hoje macau 14 out 2014 #3192

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PUB A reforma curricular que vai ser implementada nas escolas de Macau inclui a disciplina de Educação Cívica e Valores Morais. Embora os contornos da matéria ainda não estejam completamente delineados, uma coisa é certa: a educação patriótica e os conteúdos políticos fazem parte do pacote. Deputados e professores manifestam a sua preocupação. DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 TERÇA-FEIRA 14 DE OUTUBRO DE 2014 ANO XIV Nº 3192 PÁGINAS 2-3 RESTAURAÇÃO A taxa do dia FUNÇÃO PÚBLICA UMA DOR QUE NÃO SE VÊ AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB hojemacau A taxa de serviço imposta pelos restaurantes não tem limites nem dias fixos. Nada a fazer, a não ser calar e pagar, até porque “o mercado é livre.” O académico do IPM, Yin Yifei, denuncia a falta de aplicação das leis sobre a responsabilização dos funcionários públicos, o que faz com que a AL “não possa ter um efeito dissuasor sobre o Governo”. Regras para que vos quero? SOCIEDADE PÁGINA 7 POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 8 INQUIETACAO PATRIOTICA ´ ˜ ´

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Hoje Macau N.º3192 de 14 de Outubro de 2014

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Page 1: Hoje Macau 14 OUT 2014 #3192

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A reforma curricular que vai ser implementada nas escolas de Macauinclui a disciplina de Educação Cívica e Valores Morais. Embora os contornos

da matéria ainda não estejam completamente delineados, uma coisa é certa:a educação patriótica e os conteúdos políticos fazem parte do pacote.

Deputados e professores manifestam a sua preocupação.

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 T E R Ç A - F E I R A 1 4 D E O U T U B R O D E 2 0 1 4 • A N O X I V • N º 3 1 9 2

PÁGINAS 2-3

RESTAURAÇÃOA taxa do dia

FUNÇÃO PÚBLICA

UMA DORQUE NÃO

SE VÊ

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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hojemacauA taxa de serviço imposta pelos restaurantes não tem limitesnem dias fixos. Nada a fazer,a não ser calar e pagar, até porque “o mercado é livre.”

O académico do IPM,Yin Yifei, denuncia a falta de aplicação das leis sobre a responsabilização dos funcionários públicos, o que faz com que a AL “não possa ter um efeito dissuasor sobreo Governo”.

Regraspara quevos quero?

SOCIEDADE PÁGINA 7

POLÍTICA PÁGINA 4

SOCIEDADE PÁGINA 8

INQUIETACAOPATRIOTICA´

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Page 2: Hoje Macau 14 OUT 2014 #3192

hoje macau terça-feira 14.10.20142 REPORTAGEMCECÍLIA L [email protected]

D IAS depois de ter sido oficial-mente anunciado pelo Executivo

que as escolas de Macau iam integrar a disciplina de Educação Cívica e de Valores Morais, deputados e professores partilham um sentimento comum sobre a situação: preocupação.

Um exemplo dessa apreensão surgiu esta se-mana numa interpelação de Mak Soi Kun. O deputado escreve sobre a política da Educação Cívica em Ma-cau e aponta que esta se vai focar no tema da Educação Patriótica. Para Mak So Kun, fazer a promoção da Lei Básica seria o suficiente para implementar essa noção, ainda que fosse necessário fazer uma revisão à forma como é promovida.

Também Teresa Vong, académica da Universidade de Macau (UM) e Directora do Centro de Educação e Pesquisa, diz ao HM que o Governo não só já fez o “su-ficiente” com a implemen-tação desta matéria, como também já fez “demasiado”. Para a professora do curso de Sociologia da Educação alerta que é preciso começar a prestar atenção ao tipo de conteúdo deste ensino.

“Algumas pessoas pen-sam que é urgente criar uma educação patriótica porque, de facto, Hong Kong e Macau estiveram durante um longo tempo sob a administração de estrangeiros. Mesmo que a ligação à cultura chinesa sempre exista, a ideologia é diferente”, começa por apon-tar. “Por exemplo, temos ‘um país, dois sistemas’ e usamos sistemas diferentes, que são respectivamente comunista e capitalista.”

POLÍTICA INTERACTIVANa última semana, Wong Kin Mou, chefe de Depar-tamento da Direcção dos Serviços de Educação e Ju-ventude (DSEJ), disse numa conferência de imprensa que a nova lei de reforma curricular nas escolas veio obrigar todas as instituições a ter a disciplina de Edu-cação Cívica e de Valores Morais, sendo que a mesma deverá conter conteúdos po-líticos. Contudo, ainda não há uma definição concreta do tipo de conteúdos que serão ensinados. “Vai ser um ensino mais interactivo, com uma ligação ao sistema e estrutura política. As esco-

ENSINO EDUCAÇÃO PATRIÓTICA PREOCUPA PROFESSORES E DEPUTADOS

Os perigos do novo manual

las têm vindo a ter algumas disciplinas de Educação Cívica e o seu conteúdo pode ser diversificado. Temos de formar os cidadãos com um espírito patriótico e com o sentimento de amar Macau. Utilizamos o termo Educa-ção Cívica porque somos uma RAE, mas abrange conteúdos patrióticos”, disse o responsável, na altura.

Teresa Vong coloca dú-vidas sobre o conteúdo, até porque para a académica há sempre várias maneiras de mostrar patriotismo.

“Muitas pessoas pensem que é necessário ter esta disci-plina porque vai complemen-tar o que falta em Hong Kong e Macau nos últimos séculos. Contudo, o amor [existe] a nível emocional, não pode ser acelerado. Temos de ter um processo, o amor à primeira vista às vezes não é estável. Por isso, precisamos de tem-po para ter a [disciplina] de Educação Patriótica.”

Vong aponta, por exem-plo, que a aprendizagem da cultura chinesa também é uma maneira de patriotismo. “Mas há outras maneiras. Por exemplo, quando a província de Yunan foi alvo de um sis-mo recentemente, os alunos patrióticos podem procurar maneiras de ajudar os seus compatriotas. Isso já mostra [que se sente o amor à pátria] a nível emocional”, acrescenta.

HÁ DÉCADAS Outro professor e ex-depu-tado, Paul Chan Wai Chi, concorda com a colega. O amor à pátria é algo que se deve sentir realmente. O professor de História numa escola católica acompanha ainda Teresa Vong, quando esta diz que a insistência de se ter esta disciplina nas escolas já é antiga.

“Há décadas que as pes-soas querem introduzir este conceito. Contudo, para nós, ter educação patriótica de-veria ser ter educação cívica e saber como ter um pensa-mento independente. Ter ca-pacidade crítica”,começa por apontar ao HM. “Aliás, esse é o motivo básico de ensinar isto. Porque todos os chineses, teoricamente, deveriam amar o seu país.”

O ex-deputado à As-sembleia Legislativa (AL) considera, como Teresa Vong, que é necessário passar por um processo longo para se perceber realmente como amar o seu país.

“Temos de aprender a história de séculos e temos de saber os problemas que existem hoje em dia na socie-

As escolas de Macau vão ser todas alvo de uma reforma nos currículos que exige que se leccione a disciplina de Educação Cívica e de Valores Morais. O problema é que esta vai incluir educação patriótica e temas de cariz político. Ainda não há uma definição concreta dos conteúdos que serão ensinados, mas professores e deputados afirmam que um programa delineado pelo Executivo pode ser perigoso para a cabeça dos menores

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3 reportagemhoje macau terça-feira 14.10.2014

“Não podemos ter uma obediência cega no país, temos de apresentar opiniões que podem ajudar ao desenvolvimento dele, mesmo que essas sejam contra algumas políticas existentes. Todos os cidadãos podem ter amor e carinho pelo seu país, mas não pode ser um amor sem princípios, não pode ser um amor cego”PAUL CHAN WAI CHI Académico

dade”, afirma. “Só assim se pode ter consciência cívica.”

Paul Chan Wai Chi acres-centa ainda que o ensino básico já tem este tipo de educação em disciplinas diferentes: na de História e Língua Chinesa e até na disciplina de Religião. Para o professor, essas cadeiras já formam gradualmente os conhecimentos e valores do ser humano, com o objectivo de se formar um pensamento independente nos alunos.

NACIONALISMOVS. PATRIOTISMOO ex-deputado do campo pró-democrata não fica por aqui. Paul Chan Wai

Chi aponta que a crítica à Educação Patriótica é fácil, porque é comum entender-se que esta pode ter facilmente um sentido unidireccional.

“A educação militarista do Japão, a nazista da Alemanha, a fascista de França e Itália... não podemos dizer que não é educação patriótica. Mas isso é perigoso, porque é um nacionalismo”, aponta. “Há um desvio na forma como os alunos são guiados. Há proble-mas com este tipo de educação patriótica. A Educação Cívica tem como objectivo formar os alunos a ser bons cidadãos e a ter consciência cívica. Só assim temos uma educação bem sucedida.”

Paul Chan Wai Chi tam-bém não se esquece da Re-volução Cultural. “Naquela época, as pessoas também amavam o país, mas usaram [esse amor] de uma maneira errada. Não podemos ter uma obediência cega no país, temos de apresentar opiniões que podem ajudar ao desenvolvimento dele, mesmo que essas sejam con-tra algumas políticas exis-tentes. Todos os cidadãos podem ter amor e carinho pelo seu país, mas não pode ser um amor sem princípios, não pode ser um amor cego”, salienta o ex-deputado, que acrescenta que o patriotismo não pode ser obrigatoria-mente incutido.

ENSINAR PARA FORMARO professor de História dá como exemplo ao HM o que “sempre ensina” aos seus próprios alunos: aprender sobre o passado, conhecer o estado actual, olhar para o futuro.

“O Governo da RAEM - mesmo o de Pequim – tem uma função: servir o povo. Quando essa função mudar, temos de pensar: será que ainda é necessário amar este Governo? Ou podemos alterar e ajustar o desvio [que se está a fazer sentir]? Neste momen-to, temos de usar os nossos direitos e deveres de cidadão, em vez de apenas amar, amar e amar. Amar de boca, mas ignorar os problemas que existem. Um amor cego é enganoso. E um prejuízo.”

Também Teresa Vong assina por baixo. Segundo a académica, em qualquer país ou região precisa de existir patriotismo, mas não é preciso sublinhar essa necessidade.

“Se eu imigrar para Ca-nadá, preciso de aprender a história do país e cantar o hino, isso é um conhe-cimento básico. Mas se sempre sublinharmos isso, parece que temos de ser patrióticos, porque parece que não amamos o país e deveríamos amar.”

A académica considera que o valor do ser humano e o valor do mundo é mais importante para a educação cívica de cada um. E diz que um conteúdo baseado apenas no patriotismo é apenas parte disso.

“O que já existe na Educação Cívica já inclui a Educação Patriótica. Ando a dar opiniões ao Governo, acho que o que o Executivo já disse sobre a disciplina é suficiente. Neste momento, o mais importante identi-

“O amor [existe] a nível emocional, não pode ser acelerado. Temos de ter um processo, o amor à primeira vista às vezes não é estável. Por isso, precisamos de tempo para ter a [disciplina] de Educação Patriótica” TERESA VONG Académica

T ERESA Vong, professora de Socio-logia da Educação da Universidade de Macau, tem algumas dúvidas

sobre o ‘timing’ da interpelação do deputado Mak Soi Kun, que aponta o dedo à implementação da disciplina de Educação Patriótica nas escolas. Por-que é que só agora, 15 anos depois da transição, é que o deputado apresenta uma interpelação? Teresa Vong diz que suspeita que Mak esteja “a ter uma voz de harmonia”, por causa dos movimentos estudantis a acontecer em Hong Kong, que estão numa fase muito intensa.

“Porquê só agora? Temos de questionar. Penso que é um assunto muito perigoso apresentar quando a situação de Hong Kong está assim tão intensa e um deputa-do de Macau apresenta uma interpelação assim. Poderá ser uma ‘lavagem cerebral’. Tenho mais preocupações acerca do motivo por detrás da interpelação.”

TRABALHO FEITOAo HM, Teresa Vong explica que o Go-verno já fez muitos trabalho nesta área de implementar a educação patriótica. “Por exemplo, quando o Centro de Educação

FLORINDA CHAN FALA DO ASSUNTO EM 2012A Secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, respondeu a uma interpelação escrita do deputado Chan Meng Kam, que versava sobre o mesmo assunto, já em 2012. Na altura, Florinda Chan disse que a DSEJ já tinha realizado várias actividades, bem como financiado as escolas e associações para promover a Educação Patriótica, a fim de aumentar o conhecimento dos adolescentes sobre a pátria e ao mesmo tempo, ficarem mais orgulhosos do seu país. “Além disso, também através dos programas do continente transmitidos pela TDM, fortalecemos o conhecimento dos residentes de Macau sobre a China, aumentamos a ‘consciência nacional’ e ‘patriotismo’”, dizia. Na resposta à interpelação de Chan Meng Kam, Florinda Chan disse ainda que o Governo da RAEM dá muita atenção à formação sobre o patriotismo e que isso também era um dos objetivos do ensino não superior, quando, em 2004, se aprovou um Quadro da Implementação da Educação Patriótica em Macau.

TERESA VONG ALERTA PARA INTEGRAÇÃO MUNDIAL

Expandir conhecimento

ficarmo-nos [com o país], além da identificação cul-tural, também é importante ensinar os residentes quais são os seus direitos cívicos. Porque, hoje em dia, fala-mos demasiado de deveres dos residentes, mas pouco falamos dos direitos que deveríamos ter. Por exem-plo, segundo a Lei Básica, os residentes têm direito de ter liberdade de reunião. Então, porque é que alguns deputados ainda criticam os residentes quando eles usam o seu direito?”

Teresa Vong diz ainda que, numa era de globaliza-ção, a Educação Patriótica

em Macau pode impedir os residentes do território de integrar o mundo e de ter conflitos com os valores mundiais. “Temos de dar o mais possível informa-ções para que os residentes

possam ter um pensamen-to independente. Se não, quando os alunos saírem de Macau, não têm capacidade de comentar assuntos como a democracia, porque não tiveram ensino nesta área.”

Moral abriu em 2006, a instituição sob alçada da DSEJ convidou dois especialistas de Pequim para explicar o que é ‘um país, dois sistemas’”, diz, acrescentando que o que falhou em Hong Kong obteve sucesso em Macau. “Temos educação do dia da Defesa Nacional nas escolas secundárias. Isso já é uma educação patriótica. Além disso, através do meio cultural, o Governo também pode transportar esse pensamento patriótico para os alunos”, diz, enquanto aponta um exemplo desse ‘trabalho’ do Governo.

“Por exemplo, temos as viagens à China financiadas pela DSEJ. Mas, se a viagem depois da graduação da escola secundária é para os Estados Unidos, não vai ter este financiamento.”

OUTROS CONCEITOSTeresa Vong aponta ainda que os pro-fessores que leccionam a disciplina de Educação Cívica também foram Pequim ter formação e mesmo os materiais, o que já mostra o quanto o Governo se esforçou na implementação da Educação Patriótica.

“Será que a Educação Cívica é apenas ensinar educação patriótica? Não deveria ser assim. Há um Conselho de Promoção da Lei Básica, contudo, não temos muita promoção da lei. Além da História, o conceito jurídico, por exemplo, também é uma parte muito importante na educação cívica.”

Teresa Vong dá um exemplo do que a falta de informações importantes pode fazer aos alunos e aponta que, “na Lei Básica da RAEM, não se fala de sufrágio universal, mas ninguém do Conselho [de Promoção da Lei Básica] apresenta um debate sobre o assunto e explica que o sufrágio universal considerado como es-tando incluindo na Convenção dos Direitos Humanos”, aponta.

“Se a Educação Cívica de Macau é apenas no âmbito de RAEM, quando saem de Macau, os alunos não se in-tegram nas regras mundiais. Não me preocupa que o Governo da RAEM não trabalhe neste âmbito, mas preocupa-me saber o que faz exactamente.” - C.L.

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4 POLÍTICA hoje macau terça-feira 14.10.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

H Á muito que se fala da necessidade de implementação de um sistema de

responsabilização dos fun-cionários públicos. Entre académicos e deputados à Assembleia Legislativa (AL), é exigido um novo regime de punição a quem comete erros com as políti-cas públicas.

Contudo, Yin Yifei, pro-fessor do Centro de Estudos Políticos, Económicos e Sociais do Instituto Poli-técnico de Macau (IPM), considera que as leis para responsabilizar funcioná-rios até existem, ainda que

ACADÉMICO INEFICIÊNCIA DE LEIS SOBRE RESPONSABILIZAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

Sistema que existe, mas não se vê

PUNIÇÃO NÃOÉ O CAMINHO Na opinião de Yin Yifen, “um sistema draconiano de punição” aos funcionários não garante um Governo isento e eficaz. “A gravidade da punição não é uma referência a reflectir méritos do sistema oficial de responsabilidade. Actualmente, a crítica sobre o sistema de responsabilidade em Macau foca-se não só na transparência insuficiente, mas também na questão da leveza das punições”, pode ler-se no artigo escrito pelo professor. “A responsabilização motivada por omissões não deve ser a rejeição por inteiro e totalmente erradicada, não devendo abandonar o cargo e demitir-se por causa de um erro, mas diferenciar e aplicar em conformidade”, diz. Yin Yifen defende, assim, que deve existir uma “maior diversificação dos temas de responsabilização do sistema”, sendo que este “não deve referir-se [apenas] à responsabilidade dos seus superiores”. Desta forma, “os temas de responsabilidade são multi-direccionais, o que inclui a responsabilidade superior, e também temas de responsabilidade, como o público, a AL ou os meios de comunicação”.

“O sistema de responsabilidadede Macau para os funcionárioscarece de uma base institucionalclara de poder e de responsabilidadee há uma falta de apoio aosmecanismos de aplicação”YIN YIFEI académico do IPM

Yin Yifei, académico do Instituto Politécnico de Macau, defende que, apesar de já existirem leis sobre a responsabilização dos funcionários públicos, estas não têm sido eficazes. A ausência de aplicação destas regras, sublinha, faz com que a AL “não possa ter um forte efeito dissuasor sobre o Governo”

não estejam a ser aplicadas na prática.

“A experiência de Ma-cau na implementação do sistema de responsabilidade para os funcionários tem mostrado que o sistema não foi capaz de ser realmente implementado, apesar da existência de documentos institucionais e legais. Por-

tanto, é considerado pratica-mente inexistente”, escreve o académico num artigo do mais recente número da Revista da Administração.

Essa ausência acaba por reflectir-se no poder de fis-calização que está destinado à AL. “No sistema executivo existente em Macau, os vários temas de responsabilização,

incluindo a responsabilidade social e a prestação de contas na AL não podem ter um forte efeito dissuasor sobre o Governo”, aponta Yin Yifei.

Isto porque, diz o profes-sor, “o sistema de responsa-bilidade de Macau para os funcionários carece de uma base institucional clara de poder e de responsabilidade e há uma falta de apoio aos mecanismos de aplicação”.

GOVERNO “CENTRALIZADO”Como se pode então imple-mentar de forma eficaz um regime de responsabiliza-ção? Yin Yifen começa por chamar a atenção para o fac-to da actual Administração estar centralizada e de ser necessário funcionar cons-tantemente em hierarquia.

“O sistema administrativo do Governo é relativamente centralizado, de tal forma que os subordinados geralmente precisam de obter o consen-timento dos superiores para lidar com os assuntos. (...) As decisões recebidas pelos subordinados são tipicamente de rotina, pois as decisões importantes são geralmente

do Chefe do Executivo e dos titulares dos principais cargos”, pode ler-se.

Para implementar mu-danças nesta área, há então que identificar os objectivos do regime de responsabiliza-ção, aponta Yin Yifen, sendo necessária uma clara divisão de funções.

“Há a necessidade de se estabelecer uma clara divi-são de funções dos depar-tamentos, com base numa

clara atribuição de pessoas responsáveis”, considera o académico do IPM.

Yin Yifen diz mesmo que “na implementação do sistema de responsabilidade, o sistema legal existente precisa de uma revisão, a fim de melhor diferenciar a responsabilidade institucio-nal e pessoal”.

Essa divisão de funções entre departamentos é fun-damental porque, na óptica de Yin Yifen, são necessários vários grupos de “colabo-ração intersectoriais”, por forma a “resolver questões públicas complicadas, como o combate às pensões ile-gais, os preços das refeições e a renovação urbana”.

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5 políticahoje macau terça-feira 14.10.2014

O Chefe do Executivo, Chui Sai On, afir-mou que o Governo

pretende lançar um conjunto de acções que possibilitem o reforço das relações entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP), sendo uma delas a partilha de talentos bilingues.

Durante a sua intervenção no 10º Fórum para a Cooperação e Desenvolvimento da Região do Grande-Delta do Rio das

O deputado Chan Meng Kam considera que

Macau carece de um planeamento geral na área do Turismo e apon-ta o dedo ao que diz ser um desenvolvimento desequilibrado das zo-nas turísticas, que não permite que o proble-ma da capacidade de suporte da cidade seja resolvido. Na opinião de Chan Meng Kam, isto pode causar a perda de atractividade no turismo de Macau.

Numa interpelação escrita, o deputado ad-mite que Macau tem-se empenhado na constru-ção do Centro Mundial de Turismo e Lazer, mas que, no entanto, quando se fala de exploração de novos elementos turísticos, o território não atinge uma eficiên-cia real. O deputado dá o exemplo da ideia

AL SESSÃO LEGISLATIVA ABRE COM ANÁLISE AO ORÇAMENTO

Contas da casa

15,6milhões de patacas, despesas

previstas com funcionários

BILINGUES PARTILHA DE TALENTOS ENTRE CHINA E PLP

Português para ti e para mimTURISMO CHAN MENG KAM CRITICA PLANEAMENTO

Falta de eficácia

FIL IPA ARAÚ[email protected]

O Orçamento Privativo da Assembleia Legis-lativa (AL) já foi ad-mitido para discussão

em sessão plenária, que se inicia na quinta-feira. O Executivo propõe um total de mais de 166 milhões de patacas para o ano económico de 2015, um aumento de quase 18 milhões de patacas quando com-parado com o ano passado.

O orçamento prevê um aumen-to de 12% na despesa orçamentada para o hemiciclo, tudo porque, de acordo com a proposta analisada pelo HM, haverá um aumento das “despesas com o pessoal” e com a aquisição de “bens e serviços”.

Relativamente ao aumento das despesas com o pessoal, a proposta explica que isto se deve principalmente a um “reforço” no

vencimento do pessoal dos quadros, cujo valor chega às 2,5 milhões de patacas, das remunerações do pes-soal com contrato além do quadro, que atingem 1,8 milhões de patacas, e das “gratificações certas e perma-nentes dos deputados”. No total, só com funcionários, a AL prevê gastar 15,6 milhões de patacas.

MAIS DESPESASO aumento das despesas na rubrica “aquisição de bens e serviços” é justificado pelo reforço mone-tário na aquisição de “serviços diversos”, em mais de 500 mil de patacas e também com o aumento das despesas com “condomínio e

segurança” e do investimento na “locação de bem imóveis”.

O aumento nas chamadas “outras despesas correntes” corres-ponde, segundo o documento, ao reforço das doações para o Regime de Aposentação e Sobrevivência e para o Regime de Previdência, que totaliza 674 mil patacas.

A proposta do Orçamento será o ponto único de discussão da pri-meira reunião plenária da AL, que se seguirá com a nomeação dos novos presidentes e Secretários para a Comissão de Regimento e Mandatos, para as três Comissões Permanentes, para a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas, para a Comissão de Acompanhamento para os Assun-tos de Finanças Públicas e para a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administra-ção Pública.

É já esta quinta-feira que abre a nova sessão legislativa que vai discutir a proposta do Executivo que propõe um aumento de 18 milhões de patacas no orçamento da AL

Pérolas, o líder do Governo afirmou que o Executivo pre-tende criar uma plataforma de “partilha de talentos bilingues” da China e dos PLP, assim como organizar mais visitas de grupo de empresários do Grande-Delta do Rio das Pérolas e de Macau aos países de língua portuguesa para possíveis investimentos.

APOIO AO TURISMONos planos de Chui está também o reforço no apoio e

coordenação da cooperação turística entre a China e os mesmos países, no sentido de impulsionar o desenvolvi-mento da indústria turística, a realização de exposições a nível internacional e nacio-nal, suporte às províncias e regiões do Grande-Delta do Rio das Pérolas e empresas lusófonas e alargamento de mercados.

Durante o discurso do encontro, que se realizou em Cantão, Chui Sai On clarificou que o Executivo irá “intensi-ficar ainda mais a competi-tividade turística global do território, com a optimização e reforço de excursões turísticas integradas para partilha de fontes internacionais de turis-tas, a inovação e o reforço da promoção do turismo regional no mercado internacional”. Acções que, segundo o Chefe do Executivo irão reforçar as relações, assim como o Turismo, com as províncias e a Região do Grande-Delta do Rio das Pérolas. - F.A.

de abrir um mercado à noite, que foi deixada de lado por não se saber em que local poderia nascer o espaço.

À ESPERA DE RESPOSTASChan Meng Kam ques-tiona o Governo sobre como é que este pre-tende impulsionar a ideia do mercado, algo que, de acordo com a sua opinião, poderá ajudar a revitalizar os bairros antigos e ajudar

as pequenas e médias empresas no seu cres-cimento. Além disso, o deputado pergunta ao Executivo qual o processo de elaboração do “Planeamento Geral do Desenvolvimento da Indústria de Turismo”, pedindo para que este apresente e explique as suas propostas e ideias concretas.

Relativamente aos quatro roteiros turísticos do programa “Sentir Macau passo-a-passo”, implementados pela Direcção dos Serviços de Turismo, Chan Meng Kam põe em causa se é realizada a avaliação à eficiência da ideia, as-sim como critica a falta de instruções claras, de equipamentos e de espa-ços de recreação. Posto isto, Chan pergunta se está prevista alguma revisão ou aperfeiçoa-mento. - F.F.

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hoje macau terça-feira 14.10.20146 política

CECÍLIA L [email protected]

D EPOIS de ter sido avançada a notícia de que a Socieda-de de Transportes

Colectivos de Macau (TCM) está a alugar autocarros às empresas de jogo para estas transportarem trabalhadores, o deputado Si Ka Lon vem a público dizer que também motoristas da empresa estão a ser emprestados às opera-doras de Jogo.

Si Ka Lon assegura que foi um trabalhador quem lhe deu esta informação e mostra-se preocupado com a influência que isto pode trazer nos serviços de auto-carros públicos.

“Houve funcionários do sector que me disseram que, quando os veículos para os casinos tiverem problemas, ou quando faltarem mo-toristas para o shuttle-bus dos casinos, os condutores da TCM vão substituí-los”, começa por apontar Si Ka Lon. “Assim, as linhas mais ocupadas, por exemplo o 6A que vai para o Hospital do Conde de São Januário, o MT3U para o campus da UM na Ilha da Montanha

SI KA LON MOTORISTAS DA TCM TAMBÉM SÃO EMPRESTADOS A CASINOS

Investigação precisa-se

Si Ka Lon pede uma investigação sobre o aluguer de autocarros que deveriam estar ao serviço do público aos casinos. O deputado envia uma interpelação ao Executivo, onde aponta que os motoristas também estão a ser emprestados

passado e que diz respeito a autocarros que circulam sem passageiros e que es-tavam a receber pagamento do Governo por circularem – se deve a esta alteração de condutores entre os autocar-ros para o público e para os dos casinos.

Mas não é apenas isso que está a irritar o deputado: “As empresas de autocarros queixam-se sempre da falta de recursos humanos no sector, mas ainda alugam veículos para as operadoras de Jogo, quando eles já têm

veículos para transportar os turistas, e emprestam condu-tores”, aponta. “Será que as autoridades não aproveitam bem os recurso das empresas de autocarros para resolver as dificuldades dos residentes em apanhar o autocarro?”

O deputado questiona se o Governo vai avaliar a capacidade de operação das empresas de autocarro, para dar a prioridade aos servi-ços públicos, e quer ainda saber se as autoridades já tomaram algumas medidas de supervisão para evitar que os veículos dos serviços públicos sejam alugados a operadoras de Jogo.

Durante o período diur-no, as empresas de jogo estão a utilizar 17 autocarros da TCM, sendo que à noite o número baixa para 11.

“As empresas de autocarros queixam-se sempre da falta de recursos humanos no sector, mas ainda alugam veículos para as operadoras de Jogo, quando eles já têm veículos para transportar os turistas, e emprestam condutores” SI KA LON

e a linha entre o Iao Han e Taipa, número 22, vão ser reduzidas.”

O deputado menciona que os Serviços para os As-suntos de Tráfego (DSAT) já lhe responderam sobre esta dúvida, dizendo que a empresa de autocarros pode alugar veículos, desde que o negócio não afecte o serviço público. Contudo, o deputa-do não está satisfeito.

“Será verdade o que os funcionários me disseram? [A DSAT] vai fazer uma investigação ao caso? As autoridades não deram uma resposta clara”, queixa-se Si Ka Lon, que diz que os autocarros que estão a ser alugados são os normalmen-te utilizados para o serviço público de transporte.

AINDA SE QUEIXAMSi Ka Lon questiona ainda se a situação do chamado “autocarro fantasma” – que foi descoberta o ano

(Este Seminário tem também sessões em Pequim, Rio de Janeiro, São Paulo, Lisboa, Porto e Aveiro)

Local: Rua de Berlim, Edf. Venus Court, 240, 2.º andar (NAPE) Telefone: 2875-1727 / 2875-1767; Fax: 2875-1797; E-mail: [email protected]

Entrada livre

- Palavras de saudação pelo Presidente do IIM,Dr. Jorge Rangel;

- “A lusofonia em uma ordem mundial multipolar”, pelo Dr. José Medeiros da Silva, especialista da “China International Broadcasting Network”;

- “Portugal e a União Europeia no diálogo entre a China e a CPLP”, pelo Dr. José Luís Sales Marques, Director do Instituto de Estudos Europeus de Macau

Lançamento das obras

- “Brasileiros nos Extremos Orientais do Império – Séculos XVI a XIX”, e - “Luís Gonzaga Gomes e uma produtiva cooperação cultural Macau-Portugal-Brasil”, ambas de Carlos Francisco Moura (co-edição IIM/Real Gabinete Português de Leitura)- “Delta do Rio das Pérolas – Shenzhen: Uma cidade para todas as estações”,- “Delta do Rio das Pérolas – Dongguan: uma nova fase de crescimento”, e- “Delta do Rio das Pérolas – Zhuhai: A cidade-jardim do Delta do Rio das Pérolas”, de coordenação de Gonçalo César de Sá, edição da Associação de Macau de Investigação do Delta do Rio das Pérolas e da Macaulink, com o apoio da Fundação Macau e do IIM

CONVITEO INSTITUTO INTERNACIONAL DE MACAU (IIM)

e oINSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS DA CHINA E ÁSIA-PACÍFICO (IBECAP)

organizam o VI Seminário “O Papel de Macau no Intercâmbio Sino-Luso-Brasileiro”

que se realiza, com apoio de Fundação Macau e patrocinio do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial Entre a China e os Países de Língua

Portuguesa (Macau), no dia 16 de Outubro (Quinta-Feira), pelas 18H00, no Auditório do IIM.

PROGRAMA

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hoje macau terça-feira 14.10.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

FLORA [email protected]

F OI há um ano que os Serviços de Admi-nistração e Função Pública (SAFP) cria-

ram o Serviço de Apoio Psi-cológico para Trabalhadores dos Serviços Públicos. Dados relativos a Outubro de 2013 e Junho deste ano, confirmados ao HM por um responsável do centro, mostram que um total de 195 trabalhadores já foram atendidos por psi-cólogos.

O serviço é gratuito e funciona por marcação de consultas, em parceria com a Associação de Psicologia de Macau (APM). O HM chegou à fala com os SAFP para saber os casos mais comuns que chegam às consultas, mas foi evocado o dever de sigilo

FUNÇÃO PÚBLICA QUASE 200 FUNCIONÁRIOS PEDEM APOIO PSICOLÓGICO

A dor que vive escondida“Eles [funcionários] podem achar que os seus superiores não tratam as queixas de forma razoável, ou até fazem uma avaliação injusta do desempenho. Isso pode causar um aumento do stress e até causar outras doenças”LOU SHENGHUA Professor na área da Administração Pública IPM

Num ano de funcionamento, o Serviço de Apoio Psicológico para Trabalhadores dos Serviços Públicos, disponibilizado pelos SAFP, já atendeu 195 pessoas. Lou Shengua, docente na área da Função Pública, diz que muitos casos podem estar escondidos

represente os funcionários? Acho que tanto para a ela-boração de leis, como para a criação de um mecanismo interno na Função Pública, [há] aspectos que precisam de ser aperfeiçoados”, apon-tou o docente do IPM.

O HM tentou ainda contactar dois presidentes de associações do sector, os quais não se mostraram disponíveis para falar até ao fecho desta edição.

para a ausência de explica-ções. Também Doris Chan, presidente da APM, não quis avançar mais dados por se tra-tarem de casos confidenciais.

Lou Shenghua, professor na área da Administração Pública no Instituto Politéc-nico de Macau (IPM), expli-cou ao HM quais poderão ser as razões para a procura deste tipo de serviço.

O docente considera que, com o desenvolvimento da sociedade e com a existência de mais pedidos feitos aos funcionários públicos, estes podem sofrer de grande pres-são psicológica, sobretudo os chamados funcionários da linha da frente.

“Do ponto de vista da Administração, como o Governo elaborou muitas

leis e regulamentos, quanto mais leis existirem, mais pressão os funcionários enfrentam. Então é fácil os funcionários públicos terem queixas”, frisou Lou Shenghua.

O professor acrescentou ainda que é possível que existam funcionários públi-cos que fazem queixas dos seus superiores, que acabam

por ser quem tratam pre-cisamente dessas queixas. “Eles podem achar que os seus superiores não tratam as queixas de forma razoável, ou até fazem uma avaliação injusta do desempenho. Isso pode causar um aumento do stress e até causar ou-tras doenças”, disse Lou Shenghua.

ESCONDIDOSLou Shenghua alerta ainda para outros problemas: mui-tos casos podem nem sequer ser conhecidos.

“A situação até pode estar escondida”, disse o acadé-mico ao HM. “Há muitos funcionários públicos que tentam aliviar a situação à sua própria maneira”, frisou. Lou Shenghua mostrou ainda preocupação quanto ao facto das pessoas que procuram o serviço disponibilizado pelos SAFP poderem preocupar-se com a possibilidade do seu caso vir a ser descoberto. Por isso, “é possível que existam mais casos escondidos”, rematou o docente.

Lou Shenghua lembra ainda que os mecanismos de comunicação entre dife-rentes cargos na Função Pú-blica deve melhorar. “Será que existe um mecanismo completo de comunicação entre cargos inferiores e superiores? E no processo de avaliação de desempenho dos funcionários, será que existe um mecanismo que

Um estudo publicado numa das edições da revista da Administração deste ano sugere que “o Governo de Macau eduque os funcionários dos departamentos sobre a forma de prestar apoio aos funcionários públicos e satisfaça as suas necessidades”. Tal, “pode ser uma mais valia em deixar os funcionários públicos saberem como o seu apoio é importante para os seus colegas e como fornecer apoio de uma maneira melhor”, pode ler-se. O trabalho foi desenvolvido por dois docentes do Instituto de Formação Turística e Instituto Politécnico de

Macau, tendo-se baseado em inquéritos feitos a cem trabalhadores de nove departamentos públicos. Outra das conclusões do estudo é que “o apoio social dos supervisores pode aliviar o stress no trabalho dos funcionários públicos”, sendo que “os departamentos governamentais de Macau podem ser capazes de orientar os supervisores para dar suporte aos subordinados e para alocar mais tempo para lhes dar apoio no futuro. Isso pode levar à redução positiva do stress dos funcionários públicos”, aponta ainda o estudo.

APOIO SOCIAL DE SUPERVISORES PODE REDUZIR STRESS, DIZ ESTUDO

7SOCIEDADE

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8 sociedade hoje macau terça-feira 14.10.2014

Saúde Ilha da Montanha acolhe novo hospital sino-americanoVai ser construído um hospital sino-americano na Ilha da Montanha, que se prevê ter capacidade para 500 camas. O MGH Hospital China será financiado por uma empresa chinesa e gerido pelo Hospital Geral de Massachusetts (HGM) – pertencente à Harvard Medical School – e pelo Hospital de Medicina Tradicional Chinesa de Guangdong. O acordo de construção, assinado na semana passada entre os dois países, de acordo com notícia avançada pelo jornal Ponto Final, prevê que o espaço médico compreenda tecnologia, recursos humanos e material do HGM, bem como um centro de pesquisa e formação para pessoal médico chinês. Segundo o jornal Ponto Final, o acordo foi assinado no sentido de impulsionar a relação entre as medicinas tradicional chinesa e ocidental. A responsável pelos serviços de saúde de Hengqin afirmou mesmo que 100 mil metros quadrados estão já reservados para a construção desta infra-estrutura, a primeira unidade de saúde da Harvard Medical School fora de solo norte-americano.

Dengue Mais um casode febre importada em Macau

LEONOR SÁ [email protected]

A taxa de serviço em estabelecimentos de comidas e bebi-das e restaurantes

pode ser alterada fora de fins-de-semana e feriados e a qualquer momento que o proprietário pretenda. Quem o afirma ao HM é o Instituto para os Assunto Cívicos e Munici-pais (IACM), depois de mais um deputado ter apontado o dedo às altas taxas de serviço praticadas em Macau.

De acordo com o IACM os restaurantes podem imple-mentar a taxa que quiserem, uma vez que “o mercado é livre”. Mais ainda, essas taxas podem subir sempre que o proprietário quiser. Para isso, explicou uma porta-voz do IACM, apenas é obrigatório notificar as autoridades e os clientes que entrem nos esta-belecimentos.

“Todos os estabeleci-mentos têm que informar o Governo sobre a subida de preços”, disse, confirmando que estes “podem alterar a tabela de preços sempre que desejarem, embora sejam punidos caso não notifiquem as autoridades e não tenham os preçários visíveis”.

O pedido de esclarecimen-to do HM ao IACM surge depois de uma interpelação escrita do deputado Ho Ion Sang, que criticava as taxas “abusivas” cobradas em dias de feriado na RAEM, como acontece durante a Semana Dourada, em Outubro. No entanto, esta é uma prática comum em vários estabeleci-mento de restauração e não é,

A taxa de serviço cobrada em restaurantes não só é legal, como não tem qualquer limite máximo. Depois de mais um deputado apontar o dedo à falta de fiscalização nestes casos, o IACM garante ao HM que nada há a fazer, até porque o “mercado é livre”. A única obrigação dos estabelecimentos é notificar Governo e clientes da taxa que praticam

RESTAURAÇÃO TAXAS DE SERVIÇO SEM LIMITES MÁXIMOS NEM CALENDÁRIO

Todos os dias são bons dias

“Podem alterar a tabela de preços sempre que desejarem, embora sejam punidos caso não notifiquem as autoridades e não tenham os preçários visíveis”PORTA-VOZ DO IACM

ao contrário do que se possa pensar, ilegal.

DEPUTADOS INTERVÊMDe acordo com o Regime de Actividade Hoteleira e Si-milar, em vigor desde 1996, os estabelecimentos podem praticar os preços que enten-derem, qualquer que seja a sua classificação. Apesar de ser legal, contudo, há deputados que consideram que deveria haver, pelo menos, um limite, até porque há, muitas vezes,

dizem, problemas de cobran-ças excessivas.

Desde que a legislação está em vigor há já 18 anos, Ho Ion Sang não é o primeiro deputa-do a exigir mais fiscalização e um cerco mais apertado por parte do Executivo, no que diz respeito ao mercado livre e preçários “abusivos”.

Já no ano passado, o de-putado Mak Soi Kun havia enviado uma interpelação sobre o mesmo tema, referin-do a dificuldade em encontrar

OS Serviços de Saú-de (SS) estão a

acompanhar o caso de uma mulher residente do território, que con-traiu febre da dengue em Cantão, onde foi diagnosticada, elevan-do o número de casos na província de Guang-dong para 27.593.

Até agora, Macau conta com 12 casos de dengue, 10 destes importados, ou seja, contraídos noutros paí-ses ou territórios. No entanto, o caso desta mulher de 47 anos, que entre 4 de Setembro e 11 de Outubro esteve em Cantão a visitar fa-miliares, não é contabi-lizado por Macau, por não ter sido contraído nem diagnosticado no território, explicou à agência Lusa o porta--voz dos SS. Fica, as-sim, nas estatísticas de Guangdong, a provín-cia vizinha de Macau.

No dia 8 de Outu-

bro, enquanto ainda se encontrava em Can-tão, a mulher apre-sentou os primeiros sintomas, tendo re-corrido ao hospital local, onde as análises confirmaram que tinha febre de dengue. No regresso a Macau, por ainda apresentar dores musculares, erupção cutânea e dores ósseas, a doente foi transpor-tada, de ambulância, para o Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Conde de São Januário. Segun-do os SS, a paciente encontra-se agora em estado estável. O ma-rido não apresentou sintomas semelhantes mas foi, ainda assim, submetido a exames médicos.

Desde o início do ano até ao dia 10 de Ou-tubro, a febre da dengue já matou seis pessoas em toda a província de Guangdong.

locais para comer e o aumento progressivo dos preços. Foi Helena de Senna Fernandes, a directora dos Serviços de Turismo, quem respondeu ao deputado, referindo mesmo que o Executivo não tem ca-pacidade para impedir a altera-ção de preços. “Em relação aos estabelecimentos hoteleiros, de restauração ou de bebidas, (...) as leis e os regulamentos existentes não implementam normas e restrições aos preços dos serviços prestados”, lê-se na resposta à interpelação de Mak Soi Kun, de 2013.

Actualmente, a taxa de ser-viço em restaurantes costuma ser de cerca de 10%, mas há estabelecimentos que cobram taxas de 25%, por exemplo, conforme foi possível ao HM confirmar.

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9 sociedadehoje macau terça-feira 14.10.2014

O Governo gastou, entre Ja-neiro e Setembro, cerca de 34% do total de receitas ar-recadadas, indicam os dados

da execução orçamental dos três primeiros trimestres deste ano. A RAEM continua, contudo, a ter saldo positivo: quase 80 milhões de patacas.

De acordo com os dados disponíveis no portal dos Serviços de Finanças, entre Janeiro e Setembro, a Administração registou uma receita global de 120.109,7 milhões de patacas, mais 6% do que nos primeiros nove meses de 2013 e corres-pondente a 85% do previsto para 2014.

O S proprietários das fracções do Sin Fong Gar-

den, o edifício que foi evacuado há dois anos por estar em perigo de ruína, preferem mudar-se para apartamentos de habita-ção pública do que conti-nuar a receber o subsídio mensal atribuído pelo Governo. Isto, porque as rendas actuais são altas, dizem os proprietários, e mesmo que o Governo ofereça os subsídios, estes continuam a ter de pagar uma parte da renda. Um dos moradores disse mesmo que considera que o plano de alojamento temporário pode resolver o problema de alojamento a curto prazo e não se

importa qual o tipo de habitação social que lhe for entregue. Os serviços de alojamento provisório vão, então, substituir a actual atribuição mensal de subsídio especial.

“Já não tenho a casa [do Sin Fong Garden] e arrendamos um aparta-mento, mas não foi uma boa resolução porque é sempre possível que aumente a renda. Com o alojamento provisório, que pode ser numa frac-ção da habitação social, posso ter um local fixo, não preciso sempre de me preocupar em mudar [de casa]”, disse um dos proprietários, citado pelo canal chinês da Rádio Macau.

Conselho de Consumidores alerta sobre casas na China IAS Mais 40 terapeutas estrangeiros em três anos

SIN FONG ALOJAMENTO PROVISÓRIOSUBSTITUI SUBSÍDIO MENSAL

Em nome da estabilidade

O facto de cada vez mais residentes de Macau investirem na compra de casa

no continente fez com que o Conselho dos Consumidores (CC) tivesse ontem emitido um comunicado a lembrar que é fundamental conhecer as leis da China.

“Como o CC realça, a venda de imobi-liário no interior da China é regulada pela legislação nacional que foi implementada em 2001. Segundo a legislação, os promo-tores imobiliários devem ter a certidão de uso do solo e a licença de construção, bem como devem confirmar a data de conclusão da obra e o prazo de entrega de fracção de edifício”, avisa o organismo. Além disso, diz ainda o organismo, para os efeitos de registo nas autoridades, os promotores

devem assegurar já ter investido na fase de construção de edifício um capital no valor superior a 25% do valor total do projecto, além de deverem ter licença para a venda de fracções de edifício em construção e ainda uma autorização específica para a venda no exterior.

O CC chama ainda a atenção para o facto de a “promessa de transmissão de fracções de edifício em construção ter de ser feita através da celebração de um contrato, sendo necessário fazer registo, com a apresentação do contrato assinado, nas autoridades de gestão de imobiliário e de gestão do solo, de nível provincial, dentro de 30 dias contados a partir da data de celebração do mesmo”.

O Instituto de Acção Social (IAS) prevê que nos próximos três anos sejam necessários

40 terapeutas profissionais não residentes para complementar as necessidades de entidades de serviço social. Iong Kong Io, director do IAS, disse ao canal chinês da Rádio Macau que a introdução de terapeutas estrangeiros terá como princípio a não influência da empregabilidade dos trabalhadores locais.

As necessidades visam cobrir as lacu-nas trazidas pela inauguração gradual de instituições de recuperação e de serviços sociais nos próximos anos, prevendo o IAS a necessidade de terapeutas da fala, de reabilitação e ocupacionais. Iong Kong Io esclareceu que o concurso não vai abrir já este ano, estando neste momento o organis-

mo a procurar consenso junto de grupos e associações do sector.

“Nem todos os licenciados de Macau irão trabalhar em instituições dos serviços sociais. Esperamos que, com base nos dados, as as-sociações de terapeutas compreendam que nos últimos tempos houve várias instituições inauguradas em Macau, pelo que precisamos de mais terapeutas”, apontou o director do IAS.

Iong Kong Io considera ainda que a im-portação de terapeutas não será algo fácil. “Em Hong Kong existem talentos nesta área, mas as remunerações são maiores do que em Macau. O aspecto da língua também é difícil, porque os profissionais podem não dominar o cantonês. Portanto não será fácil recrutar pessoas adequadas para Macau”, apontou. - F.F.

O saldo de Janeiro a Setembro continua a ser positivo, apesar da subida das despesas e da queda do PIDDA

ORÇAMENTO 34% DAS RECEITAS GASTAS EM NOVE MESES

Investimentos emplano inclinado

Já as receitas correntes, estimadas em 119.575,6 milhões de patacas registam um crescimento de 9% e estão executa-das em 85,3% no corrente ano.

Entre as receitas correntes, os impos-tos directos constituem-se como a grande “fonte” de rendimento da Administração e totalizavam 104.780,7 milhões de pa-tacas, a subirem em termos homólogos 8,8% e executados em 84,8% do previsto para os 12 meses do corrente ano.

Com um encaixe de 101.132,3 mi-

lhões de patacas, os impostos directos sobre o sector do Jogo, no valor de 35% da receita bruta apurada pelos operado-res, estavam em alta de 9,1% com uma execução de 85,8% e valiam 84,19% da receita global da Administração.

A receita fiscal do Jogo não reflecte exactamente a evolução das receitas brutas do sector, dado serem pagas no mês seguinte ao mês de referência, ou seja, para efeitos de orçamento, o encaixe é feito de Dezembro até Novembro do ano seguinte.

DESPESA SOBENo campo da despesa, a Administração apresenta um registo global de 40.813,8 milhões de patacas, mesmo assim mais 14,3% do que no mesmo período de 2013 e a traduzir 52,6% do previsto para 2014.

As receitas correntes - no valor de 38.395,8 milhões de patacas - estavam a subir 16,4% e reflectiam uma execução de 62,2% do previsto.

Apesar do aumento da despesa, os Investimentos do Plano (PIDDA) - orça-mentados em 14.801,4 milhões de patacas - estavam em queda de 19% e cumpridos em apenas 11,3% com uma despesa efectiva de 1.670,8 milhões de patacas.

Entre receitas e despesas, a Admi-nistração registou um saldo positivo de 79.295,8 milhões de patacas, mais 2,2% do que nos primeiros nove meses de 2013 e a traduzirem 124,7% do previsto para 2014. - LUSA

120.109,7milhões de patacas, receita global

entre Janeiro e Setembro

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hoje macau terça-feira 14.10.201410 publicidade

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hoje macau terça-feira 14.10.2014 11EVENTOS

LEONOR SÁ [email protected]

A associação cultural portuguesa Dispo-sitivo Experimental, Multidisciplinar e

Orgânico (DEMO) vem ao Armazém do Boi leccionar UGAWA!, um curso interactivo

Hard Rock Concertos para apoiar vítimas de cancro da mamaPara não deixar passar o mês de Outubro em branco – altura em que se assinala a prevenção do cancro da mama – o Hard Rock Café de Macau organiza o evento ‘PinkOctober’. Durante as próximas semanas alguns nomes marcarão presença no palco do conhecido espaço: depois de Mané e Diana, cantores que abriram o mês de espectáculos num concerto que decorreu na noite passada, seguem-se outras bandas. Os 80 & Tal são os próximos a actuar, com concerto marcado para a próxima quinta-feira, dia 16, seguindo-se os Concrete/Lotus, quinta-feira, dia 23. O evento irá ainda terminar com um jantar de gala no domingo, dia 26 de Outubro. Todos os concertos começam por volta das 21h15, sendo que o preço do bilhete é de 150 patacas por dia. Um preço diferente terá o jantar de gala, cujos preços se situam entre as 840 e as 1090 patacas. As receitas arrecadas com os bilhetes revertem para a Fundação do Cancro da Mama de Hong Kong (Hong Kong Breast Cancer Foundation).

Instituto Ricci Conferência sobre Jesuítas e Companhia de JesusO Instituto Ricci vai acolher, do dia 28 a 30 deste mês, uma conferência sobre os Jesuítas e a sobrevivência deste grupo em três principais locais do globo. A iniciativa serve, igualmente, para celebrar os 200 anos da restauração da Companhia de Jesus – ordem religiosa fundada por estudantes em 1534. A palestra, a acontecer entre terça e quinta-feira no auditório do Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, vai incluir conversas sobre a história e presença dos Jesuítas pelo mundo. “Sobrevivência Jesuíta e Restauração (1773-1814): Perspectivas de Boston e Macau” vai incidir, principalmente, na presença na Rússia, Estados Unidos e China desde 1773, da qual há pouca informação histórica. O evento tem entrada livre.

Nutrição em debate dia 23O espaço The Lagoon, no hotel Landmark, vai ser palco de um debate sobre nutrição que contará com a presença do especialista alemão Flechtner-Mors, num evento promovido pela marca de produtos naturais e de emagrecimento Herbalife. Segundo um comunicado, o evento, que deverá decorrer entre as 18h00 e as 21h00, pretende mostrar várias formas de manter um estilo de vida saudável, por forma a combater patologias como a tensão arterial alta, a diabetes ou o excesso de gordura no sangue, problemas que são comuns em Macau, aponta o mesmo comunicado.

A banda moçambicana The Moreira Project venceu o

Festival Internacional de Jazz & Blues em Macau. A banda ficou em primeiro lugar no festival, que teve outros três vencedores, numa iniciativa organizada pelo casino Vene-tian e apoiada pelo gabinete dos Assuntos Sociais e Cultural.

A competição decorreu entre quinta-feira e sábado, com os 12 finalistas a realiza-rem actuações de 30 minutos,

durante as quais o júri avaliou o estilo, improvisação, técnica, musicalidade, performance e reacção do público.

The Moreira Project re-cebeu um prémio de 250 mil dólares de Hong Kong enquan-to os restantes classificados foram Old Style Sextet (Esta-dos Unidos), com um prémio de 150 mil dólares de Hong Kong, The Northern Governors (Finlândia), que recebeu 100 mil dólares de Hong Kong e,

finalmente, AfroJazz (Brasil), que ganhou 50 mil dólares de Hong Kong.

Entre os 12 finalistas encon-travam-se também a banda por-tuguesa Budda Power Blues. “Estes músicos, incrivelmente talentosos, tocaram com emo-ção durante esta competição, proporcionando um soberbo fim-de-semana de entreteni-mento aos visitantes”, destacou Ciaran Carruthers, responsável do Venetian.

ARTE URBANA ARMAZÉM DO BOI ABRE CURSO DE ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA

Uma nova perspectiva

“O objectivo da associação é ampliar a opinião das pessoas acerca da cidade onde se encontram, dando uma dimensão pública a essas opiniões”COMUNICADO DA ORGANIZAÇÃO

O ÚNICO FINAL FELIZ PARA UMA HISTÓRIA DE AMOR É UM ACIDENTE • João Paulo CuencaNum futuro próximo na cidade de Tóquio, Shunsuke Okuda é um jovem funcionário de uma multinacional. Conquistador inveterado, ele cria uma identidade para cada namorada que conhece nos bares do distrito de Kabukicho. Mas a sua rotina é abalada pelo aparecimento de Iulana, que é apaixonada por uma dançarina e mal fala japonês, mas nada disso impede que os dois mergulhem numa relação conturbada. Com uma estrutura caleidoscópica e narradores tão surpreendentes quanto uma melindrosa boneca insuflável, o romance apropria.-se da cultura japonesa de ontem e de hoje para narrar uma história de amor surpreendente e perturbadora, em que a vida fragmentada das metrópoles, o voyeurismo e a perversão figuram como vilões onipresentes.

DEIXEM PASSAR O HOMEM INVISÍVEL • Rui Cardoso MartinsDurante uma grande enxurrada em Lisboa, um homem - cego desde os 8 anos, advogado - cai numa caixa de esgoto aberta, situada junto da igreja de S. Sebastião da Pedreira. Na mesma altura, um escuteiro que regressava de uma actividade na mesma igreja é também arrastado para o mesmo esgoto. É a viagem de ambos, através de uma Lisboa subterrânea, enquanto cá fora são tomadas todas as medidas para os salvarem, que o autor nos conta neste segundo livro. Mas é também a entreajuda, a cumplicidade entre o cego e a criança, naquela terrível aventura.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

Venetian The Moreira Project vence Festival de Jazz & Blues

de Arte Urbana que começa na próxima sexta-feira.

Os organizadores do work- shop – que dura até 2 de No-vembro – Cláudio Vidal e Gil MAC prometem oferecer aos participantes ferramentas para a criação de diferentes tipos de letra, com base em elementos próprios da cidade. Tudo isto, refere a DEMO, deverá servir para criar um alfabeto que reflicta a vivência do território onde é criado, neste caso sendo Macau. O curso da DEMO deverá ainda compreender a decoração de vá-rios pontos da cidade com caixas de cartão.

DIMENSÃO PÚBLICAEsta iniciativa, criada em 2012 pelo grupo de Guimarães, tem uma natureza multidisciplinar e utiliza a arte urbana como canal de contacto entre os artistas e as

ruas da cidade onde tem lugar. “O objectivo da associação é ampliar a opinião das pessoas acerca da cidade onde se encontram, dando uma dimensão pública a essas opiniões”, lê-se no comunicado de apresentação do evento.

UGAWA! começou em Var-

sóvia e só depois foi desenvolvi-do e apresentado em Guimarães, no âmbito das festividades da Cidade Europeia da Cultura, em 2012. O mesmo website avança ainda que, em 2013, um documentário relativo à iniciativa venceu um galardão no Cineclube da cidade nortenha.

Este projecto, patrocinado pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais e pela Fundação Macau, não é o pri-meiro do colectivo do norte de Portugal. De entre vários outros, a DEMO criou já projectos ci-nematográficos, performances teatrais e musicais e trabalhos baseados em plataformas digitais e multimédia, tais como “Star Dust”, ou “Nebula”. Se, por um lado, algumas das obras se tratam de reinterpretações de clássicos, outras são criadas de raiz.

A grande maioria das cria-ções do grupo tem tido lugar em Portugal, mas UGAWA! Já saiu a outras ruas, nomeadamente na Polónia. A DEMO é composta por um grupo fixo de seis artistas de diferentes cantos do país, in-cluindo Aveiro, Lisboa, Coimbra e Guimarães. Além dos artistas fixos, a associação conta ainda com a colaboração de mais de uma dezena de pessoas, também eles de vários pontos do país.

UGAWA! é um dos vários projectos da associação portuguesa DEMO, que vem agora a Macau para um curso de três semanas sobre escrita e arte urbana. UGAWA! pretende reinventar a imagem das pessoas sobre a sua própria cidade

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LUSA

12 CHINA hoje macau terça-feira 14.10.2014

Xinjiang Políciagrávida mortaem ataque com faca Uma agente da polícia de Xinjiang, no noroeste da China, que estava grávida de dois meses, foi morta à facada por dois homens numa esquadra da região, onde nos últimos meses têm aumentado os confrontos entre a minoria uigur e a maioritária han. O caso ocorreu na passada sexta-feira, segundo informou ontem a cadeia de televisão estatal CCTV na sua conta no Weibo (o Twitter chinês), na zona de Hotan, no sudoeste da província. Os atacantes “assassinaram cruelmente” com uma arma branca a agente da polícia Palidan Keremu, que se encontrava no seu posto de trabalho na esquadra, ao qual se aproximaram de motocicleta. Segundo companheiros da vítima, a agente estava grávida de dois meses. E, apesar de a CCTV não ter especificado a sua etnia, o seu nome é característico da etnia uigur, que professa a religião muçulmana. Os confrontos étnicos dentro e fora de Xinjiang aumentaram sobretudo desde um violento episódio em 2009. Só este ano foram registadas mais de 100 vítimas mortais.

Excedente comercial mais do que duplicaem Setembro O excedente comercial da China mais do que duplicou em Setembro atingindo 31 mil milhões de dólares, indicam dados oficiais ontem divulgados. As exportações da segunda economia mundial aumentaram 15,3% em termos anuais homólogos para 213,7 mil milhões de dólares, enquanto as importações subiram 7%, alcançando 182,7 mil milhões de dólares, segundo dados revelados pela Administração-Geral das Alfândegas da China. O valor do excedente comercial ficou ainda assim abaixo do recorde de 49,8 mil milhões de dólares apurado em Agosto. A China tornou-se a maior potência comercial do mundo em 2013, ultrapassando os Estados Unidos, com um volume de exportações de 2,21 biliões de dólares, mais 259,76 mil milhões de dólares do que as importações. Em 2013, a China registou um excedente comercial de 259,75 mil milhões de dólares e o seu Produto Interno Bruto (PIB) um crescimento de 7,7%.

Anonymous divulga dados de portais oficiais da China

D EZENAS de polícias es- tavam concentrados do-mingo de manhã nos locais de protesto pró-

-democracia em Hong Kong e co-meçaram a levantar as barricadas que paralisam o centro financeiro asiático há cerca de duas semanas, noticia a agência France Presse.

Os agentes da polícia, que vestiam coletes bastante visíveis, mas não usavam equipamento anti--motim, removeram, pelo menos, uma barricada do principal local de protesto, em Admiralty - onde estão concentrados a sede do governo, secretarias e gabinete do chefe do Executivo - constatou um fotógrafo da AFP.

A polícia também estava con-centrada noutro local de protesto, em Mong Kok, na península de Kowloon, de acordo com infor-

CONFRONTOS COM HOMENS MASCARADOSOs manifestantes pró-democracia de Hong Kong envolveram-se ontem em confrontos com uma dezena de homens mascarados no principal local dos protestos, no centro da cidade, com a polícia a tentar conter o caos. Homens usando máscaras correram para as barricadas na zona de Admiralty, enquanto os manifestantes tentavam protegê-las e fazê-los recuar. Dois dos homens foram imobilizados no chão pela polícia, que também formou um cordão em torno do grupo enquanto os manifestantes gritavam: “Armas! Armas!” e “prendam as tríades”.

No rescaldo de um fim-de- -semana em que os manifestantes reforçaram a sua presença no centro da cidade, as autoridades marcaram presença em Admiralty e Mong Kok, onde procederam ao desmantelamento de algumas barricadas

HONG KONG POLÍCIA COMEÇA A LEVANTAR BARRICADAS

Caminho livre

mação divulgada na televisão. Os manifestantes que reivindicam a Pequim a democracia plena em Hong Kong têm sido criticados por parte da população, que os acusa de levarem a cidade a um impasse na última quinzena, e provocarem confrontos com elementos que se opõem à ocupação das ruas, além de gerarem a perturbação generalizada.

Apesar de repetidas ordens

O grupo Anonymous cumpriu as ameaças

que fez e publicou, este do-mingo, dados confidenciais de dois portais oficiais da China, num gesto de apoio aos protestos em Hong Kong, informou ontem o South China Morning Post.

O grupo internacional de piratas informáticos tornou públicos centenas

para dispersarem, as manifestações continuaram e no fim de semana foram reforçadas com tendas, chuveiros portáteis e criação de áreas de palestras e leitura.

SEM HIPÓTESESO Chefe do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, também conhecido por CY Leung, disse numa entrevista difundida no sábado pela estação TVB que os

protestos teriam “zero hipóteses” de mudar a posição de Pequim e de garantir eleições livres.

Depois de a polícia ter sido criti-cada por ter usado gás lacrimogéneo contra manifestantes no último fim de semana de Setembro, o Chefe do Executivo de Hong Kong disse que se o governo tivesse que limpar os protestos, a polícia iria usar “o mínimo de força necessária”.

Em causa nas manifestações de Hong Kong está a decisão de Pequim de conceder à popula-ção da antiga colónia britânica a possibilidade de, em 2017, eleger directamente o seu líder de Gover-no, num processo que, no entanto, estará limitado à escolha prévia dos candidatos por um comité eleitoral que Pequim acaba por controlar.

Os manifestantes não aceitam a posição política de Pequim e que-rem ser eles a escolher livremente o seu líder sem entraves nem esco-lhas prévias dos candidatos. - Lusa

de números de telefone e endereços (reais e de IP) da Zona de Comércio Livre de Ningbo, cidade da pro-víncia oriental chinesa de Zhejiang, e também dados procedentes de um portal de pesquisa de emprego de Changxiang, na mesma província.

Pouco antes da publica-ção dos dados, o Governo

chinês tinha reconhecido que essas páginas estavam a ser alvo de ataques.

Desconhece-se por que razão o Anonymous escolheu como “vítimas” as duas páginas em causa, em teoria pouco relevan-tes e sem relação com os protestos de Hong Kong, se bem que o grupo asse-gura que já se infiltrou em

mais de meia centena de portais oficiais da China e divulgou 50 mil nomes de utilizadores e os seus e-mail.

Tudo com o intuito de “lutar ao lado dos cidadãos de Hong Kong”.

No passado dia 02, o grupo atacou também várias páginas de Internet da antiga colónia britânica,

como represália pelo uso de gás lacrimogéneo pela polícia contra os manifes-tantes.

LUSA

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13 chinahoje macau terça-feira 14.10.2014

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A S trocas comerciais en-tre a China e os países lusófonos atingiram um total de 90 mil milhões

de dólares entre Janeiro e Agosto, representando um crescimento ho-mólogo de 4,69 por cento.

Neste período, a China impor-tou dos países de língua portuguesa 61 mil milhões de dólares, um acréscimo de 5,55% em relação ao ano passado, segundo as esta-tísticas dos Serviços da Alfândega da China.

Já as exportações da China para os países lusófonos, atingiram 29 mil milhões de dólares, represen-tando um aumento homólogo de 2,95%.

O Brasil, que registou mais 2,50% nas trocas comerciais com a China, comprou a Pequim produtos

Primeiro-ministro em viagem para ItáliaTROCAS COMERCIAIS COM PAÍSES LUSÓFONOS AUMENTAM

Portugal a crescerAté Agosto os números do comércio com os PLP indicam uma subida de 4,69 por cento, com Portugal a registar o maior aumento entre os parceiros lusófonos

90mil milhões de dólares, trocas

comerciais entre a China e os

países lusófonos até Agosto

no valor de 22,67 mil milhões de dólares, a traduzir uma variação negativa de 2,45%. No que toca às exportações para a China, o Brasil vendeu produtos no valor

de 37, 63 mil milhões de dólares, mais 5,74 do que entre Janeiro e Agosto de 2013.

Angola é o segundo maior parceiro lusófono da China e viu o comércio bilateral ampliar-se 6,28%. O país recebeu de Pequim produtos no valor de 3,18 mil milhões de dólares, mais 29,34%, mas vendeu produtos no valor de 21,77 mil milhões de dólares, mais 3,58%.

Portugal foi, entre os principais parceiros lusófonos o que registou maior crescimento percentual nas trocas comerciais, 25,15%. Lisboa vendeu a Pequim produtos no valor de 1,14 mil milhões de dólares, ou mais 22,04%, tendo adquirido produtos no valor de cerca de dois mil milhões de dólares, ou mais 26,93%.

O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, viaja hoje para

Itália onde vai participar nos dias 16 e 17 deste mês na Conferência dos Líderes da Ásia e Europa. O encontro será realizado em Milão. Dois académicos expri-miram as suas opiniões sobre a visita do líder chinês.

Na visão de Umberto Triulzi, professor da Universidade de Roma, a visita de Li Keqiang vai promover positivamente as relações da China não só com a Itália, mas com toda a Europa. Triulzi assinalou que a presença de Li Keqiang na Conferência é sinal de que a China está preo-cupada em desenvolver relações bilaterais com Itália. Ainda de acordo com o professor Umberto Triulzi, a Itália tem várias empre-sas de pequena e média dimensão interessadas no mercado chinês, mas a falta de um canal de comu-nicação eficaz é ainda um grande obstáculo.

Na opinião do académico Renzo Cavalieri, responsável por um projecto relacionando com a China na Universidade de Ca’ Foscari Venezia, os membros da União Europeia tem o dever de aprimorar as relações com a China. Segundo o académico, a Itália é o próximo país a ocupar a presidência da União Europeia, logo, deve ajudar a promover a cooperação entre a Ásia e a Europa, especialmente durante a Conferência dos Líderes entre Ásia e Europa, que ocorre em Milão nos próximos dias.

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14 hoje macau terça-feira 14.10.2014

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

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ISISN

UMA recente pool-party em Bangkok, enquanto o sol se punha entre as últimas nu-vens da monção, Lorde Gin

teve oportunidade de entrevistar algumas top-models internacionais a respeito da questão do Estado Islâmico.

LG – Parece-te estranha a súbita apa-rição das forças do Estado Islâmico no Crescente Fértil?Ingrid (top-model sueca) – Sim e não... sei lá, já todas sabíamos que o Presidente Recep Erdogan tinha convidado a CIA a treinar milícias anti-sírias extremistas em território turco...e que o Rei da Jordânia tinha aberto as portas do país ao treino de milicianos radicais islâmicos pelo menos desde 2010...

LG – O que achas das palavras do Se-cretário de Estado John Kerry: “Por horrível que seja as-sistir em tempo real ao que está a acon-tecer em Kobani, temos de dar um passo atrás e olhar para o objectivo es-tratégico”?Bebek (top-model turca) – São palavras que fazem todo o sentido. Ou seja Lor-de Gin, se você estivesse a ver alguém a arder ia meter-se a apagar o fogo? Claro que não. O mais provável seria até vender bilhetes para espectáculo.

LG – Pensas que o Ocidente tem sido demasiado tolerante para com as comu-nidades islâmicas que vivem entre nós, por assim dizer?Marie-Claire (top model francesa) – Olhe, caro Lorde, eu vivo no mundo da moda...E, ao contrário do que muitos julgam, nós so-mos um think-tank político muito activo e intenso...Para mim, é difícil admitir a ideia de que uma mulher se possa passear em Paris ou Londres de burka enquanto que uma francesa não-islâmica encontra ainda muita dificuldade em andar de mini-saia em Riad, onde, para mais, faz tanto calor...Além disso, creio que os muçulmanos na Europa e nos States se aproveitam cinica-mente das nossas estruturas democráticas e

das constituições universalistas que temos para minarem as nossas sociedades a partir de dentro...Mas as minhas colegas mais li-berais acham que o Islão é o máximo! No outro dia, tive de as lembrar que nós, di-tos Ocidentais, tivemos de travar amargas e longas batalhas contra o poder da Igreja para desfrutarmos agora de uma relativa li-berdade...Olhe Lorde, a ideia de que pos-sam existir muçulmanos moderados é das coisas mais perigosas que já ouvi....

LG – Como vês os ataques aéreos dos Estados Unidos e da NATO contra o Es-tado Islâmico? Arin Mirkan (top model curda) – Tenho a sensação de que os Estados Unidos, a NATO e os Estados do Golfo estão, afinal,

a proteger os mili-tantes do Estado Is-lâmico! Ainda ontem falei com comandan-tes da resistência cur-da em Kobani, tendo obtido informação fidedigna de que o Estado Islâmico ti-nha trazido tanques e armas pesadas até aos arredores da ci-dade... Ora, qualquer

pessoa com acesso às imagens do Google Earth, e mesmo com um conhecimento mi-litar de pacotilha, sabe que destruir tanques a partir do ar em terreno aberto é uma brin-cadeira de crianças!

LG – Consideras o Presidente Barack Hussein Obama um traidor?Hillary (top model americana) – ...Oh Lord! Quando saímos do Iraque ele até disse que estávamos a deixar para trás um país totalmente estável e preparado...Mas se me perguntam se acho o Presidente Hussein um traidor, respondo que não. Não acho que seja um traidor. Acho que está a fazer exactamente o que lhe dizem...

E lá vai Lorde, com o seu martini seco, incapaz de matar a sede. Vai pensativo, de volta à sua caverna na cidade quente. Se Deus for grande, talvez ainda durma o bastante para chegar às orações da manhã de cara lavada.

Bangkok, 11 Outubro 2014

lorde gin Rui CasCais PaRada

“SE VOCÊ ESTIVESSE A VER ALGUÉM A ARDER IA METER-SE A APAGAR O FOGO? CLARO QUE NÃO. O MAIS PROVÁVEL SERIA ATÉ VENDER BILHETES PARA ESPECTÁCULO”

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15 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 14.10.2014

E SSE «duplo luto nacional» emo- cionou a França inteira, bem como o universo artístico e intelectual de todo o planeta,

pondo fim a uma longa amizade parti-lhada ao longo de mais de vinte anos.

Os falecimentos foram quase si-multâneos - às 7h da manhã morreu Edith Piaf, a «Môme de Paris» (“Me-nininha de Paris”), nascida Edith Giovanna Gassion, com apenas 47 anos, e logo depois, às 13h mor-

«VIVRE ME DÉROUTE PLUS QUE MOURIR» (VIVER DESCONCERTA-ME MAIS DO QUE MORRER)JEAN COCTEAU

EDITH PIAF E JEAN COCTEAU FALECERAM HÁ 51 ANOSA MENINA E O FUNÂMBULO

reu Jean Cocteau, o «Funambule de tous les Arts» (“Funâmbulo de Todas as Artes”), com 74 anos . O duplo acontecimento não eclipsou a aura dos dois.

Na primavera de 1963, Edith Piaf, prematuramente envelhecida, esgotada e bastante debilitada, partiu para o sul da França na tentativa de se recuperar. No entanto, entrou em coma, em Abril de 1963, e morreu, em Plascassier (Al-pes Marítimos), no dia 11 de Outubro de 1963. Mas, como Piaf tinha o desejo de morrer em Paris, seu corpo é levado, secretamente, durante à noite, para a sua residência particular no boulevard Lannes, onde a sua morte, decorrente de hemorragia interna, perto de com-pletar 48 anos, é oficialmente constata-da no dia seguinte pelo doutor Bernay de Laval.

As exéquias de Piaf tiveram lugar na igreja Saint-Honoré d’Eylau, diante de mais de 50 mil admiradores. O seu corpo foi enterrado no cemitério Père Lachaise, na presença de Marlene Die-trich. Desde então, o seu túmulo tem

sido visitado e coberto de flores, quase diariamente.

ANÚNCIO DO FIM

Na sua casa, em Milly-la-Forêt, Jean Coc-teau, ao cuidado da sua cozinheira que sabia perfeitamente do seu estado de saú-de, tomara conhecimento, algumas horas antes, da morte da sua amiga Edith, , que tinha feito a estreia em teatro na sua peça «O Belo Indiferente» em 1940.

Nesse exacto momento em Paris, numerosos artistas e personalidades sur-preendiam-se com a ausência do escritor e académico, tão próximo da cantora.

Poucas pessoas sabiam que Coc-teau, tinha sido vítima de duas crises cardíacas e bastante comovido, acaba-va de declarar aos seus amigos: «C’est le bateau qui achève de couler. C’est ma dernière journée sur cette terre.» (´É o barco que acaba de soçobrar. É o meu derradeiro dia nesta terra.)

Algumas horas depois, faleceu Co-cetau sem ter podido escrever o artigo que a revista Paris-Match lhe tinha en-

comendado para ser publicado no dia seguinte. O seu corpo repousa na ca-pela Saint-Blaise-des-Simples de Milly--la-Forêt, decorada a seu pedido.

A homenagem cruzada ficou mar-cada na memória de todos os leitores franceses e francófonos quando a Pari-sien Liberé estampou em manchete de primeira página e exibida em todas as bancas no dia seguinte aos eventos em grossas letras, o título evocador da par-tida crepuscular e nos últimos tempos da sonâmbula do grande público e do funâmbulo de toda a Paris : « A morte de Edith Piaf matou Jean Cocteau ».

Lembremos as últimas palavras de Cocteau: «Vivre me déroute plus que mourir» (Viver desconcerta-me mais do que morrer).

AS EXÉQUIAS DE PIAF TIVERAM LUGAR NA IGREJA SAINT-HONORÉ D’EYLAU, DIANTE DE MAIS DE 50 MIL ADMIRADORES. O SEU CORPO FOI ENTERRADO NO CEMITÉRIO PÈRE LACHAISE, NA PRESENÇA DE MARLENE DIETRICH

Page 16: Hoje Macau 14 OUT 2014 #3192

16 DESPORTO hoje macau terça-feira 14.10.2014

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ANÚNCIOHM-1.ª Vez 14-10-14

Execução de Sentença sob a CV2-05-0055-CAO-A 2º Juízo CívelForma Sumária (Apenso) nº

Exequente: SIO CHONG MENG / 蕭頌銘, de sexo masculino, residente em Macau, na Travessa da Sé, nº 10, r/c “B-C”.Executados: YUEN WAI NANG / 袁偉能, de sexo masculino, a última residência conhecida em Hong Kong, Causeway Bay, 5-19, Jardine´s Bazaar, Capitol Centre, 904-6; TANG KUOK FAI / 鄧國輝, de sexo masculino, residente em Macau, na Av. do Coronel Mesquita, nº 1B-ID, Kam Kun Kok, 1º andar A. 

*** Correm éditos de trinta (30) dias, contados da segunda e última publicação do anúncio, notificando o executado YUEN WAI NANG acima identificado, de todo o conteúdo da petição inicial destes autos, e do despacho que ordena a penhora da quantia de cinco mil setecentas e sessenta e cinco patacas (MOP5.765,00) na conta do Banco da China, S.A. Sucursal de Macau da sociedade por quota unipessoal “栢榮建材工程”, em representação do executado Yuen Wai Nang, da realização da mencionada penhora em 12 de Maio de 2014, bem como para, querendo, no prazo de dez (10) dias, decorrido que seja o dos éditos, pagar a quantia exequenda de MOP2.691.258,49 e acréscimos legais, ou deduzir embargos à execução ou oposição às penhoras, e ainda requerer a substituição do bem penhorado por outro de valor suficiente, tudo conforme no artº 820º do C.P.C.M., sob pena de, não o fazendo no referido prazo, seguir o processo os ulteriores termos até final à sua revelia. Os duplicados da petição inicial encontram-se aguardados nesta secretaria do 2’ Juízo Cível, poderão ser levantados nas horas normais de expedientes. Macau, aos 26 de Setembro de 2014.

SÉRGIO [email protected]

A bandeira de Portugal foi novamente hasteada no pódio do Circuito Inter-nacional de Xangai. Tiago

Monteiro, que no ano passado, neste mesmo circuito, triunfou pela primeira vez com as cores da equipa oficial da Honda, terminou na segunda posição na segunda corrida do Campeonato do Mundo FIA de Carros de Turismo (WTCC) disputada no passado fim--de-semana.

Num circuito favorável ao quar-teto da Citroen, o piloto português da Honda obteve um sétimo lugar na primeira corrida, onde acabou por sair prejudicado por um toque de Sébas-tien Loeb, e foi o segundo a cortar a linha de meta no segundo confronto. “O segundo lugar foi excelente tendo em conta que este não é de todo um circuito favorável ao nosso carro. E depois do que aconteceu em Pequim, é óptimo para mim e para a equipa também”, disse o piloto do Porto, que é o quarto classificado no campeonato.

Também presente em Xangai esteve o macaense Filipe Souza. Aos comandos do BMW 320TC da equipa alemã Liqui Moly Team Engstler, Sou-za foi duas vezes terceiro classificado na categoria TC2T, o que o coloca

Rui Costa desce para quartolugar na Volta a PequimO ciclista português Rui Costa (Lampre-Merida) caiu ontem para o quarto lugar na Volta a Pequim, última prova do circuito mundial, após a quarta etapa, ganha pelo irlandês Dan Martin (Garmin-Sharp/IRE). Rui Costa, que partia para a tirada de ontem no terceiro lugar da geral, terminou em quarto lugar na etapa que ligou Yanqing a Mentougou, na distância de 157 quilómetros. Dan Martin completou a quarta etapa em 4:12.14 horas, menos dois segundos do que o trio formado pelo colombiano Esteban Chaves (Orica GreenEDGE), o belga Philippe Gilbert (BMC) e Rui Costa. Gilbert manteve a liderança na classificação geral, mas agora com apenas dois segundos de vantagem sobre Dan Martin. Rui Costa está agora a 11 segundos do líder. Na terça-feira, disputa-se a quinta e última etapa, entre a Praça de Tiananmen e o Estádio Olímpico (Ninho de Pássaro), na distância de 117 quilómetros.

«Gaitán sente-se bem no Benfica», garante empresário José Iribarrén diz que Nicolas Gaitán está bem no Benfica e que vai cumprir contrato até ao fim. Renovação está acertada desde Agosto. «Gaitán está bem no Benfica e tem mais ano e meio de contrato», disse em declarações a A BOLA, sem fazer mais comentário sobre a situação do extremo: «Sente-se bem e vai cumprir o contrato até ao fim.» O jornal noticiou que Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, e José Iribarrén reuniram em Agosto e chegaram a um acordo verbal para a renovação do contrato. Falta formalizar o acordo.

WTCC TIAGO MONTEIRO CONSEGUE SEGUNDO LUGAR EM XANGAI

Macaense Filipe Souza com dois pódios

“O segundo lugar foi excelente tendo em conta que este não é de todo um circuito favorável ao nosso carro. E depois do que aconteceu em Pequim, é óptimo para mim e para a equipa também”TIAGO MONTEIRO

em posição privilegiada para vencer este ano o “Troféu Asiático” criado pela organização do campeonato para as viaturas da geração anterior. A primeira corrida foi ganha à geral pelo argentino José María López, que, com este resultado, a que somou um terceiro lugar na segunda corrida, saiu de Xangai isolado na frente do campeonato, podendo sagrar-se já campeão na próxima prova. A vitória de López, a que se juntou o segundo e o terceiro lugar de Ma Qing Hua e Yvan Muller, deram em antecipação à Citroen o título de construtores.

O triunfo na segunda corrida coube a Mehdi Bennani, num Honda Civic TC1 privado, que com este feito se

tornou o primeiro piloto de Marrocos a vencer uma corrida de um campeonato do mundo FIA. Antes da visita a Ma-cau em Novembro, o WTCC desloca--se ao Japão, no fim-de-semana de 25 e 26 de Outubro, para uma decisiva jornada dupla no circuito de Suzuka.

MACAU NAS BOCAS DO MUNDOObviamente as notícias lançadas a semana passada na imprensa interna-cional sobre a provável despedida do WTCC de Macau foram motivo de várias conversas de paddock. À falta de explicações oficiais, sucede-se a especu-lação. Os comentadores do canal inglês do Eurosport dizem que a continuação do Circuito da Guia no calendário do WTCC se trata de uma questão monetária, com Macau a recusar-se a pagar o valor pedido pelo promotor do campeonato e que, habitualmente, é estipulado pela FIA. Entretanto, Abu Dhabi é um destino apontado para o WTCC nos próximos anos, com uma prova nocturna no moderno circuito de Yas Marina. A capital dos Emiratos Árabes Unidos é o principal patroci-nadora da Citroen no mundial de ralis, Yas Marina foi palco de diversos testes privados da própria Citroen e a marca francesa já este ano viabilizou a entrada do circuito francês Paul Ricard no ca-lendário do WTCC, ocupando o lugar que pertencia a Portugal.

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TEMPO POUCO NUBLADO MIN 22 MAX 28 HUM 45-70% • EURO 10.1 BAHT 0.2 YUAN 1.3

ACONTECEU HOJE 14 DE OUTUBRO

hoje macau terça-feira 14.10.2014 (F)UTILIDADES 17

João Corvo fonte da inveja

U M D I S C O H O J E

Luther King conquistao Prémio Nobel da Paz• A defesa da igualdade e da paz no mundo era a causa de Luther King, o que lhe valeu o Nobel da Paz, a 14 de Outubro de 1964, um ano depois do seu célebre discurso ‘Eu Tenho Um Sonho’. Hoje, recordamos o mais jovem galardoado com aquele prémio.Martin Luther King nasceu em Atlanta, a 15 de Janeiro de 1929 e foi um pastor protestante e activista político norte--americano, que se tornaria num dos mais importantes defensores dos direitos civis dos negros nos EUA.A defesa da paz no mundo era a sua grande causa, o que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz, em 1964, tornando-se na pessoa mais jovem a receber tal distinção – com 35 anos, apenas.Luther King nasceu numa sociedade racista, com episódios que geraram revolta. A prisão de uma mulher negra, em 1955, por se ter negado a dar o seu lugar no autocarro a uma mulher branca é um dos exemplos desses inúmeros casos de segregação racial, contra os quais Martin Luther King lutou.Essa defesa dos direitos humanos gerou ódios, que por sua vez levaram a ataques e atentados à vida contra o próprio Luther King. Em 1963, um ano antes de ser galardoado com o Nobel da Paz, faz um dos mais marcantes discursos da história da humanidade: o famoso discurso ‘Eu Tenho Um Sonho’, em Março de 1963, em frente ao Memorial Lincoln em Washington.Organizou marchas para conseguir o direito ao voto, além de outros direitos civis básicos, bem como o fim da segregação e das discriminações no trabalho. A sua batalha por esses direitos resultou na consagração na lei norte-americana da Lei de Direitos Civis (1964) e da Lei de Direitos Eleitorais (1965).Martin Luther King era odiado por muitos segregacionistas do sul, sentimento que levou à sua morte, a 4 de Abril de 1968, data em que foi assassinado, momentos antes de uma marcha, num hotel de Memphis. Está sepultado no Centro Martin Luther King Jr., em Atlanta.

“MAMA’S GUN”(ERYKAH BADU, 2000)

Erykah Badu é uma das mais modernas rainhas do soul. Com uma voz absolutamente fantástica, Badu consegue-nos apresentar músicas fan-tásticas, misturando o soul, o jazz, o funk e o hip hop. Com “Mama’s Gun”, o segundo álbum da cantora que se debruça sobre temas como a insegurança, problemas sociais e relações humanas, Badu oferece-nos músicas como “...& On” e “In love with you”. Músicas bem produzidas e, muitas vezes, com participações de artistas conhecidos. - Joana Freitas

C I N E M ACineteatro

SALA 1ANNABELLE [C]Um filme de: James WanCom: Annabelle Wallis, Ward Horton14.30, 19.30, 21.30

THE MAZE RUNNER [B]Um filme de: Wes BallCom: Dylan O’Brien, Kaya Scodelario16.30

SALA 2DRACULA UNTOLD [C]Um filme de: Gary ShoreCom: Luke Evans, Dominic Cooper, Sarah Gadon, Charles Dance14.15, 16.00, 17.45, 21.30

THE MAZE RUNNER [B]Um filme de: Wes BallCom: Dylan O’Brien, Kaya Scodelario19.30

SALA 3JUON - THE BEGINNING OF THE END [C]FALADO EM JAPONÊS ELEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊSUm filme de: Masayuki OchiaiCom: Nozomi Sasaki, Sho Aoyagi, Reina Triendi14.30, 16.30, 19.3, 21.30

ANNABELLE

O QUE FAZER ESTA SEMANA?• HojeORQUESTRA FILARMÓNICA DE S. PETERSBURGOAPRESENTA “ROMANTISMO RUSSO” (FIMM)Centro Cultural de Macau, 20h00300 a 680 patacas

• AmanhãORQUESTRA FILARMÓNICA DE S. PETERSBURGOAPRESENTA “CONTOS DA RÚSSIA” (FIMM)Centro Cultural de Macau, 20h00300 a 680 patacas

CORO GULBENKIAN APRESENTA “MÚSICA SACRADO ALTO BARROCO AO ROMANTISMO FRANCÊS” (FIMM)Igreja de São Domingos, 20h00Entrada com bilhete gratuito (pré-marcação)

• Quinta-feiraCORO GULBENKIAN APRESENTA “MÚSICA PORTUGUESADOS SÉCULOS XVII E XX” (FIMM)Centro Cultural de Macau, 20h00120 a 250 patacas

• Sexta-feiraFESTIVAL DA LUSOFONIA (ATÉ DOMINGO)Casas-museu da Taipa Entrada livre

• SábadoLAURIE ANDERSON APRESENTA “A LINGUAGEM DO FUTURO” (FIMM)Fortaleza do Monte, 20h0080 patacas

ORQUESTRA DE MACAU APRESENTA “MEDITADOR”Centro Cultural de Macau, 20h0080 a 200 patacas

• DomingoORQUESTRA CHINESA DE TAIPÉ APRESENTA“BRILHO DESLUMBRANTE”Centro Cultural de Macau, 20h0080 a 200 patacas

• DiariamenteFESTIVAL DE GASTRONOMIA MACAENSE (ATÉ 5 DE NOVEMBRO)Hotel Four Seasons, Cotai18h00 às 22h00498 patacas por adulto, 249 para crianças até aos 12 anos

EXPOSIÇÃO “BEYOND PIXELS” DE VICTOR MARREIROS(ATÉ DIA 31/12)Signum Living Store, Rua Almirante SérgioEntrada livre

“VIAGEM À TERRA DOS SONHOS” DE SU JIAN LIANG(ATÉ DIA 23/10)Galeria da Fundação Rui CunhaEntrada livre

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA DE CONCEIÇÃO JÚNIOR “TERRITÓRIOS”Clube Militar Entrada livre

WORLD PRESS PHOTO (ATÉ 2 DE NOVEMBRO)Casa GardenEntrada LivreSó é útil o que não serve para nada.

Page 18: Hoje Macau 14 OUT 2014 #3192

18 hoje macau terça-feira 14.10.2014OPINIÃOexpediente c ín icoMARCO CARVALHO

... e não é Rocha Vieira, ainda que haja algo de subtilmente inútil, irrelevante e condescendente, não só nas declarações do último governador de Macau, mas também, e sobretudo, na sórdida necessidade da agência estatal chinesa de procurar reafirmar o que é, desde 1997 em Hong Kong, e dois anos depois, na Cidade do Santo Nome de Deus, um dado adquirido. Mesmo que em Central e Admiralty desponte em algumas mãos e em algumas vozes o pavilhão da Hong Kong colonial, as duas Regiões Administrativas Especiais são e serão parte integrante e integral da República Popular da China e escamotear um tal status quo é negar um processo histórico irreversível, do qual o restabelecimento da integridade territorial da nação chinesa é apenas uma faceta e nem é, de resto, a mais importante.

Para o Ocidente em geral e para Portugal e o Reino Unido, em termos específicos, o regresso de Hong Kong e de Macau à soberania chinesa pautou o canto do cisne de um modelo de organização política e social que negava e contradizia a própria corrente de pensamento que amadureceu na Europa e no chamado mundo ocidental no pós Segunda Guerra Mundial. A trans-ferência de administração de Macau entre Portugal e a República Popular da China, a 20 de Dezembro de 1999, poderia muito bem delimitar a fronteira entre o século XX e o século XXI nos termos estritos da dinâmica histórica, não fosse terem emergido outros princípios e forças de organização – o terrorismo e o ultraliberalismo económico - que teimam em determinar com invulgar preponderância as políticas, as escolhas e o futuro de povos e nações. O que se esfumou há quinze anos na Zona de Aterros do Porto Exterior, paredes meias com o Centro Cultural de Macau, foram os últimos resquícios e os últi-mos acordes de um modelo de organização política que tinha por base a imposição desigual de autoridade de uma cultura sobre outra, pressupondo a existência de dominadores e dominados, num quadro de relações desiguais, sobretudo a título político.

Se a manutenção de uma tal quadratura num território com a exiguidade de Macau durante cinco décadas – as que mediaram entre a funda-ção da República Popular da China em 1949 e a transfe-rência de soberania cinquenta anos depois – não deixa de ser uma anomalia e um pequeno milagre, a tentativa de Pequim (neste caso personificada pela a agência noticiosa estatal Xinhua) de legitimar a irre-gularidade dos protestos de Hong Kong através de um

Se é verdade que um povo que elege corruptos não é vítima, é cúmplice, entre a população de Hong Kong e Macau não há cúmplices, apenas vítimas

No fundo do mar tem rocha...representante de um sistema de domínio e de governação - o colonialismo – que a liderança chinesa sempre abominou, não pode ser vista senão como uma abnormidade. Pela fama e folha de serviços que deixou no território, perguntar ao antigo inquilino do Palácio de Santa Sancha se os protestos em Hong Kong são ou não improdutivos é o mesmo que demandar ao inquisidor Tomás de Torquemada no dia do juízo final se Hitler e Goebbels devem ser censurados por Birkenau, por Auschwitz e por uma política de extermínio que levou à morte de milhares de judeus.

A relevância de se ter Vasco Rocha Vieira e Martin Jacques – colunista do “The Guar-dian” entrevistado pela CCTV depois de ter defendido a óbvia nuance de que a China é o futuro de Hong Kong – a dissertar sobre o futuro de ambas as regiões administrativas especiais sai diminuída pelo facto do próprio executivo de Pequim recorrer com alarmante frequência ao argumento de que a gestão dos assuntos de Hong Kong e Macau é estrita e exclusivamente do foro interno da Repú-blica Popular, mesmo quando há um tratado

internacional a respeitar e uma enigmática fórmula – “Um país, dois sistemas” – a ter em conta na aritmética do descontentamento que desponta em Hong Kong.

É no entendimento do malabarismo constitucional em que a República Popular da China transformou o princípio “Um País, Dois Sistemas” que ganham forma e substân-cia as sombras e os receios que pairam sobre o futuro das duas regiões administrativas especiais. O conceito é vago o suficiente para permitir leituras que sendo dissonantes, não são de todo erradas, inválidas ou mes-mo antagónicas. Para o governo central, a medida do sucesso do Segundo Sistema é a extraordinária vitalidade económica a que se alçaram Macau e Hong Kong ao longo da última década e meia, ao passo que, para as forças contestatárias que actuam num e noutro território, o sucesso e o alcance da fórmula delineada por Deng Xiaoping terá sempre de ter por denominador a liberali-zação dos princípios de governação, para que estes sejam o mais justos e abrangentes possível. A quase esquizofrénica dissonância entre as duas interpretações está, grosso modo, na base dos protestos que tomaram de assalto Hong Kong, e apesar das nuan-ces do primeiro sistema raramente serem invocados por estudantes e forças contes-tatárias, elas estão omnipresentes. Numa China que subjugou o mundo pela força do capital, a vontade de Pequim tornou-se a medida da normalidade e numa altura em que o mundo navega a contra-ciclo, com a erosão de direitos políticos e sociais, a normalidade passou a ser a aceitação tácita de que a governação não necessita de ser representativa para ser legítima. Mais do

que sufrágio universal, é a abrangência do conceito de governação que está no cerne dos protestos de Hong Kong, e é à luz da ideia de uma governação representativa que o argumento económico – de que as manifestações colocam hipoteticamente em risco a estabilidade económica e financeira da antiga colónia britânica – perde vitalidade. A constatação de que Hong Kong dispõe da mais livre das economias do planeta é embandeirada pela República Popular da China como uma evidência segura de que o Segundo Sistema efectivamente funciona, mas liberdade económica e possibilidade (ou mesmo probabilidade) económica não são exactamente a mesma coisa. Se fossem, a vizinha Região Administrativa Especial não teria – e é o próprio governo de CY Leung quem o reconhece – mais de um milhão e trezentos mil residentes a viver em situação de pobreza. O crescente desfasamento entre os mais ricos e os mais pobres está longe de ser apanágio exclusivo das sociedades com défice democrático, mas nas sociedades com mecanismos eleitorais onde o mais abran-gente dos desígnios – o sufrágio universal – é a norma, o ónus da responsabilidade pela desigualdade e pela pobreza, pelos atraso na saúde e nas carreiras de autocarros está repartido por todos e todos dispõem do mais adequado dos instrumentos – o voto – para operar as mudanças e as rectificações ne-cessárias. Se tais mudanças se materializam ou não é de pouca relevância para o duelo político que se enuncia por estes dias em Hong Kong. Na RAEHK e na RAEM, a noção de representatividade social dilui-se em mecanismos opacos de consulta pública através dos quais o governo procura afirmar uma ágora e um espaço de discussão que não existe. Em dez anos de Macau e dezenas de consultas públicas não fui uma única vez intimado a contribuir com uma crítica, um parecer ou uma sugestão sobre a cidade em que vivo e como eu estarão milhares e milhares dos que contribuem com o seu

esforço para que a RAEM seja um caso de sucesso em termos económicos. Impo-tentes como eu, são milhares e milhares os que contam as moedas para fazer frente ao aumento das rendas e dos preços nos supermercados, os que ponderam vender o carro por não terem lugar para esta-cionar, os que evitam táxis e taxistas para evitar confron-tos desnecessários e os que temem o dia em que uma maleita os empurre para um hospital a fervilhar de gente, tão só e somente porque nenhuma responsabilidade é assacada a quem governa. Se é verdade que um povo que elege corruptos não é vítima, é cúmplice, entre a população de Hong Kong e Macau não há cúmplices, apenas vítimas. Está muito mais em causa em Hong Kong que o sufrágio universal: no fundo do mar tem rocha e já se sabe que quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão.

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Page 19: Hoje Macau 14 OUT 2014 #3192

hoje macau terça-feira 14.10.2014

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DA REPORTAGEM que publicámos sobre habi-tação e juventude, clara-mente ressalta um facto: as pessoas estão desorien-tadas e confusas com o rumo a dar à sua vida, em termos de habitação. Bem lidas as coisas, ninguém sabe ao certo se há-de ir viver para a Ilha da Mon-tanha, se há-de ficar em Macau ou emigrar. Existe, na sociedade local, uma imensa incerteza quanto ao futuro e, ao contrário de Hong Kong, isso não tem nada a ver com reformas políticas.O que a RAEM está a conseguir, por não resolver os problemas básicos da população, é desassosse-gar um povo que gostaria de estar sossegado. Mais tarde ou mais cedo, os protestos de origem social e económica, o desconten-tamento e mesmo a vida impossível, motivarão um deslocamento da in-dignação do social para o político. É este, realmente, o risco que o governo de Chui Sai On corre.Assim, a não existir uma política de habitação, entre outras, capaz de realmente solucionar as questões que se colocam ao cidadão, poderemos esperar que as energias se condensem num desejo de substituição dos responsáveis, então considerados incompe-tentes. Não se trata de desejar o sufrágio universal para confrontar Pequim. Longe disso. O problema é que ele aparece cada vez mais às pessoas como a única saída para políticas mais justas e distributivas. E quem nos empurra para isso, como o fez com o malfadado regime de garantias, é o Governo.

Empurrados para o sufrágio

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L I G U E - S E • PA R T I L H E • V I C I E - S E

POR CARLOS MORAIS JOSÉ

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

CURDOS Milhares de curdos manifestaram-se por toda a Europa, pedindo ajuda no combate contra o Grupo Estado Islâmico. Apesar dos ataques aéreos conduzidos pelos Estados Unidos contra as posições dos islamitas radicais, a cidade de Kobani está prestes a cair nas suas mãos.

DIÁRIO 19DE BORDO

“Quero saber quantas casas poderão ficar prontas em 2020. É necessário seguir o assunto, tendo em conta que só temos mais cinco anos antes da data”MELINDA CHAN • DEPUTADA

“Preferia comprar casa em Portugal, se houvesse possibilidade de emigrar para lá. Recuso-me a comprar casas super caras”NUNO LAU•CONTABILISTA - 27 ANOS

“Se eu for viver para Zhuhai ou para a Ilha da Montanha não é só porque os preços de lá são bem mais baratos, mas porqueo ambiente é melhordo que em Macau”HÉLDER LEI• ASSISTENTE SOCIAL - 28 ANOS

Macau é mais feliz do que Hong Kong, pois tem a liberdade de formular as suas próprias políticas de habitação paraajudar todos os residentes locais.DAVID CHAN • ACADÉMICO

“O sistema de responsabilidade de Macau para os funcionárioscarece de uma base institucional clara de poder e de responsabilidade e há uma

falta de apoio aos mecanismos de aplicação”Yin Yifei, académico do IPM | P.4

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cartoonpor Stephff

ÉBOLA

hoje macau terça-feira 14.10.2014

Padre João Clímaco Vendedores ambulantes apresentam recursoOs vendedores ambulantes da Rua do Padre João Clímaco decidiram apresentar recurso da decisão do Tribunal Judicial de Base em absolver o empresário Teng Man Lai, que ia acusado de prestar falsas declarações e de fraude agravada. Em declarações ao Jornal Cheng Pou, uma das vendedoras, Dak Che, confessou que, quando saiu a decisão do caso, os vendedores ficaram muito “desesperados”. No entanto, muitos residentes deram apoio financeiro directamente aos vendedores ambulantes, sendo isto o que os motivou a avançar para recurso, já que o custo do recurso vai ser pago pelos vendedores. Recorde-se que o empresário começou a cobrar rendas, tendo dito que era possuidor do terreno da Rua Padre João Clímaco, onde os vendedores estavam há anos.

Docentes do Centro de Formação Jurídica com aumentos As remunerações atribuídas aos docentes e formadores dos cursos de habilitação e de formação para o acesso às carreiras de oficial de justiça, Ministério Público e para cargos de secretário judicial e de escrivão sofreram uma actualização, segundo publicado ontem em Boletim Oficial. A partir deste mês, os docentes do Centro de Formação Jurídica e Judiciária irão receber 1210 patacas por hora e os formadores 5380 patacas mensais.

Moon Ocean Vendafoi aprovadaA Chinese Estate Holdings aprovou a venda da Moon Ocean – um acordo avaliado em mais de 4,8 mil milhões de dólares de Hong Kong. A notícia foi avançada pelo jornal Ponto Final, que diz ainda que a offshore – que comprou os terrenos em frente ao aeroporto onde estava a ser construído o empreendimento La Scala – foi comprada por uma outra empresa registada nas Ilhas Virgens Britânicas. Essa é a One Midland, uma firma detida também por Joseph Lau, que se mantém como accionista maioritário do grupo. Joseph Lau foi condenado a cinco anos e três meses de prisão por corrupção activa e lavagem de dinheiro, num processo ligado ao antigo secretário Ao Man Long.

SAFP Governo anuncia reabertura de concurso

A Direcção dos Serviços de Administração e Função

Pública (SAFP) confirmou a reabertura do concurso para técnico jurídico, no final deste ano. O anúncio foi feito depois de apenas um dos 508 candidatos ao concurso ter passado no exa-me escrito e mesmo depois dos SAFP terem afirmado que todo o processo havia corrido normal-mente. Em notícia avançada pelo Jornal Tribuna de Macau (JTM) e pelo Ponto Final, o próximo concurso deverá abrir portas a pessoas que não tiveram opor-tunidade de fazer o primeiro, servindo ainda para aqueles que chumbaram no processo.

“Esperamos que este grupo de candidatos possa resumir a última experiência e participar neste exame para entrar na Fun-ção Pública”, escreve o jornal. As declarações dos SAFP aos dois jornais surgem depois do subdirector do organismo, Kou Peng Kuan, ter referido que tudo correu dentro dos conformes durante o concurso passado.

Na passada sexta-feira, deu ainda a entender aos jornalistas que apenas são integrados na Função Pública os funcionários que mostrem ter capacidades para desempenhar as funções exigidas, mesmo depois dos SAFP terem sido alvo de duras críticas sobre o processo de re-crutamento e o elevado número de chumbos.

No concurso organizado, o único candidato a passar no exame escrito e a ser aprovado pelo júri fazia já parte do quadro da Função Pública, pelo que tal não implicou a entrada de novos funcionários.

Fernando Santospode sentar-se no bancocom a DinamarcaO Tribunal Arbitral de Desporto decidiu suspender o castigo de oito jogos imposto pela FIFA a Fernando Santos enquanto analisa o recurso apresentado pelo seleccionador nacional, segundo avançou ontem a RTP. Fernando Santos poderá assim sentar-se no banco de suplentes no encontro desta terça-feira com a Dinamarca, de qualificação para o Euro-2016.

A Associação dos Engenheiros de Macau está a preparar uma exposição, a inaugurar em Novembro, sobre os 40 anos da primeira

ponte de Macau: a Governador Nobre de Carvalho.“Queremos demonstrar que, mesmo perante as

limitações, foi possível criar uma ponte extensa daquela envergadura”, disse o vice-presidente da Associação dos Engenheiros, Addy Chan, à agência Lusa.

A mostra, a decorrer entre 21 de Novembro e 08 de Dezembro, vai reunir, entre outros, um espólio de fotografias e desenhos técnicos, acompanhados pela exibição de vídeos gravados durante o período da construção, segundo explicou Addy Chan.

A abertura da exposição vai coincidir com a rea-lização, em Macau, do Congresso de Engenheiros de Língua Portuguesa, a ter lugar de 27 a 28 de Novembro.

“Também queremos mostrar que os engenheiros portugueses e chineses têm uma cooperação de mais de 40 anos”, destacou.

“Parte dos vídeos são da Teledifusão de Macau (TDM) e da empresa de construção de Ng Fok, os desenhos técnicos são sobretudo da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, ha-vendo também um conjunto fornecido pelo construtor”, detalhou Addy Chan, indicando que a exposição terá uma quarta vertente, que consiste numa maquete, “um modelo, que está a ser criado por estudantes da Univer-sidade de Macau, para calcular a estrutura da ponte”.

“Como é que podem ter feito isto sem compu-tador? Este feito é muito espantoso. Para chegar a estas conclusões [sobre o uso dos materiais] são precisos milhares de cálculos”, realçou.

A DIVIDIR POR DOISAddy Chan indicou não dispor de estimativas de quantas pessoas trabalharam na construção da Ponte Governador Nobre de Carvalho, mas salienta que a experiência de um engenheiro chinês envolvido no projecto de construção vai ser partilhada durante a mostra por via da exibição de uma entrevista.

A exposição vai estar patente em dois locais. O pré-lançamento será na Fundação Rui Cunha, onde estarão algumas fotografias, mas o grosso, sobretudo a componente mais técnica, estará no Centro de Ciência.

O ideal é compilar fotografias e desenhos num máximo de 50 itens, isto apesar de o espólio ser muito maior: “Temos muitos materiais. As fotos começam desde o início até ao fim da construção e depois ainda temos as da manutenção. No total, mais de 500 e mais de 100 desenhos técnicos, mas vamos seleccionar os mais representativos”, escla-receu Addy Chan.

TAIPA MAIS PERTO“Esta ponte é muito importante. Antes, a Taipa era muito longe e a sua construção fez com que o urbanismo de Macau pudesse ser estendido à Taipa. O desenvolvimento da Taipa começou apenas há 30 e tal anos e sem a ponte seria impossível ter-se iniciado”, sustentou o vice-presidente da Associa-ção dos Engenheiros de Macau.

A Ponte Governador Nobre de Carvalho, inaugurada a 05 de Outubro de 1974, figura como a primeira ligação terrestre entre a cidade de Ma-cau e a Ilha da Taipa. Projectada pelo engenheiro português Edgar Cardoso – a quem também será prestada homenagem – ficou, a partir de 2007, reservada em exclusivo aos transportes públicos.

É também a única das três actuais pontes de Macau onde é permitida a circulação pedestre nos estreitos passeios laterais. - Lusa

A mostra, a ter lugar em Novembro, integra desenhos, fotografias e vídeos gravados durante a construção

EXPOSIÇÃO MEMÓRIAS DOS 40 ANOS DA PRIMEIRA PONTE DE MACAU

A espantosa arte da engenharia

“Como é que podem ter feitoisto sem computador? Este feitoé muito espantoso. Para chegara estas conclusões [sobre o usodos materiais] são precisosmilhares de cálculos”ADDY CHANVice-presidente da Associação dos Engenheiros