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  • TtuloEducao para a Cidadania

    Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    EditorMinistrio da Educao

    Direco-Geral de Inovao e de Desenvolvimento Curricular

    DirectorLus Capucha

    Directora de Servios de Educao EscolarLusa Ucha

    Equipa do Ministrio da Educao - DGIDCHelena Gil (Org.)

    Paula SerraSilvia Castro

    Equipa do Ministrio da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das PescasDireco-Geral dos Recursos Florestais

    Francisco Oliveira Miguel (Org.)*

    Ilustrao da Capa e Concepo GrficaCeclia Guimares

    ISBN 978-972-742-249-4

    Depsito Legal253497/07

    Tiragem1.000 exemplares

    Edio Dezembro 2006

    Impresso e AcabamentoTipografia Jernimus, Lda.

    *ColaboradoresAna Almeida, Anabela Portugal, Conceio Barros, Conceio Colao, Conceio Ferreira, Graa Rato, Helena Fernandes, Helena Vicente, Jos Neiva, Jos Rodrigues, Liliana Bento, Rita Lopes, Victor Louro, Antnio Tavares, Joo R. Pinho, Manuel Rainha, Mariana Carvalho, Rui Queiroz e Rute Pereira

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    Coleco

    Educao para a Cidadania

    Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    Guio de Educao do Consumidor

    Guio de Educao para o Empreendedorismo

    Guio de Educao para a Sustentabilidade Carta da Terra

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    Prefcio

    A Direco-Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular, no mbito das suas atribuies relativas componente pedaggica e didctica da educao pr-escolar e dos ensinos bsico e secundrio, tem procurado produzir um conjunto de orientaes e de materiais pedaggicos que apoiem os docentes na leccionao e no desenvolvimento de actividades e projectos com os seus alunos. Paralelamente, temos estabelecido uma cultura de parceria com as mais diversas entidades pblicas, privadas e do terceiro sector com vista criao de sinergias que permitam aproveitar o trabalho desenvolvido por aquelas instituies. neste mbito que inauguramos a edio de uma coleco de guies pedaggicos para a rea da Educao para a Cidadania. Estes guies dedicados abordagem de temas especficos, de que a Educao Ambiental exemplo, resultam quer da nossa experincia de reflexo interna relativa s reas curriculares disciplinares e no disciplinares quer do aproveitamento de competncias especficas que as entidades parceiras colocam ao nosso dispor.

    O guio de Educao Guio de Educao Ambiental: Conhecer e Preservar as Florestas resulta precisamente de um trabalho conjunto que nos foi proposto pela Direco Geral dos Recursos Florestais. A sua publicao integra-se num conjunto de trabalhos que esto a ser desenvolvidos por ambas as entidades no mbito da Campanha de Sensibilizao e Educao Florestal a realizar no ano de 2007.

    Esta proposta de trabalho tem como enquadramento o princpio do desenvolvimento sustentvel e assume-se como um contributo temtico para o domnio da educao ambiental. Contributo este que se cinge ao tema da floresta e sua proteco e conservao. A opo justifica-se pela premncia que assume no nosso pas a proteco da floresta, anualmente afectada por incndios que tm colocado em causa um importante recurso natural do nosso pas.

    Porm, este recurso didctico no se limita a ser relevante no contexto da educao ambiental, a informao que veicula pertinente no mbito da histria, da geografia, das cincias da natureza, entre outras. Por outro lado, d-nos a conhecer as principais florestas de Portugal assumindo-se tambm como um instrumento de divulgao cultural. Permite-se, pois, a uma ampla utilizao.

    Contudo, a oportunidade desta publicao resulta, sobretudo, da importncia do tema para educao das nossas crianas e jovens e genericamente das nossas famlias. Sabemos, por experincia adquirida, o papel que aqueles tm desempenhado como multiplicadores de novas competncias que apelam para uma cidadania responsvel junto das suas famlias. A rea da educao ambiental tem sido, neste mbito, o exemplo mais profcuo. Por isso, consideramos que a Escola, entre outros actores institucionais, tem um papel de formao inestimvel que deve ser exercido e aproveitado em amplos domnios que no apenas os dos saberes formais e curriculares.

    A formao de cidados activos e responsveis um desgnio de todos. O que amplamente se verifica um afastamento progressivo das esferas que apelam participao e responsabilidade de todos na comunidade, no que poderamos apelidar por privatizao progressiva das nossas vidas. A Educao para a Cidadania nas nossas Escolas um dos espaos onde se deve trabalhar para travar este movimento.

    Esperamos que esta proposta de trabalho se revele til para os nossos docentes e consequente para formao que queremos dar s nossas crianas e jovens.

    Teresa Evaristo Subdirectora-Geral da Direco Geral de Inovao e Desenvolvimento Curricular

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    Nota de Autor

    Nos ltimos 30 anos ocorreram mudanas extraordinrias no domnio tecnolgico. Estas alteraes, enquadradas num ambiente social, tambm ele em constante adaptao, conduziram a uma nova relao do ser humano com o meio onde se insere. neste contexto que identificamos actualmente um afastamento, dos indivduos e suas famlias, da Natureza e consequentemente do espao florestal.

    O presente Guio de Educao Ambiental pretende contribuir para a aproximao da populao escolar, alunos e professores de forma muito directa e a Sociedade por influncia daqueles, Floresta, recuperando, por um lado a ligao fundamental ao espao natural por excelncia e por outro reavivando o respeito pelas florestas, to necessrio ao equilbrio do ambiente global.

    O conhecimento e a educao de cariz florestal dos nossos jovens e suas famlias ao longo de todo o percurso escolar de nove, doze anos, desde o primeiro ciclo at ao ltimo ano do secundrio, condio necessria para ser formatada uma relao saudvel e profcua com o meio ambiente no qual nos integramos. A insero de matrias florestais nos curricula dos estudantes portugueses, com carcter regular, ano aps ano, era uma aspirao antiga desta Direco-Geral dos Recursos Florestais, que agora vemos concretizada. Temos, pois, a certeza de que, a prazo, as Florestas voltaro a povoar o imaginrio dos Portugueses contribuindo para, num esforo conjunto e persistente, a estabilizao real do ecossistema do qual fazemos parte.

    Paulo MateusSub-Director Geral dos Recursos Florestais

    Defesa da Floresta Contra Incndios

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    ndice

    Justificativo do Guio _______________________________________________________________________________11

    Introduo ________________________________________________________________________________________13

    Captulo I rvores e Florestas de Portugal 1. Florestas: um espao de vida, diversidade, encantamento, riqueza e fragilidade _________________________15 2. A nossa cultura e histria florestais __________________________________________________________16 Falando da nossa Histria Florestal ______________________________________________________17 3. O essencial da floresta portuguesa em nmeros _________________________________________________21 Regime da propriedade florestal em Portugal ______________________________________________21 A constituio da floresta portuguesa ____________________________________________________21 Valor econmico da floresta ___________________________________________________________22 Os incndios florestais _______________________________________________________________23 4. As mais belas florestas de Portugal __________________________________________________________23 As matas da Peneda-Gers ____________________________________________________________23 Soutos e Castinais Castanheiro, rvore de fruto e madeira ___________________________________25 Mata Nacional do Buaco _____________________________________________________________26 Mata Nacional de Leiria ______________________________________________________________27 Tapada de Mafra ____________________________________________________________________28 Os Bosques de Sintra ________________________________________________________________29 As Matas da Serra da Arrbida _________________________________________________________30 O Solar do Pinheiro Manso ____________________________________________________________31 Os Povoamentos de Sobreiro e Azinheira _________________________________________________32 As Florestas dos Aores ______________________________________________________________33 A Floresta Laurissilva da Madeira _______________________________________________________34

    Captulo II A Floresta no Mundo: compromissos e desafios internacionais 1. A floresta no mundo _____________________________________________________________________37 Que florestas temos no mundo _________________________________________________________38 As florestas como sumidouro de carbono __________________________________________________38 As funes da floresta ________________________________________________________________39 Florestas e emprego _________________________________________________________________39 2. Processo ps Conferncia das Naes Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento ______________________39 3. Conferncias Ministeriais para a Proteco das Florestas na Europa __________________________________42 4. Unio Europeia ________________________________________________________________________44

    Captulo III As Funes da floresta 1. Produo _____________________________________________________________________________45 Produo de madeira ________________________________________________________________46 Produo de cortias _________________________________________________________________46

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    Produo de biomassa para energia ______________________________________________________47 Produo de frutos e sementes _________________________________________________________47 Produo de outros materiais vegetais e orgnicos___________________________________________48 2. Proteco _____________________________________________________________________________48 3. Conservao ___________________________________________________________________________49 Conservao de habitats classificados ____________________________________________________50 Conservao de espcies da flora e da fauna protegidas _______________________________________50 Conservao de recursos genticos ______________________________________________________51 4. Silvopastorcia, caa e pesca nas guas interiores ________________________________________________51 Suporte caa e conservao das espcies cinegticas ________________________________________51 Suporte silvopastorcia ______________________________________________________________51 Suporte apicultura _________________________________________________________________52 Suporte pesca em guas interiores _____________________________________________________52 Recreio, enquadramento e valorizao da paisagem __________________________________________52

    Captulo IV Os desafios do desenvolvimento sustentvel

    Captulo V A Proteco das Florestas Um presente para o Futuro 1. Proteco contra agentes biticos __________________________________________________________57 2. Desertificao _________________________________________________________________________58 3. A Defesa da Floresta Contra Incndios _______________________________________________________60 Perspectiva histrica dos incndios florestais em Portugal _____________________________________60 Incndios florestais conceitos bsicos ___________________________________________________65 Combustveis florestais _____________________________________________________________66 Meteorologia _____________________________________________________________________67 Topografia _______________________________________________________________________67 A preveno de incndios florestais um presente para o futuro ________________________________68 Ocorrncias de incndio Portugal recordista ___________________________________________68 A gesto dos combustveis e a mudana de paradigma da floresta ______________________________69 Os incndios na interface urbano/florestal _______________________________________________70

    Captulo VI O Papel do Cidado na Defesa das Florestas ___________________________________ 69

    Captulo VII Actividades Didcticas sobre as Florestas __________________________________________________73

    Bibliografia 83

    Alguma legislao de interesse _______________________________________________________________________87

    Onde h muito mais informao til __________________________________________________________________88

    Glossrio 89

    Anexos 93

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    Guio para a Educao do Consumidor

    Justificativo do Guio

    Pretende-se que este Guio constitua um auxiliar didctico a professores e educadores no apoio preparao de aulas e a projectos educativos desenvolvidos no meio escolar e por eles orientados e dinamizados, no mbito dos espaos e recursos florestais.

    A educao ambiental assume, nos dias de hoje, um papel estratgico face dimenso das ameaas e riscos ambientais, num quadro de crescimento demogrfico e de destruio progressiva de solos, de reas naturais e de diversidade biolgica. A floresta assumida pela generalidade dos cidados como arqutipo da Natureza e a sua salvaguarda e fomento constituem uma prioridade absoluta.

    A floresta, os seus produtos e servios, nas suas mltiplas valncias econmica, social, ambiental, recreativa e cultural - tem um papel vital na riqueza e bem-estar da sociedade actual, que se tem tornado cada vez mais urbana, agressiva e artificial.

    fundamental que os jovens conheam as florestas na sua complexidade, diversidade e importncia dos seus mltiplos usos; que conheam a sua evoluo ao longo dos tempos e o papel modelador do Homem; que sejam sensveis aos riscos que as afectam incndios, pragas e doenas e necessidade de as proteger e conservar; que interiorizem a omnipresena dos mltiplos bens e servios que das florestas recebem e reconheam, ainda, a sua importncia histrica, cultural e simblica. Porque s valorizamos e estimamos verdadeiramente o que conhecemos bem! A conscincia cvica dos cidados e a alterao generalizada de alguns comportamentos quotidianos de risco pode fazer uma saudvel diferena.

    , tambm, fundamental que a abordagem das questes florestais seja feita de forma clara e com rigor cientfico, tanto mais que so comuns os preconceitos, os conceitos imprecisos ou, mesmo, incorrectos ser errado cortar rvores, incompatibilidade entre proteco e produo, conservar ser sinnimo de ausncia de uso, as espcies florestais boas (indgenas) versus as espcies ms (exticas), entre outros.

    Levar a floresta aos jovens para levar os jovens floresta, formando-os no respeito pelos recursos naturais e florestais, sensibilizando-os para a preveno dos incndios florestais e para a necessidade de proteco da floresta em geral e desafiando-os a conhecerem melhor este importantssimo recurso natural renovvel - que a floresta - so alguns dos desafios para os quais este Guio pretende contribuir.

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    Introduo

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    Nenhum outro recurso natural proporcionou ao Homem uma to grande diversidade de bens, servios, olhares, simbologias e emoes como a floresta.

    De fonte renovvel geradora de relevante riqueza econmica, desenvolvimento rural e regional, espao privilegiado de vida, diversidade biolgica e reserva gentica; de elemento determinante na paisagem a fonte inspiradora de mitos, crenas, lendas e contos e de fecunda criao literria e artstica; de smbolo e factor da qualidade do ambiente a espao, por excelncia, de recreio e lazer a floresta foi sempre um espao plural, complexo e multifacetado por tudo aquilo que nos proporciona ou pode proporcionar e pela diversidade de olhares que sobre ela construmos.

    E a floresta vive no meio de ns, nos nossos smbolos, nos provrbios, nas paisagens que vemos, nos livros que lemos, nos objectos construdos de matrias-primas florestais, nos alimentos que consumimos e, ainda, na nossa imaginao, como espao de sensibilidade, de sade, de diverso, de evaso, de equilbrio, de beleza e de bem-estar.

    essa floresta de mltiplos usos, que abriga grande parte dos habitats e das espcies animais e vegetais, que produz as matrias-primas que alimentam importantes fileiras silvo-industriais, que espao de lazer, recreio e turismo para uma populao cada vez mais urbanizada, que assegura benefcios ambientais essenciais e que representa um valor histrico e cultural mpar que queremos proteger, conservar e desenvolver, de forma sustentvel.

    Uma floresta que , simultaneamente, de cada um e de todos, do proprietrio rural, da fileira florestal e dos diversos utentes e beneficirios a nvel local, regional, nacional ou global. Uma floresta smbolo de solidariedade entre geraes e entre regies, diversificada e de qualidade, vivendo no corao dos Homens.

    Imagem 1 Permetro Florestal da Serra da Cabreira

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    Captulo I

    rvores e Florestas de Portugal

    1. Florestas: um espao de vida, diversidade, encantamento, riqueza e fragilidade

    As florestas so o mais forte smbolo da Natureza. Proporcionam um conjunto diversificado de bens e de servios e constituem um valioso patrimnio colectivo, de importncia crescente num mundo cada vez mais urbanizado, artificial e afectado por grandes ameaas ambientais.

    Dos carvalhais aos pinhais, dos choupais brenha mediterrnica, dos eucaliptais ao montado de sobro ou dos soutos laurissilva, grande a nossa diversidade florestal. Algumas das nossas florestas so muito especiais pela sua histria, pela beleza que conferem paisagem, pelas suas rvores notveis, pelo seu patrimnio construdo, pela sua biodiversidade ou pelo seu valor pedaggico e cientfico. De algumas iremos falar neste Guio.

    A rvore um dos smbolos mais ricos e generalizados em todos os tempos e civilizaes. Smbolo da vida (em permanente evoluo) e da verticalidade (estabelecendo a comunicao entre o mundo subterrneo e as alturas) tambm smbolo do sagrado, da fertilidade, da sabedoria, da segurana e da proteco.

    As rvores, ultrapassando largamente os homens em dimenso, altura e longevidade, quase parecendo eternas, adquirem uma dimenso sobrenatural e, por isso, foram frequentemente consagradas a deuses (assim como as florestas) nas religies antigas, nomeadamente dos Celtas. Os Gregos e Romanos tinham o culto de vrias divindades que associaram s rvores. Certas rvores tornaram-se smbolo de famlias ilustres, de cidades, de reis ou mesmo de pases. Plantaes de rvores foram associadas a momentos histricos relevantes e a actos de grande simbolismo.

    A floresta um espao de vida, diversidade, rico de formas, luzes, cores, movimentos, sons e cheiros, que se transforma em cada momento, ao longo do dia e das estaes do ano, e que o homem, atravs dos seus cinco sentidos, pode captar intensamente.

    tambm um espao de mistrio, de foras ocultas e sentimentos contraditrios, que excita a imaginao e o fantstico, constituindo-se como fonte inesgotvel de mitos, crenas, lendas, fbulas, contos de fadas e contos infantis, espao habitado pelas fadas, ninfas, troll, faunos, gnomos, elfos e lobisomens, constituindo uma fonte poderosa de inspirao e criao literria e artstica.

    O conhecimento das rvores, da floresta e da natureza em geral constitui um valor cultural muito importante, que pode ser enriquecido aprendendo a observar e a estudar o que se observa. preciso descobrir a floresta com os sentidos, a inteligncia e o corao, para melhor a conhecer, proteger e valorizar.

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    rvores e Florestas de Portugal

    2. A nossa cultura e histria florestais

    Da floresta natural, densa e extensa, que foi o bero do homem primitivo, floresta dos nossos dias, houve sempre uma ligao muito estreita, umbilical, entre a Histria dos Homens e a Histria das Florestas. Desta longa e ntima co-habitao surgiram representaes simblicas, saberes e prticas, religies e mitologias, moldaram-se paisagens e desenvolveram-se poderosas manifestaes artsticas que fizeram da floresta, a par da sua dimenso econmica, social, recreativa e ambiental, um importante patrimnio histrico e cultural.

    Essa ligao foi bem expressa nas palavras de Joaquim Vieira Natividade, ilustre agrnomo e silvicultor:A floresta, bero do homem, que lhe deu alimento, que lhe forneceu o primeiro abrigo, a primeira arma, a primeira ferramenta; que lhe proporcionou, talvez, o primeiro sentimento esttico e nele acordou a primeira comoo mstica; a floresta, de que fez a caravela que lhe permitiu conhecer a extenso do seu mundo, e a primeira cruz que simboliza as grandezas e as misrias, as injustias e as hericas renncias desse mesmo mundo permanecer indissoluvelmente ligada aos destinos do homem.

    O desenvolvimento das sociedades humanas fez-se quantas vezes custa das florestas, contra as florestas. Um longo processo histrico de desarborizao e de rearborizao marcou, desde tempos imemoriais, a aco modeladora e tantas vezes destruidora do homem das florestas mediterrnicas com o florescimento das primeiras civilizaes, s florestas temperadas europeias com o crescimento da Europa, s florestas da costa brasileira e da Amrica do Norte com a sua colonizao, s florestas tropicais, hoje to ameaadas de destruio, apesar de constiturem a maior reserva estratgica de habitats, de biodiversidade e de patrimnio gentico do planeta.

    A este propsito citam-se tambm as palavras de Natividade: Em nenhum outro patrimnio natural se exerceu com to grande amplitude o poder destrutivo do homem pouco a pouco os arvoredos desapareceram de milhes e milhes de hectares e enormes extenses de deserto, estepe, tundra e charneca vieram ocupar o lugar da floresta multi-milenria.

    As florestas tm uma representao fortssima na nossa vida cultural: os livros cujo papel um produto da floresta; as grandes viagens e descobertas martimas s possveis porque o pas dispunha de uma importante construo naval assente em matrias-primas florestais; a experincia sensorial, pedaggica, cientfica e cultural do contacto do homem com a natureza e os espaos florestais; a relao afectiva e cultural do homem com os objectos do quotidiano em madeira e cortia, cada vez mais smbolos de qualidade e conforto; as manifestaes artsticas, literrias, musicais, escultricas e outras, inspiradas pela rvore e pela floresta; e ainda a sua carga religiosa, mstica e simblica, to vincada nas culturas celtas e na tradio judaico-crist e presente nas lendas, nos contos infantis e nos provrbios.

    O conhecimento da floresta e da natureza em geral constitui um valor cultural muito importante, que pode ser potenciado pelo aprender a observar e pelo estudo do que se observa. o prazer de

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    conhecer o nome das rvores, dos arbustos, das flores silvestres, dos animais, dos pssaros e dos seus cantos e tambm o de identificar as suas caractersticas e perceber as suas interligaes. A este propsito disse So Bernardo:

    As florestas ensinar-te-o mais do que os livros. As rvores ensinar-te-o coisas que no aprenders com nenhum mestre.

    As rvores e as florestas so um dos temas simblicos mais ricos e generalizados em todos os tempos e culturas: rvores smbolo da vida, do carcter cclico da evoluo csmica, consagradas aos deuses, smbolo de uma famlia, de uma cidade, de um povo, de uma nao, smbolo de fecundidade ou de segurana, smbolo poltico ou, ainda, fonte inesgotvel de mitos, crenas, lendas, fbulas e contos de fada.

    As plantaes simblicas de rvores, comemorativas de figuras e acontecimentos, tm tradio. A sensibilizao para a importncia da rvore e da floresta em cerimnias e festas pblicas iniciou-se entre ns em 1907 a 1 Festa da rvore que, a partir de 1912 com apoio de O Sculo Agrcola e da Associao Protectora da rvore, se generalizou a todo o pas, mobilizando escolas e autarquias. esse mesmo esprito que anima o Dia Mundial da Floresta, nos dias de hoje.

    Muitas das nossas matas e reas florestais (pinhal de Leiria, serra de Sintra, Gers, Arrbida ou Buaco e a laurissilva atlntica), constituem em si um valioso patrimnio cultural pela sua histria, pelo seu contributo para a paisagem, pelas rvores notveis que encerram, pelo seu patrimnio arqueolgico, biodiversidade, valor cientfico e pedaggico e, ainda, pelo seu patrimnio construdo. E a sua gesto criteriosa passa obrigatoriamente por uma viso pluridisciplinar que incorpore e valorize esses elementos.

    As rvores e as florestas, pela beleza, diversidade e simbologia que lhes esto associadas, foram desde sempre fonte fecunda e inesgotvel de inspirao e criao artstica. Da pintura, escultura ou arquitectura, literatura, msica, artesanato ou fotografia, muitas foram as formas de expresso cultural que procuraram captar o esprito da floresta.

    A nossa literatura com temtica florestal vem j do sculo XII, notabilizando-se logo no sculo XIII com o nosso Rei D. Dinis e os Cantares de Amigo. Desde ento, a generosidade dos nossos grandes poetas e prosadores no esqueceu as rvores e as Florestas nos seus trechos literrios. O mesmo se passou na literatura popular. Tambm a arquitectura utilizou frequentemente motivos de inspirao florestal ramos, folhas, bolotas e cortia, por exemplo. A pintura e a azulejaria valorizaram frequentemente a rvore e as paisagens florestais. O artesanato em madeira ou cortia atesta igualmente a ligao estreita entre a floresta e a arte.

    Falando da nossa Histria FlorestalDas florestas, matagais e brenhas silvticas povoadas de veados, javalis e ursos que cobriam a maior parte do territrio do ento nascido Portugal, em meados do sculo XII, apenas restam algumas

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    rvores e Florestas de Portugal

    manchas de vegetao, to grandes foram as transformaes que se deram no nosso coberto vegetal. De uma vegetao natural, j ento afectada por muitos sculos de luta pela ocupao e dominao do territrio, composta predominantemente por carvalhos, at floresta bastante mais artificial dos nossos dias em que o pinheiro-bravo, o eucalipto e os montados de sobro e azinho ocupam mais de 90% do coberto florestal, passaram-se cerca de 850 anos de Histria Florestal.

    As potencialidades e a importncia florestal do pas foram reconhecidas pelos nossos reis que produziram legislao, nalguns casos abundante, visando a proteco e o fomento do patrimnio florestal e cinegtico. E, contudo, a diminuio da rea florestal foi uma constante para a qual contribuiu o aumento da populao, o desenvolvimento da agricultura e da pastorcia extensiva, a utilizao da madeira na construo civil e naval e o recurso ao carvo de madeira e lenha para combustvel industrial e domstico. No reinado de D. Joo V (meados do sc. XVIII), acompanhando a expanso da cultura da vinha e dos cereais e a importao de madeiras do Brasil, atingiu-se a mais profunda desarborizao.

    A 1 dinastia caracterizou-se pela sistemtica concesso de coutadas e doao de matas, pelos reis, a particulares e ordens religiosas com objectivos predominantemente cinegticos defesa da caa grossa e, complementarmente, de proteco do arvoredo contra fogos, mutilaes e cortes abusivos.

    Nos sculos XV e XVI construram-se muitas centenas de navios destinados s nossas Conquistas e Descobertas e naturalmente deu-se a evoluo da floresta com objectivos cinegticos para a floresta produtora de matria-prima lenhosa (a este respeito diga-se que a construo de um navio necessitava de 2000 a 4000 rvores).

    As principais madeiras utilizadas na construo de navios foram: o sobro (ou em sua substituio o azinho, o carrasco ou o carvalho) madeira dura, forte, resistente para o liame ou ossatura

    do navio; o pinheiro-manso madeira plstica, resistente podrido, sem fendas nem gretas usada no tavoado; e o pinheiro-bravo madeira leve, sem ns, dando paus compridos e direitos usada nas obras mortas, mastros e vergas. Nos sculos XVII e XVIII foi promulgada valiosa legislao florestal de proteco e fomento, sem que a reduo da rea florestal deixasse de ser uma realidade.

    Com a criao, em 1824, da Administrao Geral das Matas do Reino, no mbito do Ministrio da Marinha, d-se incio ao Portugal Florestal Moderno. Esta uma poca urea do desenvolvimento florestal no nosso pas: legislao, proteco, fomento, introduo da tcnica no ordenamento e gesto das matas, organizao dos servios, publicao de trabalhos de vulto e a criao do Ensino Superior Florestal (1865).

    Imagem 2 Pormenores do planeamento na construo naval

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    O sculo XIX caracterizou-se pelo incio dos trabalhos de fixao e arborizao das dunas do litoral, pelos primeiros trabalhos de arborizao das serras do interior e pelo aumento sensvel da rea florestal, num quadro de desarborizao de folhosas a norte do Tejo com progresso do pinheiro-bravo e, ainda, pela regenerao do sobreiro e valorizao dos montados. A criao dos Servios Florestais em 1886, no mbito da Direco-Geral da Agricultura, marca igualmente uma viragem estratgica da administrao pblica florestal, vocacionada at ento para as matas do litoral e para o fomento florestal no interior montanhoso do pas.

    O sculo XX, em termos florestais, pode caracterizar-se, aps a consolidao orgnica da administra-o pblica florestal e a institucionalizao do Regime Florestal no incio do sculo, por um aumento significativo da rea florestal em resultado de uma aco sistemtica de arborizao: as arborizaes nas serras e dunas do incio do sculo; o Plano de Povoamento Florestal de 1938; a criao do Fundo de Fomento Florestal para a arborizao de terrenos privados; o Programa de Fomento Subercola; o Projecto Florestal Portugus/Banco Mundial e os diversos programas com apoio da Comunidade Europeia arborizao, rearborizao e reconverso de agricultura em floresta. Com a criao do Regime Florestal define-se, a nvel nacional, o quadro jurdico de interveno da Administrao Pblica nos espaos florestais visando a conservao e fixao de solos, a regularizao dos regimes hdricos e a criao de riqueza.

    A arborizao das dunas constitui um dos mais importantes e bem sucedidos captulos da histria do fomento florestal. Dos 37 mil hectares de dunas, pouco menos de 3 mil hectares foram arborizados at 1896, 8 mil hectares de 1897 a 1927 e cerca de 12500 hectares de 1927 a 1936, tendo sido os restantes 14500 hectares arborizados j no mbito do Plano de Povoamento Florestal.

    Com a criao, em 1888, das duas primeiras Administraes Florestais localizadas no interior do pas a de Manteigas e a do Gers inicia-se a arborizao das serras, que vai sofrer grande incremento com o Plano de Povoamento Florestal de 1938. Este Plano, que constitui uma obra notvel de fo-mento florestal nas zonas serranas a norte do Tejo, no s pela sua complexidade e dimenso como pelo rigor de concepo, gerou polmica e alguma conflituosidade social na sua implementao e marcou uma poca e um estilo de interveno dos Servios Florestais. Os seus objectivos foram a concluso do revestimento florestal das dunas e o povoamento florestal dos terrenos baldios a norte do Tejo com uma superfcie a arborizar de 420 mil hectares, a instalao de reservas de vegetao em 33 mil hectares e a instalao de pastagens em 60 mil hectares.

    Imagem 3 Projecto Geral de Arborizao dos Areais Mveis. Litoral Centro. Finais do sc. XIX

    90624-Broc_Floresta 19 07/03/15 14:39:36

  • 20

    rvores e Florestas de Portugal

    Em 1945, com a criao do Fundo do Fomento

    Florestal e Aqucola, inicia-se o apoio da

    Administrao Pblica Florestal floresta

    privada. Das aces de correco torrencial,

    iniciadas em 1901 com a criao dos Servios de

    Hidrulica Florestal, destacam-se as realizadas

    nas bacias hidrogrficas dos rios Lis, Mondego

    e Tejo e no Arquiplago da Madeira, atravs de

    obras de engenharia hidrulica (2087 barragens)

    e do revestimento florestal de talvegues e bacias

    de recepo.

    Em 1938 publicada legislao sobre rvores de Interesse Pblico. Nos anos 30 inicia-se uma obra fecunda em trabalhos cientficos subordinados Proteco da Natureza, em que destacada a estreita relao entre a Floresta e o Ambiente e, a partir dos anos 70, so criados, pelos Servios Florestais, o Parque Nacional da Peneda-Gers (1971) e outras reas protegidas, precursoras de preocupaes e competncias hoje assumidas pelo Ministrio de Ambiente.

    Ao longo do sculo XX, foi produzida uma importante

    legislao proteccionista no mbito florestal de que se

    destaca a relativa proteco do montado de sobro e

    azinho, proteco das rvores de interesse pblico,

    aos condicionalismos arborizao com espcies de

    rpido crescimento e a legislao relativa proteco

    das florestas contra incndios.

    Hoje a abordagem das questes florestais feita,

    cada vez mais, numa perspectiva global e planetria,

    face internacionalizao do comrcio, integrao

    num espao comum europeu e dimenso das ameaas ambientais. As florestas, como elemento

    determinante dos equilbrios do planeta, esto no centro das preocupaes cientficas e polticas dos

    pases e organizaes internacionais, constituindo-se como elemento importante do nosso debate

    nacional pela sua importncia estratgica no nosso desenvolvimento sustentvel, pelo seu importante

    potencial de crescimento, pelos seus reflexos na Agricultura, na Indstria, no Desenvolvimento

    Regional, no Turismo e no Ambiente.

    A floresta assume, tambm, numa sociedade progressivamente mais urbana e menos rural, um

    significado crescente de espao de recreio e lazer, paisagstico, ambiental e cultural. Os desafios do

    sculo XXI para o desenvolvimento sustentvel do sector florestal so imensos.

    Imagem 5 Propaganda para a arborizao das serras

    Imagem 4 Ensaio de plantao de eucaliptos na Mata Nacional do Urso, 1910

    90624-Broc_Floresta 20 07/03/15 14:39:36

  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    21

    3. O essencial da floresta portuguesa em nmeros

    Regime da propriedade florestal em PortugalA maior parte dos espaos florestais detida por proprietrios privados, cerca de 85 %, restando ao Estado a administrao dos restantes 15% (matas nacionais e reas comunitrias arborizadas, e ainda uma parte significativa de outros espaos silvestres, normalmente baldios, no arborizados mas submetidos ao Regime Florestal). Portugal, no contexto europeu, o pas que apresenta a menor percentagem de rea florestal detida ou gerida pelo Estado.

    A estrutura e regime da propriedade florestal apresentam significativas diferenas no sul e no norte do pas, reflexo da diversidade de sistemas agrrios. Enquanto que na parte norte do pas predomina a propriedade particular de pequena dimenso, repartida por muitos blocos e associada a uma aprecivel superfcie comunitria nas regies de montanha, no sul do pas a superfcie florestal, muitas vezes integrada em sistemas agro-silvo-pastoris, surge em exploraes privadas de grande dimenso.

    A constituio da floresta portuguesa

    Devido aos longos perodos de crescimento da floresta, o que existe hoje resultou de intervenes realizadas h muito tempo e o que se faz agora ter consequncias para a vitalidade do sector daqui a um sculo.

    Os espaos florestais ocupam aproximadamente 64% do territrio, com uma rea superior a 5,4 milhes de hectares, e representam cerca de dois teros da superfcie de Portugal Continental. So espaos de composio muito diversa que vo desde sistemas florestais relativamente complexos situados em reservas integrais, onde a actividade humana interdita, at espaos com um coberto vegetal incipiente, em fases precoces do processo de

    Pinhaise outros

    EucaliptaisMontados

    SoutoseCarvalhais

    Matosepastagensnaturais

    Agricultura

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    7000

    8000

    1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

    (100

    0Hectares)

    Figura 2 Evoluo da composio da floresta portuguesa (fonte: Estratgia Nacional para as Florestas, 2006)

    Figura 1 Regime de propriedade florestal em Portugal Continental (fonte: Mendes, A.M. 2002 in Coelho, 2003)

    77%

    8%

    13% 2%

    Floresta privada Floresta privada detida pelas industrias Floresta comunal Estatal

    90624-Broc_Floresta 21 07/03/15 14:39:37

  • 22

    desenvolvimento ecossistmico. De acordo com os dados preliminares do ltimo Inventrio Florestal Nacional (2006), a rea arborizada ocupa cerca de 3,2 milhes de hectares, no que corresponde a 36% do territrio continental.

    Entre 1991 e 2003, o pas investiu fortemente na rearborizao, tendo subvencionado publicamente a constituio de perto de 460.000 hectares de novos povoamentos, a uma mdia aproximada de 20.000 hectares por ano.

    Valor econmico da FlorestaUma estimativa relativa a 2001 apontava o valor de 1,3 mil milhes de euros como sendo a produo econmica total efectiva da floresta no continente, incluindo no apenas a sua realizao comercial,

    mas tambm os servios ambientais e sociais que presta, e no descontando as externali-dades negativas (Mendes, 2005).

    A floresta tem sido a base de um sector da economia que gera cerca de 113 mil empregos directos, ou seja 2% da populao activa. O sector representa tambm cerca de 10% das exportaes e 3% do Valor Acrescentado Bruto.

    Enquanto a fileira da pasta e papel contribui para cerca de 4000 empregos directos, a

    fileira da cortia gera mais de 12 mil empregos directos, representando uma importante fraco no comrcio externo nacional, com cerca de um tero do total de exportaes.

    Paralelamente caa, que tem vindo a ser progressivamente organizada em zonas ordenadas, valorizando a actividade de forma muito acentuada, tambm a pesca nas guas interiores tem sofrido

    0

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    3.500

    4.000

    1977

    1978

    1979

    1980

    198

    1

    198

    2

    1983

    1984

    1985

    1986

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    7

    198

    8

    1989

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    1991

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    3

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    4

    1995

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    1998

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    9

    200

    0

    2001

    2002

    2003

    (106eu

    ros)

    Indstria do papel, artesgrficase edio de publicaes

    Indstria da madeira e da cortia

    Silvicultura

    Figura 4 Evoluo do Valor Acrescentado Bruto do sector florestal, a preos correntes relativos ao ano de 2003 (fonte: INE)

    rvores e Florestas de Portugal

    29,97%

    22,93%19,85%

    14,20%

    3,64%

    1,08% 5,03% 0,62%2,69%

    P inheiro B ravo E ucalipto S obreiro

    A zinheira P inheiro -mans o Outras R es inos as

    C arvalhos C as tanheiro Outras F o lhos as

    Figura 3 Composio das florestas portuguesas (fonte: Inventrio Florestal Nacional - resultados preliminares, 2006)

    90624-Broc_Floresta 22 07/03/15 14:39:37

  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    2

    um grande incremento nos ltimos anos, tendo o nmero de pescadores triplicado desde 1980 (Estratgia Nacional para as Florestas, 2006).

    De igual forma, tem-se assistido a um incremento no associativismo florestal, pea chave na dinamizao da pequena e mdia propriedade florestal, com 137 associaes em 2004, o dobro das que existiam em 1998.

    Os Incndios Florestais

    O ano de 2005 foi o sexto ano consecutivo em que a rea ardida foi superior a 100.000 hectares de espaos florestais. Esta constatao, associada ao facto de Portugal ter valores de rea ardida e de ignies significativamente superiores a qualquer outro pas da bacia mediterrnica (Espanha, Frana, Itlia e Grcia), adivinha uma tendncia de agravamento da situao preocupante, que apenas uma alterao de comportamentos dos cidados poder inverter.

    O nmero de ocorrncias anuais de incndios florestais em Portugal Continental sofreu um aumento considervel nos ltimos 25 anos. Os valores mximos foram atingidos nos anos de 1995, 1998, 2000 e 2005 (em que foram ultrapassadas as 30 mil ocorrncias). As ocorrncias de incndios registam-se sobretudo nos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro, representando no conjunto quase 80% dos registos.

    Figura 6 rea ardida em 2003, 2004 e 2005 (fonte: J. Pinho, 2006)

    Figura 5 Uso do solo florestal em Portugal continental

    (fonte: Instituto do Ambiente,

    Corine Landcover 2000)

    0

    50000

    100000

    150000

    200000

    250000

    1975

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    ha

    superfcie

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    floresta

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    1997

    1999

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    2003

    2005

    ha

    superfcie

    ardida

    matos

    floresta

    Figura 7 rea ardida - mdias mveis, 5 anos (1975-2005) (fonte: DGRF, 2005)

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    Para alm disso, observa-se um aumento do nmero de ocorrncias no ms de Maro. Este aumento regista-se, sobretudo, no Norte do pas podendo estar relacionada com prticas agrcolas, habitualmente realizadas naquele ms e que recorrem ao uso do fogo.

    4. As mais belas Florestas de Portugal

    As matas da Peneda-GersO Parque Nacional da Peneda-Gers, criado em 1970 no mbito do Ano Europeu da Conservao da Natureza, a mais antiga rea protegida do pas. Com cerca de 72.000 hectares, ocupa uma regio montanhosa que inclui grande parte das serras da Peneda, do Soajo, Amarela e do Gers. Detentor de uma grande variedade de habitats e de uma biodiversidade de riqueza excepcional, tem um coberto vegetal de caractersticas nicas no pas.

    Possui uma fauna muito diversificada, donde se destaca o coro, o lobo, o javali, a raposa, o texugo, a lontra, a guia-real, o falco peregrino, a vbora, etc. ainda de assinalar a populao de garranos selvagens da raa luso-galaica e, mais recentemente, da cabra montesa.

    Nas zonas baixas e abrigadas, com um clima mais temperado e hmido e em altitudes at aos 800-1000 metros, encontram-se os bosques de carvalho alvarinho aos quais se associam o castanheiro, o padreiro, o azereiro, o azevinho, o pilriteiro, o medronheiro e a gilbardeira. Nas encostas mais quentes e secas expostas a sul abundam os sobreiros. Os azevinhos podem subir aos 1300 metros, constituindo, por si ss, verdadeiras matas.

    Acima dos 900 metros, medida que aumenta a interioridade, o carvalho alvarinho vai cedendo

    lugar ao carvalho negral, ocorrendo tambm o vidoeiro, espcie j caracterstica da zona euro-siberiana, tal como o pinheiro-silvestre e o teixo, localizados em altitude, nos vales mais hmidos e abrigados, representando restos de uma vegetao ps-glaciar. Estes pinheiros-silvestres que, por vezes, atingem os 15-20 metros de altura, constituem as nicas populaes desta espcie nativas do nosso pas.

    Acima dos 1300 metros existem apenas matos de altitude como urzes, giestas e zimbro.

    No Parque Nacional da Peneda-Gers podem ainda encontrar-se espcies raras e endmicas da nossa flora como o lrio-do-gers, o feto-do-gers, o hiperico-do-gers, a betnica, a Pinguicula vulgaris e a uva-do-monte.

    rvores e Florestas de Portugal

    Imagem 6 Parque Nacional da Peneda-Gers

    90624-Broc_Floresta 24 07/03/15 14:39:40

  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    Os principais bosques de arvoredo autctone situam-se na

    Matana e no Ramiscal (na Serra da Peneda), no Cabril (Serra

    Amarela) e em Albergaria, e no Beredo (Serra do Gers),

    constituindo relquias da antiga floresta climtica de grande

    valor cultural e cientfico.

    O Parque Nacional da Peneda-Gers um dos ltimos locais

    em Portugal Continental onde ainda se encontram ecossistemas

    pouco alterados pela aco do homem, e se podem observar

    verdadeiros bosques autctones, com toda a diversidade e

    magia da natureza.

    Soutos e Castinais - Castanheiro, rvore de fruto e madeiraO Castanheiro ocupa cerca de 60.000 hectares no nosso pas,

    concentrados principalmente na Terra Fria Transmontana,

    onde encontra excelentes condies ecolgicas. Ali assume

    elevado valor econmico e faz parte integrante da

    cultura regional. No estado natural uma essncia

    disseminada como as restantes fruteiras da floresta, tais

    como as cerejeiras, macieiras e pereiras bravas e no uma

    espcie social como o carvalho ou o pinheiro que sempre

    apareceram em matas.

    At importao de novas espcies do mundo novo, na poca

    dos descobrimentos, como por exemplo a batata, a castanha

    constituiu a base da alimentao na Europa, sendo designada

    por rvore do po, marido da ama de leite, man,

    rvore da vida, entre outras.

    Por outro lado, a Europa entre o fim da Idade Mdia e o sculo XVIII foi considerada uma

    verdadeira civilizao do castanheiro. A ela est associado um imaginrio muito forte, traduzido

    por diversos autores em elogios beleza, majestade e virilidade desta rvore, que em algumas

    regies se prolongou pelo sculo XIX at aos nossos dias, nomeadamente em Trs-os-Montes.

    As plantaes florestais de castanheiro desenvolveram-se principalmente em duas grandes pocas: Ida-de Mdia, acompanhando a viticultura, e na transio do sculo XIX para o XX, em resultado das necessidades crescentes em madeira. Mais recentemente tem sido utilizado sobretudo nos terrenos abandonados pela agricultura.

    Imagem 8 Castanha fruto de elevado interesse econmico

    Imagem 7 Parque Nacional da Peneda-Gers

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    O castanheiro, para alm da produo abundante de fruto, quer para alimentao humana quer para uso animal, tem um grande interesse econmico e social. A sua madeira foi fundamental para tanoaria, para uso em forjas, minas e outras indstrias e para a extraco de taninos, continuando nos dias de hoje a ter grande importncia em carpintaria, marcenaria e mobilirio.

    de referir que a castanha na alimentao do porco uma prtica antiga que est a ser relanada actualmente, porque este fruto enriquece as qualidades gustativas da sua carne, tornando-a mais saborosa e tenra, o que a tem valorizado muito nas recentes feiras de Fumeiro.

    A castanha ocupa o primeiro lugar no valor das nossas exportaes de fruta, contribuindo a regio de Trs-os-Montes com a elevadssima quota de 90%. Porm, h graves problemas que tm atingido esta espcie, nomeadamente o incremento da propagao de doenas (tinta e cancro), assim como algumas dificuldades relacionadas com o xodo rural e a consequente falta de mo-de-obra.

    Mata Nacional do BuacoA Mata Nacional do Buaco, com o seu extraordinrio patrimnio botnico, paisagstico, arquitectnico, arqueolgico, religioso, militar e histrico, constitui um espao mpar no nosso pas. Situada na freguesia do Luso, concelho da Mealhada, tem uma rea de 105 hectares vedados por um muro numa extenso de 5,3 quilmetros.

    As primeiras referncias ao Buaco datam do sculo X. Pertena do Mosteiro da Vacaria, dos monges beneditinos, transita para o Bispado de Coimbra e a partir de 1626 para a Ordem das Carmelitas que a constroem um Mosteiro e se dedicam valorizao da sua floresta, nomeadamente com a introduo de diversas espcies exticas. Este trabalho ser continuado posteriormente pelos tcnicos florestais da Administrao Geral das Matas (1856) e dos Servios Florestais (1888) atravs de novas arborizaes.

    A presena abundante e majestosa do cedro-do-buaco (Cupressus lusitanica Miller) torna-o um ex-libris da Mata, a par do seu Hotel Palace, de prestgio internacional, construdo entre 1888 e 1907 para palcio real, em estilo neo-manuelino e com projecto arquitectnico de Luigi Manini.

    Do seu valioso patrimnio natural e construdo destaca-se:

    - Uma mata de grande beleza, rica em rvores centenrias e de grande porte, que constitui uma das melhores coleces dendrolgicas da Europa,com um conjunto muito diversificado de espcies exticas cedro do Buaco, araucrias, eucaliptos, pseudotsugas e sequias, entre muitas outras;

    rvores e Florestas de Portugal

    Imagem 9 Postal de poca da Mata do Buaco

    90624-Broc_Floresta 26 07/03/15 14:39:43

  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    - Uma grande diversidade quer vegetal quer animal, consti-tuindo-se como um santurio para algumas espcies raras;

    - Uma grande abundncia de gua traduzida em pequenos lagos e cascatas e numerosas fontes;

    - Um grande valor paisagstico como a Cruz Alta, a Fonte Fria, o Vale dos Fetos, o Vale dos Abetos ou os jardins circundantes do Palace;

    - Um notvel patrimnio arquitectnico, incluindo as construes religiosas o Convento, as Capelas, as Ermidas, as Portas abertas no muro, a Fonte Fria, os Chals e o Hotel Palace.

    A Mata do Buaco tem, assim, uma longa e rica histria que passa pelos monges beneditinos e carmelitas descalos, por epi-sdios da nossa histria, pelas batalhas contra as tropas napole-nicas, pela aco arborizadora de frades e tcnicos florestais e por numerosas histrias e lendas que lhe esto associadas.

    Mata Nacional de LeiriaA Mata Nacional de Leiria, tambm conhecida por Pinhal de Leiria ou Pinhal Real, situa-se na sua totalidade no concelho da Marinha Grande, de cuja superfcie ocupa cerca de dois teros da superfcie, a sul do rio Liz, nas dunas do litoral. Tem uma rea de 11.029 hectares dividida por arrifes (sentido norte/sul) e aceiros (sentido nascente/poente) em 142 talhes de cerca de 35 hectares. A espcie largamente predominante o pinheiro-bravo.

    A origem do pinhal de Leiria remonta, segu-ramente, a tempos anteriores ao reinado de D. Dinis (1279/1323), eventualmente anterior fundao da monarquia e nele predominava ento o pinheiro manso. Mas foi a D. Dinis que a lenda e a tradio consagraram como figura emblemtica deste Pinhal, pois muito contribuiu para a sua valorizao considerando-o como Mata da Coroa. Nele mandou fazer grandes sementeiras de pinheiro bravo e estabeleceu as primeiras regras para a sua administrao. Com estas aces, D. Dinis visava a fixao das areias do litoral que prejudicavam a agricultura da regio e, ao mesmo tempo, produzir madeiras de qualidade para as necessidades da construo naval.

    Imagem 11 Mata Nacional de Leiria

    Imagem 10 Mata Nacional do Buaco

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    O Pinhal Real foi o primeiro sustentculo econmico da Marinha Grande produzindo as matrias-primas para as indstrias de serrao de madeiras e destilao de produtos resinosos e, mais tarde, para a indstria vidreira (a madeira da mata era o combustvel utilizado).

    A histria da Administrao Florestal est intimamente ligada a esta Mata, que chegou a ser a sua sede no quadro da Administrao Geral das Matas do Reino e onde trabalharam alguns dos mais antigos e ilustres tcnicos florestais nas mais diversas reas do conhecimento

    florestal: estudos, investigao, cartografia, ordenamento, resinagem, correco torrencial, fixao e arborizao de dunas, silvicultura do pinheiro bravo, formao profissional e explorao florestal.

    essencialmente uma mata de produo de madeira de pinheiro de qualidade. Junto ao mar situa-se uma zona de abrigo, onde se podem observar os pinheiros serpente. H grandes rvores, nomeadamente nas margens do Ribeiro de Moel e nos aprazveis Parques do Tremelgo e do Engenho como cupressos, eucaliptos, accias, abetos, choupos, carvalhos e amieiros, entre outras.

    Alm do papel de proteco, a Mata de Leiria desempenha uma importante funo social para os povos limtrofes (trabalho e produtos secundrios) assim como para os cidados em geral, pelo magnfico espao de recreio e lazer complementar das praias de Pedrgo, Vieira e So Pedro de Moel.

    Tapada de MafraA Tapada de Mafra foi criada em 1747, no reinado de D. Joo V (o Rei Magnnimo), com o objectivo de proporcionar um adequado envolvimento ao Palcio-Convento de Mafra, constituir um espao de recreio venatrio para a corte e, ainda, abastecer o Convento em lenhas e outros produtos.

    hoje a maior zona natural murada do pas e fica situada no concelho de Mafra, a cerca de meia hora de Lisboa, com uma rea total de 1187 hectares, rodeada por um muro de pedra e cal de 3 a 3,5 metros de altura, com 18 quilmetros de extenso e 8 portes de acesso.

    Local de eleio dos ltimos reis de Portugal para o lazer e a caa, a Real Tapada de Mafra ganhou um cunho de nobreza que ainda hoje preservado e continuado. Com a implantao da Repblica passou a designar-se por Tapada Nacional de Mafra e a destinar-se ao exerccio de caa e actos protocolares. Hoje, administrada por uma Cooperativa

    rvores e Florestas de Portugal

    Imagem 13 Javali, como exemplo da diversidade animal na Tapada de Mafra

    Imagem 12 Pinheiros serpente da Mata Nacional de Leiria

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    de Interesse Pblico e tem como objectivo a investigao, a preservao da fauna e flora, a educao ambiental, a actividade cinegtica e o turismo rural, estando aberta ao pblico e s escolas.

    Pela grande diversidade de habitats acolhe um nmero muito significativo de espcies animais. Alm dos mamferos de grande porte (veado, gamo, e javali), de fcil observao, existem outras espcies nomeadamente texugo, saca-rabos, doninha, ourio-cacheiro, guia-de-Bonelli, aor, gavio, pica-pau, sapo, r, cobras vrias, etc. algumas com estatuto de conservao raro.

    Os bosques da Tapada incluem espcies como o pinheiro-manso e o pinheiro-bravo, o eucalipto, o pltano e diversos carvalhos como o carrasco, o carvalho-cerquinho, o sobreiro e a azinheira, cuja bolota fundamental como alimento de cervdeos e javalis. Espcies caractersticas das linhas de gua, como freixos, choupos, salgueiros e amieiros marcam tambm a sua presena.

    As diversas escolas do pas podem participar em actividades de educao ambiental. Para o efeito, a Tapada dispe de guias que levam os jovens e seus professores descoberta deste espao florestal e a visitar os seus dois museus (de viaturas de traco animal e de caa).

    O visitante poder dispor do acompanhamento de um guia ou descobrir por si mesmo os diferentes habitats da Tapada, em passeios de BTT ou percorrendo os percursos pedestres estabelecidos e usufruir de diversos servios de apoio para as visitas de lazer, de estudo ou outros eventos sociais.

    Os Bosques de SintraA floresta de Sintra, rica em espcies atlnticas e mediterrnicas, marca a transio entre a vegetao do norte e do sul do pas. Nela foi reconhecida a existncia de 901 plantas autctones, das quais sete so endemismos locais.

    Da sua vegetao primitiva sobram hoje indivduos dispersos e alguns pequenos bosques, pouco degradados, que constituem verdadeiras relquias de grande valor cultural e cientfico. A ocorrncia de velhos samoucos e a visvel expanso do vinhtico e do til constituem indcios de sobrevivncia de uma possvel associao de carcter macaronsico. Nos vales, nas linhas de gua, sobrevivem restos de formaes ripcolas como salgueiros, freixos, amieiros, ulmeiros, sabugueiros e sanguinhos.

    No sculo XIX, o romantismo, o despertar do interesse pela natureza e a grande curiosidade cientfica, levaram ao cultivo de novas espcies que muito enriqueceram os seus parques e jardins e valorizaram a sua paisagem. So particularmente notveis os Parques da Pena e de Monserrate, mandados plantar,

    Imagem 14 Parque Natural Sintra-Cascais e o Palcio da Pena

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    respectivamente, pelo Rei D. Fernando II e pelo rico industrial ingls Francis Cook, nos quais foram introduzidas centenas de espcies das mais diversas partes do mundo, reconstituindo paisagens e ambientes de pases distantes, em perfeita harmonia e integrao com o meio envolvente e a vegetao autctone, criando a iluso de fazerem parte da sua prpria natureza.

    O reconhecimento da existncia de valores naturais, culturais e paisagsticos que urgia defender e conservar levou, em 1929, criao da rea Florestal Especial de Sintra. Mais tarde, em 1981, foi instituda a rea de Paisagem Protegida de Sintra-Cascais que, em 1994, foi reclassificada e elevada categoria de Parque Natural.

    O carcter excepcional e nico do seu patrim-nio natural e cultural e a beleza e diversidade de uma paisagem resultante do perfeito sincretismo entre o construdo e o meio ambiente, e o lugar

    que Sintra ocupa na arquitectura europeia do perodo romntico, levaram em 1995 classificao de Sintra e da sua Serra como Patrimnio da Humanidade na categoria de Paisagem Cultural.

    As Matas da Serra da Arrbida

    A Serra da Arrbida, cadeia montanhosa calcria que se estende entre Palmela e o Cabo Espichel, representa um patrimnio extraordinrio, sendo depositria de importantes valores culturais, histricos, paisagsticos e recreativos, alm de valores cientficos, como o caso da vegetao, que, segundo alguns autores, no existe outra que se lhe compare em Portugal ou mesmo no mundo.

    Em 1971 foi criada a Reserva da Arrbida e, em 1976, o Parque Natural da Arrbida, com uma rea de 10.821 hectares, entre Setbal, Palmela, Sesimbra e o mar. A Serra da Arrbida, formada por diversas elevaes de que a cota mais alta so 500 metros, situa-se no encontro das influncias climticas atlnticas e mediterrnicas e o esplendor do seu conjunto de rochas, vegetao, relevo e mar conferem-lhe um valor paisagstico muito especial. As falsias sobranceiras ao mar possuem excelentes condies para nidificao de aves.

    O Convento da Arrbida, situado em pleno corao da serra, fundado em 1542 por frades franciscanos, hoje utilizado para fins culturais pela Fundao Oriente, sendo um dos ex-libris da Serra da Arrbida.

    Frei Agostinho da Cruz e Sebastio da Gama foram os grandes poetas desta serra. O Portinho, as praias, o Parque Marinho, os miradouros, as estaes arqueolgicas, o Convento, a riqueza da flora a da fauna, os afloramentos calcrios, o Forte de Santa Maria mandado construir em 1672 e hoje

    rvores e Florestas de Portugal

    Imagem 15 Exemplo da diversidade de espcies presente nas matas de Sintra

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    Museu Oceanogrfico, os queijos e a gastronomia da regio so factores que tornam obrigatrio visitar a Arrbida.

    A vegetao actual pode ser dividida em dois grandes grupos. Um que ocupa a maior parte da serra e que constitudo por matos de diferente desenvolvimento (mato baixo, mato alto e matagal), entrecortado por numerosos afloramentos rochosos. O segundo tipo, apesar de constituir uma parte mnima da serra, tem uma importncia fundamental pois o que resta, com maior ou menor alterao, da primitiva floresta.

    Segundo o botnico francs Chodat (1909), o macio vegetal impenetrvel: as copas tocam-se, os troncos entrelaam-se, os arbustos prendem-se uns aos outros, as trepadeiras enleiam--se, de tal forma que h plantas mortas a apodrecer, mas que se conservam de p por no terem espao para onde cair. Tudo isto evoca a ideia de uma floresta virgem, sob clima mais rico de calor e humidade em outras pocas, mais remotas da histria do globo.

    As matas, actualmente reduzidas a quatro povoamentos florestais (Mata do Solitrio, Mata Coberta, Mata do Veado e Mata da Cova da Mina), deveriam constituir uma rea mais importante na serra. Destas destaca-se a do Solitrio pela sua rea e estado de conservao.

    O Solar do Pinheiro Manso nas areias soltas e nos podzis que o pinheiro-manso (Pinus pinea) encontra as melhores condies vegetativas. So estas as condies edafo-climticas do concelho de Alccer do Sal e, por isso, aqui se concentram 60% dos 78 mil hectares que constituem a rea de pinheiro manso do pas. Encontram-se aqui os seus melhores exemplares, pelo que considerado, muito justamente, o Solar do Pinheiro Manso. A sua importncia na economia da regio considervel.

    A visita aos pinhais mansos desta regio torna obrigatria a ida Mata Nacional de Valverde, que pertenceu outrora ao Convento de Ara Coeli, com magnficos pinheiros mansos de alto fuste e para produo de madeira, nomeadamente

    Imagem 16 Parque Natural da Arrbida

    Imagem 17 Mata Nacional dos Medos - Povoamento de pinheiro manso

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    para construo naval. Tambm merecem uma visita os povoamentos to caractersticos da Charneca de Alccer, cujo objectivo a produo de fruto.

    O pinheiro manso tem uma copa de forma muito caracterstica e produz uma semente de excelente paladar, o pinho. Desenvolve-se em quase todos os tipos de solos mas prefere os soltos, profundos e frescos, aceitando bem o calor e a secura, mas exigente em luz. Resiste ao vento mas sensvel ao frio. o nosso pinheiro mediterrnico por excelncia.

    O pinho desta regio pode considerar-se o melhor do pas dadas as suas qualidades de paladar e o seu elevado rendimento industrial. A produo mdia por rvore da ordem das 250 pinhas mas frequente encontrarem-se rvores produzindo 1000 e at 2000 pinhas. Para alm do grande valor econmico tem tambm presena significativa na doaria regional. A valorizao crescente do pinho tem permitido a esta espcie florestal competir com outras tradicionalmente mais rentveis.

    A madeira de pinheiro manso tem hoje fraca procura por parte dos industriais da madeira mas j ocupou no passado um lugar de destaque como matria-prima de valor na construo naval, nomeadamente na poca dos Descobrimentos, por produzir peas curvas e capazes de estar em contacto duradouro com a gua, sem degradao. Essa resistncia gua levou a que grande parte da Baixa Pombalina de Lisboa, reconstruda aps o terramoto de 1755, esteja assente em toros de pinheiro manso, ainda hoje inalterados.

    A rea potencial do pinheiro manso muito superior actual, pelo que existem grandes potencialidades da sua expanso e valorizao econmica, nomeadamente no centro e sul do pas.

    Os Povoamentos de Sobreiro e AzinheiraO sobreiro (Quercus suber) no nosso pas uma rvore de eleio grande porte, longevidade, presena em todo o territrio e uma enorme importncia econmica, social, ambiental, paisagstica, histrica e cultural pelo que a poderemos considerar a rvore-smbolo de Portugal.

    O sobreiro a nossa segunda espcie florestal em rea e os seus principais povoamentos localizam-se actualmente nas bacias dos rios Tejo e Sado, sendo contudo possvel encontrar

    sobreiros em quase todo o pas. A toponmia ligada ao sobreiro muito rica e leva-nos a admitir uma distribuio antiga do sobreiro mais vasta que a actual, nomeadamente no norte do pas. A legislao proteccionista abundante e quase to antiga como a fundao da nacionalidade.

    A cortia que o sobreiro produz uma matria-prima nica, que flutua na gua, elstica, compressvel, impermevel, inodora, imputrescvel e com excelentes qualidades isoladoras, natural, renovvel,

    rvores e Florestas de Portugal

    Imagem 18 Montado de sobro em regime silvo-pastoril

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    reciclvel e amiga do ambiente, com um passado milenar de usos diversos e um futuro promissor. Portugal o primeiro produtor mundial de cortia, quer em qualidade quer em quantidade, o primeiro transformador e o primeiro exportador.

    O sobreiro e a azinheira (Quercus ilex spp rotundifolia) que com ele reparte significativa parte da sua zona natural, so espcies mediterrnicas sbrias e resistentes e que se adaptam bem a solos pobres e inaptos para outra cultura rentvel. Formam tradicionalmente formaes florestais abertas, em regime extensivo agro-silvopastoril, sujeitas a regular interveno humana e constituindo sistemas estveis, multifuncionais, em equilbrio com o meio natural e designados por montados.

    Os seus povoamentos florestais tm grande resistncia ao fogo e contribuem para a composio de paisagens de grande qualidade. A diversidade de bens e servios de carcter econmico e ambiental dos montados, nos mbitos agronmico, florestal, silvopastoril, cinegtico, turstico e industrial, contribuem para o desenvolvimento sustentado de regies deprimidas e em risco de desertificao fsica e humana.

    Proporcionam mltiplos produtos com valor econmico, quer da rvore em si, quer de todo o sistema que constitui o montado: cortia, madeira, lenha e carvo, lande, entrecasco para extraco de tanino, folhas, pastagens para criao de gado, caa, cogumelos e plantas aromticas e medicinais, mel, e so um espao privilegiado para turismo de lazer, cinegtico e ambiental.

    Dos valores ambientais relevantes, para alm dos que so comuns s florestas em geral, pelo facto de serem sistemas florestais estveis e multifuncionais, asseguram uma diversidade biolgica muito rica, pelas excelentes condies de abrigo, ensombramento, suporte alimentar e habitat para a flora e fauna silvestre, uma das mais ricas da Europa.

    As Florestas dos AoresAs nove Ilhas de Bruma que constituem o arquiplago dos Aores, a 1800 quilmetros do continente europeu no Atlntico Norte, mantiveram-se isoladas do mundo at ao sculo XIV, o que permitiu conservar vestgios de flora de mundos gigantes de outras pocas, que apesar de raros ainda hoje podemos encontrar. Fazendo parte da Macaronsia, a sua floresta natural constituda principalmente por faiais, florestas lauriflias e de ilex, zimbrais e urzais.

    Imagem 20 Tiragem de cortia

    Imagem 19 Herdade da Contenda - montado de azinho com pasto em subcoberto

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    Apesar de nomes que nos so comuns, estas espcies so nicas, resultantes de milhes de anos de isolamento que permitiram a criao de novas espcies, com algumas das caractersticas que possuam no Tercirio, no tempo dos dinossauros. Podemos assim dizer que a maioria das florestas naturais dos Aores so constitudas por dinossauros vivos do reino vegetal.

    Os espaos ocupados por estas espcies esto

    hoje protegidos por convenes internacionais

    e legislao nacional e regional, constituem

    reservas florestais naturais, sendo possvel a visita a algumas delas, bem como a observao de

    exemplares isolados, dispersos pelo territrio destas ilhas encantadas.

    Desde o sculo XIV que a ocupao dos Aores pelo homem tem vindo a produzir grandes alteraes

    na sua paisagem. A introduo de herbvoros, a explorao das madeiras nobres das suas florestas

    naturais como so exemplo o cedro do mato, o sanguinho, o pau branco e a limpeza de terrenos

    para a agricultura e para a edificao de povoaes, originaram grandes alteraes ao nvel da

    paisagem e das espcies utilizadas.

    No final do sculo XIX introduzida na regio aquela que hoje a espcie com maior expresso,

    a Criptomria japnica, como o seu nome indica originria do Japo e regies vizinhas. Nos anos quarenta do sculo XX, com o estabelecimento dos Servios Florestais nos Aores, promoveu-

    se uma grande expanso da critpomria, que constitui hoje a principal espcie das florestas de

    produo da regio, sendo que tambm possvel encontrar pinhais, acaciais, eucaliptais e matas

    de incenso.

    A ligao dos aorianos com a sua floresta muito especial e a utilizao dos espaos florestais,

    como locais de recreio, est h muito enraizada. Como resultado, existem em todas as ilhas reservas

    florestais de recreio, devidamente estruturadas e equipadas onde, para alm de se poderem em

    muitos casos vislumbrar as espcies endmicas, se encontra uma enorme variedade de espcies

    exticas que criam ambientes que permitem ao visitante momentos de relaxamento, diverso e de

    ligao com a floresta e a natureza.

    A Floresta Laurissilva da MadeiraA laurissilva consiste num tipo de floresta que remonta ao Tercirio, abrigando seres vivos que

    existem desde esse perodo e outros que evoluram desde ento. Trata-se de um exemplo nico das

    formaes florestais que, at Era Glaciar, ocuparam grandes reas do Sul da Europa.

    rvores e Florestas de Portugal

    Imagem 21 Floresta dos Aores

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    Na actualidade, na Ilha da Madeira que existe a maior mancha de laurissilva da Macaronsia e a que se encontra em melhor estado de conservao, ocupando uma rea de aproximadamente 15.000 hectares, localizando-se a maioria na vertente norte, dos 300 aos 1300 metros de altitude, e no sul entre os 700 e os 1200 metros.

    Para alm da diversidade biolgica, outra riqueza da floresta laurissilva a gua. Este bem est sempre presente e faz com que esta floresta seja conhecida por produtora de gua. Parte da gua recolhida e encaminhada por canais, as Levadas, para ser utilizada no consumo, na agricultura e nas centrais hidroelctricas.

    Hoje, embora a laurissilva no seja uma floresta de produo, ainda so utilizadas plantas na alimentao e para fins medicinais, como so exemplos a utilizao dos ramos novos (espetos) e das folhas de loureiro na culinria, a utilizao da madre-de-louro e do azeite-de-louro na medicina popular, o uso de frutos silvestres na feitura de compotas e a utilizao de folhas e ramagens de leituga e aipo do gado na alimentao do gado. Este uso sustentado dos recursos naturais um garante da proteco da floresta.

    Para alm destes aspectos, a prpria beleza das paisagens e as peculiaridades da laurissilva continuam a atrair e a mobilizar visitantes, fomentando o turismo e o desporto de natureza.

    A laurissilva da Madeira uma floresta de conservao e proteco e gerida como tal. A salvaguarda da vegetao caracterstica dos vrios estratos permite proteger o solo, impedindo a eroso e a destruio de seres vivos, proporcionando o equilbrio ecolgico do ecossistema no global. Encontra-se protegida por legislao regional, nacional e internacional. Est maioritariamente includa na rea do Parque Natural, habitat prioritrio da Directiva Habitats, Stio da Rede Natura 2000, Reserva Biogentica do Conselho da Europa e Patrimnio Natural Mundial da UNESCO. Este reconhecimento pela UNESCO impe-nos uma maior responsabilidade, como cidados, na sua proteco e salvaguarda da biodiversidade.

    A Floresta no Mundo: compromissos e desafios internacionais

    Imagem 23 Floresta Laurissilva da

    Madeira

    Imagem 22 Parque Natural da Madeira - Floresta Laurissilva

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    Captulo II

    A Floresta no Mundo: compromissos e desafios internacionais

    Embora o territrio nacional tenha a limit-lo fronteiras administrativas, a temtica florestal extravasa esses limites porquanto o ambiente global, a atmosfera uma s, existem bacias hidrogrficas partilhadas, as trocas comerciais so um facto a nvel mundial, e as diferentes polticas sectoriais, no s a nvel nacional como internacional, influenciam a floresta. Ou seja, Portugal est integrado num espao que, para alm de Europeu e Pan-Europeu, tambm um espao global. Como tal, tem participado activamente no dilogo internacional pois, em florestas, como alis em tantas outras matrias, os benefcios, os compromissos e os desafios so comuns e as responsabilidades partilhadas.

    1. A floresta no mundo

    As florestas cobrem, aproximadamente, 30% da superfcie terrestre do planeta, com uma rea de cerca de 4 mil milhes de hectares. Esta distribuio , entanto, bastante heterognea. Por exemplo, 64 pases com uma populao combinada de 2 mil milhes de habitantes tm menos de 200 milhes de hectares de floresta, ao mesmo tempo que 10 pases representam, por si ss, mais de 2/3 do total da rea florestal do planeta.

    A desflorestao, um dos temas com maior destaque na actualidade, sobretudo na sua vertente de converso de floresta em terrenos agrcolas, continua a aumentar a uma taxa alarmante aproximadamente 13 milhes de hectares/ano. Ao mesmo tempo, a plantao de novas florestas, a reflorestao de paisagens danificadas ou a expanso natural das florestas tm reduzido bastante as perdas em termos de rea florestal. Em termos lquidos, as perdas de rea florestal no perodo 2000-2005 esto estimadas em -7,3 milhes de hectares/ano (uma rea de dimenso equivalente Serra Leoa ou ao Panam), em comparao com os -8,9 milhes de hectares/ano no perodo 1990-2000.

    809

    478

    310

    303197164

    134

    88

    69

    68

    1333

    F ederao R us s a

    B ras il

    C anad

    E s tados Unidos

    C hina

    A us tralia

    R ep. Dem. do C ongo

    Indons ia

    P eru

    India

    Outros

    Figura 8 Dez pases com maior rea florestal (milhes de hectares), 2005 (fonte: FAO, 2006)

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  • 8

    Que florestas temos no mundo

    Globalmente, mais de um tero de todas

    as florestas so florestas primrias, sendo

    que, no entanto, 6 milhes de hectares

    so perdidos ou modificados todos os

    anos. Esta reduo, registada no perodo

    1990-2000 e mantida entre 2000-2005,

    deve-se no apenas desflorestao, mas

    tambm a outras actividades humanas

    como o abate selectivo de rvores. As

    plantaes florestais, fundamentalmente

    estabelecidas com fins de produo, mas igualmente plantadas com propsitos de proteco do

    solo e da gua, contam com menos de 4% da rea total (140 milhes de hectares).

    As florestas como sumidouro de carbono

    Se por um lado a desflorestao, a degradao e m gesto florestal reduzem o armazenamento

    de carbono nas florestas, a gesto sustentvel dos recursos, plantaes e reabilitao de florestas

    pode aumentar o sequestro de carbono (estima-se que as florestas do mundo armazenem

    283 Giga toneladas de carbono). Na sua globalidade, os stocks de carbono nas florestas do mundo

    tm diminudo em cerca de 1,1 Giga toneladas de carbono anualmente, sendo que nalgumas

    partes do globo este armazenamento tem aumentado.

    A Floresta no Mundo: compromissos e desafios internacionais

    36,4%

    57,2%

    7,1%3,2% 0,8%

    F lores tas primrias

    F lo res tas naturais modificadas

    F lo res tas s emi-naturais

    P lantaes flo res tais - produo

    P lantaes flo res tais - proteco

    Figura 10 Caracterizao das florestas (fonte: FAO, 2006)

    Figura 9 Tendncia de evoluo das florestas no mundo (fonte: FAO, 2006)

    90624-Broc_Floresta 38 07/03/15 14:39:55

  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

    9

    As funes da floresta A produo de madeira continua a ser uma im-portante funo das florestas, a par de um cresci-mento elevado de produtos no-lenhosos (funo prioritria de 34% das florestas do mundo). De igual forma, a produo lenhosa e no-lenhosa combinada com outras funes como proteco do solo e da gua, conservao da biodiversidade, recreio e lazer representa a utilizao de mais de metade das florestas mundiais.

    A conservao da diversidade biolgica, presente sobretudo na figura de reas protegidas, representa cerca de 11% da rea total no planeta. Por outro lado, as florestas com funes de proteco, como a conservao do solo e da gua, o controlo de avalanches, a estabilizao de sistemas dunares, o controlo da desertificao e a proteco costeira, contabilizam cerca de 300 milhes de hectares em todo o mundo. Mais difcil de contabilizar a utilizao das florestas como suporte a actividades de recreio e lazer (apenas a Europa apresenta resultados fiveis).

    Florestas e empregoO emprego gerado pela floresta no mundo, excluindo o sector de transformao dos produtos lenhosos e no-lenhosos, diminuiu cerca de 10% entre 1990 e 2000, possivelmente devido a aumentos na produtividade. Ainda assim, as florestas constituem fonte de emprego para mais de 10 milhes de pessoas (o emprego formal representa 10 milhes de empregados) vivendo em zonas rurais.

    2. Processo ps Conferncia das Naes Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento

    A Conferncia das Naes Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento (CNUAD), realizada no Rio de Janeiro, em 1992, constitui um marco indelvel no dilogo internacional sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel. Nesta Conferncia foram abordadas, de forma sistematizada, as vrias componentes do desenvolvimento e as suas inter-relaes com o ambiente, tendo sido acordado num documento - a Agenda 21 - um plano global de aco, visando inverter o processo de deteriorao ambiental e perseguir o desenvolvimento sustentvel da sociedade. Da Agenda 21, e no que floresta diz directamente respeito, importa destacar os seus Captulos 11 Combate desflorestao e 12 Gesto de ecossistemas frgeis: combate desertificao e seca. Desta Conferncia resultaram ainda vrias Convenes Internacionais na rea do ambiente e com

    Figura 11 Tendncias de remoo de material lenhoso madeira para uso industrial e madeira para energia (fonte: FAO, 2006)

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    implicaes para o sector florestal: a Conveno sobre a Diversidade Biolgica, a Conveno Quadro sobre Alteraes Climticas e a Conveno de Combate Desertificao nos pases afectados pela seca grave e/ou desertificao, particularmente em frica. Ainda que intensamente discutida, a CNUAD no chegou a consenso quanto a uma Conveno sobre Florestas, apenas tendo aprovado uma Declarao oficial de princpios, juridicamente no vinculativa, para um consenso global sobre a gesto, conservao e desenvolvimento sustentveis de todos os tipos de floresta, conhecida mais comummente por Princpios Florestais.

    Para assegurar o cumprimento das decises adoptadas na CNUAD, as Naes Unidas (NU) estabeleceram a Comisso de Desenvolvimento Sustentvel (CDS). Avaliando os resultados ps-Conferncia do Rio, esta Comisso entendeu lanar aces mais concretas visando a gesto, conservao e desenvolvimento sustentvel das florestas e continuar a discutir a necessidade de se negociar um instrumento juridicamente vinculativo especfico para as florestas (uma Conveno). Neste sentido, foram estabelecidos sob a gide da CDS dois grupos ad-hoc: primeiro (95-97) o Painel Intergovernamental sobre Florestas (PIF) e posteriormente (97-00) o Frum Intergovernamental sobre Florestas (FIF), os quais acordaram numerosas propostas de aco dirigidas aos pases e/ou s instituies no sentido de se criar condies para a gesto florestal sustentvel.

    Terminados os mandatos respectivos, e ainda sem consenso para se adoptar uma Conveno de cariz global, sobre as Florestas, foi decidido estabelecer um rgo Intergovernamental mais definitivo, em comparao com os grupos ad-hoc anteriores - Frum das Naes Unidas sobre Florestas (FNUF). Paralelamente, foi tambm lanada uma Parceria de Colaborao sobre Florestas (PCF) entre as diferentes agncias, organizaes e instrumentos legais internacionais que tratam das questes florestais, com vista ao desenvolvimento de uma aco mais coerente aos vrios nveis de interveno e em apoio ao trabalho do FNUF.

    O objectivo principal do FNUF centra-se na promoo da gesto, conservao e desenvolvimento sustentvel de todos os tipos de floresta, procurando o entendimento ao nvel intergovernamental para reforar o compromisso poltico a longo prazo sobre o que se torna necessrio fazer para alcanar este objectivo, sendo portanto um frum para o desenvolvimento continuado de polticas e de dilogo entre Governos.

    Esto estabelecidos pelo FNUF quatro Objectivos Globais para as Florestas (cuja concretizao ser sujeita a avaliao peridica):

    1 - Reverter a perda de coberto florestal a nvel global atravs da gesto florestal sustentvel e, em simultneo, aumentar esforos para evitar a degradao florestal;

    2 - Aumentar os benefcios econmicos, sociais e ambientais baseados na floresta pela melhoria das condies de vida das populaes dependentes da floresta;

    3 - Aumentar significativamente a rea de florestas protegidas e outras reas de florestas geridas sustentavelmente, assim como aumentar a proporo de produtos florestais provenientes de florestas sustentavelmente geridas;

    A Floresta no Mundo: compromissos e desafios internacionais

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  • Guio de Educao Ambiental: conhecer e preservar as florestas

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    4 - Inverter o declnio dos montantes da Ajuda Pblica ao Desenvolvimento (ODA) destinados gesto florestal sustentvel, para alm de mobilizar novos e adicionais recursos financeiros para a gesto florestal sustentvel.

    O dilogo internacional proporcionado pelo processo ps-Rio levou interiorizao de conceitos relativos ao desenvolvimento de polticas, que, no caso da poltica florestal se encontra expresso num novo conceito de programa florestal nacional (PFN). De facto, hoje aceite mundialmente pela comunidade internacional florestal que o programa florestal nacional constitui um termo genrico para referir um conjunto vasto de abordagens definio de polticas e planeamento florestal, e respectiva aplicao, que permite obter um quadro compreensivo de poltica florestal, para se atingir a gesto florestal sustentvel. Sendo um conceito flexvel, permite abordagens especficas nacionais ao planeamento e programao do sector florestal. Caracteriza-se no entanto por ser um processo iterativo, dirigido pelo prprio pas, consistente com as restantes polticas nacionais e com os compromissos internacionais, de forma a possibilitar uma abordagem holstica, inter-sectorial e integrada do sector florestal. Caracteriza-se ainda por ser construdo a partir da base (bottom-up), com a participao de todos os grupos de interesse, procurando estabelecer inter-relaes com os outros sectores, assim como analisar os impactos correspondentes. O desenvolvimento do PFN deve deste modo ter em conta a abordagem ao ecossistema (ecosystem approach), integrando a conservao e utilizao sustentvel da biodiversidade, para alm de contemplar a adequada oferta e valorizao dos bens e servios florestais. O reforo das capacidades institucionais aos diferentes nveis deve igualmente ser contemplado.

    Do processo do Rio de Janeiro importa ainda referir, pelas implicaes que tm para o sector florestal, as principais Convenes na rea ambiental:

    A Conveno sobre Diversidade Biolgica (CDB) tem como objectivos a conservao da diversidade biolgica, a utilizao sustentvel dos seus componentes e a partilha justa e equitativa dos benefcios resultantes da utilizao dos recursos genticos1. A Conveno elaborou um Programa de Trabalho sobre Biodiversidade nas Florestas, programa este que ser avaliado num futuro prximo, e que tem por objectivo concertar aces aos diversos nveis para que nos ecossistemas florestais se atinjam os objectivos da Conveno. Refira-se que este Programa de Trabalho se destina a ser executado pelas Partes da CDB, bem como pelo Secretariado e pelas diferentes organizaes, sobretudo as do sistema das NU. atravs de estratgias, planos e programas nacionais para a conservao e utilizao sustentvel da diversidade biolgica que uma das partes da CDB aplica os compromissos decorrentes deste Programa de Trabalho, para alm de integrar os respectivos princpios nas estratgias, planos e programas sectoriais. Portugal, tendo em vigor a sua Estratgia Nacional para a Biodiversidade, est a corresponder a estes compromissos.

    1 Biodiversidade, neste contexto, inclui a diversidade dentro de cada espcie, entre as espcies e dos ecossistemas

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    A Conveno Quadro das Naes Unidas sobre as Alteraes Climticas e o Protocolo de Quioto so instrumentos que tm por objectivo a estabilizao das emisses antropognicas dos gases com efeito de estufa. Neste contexto h que destacar o papel reconhecido s florestas

    enquanto sumidouro e reservatrio de Carbono.

    Objectivamente, as Partes tero que contabilizar as alteraes lquidas (emisses e sumidouros) dos gases com efeito de estufa que resultem das operaes de florestao, reflorestao e

    desflorestao, quando estas so induzidas pela aco humana directa. As alteraes dos stocksde Carbono resultantes de alteraes da gesto florestal podero igualmente ser contabilizadas.

    Claramente, com estes instrumentos possvel valorizar um servio prestado pela floresta, servio

    esse passvel de ser encarado como uma oportunidade para o sector florestal.

    A Conveno de Combate Desertificao resulta da necessidade em contrariar a expanso de um fenmeno a desertificao que, de forma sucinta, consiste na degradao da paisagem,

    do sistema produtivo e do solo, tornando-o improdutivo. As florestas, se por um lado podem

    desempenhar um papel de mitigao dos efeitos dessa degradao, por outro, podem para ela

    contribuir se no forem corrigidas determinadas prticas silvcolas inadequadas. Portugal, sendo

    um pas afectado por este fenmeno a uma escala j preocupante, ter de actuar de forma integrada

    modificando prticas e ponderando seriamente opes em mltiplos sectores de actividade.

    3. Conferncias Ministeriais para a Proteco das Florestas na Europa

    O Processo das Conferncias Ministeriais para a Proteco das Florestas na Europa uma iniciativa

    A Floresta no Mundo: compromissos e desafios internacionais

    Os Estados Signatrios e a Comunidade Europeia comprometem-se a:

    - Desenvolver, aos nveis adequados, um dilogo com o pblico e a realizar programas eficientes para aumentar a conscincia sobre os benefcios da actividade florestal sustentvel para a sociedade;

    - Adaptar os sistemas e programas de educao e de formao profissional que contribuam para o desenvolvimento de uma mo-de-obra altamente especializada e multidisciplinar, aumentando tambm o envolvimento das mulheres em actividades relacionadas com a floresta;

    in Resoluo L1 Pessoas, Florestas e Actividade Florestal fomento dos aspectos scio--econmicos da gesto florestal sustentvel da Terceira Conferncia Ministerial para a Proteco das Florestas na Europa, Lisboa 1998.

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    poltica de alto nvel, de cooperao e dilogo entre cerca de 40 pases europeus e a Comisso Europeia, tendo como objectivo a abordagem a oportunidades e ameaas comuns no que concerne a assuntos florestais. Neste dilogo de representantes governamentais encorajada a participao de organizaes intergovernamentais, no-governamentais, agentes do sector, proprietrios florestais, indstria e comunidade cientfica. Esta diversidade de ideias, experincias e realidades florestais enriquecedora. Outra das suas caractersticas essenciais a flexibilidade havendo, por isso, espao para a integrao das mais recentes preocupaes globais assim como dos compromissos internacionais, os quais tm depois as correspondentes leituras comuns Europeias.

    Portugal integra este Processo desde a primeira hora, participando activamente, tendo j sido o anfitrio de uma das Conferncias Ministeriais a de Lisboa, realizada em 1998.

    J se realizaram quatro Conferncias Ministeriais: Estrasburgo (1990), Helsnquia (1993), Lisboa (1998) e Viena (2003). A prxima decorrer no final de 2007, em Varsvia. Nas C