurássico” qualquer, para adentrar umcenário que, por princípio, o acesso não lhe fosse permitido. Como seum estranho no ninho fosse... nem mesmo CIDADÃO!

Opinar, portanto, não é só direito: é obrigação!

O autor é Major-Brigadeiro-do-Ar da Reserva e Presidenteda Associação Brasileira dos Pilotos de Aviação de Caça.

Page 27: Ideias Em Destaque Incaer 18

27Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 27 - 31, maio/ago. 2005

Fernando de Almeida Vasconcellos

��!"�"#������$%&'

(����������������

������������ ������������ ��

Muito já foi escrito sobre a epopéia do FAB 2068 – um C-47 que caiuna Selva Amazônica, em junho de 1967, após oito horas de vôo, trans-portando uma tropa armada que se destinava à defesa do Destacamentode Cachimbo, supostamente atacado por índios hostis.

Poucos, entretanto, têm conhecimento de uma operação realizadanaquela região cinco meses antes e, que, no meu entender, está muitorelacionada com aquela tragédia.

Em janeiro de 1967 a Academia Militar das Agulhas Negras mon-tou um exercício a ser realizado na região do Cachimbo. Foi muitobem planejado, e constava de uma expedição constituída por instruto-res (entre os quais o então Ten. Bonumá) e cadetes da Academia,acompanhada por observadores de outras organizações e de pessoalespecializado para o apoio.

A operação tinha como objetivos, entre outros, proporcionar aosparticipantes a oportunidade de conhecerem, no Brasil Central, o Par-que Nacional do Xingu; desenvolver um “raid” terrestre, através daselva, da ordem de 120 km, na região de Cachimbo, no rumo 110graus, até às cabeceiras do Rio Iriri; proporcionar aos participantes doexercício a possibilidade de estabelecerem contato com as tribos hos-tis e semi-hostis da região, através dos sertanistas Orlando e CláudioVillas Boas; proporcionar ao Corpo de Cadetes, mediante palestras,ilustrações, filmes e exposição de equipamentos especializados, a or-ganização, a finalidade e o emprego do PARASAR (1); e possibilitaraos participantes a observação de uma equipe PARASAR atuando noresgate de sobreviventes em plena selva. Da operação participaram –

(1) Esquadrilha Aeroterrestre de Salvamento – Equipe de militares da Aeronáu-tica treinados para serem lançados de pára-quedas no local de um acidenteaeronáutico, a fim de apoiar e resgatar as vítimas.

Page 28: Ideias Em Destaque Incaer 18

28 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 27 - 31, maio/ago. 2005

Fernando de Almeida Vasconcellos

da Força Aérea – além do PARASAR, aeronaves e tripulações doCOMTA (2), da Escola de Aeronáutica, do Parque dos Afonsos, do1º/10º Grupo de Aviação e da 1ª ELO (3).

No dia três de janeiro, decolou do Galeão um C-47 do Parquedos Afonsos, transportando a carga necessária para a realização doexercício, que incluía rações liofilizadas preparadas pela FAB e queseriam utilizadas pela expedição, assim como combustível – gasolinade 80 octanas – que seria utilizado pelas aeronaves da 1ª ELO, nãoapenas no local do exercício, mas, também, em seu deslocamentopara a região. No mesmo dia, realizou-se um brifim (4), na AMAN (5),para todos os envolvidos, no qual foi distribuída a documentaçãocontendo todas as informações voltadas à segurança do exercício.Dela constavam: fisiografia da região, hidrografia, fauna e flora, con-dições climáticas e sanitárias, sobrevivência na selva, informaçõessobre as tribos conhecidas, orientação sobre o contato com os indí-genas e um glossário de termos úteis da língua tupi.

No dia quatro, decolaram dos Afonsos dois L-19, tripuladospelo Cap.-Av. Sílvio da Gama Barreto Viana, Comandante da1ª ELO, e pelo Ten.-Av. Nelson Brites.

Cabe aqui um parêntese para registrar que o Ten. Brites participoude toda a operação e é graças a sua memória privilegiada e a docu-mentos por ele guardados que pude reconstituir muitos detalhes de suarealização.

Conduziam também, na tripulação, um mecânico e um enfermeirodo PARASAR. Após escalas em Belo Horizonte e Paracatu, pernoi-

(2) Comando de Transporte Aéreo – Grande Comando então existente na Aero-náutica que enfeixava todas as Unidades voltadas para essa atividade.

(3) 1a Esquadrilha de Ligação e Observação – Unidade da Aeronáutica dotada deaeronaves de pequeno porte, destinadas prioritariamente ao apoio ao Exército.

(4) Exposição onde são apresentados aos participantes os detalhes de umaoperação.

(5) Academia Militar das Agulhas Negras, onde são formados os oficiais doExército.

Page 29: Ideias Em Destaque Incaer 18

29Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 27 - 31, maio/ago. 2005

Fernando de Almeida Vasconcellos

taram em Goiânia. No dia seguinte, chegaram ao Destacamento doXingu, após escalas em Aragarças e Xavantina e depois de pousar emPosto Leonardo e na Aldeia Kamaiurá, já em apoio à Operação.

No dia cinco, decolou dos Afonsos um C-47 da Escola de Aero-náutica, que transportou para o Xingu os componentes da expedição edemais membros do PARASAR, entre os quais se incluíam o Cap. Int.Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho e o Cap. Méd. Rubens Marquesdos Santos, heróis que tive a honra de conhecer, testemunhando aparticipação em diversas missões reais de salvamento. A expediçãopernoitou na Aldeia Kamaiurá e, no dia seguinte, atravessou, em pirogasfornecidas pelos índios, o Lago Ipavu, em direção ao Destacamentodo Xingu, de onde decolaram para o Cachimbo.

A marcha através da selva, iniciada no dia oito de janeiro, do Des-tacamento de Cachimbo até às cabeceiras do Rio Iriri, no rumo 110graus, obedecia ao mesmo itinerário seguido pelo explorador inglêsRichard Mason, assassinado em 1961 por índios Kren-A-Karore, eprevia a possibilidade de contato com essa tribo. Para tanto, contavacom a participação dos irmãos Villas Boas, de dois índiosTchucarramães (um deles era o Raoni, ainda hoje vivo e atuante) e dosmesmos elementos do PARASAR que haviam realizado o resgate docorpo do explorador inglês.

O reconhecimento aerofotogramétrico realizado pelo 1º/10º GAv (6)indicava uma distância (em linha reta) de 60 km, a ser percorrida emum período estimado de vinte dias. Devido às irregularidades do ter-reno, estimava-se que o percurso total de ida e volta era de 250 kmde marcha a pé, em plena selva. Para tanto, era previsto o apoio dosL-19 que, diariamente, lançavam fardos com mantimentos, medica-mentos ou qualquer outro suprimento que se fizesse necessário e, comessa finalidade, utilizavam-se da comunicação por fonia, por painéisou até pelo lançamento de tubos porta-mensagem, conforme estabe-lecido no brifim e nas palestras que o PARASAR ministrara na Aca-demia. Até um bolo foi lançado no dia 20, em comemoração do ani-

(6) Esquadrão especializado em reconhecimento foto, visual e meteorológico.

Page 30: Ideias Em Destaque Incaer 18

30 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 27 - 31, maio/ago. 2005

Fernando de Almeida Vasconcellos

versário do nosso Ministério, por iniciativa da esposa do Coman-dante do Destacamento.

Todos os objetivos previstos pela expedição foram alcançados.Apesar de não ter havido contato com os Kren-A-Karore, foram dei-xados presentes pendurados em árvores ou em cipós, evidenciando asintenções amistosas da expedição, conforme preconizavam as orien-tações sobre contato com os selvagens.

O Cap. Barreto Viana retornara no dia 12 como passageiro dalinha LPN3 – XT, do COMTA. Fiz percurso inverso no dia 24 dejaneiro, no C-47 2042, sob o comando do Maj. Av. Ion Oscar Augusto.Após escalas em São Paulo, Pirassununga, Uberlândia, Ipameri eGoiânia, pernoitamos em Aragarças, de onde prosseguimos no diaseguinte, com escalas em Xavantina, Posto Leonardo e Xingu. Após opouso no Cachimbo, fiz três vôos na área da operação. No dia 26,iniciamos o traslado dos dois L-19, utilizando, para tanto, o combustí-vel que tinha sido colocado pelo C-47 do Parque dos Afonsos. Nessedia alcançamos Goiânia, após pousos intermediários em Xingu,Xavantina e Aragarças. No dia 27, pousamos em Paracatu e BeloHorizonte. No dia 28, chegamos aos Afonsos, após pouso emBarbacena, DCM (7).

Em um determinado dia de junho, apareceram diversos índios namargem oposta do rio existente ao lado do Campo de Cachimbo. OComandante do Destacamento, diante do pânico que se estabeleceuentre as famílias, solicitou socorro, e a Primeira Zona Aérea enviou umC-47, totalmente carregado de soldados, armamento e munição. De-colou acima do peso permitido, com os tanques cheios, o que lhe davaoito horas de autonomia. Voou noturno sobre a Amazônia – o que nãoera permitido na época, devido à precariedade do apoio à navegação –e com um radiocompasso (8) em pane. Decolou de Jacareacanga enão encontrou Cachimbo. Voltou para Jacareacanga e também não aencontrou. Prosseguiu para Manaus, que nunca encontrou, terminan-

(7) Devido às más condições meteorológicas.(8) Equipamento de navegação, duplo, existente na aeronave.

Page 31: Ideias Em Destaque Incaer 18

31Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 27 - 31, maio/ago. 2005

Fernando de Almeida Vasconcellos

do por cair na selva após oito horas de vôo. As mensagens transmiti-das em radiotelegrafia foram acompanhadas pelo SALVAERO (9),que acionou o PARASAR, a 1ª ELO, e outros meios. Por uma enormecoincidência, no dia 16 de junho, decolava o C-130 2454, sob o co-mando do Maj. Pedro Luiz, e, conduzindo dois helicópteros da 1ª ELO,o Ten. Almeida, o Ten. Brites, o PARASAR – aí incluídos os elemen-tos que tinham participado da Operação Cachimbo no mês de janeiro– e os integrantes da equipe de Forças Especiais do Exército paracomeçarem a busca do 2068, em Manaus.

Ouvi na época, de diversas testemunhas, que os índios que apare-ceram no entorno do Campo do Cachimbo estavam acompanhadosde mulheres e crianças, o que derruba a hipótese de que tinham inten-ções hostis. Na minha interpretação, sua chegada foi uma decorrênciadas iniciativas da expedição realizada em janeiro do mesmo ano, e queincluíra a colocação de presentes nas árvores, como sinal de boa von-tade. Em nenhum momento, entretanto, critico qualquer das decisõestomadas, pois foram todas baseadas nos dados então disponíveis. OComandante do Destacamento, responsável pela segurança dos mili-tares e dos familiares que ali trabalhavam, tinha sido – juntamente coma maioria dos militares – recentemente transferido para o Cachimbo e,provavelmente, não tinha conhecimento das medidas de aproximaçãoefetuadas pela expedição da AMAN. O Comando da Zona Aéreatambém tomou as decisões que visavam proteger aqueles que traba-lhavam em difíceis condições, em proveito da segurança da navegaçãoaérea e que se encontravam – segundo seu conhecimento – em situa-ção de iminente risco de vida. Dentro do mesmo espírito, o coman-dante da aeronave decidiu decolar, à noite, de Jacareacanga, em con-dições extremamente desfavoráveis e, com tal ato, escreveu uma dasmais belas páginas de coragem e heroísmo dentre as muitas que hon-ram a História da nossa Força Aérea.

O autor é Tenente-Brigadeiro-do-Ar da Reserva.

(9) Serviço de Busca e Salvamento da Aeronáutica.

Page 32: Ideias Em Destaque Incaer 18

Pedidos ao

Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail:[email protected]

Page 33: Ideias Em Destaque Incaer 18

33Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

���)*+����� �,- .����

/������"�01������!�

����������2�����������

������� ���������� �

No balanço final do tributo pago a Marte na Segunda Guerra Mun-dial, o Brasil colheu bônus e ônus, que chegam a questionar, às vezes,se saímos realmente vitoriosos do conflito.

O Brasil emergente da ilusória coalizão que derrotou o totalitarismonazi-fascista não era mais o mesmo. Ganhou dimensão estratégica eimportância geopolítica continental e mundial. Ficou comprovado ovalor das ilhas oceânicas e do saliente nordestino – cognominado Tram-polim da Vitória – para a campanha anti-submarina do Atlântico Sul epara os teatros de operações da China-Burma-Índia e do Mediterrâ-neo. Eram evidentes as marcantes transformações políticas, econômi-cas, militares e psicossociais verificadas no pós-guerra.

A aliança Brasil-Estados Unidos de 1937 a 1945 pode ser consi-derada enganosa, porque a política de ambas as nações era de conve-niência ou de fachada, mascarando os reais interesses nacionais. Osnorte-americanos, através da política de boa vizinhança, buscavam aamericanização do Brasil para neutralizar a influência germânica, e so-mente pretendiam a utilização das bases militares em nosso território eo fornecimento de matérias-primas estratégicas e alimentos, enquantoo Governo brasileiro procurava tirar vantagem do namoro aparentecom o Eixo e da ameaça latente ao continente sul-americano para ar-mar-se ante a hipótese de invasão argentina e assegurar uma políticadesenvolvimentista.

Inicialmente, os EUA, na verdade, não se preocupavam com a de-fesa do hemisfério americano nem queriam a presença de forças brasi-leiras na África ou na Europa. Consideravam-nos despreparados esem experiência para participar do conflito mundial, julgando que astropas brasileiras trariam mais problemas do que ajuda. Só muito após

Page 34: Ideias Em Destaque Incaer 18

34 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

se terem confirmado as informações transmitidas por Churchill aRoosevelt sobre a Operação Félix – que previa tropas alemãs cruza-rem a Espanha, apossarem-se de Gibraltar, instalarem-se na África eutilizarem-se de Fernando de Noronha como base de submarinos paraatuarem no Atlântico Sul – é que admitiram a possibilidade de as For-ças do Eixo ameaçarem o saliente nordestino brasileiro e comprome-terem a segurança do seu flanco sul, colocando em perigo não só oHemisfério Ocidental, mas as ações em curso na Ásia e na África.Ante as pressões de Oswaldo Aranha e de Dutra para o envio de trêsdivisões de infantaria e de uma blindada ao Teatro de Operações doMediterrâneo, visando tirar proveito da situação, os norte-americanosapresentaram uma alternativa de que ocupássemos as Guianas Fran-cesa e Holandesa ou os Açores. Em face da recusa do Governo bra-sileiro a tal proposta, acabaram concordando que enviássemos umaforça expedicionária à Itália, tida como frente secundária, mas onde seregistrou o maior número de baixas por divisão – 5.453.

Os brasileiros, por outro lado, concluíram que só a sua participa-ção ombro a ombro com os norte-americanos nos campos de batalhalhes asseguraria as vantagens almejadas pelo Governo e uma posiçãorespeitada após a guerra.

A contribuição prestada pelo Brasil na luta em defesa dos ideais deliberdade, por mais modesta que fosse, mereceria o respeito no con-certo das nações e permitiria a concretização do sonho de vir a seruma potência.

Em reconhecimento aos esforços do Brasil referentes à contribui-ção dada à vitória aliada, assim se expressou Cordell Hull – Secretáriode Estado dos EUA de 1943 a 1944 e Prêmio Nobel da Paz em 1945– em suas Memórias:

Sem as bases aéreas, a vitória na Europa e na Ásia não teria ocor-rido tão cedo. Essas bases, projetando-se à distância no Atlântico Sul,permitiram que voassem os nossos aviões, em grande número, para aÁfrica Ocidental, e dali para os teatros de operações na Europa e noExtremo Oriente; não fossem as bases brasileiras, não nos teria sidopossível ajudar os ingleses no Egito, como fizemos no momento crucial

Page 35: Ideias Em Destaque Incaer 18

35Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

da batalha de El Alamein (...). Enviou, ainda, o Brasil uma força expe-dicionária à Europa. Contribuiu sua Marinha de Guerra para opatrulhamento do Atlântico. No esforço para abastecer os EUA, per-deu o Brasil parte considerável da sua Marinha Mercante.

O United States War Production Board, posteriormente, decla-raria que “sem a produção brasileira de materiais estratégicos e a pon-te aérea [dos Estados Unidos para Belém do Pará e Parnamirim] nãoteriam cumprido as suas metas”.

Tradicionalmente, a política externa brasileira – apenas sintonizadaà política de defesa no período de Rio Branco no Itamaraty (1902-1912) – teve por finalidade defender a fronteira terrestre dos vizinhosde origem castelhana; manter o equilíbrio de poder; proteger o seuextenso litoral no Atlântico Sul, a imensa bacia amazônica, o vastoespaço aéreo, firmando, no dizer de Oswaldo Aranha, “uma verda-deira aliança de destinos” com os Estados Unidos – já antevista porJefferson – alicerçada no apoio brasileiro à hegemonia norte-america-na em troca do reconhecimento da liderança, na América do Sul e,eventualmente, na África Ocidental. Os nacionalistas, no Brasil, tinhamem mente uma outra aliança com a Argentina e o Chile, para se contra-porem à estabelecida com os Estados Unidos, evitando, assim, a do-minação por esse país.

Conseqüências Políticas

Não há dúvida quanto à posição assumida pelo Brasil em defesa dademocracia, conhecida aos olhos do mundo. A despeito das crisespolíticas internas vividas pelo País até nossos dias, a maioria da Naçãobrasileira vem assimilando gradualmente, cada vez mais, os ideais de-mocráticos.

Para espanto dos que esperavam melhores dias após a guerra, cau-sou desapontamento ver-se o Brasil excluído da Conferência de Re-parações de Guerra de Paris, ficando, assim, sem receber qualquerindenização pelos prejuízos e sofrimentos experimentados, conformeficara acordado em Ialta e Potsdam. Constituiu-se uma injustiça

Page 36: Ideias Em Destaque Incaer 18

36 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

irreparável nivelar o Brasil a países americanos, que nada fizeram pelapreservação do mundo livre, sob a alegação de que poderia lançarmão dos bens dos súditos do Eixo já penhorados e integrados à Na-ção brasileira.

Durante a vigência da política de boa vizinhança de Roosevelt, nopropósito de favorecer o pan-americanismo, o Brasil desfrutou decerta situação confortável, em que se poderia vislumbrar um futuropromissor. A partir da Conferência de São Francisco, realizada em1945, e do início do Governo Truman, sinalizadores da mudança derumo da política externa norte-americana de concepção global e desegurança avançada na Europa, África e Ásia, caíram no esqueci-mento os serviços prestados pelo Brasil no conflito mundial. Agora,o Brasil já não possuía posição estratégica vantajosa como fornece-dor de matérias-primas nem suas bases militares se faziam necessá-rias. O Plano Marshall era a prioridade e as atenções se concentra-vam na ajuda aos novos aliados.

O maior arquiteto do estreitamento dos laços com os norte-ameri-canos – Oswaldo Aranha – começava a se desapontar com a políticaexterna dos EUA e recomendava cautela.

O Brasil exigia o mesmo tratamento dispensado pelos norte-ameri-canos a outros aliados. Em conseqüência, o governo dos EUA enviou,em 1948, a Missão Abbink, a fim de ver de perto a situação do Brasile propor soluções, particularmente para a nossa economia, esboçan-do, assim, o conhecido Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Trans-porte e Ensino) do Governo Dutra e a criação da Comissão MistaBrasil-Estados Unidos.

Em 1950, possivelmente como reflexo da Guerra da Coréia, Trumanpreocupou-se com o subdesenvolvimento e tomou providências, numatentativa de se proteger contra novas guerras, instituindo o Ponto IV, quenos proporcionou alguma ajuda através do Export-Import Bank e doBanco Internacional, financiando alguns projetos importantes que, porfalhas nossas, não foram bem aproveitados.

A guerra alterou o quadro das relações internacionais, ocorrendoum surto industrial que mudou o aspecto colonial do Brasil.

Page 37: Ideias Em Destaque Incaer 18

37Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

A guerra teve conseqüências em nossa política interna. Os sacrifíci-os impostos aos brasileiros na luta contra o totalitarismo nazi-fascistaem defesa dos ideais democráticos entraram em choque e acabarampor derrubar a ditadura de Vargas. Convocada uma Assembléia Cons-tituinte, foi elaborada a Constituição democrática de 1946, ensejando-nos o retorno ao estado de direito, em que pese as crises ocasionadaspelas paixões políticas.

Finalmente, a principal conseqüência política foi o alinhamento doBrasil aos Estados Unidos.

Conseqüências Econômicas

O impacto da guerra sobre nossa frágil economia mostrou-se con-traditório.

A economia brasileira de antes da guerra se limitava à troca de cafée de algodão, principais produtos de nossa pauta de exportação, porbens de capital, manufaturados e combustíveis. Éramos um país es-sencialmente agrícola, de características coloniais, dependente de ca-pital estrangeiro. Não dispúnhamos de hidrelétricas, de refinarias e desiderurgia. Importávamos tudo de tudo.

Na iminência da guerra, o comércio exterior se intensificou e diversi-ficou, aumentando o volume e o valor das exportações, particularmentede matérias-primas, tais como: borracha, cristal de quartzo, minério deferro, além de produtos agropecuários. Passamos a ter saldos positivosna balança comercial, atingindo somas consideráveis para a época.

Terminada a guerra, o Brasil perdera antigos mercados europeus enão conseguira manter os novos, voltando a ser tradicional exportadorde cacau, algodão e café.

O Brasil arrendara aos Estados Unidos 13 navios tripulados danossa frota mercante e três petroleiros sem tripulação, ao preço sim-bólico de US$1 mensal por unidade. Ao mesmo tempo, compromete-ra-se a destinar 23 outros para a navegação entre o Brasil e portosnorte-americanos e ingleses.

Page 38: Ideias Em Destaque Incaer 18

38 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

Tivemos 32 navios mercantes afundados pelos submarinos doEixo, totalizando 140 mil toneladas, o correspondente a mais de umterço da nossa frota comercial, com a perda de 972 vidas.

Perdemos, ainda, quase dois milhões de marcos pagos à Alema-nha, referentes à compra de material de artilharia não entregue emvirtude da deflagração da guerra.

Arcamos com as despesas operacionais das Forças Armadas numtotal de US$361 milhões, cuja última prestação foi saldada em 12 dejulho de 1954.

A Lei de Empréstimos e Arrendamento (Land-Lease) dos EUA(totalizando US$200 milhões, dos quais US$100milhões destinadosao Exército), que tanto sangrou nossa debilitada economia, teve umaspecto positivo: proporcionou a modernização e revitalização dasForças Armadas brasileiras.

Finalizada a guerra, os saldos congelados nos EUA e na Inglaterraatingiram mais de seis bilhões de dólares. Dos elevados saldos emmoeda forte no exterior, provenientes de exportações feitas durante eapós a guerra, malbaratamos, lamentavelmente, quase a metade im-portando automóveis, eletrodomésticos, uísque, cigarros e quinquilha-rias, bem como aceitamos a aplicação de boa parte na recuperação deempresas estrangeiras instaladas no Brasil. Assim, pouco recebemos.

A fim de se resguardar dessa gastança, o Governo, a tempo, impôsuma licença de importação, só aprovando negócios aparentemente não-lesivos aos nossos interesses.

Desta forma, as divisas obtidas no estrangeiro, à custa de sacrifíci-os do povo brasileiro, foram esbanjadas, dando a impressão de pros-peridade às camadas mais altas da sociedade, provocando descon-tentamentos entre as menos abastadas.

O Brasil contribuiu também com vultosa quantia dos saldos existen-tes no exterior para a criação do Banco Internacional de Reconstrução.

Desprovidos de reservas cambiais e de poupança interna, recorre-mos a empréstimos externos e à emissão de moeda, dando origem a

Page 39: Ideias Em Destaque Incaer 18

39Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

contínuo fluxo inflacionário, para criar um parque industrial e promo-ver o crescimento econômico, com a exploração de petróleo na Bahia,a construção da hidrelétrica de Paulo Afonso e da Usina Siderúrgicade Volta Redonda. Não atentamos, entretanto, para as disparidadesentre empreendimentos industriais e agrícolas, bem como para as dis-crepâncias da renda per capita da Região Centro-Sul em relação àsdas demais, causando desequilíbrios regionais que acentuaram a insa-tisfação no campo e na cidade.

Preocupado com as secas do Nordeste e os desafios da Amazôniae do Centro-Oeste, o Governo lentamente procurou aumentar os in-vestimentos nessas regiões para assegurar um desenvolvimento inte-grado e harmônico da economia nacional.

Na realidade, apesar de vencedores, acabamos economicamentepior do que os vencidos.

Conseqüências Militares

A participação da FEB na campanha da Itália, ainda que conside-rada limitada no conjunto de 69 divisões norte-americanas nas opera-ções levadas a efeito em solo europeu, teve importantes reflexos emnossas Forças Armadas sob diversos aspectos.

A imagem do militar cresceu no âmbito da sociedade, ganhando omerecido respeito da Nação, resultante do elogiado desempenho emface de experimentados e determinados combatentes. O soldado bra-sileiro recuperou a auto-estima conquistada nos campos de batalhasul-americanos em defesa da Pátria.

Antes da guerra, a imagem do Brasil era a de um país continentalsubdesenvolvido, inexpressivo, fonte inesgotável de matérias-primas,foco da ambição internacional. A FEB projetou o Brasil no exteriorsobremaneira, segundo palavras do Ministro das Relações ExterioresVasco Leitão da Cunha.

Um ambiente menos rígido e tolerante prevaleceu na convivênciada caserna, rompendo o isolamento social decorrente do nível cultural,do padrão de vida e dos valores da gente fardada.

Page 40: Ideias Em Destaque Incaer 18

40 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

O aumento do efetivo demográfico da Nação, aliado à compre-ensão da necessidade de segurança e modernização das Forças Ar-madas permitiu a ampliação dos seus contingentes e quadros.

O Exército reestruturou-se completamente, adquirindo armamen-to moderno, canhões antiaéreos e de campanha com maior alcan-ce, motorizando-se, mecanizando-se e substituindo as Unidadeshipomóveis por outras dotadas de grande capacidade de fogo emobilidade. O advento do avião, do helicóptero, dos mísseis, dosblindados, das forças aeromóveis e aerotransportadas, de moder-nos equipamentos de engenharia, de comunicações e de guerraquímica sinalizou o início de nova era. Fez-se mister uma guerrapara que atingíssemos patamar reclamado há muito tempo.

A criação da Comissão Militar Mista Brasil-Estados Unidos veiomuito contribuir para o profissionalismo e a modernização das ForçasArmadas brasileiras.

A guerra exigiu tais transformações e estas demandaram maioresgastos para os cofres públicos. Era o preço a pagar pela liberdade – sivis pacem para bellum.

Trocamos a doutrina francesa defensiva de emprego das forças ter-restres pela norte-americana de concepção ofensiva e, então, cônsci-os das nossas potencialidades e vulnerabilidades, fomos estimulados adesenvolver a doutrina militar brasileira.

A Guerra Fria, marcadamente ideológica, trouxe-nos outros de-safios para os quais não estávamos preparados – a guerra revoluci-onária e psicológica, cujo fantasma volta a pairar sobre o mundo.Devemos agir com muita prudência e discernimento para não abdi-carmos da nossa identidade nacional e dos valores tradicionais deamantes da liberdade. Priorizar – nesta seqüência – os interessesnacionais, regionais, continentais e internacionais, tendo sempre emmente que somos cristãos, ocidentais e americanos; não confiar anossa segurança a terceiros nem nos deixar levar por modismos pas-sageiros ou aceitar alinhamento automático de qualquer natureza dequem quer que seja.

Page 41: Ideias Em Destaque Incaer 18

41Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

Os avanços tecnológicos aplicados à arte da guerra exigiram que osoldado de nossos dias tenha mais cultura e melhor nível educacional. OExército, portanto, não deve retroagir aos tempos das antigas escolasregimentais e dos centros profissionalizantes para os contingentes incor-porados às suas fileiras, em detrimento da formação militar do soldado.Não podemos nos dar ao luxo de repetirmos o erro de ir à guerra comadvogados, engenheiros, médicos e outros profissionais liberaisespecializados preenchendo claros de combatentes das armas-bases. Aseleção e a classificação processadas empiricamente e sem critérios ci-entíficos na guerra passada não têm mais lugar. Modernamente, dispo-mos de processos que aproveitam o convocado segundo suas aptidõese tendências, impedindo desajustamentos inaceitáveis.

Os norte-americanos exerceram influências altamente benéficas napadronização dos programas de instrução – os famosos PPs – e demétodos atualizados de ensino e de instrução, nivelando e sistemati-zando os conhecimentos.

A especialização prevaleceu sobre a generalização diminuindo oacademicismo e levando-nos à criação da EsIE e de outros estabele-cimentos de ensino especializados.

A realização de estágios e cursos ministrados em centros de estu-dos e pesquisas ou estabelecimentos de ensino militares e civis estran-geiros por oficiais e graduados brasileiros elevou o nível cultural dosquadros da Força Terrestre.

A adoção do sistema de ensino à distância difundiu conhecimento,facilitou o ensino de línguas e reduziu custos, mantendo os quadrosatualizados. Foi outra grande experiência introduzida entre nós pelocontato com os norte-americanos.

As alterações dos currículos nos estabelecimentos de ensino mili-tares, abrindo espaço para o estudo de Chefia e Liderança, Pedago-gia, Psicologia e Sociologia, indispensáveis à formação dos quadros,veio sanar lacunas constatadas há anos.

Do convívio com as tropas estrangeiras, de cultura, hábitos e men-talidade completamente diferentes, sentimos a influência profunda

Page 42: Ideias Em Destaque Incaer 18

42 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

verificada na disciplina, tornando-nos mais compreensíveis, humanos,liberais, menos rígidos e isentos de preconceitos. A disciplina autoritá-ria e do medo cedeu lugar à consciente, reduzindo a distância entresubordinados e superiores.

O fardamento usado pelos norte-americanos durante a campanhaitaliana serviu de modelo para o novo plano de uniformes do Exército,adotado logo após a guerra. Foram abolidos o talabarte Sam Browne,inglês, as botas, a espora e o esporim, o culote, a túnica abotoada atéo colarinho, o capacete tipo adriano francês, a capa “Ideal” e a pelerine,tornando-o mais confortável, distinto, funcional, simples e adequadoàs variações climáticas.

A guerra revelou o despreparo das Forças Armadas para cum-prir missões além-mar em terreno adverso e sob severas condiçõesclimáticas.

Não possuíamos mentalidade de país marítimo com vasto litoral,forçando-nos o estabelecimento de um programa de reaparelhamentoda Marinha de Guerra.

A necessidade de centralização dos meios aéreos levou à criaçãoda Força Aérea Brasileira e à fabricação de aeronaves.

A evidente carência de um órgão de cúpula de planejamento e decoordenação do emprego das Forças Armadas exigiu a criação, em1946, do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), predecessordo Ministério da Defesa, da Secretaria, do Conselho de SegurançaNacional (existente desde 1927 com o nome de Conselho de Defesa),da Escola Superior de Guerra (1949), despertando as elites para amagnitude dos problemas de segurança e desenvolvimento e a res-ponsabilidade de todos os cidadãos. A despreocupação do Brasil comas ameaças latentes internas e externas configuradas em hipóteses deguerra atualizadas colocou-nos em situação crítica por não darmos aimportância devida ao preparo da mobilização e desmobilização.

Infelizmente, a criminosa desmobilização prematura da FEB (antesda sua chegada ao Brasil), por razões políticas e injustificáveis ciúmes,geradora de problemas insolúveis até agora, impediu-nos a absorção

Page 43: Ideias Em Destaque Incaer 18

43Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

de valiosos ensinamentos colhidos a duras penas nos campos de bata-lha. A maioria das praças licenciadas não recuperou os empregos quetinha antes da guerra. Muitos sequer tinham profissão e na volta foramabandonados à própria sorte. Boa parte dos oficiais de carreira viu-seespalhada pelo País afora, não tendo a sua experiência de combateaproveitada. Que lhes sirva de alento o sábio conselho do Padre An-tônio Vieira: “Se servistes à Pátria e ela vos foi ingrata, vós fizestes oque devíeis e ela o que costuma”.

A FEB foi a única tropa ibero-americana, integrada por brancos,negros, pardos e amarelos, a cruzar o Atlântico para lutar além-mar,causando perplexidade como os brasileiros conseguiam essa proezasem choques raciais.

Constituiu-se um esforço sobre-humano e até mesmo verdadeiromilagre que tenhamos ido à guerra e nos superado, ante o nosso grau dedespreparo e subdesenvolvimento, cobrindo-nos de glórias.

Podemos nos ufanar das palavras de despedida do Tenente-Gene-ral Willis D. Crittenberg, Comandante do 4o Corpo de Exército, queenquadrava a 1a DIE:

(...) Combatestes brava e valentemente e contribuístes substan-cialmente para a conquista da vitória das Nações Unidas (...). Podeisestar orgulhosos, com a certeza de terdes cumprido integralmentea missão para a qual o povo brasileiro vos enviou para solo estran-geiro. (...)

Esta mensagem acompanhava a outorga do título de membro ho-norário do 4o Corpo de Exército dos EUA a todos os integrantes da 1a

DIE, não homologada pelo Congresso dos EUA.

Por outro lado, os feitos do soldado brasileiro em campanha nãoempolgaram a juventude a procurar a carreira das armas.

Conseqüências Psicossociais

A mobilização procedida em clima de guerra psicológica adver-sa converteu a propaganda negativa em positiva – é mais fácil a

Page 44: Ideias Em Destaque Incaer 18

44 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

cobra fumar do que a FEB embarcar – no seu símbolo e lema – acobra fumando.

O brasileiro levava a sua vidinha tranqüila, isolado nos trópicos,sem pressões, acomodado aos interesses regionais ou locais, não seapercebendo das graves ameaças que o aguardavam.

A guerra registrou a penetração norte-americana no País e o pós-guerra a disseminação da cultura e dos costumes norte-americanos.O francês saiu de moda e a língua inglesa dominou por meio do cine-ma, do rádio, da música e da mídia em geral. Contribuíram, ainda,para tal, bolsas de estudo, programas de intercâmbio e de visitas aosEUA, patrocinados pelo governo norte-americano, afora o comér-cio incrementado de vestuário e produtos alimentícios. O fascíniopelo way of life, pelos automóveis luxuosos e bens de consumo atra-entes, resultado de propaganda, levou à americanização da socieda-de brasileira.

A ruptura de acordos firmados no tempo da guerra e a Guer-ra do Vietnã conduziram ao distanciamento político entre osdois povos.

As correntes migratórias avolumaram-se no pós-guerra, quantitati-va e qualitativamente, incluindo até contingentes de alemães, italianos ejaponeses, prova de nossa índole pacífica e hospitaleira, e evidênciade que temos condições ainda de abrigar gente de diversos padrõesculturais e de qualquer parte, disposta a trabalhar de boa vontade peloengrandecimento da Nação.

No pós-guerra, constatou-se elevação da expectativa de vida equeda da mortalidade infantil, valorização do homem, com reduçãodas chagas do analfabetismo e de doenças endêmicas, mas conser-vando também índices deprimentes terceiro-mundistas de desenvol-vimento social, fome e miséria, que até hoje nos afligem.

A explosão populacional que se seguiu ao conflito acentuou afalta de uma política social para atender à demanda habitacional,assistencial e trabalhista, geradora de empregos. Intensificou-sea prática de esportes e da educação física. Sentiu-se necessidade

Page 45: Ideias Em Destaque Incaer 18

45Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

de comunicação social e de massa, bem como da eliminação dosquistos raciais estrangeiros.

A convocação de cem mil homens para se selecionar 25 mil para aFEB mostrou a falta de higidez do povo em geral, por inexistência debons hábitos de alimentação e de higiene, especialmente nas cama-das de onde provinham os soldados.

Conclusão

É um erro associar a Revolução de 1964 à doutrina de segurançanacional inspirada pela ESG, e muito menos aos norte-americanos,mas inegavelmente o espírito da FEB serviu de fio condutor de idéiasantigas e enraizadas dos militares que levaram o Brasil a ser içado a 8a

economia do mundo.

A epopéia escrita pela FEB na Itália, junto com as Marinhas deGuerra e Mercante no Atlântico Sul e a FAB nos céus brasileiros eeuropeus, não poderá cair no esquecimento das gerações de hoje efuturas e ver-se substituída das páginas da nossa História Militar, quese confunde com a da própria nacionalidade, no dizer de Pedro Calmon.

O patriota e talentoso General Góes Monteiro, em correspondên-cia ao Ministro das Relações Exteriores Oswaldo Aranha, no ano de1944, dizia: (...) “deixarmos transcorrer o atual momento histórico (...)sem nos levantarmos do berço para adquirirmos uma posição sólida edesafogada no continente, creio que arriscaremos a perder tudo mais”.

O mundo travava a maior guerra já enfrentada pela Humanidade eos líderes civis e militares brasileiros se empenhavam para alcançaruma posição compatível com a estatura do Brasil.

Se não logramos êxitos no campo econômico, mais por culpa pró-pria, a guerra não nos trouxe apenas sacrifícios. A participação brasi-leira no conflito serviu para despertar o gigante adormecido e repre-sentou, em síntese, um ponto de inflexão do Brasil para a modernidade.

História não é simpatia ou antipatia, mas verdade comprovada pelosfatos. De nada vale se não colhermos ensinamentos dos acertos e erroscometidos no passado para projetarmos um futuro mais promissor.

Page 46: Ideias Em Destaque Incaer 18

46 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 33 - 46, maio/ago. 2005

Luiz Paulo Macedo Carvalho

Constitui, pois, é bom lembrar, autêntico desserviço à nacionalida-de brasileira neste momento não referenciar acontecimentos históricosque deram rumos diferentes ao Brasil em seu processo evolutivo hásessenta anos.

O autor é Coronel QEMA Reformado, Membro do Instituto Histórico eGeográfico Brasileiro e da Academia Portuguesa da História.

Page 47: Ideias Em Destaque Incaer 18

47Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 47 - 52, maio/ago. 2005

Tacarijú Thomé de Paula Filho

,- .3� ������!����01�

!���"��! ��������� ��� �

Há algumas décadas, os pensadores da educação iniciaram ummovimento, no sentido de deslocar o centro de gravidade do processoensino-aprendizagem do educador para o educando. Na época, fala-va-se de uma educação centrada no aluno, superando aquela centradano mestre, que tudo sabia sobre as coisas e sobre as pessoas. Tudoindica que a mensagem foi entendida de várias maneiras diferentes,resultando em discursos muitas vezes plenos de emoção, ou mesmode difícil entendimento para os não iniciados. De qualquer forma, sem-pre será necessário estabelecer-se o que o educando precisa saber efazer, a fim de realizar uma atividade específica por ele escolhida.

Antes de responder a questão “do que saber para fazer?”, pense-mos no educando como um sujeito singular, que nunca reproduz o jáfeito, seja por ele mesmo, seja por outro alguém. Um músico, por exem-plo, jamais toca a mesma sinfonia do mesmo modo uma segunda vez.Sua interpretação está sujeita às mais diversas interferências, todas im-possíveis de serem controladas, visando reproduzir o mesmo, sejam elasambientais, sejam fisiológicas, sejam psicológicas. Um músico interpretaa mesma sinfonia de forma diferente a cada momento que a toca.

Assim, é tudo o que o sujeito faz. Em seu fazer a “mesma coisa”,sempre haverá uma diferença, um novo, um jamais realizado, mesmoquando produz um componente de um sistema físico qualquer. Se dese-jarmos a repetição, isto é, que o componente seja sempre igual, é preci-so encontrar uma máquina, um computador, que substitua o sujeito e ofaça sempre do mesmo modo e com o mesmo resultado. Diferentemen-te dos sujeitos, o “software” de um computador reproduz o igual, oumelhor, é esta a característica que neles buscamos insistentemente. Fun-ciona como a gravação da interpretação de uma sinfonia que semprereproduz a interpretação gravada num momento do passado.

O sujeito, em seu permanente vir-a-ser histórico e jamais repetido,nunca será reproduzido nos “softwares” e computadores, que ora

Page 48: Ideias Em Destaque Incaer 18

48 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 47 - 52, maio/ago. 2005

Tacarijú Thomé de Paula Filho

conhecemos. Tais “softwares” são valiosos porque repetem. Senão se repetissem, para que serviriam afinal? (Demo, 2002)

O mistério do homem está muito além das máquinas por ele conce-bidas. O código das máquinas não reproduz a combinação semânticae sintática da linguagem em seu deslizar de intensidades e sentidos; ocódigo do “software” é sempre o mesmo. A linguagem por seu lado épura interpretação a partir de uma base codificada cheia de lacunas. Alinguagem carrega um conteúdo, cujo sentido se transforma a cadamomento, em função da emoção que atravessa a percepção da reali-dade, em função dos limites da simbolização do pensamento humano.

Embora se faça diferença entre realidade física e realidade psíqui-ca, sendo esta última uma realidade considerada virtual, ambas se con-fundem numa realidade para o sujeito que percebe. É dessa realidadeque estamos falando.

De fato, a realidade representada pelo pensamento do sujeito nun-ca retrata a realidade física em si, na medida em que o simbólico nãorecobre inteiramente o real. O pensamento não é capaz de reproduziro físico, apenas o interpreta ao preencher as lacunas da percepção edo jogo simbólico das representações estruturalmente incompletas.Além disso, se olharmos a base orgânica sobre a qual ocorre o pensa-mento, descobriremos que a trama dos neurônios e seus engramas nãoexplicam o conteúdo do pensamento.

Alguns podem imaginar a possibilidade de se controlar quimica-mente os pensamentos, atuando-se sobre essa base orgânica. Isso sóseria possível se houvesse uma relação direta e linear entre esta e oconteúdo dos pensamentos. Felizmente, é impossível descrever esseconteúdo a partir da visão dos campos elétricos existentes na comple-xidade cerebral, ou mesmo observando o comportamento do sujeito.Tais campos, ou os comportamentos observáveis, apontam apenaspara a possibilidade da existência de um pensamento, sem vislumbrar,contudo, a intenção do sujeito que pensa, sem vislumbrar seus moti-vos, sem vislumbrar suas expectativas.

O sentido do pensamento, de seu conteúdo, transcende a base or-gânica sobre a qual se estrutura. Como já foi dito, a mente humana

Page 49: Ideias Em Destaque Incaer 18

49Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 47 - 52, maio/ago. 2005

Tacarijú Thomé de Paula Filho

representa a realidade percebida através de símbolos, os quais se mis-turam inteiramente com o deslizar das intensidades emocionais e coma incompletude estrutural da linguagem, alterando constantemente oseu sentido durante o processo de comunicação (Freud, 1990). Nes-se processo, a questão não está no que foi transmitido, mas na inter-pretação do que foi recebido (Sfez, 1992). Portanto, poderíamos di-zer que o diálogo é um contrato com o mal entendido que, paradoxal-mente humano, só se resolve no próprio diálogo.

Freud chegou a dizer que a educação seria um ofício impossível, namedida em que você sabe o que ensina, contudo nunca sabe o que osujeito aprende. Evidentemente, estava falando do processo de inter-pretação da realidade, que ocorre, tanto na transmissão do conheci-mento, quanto na sua recepção. Nenhum dos dois momentos retrata-ria a realidade tal qual ela é, na medida em que cada sujeito elabora umsentido singular para o conhecido segundo seus desejos, interesses eintensidades emocionais. Todos, além do alcance de controle do edu-cador, que, pelos mesmos motivos, não controla suas interpretaçõesda realidade percebida.

Como seria então uma educação centrada no educando, ou mes-mo no educador, se estamos diante de um permanente “mal entendi-do”? Como o conhecimento poderia ser passado entre as gerações,se o que se ouve é diferente do que foi dito? Tudo indica que o conhe-cimento é transmitido sempre se alterando, tanto a cada transmissão,quanto a cada recepção. Durante o processo educacional, a própriatransformação do mundo parece dominar a comunicação e não o in-verso. Ou será que há um jogo de forças entre o homem e seu mundo,energizando suas transformações? Talvez exista algo de revolucionárioem todo e qualquer processo educacional, independentemente de nos-sos desejos mais conservadores.

Diante desse paradoxo, imaginemos um sistema educacional, noqual estão presentes todos os requisitos definidores de sistema. Nonosso caso, o sistema não é físico, mas cultural. Portanto, não possui apossível estabilidade linear dos sistemas físicos, sendo dependente muitomais da complexidade dos valores e das atitudes de seus componen-tes do que de um relacionamento formal estabelecido por lei (Demo,

Page 50: Ideias Em Destaque Incaer 18

50 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 47 - 52, maio/ago. 2005

Tacarijú Thomé de Paula Filho

2002). De qualquer forma, há uma entrada disparadora de seu mo-vimento, um processo de geração de resultados, alguns critérios deavaliação destes resultados e uma retroalimentação capaz de mantê-lo atualizado.

Diferentemente de um sistema físico, o sistema educacional nuncavolta ao mesmo ponto de partida, isto é, a retroalimentação não servepara corrigi-lo e obrigá-lo a reproduzir de forma padronizada o mes-mo. A retroalimentação dos sistemas culturais serve para atualizá-losnum permanente vir-a-ser transformador e criativo, nunca na reprodu-ção do que foi, ou do que era.

Assim, tomando como referência a complexidade dos sistemas cul-turais, nos quais jamais se consegue reproduzir o mesmo, nos quais arepetição é puro engano, olhemos com dúvida para o que se apresentacomo modelo educacional. Um modelo sugere a possibilidade da repe-tição, da produção em massa, induzindo os não iniciados a acreditaremna existência de fórmulas salvadoras para os resultados da educação.

Numa tentativa de esquematizar nosso argumento, visualizemos osujeito dividido em conhecimentos, habilidades e atitudes. Sendo Co-nhecimento, a capacidade de representar a realidade através de sím-bolos a ela relacionados; habilidade, a capacidade de transformar arealidade através de seus atos; e atitude como sendo o seu modo deser diante da realidade. Esses aspectos se misturam numa trama maiorque a soma de suas partes. Nenhum deles se manifesta isoladamente,nem pode ser deduzido a partir dos demais.

Ainda esquematizando, diríamos que uma atividade qualquer temalguns requisitos para sua realização, os quais poderiam ser expostosde acordo com conhecimento, habilidade e atitude. Tais requisitosbalizariam o perfil daquele capaz de realizá-la. Assim, ao construirmoso processo educacional, teríamos como referência esses requisitos.Foi o que a taxionomia dos objetivos educacionais de Bloom preten-deu ao estabelecer domínios relativos ao campo cognitivo, ao campopsicomotor e ao campo afetivo. Cada domínio focando, respectiva-mente, um dos requisitos do perfil desejado: conhecimento, habilidadee atitude (Bloom, 1976).

Page 51: Ideias Em Destaque Incaer 18

51Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 47 - 52, maio/ago. 2005

Tacarijú Thomé de Paula Filho

A questão agora é: como definir os requisitos para uma determina-da atividade? Na era do conhecimento e da comunicação, provavel-mente o será perguntando às figuras representativas dessas atividades(“experts”) o que elas esperam como resultados objetivos, o que elaspensam sobre os requisitos para atingi-los. Contudo, ao se estruturaro sistema educacional com seus objetivos bem elaborados e focadosnos requisitos estabelecidos, surpreendentemente, o processo ensino-apredizagem não responderá ao esperado pelos “experts” das dife-rentes atividades. Haverá lacunas, haverá diferenças, haverá novida-des inesperadas.

A avaliação do desempenho dirá que algo deve ser feito, no senti-do de “melhorar” o processo, no sentido de atualizá-lo, de fazer comque ele responda às expectativas dos “experts” consultados. Algo seráfeito e, de novo, não será o ideal, não será o esperado. Estará fora deseu tempo. Assim, teremos um eterno recomeço, sempre “girando”,sempre mudando a cada “giro”, sempre se afastando do antes e nuncachegando ao depois.

De novo, perguntamos aos “experts” o que esperam das ativida-des realizadas pelos “doutores”, pelos sacerdotes, pelos militares, pelostécnicos, pelos artífices, pelos que plantam nossa comida. Suas res-postas estarão de acordo com seu tempo, mas fora do tempo futurodo educando. O sistema educacional partirá do agora e chegará aoantes no futuro, quando as atividades se faziam diferentes. Finalmente,o sistema produzirá alguém que precisa de atualização, para realizar aatividade para a qual teria sido preparado.

A resposta para esse paradoxo parece estar numa Educação Per-manente, que escape do conceito de Formação e mergulhe no de Atu-alização. Atualização parece estar mais próxima do sujeito que nuncase repete, tal qual o descrevemos neste texto; Formação parece estarmais próxima da possibilidade de repetição do mesmo, tal como ocor-re “mecanicamente” nos “softwares”.

A operacionalização desse conceito será viável se os educadoresdescobrirem que sabem o que já passou e puderem ouvir os “experts”das atividades em suas atualidades; se os educadores se conformarem

Page 52: Ideias Em Destaque Incaer 18

52 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 47 - 52, maio/ago. 2005

Tacarijú Thomé de Paula Filho

que precisam perguntar para saber e que saberão sempre em atrasocom o futuro, que será o presente do educando. O papel dos educa-dores neste novo tempo é criar as condições favoráveis para que oprocesso educacional “gire” em seu eterno movimento de atualização,para que o educando esteja sempre com o olhar no tempo que virá.

Se alguém se perguntar o que é educar, já que não aportaremos emlugar algum neste processo, eu diria que o lugar finalmente esperadonão existe ainda, é apenas uma imagem atraindo uma esperança quefala do futuro. A vida é um processo helicoidal em perpétuo movimen-to, deslocando-se para um infinito desconhecido. Quando imaginamosvoltar ao mesmo lugar, estaremos um passo adiante e não reconhece-remos nele o passado esperado com saudade.

Inventar constantemente a própria vida parece ser o destino huma-no. A educação, longe de ensinar o presente, é apenas uma plataformade lançamento para o futuro ainda virtual. Quando se imagina que sepossui o saber, descobre-se alguém tateando por caminhos nunca tri-lhados, por sendas do conhecimento ainda por serem desveladas, porenigmas da existência guardados pelos desígnios do Criador, pelo “deonde vim e para onde vou?”, ainda sem resposta fora Dele.

O autor é Coronel-Aviador da Reserva da Aeronáutica.

Page 53: Ideias Em Destaque Incaer 18

53Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 53 - 55, maio/ago. 2005

Milton Mauro Mallet Aleixo

�� 4�)��5� � '��

�� #��������� �#�� ��$�

“Oitobeá” era a oitava missão do Curso Básico (BA) de VI (Vôopor Instrumentos), na Escola de Aeronáutica.

Era a famosa missão de pau-e-bola, cujo nome oficial guardavauma pompa: Painel Parcial.

Até aí muito lero-lero, mas explicando numa linguagem mais popular,era uma desgraceira de uma hora e meia de vôo, sob capota, na naceletraseira do T-6, voando Instrumentos com auxílio apenas do pau-e-bola(Indicador de Curvas e Viragens), daí o nome de Painel Parcial.

Essa missão apresenta uma semelhança com aquela máxima do “vaidar de novo” (relativa ao cavalo-de-pau). É que só o Santos-Dumontconseguiu fazê-la (voá-la) apenas uma vez, sem repetir. E assim mes-mo porque ele foi um privilegiado: o único aviador que não teve Instru-tor. Eu levei pau na primeira e repeti UMA vez, com meu Mestre, o“Boi”. Pois é aí que começa nossa história, e a minha desdita.

O “Boi” era um gauchão gente boa, mas era gauchão. E, como tal,“brabo pra caramba”. Tendo eu “dançado” na primeira tentativa emsuperar a 8BA, o amado Mestre, compadecido, resolveu me ajudarum pouquinho. Já me ajudara uma vez, na primeira 8BA, com a tal“Ficha Rosa pra ajudar”, outra lenda da Instrução de Vôo.

Então, na minha segunda 8BA, depois de uma hora e meia de vôo,eu, zonzo, já via estrelas, inclusive devido à fome, pois era hora doRancho do almoço... E nós ali voando. Foi quando notei a sutileza deo manche mover sozinho, sem meu comando. Era o “Boi” me ajudan-do, ele que, diga-se, a bem da verdade, não era “manche mágico”. E,como “cadete tem parte com o demônio” (essa expressão é dele),fiquei quietinho, “na moita”, sem comandar mais nada. Lembrei deum outro IN, esse, sim, “manche mágico”, que ainda tinha a “cara depau” de dizer para o cadete:

– Não contraria não, moreno.

Page 54: Ideias Em Destaque Incaer 18

54 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 53 - 55, maio/ago. 2005

Milton Mauro Mallet Aleixo

Mas desse eu não digo o nome. Minha turma sabe quem é.

Foi quando, para minha desgraça, o “Boi” notou a malandragem.Então, enfurecido, começou a urrar uma seqüência de palavrões, quenão posso repetir aqui e, simultaneamente, ensandecido, a rodar omanche como se estivesse mexendo aquele panelão de feijão no Ran-cho. Ainda bem que eu estava de capacete, pois minha cabeça acom-panhava, sem eu querer, os movimentos do manche, batendo de um aoutro lado do canopi.

De repente silêncio, calmaria, missão encerrada. E retornamos parao pouso, que era feito pelo IN, lá da nacele da frente.

Eu resolvera nem abrir a capota de VI; fiquei escondido lá, imagi-nando o que aconteceria após o corte do motor. Paramos no estacio-namento já com o motor cortado, havia pressa, eu só não sabia paraquê, seria para o almoço?

Depois, o avião estremeceu com o salto do “Boi” para cima da asaesquerda. E eu esperando a primeira lambada. A minha nacele estavafechada, mas aquilo não era impedimento para o gauchão, imagine!

De repente, passados alguns poucos minutos, abri a capota de VIe, devagarzinho, a nacele. O Brabo não estava mais lá. Desci e fuiandando para o hangar para preencher a Ficha FAB (Relatório deVôo). Lá na frente caminhava o “Boi”. Foi quando ele fez meia-volta eveio em minha direção.

“Pô”, eu fiquei preocupado. Não era só por levar uns cacetes. Éque eu, embora magrinho, era um bocado “encardido” (irado). Jápassara seis anos de Escola me defendendo de cearenses e gaúchoscom um famoso porrete, que por acaso preservo até hoje, na mala docarro. Não aquele, mas uma versão aperfeiçoada. O que eu via ali erao meu desligamento, pois eu não iria apanhar calado. Apanhar eu ia,mas calado não.

Então o “Boi” me abraçou, aquele abraço de gaúcho, que quase teesmaga ou, no mínimo, quebra costelas, e falou:

– Eu pensei em te encher de pancada... Pensei em te desligar, em teaplicar mil estrelas, mas...

Page 55: Ideias Em Destaque Incaer 18

55Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 53 - 55, maio/ago. 2005

Milton Mauro Mallet Aleixo

Aí ele parou, fez suspense. E eu querendo saber o que viria depoisdo “mas...”, era só isso que me interessava. Então ele concluiu:

– Mas cadete é assim mesmo, “tem parte com o demônio”. Nuncamais faça isso! Vamos almoçar.

Assim foi o final feliz. Hoje o “Boi” mora aqui em Fortaleza e sem-pre que a gente se encontra ainda dá boas risadas lembrando desselance.

Legenda:

– Estrela: moeda corrente na Instrução para punir as mancadasdos cadetes. A arrecadação era utilizada no final do ano para um chur-rasco dos Instrutores.

– Capota de VI: cortina branca, de lona, que impedia totalmente avisão para o exterior do avião.

O autor é Coronel-Aviador da Reserva da Aeronáutica.

Page 56: Ideias Em Destaque Incaer 18

Pedidos ao

Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail:[email protected]

Page 57: Ideias Em Destaque Incaer 18

57Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 57 - 59, maio/ago. 2005

Carlos de Meira Mattos

(���/� 5��������-�

"���������67���

�� ������������##��

A Assembléia Constituinte de 1988, pressionada pelas Organiza-ções Não Governamentais (ONGs), colocou na Constituinte vigenteconceitos de interpretação duvidosa sobre “terras tradicionais dosíndios”. Baseado em critério interpretativo questionável, o Executivohomologou, com decretos e portarias, as reivindicações sobre reser-vas indígenas, totalizando 1/10 do território nacional, para uso privile-giado de cerca de 700 mil índios, entre tribais e semitribais, divididosem 215 etnias, com 180 línguas e dialetos (IBGE).

Buscando responder críticas internacionais acusatórias de inefici-ência na preservação do meio ambiente e na contenção da destrui-ção da floresta tropical, o Governo Sarney, em 1988, lançou o Pro-grama Nossa Natureza, estabelecendo a Política de Desenvolvi-mento Sustentado.

Visando executar o Programa foi criado o Ibama, que vinha ob-tendo resultados favoráveis no combate ao desmatamento, mas que,ultimamente, tem perdido eficiência por falta de recursos financeiros epor vergonhosa corrupção.

A propaganda das idéias de internacionalização, lançadas na Euro-pa e nos Estados Unidos pelas ONGs transnacionais, vem conquis-tando um número crescente de adeptos no exterior e mesmo no nossoPaís, particularmente entre as organizações que delas recebem financi-amento e brasileiros que delas dependem por seu emprego.

Qual tem sido a atitude do Governo brasileiro em face das investidasinternacionalistas? Algumas vezes cega, outras vezes dúbia, cedente e,em parte, vacilante. Poucas vezes firme.

As ONGs internacionalistas escolheram para tema de sua penetra-ção a questão indígena e, para área principal de operação, o territórionorte do Estado de Roraima, contíguo às nossas fronteiras com a

Page 58: Ideias Em Destaque Incaer 18

58 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 57 - 59, maio/ago. 2005

Carlos de Meira Mattos

Venezuela e República da Guiana. Elas escolheram uma região vulnerável,pela distância dos grandes centros, pelo seu despovoamento, pela suacontigüidade com um espaço trifronteiriço (Brasil – Venezuela – Repúblicada Guiana).

A constância de sua ação e o apoio de ONGs internacionais nassuas pressões sobre o Governo brasileiro já lhes asseguraram duasvitórias: a demarcação das reservas indígenas de Ianomâmis, superfí-cie de 96.649 km2 (equivalente à do Estado de Santa Catarina) parauma população de cerca de nove mil índios; e a demarcação das re-servas dos índios de Raposa Terra do Sol, superfície de 17.430 km2

(metade do território do Estado do Rio de Janeiro) para uma popula-ção de 15 mil índios. A soma da superfície destas duas reservas este-riliza para a ocupação e economia cerca de 50% do território do Esta-do de Roraima.

Nossa política de defesa contra as pretensões de internacionali-zar a nossa Amazônia, a nosso ver, deve se basear nos seguintesitens principais:

� Demonstrar vontade nacional inabalável de preservar intocávelnossa soberania territorial (para isto mobilizar a consciência das eli-tes e do povo);

� Possuir uma diplomacia super ativa e vigilante, capaz de refutarveementemente, de imediato, qualquer insinuação ou projetointernacionalista, envolvendo o Brasil, surjam eles onde surgirem, emqualquer país ou em entidade internacional;

� Estreitar nossas relações com os países nossos vizinhos amazô-nicos, buscando integrá-los na missão de defesa contra a campanhade internacionalização da área. Incentivar os projetos de povoamentoe de desenvolvimento sustentado da Amazônia Norte e Oeste;

� Administrar eficazmente a proteção da floresta, a proteçãoda população indígena e a preservação do meio ambiente (semprejuízo da valorização política, econômica e social da região e deseus habitantes);

Page 59: Ideias Em Destaque Incaer 18

59Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 57 - 59, maio/ago. 2005

Carlos de Meira Mattos

� Manter na região um dispositivo militar de defesa, especi-alizado em guerra na selva, que, por seu efetivo, armamento mo-derno, equipamento e adestramento represente uma força dedissuasão convincente, capaz de desencorajar aqueles que proje-tem uma conquista fácil.

Este é o grande desafio diante dos brasileiros desta geração. Sabe-remos respondê-lo?

O autor é General-de-Divisão Reformado do Exército, veterano da Segunda Guerra Mundial, Doutor em Ciência Política

e Conselheiro da Escola Superior de Guerra.

Page 60: Ideias Em Destaque Incaer 18

Pedidos ao

Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail:[email protected]

L A N Ç A M E N T O

Page 61: Ideias Em Destaque Incaer 18

61Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

��!�������"����01����

)������ !�-�)�

���� ���������������

O artigo reúne quatro comentários do autor sobre o Estado,cujo conceito parece atravessar uma fase de ajustamento no mundoque emergiu do fim da Guerra Fria.

O Estado, uma Entidade Imprescindível

O Estado moderno, como conceito e como ordenamento políticoinstitucional, começa a desenvolver-se na Europa a partir do séculoXIII. A sua característica principal é a busca da centralização do po-der em uma instância que abarque as relações políticas fundamentais.Entre os séculos XVI e XVIII a noção do Estado assentou-se em umaconcepção mercantilista de economia, que buscava aumentar o poderdos Estados às expensas dos demais Estados rivais. Não foi sem ra-zão que essa doutrina econômica resultou paralela ao surgimento eauge do absolutismo.

Ao final do século XVIII, tanto mercantilismo como absolutismo en-traram em crise. A convergência da economia de mercado, na área eco-nômica, e do Estado de direito, no campo político, geraram as bases deuma nova ordem. A chamada ordem liberal, a qual buscava traçar limi-tes precisos ao Estado, locando barreiras ao exercício de seu poder.Não obstante, longe de iniciar-se nesse momento o declínio do Estado,o mesmo vai adquirir novos ares com a aparição do fenômeno naciona-lista. De acordo com ele, a lealdade fundamental do cidadão deveria serdirigida ao Estado-Nação.

O período compreendido entre o final do século XVIII e início doséculo XIX é conhecido com a Era das Revoluções. Durante esseespaço de tempo, ocorreram a Revolução Americana, a RevoluçãoFrancesa e a Guerra da Independência Hispano-Americana. Todaselas se assentaram sobre a idéia do Estado-Nação como conceito

Page 62: Ideias Em Destaque Incaer 18

62 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

superior. A tese da soberania popular, originária de Rousseau, provêas bases para a consolidação deste novo conceito de Estado. Ao lon-go do século XIX, o poder deste fortaleceu-se na Europa, cavalgandosobre a idéia do nacionalismo. Surgiram, nesse momento, novos Esta-dos centralizados, como Alemanha e Itália.

O século XX levou o Estado a limites nunca vistos anteriormente.Nele se produziu a estadolatria dos totalitarismos fascistas e comu-nistas. Terminada a Segunda Guerra Mundial, por sua parte, o Esta-do-Nação se identificou com o processo de descolonização na Ásia ena África, expandindo o seu âmbito em nível planetário. O períodocompreendido a partir da Segunda Guerra caracterizou-se pelacontraposição de dois superestados e de seus respectivos aparatos esistemas de alianças.

Entretanto, ao iniciar a década final do século XX, um autêntico cata-clismo fez sacudir em seus alicerces a noção de Estado, conduzindo-o auma intensa crise histórica. As ameaças, que hoje recaem sobre esteantigo e familiar conceito, são tão grandes quanto variadas. Sob o as-pecto jurídico, o político e o econômico, a sobrevivência do Estadocomo instituição fundamental está seriamente comprometida. Isto foi oresultado inevitável do colapso do comunismo, que trouxe consigo aimplantação de todo um conjunto de paradigmas emergentes.

A nova linguagem do Direito Internacional se assenta em noçõescomo soberanias limitadas, tutelas internacionais, direito de inge-rência e administrações supranacionais, todas as quais têm comodenominador comum o desconhecimento do Estado como ator essen-cial da vida internacional. No campo político, o poder que tradicional-mente deteve o Estado está tendendo a fluir em distintas direções.Para cima, em direção aos organismos supranacionais e coletivos,tais como o Conselho de Segurança da ONU, a União Européia e aOrganização Mundial de Comércio. Para os lados, para Organiza-ções não Governamentais enraizadas com a sociedade civil, queemergem ao interior dos próprios Estados. Para baixo, em direção aregiões cada vez mais autônomas, as quais se consideram representa-tivas de identidades étnicas e culturais. Entre os dois últimos seg-mentos e o primeiro há a tendência de se estabelecerem relações cada

Page 63: Ideias Em Destaque Incaer 18

63Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

vez mais diretas que obstam o Estado central. O Estado, dessa manei-ra, vai perdendo o seu caráter de articulador fundamental da vida na-cional e de interlocutor natural em matéria internacional.

Entretanto, é no campo econômico que as ameaças contra o Esta-do se apresentam maiores. A queda do Muro de Berlim trouxe consi-go a preeminência do econômico sobre o político e, também, do âm-bito do privado sobre o público. Por sua vez, o processo dedesregulação, que a economia tem evidenciado nestes últimos anos,acompanhado de um gigantesco salto tecnológico, tem proporcionadouma extraordinária vitalidade ao fenômeno econômico, permitindo acu-mulações de capital nunca antes imaginadas. Acuado frente aos mer-cados financeiros, aos megaconglomerados da comunicação social e àfusão das grandes corporações transnacionais, o Estado apresenta-secada vez mais impotente.

Destruir o Estado significa, entretanto, sufocar as reivindicações dospovos, deixar sem intérprete o sofrimento dos excluídos, perder o senti-do do coletivo e renunciar a mobilizar as forças espirituais dos cidadãosem função de um ideal superior. Destruir o Estado é retirar do jogo aúnica instituição que foi capaz, na década de 1930 e no pós-guerra, desustentar a economia e de reverter suas grandes crises. Hoje, quando ofrenesi dos mercados ameaça condenar à pobreza centenas de milhõesde seres humanos, torna-se mais necessário do que nunca contar comessa instituição ancestral, indispensável e insubstituível: o Estado.

Estado e Modernidade

Em 1802, o filósofo alemão Hegel escreveu um dos livros mais impor-tantes do século XIX: a Constituição Alemã. Nele, fazia um chamado àformação de um Estado unitário alemão como requisito indispensável paraque os germânicos adentrassem nos tempos modernos. Naquela época,entretanto, a Alemanha se achava dividida em: reinos, principados, ducados,territórios eclesiásticos e entidades autônomas dos mais variados matizes.Dentro dela, Áustria e Prússia não somente se haviam convertido em duasforças dominantes, como também, eram os únicos territórios queencarnavam verdadeiros Estados, no sentido moderno.

Page 64: Ideias Em Destaque Incaer 18

64 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

Em sua obra, Hegel fazia referência ao princípio de organizaçãofeudal que prevalecia na Alemanha e que reconhecia e garantia, a cadaum de seus integrantes, o direito de livre arbítrio. Tratava-se, efetiva-mente, de um direito definido por todos e assentado na chamada liber-dade alemã.

Para Hegel esta liberdade, que servia de base à desunião, não passa-va de um anacronismo que mantinha a Alemanha de costas para a His-tória. Isto submetia os alemães a uma manifesta condição de atraso fren-te aos grandes Estados nacionais da Europa, como França e Inglaterra.

Hegel formulava um vigoroso chamado à conformação de um ver-dadeiro Estado alemão. Foi necessário, porém, que se passassem vá-rias décadas para que isso se transformasse em realidade. Foi em 1871que essa aspiração unitária se consolidou, com a criação do modernoEstado germânico.

Também na Itália começou, a partir de 1815, um movimento a favorda unificação do país, que, semelhante à Alemanha, se encontrava divi-dido em múltiplos reinos, principados e ducados, além de um Estadopapal. Este movimento, que ficou conhecido como o Ressurgimento,teve como seu maior expoente intelectual o célebre Mazzini. Este, dife-rentemente de Hegel, que escrevia suas obras em um alemão comum atodos os alemães, utilizou o idioma francês para escrever o seu trabalholiterário. A razão disso é que havia tantos dialetos e variações do idiomaitaliano, que não existia uma linguagem que fosse comum a todos.

Após longos anos de conspirações e combates, o novo Estadoitaliano pôde tornar-se realidade, em 1861. Dessa maneira, os italia-nos conseguiram emergir da Idade Média para adentrarem-se nas filasda modernidade. Foi a partir da conformação desse Estado unitárioque pôde surgir, também, uma outra nova criação: uma linguagem co-mum a todos os italianos.

Quando homens talentosos, como Hegel, Bismarck, Mazzini ouGaribaldi, lutaram pela conformação de Estados unitários, estavamconvencidos de que a força da História os acompanhava. Estavamconvictos de que ao banir as divisões territoriais e autônomas, herda-das da Idade Média, ingressariam nos novos tempos e se adaptariam

Page 65: Ideias Em Destaque Incaer 18

65Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

às exigências do futuro. Poderiam eles imaginar que, ao finalizar o sé-culo XX, a modernidade se identificaria com os fracionamentos, asdivisões territoriais, as autonomias desatadas e a proliferação de di-versas linguagens no interior de vários Estados?

Faz-se mister ressaltar que esse processo não é novo. Como exem-plo pode-se citar a Espanha que, na década de 1930, enveredou porestes caminhos, sob o rótulo de modernidade. Em 1931, uma das inte-ligências mais brilhantes desse país, em todos os tempos, José Ortegay Gasset, propugnava, nas cortes constitucionais, a necessidade dedar rédeas soltas às autonomias regionais.

Não obstante, foi com o colapso do comunismo que esse processorecuperou toda a sua força. De fato, bem poderia afirmar-se que oMuro de Berlim não somente representava a última muralha de con-tenção do pensamento político frente ao avanço do setor econômico,bem como do ideológico em face do avanço do cultural.

Com a queda do Muro de Berlim, a economia passou a ocuparespaços de preeminência que antes eram reservados ao setor político.Porém, ao mesmo tempo, com o desaparecimento das barreiras ideo-lógicas, o fenômeno cultural pôde atingir plena força e vigor.

Durante muito tempo as identidades, sinônimos do cultural, estive-ram reprimidas em função das imposições ideológicas. Com a fraturadas ideologias, o surgimento do cultural ocorreu de forma inevitável.Dele nos fala Samuel P. Huntington em sua famosa obra The Clash ofCivilizations and the Remaking of World Order.

Segundo suas palavras, no mundo do pós-Guerra Fria, as distin-ções mais importantes entre os povos não são ideológicas, políticas oueconômicas. São culturais. Os povos e as nações estão tentando res-ponder à pergunta mais elementar que os seres humanos podem for-mular: quem somos? Os povos estão definindo-se a si próprios emtermos de religião, linguagem, história, valores, costumes e instituições.Eles se identificam com grupos culturais: tribos, grupos étnicos, comu-nidades religiosas, nações... Os povos estão utilizando a política, nãosomente para promover seus interesses, como, também, para definirsuas identidades.

Page 66: Ideias Em Destaque Incaer 18

66 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

Diante desse novo cenário, a marcha dos tempos aponta em dire-ção aos particularismos culturais. Cada município, cada cidade, cadaregião, busca encontrar sinais definidores de seu próprio ser. Reivindi-car tradições locais ou regionais, dialetos, costumes específicos, estáem moda no mundo atual. Inevitavelmente, isto somente é possível àscustas do poder e do sentido unitário dos Estados centrais. O poder,que até pouco tempo eles detinham, flui agora em duas direções distin-tas: para cima, em direção aos organismos supranacionais e coletivos;para baixo, em direção a regiões cada vez mais autônomas, as quais seconsideram mais representativas de uma identidade étnica ou grupal.Sob essa ótica, o Governo inglês decidiu tomar a iniciativa, recente-mente, de reformar as bases constitucionais da Nação, devolvendo àEscócia e ao País de Gales, autonomias perdidas há séculos. O curio-so deste processo é que o próprio Estado central se transformou emartífice de seu debilitamento, assumindo, frente a tais regiões, a vendada idéia autonomista. Se bem que, no caso da Escócia, o estado deânimo prevalecente favorecia esse processo, em detrimento de Gales,onde foi necessário que o Governo central pusesse todo o seu poderde convicção frente aos reticentes eleitores locais.

Diante desta curiosa realidade, que diriam Hegel ou Mazzini dessavolta aos ideais da Idade Média?

Estados e Etnias

Na nova realidade internacional que emergiu após o colapso docomunismo, o fenômeno étnico ocupa um lugar relevante. De fato, aele corresponde uma cota de responsabilidade muito importante nacrise que hoje vive o Estado. Muito antes que começassem a apare-cer os sintomas da enfermidade que consumia o Império Soviético,diversos Estados encontravam-se desgarrados por conflitos étnicos.Entretanto, o desmembramento comunista iniciado a partir de 1989desatou uma efervescência do sentido étnico que conduziu aoquestionamento de inumeráveis fronteiras estatais em vários locaisdo mundo. Numerosos grupos étnicos reclamam, na atualidade, seudireito a uma existência independente dos Estados de que fizeram

Page 67: Ideias Em Destaque Incaer 18

67Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

parte durante longo tempo. Contudo, observa-se que os massa-cres proliferam entre etnias obrigadas a conviver sob um mesmoteto estatal.

O exemplo dado com a reunificação alemã, seguida pelo esfacela-mento da União Soviética, colocou em marcha um furacão político degrandes proporções. Ademais, após o final da Guerra Fria, o fato deproclamar-se a preeminência dos organismos supranacionais e coleti-vos como fundamento da nova ordem mundial muito colaborou para oflorescimento dos sentimentos de origem étnica. Isso estimulou muitosgrupos étnicos a propugnar por uma existência independente, sem contarcom o poder aglutinador e protetor de um Estado consolidado. Preva-leceu a impressão de que qualquer mini-Estado que emergisse no ce-nário internacional poderia encontrar viabilidade econômica, integran-do-se a um mercado comum, e viabilidade política, graças ao guarda-chuva protetor dos mecanismos de segurança coletivos.

Os Estados assentados em uma identidade nacional sólida ficaramimunes à força dos ventos originados pela queda do Muro de Berlim.Não obstante, para aqueles que possuíam uma pluralidade de identi-dades étnicas, compartindo um mesmo espaço estatal, os problemasnão pararam de crescer.

A Iugoslávia foi a primeira a sofrer o impacto dos novos tempos.Isto porque se tratava de um Estado integrado pelos despojos de doisgrandes impérios (Austro-Húngaro e Turco), cuja diversidade étnica aconvertia em um laboratório ideal para sofrer os rigores da nova reali-dade. Somente na Bósnia morreram duzentas e cinqüenta mil pessoas.A Rússia sofreu na própria carne os custos do desmembramento que aURSS lhe proporcionou. Na Chechênia, trinta mil mortos é o balançodos intentos de Moscou para evitar a secessão. Na antiga União Sovi-ética, os enfrentamentos da origem étnica fizeram-se sentir na Moldávia,na Geórgia, no Azerbaijão, na Armênia e no Tadjiquistão. NoAfeganistão, a retirada dos soviéticos deixou quatro grupos étnicosenfrentando-se entre si, sustentados por países vizinhos. Um poucomais a oeste, na Turquia, o embate armado da população de origemcurda prossegue de forma sangrenta.

Page 68: Ideias Em Destaque Incaer 18

68 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

Os Estados criados pela mão do colonialismo, que traçava frontei-ras com total desconhecimento dos grupos étnicos subjacentes, torna-ram-se particularmente vulneráveis à força desestabilizadora deste fe-nômeno. A África e o mundo árabe são testemunhas altamenteilustrativas neste sentido. Curiosamente, com exceção do problemacurdo no Iraque, o cenário árabe encontra-se à margem da crise dosetnicismos desatados. A razão disso, seguramente, pode encontrar-sena resposta internacional contra o Iraque, após o desconhecimentodas fronteiras kuwaitianas, por parte de Saddam Hussein. O problemaali é outro: o fundamentalismo, o qual tem em comum com o fenômenoétnico a busca de uma parcela própria do universo que permita viverde acordo com as raízes islâmicas.

Na África, ao contrário, os problemas étnicos têm proliferadolivremente. Ruanda e Borundi constituem casos extremos do poten-cial de violência que leva consigo o tema étnico. Entre 1993 e o finalde 1995, mais de 100 mil pessoas morreram no Borundi como resul-tado dos massacres gerados pelo ódio étnico. Em Ruanda, oitocen-tas mil pessoas feneceram depois do assassinato do presidente daRepública, em abril de 1994. Em ambos os casos, os enfrentamentosentre os grupos Tutsi e Hutu, comuns a ambos os países, têm sido acausa das matanças. Já se fala do desaparecimento das fronteirasartificiais de ambos os Estados, para criar uma Tutsilândia e umaHutulândia que permitam a integração destas etnias em dois Estadoshomogêneos. Na Libéria, uma sangrenta guerra civil enfrenta diver-sas facções que se assentam em grupamentos étnicos definidos. Ve-rifica-se que no continente africano a identidade étnica transformou-se em fonte de constante ameaça para a subsistência dos Estadosherdados da era colonial.

Poderíamos continuar enumerando exemplos de guerras civis emassacres no Hemisfério Sul, porém ocorre que também no Hemisfé-rio Norte a sobrevivência de vários Estados encontra-se comprometi-da, como resultado desse mesmo fenômeno. Canadá e Bélgica sãodois exemplos particularmente representativos. No primeiro deles, asecessão de Quebec constitui-se em fonte de permanente preocupa-ção para os canadenses. Na Bélgica, coração da Europa unitária, a

Page 69: Ideias Em Destaque Incaer 18

69Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

ancestral rivalidade entre walones e flamengos projeta-se como umaespada de Dâmocles à subsistência deste rico Estado.

A esse curioso cenário poderemos acrescentar a problemática dofenômeno autonomista que envolve gauleses, escoceses, bretões,corsos, catalães, bascos etc.

A Crise do Estado

O século XIX viu o surgimento dos últimos grandes Estados. Nes-se século, não somente Alemanha e Itália fizeram seus aparecimentosno cenário mundial, mas, também, os Estados Unidos puderam reali-zar seu destino manifesto, transformando-se em um grande Estadocontinental. O século XX, entretanto, conseguiu evidenciar as máxi-mas expressões de estadolatria - com o aparecimento do fascismo edo comunismo - e, também, de importantes Estados surgidos dodesmembramento dos impérios coloniais. Acrescente-se que, duranteos cinqüenta anos que durou a Guerra Fria, o mundo girou em tornode um sistema de relações interestatais centrado em dois grandes Es-tados. A última década desse século, entretanto, transformou-se naera do ocaso dos Estados.

Em nenhum momento da evolução histórica da Humanidade osEstados encontraram-se em tal condição de desprestígio. O novo Di-reito Internacional aponta para concepções tais como: o direito deingerência, tutelas supranacionais, direitos humanitários e sobe-ranias limitadas; todos os quais coincidem com o desconhecimentoda primazia estatal dentro da ordem internacional. Por outro lado, ofenômeno da globalização vai carcomendo implacavelmente as fun-ções dos Estados e as identidades sobre as quais estes se assentam,ao mesmo tempo em que o fenômeno étnico e os fundamentalismosvão escavando suas bases de sustentação.

Observa-se que o poder que anteriormente os Estados detinham,atualmente tende a fluir em três direções distintas: para cima, orientadoaos organismos supranacionais e coletivos; para os lados, em direçãoàs organizações não governamentais e, finalmente, para baixo, dirigidoa regiões cada vez mais autônomas.

Page 70: Ideias Em Destaque Incaer 18

70 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

Particularmente chamativo é o duplo processo de desmontagem quese opera sobre o Estado, desde as instâncias da globalização e dofundamentalismo. Sob o influxo da globalização os Estados vão se des-fazendo de boa parte das funções que os caracterizavam, adentrandoem processos de privatização e abandono de serviços públicos. Cadavez menos os Estados se distinguem das corporações privadas e cadavez mais vão se regendo pelas mesmas normas de competitividade. Oscidadãos, crescentemente desassistidos e ansiosos, observam como, aoseu redor, tudo passa a reger-se pelas exigências e pela ética do capitalprivado. A inevitável erosão da lealdade do cidadão para com o Estadovê-se reforçada com o desgaste da identidade nacional que a globalizaçãotraz em seu bojo. É o resultado inevitável da homogeneização planetária.De alguma maneira, o fenômeno globalizador vai pressionando, de cimapara baixo, o Estado, através de uma intensa ação asfixiante. A únicaresistência capaz de interpor-se a essa ação devastadora e implacável érepresentada pelos núcleos de identidades subsistentes, ou seja, osfundamentalismos e os etnicismos desatados, que conspiram sistema-ticamente contra os Estados, destruindo seus alicerces.

Paradoxalmente, a crise do Estado tem vindo acompanhada dosurgimento indiscriminado de novos Estados. Somente dodesmembramento da União Soviética, da Iugoslávia e daTchecoslováquia surgiram vinte e dois Estados independentes. Porém,não foi somente no velho bloco socialista que se produziu esse fenô-meno. Países centrais dentro do mundo ocidental, como Canadá eBélgica, confrontam a mesma ameaça. O porquê desse fenômeno estáintimamente ligado à própria crise do Estado. Quatro elementos cen-trais explicariam o processo em marcha. Em primeiro lugar, os núcleosradicais de identidade que buscam conformar Estados que atendam àssuas particulares características. Em segundo lugar, a possibilidade deencontrar, em nível planetário, os elementos de complementaridade eintegração que davam sentido ao Estado. Em outras palavras, na me-dida em que os Estados se integraram, em nível global, e deixaram deser unidades de auto-sustentação, torna-se possível que suas regiõescomponentes possam aspirar a uma existência independente. Em ter-ceiro lugar, o próprio fato de que o êxito na economia global não é

Page 71: Ideias Em Destaque Incaer 18

71Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 61 - 71, maio/ago. 2005

Manuel Cambeses Júnior

determinado pela quantidade de recursos naturais, mas pela qualidadede seus recursos humanos. Os segmentos e regiões mais avançadosdo interior dos Estados começam a ver, como uma carga desnecessá-ria, os territórios e porções sociais mais atrasados, buscando desven-cilhar-se deles. Em quarto lugar, sob a proteção dos organismos desegurança coletiva e do novo Direito Internacional, já é possível a sub-sistência de Estados débeis, tornando-se desnecessário o escudo pro-tetor dos Estados mais fortes.

Em síntese, hodiernamente, a crise que o Estado enfrenta é a pró-pria fonte de sua proliferação, ou seja, na atualidade, os Estados am-pliam-se em quantidade, porém significam cada vez menos em termosde soberania e autodeterminação.

O autor é Coronel-Aviador da Reserva da Aeronáutica, membro-correspondente do Centro de Estudos Estratégicos

da Escola Superior de Guerra e pesquisador do INCAER.

Page 72: Ideias Em Destaque Incaer 18

Pedidos ao

Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail:[email protected]

OUTROS TÍTULOS DO CLUBE DO LIVRO

Page 73: Ideias Em Destaque Incaer 18

73Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 73 - 77, maio/ago. 2005

Araken Hipólito da Costa

��/�����������01�����/������

��%���&�'( �#�������#

Este assunto sempre desperta interesse em todos aqueles que de-sejam iniciar-se na pintura. Em se tratando de um tema complexo,procurei apresentar o processo de criação na pintura em quatro tó-picos distintos, mas interligados: o artista, o objeto da pintura, asfaculdades da sensibilidade e a obra. Acredito que esta visão doprocesso criativo serve também, de maneira análoga, aos nossos atosdo cotidiano.

1. O artista

Todo homem tem um potencial a ser atualizado. Listaremos algumasdestas perfeições necessárias, cuja obtenção propiciam o criar:

Vontade – sabemos que nossos atos dependem da inteligência eda vontade. Assim, o desejo de tornar-se um pintor precisa de umaavaliação deste universo plástico e do ato de mover-se nesta direçãocom firme vontade.

Conhecimentos técnicos – a ferramenta básica do artista virtuo-so é o contínuo aprendizado do desenho, de luz e sombras, da pers-pectiva, do uso das cores, das transparências, dentre outros. Essashabilidades são como as fundações de uma casa, sem as quais nadaserá erguido.

Conhecimentos históricos – a tradição oral e pictórica permiteaos artistas de hoje a compreensão dos contextos históricos, quepermearam a evolução da sensibilidade humana e artística, tornando-os, assim, capazes de reconhecer quais são suas fronteiras de atuação.Permanecer no passado ou negá-lo é contrariar o movimento do ca-minho da perfeição.

Prática – as artes plásticas não estão no conceito, nem na palavra;é preciso a materialização da imagem. Esta constante prática conduz a

Page 74: Ideias Em Destaque Incaer 18

74 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 73 - 77, maio/ago. 2005

Araken Hipólito da Costa

uma adequação entre o pensamento criativo e a imagem reproduzida,concretizando o ato criativo.

Atelier e material de pintura – a infra-estrutura condizente coma pintura requer um local, se possível, amplo, claro e arejado. Os ma-teriais, como a tinta, o pincel etc., devem ser de boa qualidade paraguardar fielmente as impressões no transcorrer do tempo. O atelier éum local sagrado, onde o artista faz do seu trabalho o dispensário dasua Fé.

Maturidade – constata-se na História da pintura a inexistência deprecocidade em artistas. A pintura exige, portanto, maturidade paraexpressar o conteúdo e a força que sustenta a arte. Entendemos comomaturidade no homem, quando ele deixa de brincar com sua própriavida. Logo, podemos dizer que pintura é coisa para adulto, assimcomo o amor, a vida...

Tempo de fazer – o mundo contemporâneo induz ao imediatismo,aprender em dez lições, enfim, reduz todo aprendizado à rapidez deuma produção industrial. A pintura não tem uma utilidade prática, ime-diata, ela transita no transcendente. Desta forma, a sua prática requertempo proporcional ao tempo de ver.

Tempo de ver – o olhar da propaganda, da TV, do mercado érápido para vender bem. Por isso, o olhar do artista tem que sercalmo, sereno, sair das aparências, do superficial e aprender a ver aessência das coisas. Isso exige tempo. Diante da execução de umaobra é preciso dar um tempo para ver cada passo a ser feito.

Croqui mental – é importante o hábito de elaborar mentalmenteaquilo que se pretende expor no suporte. Neste processo mental háuma adequação do motivo captado a uma ordenação estética. Tal ade-quação junto às faculdades intelectivas permite que a sensibilidade pro-duza arte, assim como o conhecimento.

Juízo de valor da pintura – quando avaliamos uma situação, funda-mentamos através de juízos de valores a questão. Nos dias de hoje, existeuma tendência à banalização das coisas, fruto do pensamento débil, des-

Page 75: Ideias Em Destaque Incaer 18

75Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 73 - 77, maio/ago. 2005

Araken Hipólito da Costa

provido de uma análise acurada e de um juízo de valor adequado,gerando o relativismo, no qual tudo vale, tudo é possível. O artistaprecisa conhecer profundamente qual é o valor de seu ofício, paraque possa exercê-lo consciente da sua representação perante a so-ciedade.

Aprofundamento –não basta a um pintor ser curioso, ele tem queir além, ser um estudioso. Como diz Paul Klee: “O artista não podeser apenas uma máquina fotográfica mais sensível”. Isto significaque não basta um olhar contemplativo perante as coisas do mundo,mas um olhar interativo e investigativo, cuja ação se inicia no planomental para depois viabilizá-lo na prática.

Determinação – tanto na vida como na arte, encontramos obstá-culos no transcorrer do caminho. Para superá-los, precisamos de umaforte determinação em nossa vontade. O artista deve ter plena consci-ência de sua missão para que, nos momentos de turbulência, mantenhaimperturbável o rumo de seu destino.

Dignidade – o artista deve distinguir bem o que é arte do que émercado. O mercado apresenta facetas às vezes não tão nobres, ins-tigando o artista à perda da ética profissional. Cabe ao artista reagir,pautando-se na reta ordenação de seus atos. O homem de reto agir éexemplo de conduta para o próximo e, portanto, transformador dasociedade.

Amor – o homem conduz o seu pensar e seu agir em diversas dire-ções, procurando compreender e mobilizar suas potencialidades parasua vida. No entanto, só o amor é capaz de aglutinar todos os pensa-mentos e manifestações da sua vida e da sua relação com o outro. Sóna vivência do amor a arte e a vida têm sentido. O artista deve lembrarque a criação do mundo, das coisas e de todos os seres é um ato doamor de Deus, gerando toda beleza e toda perfeição. Cabe ao artista,despido de qualquer presunção, mover-se no amor, a fim de permitirver para além dos sentidos da visão, através dos olhos do coração eda razão e, assim, aproximar-se gradativamente da beleza, da perfei-ção, da verdade e de Deus.

Page 76: Ideias Em Destaque Incaer 18

76 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 73 - 77, maio/ago. 2005

Araken Hipólito da Costa

2. Objeto da pintura

O único ser capaz de criar é o homem. Verifica-se que o homemintervém no ambiente natural que o cerca, criando, assim, o progresso,a cultura e a arte.

Neste contexto, surge a pintura como uma das manifestações maisantigas da arte, a qual, ao longo da História da Humanidade, mostra aexpressão profunda da espiritualidade da alma humana. A capacidadede conceber noções abstratas, universais, o essencial, permite ao ho-mem entender, através dos transcendentais, os aspectos do ser. Suadedução metafísica apresenta-se desta forma: todo ser é uno, verda-deiro, bom e belo.

O artista, por meio de sua sensibilidade, capta a beleza trans-cendente nas coisas criadas e faz, então, do belo o objeto dasua pintura.

Assim, a beleza torna presente a força contundente da graça e domistério da vida na pintura.

3. As faculdades da sensibilidade

A beleza foi impregnada em todos os seres, no momento de suacriação por Deus. O artista procura, então, interpretar a realidade atra-vés das suas faculdades. Diz Aristóteles, filósofo do séc. IV a.C.: “Nadaestá no intelecto que não tenha passado pelos sentidos”. Destemodo, o objeto da pintura é percebido pelos sentidos, captado pelointelecto e, por meio da abstração, torna-se uma das faculdadescognitivas fundamentais da alma humana; para o processo de conheci-mento e criação, o artista elabora o seu croqui mental (conceito). En-tendemos abstração como sendo o ato pelo qual o intelecto agentefixa-se em um determinado aspecto da coisa (essência), deixando delado outros aspectos.

Em seu processo criador, o artista utiliza os três graus de abstração:Física, Matemática e Metafísica. Na abstração física, são considera-das as qualidades sensíveis das coisas, como: cor, luz e sombra, trans-

Page 77: Ideias Em Destaque Incaer 18

77Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 73 - 77, maio/ago. 2005

Araken Hipólito da Costa

parência etc. Na abstração matemática, considera-se a quantidade,como comprimento, largura, superfície, volume e perspectiva. Já naabstração metafísica, o ser do objeto é considerado, prescindindo-se de toda quantidade e qualidade. Tal é a magnitude da beleza, queela torna visível o espírito e o esplendor da graça. Em verdade, a bele-za é o corpo do espírito.

4. A obra

As mãos do artista, por mais modesta que seja a tarefa a serexecutada, são parte essencial do processo criativo. O manuseio dastintas sobre a tela branca é sempre uma experiência rica, por se tra-tar da adequação da imagem mental à imagem impressa. Esta ade-quação reflete o trabalho do pintor em expor a beleza percebida edar forma dentro do espaço limitado da tela. Diz Santo Agostinho:“Não se pode conter o infinito no finito”. Porém, cabe ao pintoriluminar o belo que permanece em todo ser criado. Com efeito, quan-do o artista, pelo uso do belo, materializa a imagem e o espírito,torna a obra viva para sempre.

O autor é Coronel-Aviador da Reserva da Aeronáutica e também Diretor do Departamento Cultural do Clube de Aeronáutica

Page 78: Ideias Em Destaque Incaer 18

Pedidos ao

Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail:[email protected]

Page 79: Ideias Em Destaque Incaer 18

79Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

����������������/���

�� ��������� ���)����*��

Neste artigo, o autor apresenta um estudo de caráter duplo, histó-rico e sociológico, sobre a possível concepção de “Centros Mundiaisde Poder”, traçando considerações sobre a situação do mundo con-temporâneo.

A idéia de Centros Mundiais de Poder pode aplicar-se a diver-sos momentos da História, talvez ao longo de toda a História, variandoo âmbito do que se chama “mundial” em cada momento, a naturezadesse poder e a possível projeção histórica de um “cmp”.

Com efeito, o império persa sob Dario I (521 a 485 a.C.) foi oprincipal centro de poder do mundo conhecido em sua época, esten-dendo-se das margens do Rio Indo até ao Egito, às margens oeste esul do Mar Negro (Trácia e Armênia), às margens sul e oeste do Cáspio,ao sul do Cáucaso, alcançando a fronteira sul do Império, o mar deOmã, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho.

Dario I era a expressão de poder de seu tempo, tendo realizadodiversas instalações estratégicas, como portos e a construção de umarede de estradas, a mais famosa a Estrada Real, com 2.500 km deextensão, ligando Susa, no Golfo Pérsico, a Sárdis, na Ásia Menor.

As grandes estradas ligavam as províncias a uma das quatro capi-tais do Império, Susa, Persépolis, Babilônia e Ecbátana.

Os persas falavam um idioma relacionado com o sânscrito e desen-volveram um alfabeto de 39 letras.

Tiveram enorme influência no Oriente Médio e no ImpérioHelenístico, e por essas vias no mundo romano, contudo não foi umainfluência de caráter econômico ou militar, mas de caráter cultural,político e religioso.

O Império Persa foi a primeira grande conformação política da His-tória, militarmente superior ao seu entorno e a outras civilizações im-portantes, como assírios, babilônios, caldeus, cretenses, sumérios,

Page 80: Ideias Em Destaque Incaer 18

80 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

fenícios, hebreus e egípcios, estes com população de sete milhões dealmas nos dias de dominação romana, e certamente não fora menoranteriormente, mas a permanência do cmp Pérsia não estava assegura-da, porque outras fontes de poder preparavam seu devir, e cruzariam ocaminho dos persas, que, de certo modo, os preparava para eles.

Naturalmente que os gregos, sucessores de egeus e fenícios e her-deiros dos egípcios em muita coisa, representavam outro grande cmpda Antigüidade, contemporâneo em boa parte do Império Persa, em-bora fosse mais antigo do que os persas (os tempos homéricos datamde 1200 a.C.).

Os gregos não chegaram a ter o poder militar dos persas, e foramdestruídos pelas lutas internas.

Depois da queda do Peloponeso, a federação grega estava exausta ea supremacia de Esparta durou 30 anos. Logo depois vieram os tebanos,com Epaminondas de Tebas (371 a.C.), mas é Felipe de Macedôniaque logra, em 330 a.C., o domínio de toda a Grécia, com exceção deEsparta. Felipe era um bárbaro e os macedônios atrasados. Mas tinhaum filho, com 20 anos de idade, quando foi assassinado.

O moço era Alexandre, depois, Alexandre Magno. Tivera comopreceptor Aristóteles de Estagira, durante 12 anos moveu guerras paraconquistar o Oriente Médio e, depois, toda a Pérsia. E o conseguiucerca de 320 a.C. Em 323 morreu da febre dos pântanos da Babilônia,com 33 anos.

A conquista de Alexandre mudaria vencedores e vencidos e todo omundo de seu tempo. O novo cmp, expressivo, poderoso, reunia asconquistas das duas maiores civilizações até então: a dos gregos e ados persas. Surgiu o Império Helenístico – verdadeira base de tudoque a cultura dos tempos modernos e o mundo contemporâneo viria adesenvolver.

A própria vida urbana, característica do mundo de hoje, consagra-da em Roma, mostraria seu esplendor em Alexandria, que contavacerca de um milhão de habitantes e dispunha de uma bem organizadabiblioteca de 750 mil volumes.

Page 81: Ideias Em Destaque Incaer 18

81Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

A civilização helenística, cmp de seu tempo, tal como os de hoje,abrigaria diversas formas de governo, o desenvolvimento e o amor aomilitarismo, o declínio da democracia (prezada na Grécia), tendênciaao autoritarismo e à prepotência. Houve o desenvolvimento dos gran-des negócios, a expansão do comércio, o zelo pela exploração e peladescoberta, o interesse pela tecnologia (inventos mecânicos), a con-corrência desenfreada entre comerciantes, a excessiva preocupaçãocom o conforto e a obsessão da prosperidade material, o inchamentodas metrópoles com áreas congestionadas e habitações insalubres eum vasto abismo entre ricos e pobres.

Embora avançado em tantos aspectos e militarmente poderoso, oImpério Helenístico fragmenta-se após a morte de Alexandre. As regi-ões dele derivadas entram em decadência por volta de 180 a.C.; em146, a situação era muito débil e, em 30 a.C., praticamente todo oterritório helenístico estava sob o domínio romano. Durara pouco me-nos de três séculos.

Por essa época alguns aspectos característicos do passado orientalentram em transformação.

Quais os Fatores que apontavam os Futuros cmp´s?

O caso romano é o seguinte. Roma como civilização dura 13 sécu-los (753 a.C. a 476 a.D.) e ainda continua na região oriental –Constantinopla – por mais 10 séculos.

Extraordinário cmp, que irradiava poder desde o seu centro – Roma– até ao Cáspio, ao Golfo Pérsico, ao Mar Vermelho, ao Adriático, aoEgeu, ao Mar Negro, ao norte da África, às Ilhas Britânicas, à França, àEspanha, à Alemanha, à Hungria, incluindo a Ásia Menor, o OrienteMédio, a península grega e a Mesopotâmia, tendo ao centro o Mediter-râneo, um autêntico lago romano. Tal era o império entre 98 e 117 a.D.

Fundara-se como poder na força da economia (principalmente dasregiões conquistadas), na força das legiões e no discernimento de suaelite. Controlava o mundo conhecido. Ruiria, por força da multidãourbana desempregada e pobre, o crescimento da escravidão, a rivali-

Page 82: Ideias Em Destaque Incaer 18

82 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

dade de outros estados menores, a clamorosa corrupção política emoral e a discórdia entre as classes sociais.

A imensa máquina militar pedia recursos inexistentes. Além disso, apolítica tributária era escorchante e as pestes asiáticas dizimaram regi-ões do Império. Estavam abertas as portas para as invasões bárbarase o lento declínio do Império. Roma foi, certamente, o mais importantecmp da Antigüidade e controlou praticamente todo o mundo conheci-do então, exceto o Oriente. Enorme foi sua influência – que se estendeaté hoje – mas, quando as invasões bárbaras, por volta de 180 d.C.,começaram, ninguém imaginava que fosse este o fim do mais expressi-vo império de todos os tempos. O fim do Império – que não se deunuma data, mas num período – trouxe grandes conseqüências para omundo daquele tempo. Com efeito, foram derrubadas barreiras inter-nacionais, houve grande migração e caldeamento de povos e um vagoanseio por compensações religiosas e morais.

A atenção dos homens voltava-se para a “vida futura”, surgindoum tipo de religiosidade destinada a medrar como erva nova, poismostrava aos homens um verdadeiro refúgio que os livraria de um mundode ansiedade, confusão e medo.

Vale notar que o poder militar tem grande significação para a deter-minação de um cmp, mas em si não é determinante da dinâmica histó-rica, relativamente à duração e ao futuro daquele povo ou nação.

Roma ainda existia, governada por imperadores bárbaroscristianizados e um novo e importante ator preparava sua entrada naHistória. Enquanto os imperadores do Ocidente e do Oriente, de Romae de Constantinopla não se entendiam, Maomé reúne os árabes fazen-do o ardor natural deles um instrumento para espalhar a sua doutrina,ensinando-lhes (o que se faz até hoje) que “a unidade de Deus devecorresponder à unidade dos crentes”, proibindo-lhes que se guerre-assem entre si e prometendo felicidades eternas aos que tombassempela fé. Depois de 622, data em que se retira para Medina (Yatreb),até 632, data da morte do profeta, é intensa a preparação doutrinária,diplomática e militar.O Islã ganha força e certeza. Por volta de 700, osseguidores de Maomé lançam-se ao assalto do mundo. Em dez anos

Page 83: Ideias Em Destaque Incaer 18

83Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

conquistaram a Síria, a Pérsia, o Egito, a Cirenaica, a Armênia, e atin-gem as fronteiras leste e oeste da Europa. Em 711, numa só batalha,destroçam as defesas visigóticas da Espanha. No outro extremo docontinente, Constantinopla resiste heróica e vitoriosamente de 711 a718. Na Gália, o Duque de Aquitânia, Eudes, impõe derrota aossarracenos, e a vitória de Carlos Martel, em pessoa, 720 a 737, ex-pulsa-os do continente, com exceção da Espanha, onde ficarão até oséculo XII.

Dos séculos IX ao XI, os muçulmanos foram gradualmente empur-rados para o sul, mas mantêm o controle das margens do Mediterrâ-neo e de suas ilhas estratégicas (Creta, Sicília e Malta), “os cristãos jánão podem fazer flutuar uma tábua sobre o mar”, escreve um cro-nista à volta da metade do século VIII.

Assim, o controle do Mediterrâneo pelos sarracenos terá enormesconseqüências: mergulha as costas da Itália, da Provença, daSeptimânia, da Catalunha na insegurança, e força a migração dos cen-tros políticos europeus para o norte. Em resumo, este novo poderapaga dois traços característicos da Antigüidade, a Unidade romanae a supremacia mediterrânica, o que dá origem à própria Idade Média.

A presença do Islã na Espanha, criando em Córdova o mais bri-lhante Estado da Europa, com uma cultura cujo fulgor eclipsou o deDamasco e o de Bagdá – de tal sorte que pela primeira vez houve doiscalifas no Islã (Córdova e Bagdá) – acarreta um outro importante,pois orientou o avanço de Carlos Magno para o oeste (a Baviera, aLombardia e a Córsega no Mediterrâneo), forçando que evitasse azona fronteiriça espanhola.

Os sarracenos, os muçulmanos – o Islã, enfim, teria sido a seu tem-po um cmp, embora lhes faltassem forças militares e navais mais po-derosas. Faltavam-lhes forças militares e navais. Se permaneceramum século e meio no controle do Mediterrâneo, deve-se mais ao fatode que não tinham como sair dali, de vez que os bizantinos, com pode-rosa esquadra, bloquearam os portos muçulmanos no oeste. Mas ofato é que os sequazes de Maomé tornaram difíceis as relações doOriente com o Ocidente; deixaram em farrapos a Grécia, a Itália, a

Page 84: Ideias Em Destaque Incaer 18

84 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

Macedônia, a Trácia e a Ásia Menor; dominaram a Síria, o Egito, onorte da África e a Espanha. No Ocidente e no Oriente, cortaramlaços e apagaram traços.Sua ação foi de tal ordem que hoje mal pode-mos imaginar que a Argélia e a Tunísia, por exemplo, fizeram parte domundo latino e cristão um dia. O Islã quebrou a unidade e as idéias-força do passado.

Esses centros de poder da Antigüidade nada têm a ver com oscp’s do “novo ordo seculorum”, que dependem da conjugação detecnologia, economia forte e poderio militar, para ser óbvio. Contu-do, esses fatores nada dizem da possível duração e influência na His-tória de um centro mundial de poder contemporâneo, haja vista ocaso da URSS.

O que vai determinar isso é sua capacidade de resolver crisesparadigmáticas autênticas, de lidar com os grandes e graves pro-blemas atuais do mundo, que se encontra hoje numa verdadeira es-quina da História, dependente, grande parte dele, de um modelocivilizacional completamente esgotado (já no limite), segundo diver-sos aspectos – econômico, ecológico, social, moral, material, militar,político etc.

A questão contemporânea é sabermos se os atuais cmp’s podemgerar capacidade inovadora suficiente para vencer esses limites, ou setêm recursos culturais e sociais para abdicar do modelo. Estas são asquestões que ditarão o futuro, quer de cmp, quer do mundo.

As aparências são evidentemente enganosas. O fenômeno que sedecidiu chamar de globalização é, na verdade, o acerto dos podero-sos em face da grave crise de rentabilidade do capital, evidente nasegunda metade do século XX. Pela primeira vez na História, um pro-blema desse tipo não receberia o tratamento usual: a guerra entre oscompetidores. E não receberia, porque a guerra era (e é) um perigoinsuportável num mundo de armas nucleares, químicas e bacteriológi-cas. Assim, se não era mais previsível a possibilidade de um salto qua-litativo, proporcionado por uma nova fonte de energia ou por umatecnologia revolucionária – e se o recurso à guerra estava fora do jogo– restavam as reformas do capitalismo moderno para permitir mais

Page 85: Ideias Em Destaque Incaer 18

85Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

circulação do capital e novo incremento da rentabilidade. O Ocidenteverificava, vitorioso sobre o comunismo que, no entanto, Marx tinharazão: os mecanismos de acumulação/concentração, típicos do capi-talismo e necessários a ele, deprimem com o tempo a rentabilidade decapital, por obstar uma circulação ideal segundo as variáveis de volu-me e velocidade.

Essa reforma tem o nome de globalização; é muito extensa e com-plexa, e ainda está em desdobramento, mas seu objetivo é claro: au-mentar a rentabilidade dos investimentos.

As conseqüências têm sido impressionantes. Em poucas décadaspraticamente todo o conjunto de países periféricos (chamados tam-bém de mercados emergentes) passou à condição de grande devedorde grandes corporações financeiras internacionais sediadas nos paísescentrais, gastando toda a sua poupança nacional para pagar juros, detal modo que a possibilidade de aumentar o endividamento (novosempréstimos) é ditada pelo aumento da capacidade de pagar juros. Seessa capacidade aumenta, a tomada do empréstimo, por uma ou outrajustificativa, é agora obrigatória, ou seja, a poupança da sociedade – edo Estado, por compressão do orçamento público – pertence aos cre-dores internacionais, qualquer que seja sua extensão.

Se antes havia a famosa inflação – que dizia certo ministro, “des-truía os valores da sociedade” – agora existe a dívida, o principal eseus juros, com a agravante que, da maneira atual, o ciclo da acumula-ção capitalista acaba também exportado. O capitalismo periférico nãoacumula mais. Morreu.

Isso é muito grave, mas não é tudo.

A nova sistemática financeira do mundo implicava na revogaçãodas políticas sociais e, assim, suprimiu-se o compromisso keynesiano,no qual se havia fundado uma democracia social, com paz duradouraentre as classes sociais, sob o sinal das bandeiras do pleno emprego eda redistribuição de renda. Agora, a sociedade deve privilegiar comrecursos, não mais o trabalho ou as carências sociais, mas o capital –para recebê-lo entusiasticamente, de portfólio ou inversão direta es-trangeira, com banda de música, ainda que para comprar empresas já

Page 86: Ideias Em Destaque Incaer 18

86 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

existentes e lucrativas, de preferência pertencentes ao poder público,porque concessionárias de serviços essenciais, e, tantas vezes,monopolísticas (como distribuição de gás, de água, estradas, portos etc.).

De outra parte, vem a tomada do mercado nacional por empresasinternacionais que trazem uma concorrência insuportável para agentesprodutores locais: escala de produção mundial e taxas de juros do paísde origem (4, 7 ou até 10 vezes menor do que no país hospedeiro).

É claro que tudo isso tem muito a ver com o equilíbrio das socie-dades e a coesão social.

Os países periféricos suportarão semelhante mecanismo por muitotempo? Se não, qual será a situação dos atuais cmp’s diante de umacrise planetária?

De outra, o fim das políticas keynesianas e de seu compromisso depaz social, também afeta os países centrais e neles – mesmo no casode um cmp – pode mexer com muita coisa, inclusive a coesão nacionale o poder militar.

Parece claro que os países centrais – dentre eles cmp’s – não mos-tram disposição de enfrentar realmente as crises paradigmáticas –como a finitude próxima do petróleo (40 anos talvez) ou o esgotamen-to do ambiente natural ou outra condição limite, por exemplo, no cam-po político – isto porque a tentativa de solucioná-las é muito onerosa,e porque não há entendimento entre eles e dentro de cada um delessobre a urgência dessas questões.

No entanto, ainda há outras questões críticas, propriamente eco-nômicas, concernentes aos enormes déficits de fundos públicos/priva-dos de pensão, orçamentos públicos e balanças comerciais. Quemenfrentará o compromisso com pensões nos EUA e na Europa daqui a30 anos?

De resto, os números da demografia são desfavoráveis. Em 50 anosa população mundial passará de 5,7 para 10 bilhões e 90 por centodesse crescimento estará situado no mundo periférico, 60 por centodele em países miseráveis, enquanto a população européia envelhece-rá ainda mais e reduzir-se-á significativamente.

Page 87: Ideias Em Destaque Incaer 18

87Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

Entre os principais cmp de hoje, contudo, inscreve-se a RepúblicaPopular da China, que é o único integrante desse elenco, como Estadonacional, que dispõe de condições sociais e culturais, tanto para parti-cipar do modelo como para abdicar dele, estando apta a combinarpartes dessas soluções. A engenhosidade dos chineses é conhecidahistoricamente e o país já esteve dividido, em formas sociais e culturaisdiferentes, mas concomitantes, algumas vezes. É uma unidade na di-versidade acima de qualquer comparação ocidental, há séculos pas-sando por muitas experiências, até mais recentemente a revolução cul-tural e a atual situação juridicamente muito complexa.

Com efeito, desde 1979 a China vem criando suas SEZ – ZonasEconômicas Especiais – junto ao litoral, para favorecer o aporte decapital estrangeiro e de tecnologia moderna. As primeiras foram nasprovíncias costeiras de Fijuan e Guangdong, além de outras na frontei-ra com Hong Kong e a Ilha de Hainan. Desde 1990 a lista cresceuenormemente, sempre com o mesmo objetivo, e segundo o princípio“dois sistemas, um só país”.

Um outro cmp contemporâneo não é um Estado westfaliano, masuma vigorosa ideologia religiosa que une povos e Estados – 40 Esta-dos e cerca de um bilhão de habitantes – o Islã. Os muçulmanos, talcomo os chineses, tanto podem se incorporar ao modelo ocidentalcomo abdicar dele. Aliás, não aderiram ao “novo ordo” iluminista enão só não aderiram, como o denunciam.

O Islã não separou a vida civil e política da fonte religiosa. Aindaque dos 40 países muçulmanos alguns sejam insignificantes e poucossejam repúblicas islâmicas, é certo que todos regem a organizaçãosocial e comunitária e a política, pelos preceitos do Corão, o que é aantítese do que fizeram os ocidentais, relegando a um segundo plano oCristianismo, como referencial ético, fonte das idéias e ideais de vidasocial – gerador de certeza, unidade e vigor – para submeter-se à leipositiva, estabelecida mesmo, tantas vezes, a despeito da lei natural,por maiorias eventuais em assembléias.

É evidente que a força social dessa fonte é muito menor do que aforça e o sentido universal do referencial permanente de caráteraxiológico de fundo espiritual.

Page 88: Ideias Em Destaque Incaer 18

88 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

O Ocidente usufruiu dessa mudança, e muito, em termos de pro-gresso material e avanço técnico, mas as suas sociedades não sãosempre modelos consideráveis. As sociedades do Islã, por estaremmovidas por um esquema não-secular e de fundo religioso, têm a pos-sibilidade de – tal como os chineses, por outras razões – abdicar domodelo tecnológico-capitalista do Ocidente.

Contudo, neste momento da História nada parece ter força e meiossuficientes para suplantar os Estados Unidos – e seus aliados ociden-tais – e o Japão. Tamanha força é inconfrontável e pode muito, masainda não pode, do ponto de vista político, controlar objetivos simul-tâneos dispersos pelo mundo, e talvez nem os localizados, de modoabsoluto e completo (vide Iraque).

De outra parte, não há o vislumbre de que os problemas graveshoje existentes no sistema técnico ou em seus insumos não possam serresolvidos via ciência e tecnologia, ainda que a custos sociais e econô-micos muito elevados.

Tecnicamente os americanos podem afirmar que terão condiçõesinclusive de continuar a civilização humana no espaço, com pequenosgrupos, se o planeta vier a mostrar-se inviável no futuro.

Entretanto permanece atual a assertiva de Toynbee em passagemcélebre:

“O grau de avanço de uma sociedade será menos significativodo que a medida do seu sucesso em oferecer solução aos proble-mas de poluição, de exaustão de recursos e da tensão social, quesão, no presente momento, os elementos concomitantes não-ven-cidos pelo sistema industrial. O futuro poderá revelar uma respos-ta não-ocidental a um problema que foi apresentado originalmen-te pelo Ocidente”.

Assim, se parecem óbvios os cmp atuais, nada se pode precisarquanto ao futuro deles. O mundo é incerto e a mudança, rápida. Umcientista social fez uma advertência muito importante, na década de70, mostrando que a hecatombe nuclear e o holocausto bacteriológico– ingredientes típicos de uma fase bélica – poderiam ser os responsá-

Page 89: Ideias Em Destaque Incaer 18

89Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Paulo César Milani Guimarães

veis pela desorganização social, perda de padrões culturais e de coerên-cia dos sistemas culturais em vigor. Isso levaria a um retrocesso sério,que representaria avanço para outros mais atrasados, e que perderiammenos em termos de padrões culturais avançados e coerência de suasculturas, suportada por um referencial externo de tipo religioso.

Talvez semelhantes catástrofes possam ser evitadas, mas seus efei-tos podem estar sendo perseguidos por novas formas de luta – a prin-cipal delas, o terrorismo – que pode lançar mão de qualquer tipo dearma, certamente de alcance limitado, porém com efeitos globais.

Impressiona lembrar que os romanos, durante séculos, escreveramsobre Direito, Filosofia e Política, e tinham por certa a segurança doEstado romano, deixando aos pessimistas de plantão a preocupaçãocom invasões de povos bárbaros, muito atrasados, em geral, e com asidéias ilógicas e ridículas dos cristãos.

A autor é cientista social, professor de Sociologiae conferencista da Escola Superior de Guerra.

Page 90: Ideias Em Destaque Incaer 18

Pedidos ao

Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail:[email protected]

Page 91: Ideias Em Destaque Incaer 18

91Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Pasqual Antonio Mendonça

����������

��+� ���#�����������,

Durante a construção da Academia da Força Aérea emPirassununga (SP), foi criada uma comissão chefiada por um brigadei-ro-do-ar que, freqüentemente, se deslocava do Rio de Janeiro para lá,no C-45-2789, levando empresários interessados nas obras, visitas,comitivas de estrangeiros, autoridades.

Para atender a estas visitas, procurava-se proporcionar as melho-res condições possíveis, a fim de que, em gostando, pudessem contri-buir para o andamento das obras em suas áreas de atuação.

As programações eram diversas e algumas exóticas: as comiti-vas de americanos apreciavam uma pescaria de dourado no RioMogi; outras, as visitas à Estação de Piscicultura e as peixadas naCachoeira de Emas; as brasileiras sempre eram incluídas na pro-gramação; uma passagem rápida na Caninha 29, para um papocom o Del Nero, ou mais demorada nos tonéis da 51, onde o EsioMüller dissertava sobre o processo de produção e, ao final, convi-dava para tomar uma branquinha de um pequeno barril que diziaconter uma aguardente de 40 anos. Por sinal, o barril devia sermágico, pois sempre vi retirar a velha cachaça, e o mesmo continuacheio, até hoje. Daí: 51. Uma boa idéia!

Na época, as comunicações eram através de telegrafia semfio, empregando o Código Morse, conhecido na intimidade porDidi Dada.

Para diminuir o tempo de transmissão das mensagens, usavam-seas mais variadas abreviaturas e um catálogo de decodificação que nemtodos utilizavam, por ser muito trabalhoso.

Transcrevo a seguir o radiograma original, gentilmente cedido peloCel.-Int. Cremildo Ferreira Cardoso, de Parnamirim, que o guarda atéhoje, tratando de uma dessas visitas.

Page 92: Ideias Em Destaque Incaer 18

92 Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Pasqual Antonio Mendonça

KK CECAFA SBYS

63/CMDO/140566 INFO ETA FAB 2789 16051400Z CONDCMTV 05 PAX PT SOL PRV BRFG E VISITA SIST ABTCAGUA PT CMTV PRNT PTVG JANTAR CHURRASCO NOBOSQUE VG 02 TACO PT CECAFA

SBRJ ZWRJ 15001405

O então Ten.-Int. Cardoso soubera, como sempre, cuidar das ati-vidades administrativas referidas no telegrama, que foi assimdecodificado:

Radiograma número 63, do Comando da Comissão de 14/05/1966.Informo a estimada de chegada da aeronave FAB 2789 dia 16 demaio às 1100 horas local, conduzindo comitiva de 5 passageiros. So-licito providenciar palestra e visita ao sistema de abastecimento deágua. A comitiva pernoitará; jantar, churrasco no bosque, dois tacos.

Imediatamente, tomou as providências solicitadas para pernoite,transporte e churrasco. A visita e a palestra ficavam por conta dosengenheiros. Restava, ainda, atender aos dois jogadores de sinuca.Ou seriam jogadores de bilhar?

Foi aos cassinos dos cadetes, oficiais, sargentos, e só encontroutacos tortos, ensebados, sem cabeça. Nenhum digno de tais jogado-res mencionados no telegrama.

No Bar Azul, na Avenida Duque de Caxias, obteve informaçõesque o Clube Pirassununga poderia ter. Nada que valesse a pena. Fi-nalmente, após percorrer bares e clubes de Leme, Porto Ferreira eDescalvado, encontrou dois excelentes tacos – um pesado e outroleve – no Seminário Diocesano de São Carlos, e que foram gentilmen-te cedidos, com autorização de sua Excelência Reverendíssima DomRui Serra, Bispo da diocese.

Chegados os visitantes, o Coronel Antonio José de Campos apre-senta as boas-vindas ao brigadeiro e à comitiva e, antes de iniciar apalestra sobre a captação de água, fala do programa a ser cumprido.

Page 93: Ideias Em Destaque Incaer 18

93Id. em Dest., Rio de Janeiro, (18) : 91 - 93, maio/ago. 2005

Pasqual Antonio Mendonça

Finalmente, orgulhoso, apresenta o Tenente Cardoso, com os dois ta-cos, esclarecendo ser um leve e o outro pesado.

O brigadeiro não entende e pede esclarecimentos sobre os tacos.

Cardoso, prevenido, mostra o telegrama:

– Aqui está, Excelência, o pedido: 02 TACO.

Irritado, o Brigadeiro contesta:

– Que dois tacos coisa nenhuma, são DOIS TAIFElROS COZI-NHEIROS!!!

O autor é Coronel-Aviador da Reserva da Aeronáutica e escritor.

Page 94: Ideias Em Destaque Incaer 18

COLEÇÃO AERONÁUTICA DO INCAER

SÉRIE

HISTÓRIA GERAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA

VOL. 1 – Dos Primórdios até 1920.

VOL. 2 – De 1921 às Vésperas da Criação do Ministério da Aeronáutica.

VOL. 3 – Da Criação do Ministério da Aeronáutica ao Final da Segunda Guerra

Mundial.

VOL. 4 – Janeiro de 1946 a Janeiro de 1956 – Após o Término da Segunda Guerra

Mundial até a Posse do Dr. Juscelino Kubitschek como Presidente da

República.

SÉRIE

HISTÓRIA SETORIAL DA AERONÁUTICA BRASILEIRA

1 – Santos-Dumont e a Conquista do Ar - Aluízio Napoleão

2 – Santos-Dumont and the Conquest of the Air - Aluízio Napoleão

3 – Senta a Pua! - Rui Moreira Lima

4 – Santos-Dumont – História e Iconografia - Fernando Hippólyto da Costa

5 – Com a 1ª ELO na Itália - Fausto Vasques Villanova

6 – Força Aérea Brasileira 1941-1961 – Como eu a vi - J. E. Magalhães Motta

7 – A Última Guerra Romântica – Memórias de um Piloto de Patrulha - Ivo

Gastaldoni (ESGOTADO)

8 – Asas ao Vento - Newton Braga

9 – Os Bombardeiros A-20 no Brasil - Gustavo Wetsch

10 – História do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica - Flávio José Martins

11 – Ministros da Aeronáutica 1941-1985 - João Vieira de Sousa

12 – P-47 B4 – O Avião do Dorneles - J. E. Magalhães Motta

13 – Os Primeiros Anos do 1º/14 GAv - Marion de Oliveira Peixoto

14 – Alberto Santos-Dumont - Oscar Fernández Brital (ESGOTADO)

15 – Translado de Aeronaves Militares - J. E. Magalhães Motta

16 – Lockheed PV-1 “Ventura” - J. E. Magalhães Motta

17 – O Esquadrão Pelicano em Cumbica – 2º/10º GAv - Adéele Migon

18 – Base Aérea do Recife – Primórdios e Envolvimento na 2ª Guerra Mundial -

Fernando Hippólyto da Costa

19 – Gaviões de Penacho - Lysias Rodrigues

20 – CESSNA AT-17 - J. E. Magalhães Motta

21 – A Pata-Choca - José de Carvalho

22 – Os Primórdios da Atividade Espacial na Aeronáutica - Ivan Janvrot Miranda

Page 95: Ideias Em Destaque Incaer 18

SÉRIE

ARTE MILITAR E PODER AEROESPACIAL

1 – A Vitória pela Força Aérea - A. P. Seversky

2 – O Domínio do Ar - Giulio Douhet

3 – A Evolução do Poder Aéreo - Murillo Santos

4 – Aeroportos e Desenvolvimento - Adyr da Silva (ESGOTADO)

5 – O Caminho da Profissionalização das Forças Armadas - Murillo Santos

6 – A Psicologia e um novo Conceito de Guerra - Nelson de Abreu O’ de Almeida

7 – Emprego Estratégico do Poder Aéreo - J. E. Magalhães Motta

8 – Da Estratégia – O Patamar do Triunfo - Ivan Zanoni Hausen

SÉRIE

CULTURA GERAL E TEMAS DO INTERESSE DA AERONÁUTICA

1 – A Linha, de Mermoz, Guillaumet, Saint-Exupéry e dos seus companheiros

de Epopéia - Jean-Gérard Fleury

2 – Memórias de um Piloto de Linha - Coriolano Luiz Tenan

3 – Ases ou Loucos? - Geraldo Guimarães Guerra

4 – De Vôos e de Sonhos - Marina Frazão

5 – Anesia - Augusto Lima Neto

6 – Aviação de Outrora - Coriolano Luiz Tenan

7 – O Vermelhinho – O Pequeno Avião que Desbravou o Brasil -Ricardo Nicoll

8 – Eu vi, vivi ou me contaram - Carlos P. Aché Assumpção

9 – Síntese Cronológica da Aeronáutica Brasileira (1685-1941) - Fernando

Hippólyto da Costa

10 – O Roteiro do Tocantins - Lysias A. Rodrigues

11 – Crônicas... no Topo - João Soares Nunes

12 – Piloto de Jato - L. S. Pinto e Geraldo Souza Pinto

13 – Voando com o Destino - Ronald Eduardo Jaeckel (no prelo)

Pedidos ao:INSTITUTO HISTÓRICO-CULTURAL DA AERONÁUTICA

Praça Marechal Âncora, 15-A, Centro - Rio de Janeiro - RJCep: 20021-200 - Tel: (21) 2101-4966 / 2101-6125

Internet: www.incaer.aer.mil.br e-mail: [email protected]

Page 96: Ideias Em Destaque Incaer 18