Guião de Rádio para Crianças

1

Introdução1Definindo a DeficiênciaA deficiência não deve ser considerada uma doença, mas sim diminuição de

capacidade de funções e estruturas corporais. Ou seja, crianças com deficiência

são aquelas que podem ter dificuldades de ver, ouvir, falar, andar, lembrar, etc.

Esta condição pode impedir a realização de actividades, limitando a participação

social, sobretudo quando predominam comportamentos e atitudes baseados em

mitos, tabus e preconceitos. Por estas razões, as crianças com deficiência são muito

vulneráveis e necessitam do apoio de todos nós para sobreviverem no dia-a-dia.

A Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC)... ... e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD)

questionam a abordagem assistencialista, que considera as crianças com

deficiência como alvos passivos de cuidados e de protecção. Para tanto, aquelas

convenções apelam ao reconhecimento de todas as crianças como membros

plenos de suas famílias, comunidades e sociedades. Nessa perspectiva, a

ênfase não se coloca na ideia tradicional de “salvar” a criança, mas sim em

fazer investimentos para remoção das barreiras físicas, culturais, económicas,

comportamentais, de comunicação e de mobilidade, que impedem a realização

plena dos direitos da criança, em que se inclui o direito a uma participação

activa nas tomadas de decisão que dizem respeito à sua vida diária.

1

O livro que estás a ler é destinado a crianças que produzem programas de

rádio, ‘de criança para criança’, nas estações radiofónicas do nosso país.

Nas páginas que se seguem tens à tua disposição muitos conselhos, dicas

e ensinamentos, que te ajudarão a produzir programas mais interessantes

para as outras crianças. Como vês, o livro foi preparado para ser um guião,

um orientador.

O objectivo principal deste guião é ajudar-te a pesquisar e a criar

conteúdos sobre um assunto de grande interesse, que é a criança com deficiência. Trata-se de uma tarefa muito interessante. Com efeito, se

produzir programas para crianças já é apaixonante, fazê-lo para crianças

com deficiência representa muita responsabilidade, pois, contribuirás

para que, todos juntos, possamos oferecer a essas crianças um mundo

mais agradável e justo. Por isso, no acto de produzires os programas, e

sempre que sintas necessidade, pede ajuda a outros meninos ou meninas

do teu clube, escola, comunidade, ou fala com os titios da tua estação de

rádio. Para aprofundares alguma matéria sobre crianças com deficiência,

que tenha chamado a tua atenção, deves consultar e envolver os membros

das associações de pessoas com deficiência, crianças com deficiência,

técnicos de saúde, profissionais de acção social, professores, etc. Também

podes recorrer aos manuais, guiões, brochuras, revistas, livros e relatórios

que falam sobre a temática da criança com deficiência, ou até à internet

e outros documentos que estejam disponíveis.

2

O mais importante, quando falamos sobre deficiência, ou com alguém com deficiência,

é o respeito. Respeito significa valorizar as capacidades, talentos e a curiosidade que

as crianças com deficiência também têm. Respeito significa ainda utilizar palavras que

demonstrem consideração pelo outro. A criança com deficiência deve ser tratada como a

pessoa que ela é, mostrando-se que ela é diferente mas não inferior, e que todos somos

diferentes uns dos outros.

Ao fazermos programas sobre a criança com deficiência, a grande mudança que podemos

ajudar a produzir nas atitudes e comportamentos da sociedade é a inclusão e a valorização.

Ou seja, além de falarmos dos assuntos ligados à deficiência nos nossos programas

radiofónicos, devemos partilhar com elas a tarefa de produzir esses mesmos programas.

Isso, como deves estar já a imaginar, implica muitas outras coisas. Por exemplo, o edifício

da estação de rádio deve permitir o acesso aos estúdios e estes devem estar preparados

para serem utilizados por meninas e meninos com deficiência. Implica garantir o acesso a

oportunidades de participação e de convívio social, como é o caso das escolas, centros de

saúde, lugares de lazer, fontes de água potável, serviços de transporte, desporto e cultura.

Neste guião vais descobrir qual é a melhor maneira de fazer isso.

Para facilitar a compreensão, as palavras mais difíceis, ou as menos usuais, serão explicadas

no fim de cada página, ou capítulo. Também te daremos algumas dicas de como falares e

abordares certas questões sobre o tema. Elas vão ajudar-te a concentrares-te no essencial,

fazendo do convívio com as meninas e meninos com deficiência, um momento de muita

alegria e felicidade.

Vamos então, juntos, produzir programas sobre a deficiência que garantem a protecção e

promoção de direitos iguais a todas as crianças!

3

2Porque as crianças com deficiência devem participar nos programas de rádio de “Criança para Criança”?

Há muitas razões. Mas vamos destacar apenas duas. A primeira

razão tem a ver com a alegria e o prazer que todos temos de ouvir

a nossa própria voz, ou a de alguém conhecido, num programa

na rádio. É agradável, não é? Quer dizer, se a voz das crianças

com deficiência passar nos programas, elas próprias, os seus

familiares e os amigos vão querer ouvir esses programas com

mais frequência e atenção. E, isso faz toda a diferença!

Mas, atenção: participar não quer dizer apenas ser

entrevistado, ou tomar parte nos programas, por

telefone, ou carta. Participar é também poder sugerir

temas e integrar as equipas de produção. Para tal,

verifica bem se os conteúdos e a linguagem respeitam a

condição da criança com deficiência e assegura-te de que

os programas que são transmitidos reflectem os plenos

direitos e pontos de vista de todos. Esta é a segunda razão!

4

De que forma a participação nos programas radiofónicos demonstra respeito pelos direitos das crianças com deficiência?

As crianças com deficiência devem desfrutar de todos os direitos humanos e liberdades, em igualdade de circunstâncias com as outras

crianças. As crianças com deficiência têm também o direito de expressar,

livremente, as suas opiniões sobre tudo aquilo que lhes diz respeito.

O que é bom para cada criança deve ser sempre considerado uma

prioridade. A participação das crianças com deficiência nos programas

radiofónicos ajuda a garantir que os seus direitos sejam respeitados.

Tu, como produtor de programas na rádio, podes

contribuir para que o mundo saiba que as crianças com

deficiência têm direitos iguais aos das outras crianças.

É importante que a sociedade saiba, que criar as condições para o acesso, movimentação e participação autónoma de crianças e adultos com deficiência não depende apenas da boa vontade. É responsabilidade de todos e constitui um direito fundamental da pessoa com deficiência, podendo condicionar a sua autonomia, a sua inclusão e participação.

Assim, se tu tens uma deficiência deves ter as mesmas

oportunidades e poder participar em todas as actividades, seja na

família, na escola, ou na comunidade. Os adultos devem ajudar-te

a deslocares-te, a comunicar e a brincar com outras crianças, não

importa o tipo de deficiência que possas ter.

5

Como participa a criança com deficiência nos programas radiofónicos? Ficou já claro, que a primeira tarefa que tens é a de “mobilizar” as crianças com deficiência, os seus pais e encarregados de educação, provedores de serviços e a comunidade em geral, para que reconheçam que as crianças com deficiência podem e devem integrar equipas de produção de programas. Como vimos, isso tem muitas vantagens, pois facilita a aceitação das mensagens. Assim, nos programas da tua estação de rádio, convida os teus familiares e amigos a ajudarem as crianças com deficiência a deslocarem-se até à rádio, ou a informarem-se sobre o modo como podem participar nos programas. Se conseguires uma entrevista, ou uma interacção em directo, com uma criança com deficiência, essa criança transforma-se num exemplo, e poderá ser imitada por outras meninas e meninos nas mesmas condições. Faz questão de que a gravação seja transmitida o maior número de vezes possível, durante as diversas emissões, tanto em Português, como nas línguas locais, para que seja ouvida pelo maior número de pessoas.

Com a tua equipa de produção podes discutir e identificar as melhores maneiras de passarem a incluir crianças com deficiências nos vossos programas. Para tal, é necessário teres uma ideia de onde elas se localizam, contactá-las e incluí-las no plano de reportagem, ou no de produção (caso não saibas ou nunca tenhas feito um plano de produção de programa, pede ajuda aos titios da tua estação radiofónica).

Nos debates e programas interactivos, deves sempre incluir crianças com deficiências, ouvir as histórias de vida delas e brincar como brincas com as outras crianças.

As restrições à participação nos programas, por parte das crianças com deficiência, dependem muito do tipo de deficiência que a criança apresenta. Por exemplo, as crianças com deficiência visual, quando acompanhadas, podem aceder a edifícios sem rampa, nem elevador e podem participar em programas produzidos no estúdio radiofónico. Muitas crianças com deficiência auditiva comunicam através de gestos: ou língua de sinais. Elas podem expressar-se desse modo e alguém pode traduzir para a linguagem verbal. Estes são apenas alguns exemplos. Com os teus colegas, e em conjunto com as meninas e meninos com deficiência conversem sobre este assunto. Verás como todos podem participar de forma útil no processo de produção. Durante a conversa procura responder às seguintes perguntas:

6

Com a tua equipa, imagina como interagir com crianças que andem em carrinhas de rodas, que utilizem muletas, ou que tenham outro tipo de deficiência. Podes pedir ajuda aos membros das associações de pessoas com deficiência, técnicos de saúde e de acção social. Eles têm mais experiência nessa matéria.

Agora, que os teus contactos com crianças com deficiência são mais frequentes, é altura de elas fazerem parte da equipa de produção. De acordo com a capacidade e habilidade que elas dominarem melhor, discute, abertamente, qual a tarefa que podem realizar. O segredo é reconhecer que, melhor do que ninguém, elas próprias sabem o que podem e como podem fazer. As dificuldades que possam apresentar no início, certamente que, com o tempo, serão ultrapassadas. O que é necessário é treino, paciência e perceber que tanto elas como tu têm os mesmos direitos (pergunta-te sempre: O que é que ela pode? O que é que ela sabe? O que é que ela consegue?).

As crianças/adultos com deficiência e os seus familiares devem participar nos grupos editoriais e conselhos de gestão, ou nas associações responsáveis pela gestão da estação radiofónica, que existem em muitas rádios comunitárias. A participação de crianças/adultos com deficiência e a palavra deles são muito importantes neste tipo de reunião, pois garantem que o assunto “deficiência” seja sempre incluído nas prioridades temáticas da estação emissora e, por essa via, na vida da comunidade.

7

É muito frequente as pessoas com deficiência serem obrigadas

a viver em condições de desvantagem, devido a entraves físicos,

de comunicação e até sociais, que impedem a sua participação

plena e o seu acesso, em igualdade de circunstâncias, às mesmas

oportunidades, quer de educação, quer de formação académica, de

emprego e desenvolvimento profissional, ou mesmo de integração

social. Porém, é importante salientar que a participação não se limita

apenas a uma mera presença física em actividades sociais, mas sim

em exercer um papel activo e com protagonismo, podendo sugerir

temas e integrar as equipas que realizam essas actividades.

Sem uma mudança de atitude, poucas mudanças ocorrerão na vida

das crianças com deficiência. A ignorância sobre a natureza e as

causas da deficiência, a invisibilidade das próprias crianças, a atitude

grave de subestimar o seu potencial e as suas capacidades, além de

outros obstáculos à igualdade de oportunidades e de tratamento

contribuem, em bloco, para silenciar e marginalizar as crianças com

deficiência.

Porquê falar da “Criança com Deficiência” nos Programas de rádio?

3

8

Os líderes e os agentes do governo têm como função, para além de controlar e penalizar

os crimes cometidos contra as crianças com deficiência, ajudar as comunidades, famílias,

funcionários e provedores de serviços a vencer preconceitos, fornecendo-lhes ampla

informação sobre os direitos, as capacidades e os desafios relativos às crianças com

deficiência, incentivando a construção de estruturas, não só físicas mas também sociais,

que possibilitem a inclusão das crianças e adultos com deficiência. Um exemplo disso

é a construção de acessos para as pessoas com deficiência, que se enquadrem bem na

arquitectura da escola, e façam com que a criança se sinta integrada na comunidade.

É neste âmbito que entram, tanto a estação de radiodifusão, como tu, enquanto produtor

de programas. O teu papel é fundamental para mudar o comportamento da

sociedade, incluindo as crianças com deficiência e os seus familiares. És tu

quem vai intermediar o diálogo entre as pessoas com deficiência, as famílias,

os provedores de serviços e os membros da comunidade em geral, em prol

da protecção e promoção dos direitos da criança com deficiência. Lembra-

te: a tua opinião é respeitada e ajuda os ouvintes a formularem as suas

próprias opiniões e a mudarem de comportamento e de atitude em

relação a diversos aspectos, que afligem a comunidade.

É importante recordar que as pessoas mudam o comportamento

se estiverem esclarecidas acerca das vantagens, ou benefícios,

que a mudança oferece. Por isso, é tão importante analisar os

factores que podem dificultar, ou facilitar, a mudança, como é

identificar e destacar os benefícios e os ganhos que a pessoa e a

sociedade obterão, se mudarem o comportamento.

9

Como seleccionar os temas/assuntos, língua e horários dos programas radiofónicos?

As crianças com deficiência, os seus familiares, os técnicos de saúde, os professores e todos

aqueles que se relacionam com elas sabem, melhor do que ninguém, quais são os assuntos que

podem interessar e ser úteis às outras crianças com deficiência.

Uma das melhores formas de escolher os assuntos para os programas de radiodifusão é pedir

sugestões e opiniões às pessoas a quem o programa é dedicado (a essas pessoas, como já

sabes, chama-se público- alvo). Vejamos, em conjunto, como isso se faz:

• A consulta ao público-alvo pode ser feita por meio de conversas com um grupo focal

(algumas das pessoas que representam o público-alvo). Com o grupo focal seleccionas os

temas, os tópicos, a mensagem-chave e o problema. Para conseguires estas informações,

faz as seguintes perguntas: Por exemplo, quanto ao tema CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA: Quais

são os assuntos que gostariam de ouvir tratados nos programas radiofónicos? Aos diversos

temas que a resposta contiver, chamamos tópicos. Cada tópico contém uma importante

mensagem para se transmitir aos ouvintes. A esta mensagem chama-se mensagem-chave.

O grupo focal do público-alvo pode também indicar qual, ou quais os problemas, que afectam

a criança com deficiência no seu dia-a-dia, no seio da comunidade;

• Também se pode envolver os próprios ouvintes pedindo-lhes que sugiram alguns temas.

Essas sugestões podem ser enviadas através de cartas, sms, e-mail e facebook, nos casos

em que houver condições para tal. Esta pesquisa de temas pode ser feita duas ou três vezes

por ano, basta que peças ajuda aos titios da tua estação radiofónica para organizarem e

mediarem um grupo focal que inclua adultos;

• Também podes pedir às pessoas que entrevistas para os vários programas, que deixem

propostas de assuntos que a rádio possa abordar;

• Além dessa consulta ao grupo-alvo, tu e as meninas e meninos que produzem os programas

podem seleccionar tópicos e assuntos para os programas, através da leitura de livros,

guiões temáticos, manuais, brochuras e relatórios sobre o assunto em causa. Podem ainda

navegar na internet, etc.;tem

as

e tó

pico

s

10

• Quanto aos horários e à língua de emissão, discute no grupo editorial, com as meninas, meninos e titios da

estação de rádio, quais os dias da semana e qual o horário que mais lhes convém para ouvirem o programa.

Ao mesmo tempo pergunta e pesquisa qual a língua que é mais falada e compreendida pelo teu público-

alvo. Deves realizar estas tarefas com a ajuda/supervisão dos titios.

O ideal é recolher o máximo de

sugestões no mais curto espaço

de tempo. Esta recolha pode ser

feita, por exemplo, ao longo de uma

semana. Depois, tu e a tua equipa

organizam a informação recolhida.

Organizar a informação significa

formular correctamente os temas e,

para cada tema, indicar os tópicos.

Para cada tópico é necessário definir

a mensagem-chave. Ao fazer isso

estás a construir o plano temático

(caso nunca tenhas feito um plano

temático, pede ajuda a pessoas com

mais experiência). Assim, já tens

temas devidamente organizados

para uma série de programas.

O passo seguinte é produzir os

programas.

Tema 1: Criança com deficiência • Causas e tipos de deficiência mais frequentes

Tema 2: Desafios da criança com deficiência • Exclusão social, estigma, e discriminação

• Educação infantil e pré-escolar da criança com deficiência

Tema 3: A família e a criança com deficiência • Cuidados básicos de higiene e saúde

• Convívio familiar inclusivo

Tema 4: A criança com deficiência na escola• Conceito de acessibilidade dos edifícios e espaços escolares

• Competências e técnicas pedagógicas para lidar com a deficiência

• Técnicas e métodos de uma aprendizagem inclusiva

Tema 5: A saúde da criança com deficiência • Doenças mais frequentes em crianças com deficiência

• Atendimento nos postos de saúde

SugeStõeS de temaS e tópicoSPara cada tópico discute com o teu grupo focal os problemas que afectam as crianças com deficiência, na comunidade em que vives. Cada um dos programas deve abordar, de preferência, um único problema.

11

Nesta fase os contactos com a criança com deficiência tornam-se mais frequentes exigindo

de todos boas maneiras e cuidados na forma como a comunicação é transmitida. No fim do

capítulo, encontrarás muitas dicas para uma comunicação de sucesso. Como sabes, se a

nossa comunicação for boa, o relacionamento também será bom. Por isso, as tarefas devem

ser realizadas num ambiente agradável para todos. Aqui ficam alguns conselhos do que

deves fazer ao comunicar/interagir com crianças/pessoas com deficiência:

4 Produção de programas

Garantir a plena participação da criança com deficiência na produção do

programa

12

12

Centra o teu olhar à altura das pessoas com quem estás a comunicar; Fala sempre em voz pausada, para

permitires que quem te ouve te possa compreender. Não interrompas a outra pessoa enquanto fala

3

6

4

5

Mostra-te predisposto a repetir e a usar outras formas, para facilitar a compreensão no diálogo que estás a ter

Evita falar de costas voltadas para as pessoas com deficiência

Caso estejas em contacto com uma pessoa com problemas de audição, privilegia a comunicação gestual. Mas antes, é importante que perguntes à própria pessoa o que podes fazer para tornar a comunicação mais eficaz. Nestes casos, é importante falar de forma pausada e, se a pessoa disser que não entendeu, repetir sem demonstrar má vontade, transmitindo a ideia de que estás a fazê-lo sem problemas.

Demonstra interesse no que a outra pessoa está a dizer

13

O acesso às instalaçõesOutro obstáculo está relacionado com as bar-

reiras arquitectónicas, que causam embaraços,

muitas vezes intransitável, no dia-a-dia das

pessoas com deficiência, impedindo-as de

concretizar o mais básico direito de qualquer

cidadão, o de ir e vir. Tais obstáculos incluem

escadas, elevadores e portas muito estreitos,

buracos no passeio, casas de banho mal equ-

ipadas, transportes públicos mal preparados,

caixas de multibanco, estantes de supermerca-

dos e rampas com um ângulo de 45º, ou superior.

Imagina que tinhas de trabalhar numa sala

sem janelas. Sentirias muito calor e falta de

ar, não é? Imagina agora que tinhas de entrar

num edifício, cuja porta estivesse a meio metro

do chão, e não tivesse escadas: Como farias?

Seria muito difícil e incomodo teres de pular,

para descer ou subir. É por isso que, em quase

todos os edifícios, inclusive onde funciona a

tua estação de rádio, há, certamente, escadas,

ou alguns degraus que servem para facilitar o

acesso. Ora, para quem anda numa carrinha de

rodas, ou utiliza muletas, as escadas não facili-

tam o acesso. O ideal é que se disponibilize uma

rampa e/ou elevador para facilitar a movimen-

tação das pessoas com deficiência, e até mesmo

de pessoas idosas e de crianças.

Para que haja inclusão é preciso que a sociedade

torne acessíveis as infraestruturas físicas, os

sistemas de informação e os meios de comuni-

cação, para que possam ser utilizados por todos

e ninguém mais precise sofrer discriminação.

Assim, garantir-se-iam a protecção, o apoio e os

serviços necessários para que todas as crianças

com deficiência desfrutem dos seus direitos, como

todas as outras.

As instalações, editoras, estabelecimentos, i.e.

escolas, centros de saúde, transportes públicos,

bem como os respectivos espaços adjacentes e

vias públicas, já construídos e em construção,

devem dispor de condições que garantam a aces-

sibilidade das crianças e adultos com deficiência,

por forma a facilitar-lhes o acesso e estimular a

sua participação, lado a lado com os seus pares.

14

Manuseamento do equipamento de estúdio e de reportagem

Os equipamentos da redacção (gravadores,

computadores, mesas, gavetas) e do estúdio (consola,

leitores de CD, minidiscos, computadores, microfones)

devem estar montados de modo a permitirem fácil

utilização por parte das crianças com deficiência,

exigindo apenas uma ajuda mínima dos colegas. Deves

pedir aos titios da estação de rádio para prestarem

muita atenção à altura e ao tipo de mesa, ou base dos

microfones e da consola, no estúdio.

Outro pormenor muito importante é a iluminação.

As instalações da estação emissora devem estar

adequadamente iluminadas para que, tanto as crianças

como os adultos, com ou sem deficiência, possam ler

e escrever sem muito esforço, incluindo aquelas com

deficiência de visão. Do mesmo modo, as salas devem

ter uma boa ventilação, ou arejamento.

A Convenção também define quais as medidas, que os

governos devem tomar, para permitir que todas as

pessoas com deficiência concretizem plenamente os

seus direitos.

Se tu, os teus pais, ou alguém da tua família, tem uma

deficiência, a Convenção presta informações úteis e

transmite encorajamento. A Convenção fornece-te

orientações a ti, à tua família e aos amigos que querem

ajudar-te no exercício dos teus direitos.

15

O texto

O guião/texto do programa indica-nos quais

os elementos sonoros (efeitos musicais,

músicas, gravações e sua duração) que fazem

parte do programa e qual a sequência em que

serão utilizados, bem como o que vai ser dito

aos ouvintes. Toma nota de alguns cuidados

que deves ter na elaboração do texto, ou nas

‘falas’ dos locutores. Este conselho serve para

todos aqueles que falam no programa, ou

emissão de radiofónica, dentro ou fora do teu

programa, sejam eles locutores, jornalistas

em estúdio, repórteres, convidados, djs, etc..

Qualquer palavra, expressão, ou sentido,

que ofenda, embarace, ou inferiorize, a

pessoa com deficiência e os seus familiares,

pode fazer com que o público-alvo perca o

interesse pelo programa, ou até que desista

de continuar a ouvi-lo.

A construção/redacção

Dicas para uma comunicação que respeita a pessoa com deficiência

Atenção!

O preconceito, a discriminação e a

segregação nem sempre acontecem,

ou são perceptíveis, nas nossas

acções ou comportamentos. Algumas

vezes, é na maneira como falamos ou

escrevemos (comunicamos) que tal

sentimento se revela. Por isso, escolhe

sempre palavras que não ofendam

e lembra-te de que uma pessoa com

deficiência não é uma pessoa inválida.

16

Evite Dizer: Diga:

Aleijado, incapacitado, inválido, deficiente, portador de deficiência

Pessoa com deficiência

Surdo Pessoa com surdez, deficiência auditiva

Cego Pessoa cega, pessoa com deficiência visual

Albino Pessoa com Albinismo

Maluco Pessoa com deficiência mental, pessoa com transtorno mental

Ele é cego mas mora sozinho

Ele é cego e mora sozinho

Esta família carrega a cruz de ter um filho deficiente

Esta família tem um filho com deficiência

O quadro abaixo apresenta exemplos de linguagem discriminatória e qual a forma que se considera correcto utilizar.

Dica na próxima página

17

Identifica as formas de deficiência existentes na tua comunidade e discute

com as titias e titios, amigas, amigos e até mesmo com os teus irmãos e

pais, em casa, e com os colegas na escola, em que é que elas consistem. Pede

a cada um deles que apresente uma definição pessoal para a deficiência.

Lembra-te que as crianças e os adultos com deficiência, que residem na tua

comunidade, devem ser ouvidos e envolvidos. É muito importante ouvirmos

a opinião das pessoas com deficiência. Elas ficam felizes.

18

Deficiência Ausência ou disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatómica

Deficiência na fala Surdez. A fala está ligada à audição

Deficiência auditiva Perda total ou parcial de audição

Deficiência física ou Motora Perda ou redução da capacidade motora

Deficiência mental Padrão mental/intelectual abaixo da média normal

Deficiência múltipla Associação de deficiências

Deficiência visual Deficiência total ou parcial da visão/vista

Discriminação Atitudes que prejudicam os sujeitos pertencentes a determinados grupos sociais

Ficha Técnica

Produzido por: FAMOD e UNICEFCoordenação e Revisão: FORCOM, FAMOD e UNICEFArte Gráfica: Daniela CristoforiIlustrações: Zacarias ChemaneRedação e apoio técnico: Rui Maquene; António Ndapassoa; Rosangela Berman Bieler; Benilde Nhalevilo; Luísa Banze; Dulce Nhacuongue; Massimiliano Sani AgradecimentosEspeciais agradecimentos a todas as crianças e aos jovens que participaram nas formações sobre Promoção dos Direitos das Crianças com Deficiência, e a todas as instituições que apoiaram o processo, nomeadamente:Fórum Nacional das Rádios Comunitárias – FORCOMRádio Moçambique – RMTelevisão de Moçambique - TVMInstituto de Comunicação Social - ICS Cópia e Edição: Nr 1. Junho 2014