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GRUPO DE TRABALHO 2
INSTITUIÇÕES, ELITES E DEMOCRACIA.
AÇÃO EMPRESARIAL E DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO LOCAL:
ESTRATÉGIAS POLÍTICAS E O MODELO
CIDADE-EMPRESA
Sérgio Gini
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AÇÃO EMPRESARIAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL:
ESTRATÉGIAS POLÍTICAS E O MODELO CIDADE-EMPRESA
Sérgio Gini 1
Resumo
Este artigo discute a participação do empresariado no processo de elaboração de políticas para o
desenvolvimento econômico local. Partimos da definição teórico-metodológica que considera o
empresariado um ator social, devidamente situado em um ambiente institucional e político e que
interfere, de acordo com os padrões de sua própria ação, na definição das políticas públicas. Esta
análise, apesar de não ser nova no cenário nacional (desde o final da década de 1950 o empresariado
como ator político tem sido alvo de pesquisas nas ciências sociais), privilegia o empresariado
comercial e o seu relacionamento com as instituições políticas, o que pode ser tomado como um
novo enfoque para discutir uma questão emergente no campo das ciências sociais, qual seja a
mudança do paradigma do empresariado industrial. Especificamente, analisamos a atuação do grupo
de empresários ligados à Associação Comercial e Empresarial de Maringá, 9º município da região
sul do Brasil, que, por meio de um movimento organizado e que buscou a hegemonia entre os
diversos setores representados, elaborou o projeto que criou o Conselho de Desenvolvimento
Econômico de Maringá em 1996, e assumiu o seu controle institucional desde então. Essa prática
política tem produzido um impacto considerável nas variáveis sociais e econômicas do município,
que assimilou os fundamentos de uma cidade-empresa.
Palavras-chave: empresariado; ação empresarial; desenvolvimento.
Introdução
O associativismo empresarial tem sido objeto de diversos estudos empíricos na América
Latina (BIANCHI, 2004). No Brasil as pesquisas sobre o empresariado como ator político têm
encontrado um campo fértil para desenvolvimento desde o final da década de 19502. Segundo
Mancuso (2007:139) atualmente “é vastíssimo o universo de atores empresariais, cuja mobilização
política pode tornar-se matéria de investigação acadêmica”. Para tanto, aponta alguns caminhos
promissores para novos estudos empíricos sobre a atuação política empresarial. Um desses
caminhos seria a pesquisa sobre a ação empresarial diante dos poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, tanto na esfera estadual quanto na esfera local, pois nessa vertente “há pouquíssimos
trabalhos no Brasil” (MANCUSO, 2007: 139).
1 Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPR. Professor Assistente do
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá.
2 Por questões de conveniência é impossível fazer um balanço da literatura e das formas de enfoque da ação empresarial
neste artigo.
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Esse artigo é parte de nossa pesquisa de doutorado que analisa a ação política do
empresariado em face do poder Executivo, orientada para o desenvolvimento econômico e o
modelo de cidade-empresa. Pesquisamos o grupo de empresários da Associação Comercial e
Empresarial de Maringá (Acim) que, por meio de um movimento organizado e que buscou a
hegemonia entre os diversos setores representados, elaborou o projeto que criou o Conselho de
Desenvolvimento Econômico de Maringá (Codem), em 1996, e assumiu o seu controle institucional
desde então. Este organismo é o único responsável em elaborar as políticas de desenvolvimento na
cidade de Maringá, a 9ª da região Sul e o 67º município brasileiro, sede de uma região
metropolitana que reúne cerca de um milhão de habitantes3. A Acim é uma entidade de caráter
associativo, de livre adesão e que reúne todos os segmentos empresariais (o número de empresas
associadas em janeiro de 2009 era de 3.600). O Codem é um conselho consultivo e deliberativo
criado por lei municipal, por iniciativa dos próprios empresários, com adesão limitada e que reúne
outras categorias profissionais além dos empresários, como profissionais liberais e seus conselhos
de regulamentação, clubes de serviço como maçonaria, lions e congêneres.
A maioria dos trabalhos que versam sobre a ação política empresarial no Brasil tem foco na
atuação dos empresários industriais. Pelo fato de Maringá ser quase que exclusivamente dominada
pela atividade comercial e de prestação de serviços, tendo poucas indústrias que por sua vez são
fechadas em seu segmento, nosso enfoque será sobre a atuação do empresariado comercial o que
exigirá outra leitura do referencial teórico-metodológico que vem sendo utilizado pelos
pesquisadores brasileiros, embora a linha temática orientadora seja a mesma. É o que pretendemos
fazer como forma inovadora de contribuição.
O Codem, conduzido e gerenciado pelo empresariado, teve importante papel nos processos
eleitorais que se seguiram a 1996. Por meio do discurso do desenvolvimento e da retomada do
crescimento, o empresariado empreendeu uma forma de ação política que alcançou resultados
significativos junto aos poderes públicos, em especial ao Executivo. A ação empresarial
empreendida foi a elaboração e apresentação de uma agenda propositiva para os candidatos ao
Executivo, pontuando os anseios e as perspectivas do empresariado. Para as eleições municipais de
2000, o empresariado elaborou um documento intitulado “O que Maringá espera do novo
governo”. Tratava-se de um planejamento para políticas públicas de desenvolvimento econômico
que presumia colocar a cidade na rota dos grandes investimentos e retomar o seu perfil de cidade
próspera, no modelo de cidade-empresa. Naquele ano, foi eleito, pela primeira vez, um candidato do
Partido dos Trabalhadores (PT), e com uma votação superior aos 100 mil votos em um colégio
eleitoral de 203 mil eleitores. Durante o pleito, o candidato do PT estabeleceu uma série de alianças
3 Conforme o último censo divulgado pelo IBGE em 2007.
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com o empresariado, especialmente no segundo turno, dando total atenção à agenda proposta pelo
empresariado. Negociou com a Acim o direito de aquela entidade indicar o novo secretário de
indústria e comércio, caso viesse a ser eleito. Novamente, nas eleições municipais de 2004, os
planos de governo dos candidatos a prefeito passaram pela agenda dos empresários, que elaboraram
um novo documento “O que Maringá espera do novo governo”. O prefeito eleito, do Partido
Popular (PP), era membro do Codem e conselheiro da Acim. Na eleição de 2008, o empresariado
apoiou maciçamente a reeleição do prefeito que, inclusive, apropriou-se dos discursos da classe
empresarial. Foi eleito no primeiro turno, sem ser incomodado por qualquer um dos seus
concorrentes.
O enfoque da análise da ação política empresarial que apresentamos neste artigo e que
direciona a questão do desenvolvimento recai sobre a última versão do documento “O que Maringá
espera do novo governo” apresentado nas eleições municipais de 2008 e que foi assumido pelo
prefeito eleito. Em nossa pesquisa estudamos a ação política sobre dois eixos: 1º) a agenda
elaborada pelo empresariado e entregue aos candidatos ao Executivo, ou seja, a partir do que e
como ela foi construída; e 2º) as formas de acompanhamento e cobrança das ações propostas, a fim
de avaliarmos o grau de efetividade da ação. No primeiro eixo estão contemplados os interesses do
empresariado em face da cidade onde moram e mantêm os seus negócios. Esta agenda é formada
por um conjunto de políticas públicas, de interesse particular, sugeridas ao Executivo. No segundo,
contemplamos, em última análise, qual foi o grau de sucesso político do empresariado e qual o tipo
predominante de sucesso. Para este artigo, limitados pelo espaço, apresentaremos alguns aspectos
relacionados ao primeiro eixo, ou seja, a agenda política que foi elaborada pelo empresariado antes
das eleições, em forma de atuação direta e deliberada; e após as eleições, com a participação técnica
do Codem, órgão elaborador dos projetos e principal expressão da atuação coletiva do
empresariado.
A teoria da escolha racional e os limites da explicação funcional
Em nossa análise a compreensão sociológica da ação coletiva do empresariado e a sua
constituição como ator político são imprescindíveis. Partimos do pressuposto, já apresentado por
Costa (2003), Oliveira (2003) e Mancuso (2004), de que o empresariado brasileiro é, sim, capaz de
uma ação coletiva, decorrente da confluência de um processo econômico e de um processo político,
e de que o exemplo de uma ação local poderá nos auxiliar na apresentação de uma resposta
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empiricamente fundamentada para a questão da relação entre o empresariado e o poder público em
democracias capitalistas4.
Nosso objeto de investigação está representado em uma associação civil, e não em uma
corporação de caráter sindical patronal. Portanto, nossas abordagens teóricas contemplam essa
particularidade, comportando, além do processo histórico, todas as informações sobre as ações do
empresariado, da entidade que os representa e dos empresários enquanto sujeitos individuais,
conforme orienta Cruz (1995: 25, 26). Entenderemos a lógica da ação política, coletiva, do
empresariado compreendendo primeiramente como se formou esse conjunto de atores individuais,
ou, “do que” e “de quem” estamos falando. Ora, se temos um universo de muitos empresários5,
temos também vários interesses (ver tabela 1). Portanto, o que emerge dessa pluralidade é a
heterogeneidade e não um grupo homogêneo que, comumente, chamamos de empresariado.
O pluralismo de interesses dos capitais particulares pode ser considerada a primeira barreira
a ser transposta para se entender como é produzida ou, se existe de fato, uma ação coletiva
empresarial. Temos, então, um problema que é central: como coordenar as ações individuais de
forma a produzir os melhores resultados coletivos? E desse problema derivam outras questões:
como se produz, então, a ação política, coletiva, empresarial? Como capitais particulares podem
agir coletivamente? Em termos de teoria política e sociológica, a resposta mais aceita a essas
questões foi dada por Mancur Olson no clássico The logic of collective action, de 1971, que tem
uma edição em português (1999), já esgotada. Esse autor constrói a sua reflexão a partir da
afirmação corrente na época de que grupos de indivíduos com interesses comuns tenderiam – de
forma até usual – a promover esses interesses, especialmente se fossem econômicos. A premissa é
que os membros do grupo agiriam por interesses individuais racionalmente definidos. Olson
define indivíduo racional como o indivíduo que procura realizar seus objetivos por meios
"eficientes e efetivos" (1999: 77). Qualquer objetivo, desde o mais egoísta até o mais altruísta,
poderia ser perseguido de forma racional.
Olson, entretanto, destaca que essa afirmação estaria equivocada: “a idéia de que os grupos
agirão para atingir seus objetivos é uma seqüência lógica da premissa do comportamento racional
centrado nos próprios interesses, não é verdadeira” (1999: 2). O autor assinala que os indivíduos
que pertencem a uma organização têm interesses comuns, mas, ao mesmo tempo, têm motivações
4 A questão é se o empresariado ocupa, de fato, uma posição privilegiada, em decorrência da dependência estrutural do
Estado, e da sociedade como um todo, em relação ao capital, como argumentam Miliband (1989) e Offe e Wiesenthal
(1984), entre outros, ou se essa supremacia não existe, podendo o poder político do empresariado variar de caso para
caso, ao longo do tempo e de um lugar para o outro, conforme Vogel (1996).
5 Em 2000 a Associação Comercial tinha em seu quadro de associados 2.200 empresários. Já em 2004, esse número
subiu para 3.000, em virtude da associação de profissionais liberais e prestadores de serviços. Por ocasião das eleições
em 2008 o número contava 3.550.
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individuais diferentes dos demais indivíduos do grupo. Na medida em que ninguém poderia ser, em
princípio, excluído do usufruto de um benefício coletivo, pode ser racional para um indivíduo não
contribuir para a sua obtenção. Uma de suas conclusões é a seguinte:
Assim como não pareceria racional para um determinado produtor restringir sua
produção a fim de talvez obter um preço mais alto para o produto de seu setor
industrial, não lhe pareceria racional sacrificar seu tempo e dinheiro para apoiar um
lobby que luta pela ajuda do governo a esse setor industrial (OLSON, 1999: 11).
Dessa forma, quando o grupo for tão grande que a ausência de qualquer contribuição
individual não faria nenhuma diferença, o benefício coletivo simplesmente “não será provido a
menos que haja coerção ou alguma indução externa que faça os membros do grande grupo agirem
de acordo com seus interesses comuns (OLSON, 1999: 44). Situação oposta apareceria quando o
número de indivíduos do grupo é tão pequeno que seus membros facilmente percebem que seu
ganho pessoal com o benefício coletivo excederia seu custo total ou que a contribuição ou falta de
tal por parte de um indivíduo produziria um efeito perceptível sobre os custos ou ganhos. É a partir
dessa distinção entre os grupos grandes e pequenos que Olson afirma a existência de um alto grau
de organização dos interesses empresariais. Fragmentada em uma série de “indústrias” (setores) a
comunidade empresarial estaria dividida em frações relativamente pequenas, mas capazes de se
organizarem voluntariamente a fim de terem seu próprio lobby influenciando fortemente os
governos. Na medida em que formam grupos pequenos constituídos por grandes unidades (as
empresas) facilmente se associariam de maneira voluntária e fariam fluir “natural e
necessariamente” o poder político para as mãos daqueles que controlam os negócios e as
propriedades (OLSON, 1999: 143).
Apesar disso, a comunidade empresarial como um todo não possuiria a mesma capacidade
organizativa manifestada pelos setores industriais, justamente porque não seria um pequeno grupo e
sim um grupo grande. A organização do conjunto da comunidade empresarial seria possível apenas
se seus membros fossem levados a aderir por meio de estímulos independentes e seletivos, sanções
e recompensas sob a forma de benefícios individuais, tais como serviços de estatísticas, pesquisa
técnica e consultoria.
A teorização da ação coletiva a partir desta perspectiva aponta que grupos relativamente
“grandes” tendem a não produzir benefícios coletivos na ausência de incentivos distribuídos
individualmente aos membros que adotam o comportamento associativo, pois, nessas coletividades,
cada ator estima que a sua contribuição individual é incapaz de exercer qualquer diferença
significativa sobre a produção integral do bem público ou de algum nível do mesmo. Esse cálculo,
justamente, leva os membros racionais de grupos grandes, mesmo altruístas, a não incorrerem nos
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custos envolvidos na associação ou cooperação, o que implica na não produção do benefício
coletivo do interesse dos membros do grupo.
A resposta de Olson à nossa pergunta inicial, também recebeu a crítica mais citada a ela. No
ensaio “Duas lógicas da ação coletiva: notas teóricas sobre a classe social e a forma de
organização”, de 1984, Clauss Offe e Helmut Wiesenthal rejeitam peremptoriamente uma “teoria da
ação coletiva”, enfatizando a necessidade de diferenciar as lógicas próprias de cada grupo social. De
início, argumentam que a “lógica capitalista” favorece os empresários no desenvolvimento de suas
ações políticas. O empresariado como ator social o é enquanto classe, ou seja, a soma dos
indivíduos que personificam um conjunto indiferenciado de elementos, o capital em geral. Por isso,
seus interesses, a capacidade organizativa e o seu poder de influência são predeterminados por sua
própria essência.
Ao escrever sobre os sindicatos dos trabalhadores, já em 1881, Engels havia achado por bem
diferenciá-los das organizações dos capitalistas. Segundo ele, ao contrário dos trabalhadores, os
capitalistas estão sempre organizados:
Seu número restrito, comparativamente aos operários, o fato de constituírem uma
classe particular e manter relações sociais e comerciais permanentes, lhes serve de
espaço de organização. Somente quando um ramo de produção se torna dominante
em uma dada região é necessária uma organização formal (ENGELS, 1976: 250 –
tradução livre).
Engels, e até mesmo Marx, não retornarão mais a esse tema. Mas, esse texto serviu de
alavanca para Offe e Wiesenthal desenvolverem a distinção sobre as lógicas da ação coletiva do
capital e do trabalho. Para além das semelhanças formais entre associações de empresas e sindicatos
operários, esses autores procurarão apontar a diferenciação de classe específicas dos respectivos
tipos de fatores input (o que precisa ser organizado) e outputs (condições de sucesso estratégico que
precisam ser alcançadas nos meio-ambientes das organizações).
A diferenciação remete à essência dos atores. O capital tem como necessidade combinar o
trabalho e os bens de capital a fim de produzir mais-valia. Ambos os elementos consistem em
trabalho social, mas enquanto um é o resultado de trabalhado passado (“trabalho morto”), o outro é
força de trabalho como potência presente. Combinar este último, que não é separável dos portadores
da força de trabalho, com os demais “fatores de produção”, consiste no problema fundamental com
o qual o capitalista tem de lidar. O trabalho somente pode ser feito pelo trabalhador, apesar dele
“pertencer”, legalmente, ao capitalista. Cada trabalhador controla somente uma unidade de força de
trabalho que a venda sob condições de concorrência com outros trabalhadores que fazem o mesmo.
A força de trabalho viva é simultaneamente viva e não divisível (possui uma individualidade
insuperável, na medida em que “possuída” e controlada por indivíduos discretos).
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O capital, por seu turno, compreende muitas unidades de trabalho “morto” sob um comando
unificado. O conflito entre a forma atomizada do trabalho vivo e a forma integrada do trabalho
“morto”, cria uma relação de poder. O capital de cada empresa ou indústria está sempre unificado,
concentrado e centralizado, enquanto o trabalho vivo encontra-se atomizado e dividido pela
competição. Não podendo fundir-se, os trabalhadores, no máximo, conseguem se associar para
compensar parcialmente a vantagem de poder do capital. Assim, enquanto o trabalhador personifica
a força de trabalho de maneira individualizada, na medida em que ele só pode personificar a sua
própria, o capitalista personifica uma força social previamente concentrada e centralizada, o capital.
Partindo dos pressupostos até aqui expostos, os autores afirmam que o capital poderia recorrer a três
formas de ação coletiva (a firma – empresa ou indústria -, a cooperação informal e a associação de
empregadores ou de empresas), enquanto o trabalho teria somente uma. A existência dessas formas
múltiplas de organização coletiva reduziria o escopo dos interesses que as associações formais
deveriam tratar, o que permitiria uma melhor definição dos interesses verdadeiros, um índice
reduzido de conflitos internos e, conseqüentemente, uma elevada capacidade de organização.
É evidente que essa elevada capacidade de organização não chega a ser condição necessária
para influenciar o governo. Pelo fato de haver uma dependência estatal do processo de acumulação
privada, fica evidente que as formas não associativas de ação bastariam para os empresários
avançarem seus interesses. É uma posição de poder privilegiada do capital, principalmente na
capacidade de decidir onde fará investimentos, tornando o Estado dependente de suas decisões.
Levando em conta a posição privilegiada do capital, afirmam Offe e Wiesenthal (1984), o
relacionamento entre este e o Estado estaria centralizado não na atividade política de suas
associações e sim na capacidade do capital se recusar a investir e no vigor do processo de
acumulação. A dependência que o aparelho estatal possuiria em relação ao capital não pressuporia
uma dependência da classe capitalista em relação ao Estado ou do Estado com relação aos
trabalhadores. Ela seria expressão de uma assimetria estrutural que não é criada pelas associações
empresariais, muito embora seja por ela explorada.
A conclusão sobre a ação coletiva a quem chegam Offe e Wiesenthal, em última análise, é a
mesma de Mancur Olson, embora aqueles tivessem construído sua teoria baseada em distinções de
classe e este baseada na escolha racional: os empresários têm uma grande capacidade de
organização de seus interesses e de influenciar o governo. O paradoxo está no fato de que Olson
apontou essa capacidade como resultado de um elevado grau de heterogeneidade de interesses que
em última instância estariam totalmente representados em diversas associações empresariais. Offe e
Wiesenthal, por seu turno, argumentam que esta capacidade é o produto de uma homogeneidade
concentrada e da facilidade dela decorrente para criar identidades e organizar o capital.
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As teorias baseadas na escolha racional de Olson e nas distinções classistas de Offe e
Wiesenthal estão inseridas, segundo Bianchi (2007), em uma perspectiva “essencialista”, isto é, são
teorias da ação coletiva que constroem seus argumentos logicamente a partir de pressupostos que
remetem às essências dos atores, unidades básicas da pesquisa científica. Para Olson, tais unidades
seriam os indivíduos capazes de agir racionalmente com o objetivo de maximizar seus benefícios e
minimizar os custos necessários para obtê-los. Para Offe e Wiesenthal, os atores são classes sociais,
entendidas como soma de indivíduos que personificam um conjunto heteróclito e indiferenciado de
elementos, o capital em geral ou o conjunto do trabalho abstrato. Os interesses, a capacidade
organizativa e o poder de influenciar desses atores são considerados pré-determinados pelas suas
próprias essências. Entretanto, é importante ter cuidado nessa análise, como já alertara Costa
(2003:41), pois “entidade e grupos sociais não são uma e a mesma coisa”.
Os atores em cena
Os atores focalizados em nossa pesquisa estão concentrados na Acim e no Codem, isto é,
fazem parte do seu quadro de associados (ver tabelas 1 e 2). Pertencem a setores diferentes da
economia como comércio varejista, prestação de serviços, pequena indústria e de profissionais
liberais. Constituem o que se convencionou ser chamado de microempresários e empresários de
pequeno e médio porte. Com isso, temos uma definição mais precisa do que e de quem estamos
falando. Por isso, quando nos propomos a analisar uma ação política coletiva, falamos também da
união desses setores econômicos diversos para defender interesses individuais. De acordo com
Costa (2003: 38) “a situação econômica continua sendo decisiva para a definição dos interesses, dos
padrões e dos formatos institucionais de sua ação política, e esta é constitutiva de sua existência
enquanto grupo social”. Quando falamos da entidade onde esses empresários estão organizados,
enfatizamos também a relação entre a existência econômica e o processo de ação e representação
política. Para Costa (2003: 39), “as entidades representativas são o ponto fundamental da pesquisa,
pois é nelas onde, de um lado, estão combinados os aspectos econômicos com aqueles de caráter
social e principalmente político, e, de outro, se dão processos que são complexos, porém,
fundamentais”.
No caso específico da Acim, a predominância do setor do comércio varejista e o crescimento
do setor de prestação de serviços são fundamentais para entendermos a lógica da construção da
agenda de propostas para a cidade e para o desenvolvimento econômico (conforme o quadro 1).
Neste sentido é importante frisar que o poder Executivo municipal tem uma relação direta com o
desempenho das empresas. A política de governo, os incentivos fiscais e tributários, a doação de
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terrenos e de infra-estrutura para estabelecimentos comerciais e industriais, enfim, as políticas
públicas de desenvolvimento local influenciam diretamente os empresários. Quando estes percebem
o peso dessas decisões, passam a ter o motivo que os impulsiona a se mobilizarem durante os
processos decisórios - uma eleição para prefeito, por exemplo – para promoverem seus interesses
(MANCUSO, 2007: 139). Na tabela 1, fizemos questão de separar o segmento de supermercados
porque os dois últimos presidentes da Acim eram desse setor e o atual presidente do Codem,
indicado pela Acim, também é supermercadista.
Tabela 1
Composição do quadro associativo da Associação Comercial de Maringá*
Segmento Associados Percentual
Comércio varejista e lojista (inclui os shoppings) 2.414 68%
Prestadores de serviços 426 12%
Indústrias 390 11%
Profissionais liberais 178 5%
Supermercados 142 4%
Total 3.550 100%
* Associados em setembro de 2008, antes das eleições municipais
Fonte: Associação Comercial e Empresarial de Maringá
Na composição do Codem, a heterogeneidade é acentuada, inclusive com a junção de
segmentos não empresariais como sindicatos de trabalhadores, por exemplo. Entretanto, quem
exerce a função de direção do conselho são empresários indicados pela Acim e a maioria das
entidades e instituições é dirigida por empresários que, por sua vez, são associados a ela. O Codem
atua como um órgão técnico que, por meio de suas 11 câmaras, define quais os temas emergentes a
serem trabalhados. As câmaras técnicas restringem o trabalho de um representante de setores não
empresariais. Por exemplo, o representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais só é chamado
para discutir assuntos ligados à Câmara Técnica da Agricultura e Agroindústria, não havendo,
portanto, integração com as demais câmaras (GINI, 2008).
Devemos considerar também, como orienta Costa (2003: 41), que os setores e segmentos
empresariais que atuam coletivamente no “processo da ação política” se defrontam com a
necessidade de participar de um organismo de representação. Embora a Acim seja a entidade de
organização do empresariado, será no Codem que esses segmentos se “sentem” representados dado
o caráter de relação direta do conselho com o regime político.
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Por isso, identificamos uma estratégia que é a centralização da ação política empresarial no
âmbito do poder Executivo, com uma deliberada ausência de discussão com o Legislativo.
Friedberg (1995) aponta o modelo dessas organizações como estruturadas por relações de poder,
onde todos os participantes possuem certa capacidade de negociação (ver tabela 2). No caso do
Codem, o Legislativo faz parte do seu plenário como membro. Miliband (1972: 74) nos dá uma
indicação para interpretarmos a questão ao destacar que a presença política do empresariado se
concentra nos postos fundamentais, seja no Legislativo ou no Executivo, sempre na defesa de seus
interesses econômicos. Costa (2003: 312) analisa que Miliband sugere uma “tendência dos
empresários a privilegiar as instâncias relativas ao planejamento e à definição da política econômica
do Governo, ou seja, do Executivo, seja qual for o sistema de governo”. Miliband entende que é por
esta via que fundamentalmente se daria o envolvimento dos empresários com a política e com a
questão do regime político.
Tabela 2
Estrutura organizacional do Codem
Plenário Mesa Diretora Câmaras Técnicas
60 entidades ou instituições
representadas;
358 membros (titulares e
suplentes).
3 diretores voluntários (indicados
pela Acim);
3 executivos remunerados.
Atração de Investimentos
Comércio Exterior
Assuntos Universitários
Integração Tecnológica
Assuntos Comunitários
Agricultura e Agroindústria
Construção Civil e do Setor
Imobiliário
Indústria Têxtil e do
Vestuário
Educação
Gasoduto
Serviços da Saúde Fonte: Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá, 2008
As propostas: novas estratégias
A ação política do empresariado deve ser entendida também como um empreendimento
discursivo e estratégico para firmar posição de classe dominante na divisão social da cidade. Aqui,
concordamos com Bianchi (2007: 117) que esclarece que “a abordagem teórica da ação coletiva
empresarial deve conter uma análise das condições nas quais os interesses particulares dos
empresários podem estimular a emergência de uma ação e de uma organização coletiva”. Desse
modo, no âmbito das propostas apresentadas no documento “O que Maringá espera do novo
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governo” é que analisaremos os procedimentos e instrumentos da ação empresarial, como
conseqüência de uma lógica dos atores implicados. A Acim é a responsável por elaborar o discurso
político e social e o Codem é o responsável pelo discurso técnico. Ambos são componentes únicos
de uma ação discursiva de poder e dominação aliada a uma ação política/estratégica que utilizará
outros agentes para servirem como meios para o empresariado alcançar os seus objetivos.
Desse modo, enumeramos a atuação empresarial na seguinte ordem: 1) técnica, 2) tática e 3)
estratégica. A parte técnica, no nosso caso, está bem clara na atuação do Codem. A parte tática se
refere à forma de abordagem, a forma como os temas das agendas foram construídos e amarrados
entre si, principalmente para que o cumprimento de um item force a execução de outros. A parte
estratégica está relacionada com a ação coletiva em si. Quem fala pelo empresariado?
Estrategicamente quem negocia? Por isso, os empresários vão elaborar e publicar os documentos
que apresentam e justificam as suas reivindicações e irão fazer uma divulgação pública da posição
assumida pelo Executivo diante das demandas empresariais. No quadro abaixo, essas três ordens
estão bem definidas, evidenciando a atuação empresarial tanto na elaboração técnica quanto na
tática e estratégia das propostas.
Quadro 1
Propostas para o desenvolvimento econômico local e regional
Objetivo Diretrizes Estratégias
Tornar-se uma cidade
economicamente
desenvolvida, com elevados
níveis de emprego e riqueza e
com renda mais
eqüitativamente distribuída,
com modelo econômico que
garanta forte crescimento,
ambiental e tecnologicamente
sustentável e que tenha como
fim último o
desenvolvimento social,
consolidando-a como centro
de excelência em educação,
em saúde, em infra-estrutura
logística e em
desenvolvimento tecnológico,
exportadora de tecnologia
para o mundo e reconhecida
como centro de comércio
internacional.
INFRA-ESTRUTURA:
1. Ter infra-estrutura, de logística, de
comunicação, de energia, de
transporte urbano, interurbano em
vários modais, de captação e
fornecimento de água, de captação,
tratamento e destinação de resíduos,
de galerias fluviais, entre outras,
consolidadas como instrumento para
garantir o desenvolvimento
econômico sustentável, servindo de
suporto e de incentivo ao
surgimento e à consolidação de
setores de atividade de elevada
agregação de valor e à atração de
novas atividades, dando-se especial
atenção aos parques tecnológicos,
aos parques industriais e à outras
áreas especiais de promoção do
desenvolvimento;
2. A infra-estrutura logística deve
visar, inclusive, à promoção
cultural, turística e educacional, ao
desenvolvimento do setor de saúde
e à elevação do nível de vida
oferecido pela cidade;
INFRA-ESTRUTURA:
1. Criar uma plataforma logística
internacional, integrando o aeroporto
com os demais modais de transporte e
criando ambiente propício para
investimentos privados;
2. Consolidar os parques industriais com
atividades produtivas de alto valor
agregado, dotando-os para isto, de
toda a infra-estrutura necessária;
3. Consolidar o Tecnoparq. Todos os
esforços devem estar voltados para a
sua efetiva instalação e
funcionamento, e para sua inserção no
PAC;
4. Dotar o aeroporto da estrutura
necessária à sua operação
internacional;
5. Implantar o projeto do trem de
passageiros para o transporte de
massa, urbano e regional;
6. Dar visibilidade à região através de
um portal de informações e de
divulgação;
7. Ampliar a estrutura de turismo e de
cultura, tais como, centro de eventos,
espaços para congressos, feiras e
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TECNOLOGIA:
1. O desenvolvimento econômico
sustentável terá suporte em pólo de
P&D&I – Pesquisa e
Desenvolvimento e Inovação,
integrado com a indústria,
constituído por instituições de
ensino e pesquisa, por parques
tecnológicos, por áreas especial de
promoção do desenvolvimento e
instituições de serviços
tecnológicos, interagindo
proativamente com a indústria
regional consubstanciados na
Tecnópole Maringá
ambientalmente correta;
2. A excelência educacional e
tecnológica deve produzir
resultados efetivos para a
comunidade, notadamente
contribuindo para o
desenvolvimento social;
3. Tecnologia e educação devem estar
associadas, sendo a educação
integral e de qualidade e orientada
para a qualificação profissional;
4. O desenvolvimento tecnológico
deve garantir a sustentabilidade
ambiental e o desenvolvimento
social;
5. As instituições de ensino e pesquisa
devem priorizar os setores
econômicos estratégicos para o
desenvolvimento;
6. As instituições de saúde devem
buscar empregar tecnologia de
vanguarda, e traçar estratégias para
o seu desenvolvimento sustentável,
de modo a viabilizar o turismo em
saúde.
ATRATIVIDADE LOCACIONAL:
1. A qualidade de vida em seu sentido
mais amplo deve constituir-se num
dos principais instrumentos de
atração de investimentos;
2. A quantidade e a qualidade da infra-
estrutura devem constituir-se,
também, em elemento de
atratividade para a localização de
empreendimentos em Maringá;
3. O sistema de ensino, a capacidade
de formação profissional, os acervos
tecnológicos, a capacidade de
inovação e a disponibilidade de
espaços adequados, devem ser
suficientemente fortes, juntamente
com a qualidade de vida e a
exposições, espaços culturais, hotéis;
8. Proporcionar estrutura para receber
famílias de alto poder aquisitivo, tais
como de executivos de grandes
empresas internacionais, implantando
equipamentos tais como escola
internacional e escola para bem
dotados, oferecendo para isto,
incentivos e benefícios fiscais;
9. Dotar a cidade da infra-estrutura de
vanguarda em comunicação de voz,
dados e imagem, wi-max ou
tecnologia mais atual, back-bone de
fibra óptica para proporcionar banda
larga cobrindo toda a cidade, e
geração 3G para telefonia celular;
10. Criar e implantar uma Zona de
Processamento Especial –ZPE-
integrada ao Aeroporto Internacional.
TECNOLOGIA:
1. Desenvolver pólo de difusão da
ciência, da filosofia, das artes e da
teologia, objetivando realizar estudos
capazes de identificar o papel que
cabe à Cidade de Maringá para o
desenvolvimento do futuro da
humanidade;
2. Integrar as instituições de ciência e
tecnologia ao Tecnoparq e a outros
instrumentos de promoção de
desenvolvimento de Maringá;
3. Atrair investimentos para as áreas
industriais, priorizando os mais
intensivos de tecnologia e de elevada
agregação de valor, para o Tecnoparq
e para as outras áreas de promoção do
desenvolvimento, criando-se, para
tanto, a infra e a supra-estruturas
necessárias, bem como os
mecanismos de atratividade e de
localização de empreendimentos;
4. Criar um grande pólo de
biotecnologia e de nanotecnologia e
desenvolver os pólos de software,
TIC, energia, fármacos e agro-
alimentares, este, inclusive, de
pequeno e médio, portes;
5. Desenvolver know-how em educação,
turismo, transporte e gestão
empresarial para a exportação;
6. Criar APLs, nos setores portadores de
futuro para Maringá e organizar os
setor tradicionais, tais como, metal-
mecânico, confecções, químico e de
alimentos, para constituir APLs e
aportar tecnologias;
7. Viabilizar a criação de cursos de
formação tecnológica, por meio de
manutenção federal e/ou parcerias
14
disponibilidade de infra-estrutura,
para superar vantagens financeiras e
fiscais de outras localidades, e
orientar as decisões de localização
de empreendimentos para Maringá.
EMPREENDEDORISMO:
1. A formação científica e tecnológica
deve estar focada ao
empreendedorismo o qual deve
fazer parte de todos os níveis de
ensino.
DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
1. A sustentabilidade do crescimento
econômico de Maringá deve
impactar positivamente no
crescimento regional, gerando
novas demandas e tecnologias
voltadas ao crescimento econômico
e ao desenvolvimento social da
região, evitando, assim, o seu
isolamento;
2. Utilizar o Tecnoparq como
instrumento de fortalecimento da
integração da Região Metropolitana;
EMPREGO E RENDA:
1. Os altos níveis de emprego e de renda
objetivados devem ser obtidos por meio
da produção de produtos e serviços de
alto valor agregado e de base
tecnológica, de modo a dar
sustentabilidade ao modelo econômico,
voltado para o desenvolvimento social.
AGRICULTURA:
1. A agricultura deve ser
empresarialmente forte,
diversificada, internacionalmente
competitiva e econômica e
ecologicamente sustentável;
2. A atividade agro-alimentares deverá
buscar a certificação de seus
produtos, organizarem
associativamente suas empresas,
querem sejam pequenos ou grandes
produtores, e tendo seus valores
difundidos nos sistemas
educacionais. O produtor deverá
morar na propriedade, desfrutando
de qualidade de vida compatível
com a oferecida na Cidade;
3. A produção de alimentos deve ter
como desafio a sua orientação para
o mercado externo, incluindo o
mercado de frescos e orgânicos;
institucionais;
8. Estimular as empresas a utilizar e
aproveitar para o seu crescimento e
conquista de novos mercados, do
acervo tecnológico disponível em
Maringá e capacitá-las por meio das
IES para desenvolver elevada
capacidade de pesquisa e de inovação
tecnológica e de processos para o
desenvolvimento industrial e de
serviços;
9. Difundir os conhecimentos gerados
nas IES de utilidade imediata à
população;
10. Criação de Bureaux de serviços
tecnológicos nas várias áreas;
11. Desenvolver cultura florestal de
madeira, bambu e outras fibras e
tecnologia para seus aproveitamentos
nas indústrias moveleira, de
construção civil e de geração de
energia;
12. Priorizar a concessão de benefícios e
de incentivos fiscais ou financeiros a
empreendimentos ambientalmente
sustentáveis e intensivos de
tecnologia, premiando aqueles
considerados de melhor qualidade.
ATRATIVIDADE LOCACIONAL:
1. Criar ambiente propício para
investimentos privados, evidenciando,
preservando e fortalecendo a
qualidade de vida oferecida pela
Cidade, à qualidade e a quantidade de
infra-estrutura, a capacidade de
formação e de capacitação
profissional, de desenvolvimento de
ciência, tecnologia e inovação, e da
prestação de serviços tecnológicos e
de logística;
2. Ter política para atração de empresas,
compreendendo benefícios fiscais,
disponibilidade de áreas, infra-
estrutura, formação de grupos locais
de investidores e definição de áreas
estratégicas e prioritárias, entre
outras;
3. Fortalecer os processos de economia
solidária;
4. Conceder benefícios fiscais para o
Tecnoparq;
5. Evidenciar as facilidades de
localização de Maringá, divulgando-
as junto aos meios empresariais
nacionais e internacionais;
6. Fortalecer os aspectos que se
constituem em atrativos de
localização, por meio de sua
modernização e da ampliação da
15
4. As instituições de desenvolvimento
tecnológico deverão dar tratamento
preferencial para o setor agro-
alimentares no desenvolvimento de
tecnologias e inovações,
envolvendo todas as fases do
processo da produção ã distribuição;
5. As instituições de formação
profissional, além dos aspectos
técnicos de produção, deverão dar
atenção especial ã formação na
gestão, na organização associativa e
em logística e distribuição dos
produtos;
6. As propriedades rurais com vocação
para o turismo rural deverão ser
identificadas e seus proprietários
incentivados e capacitados para
empreenderem no setor.
INDÚSTRIA:
1. O crescimento industrial deve dar-
se por meio do aumento e do
fortalecimento da indústria
dinâmica suportada em PD&I –
Pesquisa, desenvolvimento e
inovação integrada com a indústria;
2. A indústria tradicional deve ser
incentivada e orientada à
incorporação de tecnologia e
inovação e de certificação de
qualidade, como meio de promoção
do seu crescimento do aumento da
capacidade competitiva e da
abertura de novos mercados;
3. O desenvolvimento da indústria de
alimentos deve consolidar Maringá
como pólo agro-alimentar de base
tecnológica;
4. A indústria de alta tecnologia,
notadamente as dos setores
portadores de futuro, deve ser
globalmente competitiva.
COMÉRCIO E SERVIÇOS:
1. A vocação de pólo prestador de
serviços deverá ser alcançada
mediante a busca da excelência em
comércio e em serviços de
educação, de saúde, de
comunicação, de tecnologia, de
transporte, de logística, de centro de
comércio internacional, de eventos,
de turismo, de lazer, de artes e de
gastronomia;
2. As instituições de saúde deverão
focar sua atuação, além da melhoria
contínua da qualificação dos
profissionais e dos serviços
capacidade.
EMPREENDENDORISMO:
1. Desenvolver a cultura empreendedora
junto aos estabelecimentos de ensino
e das entidades profissionais, para que
estas considerem o
empreendedorismo como integrante
da formação formal;
2. Oferecer empreendedorismo nos
cursos de graduação e nos ensinos
fundamental e médio;
3. Criar cursos técnicos de qualificação
profissional de qualidade que
incorporem em seus currículos a
formação empreendedora;
DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
1. Integrar a gestão metropolitana da
educação, da saúde, da segurança e da
geração de empregos para minimizar
os desequilíbrios sócio-econômicos;
2. Promover a industrialização da região
e estimular pequenas e micro
empresas se organizem em
associações, APLs, Clusters e/ou
cooperativas para o desenvolvimento
de cadeias produtivas;
3. Priorizar o desenvolvimento de
tecnologias e de inovação para os
produtos regionais, visando impactar
positivamente a geração de renda, a
criação de empregos e o
desenvolvimento sustentável da
região;
4. Estabelecer junto às autoridades
estaduais e federais, política de
desenvolvimento industrial para a
região de influência de Maringá, que
proporcione benefícios à população e
industrialize toda a Região;
5. Exercer participação efetiva visando
criação do pólo inter-regional
Maringá-Londrina, promovendo,
inclusive, se necessária, a
federalização das universidades
estaduais.
EMPREGO E RENDA:
1. Preparar as empresas para o mercado
global, proporcionando-lhes perfil
inovador, gestão estratégica e
informações eficientes;
2. Criar ambiente adequado ao
surgimento de vínculo associativo e
cooperativo para viabilizar
empreendimento e geração de
trabalho e renda;
16
prestados direcionados para um
atendimento humanizado, e do
aumento da produtividade e da
competitividade, na busca da
certificação e do reconhecimento
nacional e internacional e na
integração e na complementaridade
das áreas da saúde;
3. A estrutura logística para o turismo
em saúde deve contemplar a
estrutura física, a tecnologia e,
principalmente, o fator humano,
inclusive com a formação bilíngüe
para os profissionais com contato
com os pacientes;
3. Priorizar a atração de empresas de
base tecnológicas e/ou incorporadoras
de elevado valor agregado;
4. Criar mecanismos e benefícios fiscais
de incentivo ao surgimento de
empresas inovadoras, de base
tecnológica e de geração de alto valor
agregado;
5. Promover cursos de formação técnica
com subsídios, contanto, para isto,
inclusive com recursos do FAT e/ou
com parcerias institucionais;
6. Tornar obrigatório, em Maringá, o
ensino médio para todos os jovens na
idade escolar compatível que
concluem o ensino fundamental.
AGRICULTURA:
1. Criar mecanismo para a redução dos
riscos das atividades agrícolas;
2. Interceder de modo coordenado para
que as políticas de crédito
contemplem irrigação, a
profissionalização da atividade
agrícola, a introdução de tecnologias
e inovações, a produção, a
publicidade e o capital de giro;
3. Promover a organização dos
segmentos produtivos (associações e
cooperativas), apoiando-os na
produção, na transformação e na
comercialização e distribuição dos
seus produtos;
4. Promover a integração dos Sistemas
de Inspeção Sanitária e de
Certificação de Produtos agro-
alimentares frescos e orgânicos;
5. Dar prioridade para gastos da
promoção da agricultura, em
profissionalização e na agregação de
valor aos produtos, objetivando a
melhoria da qualidade e o aumento da
produtividade e da competitividade;
6. Preparar a agricultura
tecnologicamente para a utilização do
lixo orgânico como insumo para a
produção e destinação adequada dos
recicláveis e outros resíduos;
7. Articular os diversos órgãos e esferas
do governo para disponibilizar no
campo todos os instrumentos da TIC,
o fornecimento de energia, a captação
e tratamento de água, o recolhimento,
tratamento e destinação do esgoto, o
acesso aos sistemas de saúde e
educacional, e de vias de acesso, entre
outros aspectos de elevação no nível
de qualidade de vida;
8. Formalizar um programa, envolvendo
as instituições de formação
17
profissional e de desenvolvimento de
tecnologia e inovação, visando: a
capacitação dos produtos para receber
e incorporar tecnologias e inovações,
a gestão empresarial, a logística de
produtos agro-alimentares, a
distribuição e publicidade; a definição
da(s) vocação(ões) de produção de
cada propriedade e do produtor,
incluindo o mix de produção,
considerando, quando for o caso, a
atividade de turismo rural;
9. Promover a abertura de mercados
externos para produtos da agro-
pecuária regional.
INDÚSTRIA:
1. Identificar os vazios industriais,
promovendo o alongamento da cadeia
produtiva, privilegiando as atividades
de alto valor agregado e de uso
intensivo de tecnologia;
2. Atrair investimentos industriais,
criando e ampliando as áreas
destinadas à indústria, tais como
parques industriais, parques
tecnológicos, incubadoras
tecnológicas, áreas especiais de
promoção de desenvolvimento
econômico, disponibilizando a infra-
estrutura necessária para isto;
3. Implantar pólos industriais e APLs
nos setores portadores de futuro e
organizar e implantar APLs nos
setores tradicionais, fortalecendo
àqueles já instituídos e estabelecendo
ações estratégicas de nível
empresarial e governamental;
4. Fortalecer as indústrias de alimentos,
metalmecânico, bioenergia e moda,
por meio de PD&I, de atração de
investimentos, de organização setorial
e do estabelecimento de alianças
estratégicas;
5. Criar cursos de formação técnica e
superiores nas áreas de tecnologia de
alimentos, de metalmecânico, de TIC,
de bio e nanotecnologias, de
fármacos, de moda, de design, entre
outras estratégicas;
6. Ampliar as áreas para instalação de
incubadoras de empresas suportadas
em tecnológica e ampliar a
quantidade de empresas incubadas;
7. Promover a implantação de
programas de certificação de
qualidade nas empresas.
COMÉRCIO E SERVIÇOS:
18
1. Incentivar, mediante política de
implantação e de atração de
investimentos e de benefícios fiscais,
o aproveitamento dos vazios setoriais,
dando atenção especial aos
investimentos em turismo de eventos
e de saúde, em saúde, em serviços
tecnológicos, em logística nacional e
internacional, e em comércio
internacional;
2. Criar um pólo em medicina de alta
complexidade, incentivando,
inclusive, a criação de estrutura para
o turismo em saúde e induzindo as
operadoras de turismo à oferta de
pacotes e roteiros em turismo de
saúde;
3. Incentivar a promoção de eventos na
área de arquitetura, urbanismo,
gastronomia, cultura e de eventos
técnicos, científicos e comerciais;
4. Incentivar a caracterização e a
produção de artesanato local, ligado
ao segmento do turismo urbano e
rural;
5. Fortalecer as várias modalidades de
esporte em nível nacional, tais como:
futebol, vôlei, basquete, artes
marciais, ciclismo, natação;
6. Fortalecer os setores de educação, de
ciência e tecnologia, de saúde, de
comunicação, de serviços financeiros
e de transporte aéreo, rodoviário e
fluvial;
7. Incentivar os prestadores de serviços
a implantarem programas de
certificação de qualidade, de inovação
tecnológica e de melhoria da
produtividade e da competitividade.
Fonte: “O que Maringá espera do novo governo”, Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá - 2008
As políticas públicas, fruto das decisões do Executivo, podem ser separadas em três esferas,
de acordo com Lowi (1964: 681): distributivas, regulatórias e redistributivas. As políticas
distributivas atendem vários interesses simultaneamente e, geralmente, não há conflito. Já as
políticas regulatórias favorecem um segmento em detrimento de outro, e aí há grande conflito de
interesses. No caso apresentado no quadro acima temos uma agenda de políticas públicas propostas
pelos empresários, claramente redistributivas, onde os interesses empresariais são convergentes.
Smith (2000: 89) considera que as políticas redistributivas, são políticas “unificantes”, pois
despertam um grau elevado de interesse entre muitas empresas e a maioria significativa das
empresas interessadas compartilha a mesma posição. Neste caso, os interesses empresariais
usualmente são semelhantes. Entretanto, essas políticas geram uma relação conflituosa com outros
19
setores da cidade que discordam do modelo cidade-empresa. O diferencial é que, habitualmente, os
interesses empresariais estão do mesmo lado do conflito (MANCUSO, 2007: 141).
Conclusão
É inegável que a relação do empresariado com a propriedade e com o controle dos meios de
produção lhe dá um papel de agente econômico fundamental para o funcionamento da sociedade
capitalista. Por isso, a análise de seu comportamento político, principalmente em uma cidade de
médio porte como Maringá, colabora no sentido de se entender o funcionamento das sociedades
contemporâneas.
Neste artigo procuramos demonstrar que a ação política do empresariado se dá, em um
primeiro momento quando da elaboração dos objetivos, diretrizes e estratégias contidos na agenda
empresarial, brevemente apresentada. A definição dos temas e do seu conteúdo é ponto central da
articulação dos interesses empresariais para o desenvolvimento econômico local e,
consequentemente, para as suas próprias vantagens competitivas. Embora não tenhamos trabalhado
neste artigo com o período eleitoral (fazemos isso em nossa pesquisa de doutorado) o momento da
recepção dessa agenda pelos candidatos deve ser considerado, pois é óbvio que os empresários irão
se esforçar mais para convencer os candidatos que têm reais chances de chegar ao poder,
concretizando assim outra fase de sua atuação política. Finalmente o empresariado também atua
sistematicamente fazendo as cobranças para que o prefeito eleito implante as propostas
apresentadas. No caso atual do Codem, os três executivos que trabalham para o conselho são
nomeados pela prefeitura e recebem seus vencimentos vinculados à Secretaria de Desenvolvimento
Econômico do município, numa clara demonstração de que a atual administração já encampou as
propostas do empresariado.
Os dois últimos pontos que merecem reflexão se complementam. Um é a finalidade da
atuação política do empresariado e o outro são os resultados da sua atuação. Ela se articula em duas
vertentes: primeiro, mudar o statu quo para melhor, tanto quanto for possível; e segundo, impedir a
piora do statu quo, também tanto quanto for possível. Nesses casos, afirma Mancuso (2007: 143), o
empresariado poderá ter dois tipos de sucesso: ganho, no caso da melhora do seu statu quo; ou
alívio, na manutenção do mesmo. Seu insucesso também será na mesma proporção, gerando perda e
frustração. Ao verificarmos parte da agenda contida no quadro 1 percebemos o esforço para que o
statu quo da classe empresarial maringaense seja amplamente melhorado o que, na pior das
hipóteses, já estará garantindo a manutenção do mesmo.
20
Esperamos apresentar em outro artigo como foram contabilizados os sucessos ou qual foi o
grau de sucesso das políticas sugeridas pelo empresariado e assumidas pelo Executivo local e seus
impactos na forma de atuação empresarial, tanto para o grupo dominante representado pela Acim
quanto para o grupo técnico representado pelo Codem.
21
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