história da guiné

23
História da Guiné-Bissau A Guiné-Bissau foi em tempos o reino de Gabú (Kansalá), parte do Império do Mali. Certas partes do reino viriam a sobreviver até ao século XVIII. Mas o primeiro império a invadir o território foi o do Gana, por volta do século V. Apesar de animistas, os invasores estabeleceram relações amistosas com os árabes do Magreb e foram tolerantes com o islamismo. Alguns foram convertidos à religião muçulmana e apelidados de almorávidas. Estes, no século XI, empreenderam uma "guerra santa" a partir do Senegal, tendo- se expandido até à Península Ibérica. Acabaram por destruir o império do Gana e libertaram muitos povos que estavam dominados, como os Mandingas, os quais iriam invadir o actual território da Guiné no século XIII. Nesse mesmo século XIII, chegam a esta região da costa ocidental de África os povos Naulu e Landurna, na sequência do declínio do império do Gana. É já no século XIV que esta zona passa a integrar o vasto império do Mali. Os portugueses chegaram à actual Guiné em 1445 na sua exploração da Costa Africana. O conceito de Guiné do século XV era muito amplo uma vez que abrangia grande parte da África Ocidental a Sul do Cabo do Bojador, que tinha sido dobrado em 1434 por Gil Eanes. Em 1466, a Coroa portuguesa concedeu a administração da Guiné, desde o Rio Senegal até à Serra Leoa, com excepção das ilhas de Arguim aos capitães de Cabo Verde. Os espanhóis tentaram, em vão, conquistar esta região até se assinar o Tratado de Alcáçovas em 1480. No segundo quartel do século XVI há uma grande intervenção da pirataria e traficantes franceses, a que se seguiram os ingleses. Durante a dinastia filipina em Portugal (1580- 1640) aparecem também os holandeses. A primeira povoação a ser criada foi Cacheu, em 1588, que se tornou mais tarde na sede das primeiras autoridades coloniais de nomeação régia - os capitães-mor. Cacheu, depois da Cidade Velha na ilha de Santiago em Cabo-Verde, tem uma das mais antigas igrejas católicas do Continente africano. Em 1630 foi criada a Capitania-Geral da Guiné Portuguesa para a administração do território. A vila de

Upload: isidro-teixeira-junior

Post on 18-Dec-2014

18 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: História da Guiné

História da Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau foi em tempos o reino de Gabú (Kansalá), parte do Império do Mali. Certas partes do reino viriam a sobreviver até ao século XVIII. Mas o primeiro império a invadir o território foi o do Gana, por volta do século V. Apesar de animistas, os invasores estabeleceram relações amistosas com os árabes do Magreb e foram tolerantes com o islamismo. Alguns foram convertidos à religião muçulmana e apelidados de almorávidas. Estes, no século XI, empreenderam uma "guerra santa" a partir do Senegal, tendo-se expandido até à Península Ibérica. Acabaram por destruir o império do Gana e libertaram muitos povos que estavam dominados, como os Mandingas, os quais iriam invadir o actual território da Guiné no século XIII.

Nesse mesmo século XIII, chegam a esta região da costa ocidental de África os povos Naulu e Landurna, na sequência do declínio do império do Gana. É já no século XIV que esta zona passa a integrar o vasto império do Mali.

Os portugueses chegaram à actual Guiné em 1445 na sua exploração da Costa Africana. O conceito de Guiné do século XV era muito amplo uma vez que abrangia grande parte da África Ocidental a Sul do Cabo do Bojador, que tinha sido dobrado em 1434 por Gil Eanes. Em 1466, a Coroa portuguesa concedeu a administração da Guiné, desde o Rio Senegal até à Serra Leoa, com excepção das ilhas de Arguim aos capitães de Cabo Verde. Os espanhóis tentaram, em vão, conquistar esta região até se assinar o Tratado de Alcáçovas em 1480. No segundo quartel do século XVI há uma grande intervenção da pirataria e traficantes franceses, a que se seguiram os ingleses. Durante a dinastia filipina em Portugal (1580-1640) aparecem também os holandeses.

A primeira povoação a ser criada foi Cacheu, em 1588, que se tornou mais tarde na sede das primeiras autoridades coloniais de nomeação régia - os capitães-mor. Cacheu, depois da Cidade Velha na ilha de Santiago em Cabo-Verde, tem uma das mais antigas igrejas católicas do Continente africano. Em 1630 foi criada a Capitania-Geral da Guiné Portuguesa para a administração do território. A vila de Bissau foi fundada em 1697, como fortificação militar e entreposto de tráfico negreiro.

Em meados do século XVII, a ocupação portuguesa estende-se pelos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Buba. Sucede-se até ao século XIX um período de conflitos entre Portugal, a Inglaterra e a França pela posse destes e de outros territórios da Costa Ocidental de África. Pela Convenção de 1836, Portugal cede à França territórios que virão a constituir a África Ocidental Francesa. O fim da escravatura, o principal negócio da região, levou a que fosse desenvolvida a agricultura e silvicultura, onde operaram grandes companhias que exploravam o amendoim, óleo de palma, algodão e a borracha.

Em 1800 a Inglaterra começa a fazer sentir a sua influência na Guiné, iniciando a sua reivindicação pela tutela da ilha de Bolama, arquipélago dos Bijagós, Buba e todo o litoral em frente. Em 1870, por arbitragem do presidente dos EUA, Ulysses Grant, a Inglaterra desiste das suas pretensões sobre Bolama e zonas adjacentes.

Em 1879 a Guiné passa a ter um governo próprio. Até aí estava sob jurisdição de Cabo-Verde (Os Rios Grandes da Guiné de Cabo-Verde). Embora os rios e as costas desta área estivessem entre os primeiros locais colonizados pelos portugueses que aí iniciaram

Page 2: História da Guiné

o tráfico de escravos com a instalação de feitorias no século XVII, o interior não foi explorado pelos colonizadores até ao século XIX.

IMPORTANTE

Bolama fica localizada na ilha homônima, sucedendo ao antigo concelho criado em 1871 pelos portugueses. No dia 18 d março d 1879 o capital d Cacheu p bolama.Bolama foi elevada à categoria de cidade em 1913 e foi a capital da antiga Guiné Portuguesa até 1941. Em em 9 d Decembro d 1941 a capital muda de Bolama para Bissau, por Sarmento Rodrigues, que já então era, de facto, a "capital económica" da Guiné.

A luta pela independência

Nos anos 1950, no quadro da longa história de resistência à ocupação colonial, as idéias independentistas começam a ganhar apoios nalgumas camadas urbanas, traduzidos, em 1956, na criação do (PAIGC), fundado por Amílcar Cabral.

De entre os movimentos reivindicativos da década de 50, a greve dos marinheiros e estivadores do porto de Bissau, foi violentamente reprimida a 3 de Agosto de 1959, no

que ficou para história como o "massacre de Pindjiguiti" e ao qual o PAIGC atribuiu o papel de detonador da reviravolta estratégica que passou a tomar a luta armada como único meio possível para obter a independência da Guiné e Cabo Verde.

A guerra de libertação inicia-se em 1963, tendo a guerrilha do PAIGC rapidamente alargado as frentes de combate e ocupado e administrado, em 1968, cerca de 2/3 do território.

Política e militarmente bem organizado, o PAIGC conquistou um capital de simpatia importante nos fóruns internacionais e em países como a Suécia, URSS, China, Marrocos e Guiné-Conakry, nos meios intelectuais e junto de diversas forças sociais e políticas e da juventude dos países da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, o que permitiu obter apoios materiais e logísticos decisivos e importantes vitórias diplomáticas como as intervenções de Amílcar Cabral na Comissão de Descolonização da ONU e a audiência conjunta concedida pelo Papa Paulo VI, no Vaticano, aos líderes da FRELIMO, do MPLA e do PAIGC.

MUITO IMPORTANTE

A 20 de Janeiro de 1973 é assassinado, em Conakry, Amílcar Cabral. Três meses após o seu assassinato, é desencadeada a "Operação Amílcar Cabral", cujo objectivo era o de ocupar o quartel de Guiledje, o mais bem fortificado da frente Sul, na certeza de que a sua queda iria acelerar o fim da presença colonial na Guiné. A 22 de Maio de 1973 o quartel é conquistado. Quatro meses depois, a 24 de Setembro de 1973, reunia-se em Madina do Boé a primeira Assembleia Nacional Popular que declarava a existência de um Estado Soberano, a República da Guiné-Bissau, rapidamente reconhecida por 63 países da comunidade internacional. A independência chegou com a Revolução dos Cravos portuguesa de 1974. A 24 de Setembro de 1974, Guiné-Bissau

Page 3: História da Guiné

foi a primeira colónia portuguesa de África a ser reconhecida a sua independência. Luís Cabral é então eleito primeiro Presidente da República.

Governo de partido único do PAIGC

O irmão de Amílcar Cabral, Luís de Almeida Cabral, foi empossado como o primeiro presidente da República da Guiné-Bissau. Instituiu-se um governo de partido único de orientação marxista controlado pelo PAIGC e favorável à fusão com Cabo Verde. O governo de Luís Cabral enfrentou sérias dificuldades que chegaram a provocar a escassez de alimentos no país. Luís Cabral foi deposto em 1980 por um golpe militar liderado pelo general João Bernardo Vieira, quadro superior do PAIGC. Com o golpe, a ala cabo-verdiana do PAIGC separa-se da ala guineense do partido, o que faz malograr o plano de fusão política entre Guiné-Bissau e Cabo Verde. Ambos os países romperam relações, que somente seriam reatadas em 1982.

O país foi controlado por um conselho revolucionário até 1984, ano em que a Guiné-Bissau aprovou a sua actual Constituição. A transição democrática iniciou-se em 1990. Em Maio de 1991, o PAIGC deixou de ser o partido único com a adopção do pluripartidarismo. As primeiras eleições multipartidárias tiveram lugar em 1994 tendo o PAIGC obtido a maioria na Assembleia Nacional Popular sendo João Bernardo Vieira eleito Presidente da República. Nesse ano o país faria a transição para um sistema de economia de mercado através do Ministro Manuel dos Santos

Guerra civil e instabilidade política

Uma insurreição militar, em Junho de 1998, liderada pelo general Ansumane Mané, levou à deposição do presidente Vieira e a uma sangrenta guerra civil. Mais de 3 mil pessoas fogem do país. O conflito somente se encerrou em Maio de 1999, quando Ansumane Mané entregou a presidência provisória do país ao líder do PAICG, Malam Bacai Sanhá, que convocou eleições gerais.

Clima

A Guiné-Bissau é atravessada pela zona inter-tropical de convergência e sofre por conseguinte a influência da monção (ar quente e húmido do Oceano Atlântico) durante a estação húmida e do harmattan (ar quente e seco que provém do Sara) durante a estação seca.

Podem distinguir-se três zonas de precipitação: a zona do Sul (Tombali, Quinara e Bolama-Bijagós) caracterizada por uma média anual superior a 2.000 mm; a zona Noroeste (Bissau, Biombo, Cacheu e Oio) caracterizada por uma média anual entre 1.400 e 1.800 mm; a zona Leste (Bafatá e Gabú) onde a precipitação anual média é inferior a 1.400 mm.

O máximo das precipitações é atingido em Agosto, sendo a média mensal superior a 400 mm. O mínimo, próximo de 0, ocorre durante os meses de Dezembro a Abril.

Page 4: História da Guiné

As temperaturas oscilam entre 22°C e 38°C (média mensal: 30°C) em Abril e Maio, imediatamente antes do período das chuvas, entre 22°C e 30°C (média mensal: 26°C) em Agosto e Setembro e entre 16°C e 32°C (média mensal: 24ºC) em Dezembro.

O clima da Guiné-Bissau é húmido no litoral centro e sul do território (humidade relativa compreendida entre 75 e 90%) e mais seco no resto do território (humidade relativa compreendida entre 55 e 75%).

Estado do ar e alterações climáticas

Segundo a Comunicação Nacional Inicial da Guiné-Bissau sobre as Alterações Climáticas (2004), as emissões de CO2 constituíram em 1994 (ano de referência) 91% das emissões do país. Cada cidadão emitiu cerca de 2762,51 kg E-CO2 (equivalente dióxido de carbono). As emissões provinham essencialmente do sector da energia, nomeadamente do consumo dos combustíveis derivados do petróleo e da biomassa florestal (madeiras e carvão).

Com base nos dados apresentados nesse documento oficial, observa-se que o balanço emissão/sequestro de CO2 é muito positivo para a Guiné-Bissau. Com efeito, em 1994, as emissões de CO2 representavam cerca de 1.360 Gg e as quantidades de sequestro de CO2 totalizavam aproximadamente 11.288,4 Gg.

Os sectores da agricultura e da pecuária são responsáveis pela maior parte das emissões conjuntas de Ch2 (93%), N2O (100%), CO (98%) e NOx (79%). No entanto, as emissões são baixas: 31,84 Gg de Ch2, 106,32 Gg de CO e valores negligenciáveis (< 5 Gg) de N2O e NOx. A maior parte do CO provém da prática ancestral de queimadas dos resíduos agrícolas e da savana. Os valores de emissões do sector da indústria e outros sectores são negligenciáveis. O problema da poluição atmosférica em meio urbano não parece importante devido à baixa densidade do tráfego.

Com base nos dados recolhidos em 1994 e tendo em conta as tendências actuais no que diz respeito ao ambiente na Guiné-Bissau e ao crescimento dos gases de efeito de estufa na atmosfera à escala global, o serviço de meteorologia projectou para 2100 uma diminuição de 11,7% da pluviosidade, um aumento de 2% da temperatura e um aumento de 50 cm do nível médio do mar. Deve notar-se que uma diminuição dos recursos florestais pode agravar este cenário, na sequência de uma redução do sequestro de CO2, uma diminuição mais importante da pluviosidade e uma redução das barreiras naturais (os mangais) contra o progresso da água salgada. Dada a proporção de terras baixas no território e a população que as povoa, as ameaças mais fortes poderão vir a ser a subida do nível do mar e a intrusão salina nos lençóis freáticos.

No âmbito do Protocolo de Quioto, a Guiné-Bissau instaurou uma Comissão Nacional para as Alterações Climáticas (presidida pelo Ministro dos Recursos Naturais) e finalizou o seu Plano de Acção Nacional de Adaptação. O país está a proceder igualmente à quantificação da biomassa de algumas das suas florestas comunitárias. A Guiné-Bissau está por conseguinte praticamente pronta a realizar projectos de adaptação no âmbito dos "Mecanismos de Desenvolvimento Limpo".

Geografia e População

Page 5: História da Guiné

República da Guiné-Bissau está situada no hemisfério norte, entre a República do Senegal ao norte, a República da Guiné ao leste e ao sul e o Oceano Atlântico ao oeste. O seu território está compreendido entre os paralelos 10° 59' e 12° 20' de latitude norte e entre os meridianos 13° 40' e 16° 43' de longitude ocidental, numa zona de transição biogeográfica guineense-congolesa e sudanesa.

A Guiné-Bissau cobre uma superfície de 36.125 km² (com uma placa continental de 53.000 km²) e está dividida em quatro zonas bem distintas:

Uma costa Atlântica de cerca de 180 km constituída por estuários largos e profundos, de mangais, de pântanos e florestas que se estiram da baixa Casamança (Sul do Senegal) ao norte até à fronteira com a República da Guiné ao sul.

O arquipélago dos Bijagós, com uma superfície de 10.000 km² composta por 1.000 km² de ilhas sedimentares e 9.000 km² de mar. As cerca de 40 ilhas, das quais apenas 20 são habitáveis, têm pouca elevação, uma vegetação luxuriante e bonitas praias. Em 1996, o arquipélago foi declarado "Reserva da Biosfera" pela UNESCO e dois grupos de ilhas são parques nacionais - Orango e João Vieira/Poilão.

Vastas planícies, situadas ligeiramente acima do nível do mar, cobertas por savanas arbustivas ao norte e uma floresta sub-húmida, quase virgem, ao sul. Tais planícies são atravessadas por grandes rios, dos quais os mais importantes são o Corubal, o Cacheu, o Mansoa, o Geba e o Rio Grande de Buba.

Ao leste, colinas e planaltos ascendem pouco a pouco para os contrafortes das montanhas do Fouta Djalon, sem ultrapassar os 300 metros de altitude.

As subdivisões administrativas são nove: oito regiões (Cacheu, Oio, Gabu, Bafatá, Quínara, Tombali, Bolama-Bijagós e Biombo) e o sector autónomo de Bissau. Cada região é dividida em sectores e estes por sua vez são divididos em secções que agrupam várias tabancas (aldeias). Segundo dados de 1991 (data do último recenseamento da população) do Instituto Nacional de Estatística e Censo, a Guiné-Bissau tem 38 sectores, 103 secções e cerca de 5.000 tabancas.

A população guineense passou de 505.000 pessoas em 1950 para 1.300.000 hoje em dia, das quais 67% vivem nas zonas rurais. A densidade média é de 28 habitantes por km². A taxa de crescimento anual da população é de 3% a nível nacional e de 5% nas zonas urbanas. A população de Bissau está estimada actualmente em mais de 250.000 pessoas. Cerca de 26% da população total vive nas duas cidades principais - Bissau, a capital, e Gabu. Quanto à população das ilhas, das cerca de 27.000 pessoas a maioria vive nas cidades de Bubaque e Bolama.

Os povos da Guiné-Bissau são muito diversos e heterogéneos sobretudo tendo em conta a dimensão reduzida do País e o número de habitantes pouco elevado. A população reparte-se em cerca de vinte etnias diferentes das quais a mais numerosa é constituída pelos Balantas (27% da população), que seguem uma organização social primeva estruturada em classes de idade, sem outros critérios hierárquicos, e habitam as regiões litorais onde cultivam o arroz. As outras etnias importantes são os Fulas, sobretudo criadores de gado (cerca de 22%), os Mandingas, sobretudo comerciantes (12%), os Manjacos (11%), caracterizados pelo poder económico adquirido principalmente pelos

Page 6: História da Guiné

seus emigrantes, e, finalmente, os Papéis (10%), concentrados em redor da cidade de Bissau. Os Bijagós são os habitantes das ilhas e constituem povoamentos de animistas, praticando ritos e cerimónias maioritariamente secretos, ritos esses que variam de uma ilha a outra.

Ambiente

A República da Guiné-Bissau está situada no hemisfério norte, entre a República do Senegal ao norte, a República da Guiné ao leste e ao sul e o Oceano Atlântico ao oeste. Está compreendida entre os paralelos 10° 59' e 12° 20' de latitude norte e entre os meridianos 13° 40' e 16° 43' de longitude ocidental, e situada numa zona de transição bio-geográfica guineense-congolesa e sudanesa.

A Guiné-Bissau cobre uma superfície de 36.125 km², com uma placa continental de 53.000 km² sobre a qual se encontra também o arquipélago dos Bijagós (englobando 40 ilhas das quais apenas 20 são habitáveis). Este arquipélago cobre uma superfície de 10.000 km² (1000 km² de ilhas sedimentares e 9000 km² de mar). A costa do território continental tem um comprimento de 180 km.

O País partilha com o Senegal uma zona comum da Zona Económica Exclusiva situada entre os azimutes 268° e 220°, traçados a partir do Cabo Roxo na fronteira terrestre entre os dois Estados. A zona é administrada por um organismo paritário, a Agência de Gestão e de Cooperação, para a exploração comum do conjunto dos recursos.

Os valores naturais da Guiné-Bissau estão entre os mais importantes da África ocidental. Esta região é caracterizada por uma vasta inter-penetração dos meios terrestres e marinhos e pela presença de numerosos e vastos estuários, um enorme arquipélago que emerge de águas marinhas pouco profundas, vastas extensões de mangais que servem de locais de reprodução e crescimento de várias espécies aquáticas, bancos de areia, bem como florestas sub-húmidas.

Estes habitats são essenciais para a sobrevivência tanto das espécies de interesse económico como das espécies classificadas a nível mundial como raras ou ameaçadas. Destas últimas, podem observar-se na zona costeira da Guiné-Bissau quatro espécies de tartarugas marinhas (em especial na ilha de Poilão, o maior local de nidificação da tartaruga verde Chelonia mydas da África ocidental), o manatim africano (Trichechus senegalensis), o chimpanzé (Pano troglodytes) e o hipopótamo (Hippopotamus amphibius). Esta região é igualmente reconhecida como uma das mais ricas de África em termos de aves migratórias provenientes do norte da Europa e da Ásia, entre as quais cerca de 1 milhão de patos limícoles que passam o inverno nos estuários do litoral e no arquipélago dos Bijagós.

A Guiné-Bissau possui actualmente seis áreas protegidas, das quais dois parques naturais (Tarrafes de Cacheu, Lagoa de Cufada), dois parques nacionais (Ilhas de Orango, Ilhas João Vieira e Poilão), uma reserva florestal (Floresta de Cantanhez, futuro parque) e uma área de gestão comunitária (Ilhas de Formosa, Nago e Chedia - Urok). Além disso, o Arquipélago Bolama-Bijagós foi classificado pela UNESCO, em 1996, como Reserva de Biosfera. A superfície destas áreas protegidas corresponde a 15% do território, mas não inclui todos os biótopos presentes no país.

Page 7: História da Guiné

Uma parte da população está instalada nestas áreas protegidas e depende quase exclusivamente da exploração dos recursos naturais. Consequentemente, a filosofia de gestão destas áreas é proteger o ambiente ajudando a população a resolver os seus problemas imediatos e valorizando os conhecimentos tradicionais ("parque com e para a população"). Cada parque natural, bem como a reserva de biosfera, é gerido por um Comité de Gestão (composto a 50% pelas comunidades locais), uma equipa de direcção e guardas. Existe um plano de gestão e um regulamento interno para cada parque.

A população rural da Guiné-Bissau pratica actividades como a agricultura, a pecuária, a pesca e a colheita florestal. A agricultura gera mais de metade do PIB e 85% dos empregos. Há disponibilidade de terras e os sistemas tradicionais de acesso à terra (geridos pelo chefe de aldeia ou pelo régulo) são respeitados enquanto direito consuetudinário. Os chamados "ponteiros" - proprietários agrícolas modernos -dispõem de concessões fundiárias atribuídas pelo Estado, as quais cobrem cerca de 300.000 ha (27% da superfície total arável) das melhores terras agrícolas do país e são consagradas essencialmente às produções frutíferas. As "tabancas" - comunidades rurais - realizam 80% do total da produção agrícola (e 90% da produção para auto-consumo), praticam agricultura itinerante e utilizam métodos tradicionais nas terras de aluvião ("bolanhas"), nos mangais e nas florestas. Há um défice de 50% no que diz respeito ao arroz e 60% dos outros cereais, e o pousio é cada vez mais substituído por plantações de cajueiros, uma cultura de rendimento incentivada pelo Estado.

A pecuária é essencialmente praticada de maneira tradicional e extensiva. Observa-se uma utilização ineficaz dos pastos, uma taxa de mortalidade elevada do gado juvenil, uma falta de cuidados veterinários e, na estação seca, uma transumância imposta pela falta de água e os fogos de mata. A pressão da caça é igualmente importante nas zonas leste e sul do país.

A grande produtividade da Zona Económica Exclusiva atrai pescadores estrangeiros, tanto a nível industrial como artesanal. O sector da pesca (industrial, semi-industrial e artesanal) contribui para 4% do PIB e para 40% do orçamento geral do Estado. Contam se cerca de 3.700 pescadores artesanais e um número considerável de pescadores estrangeiros, responsáveis por capturas anuais estimadas em 25.000 toneladas, das quais 10.000 toneladas são desembarcadas directamente nos países vizinhos. A maior parte dos pescadores artesanais guineenses praticam uma pesca de subsistência e detêm apenas 20% dos barcos motorizados. De forma geral, as principais pressões do sector da pesca são: a pesca excessiva, a captura de peixes juvenis e a utilização de técnicas de pesca proibidas. Os pescadores artesanais utilizam também grandes quantidades de madeira dos mangais para fumar o peixe. A fiscalização marítima, embora em franca evolução nos últimos anos, ainda é insuficiente.

Aquando do último inventário das superfícies florestais, realizado em 1985, estas representavam cerca de 2.034 milhões de ha, ou seja 56% do território nacional. Contudo, desde há vários anos, assiste-se a um processo acelerado de desflorestação, cujas causas se podem encontrar em práticas desordenadas no âmbito da agricultura, pecuária e pesca, mas também na carbonização. Com efeito, dado o preço muito elevado do gás butano, 90% dos agregados familiares utilizam, para a cozinha, a energia proveniente dos combustíveis lenhosos (carvão de madeira e madeira para combustão).

Page 8: História da Guiné

A pesquisa do petróleo na Guiné-Bissau começou em 1958 e mais recentemente foi possível estabelecer a presença de petróleo no subsolo terrestre e no mar. Contudo, até ao momento, os jazigos identificados não apresentam um grande potencial económico, porque os custos de exploração são elevados. Quanto aos minerais, os inventários discriminam 85, entre os quais 12 têm um interesse económico: areia, cascalho, argila, caulinite, laterite, rocha calcária, quartzo, granito, dolorite, bauxite, ilmenite e fosfato. Com excepção da bauxite (matéria da qual se extrai o alumínio), cuja reserva está estimada em 80 milhões de toneladas, os estudos indicam uma baixa presença de metais e de diamantes. Foram realizados vários estudos de viabilidade para a exploração de minerais mas até à data a exploração mineira continua a ser baixa.

A Guiné-Bissau possui recursos hídricos estimados em mais de 130 km3/ano em água de superfície e em 45 km3/ano em águas subterrâneas. Contudo, estes recursos não são utilizados de maneira eficaz: o país não possui esquemas de ordenamento das águas de superfície; na sequência da diminuição das chuvas e da redução do débito dos rios, estes sofrem de sedimentação; as águas subterrâneas do interior do país apresentam teores elevados de ferro e, na zona costeira, estas águas estão sujeitas à intrusão marinha; a rede das estações hidrométricas está inactiva. Menos de 40% da população tem acesso à água potável e menos de 20% ao saneamento.

Quanto à poluição atmosférica, trata-se de um problema que parece ainda não afectar o país. Cada cidadão emitiu, no ano de referência de 1994, cerca de 2762,51 kg E-CO2 (equivalente dióxido de carbono). O balanço emissão/sequestro de CO2 é muito positivo para a Guiné-Bissau.

A Guiné-Bissau ratificou vários acordos multilaterais ligados à protecção do ambiente:

- Convenção e protocolo sobre a protecção da camada de ozono- Convenção sobre a poluição atmosférica a longa distância- Convenção de Ramsar sobre as zonas húmidas de importância particular- Convenção sobre o comércio internacional de espécies da fauna e flora selvagens ameaçadas de extinção (« CITES »)- Convenção de Estocolmo sobre os poluentes orgânicos persistentes (« POP ») Convenção de Roterdão sobre o procedimento de anuência prévia no caso de certos produtos químicos (« PIC »)- Convenção que cria a União Internacional para a Conservação da Natureza (« UICN »)- Convenção relativa à conservação das espécies migratórias selvagens- Convenção de Basileia sobre o movimento transfronteiriço de resíduos perigosos- Convenção de Aarhus sobre a participação no processo de tomada de decisão e o acesso à justiça no âmbito doo ambiente- Convenção sobre a avaliação de impacto ambiental no contexto transfronteiriço- Convenção sobre os efeitos transfronteiriços de acidentes industriais- Convenção UNESCO para a protecção do património mundial, cultural e natural- Protocolo de Cartagena sobre a segurança biológica- Protocolo de Quioto sobre as alterações climáticas

Línguas

Page 9: História da Guiné

A língua oficial é o português, mas cerca de 10% da população domina também o francês. Entre as inúmeras línguas nacionais faladas contam-se o crioulo e as línguas nigero-congolesas dos grupos oeste-atlânticos (Fula, Balanta, etc.) assim como o Mandinga. A língua dos Bijagós muito diferente das restantes, com a particularidade de variar de uma ilha para outra.

A língua veicular é o crioulo, formado a partir do contacto do português com as línguas vernaculares como o Balanta e o Mandinga, principalmente. O crioulo, à base de vocabulário português mas cuja gramática é tipicamente africana, fala-se na Guiné-Bissau mas igualmente na Baixa Casamansa senegalesa. Está próximo do crioulo falado nas ilhas de Cabo Verde. No total várias centenas de milhares de pessoas falam ou compreendem este crioulo. Quase unicamente falado, o crioulo escreve-se contudo, quando necessário, com o alfabeto latino de acordo com convenções propostas pelo Ministério Guineense da Educação Nacional

É a gramática, e mais precisamente o sistema verbal, que demonstra os laços africanos do crioulo. Os verbos não se conjugam pelas flexões. O sistema verbal é peculiar: os verbos distinguem o perfeito do imperfeito e não tanto a cronologia: são partículas colocadas antes ou após do verbo que marcam os matizes. Assim, "na" caracteriza o imperfeito (acção que dura…); "ta" indica uma acção feita habitualmente (iterativa) e "ka" marca a negação. Estas três partículas são sempre colocadas antes do verbo.

Em contrapartida, a partícula "ba" colocada após o grupo verbal marca o perfeito e a precedência por exemplo:

I bay,"partiu" (sem partícula = pretérito perfeito); I ka bay,"não partiu"; I bay ba,"tinha partido"; I na bay,"parte, vai partir".

Religião

Na Guiné-Bissau, cerca de 45% das pessoas, principalmente os Fulas e os Mandingas, são muçulmanos e estão mais concentrados no interior do País do que na zona costeira. Os cristãos representam 5 a 8% e o resto da população, 47 a 50%, são adeptos das religiões tradicionais.

Antes da chegada do Islão e do Cristianismo, as religiões tradicionais prevaleciam na África Ocidental, incluindo na Guiné-Bissau. Hoje, pode-se falar de coexistência e é difícil traçar linhas claras entre os valores de cada uma.

Quase todas as religiões tradicionais são animistas e são baseadas na atribuição da vida ou da consciência a objectos ou fenómenos naturais. Embora algumas aceitem a existência de uma criatura suprema ou um criador, estes últimos são noções demasiado importantes para serem associadas a seres humanos.

Os aspectos mais importantes situam-se certamente no culto dos antepassados, totems, feitiços e magia. É interessante reter que, de acordo com a fé dos adeptos das religiões tradicionais, a terra pertence aos antepassados e, por conseguinte, é a única a não ser posta à disposição dos descendentes, e não pode, por conseguinte, ser vendida. Estes

Page 10: História da Guiné

princípios e crenças podem chocar hoje com os novos paradigmas da globalização e do neo-liberalismo.

O Islão, atingindo o Sahel em 900 AC, foi trazido na época por comerciantes que vinham daquilo que constitui hoje Marrocos e a Argélia. Na África Ocidental, tornou-se a religião da classe mais alta mas as pessoas comuns preferiam as suas crenças tradicionais. Ao longo dos séculos (até ao séc. XVIII), os governantes tentavam combinar o Islão com as tradições locais até ao ponto de lançar guerras santas (jihad) contra os não crentes. Daí a grande importância conseguida pelo Islão, inclusive sob as suas outras formas mais místicas e mais espirituais que se tornaram muito populares.

A influência europeia, incluindo o Cristianismo, cresceu durante a segunda metade do século XIX. As "guerras santas" começaram a orientar-se sobretudo contra os europeus, mais contra os franceses que penetravam cada vez mais no interior do continente, do que contra os africanos "infiéis". Estas guerras sucederam-se até 1880.

Hoje o Cristianismo está representado na Guiné-Bissau com igrejas e templos de várias confissões. O Islão continua a ser preponderante.

Cultura e Artes

Cerca de 27 etnias coexistem na Guiné-Bissau, o que dá lugar a uma cultura muito rica e diversificada.

Os povos da Guiné-Bissau continental compartilham muitos aspectos culturais com grupos similares dos países vizinhos tais como o Senegal e a República da Guiné, enquanto a cultura Bijagós é bem distinta.

No que diz respeito à música, o ritmo local - gumbé - é por vezes misturado de forma moderna com o zouk, o techno, o reggae e o rap. Os instrumentos tradicionais são o cora, o siko e o balafon (xilofone).

A dança está presente em qualquer cerimónia e cada etnia tem os seus gestuais particulares. O Bailado Nacional, criado em 1975, e os bailados de Bafatá reproduzem e coreografam as danças das cerimónias tradicionais.

A escultura é dominada pelas máscaras em madeira que representam frequentemente animais (touros, hipopótamos, peixe-serra).

Durante o desfile de Carnaval, festa anual de grande popularidade, são exibidas muitas dessas máscaras, dando lugar à expressão cultural das diferentes etnias. Também os jovens manifestam a sua criatividade, através de máscaras realizadas em papier mâché e pintadas a cores vivas.

Comércio

O caju (em castanha) representa mais de 95% das exportações do país. Principal destino: Índia, onde é transformado e reexportado (em amêndoa) para os mercados americano (60%) e europeu (40%). A exportação de caju transformado (amêndoa) é

Page 11: História da Guiné

inferior a 1% mas o sector apresenta um potencial enorme uma vez que o país dispõe de mão-de-obra barata e posiciona-se geograficamente mais perto dos mercados consumidores. Para além disso, o caju da Guiné, apesar de pequeno, é de excelente qualidade e tem um sabor particular que lhe confere uma procura acrescida. O sector da transformação do caju é extremamente interessante para o país, pois permite igualmente a produção de energia eléctrica através da queima das cascas da castanha do caju (biomassa) que têm um rendimento calorífico muito significativo.

Potencialmente, o país poderia igualmente exportar pescado e marisco, para além de frutas tropicais, particularmente mangas, e seus derivados. Todavia, ainda não o faz.

A Guiné-Bissau auto-suspendeu as exportações de pescado para a União Europeia por não dispor de laboratórios que lhe permitam efectuar um controlo rigoroso das medidas sanitárias e fitossanitárias (SPS). A UE tem contribuído para melhorar o equipamento desses laboratórios e vai continuar a fazê-lo até que seja possível exportar para os mercados da União. Até 2006 o país recebe 7,2 M€ anualmente da UE, como compensação da pesca efectuada pela frota Europeia nas suas águas territoriais.

A politica governamental tem apenas apoiado o Sector Privado pontualmente e resume-se a:

Estimular o enquadramento dos ponteiros ou proprietários de plantações de caju através de técnicas agrícolas que permitam aumentar o rendimento por hectare.

Tentar desenvolver o potencial da pesca industrial para a exportação

Em 2005, a Guiné-Bissau exportou menos de 52M€. Em 2006, devido a uma campanha de comercialização desastrosa por uma fixação demasiado alta do preço de referência, o resultou piorou. Há, no entanto, dificuldade em obter dados fiáveis, tanto em termos dos valores das exportações, como para as importações. Os valores do Eurostat apresentam diferenças consideráveis face aos números publicados localmente. Segundo as estatísticas europeias as importações em proveniência da EU são 3 vezes superiores às declaradas no porto de Bissau.

Os principais produtos importados são derivados de petróleo (50% das exportações), automóveis e maquinaria, cerveja e trigo.

O país tem agora pela frente o desafio das negociações do Acordo de Parceria Económica (APE) com a União Europeia. Este acordo é negociado ao nível da região da África Ocidental, que compreende os 15 países da CEDEAO e a Mauritânia. Até agora, as autoridades têm encarado a oportunidade destes novos acordos de uma forma muito positiva. Na verdade, o pais irá tentar compensar a potencial perda de receitas aduaneiras por um reforço importante de capacidades ao nível do Sector Privado, o que irá permitir uma redução do desemprego, acrescentar valor e aumentar as receitas fiscais do Estado, através dos impostos pagos pelas empresas e imposto profissional.

Economia da Guiné-Bissau

De 1974 para 1986, a Guiné-Bissau aplicou uma política económica estatal centralizada em linha com o antigo modelo soviético. As primeiras iniciativas de mudança tomadas

Page 12: História da Guiné

em 1983 foram confirmadas em 1986 pela conversão à economia de mercado. Da época soviética a única marca ainda visível é o facto de o Estado ser proprietário de todos os terrenos.

Em Maio de 1997, o País aderiu à União Económica e Monetária Ocidental Africana (UEMOA). Esta decisão contribuiu para pôr termo à instabilidade das políticas monetárias e para eliminar a deficiência da não convertibilidade do Peso, a antiga moeda. A Guiné-Bissau é igualmente membro da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) desde 1979.

A política monetária restritiva aplicada desde então permitiu uma redução drástica da taxa de inflação superior à 50% em 1995 à 10,8% em Junho de 1998 no início da guerra civil. A inflação em 2006 foi inferior a 3%, que é um dos critérios de convergência da UEMOA.

Em Dezembro de 2000, a aprovação de um quadro estratégico temporário de combate à pobreza permitiu ao País beneficiar do tratamento da sua dívida. Em Janeiro de 2001, a passagem para o Clube de Paris permitiu um reescalonamento dos pagamentos e a anulação parcial da dívida. No entanto, o período 200/2003 viria a revelar-se economicamente muito desfavorável ao país.

Em 2004, a situação das finanças públicas era marcada por uma deterioração dos saldos orçamentais, resultante de uma progressão mais importante das despesas em relação às receitas, o que viria a dar origem a um golpe de Estado. O relatório do FMI de Dezembro de 2004, mostra que o governo de transição conseguiu uma gestão das finanças públicas com melhorias significativas e o Ministério da Economia e Finanças fez esforços para melhorar a cobrança de receitas e assegurar o controlo das despesas públicas. Foi criado um Comité de Tesouraria para assegurar que as despesas estão harmonia com as receitas disponíveis.

Esta melhoria continuou durante a primeira metade de 2005, sobretudo devido a um bom ano agrícola que proporcionou um boa campanha do caju. A agricultura é a principal actividade na Guiné-Bissau: o arroz, o milho, o feijão, a mandioca e o algodão são cultivados para as necessidades domésticas, embora hoje em dia a Guiné tenha de importar quantidades significativas de arroz (12 M€ em 2005). No passadio chegou a exportar arroz e amendoim. Hoje em dia, a castanha de caju é o principal produto de exportação (cerca de 99% das exportações em 2005), muito acima dos produtos do Mar (peixe e camarão). Existem minas de bauxite e recursos petrolíferos não explorados junto à fronteira do Senegal. A actividade industrial é muito limitada com uma pequena indústria de transformação de produtos agrícolas. O potencial do turismo (sobretudo o Arquipélago dos Bijagós) também continua sub explorado sobretudo por falta de investimento estrangeiro que permita reabilitar ou construir infra-estrutura de base.

A actividade económica cresceu 3,5% em 2005 como consequência do bom ano agrícola e da estabilidade politica restaurada em 2004 e confirmada pelas eleições presidenciais de 2005. Em 2006, face a uma má campanha de comercialização do caju as receitas fiscais baixaram. O país gozou, no entanto, de um maior apoio em ajuda orçamental externa, nomeadamente da UE e das organizações regionais (CEDEAO e UEMOA).

Page 13: História da Guiné

Os problemas crónicos da energia e dos transportes continuam a dificultar a progressão económica da Guiné-Bissau. Para além disso, o reduzido número de quadros nacionais com formação superior também constitui um sério problema.

A luta contra a pobreza passa pelo desenvolvimento económico e, consequentemente, pela resolução do problema tripartido:

Educação Energia

Transportes

Fonte: ec.europa.eu

Guiné-Bissau

Guiné-Bissau Situada na costa oeste da África, a Guiné-Bissau possui um litoral de mangues repleto de pequenas ilhas que formam o arquipélago dos Bijagós. O rico ecossistema vem sendo rapidamente destruído pela prática da agricultura - o setor mais dinâmico da economia e que atualmente emprega 90% da força de trabalho. Grande parte da produção volta-se para a subsistência. Ainda assim, a Guiné-Bissau é um dos poucos países da África em condições de exportar alimentos - como peixes, castanha de caju e algodão. Mais de 20 etnias habitam o território e a maioria delas segue crenças tradicionais, com exceção de grupos expressivos - os mandingas e os fulanis - que se converteram ao islamismo durante o domínio árabe no continente.

Fatos Históricos

Sua história está ligada à do arquipélago de Cabo Verde, outra ex-colônia portuguesa. O domínio português começa no século XVI, quando habitantes de Cabo Verde estabelecem uma vila às margens do rio Cacheu. A região serve, então, de base para o tráfico de escravos e, nos séculos seguintes, será palco de várias revoltas pela independência. Em 1956, o intelectual cabo-verdiano Amílcar Cabral funda, no exílio, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Independência-Em 1961, o PAIGC inicia guerrilhas e, em 1972, controla dois terços do Estado. No ano seguinte, Amílcar Cabral é assassinado e os guineenses proclamam a independência, reconhecida pelo governo português em 1974. Luís Cabral - irmão de Amílcar - assume a Presidência e institui um regime de orientação marxista liderado pelo PAIGC, o único partido legal. O governo de Luís Cabral herda um país devastado e sua política econômica provoca escassez de alimentos. Cabral é deposto em 1980 por um golpe de Estado chefiado pelo general João Bernardo Vieira, veterano do partido. O golpe sela a separação entre o PAIGC da Guiné-Bissau e o de Cabo Verde, abortando o processo de unificação dos dois países, que rompem relações, reatadas mais tarde, em 1982.

Abertura

O processo de transição para a democracia começa em 1990, sob influência do colapso do comunismo no Leste Europeu. Em maio de 1991, o país adota o pluripartidarismo. Dissidentes do PAIGC formam o Partido da Renovação e do Desenvolvimento (PRD), de oposição. Como parte das reformas, a pena de morte é abolida em 1993. Apesar da

Page 14: História da Guiné

abertura política, o governo adia as eleições até julho de 1994, quando o PAIGC obtém maioria na Assembléia Nacional (62 das cem cadeiras) e Vieira é eleito para presidente, com 46,29% dos votos. Manuel Saturnino da Costa, também do PAIGC, é indicado para primeiro-ministro. A Guiné-Bissau adere, em 1997, à zona franca União Econômica e Monetária do Oeste Africano.

Rebelião militar

Depois de 18 anos no poder, o presidente João Vieira enfrenta um motim liderado pelo general Ansumane Mané - que fora demitido por Vieira da chefia das Forças Armadas em janeiro de 1998, acusado de fornecer armas à guerrilha separatista de Casamança, no vizinho Senegal. A rebelião começa em junho, com a ocupação de instalações militares e do Aeroporto de Bissau, a capital. Mané exige a renúncia de Vieira e nega que queira tomar o poder, prometendo eleições gerais imediatas.

Guerra civil

O avanço dos militares amotinados e o apoio que recebem da etnia diola, do norte do país (o mesmo grupo a que pertence a guerrilha senegalesa de Casamança), obrigam Vieira a pedir ajuda ao Senegal, que envia tropas em seu auxílio. Os violentos combates levam à saída de 2 mil estrangeiros que viviam no território, entre eles cerca de 200 cidadãos brasileiros. A continuidade da luta nos meses seguintes obriga a maioria dos 300 mil habitantes da capital a fugir para o interior, muitos tentando alcançar a fronteira com o Senegal. Em 26 de agosto, governo e rebeldes acertam o cessar-fogo sob mediação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), dando início às negociações de paz.

Fonte: www.mulheresnegras.org

Guiné-Bissau

DADOS PRINCIPAIS

Nome oficial: República da Guiné-Bissau.Nacionalidade: Guineense.Data nacional: 24 de setembro (Dia da Pátria).Capital: Bissau.Cidade principal: Bissau (233.000) (1995).Idioma: português (oficial), crioulo, dialetos regionais. Religião: crenças tradicionais 54%, islamismo 38%, cristianismo 8% (1992).

GEOGRAFIA

Localização: oeste da África. Hora local: + 3h. Área: 36.125 km2. Clima: equatorial. Área de floresta: 23 mil km2 (1995).

Page 15: História da Guiné

POPULAÇÃO

Total: 1,2 milhões (2000), sendo balantas 30%, fulanis 20%, maniacas 14%, mandingas 13%, papeles 7%, outros 16% (1996). Densidade: 33,22 hab./km2. População urbana: 23% (1998).População rural: 77% (1998).Crescimento demográfico: 2,2% ao ano (1995-2000). Fecundidade: 5,75 filhos por mulher (1995-2000). Expectativa de vida M/F: 43,5/46,5 anos (1995-2000). Mortalidade infantil: 130 por mil nascimentos (1995-2000). Analfabetismo: 63,2% (2000). IDH (0-1): 0,331 (1998).

POLÍTICA

Forma de governo: República, com forma mista de governo. Divisão administrativa: 9 regiões. Principais partidos: Renovação Social (PRS), Resistência da Guiné-Bissau-Movimento Bah-Fatah (RGB-MB), Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Legislativo: unicameral - Assembléia Nacional do Povo, com 102 membros eleitos por voto direto para mandato de 4 anos. Constituição em vigor: 1984.

ECONOMIA

Moeda: franco CFA. PIB: US$ 206 milhões (1998). PIB agropecuária: 62% (1998). PIB indústria: 13% (1998).PIB serviços: 25% (1998).Crescimento do PIB: 1,1% ao ano (1990-1998).Renda per capita: US$ 160 (1998). Força de trabalho: 1 milhão (1998). Agricultura: castanha-de-caju, algodão em pluma, algodão com caroço, palmito. Pecuária: bovinos, suínos, caprinos. Pesca: 7,2 mil t (1997). Mineração: Reservas não exploradas de bauxita e sal de fosfato. Indústria: alimentícia, bebidas (cerveja), beneficiamento de algodão. Exportações: US$ 49 milhões (1997). Importações: US$ 100 milhões (1997). Parceiros comerciais: Portugal, Holanda (Países Baixos), China, Japão, Espanha, Índia, França.

DEFESA

Page 16: História da Guiné

Efetivo total: 7,3 mil (1998). Gastos: US$ 15 milhões (1998).

Fonte: www.portalbrasil.net