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1 GRUPO DE TRABALHO 2 INSTITUIÇÕES, ELITES E DEMOCRACIA. AÇÃO EMPRESARIAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL: ESTRATÉGIAS POLÍTICAS E O MODELO CIDADE-EMPRESA Sérgio Gini

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GRUPO DE TRABALHO 2

INSTITUIÇÕES, ELITES E DEMOCRACIA.

AÇÃO EMPRESARIAL E DESENVOLVIMENTO

ECONÔMICO LOCAL:

ESTRATÉGIAS POLÍTICAS E O MODELO

CIDADE-EMPRESA

Sérgio Gini

2

AÇÃO EMPRESARIAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL:

ESTRATÉGIAS POLÍTICAS E O MODELO CIDADE-EMPRESA

Sérgio Gini 1

Resumo

Este artigo discute a participação do empresariado no processo de elaboração de políticas para o

desenvolvimento econômico local. Partimos da definição teórico-metodológica que considera o

empresariado um ator social, devidamente situado em um ambiente institucional e político e que

interfere, de acordo com os padrões de sua própria ação, na definição das políticas públicas. Esta

análise, apesar de não ser nova no cenário nacional (desde o final da década de 1950 o empresariado

como ator político tem sido alvo de pesquisas nas ciências sociais), privilegia o empresariado

comercial e o seu relacionamento com as instituições políticas, o que pode ser tomado como um

novo enfoque para discutir uma questão emergente no campo das ciências sociais, qual seja a

mudança do paradigma do empresariado industrial. Especificamente, analisamos a atuação do grupo

de empresários ligados à Associação Comercial e Empresarial de Maringá, 9º município da região

sul do Brasil, que, por meio de um movimento organizado e que buscou a hegemonia entre os

diversos setores representados, elaborou o projeto que criou o Conselho de Desenvolvimento

Econômico de Maringá em 1996, e assumiu o seu controle institucional desde então. Essa prática

política tem produzido um impacto considerável nas variáveis sociais e econômicas do município,

que assimilou os fundamentos de uma cidade-empresa.

Palavras-chave: empresariado; ação empresarial; desenvolvimento.

Introdução

O associativismo empresarial tem sido objeto de diversos estudos empíricos na América

Latina (BIANCHI, 2004). No Brasil as pesquisas sobre o empresariado como ator político têm

encontrado um campo fértil para desenvolvimento desde o final da década de 19502. Segundo

Mancuso (2007:139) atualmente “é vastíssimo o universo de atores empresariais, cuja mobilização

política pode tornar-se matéria de investigação acadêmica”. Para tanto, aponta alguns caminhos

promissores para novos estudos empíricos sobre a atuação política empresarial. Um desses

caminhos seria a pesquisa sobre a ação empresarial diante dos poderes Executivo, Legislativo e

Judiciário, tanto na esfera estadual quanto na esfera local, pois nessa vertente “há pouquíssimos

trabalhos no Brasil” (MANCUSO, 2007: 139).

1 Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPR. Professor Assistente do

Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá.

2 Por questões de conveniência é impossível fazer um balanço da literatura e das formas de enfoque da ação empresarial

neste artigo.

3

Esse artigo é parte de nossa pesquisa de doutorado que analisa a ação política do

empresariado em face do poder Executivo, orientada para o desenvolvimento econômico e o

modelo de cidade-empresa. Pesquisamos o grupo de empresários da Associação Comercial e

Empresarial de Maringá (Acim) que, por meio de um movimento organizado e que buscou a

hegemonia entre os diversos setores representados, elaborou o projeto que criou o Conselho de

Desenvolvimento Econômico de Maringá (Codem), em 1996, e assumiu o seu controle institucional

desde então. Este organismo é o único responsável em elaborar as políticas de desenvolvimento na

cidade de Maringá, a 9ª da região Sul e o 67º município brasileiro, sede de uma região

metropolitana que reúne cerca de um milhão de habitantes3. A Acim é uma entidade de caráter

associativo, de livre adesão e que reúne todos os segmentos empresariais (o número de empresas

associadas em janeiro de 2009 era de 3.600). O Codem é um conselho consultivo e deliberativo

criado por lei municipal, por iniciativa dos próprios empresários, com adesão limitada e que reúne

outras categorias profissionais além dos empresários, como profissionais liberais e seus conselhos

de regulamentação, clubes de serviço como maçonaria, lions e congêneres.

A maioria dos trabalhos que versam sobre a ação política empresarial no Brasil tem foco na

atuação dos empresários industriais. Pelo fato de Maringá ser quase que exclusivamente dominada

pela atividade comercial e de prestação de serviços, tendo poucas indústrias que por sua vez são

fechadas em seu segmento, nosso enfoque será sobre a atuação do empresariado comercial o que

exigirá outra leitura do referencial teórico-metodológico que vem sendo utilizado pelos

pesquisadores brasileiros, embora a linha temática orientadora seja a mesma. É o que pretendemos

fazer como forma inovadora de contribuição.

O Codem, conduzido e gerenciado pelo empresariado, teve importante papel nos processos

eleitorais que se seguiram a 1996. Por meio do discurso do desenvolvimento e da retomada do

crescimento, o empresariado empreendeu uma forma de ação política que alcançou resultados

significativos junto aos poderes públicos, em especial ao Executivo. A ação empresarial

empreendida foi a elaboração e apresentação de uma agenda propositiva para os candidatos ao

Executivo, pontuando os anseios e as perspectivas do empresariado. Para as eleições municipais de

2000, o empresariado elaborou um documento intitulado “O que Maringá espera do novo

governo”. Tratava-se de um planejamento para políticas públicas de desenvolvimento econômico

que presumia colocar a cidade na rota dos grandes investimentos e retomar o seu perfil de cidade

próspera, no modelo de cidade-empresa. Naquele ano, foi eleito, pela primeira vez, um candidato do

Partido dos Trabalhadores (PT), e com uma votação superior aos 100 mil votos em um colégio

eleitoral de 203 mil eleitores. Durante o pleito, o candidato do PT estabeleceu uma série de alianças

3 Conforme o último censo divulgado pelo IBGE em 2007.

4

com o empresariado, especialmente no segundo turno, dando total atenção à agenda proposta pelo

empresariado. Negociou com a Acim o direito de aquela entidade indicar o novo secretário de

indústria e comércio, caso viesse a ser eleito. Novamente, nas eleições municipais de 2004, os

planos de governo dos candidatos a prefeito passaram pela agenda dos empresários, que elaboraram

um novo documento “O que Maringá espera do novo governo”. O prefeito eleito, do Partido

Popular (PP), era membro do Codem e conselheiro da Acim. Na eleição de 2008, o empresariado

apoiou maciçamente a reeleição do prefeito que, inclusive, apropriou-se dos discursos da classe

empresarial. Foi eleito no primeiro turno, sem ser incomodado por qualquer um dos seus

concorrentes.

O enfoque da análise da ação política empresarial que apresentamos neste artigo e que

direciona a questão do desenvolvimento recai sobre a última versão do documento “O que Maringá

espera do novo governo” apresentado nas eleições municipais de 2008 e que foi assumido pelo

prefeito eleito. Em nossa pesquisa estudamos a ação política sobre dois eixos: 1º) a agenda

elaborada pelo empresariado e entregue aos candidatos ao Executivo, ou seja, a partir do que e

como ela foi construída; e 2º) as formas de acompanhamento e cobrança das ações propostas, a fim

de avaliarmos o grau de efetividade da ação. No primeiro eixo estão contemplados os interesses do

empresariado em face da cidade onde moram e mantêm os seus negócios. Esta agenda é formada

por um conjunto de políticas públicas, de interesse particular, sugeridas ao Executivo. No segundo,

contemplamos, em última análise, qual foi o grau de sucesso político do empresariado e qual o tipo

predominante de sucesso. Para este artigo, limitados pelo espaço, apresentaremos alguns aspectos

relacionados ao primeiro eixo, ou seja, a agenda política que foi elaborada pelo empresariado antes

das eleições, em forma de atuação direta e deliberada; e após as eleições, com a participação técnica

do Codem, órgão elaborador dos projetos e principal expressão da atuação coletiva do

empresariado.

A teoria da escolha racional e os limites da explicação funcional

Em nossa análise a compreensão sociológica da ação coletiva do empresariado e a sua

constituição como ator político são imprescindíveis. Partimos do pressuposto, já apresentado por

Costa (2003), Oliveira (2003) e Mancuso (2004), de que o empresariado brasileiro é, sim, capaz de

uma ação coletiva, decorrente da confluência de um processo econômico e de um processo político,

e de que o exemplo de uma ação local poderá nos auxiliar na apresentação de uma resposta

5

empiricamente fundamentada para a questão da relação entre o empresariado e o poder público em

democracias capitalistas4.

Nosso objeto de investigação está representado em uma associação civil, e não em uma

corporação de caráter sindical patronal. Portanto, nossas abordagens teóricas contemplam essa

particularidade, comportando, além do processo histórico, todas as informações sobre as ações do

empresariado, da entidade que os representa e dos empresários enquanto sujeitos individuais,

conforme orienta Cruz (1995: 25, 26). Entenderemos a lógica da ação política, coletiva, do

empresariado compreendendo primeiramente como se formou esse conjunto de atores individuais,

ou, “do que” e “de quem” estamos falando. Ora, se temos um universo de muitos empresários5,

temos também vários interesses (ver tabela 1). Portanto, o que emerge dessa pluralidade é a

heterogeneidade e não um grupo homogêneo que, comumente, chamamos de empresariado.

O pluralismo de interesses dos capitais particulares pode ser considerada a primeira barreira

a ser transposta para se entender como é produzida ou, se existe de fato, uma ação coletiva

empresarial. Temos, então, um problema que é central: como coordenar as ações individuais de

forma a produzir os melhores resultados coletivos? E desse problema derivam outras questões:

como se produz, então, a ação política, coletiva, empresarial? Como capitais particulares podem

agir coletivamente? Em termos de teoria política e sociológica, a resposta mais aceita a essas

questões foi dada por Mancur Olson no clássico The logic of collective action, de 1971, que tem

uma edição em português (1999), já esgotada. Esse autor constrói a sua reflexão a partir da

afirmação corrente na época de que grupos de indivíduos com interesses comuns tenderiam – de

forma até usual – a promover esses interesses, especialmente se fossem econômicos. A premissa é

que os membros do grupo agiriam por interesses individuais racionalmente definidos. Olson

define indivíduo racional como o indivíduo que procura realizar seus objetivos por meios

"eficientes e efetivos" (1999: 77). Qualquer objetivo, desde o mais egoísta até o mais altruísta,

poderia ser perseguido de forma racional.

Olson, entretanto, destaca que essa afirmação estaria equivocada: “a idéia de que os grupos

agirão para atingir seus objetivos é uma seqüência lógica da premissa do comportamento racional

centrado nos próprios interesses, não é verdadeira” (1999: 2). O autor assinala que os indivíduos

que pertencem a uma organização têm interesses comuns, mas, ao mesmo tempo, têm motivações

4 A questão é se o empresariado ocupa, de fato, uma posição privilegiada, em decorrência da dependência estrutural do

Estado, e da sociedade como um todo, em relação ao capital, como argumentam Miliband (1989) e Offe e Wiesenthal

(1984), entre outros, ou se essa supremacia não existe, podendo o poder político do empresariado variar de caso para

caso, ao longo do tempo e de um lugar para o outro, conforme Vogel (1996).

5 Em 2000 a Associação Comercial tinha em seu quadro de associados 2.200 empresários. Já em 2004, esse número

subiu para 3.000, em virtude da associação de profissionais liberais e prestadores de serviços. Por ocasião das eleições

em 2008 o número contava 3.550.

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individuais diferentes dos demais indivíduos do grupo. Na medida em que ninguém poderia ser, em

princípio, excluído do usufruto de um benefício coletivo, pode ser racional para um indivíduo não

contribuir para a sua obtenção. Uma de suas conclusões é a seguinte:

Assim como não pareceria racional para um determinado produtor restringir sua

produção a fim de talvez obter um preço mais alto para o produto de seu setor

industrial, não lhe pareceria racional sacrificar seu tempo e dinheiro para apoiar um

lobby que luta pela ajuda do governo a esse setor industrial (OLSON, 1999: 11).

Dessa forma, quando o grupo for tão grande que a ausência de qualquer contribuição

individual não faria nenhuma diferença, o benefício coletivo simplesmente “não será provido a

menos que haja coerção ou alguma indução externa que faça os membros do grande grupo agirem

de acordo com seus interesses comuns (OLSON, 1999: 44). Situação oposta apareceria quando o

número de indivíduos do grupo é tão pequeno que seus membros facilmente percebem que seu

ganho pessoal com o benefício coletivo excederia seu custo total ou que a contribuição ou falta de

tal por parte de um indivíduo produziria um efeito perceptível sobre os custos ou ganhos. É a partir

dessa distinção entre os grupos grandes e pequenos que Olson afirma a existência de um alto grau

de organização dos interesses empresariais. Fragmentada em uma série de “indústrias” (setores) a

comunidade empresarial estaria dividida em frações relativamente pequenas, mas capazes de se

organizarem voluntariamente a fim de terem seu próprio lobby influenciando fortemente os

governos. Na medida em que formam grupos pequenos constituídos por grandes unidades (as

empresas) facilmente se associariam de maneira voluntária e fariam fluir “natural e

necessariamente” o poder político para as mãos daqueles que controlam os negócios e as

propriedades (OLSON, 1999: 143).

Apesar disso, a comunidade empresarial como um todo não possuiria a mesma capacidade

organizativa manifestada pelos setores industriais, justamente porque não seria um pequeno grupo e

sim um grupo grande. A organização do conjunto da comunidade empresarial seria possível apenas

se seus membros fossem levados a aderir por meio de estímulos independentes e seletivos, sanções

e recompensas sob a forma de benefícios individuais, tais como serviços de estatísticas, pesquisa

técnica e consultoria.

A teorização da ação coletiva a partir desta perspectiva aponta que grupos relativamente

“grandes” tendem a não produzir benefícios coletivos na ausência de incentivos distribuídos

individualmente aos membros que adotam o comportamento associativo, pois, nessas coletividades,

cada ator estima que a sua contribuição individual é incapaz de exercer qualquer diferença

significativa sobre a produção integral do bem público ou de algum nível do mesmo. Esse cálculo,

justamente, leva os membros racionais de grupos grandes, mesmo altruístas, a não incorrerem nos

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custos envolvidos na associação ou cooperação, o que implica na não produção do benefício

coletivo do interesse dos membros do grupo.

A resposta de Olson à nossa pergunta inicial, também recebeu a crítica mais citada a ela. No

ensaio “Duas lógicas da ação coletiva: notas teóricas sobre a classe social e a forma de

organização”, de 1984, Clauss Offe e Helmut Wiesenthal rejeitam peremptoriamente uma “teoria da

ação coletiva”, enfatizando a necessidade de diferenciar as lógicas próprias de cada grupo social. De

início, argumentam que a “lógica capitalista” favorece os empresários no desenvolvimento de suas

ações políticas. O empresariado como ator social o é enquanto classe, ou seja, a soma dos

indivíduos que personificam um conjunto indiferenciado de elementos, o capital em geral. Por isso,

seus interesses, a capacidade organizativa e o seu poder de influência são predeterminados por sua

própria essência.

Ao escrever sobre os sindicatos dos trabalhadores, já em 1881, Engels havia achado por bem

diferenciá-los das organizações dos capitalistas. Segundo ele, ao contrário dos trabalhadores, os

capitalistas estão sempre organizados:

Seu número restrito, comparativamente aos operários, o fato de constituírem uma

classe particular e manter relações sociais e comerciais permanentes, lhes serve de

espaço de organização. Somente quando um ramo de produção se torna dominante

em uma dada região é necessária uma organização formal (ENGELS, 1976: 250 –

tradução livre).

Engels, e até mesmo Marx, não retornarão mais a esse tema. Mas, esse texto serviu de

alavanca para Offe e Wiesenthal desenvolverem a distinção sobre as lógicas da ação coletiva do

capital e do trabalho. Para além das semelhanças formais entre associações de empresas e sindicatos

operários, esses autores procurarão apontar a diferenciação de classe específicas dos respectivos

tipos de fatores input (o que precisa ser organizado) e outputs (condições de sucesso estratégico que

precisam ser alcançadas nos meio-ambientes das organizações).

A diferenciação remete à essência dos atores. O capital tem como necessidade combinar o

trabalho e os bens de capital a fim de produzir mais-valia. Ambos os elementos consistem em

trabalho social, mas enquanto um é o resultado de trabalhado passado (“trabalho morto”), o outro é

força de trabalho como potência presente. Combinar este último, que não é separável dos portadores

da força de trabalho, com os demais “fatores de produção”, consiste no problema fundamental com

o qual o capitalista tem de lidar. O trabalho somente pode ser feito pelo trabalhador, apesar dele

“pertencer”, legalmente, ao capitalista. Cada trabalhador controla somente uma unidade de força de

trabalho que a venda sob condições de concorrência com outros trabalhadores que fazem o mesmo.

A força de trabalho viva é simultaneamente viva e não divisível (possui uma individualidade

insuperável, na medida em que “possuída” e controlada por indivíduos discretos).

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O capital, por seu turno, compreende muitas unidades de trabalho “morto” sob um comando

unificado. O conflito entre a forma atomizada do trabalho vivo e a forma integrada do trabalho

“morto”, cria uma relação de poder. O capital de cada empresa ou indústria está sempre unificado,

concentrado e centralizado, enquanto o trabalho vivo encontra-se atomizado e dividido pela

competição. Não podendo fundir-se, os trabalhadores, no máximo, conseguem se associar para

compensar parcialmente a vantagem de poder do capital. Assim, enquanto o trabalhador personifica

a força de trabalho de maneira individualizada, na medida em que ele só pode personificar a sua

própria, o capitalista personifica uma força social previamente concentrada e centralizada, o capital.

Partindo dos pressupostos até aqui expostos, os autores afirmam que o capital poderia recorrer a três

formas de ação coletiva (a firma – empresa ou indústria -, a cooperação informal e a associação de

empregadores ou de empresas), enquanto o trabalho teria somente uma. A existência dessas formas

múltiplas de organização coletiva reduziria o escopo dos interesses que as associações formais

deveriam tratar, o que permitiria uma melhor definição dos interesses verdadeiros, um índice

reduzido de conflitos internos e, conseqüentemente, uma elevada capacidade de organização.

É evidente que essa elevada capacidade de organização não chega a ser condição necessária

para influenciar o governo. Pelo fato de haver uma dependência estatal do processo de acumulação

privada, fica evidente que as formas não associativas de ação bastariam para os empresários

avançarem seus interesses. É uma posição de poder privilegiada do capital, principalmente na

capacidade de decidir onde fará investimentos, tornando o Estado dependente de suas decisões.

Levando em conta a posição privilegiada do capital, afirmam Offe e Wiesenthal (1984), o

relacionamento entre este e o Estado estaria centralizado não na atividade política de suas

associações e sim na capacidade do capital se recusar a investir e no vigor do processo de

acumulação. A dependência que o aparelho estatal possuiria em relação ao capital não pressuporia

uma dependência da classe capitalista em relação ao Estado ou do Estado com relação aos

trabalhadores. Ela seria expressão de uma assimetria estrutural que não é criada pelas associações

empresariais, muito embora seja por ela explorada.

A conclusão sobre a ação coletiva a quem chegam Offe e Wiesenthal, em última análise, é a

mesma de Mancur Olson, embora aqueles tivessem construído sua teoria baseada em distinções de

classe e este baseada na escolha racional: os empresários têm uma grande capacidade de

organização de seus interesses e de influenciar o governo. O paradoxo está no fato de que Olson

apontou essa capacidade como resultado de um elevado grau de heterogeneidade de interesses que

em última instância estariam totalmente representados em diversas associações empresariais. Offe e

Wiesenthal, por seu turno, argumentam que esta capacidade é o produto de uma homogeneidade

concentrada e da facilidade dela decorrente para criar identidades e organizar o capital.

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As teorias baseadas na escolha racional de Olson e nas distinções classistas de Offe e

Wiesenthal estão inseridas, segundo Bianchi (2007), em uma perspectiva “essencialista”, isto é, são

teorias da ação coletiva que constroem seus argumentos logicamente a partir de pressupostos que

remetem às essências dos atores, unidades básicas da pesquisa científica. Para Olson, tais unidades

seriam os indivíduos capazes de agir racionalmente com o objetivo de maximizar seus benefícios e

minimizar os custos necessários para obtê-los. Para Offe e Wiesenthal, os atores são classes sociais,

entendidas como soma de indivíduos que personificam um conjunto heteróclito e indiferenciado de

elementos, o capital em geral ou o conjunto do trabalho abstrato. Os interesses, a capacidade

organizativa e o poder de influenciar desses atores são considerados pré-determinados pelas suas

próprias essências. Entretanto, é importante ter cuidado nessa análise, como já alertara Costa

(2003:41), pois “entidade e grupos sociais não são uma e a mesma coisa”.

Os atores em cena

Os atores focalizados em nossa pesquisa estão concentrados na Acim e no Codem, isto é,

fazem parte do seu quadro de associados (ver tabelas 1 e 2). Pertencem a setores diferentes da

economia como comércio varejista, prestação de serviços, pequena indústria e de profissionais

liberais. Constituem o que se convencionou ser chamado de microempresários e empresários de

pequeno e médio porte. Com isso, temos uma definição mais precisa do que e de quem estamos

falando. Por isso, quando nos propomos a analisar uma ação política coletiva, falamos também da

união desses setores econômicos diversos para defender interesses individuais. De acordo com

Costa (2003: 38) “a situação econômica continua sendo decisiva para a definição dos interesses, dos

padrões e dos formatos institucionais de sua ação política, e esta é constitutiva de sua existência

enquanto grupo social”. Quando falamos da entidade onde esses empresários estão organizados,

enfatizamos também a relação entre a existência econômica e o processo de ação e representação

política. Para Costa (2003: 39), “as entidades representativas são o ponto fundamental da pesquisa,

pois é nelas onde, de um lado, estão combinados os aspectos econômicos com aqueles de caráter

social e principalmente político, e, de outro, se dão processos que são complexos, porém,

fundamentais”.

No caso específico da Acim, a predominância do setor do comércio varejista e o crescimento

do setor de prestação de serviços são fundamentais para entendermos a lógica da construção da

agenda de propostas para a cidade e para o desenvolvimento econômico (conforme o quadro 1).

Neste sentido é importante frisar que o poder Executivo municipal tem uma relação direta com o

desempenho das empresas. A política de governo, os incentivos fiscais e tributários, a doação de

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terrenos e de infra-estrutura para estabelecimentos comerciais e industriais, enfim, as políticas

públicas de desenvolvimento local influenciam diretamente os empresários. Quando estes percebem

o peso dessas decisões, passam a ter o motivo que os impulsiona a se mobilizarem durante os

processos decisórios - uma eleição para prefeito, por exemplo – para promoverem seus interesses

(MANCUSO, 2007: 139). Na tabela 1, fizemos questão de separar o segmento de supermercados

porque os dois últimos presidentes da Acim eram desse setor e o atual presidente do Codem,

indicado pela Acim, também é supermercadista.

Tabela 1

Composição do quadro associativo da Associação Comercial de Maringá*

Segmento Associados Percentual

Comércio varejista e lojista (inclui os shoppings) 2.414 68%

Prestadores de serviços 426 12%

Indústrias 390 11%

Profissionais liberais 178 5%

Supermercados 142 4%

Total 3.550 100%

* Associados em setembro de 2008, antes das eleições municipais

Fonte: Associação Comercial e Empresarial de Maringá

Na composição do Codem, a heterogeneidade é acentuada, inclusive com a junção de

segmentos não empresariais como sindicatos de trabalhadores, por exemplo. Entretanto, quem

exerce a função de direção do conselho são empresários indicados pela Acim e a maioria das

entidades e instituições é dirigida por empresários que, por sua vez, são associados a ela. O Codem

atua como um órgão técnico que, por meio de suas 11 câmaras, define quais os temas emergentes a

serem trabalhados. As câmaras técnicas restringem o trabalho de um representante de setores não

empresariais. Por exemplo, o representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais só é chamado

para discutir assuntos ligados à Câmara Técnica da Agricultura e Agroindústria, não havendo,

portanto, integração com as demais câmaras (GINI, 2008).

Devemos considerar também, como orienta Costa (2003: 41), que os setores e segmentos

empresariais que atuam coletivamente no “processo da ação política” se defrontam com a

necessidade de participar de um organismo de representação. Embora a Acim seja a entidade de

organização do empresariado, será no Codem que esses segmentos se “sentem” representados dado

o caráter de relação direta do conselho com o regime político.

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Por isso, identificamos uma estratégia que é a centralização da ação política empresarial no

âmbito do poder Executivo, com uma deliberada ausência de discussão com o Legislativo.

Friedberg (1995) aponta o modelo dessas organizações como estruturadas por relações de poder,

onde todos os participantes possuem certa capacidade de negociação (ver tabela 2). No caso do

Codem, o Legislativo faz parte do seu plenário como membro. Miliband (1972: 74) nos dá uma

indicação para interpretarmos a questão ao destacar que a presença política do empresariado se

concentra nos postos fundamentais, seja no Legislativo ou no Executivo, sempre na defesa de seus

interesses econômicos. Costa (2003: 312) analisa que Miliband sugere uma “tendência dos

empresários a privilegiar as instâncias relativas ao planejamento e à definição da política econômica

do Governo, ou seja, do Executivo, seja qual for o sistema de governo”. Miliband entende que é por

esta via que fundamentalmente se daria o envolvimento dos empresários com a política e com a

questão do regime político.

Tabela 2

Estrutura organizacional do Codem

Plenário Mesa Diretora Câmaras Técnicas

60 entidades ou instituições

representadas;

358 membros (titulares e

suplentes).

3 diretores voluntários (indicados

pela Acim);

3 executivos remunerados.

Atração de Investimentos

Comércio Exterior

Assuntos Universitários

Integração Tecnológica

Assuntos Comunitários

Agricultura e Agroindústria

Construção Civil e do Setor

Imobiliário

Indústria Têxtil e do

Vestuário

Educação

Gasoduto

Serviços da Saúde Fonte: Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá, 2008

As propostas: novas estratégias

A ação política do empresariado deve ser entendida também como um empreendimento

discursivo e estratégico para firmar posição de classe dominante na divisão social da cidade. Aqui,

concordamos com Bianchi (2007: 117) que esclarece que “a abordagem teórica da ação coletiva

empresarial deve conter uma análise das condições nas quais os interesses particulares dos

empresários podem estimular a emergência de uma ação e de uma organização coletiva”. Desse

modo, no âmbito das propostas apresentadas no documento “O que Maringá espera do novo

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governo” é que analisaremos os procedimentos e instrumentos da ação empresarial, como

conseqüência de uma lógica dos atores implicados. A Acim é a responsável por elaborar o discurso

político e social e o Codem é o responsável pelo discurso técnico. Ambos são componentes únicos

de uma ação discursiva de poder e dominação aliada a uma ação política/estratégica que utilizará

outros agentes para servirem como meios para o empresariado alcançar os seus objetivos.

Desse modo, enumeramos a atuação empresarial na seguinte ordem: 1) técnica, 2) tática e 3)

estratégica. A parte técnica, no nosso caso, está bem clara na atuação do Codem. A parte tática se

refere à forma de abordagem, a forma como os temas das agendas foram construídos e amarrados

entre si, principalmente para que o cumprimento de um item force a execução de outros. A parte

estratégica está relacionada com a ação coletiva em si. Quem fala pelo empresariado?

Estrategicamente quem negocia? Por isso, os empresários vão elaborar e publicar os documentos

que apresentam e justificam as suas reivindicações e irão fazer uma divulgação pública da posição

assumida pelo Executivo diante das demandas empresariais. No quadro abaixo, essas três ordens

estão bem definidas, evidenciando a atuação empresarial tanto na elaboração técnica quanto na

tática e estratégia das propostas.

Quadro 1

Propostas para o desenvolvimento econômico local e regional

Objetivo Diretrizes Estratégias

Tornar-se uma cidade

economicamente

desenvolvida, com elevados

níveis de emprego e riqueza e

com renda mais

eqüitativamente distribuída,

com modelo econômico que

garanta forte crescimento,

ambiental e tecnologicamente

sustentável e que tenha como

fim último o

desenvolvimento social,

consolidando-a como centro

de excelência em educação,

em saúde, em infra-estrutura

logística e em

desenvolvimento tecnológico,

exportadora de tecnologia

para o mundo e reconhecida

como centro de comércio

internacional.

INFRA-ESTRUTURA:

1. Ter infra-estrutura, de logística, de

comunicação, de energia, de

transporte urbano, interurbano em

vários modais, de captação e

fornecimento de água, de captação,

tratamento e destinação de resíduos,

de galerias fluviais, entre outras,

consolidadas como instrumento para

garantir o desenvolvimento

econômico sustentável, servindo de

suporto e de incentivo ao

surgimento e à consolidação de

setores de atividade de elevada

agregação de valor e à atração de

novas atividades, dando-se especial

atenção aos parques tecnológicos,

aos parques industriais e à outras

áreas especiais de promoção do

desenvolvimento;

2. A infra-estrutura logística deve

visar, inclusive, à promoção

cultural, turística e educacional, ao

desenvolvimento do setor de saúde

e à elevação do nível de vida

oferecido pela cidade;

INFRA-ESTRUTURA:

1. Criar uma plataforma logística

internacional, integrando o aeroporto

com os demais modais de transporte e

criando ambiente propício para

investimentos privados;

2. Consolidar os parques industriais com

atividades produtivas de alto valor

agregado, dotando-os para isto, de

toda a infra-estrutura necessária;

3. Consolidar o Tecnoparq. Todos os

esforços devem estar voltados para a

sua efetiva instalação e

funcionamento, e para sua inserção no

PAC;

4. Dotar o aeroporto da estrutura

necessária à sua operação

internacional;

5. Implantar o projeto do trem de

passageiros para o transporte de

massa, urbano e regional;

6. Dar visibilidade à região através de

um portal de informações e de

divulgação;

7. Ampliar a estrutura de turismo e de

cultura, tais como, centro de eventos,

espaços para congressos, feiras e

13

TECNOLOGIA:

1. O desenvolvimento econômico

sustentável terá suporte em pólo de

P&D&I – Pesquisa e

Desenvolvimento e Inovação,

integrado com a indústria,

constituído por instituições de

ensino e pesquisa, por parques

tecnológicos, por áreas especial de

promoção do desenvolvimento e

instituições de serviços

tecnológicos, interagindo

proativamente com a indústria

regional consubstanciados na

Tecnópole Maringá

ambientalmente correta;

2. A excelência educacional e

tecnológica deve produzir

resultados efetivos para a

comunidade, notadamente

contribuindo para o

desenvolvimento social;

3. Tecnologia e educação devem estar

associadas, sendo a educação

integral e de qualidade e orientada

para a qualificação profissional;

4. O desenvolvimento tecnológico

deve garantir a sustentabilidade

ambiental e o desenvolvimento

social;

5. As instituições de ensino e pesquisa

devem priorizar os setores

econômicos estratégicos para o

desenvolvimento;

6. As instituições de saúde devem

buscar empregar tecnologia de

vanguarda, e traçar estratégias para

o seu desenvolvimento sustentável,

de modo a viabilizar o turismo em

saúde.

ATRATIVIDADE LOCACIONAL:

1. A qualidade de vida em seu sentido

mais amplo deve constituir-se num

dos principais instrumentos de

atração de investimentos;

2. A quantidade e a qualidade da infra-

estrutura devem constituir-se,

também, em elemento de

atratividade para a localização de

empreendimentos em Maringá;

3. O sistema de ensino, a capacidade

de formação profissional, os acervos

tecnológicos, a capacidade de

inovação e a disponibilidade de

espaços adequados, devem ser

suficientemente fortes, juntamente

com a qualidade de vida e a

exposições, espaços culturais, hotéis;

8. Proporcionar estrutura para receber

famílias de alto poder aquisitivo, tais

como de executivos de grandes

empresas internacionais, implantando

equipamentos tais como escola

internacional e escola para bem

dotados, oferecendo para isto,

incentivos e benefícios fiscais;

9. Dotar a cidade da infra-estrutura de

vanguarda em comunicação de voz,

dados e imagem, wi-max ou

tecnologia mais atual, back-bone de

fibra óptica para proporcionar banda

larga cobrindo toda a cidade, e

geração 3G para telefonia celular;

10. Criar e implantar uma Zona de

Processamento Especial –ZPE-

integrada ao Aeroporto Internacional.

TECNOLOGIA:

1. Desenvolver pólo de difusão da

ciência, da filosofia, das artes e da

teologia, objetivando realizar estudos

capazes de identificar o papel que

cabe à Cidade de Maringá para o

desenvolvimento do futuro da

humanidade;

2. Integrar as instituições de ciência e

tecnologia ao Tecnoparq e a outros

instrumentos de promoção de

desenvolvimento de Maringá;

3. Atrair investimentos para as áreas

industriais, priorizando os mais

intensivos de tecnologia e de elevada

agregação de valor, para o Tecnoparq

e para as outras áreas de promoção do

desenvolvimento, criando-se, para

tanto, a infra e a supra-estruturas

necessárias, bem como os

mecanismos de atratividade e de

localização de empreendimentos;

4. Criar um grande pólo de

biotecnologia e de nanotecnologia e

desenvolver os pólos de software,

TIC, energia, fármacos e agro-

alimentares, este, inclusive, de

pequeno e médio, portes;

5. Desenvolver know-how em educação,

turismo, transporte e gestão

empresarial para a exportação;

6. Criar APLs, nos setores portadores de

futuro para Maringá e organizar os

setor tradicionais, tais como, metal-

mecânico, confecções, químico e de

alimentos, para constituir APLs e

aportar tecnologias;

7. Viabilizar a criação de cursos de

formação tecnológica, por meio de

manutenção federal e/ou parcerias

14

disponibilidade de infra-estrutura,

para superar vantagens financeiras e

fiscais de outras localidades, e

orientar as decisões de localização

de empreendimentos para Maringá.

EMPREENDEDORISMO:

1. A formação científica e tecnológica

deve estar focada ao

empreendedorismo o qual deve

fazer parte de todos os níveis de

ensino.

DESENVOLVIMENTO REGIONAL:

1. A sustentabilidade do crescimento

econômico de Maringá deve

impactar positivamente no

crescimento regional, gerando

novas demandas e tecnologias

voltadas ao crescimento econômico

e ao desenvolvimento social da

região, evitando, assim, o seu

isolamento;

2. Utilizar o Tecnoparq como

instrumento de fortalecimento da

integração da Região Metropolitana;

EMPREGO E RENDA:

1. Os altos níveis de emprego e de renda

objetivados devem ser obtidos por meio

da produção de produtos e serviços de

alto valor agregado e de base

tecnológica, de modo a dar

sustentabilidade ao modelo econômico,

voltado para o desenvolvimento social.

AGRICULTURA:

1. A agricultura deve ser

empresarialmente forte,

diversificada, internacionalmente

competitiva e econômica e

ecologicamente sustentável;

2. A atividade agro-alimentares deverá

buscar a certificação de seus

produtos, organizarem

associativamente suas empresas,

querem sejam pequenos ou grandes

produtores, e tendo seus valores

difundidos nos sistemas

educacionais. O produtor deverá

morar na propriedade, desfrutando

de qualidade de vida compatível

com a oferecida na Cidade;

3. A produção de alimentos deve ter

como desafio a sua orientação para

o mercado externo, incluindo o

mercado de frescos e orgânicos;

institucionais;

8. Estimular as empresas a utilizar e

aproveitar para o seu crescimento e

conquista de novos mercados, do

acervo tecnológico disponível em

Maringá e capacitá-las por meio das

IES para desenvolver elevada

capacidade de pesquisa e de inovação

tecnológica e de processos para o

desenvolvimento industrial e de

serviços;

9. Difundir os conhecimentos gerados

nas IES de utilidade imediata à

população;

10. Criação de Bureaux de serviços

tecnológicos nas várias áreas;

11. Desenvolver cultura florestal de

madeira, bambu e outras fibras e

tecnologia para seus aproveitamentos

nas indústrias moveleira, de

construção civil e de geração de

energia;

12. Priorizar a concessão de benefícios e

de incentivos fiscais ou financeiros a

empreendimentos ambientalmente

sustentáveis e intensivos de

tecnologia, premiando aqueles

considerados de melhor qualidade.

ATRATIVIDADE LOCACIONAL:

1. Criar ambiente propício para

investimentos privados, evidenciando,

preservando e fortalecendo a

qualidade de vida oferecida pela

Cidade, à qualidade e a quantidade de

infra-estrutura, a capacidade de

formação e de capacitação

profissional, de desenvolvimento de

ciência, tecnologia e inovação, e da

prestação de serviços tecnológicos e

de logística;

2. Ter política para atração de empresas,

compreendendo benefícios fiscais,

disponibilidade de áreas, infra-

estrutura, formação de grupos locais

de investidores e definição de áreas

estratégicas e prioritárias, entre

outras;

3. Fortalecer os processos de economia

solidária;

4. Conceder benefícios fiscais para o

Tecnoparq;

5. Evidenciar as facilidades de

localização de Maringá, divulgando-

as junto aos meios empresariais

nacionais e internacionais;

6. Fortalecer os aspectos que se

constituem em atrativos de

localização, por meio de sua

modernização e da ampliação da

15

4. As instituições de desenvolvimento

tecnológico deverão dar tratamento

preferencial para o setor agro-

alimentares no desenvolvimento de

tecnologias e inovações,

envolvendo todas as fases do

processo da produção ã distribuição;

5. As instituições de formação

profissional, além dos aspectos

técnicos de produção, deverão dar

atenção especial ã formação na

gestão, na organização associativa e

em logística e distribuição dos

produtos;

6. As propriedades rurais com vocação

para o turismo rural deverão ser

identificadas e seus proprietários

incentivados e capacitados para

empreenderem no setor.

INDÚSTRIA:

1. O crescimento industrial deve dar-

se por meio do aumento e do

fortalecimento da indústria

dinâmica suportada em PD&I –

Pesquisa, desenvolvimento e

inovação integrada com a indústria;

2. A indústria tradicional deve ser

incentivada e orientada à

incorporação de tecnologia e

inovação e de certificação de

qualidade, como meio de promoção

do seu crescimento do aumento da

capacidade competitiva e da

abertura de novos mercados;

3. O desenvolvimento da indústria de

alimentos deve consolidar Maringá

como pólo agro-alimentar de base

tecnológica;

4. A indústria de alta tecnologia,

notadamente as dos setores

portadores de futuro, deve ser

globalmente competitiva.

COMÉRCIO E SERVIÇOS:

1. A vocação de pólo prestador de

serviços deverá ser alcançada

mediante a busca da excelência em

comércio e em serviços de

educação, de saúde, de

comunicação, de tecnologia, de

transporte, de logística, de centro de

comércio internacional, de eventos,

de turismo, de lazer, de artes e de

gastronomia;

2. As instituições de saúde deverão

focar sua atuação, além da melhoria

contínua da qualificação dos

profissionais e dos serviços

capacidade.

EMPREENDENDORISMO:

1. Desenvolver a cultura empreendedora

junto aos estabelecimentos de ensino

e das entidades profissionais, para que

estas considerem o

empreendedorismo como integrante

da formação formal;

2. Oferecer empreendedorismo nos

cursos de graduação e nos ensinos

fundamental e médio;

3. Criar cursos técnicos de qualificação

profissional de qualidade que

incorporem em seus currículos a

formação empreendedora;

DESENVOLVIMENTO REGIONAL:

1. Integrar a gestão metropolitana da

educação, da saúde, da segurança e da

geração de empregos para minimizar

os desequilíbrios sócio-econômicos;

2. Promover a industrialização da região

e estimular pequenas e micro

empresas se organizem em

associações, APLs, Clusters e/ou

cooperativas para o desenvolvimento

de cadeias produtivas;

3. Priorizar o desenvolvimento de

tecnologias e de inovação para os

produtos regionais, visando impactar

positivamente a geração de renda, a

criação de empregos e o

desenvolvimento sustentável da

região;

4. Estabelecer junto às autoridades

estaduais e federais, política de

desenvolvimento industrial para a

região de influência de Maringá, que

proporcione benefícios à população e

industrialize toda a Região;

5. Exercer participação efetiva visando

criação do pólo inter-regional

Maringá-Londrina, promovendo,

inclusive, se necessária, a

federalização das universidades

estaduais.

EMPREGO E RENDA:

1. Preparar as empresas para o mercado

global, proporcionando-lhes perfil

inovador, gestão estratégica e

informações eficientes;

2. Criar ambiente adequado ao

surgimento de vínculo associativo e

cooperativo para viabilizar

empreendimento e geração de

trabalho e renda;

16

prestados direcionados para um

atendimento humanizado, e do

aumento da produtividade e da

competitividade, na busca da

certificação e do reconhecimento

nacional e internacional e na

integração e na complementaridade

das áreas da saúde;

3. A estrutura logística para o turismo

em saúde deve contemplar a

estrutura física, a tecnologia e,

principalmente, o fator humano,

inclusive com a formação bilíngüe

para os profissionais com contato

com os pacientes;

3. Priorizar a atração de empresas de

base tecnológicas e/ou incorporadoras

de elevado valor agregado;

4. Criar mecanismos e benefícios fiscais

de incentivo ao surgimento de

empresas inovadoras, de base

tecnológica e de geração de alto valor

agregado;

5. Promover cursos de formação técnica

com subsídios, contanto, para isto,

inclusive com recursos do FAT e/ou

com parcerias institucionais;

6. Tornar obrigatório, em Maringá, o

ensino médio para todos os jovens na

idade escolar compatível que

concluem o ensino fundamental.

AGRICULTURA:

1. Criar mecanismo para a redução dos

riscos das atividades agrícolas;

2. Interceder de modo coordenado para

que as políticas de crédito

contemplem irrigação, a

profissionalização da atividade

agrícola, a introdução de tecnologias

e inovações, a produção, a

publicidade e o capital de giro;

3. Promover a organização dos

segmentos produtivos (associações e

cooperativas), apoiando-os na

produção, na transformação e na

comercialização e distribuição dos

seus produtos;

4. Promover a integração dos Sistemas

de Inspeção Sanitária e de

Certificação de Produtos agro-

alimentares frescos e orgânicos;

5. Dar prioridade para gastos da

promoção da agricultura, em

profissionalização e na agregação de

valor aos produtos, objetivando a

melhoria da qualidade e o aumento da

produtividade e da competitividade;

6. Preparar a agricultura

tecnologicamente para a utilização do

lixo orgânico como insumo para a

produção e destinação adequada dos

recicláveis e outros resíduos;

7. Articular os diversos órgãos e esferas

do governo para disponibilizar no

campo todos os instrumentos da TIC,

o fornecimento de energia, a captação

e tratamento de água, o recolhimento,

tratamento e destinação do esgoto, o

acesso aos sistemas de saúde e

educacional, e de vias de acesso, entre

outros aspectos de elevação no nível

de qualidade de vida;

8. Formalizar um programa, envolvendo

as instituições de formação

17

profissional e de desenvolvimento de

tecnologia e inovação, visando: a

capacitação dos produtos para receber

e incorporar tecnologias e inovações,

a gestão empresarial, a logística de

produtos agro-alimentares, a

distribuição e publicidade; a definição

da(s) vocação(ões) de produção de

cada propriedade e do produtor,

incluindo o mix de produção,

considerando, quando for o caso, a

atividade de turismo rural;

9. Promover a abertura de mercados

externos para produtos da agro-

pecuária regional.

INDÚSTRIA:

1. Identificar os vazios industriais,

promovendo o alongamento da cadeia

produtiva, privilegiando as atividades

de alto valor agregado e de uso

intensivo de tecnologia;

2. Atrair investimentos industriais,

criando e ampliando as áreas

destinadas à indústria, tais como

parques industriais, parques

tecnológicos, incubadoras

tecnológicas, áreas especiais de

promoção de desenvolvimento

econômico, disponibilizando a infra-

estrutura necessária para isto;

3. Implantar pólos industriais e APLs

nos setores portadores de futuro e

organizar e implantar APLs nos

setores tradicionais, fortalecendo

àqueles já instituídos e estabelecendo

ações estratégicas de nível

empresarial e governamental;

4. Fortalecer as indústrias de alimentos,

metalmecânico, bioenergia e moda,

por meio de PD&I, de atração de

investimentos, de organização setorial

e do estabelecimento de alianças

estratégicas;

5. Criar cursos de formação técnica e

superiores nas áreas de tecnologia de

alimentos, de metalmecânico, de TIC,

de bio e nanotecnologias, de

fármacos, de moda, de design, entre

outras estratégicas;

6. Ampliar as áreas para instalação de

incubadoras de empresas suportadas

em tecnológica e ampliar a

quantidade de empresas incubadas;

7. Promover a implantação de

programas de certificação de

qualidade nas empresas.

COMÉRCIO E SERVIÇOS:

18

1. Incentivar, mediante política de

implantação e de atração de

investimentos e de benefícios fiscais,

o aproveitamento dos vazios setoriais,

dando atenção especial aos

investimentos em turismo de eventos

e de saúde, em saúde, em serviços

tecnológicos, em logística nacional e

internacional, e em comércio

internacional;

2. Criar um pólo em medicina de alta

complexidade, incentivando,

inclusive, a criação de estrutura para

o turismo em saúde e induzindo as

operadoras de turismo à oferta de

pacotes e roteiros em turismo de

saúde;

3. Incentivar a promoção de eventos na

área de arquitetura, urbanismo,

gastronomia, cultura e de eventos

técnicos, científicos e comerciais;

4. Incentivar a caracterização e a

produção de artesanato local, ligado

ao segmento do turismo urbano e

rural;

5. Fortalecer as várias modalidades de

esporte em nível nacional, tais como:

futebol, vôlei, basquete, artes

marciais, ciclismo, natação;

6. Fortalecer os setores de educação, de

ciência e tecnologia, de saúde, de

comunicação, de serviços financeiros

e de transporte aéreo, rodoviário e

fluvial;

7. Incentivar os prestadores de serviços

a implantarem programas de

certificação de qualidade, de inovação

tecnológica e de melhoria da

produtividade e da competitividade.

Fonte: “O que Maringá espera do novo governo”, Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá - 2008

As políticas públicas, fruto das decisões do Executivo, podem ser separadas em três esferas,

de acordo com Lowi (1964: 681): distributivas, regulatórias e redistributivas. As políticas

distributivas atendem vários interesses simultaneamente e, geralmente, não há conflito. Já as

políticas regulatórias favorecem um segmento em detrimento de outro, e aí há grande conflito de

interesses. No caso apresentado no quadro acima temos uma agenda de políticas públicas propostas

pelos empresários, claramente redistributivas, onde os interesses empresariais são convergentes.

Smith (2000: 89) considera que as políticas redistributivas, são políticas “unificantes”, pois

despertam um grau elevado de interesse entre muitas empresas e a maioria significativa das

empresas interessadas compartilha a mesma posição. Neste caso, os interesses empresariais

usualmente são semelhantes. Entretanto, essas políticas geram uma relação conflituosa com outros

19

setores da cidade que discordam do modelo cidade-empresa. O diferencial é que, habitualmente, os

interesses empresariais estão do mesmo lado do conflito (MANCUSO, 2007: 141).

Conclusão

É inegável que a relação do empresariado com a propriedade e com o controle dos meios de

produção lhe dá um papel de agente econômico fundamental para o funcionamento da sociedade

capitalista. Por isso, a análise de seu comportamento político, principalmente em uma cidade de

médio porte como Maringá, colabora no sentido de se entender o funcionamento das sociedades

contemporâneas.

Neste artigo procuramos demonstrar que a ação política do empresariado se dá, em um

primeiro momento quando da elaboração dos objetivos, diretrizes e estratégias contidos na agenda

empresarial, brevemente apresentada. A definição dos temas e do seu conteúdo é ponto central da

articulação dos interesses empresariais para o desenvolvimento econômico local e,

consequentemente, para as suas próprias vantagens competitivas. Embora não tenhamos trabalhado

neste artigo com o período eleitoral (fazemos isso em nossa pesquisa de doutorado) o momento da

recepção dessa agenda pelos candidatos deve ser considerado, pois é óbvio que os empresários irão

se esforçar mais para convencer os candidatos que têm reais chances de chegar ao poder,

concretizando assim outra fase de sua atuação política. Finalmente o empresariado também atua

sistematicamente fazendo as cobranças para que o prefeito eleito implante as propostas

apresentadas. No caso atual do Codem, os três executivos que trabalham para o conselho são

nomeados pela prefeitura e recebem seus vencimentos vinculados à Secretaria de Desenvolvimento

Econômico do município, numa clara demonstração de que a atual administração já encampou as

propostas do empresariado.

Os dois últimos pontos que merecem reflexão se complementam. Um é a finalidade da

atuação política do empresariado e o outro são os resultados da sua atuação. Ela se articula em duas

vertentes: primeiro, mudar o statu quo para melhor, tanto quanto for possível; e segundo, impedir a

piora do statu quo, também tanto quanto for possível. Nesses casos, afirma Mancuso (2007: 143), o

empresariado poderá ter dois tipos de sucesso: ganho, no caso da melhora do seu statu quo; ou

alívio, na manutenção do mesmo. Seu insucesso também será na mesma proporção, gerando perda e

frustração. Ao verificarmos parte da agenda contida no quadro 1 percebemos o esforço para que o

statu quo da classe empresarial maringaense seja amplamente melhorado o que, na pior das

hipóteses, já estará garantindo a manutenção do mesmo.

20

Esperamos apresentar em outro artigo como foram contabilizados os sucessos ou qual foi o

grau de sucesso das políticas sugeridas pelo empresariado e assumidas pelo Executivo local e seus

impactos na forma de atuação empresarial, tanto para o grupo dominante representado pela Acim

quanto para o grupo técnico representado pelo Codem.

21

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