grandes cultura - cultivar 173

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Outubro de 2013

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Ataque feroz..............................14A luta contra Sphenophorus levis, a praga mais importante e agressiva atualmente em cultivos de cana-de-açúcar

Branco letal..............................06Como realizar o manejo do mofo branco, doença que tem registrado surtos epidêmicos, principalmente em lavouras de Mato Grosso

Oferta adequada.........................36O papel do nitrogênio fornecido na medida correta para o aumento da produtividade na cultura do milho

Destaques

Índice

Diretas 04

Mofo branco em algodoeiro 06

Demanda do feijoeiro por nutrientes 10

Manejo de Sphenophorus levis em cana 14

Pragas iniciais em soja 16

Nossa capa - Como controlar a ferrugem asiática 22

Combate a Helicoverpa armigera e outras lagartas 26

Tratamento de sementes em soja 30

Informe empresarial - Stoller 33

Empresas - Bayer CropScience anuncia investimentos 34

Oferta de nitrogênio em milho 36

Coluna ANPII 40

Coluna Agronegócios 41

Mercado Agrícola 42

Batalha ininterrupta............................22Conheça as estratégias de manejo e o desempenho de inseticidas diante de situações críticas de incidência da ferrugem asiática, doença que a cada safra desafia os produtores

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 173 • Outubro 2013 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

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Assinatura anual (11 edições*): R$ 187,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

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Nossa capa

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

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Gilvan Dutra Quevedo• Redação

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• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

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CIRCULAÇÃO• Coordenação

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Natália RodriguesFrancine MartinsClarissa Cardoso

• ExpediçãoEdson Krause

José Nunes Júnior - CTPA

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda.

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04 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Diretas

FocoA Milenia participou do 9º Congresso Brasileiro de Algodão. O gerente de Desenvolvimento de Produtos, Ernesto Benetti, desta-cou a importância da cultura para a empresa. “A complexidade do algodoeiro, principalmente no que diz respeito ao controle de pragas, doenças, plantas daninhas e nematoides, exige soluções simples e eficazes, e este é o nosso foco”, disse. A fitopatologista Jurema Schons acompanhou a equipe durante o evento.

ManualNo 9º Congresso Brasileiro de Algodão a FMC lançou o manual de identificação de doenças do algodoeiro, de autoria do consultor técnico Paulo Edimar Saran. O material foi criado para ajudar o agricultor a identificar e realizar o manejo correto das principais doenças que afetam a cultura.

Foco em pragasA Dupont esteve presente no 9º Congresso Brasileiro de Algodão, com informações aos produtores sobre o manejo das principais pragas que afetam a cultura. Durante o evento a empresa destacou um manual identificador de pragas para auxiliar os produtores na identificação e manejo dos insetos.

Novos rumosAdriano Carneiro Roland é o novo ge-rente de Portfólio Inseticidas da FMC. Com experiência de mais de 15 anos no mercado agrícola, Roland pretende uma aproximação ainda maior com os clientes. "Usando criatividade e conhe-cimento técnico, busco desenvolver soluções que estejam conectadas com a realidade do produtor de forma a proteger o seu investimento e ajudar a aumentar a sua produtividade."

ParticipaçãoA Deltapine lançou no 9º Congresso de Algodão a tecnologia Bollgard II RRFlex, tolerante à aplicação de herbicidas, o que permite maior flexibilidade no manejo de plantas daninhas. A supressão de insetos, como Helicoverpa spp, é outra característica da tecnologia.

Novidades A Syngenta lançou no 9º Congresso Brasileiro do Algodão dois defen-sivos voltados para a cultura. O inseticida Voliam Flexi e o fungicida Priori Top buscam auxiliar o cotonicultor brasileiro no combate a pragas e doenças. “Voliam Flexi apresenta alto desempenho no controle de insetos como bicudo-do-algodoeiro, pulgões e lagartas, principais cau-sadores dos problemas enfrentados pelos produtores. O fungicida Priori Top, por sua vez, reúne dois princípios ativos consagrados nas lavouras de algodão, sobretudo quando se trata do combate a doenças como a ramulária e a ramulose”, explica o gerente de Marketing de Algodão da Syngenta, Arnaldo Silveira.

TecnologiasDurante o 9º Congresso Brasileiro do Algodão, no segmento de sementes a Bayer destacou as tecnologias disponíveis no Brasil com as variedades FiberMax. “Para a Bayer CropScience é uma grande satisfação comemorar os dez anos de Brasil da linha FiberMax, durante o Congresso Brasileiro de Algodão. Esta importante tecnologia, reconhecida pela indústria têxtil pela qualidade da fibra gerada, foi desenvolvida por nossos pesquisadores aqui no Brasil, para a realidade de produção de algodão do País, atendendo suas necessidades. E temos muito orgulho de fazer parte da história da cultura do algodão brasileiro, sempre com inovações”, destacou o gerente de Produtos Sementes de Algodão da Bayer CropScience, Marcus Lawder. Na área de Proteção de Cultivos, a empresa focou em produtos para o manejo das lavouras, como o fungicida Fox e o inseticida Belt, recém-aprovado para manejo da Helicoverpa armigera.

PresençaO presidente da FMC, Antonio Carlos Zen, participou do 9º Con-gresso Brasileiro de Algodão. “Essa cultura tem grande importância para a companhia e o evento é uma ótima oportunidade para interagir com os produtores”, avaliou. A em-presa é responsável por promover anualmente o Clube da Fibra, fórum que reúne os maiores cotonicultores brasileiros.

Paulo Edimar Saran Adriano Carneiro Roland

Antonio Carlos Zen

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RegistroA Bio Controle anunciou o registro do Bio Helicoverpa, um feromônio para monitoramento da Helico-verpa armigera, praga identificada recentemente no Brasil e que tem produzido severos prejuízos a vários cultivos comerciais. O diretor da empresa, Ari Gitz, destacou ainda o lançamento, no Brasil, do Gemstar, um vírus benéfico produzido pela Certis (EUA), também voltado para o combate de Helicoverpa armigera.

PromoçãoBruno Lovato foi promovido à posição de Global Technical Manager Seed Care Inseticidas da Syngenta, com a responsabilidade de gerir globalmente o desenvolvimento de novos inseticidas para o tratamento de sementes. Com a nova função, Lovato ficará sediado na Basiléia, Suíça, e se reportará ao Global Product Biology Seed Care, Dieter Hofer. No Brasil Lovato era gerente de Pesquisa, responsável pela área de Labo-ratórios e Serviços de Fitossanidade.

Cultivares A TMG lançou no 9º Congresso Brasileiro do Algodão cinco novas cultivares transgênicas de algodão com tecnologia WideStrike. A equipe mostrou aos visitantes a lista de cultivares desenvolvidas pela empresa e adaptadas ao Cerrado e ao Sul do Brasil, além de explicar sobre as principais características de cada uma delas.

DestaquesA Basf apresentou no Congresso de Algodão o inseticida Pirate, que promove o controle de pragas como Helicoverpa sp., Heliothis virescens, lagarta-do-cartucho e ácaro rajado; o inseticida Nomolt 150, recomendado para o manejo integrado do curuquerê, e o inseticida Fastac 100 SC para o controle do bicudo, uma das principais pragas da cultura. Em fungicidas, a empresa demonstrou o Opera Ultra, para controle da ramulária e outras importantes doenças. O fungicida e inseticida Standak Top para algodão foi uma das novidades da empresa no Congresso, além do herbicida Heat.

NutriçãoA Stoller apresentou no Congresso de Algodão os produtos Hold e Mover. De acordo com o gerente de Negócios, Paulo Augusto de Souza Ribeiro, Hold é uma solução nutricional que aumenta a produtividade das plantas através da redução da produção de etileno e diminuição dos estresses, possibilitando o maior pegamento de estruturas reprodutivas. O produto tem em sua composição nutrientes específicos que contri-buem para maior tolerância às doenças e favorecem o fornecimento de nitrogênio. Já o Mover é outra solução nutricional, que melhora a eficiência das plantas durante a fase de enchimento de frutos.

Evento importanteA equipe da UPL participou do 9º Congresso Brasileiro do Algodão. O diretor de Marketing e Desenvolvimento, Vicente Gôngora, lem-brou que a cultura é muito significativa para a companhia. “Este é um importante evento direcionado à cadeia produtiva do algodão e reconhecido por discutir as perspectivas do segmento com os espe-cialistas e maiores cotonicultores do Brasil”, avaliou Gôngora.

ManejarA Ihara apresentou no Congresso Brasileiro do Algodão a tecnologia Gemstar, destinada ao manejo de lagartas. Também expôs o inseticida biológico Agree, para controle de lagartas; Cartap-Isca, tecnologia para controle de adultos de lepidópteras, e o Danimen/Safety, destinado ao controle químico. “O evento é uma grande oportunidade para que a Ihara possa apresentar toda sua expertise no combate de pragas à cadeia produtiva da cultura do algodão, sempre focando em produti-vidade com qualidade e lucratividade dos cotonicultores”, comentou o consultor em Desenvolvimento de Mercado, Edson Miranda.

LançamentoA Syngenta reuniu aproximadamente 100 pessoas entre produtores de algo-dão e pesquisadores participantes 9º Congresso Brasileiro do Algodão para o lançamento dos defensivos Voliam Flexi e Priori Top. A apresentação dos novos produtos ficou por conta do gerente da linha de Inseticidas da Syngenta para o Brasil, Aimar Pedrini.

Ari Gitz (direita)

Bruno Lovato

www.revistacultivar.com.br • Outubro 2013 05

Aimar Pedrini

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Algodão

06 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

mais ameno como nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, quando ocorrem baixas temperaturas noturnas principalmente em áreas de cultivo de girassol e de feijão, cujos resíduos mantêm o inóculo no solo em alta concentração.

Sclerotinia sclerotiorum é um fungo habitante do solo, necrotrófico, que pode sobreviver em condições adversas por longos períodos na forma de escleródios (massas escuras, compactas e disformes, de tama-nho variado, semelhantes a excrementos de ratos). Os escleródios podem sobreviver por muitos anos no solo e são altamente resistentes a substâncias químicas, calor seco até 600ºC e congelamento.

O patógeno caracteriza-se por atacar toda a parte aérea das plantas inoculadas a partir do florescimento, causando lesões inicialmente pequenas e aquosas, que ra-pidamente tomam todo o tecido ou órgão

lesionado. Com o desenvolvimento da doen-ça, as partes afetadas apresentam coloração amarelada e depois marrom, produzindo uma podridão mole nos tecidos, seguida de morte dos ramos. Sob condições de umidade, ocorre a formação abundante de micélio branco do fungo que irá formar o escleródio nesses locais, inicialmente branco e posteriormente negro quando maduro.

As maçãs afetadas contêm escleródios externamente e internamente e de forma abundante. Escleródios encontrados no interior das maçãs desenvolvem apotécios em, aproximadamente, 60 dias. Ao contrário dos escleródios formados no feijoeiro e na soja, os escleródios formados em algodoeiro são maiores e, a partir destes, germinam muitos apotécios.

Geralmente, ocorre a concentração dos sintomas na forma de reboleiras típicas e quan-do as condições climáticas são desfavoráveis ao patógeno, verifica-se um sintoma na folha muito semelhante ao da mela, com aspecto queimado por água quente, ocasionando le-sões necróticas parciais ou totais, muitas vezes sem a formação de micélio e de escleródios.

O patógeno forma escleródios pretos irregulares, que podem germinar e produzir micélio (germinação miceliogênica, altamen-te dependente da umidade) ou apotécios (germinação carpogênica, dependente de temperaturas moderadas). O fungo coloniza órgãos da planta por meio de ascósporos e micélio. Temperaturas amenas e umidade por mais de uma semana são condições favoráveis para o patógeno produzir apotécios, que irão esporular por cinco a dez dias. Os ascósporos são ejetados a alguns centímetros de altura e a maioria fica aderida à parte aérea das plantas, mas alguns podem ser levados pelo vento a vários metros de distância.

Os ascósporos originados dos apotécios são ejetados, sob condições ambientais favoráveis como abundância de luz e tem-peraturas entre 10ºC e 25ºC e disseminados pelo vento. Se estas condições não forem satisfeitas só haverá a germinação micelio-gênica, sendo este tipo de inóculo menos importante epidemiologicamente. A libe-ração dos ascósporos e a infecção da planta são estimuladas com o fechamento do dossel da cultura afetado pelo menor espaçamento entre linhas. Temperaturas amenas em tor-no de 20ºC e alta umidade relativa do ar são favoráveis ao desenvolvimento da doença. A disseminação pode também ocorrer através de sementes contaminadas com micélios dormentes ou quando há escleródios mistu-rados às sementes. Em lavouras de algodão do Mato Grosso cultivadas em áreas conta-minadas com escleródios de S. sclerotiorum, tem sido observada nesta safra a formação de escleródios sob pétalas das flores das

Branco letal

O mofo branco ou podridão branca da haste, causado por Sclerotinia sclerotiorum (Lib) de

Bary, ocorre em grande número de países, principalmente em regiões de clima tempe-rado a subtropical. No Brasil, encontra-se disseminado pelos estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Dis-trito Federal, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. É bastante destrutivo e pode ser um problema sério em áreas com histórico da doença na safra irrigada de inverno ou de cultivo intensivo de feijão. O patógeno é cosmopolita e ataca mais de 403 espécies hospedeiras, inclusive o algodoeiro.

O mofo branco é uma doença de im-portância mundial. As estimativas de danos giram em torno de 10% a 20%, já tendo sido registradas perdas superiores a 50% em casos severos. No Brasil, esta doença assu-me maior importância em regiões de clima

Mofo branco é uma doença agressiva em algodoeiro, com perdas de produtividade superiores a 50% em condições

severas de ataque. Surtos epidêmicos de Sclerotinia sclerotiorum têm sido registrados principalmente em lavouras de Mato Grosso. Altamente nefasto em populações elevadas o fungo demanda medidas preventivas, como tratamento de

sementes com fungicidas, sucessão/rotação com culturas não hospedeiras, além do emprego de diferentes princípios ativos

nas aplicações de controle químico

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que devem ser adotadas.

Como manejarRecomenda-se evitar a introdução do

fungo na área isenta utilizando-se sementes livres do patógeno. Todas as sementes cul-tivadas no talhão (soja, crotalária, girassol, feijão e algodão) devem seguir esta regra. O trânsito de sementes contaminadas ou infectadas (interna ou externamente) pelo patógeno é um aspecto fundamental na dis-seminação e no aumento do inóculo inicial de S. sclerotiorum em áreas indenes ou com baixa ocorrência da doença. O tratamento de sementes com a mistura comercial dos fungicidas tiofanato metílico e fluazinam, específicos para o controle de S. sclerotiorum, tem dado resultados expressivos.

Em áreas de ocorrência da doença, deve-se planejar a sucessão/rotação do algodão com espécies não hospedeiras dentro das monocotiledôneas. A manutenção de lavou-ras mais arejadas (plantas de menor porte) permite melhor circulação de ar, menor período de molhamento e maior eficiência do uso de fungicidas.

Áreas infectadas devem ser isoladas nas operações que envolvam movimentação de máquinas, reduzindo assim a disseminação do patógeno para áreas isentas.

O uso de fungicidas tradicionais e de novas moléculas ainda em estudo tem sido eficiente na redução da severidade de S. sclerotiorum para a cultura do algodão. Resul-tados de pesquisa apontam para o manejo do mofo branco em algodão com o uso interca-lado de diferentes princípios ativos.

As pulverizações preventivas com o ob-jetivo de proteger a planta do inóculo inicial de S. sclerotiorum devem se confirmar como melhor opção de controle nos estudos que estão sendo conduzidos.

Os princípios ativos tiofanato metílico, carbendazim eprocimidone (fungicidas sistêmicos), iprodione, mancozeb (em ava-liação a partir da safra 2013) e fluazinam (fungicida de contato) têm apresentado resultados satisfatórios a nível experimental no controle de mofo branco em algodão.

Por tratar-se de um processo patogênico relativamente recente, ainda estão em ava-liação os programas de aplicação químicos e biológicos. Estes programas contemplam a avaliação de doses de princípios ativos, épocas, número e posicionamento de aplicação.

A utilização de diferentes princípios ativos no controle da doença assume papel relevante no manejo integrado de S. sclero-tiorum com o objetivo de evitar ou reduzir a possibilidade de desenvolvimento de popu-lações menos sensíveis a fungicidas.

Considerando-se a ocorrência do mofo branco em algodão como uma situação nova na maioria das regiões de cultivo no Mato Grosso, torna-se fundamental uma farta divulgação de informações abordando as formas de redução da disseminação da doença, sua diagnose segura a campo e as medidas de manejo integrado disponíveis e aplicáveis às lavouras do Estado.

primeiras posições nos ramos inferiores das plantas e apodrecimento de maçãs, sem a formação inicial de micélio cotonoso. Esta condição é típica da ocorrência de baixas temperaturas noturnas, porém, com pouca umidade disponível para a germinação miceliogênica.

A infecção ocorre geralmente na junção do ramo com o pecíolo, onde ficam aderidas pétalas ou folhas caídas, caracterizando o início da infecção com o fechamento da cultura e do florescimento, quando pétalas de flores senescentes são primeiramente co-lonizadas pelos ascósporos e posteriormente penetram em outros órgãos.

A abundante produção de escleródios sobre e internamente ao tecido infectado retorna ao solo, contamina implementos e mistura-se à fração de impurezas dos lotes de sementes durante a colheita, aumentan-do o potencial de inóculo.

Até o ano de 2009, o mofo branco era conhecido como doença de ocorrência extremamente rara no estado de Mato Grosso, sendo encontrados focos isolados em regiões mais altas e em anos de tempe-ratura amena na serra da Petrovina, Campo Novo do Parecis e Primavera do Leste. A partir daquela safra, com a introdução de sementes de soja e crotalária contaminadas e/ou infectadas por S. sclerotiorum, a do-ença assume papel epidêmico e altamente limitante para as culturas da soja e algodão. Enquanto no ano de 2009 foram estimados 300 mil hectares contaminados no Estado, as previsões para a safra de 2012/2013 foram de mais de um milhão de hectares contaminados.

Considerando que a ocorrência de surtos epidêmicos de mofo branco em al-godão em regiões altas do cerrado do Mato Grosso é aspecto relativamente novo para produtores e técnicos, torna-se fundamental concentrar esforços na conscientização do segmento produtivo desse estado para o perigo do estabelecimento de altas popula-ções de S. sclerotiorum nas áreas de cultivo do algodoeiro e para as medidas preventivas

CC

Maçãs de algodoeiro severamente atingidas pela incidência do mofo branco

Andréia Quixabeira Machado, Indea/MTDaniel Cassetari Neto, UFMT

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10 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

A adubação mineral adequada e equilibrada dos nutrientes para o feijoeiro serve para aumentar

a produtividade e também para melhorar o valor nutricional do feijão (Teixeira, 2000). O feijoeiro é uma planta exigente em nutrientes, em função do pequeno e pouco profundo sistema radicular e de ciclo curto. Por isso, é fundamental que o nutriente seja colocado à disposição da planta em tempo e local ade-quados (Rosolem, 1994). Os macronutrientes primários fósforo, nitrogênio e potássio, geral-mente são empregados em maior proporção nas adubações e os macronutrientes secundá-rios, enxofre, cálcio e magnésio, normalmente ocorrem nas plantas em quantidades menores. Já os micronutrientes são necessários em quantidades muito pequenas e são eles: ferro, zinco, cobre, manganês, boro, molibdênio e cloro e no caso do feijoeiro, o cobalto também é necessário (Perin, 2006).

A hidroponia é uma técnica que consiste em cultivar plantas com raízes submersas em uma solução balanceada de nutrientes minerais (Maestri et al, 2000).

O cultivo hidropônico inclui todos os tipos de cultivo sem solo, onde as plantas crescem fixadas em substrato ou são colocadas em ca-nais de cultivo, por onde circula uma solução nutritiva em meio aquoso, com os nutrientes necessários ao desenvolvimento da planta e de acordo com a necessidade de cada espécie vegetal. Vários vegetais podem ser cultivados por essa técnica: verduras folhosas, legumes,

Deficiência mapeadaFeijão

Exigentes na demanda por nutrientes, as plantas de feijoeiro exibem diferentes sintomas quando ocorre a falta de nitrogênio, boro, enxofre, fósforo, potássio, cálcio, ferro e magnésio

ervas aromáticas, ervas medicinais, plantas ornamentais e gramíneas. (Perin, 2006).

A cultura cultivada por sistema hidropô-nico tende a resultar em um produto de maior qualidade, tendo em vista que este cultivo é feito em estufas, o que traz mais limpeza e proteção contra animais e insetos, consequen-temente livrando as plantas de doenças que estes e outros parasitas, provenientes do solo, poderiam causar à planta.

experimentoEm virtude da importância do balanço de

macro e micronutrientes em vários aspectos relacionados ao crescimento e desenvolvimen-to das plantas, foi implantado um sistema hidropônico para cultivo de feijão de corda (Vigna unguiculata).

Neste sistema foi utilizada a solução nutritiva completa de Hoagland e Arnon (1950), bem como mais oito vasos, cada um com soluções desprovidas de um dos seguintes nutrientes: nitrogênio, fósforo, potássio, mag-nésio, enxofre, cálcio, boro e ferro.

Após quatro dias da semeadura, as plân-tulas foram transferidas para vasos contendo a solução nutritiva completa e oito soluções incompletas. Ao longo de duas semanas, avaliaram-se os efeitos da ausência de cada nutriente, usando como base uma tabela de sintomas. Ao final de duas semanas, além da análise qualitativa, foi feita a determinação de massa seca e fresca da parte aérea e das raízes das plantas submetidas aos diferentes

tratamentos.

Deficiência De nitrogênioAs plantas com deficiência de nitrogênio

apresentaram clorose nas folhas mais velhas e queda. Comparando com as plantas sem de-ficiência, foram menores, com menos folhas, mais amareladas, com raízes menores e pesos muito inferiores de massa fresca do caule, foliar e radicular.

A deficiência de nitrogênio nas folhas do feijoeiro se caracteriza com uma clorose homogênea nas folhas mais velhas, devido ao nitrogênio ser um elemento móvel, amarelo esverdeado a amarelo esbranqui-çado com a intensificação dos sintomas. As folhas novas podem exibir uma clorose esverdeada. Também ocorre a redução do crescimento do caule que, com a acentua-ção dos sintomas, toma coloração idêntica às folhas mais velhas. O número de folhas e a área foliar mostram-se reduzidos, sendo que as folhas caem prematuramente (Dan-tas et al, 1980).

Deficiência De boroAs folhas mais novas restaram verde-

escuras e os folíolos retorcidos. Quanto aos demais sintomas, seria necessário mais tempo de trabalho para melhor visualiza-ção. Em relação ao tratamento controle todas as variáveis analisadas foram abaixo, com valores aproximados, porém, a massa radicular foi muito inferior. Isto pode ser

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o início da deficiência atacando as raízes. Geralmente a deficiência de boro afeta seriamente o crescimento das raízes em plantas de feijão.

Esta deficiência reduz o crescimento da planta. As folhas ficam com coloração verde-escura e deformadas. Em caso de deficiência severa o broto terminal morre (Fageria et al, 1996).

Deficiência De enxofreO tratamento com deficiência de en-

xofre não teve sintomas visuais aparentes, sendo visualmente parecidos com as plantas que receberam todos os nutrientes, porém, quando comparado o comprimento da raiz, massa fresca foliar, massa fresca do caule e massa radicular, os valores obtidos foram um pouco inferiores ao tratamento controle. Já o comprimento do caule foi um pouco superior, entretanto, comparando esses cinco fatores conclui-se que foi o tratamento que mais se assemelhou aos resultados das plantas sem deficiência.

Devido à baixa mobilidade do enxofre na planta, folíolos mais novos apresentam clorose generalizada. (Fageria et al, 1996).

Deficiência De fósforoAs folhas mais jovens apresentaram colo-

ração mais escura e tom verde-escuro maior

que o normal. Já as folhas velhas resultaram com coloração verde mais claro com cloroses internervais. O comprimento do caule e das raízes, comparado ao controle, foi um pouco maior, porém, a massa fresca foliar, a massa fresca do caule e a massa radicular registraram números bem menores.

Os folíolos novos registraram coloração verde-azulada, sem brilho e folíolos mais velhos com coloração verde mais clara. Os fo-líolos das folhas mais velhas podem apresentar áreas internervais cloróticas, com pequenas pontuações escuras. Caules mais curtos e finos que o normal, menor desenvolvimento da planta também são observados. Os sintomas se desenvolvem de baixo para cima da planta. (Rosolem, 1994).

Deficiência De potássioOs sintomas apresentados nas folhas mais

velhas foram de clorose, sendo amareladas, com concentração maior nas nervuras das folhas, que também mostraram uma textura coreácea. Em relação ao controle, todas as variáveis analisadas foram inferiores, sendo que a massa fresca do caule foi a variável em que se observou a maior diferença.

As folhas mais velhas inicialmente apre-sentam manchas necróticas castanho-escuro a partir do ápice para a parte central do folíolo, terminando por atingi-lo irregularmente e

entre as nervuras, exibindo o restante do limbo foliar uma clorose também irregular. O caule registrou redução de crescimento. Houve di-minuição do número de folhas e da área foliar, com florescimento seguido de queda das flores (Dantas et al, 1980).

Deficiência De cálcioEsta foi a deficiência que se mostrou

mais severa para os primeiros estágios das plântulas. Caracterizou-se pela necrose dos meristemas apicais e radiculares das plântulas, que só desenvolveram dois folíolos e estes não vingaram apresentando também manchas acinzentadas, sendo que sua radícula foi pouco desenvolvida.

Caule, pecíolos e brotos das plantas com deficiência de cálcio exibem murchamento, as vagens ficam deformadas. A planta para de emitir novas brotações. As folhas inferiores apresentam pequenas manchas acinzentadas, que posteriormente são afetadas pela clorose parcial intensa, que se inicia na base do folíolo e progride entre as nervuras, resultando em formas de contorno irregular na porção do limbo, que se mantém verde, havendo queda dos folíolos. (Rosolem, 1994).

Deficiência De ferroAs folhas mais velhas emergiram

normalmente, porém, o ápice da planta

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começou a ter uma clorose e consequen-temente murchamento. As folhas mais novas também apresentaram esta clorose e murchamento. O comprimento do caule das plantas com deficiência de ferro não diferiram das plantas normais, porém, os demais fatores foram inferiores, principal-mente a massa radicular.

Sintomas de deficiência de ferro ocor-rem nas folhas mais jovens e terminais, que desenvolvem clorose internerval e, mais tarde, manchas necróticas. Em caso de deficiência severa a planta morre ou apenas cessa de crescer (Fageria et al, 1996).

Deficiência De magnésioApareceram folhas com clorose inicial,

CC

plantas com deficiências de magnésio

plantas com deficiências de nitrogênio

plantas com deficiências de potássio

plantas com deficiências de cálcio

folhas beirando verde e amarelo, nas folhas velhas e nas folhas mais novas verde-claras, as folhas também apresentaram aspectos de murchamento, apesar desta coloração as nervuras estavam esverdeadas. O compri-mento do caule foi parecido com as plantas normais, o comprimento da raiz foi maior e os demais fatores foram muito inferiores.

As plantas com deficiência de magnésio apresentam folhas mais velhas com clorose internerval, bordos do limbo recurvados para baixo. Folhas mais novas com coloração verde-clara e de brilho oleoso. Com a intensificação dos sintomas os folíolos das folhas mais velhas caem, persistindo o pecíolo por mais tempo. Caule com redução de crescimento, a área das folhas mais novas mostra-se reduzida, como

também o número de folhas. Plantas alcançam o florescimento, porém há queda dos botões (Dantas et al, 1980).

A deficiência de cálcio mostrou-se como a mais severa nos primeiros estágios das plântulas.

O enxofre não apresentou diagnose visual possivelmente por pouco tempo de ensaio, porém, dentre os fatores avaliados percebe-se, mesmo que ligeiramente, esta deficiência.

A diagnose foliar é uma das melhores formas de se observar se as plantas estão sofrendo com alguma deficiência. Porém, as plantas só “demonstram” esta característica quando a situação está de grave a crítica, sendo que muitas vezes esta deficiência não poderá ser sanada, só será estabilizada. Como consequência esta planta nunca irá produzir o que poderia caso o problema fosse resolvido a tempo. Por isso, faz-se necessária a adubação periódica e na dosagem correta para evitar problemas na produção final e de nutrientes “inibirem” os outros.

Deivielison Ximenes S. Macedo, Viviane Castro dos Santos,Daniel Albiero,Juliana Matos Vieira eEmanuel Dias Freitas, UFC

O feijão é uma das culturas mais importantes para o povo brasi-

leiro, tendo importância econômica e so-cial. De acordo com os valores divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na safra 2011, o feijão representou o terceiro granífero em área plantada, ficando atrás apenas da soja e

ImpOrtâNCIA dO feIjOeIrO do milho e o quarto em produção, atrás de soja, milho e arroz. A cultura faz parte da base alimentar do brasileiro, muito bem aceita devido às suas características proteicas e energéticas. Esta leguminosa é responsável pelo suprimento de grande parte das necessidades alimentares da população.

plantas com deficiências de boro

plantas com deficiências de enxofre

plantas com deficiências de ferro

plantas com deficiências de fósforo

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Cana-de-açúcar

14 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Em várias regiões dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, os relatos de canaviais severamente

danificados e até mesmo dizimados pelo besouro Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Co-leoptera; Curculionidae) têm sido frequentes (Dinardo-Miranda 2000). Os danos são cau-sados pelas larvas que broqueiam os rizomas e, algumas vezes, os primeiros entrenós basais. Em consequência das galerias abertas na base dos colmos, ocorre amarelecimento de folhas, seca e morte de perfilhos, que podem ser facil-mente destacados da touceira. Sob infestações severas, as touceiras morrem e são observadas muitas falhas na rebrota, reduzindo drasti-camente a produtividade e a longevidade do canavial (Dinardo-Miranda 2000).

Além de registros de novas áreas infesta-das, ocorreram incrementos nas populações da praga, em decorrência da colheita de cana crua. Os adultos desta praga são muito longevos e vivem perambulando pelo solo, onde se protegem sob restos de cultura e de plantas daninhas. Com a adoção do sistema de colheita de cana crua em larga escala, suas po-pulações aumentaram drástica e rapidamente, porque, quando se colhia cana queimada, muitos adultos da praga morriam por causa do fogo. Com a colheita de cana crua, além de não haver morte de adultos pelo fogo, a palha em campo lhes serve de abrigo.

O efeito da colheita de cana crua sobre as populações de S. levis foi objeto de estudo do IAC. Em trabalhos relatados por Dinardo-Miranda (2009), dois tratamentos foram aplicados em uma soqueira infestada: colheita manual de cana queimada e colheita mecani-zada de cana crua, sendo que, após a colheita de cana crua, a palha remanescente perma-neceu em campo. Na amostragem feita antes da colheita, quando os tratamentos ainda não tinham sido aplicados, foram encontradas as mesmas populações de insetos e de rizomas danificados, nas áreas que seriam destinadas à colheita manual de cana queimada (3,2

insetos/m e 30% de rizomas danificados) e à colheita mecanizada de cana crua (3,4 insetos/m e 32% de rizomas danificados), revelando que, inicialmente, não havia dife-renças entre as áreas. Isso era esperado, afinal elas tinham recebido o mesmo tratamento até então. Entretanto, nas amostragens feitas aos dois e quatro meses depois da colheita, as populações na área de cana crua foram 2,6 insetos/m e 4,8 insetos/m, respectivamente, enquanto na área de cana queimada, 1,4 inseto/m e 1,2 inseto/m. Da mesma forma, as porcentagens de rizomas danificados foram de 21% e 24%, aos dois e quatro meses, na área de cana crua e 12% e 17%, na área de cana queimada. Esses dados, ilustrados no Gráfico 1, mostram claramente que a colheita de cana crua favorece as populações de S. levis e, desta forma, contribui para o aumento dos danos provocados pela praga e para a redução da produtividade.

Além da colheita de cana crua, que favo-rece o crescimento populacional de S. levis, as dificuldades no controle também fazem com que o inseto seja, atualmente, a praga mais preocupante em cana.

Para reduzir os prejuízos causados por S. levis, várias medidas de controle precisam ser empregadas na área, uma vez que nenhuma delas é altamente eficiente.

A adoção de medidas de controle co-meça com o preparo da área para plantio. É imprescindível que a destruição da soqueira infestada seja feita mecanicamente, por meio

de gradagens, aração ou pelo uso de outros equipamentos mecânicos de destruição de so-queira, pois a destruição mecânica da soqueira velha contribui para reduzir as populações de S. levis e também de outras pragas de solo, devido aos danos mecânicos e/ou exposição ao sol e aos predadores de larvas e pupas da praga, presentes no interior dos rizomas. A eficiência desta medida é geralmente maior quando feita no período seco do ano, pois nesta época grande parte da população da praga está na fase larval.

controle químico A destruição mecânica da soqueira infesta-

da é uma ferramenta importante para reduzir as populações da praga na área, mas, muitas vezes, só essa ferramenta não resolve o proble-ma; é necessário aplicar inseticidas no plantio. A eficiência de inseticidas aplicados somente no plantio e os efeitos sobre a produtividade das duas primeiras colheitas foram avaliados em um conjunto de três experimentos, apre-sentados por Dinardo-Miranda e Fracasso et al (2010). Estes ensaios foram conduzidos entre 2005 e 2007 e revelaram que os tratamentos com thiamethoxan, imidacloprid e fipronil foram os mais promissores, contribuindo para incrementos significativos de produtividade em relação à testemunha que, na soma dos dois primeiros cortes, chegaram a 69,0t/ha (25%). O Gráfico 2 ilustra a produtividade dos tratamentos nos dois primeiros cortes da cultura.

Em outro conjunto de cinco experimen-tos, conduzidos entre 2004 e 2007, nos quais os inseticidas foram aplicados somente no sulco de plantio, os autores Fracasso et al (2011) verificaram que os tratamentos com thiamethoxan, imidacloprid e fipronil con-tribuíram para incrementos significativos de produtividade em relação à testemunha. Na soma dos três primeiros cortes, tais tratamen-tos produziram de 26,3t/ha a 45,5t/ha (7% a 11%) a mais que a testemunha. O Gráfico 3 ilustra a produtividade dos tratamentos nos três primeiros cortes da cultura.

Em soqueira, as melhores respostas ao controle têm sido encontradas com a aplica-ção de inseticidas cortando a linha de cana, principalmente em canaviais colhidos no começo e meio de safra (até outubro) e com a operação feita logo após o corte. Aplicações ao lado da linha se mostram menos efetivas. As aplicações em drench, sobre a linha de cana, também podem ser utilizadas, mas também são menos efetivas do que as aplicações cor-tando a soqueira, pelo menos para canaviais colhidos em começo e meio de safra. Isso pode ser visto no Gráfico 4, que representa a produ-tividade em ensaio conduzido pelo IAC, nos quais diversos inseticidas foram aplicados na soqueira infestada, logo após o corte, efetuado

Ataque ferozO ataque do besouro Sphenophorus levis tem poder para dizimar ou diminuir a longevidade dos canaviais. Com status de praga mais importante nas áreas de cultivo de cana-de-açúcar no Brasil, sua incidência tem sido agravada pelo sistema de

colheita da cana crua, onde não há mais supressão de adultos pelo fogo e a palhada serve de abrigo para o inseto. A aplicação de inseticidas, aliada a outras medidas de controle, é uma das

principais estratégias para efetuar o manejo

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Entrenós basais do colmo danificados pelas larvas de S. levis

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não devem ser utilizados como tal, sob o risco de levar a praga para áreas isentas dela. Assim, o uso de mudas sadias, livres da praga, também é uma importante ferramenta para impedir a dispersão do inseto para novas áreas.

Agentes de controle biológico ainda não estão disponíveis para uso comercial, sendo alvos somente de pesquisas.

podem ser utilizadas. Armadilhas tóxicas, feitas com toletes de cana, rachados longi-tudinalmente e embebidos em uma solução de inseticida (Precetti et al, 1983), podem ser utilizadas para monitorar a presença de adultos em viveiros. Apesar do alto custo dessa medida, que exige mão de obra para preparo, distribui-ção em campo e posterior revisão, as iscas são atrativas aos adultos e podem revelar a even-tual presença da praga em áreas de viveiros. Viveiros infestados por S. levis, obviamente,

em julho, tanto por meio de corte na linha de cana quanto em drench.

Da mesma forma que observado em cana planta, também em soqueira os produtos mais eficientes foram aqueles à base de imidaclo-prid, thiamethoxam ou fipronil. Vale ressaltar que ainda há muito a ser estudado em relação ao controle da praga, principalmente em so-queiras, tanto em termos de produto, quanto de épocas e modo de aplicação.

Outras ferramentas de controle ainda

Leila Luci Dinardo-Miranda e Juliano Vilela Fracasso,Inst. Agronômico - Centro de Cana

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gráfico 3 - produtividade do canavial infestado por sphenophorus levis, nos três primeiros cortes, em função do tratamento inseticida aplicado no plantio (média de 5 experimentos; valores assinalados com * diferem do valor da testemunha pelo teste t a 5% de significância; fonte: Fracasso et al., 2011)

gráfico 1 - população de s. levis e danos causados pela praga em função do sistema de colheita do canavial (cana crua e cana queimada)

gráfico 2 - produtividade do canavial infestado por sphenophorus levis, nos dois primeiros cortes, em função do tratamento inseticida aplicado no plantio e diferença de produtividade em relação à testemunha (média de 3 experimentos; valores assinalados com * diferem do valor da testemunha pelo teste t a 5% de significância; fonte: Dinardo-miranda e fracasso, 2010)

gráfico 4 - produtividade do canavial infestado por sphenophorus levis, no qual os insetcidas foram aplicados em drenh ou cortando a soqueira, em compração com a testemunha (sem inseticida)

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16 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Desde o inícioPragas iniciais como corós, percevejos e lagartas são responsáveis por danos graves, já

no começo do desenvolvimento das plantas de soja. Monitoramento, medidas planejadas e adotadas no momento correto, de forma integrada, são o caminho para o produtor

realizar o manejo adequado desses insetos e prevenir prejuízos

As plantas de soja podem ser ataca-das por pragas desde a germinação das sementes e emergência das

plantas até a fase de maturação fisiológica. Esses organismos maléficos são constituídos por insetos, moluscos, diplópodes e ácaros. Os problemas se iniciam com a presença de lagar-tas na cobertura a ser dessecada e de insetos de solo que causam danos nas raízes. Em se-guida vem as pragas de superfície que atacam especialmente as plântulas, sendo este grupo denominado de pragas iniciais da soja.

pragas que atacam as raiZesDentre as pragas que atacam as raízes

da soja, destacam-se as larvas subterrâneas rizófagas de besouros melolontídeos, tam-bém denominados de corós, bicho-bolo ou pão-de-galinha e os percevejos-castanho das raízes, que embora possam ocorrer durante todo o ciclo da cultura, causam danos mais severos nos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas.

corós riZófagosOs danos de corós na soja são causados

pelo consumo de raízes ou até mesmo dos nódulos de fixação biológica de nitrogênio,

acarretando-se redução na capacidade das plantas de absorver água e nutrientes, ingre-dientes essenciais para o seu desenvolvimento. Essa intensidade de danos é maior em plantas jovens de soja, cultivadas em solo de baixa fertilidade com camadas adensadas e em condições de déficit hídrico.

As plantas atacadas por corós apresentam inicialmente desenvolvimento retardado, se-guido por amarelecimento, murcha e morte, podendo esses sintomas ocorrer em reboleiras distribuídas irregularmente nas lavouras. Em condições de alta infestação de corós no solo, pode ocorrer até 100% de perda da lavoura, especialmente quando a presença de larvas mais desenvolvidas coincide com a fase inicial de desenvolvimento das plantas. As principais espécies de corós, associadas à soja na região do Cerrado, são Phyllophaga cuyabana, Phyllo-phaga capillata e Liogenys fusca.

percevejos-castanhoOs danos dos percevejos-castanho na

soja são decorrentes da sucção contínua da seiva nas raízes, o que pode levar ao enfraquecimento ou até mesmo à morte das plantas. Os sintomas de ataque nas plantas dependem da intensidade e da época de

ocorrência da praga na cultura, variando do murchamento e amarelecimento das folhas a um subdesenvolvimento e secamento da planta, o que pode causar perdas de até 100% da lavoura.

No Brasil, as principais espécies de percevejo-castanho associadas à cultura da soja são: Scaptocoris castanea, S. carvalhoi e S. buckupi. Informações insuficientes sobre alternativas eficazes para o manejo dessas pragas têm levado os produtores a efetua-rem aplicações preventivas e curativas de inseticidas, sem resultados satisfatórios de controle.

manejo Das pragas que atacam as raíZesPara que o manejo de pragas que atacam a

parte subterrânea das plantas de soja seja efeti-vo, é necessário fazer o monitoramento desse grupo de pragas antes mesmo da instalação da lavoura, uma vez que todas as táticas de controle a serem implementadas são preven-tivas. Tanto para o manejo de corós como do percevejo-castanho, é de fundamental impor-tância a realização de amostragens no solo, a fim de identificar as espécies presentes, o seu nível populacional e os estádios de desenvol-vimento predominante dos insetos.

Adulto (acima) e larva (abaixo)de Phyllophaga cuyabana

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adultos quanto as larvas podem causar danos à soja. Os adultos, para se alimentarem, ras-pam e desfiam os tecidos da haste principal e, eventualmente, os ramos laterais e pecíolos das folhas. As larvas são endofíticas, ou seja, alimentam-se no interior da haste principal, precisamente na medula. O ataque da larva do tamanduá na soja provoca também a interrup-ção ou redução da circulação da seiva através da haste principal, reduzindo a produtividade das plantas.

lagarta-elasmoA lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus

Zeller, é outra praga que pode danificar plantas jovens de soja, especialmente quando o inseto já estiver presente na cultura ou cobertura a ser dessecada (exemplo trigo e aveia) para o plantio da soja. O adulto faz a postura nas

plantas de soja, no solo ou nos restos cul-turais presentes na área. Após a eclosão, as larvas alimentam-se inicialmente de matéria orgânica ou raspam o tecido vegetal para, em seguida, penetrarem no colo da planta, um pouco abaixo do nível do solo, onde constroem uma galeria ascendente. Próximo ao orifício de entrada na planta, as larvas tecem um casulo formado de excrementos, restos vegetais e partículas de terra, sintomas que caracterizam a presença da praga na área.

Como consequência do dano de elasmo, a soja inicialmente murcha e posteriormente seca, em razão da obstrução do transporte de água e de nutrientes do solo para a parte aérea da planta. A intensidade de danos da elasmo na soja é maior e mais frequente em condições de alta temperatura e déficit hídrico no solo, especialmente em solos arenosos ou mistos conduzidos em plantio convencional, e em áreas de primeiro cultivo, como eventualmente ocorre no Cerrado brasileiro.

lagarta-Do-cartuchoOs danos nas plântulas de soja causados

pela lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugi-perda, ocorrem quando essa praga já está previamente presente na cultura utilizada como cobertura e que será dessecada para o plantio da soja. Caso o plantio da soja seja

Dentre as técnicas que podem ser utili-zadas para o controle de corós e percevejos-castanho, destacam-se: manipulação da época de semeadura, preparo do solo com implementos adequados e aplicação de inse-ticidas nas sementes ou em pulverização no sulco de semeadura. A aplicação de inseticidas nas sementes e no sulco de semeadura da soja constitui uma alternativa promissora para o manejo de corós.

Já no caso do percevejo-castanho, os inseti-cidas aplicados para o tratamento de sementes não têm se mostrado uma tática eficiente. Mas a pulverização no sulco de plantio com inseticidas químicos, especialmente quando o percevejo está localizado próximo da superfície do solo, pode proporcionar bom controle da praga, dependendo do produto e da dose empregada.

pragas que atacam plântulas e hastesCom a expansão da cultura da soja para

novas regiões agrícolas, tem-se observado número crescente de pragas que atacam plân-tulas, hastes e pecíolos das plantas de soja.

tamanDuá-Da-sojaSternechus subsignatus Boheman, o bicudo

ou tamanduá-da-soja, como é popularmente denominado, é uma espécie em que tanto os

Danos provocados pela incidência de corós em área de cultivo de soja

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18 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

realizado imediatamente após a dessecação dessa cobertura, as lagartas de S. frugiperda presentes na área, se não forem controladas, podem cortar as plântulas de soja rente ao solo ou se alimentar de sua folhagem, causando sua morte e, consequentemente, redução do estande da cultura.

lesmas e caracóisAs lesmas e os caracóis são moluscos da

classe Gastropoda, que ocorrem em ambientes úmidos e frescos. As lesmas apresentam o corpo nu, mas os caracóis carregam sobre o seu dorso uma capa ou concha de carbonato de cálcio, que lhes conferem abrigo e proteção.

Essas pragas apresentam maior abun-dância em solos com elevada quantidade de palha ou de matéria orgânica e têm forte associação com plantas do grupo das legu-minosas e crucíferas (exemplo feijão, soja, ervilhaca, nabo-forrageiro, serralha etc). Tanto as lesmas quanto os caracóis raspam o tecido do caule, dos cotilédones ou até mesmo das folhas de plântulas de soja, causando injúrias semelhantes àquelas provocadas por insetos, podendo destruir a porção apical e causar a morte das plântulas, reduzindo assim o estande da cultura.

Em Mato Grosso do Sul, as espécies de caracóis e lesmas encontradas na cultura da soja foram identificadas, respectivamente, como Drymaeus interpunctus (Molusca: Buli-mulidae) e Sarasinula linguaeformis (Molusca: Veronicellidae).

piolhos-De-cobraOs piolhos-de-cobra são diplópodes que

ocorrem normalmente em áreas com abun-dância de palha, matéria orgânica morta e de tecido vegetal vivo, como prevalece nas áreas em que se faz o plantio direto. Quan-do perturbados, se protegem retraindo-se e enrolando o corpo em forma de uma espiral plana. Apresentam maior atividade no período noturno e abrigam-se debaixo da palhada nas horas mais quentes do dia.

Os danos são mais severos quando o ata-que ocorre na fase inicial do desenvolvimento da cultura e em períodos de estiagem. Nesses períodos ingerem as partes dos cotilédones

ou as folhas novas, o que pode ocasionar a morte das plantas e causar acentuada redução do estande nas lavouras, requerendo, muitas vezes, a ressemeadura.

As espécies de piolhos-de-cobra mais co-nhecidas pertencem à família Julidae, sendo Plusioporus e Julus os gêneros mais abundantes nos cultivos de soja da região Centro-Sul do Brasil.

manejo De pragas queatacam plântulas e hastesPara o manejo do tamanduá-da-soja, antes

de planejar o cultivo da próxima safra, devem ser realizadas amostragens no solo dos talhões em que, na safra anterior, foram observados ataques severos da praga. Caso forem encon-tradas de duas larvas/m2 a seis larvas/m2 de solo do tamanduá, a soja deve ser substituída na área por uma cultura não hospedeira como milho, algodão, sorgo, girassol, milheto, Crota-laria juncea ou mucuna preta, onde o inseto não se desenvolve, o que, consequentemente, interromperá o seu ciclo biológico.

Com esse procedimento, o produtor reduz drasticamente a população do taman-duá da sua área-problema, podendo realizar normalmente o plantio de soja nesta área na safra seguinte. Quando o inseto não ocorre na área, mas encontra-se presente na área vizinha, o controle do tamanduá pode ser realizado através de inseticidas aplicados nas sementes de soja, planejando uma faixa de plantas tratadas na bordadura da lavoura de 40m a 50m para contenção dos adultos que chegarem à lavoura.

No caso da lagarta-elasmo, tem sido com-provado que chuvas bem distribuídas, durante os primeiros 30 dias de desenvolvimento da cultura, praticamente eliminam a infestação do inseto nas lavouras de soja. A pulveriza-ção de inseticidas na parte aérea da soja tem proporcionado baixa eficiência de controle da lagarta-elasmo (< 50%), em razão da posição em que a praga fica alojada na planta. O trata-mento de sementes com inseticidas sistêmicos

Adulto (acima) e larva (abaixo)de Liogenys fusca

Adulto (esquerda) e larva (direita)de Cyclocephala forsteri

Adulto (acima) e larva (abaixo) do tamanduá-da-soja

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Page 19: Grandes Cultura - Cultivar 173

pode ser utilizado em áreas que requerem ressemeadura ou que apresentam histórico de danos ocasionados por esta praga.

O manejo integrado de pragas na cultura da soja inicia-se por ocasião da dessecação da espécie de planta utilizada como cobertura para a produção de palha no sistema de plan-tio direto. Nessa ocasião, é necessário fazer uma pergunta: existem lagartas na cobertura a ser dessecada? Em caso negativo, deverá ser realizada a pulverização visando apenas à dessecação da cobertura com o herbicida e nunca colocar um “cheirinho” de inseticida, como normalmente é feito.

No caso de existirem lagartas na cobertu-ra, há necessidade de outra pergunta: a seme-adura da soja na área vai ser feita logo após a dessecação ou pode-se esperar para realizá-la? Retardando a semeadura depois da dessecação em cerca de 20 dias, mesmo tendo lagartas na cobertura, na ausência de alimento devido ao efeito do herbicida, as lagartas puparão ou morrerão. No entanto, se a semeadura for realizada logo após a dessecação, recomenda-se então pulverizar um produto lagarticida, seletivo aos inimigos naturais.

A dessecação prévia da cobertura infes-tada com lesmas e/ou caracóis constitui uma

medida auxiliar para reduzir a sobrevivência dessas pragas, uma vez que tal operação reduz a umidade e o teor de água na superfície do solo, além de extinguir a fonte de alimento. Trabalhos preliminares conduzidos pela coo-perativa Coamo, em Campo Mourão, Paraná, evidenciaram que a mistura de abamectina + leite integral, colocada em quirelas de milho, constituiu uma isca efetiva para o controle de caramujos na cultura da soja. Todavia, convém salientar que não existe, até o momento, re-gistro de produtos para o controle de caracóis e lesmas na cultura da soja.

O controle do piolho-de-cobra pode ser realizado, com relativo sucesso, aplicando-se

inseticida nas sementes ou realizando pulveri-zações sobre as plantas. Os ingredientes ativos mais eficazes para o controle de piolhos-de-cobra pertencem aos grupos dos carbamatos e fenil-pirazóis.

Quando forem realizadas pulverizações sobre a soja, para o controle do piolho-de-cobra, sugere-se que sejam realizadas à noite, período em que essas pragas apresentam maior atividade, empregando-se pontas de pulverização do tipo leque em alto volume de calda (mínimo de 200L/ha).

Danos na soja causados por percevejo-castanho na soja

Crébio José Ávila,Embrapa Agropecuária oeste

Piolhos-de-cobra ocorrem em áreas com bastante palha, matéria orgânica morta e de tecido vegetal vivo

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22 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Batalha ininterruptaDesde a safra 2003/04 ensaios em rede e cooperativos buscam auxiliar produtores de soja a identificar

quais fungicidas são mais eficientes diante de situações críticas de incidência da ferrugem asiática

O manejo da ferrugem asiática da soja exige atenção redobrada dos produtores. Seja no período de

vazio sanitário ou durante a safra as estratégias devem ser adotadas de forma conjunta, com a ausência de cultivo na entressafra, utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada; a eliminação de plantas de soja voluntárias; o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura; a utilização de fungicidas no apa-recimento dos sintomas ou preventivamente, e da utilização de cultivares resistentes

Mais um período de vazio sanitário ter-minou no dia 15 de setembro nos estados do Paraná, do Mato Grosso, do Mato Grosso do Sul, de Rondônia, de São Paulo e em parte do Pará, sendo autorizadas as primeiras semea-duras de soja da safra 2013/14. O período do vazio sanitário foi instituído pela primeira vez no ano de 2006, nos estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso e, atualmente, é adotado em 11 estados e no Distrito Federal. Vazio sanitário é um período que determina a ausência de plantas de soja no campo, e varia de 60 a 90 dias durante a entressafra, em que a regra é a proibição da semeadura de soja e a eliminação de plantas voluntárias. Essa medida constitui uma das estratégias de manejo da ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi e tem como objetivo reduzir a quantidade de esporos do fungo durante a entressafra e, dessa forma, evitar a incidência precoce da doença nas lavouras. As semeaduras de soja autorizadas nesse período constituem-se exceções e de-vem ser monitoradas durante todo o ciclo da

cultura, realizando-se aplicações periódicas de fungicidas para evitar a ocorrência da fer-rugem. A efetividade do vazio sanitário tem sido associada à disposição dos produtores em cumprir as instruções normativas, ao rigor dos órgãos de defesa estaduais na fiscalização e também às condições climáticas que predo-minam na entressafra. Baixas precipitações no trimestre junho-julho-agosto colaboram para a ocorrência do vazio sanitário de forma natural, limitando o desenvolvimento de plantas de soja voluntárias e a sobrevivência do fungo. No período de 15 de junho a 15 de setembro de 2013 (Figura 1) ocorreram baixos volumes de precipitação na região central do Brasil, favorecendo o vazio sanitário natural, ao contrário de algumas regiões no Sul do País, onde ocorreram chuvas acima da média para o período. Apesar dos períodos de precipitação no Sul do País, as geadas contribuíram para eliminação de plantas de soja voluntárias.

safra 2013/14O período de vazio sanitário eficiente é

um dos fatores para evitar epidemias precoces de ferrugem. Outro fator importante que determina o comportamento da doença são as condições climáticas durante a safra. O desenvolvimento da doença é favorecido por chuvas bem distribuídas e por isso o produtor deve estar atento para as previsões climáticas da safra. De acordo com a nota técnica sobre a previsão climática por consenso para o trimestre setembro-outubro-novembro, do grupo de previsão climática GPC/CPTEC/INPE, a previsão produzida pela maioria dos modelos climáticos indica tendência de con-

dições neutras do fenômeno Enos (El Niño Oscilação Sul) com maiores probabilidades de chuva abaixo da normal climatológica para a área que inclui o Paraná e Santa Catarina, o sul do Mato Grosso do Sul e o sudoeste de São Paulo (Figura 2). Para as demais regi-ões produtoras de soja do Brasil, a previsão indicou comportamento climatológico de igual probabilidade para as categorias abaixo, dentro e acima da normal. Com a associação da ocorrência de um vazio sanitário eficien-te na entressafra de 2013 e a ausência de previsões de chuva acima da média, é de se esperar que a ferrugem na safra 2013/14 te-nha um comportamento semelhante às safras 2010/11, 2011/12 e 2012/13 (Figura 3), com os primeiros focos iniciando em dezembro e a evolução mais lenta quando comparada com as safras 2007/08 e 2008/09. Mesmo em um cenário sem previsões de epidemias precoces de ferrugem o produtor deve sempre estar atento para as semeaduras tardias (após o mês de novembro) porque essas lavouras recebem inóculo do fungo das primeiras semeaduras e a pressão da doença tende a aumentar, mesmo em condições climáticas menos favoráveis. Esse cenário tem sido comum mesmo em safras sem alta favorabilidade climática para a ocorrência de epidemias.

O monitoramento deve ser frequente, principalmente após o fechamento da la-voura, e o produtor deve estar atento para o acompanhamento da situação nas lavouras da região em razão da fácil disseminação do fungo pelo vento. Embora seja impossível na prática registrar no site do Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net) todos os focos de ferrugem das lavouras do País, os números do site são bem próximos da reali-dade no alerta das primeiras ocorrências da doença nas regiões, fator de grande relevância nas aplicações que utilizam o monitoramento como ponto inicial.

fungiciDasA principal ferramenta que torna viável

a produção de soja nos patamares atuais de produtividade após a introdução da ferrugem no País é a utilização de fungicidas. O número atual de fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle da ferrugem asiática é de 105 (Agrofit, 2013). No entanto, os prin-cipais fungicidas registrados possuem somente

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SDHI (succinato desidrogenase) que também atuam na respiração, inibindo o complexo II, estão em fase de registro no Mapa.

A eficiência dos fungicidas no controle da ferrugem vem sendo avaliada desde a safra 2003/04 em ensaios em rede e cooperativos

dois modos de ação. Um dos modos de ação é a inibição da biossíntese de ergosterol, impor-tante componente da membrana celular dos fungos sensíveis, tendo como sítio primário de atuação a demetilação carbono 14, razão pela qual são classificados como fungicidas DMI. Esse modo de ação é compartilhado pelos grupos triazóis e triazolinthiones (prothioco-nazol). Os triazóis representavam o principal grupo de fungicidas utilizados no controle da ferrugem desde a sua introdução no Brasil e, a partir da safra 2007/08, foi observada menor eficiência desses fungicidas em ensaios realizados em semeaduras tardias. Essa menor eficiência tem sido associada à seleção de populações do fungo menos sensíveis aos fun-gicidas desse grupo. A resistência de patógenos aos triazóis é descrita como quantitativa, ou seja, ocorre mudança gradual na sensibilidade do patógeno, aumentando ano após ano com o uso contínuo do produto, raramente levando a uma perda completa de eficiência. A queda de eficiência gradual dos triazóis é observada nos resultados dos ensaios cooperativos em rede (Figura 4), comparando um fungicida do grupo dos triazóis com uma mistura de triazol e estrobilurina. A variação na eficiência dos fungicidas nos ensaios cooperativos, entre as safras, é esperada por causa da diferença de pressão da doença e também pela utilização de

figura 1 - precipitação acumulada para o período de 15/6/2013 a 15/9/2013

fonte: cptec (http://clima1.cptec.inpe.br/)

figura 2 - previsão probabilística de consenso do total de chuvas no trimestre set/out/nov 2013

número fixo de aplicações nesses ensaios. O segundo grupo dos fungicidas utili-

zados no controle da ferrugem atua sobre a respiração do fungo, inibindo o complexo III (citocromo bc1 – ubiquinol oxidase no sítio Qo) onde se encontram os fungicidas QoI ou estrobilurinas. Fungicidas do grupo das estrobilurinas foram recomendados em aplicações isoladas somente nas primeiras safras, porém, por causa da menor eficiência passaram a ser recomendados somente em mistura com triazóis. Fungicidas do grupo

fonte: http://infoclima1.cptec.inpe.br/

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24 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

por diversas instituições de pesquisa, para a comparação dos fungicidas registrados e em fase de registro. Na safra 2012/13 foram realizados 26 ensaios nas principais regiões produtoras, conduzidos por 23 instituições de pesquisa. Seguindo um mesmo protocolo foram avaliados 17 fungicidas, sendo dez registrados e sete em fase de registro (Tabela 1). Os triazóis tebuconazol 100g i.a./ha-1 e ciproconazol 30g i.a./ha foram incluídos nos ensaios para monitorar a eficiência desse grupo nas diferentes regiões.

Na análise conjunta da severidade de 21 ensaios (Tabela 1) a menor severidade e a maior porcentagem de controle (84%) foram observadas para o tratamento 18 (azoxistro-bina + solatenol 60 + 30g i.a./ha), em fase de registro. Os fungicidas registrados com maiores porcentagens de controle foram tri-floxistrobina + prothioconazol 60+70g i.a./ha (T8 - 76%) e picoxistrobina + tebuconazol 60 + 100g i.a./ha (T9 – 73%), sendo estatisti-camente semelhantes à mistura tripla em fase de registro piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxad 64,8 + 40 + 40g i.a./ha (T16 - 76%). O tratamento com tebuconazol 100g i.a./ha (T2) apresentou a menor porcentagem de controle (41%), seguido de ciproconazol 30g i.a./ha (T3 – 46%) e da estrobilurina azo-xistrobina 50g i.a./ha (T4 - 47%), reforçando a orientação de que esses produtos não devem ser utilizados em aplicações isoladas para o controle da ferrugem. As maiores produtivi-dades foram observadas para os tratamentos 18 (azoxistrobina + solatenol 60 + 30g i.a./ha) e 8 (trifloxistrobina + prothioconazol 60+70g i.a./ha), seguidos dos tratamentos 16 (piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxad 64,8 + 40 + 40g i.a./ha), 17 (piraclostrobina + fluxapiroxad 99,9 + 50,1g i.a./ha) e 9 (picoxistrobina + tebuconazol 60 + 100g i.a./ha).

O protocolo dos ensaios cooperativos é de-finido para possibilitar a comparação de fungi-cidas em situações de alta pressão de inóculo. A diferenciação dos produtos, observada nos resultados desse trabalho, pode não ocorrer nas semeaduras realizadas no início da época

tabela 1 - severidade da ferrugem, porcentagem de controle em relação à testemunha sem tratamento, produtividade e porcentagem de redução de produtividade (rp) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos. média de 21 ensaios para severidade e de 20 ensaios para produtividade. safra 2012/13

severidade (%)

59,9 a35,6 b32,2 c31,5 c

21,5 fg23,6 f

19,3 gh14,4 j16,1 ij25,9 e26,0 e23,4 f

26,4 De28,5 D23,3 f14,6 j17,6 hi9,5 K16,5

produtividadekg ha-1

2111 h2423 g2475 g2503 fg2719 D2700 De2658 De3035 ab2888 C

2625 De2728 D2637 De2510 fg2605 ef2638 De2945 bc2908 c3128 a

7,14

médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de tukey (p=0,05). 1adicionado nimbus 0,5% v/v; 2adicionado nimbus 0,6 l ha-1; 3adicionado assist 0,5 l ha-1; 4adicionado nimbus 0,75 l ha-1; 5adicionado áureo 0,25% v/v; 6adicionado adjuvante nortox 0,5% v/v; 7adicionado nimbus 0,5 l ha-1; 8adicionado iharol 0,5% v/v; 9produto não registrado. fonte: embrapa soja. circular técnica 99

Controle(%)

4146476461687673575761565361767184

rp (%)332321201314153816131620171667-

tratamentoingrediente ativo (i.a.)

1. testemunha 2. tebuconazol3. ciproconazol

4. azoxistrobina15. azoxistrobina + ciproconazol2

6. piraclostrobina + epoxiconazol3 7. picoxistrobina + ciproconazol4

8. trifloxistrobina + protioconazol5

9. picoxistrobina + tebuconazol1

10. azoxistrobina + flutriafol1,8

11. azoxistrobina + tebuconazol1,9

12. azoxistrobina + tebuconazol1

13. azoxistrobina + tebuconazol6,9

14. azoxistrobina + flutriafol7,9

15. metominostrobina + tebuconazol8,9

16. piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxad3,9

17. piraclostrobina + fluxapiroxad3,9

18. azoxistrobina + solatenol2,9

c.v. (%)

Dose g i.a. ha-1

1003050

60 + 2466,5 + 25

60+2460+70

60 + 10062,5+62,572 + 9660 + 100

62,5 + 12562,5 + 62,563,8 + 95,7

64,8 + 40 + 4099,9 + 50,1

60 + 30

recomendada, em razão da menor quantidade de inóculo do fungo. As baixas produtividades médias observadas nos melhores tratamentos ocorrem em função da semeadura tardia, em época de menor potencial produtivo, para aumentar a probabilidade de ocorrência da ferrugem. O objetivo dos ensaios cooperativos é mostrar ao produtor quais são os fungicidas mais eficientes em situações críticas.

Nenhuma safra é igual à outra com relação à ferrugem e há vários fatores interagindo que fazem com que a doença se inicie mais cedo ou mais tarde e seja mais ou menos severa. A única generalização que é possível fazer é que a ferrugem vai estar sempre presente e o produ-tor deve estar atento para o controle, evitando, dessa forma, reduções de produtividade.

As estratégias de manejo recomendadas para o controle da ferrugem devem ser ado-

tadas de forma conjunta, com a utilização de cultivares de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada; a eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra (vazio sa-nitário); o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura; a utilização de fungicidas (misturas de DMI com QoI) no aparecimento dos sintomas ou preventivamente, quando a doença já estiver presente na região, e da utilização de cultivares resistentes, quando disponíveis. Os fungicidas representam uma das ferramentas de manejo, devendo ser seguidas as demais estratégias para o controle eficiente da ferrugem.

figura 3 - evolução no número de ocorrências cadastradas no site do consórcio antiferrugem, desde a safra 2007/08 até a safra 2012/2013

fonte: site do consórcio antiferrugem (www.consorcioantiferrrugem.net)

figura 4 - porcentagem média de controle da ferrugem nos ensaios em rede e cooperativos nas safras 2003/04 até 2012/13, em diferentes regiões produtoras, no brasil. mistura de estrobilurina + triazol (azoxistrobina + ciproconazol 60 + 24g i.a. ha-1 + nimbus 0,5%) e triazol (tebuconazol 100g i.a. ha-1)

fonte: embrapa soja, série Documentos 251 e 266; circulares técnicas 42, 69, 80, 87, 93 e 99

Cláudia Godoy, Claudine Seixas e Maurício Meyer,Embrapa Soja

CC

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26 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Manejo racionalA detecção da Helicoverpa armigera na safra 2012/13 no Brasil e

os severos prejuízos associados a essa lagarta em lavouras de soja, algodão, feijão, sorgo e outras culturas comerciais têm preocupado e assustado agricultores brasileiros. Contudo, é preciso não perder

de vista que este não é o único inseto causador de danos, que medidas como o uso abusivo de inseticidas tendem a agravar o problema e que a solução para enfrentar esta e outras pragas

ainda reside no manejo integrado, cujas táticas muitas vezes são negligenciadas e esquecidas no campo

A detecção de uma nova praga no Brasil e os prejuízos causados na safra 2012/13 em algumas regiões,

principalmente na cultura do algodão, além de soja e milho, vêm preocupando os produtores em todo o país. Muitas informações têm sido vinculadas na mídia desde então, muitas vezes bastante alarmantes, o que está causando uma sensação de medo nos agricultores e que pode levá-los a um uso abusivo de inseticidas. É importante destacar que aplicar inseticidas de forma inadequada apenas irá agravar esse problema. Conhecer essa nova ameaça e assim monitorá-la no campo, além de retomar as demais táticas de manejo integrado de pragas (MIP) que foram esquecidas ao longo dos anos, é a melhor maneira de combater a praga na nova safra que se inicia.

A cultura da soja pode ser atacada por diferentes pragas, entretanto, desde a safra

2012/13 a Helicoverpa armigera vem ganhan-do maior atenção da mídia, preocupando os agricultores brasileiros. Esta é uma lagarta da subfamília Heliothiinae, que é capaz de atacar mais de 180 plantas hospedeiras, incluindo diversos cultivos importantes. A ocorrência dessas pragas foi observada na safra anteriormente mencionada em níveis populacionais elevados, causando sérios pre-juízos econômicos não só na soja e no milho, mas principalmente no algodão. No País, há também relatos de ataques em tomate, feijão e sorgo, dentre outras plantas.

como iDentificar a pragaEm primeiro lugar é importante destacar

que existem outras espécies de insetos-praga como Spodoptera cosmioides, Spodoptera eri-dania, Helicoverpa zea e Heliothis virescens, de ocorrência já conhecida na soja há mais tempo,

que causam os mesmos danos que Helicoverpa armigera nas estruturas reprodutivas da soja e que podem ser confundidas no campo. Entretanto, uma boa identificação da praga é ponto chave inicial para escolha do controle mais apropriado, além da dose necessária para que se obtenha eficiência.

A diferenciação das espécies da subfamília Heliothiinae requer conhecimentos específicos de sua morfologia interna e externa. Mesmo a separação entre os gêneros Helicoverpa e Heliothis é difícil de ser realizada a campo, exigindo, para isso, a observação das lagartas em lupas de laboratório. Portanto, a separação prática no campo entre as espécies Helicoverpa zea, Helicoverpa armigera e Heliothis virescens é complicada e, portanto, à luz no conhecimen-to atual, estas espécies devem ser manejadas em conjunto em condições de campo. En-tretanto, é importante e possível separar os insetos da subfamília Heliothiinae dos demais insetos que também atacam as vagens da soja, como é o exemplo do complexo de lagarta do gênero Spodoptera (principalmente as espécies S. eridania e S. cosmioides). A diferenciação das espécies do gênero Spodoptera das da subfamí-lia Heliothiinae é importante para a adoção do manejo adequado desses grupos de lagartas que atacam as vagens da soja. A escolha dos inseticidas, agentes de controle biológicos, plantas resistentes e/ou outras práticas de manejo pode ser diferente para cada grupo de pragas que estiver ocorrendo na lavoura com o objetivo de obter a maior eficiência da tática

Manejo racional

Adeney F. Bueno

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25www.revistacultivar.com.br • Outubro 2013

brasileiras, adaptações e/ou alterações nessas recomendações, poderão e provavelmente serão realizadas. É importante ainda destacar que as medidas de controle químico devem ser sempre tomadas após a detecção da praga em populações iguais ou maiores do que os níveis de ação (que é a população mínima de pragas para justificar economicamente o con-trole). Inseticidas nunca devem ser aplicados preventivamente porque isto apenas piora os problemas com pragas a longo prazo. Entre-tanto, em áreas com histórico de ocorrência dessas pragas, existem algumas medidas de manejo que podem ser adotadas mesmo antes da semeadura como exemplificadas a seguir. Essas alternativas de manejo antes da semeadura são apenas adequadas para áreas onde há um histórico de ocorrência frequente dessas pragas.

1) Pré-semeadura- Sempre que possível fazer uma desseca-

ção sequencial para a semeadura (1ª aplicação de herbicida deve ser realizada entre três e quatro semanas antes da semeadura e a 2ª aplicação próximo ao dia da semeadura);

- Não utilizar inseticidas na dessecação, devido a sua baixa eficiência, e seus efeitos adversos aos inimigos naturais, o que pode agravar o problema com pragas em geral.

2) Semeadura

- Em áreas com histórico de ocorrência de lagartas, o tratamento de sementes com inseticidas é outra opção que pode ser con-siderada;

- Se o produtor optar pelo cultivo de soja Bt é necessária a adoção da área de refúgio, com soja não Bt, em no mínimo 20% da área cultivada para reduzir os riscos de se perder essa tecnologia para insetos resistentes (vale destacar que a maior distância entre uma planta Bt e uma não Bt na área não pode ultrapassar 800 metros);

Observação: mesmo utilizando soja Bt (com a proteína Cry1Ac) há a necessidade de monitoramento constante para lagartas, principalmente aquelas do gênero Spodoptera, naturalmente tolerantes a esse evento Bt, além dos insetos sugadores como os percevejos, que são pragas-chave na cultura;

3) Após a semeaduraA) Amostragem- Dividir as lavouras de soja em talhões

homogêneos (mesma época de semeadura, mesma cultivar, mesma condição edáfica etc) de, no máximo, 400ha. Talhões menores são desejáveis, quando possível;

- Amostrar semanalmente, no mínimo, um ponto/10ha (1 metro/ponto com pano de batida) desde a emergência até o início do estádio R7 da soja*;

de controle a ser adotada.Entre as dicas úteis para identificação

dessas lagartas no campo, destacam-se:• Os adultos podem ser mais facilmente

separados e sua presença é um bom indicativo da espécie de lagarta que pode estar ocorrendo em sua lavoura. Adultos de Heliothis virescens, por exemplo, são facilmente identificados pelas três faixas laterais que cortam suas asas. Os adultos de Spodoptera, além dos adultos de Helicoverpa spp também podem ser vistos e reconhecidos em campo;

• As posturas de Spodoptera spp. são realizadas em massas de ovos, sendo que a postura de Spodotpera eridania especificamente é esverdeada, o que é facilmente diferenciado da postura das espécies do gênero Heliothis ou Helicoverpa que ovipositam seus ovos iso-ladamente. A presença desses ovos também é um forte indicativo de qual espécie (ou quais espécies) de praga que está ocorrendo em sua lavoura.

o manejoÉ importante destacar que as medidas

de manejo hoje recomendadas são baseadas nas informações de outros países (literatura internacional) e, assim, à medida que as pesquisas forem sendo realizadas com esse novo complexo de pragas nas condições

Nononononononono

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28 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

- Observar: a) número de lagartas pequenas (< ou

= 1,5cm de comprimento) e grandes (> 1,5cm);

b) nota de desfolha (% visual);* sacudir vigorosamente as plantas na

amostragem;B) Quando controlar as lagartas do gênero

Heliothis ou Helicoverpa na soja?

fase vegetativa• Entomopatógenos (vírus e bactéria)

e inseticidas do grupo de reguladores de crescimento (“fisiológicos”): nível de ação (NA) = 4 lagartas pequenas/metro ou 30% de desfolha.

• Controle químico com inseticidas de efeito rápido: NA = 4 lagartas/metro ou 30% de desfolha.

fase reprodutivaa) Entomopatógenos** (vírus e bactéria)

e inseticidas do grupo de reguladores de cres-cimento (fisiológicos): NA (Nível de Ação) = 2 lagartas pequenas/metro ou 15% de desfolha ou 10% vagens danificadas.

b) Controle químico com inseticidas de efeito rápido: NA = 2 lagartas/metro ou 15% de desfolha ou 10% de vagens danificadas.

C) Quando devemos controlar as lagartas do gênero Spodoptera na soja?

fase vegetativaa) Entomopatógenos** (vírus e bactéria)

e inseticidas do grupo de reguladores de crescimento (fisiológicos): NA = 10 lagartas pequenas/metro ou 30% de desfolha.

b) Controle químico com inseticidas de efeito rápido: NA = 10 lagartas/metro ou 30% de desfolha.

fase reprodutivaa) Entomopatógenos** (vírus e bactéria)

e inseticidas do grupo de reguladores de crescimento (fisiológicos): NA = 10 lagartas pequenas/metro ou 15% de desfolha ou 10% vagens danificadas.

b) Controle químico com inseticidas de efeito rápido: NA = 10 lagartas/metro ou 15%

de desfolha ou 10% de vagens danificadas.**As cepas de vírus e bactéria devem ser

as recomendadas para cada espécie de lagarta devido à existência de especificidade. Não são todas as cepas eficientes para todas as diferen-tes espécies do mesmo grupo de pragas.

a escolha Dos inseticiDasAinda não se tem total conhecimento

da eficiência que os inseticidas e agentes de controle biológico (para aplicação) terão em condições brasileiras para o controle de He-licoverpa armigera porque não houve tempo hábil para produzir tal informação. Devido à detecção recente da praga, isso depende de ensaios em andamento ou que ainda serão executados. Entretanto, produtos estão sendo registrados emergencialmente para o combate dessa praga e apenas esses produtos legalmente autorizados devem ser aplicados pelos agricultores conforme a recomendação do fabricante. Preferencialmente, os produtos utilizados devem ser o mais seguro possível ao ambiente e ao ser humano, por isso, uma or-dem de preferência na escolha dos inseticidas ou afins para serem utilizados pode ser:

1) entomopatógenos (vírus e bactéria) ou liberação de inimigos naturais devidamente registrados;

2) inseticidas do grupo dos reguladores de crescimento de insetos, diamidas ou es-pinosinas;

3) Inseticidas bloqueadores de Na; 4) Carbamatos;Essa ordem de escolha leva em conside-

ração principalmente a seletividade desses compostos aos insetos benéficos e não tem relação direta com sua eficiência no controle da praga.

Além de escolher o controle seguindo essa ordem de preferência, os produtores também devem estar atentos aos seguintes aspectos:

• Utilizar as mesmas recomendações des-critas nesse documento para a soja Bt (quando disponível) e não Bt;

• Atentar para todas as recomendações visando uma boa tecnologia para a aplicação dos inseticidas e ou liberação dos inimigos naturais.

• Evitar o uso de inseticidas não seletivos na lavoura (aqueles que matam também os insetos benéficos);

vale a pena relembrarO que não fazer no manejo da praga• Não aplicar inseticidas preventiva-

mente;• Não aplicar inseticidas em baterias de

aplicações ou em aplicações calendarizadas;• Não aplicar inseticidas em condições cli-

máticas insatisfatórias ou com produtos, doses e volume de aplicação não recomendados;

o que faZer no controle Da praga• Monitorar semanalmente sua lavoura;

O pano de batida pode ser uma boa opção para auxiliá-lo nessa tarefa;

• Aplicar inseticidas apenas quando ne-cessário, utilizando-se dos produtos legalmen-te recomendados para controle desta praga;

• Preferir utilizar inseticidas seletivos como vírus, bactérias e os inseticidas “fisio-lógicos” antes de utilizar outra opção mais agressiva ao agroecossistema;

• Rotacionar inseticidas com diferentes modos de ação a cada aplicação que for necessária para reduzir a seleção de insetos resistentes;

• Utilizar todas as tecnologias recomena-das no MIP/Soja

o mais importanteIndependentemente da tática de controle

utilizada contra as pragas (controle biológico, plantas Bt, inseticidas etc), é importante sa-lientar que a revitalização de todos os conceitos de manejo integrado de pragas (MIP-Soja) e, consequentemente, da amostragem e da preservação do controle biológico natural de pragas é crucial e necessária para o sucesso do manejo não só das lagartas, mas também de todos os artrópodes-praga da cultura e assim garantir a sustentabilidade deste sistema produtivo.

Diante da dificuldade de identificação no campo, Helicoverpa zea deve ser manejada em conjunto com outras espécies de lagartas

Presença da lagarta Heliothis virescens sobre folha de soja

Adeney de Freitas Bueno, Edson Hirose e Daniel Ricardo Sosa-Gómez,Embrapa Soja

CC

O.C. Bortolotto Embrapa Soja

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30 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Soja

Semente tratadaO tratamento de sementes com inseticidas e fungicidas é estratégia importante no manejo de pragas e doenças que afetam as lavouras de soja na fase inicial da cultura. Contudo, alguns

cuidados e critérios precisam ser observados pelos produtores ao adotar essa ferramenta

Para a obtenção de uma lavoura de soja com estande adequado, plântulas vigorosas e conse-

quentemente elevadas produtividades, é fundamental a utilização de sementes com altas qualidades física, fisiológica, genética e sanitária

Sementes com alta qualidade sanitária são aquelas livres da presença de fitopató-genos, que associados se tornam um dos meios mais eficientes de se introduzir e

presentes no solo, além de atuar contra o ataque inicial de pragas específicas do solo, protegendo as plântulas durante o processo germinativo e de emergência.

Entre os principais fungos transmitidos via sementes e causadores de doenças na cultura da soja, destacam-se: Phomopsis sp. (queima da haste e da vagem); Colletotri-chum dematium var. truncata (antracnose); Cercospora kikuchii (mancha púrpura); Macrophomina phaseolina (podridão negra das raízes); Rhizoctonia solani (tomba-mento e morte em reboleira); Sclerotinia sclerotiorum (podridão branca da haste e da vagem); Fusarium sp. Além desses fitopatógenos, os fungos responsáveis por perdas durante o armazenamento são dos gêneros Aspergillus e Penicillium. Sendo Aspergillus flavus o mais frequente. Atu-almente, o tratamento de sementes tem incorporado também inseticidas (além de fungicidas) para controlar insetos-praga, que podem ocorrer em determinadas áreas ou lavouras. Entre as principais pragas que atacam a cultura da soja, encontram-se: tamanduá-da-soja (Sternuchus subsigna-tus), os corós (Demodema brevitarsis, Dilo-boderus abderus e Plyllophaga triticophaga), as vaquinhas (Diabrotica speciosa e outras espécies), a lagarta elasmo ou broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus), as lesmas e os caracóis.

O tratamento das sementes geralmente é realizado tanto na Unidade de Bene-ficiamento de Sementes (UBS) quanto na propriedade, antes da semeadura. Em relação ao tratamento na UBS, em mui-tas empresas o tratamento de sementes industrial (TSI) já faz parte das etapas do beneficiamento das sementes, sendo realizado com a utilização de equipamen-tos especiais e altamente sofisticados, que podem combinar a aplicação de fungicidas, inseticidas, micronutrientes, nematicidas, entre outros produtos. Este tipo de trata-mento tem ganhado espaço no mercado de sementes de soja (cerca de 40% das sementes são tratadas neste sistema), pois no mercado verticalizado de sementes de milho esta tecnologia já está estabelecida, em que grande parte das empresas que vendem as sementes já realiza o tratamento

acumular inóculo de patógenos em áreas de cultivo, o que acarreta na redução do poder germinativo e do nível de vigor das sementes, limitando assim a produtividade e aumentando o custo de produção.

O tratamento de sementes é uma técnica que tem por objetivo assegurar a qualidade sanitária das sementes, através da aplicação de produtos químicos eficien-tes para controlar fitopatógenos, principal-mente fungos associados às sementes ou

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Page 31: Grandes Cultura - Cultivar 173

tratamento de sementes, pois muitas vezes é utilizada uma ampla gama de produtos na mesma semente, como a combinação de fungicidas, inseticidas, inoculantes, micronutrientes, nematicidas, reguladores de crescimento e polímeros, que podem causar fitotoxicidade às sementes, além do impacto ambiental, devido ao excesso de produtos utilizados que, muitas vezes, não são necessários em determinadas rea-lidades agrícolas ou situações.

O efeito fitotóxico pode afetar a qua-lidade fisiológica das sementes, reduzir a germinação e a emergência de plântulas, por provocar engrossamento, encurta-mento, rigidez e fissuras longitudinais em

hipocótilos, principalmente em semeadu-ras profundas, atrofia do sistema radicular, retardamento do desenvolvimento vegeta-tivo da parte aérea das plantas, associado ao encurtamento da distância de entrenós e em algumas situações a presença de mul-tibrotamento no nó cotiledonar, reduzindo assim o estabelecimento e a produtividade da cultura.

Diante disso, é fundamental que os agricultores fiquem atentos à forma que o mercado impõe esses pacotes de trata-mento de sementes, devendo ser levados em consideração alguns aspectos antes da sua realização, como:

• Necessidade do tratamento: antes

no pré-ensaque, antes do armazenamento ou no momento da entrega das sementes ao produtor.

Este tratamento realizado na UBS apresenta uma série de vantagens em rela-ção ao tratamento convencional (tambor), tais como: maior precisão do volume de calda e quantidade de sementes a serem utilizadas, proporciona melhor cobertura da semente com o produto químico, me-nor risco de intoxicação dos operadores e maiores rendimentos por hora (existem no mercado máquinas para tratamento indus-trial, com capacidade de tratar até 20 tone-ladas de sementes por hora). Entretanto, deve-se tomar cuidado com os pacotes de

É necessário utilizar produtos recomendados para a cultura e conhecer a compatibilidade entre as formulações aplicadas

O tratamento de sementes é uma tecnologia que demanda custobaixo em relação ao potencial de retorno do investimento

Page 32: Grandes Cultura - Cultivar 173

volumes de até 1.100ml/100kg de sementes já foram empregados sem prejuízo à qua-lidade das sementes. Porém, vale ressaltar que as sementes têm que ter alta qualidade fisiológica (germinação e principalmente vigor) e a semeadura deve ser efetuada logo após o tratamento. Sementes com danos mecânicos, baixo vigor, tendem a soltar o tegumento quando se utilizam volumes elevados de calda, prejudicando a qualidade da semente, em desacordo com o objetivo do tratamento.

• Armazenamento após o tratamento: é importante ficar atento, pois ainda não se tem comprovado quais os efeitos que os tratamentos com volumes elevados de cal-da podem ocasionar nas sementes ao longo do período de armazenamento. Estudos estão sendo conduzidos na Embrapa Soja e os resultados estarão disponíveis já para a próxima safra.

32 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

CC

de realizar o tratamento, o agricultor deve conhecer a necessidade da sua lavoura, pois de nada adianta tratar as sementes de soja com determinados inseticidas, ne-maticidas, entre outros produtos de ação específica, se não existe a presença destes possíveis fungos, insetos-praga ou nema-toides em sua área, para que a finalidade do tratamento não se torne infrutífera.

• Eficiência dos produtos: um aspecto muito importante é conhecer a eficiência dos produtos (Tabela 1) que estão sendo aplicados nas sementes. Para isso o técnico que irá recomendar o tratamento, deve estar constantemente informado, através de dados de pesquisa ou informações téc-nicas, a fim de evitar uma aplicação menos eficiente e que somente elevará o custo da produção final da lavoura.

• Compatibilidade dos produtos: é necessário sempre utilizar os produtos que são recomendados para a cultura e conhe-

cer a compatibilidade entre as formulações aplicadas, como ao efetuar a aplicação de inoculantes, pois em alguns trabalhos é possível verificar a redução da eficiência de alguns inoculantes através da influência de produtos (fungicidas).

• Volume de calda: este é um aspecto muito importante, pois, com a ampla variedade de produtos e pacotes para o tratamento de sementes de soja existentes no mercado, muitas vezes são aplicadas várias formulações, que podem exceder o volume de calda recomendado (antigamen-te 600 ml/100kg de sementes), quando os produtos eram pós secos (em sua maioria) e a água era usada como o veículo para a aplicação dos fungicidas. Atualmente, a maioria dos produtos (misturas de fun-gicidas de contato + sistêmico) já vem formulada com outros veículos, incluindo corantes, polímeros etc. Por essa razão, dependendo dos produtos (formulações),

tabela 1 - atividade específica de fungicidas em sementes de soja. reunião de pesquisa de soja da região sul, passo fundo, rs, 2012

phytophthorabaixobaixo

ineficazbaixobaixo

excelente*ineficazbaixobaixobaixo

ineficaz

phomopsisregular

bombom/regular

baixoregularineficazineficaz

excelentebom

regularregular

*este efeito só é obtido se o produto contiver doses de metalaxyl entre 15,5 a 31,0 g i.a./100 kg de sementes, e se for usado em cultivares de soja com alta resistência de campo à fitóftora. (fonte: Drª leila costa milan, embrapa trigo)

rhizoctoniabom

ineficazregularineficaz

bomineficaz

bom??

bomineficaz

fusariumregular

bombom/regular

baixoregularineficaz

bomexcelente

bomregularregular

ingrediente ativocaptan

carbendazimcarboxin + thiram

difenoconazolfludioxonilmetalaxyl

piraclostrobinatiabendazol

tiofanato metílicothiram

tolilfluanida

pythiumbombaixobaixobaixobaixo

excelentebombaixobaixo

regularineficaz

O técnico que irá recomendar o tratamento deve estar informado a fim de evitar aplicações menos eficientes

A primeira recomendação de tratamento de sementes com

fungicidas em soja, para a maioria dos estados produtores do Brasil, ocorreu oficialmente em 1981. Porém, somente em 1983, esta técnica foi estendida para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, abrangendo, dessa maneira, todas as regiões brasileiras.

No Brasil, decorridos 32 anos desde a sua primeira recomendação, a tecnologia de tratamento de sementes de soja apresentou muitos avanços.

HIStórICO Atualmente, cerca de 95% das sementes são tratadas com fungicidas, 90% com inseticidas, 50% com micronutrientes e produtos de recobrimento (film coating) à base de polímeros que asseguram cober-tura e aderência uniformes às sementes (Baudet e Peske, 2006). A utilização de fungicidas e inseticidas via tratamento de sementes representa aproximadamente 7,6% do mercado de agroquímicos no país, mas que representa um custo pe-queno em relação ao grande potencial de retorno do investimento.

A utilização de fungicidas e inseticidas em tratamento de sementes representa aproximadamente 7,6% do mercado de agroquímicos no Brasil

Julia Abati e Cristian Rafael Brzezinski, UEL – Univ. Estadual de LondrinaAdemir Assis Henning,Embrapa Soja

Page 33: Grandes Cultura - Cultivar 173

Informe empresarial

Estresse reduzidoNova solução nutricional indicada para soja, algodão, feijão, trigo, café, uva

e hortaliças reduz etileno, hormônio que causa estresse às culturas

Área de cultivo com sintomas de abortamento de estruturas causados pela ação do etileno

Lançado recentemente pela Stoller, a solução nutricional Hold tem como diferencial a redução de

etileno, hormônio que causa o estresse nas diversas culturas. Essa solução melhora a condição fisiológica e nutricional das plantas e seus efeitos também são vistos em termos de resistência das culturas, cooperando para um manejo muito mais eficiente de doenças. As plantas, assim como os humanos, sofrem as consequências de diversos fatores estres-santes. A falta ou excesso de água, variação na temperatura, oferta de nutrientes, ocor-rência de pragas e doenças, geram grandes perdas de produtividade. Do real potencial de uma cultura, estima-se que, devido ao estresse, a planta expressa apenas de 30% a 50% do seu potencial genético, o que incide em menor produtividade. O estresse causa nas plantas um grande desequilíbrio hor-monal, aumentando muito a produção de um hormônio chamado etileno, importante para algumas etapas da vida das plantas, como maturação dos frutos. Porém, quan-do se pensa em melhorar as condições de desenvolvimento das plantas, objetivando altas produtividades, é indesejável que esse hormônio atinja níveis muito elevados, pois pode acarretar grandes prejuízos, como redução do desenvolvimento radicular; pro-mover o enrolamento das folhas para baixo,

reduzindo a área de produção de alimento pelas plantas; acelerar o envelhecimento e a queda de folhas, e promover abortamento (queda) de flores e frutos. Sendo assim, é necessário controlar ou inibir a produção de etileno pelas plantas.

A evolução de pesquisas na área agronômica tem cooperado para o de-senvolvimento de tecnologias modernas que permitem ao agricultor buscar novos

patamares de produtividade, contribuindo para maiores retornos aos seus investimen-tos. A Stoller desenvolveu uma solução nutricional, que atua inibindo a ação da enzima ACC oxidase, formadora do eti-leno, possibilitando aumentar a fixação de flores e frutos. Assim como os demais produtos da Stoller, o Hold possui registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). CC

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Empresas

34 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Bons ventosCom a aposta de um mercado crescente, a Bayer

CropScience anuncia fortes investimentos para os próximos anos principalmente na área de herbicidas e lança sua

marca mundial de sementes de soja

As perspectivas da Bayer CropS-cience são bastante otimistas para os próximos anos. Deten-

tora da patente do glufosinato de amônio, um dos mais importantes princípios ativos utilizados na luta contra a resistência de plantas daninhas aos herbicidas, a empresa logo verá recompensados os investimentos feitos no desenvolvimento do seu herbicida nas últimas décadas. O produto comercia-lizado sob a marca comercial Liberty é o único herbicida não seletivo que controla plantas daninhas resistentes ao glifosato. Portanto, este tende a ser um dos produtos mais comercializados nos próximos anos, já que o problema da resistência ao glifosato não para de crescer em lavouras do mundo inteiro.

Mas este é apenas um dos elementos da estratégia que pretende impulsionar as

vendas anuais da Bayer dos atuais nove bilhões de euros anuais para acima dos dez bilhões de euros previstos para a partir de 2015. Na conferência de imprensa anual, realizada em Monheim, Alemanha, o CEO da Bayer CropScience, Liam Condon, anunciou a expansão da empresa nos ne-gócios de sementes e lançou a marca global de soja Credenz, além de investimentos em banco de germoplasmas de diversas culturas e abertura de estações de pesquisa pelo mundo.

Para alcançar este objetivo, a Bayer não poupará investimentos. Com uma expansão dos negócios de forma contínua desde 2007, a empresa está otimista com o futuro, explica Condom. Neste contexto, e com um mercado bastante interessado em produtos, a Bayer está aportando um bilhão de euros ao seu programa de inves-

timento, elevando o total de despesas de capital para o período de 2013 a 2016 para aproximadamente 2,4 bilhões de euros. A ideia é incrementar a produção dos princi-pais ingredientes ativos para a proteção de cultivos para dar conta da grande demanda existente, garante o CEO.

resistência a herbiciDasUm dos principais problemas enfrenta-

dos pelos produtores nos Estados Unidos e que tem se espalhado pelo mundo inteiro é a resistência de plantas daninhas a herbi-cidas, principalmente ao ingrediente ativo glifosato, que balizou o manejo de invasoras a partir da segunda metade da década de 1990, principalmente em lavouras de soja. Nos Estados Unidos, aproximadamente 50% das plantas daninhas já apresentam resistência a algum tipo de herbicida, tota-lizando 260 diferentes espécies. De acordo com o chefe de pesquisas de controle de plantas daninhas da Bayer CropScience, Hermann Stübler, com o advento do gli-fosato, as empresas diminuíram considera-velmente os investimentos em compostos para controle de invasoras, passando de mais de 80 produtos em 1995 para menos de 20 produtos em 2005. Por conta disso, atualmente, aproximadamente 60% dos modos de ação existentes já enfrentam problemas com algum tipo de resistência e

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desenvolvimento rápido e focado em traits diferenciados”, relatou Condon, que des-tacou também o desenvolvimento atual de um trait para o manejo de nematoides na soja.

Mas o principal anúncio feito na área de sementes foi o lançamento da marca global de soja Credenz, que estará nos mercados da América do Norte e América do Sul até o final de 2014. “A Credenz nos ajudará a oferecer melhores variedades aos agricultores. Esta semente oferecerá futuros traits que poderão proteger os cul-tivos de soja de insetos específicos, repelir ataques de nematoides e tornar a cultura tolerante aos mais efetivos herbicidas”, garantiu.

A Bayer espera expandir de forma significativa suas vendas relacionadas à soja ao longo da próxima década. Para isso, além do lançamento da marca e das aquisições de empresas, investirá em es-tações de pesquisas que serão instaladas em áreas estratégicas pelo mundo. No Brasil, serão cinco estações, localizadas no Rio Grande do Sul, Tocantins, Pa-raná, Mato Grosso e Goiás, que além de desenvolvimento de pesquisas, serão responsáveis pela multiplicação das se-mentes Credenz.

De acordo com Gerard Bohne, diretor de Operações de Negócios no Brasil, as primeiras variedades de sementes de soja Credenz estarão disponíveis nos Estados Unidos para a safra 2014/15, já com a tecnologia Liberty Link, que apresenta to-lerância ao composto glufosinato de amô-nio e, portanto, pode receber aplicações do herbicida Liberty em pré e pós-emergência. Agregando todos estes elementos, a Bayer projeta passar dos menos de 1% de par-ticipação no mercado de semente, que detém atualmente, para mais de 10% nos próximos dez anos. CC

a maior parte do que existe no mercado foi pesquisada antes deste período, explica.

De olho neste mercado, a Bayer CropS-cience está investindo em um dos poucos herbicidas de contato não seletivo que ainda não apresenta nenhuma resistência de plantas daninhas. Para a produção do composto glufosinato de amônio, comer-cializado sob a marca comercial Liberty, a empresa está fazendo um investimento de mais de 380 milhões de euros na cons-trução de uma nova fábrica em Mobile, Alabama, nos Estados Unidos. Pronta para começar as operações no quarto trimestre de 2015, a nova fábrica será “o maior pro-jeto de construção da história da Bayer”, afirma Liam Condon. Juntamente com projetos de expansão de capacidade atual-mente em andamento em outras fábricas, as novas instalações contribuirão para o objetivo da empresa de mais que duplicar o fornecimento global deste ingrediente ativo.

“O aumento da produção do Liberty ajudará nas ações contra a resistência das plantas daninhas, sendo um dos pilares, mas não pode ser visto como a única solução”, explica Condon. Técnicas de manejo integrado de plantas daninhas, como rotação de culturas, uso de herbicidas com diferentes modos de ação e rotação das características de tolerância aos herbicidas, ajudam os agricultores a gerenciar ou retar-dar a resistência das plantas daninhas, uma vez que nenhuma estratégia será comple-tamente efetiva se aplicada isoladamente. “A diversidade é a chave da agricultura sustentável”, enfatizou Condon.

Para diversificar sua carteira de produ-tos a Bayer continua investindo em pesqui-sa e desenvolvimento de novos compostos. Em 2012 a empresa estava com 17 pedidos de aprovação de patentes e atualmente desenvolve uma nova classe de inibidores de HPPD que podem ser aplicados em pré e pós-emergência com doses mais baixas

que as utilizadas atualmente, explica Harry Strek, responsável pela pesquisa de plantas daninhas na Bayer CropScience Alemanha. “Será necessário, independentemente da tecnologia, diversificar produtos com modos distintos de ação”, explica.

sementesOutro pilar estratégico para o cresci-

mento da empresa nos próximos anos é o incremento dos negócios Seeds. A Bayer planeja reforçar ainda mais sua posição em cultivos estratégicos como hortaliças, arroz, colza e algodão e conquistar uma significativa participação nos mercados de soja e trigo.

“Continuaremos investindo em nosso negócio de soja por meio de aquisições estratégicas na América Latina, por exemplo, contribuindo assim para um

Charles Echer viajou para Monheim, Alemanha, a convite da Bayer CropScience

Condon anunciou que fábrica para produção exclusiva do glufosinato de amônio, nos Estados Unidos, será o maior investimento em construções da história da Bayer

Stübler abordou os problemas de resistência de plantas daninhas a herbicidas e a carência de soluções disponíveis no mercado

A Bayer está reforçando os investimentos em sementes, banco de germoplasma e estações de pesquisa

35www.revistacultivar.com.br • Outubro 2013

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36 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Oferta adequadaNa busca por alta produtividade na cultura do milho, a adubação nitrogenada tem papel

importante. Além da quantidade correta do nutriente, o manejo deve levar em conta aspectos como sistema de cultivo, nível tecnológico, tipo e fertilidade do solo, época de

semeadura, operacionalidade e retorno econômico

Elevadas produtividades de grãos de milho são possíveis a partir do conhecimento de fisiologia,

fenologia e manejo da cultura. Dentre os as-pectos ligados à construção e manutenção da produtividade por meio do manejo, destaca-se a adubação nitrogenada. A oferta mineral em quantidades e em estádios responsivos proporciona ótimos rendimentos, quando não se tem outros limitantes.

O nitrogênio é um elemento essencial para as plantas, com papel fundamental na constituição de biomoléculas e inúmeras enzimas, e constitui os amidos, ácidos nu-cleicos, nucleotídeos, ATP, NADH, clorofilas e proteínas. Este elemento está relacionado ao crescimento e rendimento das culturas, tendo participação importante na molécula de clorofila, que exerce funções regulatórias das reações de síntese, sendo que a escassez de nitrogênio afeta diretamente a capacidade fotossintética das plantas.

De acordo com as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, o nitrogênio está sujeito a perdas por lixiviação e volatização, ou ser absorvido pelas plantas ou ainda imobilizado pelos microrganismos do solo.

A oferta de nitrogênio no solo depende dos processos de mineralização e imobilização, cujo balanço de reações pode variar de acordo com o tempo, natureza dos resíduos depostos sobre a cobertura do solo e também de acordo com fatores bióticos e abióticos que envolvem o sistema.

A maior parte do nitrogênio absorvido pelas plantas é na forma de nitrato (NO3), e em menor quantidade na forma de amônia (NH3). No solo o nitrogênio torna-se dispo-nível para as plantas após sua liberação na solução do solo, por meio de processos de mineralização da matéria orgânica do solo. O elemento químico é então transportado até a superfície das raízes, onde é absorvido pelas plantas.

Dentro da célula vegetal o nitrogênio é transportado na forma de amônio para com-postos carbonados, onde fará parte de ami-noácidos, proteína, nucleotídeos, clorofilas e coenzimas. Também atuará como promotor do desenvolvimento e atividade radicular, es-timulando a absorção de outros nutrientes da solução do solo. Possui contribuição direta no aporte de carbono e nitrogênio via resíduos, uma vez que os dados existentes mostram

estreita relação entre a produtividade de grãos e matéria seca de resíduos.

Deve-se destacar que qualquer manejo nitrogenado empregado só será efetivo com a presença do elemento na solução do solo. O principal mecanismo de absorção de água e nutrientes pelas plantas é o fluxo de massa. Esse mecanismo é mais eficiente quando a oferta de água no solo é alta. Sendo assim, a condição hídrica do solo também é um fator consideravelmente importante, pois pode definir a eficiência da absorção de água e con-sequentemente da adubação nitrogenada.

A quantidade de nitrogênio absorvido pelo milho varia durante o ciclo da planta, em função da quantidade de raízes, da taxa de absorção por unidade de massa de raiz, dos condicionantes do ambiente e do estádio fenológico em que se encontra. Essa quan-tidade aumenta progressivamente durante a fase vegetativa, atinge o máximo no início do estágio reprodutivo e tem um decréscimo durante a fase de enchimento de grãos.

Um dos fatores limitantes à produtivi-dade da cultura do milho no Brasil é o baixo investimento e/ou manejo inadequado do nitrogênio. Esse elemento é, ao mesmo

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nitrogênio/ha podem reduzir o número de plantas por área. Nesses casos, o elemento pode comportar-se como tóxico para planta, em virtude do acúmulo de nitrato no solo (Ceretta & Basso, 2000), devido à demanda da planta ser pequena na fase inicial de desenvolvimento da cultura. Assim sendo, é importante que somente uma parte do nitrogênio seja ofertado na semeadura e o restante em cobertura.

A aplicação de altas quantidades do ele-mento está sujeita a maiores perdas, uma vez que a planta tem capacidade de assimilá-lo até certa quantidade. Acima de tal quantidade, o excesso será perdido por meio de processos que ocorrem no ambiente. Contudo, deve-se priorizar por duas aplicações em cobertura. A primeira deve ser feita, preferencialmente, quando a planta tem de três a quatro folhas verdadeiras e a segunda com cerca de sete a oito folhas verdadeiras. Nessas fases a exigên-

tempo, o absorvido e exportado em maior quantidade pela cultura. Também o de maior dificuldade para avaliar sua disponibilidade no solo e de manejo mais complexo, devido às diversas reações químicas e biológicas que envolvem o elemento no solo. Estudos realizados demonstram que 11% a 18% do nitrogênio aplicado na forma química é aproveitado pela parte aérea da planta. O aproveitamento dos grãos varia de 34% a 47% e a maior quantidade é retida ou perdida no solo, nos processos de lixiviação e volatiliza-ção (Bastos et al, 2008).

Melhores rendimentos na cultura do milho são obtidos quando a adubação nitro-genada é parcelada. Os solos, em geral, não suprem a demanda da cultura em termos de nitrogênio. O parcelamento da adubação nitrogenada é importante e, assim sendo, deve ser pensado e manejado de maneira distinta entre os diferentes ambientes de

produção agrícola, e não recomendado e manejado de maneira única e generalizada. Um importante aspecto (se não o mais) é o quanto de nitrogênio é necessário aplicar, em determinada situação, para que se atinja o nível produtivo condizente com o nível tecnológico empregado. Fatores como tipo e fertilidade do solo, época de semeadura (safra ou safrinha), rotação de culturas, operacio-nalidade e, talvez o aspecto mais importante, o retorno econômico, são critérios que fazem grande diferença na tomada de decisão.

A aplicação de todo o nitrogênio em se-meadura não é uma prática que se recomen-da, principalmente em virtude dos problemas que o excesso do nutriente causa ao estande de plantas. Embora a quantidade de adubo a ser aplicado seja variável de uma área para outra, pode se considerar que doses de até 30kg/ha podem ser utilizadas em adubações de base. Adubações superiores a 38kg de

A quantidade de nitrogênio absorvido pelo milho varia durante o ciclo da planta

Um dos fatores limitantes à produtividade de milho no Brasil se refere ao manejo nutricional inadequado

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38 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

cia e a absorção de nitrogênio pelas plantas são mais intensas.

A rotação de culturas, dentre outro as-pectos, também exerce importante influência sobre a adubação nitrogenada. Situações onde o cultivo antecessor ao milho deixa so-bre a superfície uma palhada com alta relação C/N, o nitrogênio presente nesta palhada é de difícil mineralização pelos microrganis-mos. Nestes casos, como tomada de decisão pode-se parcelar a adubação de cobertura em três aplicações, antecipando a primeira para quando a planta de milho estiver com três folhas expandidas. Na sequência, a segunda e a terceira aplicação de cobertura deverão ser realizadas quando o milho tiver cinco e oito folhas expandidas, respectivamente.

Segundo Rodriguez et al (2009), em média 50% a 60% do nitrogênio aplicado é aproveitado pela planta, o que justificaria, também, a necessidade do parcelamento da adubação para a melhor absorção pela planta, bem como, para reduzir suas perdas. Consi-derando-se um aproveitamento por parte da planta de 60% de nitrogênio aplicado no solo, seria necessária uma adubação na ordem de 200kg de nitrogênio por hectare para obter uma produção de 16 toneladas de massa seca (8t de grãos a 10t de grãos). Para cada tonelada de grão produzida, o milho requer, aproximadamente, 20kg de nitrogênio por hectare a mais (Pavinato et al, 2008).

Pesquisas realizadas por Coelho et al (1992) indicam que a concentração de ni-trogênio na parte aérea (grão e palhada do milho), para produções máximas, é de 1,18% e 1,06%, respectivamente. Pela quantidade de nitrogênio exportado pelos grãos, em média superior a 100kg de nitrogênio por hectare, sugere-se a necessidade de enfatizar práticas de manejo do solo, de culturas e de

fertilizantes nitrogenados que, além de apor-tar quantidade adequada deste nutriente ao milho, proporcionam a manutenção do seu estoque e do potencial produtivo do solo em longo prazo.

Assim como a cultura da soja, o milho é cultivado ocupando a maior parte das áreas destinadas à agricultura no mundo. Porém, na soja o manejo nitrogenado é facilitado em virtude da grande quantidade de nitro-gênio atmosférico que é fixado por meio da simbiose com bactérias do gênero Bradyrizo-bium. Pesquisas vêm sendo realizadas com o objetivo de descobrir outros microrganismos que possam associar-se a milho e outras gra-míneas, fixando nitrogênio do ar, reduzindo os custos de produção e contaminação do ambiente.

A partir de uma série de estudos, o Mi-nistério da Agricultura Pecuária e Abasteci-mento (Mapa) permitiu o uso das bactérias

Azospirillum brasiliense na formulação de inoculantes para as culturas do milho e do trigo. Descritas como organismos diazo-tróficos associativos, essas bactérias fixam nitrogênio do ar, à semelhança do que ocorre na soja, porém, sem a formação de nódulos nas raízes. O nitrogênio por elas fixado ocorre em menor quantidade que o fixado pelas bactérias do gênero Bradyrizobuim, não sendo capazes de fixar a grande quantidade do nutriente requerido para o alcance de elevadas produtividades.

Na Argentina foram conduzidos vários ensaios testando Azospirillum brasiliense em milho. Em aproximadamente 85% dos en-saios, a resposta na produtividade foi positiva, sendo o aumento médio de produtividade de 472kg/ha. Sendo assim, são importantes dentro do manejo da cultura, uma vez que além de propiciarem ganhos em produtivida-de, têm potencial de reduzir a quantidade de nitrogênio aplicado, reduzindo, consequen-temente, os custos de produção.

Outro aspecto importante no que diz respeito ao planejamento da lavoura é a defi-nição dos híbridos. Atualmente, a tendência é a escolha por híbridos de milho com o ciclo mais curto, objetivando ajustar três ciclos de culturas no ano. Isso faz com que as plantas sejam mais sensíveis a estresses do ambiente (bióticos e abióticos). Em geral, ciclos mais curtos são mais exigentes, pois o período de absorção é menor, bem como a necessidade ocorre de forma mais rápida. Geralmente a característica de ciclos mais curtos é inserida em híbridos simples, que são mais respon-sivos ao manejo, proporcionando maiores produtividades.

O manejo do nitrogênio para a produção de grãos de milho deve ser feito levando em consideração aspectos como sistema cultivo, nível tecnológico, tipo e fertilidade do solo, época de semeadura, operacionalidade, rota-ção de culturas e retorno econômico. O sis-tema de rotação deve priorizar que a cultura antecessora, preferencialmente, tenha baixa relação C/N em sua palhada. Essa relação C/N da palhada tem grande influência no manejo, uma vez que em virtude dela o par-celamento da cobertura de nitrogênio pode ser em número de duas ou três. A aplicação de cobertura deve ser feita sempre através do monitoramento dos estádios fenológicos responsivos, bem como buscar condições ideais de umidade do solo. Além disso, o uso da fixação biológica de nitrogênio por Azospirillum brasiliense pode ser inserida no sistema, pois apresenta resultados positivos para a produtividade.

Lavoura de milho com sintomas de deficiência de nitrogênio, elemento nutricional cuja oferta inadequada resulta em perdas de produtividade

Elevadas produtividades são possíveis a partir do conhecimento de fisiologia, fenologia e manejo

Thomas Newton Martin, Vinícius dos Santos Cunha eFabricio Picada Bulcão,UFSM

CC

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Page 40: Grandes Cultura - Cultivar 173

40 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANpII

uso correto

Quem acompanha corridas de Fórmula 1 com toda a certe-za já viu um daqueles carros

com a mais sofisticada tecnologia, com todos os recursos para correr muito, fazer curvas a mais de 200km/h, bater no muro de pneus logo nas primeiras curvas por imperícia do piloto. Muita gente também já ligou aparelhos de última geração na corrente 220V quando o aparelho era 110V, queimando-o de imediato. Re-sumindo: não adianta ter um excelente produto se ele for mal usado.

Com relação ao inoculante, pode ocorrer a mesma coisa. A pesquisa brasi-leira selecionou ao longo dos últimos 40

excêntrico ou em betoneira. Em proprie-dades maiores pode-se usar máquinas desenvolvidas para tal finalidade, sendo que estes equipamentos contêm duas caixas em linha, sendo a primeira para se colocar os produtos que vão compor o tratamento das sementes (fungicidas, inseticidas etc) e a segunda caixa con-tém o inoculante. Este é um cuidado fundamental: nunca misturar em um mesmo recipiente, na mesma calda, o inoculante com os demais produtos. Atu-almente foram desenvolvidos diversos equipamentos para fazer a inoculação, em diversos formatos e tamanhos. Outro cuidado fundamental é o de realizar a semeadura o mais rapidamente possível após a inoculação. As bactérias permane-cendo longo tempo sobre a semente seca e em contato com os agroquímicos vão morrendo em grande quantidade, o que compromete a formação de nódulos.

Outra técnica, altamente eficaz e que tem ganhado terreno entre agricultores é a inoculação no sulco. Existem hoje equipamentos desenvolvidos especifi-camente para esta finalidade, altamente eficazes, que permitem colocar o inocu-lante no sulco, justamente em cima das sementes, no momento da semeadura. Neste caso, deve-se utilizar três doses

Solon de Araujo Consultor da ANPII

colher de sopa de açúcar em um copo de água), espalhar sobre as sementes já na caixa e fazer uma rápida mistura. Com isto, o número de sementes inoculadas vai ser bem maior do que se simples-mente jogar o inoculante na caixa, sem nenhuma mistura.

Sementes tratadas industrialmente e que já venham inoculadas ainda não tiveram seu uso aprovado pelos órgãos de pesquisa. Ainda não existe tecno-logia para manter bactérias vivas em sementes tratadas por longos períodos. É importante que o agricultor busque informações confiáveis sobre este assunto junto aos órgãos de pesquisa e assistência técnica.

Enfim, o fundamental é que o agri-cultor tenha plena noção da importância do nitrogênio para sua cultura e de que o inoculante é o fornecedor deste nutrien-te. Tendo isto em vista, que deve sempre tomar todos os cuidados para utilizar corretamente o produto, fazendo com que atenda plenamente à sua finalidade, cujo principal objetivo é aumentar a produtividade.

Tal qual ocorre com um supercarro dirigido por motorista imperito ou com um excelente equipamento ligado à corrente elétrica errada, o emprego incorreto compromete o desempenho da Fixação Biológica de Nitrogênio

CC

O Brasil é hoje reconhecido internacionalmente como o país da Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN)

anos cepas de bactérias da mais elevada eficiência, capazes de fixar centenas de quilogramas de nitrogênio por hectare, suprindo totalmente a planta com este nutriente. Por sua vez, as empresas produtoras deste insumo desenvolveram tecnologias cada vez mais aprimoradas e adquiriram equipamentos de mi-crobiologia industrial com controles e com periféricos que permitem produzir inoculantes de qualidade internacional, oferecendo ao agricultor o melhor pro-duto para incrementar a produtividade das lavouras de leguminosas. O Brasil é hoje reconhecido internacionalmente como o país da Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN), não só pelo amplo uso de inoculantes, mas também pela qualidade destes produtos comerciali-zados no país.

Entretanto, na ponta, na lavoura, é importante que o agricultor use os inoculantes de forma correta. Abaixo algumas informações sobre como tirar o máximo proveito das bactérias altamente eficazes contidas em um pacote ou sachê de inoculante:

1 – Tenha sempre em conta que o inoculante é um produto vivo, que contém bactérias viáveis e que têm que ser mantidas neste estado até a hora do

uso. Portanto, não deixe as embalagens no sol, procure sempre armazenar em local mais fresco.

2 – Inocular é misturar as bactérias em cada uma das sementes que vão ser semeadas. Desta forma, uma mistura das sementes com o inoculante é fundamen-tal para o sucesso da operação. A maneira de fazer esta mistura varia muito. Em pequenas propriedades pode-se fazer a mistura de forma manual, em uma lona ou caixa. Se o inoculante for líquido basta misturá-lo com as sementes e se for em pó, pode ser diluído em água para faci-litar a mistura e a aderência. A mistura também pode ser feita em tambor de eixo

de inoculante por hectare, diluindo-se em 50L de água.

Com o advento de sementes trata-das industrialmente, que chegam ao agricultor com fungicidas, inseticidas, polímeros colocados na semente, muitos produtores passaram a usar a inoculação diretamente na caixa da semeadeira. Esta prática não é a ideal, pois o ino-culante colocado sobre uma grande quantidade de sementes não vai aderir e muitas sementes irão ficar sem inocu-lante. Entretanto, como a prática vem crescendo muito, pode ser melhorada com pequenos cuidados: pode-se diluir o inoculante em água açucarada (uma

Page 41: Grandes Cultura - Cultivar 173

De acordo com a FAO a agropecuária mundial ocupa 1,5 bilhão de hectares, 70% dos quais devotados à pecuária – que exigem sempre inovações tecnológicas para incremen-tar sua produtividade. Embora os estudos da FAO indiquem disponibilidade de terra arável para expansão equivalente à cultivada, diversas restrições devem ser colocadas, como: a) as terras mais férteis, de topografia mais adequada e mais bem localizada, já foram ocupadas; b) porção considerável das novas áreas é arável apenas mediante irrigação; c) grande parte da área de expansão situa-se na África, com severas restrições para sua incorporação ao sistema produtivo, em larga escala, nos próxi-mos 30 anos; d) a sociedade mundial pressiona por políticas ambientais cada vez mais rígidas, intensificadas pelos impactos das Mudanças Climáticas Globais.

Até 2050 haverá necessidade de expandir a produção mundial de alimentos em mais de 60%. Dificilmente, será possível incorporar, especificamente para produção de alimentos, mais de 20% da área atual (cerca de 300 mi-lhões de hectares), considerando que também haverá pressão para aumento da área para outros produtos agrícolas. Logo, impõem-se

do comércio internacional. Esta conquista se reverterá em maior ingresso de divisas, mais renda e mais empregos no campo, interio-rização do desenvolvimento e formação de capital para investimentos em outros setores da economia nacional.

A celeridade e a intensidade exigidas do processo não permitem uma atitude de lais-sez faire, deixando ao sabor das pressões de mercado as mudanças necessárias, tornando-se imperiosa a proatividade de políticas públicas que balizem o rumo correto. Nesse cenário, será fundamental existir uma rede de inteligência estratégica do agronegócio, que trace cenários; mapeie a oferta e a demanda de produtos agropecuários; antecipe rumos, tendências, ameaças e oportunidades; perceba precocemente os movimentos de clientes e de concorrentes; vislumbre as propostas de polí-ticas públicas ou normativas de outros países ou de órgãos internacionais. Esta rede tanto servirá ao governo brasileiro, como forma de modernizar e adequar as políticas públicas, como orientará o setor privado quanto às demandas futuras.

Serão imprescindíveis ferramentas da fronteira da Ciência, como biologia sintética,

A agropecuária do século 21 terá duas marcas: sustentabilidade e inovação tecnológica. A susten-

tabilidade pressupõe que o agricultor obterá rentabilidade da exploração agrícola, minimi-zando os impactos ambientais e cumprindo a sua função social. Já as inovações tecnológicas, além de conferirem sustentabilidade à produ-ção, permitirão que esta cresça a taxas supe-riores ao incremento populacional. A maior característica da tecnologia do século 21 será a sua estonteante dinâmica, pois paradigmas dominantes serão superados por inovações mais eficientes, em períodos de tempo cada vez mais curtos.

Esse século emulará os anteriores, pois as inovações tecnológicas têm sido a alavanca do desenvolvimento da agropecuária, responsável pela segurança alimentar, pela qualidade de vida, pelo progresso das Nações e por parcela ponderável da geração de renda. Assim como no passado, o futuro reservará as melhores oportunidades para quem dispuser de tecno-logia no estado da arte, com maior competitivi-dade, menores custos e qualidade mais elevada, sinônimos de sustentabilidade.

Além de alimentos, a sociedade espera

da agricultura energia, plantas ornamentais e flores, madeira, princípios medicinais, insumos químicos, entre outros. Também almeja servi-ços ambientais, como sequestro de carbono, preservação da biodiversidade ou garantia de água limpa e pura. Como tal, multiplicam-se os desafios e as oportunidades de negócios e de renda do agronegócio.

proDutiviDaDeAté 2050, a população mundial aumentará

em mais de três bilhões de pessoas, além da inclusão no mercadodos atuais um bilhão de pessoas com insegurança alimentar, exigindo uma ampliação dramática da produção de alimentos e de energia limpa: em 40 anos pro-duziremos mais alimentos que nos cinco mil anteriores! A pressão pela proteção ambiental, associada à preocupação com as Mudanças Cli-máticas Globais, impõe um aumento acelerado da produtividade, em contraposição à expansão de área. O esgotamento das fontes de energia fóssil e o impacto ambiental negativo por elas causado exigem uma nova matriz energética mundial, onde a energia da biomassa será protagonista, viabilizada com a aceleração do ritmo de geração de inovações tecnológicas.

ganhos de produtividade superiores a 33%, o que exige ações imediatas para evitar as consequências alternativas, como a oferta de alimentos inferior à demanda ou os impactos ambientais indesejáveis do avanço desordena-do da fronteira agrícola. Paralelamente, duas ou três colheitas na mesma área e no mesmo ano agrícola, contribuirão para refrear a expansão da fronteira agrícola.

O Brasil, pelas suas vantagens compa-rativas e pela expectativa de que venha a ser o grande provedor de alimentos do mundo, deverá elevar sua produtividade muito acima de 33%, para compensar ganhos menores em áreas onde a produtividade já é muito alta ou onde permanecerá baixa, impondo um incre-mento na geração de novas tecnologias.

proativiDaDeDesta análise resulta que o Brasil é o país

com maior potencial de capturar as oportuni-dades que se descortinarão para o agronegócio, nas próximas décadas, postas as suas vantagens comparativas. Nosso principal desafio será transformá-las em competitividade, sendo a inovação a pedra angular para que o Brasil se torne o grande player global da produção e

nanotecnologia ou tecnologia da informação, gerando inovações que permitam maior capa-cidade de extração e melhor aproveitamento dos nutrientes pelas plantas cultivadas; a fixação biológica do nitrogênio por um número crescente de espécies cultivadas; a otimização da transformação da radiação solar em fotos-sintatos; a tolerância ou resistência a estresses bióticos (pragas) ou abióticos (clima e solos adversos); melhoria dos índices zootécnicos (taxa de lotação, desfrute e idade para abate), entre outras prioridades.

Também serão exigidos investimentos em processamento de produtos agrícolas e melho-ria de processos de transformação de biomassa em alimentos ou energia, com alta eficiência energética e alta qualidade, minimizando as emissões de gases de efeito estufa.

Em conclusão, é preciso entender a demanda social por sustentabilidade e alinhar todas as condições para que o agro-negócio brasileiro seja incontestavelmente sustentável.

Coluna Agronegócios

41www.revistacultivar.com.br • Outubro 2013

mirando o futuro

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

CC

Além de alimentos, a sociedade espera da agricultura energia, plantas ornamentais e flores, madeira, princípios medicinais, insumos químicos, entre outros

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Coluna mercado Agrícola

crescimento da demanda de alimentos obriga busca de novos fornecedores

TRIGO - O mercado do trigo brasileiro sofreu fortemente com o clima neste ano, com registro de perdas por conta da geada em várias ocasiões. A produção não deverá chegar a quatro milhões de toneladas, as importações poderão alcançar a marca de oito milhões de toneladas e isso faz com que as cotações do grão interno venham a operar entre R$ 800,00 e R$ 1.000,00 por tonelada, com apelo positivo para os produtores que tiveram trigo para comercializar.

algodão - O mercado mostrou estabilidade em setembro, em função da chegada ao final da colheita brasileira e dos produtores terem pluma para vender. A expectativa é de que de agora em diante haja reação interna. O Brasil terá de importar algodão, o que privilegiará cotações melhores, com estímulo para aumentar a área plantada, que deverá avançar na Bahia e no Mato Grosso, com pontos de outros estados também crescendo. Há boas expectativas de cotações aos produtores.

chIna - As compras de grãos seguem aquecidas, sendo que para atender à demanda crescente do setor de ração, os chineses têm comprado grandes volumes de DDG dos EUA. Esse resíduo, que sobra no processo da produção do etanol do milho, é um produto de alta proteína e de valor maior do que o próprio milho, fazendo

milhoGoverno apoiou pouco A safrinha fechou com recorde de colheita,

mesmo com plantio tardio, houve chuvas além do período normal. Desta forma a produção foi a maior da história. O Mato Grosso chegou próximo de 22 milhões de toneladas, contra apenas sete milhões de toneladas colhidas em 2011. O estado entrou forte na linha da produção e agora, mesmo com cerca de 12,5 milhões de toneladas negociadas até a metade do mês de setembro, ainda restam mais de nove milhões de toneladas para serem negociadas até o próximo ano. Há mais milho no Mato Grosso para ser comercializado do que o volume colhido em 2011. A presença do governo neste ano se deu via Opções com aproximadamente 2,5 milhões de toneladas em contratos e mais de 6,5 milhões de toneladas em contratos de Pepro. O apoio ao setor produtivo teve volumes abaixo do que os produtores esperavam e como o governo sabe que o milho afeta a inflação e no ano passado esteve escasso e com cotações em alta, puxou os custos do setor de car-nes, ovos e leite. Com isso, tem limitado o apoio ao cereal. A reação dos produtores tem sido observada neste plantio de verão, que deve cair cerca de 20%, não devendo ultrapassar a faixa dos cinco milhões de hectares frente a mais de 6,2 milhões de hecta-res plantados na safra de verão passada. Este fato pode ser positivo para as cotações à frente, porque a demanda continua aquecida. O fundo do poço do mercado do milho está superado e tudo indica que a partir de agora haverá avanços positivos.

sojaEntressafra mantém indicativos firmesO mercado da soja no Brasil seguirá firme, mesmo

com o avanço da colheita da safra dos EUA que se dará em outubro e normalmente serve para pressionar as co-tações para baixo. No Brasil haverá pouca soja para ser comercializada nos próximos meses, com boa demanda para farelo e óleo e apelo para manter os indicativos firmes. Os negócios com a safra nova andaram neste ano em ritmo menor que nos anteriores, chegando próximo dos 40% até final de setembro. A expectativa é de crescimento em outubro, porque os produtores esperam cotações maiores para o grão, o que poderá se concretizar somente com apelos positivos a partir do final do ano. As notícias que chegam da China continuam apontando para forte demanda e apelo positivo para as cotações.

feijãoColheita em fechamento e mercado crescendo O mercado do feijão registrou aumento da oferta

em setembro devido à colheita do produto irrigado dos estados centrais. Com isso, as cotações desceram a níveis de R$ 110,00 a R$ 120,00. Em outubro haverá pouca entrada de feijão novo, o que deve voltar a puxar os indicativos para cima, com espaço para alta, com preços acima de R$ 150,00 para o feijão Nobre. Com pouco produto esperado para os próximos 60 dias devem ocorrer correções nos valores. A safra do Nordeste já está diminuindo e nestas próximas semanas não haverá ofertas. Com isso os compradores da região deverão ir em busca do produto nos estados centrais e em São

Paulo, onde ainda deve haver uma ou outra lavoura em colheita. Os produtores paulistas foram prejudicados pelo clima neste ano e terão pouco feijão para ofertar.

arroZPouco movimento das indústrias e governo atrapalhandoO mercado do arroz andou pouco em setembro,

com os exportadores mostrando bom ritmo nas vendas externas. Mas como o dólar perdeu ritmo no período, os novos negócios para entrega futura também desace-leraram. Mesmo assim, os embarques seguiam em bom ritmo. Enquanto isso, no mercado interno, o governo novamente prejudicou os produtores, porque voltou a vender estoques, segurando as cotações, que ficaram entre R$ 33,00 e R$ 37,00 para o Casca de boa qualidade disponível. Houve lentidão de compradores, porque muitas indústrias atuaram no pregão da Conab, que vendeu mais de 45 mil toneladas no período e serviu de calmante para as cotações. Como o plantio está andando, parte dos produtores vende arroz para fazer caixa e com-prar insumos, como diesel, e este fato limitava ganhos nos indicativos. Foi um período de calmaria e que pode mudar de novembro em diante, quando se aguarda nova onda de alta, mas sem expectativa de fortes avanços, porque o governo tem mais de 980 mil toneladas em estoque e usará para segurar a alta e também para fazer caixa. Com isso, limitará bons ganhos dos produtores. O setor terá mais de 400 mil hectares de soja em áreas dominadas pelo arroz, fato que pode ser bom para o mercado orizícola em 2014, pois dará mais liberdade comercial aos produtores.

CURTAS E BOAScom que os chineses comprem em ritmo acelerado. A boa notícia da China veio das importações de soja em agosto, quando o país comprou 6,37 milhões de toneladas e acumulou no ano 41 milhões de toneladas. Ainda restam bons meses pela frente para as novas importações e agora vêm as compras da soja americana que começará a ser entregue em outubro. O país asiático segue comprando forte para atender à demanda crescente de alimentos. Neste último mês comprou milho e trigo no leste europeu, milho na Argentina, sorgo, milho e soja nos EUA e arroz na Tailândia. E deverá continuar comprando, fato que garante liquidez no mercado mundial de grãos. Outra boa notícia surge para os produtores de feijão do Brasil, porque chineses terão menos para exportar de agora em diante e buscarão cotações maiores.

meRcOsul - Os primeiros indicativos da safra apontam que a Argentina vem sofrendo novamente com o clima, com seca em lavouras de trigo e prejuízos ao plantio do milho, que está atrasado. Esse cenário pode favorecer o aumento das áreas de soja em detrimento do milho, que corre riscos de ter área menor que a apontada até então e não colher as 26 milhões de toneladas estimadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Consequentemente, a safra de soja pode superar as 55 milhões de toneladas.

42 Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

O mercado mundial de alimentos tem mostrado crescimento constante no consumo. Países como a China concentram avanços como consumidores e não há indicativos de que esse panorama vá mudar nos próximos anos, o que exige a busca de novas alternativas de fornecedores. Neste momento há uma verdadeira corrida por terras agricultáveis na África. Em setembro houve apontamentos de acordo da China com a Ucrânia para a produção de grãos, como milho e trigo. Os ucranianos têm solo de alta fertilidade e alto potencial produtivo para estes dois alimentos. Dessa forma, a China vai abrindo o leque de fornecedores, que até pouco tempo atrás se resumia apenas aos EUA, depois cresceu para o Brasil e a Argentina, entrando no Uruguai e no Paraguai. Agora os chineses buscam novas fontes de alimentos, porque temem ficar atrelados somente a mercados como o brasileiro. Um dos principais temores se refere à instabilidade política. Isso porque para quem vê o Brasil de fora não o diferencia muito do que ocorre com outros países da América do Sul, como Venezuela, Bolívia, Argentina, caracterizados por governos centralizadores, que dificultam o avanço econômico e limitam exportações. Desta forma, os chineses estão indo em busca de novas alternativas, sob o argumento de que o Brasil está a cada dia mais engessado, com as questões ambientais, com grande parte do país impedido de ser utilizado para a agricultura. A Ucrânia é uma das alternativas, onde se pode plantar entre três e cinco milhões de hectares nos próximos anos e atender parte da demanda crescente que os chineses apresentam. Há opções também na África. Em Uganda, por exemplo, os chineses estão concentrando investimentos em uma fatia de terras do Norte do país, que estavam abandonadas. Correm em busca de garantia de abastecimento de alimentos, porque sabem que estão perdendo área agrícola ano a ano. Além disso, o clima tem trazido problemas crescentes para a produção de alimentos. O inverno tem chegado mais cedo, com nevascas se alongando, depois passando por fase de seca e quando as chuvas chegam, vem com tempestades e inundações. Esse cenário climático tem se tornado uma constância na Ásia e prejudica a produção de alimentos, o que obriga a busca por alternativas. Este fato tende a trazer apelo positivo para o Brasil seguir crescendo nas exportações em médio e longo prazo. Os EUA tendem a aumentar a demanda interna de milho para etanol e desta forma haverá menos grãos para exportar nos próximos anos, o que obrigará os compradores a irem em busca de novos fornecedores.

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