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Artigos publicados na Rúbrica Dia-a-Dia

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Page 1: Artigos Saúde Activa
Page 2: Artigos Saúde Activa
Page 3: Artigos Saúde Activa

Dez. 2010 SAÚDE ACTIVA

O Natal é uma época especial, inde‑pendentemente dos diferentes signifi‑cados que pode assumir. Representa uma época de fim de ciclo, pausa e reflexão, que nos permite a reunião com a família e amigos e a prepa‑ração de um renascimento através do início de um novo ano. Tanto para graúdos, como para miúdos, é uma altura de festa, de magia e de sonhos concretizados.

Os valoresO Pai Natal tornou ‑se uma persona‑gem conhecida internacionalmente, bem como o seu séquito de duendes ou elfos, o seu trenó mágico puxado a renas e, obviamente, a sua capacidade mágica para avaliar o comportamen‑to das crianças ao longo do ano e recompensá ‑las com a prenda certa. A fábula do Pai Natal é tão inofensiva como tantas outras, sendo que pode‑mos utilizá ‑la para explorar questões e valores importantes na educação das crianças: aprender o valor de ter um bom comportamento e ser recom‑pensado; saber pedir a concretização dos seus desejos de forma adequada (seja através do ditado da carta ou da própria escrita); saber esperar pelo

dia certo para receber as prendas (mesmo

que com muita impa‑ciência!); estimular a criatividade, mas

também o pensa‑mento crítico,

através do diálogo sobre os detalhes que envolvem a fábula (Como é que o Pai Natal cabe na chaminé? Então e as renas, onde é que ficam estacio‑nadas?); desenvolver o espírito de entreajuda e solidariedade para com outras crianças menos favorecidas (ser um ajudante do Pai Natal). Esta também é uma boa oportunidade para os adultos reviverem a fantasia e en‑tusiasmo infantis, próprios do Natal.

a hora “H”Claro que inevitavelmente chegará esse terrível dia em que somos con‑frontados com “aquela” pergunta: mas o Pai Natal existe mesmo? Respire fundo e tente perceber quais as razões que conduziram à pergunta. Mais importante ainda, qual é a opinião da criança? A sua resposta facilmente nos dirá se chegou o momento certo para contar a verdade, ou se ainda será necessário algum desenvolvi‑mento cognitivo e emocional, pelo que o melhor será viver a fantasia durante algum tempo. Noutras situações, as crianças descobrem a verdade através dos seus co‑legas de escola e, embora raramen‑te, podem ficar magoadas com os pais por lhes terem mentido. Na maioria dos

casos, a idade, o desenvolvimento e a aprendizagem conduzem naturalmente à descoberta da verdade.

a respostaCaso seja confrontado, explique que esta não é uma mentira, mas sim uma história de fantasia e uma tradição com muitos anos, representativa do espírito do Natal, em que todos participamos: acreditando ou fazendo outros acredi‑tar. Explique também que, agora que a criança já sabe a verdade, passou a fazer parte do grupo dos crescidos, pelo que deve manter o segredo e não deve desiludir os que ainda acreditam. Reforce que o Pai Natal somos todos nós, quando nos preocupamos com os outros, os queremos ver felizes e

ajudamos a concretizar alguns dos seus so‑

nhos... de forma mágica.

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DIA­‑A­‑DIA

O Pai Natal existe?

Dra. Eunice Neta, Psicoterapeuta, Terapeuta Familiar

Dez. 2010 SAÚDE ACTIVA

Page 4: Artigos Saúde Activa

Jun. 2011 SAÚDE ACTIVADIA ‑A ‑DIA

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Como comunicara morte às crianças?

Dra. Eunice Neta, Psicoterapeuta, Terapeuta Familiar

Para os mais pequenos o primeiro contacto com a morte acontece, muitas vezes, na perda dos familiares com mais idade. No entanto, as crianças têm dificuldade em perceber que a morte não é um estado temporário, pois só a partir dos cinco a sete anos o seu desenvolvimento lhes permite compreender a irreversibilidade desta última fase da vida. Até essa idade é normal que as crianças pensem que irão viver para sempre, assim como as pessoas mais importantes nas suas vidas e que, apesar de falecidas, as pessoas pensam, ouvem e sentem. Esta crença é reforçada pelas metá‑foras que os adultos utilizam ao falar da morte, porque evitamos este tema e recorremos a expressões como “a avó estava muito doente” ou “o avô adormeceu mas já não vai acordar”. Para a criança estas expressões são muito confusas, todos nós ficamos doentes e adormecemos, mas não morremos.É essencial falar sobre a morte com os mais pequenos e o dia ‑a ‑dia dá ‑nos várias oportunidades de abordar o tema e permitir que a criança coloque as suas dúvidas e expresse os seus sentimentos, o que irá possibilitar que, mais tarde, lide de forma mais natural com as suas perdas. Por exemplo, as flores que murcham são uma forma simples de explicar o que é a morte na natureza. A perda de um animal de companhia é também uma oportunidade para experienciar o luto. É, contudo, necessário ter em atenção o nível de desenvolvimen‑to, pelo que este diálogo deve ser

adaptado à idade e nível cognitivo da criança. O mais importante não é que a criança entenda o que é a morte, mas sim que saiba e sinta que pode falar sobre as emoções que o tema lhe provoca, bem como que possa desenvolver uma crença pessoal associada a pequenos gestos que lhe permitam referenciar o animal ou a pessoa perdida.

evitar metáforasLogo que possível avise a criança da morte. Deve ser alguém próximo a dar a notícia. Procure ser específico e não use metáforas que possam confundir a criança. Explique ainda que, com a idade, vamos ficando mais frágeis e que o corpo vai deixando de funcionar.

Fale sobre os sentimentos, é normal ficarmos muito tristes e querermos a pessoa de volta, embora isso não seja possível. Converse sobre as suas crenças e rituais acerca da morte e convide a criança a participar deles. Pergunte à criança se ela tem ques‑tões e responda de forma simples. Pergunte à criança como se sente e reforce que é normal chorar. Não impeça o choro nem diga à criança que tem de ser forte.

não obrigarA partir dos sete anos assistir aos serviços fúnebres é uma forma de entenderem melhor e não criarem possíveis medos acerca da morte. Tenha atenção para explicar ante‑cipadamente o que é o cemitério, o que é o funeral e porque é que dei‑xamos flores. Não obrigue a criança a participar se ela não quiser.As reacções das crianças à morte podem ser difíceis de entender pelos adultos. A sua dor expressa ‑se por comportamentos e atitudes que já não tinham (voltar a usar a chucha), através da zanga contra o/a falecido(a), culpa e recusa em aceitar a morte. Muitas crianças acreditam que se não aceitarem a morte, a realidade vai mudar e a pessoa voltará à vida. Por outro lado, é natural que fiquem mais ansiosas e com receio de per‑der outros que lhes são próximos, procurando com mais frequência a atenção dos pais. Provavelmente serão necessárias muitas outras conversas. Esteja disponível e demonstre o seu carinho e amor.