hoje macau 5 dez 2013 #2989

20
JULGAMENTO LA SCALA Testemunha afirma que Moon Ocean não teve privilégios PÁGINA 4 • UMAC E OS TALENTOS Universidade quer graduar líderes do Governo de Macau PÁGINA 6 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 QUINTA-FEIRA 5 DE DEZEMBRO DE 2013 ANO XIII Nº 2989 PUB AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB EDUCAÇÃO REPROVAÇÃO E ABANDONO ESCOLAR DSEJ DIVULGA TAXAS MAIS BAIXAS EM DEZ ANOS, MAS SEM RELAÇÃO DIRECTA PÁGINA 5 hojemacau Au revoir Começou mal e acaba pior. A história da Reolian revela-se um verdadeiro fiasco. A operadora de autocarros, que nasceu em 2011, conhece o pior dos destinos depois dos credores não se terem mostrado com vontade de constituir uma socie- dade por quotas para salvar a ‘joint-venture’ que abriu falência com perdas na ordem das 120 milhões de patacas. O Tribunal Judicial de Base assinou a setença de morte da em- presa e agora o Governo terá de decidir o que fazer com 580 trabalhadores e uma frota avultada de autocarros. Credores da Reolian não mostraram vontade de salvar a empresa. Tribunal decretou falência PÁGINAS 2 E 3 PUB Ter para ler

Upload: jornal-hoje-macau

Post on 21-Mar-2016

227 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Edição do jornal Hoje Macau N.º2989 de 5 de Dezembro de 2013.

TRANSCRIPT

Page 1: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

• JULGAMENTO LA SCALA

Testemunha afirma que Moon Ocean não teve privilégios

PÁGINA 4

• UMAC E OS TALENTOS

Universidade quer graduar líderes do Governo de Macau

PÁGINA 6

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 5 D E D E Z E M B R O D E 2 0 1 3 • A N O X I I I • N º 2 9 8 9

PUB

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

• EDUCAÇÃO REPROVAÇÃO E ABANDONO ESCOLAR

DSEJ DIVULGA TAXAS MAIS BAIXAS EMDEZ ANOS, MAS SEM RELAÇÃO DIRECTA

PÁGINA 5

hojemacau

Au revoirComeçou mal e acaba pior. A história da Reolian

revela-se um verdadeiro fiasco. A operadora de autocarros, que nasceu em 2011, conhece o pior dos destinos depois dos credores não se terem mostrado com vontade de constituir uma socie-dade por quotas para salvar a ‘joint-venture’ que abriu falência com perdas na ordem das

120 milhões de patacas. O Tribunal Judicial de Base assinou a setença de morte da em-presa e agora o Governo terá de decidir o que fazer com 580 trabalhadores e uma frota avultada de autocarros.

Credores da Reolian não mostraramvontade de salvar a empresa.

Tribunal decretou falência

PÁGINAS 2 E 3

PUB

Ter para ler

Page 2: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

2 hoje macau quinta-feira 5.12.2013REOLIAN

ANDREIA SOFIA SILVA*[email protected]

A morte da Reolian saiu ontem à rua depois de nenhum dos credores ter decidido apostar em

alternativas para salvar a empresa que decretou a falência em Outubro último, por perdas acumuladas na ordem das 120 milhões de patacas.

Os credores da concessionária de autocarros não quiseram constituir uma sociedade por quotas para salvar a empresa que declarou falência em Outubro. Stephen Chok, um dos directores, deixou a Reolian em Maio e teve conhecimento do caso através dos jornais. Se Bill Chou defende que a população deve opinar quanto ao futuro dos autocarros, Larry So diz que o regresso ao modelo antigo, com duas operadoras, não é a melhor opção. Poucos sabem o que vai acontecer

BILL CHOU DEFENDE CONSULTA PÚBLICA SOBRE FUTURO DOS AUTOCARROS

Empresa faliu e ninguém quis salvá-la

A assembleia de credores decorreu de manhã no Tribunal Judicial de Base (TJB) e, de acordo com um comunicado citado pela Rádio Ma-cau, nenhum dos participantes quis criar uma “sociedade por quotas para continuar o giro comercial” da Reolian.

Segundo o canal chinês da Rá-dio Macau, houve duas entidades bancárias credoras que afirmaram

que o negócio da empresa já ti-nha sofrido algumas melhorias e que não seria necessário declarar falência, mas ainda assim o juiz decretou esse passo, porque não foi feita nenhuma proposta.

Houve ainda um pequeno credor que falou de uma dívida de 200 mil patacas, depositando esperanças na gestão do Governo quanto ao respectivo pagamento.

Para já, o Executivo vai assumir a gestão provisória da empresa durante seis meses, mas depois poucos sabem o que vai acontecer.

De acordo com informação avançada pela Rádio Macau, os Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) vão ter hoje um encontro com os 580 trabalhadores da empresa - sendo que 430 são motoristas. A DSAT disse que “está empenhada” em garantir a estabi-lidade do serviço de autocarros.

O director da DSAT, Wong Wan, garantiu que vai fazer um pedido ao Governo para continuar a garantir os serviços à população. “Por forma a manter os salários dos funcionários e fornecedores de combustível. O Governo agora é responsável pelo pagamento destas despesas.”

Uma coisa é certa: o Executivo não vai ficar com a Reolian, como já garantiu Wong Wan, aquando da declaração de falência. Então, o que pode acontecer?

Au Kam San, deputado eleito

Por forma a manter os salários dos funcionários e fornecedores de combustível. O Governo agora é responsável pelo pagamento destas despesasWONG WAN Director dos Serviços para os Assuntos de Tráfego

Page 3: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

A CRONOLOGIA DA POLÉMICA

3 reolianhoje macau quinta-feira 5.12.2013

Uma das coisas que se deve fazer é consultar a opinião do público e encorajá-lo a identificar o problema e a incentivarem novas políticasBILL CHOU Académicoda Universidade de Macau

• 1 DE AGOSTO DE 2011 – DSAT assina contratos com Reolian, TCM e Transmac para a operacionalização de um novo modelo de autocarros, durante sete anos. A Reolian entrava no mercado através de um consórcio entre a Veolia e a H.Nolasco. Os problemas começavam, por entre as dificuldades no recrutamento de mão-de-obra, a falta de um local fixo de abastecimento de combustível e os inúmeros acidentes.

• MARÇO DE 2012 – DSAT afirma que não vai tirar a licença à concessionária, depois de vários acidentes causados. Um deles originou uma vítima mortal, enquanto que num outro incidente uma idosa ficou sem as duas pernas

• JUNHO DE 2012 – DSAT anuncia aumentos das tarifas em 23%. População contesta alegando o mau serviço prestado

• JANEIRO DE 2013 – DSAT avança com actualização de tarifas mas deixa de lado a Reolian, alegando que não respondeu a uma avaliação governamental. Empresa dirigida por Cédric Rigaud fala da existência de injustiças

• OUTUBRO DE 2013 – Pedido de falência da Reolian apresentado ao Governo por perdas superiores a 120 milhões de patacas. No dia 9, assembleia de credores fica agendada para o dia de ontem. Governo assume gestão da empresa por seis meses

• NOVEMBRO DE 2013 – O Comissariado contra a Corrupção (CCAC) diz que a DSAT cometeu “o caso mais grave de violação da lei e de lesão do interesse público” na celebração dos contratos com as operadoras. Estes foram considerados ilegais. Cédric Rigaud disse que a conclusão chegou “tarde demais”, pois há dois anos que a Reolian tentava tornar-se, nos termos legais, uma concessionária de serviço público. DSAT já disse que vai rever contratos

pela Associação Novo Macau (ANM), e um dos autores do pedido de audição sobre o caso junto da Assembleia Legislativa (AL), diz ao HM que a falência “já estava prevista”. “A questão que agora se coloca é como é que o Governo vai tratar dos proble-mas de acompanhamento. Depois da falência, como vai resolver os salários dos funcionários? Vão haver despedimentos? Como vai ficar a manutenção dos veículos? Será que vai vender a propriedade para pagar o débito aos credores?”

“Duvido que, tendo em conta a forma como o Governo está a tratar a polémica com os contratos dos autocarros, tenha mais energia para lidar com o caso da Reolian. Trata--se de uma situação legal, porque o Executivo está a gerir o serviço de autocarros, mas durante estes meses vai ter alguma preparação ou uma proposta para resolver os problemas no final desse prazo?”

Alguns motoristas não revelam qualquer preocupação quanto à falência da Reolian, porque acredi-tam que, dada a gestão do Executi-vo, não vão haver atrasos salariais, revelou a TDM. Muitos cidadãos entrevistados apontaram ainda que não gostavam do funcionamento da empresa, e que durante dois anos esta não conseguia operar por ter

muitos problemas, o que causou muitos acidentes.

LARRY SO APONTA DEDO À REOLIANO HM tentou por diversas vezes contactar Cédric Rigaud, director--geral da Reolian, mas as chamadas nunca foram atendidas. Stephen Chok, outro dos directores, adiantou que não faz parte da empresa desde

Maio, altura em que saiu juntamente com vários accionistas. “Desde a minha saída que não tenho qualquer informação sobre a gestão da Reolian e vi a notícia da falência nos jornais, como um cidadão comum. Já estou a dirigir o meu próprio negócio e não tenho nada a ver com este assunto, não vou fazer qualquer comentário”, disse ao HM.

Foi ainda feito um contacto ao advogado da Reolian, Gonçalo Mendes da Maia, que disse “não ir fazer nenhuma comunicação à imprensa”.

Na opinião do académico Larry So, os problemas podem não parar por aqui. “Estou preocupado com duas questões. Uma delas é a pro-priedade da empresa. O Governo pode comprar a parte dos credores e operar o serviço, ou então pode surgir outra empresa a operar. E este é um problema que tem de ser resolvido o mais depressa possível.”

O académico do Instituto Poli-técnico de Macau (IPM) considera, contudo, que o regresso ao modelo antigo, apenas com a TCM e Trans-mac, não é viável. “O Governo não deveria operar porque não é uma empresa, e não deve comprar estes autocarros e geri-los. Quanto a ter outra empresa a gerir, vai gerar um problema totalmente novo, porque tem de ser feita outra legislação para uma nova concessionária.”

“Outra empresa pode vir para

Duvido que, tendo em conta a forma como o Governo está a tratar a polémica com os contratos dos autocarros, tenha mais energia para lidar com o caso da ReolianAU KAM SAN Deputado

Já estou a dirigir o meu próprio negócio e não tenho nada a ver com este assunto, não vou fazer qualquer comentárioSTEPHEN CHOK ex-Directorda Reolian

Macau para termos mais competi-ção, e esse é um assunto a debater. Nos últimos dois anos tivemos três empresas, mas tivemos muitos problemas”, lembra.

Será que a culpa da falência da Reolian pode ser depositada no Governo, que não pagou as tarifas como fez à TCM e Transmac e cometeu, segundo o CCAC, uma ilegalidade ao nível do contrato? “Não acho. A responsabilidade do Governo não deve ser esquecida, mas temos de olhar para as capaci-dades de gestão da empresa. Creio que as fracas capacidades de gestão levaram a Reolian à falência.”

Uma advogada especialista em Direito comercial e de sociedades, que não quis ser identificada, falou da questão da ilegalidade trazida a lume com o relatório do CCAC. “Parece que o licenciamento não foi feito segundo a lei, ninguém reparou nisso e a coisa andou para a frente. Em todas as empresas, inde-pendentemente de ser a Reolian ou outra qualquer, o risco em relação a esse problema é o Governo que tem de assumir, porque foi o Executivo que fez o erro. À partida, ou mudam o regime ou então mudam o tipo de licenciamento. Não faço ideia qual é a intenção do Governo, mas as hipóteses são essas.”

“Quanto à Reolian, cuja gestão foi assumida pelo Governo, é uma questão que não tem a ver com o licenciamento, mas tem a ver com o facto da empresa ter falido e ter de ser o Executivo a assegurar o funcionamento. Mais tarde ou mais cedo ou vão ter de concessionar estes autocarros a outra empresa ou esta empresa resolve o problema de falência, mas este problema não se pode prolongar por muito mais tempo”, diz ainda.

DEFENDIDA CONSULTA PÚBLICAO docente de ciência política da Universidade de Macau (UMAC), Bill Chou, e o mais recente membro da Associação Novo Macau, defen-de que deve ser feita uma consulta pública para se saber qual o futuro a dar ao modelo de autocarros. “Uma das coisas que se deve fazer é consultar a opinião do público e encorajá-lo a identificar o problema e a incentivarem novas políticas.”

Mas como, se os contratos não foram tornados públicos? “Essa é outra questão. Trata-se de uma questão da liberdade de informação, e é quase impossível ao público ter acesso a informação para compreender as políticas pú-blicas, por forma a ter uma maior participação.”

Ideia que também é defendida por Larry So. “Não temos nenhum conhecimento do conteúdo do contrato e é difícil saber o que vai acontecer a seguir. Devia haver um lado público dessas licenças como há com os casinos. Com o caso da Reolian não temos nenhuma ideia de qual legislação é que está a ser usada.” - *com Cecília Lin

O Governo não deveria operar porque não é uma empresa, e não deve comprar estes autocarros e geri-losLARRY SO Académicodo Instituto Politécnico de Macau

Page 4: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

4 hoje macau quinta-feira 5.12.2013POLÍTICALA SCALA DEFESA MOSTRA QUE HAVIA ESTUDOS PRÉVIOS PARA TERRENOS ANTES DA COMPRA PELA MOON OCEAN

Projectos sem relação com arguidos

JOANA [email protected]

L UÍS de Mesquita Me- lo, advogado de Jo-seph Lau, questionou ontem uma testemu-

nha sobre uns projectos de arquitectura para os terrenos em frente ao aeroporto feitos em 2004, ou seja, antes da venda dos lotes ter sido feita à Moon Ocean, a empresa de Steven Lo. A defesa diz, desde o início, que a empre-sa - subsidiária da Chinese Estates Holdings de Joseph Lau - não recebeu qualquer tipo de informações que lhes permitisse vencer a consulta por convite, onde competiam representados pela Jones Lang LaSalle contra a STDM (representada pela Vigars) e a CB Richard Ellis. Já a acusação assegura que a empresa de Lo teve acesso

H ANY Sorour, agente da Waterleau no Egipto, foi ontem uma das testemunhas

arroladas pela defesa de Luc Vriens – director-executivo da Waterleau - ouvido em tribunal. O agente veio confirmar o que a defesa de um dos principais arguidos do chamado ‘caso das ETAR’ tem dito: é nor-mal as empresas terem agentes em países e regiões estrangeiras, a que incumbem de ajudar com traduções, legislação laboral e outros detalhes.

Hany Sorour vincou ainda que não é necessário ter um acordo escrito com o agente, algo que a defesa de Pedro Chiang – arguido no processo e tido como o agente da Waterleau em Macau – contestou já numa audiência anterior. O acordo, disse a testemunha, pode ser de mera confiança e o pagamento acontece apenas quando a empresa vença o concurso.

O caso – relacionado com a adjudicação da construção, opera-

ETAR AGENTE CONFIRMA TESE DE DEFESA DE LUC VRIENS. ADVOGADO DE PEDRO CHIANG APRESENTA NOVOS DOCUMENTOS

Defesa contra defesa

A defesa de Joseph Lau e Steven Lo, os dois empresários de Hong Kong a ser julgados no Tribunal Judicial de Base por, alegadamente, terem pago subornos a Ao Man Long já tinha dito e ontem uma das testemunhas da defesa confirmou: a Moon Ocean – empresa responsável pelo empreendimento La Scala – não pode ter obtido informações privilegiadas sobre os terrenos em frente ao aeroporto, porque já se sabia que os lotes seriam para desenvolver

de dez mil dólares americanos”, frisou em tribunal, antes de ser interrompido pelo juiz presidente e pelo Ministério Público.

Mário Silvestre, presidente do colectivo, não permitiu que o advogado acabasse a sua exposi-ção por esta mostrar factos que não estão comprovados e por ser muito extensa e também o MP se pronunciou contra a leitura do re-querimento de João Miguel Barros, dizendo que parecia que o defensor de Chiang só queria “ler tudo para mostrar ao público” a sua tese.

Os documentos a que Barros se refere serão manuscritos do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, alegadamente sobre pagamentos a Luc Vriens, quando este era ainda funcioná-rio da Sigars, empresa onde o belga trabalhava nos anos 90 e que foi responsável pela ETAR da Taipa. O tribunal aceitou o requerimento. - J.F.

a informações privilegiadas para conseguir ganhar essa consulta.

A tese do Ministério Pú-blico baseia-se no facto de os desenhos apresentados na proposta à consulta serem, diz, “demasiado detalhados” para alguém que não sabia que os lotes iam ser vendi-dos, mas ontem Phillip Lau deu força ao que diz a defe-sa: já anteriormente tinham sido feitos estudos prévios para os mesmos terrenos, algo “normal” no ramo imobiliário. “Lembro-me destes terrenos em frente ao aeroporto, apesar de nunca ter estado lá. Os desenhos são meus e foram enco-mendados por uma empresa antes mesmo da aquisição dos terrenos”, frisou Phillip Lau. O arquitecto não quis especificar que empresa fez a encomenda dos estudos,

por uma questão de “sigilo”, mas acrescentou que estes projectos “nunca tiveram nada a ver com [Joseph] Lau ou [Steven] Lo”.

Já se tinha referido anteriormente em tribunal que a venda dos lotes do aeroporto – concedidos pelo Governo à CAM –

Sociedade do Aeroporto em 1995 e, posteriormente adquiridos por cinco socie-dades comerciais – estava já decidida desde os anos

90, tendo havido inclusi-ve promoção desta venda em Hong Kong e Taiwan. Phillip Lau confirmou a mesma ideia, dizendo que é prática comum investidores pedirem estudos prévios so-bre determinados terrenos – mesmo antes de ser tornada pública a sua venda – para decidirem se querem ou não investir. “Acredito que a companhia pensou que os terrenos viessem a ser desenvolvidos e, por isso, encomendou os desenhos.”

Recorde-se que Jose-ph Lau e Steven Lo vêm acusados de um crime de corrupção activa cada um, por alegadamente terem pago 20 milhões de pata-cas a Ao Man Long para conseguirem os terrenos. O ex-secretário foi con-siderado culpado por ter aceite o suborno.

ção e gestão das ETAR do Parque Industrial Transfronteiriço e da segunda fase da de Coloane – tem vindo a suscitar problemas entre o advogado de defesa de Luc Vriens, Pedro Redinha, e João Miguel Barros, defensor do empresário de Macau Pedro Chiang.

Ontem não foi excepção, com João Miguel Barros a apresentar um requerimento de junção aos autos de documentos relaciona-dos com Luc Vriens. O advogado assegura que estão a tentar fazer Chiang um “bode expiatório”, uma vez que, assegura, há do-cumentos que mostram que Luc Vriens já tinha contactos com Ao Man Long, ex-secretário que terá, alegadamente, aceite os subornos para que vencesse o consórcio formado pela Waterleau, anteriores à alegada contratação de Chiang como agente. “Existem manuscri-tos de Ao Man Long a documentar pagamentos de Luc já em 1998,

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

Joseph Lau Steven Lo

Page 5: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

hoje macau quinta-feira 5.12.2013

TIAG

O AL

CÂNT

ARARITA MARQUES RAMOS

[email protected]

A taxa de abandono esco-lar no ensino diminuiu mais de 80% desde o estabelecimento da

RAEM. Os números foram avança-dos pelo chefe do departamento de estudos e de recursos educativos da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Wong King Mou. “No ano lectivo 1999/2000, houve uma taxa de abandono esco-lar de 0,99%, ou seja, 756 pessoas. Já em 2011/2012, registou-se 0,12% abandonaram os estabelecimen-tos de ensino, o equivalente a 51 pessoas.”

Numa nota de imprensa, a DSEJ especifica ainda as taxas de abandono relativas a cada nível de ensino. “A taxa de retenção no ensino primário diminuiu mais de 50% relativamente à mais alta taxa registada, passando de 7,3% para 3,3% no ano lectivo de 2012/2013, ao passo que a do ensino secundário

A cidade prepara-se para acolher ‘Chefs’ de cozinha, figuri-

nistas, cenógrafos e outros criativos. A aposta é feita em Seac Pai Van, uma das novas zonas de habitação pú-blica, onde serão formados novos “talentos” num centro prático de ensino técnico--profissional. A ideia é trazer mais gente qualificada para servir este “centro mundial de turismo e lazer”, que se pretende diversificado.

“Estas são áreas de for-mação que correspondem às necessidades de Macau como centro de serviços e plataforma entre os países de língua portuguesa. Os destinatários são alunos da escola técnico-profissional e queremos atrair alunos do ensino geral”, explica Leong Vai Kei, chefe do Departamento de Ensino

da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), numa conferência de imprensa ontem à tarde após um colóquio que reuniu membros do Con-selho de Educação para o Ensino Não Superior e de Juventude.

Por outro lado, sa-lienta, é também dada oportunidade para que as escolas da cidade pos-sam fornecer “actividades técnico-profissionais” nas instalações com “cursos de curta duração”.

Tal como já tinha sido anunciado pelo Chefe do Executivo na apresenta-ção das Linhas de Ac-ção Governativa (LAG) para 2014, a aposta em quadros qualif icados passa ainda por cursos linguísticos – de manda-rim, inglês, português,

cantonês, entre outros - naquele que será o centro de formação de línguas. A ideia neste caso, afiança a responsável, é mergulhar no novo idioma por meio de um regime residencial ou de internato.

“Para aprender a lín-gua é preciso um am-biente linguístico e de vivência. Vamos criar um campus de Verão. E para determinados cursos, os alunos têm de ficar nos dormitórios destes cen-tros. Faremos laboratórios linguísticos e podemos criar cursos de viagens para que se ponham em prática conversações de foro turístico.”

A DSEJ dá conta de que estes dois centros, que devem ser erguidos em 2016, não têm “modelos tradicionais de ensino” e

que, até pelo contrário, esperam “romper com o sistema de educação”.

Ainda não existe um número exacto de docen-tes que serão contratados, mas privilegiar-se-á uma “equipa mista”. “Haverá professores de Portugal para ensinar a língua e professores de Pequim que percebem as dificuldades de um chinês a aprender português”, frisa Leong. Segundo a responsável, serão também convidados oradores para seminários, nomeadamente, na área das exposições e conven-ções.

ESCOLA MULTILINGUEE INTERNACIONALOs dois centros, a juntar à nova escola primária, vão custar ao Governo cerca 700 milhões de patacas. Tal

como já tinha avançado ao HM em Setembro, a DSEJ lembra que haverá entre 450 e 630 vagas para nove turmas do ensino infantil e 18 turmas do ensino primário.

“Vamos ter contacto com os moradores que se vão mudar para Seac Pai Van para saber a distribui-ção etária das crianças das famílias, mas outros alunos também são bem-vindos. [...] A escola é oficial. Bilingue ou não, terá três línguas e quatro idiomas. Durante as aulas predo-minam as quatro línguas e depois as actividades extracurriculares. Tam-bém existirão assistentes e trabalhadores recrutados do exterior que dominam línguas diferentes para ajudar os alunos”, refere Leong Vai Kei. - R.M.R.

PISA 2012 Apostaganha em livros de Hong Kong e da ChinaCheung Kwok Cheung sugere que o material didáctico de Hong Kong e da China adoptados em Macau ajudaram a conseguir melhores resultados no PISA. O director do Centro de Investigação e Avaliação do PISA nota que houve um melhor desempenho e aproveitamento na matemática, mas assume que o mais importante “é a participação na sociedade e o nível de competição”. A reforma curricular, explica, foi outro dos “factores de destaque” bem como a “aposta na formação de docentes”.

SEAC PAI VAN VAI FORMAR PROFISSIONAIS NA MODA, CULINÁRIA E INDÚSTRIAS CRIATIVAS

Quadros qualificados e escolamultilingue para “cidade internacional”

A taxa de reprovação e de abandono escolar baixaram em cerca de 80% e 50%, respectivamente, no espaço de uma década. A DSEJ não vê uma ligação de causa-efeito até porque os números mostram o resultado de “mais de 100 medidas” aplicadas na promoção do sucesso escolar

DSEJ DÁ CONTA DE QUE 0,12% DOS ALUNOS ABANDONARAM O ENSINO NO ANO 2011/2012

Reprovação e abandonoescolar sem relação directa

geral passou de 16,7% para 9,4% e a do ensino secundário comple-mentar passou de 8,2% para 4% no último ano lectivo.”

Wong rejeita a ideia de que apenas os alunos que deixam de estudar levem à diminuição da taxa de reprovação. “O abandono pode ter muitas causas e a retenção pode

ser uma delas, mas não há nenhuma relação directa.”

Sobre as razões para a melhoria na taxa de reprovação, o chefe de departamento diz que a redução do número de alunos por turma e a diminuição da carga horária dos docentes são factores que contribu-íram para a baixa de números. Por

outro lado, há mais subsídios para “melhorar os recursos humanos e materiais” para ajudar os “alunos com atrasos na aprendizagem”. “Temos vários apoios para a promoção do sucesso escolar, são mais de 100 medidas. E mais de 10 milhões de patacas em subsídios para as escolas terem recursos para ensinar além do ensino regular normal e arranjar mais actividades extracurriculares.”

NÃO HÁ PRESSÃO SOBRETAXA DE SUCESSO ESCOLAROs dados traçam um cenário de progresso, mas o responsável da DSEJ não faz dos números uma meta a atingir ou manter. “O objec-tivo é promover o sucesso escolar e não queremos apenas correr atrás dos dados. Não é apenas satisfazer números. Por isso, não temos ne-nhum objectivo sobre o nível mais baixo de retenção e nem emitimos nenhuma directiva à escola para que seja cumprida determinada taxa”, frisa.

A chefe do departamento de ensino da DSEJ, Leong Vai Kei, acrescentou ainda a ideia de que tem sido feito trabalho no acom-panhamento dos alunos que aban-donam a escola para que voltem aos estabelecimentos de ensino. “Quando a criança está no tempo de ensino obrigatório vamos às casas declaradas pelas famílias de três em três meses. Cumulativamente, já contactámos mais de 100 pessoas. Há pais que dizem que a criança foi para o estrangeiro mas exigimos uma prova.”

A responsável acredita que é preciso “cooperação dos encar-regados de educação”, quando mudam de residência ou de nú-meros de telefone porque senão é difícil chegar “ao paradeiro da criança”. A escola, por sua vez, já tem a obrigação de informar o organismo no prazo de sete dias após o abandono escolar. Leong lembra também que existe um programa de regresso à escola para que os alunos encontrem “um outro ambiente escolar adequado para adquirirem auto-confiança” e voltarem a estudar.

5SOCIEDADE

Page 6: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

hoje macau quinta-feira 5.12.20136 sociedade

CECÍLIA L [email protected]

O reitor da Universidade de Macau (UMAC), Zhao Wei, disse on-tem que a instituição

vai ser uma “base muito importante para formar talentos”, numa altura em que o enfoque das políticas do Governo se centra neste aspecto.

Zhao Wei defende que a UMAC pode formar talentos, especialmente os de Macau, e que tem mesmo capacidade para for-mar talentos que podem ser diri-gentes ou líderes da sociedade. Por isso, assume, é objectivo “formar o primeiro Chefe do Executivo graduado pela UMAC”. E não apenas um. “Não estamos a dizer um Chefe do Executivo, mas todos os Chefe do Executivo podem ser formados pela UMAC. Estou a falar num significado amplo. Ou seja, espero que a UMAC seja um lugar para formar a maioria dos talentos de Macau, especialmente

JOANA [email protected]

O Executivo con-cedeu um terreno no Cotai à Com-

panhia de Electricidade de Macau (CEM) para a construção de um posto de subestação de electricidade relacionado com o metro ligeiro. O anúncio foi ontem publicado em Boletim Ofi-cial (BO), num despacho assinado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Lau Si Io.

RITA MARQUES [email protected]

O delegado do Procu-rador do Ministério Público (MP) con-

cluiu haver “fortes indícios do crime de agressão física resultando na morte da viti-ma”, previsto e punido pelo artigo 139º do Código Penal. O mesmo indica que a pena de prisão caso o suspeito seja julgado pode ir de cinco a 15 anos por “ofensa grave à integridade física”. O juiz já

REITOR DA UMAC VAI ALTERAR ESTRUTURA DE MESTRADOS E ASSUME DESEJO

“Queremos formar um Chefe do Executivo”

GOVERNO CONCEDE TERRENO NO COTAI À CEM

Pelo metro e muito maisMORTE DE COMERCIANTE MP PEDE PRISÃO ATÉ 15 ANOS

Agressor sem “memória”

os que podem liderar a sociedade de Macau.”

A ideia já não é nova. Em 2008, quando Zhao Wei assumiu o cargo disse que “20 anos depois deveria sair um Chefe do Executivo da UMAC”, acrescentando que uma boa universidade tem responsabi-lidade a formar os líderes locais. “A responsabilidade da UMAC é formar os talentos e quem é competente para ser Chefe do Executivo, caso contrário, tenho de pedir desculpas à população de Macau pelo insucesso.”

MESTRADOS ADAPTADOS Zhao Wei revelou ainda que está a ajustar as aulas dos cursos de mestrado, a fim de dar mais opor-tunidade aos jovens de Macau para elevarem as suas capacidades. O reitor explicou que, actualmente, a maioria dos cursos são de tempo integral e que, por isso, vai ajustar o método para um sistema de cré-ditos, dividindo o curso em três e quatro anos até ser concluído.

O terreno foi conce-dido por arrendamento e directamente, ou seja, sem necessidade de concurso público. Com uma área de quase 1300 metros qua-drados, o lote fica junto à Avenida dos Jogos da Ásia Oriental e vai permitir a construção de uma das quatro subestações da empresa. “A CEM foi au-torizada a construir quatro postos de subestação para uso público, destinadas ao sistema de metro ligeiro, conforme despacho do

Secretário para as Obras Públicas e Transportes, de 24 de Maio de 2011”, explica-se no despacho.

A nova estação servirá não só para “satisfazer as necessidades de energia eléctrica para o metro ligeiro em 2013”, como para satisfazer “o aumento expectável do consumo de energia eléctrica para 2014”. Foi a CEM quem requereu a concessão do terreno ao Chefe do Exe-cutivo e a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) considerou ha-via condições para ser au-torizado, uma vez que esta será “uma infra-estrutura necessária à operacionali-dade do sistema do metro ligeiro”, que ainda permite satisfazer necessidades futuras de fornecimento de energia eléctrica resultante do desenvolvimento das zonas da Taipa.

A CEM pagou mais de um milhão e 350 mil patacas como prémio do terreno e o arrendamento é valido até 2025.

aplicou a o termo de prisão preventiva ao suspeito, es-tando o caso agora entregue à Polícia Judiciária (PJ) para mais investigação.

Alcoolizado, o turista natural de Guangdong, de apelido Cheong, 37 anos, terá gritado e assediado duas mulheres junto à ban-ca de frutas de um senhor de apelido Chan, no dia 1 de Dezembro pelas três da manhã. “[O suspeito] agre-diu violentamente a vítima quando este lhe pediu para

sair, não tendo esta resistido aos ferimentos e desmaiado. Morreu já nas urgências do hospital”, explica uma nota de imprensa do MP.

Cheong acabou depois por ser controlado e entre-gue à Polícia de Segurança Pública (PSP) pelas pessoas que se juntaram à volta da tenda. Quando prestou testemunho, o suspeito ad-mitiu ser viciado em jogo e já permanecia em Macau ilegalmente há seis meses por ter perdido dinheiro no vício. “Afirmou só se lem-brar de ter jogado e bebido naquela noite e não tinha memória sobre a agressão e morte da vítima”, diz o mesmo comunicado.

Chan, de 63 anos, era natural de Macau e tinha uma banca de fruta em frente ao Ponte 14 há mais de 40 anos. A Associação de Mútuo Auxílio do Bairro Abrangendo a Rua da Feli-cidade e Vias Circundantes disse ao jornal Ou Mun que a zona tem um pior ambiente de segurança nos últimos tempos e pediu mais patrulhamento.

Page 7: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

7 sociedadehoje macau quinta-feira 5.12.2013

Os deputados da Assembleia Legislativa (AL) que estão a analisar a Lei do Orçamento para 2014 lançaram ontem duras críticas à forma como os Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) avaliaram as suas contas. Segundo a Rádio Macau, o plano de despesas “não terá sido bem elaborado”, apontou Chan Chak Mo, deputado que preside à comissão. Isto porque a DSAT disse que o orçamento para o próximo ano vai aumentar para 1800 milhões de patacas.

“Claro que não foi bem elaborado. E o presidente da AL, que também esteve presente na reunião, alertou para o facto de que, quando inflacionam o orçamento, os outros serviços não podem utilizar as verbas que previam”, indicou o deputado.A DSAT terá explicado que as futuras carreiras de autocarros, criadas para o complexo habitacional de Seac Pai Van e o novo campus da Universidade de Macau são a causa para a necessidade de maior orçamento. O recrutamento de

mais 76 funcionários no próximo ano é outro dos motivos. O que não vai aumentar são as tarifas dos autocarros. Mas Chan Chak Mo avisou que “isso não quer dizer que o subsídio para as concessionárias não vai aumentar. A população é que não vai pagar mais”. O deputado disse ainda que, para os restantes serviços, o orçamento vai subir para reforço de pessoal. Mas, ainda assim, os valores estão abaixo dos que são exigidos pela DSAT.

CECÍLIA L [email protected]

A Associação de Empre-gados das Empresas de Jogo (AEEJ) recebeu

uma queixa dos seguranças do Venetian, onde estes se referiram à “má postura” da concessionária quando pediu aos funcionários que assinassem um novo contrato com menos regalias.

A maior mudança, dizem, prende-se com o novo nome da empresa contratante. Se antes eram empregados da “Venetian Macau Ltd”, passaram agora a assinar contrato pela “Sands Ve-netian Macau Security Company Ltd”, naquilo que se parece com uma subsidiária da empresa.

Os seguranças temem que, uma vez mudado o nome do empregador, isso possa causar impacto nas suas vidas. “Como agora a nova empresa já não é a operadora de jogo, no futuro podemos não ter um tratamento semelhante ao dos funcionários do jogo na distribuição das bonificações, ajustes no salário, férias e compensações”, diz um comunicado da associação que pertence à Federação das Asso-ciações dos Operários.

“O novo contrato acrescentou ainda uma cláusula sobre um direito da empresa em alterar os benefícios dos funcionários. Por exemplo, agora a baixa médica pode tornar-se parte das férias anuais, que correspondem a um

total de 12 dias, mas se a empresa altera este benefício os funcioná-rios vão perder regalias.”

Outra preocupação é a de que a empresa, por deixar de estar directamente ligada operadora de jogo, possa obter mais quotas de trabalhadores não-residentes, o que causa impacto na promoção dos trabalhadores locais.

O responsável da AEEJ Choi Kam Fu considera que o empre-gador tem que comunicar objec-tivamente com os funcionários, em vez de os obrigar a assinar um novo contrato. Por outro lado, salienta, também não pode baixar valor do salário e o os benefícios já existentes, nem tampouco obrigar a que o contrato entre em vigor automaticamente porque é contra a lei.

O HM pediu esclarecimentos sobre o assunto ao departamento de relações públicas do Venetian que referiu que “ a transferência dos contratos de trabalho dos seguranças não terá impacto sobre salários e benefícios”. “A transferência permitirá fle-xibilidade aos seguranças para que possam prestar serviços em várias propriedades da Sands China , e também cria novas oportunidades de progressão na carreira dentro da empresa.”

O Venetian Macau Ltd. Tem hoje cerca de mil seguranças, entre os quais 600 locais, que trabalham no Venetian, Sands Cotai Central, Four Seasons e Sands China.

VENETIAN SEGURANÇAS QUEIXAM-SE DE PERDA DE REGALIAS NOS NOVOS CONTRATOS

Sands advoga maior flexibilidade

Orçamento Deputados não poupam críticas à gestão financeira da DSAT

PUB

Page 8: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

8 hoje macau quinta-feira 5.12.2013CHINA

A China revelou esta terça-feira um plano de de-senvolvimento

para 262 cidades identifica-das como dependentes dos recursos, ou seja, aquelas que são ricas em recursos naturais, a fim de orientar o

U MA equipa de arque-ólogos desenterrou na China os crânios de

mais de 80 jovens mulheres que poderiam ter sido sacri-ficadas há mais de quatro mil anos, indicou esta segunda--feira a imprensa estatal.

As relíquias foram en-contradas nas ruínas de Shimao, um importante sítio arqueológico do Neolítico, no norte do país, segundo a agência de notícias Xinhua.

A ausência do resto do esqueleto das mulheres levaram os especialistas a acreditar que estas foram mortas aparentemente du-rante uma cerimónia “ligada à construção das muralhas da cidade”, de acordo com a agência.

Depois de estudar as amostras ósseas recolhidas,

os especialistas acreditam que as mulheres foram queimadas após a morte, informou Sun Zhouyong, funcionário do Instituto de Arqueologia da província de Shaanxi. “Este enterro colectivo poderia estar rela-cionado com a cerimónia de fundação da cidade”, disse Zhouyong.

As ruínas de Shimao, no norte da província de Sha-anxi, foram descobertas em 1976, mas os arqueólogos perceberam apenas recen-temente que faziam parte de uma cidade da era neolítica.

A prática do sacrifício já tinha sido registada na histó-ria da China, especialmente no caso dos imperadores que, quando mortos, eram enter-rados com os seus servos e concubinas.

Exportação de vestuário aumenta 12% A exportação chinesa de vestuário nos primeiros dez meses deste ano aumentou 12% em comparação com o mesmo período do ano passado. O ritmo de crescimento ultrapassou as expectativas. A informação foi revelada esta terça-feira pela Câmara Chinesa de Comércio de Produtos Têxteis. Segundo a entidade, houve um aumento visível na exportação para países da Associação de Nações do Sudeste Asiático. Para além disto, a Rússia tornou-se no quarto maior importador de roupas chinesas, ultrapassando a Alemanha. Apesar do resultado, os especialistas alertam que o sector têxtil enfrenta ainda enormes pressões devido à crise financeira internacional.

Pequim envia capacetes azuis para o Mali O primeiro grupo das tropas chinesas de manutenção de paz, composto por 135 militares, partiu na noite de terça-feira de Harbin, norte do país, rumo à República do Mali, no oeste do continente africano. A equipa vai assumir as operações durante oito meses. É a 24.ª operação de manutenção de paz das Nações Unidas em que a China participa desde 1990, a primeira no Mali. O primeiro grupo de capacetes azuis chineses será parte da Missão Especial da ONU no Mali e assumirá principalmente as tarefas de reparação de pontes, estradas, pistas de descolagem e quartéis militares, além da segurança do comando na zona de guerra, tratamento de feridos, quarentena, etc. Anteriormente, mais de 1700 toneladas de materiais foram transportadas por via marítima às zonas de operação. Outros grupos de soldados chineses já estão preparados para ir para o Mali de acordo com a exigência das Nações Unidas.

PEQUIM ESBOÇA PLANO DE DESENVOLVIMENTO PARA AS CIDADES DEPENDENTES DE RECURSOS

Primeira sistematização nacional

seu crescimento num cami-nho mais sustentável.

O plano, a primeira sistematização nacional sobre o desenvolvimento sustentável das cidades dependentes dos recursos, classifica as cidades em quatro categorias com base

na sua sustentabilidade nos recursos, nomeadamente crescente, madura, em de-clínio e regenerativa.

Dependendo do seu estatuto, o plano projecta diferentes tarefas de cresci-mento para estas cidades e promete apoio de políticas

ENCONTRADOS CRÂNIOS DE 80 MULHERES SACRIFICADAS HÁ QUATRO MIL ANOS

Enterro colectivo

para facilitar a sua reestru-turação e actualização.

As províncias de Yun-nan, Liaoning e Henan são as principais regiões onde se concentram as cidades do tipo.

O plano foi elaborado de-pois décadas de exploração

terem esgotado os recursos em algumas das cidades deixando-as cheias de pro-blemas como a degradação ambiental, o desemprego e pesadas cargas na segurança social.

Para as cidades “cres-centes” com vastos recur-

sos a serem aproveitados, o governo deve aumentar o limite para a exploração de recursos e fortalecer a avaliação sobre os custos ambientais, enquanto enfati-za a introdução de indústrias emergentes.

As cidades “maduras” no uso dos seus recursos devem impulsionar a transformação e a actualização industriais. Ao mesmo tempo, devem estabelecer indústrias subs-titutas que possam ser pilares económicos.

As cidades que es-peram um declínio dos dividendos dos recursos, devem empenhar esforços principalmente para criar oportunidades de emprego para os desempregados, renovar os bairros antigos e tratar dos prejuízos geo-lógicos potenciais.

As cidades regenerati-vas que já se libertaram da dependência dos recursos devem continuar a aperfei-çoar a estrutura económica para um crescimento de qua-lidade, estipula o plano. A indústria de serviços nestas cidades deve ser promovida para as tornar mais atraentes para os visitantes.

O plano visa cumprir basicamente a tarefa de transformação das cidades exaustas em recursos e estabelecer um mecanismo de desenvolvimento a longo prazo para promover um de-senvolvimento sustentável das 262 cidades até 2020.

Page 9: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

9 chinahoje macau quinta-feira 5.12.2013

PUB

PUB

O vice-presidente nor-te-americano Joe Biden chegou ontem

a Pequim para uma visita de 24 horas, na qual abordará as tensões na sequência da declaração chinesa de uma nova zona de defesa aérea no Mar da China Oriental.

Biden, que chegou de Tóquio, deve reunir-se com o seu homólogo chinês, Liu Yuanchao, e com o Presiden-te Xi Jinping. Esta quinta--feira, o vice-presidente norte-americano terá um encontro com o primeiro--ministro, Li Keqiang.

Antes da chegada do vice-presidente norte-ame-ricano, o diário oficial chinês “China Daily” advertiu num editorial que Joe Biden, que procura suavizar as tensões após o estabelecimento da nova zona de defesa aérea, não terá êxito se “se limitar a repetir as declarações prévias do seu Governo, erróneas e parciais”.

O editorial acusa Wa-

ILHAS DIAOYU JOE BIDEN CHEGA PARA DISCUTIR NOVA ZONA AÉREA CHINESA

Segunda ronda de negociações CENTENAS de marcas de vinho, da Argentina

à Austrália, disputam a crescente apetência por no-vos sabores da emergente classe média chinesa, mas o director-geral da Quinta da Alorna, Pedro Lufinha, não se mostra preocupado com a concorrência. “Os chineses estão agora a começar a beber vinho e isso, para nós, é uma gran-de oportunidade”, disse Pedro Lufinha à agência Lusa em Pequim, onde aquele produtor português e o seu distribuidor chinês, Wang Jingli, reuniram na semana passada dezenas de profissionais do sector. Muitos outros produtores portugueses têm agentes na China e três deles (Eno-port, Sogrape e Enoforum Carmim) abriram já um es-critório em Xangai, a mais cosmopolita chinesa e sede de um município com cerca de 23 milhões de habitan-

tes. Os números parecem dar razão ao optimismo de Pedro Lufinha. Nos últimos quatro anos - indicam os dados da Administração--geral das alfândegas chi-nesas -, as exportações de vinhos portugueses para a China quase triplicaram e, só no primeiro semestre de 2013, somaram 8,494 milhões de euros. Pelas contas da ViniPortugal, que não incluem os vinhos do Porto e Madeira, a China é já o quinto maior mercado português fora da Europa, depois de Angola, Estados Unidos, Brasil e Canadá, enquanto há quatro anos não figurava sequer entre os trinta primeiros. Na 17.ª edição da “Food and Hospitaly China” (FHC China), realizada em Xan-gai em Novembro passado, Portugal esteve representa-do por um número recorde de quase 70 empresas vinícolas e alimentares.

Vinho Marcas internacionais disputam mercado chinês

shington de “estar claramen-te alinhado com o Japão” e de atacar “erradamente” a China depois da sua de-claração, há dez dias, de uma zona de identificação

de defesa aérea no Mar da China Oriental.

A zona inclui as ilhas Diaoyu disputadas pela China e pelo Japão. Como resultado da declaração da

zona, que irritou os países vi-zinhos e os Estados Unidos, Pequim requer agora que os aviões que sobrevoem a área se identifiquem previamente e anunciem os seus planos de voo.

Os Estados Unidos reco-mendam às suas companhias aéreas que cumpram os re-quisitos para evitar incidentes - ainda que refiram que isso não signifique o reconheci-mento da declaração chinesa -, enquanto as transportadoras japonesas rejeitam fazê-lo.

No editorial, o diário chi-nês afirma que “foi o Japão que mudou unilateralmente a situação” na região. “Se os Estados Unidos estão verda-deiramente comprometidos em reduzir as tensões na região, primeiro devem dei-xar de consentir a perigosa política de risco calculado japonesa”, acrescenta o editorial.

Page 10: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

10 hoje macau quinta-feira 5.12.2013

O grupo de teatro em pa-tuá Doci Papiaçam di Macau foi ontem dis-tinguido com o Prémio

Identidade do Instituto Internacional de Macau (IIM) pelo seu trabalho em prol da defesa e divulgação do patuá, um crioulo de base portuguesa. “O Doci Papiaçam di Macau é um grupo de teatro que todos conhecem e que tem feito um esforço muito grande para preservar o patuá no contexto cultural e cénico”, disse à agência Lusa o presidente do IIM, Jorge Rangel, ao justificar a atribuição do prémio.

Jorge Rangel sublinhou tam-bém o patuá enquanto elemento da identidade macaense. “O patuá, embora não seja uma língua de co-municação, foi uma língua franca em Macau no passado”, afirmou.

O genealogista Jorge Forjaz, que em Outubro de 1996 lançou a primeira edição de

“Famílias Macaenses”, lançou ontem o desafio à diáspora macaense para participarem numa reedição da obra pelo Instituto Internacional de Macau. “O livro foi publicado há 17 anos, em 1996, durante o Encontro das Comunidades Macaenses. Foi uma grande surpresa porque havia muita coisa publicada sobre os macaenses, mas (eram) coisas muito soltas, muito dispersas, não havia que reunisse (a informação) e sobretudo só havia dos macaenses em Macau, não dos da diáspora”, começou por explicar Jorge Forjaz.

O próprio genealogista disse que numa primeira avaliação também

O vencedor do Prémio Nobel Mo Yan pediu esta terça--feira que os sinólogos

estudem profundamente a vida quo-tidiana dos chineses, para traduzir melhor a sua literatura e oferecer obras vívidas para leitores.

Creative Macau entrega prémios de audiovisual a 11 de DezembroA cerimónia de entrega de prémios aos vencedores do 2.º concurso de audiovisual S & I Challenge Worldwide 2013, será realizada no dia 11 de Dezembro, pelas 18h30. O concurso sem restrições de idades ou nacionalidades vai premiar as melhores produções de audiovisual com uma duração mínima de 90 segundas e máxima de três minutos.

Primeiro Festival de Ópera Cómica no Teatro do SandsEstão desde esta terça-feira à venda os bilhetes para o Macau Lotus International Comic Opera Festival que conta com a apresentação de vários espectáculos nos dias 21, 24 e 26 de Dezembro no Teatro do Sands. O programa apresenta “Don Pasquale” de G. Donizetti no dia 21, “Die Fledermaus” de J. Strauss nos dias 24 e 25, e a estreia em Macau de “Comic Opera World Summit” dia 26 de Dezembro. Os espectáculos são cantados nas suas línguas originais com diálogos em chinês. As produções serão conduzidas pelos maestros Paulo Olmi e Max Liu e contam com a direcção cénica de David Li Wei. Do elenco constam nomes como Shi Heng , Qian Hong, da ópera de Xangai, Xiao Ma, Isabelle Fallot, Vincent Billier, e Lucie Mouscadet.

EVENTOS

GRUPO DE TEATRO DOCI PAPIAÇAM DI MACAU DISTINGUIDO COM PRÉMIO IDENTIDADE

Em defesa da “língua maquísta”

GENEALOGISTA JORGE FORJAZ LANÇA DESAFIO DE NOVA EDIÇÃO DE “FAMÍLIAS MACAENSES”

Um pé em Macau e o outro pé no mundoMO YAN SUBLINHA SINOLOGIA NA TRADUÇÃO DA LITERATURA CHINESA

Olhar para o quotidiano

“A minha avó ainda conversava comigo em patuá. Hoje já pratica-mente não falamos, a não ser num contexto puramente cultural ou quando falamos com velhos maca-enses que estão na diáspora, e que ainda conversam entre si em patuá”, acrescentou o presidente do IIM.

Uma habitual presença no Festival de Artes de Macau, realizado anual-mente, o Doci Papiaçam di Macau celebrou este ano 20 anos desde a sua fundação. Miguel Senna Fernandes, o encenador do grupo, recebeu o Prémio

Identidade com “muito orgulho e res-ponsabilidade”. “É sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido. Palmas tivemos muitas - sinal de que o público vai aceitando cada vez mais o nosso trabalho -, e tudo isso dá mais alento, mas outra coisa é o reconhecimento institucional, neste caso por parte do Instituto Internacional de Macau. É um regozijo muito grande para o grupo”, afirmou.

Para Miguel Senna Fernandes, o prémio eleva o nível de responsabi-lidade: “Claro que não vamos trilhar

por caminhos desconhecidos, mas a cada ano as exigências crescem e nós temos de estar à altura das mesmas”.

O patuá foi classificado em 2012 como património imaterial de Macau pelo Governo regional.

O reconhecimento da “língua maquísta” por parte da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) “con-tinua a ser um sonho” para o ence-nador do Doci Papiaçam di Macau. “Estamos agora a envidar esforços

embarcou na ideia de que “macaenses era só em Macau”, mas percebeu rapidamente que havia famílias es-palhadas pelo mundo e que “não se podia falar numa pátria macaense, ou numa nação macaense, sem ir ao encontro das pessoas, esti-vessem onde estivessem”. “Os macaenses têm um pé em Macau e o outro pé no mundo”, descreveu.

Iniciada a viagem, Jorge Forjaz recordou que despachou milha-res de cartas, o único meio possível à época já que não havia com-putadores, e-mails e outras ferramentas agora disponíveis.

Depois, contou, houve gente que não respondeu e que, mais tarde, percebeu que não estava no livro ou que este continha até imprecisões.

Consciente de que “muita coisa faltou” no livro que tem três volumes e cerca de 3.300 páginas, 17 anos depois,

Jorge Forjaz está disponível para pegar na pri-meira edição - edi-tada na altura pela

Fundação Oriente em conjunto com o

Instituto Cultural de Macau - e voltar a pu-

blicar a obra “revista, aumentada e corrigida,

com nova documen-tação que entretanto

está à disposição (…) e

também com o acesso à fotografia” que a tecnologia permite hoje editar e abrilhantar a obra. “Sem falsas mo-déstias e sendo a primeira uma obra de referência, poderemos, hoje, dar-lhe outro conteúdo, aligeirar a dimensão com a transformação dos três volumes em quatro e, seguramente com a nova informação, em cinco e acrescentar um índice final para permitir que facilmen-te se encontrem os nomes”, explicou.

Jorge Forjaz disse ainda julgar possível lançar a nova obra em 2016, no próximo encontro das comuni-dades macaenses.

Cerca de 450 famílias de Macau estão descritas na primeira edição do livro de Jorge Forjaz que, à época, pro-longou por cinco anos as investigação às origens das famílias de Macau.

Page 11: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

PUB

11 eventoshoje macau quinta-feira 5.12.2013

IC recupera Oficinas Navais com escudo português na fachada

O Instituto Cultural de Macau está a recuperar as antigas

instalações das Oficinas Navais, na Barra junto ao templo de A-Má, para transformar o espaço num local de exposições e cuja fachada inclui um escudo português já reabilitado.

Quase 14 anos depois da transferência de poderes e depois de nas primeiras horas da Região Administrativa Especial da China os escudos portugueses terem sido, na sua maioria, tapados e substi-tuídos pelo símbolo da República Popular da China, alguns símbolos portugueses subsistiram e resisti-ram no tempo, como nas antigas instalações das Oficinas Navais ou na Ponte Cais da ilha da Taipa.

Agora, e no caso das Oficinas Navais, o Instituto Cultural está a recuperar o edifício, incluindo o escudo, numa acção para aumentar as zonas de exposições na cidade, refere o instituto num comunicado enviado à agência Lusa.

A mesma nota salienta que os edifícios em reabilitação “possuem valor histórico e cultural” e que se-rão uma janela para a cultura local.

Apesar de sublinhar ser uma opinião pessoal, o presidente do Instituto Cultural, Guilherme Ung Vai Meng, disse também à agência Lusa que recuperar o património de Macau com ou sem o escudo português “é manter viva a memória da cidade, preservando a sua história e valorizando o seu futuro”. “Esta-mos aqui no antigo hotel Bela Vista [actualmente residência consular de Portugal em Macau] que é também um edifício que faz parte da história de Macau e da memória colectiva que tem de ser preservado”, salien-tou o mesmo responsável.

GRUPO DE TEATRO DOCI PAPIAÇAM DI MACAU DISTINGUIDO COM PRÉMIO IDENTIDADE

Em defesa da “língua maquísta”

MO YAN SUBLINHA SINOLOGIA NA TRADUÇÃO DA LITERATURA CHINESA

Olhar para o quotidiano

para uma candidatura nacional, através da República Popular da China”, adiantou, ao referir o final do próximo ano como objectivo temporal para a fundamentação da proposta a apresentar.

Criado em 2003, o Prémio Identidade visa, entre outros as-pectos, distinguir personalidades ou instituições que se destaquem na defesa da identidade e dos valores da cultura portuguesa e macaense em Macau, na região asiática ou no mundo.

Mo Yan fez o apelo num sim-pósio sobre intercâmbios culturais sino-estrangeiros realizado em Pequim, um evento que reuniu 21 sinólogos de 17 países e 15 academias culturais chinesas. “Os sinólogos devem conhecer tanto a

China como as vidas de chineses comuns quando querem traduzir a literatura contemporânea”, disse, acrescentando que os sinólogos podem traduzir tais obras de for-ma mais vívida somente através dum maior conhecimento sobre a psicologia do autor original.

No discurso proferido na cerimó-nia de abertura do simpósio, Mo Yan expressou o seu agradecimento pelas contribuições feitas pelos sinólogos na promoção da cultura chinesa, prometendo dedicar esforços persis-tentes para reforçar a cultura chinesa pela literatura.

O simpósio é co-organizado pelo Ministério da Cultura, Academia Na-cional de Artes da China e Centro de Intercâmbio Cultural Internacional.

Page 12: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

12 hoje macau quinta-feira 5.12.2013

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

John Passmore

À primeira vista, Noam Chomsky não é um estruturalista. Longe de afirmar que «o homem morreu», ele ataca a psicologia behaviou-

rista, o capitalismo industrial e o socialis-mo estatista justamente pela sua falta de humanismo. Sendo um activista político, as suas simpatias vão para a ala anarquista do Humanismo Socialista, excomungado pe-los estruturalistas. E o ponto de partida da sua teoria da linguagem não é a linguagem como fenómeno colectivo, mas a criativi-dade de cada um dos utentes da linguagem, a sua capacidade de produzir e compreen-der frases que nunca encontrou antes. Ao contrário dos estruturalistas, a linguagem é para Chomsky um meio para exprimir pensamentos e não um sistema social de comunicação através do uso de símbolos. E Chomsky enfatiza, ao passo que os estru-turalistas desvalorizam, as diferenças entre as linguagens naturais e outros sistemas de símbolos.

Por que razão, então, de entre os filóso-fos anglo-americanos contemporâneos, se referem os estruturalistas com algum grau de respeito apenas a Chomsky (com a ex-cepção do semi-namoro de Derrida com Austin)? Em primeiro lugar, ele formou-se na tradição da linguística estrutural; com efeito, o seu mestre Zellig Harris escreveu um livro (1951) com esse mesmo título. É verdade que linguística transformacional de Chomsky está, em muitos pontos, em clara oposição à linguística estrutural americana, uma vez que ele rejeita a tese de que as teorias linguísti-cas têm por objectivo caracterizar entidades linguísticas complexas em termos de entida-des linguísticas de ordem inferior — frases em termos de palavras e palavras em termos de fonemas. Todavia, aquilo que ele deve a Harris e a linguistas pós-saussureanos como Jakobson é ainda bastante.

Em segundo lugar, [...] as suas teorias linguísticas propriamente ditas, tal como foram apresentadas no seu primeiro livro, Es-truturas Sintácticas (1957), e desenvolvidas nos seus Aspectos da Teoria da Sintaxe (1965), são suficientemente formais, apoiadas em re-gras, matematizadas e indiferentes a idiossin-crasias e intenções individuais para satisfazer os estruturalistas franceses mais exigentes.

Os estruturalistas franceses sentiram-se atraídos também pela distinção chomskiana entre «estruturas profundas» e «estruturas de superfície». Ela desempenhava em relação à linguagem, supunham eles, o papel que as teses de Freud tinham desempenhado em relação à mente e as de Marx em relação à sociedade. A «estrutura profunda», como Chomsky a definiu em «The Current Scene in Linguistics» (1966), é «a forma abstracta sub-jacente que determina o significado da fra-se». Em contraste com isto, a estrutura de superfície é uma representação do símbolo físico que produzimos ou ouvimos, como

CHOMSKY, OS ESTRUTURALISTAS E A FUNDAÇÃO DA LINGUÍSTICA MODERNA

quando eu ouço alguém dizer «Entra!». A «estrutura de superfície» é «gerada» a par-tir da estrutura profunda por transformações como a combinação e a elisão, determinan-do a informação fonológica relevante os sons por meio dos quais a frase é pronunciada. («Gerada» não significa «causalmente gera-da»: a gramática não nos diz por que razão uma pessoa diz «Abra!» em vez de «Entre!». O conceito chomskiamo de geração é de ca-rácter matemático, como quando uma equa-ção algébrica «gera» as suas várias soluções numéricas.) Assim, a estrutura profunda de «Entre!» conteria elementos como «Você», que está ausente da estrutura de superfície.

Apesar de estar intimamente ligada ao seu nome, quando escreveu Reflections on Lan-guage Chomsky tinha já abandonado a ter-minologia «estrutura profunda» e «estrutura de superfície», em parte por razões técnicas mas também porque tinha sido mal compre-endido por aqueles que supuseram que as estruturas profundas eram «profundas» em algum sentido metafísico, e que as proprie-dades das estruturas de superfície eram, em contraste, superficiais, pouco importantes e assim por diante. Não era este o seu ponto de vista; a fonologia, que restringia a sua atenção às estruturas de superfície, podia ser tão universal e tão «reveladora» [...] como a sintaxe. De facto, como ele admite sem di-

ficuldade, a fonologia é o ramo da «gramá-tica» mais cabalmente estudado. (Chomsky usa o termo «gramática» de modo muito abrangente, de modo a incluir a semântica e a fonologia, para além da sintaxe.) De modo que os estruturalistas franceses, claramente, não ficaram muito reconfortados com as «estruturas profundas» de Chomsky. Mas há outro aspecto da teoria de Chomsky que os poderá atrair. O estruturalismo americano, tal como foi formulado no muito influen-te Language  (1933), de Leonard Bloomfield, tinha rejeitado algo que era fundamental para Saussure, a ideia de que o signo sig-nifica um conceito. (As primeiras obras de Bloomfield tinham defendido uma versão deste ponto de vista, reformulado em termos da psicologia de Wundt, e desde então tem tido um ressurgimento.) Sob a influência do positivismo behaviourista, Bloomfield defi-niu o uso da linguagem como a substituição de uma resposta não verbal a um estímulo por um signo. O signo «significa», deste ponto de vista, aquilo que substitui. Num exemplo conhecido, Jill pede a Jack que suba a uma árvore e lhe traga uma maçã; o seu pedido, como resposta ao estímulo da fome, é um substituto da sua própria subi-da à árvore. Ao passo que os estruturalistas reagem contra a ênfase caracteristicamente francesa na importância da consciência in-

dividual, para Chomsky o behaviourismo ao estilo de Bloomfield é o inimigo, como a sua recensão de Verbal Behaviour (1959), do arqui-behaviourista B. F. Skinner, tornou bas-tante evidente. Mas ambos usam como arma contra os seus inimigos o conceito de mo-dos de apreensão subjacentes que afectam as decisões individuais sem que o indivíduo esteja consciente desse facto, bem como (de um modo que não deriva completamente da sua experiência) os «estímulos» aos quais ele é sujeito.

Chomsky reage também contra a con-cepção empirista americana clássica da tarefa da linguística, que floresceu de modo natural nas circunstâncias especiais desse continen-te: a de que a linguística consistia em registar tão rigorosamente quanto possível as línguas faladas pelas tribos índias e, pelo uso de métodos de «descoberta», em generalizar a partir desses registos de modo a chegar à gramática dessas línguas — no sentido lato, chomskiano, de «gramática. Chomsky rejei-ta o ponto de vista de que haja um tal «mé-todo de descoberta». Uma gramática, tal como ele a vê, é uma teoria acerca de uma língua, que tenta explicar por que razão, nessa língua, apenas algumas frases, algumas transformações, algumas sequências sonoras, algumas combinações verbais são gramati-calmente permissíveis.

GIOR

GION

E, A

S TR

ÊS ID

ADES

DE

UM H

OMEM

Page 13: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

13 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 5.12.2013

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

A CIDADE DO FIM • Miguel RealFugindo de uma família com a qual nunca se identificou, Fátimo - assim chamado por ter nascido no ano das Aparições - concorre a um lugar de professor no Liceu Infante D. Henrique, em Macau, acabando por permanecer quase toda a vida nessa cidade que, dividida em duas comunidades aparentemente estanques - a branca e a chinesa -, soube cruzar e reunir o melhor dos costumes de ambas, gerando uma atmosfera social deveras singular. Partilhando o seu tempo entre a escola e os livros, a portuguesa Maria Augusta - com quem mantém um casamento de fachada - e a chinesa Siu Lin, a «Pequena Flor de Lótus» - por quem nutre desde sempre uma paixão proibida -, o protagonista de A Cidade do Fim será, ao longo de meio século, uma testemunha privilegiada da lenta decadência do poder imperial, dos conflitos com a comunidade chinesa e, por fim, da entrega oficial do território à República Popular da China, em 1999. Tomando então consciência de que, com a independência das Colónias, se jogou em Macau o fim do império português, decide relatar num romance de amor a história de Macau a par da sua própria história - e nenhuma das duas está isenta de improbabilidade, escândalo, surpresa e mesmo violência. A Cidade do Fim é, pois, a homenagem de Fátimo à sua língua natal, à pátria que o adoptou e, claro, à pequena flor de lótus que fez desabrochar. E é mais um notável romance de Miguel Real, que assim celebra os 500 anos de relações entre Portugal e a China.

HISTÓRIAS DE LOUCURA NORMAL • Charles BukowskiCom Bukowski, não há meio-termo: ou se ama ou se odeia. Estas histórias, inspiradas na sua própria vida, são tão selvagens e inusitadas quanto as histórias dos seus romances. Bukowski foi uma lenda no seu tempo. Louco, recluso, amante. Afável e mesquinho. Lúcido e insano. Sempre inesperado. Estas histórias excepcionais vêm directas do âmago de uma vida, a que viveu, marcada pela violência e pela depravação. Histórias de liberdade, tão profanas quanto sagradas. Da prostituição à música clássica, Bukowski faz, nestas «Histórias de Loucura Normal», um retrato irado, apesar de terno, bem-humorado e inquietante, da vida marginal de Los Angeles, uma realidade obscura e perigosa que emoldurou a vida de um dos maiores autores de culto do século XX. Histórias, afinal, da loucura que espreita dentro de cada um de nós, que faz do corpo uma marioneta e que não desaparece senão com a morte. «Um agitador profissional…representante da marginalidade de Los Angeles…

No lugar de um «procedimento de des-coberta», ele propõe um procedimento de «avaliação». Os dados linguísticos que estão à disposição do linguista, tal como os dados que o cientista tem à disposição, permitem sempre mais do que uma explicação. Um «procedimento de avaliação» selecciona uma de entre as várias gramáticas possíveis por meio do uso de critérios como o da sim-plicidade. (Ele nega que o termo «simplici-dade» tenha um significado único.)

Limitarmo-nos a registar uma língua, ar-gumenta também Chomsky, implica incluir-mos no nosso registo frases que são «aceitá-veis» mas não gramaticais e excluirmos frases que podem nunca ser proferidas mas que são, no entanto, perfeitamente gramaticais. Uma frase, diz ele, pode, num contexto específico, ser «aceitável» no sentido em que ninguém põe em dúvida o significado que o locutor pretende exprimir através dela, mesmo que ela contenha um lapso linguístico ou um erro gramatical. Por outro lado, uma frase pode ser gramatical mas tão complexa que um ou-vinte pode ser incapaz de a «aceitar», por a considerar ininteligível. O linguista está ape-nas interessado nas frases gramaticais, e em todas elas. A gramática não é, portanto, uma teoria do «desempenho»(performance)  ou, em termos saussureanos, da «parole». A sua atenção centra-se naquilo a que Chomsky chama a «competência».

Ryle distinguiu entre «saber como» e «saber que» e identificou a competência com o «saber como». De facto, normalmente consideramos que a «competência» caracte-riza a capacidade de uma pessoa para ter um certo desempenho. Chomsky sugere todavia que, no caso da competência linguística, o «saber como» (por exemplo «saber (como) falar inglês») tem de assentar num tipo espe-cial de «saber que» — especial porque não é explícito. O gramático tenta revelar este «conhecimento tácito» do utente da lingua-gem, um conhecimento tácito que explica como pode ele distinguir o que é gramatical do que não é.

Por que razão havemos de supor que um utente da linguagem tem tal conhecimento tácito? Uma pessoa pode ser capaz de «apa-nhar» uma melodia, de cantar e até de compor canções sem ser capaz de dizer o que é uma escala, ou um compasso, ou uma nota. Nor-

malmente supomos que as crianças assimilam a sua primeira língua de modo semelhante. É certo que uma criança não nos consegue dizer em que consistem as regras da sua língua; e se, como diz Aristóteles, é apanágio do homem que sabe, ser capaz de ensinar isso que sabe, então a criança não sabe essas regras.

Apesar de não rejeitar estes factos bastan-te óbvios, Chomsky rejeita totalmente a ex-plicação popular e «empirista» da aquisição linguística. No seu Cartesian Linguistics (1966), ele associa-se, embora sem entrar em porme-nores, a uma velha teoria racionalista acerca da mente humana, de acordo com a qual a experiência estimula a mente a fazer uso de um conhecimento que previamente já faz parte da sua estrutura, sendo «inato». Se não

supusermos, argumenta ele em Reflections on Language, que os seres humanos são «especifi-camente programados» para adquirir a capa-cidade de dominar uma língua, não seremos capazes de compreender como, «com base em relativamente pouca experiência e ne-nhuma formação formal», pode uma criança aprender a usar um conjunto complexo de regras e princípios orientadores específicos de modo a comunicar os seus pensamentos e sentimentos aos outros». Os mecanismos a que o empirista recorre (generalização, ana-logia, condicionamento) para explicar isto são, na opinião de Chomsky, simplesmente demasiado fracos para explicar como alguém aprende a sua primeira língua. (Aprende, por oposição a ser ensinado, visto que o ensino é, a este respeito, de importância negligen-ciável.) É por isso que temos de supor que a criança já nasce com um conhecimento da língua (em algum sentido da expressão).

ESTE ATAQUE AO EMPIRISMO E O RESSUSCITAR

DE CONCEITOS DE TIPO KANTIANO COMO O DE

ESTRUTURAS MENTAIS INATAS QUE DELIMITAM A

FORMA QUE AS NOSSAS ACÇÕES PODEM TOMAR

FORAM OS FACTORES BÁSICOS DA INFLUÊNCIA

FILOSÓFICA EXERCIDA POR CHOMSKY

A sua «competência» não consiste, por-tanto, simplesmente em ele ser capaz de ter um desempenho competente; incorpora também o facto de que ele tem o domínio de certos princípios. Uma «faculdade inata» da mente — «representada», já que Chomsky não é um dualista, «de maneira ainda desco-nhecida, no cérebro» — cria uma estrutura cognitiva abstracta que faz então parte do «sistema de capacidades de agir e interpre-tar». Estudar a «competência» é estudar todo este conjunto de estruturas e processos mentais. Como Lévi-Strauss, Chomsky não tem problemas em admitir aquilo a que o pri-meiro chama «elaborações mentais ao nível do pensamento inconsciente». A linguística teórica explicita em que consistem tais ela-

borações. A linguagem, como Leibniz suge-riu, é «um espelho da mente»; a linguística teórica é uma teoria da mente humana, um ramo da psicologia cognitiva — e não, como para Saussure, da psicologia social.

Devemos supor que uma criança ingle-sa está especificamente «programada» para aprender inglês, e uma francesa para apren-der francês? Claro que não; uma criança in-glesa educada em França falará um francês perfeito em vez de inglês. A «competên-cia» da criança é, para Chomsky, univer-sal. Ela nasce com a capacidade de falar; e falará inglês ou francês ou chinês, se cres-cer no ambiente linguístico apropriado. Todavia, se supusermos que ela possui uma «gramática universal», temos de supor que essa gramática (uma vez que é uma gramá-tica) tem de ser restritiva, excluindo certas línguas como humanamente impossíveis. Assim, escreve Chomsky em  Language and

Mind: «Quando nasce, a criança não pode saber que linguagem vai aprender, mas tem de saber que a sua gramática tem de ser de uma forma determinada, de tal modo que exclua muitas línguas concebíveis.» Dota-do deste «conhecimento tácito», ela selec-ciona uma hipótese «permissível» sobre a gramática da língua que está a usar. E, cor-rigindo esta hipótese à luz da experiência, chega finalmente a ter um «conhecimen-to da sua língua», de modo a ser capaz de rejeitar parte da sua experiência linguís-tica como «defeituosa e desviante», i.e., como desempenhos agramaticais. O caso da fonologia, afirma Chomsky, é aquele que mais fortemente sustenta esta análise. Apesar de outros sons serem fisicamente possíveis, todas as línguas fazem aparen-temente uso de um conjunto limitado de sons. Não poderia haver uma língua que contivesse sons diferentes? Se houvesse, de acordo com Chomsky, não a poderíamos aprender tão depressa e tão eficientemente como aprendemos as nossas línguas. E, do mesmo modo, ele crê que fomos progra-mados para aprender um certo conjunto de regras sintácticas e semânticas e apenas os membros desse conjunto.

As teorias linguísticas de Chomsky so-freram muitas alterações desde que foram apresentadas pela primeira vez, causando nessa altura uma «revolução na linguística». Diz-se por vezes que estão […] «em gran-de ebulição». Isto não o incomoda: «uma ciência imatura», argumenta ele, tem inevi-tavelmente ritmos de mudança acelerados, mesmo nos seus princípios mais gerais. Em todo o caso, ele continua a defender os seus princípios fundamentais: o de que uma gra-mática não é simplesmente uma descrição mas antes uma teoria explicativa; o de que investigá-la é estudar a «competência» e não o «desempenho»; o de que uma psicologia de pendor empirista é incapaz de explicar como uma criança aprende a sua primeira língua; o de que a linguística teórica é uma peça chave para a compreensão da mente. Este ataque ao empirismo e o ressuscitar de conceitos de tipo kantiano como o de estru-turas mentais inatas que delimitam a forma que as nossas acções podem tomar foram os factores básicos da influência filosófica exer-cida por Chomsky.

Page 14: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

14 hoje macau quinta-feira 5.12.2013h

Page 15: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

15 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 5.12.2013

HUAI NAN ZI 淮南子 O LIVRO DOS MESTRES DE HUAINAN

Huai Nan Zi (淮南子), O Livro dos Mestres de Huainan foi composto por um conjunto de sábios taoistas na corte de Huainan (actual Província de Anhui), no século II a.C., no decorrer da Dinastia Han do

Oeste (206 a.C. a 9 d.C.). Conhecidos como “Os Oito Imortais”, estes sábios destilaram e refinaram o corpo de ensinamentos taoistas já existente (ou seja, o Tao Te Qing e o Chuang Tzu) num só volume, sob o

patrocínio e coordenação do lendário Príncipe Liu An de Huainan. A versão portuguesa que aqui se apresenta segue uma selecção de extractos fundamentais, efectuada a partir do texto canónico completo pelo

Professor Thomas Cleary e por si traduzida em Taoist Classics, Volume I, Shambhala: Boston, 2003. Estes extractos encontram-se organizados em quatro grupos: “Da Sociedade e do Estado”; “Da Guerra”; “Da

Paz” e “Da Sabedoria”. O texto original chinês pode ser consultado na íntegra em www.ctext.org, na secção intitulada “Miscellaneous Schools”.

DO ESTADO E DA SOCIEDADE – 54

A meio do inverno não se devem realizar escavações de monta, nem construções, nem quaisquer outros projectos que exijam a mobilização de grande nú-mero de pessoas. Os ladrões devem ser presos sem delonga e os falsários dissolutos punidos de imedia-to. Patrulha as ruas, vigia as tuas casas, redobra a segurança e zela pelas mulheres.Por esta altura, os dias são os mais curtos do ano. As pessoas cultas regulam o seu consumo e compor-tamento, mantendo-se remotas e tranquilas, absten-do-se de estímulos sensuais e descansando o corpo para se estabilizarem física e psicologicamente.No fim do inverno, os pescadores começam a pescar, os lavradores preparam as suas sementes, planeiam o arar da terra, reparam os arados, preparam as enxadas e recolhem lenha. Aos lavradores deve permitir-se que descansem e que não sejam obrigados a trabalhar. As pessoas demons-tram o seu respeito pelas montanhas, florestas e rios.

* * *

A percepção dos olhos e dos ouvidos não basta para distinguir o desígnio interior das coisas; o discurso intelectual não basta para determinar o bem e o mal. Aqueles que recorrem à sua razão para governar têm dificuldade em manter uma nação; só aqueles que compreendem a harmonia universal e se atêm a re-acções espontâneas o poderão fazer.

DA GUERRA – 55

Aqueles que em tempos recuados pegaram em ar-mas, não o fizeram para expandir o seu território ou obter riqueza. Fizeram-no em nome da sobrevivên-cia e continuidade de nações que se encontravam a beira da destruição e da extinção; e fizeram-no para resolver a desordem que reinava no mundo e se li-vrarem daquilo que causava dano ao povo comum.

* * *

Os sábios usam as armas como quem penteia cabelo ou escolhe rebentos: uns poucos são eliminados para benefício dos muitos. Não há mal maior do que ma-

tar inocentes e apoiar líderes injustos. Não há pior calamidade do que exaurir os recursos do mundo para satisfazer os desejos de um indivíduo.

* * *

As pessoas têm certos sentimentos a respeito de comida e roupas que as coisas não conseguem sa-tisfazer. Assim, quando vivem juntas são incapazes de partilhar na mesma medida. Se não conseguem o que querem, lutam entre si. Ao lutarem, os fortes aterrorizam os fracos e os mais ousados invadem os tímidos.

* * *

Quando homens ávidos e gananciosos pilharam o mundo, o povo viveu em tumulto e não se sentia seguro em sua casa. Houve sábios que se levanta-ram, abatendo os violentos, acalmando o caos dessa idade, pondo de nível o que era irregular, removen-do a poluição, clarificando a turbulência e trazendo segurança a quem estava em perigo. Foi assim que a humanidade conseguiu sobreviver.

DA GUERRA – 56

As operações militares conduzidas por líderes efi-cientes são ponderadas do ponto de vista filosófico, planeadas estrategicamente e apoiadas na justiça. Não se destinam a destruir o que existe mas a pre-servar aquilo que está em vias de desaparecer. Assim, quando ouvem que uma nação vizinha oprime o seu próprio povo, preparam exércitos e partem para a fronteira, acusando essa nação de injustiça e exces-so. Quando os exércitos chegam aos subúrbios, os co-mandantes dizem às suas tropas: “Não cortem as ár-vores, não perturbem os cemitérios, não destruam as colheitas nem queimem os celeiros, não aprisionem o povo comum e não se apoderem de animais do-mésticos”.Depois anunciam: “O governante deste país mostra desprezo pelo céu e pelos espíritos, aprisionando e executando os inocentes. É um criminoso perante o céu e um inimigo do povo”.

Os exércitos vêem para expulsar os injustos e restau-rar os virtuosos. Aqueles que dirigem os explorado-res do povo, desafiando a natureza, são eles próprios mortos e os seus clãs extintos. Aqueles que fazem as suas famílias escutar a razão ganham-lhes o respei-to; aqueles que fazem as suas cidades e aldeias ouvir são recompensados com as suas cidades e aldeias; aqueles que fazem os seus países ouvir recebem os seus países como feudo; e aqueles que fazem os seus estados ouvir são enobrecidos pelos seus estados.

DA GUERRA – 57

A conquista de uma nação não se estende ao seu povo, mas serve para remover a liderança e mudar o governo, para honrar os cavaleiros excelentes, reve-lar os sábios e bons, ajudar os órfãos e viúvas , tratar os pobres e os destituídos com misericórdia, libertar os prisioneiros e recompensar os meritórios.Por tais exércitos esperam os camponeses de portas abertas, preparando comida para eles e apenas se preocupando com que não venham.Por isso, quando a liderança não tem direcção, o povo anseia por acção militar, tal como anseia pela chuva durante uma seca, procurando matar a sede. Quem cruzará espadas com o um exército justicei-ro nestas condições? O supremo feito de uma acção militar justa é concluir a sua missão sem ter de com-bater. Quanto às acções militares das sociedades recen-tes, apesar dos dirigentes não terem direcção nem conhecerem a Via, todos eles instalam fortificações defensivas. E quando atacam, não é para pôr fim aos violentos e remover os destrutivos, mas sim para in-vadir terra e expandir o seu território.É por isso que as coisas chegam ao ponto em que há cadáveres por todo o lado jorrando sangue ante si - e ainda assim é raro que surja uma liderança bem su-cedida. Tal é a própria criação dos líderes que agem em proveito próprio.

Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Page 16: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

PUB

GONÇ

ALO

LOBO

PIN

HEIR

O

16 DESPORTO hoje macau quinta-feira 5.12.2013

JOÃO ROSA CONFIRMA ABANDONO E APOSTA NO CHING FUNG

Kuan Tai desiste da Elite MARCO [email protected]

A possibilidade estava há muito sobre a mesa e agora chega a inevi-tável confirmação. O

Kuan Tai, clube que terminou a última edição da Liga de Elite na sétima posição da tabela classifi-cativa, vai mesmo abrir mão da participação na principal prova do futebol do território, colocando ao dispor de um outro emblema a vaga a que tinha direito na competição.

A garantia foi dada ao Hoje Ma-cau por João Rosa, técnico que foi o rosto, o corpo e a alma da equipa ao longo das últimas épocas. O treinador macaense salienta que a decisão está tomada e é praticamente irrevogável: “O contributo do Kuan Tai para o futebol de Macau está

dado e em princípio o percurso do clube fica por aqui. Não nos vamos apresentar nos relvados na próxima temporada e estamos apenas à es-pera que a Associação de Futebol de Macau consiga arranjar quem substitua o Kuan Tai para oficializar a decisão”, assegura Rosa.

Ligado há vastos anos ao futebol do território, João Rosa esclarece no entanto que o fim do projecto do Kuan Tai não deixa necessariamente um vazio no desporto-rei da RAEM. O técnico, que assumiu recentemente o cargo de coordenador das escolinhas de futebol do Instituto do Desporto,

encara o desaparecimento do clube pelo qual foi responsável ao longo dos últimos anos como uma oportuni-dade para trazer algo de novo ao des-porto de Macau. Para além de chamar a si o projecto de formação apadri-nhado pelo IDM, Rosa vai trabalhar também com Rui Cardoso no Ching Fung, clube que se deu a conhecer na última edição do Campeonato de Futebol de Sete da II Divisão. O emblema, que assegurou a subida ao convívio dos grandes da “Bolinha”, vai disputar este ano o campeonato da quarta divisão, com objectivos bem definidos. “Queremos levar o Ching Fung à primeira divisão num período de quatro ou cinco anos. É um projecto diferente do Kuan Tai porque queremos apostar em jovens locais e construir com eles um grupo de trabalho forte. O Rui Cardoso é quem vai treinar a equipa e eu vou apoiá-lo neste processo”, adianta o treinador macaense.

O adeus do Kuan Tai aos rel-vados do território era hipótese há muito aventada. Sétimo classifica-do da edição de 2013 da Liga de Elite em igualdade pontual com o antepenúltimo Chao Pak Kei, o Kuan Tai já tinha aberto mão, em Julho último, da presença na Cam-peonato da I Divisão da “Bolinha”, acabando por ser substituído pelo Organismo Autónomo da Casa de Portugal em Macau.

Request for Proposal – Maintenance, Repair and Overhaul (MRO) Services at Macau International Airport

1. Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)2. Method: Open Request for Proposal (RFP)3. Objective: To seek an experienced and reliable Maintenance, Repair and Overhaul (MRO) service

provider in the Macau International Airport4. Minimum Qualification:

• Must have had established expertise and recent and relevant five years of continuous experience in the development and management of full aircraft maintenance support services for Business/General Aviation (BA/GA) (including but not limited to line maintenance services, base maintenance services and Approved Maintenance Organization (AMO)/MRO Services in respect of BA/GA aircraft) at international airports, as described on page 5 in the Request for Proposal document.

5. Request for Proposal Documents: Request for Proposal Documents and other pertinent information are available on www.macau-airport.com until the deadline for submission of proposal. Please always check the website for additional information, clarification or modification of the Request for Proposal Documents that may be published from time to time.

6. Site Tour and Briefing Meeting:Date: 9 January, 2014Time: Site Tour at 11:00 a.m. and Briefing Meeting at 3:00 p.m. (China Standard Time)Location: 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, Macau

Pre-Registration as described in the Request for Proposal Documents is required for participation in the Site Tour & Briefing Meeting.

7. Location and time to submit Bidders’ proposals:Business days: Monday to Friday (except public holidays) Business hours: 9:00 a.m. – 1:00 p.m. and 2:30 p.m. – 5:30 p.m. (China Standard Time)Location: 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, MacauAttention: Mr. Deng Jun – Chairman of the Executive Committee.

8. Deadline for submission of Bidders’ proposals:Date: 4 March, 2014Time: 5:00 p.m (China Standard Time)

Proposals received after the stipulated date and time will not be accepted.9. Proposal Evaluation Criteria:

Company Profile 25 pointsFinancial Proposal and Pro-Forma Statements 25 pointsBusiness Plan 50 pointsTotal 100 points

10. CAM reserves the right to reject any proposal in full or in part without stating any reasons.

Request for Proposal – Fixed Base Operator (FBO) atMacau International Airport

1. Company: Macau International Airport Co. Ltd. (CAM)2. Method: Open Request for Proposal (RFP)3. Objective: To seek an experienced and reliable Fixed Base Operator (FBO) in the Macau

International Airport4. Minimum Qualification:

• Must have had at least three years of continuous experience within the last five years in ownership and/or operation of an FBO at an international airport, as described on page 5 in the Request for Proposal document.

5. Request for Proposal Documents: Request for Proposal Documents and other pertinent information are available on www.macau-airport.com until the deadline for submission of proposal. Please always check the website for additional information, clarification or modification of the Request for Proposal Documents that may be published from time to time.

6. Site Tour and Briefing Meeting:Date: 9 January, 2014Time: Site Tour at 11:00 a.m. & Briefing Meeting at 3:00 p.m. (China Standard Time)Location: 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, Macau

Pre-Registration as described in the Request for Proposal Documents is required for participation in the Site Tour & Briefing Meeting.

7. Location and time to submit Bidders’ proposals: Business days: Monday to Friday (except public holidays) Business hours: 9:00 a.m. – 1:00 p.m. and 2:30 p.m. – 5:30 p.m. (China Standard Time)Location: 4th Floor, CAM Office Building, Av. Wai Long, Taipa, MacauAttention: Mr. Deng Jun – Chairman of the Executive Committee.

8. Deadline for submission of Bidders’ proposals:Date: 4 March, 2014Time: 5:00 p.m. (China Standard Time)

Proposals received after the stipulated date and time will not be accepted.9. Proposal Evaluation Criteria:

Company Profile 25 pointsFinancial Proposal and Pro-Forma Statements 25 pointsBusiness Plan 50 pointsTotal 100 points

10. CAM reserves the right to reject any proposal in full or in part without stating any reasons.

Page 17: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

C I N E M ACineteatro

hoje macau quinta-feira 5.12.2013 FUTILIDADES 17

TEMPO POUCO NUBLADO MIN 14 MAX 21 HUM 40-75% • EURO 10.8 BAHT 0.2 YUAN 1.3

João Corvo

Nunca queiras fazer aos outros o que gostavas que te fizessem a ti. Podes ter umas surpresas.

fonte da inveja

SALA 1APP [C](FALADO EM HOLANDÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Bobby BoermansCom: Hannah Hoekstra, Isis Cabolet, Robert de Hoog14.30, 16.00, 19.45 21.30

SPACE PIRATE: CAPTAIN HARLOCK 3D [B](FALADO EM JAPONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)17.30

SALA 2 SPACE PIRATE: CAPTAIN HARLOCK 3D [B](FALADO EM JAPONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)14.30, 21.30

SPACE PIRATE: CAPTAIN HARLOCK [B](FALADO EM JAPONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)16.30, 19.30

SALA 3INSIDIOUS CHAPTER 2 [C]Um filme de: James WanCom: Patrick Wilson, Rose Byrne, Barbara Hershey, Lin Shaye14.30, 19.30

THE HUNGER GAMES: CATCHING FIRE [C]Um filme de: Francis LawrenceCom: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hamsworth16.30, 21.30

Cão de Raquel Strada chega à revista ‘Time’• Depois de já se ter tornado num fenómeno de popula-ridade nas redes sociais, Tufão, o cão da apresentadora e actriz Raquel Strada, chegou à conceituada revista norte-americana Time. O chowchow, raça particular-mente conhecida pela língua azul, de 10 meses, que a jovem comprou este ano, é o protagonista de um artigo no site da revista, que dá a conhecer alguns dados sobre o animal e partilha algumas imagens de Tufão. Nas redes sociais, o cão de Raquel Strada já conta com 14 mil seguidores no Facebook (mais que o cão de Barack Obama, Bo, que apenas tem sete mil) e mais de dois mil no Instagram.

Preso foge para ir a dentista e depois volta à cadeia• Um homem de 51 anos fugiu de uma prisão na Suécia para ir a um dentista. Em vez de continuar em liber-dade, entretanto, decidiu voltar para a cadeia após o atendimento médico, informou a agência AFP. De acordo com o jornal sueco “Dagens Nyheter”, o preso estava a reclamar de dores num dente há já quatro dias. Como os guardas não se importaram com as suas queixas, o preso decidiu fugir. Mas a história não acaba aqui! O preso cumpria apenas uma pena de um mês de prisão, estava para ser libertado no dia seguinte à fuga. Com a fuga, viu a sua pena acrescida em um dia.

AU NATUREL

Keith Carlos não precisa de mais. Basta aparecer nas fotografias ao natural. Quanto a nós, resta agradecer o facto de este jogador de futebol americano ter decidido deixar a bola de lado, para se dedicar a mostrar o corpo. É modelo desde há pouco tempo, mas já deixou promessas de que está aqui para vencer e chegou a ser nomeado como um dos top models mais bonitos do mundo. Keith nasceu no Connecticut e estudou na Faculdade de West Lafayette, no Indiana, onde se licenciou em Economia.

Pu YiPOR MIM FALO

A dimensão real dos resultados do PISAÉ oficial. Os alunos de Macau melhoraram bastantes posições, segundo a OCDE, na matemática e na leitura, desde o ano de 2009. Razões para estarmos satisfeitos, como disse esta semana o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, na sua ida à Assembleia Legislativa (AL) para apresentar as medidas a aplicar no próximo ano na sua tutela. Sendo bons a fazer contas e na leitura, os alunos de Macau, estão, à partida, num bom posicionamento em termos de capacidades intelectuais para o futuro. Há, contudo, um senão, que o secretário se esqueceu de mencionar: 14% dos alunos têm baixo rendimento e são necessárias políticas mais concretas neste âmbito. Contudo, as políticas continuam por existir, segundo o que se retirou do discurso de dois dias de Cheong U. Se há reprovações, é porque os alunos emigram com as suas famílias. Se os professores deixam as escolas porque os salários são baixos ou porque são demitidos pelas direcções, não se passa nada de grave, a DSEJ promete acompanhar a situação. Os bons resultados não espelham o que de verdade se passa ou, melhor, espelham outra: continua a persistir no ensino de Macau a técnica da memorização dos conteúdos lectivos. E já vários professores falaram dessa questão em reportagens publicadas na imprensa portuguesa. Daí sermos bons a matemática e na leitura. Contudo, há ainda uma falta de lacuna na verdadeira promoção do saber e no incentivo a que o aluno seja criativo e apresente ideias na sala de aula. Claro que esta questão não se verifica em todas as escolas – talvez as de matriz ocidental proporcionem outra forma de ensinar. Mas aqui persiste outro problema: não há uma harmonização no sistema de ensino, e o próprio deputado Leonel Alves levantou a questão no plenário. Assim, como se pode promover um ensino de qualidade para todos? Os materiais adoptados são iguais para todas as escolas? As disciplinas são iguais? Como se pode promover um maior equilíbrio entre o público e o privado para que, em Macau, não haja discrepâncias na forma do saber? Mais do que saber fazer contas e ler bem, os alunos devem pensar. A bem do seu próprio futuro. Porque se não souberem fazer um raciocínio critico, então a escola falhou na sua função.

Page 18: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

18 OPINIÃO hoje macau quinta-feira 5.12.2013

O S ordenados e as pen-sões da função pública, vão ser cortados pele ter-ceira vez em três anos!

A troika, essa sombra negra, que se abateu sobre o nosso país, impôs condi-ções draconianas, princi-palmente à classe média, cada vez menos média e

cada vez mais baixa, num apertar do cinto capaz de nos estrangular.

Querem matar o “ doente”com uma receita que, agora começam a reconhecer estar errada, como nunca esteve certa em parte alguma!

O actual Governo, a quem já chamaram um bando de garotos, eu diria um grupo sem passado e sem experiência de governação, a começar pelo primeiro-ministro, que ga-nhou as eleições prometendo não cortar nos salários da função pública e muito menos nas pensões de quem fez os descontos, que

Palavras como: reestruturar, refundar, reformatar, reconfigurar, redesenhar e outras, são usadas por este Governo para ludibriarem, esconderem e enganarem os portugueses!

Vivem-se tempos difíceis em Portugallhe foram exigidos para viverem o tempo de vida que lhes resta, depressa fez tábua rasa das promessas, enveredando por um caminho de cortes cegos sem olhar a meios para atingir objectivos, que os senhores da troika lhe impõem, como se o país fosse uma espécie de colónia.

Os nossos governantes quiseram ser o melhor aluno da turma e o que aconteceu: cortaram-nos a carne até ao osso com uma austeridade desumana, sem olharem á onda de falências diárias de empresas pequenas, médias e grandes, sem terem em conta uma espécie de tsunami, que varreu e liquidou centenas de milhares de postos de trabalho.

Actualmente há milhares de aposentados que, apoiam filhos e netos, usando os seus parcos recursos, quer na ajuda no pagamento nas prestações das casas hipotecadas aos bancos quer nos estudos dos netos.

Os jovens, e conheço muitos, emigram deixando mulher e filhos à guarda dos avós, levando na bagagem a incerteza do futuro

e a tristeza de uma ausência, sem data para o regresso.

Se todos os sacrifícios, que nos têm exigi-do tivessem um retorno, isto é: a diminuição da dívida externa, ainda podia pensar-se, que estava a valer a pena.

Porém a dívida, em vez de diminuir tem aumentado, o que significa, que a receita não

está a surtir o efeito, contrariando as profecias, do Governo bicéfalo de Passos e Portas, que nos têm desgovernado há quase três anos!

Palavras como: reestruturar, refundar, reformatar, reconfigurar, redesenhar e outras, são usadas por este Governo para ludibriarem, esconderem e enganarem os portugueses!

Por outro lado, invocam a situação de emergência nacional em que se encontra o país para justificarem todo o tipo de cortes e aumento de impostos.

Apetece-me dizer, que este Governo só é forte com os fracos e é fraco, muito fraco, quando tem de enfrentar os fortes e podero-sos. Para estes não se invoca a situação de emergência nacional!

Em dez de Janeiro de 2010, o Diário de Notícias escrevia uma notícia com grande destaque com o título: “1,9 Milhões de portugueses vivem com menos de 414 euros por mês” dados do Eurostat. Quantos haverá neste momento?

desporto e não sóFERNANDO VINHAIS GUEDES

CECI

LIA

GIM

ENEZ

, RES

TAUR

AÇÃO

DE

ECCE

-HOM

O

Page 19: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

19 opinião

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau quinta-feira 5.12.2013

T ODOS nascemos com uma identidade, por mais pequeni-na que seja. Temos pelo menos o nome próprio, mesmo que órfãos ou abandonados à porta da igreja, e com a graça de Deus dois braços que mexem, duas pernas que andam e al-guma massa cinzenta entre as orelhas que nos permitem ter

consciência disso mesmo: da nossa identida-de. Somos um todo inédito e único, que tal como todos os outros que vieram antes, ao mesmo tempo e depois, nascemos debaixo do mesmo sol. Quando procuramos saber mais sobre nós próprios ou sobre a nossa identidade, abrimo-la, tiramos as peças uma a uma e olhamos para elas demoradamente, procurando entender como foi aquilo ali pa-rar e porquê. Há traços da nossa identidade que são muito nossos, não damos nem em-prestamos a ninguém, e os que partilhamos com os outros e queremos partilhar, como a cultura, a língua, a religião ou as tradições, e até o próprio local de origem. Ninguém gosta de ser o último dos Moicanos ou de qualquer outro caso perdido. É fácil imagi-nar o desespero do último falante de Latim como língua materna antes de passar a língua morta. Deve doer, quando nos morre a língua.

Na semana que decorre em Macau mais um Encontro das Comunidades Macaenses, debate-se mais uma vez a identidade maca-ense. Poucos são os que insistem em debater tantas vezes a sua própria identidade. É sinal de algo vai mal no reino da identidade. Como já referi neste espaço a semana passada, é complicado definir o que é um macaense, e quem é verdadeiramente um macaense. As origens são tão remotas e por vezes tão obscuras que debater a identidade torna-se um exercício de metafísica. É demasiado abstracto para adquirir uma forma, para se chegar a um consenso, para que se defina uma espécie categorizada de “homos macaensis”. Os macaenses podem ter características que são comuns a todos eles, mas têm uma definição muito própria de cada uma delas, muito pessoal. Pode ser que todos gostem de minchi, mas não concordam sobre qual deles o faz melhor. Do seu lado português herdaram um certo pessimismo, um pouco de “laissez faire, laissez passer”. Se dá muito trabalho, o melhor é esquecer: “Isso da identidade é para já? É que logo à noite tenho um jantar e não posso ficar até tarde”. Se dá muito trabalho, “süen-ah”, como dizem os chineses. Deixa para lá. E neste mundo materialista em que vivemos, existe sempre a componente comercial. Muito bem, identidade? Quantos são, estes macaenses, vinte milhões? O quê, tão poucos? Então peço desculpa, mas a Nike acabou de retirar

Quantos são, estes macaenses, vinte milhões? O quê, tão poucos? Então peço desculpa, mas a Nike acabou de retirar o patrocínio. Paciência. Sociedade de consumo-1 Identidade Macaense-0

Identidade: alguém a viu por aí?disto. Vamos encontrar uma identidade, ficar sentados no muro, pelo sim, pelo não. Os ingleses entregaram Hong Kong, foi uma questão de tempo até que Macau seguisse o mesmo caminho, e de um dia para o outro uma comunidade inteira de gente nascida em Macau, terra dos seus pais e avós, ficou confrontada com um dilema: partir ou ficar? Para os antigos senhorios foi fácil falar: vocês aí querem ir connosco que temos lá lugar para vocês, ou querem ficar? Olha, se quiserem ficar a gente lava as mãos, mas se quiserem abandonar a vossa terra, renunciar às vossas origens, largar as vossas raízes, a gente recebe-vos de braços abertos, lá a milhares de quilómetros de distância.

Os que optaram ficar debaixo das saias da mãezinha, Portugal, partiram para longe, bem longe, e isso deixou marcas. Alguns arrependeram-se e voltaram, mas esses não querem saber lá muito disso das identidades. Foi um peditório para que já deram. Outros ficaram e casaram com o matulão que lhes bateu à porta a pedir-lhes a mão, a China. Estes continuam a ser quem são, tudo bem, falam português, sentem-se um bocadinho portugueses também, nem que seja só às vezes, quando comem bacalhau ou quando joga a selecção, mas os seus filhos, esses, falam chinês, vão paras as escolas chinesas ou internacionais, porque isto da identidade é uma coisa “para maiores de 18”. O melhor é juntarem-se ao rebanho, que o pão comido no passado não enche a barriga a ninguém. Os que ficaram porque sim, porque não quiseram partir, nem quiseram juntar-se aos novos donos da terra, ficam a falar de identidade. São uns resistentes, têm pelo na venta. Defeito ou feitio, não me cabe a mim julgar.

Haja pelo menos quem fale de identi-dade, mesmo que seja sazonalmente, e que a iniciativa parta sempre dos mesmos. O pior é que ficam a falar sozinhos, para uma plateia de curiosos destas coisas de Macau e do Oriente, os carolas da História, os apai-xonados da miscigenação, dos crioulos, da marca indelével deixada pelos portugueses no mundo, da nossa pegada genética. Per-guntem aos chineses de Macau qual é a sua identidade, e eles respondem “chineses”. Só isso? “Sim, chineses...de Macau”. E o que significa ser chinês de Macau? “Nada...é ser chinês na mesma”. Pobre Macau que ninguém te quer como identidade. Ainda a semana passada vimos uma natural de Macau, chinesa, é certo, mas nascida em Macau, a proferir um discurso xenófobo, completamente antagónico à matriz deste território e à própria razão pela qual ela está aqui e não na terra dos seus pais, avós e bisavós. E ainda por cima é deputada, eleita por outros naturais de Macau.

o patrocínio. Paciência. Sociedade de con-sumo-1 Identidade Macaense-0.

O problema do macaense, além da ambi-guidade da sua definição, é o facto de nunca terem tido sede própria. Foram em tempos súbditos de um império que ia do Minho a Timor, e de repente encontraram-se a bater a pala ao gigante vermelho, a sua outra metade. Ao contrário dos crioulos africa-nos, dos brasileiros, e até dos timorenses,

nunca tiveram uma horta onde cultivar a identidade. Os mais velhos ainda se devem lembrar do tempo em que não se falavam de “handovers”, de declarações conjuntas, de integrações e de desintegrações. Um belo dia, os senhores do tal império chegaram junto dos macaenses e deram-lhes duas opções: querem continuar portugueses ou querem ser chineses? Ora bolas – disseram eles – e logo agora, que estávamos a gostar tanto

bairro do or ienteLEOCARDO

ANDY

WAR

HOL,

SOP

A CA

MPB

ELL

II

Page 20: Hoje Macau 5 DEZ 2013 #2989

hoje macau quinta-feira 5.12.2013

Forbes Nigeriano Akinwumi Adesinaé a personalidade africana do anoO ministro nigeriano da agricultura, Akinwumi Adesina, foi escolhido pela revista Forbes como a personalidade africana de 2013 pelas reformas implementadas no sector agrário do país. “É um homem com uma missão: ajudar África a ser auto-sustentável do ponto de vista alimentar”, afirmou Chris Bishop, editor da Forbes. Uma das mais populares reformas introduzidas por Adesina prende-se com a maior transparência no fornecimento de fertilizante a agricultores, uma área fortemente marcada pela corrupção. “O meu objectivo é criar tantos milionários, ou até mesmo bilionários, da agricultura quanto possível”, afirmou o ministro.

Entrar no Pentágono com uma bomba depende apenas de um formulárioElementos da segurança impediram a entrada de um militar no Pentágono com uma bomba porque este não tinha preenchido um formulário. O director da agência de segurança do Pentágono, Steven Calvery, tinha definido os requisitos necessários para quem quiser entrar naquelas instalações com uma bomba. Segundo nota por si assinada, bastava que o funcionário tivesse assinado um formulário para o efeito. O homem, um oficial da Marinha, trazia consigo uma bomba artesanal desativada, com o intuito de fazer uma demonstração, noticia o The Wall Street Journal, citado pelo DN, que esclarece que o preenchimento do formulário se destina aos portadores de armas mas também aos de engenhos explosivos.

cartoonpor Stephff

A PROVÁVELPURGA DO TIO

PAPA ALERTA PARA ECONOMIA QUE “MATA”

Contra a divinização mundial do mercado

A primeira exor-tação apostólica do Papa Francis-co rejeita o que

denomina de “economia da exclusão” e a confiança cega na “mão invisível do merca-do”, ao mesmo tempo que pede soluções para as “cau-sas estruturais da pobreza”. “Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim tam-bém hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata”, des-taca a ‘Evangelii gaudium’ (a alegria do Evangelho, em português), publicada hoje.

O texto papal sustenta que o “crescimento equitati-vo” exige mais do que o cres-cimento económico, para uma “promoção integral dos pobres que supere o mero as-sistencialismo”. “Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira”, adverte.

O Papa destaca que estas ideologias “negam o direito

de controlo dos Estados” e instauram “uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilate-ral e implacável, as suas leis e as suas regras”. “A dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra”, precisa.

A primeira exortação apostólica do pontificado, iniciado em Março de 2013, assinala que as questões da inclusão social dos pobres e da paz e do diálogo social “irão determinar o futuro da humanidade”. “A necessi-dade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar”, afirma Fran-cisco, para quem a saída da actual crise económica global passa por identificar a desigualdade como “raiz dos males sociais”, “renuncian-do à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira”.

“Longe de mim propor um populismo irresponsá-vel, mas a economia já não pode recorrer a remédios que são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de tra-balho e criando assim novos excluídos”, alerta.

Nesse sentido, o Papa observa que qualquer mu-dança nas estruturas, sem gerar “novas convicções e atitudes”, levará a que essas mesmas estruturas se tornem “corruptas, pesadas e ineficazes”.

Francisco retoma a refle-xão sobre a solidariedade, que tem marcado várias das suas intervenções, para sublinhar que esta supõe a criação de uma “nova mentalidade que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns”.

A exortação apostólica fala numa “crise antropo-lógica profunda” que está na base da actual crise financeira, visível “no fe-tichismo do dinheiro e na ditadura de uma economia sem rosto”.

De acordo com Francis-co, os “excluídos não são ‘explorados’, mas resíduos, ‘sobras’” da sociedade, ví-timas daqueles que “detêm o poder económico” e dos “mecanismos sacralizados do sistema económico rei-nante”.

O texto regressa às crí-ticas pela “globalização da indiferença”, face ao sofrimento dos outros, e demarca-se dos que procu-ram culpar os pobres dos seus próprios males.

O Papa reflecte ainda sobre a importância do tra-balho, do “salário justo” e da ética, “fora das categorias do mercado”. “Uma reforma financeira que tivesse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitu-des por parte dos dirigentes políticos”, exemplifica.

PUB