guilherme studart - notas para a historia do ceara - 02

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  • 8/6/2019 Guilherme Studart - Notas Para a Historia Do Ceara - 02

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    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Captulo II O CAPITO-MOR MIRANDA HENRIQUES. O OUVIDOR VITORINO SOARES. AINDA AS MINAS DE S. JOS DOSCARIRIS. COMPANHIA DO OURO DOS CARIRIS. MINAS DAMANGABEIRA. INSCRIES LAPIDARES. CRIAO DE NOVASFREGUESIAS. JAC JANSEN MULLER.

    S UBSTITUINDOLus Diogo Lobo da Silva a Lus Jos Correiade S, a curiosidade pblica entrou a duvidar se o governo de Pernam-buco continuaria a promover os trabalhos de explorao nas minas de S. Jos dos Cariris ou se daria afinal razo ao Ouvidor Proena Lemos eseus partidrios que desde o comeo se lhe opunham pretextando que

    nos Cariris no havia ouro.Havia motivo para a preocupao popular.Ou porque a propaganda do ouvidor tivesse conseguido seus

    fins ou por causa da irregularidade das estaes, contra as quais sente-se vencida a tenacidade humana, o Cear poucos mineiros havia atrado asi, e por conseguinte tambm fracas eram as simpatias, que merecia aempresa aos homens de Lisboa, atentos sobretudo aos resultados finan-ceiros dela.

    Por outro lado, se a substituio de Quaresma Dourado porFrancisco Xavier de Miranda Henriques, o ex-governador do Rio Grande

    Sumrio

    Pgina anterior

    http://hist_ceara-01.pdf/http://hist_ceara-00.pdf/
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    do Norte por patente de 10 de julho e posse a 18 de dezembro de 1739,

    que entrou a administrar o Cear a 22 de abril de 1755 tendo sido no-meado a 19 de dezembro do ano anterior, livrava a Jernimo de Paz deum opositor, a retirada de Correia de S privava-o do mais vigoroso esteio,sendo at muito para admirar que no se ressentisse de desnimo a direodada por ele aos negcios da Intendncia nem diminussem de energia seusatos, sempre apoiados por superior, que conhecia-o pessoalmente e neletinha ilimitada, cega confiana, o que no sucedia com aquele a quemhavia passado as rdeas do governo.

    Theberge pg. 176 doEsbood ao sucessor de Dourado onome de Francisco Xavier de Meneses Henriques e diz que ele assumiuo governo a 22 de abril de 1753, data evidentemente errada pois h atosoficiais de Dourado posteriores a ela. Exemplo, o seu cumpra-se na CartaRgia de 6 de dezembro de 1754 com referncia ao provimento dos of-cios dos auditrios da capitania.

    Pompeu chama-o Francisco Xavier de Miranda Albuquerque pg. 507 doEns. Est ., vol. I.

    No era, porm, o novo tenente-general homem que concor-resse para um golpe decisivo contra as minas; aprouve-lhe recorrer pri-meiro a expedientes, que lhe dessem o conhecimento inteiro do que elasrealmente valiam.

    Verificado que a explorao daqueles terrenos no correspon-dia s altas esperanas, que nela foram postas em comeo, entendeuadaptar um alvitre, que em outras empresas fora seguido de resultado, eento de acordo com planos seus foi organizada uma Companhia sob ottulo de Companhia do Ouro das Minas de S. Jos dos Cariris, comdurao de um ano, entrando nela vinte e um interessados, obrigados aapresentar para o servio certo nmero de escravos.

    A medida parecia boa, e no caso de serem produtivas as minasinfalvel era o lucro, porque a muitos interessava o emprego de avultadoscabedais, donde o empenho, o esforo, a proteo em favor da empresacomum.

    Cresceram mesmo as esperanas do bom resultado a pontode alguns senhores de engenho darem os passos precisos para organiza-o de uma segunda Companhia, mas no vingou essa pretenso por se

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    lhe ter oposto o governador sob o pretexto, justo alis, de prejuzo grave

    agricultura, que ficava assim privada de crescido nmero de braos.Intentaram os Senhores de Engenho, diz Lobo da Silva aoMinistro Tom Corte-Real,1 formar uma nova companhia para o mesmoefeito, lhe respondi que no teria dvida a convir no que me pediam, con-tanto que me apresentasse cada um certido em forma, por onde constas-se terem as lotaes dos seus engenhos cheios da escravatura, que lhescompetia, no s relativa fabrica do acar, mas tambm agriculturada cana, que o produz, e da mesma sorte os seus lavradores, o que no

    satisfizeram por no terem quase todos a que lhes preciso.E, acrescenta o governador, para que os mais ramos damesma no padecessem, quando as minas florescessem, publiquei logobandos por todo o distrito deste governo em que proibi que pessoa al-guma pudesse ir para elas sem passaporte meu, obrigando-as a quequando o pretendessem, mostrassem o exerccio e ocupaes em que seempregavam, para deste modo o no permitir aquelas que sendo ocupa-das na mesma agricultura a pretendessem desamparar para seguir estecaminho em seu prejuzo, o que me sugeriu a idia da referida Compa-nhia que toda se comps de escravos novos, que a no ficarem nestaCapitania pelo princpio referido seguiram o caminho das Minas Geraispelo Rio para onde foram os mais, que com eles vieram dos portos de frica, em que foram resgatados, por ser a sada que lhe costumam daros negociantes desta Praa e da Bahia.

    E agora ajunto eu: como entedia e envergonha a uma alma decearense essa recordao de fatos, que se ligam ao nefando trfico dosnegros, ao cativeiro de uma raa infeliz na terra livre da Amrica!

    No foram estes com certeza os primeiros africanos que aporta-ram s nossas plagas; em 1742, por exemplo, arribou Fortaleza o Bergan-timN S do Socorro, S. Antnio e Almas,contra mestre Antnio Carvalho, vinda da Costa de Guin com carregamento de escravos.

    Conheo os autos de justificao do contramestre perante ojuiz ordinrio alferes ngelo Dias Leite, em um dos itens do qual ele de-clara no haver no Cearcarapinas da Rib.a e menos tabuados, calafates nem

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    1 Carta de 27 de fevereiro de 1757.

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    breu e os mais aprestos com que se pudesse consertar a embarcao a fim

    de seguir para o porto de destino. A 3 de agosto de 1756 assentou-se definitivamente na organi-zao da Companhia do Ouro das Minas dos Cariris, estando presentes reunio o governador Lus Diogo Lobo da Silva, o ouvidor de Pernam-buco Joo Bernardo Gonzaga, o ouvidor da Paraba Domingos Monteiroda Rocha, o juiz de fora Dr. Joo Rodrigues Colao, o provedor e o pro-curador da Fazenda Real Joo do Rego Barros e Caetano Ribeiro Soares.

    Ficou ela constituda pelos associados seguintes: Jos VazSalgado, Manuel Correia de Arajo, Domingos Marques, Antnio JosBrando, Flix Garcia Vieira, Henrique Martins, Lus da Costa Monteiro, Antnio Jac Vioso, Antnio da Silva Loureiro, Antnio Pinheiro Salga-do, Manuel Gomes dos Santos, Patrcio Jos de Oliveira, Antnio daCunha Ferreira, Jos Silvestre da Silva, Lus Ferreira de Moura, ManuelLeite da Costa, Antnio Gomes Ramos, Domingos Pires Teixeira,Guilherme de Oliveira e Silva, Domingos Ribeiro de Carvalho e Miguel Alves Lima.

    Como possuo um documento, contendo as clusulas do con-trato, e estipulando as diversas condies com que estabeleceu-se aCompanhia, apresso-me a dar-lhe publicidade mesmo porque o conhe-cimento dele dispensa-me de muita explicao para com o leitor.

    Esse interessante documento concebido nos seguintes ter-mos: Condies com que se estabelece a nova Companhia para odescobrimento das minas novas de S. Jos dos Cariris Novos compostada Escravatura em que os interessados convier e vinte mil-ris por cabe-a para efeito de se examinar se faz ou no conta para beneficiar as ditas

    minas. 1 No se receber na dita Companhia, escravo que noseja avaliado por trs dos interessados inteligentes em que os mais con- vierem nem tambm se aceitar nenhum dos que no tiverem as quali-dades proporcionadas ao trabalho a que se destinam, com declaraoque os escravos que derem os avaliadores sero avaliados por outros trsinteressados da mesma Companhia.

    2 Os interessados que no derem escravos da qualidadereferida sero obrigados a dar o seu valor regulado pelo que comumentecostumam custar a dinheiro de contado nesta Praa.

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    est disposto nas primeiras tendo estes preferncia a duas datas, uma

    como descobridores, e outra como mineiros.8 Junto o cmputo de todo o ouro que tirarem os escra- vos da Companhia ao depois de pago o quinto tirar um dcimo da suaimportncia o qual se repartir em duas partes, uma pertencer ao feitorque se eleger para governar a mesma Escravatura, e outra se dividir empartes iguais aplicadas para os dois ajudantes do mesmo feitor sendo-lhenecessrios, que a no serem se dar em benefcio da mesma Compa-nhia.

    9 E por evitar embarao que pode causar o receio do quea dita poro no chegue a quantia que comodamente possa suprir adespesa necessria do dito feitor pala a subsistncia e para os ajudantesnas partes que se lhes destinam, ficar a Companhia obrigada a perfa-zer-lhe tudo o que faltar para inteirar a quantia de duzentos e quarentamil-ris por ano, e de cento e vinte mil-ris a cada um dos ajudantes semque por este meio se lhe diminua quando exceda as ditas pores a refe-rida quantia.

    10 O feitor nomeado pela Companhia eleger os dois aju-dantes mencionados procurando que estes tenham as qualidades de ver-dade e inteligncia que se requerem para o dito ministrio, e reconhe-cendo estas os aceitar dando parte Companhia a qual os aprovarquando entenda serem convenientes que a no ser procurar outros asatisfao da mesma, ficando inteiramente servindo os ditos eleitos en-quanto os caixas no determinarem o contrrio, e houver outros que lhesucedam.

    11 Ser obrigado o dito feitor a dar parte aos caixas da

    Companhia de tudo o que houver nos descobrimentos, lavras, interesses,adiantamento e prejuzo da mesma, fazendo com toda a exao relaode todas as circunstncias que houverem e avisando aos interessados detudo o que lhe possa ser conveniente segundo as ordens que a este res-peito pelos mesmos caixas lhe forem dadas.

    12 Que findo um ano contado do dia em que principiarem atrabalhar no descobrimento das ditas minas os escravos da dita Companhiae achando que no dito tempo no faz conta aos interessados poder a ditaCompanhia positivamente por seus caixas mandar retirar a Escravatura quelhe pertencer para esta Praa e nela se venderem, e do rendimento da dita

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    Escravatura se repartirpro ata conforme a parte com que tiver entrado

    para a dita Companhia cada um dos interessados nela.13 E como presentemente por parecer unnime de todosos interessados se acha eleito para administrar a Escravatura da Sociedadeo scio da mesma Companhia Antnio Jac Vioso pela ao que nelatem ao qual data todos os poderes, que nos captulos antecedentes seconferiram ao feitor e pelo trabalho da sua administrao lhe do cincopor cento de todo o ouro que se extrair depois de pagos os quintoscomo tambm o levar s fazendas por sua conta com condio que atodo o tempo que o dito administrador e scio, ou pela sua parte, oupela dos interessados se separar da dita administrao, sair com aquelesescravos que tiver metido, exceto os que destes lhe faltarem por mortosou ausentes, porque nesta parte faz o prejuzo por sua conta ficando emtodas as outras igual a sua condio.

    14 Com declarao porm que todas as ditas condies comque se estabeleceu esta Companhia sero literalmente entendidas e no te-ro validade e subsistncia por mais tempo que aquele que por S. Majestadefor servido; porque em tudo o que o dito Sr. quiser as poder haver porcassadas, e abolidas sem que por isso tenham direito os interessados de po-derem pedir Sua Real Fazenda indenizao dos prejuzos que sentirem. R.de Pernambuco trs de agosto de mil setecentos e cinqenta e seis. LusDiogo Lobo da Silva. Joo Bernardo Gonzaga. Domingos Monteiro daRocha. Joo Roiz Colao. Joo do Rego e Barros. Ribeiro Soares. ManuelCorreia de Arajo. Antnio Jac Vioso. Henrique Martins. DomingosPires Teixeira. Antnio Pinheiro Salgado. Jos Vaz Salgado. Manuel Gomesdos Santos. Jos Silvestre da Silva. Domingos Marques. Antnio GomesRamos. Lus da Costa Monteiro. Lus Ferreira de Moura. Antnio da SilvaLoureiro. Flix Garcia Vieira. Guilherme de Oliveira e Silva. Antnio daCunha Ferreira. Patrcio Jos de Oliveira. Antnio Jos Brando. Miguel lvares de Lima. Manuel Leite da Costa.

    De acordo com as clusulas do contrato, tiveram os diversosassociados de entrar para o servio de explorao com escravos e o di-nheiro correspondente.

    Como ficaram distribudas as respectivas quotas vai dizer-noso Livro das Entradas, um caderno de algumas folhas de papel, que feliz-mente nos foi conservado e de que ora dou notcia.

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    Lembrana das Entradas, que fizeram para aCompanhia das minas de S. Jos dos Cariris

    O Sr. M.-de-Campo, Jos Vaz Salgado. Por 2 negros Ladinos e Angolas, Mi-guel com bastantes sinais de bexigas no rosto, Antnio bastantemente alto eos beios grandes principalmente o de cima, avaliados ambos em . . . . . . . . 180$000Por 3 negros novos da Costa avaliados em . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 280$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100$000

    560$000

    O Sr. Sargento-mor Manuel Correia de Arajo. Por 2 negros a saber: um crioulomoo e barbado por nome Matias, em cento e dez mil rs., e um negro Angola, Miguel Correia, com sua barba, em oitenta mil ris ambos. . . . . . .190$000Por um negro novo da Costa, em cento e dez mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110$000Por 4 negros novos de Angola, em trezentos e cinqenta mil rs . . . . . . . . . 350$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140$000

    790$000O Sr. Capp.m Domingos Marques . Por 3 negros novos de Angola, avaliadosem duzentos e sessenta mil rs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .260$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60$000

    320$000O Sr. Capp.m Antnio Jos Brando. Por 4 negros novos de Angola avaliadosem trezentos e quarenta e nove mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .349$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80$000

    429$000O Sr. Capp.m Flix Garcia Vieira . Por 5 negros novos de Angola, avaliadosem quatrocentos e cinqenta mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .450$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100$000

    550$000O Sr. Capp.m Henrique Martins . Por 1 negro Ladino de Angola, por nomeMiguel, digo Andr, de estatura mediana, com sua barba, nariz chato, asmos curtas e grossas, avaliado em. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .80$000Por 3 negros novos Angolas, em trezentos mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 300$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80$000

    460$000

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    O Sr. Capp.m Lus da Costa Monteiro. Por 3 negros Ladinos a saber um crioulo

    Matias, bastantemente alto, e um gervasio na face esquerda, em cem milrs., e outro crioulo Joaquim, com bastante marcas no rosto e de medianaestatura, em noventa mil rs. e um negro barbeiro, Angola, baixo e barba-do em noventa e cinco mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .285$000Por 1 negro novo da Costa com sua barba em oitenta mil rs. . . . . . . . . . . . 80$000Por 1 negro novo Angola em noventa e seis mil rs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96$000Pelo que deu, em dinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100$000

    561$000O Sr. Manuel Gomes dos Santos . Por 1 crioulo por nome Manuel, estaturaalta, e barbado, em cento e noventa mil rs. digo em cento e vinte mil rs. . .

    120$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20$000140$000

    O Sr. Capp.m mor Antnio Jac Vioso. Por 1 negro Angola Ladino comsua barba, mineiro e barbeiro por nome Pedro em cento e vinte mil rs. . . .120$000Por 1 moleque crioulo por nome Lus em oitenta mil rs . . . . . . . . . . . . . . . 80$000Por 1 negro Ladino, mineiro por nome Antnio e um moleco tambmLadino por nome Antnio, ambos em duzentos e vinte mil rs . . . . . . . . . . 220$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80$000

    500$000O Sr. Capp.m Antnio da Silva Loureiro. Por 3 negros novos da Costa avalia-dos em trezentos e trinta mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .330$000Por 1 negro de Angola em oitenta e seis mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80$000

    496$000O Sr. Antnio Pinheiro Delgado. Por 2 negros novos da Costa avaliados emduzentos e quarenta mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .240$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40$000

    280$000

    O Sr. Patrcio Jos de Oliveira . Por 1 negro de Angola avaliado em oitenta mil rs.80$000Por 3 negros novos de Angola, em duzentos e trinta e oito mil rs. . . . . . . . 238$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80$000

    398$000O Sr. Sargento-mor Antnio da Cunha Ferreira . Por 2 negros novos de Angola,em duzentos mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .200$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40$000

    240$000

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    O Sr. Jos Silvestre da Silva . Por 5 negros novos de Angola avaliados em

    quatrocentos e trinta mil rs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 430$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100$000530$000

    O Sr. Lus Ferreira de Moura . Por 4 escravos novos de Angola avaliadosem trezentos e quarenta e quatro mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .344$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80$000

    424$000O Sr. Capp.m Manuel Leite da Costa. Por 1 negro novo de Angola emoitenta e seis mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20$000

    106$000O Sr. Antnio Gomes Ramos. Por 2 negros novos de Angola em cento enoventa e dois mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .192$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40$000

    232$000O Sr. Domingos Pires Teixeira. Por 4 negros novos de Angola, em trezentos eoitenta mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 380$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80$000

    430$000O Sr. Sargento-mor Domingos Ribeiro de Carvalho. Por 2 negros Ladinos umpor nome Joo S. Amaro, do calhaba, de boa estatura, em cem mil rs., eoutro Joaquim S. Tom, benguela, em setenta mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . .170$000Pelo que deu em dinheiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40$000

    210$000O Sr. Sargento-mor Miguel lvares Lima . Por 1 negro Ladino de Angola Congopor nome Manuel avaliado em oitenta e cinco mil rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .85$000

    Pelo dinheiro que ainda no deu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20$000105$000

    Pernambuco, 29 de outubro de 1756.Sob a direo de Jac Viosa, que segundo a clusula 13 do

    contrato ficou sendo o administrador da Companhia, partiu de Pernam-buco a 19 de novembro de 1756 a expedio, que havia sido ajustada, echegou aos Cariris sem maior incidente.

    Arranchou-se Jac Vioso na fazenda chamada do Juiz, trslguas das Lavras do Morro Dourado, nome este dado aos outeiros, que

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    faziam cabeceira aos riachos das Crioulas e Tabocas, e perto daqui man-

    dou preparar alojamentos.Oito dias depois chegavam ao dito lugar com o restante dosescravos Jos Pinto e Manuel Jos, com quem ter Vioso de abrir lutamais adiante.

    Dos 73 escravos do contrato um morrera mesmo no Recife,outro aqui ficara atacado de sarnas, outro falecera em caminho, umquarto ficara por doente no Aracati de modo que apenas 69 chegaram aseu destino,

    Ainda no havia 2 meses que chegara igualmente, de volta doRecife, o intendente Jernimo de Paz, tendo atravessado pelo rio do Pei-xe a fim de vir examinando de caminho os trabalhos executados no rioSalgado e Morro Dourado.

    Chamara-o a Pernambuco um convite do capito-generalpara examinar a natureza das minas e lhe dar as providncias a entrar na verdadeir gncia da utilidade ou prejuzo, que a seu benefcio se seguia.2

    A presena do Intendente, a quem Lobo da Silva facilitaratodo o dinheiro preciso para o resgate do ouro, que fosse aparecen-do, emprestou um certo vislumbre de animao aos descobrimentose procurou algum resultado favorvel Fazenda Real, o que infeliz-mente no tinha conseguido o Tenente Pugas enquanto estiverasubstituindo-o.

    Com a expedio de mensageiros para todos os pontos, emque se procedia as escavaes, a resgatar ouro e fiscalizar a cobrana doquinto, e com tomar medidas de rigor contra os desencaminhadores econtrabandistas, pde Jernimo de Paz remeter a 15 de dezembro de1756 para Pernambuco cinco libras de ouro compradas a diversos, entreos quais Custdio Cardoso Vilar e Bento Nogueira, da bandeira dospinars.

    Nessa remessa, de que foram portadores o cabo LucianoGameiro e os soldados Lus Pais e Jos Furtado, figuram trs folhetas deouro de considervel valor, uma sobretudo com mais de sessenta oita-

    Notas para a Histria do Cear 83

    2 Carta de Lobo da Silva em 18 de janeiro de 1759 a el-Rei.

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    vas, das quais j havia notcias em Pernambuco embora no se lhes co-

    nhecesse o paradeiro.Sobre essas folhetas diz Jernimo de Paz ao capito-general:3

    As folhetas fiz ir em pacote parte para que V. Ex se quiserter a curiosidade de as ver logo e mostrar mais facilmente o possa fazer:entre elas vai uma de mais de sessenta oitavas, de que j havia notcia emPernambuco, quando ainda eu me achava nessa Praa, e l a ocultavampor meio algum excogitado sem ainda saber onde ela verdadeiramenteparava e por fortuna me veio mo e escapou de cair nas garras de Jac Jansen, em cujo poder havia cado algum do ouro que tinha tirado o ne-gro, que a achou, a ttulo de lhe pr corrente a liberdade que tem litigio-sa, e de precioso guardar em segredo a quem comprei porque receia estenegro que se descair na contenda, que tem sobre a alforria com o seupatrono, lhe possa este ao depois por ela maior preo sabendo que temachado esta folheta e mais algum ouro.4

    Esta tal folheta tem alguma pedra, porm por lhe no dimi-nuir a galanteria de ir inteira no quis consentir se batesse, com o receiode a fora dos golpes se despedaasse. Jos Rodrigues de Azevedo colheessa outra de trinta oitavas e meia, que logo me remete. Um rapaz bran-co e novato, filho de Portugal, se topou com a terceira, que tem mais deoito oitavas, em dois do corrente.

    Na mesma ocasio remeteu ele uns casulos com a seguinte in-formao:

    Tambm com esta envio uns casulos que julgo de seda, quese acham em vrias partes destes sertes e pelo caminho achei esses:que julgo sustentarem-se os maiores e mais brancos em a folha de aroei-ra e os mais pequenos na de um arbusto, que por c lhe chamam mar-meleiro, porque s nesta rvore observei que se achavam. Estes tais ca-sulos s se descobrem na fora da seca quando j no tm folhas as r- vores, que no tempo de estarem frondosas que quando ainda poderoestar vivos os bichos se encobrem de sorte que s por muito grande eraro sucesso se achar algum.

    84 Guilherme Studart

    3 Carta de 15 de dezembro de 1756.

    4 Verifiquei num documento que em abril de 1757 a questo de liberdade foi deci-dida em favor de Caetano, que assim se chamava esse negro.

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    Era naturalssimo que pelos Cariris e vizinhana no faltas-

    sem desencaminhadores de ouro e contrabandistas.Por sua parte o Intendente tambm no os poupava e nessepropsito auxiliou-o com empenho Vitoriano Soares, quando por l an-dou, no em companhia de Dourado em 1752 como escreveu, segundo vimos, Joo Brgido nosApontamentos para a crnica do Cear e nosApon- tamentos para a Histria do Cariri , folheto que reproduz aquele, sim nosprincpios de 1757.

    Por isso foram presos, entre outros, um negro do Padre Ant-

    nio Correia Vaz (o dono da data do Cari, em que trabalhava CustdioCardoso Vilar), Bento da Rocha, um negro pertencente a uma pessoa de Jacobina, o negociante Antnio Machado e uma negra forra chamada Josefa Maria, moradora no Morro Dourado, e foram pronunciados JooFigueira Correia de Melo, morador na vila de Goiana, e o cabo-de-esqua-dra Joaquim Henriques Leito, que estivera em Fortaleza servindo com ocapito-mor Miranda Henriques.

    A 3 e 29 de abril de 1757 novas remessas de ouro foram con-duzidas ao Recife, sendo portadores o sargento de artilharia Teodsio Teixeira, o cabo Francisco Camelo Pessoa e os soldados Manuel deOliveira, Manuel Coelho Borges e Manuel da Cruz.

    Parecia que afinal a fortuna dignava-se sorrir aos mineiros e osucesso ia sancionar as previses de Correia de S.

    Com efeito estavam fazendo-se por ltimo importantes acha-dos.

    Em 14 de abril de 1756 eram encontradas as lavras do MorroDourado, no vero do mesmo ano eram as do Serrote do Cachimbo quedeixavam-se descobrir, e principiava muito favorvel o ano de 1757 por-que logo em fevereiro fizeram-se descobrimentos no lugar chamado La-goa Seca, entre as fazendas do Juazeiro e da Pendncia dos Carmelitasde Goiana, e em maro numa chapada das terras dos Monges Beneditinosde Olinda, entre as fazendas do Juiz e Vargem Redonda, e uns morroschamados os Altos do Garrote entre a fazenda do Boqueiro, de Afonsode Albuquerque, comandante da Muribeca, e a da Mangabeira, do Padre Antnio Gonalves Sobreira, morador em Paratibe.

    Notas para a Histria do Cear 85

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    O lugar Lagoa Seca ficava em terras do capito-mor Estvo

    Jos Carneiro da Cunha, pai de Joo Carneiro, e nos Altos do Garroteestavam as Lavras de S. Gonalo ou da Mangabeira, ou do Garrote, quecom todos esses nomes eram elas conhecidas.

    Joo Carneiro da Cunha, filho do capito-mor Estvo e desua mulher Dona Antnia da Costa Gadelha, foi genro de Jos Vitoria-no Borges da Fonseca.

    O governador do Cear teve trs filhos: Francisca MargaridaEscolstica, que nasceu a 2 de maio de 1737 e faleceu a 27 de novembro

    de 1740, Dona Maria Joana da Graa das Mercs e do Rosrio, que nas-ceu a 13 de maro de 1754 e foi batizada a 25 na igreja do So Sacra-mento e Dona Ana Francisca Eugnia do Rosrio, que nasceu a 16 desetembro de 1761 e foi batizada na mesma igreja a 4 de outubro.

    Com a segunda, Dona Maria Joana, foi que Joo Carneiro efe-tuou casamento, o qual foi celebrado a 19 de abril de 1773, dia de NossaSenhora dos Prazeres.

    fato, portanto, que s quase 5 anos depois de iniciadas as

    exploraes das Minas de S. Jos dos Cariris foi que teve lugar o desco-brimento das Lavras de S. Gonalo, chamadas da Mangabeira, provavel-mente, do nome da fazenda pertencente ao Padre Sobreira, e que seusexploradores foram os mesmos que por aquele distrito andavam de hmuito empenhados na busca de terrenos aurferos e no alguns naturaisda provncia de Minas, como sups o nosso pranteado patrcio Dr. JosPompeu pg. 196 do seu interessante e apreciado livroCorografia da Provncia do Cear .

    Portanto, tambm, a assero emitida pelo Senador Pompeu,5

    Theberge6 e Joo Brgido7 de que em julho de 1752 o capito-morDourado e o ouvidor fizeram a viagem do Cariri para dar impulso ex-trao do ouro das Minas de Mangabeira de todo errnea por adiantarde 5 anos esse fato da histria do Cear no qual no podiam influir osdois, e que s anos depois havia de realizar-se.

    86 Guilherme Studart

    5 Ensaio Estatstico,pg. 271.6 Esboo Histrico,pg. 171.7 Resumo Cronolgico,pg 93.

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    Nas Minas da Mangabeira estiveram no comeo do presente

    sculo Joo da Silva Feij, saindo dali para a Mina do salitre de Tatajuba,segundo as ordens do governador Bernardo M. de Vasconcelos, e essegovernador. H mesmo umaMemria sobre elas devida pena do ilustrenaturalista. Intitula-seMemria sobre as antigas Lavras de Ouro da Mangabeirada Capitania do Cear e divide-se em 13 captulos. Diz o autor em cartade 11 de dezembro de 1800 ter confeccionado em 5 dias.

    Ao mesmo tempo que Feij entregava-se, e sempre com pro- veito, s investigaes cientficas sobre o Cear, era Minas Gerais per-corrida por Jos Couto, outro infatigvel mineralogista.

    Tive ocasio de dar-me leitura de interessantes monografiassuas. Lembro-me bem que uma delas era umaMemria sobre as Nitrateiras Naturais e Artificiais do Monte Rorigo na Capitania de Minas Gerais, 18,com 51 pginas e 1 mapa e oferecida, j se v, a D. Rodrigo de SousaCoutinho, e que outra tinha por ttuloMemria sobre as Minas de Cobalto da Capitania de Minas Gerais oferecida ao Visconde de Anadia e escrita em1805.

    Esta continha 36 pginas sendo que a ltima delas trazia cor-rees a outro trabalho feito pelo autor em 1801.

    Dando conta das Lavras de S. Gonalo diz Jernimo de Paz aLobo da Silva:8

    Pelo inverno tm essas Lavras agora to perto e mais do queas tm na ponte do Varadouro ao Palcio de Olinda ou igreja de S.Bento, e pelo vero lhes pode ficar o rio Salgado na maior distncia doque est descoberto como desse Palcio de V. Ex igreja do Livramen-to ou da Penha, e em parte muito mais perto, e por um terreno to pla-no e assentado como o em que est situado essa vila do Recife ou a po- voao da Boavista, sem mais que uma pequena ladeira, menos rude quea subida do Varadouro.

    Se se fizesse em tempo conveniente uma tapagem ou aude,para o que oferece o terreno muita comodidade me parece que conser- variam agora no riacho que corre junto s Lavras por boa parte do ano,e que em boa parte dele teriam agora prxima para fazerem qualquer

    Notas para a Histria do Cear 87

    8 Carta de 29 de abril de 1757.

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    servio: muitos conhecem esta convenincia porm no h quem se re-

    solva a gastar um ou dois dias de servio fora de tirar cascalho e lav-lopara aproveitar o pouco que rende semelhante gnero de trabalho quantomais o de fazer um servio, que demanda tempo, pacincia, trabalho,gasto e disposio.

    A descoberta entre a fazenda do Juiz e Vargem Redonda iadando ocasio a grave distrbio por pretenderem todos minerar ali comprejuzo da Companhia e do Padre Manuel e Jos Gonalves, que ti-nham sido os descobridores.

    Por esse tempo fizeram-se modificaes no pessoal da Inten-dncia. Aproveitando-se da autorizao, que lhe fora dada de prover in-terinamente os ofcios vagos, Jernimo de Paz passou portaria para ser- vir de substituto do rio Salgado ao Capito Jos Rodrigues de Azevedo epara meirinho-geral da Intendncia a Lus Pereira de Magalhes.

    Parece que a primeira dessas modificaes, apesar do que sa-bemos de Jernimo de Paz, no foi das mais acertadas ou pelo menosfoi desproveitosa Companhia do Ouro; o que deduz-se das queixas

    feitas por Jac Vioso em carta de 28 de abril de 1757. Dela destaque-mos o trecho, que a isso se reporta:As sessenta braas de terra que avisei estavam para se partir

    o guarda-mor e o seu substituto e escrivo Jos Roiz usaram de seu cos-tume, pelo comandante no estar presente, tomando para si os seus ad-juntos uma data rica, e o resto que nada tinha cederam Companhia eao povo, obrando o dito Jos Roiz na beta passada o mesmo, tomando voluntariamente o que quis para se acomodar a si e aos negros do guar-da-mor, que entre ambos fazem to boa harmonia que assim como agrandeza que para o terreno chamavam avultada lanam os negros to-dos aquela parte e acabada esta vo plantar canas e rosas de que ordina-riamente vivem, e s mineram como quem joga por negcio, enquantoaproveitam o que talvez usurpam pobreza sem se repartir conforme oRegimento.

    Este envolver no dito Jos Roiz no costume atual que deMinas, Bahia e da vila do Ic saiu pelo mesmo efeito, e de presente pelocapito-mor do Cear determinado fora desta Capitania amparando-sedo guarda-mor se estabeleceu neste lugar.

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    Na Mangabeira quis o dito fazer o mesmo efeito, vista do

    comandante, o que lhe no surtiu como imaginava, e o dito comandanterepartiu ao seu arbtrio com aplauso de todos exceto os dos que pormodo subir queriam permanecer no seu costume.

    Este Jos Roiz declarado prejudicou a Companhia e me per-turba buscando sujeitos para com as vozes infamar negros da Compa-nhia, feitores e talvez a mim para que com harmonia de no saberemminerar se escurea que usurpa o que se devia repartir com o comum.

    Ou por fraqueza de ndole e portanto pouca aptido para a

    luta e para a defesa dos interesses confiados sua guarda, ou porque en-contrasse realmente dificuldades insuperveis, Jac Vioso em toda suacorrespondncia revela-se, pode-se dizer que logo desde a sua chegadaaos Cariris, um homem pouco apto a levar avante empresas como a daCompanhia de que era administrador.

    No haviam decorridos 3 meses depois que chegara do Recifee j escrevia em carta de 15 de fevereiro de 1757 lembrando a conve-nincia dela retirar dos Cariris quarenta escravos e vend-los pondo a ju-ros o dinheiro obtido com a venda porque, dizia, sustent-los todosno tempo presente perdio certa, e se houver quem diga os escravosse podem ocupar na faisqueira respondo que os angolas este ano se nopem capazes e os minas so muito poucos e so os com que me achopara qualquer servio; um ms depois (carta de 28 de maro) mandavadizer ao sargento-mor Correia de Arajo, eu, senhor, acabado o ano,quer haja muitos haveres quer poucos, levando gosto Sua Exa. e V.Mc., pretendo sair da Companhia e juntamente da administrao e sefor antes receberei merc, porque tenho por certo se for perdurvel sairaniquilado, e j alguns opostos tenho.

    No era, portanto, Jac Vioso o homem, que as circunstn-cias requeriam.

    Mesmo assim conservou-se ele na administrao por 14 me-ses e 12 dias sendo afinal substitudo por Jos Pinto depois de haverprestado contas a Guimares Fixier e dois auxiliares mandados do Recifede propsito para isso. Do balano da Companhia v-se que seu orde-nado era de 20$000 ris mensais.

    Notas para a Histria do Cear 89

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    Do dito administrador, possuo mais algumas cartas, as quais

    revelam, todas, grande desnimo e desejos de abandonar o posto em vista da canseira que lhe dava, e do quase nenhum resultado obtido.Entre elas a de 27 de maro de 1757, antes de dar conta dos

    negcios da Companhia e do andamento do servio, ocupa-se de assuntointeressante e infelizmente descurado de todo entre ns. Quero falar denotcias relativas a inscries antigas, construes reputadas dos holan-deses quando assenhorearam-se da Capitania, e assuntos congneres.Como curiosos, que so, aqui transcrevo os primeiros tpicos dessa carta,que endereada a Lobo da Silva.

    A admirao que acho nestes sertes somente que existin-do os holandeses nesta Capitania vinte e um anos, e entre estes s seteem paz, em to pouco tempo calculavam nestas campanhas e em outrasas partes mais esquisitas; no que mostra unirem-se tanto com o gentioque dos mais ocultos lugares os faziam cientes; o que no tm logradoos portugueses, sendo os primeiros conquistadores e estabelecidos, te-nho tido notcias de bosques, serras e montes donde se acham ferra-mentas e socaves de holandeses sem at o presente serem examinados,e ainda me causa mais admirao saber-se por ditos de alguns ndios quedistante deste lugar ao p de oitenta lguas se acha uma casa de pedra deabbeda, com sua porta forte, junto a uma lagoa, servio dos ditos ho-landeses, e por tradio dizem tem um riacho junto, que tem metal destaou daquela qualidade; e a tantos anos no houve um ndio que desco-brisse este e outros lugares para ns incgnitos, e de presente se tm feitoduas entradas a dita lagoa; uma bandeira que chegou do Urubu distantedeste lugar boas duzentas lguas e entraram no riacho Jacar, que faz

    barra no rio de So Francisco e outra que saiu deste Cariri que foi entrarno riacho da Brgida, que faz barra no dito rio e nas cabeceiras destesdois riachos (que vista dos deste Cariri so grandes rios) dizem esto adita casa e lagoa j confinantes ao Piau; acham-se vrios letreiros empedras grandiosas de tinta vermelha, alguns j quase apagados que nemoutros se percebem; o efeito destas diligncias to custosas e remotasno podiam ser sem grande ajuda de custo por razo do deserto, longe-tura e gentio.

    Afora as referncias de Jac Vioso s inscries existentesno Cear, por mim agora publicadas, creio que sobre o assunto conhe-

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    cem-se apenas as notcias contidas noMapa Curioso,do Padre Francisco

    Teles de Meneses.Do Mapa Curioso, cujo original deve estar nos arquivos doInstituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, o Senador Pompeu deu ex-tratos nos seusApontamentos para a Crnica do Cear , aos quais recorrer oleitor caso deseje conhecer as lucubraes daquele crdulo sacerdote.

    Araripe igualmente publicou extratos desse manuscrito emtrabalho, de que fez transcrio no h muito um jornal da antiga pro- vncia.

    Tais obras, julgadas pelo povo como sendo dos holandeses ouflamengos, encontram-se igualmente em outros Estados, o da Paraba,por exemplo. Destas diz Aires de Casal, o autor daCorografia Braslica:

    Na serra do Teixeira h umas inscries com tinta vermelhae caracteres desconhecidos dos homens do pas vizinho, que com maiorfundamento os reputam por obras os holandeses ou flamengos, comoainda lhes chamam, parecendo natural que sejam caracteres germnicosou gticos.

    A propsito desses caracteres traados, sobretudo com tintaencarnada ou gravados mesmo na rocha viva escreveram de ltimo, entreoutros, Retumba e Irineu Joffily; como eles, como todos os que queremencontrar em tais inscries a prova material da escrita de raas indianas,penso que exprimem pensamentos humanos e que nelas em sua ptreamudez dormitam espera de algum sagaz decifrador importantssimossegredos da vida do Brasil pr-colombiano.

    Se no h muito as inscries cuneiformes e os hierglifospassavam despercebidos ou nada significavam aos olhos da cincia, no para estranhar que Pompeu considere veios oxidados de ferro o quesuponho obra humana e obra talvez de raas adiantadas.

    Na sua administrao, vimos a Correia de S muito favorvels minas do Cear, ao passo que movia-lhes guerra o Ouvidor ProenaLemos; com os seus sucessores d-se inteiramente o contrrio, a oposio do Capito-General e o Ouvidor Soares Barbosa acosta-se a Jernimode Paz.

    Quem mudo de todo Francisco Xavier de Miranda Henri-ques. Nenhuma carta, nenhum relatrio. Nem sequer uma referncia a

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    atos, a pensamentos deles nas cartas dos outros, nos copiosos documen-

    tos da poca.E, alis, durante seu governo a questo das minas de S. Josdos Cariris foi muito debatida, agitou todos os espritos da Capitania, ederam-se outros fatos de alguma importncia como a criao de vilas efreguesias.

    A reparvel mudez de Miranda Henriques limita-se a esses as-suntos, pois sobre outros h conservados alguns documentos, que se lhereferem. E felizmente para ele. Alguns tratam de suas desarmonias com

    Proena Lemos e Vitorino Soares, com este, sobretudo; outros tm rela-o malfadada ordem de 9 de agosto de 1755, pela qual Correia de Sautorizava-o a receber 200$000 anuais para aposentadoria, despacho aque Proena Lemos no ops-se, como v-se da conta dada para Lisboaem 28 de novembro.

    E para o bom nome de Miranda Henriques faltou essa oposi-o, porque ento ficou evidente que primeira autoridade da Capitaniasobrava honra bastante para resistir s tentaes da riqueza ilicitamenteadquirida. Outrem que no eu chamar ridculas as lamentaes quecontm-se na carta de 20 maro de 1757; a meus olhos se erros teve aadministrao de Miranda Henriques resgatou-os todos sua repugnncia prevaricao.

    Mas por que no historiar os fatos?Miranda Henriques no tinha posses, era pauprrimo. Um dia

    foi-lhe preciso para matar a fome tomar cem mil-ris de emprstimo aocofre dos rfos, e se no fora a interveno do seu secretrio, Caetano Jos Correia, figuraria o nome da autoridade mais graduada da Capitaniaentre os daqueles que mendigavam do governo esse pequeno obsquio.

    Mas o uso e a lei mantinham no Cear uma prtica de cujaderrogao poderia advir um corte grande nas despesas do pobre homem.Se bem que o Estado pagasse casa aos ouvidores, no tinham-na os go- vernadores, e pois Miranda Henriques denunciando a injustia e aprovei-tando em favor de sua pretenso o que acontecia nas outras capitanias,mesmo o pequeno Rio Grande do Norte, cuja administrao deixara ha- via pouco, endereou uma petio ao capito-general requerendo umaanuidade de 200$000 para aposentadoria. Justa era a splica. Concordou

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    com o favor Proena Lemos e o capito-general concedeu-lhe despacho

    favorvel. Ouamo-lo dar contas do seu ato ao ministro:Ilm e Exm Sr. O Capito-Mor da Capitania do Cear,Francisco Xavier de Miranda Henriques, me fez uma splica, queme pareceu racionvel, no s pelo limitado soldo que tem de qua-trocentos mil-ris, mas por no haver em todo o Brasil, nos gover-nos de que eu tenho notcia, governador que pague aluguel das ca-sas de sua residncia; por que ainda no Rio Grande, onde o ditoFrancisco Xavier j governou, no obstante ser a Fazenda Real mais

    diminuta, tm os seus capites-mores casa que lhe d S. Maj. paraassistirem. Parece que s esta razo bastava para se fazer atendveldita splica, quanto mais apresentando-me certido de que aos ou- vidores da mesma Capitania manda o dito Senhor dar cem mil-rispor ano para pagar casas.

    O conhecimento da real grandeza de Sua Majestade, a po-breza do dito capito-mor, e os referidos exemplos me puseram na reso-luo de ordenar ao Provedor da Fazenda Real daquela Capitania lhe

    desse para pagamento das casas duzentos mil-ris cada ano, enquanto seconservasse naquele Governo, ou Sua Majestade no mandasse o con-trato de cujo piedoso nimo espero que assim o haver por bem e que V. Ex o mande declarar ao dito provedor por aviso seu.

    D.s G.e a V. Ex m.os an.os Recife de Pernambuco, em 9de agosto de 1755.

    Ilm e Exm Sr. Diogo de Mendona Corte-Real, Lus JosCorreia de S.

    To minguados eram os recursos de Miranda Henriques queessa mesma quantia, que concedera-lhe o capito-general, passou-lhelogo das mos para as de um condescendente almoxarife, que lha haviaadiantado.

    O governo da metrpole, porm, discordou de Correia de Se de Proena Lemos, e baixou uma portaria no sentido de serem repos-tos os 200$000.

    Foi encarregado de executar a ordem vinda na frota de Per-nambuco, de 15 de novembro de 1756, o Ouvidor Soares Barbosa, mas

    Notas para a Histria do Cear 93

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    centos mil-ris, que V. Maj. me manda dar, no me suprem os gastos

    que fao juntos com os que fiz na Corte, quando vim para esta Capita-nia (como se v da certido junta do escrivo dos rfos); contudo, naaflio em que me vi, achei o Capito Domingos Francisco Braga queme emprestou duzentos mil-ris, que o que tinha recebido de aposen-tadoria, os quais entreguei ao Almoxarife como consta do seu recibo afls. 3; e sempre digno de reparo e de comiserao que mandando V.Maj. dar cem mil-ris de aposentadoria ao ouvidor desta Capitania, scomigo se no pratique este procedimento, mas aqui se vir no conheci-mento de qual a oculta influncia da minha estrela, que liberalizando V. Maj. mercs para todos, s eu hei de ser desgraado, como eu mes-mo. Posso afirmar a V. Maj. que me vejo nesta Capitania em maiormisria do que se viu o grande Dom Joo de Castro na sia, quandogovernava a ndia; porque ele l teve uma gadelha de cabelos, que empe-nhou; porm eu to miservel, que nem isso tenho. Assim torno a pedire rogar a V. Maj. me mande sucessor na frota, porque j no tenho quegastar no seu real servio, e no ser justo que acabe nas lstimas de tantamisria. Deus guarde a V. Maj. ms. anos. Cear, em 20 de maro de1757. Francisco Xavier de Miranda H.es

    Seguem-se os documentos comprobatrios:Recebi do Sr. Capito-Maior e Governador Francisco Xavier

    Miranda Henriques duzentos mil-ris em dinheiro de contado procedi-dos de outros tantos que havia recebido da Real Fazenda por mo domeu antecessor o Almoxarife o Sr. Francisco Pereira Marinho e por es-tar deles embolsado para se carregarem na minha receita e carregadosnela ficara este sem nenhum vigor. Vila da Fortaleza, em 18 de maro de1757. O Almox.e Joo Dantas de Aguiar .

    Reconheo a letra e sinal do recibo supra ser tudo prpriode Joo Dantas de Aguiar, Almoxarife da Fazenda Real desta Capitaniado Cear, pelo ter visto escrever e assinar muitas vezes em minha pre-sena; passa o referido na verdade e f e de meu ofcio. Vila da Fortale-za, em 21 de maro de 1757. O Escrivo da Cmara por impedimento do Tabelio Jos Correia Peralta.

    O Escrivo de rfos passe por certido ao p desta se oSecretrio deste Governo pediu algum dinheiro a juro ao Juiz dos rfos,

    Notas para a Histria do Cear 95

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    e este lho mandou dar do cofre, e a quantia. Vila da Fortaleza, em 20 de

    maro de 1757.Miranda .Francisco Vaz de Oliveira, Escrivo de rfos atual nesta Vila da Fortaleza de Nossa Senhora da Assuno So Jos de Ribamar eSeu trono Capitania do Cear Grande por S. Maj. que Deus guarde etc.:Certifico que em virtude da portaria supra do Senhor Capito-Mor eGovernador desta Capitania Francisco Xavier de Miranda Henriquesrevi o livro que serve de sadas de dinheiro que se d do cofre dos r-fos a juros e nele, a fls. 100, achei o dinheiro de sada de cem mil-ris que

    pediu a juros o Secretrio deste Governo Caetano Jos Correia, e se lhederam na forma do estatuto e lei. Passa o referido em verdade pelo jura-mento de meu ofcio. Vila da Fortaleza, em 21 de maro de 1757. OEscrivo de rfos,Francisco Vaz de Oliveira.

    Para mim tal carta, principalmente por ser do governador deuma Capitania, tem bastante eloqncia.

    Ou o carter honrado de quem traou-a, ou as depredaesde Verres, o flagelo da Siclia, to brilhantemente profligadas pelo gran-

    de orador romano.Mas a Miranda Henriques forou o ministro restituio dos200$.

    Quem o mandava ser honesto a ponto de tomar dinheiro deemprstimo para no morrer fome, ele que era o mais cavaleiro pro-fesso na Ordem de Cristo e moo fidalgo da Casa Real?

    E caso ele metesse mo sacrlega no Errio ou por corrom-pido cerrasse os olhos fiscalizao para partilhar de quantias sub-tradas ao governo, o que poderiam obrar contra ele?

    Tirar-se-lhe a residncia?Mas com o prprio dinheiro adquirido ilicitamente no pode-

    ria ele ganhar a si o juiz sindicante?Quantos exemplos de magistrados subornados no apresenta

    a histria do Cear?De um do tempo mesmo de Miranda Henriques h tradio

    de ter-lhe custado 3.000 cruzados o atestado de sua pureza e integridadecomo Ouvidor e Provedor da Fazenda Real.

    96 Guilherme Studart

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    Que o digam as afirmaes de Frei Jos de Santa Maria, mon-

    ge de S. Bento e morador em S. Joo das Russas, e as do prprio Miran-da Henriques a S. Majestade em data de 31 de maro de 1757.Mas Miranda Henriques contraa emprstimos e a penria lhe

    salteava a casa.Para segurana do pagamento aqui tem o leitor o respectivo

    certificado:Paulo Jos Teixeira da Cunha, Escrivo da Fazenda Real e

    Matrcula, Contador da Gente de Guerra nesta Capitania do CearGrande por Sua Majestade que Deus Guarde etc. Certifico que em cum-primento de uma ordem de Sua Majestade do ano passado, vinda napresente frota, reps no Almoxarifado desta Provedoria o Capito-More Governador desta Capitania Francisco Xavier de Miranda Henriquesduzentos mil-ris em dinheiro de contado, que tantos lhes havia mandadopagar de aposentadoria o Doutor Provedor que foi desta Capitania Ale-xandre de Proena Lemos, por virtude de uma portaria do Governadore Capito-General que foi de Pernambuco Lus Jos Correia de S, cujaquantia de duzentos mil-ris se acha j carregada ao Almoxarife atual Joo Dantas de Aguiar no livro de sua receita a folhas 63. Passa o referi-do na verdade pelo que consta da mesma receita do Almoxarife a queme reporto. Em f de que passei a presente por ordem do Provedor daFazenda Real o Doutor Vitorino Soares Barbosa e por mim escrita e as-sinada. Vila da Fortaleza, em 29 de junho de 1757.Paulo Jos Teixeira da Cunha .

    Os governadores do Cear ainda por muitos anos tiveram deganhar apenas 400$.

    Sobre o assunto h de Borges da Fonseca uma carta de 25 dejaneiro de 1767, requerendo que lhe seja concedida a mesma aposentadoriados ouvidores, e uma Ordem Rgia de 12 de janeiro de 1769 mandandoa informar pelo Capito-General de Pernambuco o pedido de Borges daFonseca.

    As desavenas de Miranda Henriques com os dois ouvidoresde seu tempo provieram de que ele invadia as atribuies das cmaras eintervinha nas funes prprias dos magistrados. assim que estandoProena Lemos em correio nos sertes do Acaracu, para onde seguiraa 20 de maio e donde se recolheu ao Aquiraz no fim de julho de 1755,

    Notas para a Histria do Cear 97

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    lembrou-se o capito-mor de pr a concurso em Fortaleza o ofcio de

    Almoxarife da Fazenda e de conferi-lo por trs anos na pessoa de Fran-cisco Ferreira Marinho, apesar do disposto na proviso de 15 de outu-bro de 1738, que d s cmaras o direito das propostas.

    Enfureceu-se com isso Proena Lemos, protestou em 12 deagosto contra o ato, e relembrou-lhe a Ordem Rgia de 20 de outubrode 1738, que manda que o Capito-Mor do Cear no se intrometa comas matrias da Fazenda Real nem da Justia.

    No tempo de Vitorino Soares, a invaso de atribuies foimais freqente e teve lugar por diversas formas: ora despachava o capi-to-mor peties de credores contra devedores como aconteceu em pe-tio de Jernimo de Sousa Nogueira contra Jos da Costa Torres, quedevia-lhe 35$000; ora mandava fazer penhoras como aconteceu com osbens do Tenente-Coronel Domingos Gonalves Paixo em questo quelhe movia Antnio lvares Fiza, morador na Bahia, como cabea desua mulher, viva de Matias de Lima, e da qual j a Casa de Suplicaode Lisboa havia proferido sentena em favor do dito Fiza; umas vezesnomeava juzes ordinrios como deu-se com Joo Ferreira Ribeiro aquem passou proviso (14 de julho de 1756) para o cargo de juiz na fre-guesia de Inhamuns; outras vezes provia escrives como fez com Manuelde Brito Reis, a quem deu o ofcio de escrivo do judicial e notas damesma freguesia.

    Exasperado com essas cousas, Vitorino Soares endereouuma representao a el-Rei contra os atos do capito-mor nos termosseguintes:

    Senhor, representando a V. Maj. um dos meus antecessores

    o quanto era prejudicial aos povos o quererem os Capites-Mores am-pliar a jurisdio de seu posto no que pertence a administrao da Justiae Fazenda, foi V. Maj. servido assim o determinar pela ordem que paraesta Comarca foi expedida, de vinte de outubro de mil setecentos etrinta e oito, e sem embargo da referida ordem que h nos Livros do Re-gistro desta Ouvidoria, o Capito-Mor atual Francisco Xavier de MirandaHenriques o faz mandando prender sua ordem por oficiais militares,capites-de-campo, e mais soldados pagos, e das ordenanas, a pessoasde quem no pode tomar conhecimento, j retendo-as na dita prisosem culpa, e outras vezes mandando-as contra a forma da lei autuar por

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    vadios, e sem jurisdio, por que como capito-mor, que , no tendo a

    sua proviso outra nem predicado, diz o faz como governador destamesma Capitania, e por tal se intitula sendo como anexa da de Per-nambuco, e ele tambm subalterno do seu governador, e destas prisesdespticas e mal determinadas tem resultado vrios roubos, suponhoque da parte de quem as executou, e do mesmo modo se intrometeu adar permisso a um Cabo-de-esquadra seu criado Joaquim H.es Leitocom o pretexto de lhe requerer assim o Almoxarife, e que foi FranciscoPereira Marinho, sem autoridade alguma de meu antecessor; porquepara o referido nunca lhe pediu auxlio, nem com o sobredito foi nuncaoficial de Justia ou Fazenda, e menos o mesmo Almoxarife e, e saindopara a Comarca em Correio achei certeza de se terem vexado alguns de- vedores da Fazenda Real, e cobrado a ttulo de Custas, de que queixan-do-se-me trs destes fiz repor ao d.o Joaq.m H.es oitenta e seis mil equatrocentos, e a outros dos mesmos devedores por alguns donativoslhes concedeu esperas; tudo em prejuzo da boa administrao da Fa-zenda e arrecadao dela, na forma da sobredita Ordem, de que acimase faz meno; e assim do referido na ltima arrematao dos Dzimos e

    primeira a que com ele assisto, por interpostas pessoas se tinham man-dado despersuadir para que no viessem lanar outras, o que no teveefeito e sempre arrematei os ditos dzimos por preo a que nunca che-garo nesta Capitania, e com acrscimo da penltima arrematao dedois contos cento e vinte e trs mil, como a V. Majestade fao certo poreste mesmo Tribunal, na Conta p.ar, que sobre a arrematao deles souobrigado a dar.

    Tambm vindo a mesma Comarca no ano prximo passado

    a passar mostra as ordenanas, fez pagar a dvida Civil, que consta daCertido, e para uma execuo que corria perante o Juiz dos rfos des-te Arraial deu o despacho que declara a Certido Letra e outros maisprocedimentos meramente judiciais havendo em todas as Vilas, Juzesordinrios e Ouvidor da Comarca a quem os devia mandar requerer.

    Na Vila do Ic contra a forma das ordens de V. Majestadecriou para a Freguesia dos Inhamuns tr.o dela um Juiz ordinrio, e um Tabelio e para o referido efeito lhes mandou passar as Previses incer-tas nas Certides Letra E e Letra F de cuja m.ce dando-me parte o Juizordinrio da dita Vila e o mesmo Juiz criado de novo, e outras pessoas,

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    que do referido fato se me queixaram, dei a provid.a de mandar ao que

    era legtimo, por ser na forma da Lei eleito pela Cmera em ato de Peloiros,exercitasse a sua jurisdio, como antes; e ao sobredito mandei notificarpara o no fazer, e chegado que fosse a mesma Vila me viesse apresen-tar a dita Proviso, e obedecendo a no cumpri havendo por suspensode tal cargo, e tambm ordenei a mesma Cmera, atendendo aos longesdo seu tr.o, nomeassem ... juzes e escrives, como a ordem manda, paramaior comodidade das partes, que requerem perante a Justia, e sossegodos povos e havendo com estes oficiais maior prontido para se pode-rem prender os culpados em qualquer delito, e tambm na execuo dasmais ordens, que lhe forem cometidas.

    Ultimamente costuma o sobredito Capito quando arremataos ofcios por Donativo para S. Majestade, e para que tem premiao,no mandar sobre a capacidade dos pretendentes informar como cos-tume na Capital deste Estado, e ainda em Pernambuco, de que procedeentrarem com ofcios pblicos pessoas incapazes de os servirem, quan-do o que tem melhor capacidade e inteligncia s o que deve servir, epara se evitarem semelhantes desordens, e as perturbaes que por se-

    melhantes casos podem acontecer, e me no poder em tempo algum serestranhado o omitir esta conta, a dou a V. Majestade para a vista do quecontm prover de remdio e mandar o que for servido. Arraial de So Jos das Minas dos Cariris Novos. Trinta de maro de 1757. Do Ouvi-dor da Comarca do Cear,Vitorino Soares Barbosa .

    A Cmara do Ic queixou-se tambm das nomeaes feitaspelo capito-mor contra o expresso na lei:

    Sr. O ano passado vindo a esta vila o Cap.m Maior do Cear

    Francisco Xavier de Miranda Henriques passar mostra s tropas daCavalaria da Ordenana dela e seu termo, a 24 de junho mandou poreditais pblicos para referendarem as patentes de todos os oficiais demilcia, e aos que achou vagos e a outros que de novo criou, como fossecap.m maior para os novos curatos dos Cariris Novos e Inhamuns, dis-tritos desta mesma vila, capites-maiores de entradas e seus sargen-tos-mores, sargento-maior da Comarca e do Estado, o outros postosnovos os quais mandou a esta Cmara para que propusesse os tais pos-tos nas pessoas, que por ele vinham nomeadas, o que assim executaram osoficiais passados deste Senado por se no exporem a alguma violncia

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    como costumam, e o mesmo praticou em todas as mais terras desta Ca-

    pitania, obrando contra a expressa ordem de V. Majestade que no per-mite que haja mais que um capito-mor em cada vila nem mais postosdos subalternos fora dos necessrios, levando pelas patentes duzentosmil-ris; do que damos a V. Majestade conta para a vista dela mandar oque for servido. Escrita na Cmara desta Vila do Ic a 23 de abril de1757. O juiz ordinrio Jos de S de Albuquerque, o vereador Crispimde Montes Silva, o vereador Joo Ribeiro Silva, o vereador Manuel Fer-reira Rios, o procurador Manuel Simes do Livramento.

    O Conselho Ultramarino despachou essa representaopela seguinte forma, sendo nesse sentido escrita a respectiva OrdemRgia:

    O Governador de Pernambuco informe com o seu pare-cer, ouvindo por escrito o capito-mor ordenando-lhe que suspendaa criao de novos postos e que fiquem sem os que criou de novopor no ter para isso faculdade de S. Maj.e e Lx.a de 31 de outubro de1757.

    Por sua parte Miranda Henriques no se deixava ficar calado epor mais de uma vez levou at ao trono acres acusaes contra o ouvi-dor. Apreciemos duas de suas representaes:

    Sr. Achando-se no Aracati em Correio o Ouvidor VitorinoSoares Barbosa, mandou a esta Vila buscar uns presos, escrevendo ao Juiz ordinrio, para lhe remeter a leva; mandei-lhe por prontos um cabocom vinte soldados, e entre os presos que iam, mandei Custdio lvaresde Carvalho, e Lus da Silva Rodrigues, que tinha autuado perante o Juizordinrio por vadios, para serem remetidos junta de Pernambuco, e se-

    rem sentenciados para Angola, conforme a ordem de V. Majestade e de vinte e nove de julho de mil setecentos e quarenta; escrevendo ao mes-mo ministro com a remessa dos presos: De toda esta civilidade formounovos impulsos para a sua loucura, tomando os autos, e mandando ospresos outra vez para esta Fortaleza; dizendo, no tinha poder paraprender criminosos, nem jurisdio para os autuar; e outras palavras,menos respeitosas ao meu carter, perante o capito-mor daquela vila,oficiais, e mais pessoas, que presenciaram semelhante excesso. Da re-messa dos presos consta da certido do Tabelio a fl. 1, e das mais cir-cunstncias se v dos captulos, que vo em pblica forma, das cartas do

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    R.do Fr. Jos de Santa Maria, e do Capito de Infantaria Antnio de

    Sousa Marinho a fl. 2 e 3, aonde V. Majestade admirar neste ministro amaior resoluo, e na minha prudncia a maior imobilidade. Bem seique a prudncia (que todos me aconselham tenha) a primeira virtude,e que deve andar anexa a quem governa; mas tambm reconheo quetudo que excessivo faz o efeito do seu contrrio; e assim a prudnciaque at aqui tem sido virtude em mim, est j por estantes degenerandoem vcio: e lstima (Senhor) que se faa da virtude delito. Segunda vezpeo, prostrado aos reais ps de V. Majestade, me mande sucessor nafrota, porque este ser o maior despacho, que possa conseguir de Suareal grandeza; para o que empenho a honra com que tenho servido a V.Majestade; no militar, e no poltico. No Militar? Em as Campanhas deMazago, expondo a vida a tantos perigos, quantas foram oitenta e trs vezes, que desembainhei a espada no mar, e na terra no seu real servio.E no Poltico? Em a economia, com que governei doze anos a Capitaniado Rio Grande, como se fez presente a V. Majestade e por meios da mi-nha residncia: e quando estas circunstncias no sejam poderosas paraa valia, valha-me a real grandeza de V. Majestade; pois no decente

    soberania dos monarcas o no socorrerem os miserveis em as suas afli-es. Deus guarde a V. Majestade muitos anos. Cear, 9 de maro de1757.Francisco Xavier de Miranda Henriques.

    Senhor. Remetendo o Capito-Mor das Russas um preso minha ordem ao Capito-Mor do Aracati para este o enviar cadeiadesta vila; passando o cabo e soldados com o preso pelas casas aonde seachava o ouvidor em Correio, os mandou vir sua presena, e depoisde romper nas loucuras, que a minha pacincia lhe tem suportado, di-

    zendo no tinha jurisdio para mandar prender criminosos, porque aele pertencia esse procedimento, nem os oficiais me deviam obedecer, es sim s ordens que ele lhes desse: mandou o cabo e soldados para acadeia, donde estiveram vinte e quatro horas, e depois soltou a todos,juntamente com o preso: como se v da certido do Alcaide Carcereiro,notificando o Capito-Mor Jos Pimenta de Aguiar, para no prendercriminosos na Correio. Nas mais ribeiras que vai corrigindo faz a mes-ma advertncia aos oficiais, o que praticou com o Capito Antnio daCunha Pereira (que foi o que tinha remetido o preso) dizendo-lhe quequando quisesse fazer alguma priso, ele ouvidor quem o havia de

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    mandar, e aos mais capites, e do contrrio lhes havia de suceder mal,

    ainda que tivessem ordens minhas: e no contente com as perturbaescom que tem inquietado o meu governo, expondo-me a algum precipcio,ainda que seja pelos caminhos da sua runa, passou a sua temeridade ainquirir na Correio se mando fazer prises, se governo bem, ou mal.Confesso a V. Majestade que me no tremendo o brao com a espada nacampanha, me est tremendo a mo com a pena ao assinar estas fatali-dades; pois estou certo que no tablado do Mundo jamais representoutragdia de maiores conseqncias: porque ningum ignora que nos sol-

    dados o sofrimento nos trabalhos merecimento, mas a pacincia nasinjrias infmia: pois mal poder servir ao soberano com aes heri-cas quem aviltou a natureza para sofrer injrias. Todo o contedo nestarepresentao vai autenticando em pblica forma, pelas certides, carta,e pargrafos delas, do Reverendo Cura das Russas Fr. Jos de SantaMaria Monge de S. Bento, e oficiais militares.

    E pela certido, passada pelo sargento de infantaria, que tema incumbncia dos presos da cadeia da Fortaleza mostro a V. Majestadeque todos os criminosos que tenho mandado prender (que no so poucos)se acham com o assento ordem da Justia, circunstncia, que deviaatender este ministro para no encontrar as minhas ordens; principal-mente quando estas redundam em servio de V. Majestade, quietao deseus vassalos, e comodidade sua; por lhe evitar o trabalho, ou perigo,que trazem semelhantes diligncias.

    Tenho mostrado a V. Majestade as violncias, e desatenesque este ministro me tem feito, e na minha prudncia o major mereci-mento, e a melhor virtude para se atender: assim posso, e rogo a V.Majestade, prostrado aos seus ps (no modo que me possvel) que emsatisfao destas aflies em que me tenho visto, por servir a V. Majes-tade com distino notria, me queira mandar sussesor na frota, por tercompleto o meu trinio, e ser esta a maior merc, que em minha vidapoderei conseguir da sua real grandeza; e a mesma splica fao aosMeritssimos Ministros do Seu Supremo Conselho, e no permitam quena violncia de alguma dor se precipite a razo e se perca um vassalo,que nada lhe falta no merecimento nem na fidelidade, porque o ser maisou menos bem visto de V. Majestade fatalidade das Estrelas e no de-

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    feito de seus merecimentos. Deus guarde a Vossa Majestade muitos

    anos. Cear, 1 de maro de 1757.Fran.co

    X.er

    de Miranda H.es Eis o espectculo constante que davam as primeiras autorida-

    des da Capitania: ou brigavam capites-mores e governadores de Per-nambuco, como Dourado9 com Correia de S e Montaury com Csarde Meneses ou brigavam capites-mores e ouvidores, como MirandaHenriques e Homem de Magalhes com Vitorino Soares ou Montaury com Andr Ferreira e Avelar de Barbedo.

    Disse eu que durante a administrao de Miranda Henriquescriaram-se vrias freguesias no Cear.

    um fato.

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    9 Proximamente recebi uma carta do Governador e Capito-Geral de Pernambucocom dois bandos sobre a faculdade que V. M. foi servido conceder-lhe para quemandasse manifestar as Minas dos Cariris Novos do distrito desta Capitania; Orde-nando por carta sua especial ao ouvidor-geral dela fosse repartir as terras pelas pes-soas, que as pretendessem lavrar, mandando de Pernambuco oficiais determina-dos para as ocupaes dos ofcios das ditas minas na forma que se pratica nasGerais do Rio de Janeiro: no havendo para to grande novidade motivo suficiente,pois as ditas minas com pouca diferena no rendem mais que as limitadas fascasque achei no exame que fiz, como j tenho representado a V. M. e consta das car-tas de Bento da Silva e Oliveira, capito-mor da mesma vila de Ic; vista de cujorendimento e exorbitantssima a despesa que se faz com destacamento, oficiais e ndios que se acham presidiados nas referidas minas. Porm o Governador eCapito-General de Pernambuco procedendo acelerado e sem aquela maduraconsiderao que requeria negcio de tanto peso moveu toda esta novidade daabertura das minas. S a fim de me desmembrar a minha jurisdio e vilipen-diar-me no meu governo, pois todas as determinaes que fez nas ditas minasf-las sem de mim fazer caso algum, mais que s remeter-me os ditos bandos as-

    sim como o fez aos capites-mores das vilas meus subordinados publicando-se osreferidos bandos primeiramente por eles do que me fossem entregues os que me vinham remetidos; motivo por que sou mal obedecido tanto dos ditos capi-tes-mores, como de todos os mais oficiais, e juntamente dos Tribunais destaCapitania por lhes ordenar o Governador e Capito-Geral de Pernambuco o quese lhe oferece em qualquer matria ou seja do Servio de S. M. ou pertencente aoutro qualquer particular como se V. M. entregasse o governo desta Capitaniaunicamente sua disposio. Fao a V. M. esta sincera representao para V. M. sua vista mandar o que for servido. Deus guarde a Vossa Majestade. Vila da For-taleza de Nossa Senhora da Assuno e S. Jos de Ribamar. (Carta de Dourado ael-Rei em 15 de maio de 1753.)Esse documento no explicar o motivo oculto, mas real, da oposio de Doura-

    do expedio de Mendes de Paz e explorao das minas dos Cariris? No estoulonge de acredit-lo.

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    Foram elas a de Quixeramobim, a de S. Mateus, as quatro em

    que dividiu-se o Curato do Acaracu, e a de Monte-mor-o-velho.O curato amovvel de Quixeramobim foi, com a invocao doGlorioso Santo Antnio, desmembrado da freguesia de Russas, sendodo Doutor Frei Manuel de Jesus Maria,10da Ordem dos Carmelitas ob-servantes, a proviso, que assim ordenou.

    O mesmo visitador foi quem expediu a proviso criando afreguesia de S. Mateus, desmembrada da do Ic.

    Uma e outra so do ano de 1755, aquela de 15 de novembro e

    esta de 7 ou 8 de dezembro.Dois anos depois (1757) que baixou a proviso do Bispo D.Francisco Xavier Aranha dividindo o antigo curato do Acaracu em quatrofreguesias a saber:

    Freguesia da Amontada com invocao de N. S. da Conceioda Amontada;

    Freguesia do Curia, cuja Matriz foi interinamente a capela deSanto Antnio de Pdua enquanto no fazia-se a Matriz no stio Mara-

    voqueira, hoje Granja;Freguesia da Serra dos Cocos, para cuja Matriz foi destinada acapela de S. Gonalo de Amarante;

    Freguesia de N. S. da Caiara, posteriormente Sobral.Parece, diz Pompeu, que esta proviso no produziu todos

    os efeitos pois que um Alvar de 1773 criou a freguesia de Sobral e ou-tro de 29 de julho de 1776 criou a da Granja.

    A quem foi expedida a ordem do bispo Aranha? Ao Licenceiado

    Jos Pereira de S, dizem Pompeu e portanto Joo Brgido ( Res. Cron.,pg. 99). Avento uma dvida. Se aqueles assim afirmam, vejo que o Dr. Joo Ribeiro Pessoa, cura e vigrio da vara da freguesia de N. S. da Concei-o da Caiara, escrevendo uma memria acerca da sua freguesia diz queno tempo em que foi cura dela o Padre Antnio de Carvalho e Albuquer-que houve cinco visitadores: primeiramente em 1745 o Dr. Manuel Alvesde Figueiredo o qual falecendo foi substitudo pelo seu secretrio Pe. Jos Pereira de S; em 2 lugar (em 1747) o Dr. Manuel Machado Freire;

    Notas para a Histria do Cear 105

    10 Joo Brgido chama-o Frei Jos de Jesus Maria pg. 98 doRes. Cron.

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    em 3 lugar (em 1750) o Dr. Jos de Aranha; em 4 lugar (em 1755) Frei

    Manuel de Jesus Maria; em 5 lugar (em 1758) o mesmo Frei Manuel.E o vigrio Ribeiro Pessoa escrevia em 1767, poucos anos,portanto, depois que foi expedida a proviso.

    A freguesia de S. Mateus, cujo Orago N. S. do Monte doCarmo e que foi criada, vimos, por proviso de dezembro de 1775 eposteriormente por Lei Provincial de 22 do dezembro de 1853, teve em1807 por vigrio colado o Pe. Francisco Xavier Vasconcelos Malts.

    Foi tambm seu proco Manuel Antnio de Lemos Braga, cola-

    do por carta de 29 de maio de 1845.Falecendo este em abril de 1862, foi nomeado para substi-tu-lo como encomendado o Rev. Raimundo Pereira da Costa por provi-so de 27 de maio do mesmo ano; exonerado este, foi nomeado porproviso de 17 de abril de 1868 o atual vigrio Pe. Jos de Sousa Bezer-ra, que tomou posse a 14 de maio.

    Por existirem a muitos anos interminveis dvidas sobre os li-mites dessa freguesia como a do Aar chegaram os respectivos procos

    a um acordo sob as seguintes bases: que a linha divisria entre as duasfreguesias ficasse sendo a estrada que, partindo da capela Tarrafa, a qualficava pertencendo a S. Mateus, divide a mesma povoao da Tarrafa esegue em direo do riacho do Urucu, excetuando o stio de AntnioCatonho, at a capela do Quixar que ficava pertencendo freguesia do Aar, e dali em linha reta ao Lambedor e Lenos.

    Esse acordo foi aprovado pelo bispo D. Lus Antnio dosSantos aos 20 de junho de 1881.

    No conheo os autos de criao da freguesia de S. Mateus,nulas foram as minhas pesquisas nesse intuito feitas quer na CmaraEclesistica de Fortaleza quer junto ao atual Vigrio; sou mais felizquanto a do Quixeramobim pois possuo no s a proviso como as de-mais correspondncias por ela suscitada.

    Segundo o plano, que me tenho traado, aqui ficam registra-das uma e outra.

    Fr. Manuel de Jesus Maria, Religioso de N. S. do Monte doCarmo da antiga e Regular observncia, Missionrio Apostlico e Visi-tador Geral dos sertes do norte pelo Ex.mo e R.mo Senhor D. Francis-

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    co Xavier Aranha, por m.c de D.s e da S.ta S Apostlica Bispo de

    Thermopoli, coadijutor e futuro sucessor deste Bispado com atual juris-dio ordinria e independente, do Conselho de Sua Maj.de Fidelssimaetc.

    Fao saber que o dito Ex.mo e R.mo Senhor Bispo tendotido notcia do copioso povo que h pelos sertes deste Bispado e quecada vez cresce mais o nmero, principalmente na freguesia das Russas,e a grande distncia em que ficam da dita Matriz os moradores das Ri-beiras de Quixeramobim e Bonabui pelo que padecem grandes inc-modos no recurso do seu R. Proco, como lhe representam, vendo quepela obrigao do seu Pastoral ofcio deve acudir o Pasto Espiritual assuas ovelhas e atender aos seus incmodos, achando que a providnciamais eficaz que lhe podia dar era a diviso das Igrejas e multiplicaode Procos para que mais prontamente se lhe acuda com os sacramen-tos e fiquem mais bem assistidos os paroquianos, foi servido orde-nar-me que chegando a estas Ribeiras as dividisse do curato das Russaspelas partes que achasse ser mais conveniente, ficando um em dois, eem tal diviso observasse os requisitos necessrios e o mais que nas suasInstrues me havia ordenado, atendendo a que os Procos ficassemcom cngrua sustentao que nesta parte lhe era prometida, como sepor ele mesmo fosse dividida, e que esta sua determinao e ordem selanaria no livro de criao do novo Curato e do mesmo existente para atodo o tempo constar. E para inteiro cumprimento ordem do dito Se-nhor achando-me em visita nesta freguesia de N. S. do Rosrio das Rus-sas no obstante o estar informado dos limites e longes dele, fiz convo-car os principais homens das referidas Ribeiras para infomarem das par-

    tes por donde se pode fazer a diviso que se pretendia e depois de osouvir e ao Reverendo Proco dividi e dei por dividido... e desanexadodesta dita freguesia das Russas as Ribeiras de Quixeramobim e Bonabuicom todas as suas pertenas excluindo os riachos S. Rosa e Livramento,e as duas Ribeiras assim divididas constitui nova freguesia, que dei porintitulada com a Invocao do Glorioso Santo Antnio; e na tal divisoassim feita interponho minha autoridade ordinria, e mando aos Pro-cos e pessoas de um e outro distrito diviso e dividente, com pena deexcomunho maioripso factoincorrendo e demais penas a arbtrio estejampela tal diviso e esta faam cumprir e guardar como nele se contm, e

    Notas para a Histria do Cear 107

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    mando debaixo da mesma pena ao Reverendo cura das Russas que sen-

    do-lhe este apresentado indo por mim assinado e selado com o selo deSua Ex ou ... sem seloex causa o publique a Estao da Missa da ... noprimeiro domingo ou dia festivo, e fixado no tempo da Lei no Lugarcostumado o faa transladar no L. da Igreja para em todo o tempo selhe dar inteiro e devido comprimento, e da mesma sorte se publicar naCapela de N. S. da Conceio a Barra, distrito da nova freguesia divididae nos Livros dela trasladar para que constem nos tempos futuros; ecomo por causa desta diviso ficava diminuta a cngrua sustentaopara o Proco da nova freguesia concordaram todos que nas conhecenasque se pagam a dr. se observasse nesta o estilo das mais freguesias doSerto que : os que so cabea de casal pagarem a meia pataca cada ume os outros de comunho a quatro vintns, e os que os no so a dois, eque nas mais benesses se observasse o estilo at aqui praticado na fre-guesia das Russas, do que ... termo, em que todos assinaram e que daquiem diante assim se observar. Feito em visita nesta freguesia das Russassob meu sinal e selo de Sua Ex. R.maaos 15 dias do ms de novembrode 1755. E eu o Pe. Anacleto Soares da Veiga Secretrio da visita o fiz

    escrever e subscrevi. Fr. Manuel de Jesus Maria Visitador. Todavia os moradores da Ribeira do Bonabui, da barra doSiti para baixo, no estiveram pela diviso e tanto que reclamaram con-tra os limites dados s duas freguesias e pediram que fosse limite a barrado Siti. A isso acedeu o Prelado. Requerimento e despacho contm-senos seguintes documentos:

    Ex.mo e R.mo Sr. Dizem os moradores da Ribeira do Bona-bui, da Barra do Siti p. baixo, que V. Ex R.mafora servido mandar ao

    R. do Visitador atual destes sertes do Norte partir o Curato das Russas,de que eram os sup.es Paroquianos, em dois, e sendo V. Ex R.maPastoruniversal desta Diocese de Pernambuco piamente se deve crer mandariafazer essa partilha para que as suas ovelhas no padeam detrimento al-gum, pois todo intento ser fazer dos longes perto, ficando as extremaspodendo ser em meio dos curatos, pois assim podem todos melhor pro-curar e participar o bem espiritual, e como o R.do Visitador deu princ-pio e fim a este diviso em a Capela de Santo Antnio de Quixeramo-bim, aonde hoje a Matriz da nova freguesia, que dista a das Russastrinta e duas lguas ou trinta e trs, e entre estas Matrizes ribeira abaixo

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    direita fica a Capela de N. Sr da Conceio com dezoito lguas de dis-

    tncia para a Matriz de Quixeramobim, e quinze para a Matriz das Rus-sas e junto Capela fica a barra do rio Siti fixa e proporcionada extre-ma p. os curatos; todos os povos julgavam ficaria ali a partilha, tanto osde cima como os de baixo, se bem que para semelhantes aes, que fa-zem a bem dos povos, parece se devem convocar ao menos dez ou dozede cada uma das partes para alegarem e requererem antes da determina-tiva resoluo, o que no aconteceu nesta partilha porque morador ne-nhum dos que ficaram p. o Curato das Russas se achou nem foi convo-cado p. a tal ao, antes o R.do Visitador entrou por todo Bonabuiat cinco lguas junto a Matriz das Russas p. Quixeramobim sem maisatendncia aos povos nem a que ficavam piores do que dantes, porquesem embargo do que estavam longe do seu proco estavam muito pr-ximos as capelas da mesma freguesia, e no estarem junto a Matriz ...Lguas, e distante da que lhe davam vinte e tantas, e o ... desta partilhaassim foi o ficarem ... Fazendas ... a conta as ... que lhes fizeram... a fre-guesia das Russas, e vendo-se os suplicantes assim com tanto incmodonesta partilha, sem serem ouvidos nem atendidos, fizeram petio aomesmo R.do Vis.or propondo-lhe as cousas e fundamentos mais slidos,e com que os provia era com dizer que se refizessem outras tantas fa-zendas para o curato de cima, como se todos os benefcios e vigarariasdevam ser iguais no vencimento, seno e bastante a cada Proco ter por-o cngrua para se sustentar, e como se estava aproximando a Quares-ma e se viam os suplicantes e suas familias sem saberem de que fregue-sia eram recorreram terceira vez com uma proposta obedientssima e justs-sima ao mesmo R.do Visitador, cuja cpia oferecem a V. Ex. R.ma qual

    vista respondeu verbalmente que era justo e que ia muito do mal infor-mado a bem informado, e que por ocupaes o no fazia logo, e comisto os foi impondo at depois da Pscoa, e vendo-se os suplicantes pordesobrigar e suas famlias procuraram a resposta e resoluo, e o R.do Visitador lhes respondeu no podia obrar cousa alguma por ter dadoparte a V. Ex. R.ma, e como se vem os suplicantes nestes termos semrecurso h mais de cinco meses no tm mais remdio que recorrerem a V. Ex R.macomo Pai e Pastor de suas ovelhas, to interessado em o seubem tanto espiritual como temporal a cujos ps com reverente submis-so pedem seja servido atender-lhe ao seu requerimento e a mesma pro-

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    posta que oferecem; e porque no suponha V. Ex. R.ma falam os supli-

    cantes por V. Ex R.ma

    no ter informao, nessa Praa se acham o R.do

    D. Flix Machado Freire e o R.do D.or Manuel Machado, que por esteslugares andaram em visita os quais com integral verdade podero a V.Ex dar desta matria conhecimento. E. R. M.

    Agora o despacho e o competente registro nos livros da Ma-triz de N. S. do Rosrio das Russas.

    Aos quatro do ms de junho do ano de mil setecentos e cin-qenta e seis a requerimento dos moradores da Ribeira de Bonabui da

    Barra do Siti para baixo se me foi apresentada uma petio com o des-pacho do Excelentssimo e R.mo Senhor Bispo nosso Prelado o qualmanda faa registrar o dito despacho no Livro desta Matriz de Nossa S.do Rosrio das Russas e na de Santo Antnio de Quixeramobim nova-mente ereta para a todo tempo constar a diviso e partilha feita pelodito Senhor aos ditos Curatos, que o que adiante se segue:

    Como somos informados ser mais conveniente fazer-se a di- viso destas freguesias pela barra do riacho Siti do que pela do rio Bo-nabui, mandamos que assim se observe no obstante a determinaodo Rmo. Visitador a quem este ser mostrado se ainda estiver na fregue-sia e se resistir nos Livros de uma e outra Matriz para a todo tempoconstar. Olinda, vinte e dois de maio de mil setecentos e cinqenta eseis. Bispo. E no se continha mais no dito despacho e determinao dodito Sr. que bem e fielmente registrei da prpria petio a que me repor-to neste Livro da Matriz das Russas. O que tudo... f do meu ofcio ecargo. Eraut supra . Joo Pereira de Lima, Vigrio da vara e cura dasRussas.

    Vitorino Soares Barbosa nomeado Ouvidor do Cear pordespacho de 23 de outubro11 de 1755 tomou posse do cargo a 27 de ju-nho do seguinte ano.

    Como seu antecessor, foi ele s minas dos Cariris. Se no tevepor companheiro de jornada o Capito-Mor Dourado, retirado ento vida privada, coube-lhe a fortuna de ser acompanhado at ali pelo pr-prio Jernimo de Paz.

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    11 Araripe diz 23 de setembro ( Hist. do Cear , pg. 105).

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    O Ouvidor do Cear, diz o Intendente a Lobo da Silva em

    carta de 29 de abril de 1757, me fez companhia at as ditas Lavras por-que se animou a fazer viagem tanto que me viu resolver de me meter aocaminho, expondo-se a passar pelo trnsito que eu passasse, fiado emque eu como mais prtico no pas saberia melhor facilitar os embaraosque opunha o tempo invernoso, e presenciou alguma parte do que te-nho exposto a V. Ex das Lavras de S. Gonalo, e fiz lavrar em sua pre-sena algumas baseadas de terra das mesmas razes dos capins, tiradasdos lugares que a ele lhe pareceu, que as levava diante de si at as apurar,e nenhuma lhe deixou de pintar.

    Anteriormente a 3 de abril j havia ele escrito:Maior pudera ser a remessa do ouro comprado se as chuvas

    que houveram nos meses passados fossem continuadas e gerais, comque se facilitassem os trabalhos, porm as poucas que houveram nosprincpios de fevereiro foram em mangas e de to pequena entidade quedesconfiados muitos se retiraram do trabalho de amontoar cascalhos,despersuadidos de que pudesse haver guas para os poder lavar; pormde nove de maro por diante entrou com tanto mpeto a invernada queat este ponto no permitem os rios vadear-se, e de ento para c se temresgatado a maior parte do ouro que agora remeto, o poder remetermais se as grandes enchentes no fizeram to embaraados os passadosque com dificuldades e no sem risco se atravessam os regatos que me-diram entre umas e outras Lavras e entre elas e este Arraial; e tanto temdificultado os caminhos que ainda se acha nestas minas o Dr. VitorinoSoares Barbosa, onde tinha vindo nas vsperas da invernada por ocasiode nos passar mostra e de outras diligncias do seu cargo.

    Aprecie, porm, o leitor, as impresses que fez no nimo doOuvidor essa viagem de cerca de 3 meses (e no de um ano como diz Joo Brgido pg. 30 dosApontamentos ) e que ele prprio descreve naseguinte carta:

    Ilmo. Exmo. Sr. A V. Ex escrevi do Arraial das Minas doCariris na ocasio da primeira remessa do ouro que foi para essa Praa;e por continuarem as grandes enchentes dos rios estive nele ainda trssemanas invernado sem poder fazer viagem para esta vila, onde aindacom muito trabalho cheguei ontem e fazendo sem embargo do desc-modo caminho pelo Arraial de S. Gonalo novo descoberto da Manga-

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    beira, fui s Lavras, e com efeito em qualquer parte daquele stio h boas

    pintas de ouro, e assentando-me no riacho onde se estava lavando, no vi tirar batia que no pintasse mais, ou menos; e segundo a minha esti-mao de dez ris at trinta ris, de ouro: isto era o comum, e algumasaiu mais avultada, e mandando como por curiosidade, em trs ou quatropartes daquela chapada, aonde no se estava fazendo servio algum, ti-rar a superfcie da terra outras bateadas minha vista, lavando-se pinta-ram da mesma forma; e conversando sobre a existncia das ditas Minascom um mineiro que nelas se acha principiando a fazer o seu servio,que veio das Minas Gerais, me disse que se a gua fosse permanentetodo o ano seriam estas as melhores que todas as que at aqui se temdescoberto neste Estado do Brasil, e que se assim pintavam estas em toboa conta, no havendo nelas quem com experincia soubesse trabalhar,havendo outra casta de gente, que ainda haviam fazer melhor conta, oque no duvido, porque segundo o que alcancei, a maior parte do ourofino o no aproveitam na batia por no saberem a maior parte dos quetrabalham lavrar a terra e cascalho; e no mesmo lugar em que uns estolavando, esto outros tornando a lavar a mesma, e sempre pinta com

    pouca diferena a respeito da que vem tirada das Lavras. Este novo des-coberto fica quase prximo corrente do rio Salgado, em distncia depouco mais de um quarto de lgua de cuja gua na seca se podem apro- veitar os que nela trabalham, se para ele conduzirem o cascalho; porqueainda que este corte no rigor do vero, sempre conservam grandes po-os, e neles podem lavrar em canoa.

    Porm como j mandei dizer a V. Ex nestas Minas no hhomem que tenha possibilidade, nem trabalham a propsito porque a

    misria deles a ambio s os convida a andarem enquanto tiram algu-ma cousa, e sempre andam a descobrir, e bem se mostra o referido por-que todos os que h esto desertos, e s concorrem aonde se descobrede novo e se por comparao amanh houver pessoa que d com outro,j todos deixam este, e assim se conhecer ser a maior parte desta terrauma mina, e nenhum descoberto ser suficiente para se trabalhar conti-nuado nele. Em quanto ao mais j expus a V. Exa. que haver ouro eracerto, e segundo o que entendo de manchas; e enquanto se no dernas betas das referidas minas: e s com homens de melhor experinciapodero avultar na convenincia para S. Maj. e dos prprios mineiros

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    em cujos termos V. Ex vista do referido poder fazer melhor concei-

    to, e nesta parte tenho satisfeito ao que me recomendou, e em tudo omais no faltarei como devo.Estimarei sobre tudo que a V. Ex assista a melhor sade, e

    que me mande em tudo que for servido.Deus Guarde a V. Ex muitos anos. Ic, vinte e um de

    abril de mil setecentos e cinqenta e sete.De V. Ex criado muito obrigado. Vitorino Soares Barbosa .Mas nem a opinio de Soares Barbosa, nem as cartas sempre

    animadoras do Intendente, nem o entusiasmo de Jansen Muller,12

    outroestrangeiro que desde o tempo de Correia de S viera tentar fortuna nosCariris, puderam salvar as Minas de um abandono total.

    O primeiro sinal de sua extino foi a queda da Companhiado Ouro.

    A 12 de maio de 1758 reuniam-se no Palcio das Duas Torresa convite de Lobo da Silva o ouvidor de Pernambuco Joo BernardoGonzaga, o ouvidor da Paraba, Domingos Monteiro