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ISSN 2177-8892 2070 HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PARANÁ : A ESCOLA NORMAL DE JACAREZINHO (1943) 1 GONÇALVES, Estefane Francisca (G-Bolsista PIBIC/CNPq-UENP/CJ) RUCKSTADTER, Vanessa Campos Mariano (UENP/CJ) INTRODUÇÃO O Colégio Estadual Rui Barbosa, fundado no ano de 1938, é uma das instituições educativas mais antigas do município de Jacarezinho, localizado na região paranaense denominada “Norte Pioneiro”. A escolha do arquivo da escola ainda se justifica pela comemoração dos setenta e cinco anos da instituição no ano de 2013, o que possibilitou amplo acesso à documentação e mobilização da comunidade escolar. Além disso, o antigo Ginásio Rui Barbosa também abrigou a primeira Escola Normal da região. O primeiro curso de formação de professores aconteceu em nível ginasial e a primeira turma iniciou seus estudos no ano de 1943. As discussões presentes neste texto se inserem nos debates da área da História da Educação, sobretudo na temática sobre as instituições escolares, e tem como objetivo apresentar o itinerário de uma pesquisa em arquivos escolares. Partimos do pressuposto que esse tipo de pesquisa contribui, de forma específica, para a preservação da história e memória da instituição estudada, bem como da memória local e regional, uma vez que os estudos sistematizados sobre a História da Educação e das instituições escolares ainda são escassos em nossa região. Além disso, de modo amplo, intenta contribuir com a ampliação de fontes para o estudo de parte da História da Educação na região denominada “Norte Pioneiro”, e, a partir do recorte proposto neste texto, da trajetória histórica da Escola Normal no estado do Paraná. Esta pesquisa faz parte dos trabalhos de implantação do “Centro de Documentação e Pesquisa Histórica da UENP”, que tem como função a preservação do patrimônio material e cultural da região. Também se insere nas discussões realizadas no Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq “Preservação dos Bens Culturais: História, 1 Este texto apresenta o resultado final da pesquisa de iniciação científica intitulada “História e Memória da Instituição Escolar Rui Barbosa E. F. M. P, da Cidade de Jacarezinho, no Estado do Paraná”, desenvolvida na Universidade Estadual do Norte do Paraná entre agosto de 2013 e julho de 2014 e contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC-CNPQ).

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ISSN 2177-8892 2070

HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PARANÁ : A ESCOLA

NORMAL DE JACAREZINHO (1943)1

GONÇALVES, Estefane Francisca (G-Bolsista PIBIC/CNPq-UENP/CJ)

RUCKSTADTER, Vanessa Campos Mariano (UENP/CJ)

INTRODUÇÃO

O Colégio Estadual Rui Barbosa, fundado no ano de 1938, é uma das

instituições educativas mais antigas do município de Jacarezinho, localizado na região

paranaense denominada “Norte Pioneiro”. A escolha do arquivo da escola ainda se

justifica pela comemoração dos setenta e cinco anos da instituição no ano de 2013, o

que possibilitou amplo acesso à documentação e mobilização da comunidade escolar.

Além disso, o antigo Ginásio Rui Barbosa também abrigou a primeira Escola Normal da

região. O primeiro curso de formação de professores aconteceu em nível ginasial e a

primeira turma iniciou seus estudos no ano de 1943.

As discussões presentes neste texto se inserem nos debates da área da História da

Educação, sobretudo na temática sobre as instituições escolares, e tem como objetivo

apresentar o itinerário de uma pesquisa em arquivos escolares. Partimos do pressuposto

que esse tipo de pesquisa contribui, de forma específica, para a preservação da história e

memória da instituição estudada, bem como da memória local e regional, uma vez que

os estudos sistematizados sobre a História da Educação e das instituições escolares

ainda são escassos em nossa região. Além disso, de modo amplo, intenta contribuir com

a ampliação de fontes para o estudo de parte da História da Educação na região

denominada “Norte Pioneiro”, e, a partir do recorte proposto neste texto, da trajetória

histórica da Escola Normal no estado do Paraná.

Esta pesquisa faz parte dos trabalhos de implantação do “Centro de

Documentação e Pesquisa Histórica da UENP”, que tem como função a preservação do

patrimônio material e cultural da região. Também se insere nas discussões realizadas no

Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq “Preservação dos Bens Culturais: História,

1 Este texto apresenta o resultado final da pesquisa de iniciação científica intitulada “História e Memória

da Instituição Escolar Rui Barbosa E. F. M. P, da Cidade de Jacarezinho, no Estado do Paraná”,

desenvolvida na Universidade Estadual do Norte do Paraná entre agosto de 2013 e julho de 2014 e contou

com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC-CNPQ).

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Memória, Identidade e Educação Patrimonial”. Por fim, o Guia de Fontes elaborado ao

final da pesquisa faz parte do banco de fontes do Grupo de Estudos e Pesquisas

“História, Sociedade e Educação no Brasil”- GT Norte Pioneiro- HISTEDNOPR2.

Para compreender a relevância da pesquisa na área da História da Educação e

das instituições escolares, durante as visitas ao arquivo da escola para a angariação dos

documentos foram realizadas leituras sobre as instituições educacionais e os arquivos

escolares, a fim de subsidiar o trabalho de levantamento e catalogação. Assim, este texto

apresenta inicialmente uma discussão sobre a importância dos estudos sobre as

instituições escolares no contexto da História da Educação. Em um segundo momento,

realiza uma recensão histórica sobre a Escola Normal no século XIX, inserindo nessa

discussão tanto a Escola Normal do Paraná quanto a Escola Normal na cidade de

Jacarezinho. Por fim, apresenta a descrição do trabalho realizado no arquivo do Colégio

Rui Barbosa, sobretudo no que se refere ao levantamento, organização e sistematização

dos documentos abrigados pela instituição.

INSTITUIÇÕES E ARQUIVOS ESCOLARES: POSSIBILIDADES DE PESQUISA

EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

As pesquisas sobre as instituições escolares desenvolveram-se, sobretudo, a

partir da década de 1990. Atualmente se encontra entre as principais linhas de

investigação no campo da história da educação. (SAVIANI, 2013; NOSELLA, 2013).

A pesquisa sobre a história das instituições escolares permite a compreensão da

escola em sua complexidade, pois, por meio dos documentos da instituição e da

constituição de fontes, preserva-se a história da instituição educativa.

O processo de resgate das fontes amplia as possibilidades de

compreensão da História da Educação e da própria história, na medida

em que se relacionam com a totalidade social de cada momento. Não

há outro modo de recuperar e reconstruir a história senão por meio das

fontes, quaisquer que sejam. O fato é que o acesso ao passado depende

essencialmente das fontes, as bases para a produção historiográfica.

2 Disponível em: http://histednopr.blogspot.com.br/2014/08/guia-de-fontes-para-historia-da.html.

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Por isso, tamanha é a importância de localizar, preservar e socializar

essas fontes. (ORSO, 2013, p. 34-35)

As instituições escolares são de suma importância para as pesquisas em

educação. Pesquisar instituições educacionais é uma forma de preservar a história da

instituição, bem como da própria memória regional daqueles que estiveram e estão

inseridos nelas. Além disso, as pesquisas acerca das instituições incentivam os

integrantes da escola e da comunidade a adotarem uma política de preservação dos

documentos e objetos que fazem parte da história da escola e da história da cidade.

Os estudos sobre as instituições educacionais possibilitam o entendimento das

mudanças e permanências no sistema educacional, nas relações entre os integrantes das

escolas em sua relação com o contexto político, social, econômico e cultural no qual ela

foi projetada e consolidada. A partir desses estudos também é possível compreender a

escola como espaço de produção de valores, bem como as relações de ensino e

aprendizagem existentes durante suas etapas de existência.

Quando voltamos nossos olhares para o interior das instituições educacionais,

percebemos que os arquivos escolares são fundamentais para a perpetuação da memória

da instituição, pois guardam os documentos essenciais para a constituição de uma

representação de parte da história da escola,

A História da Educação, enquanto campo de produção do saber

histórico tem pensado o processo histórico-educativo no Brasil a partir

de novos elementos elucidativos. Isso se evidencia pela ampliação e

incorporação de fontes diversificadas, ou, até bem pouco tempo,

exploradas pela ampliação ou revisão de temáticas, mostrando-se uma

maior preocupação na construção dos objetos de pesquisa. (GULLA,

2009, p.21)

Nas pesquisas em História da Educação os arquivos escolares têm se mostrado

um importante espaço de pesquisa. Neles estão guardadas fontes que possibilitam or

meio de questionamentos analisar resquícios de práticas pedagógicas, o modelo

educacional de cada período, as múltiplas relações estabelecidas entre ensino e

aprendizagem, os históricos dos alunos e uma vasta documentação que auxilia na

constituição de saberes sobre a história da instituição estudada. Por meio do acesso a

esses documentos é possível compreender aspectos sociais, econômicos, religiosos,

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culturais, bem como entender o contexto de desenvolvimentos e as fases de existência

da instituição.

Os arquivos e os seus documentos têm adquirido uma importância

crescente no campo da história da educação. Eles possuem

informações que permitem introduzir a uniformidade na análise

realizada sobre os vários discursos que são produzidos pelos actores

educativos-professores, alunos, funcionários, autoridades locais e

nacionais têm representado diversas relativamente à escola e

expressam-nas de formas diversificadas. (MOGARRO, 2005, p.77).

As instituições escolares são guardiãs de toda uma variedade de documentos

essenciais para pesquisas na aérea da História da Educação. Mas muitas indagações

surgem quando se quer trabalhar com pesquisas em arquivos. São elas: as instituições

possuem arquivos escolares? Se houver, onde estão localizados? Quais são as condições

de armazenamento? Em qual estado de conservação encontram-se esses documentos?

Um arquivo escolar sem um mínimo de organização e condição de preservação

acaba por dificultar o trabalho do pesquisador uma vez que ele terá que realizar um

levantamento mais atento para encontrar os documentos necessários para seu trabalho.

Consequentemente, a pesquisa exigirá um pouco mais de tempo, tempo que muitas

vezes é escasso em uma pesquisa. Assim, destacamos a importância de trabalhos que se

ocupem em localizar, sistematizar e catalogar fontes para a socialização das

informações contidas nos arquivos escolares.

Se por um lado os arquivos não organizados afligem os pesquisadores, os

arquivos já organizados também os preocupam, pois a forma como foi organizado pode

direcionar a pesquisa.

O trabalho de organização de acervos é decisivo e de grande

importância para o desenvolvimento da pesquisa. Na medida em que

pudermos contar com um número crescente de instituições de

memória com acervos documentais adequadamente organizados e

dotados de instrumentos que facilitem e agilizem o acesso às fontes, o

trabalho dos pesquisadores será grandemente facilitado com impacto

significativo na qualidade das pesquisas e também na sua quantidade,

uma vez que nessas condições, o tempo de busca e de manipulação

das fontes será fortemente reduzido. (SAVIANI, 2013, p.15)

Dessa forma, a pesquisa em arquivos escolares já organizados contribui muito

com as investigações, porém, os pesquisadores não podem desconsiderar os critérios e

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parâmetros utilizados, pois eles “[...] também podem funcionar como elementos que

predeterminam os rumos de sua investigação.”. (SAVIANI, 2013, p. 15).

Outra questão a ser pensada é a possibilidade de disponibilizar os documentos

digitalizados em arquivos virtuais, que pode ser um mecanismo essencial para guarda

documental da escola. Os documentos que comporiam esse arquivo digital estariam

disponíveis para os alunos, ex-alunos, integrantes e ex-integrantes da escola, para a

comunidade e para os demais pesquisadores interessados na área da História da

Educação e das instituições escolares. Assim, os

[...] historiadores vão defrontando-se, mais e mais, com o uso de

referências documentais digitalizadas em sua prática intelectual. Além

disso, é, de fato, muito cômodo e prático ter á mão, documentos

originalmente de difícil acesso e, muitas vezes, raros que

demandariam tempo enorme para serem consultados. Inclua-se, ainda,

a economia com gastos financeiros a serem empenhados na busca de

um material, de um documento, ou de uma série deles. (VALENTE,

2005, p. 187).

Em resumo, os documentos, tanto em papel como em diferentes suportes,

formatos e tipos documentais, são de suma importância para constituição da história das

instituições escolares e da História da Educação.

A partir disso, e diante de uma vasta documentação presente na instituição onde

a pesquisa foi realizada, foi necessário escolher um período e um tema para ser foco

desse trabalho. A escolha se deu pela implantação da Escola Normal e do Curso de

Formação de Professores anexa ao Ginásio Rui Barbosa no ano de 1943.

ESCOLA NORMAL NO BRASIL: ALGUNS APONTAMENTOS

Para compreender a implantação da Escola Normal em Jacarezinho, antes se faz

necessária a retomada histórica da origem dessas instituições. Os primeiros espaços

formais para a formação de professores no Brasil, as Escolas Normais, surgem no Brasil

no século XIX e passaram por momentos de intensos abalos e instabilidade.

Antes de serem inauguradas as Escolas Normais no território do Brasil, por toda

a Europa do século XVIII houve intensos debates acerca da profissionalização docente.

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A discussão em pauta era o perfil ideal do professor e, sobretudo, a necessidade da

laicização da formação de professores. A figura central do professorado até então era

marcada pelos religiosos e estava sob a tutela da Igreja. A partir daquele momento, os

professores religiosos passaram a ser substituídos por professores contratatos pelas

autoridades estatais:

O processo de estatização do ensino consiste, sobretudo, na

substituição de um corpo de professores religiosos (ou sob o controle

da Igreja) por um corpo de professores laicos (ou sob o controle do

Estado), sem que, no entanto, tenha havido mudanças significativas

nas motivações, nas normas e nos valores originais da profissão

docente. (NOVOA, s.d., p. 15).

Segundo António Nova, ainda no século XVIII surgem outras preocupações,

como as definições de regras uniformes de seleção e nomeação dos professores. Além

disso, a partir desse século não é mais permitido ensinar sem uma licença ou

autorização do Estado. Para adquirir esse documento era necessário preencher alguns

requisitos como habilitações, idade e atestado de bom comportamento. Assim, a licença

para ensinar marcou o início da profissionalização da carreira de professor, pois

significava uma espécie de garantia para o exercício da função de docente.

A criação das Escolas Normais representou uma conquista essencial para o

professorado, embora a carreira do professor ainda estivesse associada à ideia de

vocação.

No território brasileiro oito anos antes da inauguração da 1º Escola Normal foi

promulgada em 15 de outubro de 1827 a Lei de Primeiras Letras que determinou a

criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais

populosos do Império. A partir daquele momento seria necessária a preparação e a

formação de professores aptos para lecionarem nessas escolas. A lei é composta de

dezessete capítulos. Vejamos alguns artigos que fazem menção direta à formação de

professores,

Artigo 4º [...] As escolas serão de ensino mútuo nas capitais das

províncias; e serão também nas cidades, vilas e lugares populosos

delas, em que for possível estabelecerem-se. Artigo 5º [...] os

professores; que não tiverem a necessária instrução deste ensino, irão

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instruir-se em curto prazo e á custa dos seus ordenados nas escolas das

capitais. (BRASIL, 1827).

No decorrer do documento se percebe que pouco é descrito sobre o papel do

professor, o currículo ou a questão da formação dos docentes para lecionar nessas

escolas. Mas podemos observar que o ensino mútuo seria instituído a partir dessa lei no

Império como método oficial.

Alguns anos posteriores à Lei de Primeiras Letras, a Lei nº 16, de 12 de agosto

de 1834, mais conhecida como Ato Adicional de 1834, promoveu algumas alterações e

adições à Constituição Política do Império de 1824. Uma dessas modificações foi a

transferência da responsabilidade da instrução pública para as províncias. Como

podemos observar no artigo 1º e no Art.10:

Art. 1º O direito, reconhecido e garantido pelo art.71 da Constituição

será exercido pelas Câmaras dos Distritos e pelas Assembléias que,

substituindo os Conselhos Gerais, se estabelecerão em todas as

províncias, com o titulo de: Assembléias Legislativas Provinciais.

(BRASIL, 1834)

[...]

Art.10º Compete às mesmas Assembléias Legislar: [...] 2º Sobre a

instrução pública e estabelecimentos próprios a promovê-la não

compreendendo as faculdades de medicina, os cursos jurídicos,

academias atualmente existentes e outros quaisquer estabelecimentos

de instrução que, pra o futuro, forem criados por lei geral. (BRASIL,

1834).

Por meio desses artigos do Ato Adicional de 1834 podemos notar que o

Imperador Dom Pedro II (1825-1891), regente naquele período, autorizava as mudanças

implantadas pela Câmara dos Deputados na Constituição. Dessa forma, a instrução

pública foi transferida como responsabilidade das províncias. Não havia ainda um

sistema nacional de ensino, e em todo território nacional cada província passou a

responder e construir suas próprias instituições.

Nesse contexto as escolas normais foram sujeitas a mudanças e contestações,

algumas delas sendo fechadas e reabertas em curto espaço de tempo. A primeira Escola

Normal do país foi a de Niterói, no Rio de Janeiro, no ano de 1835, e de Minas Gerais

no mesmo ano, dando continuidade nas demais províncias na seguinte ordem: Bahia em

1836, Mato Grosso em 1842, São Paulo em 1846, Piauí, 1864; Rio Grande do Norte,

1873; Paraíba, 1879; Rio de Janeiro (DF) e Santa Catarina, 1880; Goiás, 1884; Ceará

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em 1885; Maranhão, 1890 (SAVIANI, 2008). No caso das províncias de Minas Gerais e

da Bahia, mesmo sendo criadas, não foram rapidamente inauguradas, pois ambas

decidiram enviar para fora do país professores para que pudessem se preparar para usar

o método simultâneo e mútuo, que naquela época era novidade.

Para a admissão nas Escolas Normais, era exigido que os alunos

comprovassem sua moral e os bons costumes, por meio de atestados

que deveriam passar por autoridades locais de residência dos

pretendentes, onde os mesmos seriam em seguida analisados pelos

presidentes de província. Quanto às formas para analisar o

conhecimento dos alunos, pedia-se uma avaliação de escrita e leitura,

sendo assim o perfil esperando de um professor estava mais vinculada

a sua conduta moral, do que propriamente os conteúdos e os

conhecimentos instrutivos, sendo assim; em relação ao povo, percebe-

se também que a finalidade dos dirigentes era muito mais ordenar do

que propriamente instruir. (VILLELA, 2011, p. 107).

A Escola Normal de Niterói no Rio de Janeiro funcionou como um celeiro de

experiências e como importante formadora de professores do Império.

Ainda no que se refere à formação de professores, a Reforma Couto Ferraz

(1818-1886), tem muito a somar para esta investigação. Luiz Pedreira do Couto Ferraz

baixou o Decreto n.1.331-A de 17 de fevereiro de 1854, que aprovou o regulamento

para a Reforma do Ensino Primário e Secundário do Município da Corte.

Ao exercer o cargo de ministro do Império em 1849, adotou o regime de

Professores Adjuntos. Os adjuntos seriam formados na prática, atuariam nas escolas

como ajudantes do regente de classe, aperfeiçoando- se nas matérias e práticas do

ensino. Couto Ferraz acreditava que ao auxiliar o professor regente, os adjuntos

aprenderiam o ofício de professor, dispensando dessa maneira a instalação das escolas

normais, que passaram nesse momento por um período de instabilidade, algumas tendo

suas portas fechadas, como foi o caso da escola de Niterói.

Em relação à formação de professores na prática, algumas questões são

salientadas nos artigos 38 e 39:

Art.38 Estes professores ficarão addidos ás escolas como ajudantes, e

para aperfeiçoarem nas matérias de pratica de ensino.

Art.39 No fim de cada anno de exercício e até o terceiro passarão por

exame perante o Inspector Geral e dous examinadores nomeados pelo

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governo, a fim de se conhecer o grão de seu aproveitamento.

(BRASIL, 1854).

Ao final, se os adjuntos passassem pelo exame, comprovando sua aptidão pelo

magistério, receberiam um título de capacidade profissional.

A Reforma Couto Ferraz serviu de referência para a regulamentação da instrução

pública em muitas províncias, principalmente no que refere à adoção do princípio de

obrigatoriedade do ensino primário. Dentre os dispositivos não implementados,

efetivamente resultou em letra morta aquele que pretendia substituir as escolas normais

pelos professores adjuntos, sendo assim, as províncias deram sequência à criação das

escolas normais. (SAVIANI, 2006).

A Reforma Leôncio de Carvalho, decreto n. 7.247 de 19 de abril de 1879,

reformou o ensino primário, secundário e superior no município da Corte. Muitos

artigos dessa reforma se mostram importantes para a compreensão da formação de

professores propostas na época e que marcou o final do século XIX. A Reforma

Leôncio de Carvalho, diferentemente da Reforma Couto Ferraz, incentivou a abertura

das escolas normais, por meio da regulamentação, nomeação de professores e

determinação de um currículo. Após a reforma de Couto Ferraz surgiram outras

propostas. Apesar de outras tentativas, o último dispositivo engendrado pela política

educacional do Império brasileiro foi a Reforma Leôncio de Carvalho. (SAVIANI,

2006).

Em relação ao público que frequentava a Escola Normal no século XIX, vale

destacar que desde sua criação havia a preferência pela formação de profissionais

homens. Isso não significou que mulheres não pudessem frequentar as escolas,. No

entanto, para elas foram criados cursos separados dos homens e com distinção no

currículo. Esse quadro passaou a se reverter depois de cinco décadas, aproximadamente

nos anos 80 do século XIX, passando por um processo de feminização do magistério.

A procura do magistério pelas mulheres esteve ligada ao crescente número de

vagas, e considerando algumas hipóteses interpretativas, pelo abandono por parte dos

homens desse campo profissional. A transformação histórica do magistério também

esteve imbricada com as alterações nas relações patriarcais que reestruturaram a

sociedade nas primeiras décadas do século XX. O magistério primário trazia em si dois

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determinantes: dava espaço para a inserção no mundo público e no trabalho assalariado

e possibilitava definir em uma profissão os espaços da maternidade canalizada no afeto

para com os alunos. (ALMEIDA, 2006).

A INSTRUÇÃO PÚBLICA E AS ESCOLAS NORMAIS NO PARANÁ

Antes da discussão sobre a Escola Normal em Jacarezinho faz-se necessário

traçar a trajetória de amplos debates acerca da formação de professores no Paraná. Para

uma compreensão histórica da formação docente em território paranaense

consideraremos como fontes especialmente os relatórios dos Presidentes e Vice-

Presidentes da Província do Paraná.

Até 1853 todo o território que correspondeu a Província do Paraná era uma

extensão da Capitania de São Vicente e, posteriormente, da Província de São Paulo.

Para Steca e Flores (2002) as populações que habitavam a região litorânea e dos

Campos de Curitiba viviam na pobreza. Porém, foi dessa região que partiu todo o

sentimento de unidade político-territorial que passou a ser construída no decorrer da

conquista desse território. As populações enfrentavam diversas dificuldades, uma delas

o distanciamento dos governantes e da justiça, e dessa forma, foram feitas inúmeras

reivindicações da população junto ao império para que houvesse a elevação desse

território à condição de Província. Em relação à instrução e aos docentes, as autoras

ressaltam que “[...] faltavam escolas e professores, os poucos que havia, ganhavam

salários baixíssimos.” (STECA; FLORES, 2002, p. 09).

A emancipação da Província do Paraná só ocorreu em 19 de dezembro de 1853,

com a ajuda de pressões feitas por outras províncias, entre elas as de Minas Gerais e

Bahia, que tinham interesse na diminuição do território da Província Paulista. Essa

província em especial era beneficiada com as riquezas naturais e com os solos férteis do

território paranaense. Além disso, a então Província de São Paulo exercia influência

sobre o poder central, uma vez que sua economia girava em torno da produção do café

proporcionando grande poder político.

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A reocupação nos séculos XVIII e XIX do território hoje paranaense ocorreu por

meio dos tropeiros3. Devido às viagens comerciais começaram por se estabelecer em um

determinado território, tendo em um primeiro momento a derrubada das árvores e

depois a construção da fundação de um povoado ou uma vila. Com isso,

O movimento de tropas foi intenso nos séculos XVIII e XIX. A

criação do gado e do tropeirismo desenvolveram-se nos Campos

Gerais de Curitiba e no Sul em função do abastecimento das regiões

mineiras, foi o principal meio de transporte, promoveu o comércio e o

povoamento nas suas rotas. (STECA; FLORES, 2002, p. 22-23).

Os imigrantes também contribuíram para a reocupação do território paranaense,

sendo atraídos em um primeiro momento por propagandas do governo brasileiro, que

diziam que “aqui era o paraíso com grandes chances de se fazer fortuna” (Steca; Flores,

p. 27). E ao chegarem a solos brasileiros eram encaminhados para as diversas fazendas

para trabalharem nas lavouras de café ou destinados à colonização de um território

vazio.

Entre os anos de 1853 e 1889 o Paraná fazia parte das vinte províncias que

dividiam o vasto território do então Império do Brasil. Durante trinta e seis anos de

período provincial o Paraná contou com quarenta e um presidentes.

O território paranaense foi elevado à Província do Paraná e desanexado da

Província de São Paulo no ano de 1853. Em 1876 foi inaugurada sua primeira Escola

Normal, 41 anos após a primeira Escola Normal em Niterói.

Segundo Miguel (2008) as instituições denominadas Escolas Normais nasceram

com o encargo de preparar o docente que iria trabalhar diretamente com o povo, e, dessa

maneira, a formação profissional do professor surge vinculada ao ensino primário.

Os documentos oficiais sejam leis ou relatórios dos presidentes de

Província, e mais tarde dos governantes do Estado, bem como os

relatórios dos inspetores, embora manifestem a visão institucional,

constituem-se como fontes essenciais, sem as quais seria impossível

perceber-se a intenção do poder público referente á formação do

3 Optamos pelo termo reocupação por entender que o território era ocupado por diversas etnias antes do

processo de chegada dos europeus, portugueses e espanhóis. Não faz parte das preocupações desta

pesquisa o aprofundamento nesse debate. Para mais discussões a respeito da tese do “vazio demográfico”

no Paraná ver: (MOTA, 1999).

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professor no processo histórico da educação paranaense. Os relatórios

dos presidentes possibilitam a compreensão mais aproximada das reais

condições escolares da época á qual se reportam, uma vez que era o

professor quem estava diretamente vinculado às questões que

perpassavam sua prática cotidiana. (MIGUEL, 2008, p. 145).

Por meio dos relatórios dos presidentes e vice-presidente da Província do

Paraná, de 1853 a 1889, nota-se o abalo na instrução pública na recém-província do

Império Brasileiro. As Escolas Normais no Paraná, assim como as de outras províncias,

passaram no século XIX por intensos períodos de instabilidade, especialmente a partir

da descentralização consequente ao Ato Adicional de 1834. Podemos apontar alguns

fatores que caracterizaram a condição instável da instrução pública e da formação de

professores no século XIX no Paraná a partir dos relatos dos representantes da

província: falta de um corpo docente habilitado e bem formado; baixo ordenado pago

aos docentes; falta de prédios adequados para o funcionamento das escolas; ausência de

mobílias, utensílios e livros para as escolas; escassez de recursos financeiros, evasão

escolar devido à pouca importância que os pais depositavam na instrução de seus filhos.

A pouca frequência se dava ainda devido à pobreza de muitas famílias, que contavam

com a ajuda de seus filhos para complementar a renda familiar, ao descrédito da

profissão docente, à disseminação da população por um vasto território e à falta de

inspeção geral da instrução.

Porém, a questão mais salientada e discutida nos relatórios é a falta de um

professorado habilitado para instruir a população. Aos professores são atribuídas as

mais diferentes características, quando esses profissionais são mencionados nos

relatórios, aparecem como personagens: a) despreparados, desabilitados necessitando de

formação, b) profissionais mal remunerados, c) professores preparados para o

magistério, mas que não queriam continuar nessa carreira devido o descrédito, d)

profissionais que continuaram nessa carreira por não serem capazes de exercer qualquer

outra profissão. e) professores sem teoria e métodos. Dessa forma, a partir dos relatórios

a visão predominante é a de que esses profissionais eram despreparados para exercer

essa profissão, raras algumas exceções.

Em suma, não podemos esquecer que a Escola Normal foi introduzida na

Província Paranaense em meados da década de 70 do século XIX, e se deparou com as

dificuldades de uma província recém-desanexada, na qual somente a criação da Escola

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Normal não possibilitaria a mudança no quadro educacional da época mencionado pelos

presidentes e vice-presidentes.

A ESCOLA NORMAL EM JACAREZINHO: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

A primeira dificuldade encontrada para realizar um estudo histórico sobre o

município de Jacarezinho é a escassez de trabalhos acadêmicos sobre o tema. Assim,

dispomos sobre a história local e de algumas instituições apenas de estudos

memorialistas. Todavia, partiremos dessas fontes e cruzaremos as informações com as

fontes encontradas no arquivo da escola.

Antes de iniciar a apresentação das informações encontradas, faz-se necessário

realizar um breve parêntese acerca do trabalho no arquivo da escola. Imaginava-se que o

colégio Rui Barbosa tinha um arquivo, porém, suas condições de preservação e

organização eram desconhecidas. Durante a elaboração do projeto surgiram algumas

indagações, tais como: Há um arquivo na escola? Se há, como ele está organizado?

Quais as condições? Quais as fontes disponíveis? A partir das visitas para o

levantamento de alguns documentos presentes na instituição, percebeu-se uma

organização mínima, em condições medianas de armazenamento, onde foram

encontrados além dos documentos da escola arquivos de outras instituições que não

existem mais. No arquivo há aproximadamente cerca de 400 caixas, mais alguns

documentos recentes que se encontram empacotados e alguns livros avulsos.

Ressaltamos que a pesquisa somente foi possível devido à disponibilização e acesso ao

arquivo pela direção da instituição.

Após o resultado da aprovação do projeto foram realizadas sucessivas visitas ao

arquivo da instituição e realizado o levantamento dos documentos presentes no arquivo

da escola, bem como a digitalização de alguns deles. Foram necessárias leituras

detalhadas sobre os arquivos escolares e questões teóricas e práticas da arquivística,

para entender um pouco mais sobre esse espaço.

O levantamento dos documentos exigiu um pouco mais de tempo da pesquisa,

além disso, foi necessário enumerar as caixas de documentos do arquivo para a

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confecção do guia e para a própria localização dos documentos. Como no arquivo há

duas prateleiras com sete fileiras, a numeração adotada de acordo com a fileira (F) e

com a caixa (C) exemplo: F1C01 até F1C320. Foi necessário também fotografar alguns

documentos para a elaboração do guia de documentos da instituição.

Os documentos do Colégio Estadual Rui Barbosa, assim como de muitas outras

instituições educacionais, localizam-se no arquivo permanente, conhecido como

“arquivo morto”, em condições inadequadas. “Arquivo morto” é o termo utilizado

dentro de uma instituição (não apenas escolar), que se refere aos muitos espaços em que

encontramos documentos acumulados; banheiros desativados, vãos embaixo de escadas,

quartos de guarda de materiais de limpeza, dispensas dos refeitórios, salas desativadas

próximas a lanchonetes, porões, sala de materiais da fanfarra, “cantos” da biblioteca em

atividade (ou desativada) entre outros. (ZAIA, 2005).

Devido à ausência de local apropriado para a guarda dessa documentação o

arquivo do colégio Rui Barbosa está localizado dentro da sala do almoxarifado, uma

sala pequena diante do número de documentos, juntamente com outros objetos

(monitores, cadeiras, impressora, caixas de sulfite, dentre outros). Merece ser destacado

que, mesmo sem condições de ter um espaço adequado, a escola não descarta nenhum

de seus documentos, e pensam em um local dentro da escola que comporte essa

documentação.

Dentro do arquivo há uma organização razoável dos documentos, esses se

encontram em caixas de papelão. Cada uma traz a descrição dos documentos que a

compõem. Porém, apenas a guarda da documentação não é suficiente, pois ela está à

mercê da deterioração com o passar do tempo. Assim, falta também um profissional

capacitado para a limpeza, organização e cuidado que esses documentos necessitam.

Dando continuidade à trajetória histórica da formação de professores no Paraná,

a ideia de uma Escola Normal em Jacarezinho surgiu a partir de uma conversa entre o

então prefeito João Aguiar e o Interventor Manoel Ribas (1873-1946). Nesse encontro a

proposta da província era dividir o município de Jacarezinho em outras cidades por ser

muito extenso e pouco habitado. O prefeito teria recusado a sugestão e em contrapartida

propôs a criação de uma Escola Normal a fim de promover a vinda de pessoas de outros

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municípios e, dessa maneira, ocupar os limites territoriais do município. O interventor

teria concordado uma vez que “[...] somente com o ordenado dos professores e a

hospitalidade dos alunos de outros municípios irá aumentar muito, pois os terrenos nada

produzem por falta de habitantes” (AIMONE, 1991, p. 05).

No ano de 1943 foi inaugurado o Curso de Formação de Professores anexo ao

Ginásio Rui Barbosa, pelo decreto nº 1.514 de 12 de janeiro de 1943. Para o ingresso no

Curso de Formação de Professores era necessária a apresentação dos seguintes

documentos que comprovavam:

1) _ Ter o candidato concluído o curso de ginásio oficial ou oral de

Escola Normal do Estado então o curso das extintas Escolas Normais

Primárias do Estado;

2) _ capacidade física; 3) _ idoneidade moral; 4) _ ter idade inferior a

30 anos; 5) _ sua identidade; 6) _ recibo da 1ª prestação da taxa anual.

(PARANÁ, 1938, s.p.).

O Certificado de Exames de Licença Ginasial – era o documento que certificava

que os alunos frequentou uma instituição de ensino e foram aprovados em Exame de

Licença Ginasial. O certificado apresenta disciplinas e notas dos alunos. O Atestado de

Idoneidade Moral – era uma declaração feita por duas pessoas que atestam que

conhecia o candidato a ingressar no Curso de Formação de Professores a mais de dois

anos. Que a pessoa era portadora de absoluta idoneidade moral e cívica e que até a

presente data desconhecia a existência de qualquer fato que desabonasse o conceito

atestado.

As Taxa de ensino – eram fichas que comprovam o pagamento das taxas de

anuidades do Curso de Formação de Professores. Já o Atestado de Saúde ou Atestado de

capacidade física – tinha como finalidade examinar as condições de capacidade física e

mental do aluno e se este estava apto para exercer o magistério.

O Curso de Formação de Professores poderia receber alunos de ambos os sexos,

ao aluno era estabelecido uma taxa anual, como podemos observar no Art. 45 do

Decreto nº 6.597 do Regulamento das Escolas de Professores do Estado do Paraná:

Art. 45 _ O aluno fica sujeito a taxa anual de matricula de ... 100$000,

paga em duas prestações _ A 1ª por ocasião da matricula e a 2ª até o

dia 10 de Agôsto.

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§ Único _ Além dessa taxa, os alunos pagarão a importancia de 5$000

mensais, como taxa de frequencia. (PARANÁ, 1938, s.p.)

Nos primeiros anos de funcionamento da Escola de Professores até o ano de

1946, o curso era dividido em quatro seções durante dois anos, os alunos que

ingressaram no Curso de Formação de Professores no ano de 1943, no ano seguinte

haviam concluído o curso de acordo com o Regulamento das Escolas de Professores do

Estado do Paraná e saiam com condições legais de receber o grau de Professor Primário.

De acordo com esse Regulamento, vejamos qual era a finalidade do Curso de

Formação de Professores e quais eram as disciplinas ao longo do curso,

Art. 1.º _ As Escolas de Professores têm por fim: a) formar

professores primários; promover investigações e estudos relativos a

assuntos de educação; c) auxiliar o trabalho de constante

aperfeiçoamento cultural do magistério publico do Estado.

Art. 2º _ O curso da Escola de Professores é feito em dois anos sendo

as matérias ali ensinadas em quatro secções, durando cada uma um

semestre, distribuídas da seguinte fórma:

1ª Secção: (1° semestre) Psicologia geral e infantil; Pedagogia geral;

Metodologia e Pratica de ensino; História da educação.

2ª Secção: Metodologia e Pratica do Ensino; Biologia aplicada á

Educação; Puericultura; Higiene escolar.

3ª Secção: Metodologia e pratica do Ensino; Sociologia Geral;

Sociologia Educacional.

4ª Secção: Metodologia e Pratica do Ensino; Desenho, modelagem e

caligrafia; Trabalhos manuais; Musica e canto orfeônico.

Aulas: Noções fundamentais de agronomia; Educação Física;

Educação Domestica. (PARANÁ, 1938, s.p.)

A partir de 1946 o curso de formação de professores passou de dois anos

divididos em quatro secções para três anos de duração, as disciplinas ficaram divididas

da seguinte maneira: 1º ano: Português, Matemática, Física e Química, Anatomia e

Fisiologia Humanas, História da Música, Educação Física recreação e jogos. 2º ano:

Psicologia Educacional, Biologia Educacional, Higiene e Educação Sanitária,

Metodologia do Ensino Primário, Agronomia, Desenho e Artes Aplicadas e Educação

Física, recreação e jogos. 3º ano: Psicologia Educacional, Sociologia Educacional,

História e Filosofia da Educação, Puericultura, Metodologia do Ensino Prático, Desenho

e Artes Aplicadas, Música e Canto, Economia e Educação Física, recreação e jogos.

De 1943 a 1950 concluíram com condições legais o Grau de Professor Primário

132 discentes: 4 alunos e 128 alunas com faixa etária de 14 a 34 anos. Percebe-se que

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nesse momento na Escola Normal de Jacarezinho, o Curso de Formação de Professores

há mais a presença feminina do que masculina.4

O Curso de Formação de Professores em Jacarezinho permitiu que muitas

pessoas viessem para essa cidade para frequentar a escola normal. A partir da

documentação presente na instituição percebe-se que grande parte desses alunos não

nasceu em Jacarezinho, e que alguns não residiam nessa cidade.

CONCLUSÃO

As escolas normais surgiram no século XIX como um local destinado para a

formação de professores, mas que passaram por períodos de instabilidade. No caso da

Escola Normal de Jacarezinho, o curso de formação de professores surgiu na década de

1940 e adveio da necessidade de atrair novos moradores para a povoação da cidade,

uma vez que possuía baixa densidade demográfica. Em um período de dez anos a

Escola Normal de Jacarezinho formou 132 professores primários com condições legais

para exercerem o magistério. Além disso, foi a primeira escola de formação de

professores da região denominada Norte Pioneiro, e, por essa razão, formou alguns dos

primeiros professores primários do município e da região.

A análise apresentada neste texto é apenas uma parte da história da Escola

Normal de Jacarezinho. A pesquisa sobre a escola normal e o curso de formação de

professores não se encerra nessa investigação. A pesquisa terá continuidade com o

levantamento e catalogação dos documentos referentes à escola normal nas décadas de

1950 e 1960.5 Também haverá um aprofundamento no sentido da análise documental na

pesquisa já em andamento realizada no Trabalho de Conclusão de Curso de História,

que contará com uma discussão sobre a formação de professores a partir da análise das

fichas de matrícula dos alunos. O acesso a essas fichas permitiu avançar em algumas

4 Obtiveram o grau de normalista em 1944: 30 alunas e 1 aluno. Em 1945: 16 alunas e 1 aluno. Em 1946,

20 alunas e 1 aluno. No ano de 1948: 22 alunas e 1 aluno. No ano de 1949: 19 alunas. No ano de 1950:

21 alunas. 5 Trata-se do projeto “Fontes para o estudo da Escola Normal e do Curso de Formação de Professores na

cidade de Jacarezinho, PR”, desenvolvido na Universidade Estadual do Norte d Paraná e que conta com

financiamento da Fundação Araucária na modalidade bolsa de iniciação científica,.

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problematizações, especialmente no que diz respeito ao perfil sócio-econômico desses

alunos, ao significado de um diploma de normalista nas décadas de 1940 a 1960 em sua

articulação com o contexto nacional, regional e local. Esses questionamentos nos

direcionam para futuras pesquisas.

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