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Evanildo Bechara Maria Helena Mira Mateus Mário Perini Maria Helena de Moura Neves José Carlos Azeredo Ataliba Teixeira de Castilho Marcos Bagno com a palavra, os autores GRAMÁTI CA S contemporâneas do Português organização Maria Helena de Moura Neves Vânia Cristina Casseb-Galvão

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Esta obra é o registro de um encontro inusitado: a reunião dos autores de obras contemporâneas nomeadas como “gramáticas” da língua portuguesa do Brasil: Ataliba Tei-

xeira de Castilho, Evanildo Bechara, José Carlos Azeredo, Mar-cos Bagno, Maria Helena de Moura Neves, Mário Perini. Para representar a gramática contemporânea da língua portuguesa em Portugal, foi convidada Maria Helena Mira Mateus. Todos esses “gramáticos” foram instados por Maria Helena de Moura Neves a completar a frase “Eu defino minha gramática como...”. Ao mesmo tempo, Marli Quadros Leite foi convidada a comentar o “curso” dessas gramáticas (uma visão histórica) e Francisco Platão Savioli foi convidado a comentar o “percurso” dessas gramáticas nas ações escolares (uma visão educacional).

Deu-se voz às diversas tendências hoje presentes no cenário bra-sileiro de obras gramaticais de referência, algumas das quais re-presentam histórica ruptura, de maior ou menor peso, na tradição das gramáticas do português brasileiras.

É certo que o resultado desse encontro merece um registro edi-torial, contribuição à história da língua portuguesa. Os estudio-sos, os professores, os estudantes, os amantes da língua portuguesa com certeza se valerão dele.

Maria Helena de Moura neves

vânia Cristina Casseb-Galvão

[orGanizadoras]

ISBN: 978-85-7934-086-4

9 7 8 8 5 7 9 3 4 0 8 6 4

As gramáticas objeto deste estudo fo-ram publicadas, em sua quase totalida-de, a partir de 1980. E as práticas pe-dagógicas relativas ao ensino de língua portuguesa não ficaram indiferentes às publicações dessas gramáticas de base linguística. Embora ainda inexistam dados para uma comprovação científi-ca dessa hipótese, é possível sustentá-la com argumentos plausíveis. Um deles pode ser extraído da comparação en-tre o ensino do português em período anterior e em período posterior a ela. É possível identificar três estágios dis-tintos nesse percurso:

O 1º estágio, localizado entre meados de 1960 e fins de 1970, é o momento mais inexpressivo do ensino da gramáti-ca. O conceito de língua era provincia-no, exposto por meio de noções vagas: patrimônio nacional, herança da latini-dade, garantia da unidade nacional etc. A gramática era a guardiã dessas dádi-vas; o gramático, o legislador.

O 2º estágio é um período de tran-sição e de contrastes, que pode ser situado no intervalo entre o início da década de 1980 e fins da década de 1990. Com os cursos de linguística já implantados, consolidou-se uma re-ação contra o estado de coisas carac-terístico do estágio anterior. Já em fins de 1970, começara um movimento de análise crítica das gramáticas tradicio-nais, pondo à mostra suas limitações e propondo superação.

Já começam a surgir gramáticas ins-piradas nas novas conquistas teóricas da linguística e dos estudos linguísti-cos em geral. Nesse intervalo (de 1980 a 2000 aproximadamente), nota-se um avanço sensível da produção aca-dêmica, à procura de uma descrição abrangente e confiável da língua em funcionamento.

O 3º estágio é o tempo da consolida-ção de mudanças sustentáveis: a partir do ano 2000, os fundamentos das gra-máticas baseadas em teorias linguísti-cas foram acolhidos com entusiasmo por grande parte dos responsáveis pelo ensino da língua portuguesa. Esse au-mento de adesão às novas propostas não é mera coincidência, assim como não é casual a concomitância da gran-de receptividade que pôde ser observa-da. A revisão crítica, que mal se mos-trava nos anos 1960, teve o seu ciclo de gestação completado, encontrando condições favoráveis ao seu nascimen-to. Vivemos esse momento, que este livro retrata sem congelar.

Evanildo Bechara

Maria Helena Mira Mateus

Mário Perini

Maria Helena de Moura Neves

José Carlos Azeredo

Ataliba Teixeira de Castilho

Marcos Bagno

com a palavra, os autores

GRAMÁTICAS contemporâneas

doPortuguês

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Maria Helena de Moura NevesVânia Cristina Casseb-Galvão

Gramática contemporanea_capa.indd 1 14/03/14 08:31

Direitos reservados àParábola EditorialRua Dr. Mário Vicente, 394 - Ipiranga04270-000 São Paulo, SPpabx: [11] 5061-9262 | 2589-9263 | fax: [11] 5061-8075home page: www.parabolaeditorial.com.bre-mail: [email protected]

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda.

ISBN: 978-85-7934-086-4

© do texto: Maria Helena de Moura Neves & Vânia Cristina Casseb-Galvão, 2014. © da edição: Parábola Editorial, São Paulo, abril de 2014.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

G771Gramáticas contemporâneas do português : com a palavra, os autores

/ Evanildo Bechara ... [et. al.] ; organização Maria Helena de Moura Neves, Vânia Cristina Casseb-Galvão ; Marli Quadros Leite ; Francisco Roberto Platão Savioli. - 1. ed. - São Paulo : Parábola Editorial, 2014.

160 p. ; 23 cm.

Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-7934-086-4

1. Língua portuguesa - Gramática. I. Bechara, Evanildo, 1928-. II. Neves, Maria Helena de Moura. III. Galvão, Vânia Cristina Casseb, 1965-. IV. Leite, Marli Quadros. V. Savioli, Francisco Roberto.

14-09803 CDD: 469.5 CDU: 811.134.3’36

Capa e projeto gráfiCo: Telma Custódio

revisão: Karina Mota Banco de imagens - 123RF

Sumário • 7

Sumário

Apresentação ....................................................................................................................................9

Parte IOs gramáticos e suas obras

Capítulo 1. Para quem se faz uma gramática? ............................................................... 19Evanildo Bechara

Capítulo 2. Defino nossa obra gramatical como… .......................................................31Maria Helena Mira Mateus

Capítulo 3. Defino minha obra gramatical como a tentativa de encontrar resposta às perguntas: por que ensinar gramática? Que gramática ensinar? .......48Mário Perini

Capítulo 4. Defino minha obra gramatical como… .....................................................68Maria Helena de Moura Neves

Capítulo 5. Como defino a Gramática Houaiss da língua portuguesa, de minha autoria .........................................................................................................................80José Carlos de Azeredo

8 • Gramáticas contemporâneas do português: com a palavra, os autores

Capítulo 6. Sobre a Nova gramática do português brasileiro ......................................86Ataliba T. de Castilho

Capítulo 7. Uma gramática propositiva .............................................................................91Marcos Bagno

Parte IIComentários

Capítulo 8. Tradição, invenção e inovação em gramáticas da língua portuguesa — séculos XX e XXI .....................................................................115Marli Quadros Leite

Capítulo 9. O percurso das gramáticas nas ações escolares ................................. 134Francisco Platão Savioli

Referências bibliográficas ..................................................................................................... 153

Minibiografias .............................................................................................................................157

Apresentação • 9

Apresentação

Esta obra apresenta o resultado de um encontro inusitado, memorável, histórico: a reunião, no formato de mesa-redonda, dos autores de obras contemporâneas nomeadas como “gramáticas” da língua portuguesa do Brasil: em ordem alfabética, Ataliba Teixeira de Castilho, Evanildo Be-chara, José Carlos Azeredo, Marcos Bagno, Maria Helena de Moura Ne-ves, Mário Perini. Para representar a gramática contemporânea da língua portuguesa em Portugal, foi convidada, ao lado dos autores brasileiros, a autora de gramática Maria Helena Mira Mateus. Todos esses “gramáticos” foram instados, pela coordenadora da mesa, Maria Helena de Moura Ne-ves, a completar a frase “Eu defino minha gramática como…”. Ao mesmo tempo, “comentaristas” foram convidados para falar do “curso” dessas gramáticas (numa visão histórica) e do “percurso” dessas gramáticas nas ações escolares (numa visão educacional).

Logo, trata-se de uma iniciativa absolutamente única. Em primeiro lugar, pela própria motivação: foram considerados todos os autores que publicaram (pelo menos) um livro a que denominaram “Gramática” (e são de diferentes tipos e orientações teóricas!), e lhes foi pedida a defi-nição (“de próprio punho”) da obra. Eles atuaram como gramaticógrafos

10 • Gramáticas contemporâneas do português: com a palavra, os autores

(historiógrafos gramaticais) de si mesmos, o que é singular. Em segundo lugar, e em consequência do que já foi dito, temos um livro documental, histórico: qualquer estudioso que, em qualquer época, fizer um trabalho de historiografia linguística sobre qualquer das gramáticas em questão terá de passar pelo que cada um dos autores disse — ele próprio — a res-peito de sua obra.

Essa verdadeira “maratona gramatical”, que se desenvolveu em apro-ximadamente cinco horas, no dia 3 de julho de 2013, integrou a progra-mação do IV Simpósio Mundial de Estudos de Língua Portuguesa (IV SIMELP), realizado na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, GO, Brasil, de 2 a 5 de julho de 2013.

Ouvir os autores a respeito do processo de elaboração de suas res-pectivas gramáticas já era suficiente para justificar o encontro e, conse-quentemente, esta publicação. No entanto, devido à relevância do corpo de conhecimento que elas delineiam, era uma oportunidade ímpar de discutir o seu curso e o seu percurso, perante uma plateia interessada de cerca de 2.500 pessoas, que incluía pesquisadores altamente especializa-dos. Curso e percurso são entendidos, respectivamente, como a trajetória histórico-epistemológica que essas obras representam e o impacto dessas gramáticas nas ações escolares (numa visão de ensino de língua portu-guesa como L1), especialmente quanto a seu processo de elaboração. Essa dupla condução justifica a presença de dois comentaristas desse repertó-rio gramatical, Marli Quadros Leite e Francisco Platão Savioli, tratando, respectivamente, do curso e do percurso. Aos comentaristas ofereceu-se, para que a completassem, a seguinte frase: “Eu interpreto o conjunto (e o papel) dessas gramáticas, no campo que me cabe comentar, como…”.

A atenção ao “curso” histórico das obras determinou a organização das falas dos autores segundo a sequência cronológica da publicação da primeira obra gramatical de cada um deles. Por esse critério, a ordem foi de Evanildo Bechara a Marcos Bagno, passando, na sequência, por Mário Perini, Maria Helena de Moura Neves, José Carlos Azeredo e Ataliba Tei-xeira de Castilho. A abertura foi da autora que representou a gramática contemporânea do português na Europa, Maria Helena Mira Mateus.

Apresentação • 11

O encontro se deu em clima de euforia e encantamento de uma plateia que demorou a acreditar no que seus olhos viam: tradicionalistas, funcionalistas, formalistas apresentando suas obras gramaticais em um clima de homenagem, reconhecimento e honra a nomes tão importantes para os estudos da língua portuguesa. Mais uma faceta da nossa língua portuguesa: unir os improváveis e torná-los uma unidade.

Nesta publicação, a disposição dos capítulos e a organização do su-mário obedecem à ordem de apresentação dos autores na mesa-redonda, que, como se indicou, obedece (aproximadamente) à cronologia da publi-cação das obras gramaticais comentadas.

A convidada portuguesa Maria Helena Mira Mateus comenta a pre-miada obra que elaborou, com a coautoria de Inês Duarte, Ana Maria Brito e Isabel Hub Faria, a Gramática da língua portuguesa (Lisboa: Alme-dina, 1ª edição: 1983), a que se somaram outras cinco autoras1 para uma edição “revista e aumentada” (2002), “com maior pendor descritivo, com um estilo menos tecnicista e com uma cobertura linguística mais ampla” (p. 15). O objetivo geral declarado visa à descrição “global e sistemática” do português, com “uma sistematização da dimensão pragmática da lín-gua e dos fatores nela intervenientes”, o que se resolve na proposição de uma análise das estruturas da língua “a nível sintático, morfológico, fono-lógico e lexical”. Mateus apresenta os princípios e as inovações subjacentes a essa obra coletiva e 100% feminina, que diz, textualmente, contemplar “a norma-padrão do português europeu, embora em muitas circunstân-cias se indiquem características de outras variedades nacionais, geográfi-cas e/ou sociais”.

O primeiro autor brasileiro do conjunto de autores, Evanildo Becha-ra, trata de sua Moderna gramática portuguesa (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961; 37ª ed. revista e ampliada, 1999), afirmando que a obra nasceu sob a égide do movimento renovador da gramática tradicional. O texto faz uma primorosa justificativa do papel da gramática tradicional no cenário dos estudos linguísticos. A discussão central da

1. Trata-se de Sónia Frota, Gabriela Matos, Fátima Oliveira, Marina Vigário e Alina Villalva.

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aplaudida fala desse gramático que, no cenário atual, pode ser considera-do o ícone de sua classe, prendeu-se à significativa pergunta: “Para quem se faz uma gramática?” A resposta o autor a dá, afinal, quando afirma que “elabora-se uma gramática para preparar o usuário da língua a, através dela, aperfeiçoar sua educação linguística”. Ou seja, a obra gramatical se faz para cada um daqueles que exercem seu papel na comunidade que usa aquela língua, com vista à educação linguística do cidadão.

Mario Perini justifica a elaboração de sua Gramática do português brasileiro (São Paulo: Parábola Editorial, 2010), que se segue a uma série de outras (a primeira delas, a Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 1995, 380p.) como uma tentativa de responder às perguntas “por que ensinar gramática?” e “que gramática ensinar?”. O autor defende que a gramática é uma disciplina científica porque estuda um fenômeno tão presente em nossas vidas quanto, por exemplo, os seres vivos ou os ele-mentos químicos, e que, portanto, o estudo de gramática deve ser parte da formação científica dos alunos. Se quem estuda gramática está fazendo ciência, o primeiro dos compromissos é com os dados que a realidade observada fornece. Ou seja, na ciência, as afirmações têm de ser confron-tadas com a realidade, porque o que se tem de apreender não são resulta-dos, mas é o método que levou à obtenção desses resultados.

Maria Helena de Moura Neves define sua Gramática de usos do por-tuguês (São Paulo: Unesp, 2000; 2ª ed. revista, 2011) como uma gra-mática voltada para a língua como atividade interativa, em contexto de uso, com papel na organização discursivo-textual. Processos básicos de organização do enunciado, como a predicação, a referenciação e a jun-ção, pautam a organização da obra e dirigem o processamento da ca-tegorização de elementos que serão objeto de análise gramatical. Esses princípios também subjazem à elaboração da Gramática do português revelada em textos (título provisório, no prelo, São Paulo: Unesp). Foram duas obras pensadas a partir do exame de ocorrências reais, elaboradas em sequência e, de certo modo, em complementação (num intervalo de doze anos), sobre bases teóricas e metodológicas (de orientação funcio-nalista moderada) que tiveram sua definição traçada em uma série de

Apresentação • 13

outras obras explanatórias produzidas nesse intervalo de tempo, e co-mentadas na apresentação.

José Carlos de Azeredo define sua Gramática Houaiss da língua por-tuguesa (São Paulo: Ed. Publifolha, 2008) como uma obra voltada para a variedade padrão escrita do português em uso no Brasil. Tal recorte já diz do planejamento da obra, que se declara moldada pela ótica de um professor de língua portuguesa que vem tratando os aspectos da língua do modo que lhe parece adequado à formação de futuros professores de português. O recorte também define o perfil da clientela pretendida: quaisquer brasileiros cuja formação em língua portuguesa requeira, por motivos socioculturais diversos, competência produtiva (expressão) e re-ceptiva (compreensão) na modalidade escrita padrão. A proposta de base se define na afirmação de que “a língua é a soma de todas as suas possibi-lidades de expressão, e só existe nas variedades de uso que a concretizam como meio de intercompreensão de seus falantes”.

Ataliba T. de Castilho define sua Nova Gramática do português bra-sileiro (São Paulo: Ed. Contexto, 2010) segundo a noção de que, quando falamos ou escrevemos, há uma intensa atividade mental na qual são acionados os sistemas linguísticos: o léxico, a semântica, a gramática e o discurso. São sistemas delimitados por categorias que seriam governadas por um dispositivo sociocognitivo: social, porque se assenta numa gene-ralização das estratégias conversacionais, e cognitivo, porque se assenta nas representações linguísticas das categorias cognitivas. Vem declarada, pois, a existência de uma base teórica que leva a uma postulação da lín-gua rotulada como “abordagem multissistêmica”. A apresentação toma o cuidado de explicitar a singularidade da obra, que, “mesmo denominada” “gramática”, “afasta-se deliberadamente desse gênero”, pois o que vem oferecido não é “uma gramática-lista, que se detém na classificação das expressões”. Em lugar disso, diz o autor, o que se busca é “identificar os processos criativos do português brasileiro, que conduzem aos produtos listados, estes sim, merecedores de uma classificação”.

Marcos Bagno define sua Gramática pedagógica do português brasilei-ro (São Paulo: Parábola Editorial, 2012) como uma gramática propositiva:

14 • Gramáticas contemporâneas do português: com a palavra, os autores

que descreve o português brasileiro contemporâneo e propõe que o ver-náculo brasileiro autêntico seja a referência para o nosso ensino de língua materna. Declara o autor que “essa proposta é uma clara, nítida e assumi-da militância em favor do reconhecimento definitivo de que o português europeu e o português brasileiro já constituem duas línguas diferentes”, já que “o português brasileiro desenvolveu toda uma série de características gramaticais que não se encontram no português europeu e, até mesmo, em nenhuma outra língua românica”.

Por fim, os comentaristas vão a essas gramáticas para vê-las quanto à sua presença e à sua representatividade em territórios em que, natu-ralmente, tais obras têm de ser vistas: na história das ideias linguísticas (Marli Quadros Leite); no estudo da língua portuguesa (Francisco Roberto Platão Savioli).

Marli Quadros Leite reconhece características funcionais e formais mais ou menos estáveis no instrumento linguístico gramatical, e, por isso, considera possível verificar que mesmo gramáticas muito diferentes en-tre si podem apresentar semelhanças quanto à apresentação, descrição e interpretação das categorias linguísticas. Como cabe ao historiador acom-panhar o desenvolvimento das ideias linguísticas, o estudo da evolução dos conceitos é tarefa essencial.

Francisco Platão Savioli, voz de autoridade de quem trabalha larga-mente com o ensino de língua portuguesa há 47 anos, e com destacada competência, reconhece que as práticas pedagógicas relativas ao ensino de língua portuguesa no Brasil sofreram forte influência dessas gramáti-cas. Ele sustenta sua tese com argumentos plausíveis e com a análise de questões de provas de língua portuguesa de importantes processos seleti-vos em larga escala, desde os anos 1966 até os dias atuais.

Savioli é, portanto, testemunha das opções epistemológicas que, ao longo desse tempo, foram disponibilizadas para o professor de língua portuguesa no que diz respeito a diferentes concepções de linguagem, visíveis nesses instrumentos reguladores da língua e que orientaram o ensino de língua portuguesa no Brasil. Essas concepções revelam desde uma perspectiva tradicionalista hard a uma visão discursivo-funcional,

Apresentação • 15

sociointeracionalmente justificada, concepções que se mostram no modo de ensinar e no modo de avaliar a aprendizagem. No final de seu texto, o comentarista dá um depoimento que merece ser resgatado na Apre-sentação desta obra: ele destaca a natureza especial da mesa-redonda que reuniu os gramáticos no IV SIMELP, afirmando que “a resposta dos participantes, todos envolvidos com o ensino de português, chegou a ser comovente”: “O comparecimento maciço dos congressistas2, o entusiasmo e o interesse com que acompanharam a fala dos sete autores e mais dois comentaristas, tudo isso não leva a outra conclusão: a alta significância da atividade e sua grande aceitação pelos educadores”. E conclui com a afir-mação de que “a publicação dessas gramáticas veio satisfazer à expectati-va de uma parte expressiva do magistério, disposta a extrair da gramática o que de melhor ela possa oferecer para o ensino de língua”.

Afinal, é importante destacar o fato de que, como fica patenteado no conteúdo desta obra, deu-se voz às diversas tendências hoje presentes no cenário brasileiro de obras gramaticais de referência, algumas das quais representam histórica ruptura, de maior ou menor peso, de um tipo ou de outro, na tradição das gramáticas brasileiras do português.

É certo que o resultado desse encontro merece um registro editorial. Os estudiosos, os amantes e a história da língua portuguesa com certeza agradecerão.

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2. Registre-se que havia cerca de 1.500 congressistas assistentes nos trabalhos dessa mesa-re-donda, que se desenvolveram em 5 horas.

Esta obra é o registro de um encontro inusitado: a reunião dos autores de obras contemporâneas nomeadas como “gramáticas” da língua portuguesa do Brasil: Ataliba Tei-

xeira de Castilho, Evanildo Bechara, José Carlos Azeredo, Mar-cos Bagno, Maria Helena de Moura Neves, Mário Perini. Para representar a gramática contemporânea da língua portuguesa em Portugal, foi convidada Maria Helena Mira Mateus. Todos esses “gramáticos” foram instados por Maria Helena de Moura Neves a completar a frase “Eu defino minha gramática como...”. Ao mesmo tempo, Marli Quadros Leite foi convidada a comentar o “curso” dessas gramáticas (uma visão histórica) e Francisco Platão Savioli foi convidado a comentar o “percurso” dessas gramáticas nas ações escolares (uma visão educacional).

Deu-se voz às diversas tendências hoje presentes no cenário bra-sileiro de obras gramaticais de referência, algumas das quais re-presentam histórica ruptura, de maior ou menor peso, na tradição das gramáticas do português brasileiras.

É certo que o resultado desse encontro merece um registro edi-torial, contribuição à história da língua portuguesa. Os estudio-sos, os professores, os estudantes, os amantes da língua portuguesa com certeza se valerão dele.

Maria Helena de Moura neves

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ISBN: 978-85-7934-086-4

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As gramáticas objeto deste estudo fo-ram publicadas, em sua quase totalida-de, a partir de 1980. E as práticas pe-dagógicas relativas ao ensino de língua portuguesa não ficaram indiferentes às publicações dessas gramáticas de base linguística. Embora ainda inexistam dados para uma comprovação científi-ca dessa hipótese, é possível sustentá-la com argumentos plausíveis. Um deles pode ser extraído da comparação en-tre o ensino do português em período anterior e em período posterior a ela. É possível identificar três estágios dis-tintos nesse percurso:

O 1º estágio, localizado entre meados de 1960 e fins de 1970, é o momento mais inexpressivo do ensino da gramáti-ca. O conceito de língua era provincia-no, exposto por meio de noções vagas: patrimônio nacional, herança da latini-dade, garantia da unidade nacional etc. A gramática era a guardiã dessas dádi-vas; o gramático, o legislador.

O 2º estágio é um período de tran-sição e de contrastes, que pode ser situado no intervalo entre o início da década de 1980 e fins da década de 1990. Com os cursos de linguística já implantados, consolidou-se uma re-ação contra o estado de coisas carac-terístico do estágio anterior. Já em fins de 1970, começara um movimento de análise crítica das gramáticas tradicio-nais, pondo à mostra suas limitações e propondo superação.

Já começam a surgir gramáticas ins-piradas nas novas conquistas teóricas da linguística e dos estudos linguísti-cos em geral. Nesse intervalo (de 1980 a 2000 aproximadamente), nota-se um avanço sensível da produção aca-dêmica, à procura de uma descrição abrangente e confiável da língua em funcionamento.

O 3º estágio é o tempo da consolida-ção de mudanças sustentáveis: a partir do ano 2000, os fundamentos das gra-máticas baseadas em teorias linguísti-cas foram acolhidos com entusiasmo por grande parte dos responsáveis pelo ensino da língua portuguesa. Esse au-mento de adesão às novas propostas não é mera coincidência, assim como não é casual a concomitância da gran-de receptividade que pôde ser observa-da. A revisão crítica, que mal se mos-trava nos anos 1960, teve o seu ciclo de gestação completado, encontrando condições favoráveis ao seu nascimen-to. Vivemos esse momento, que este livro retrata sem congelar.

Evanildo Bechara

Maria Helena Mira Mateus

Mário Perini

Maria Helena de Moura Neves

José Carlos Azeredo

Ataliba Teixeira de Castilho

Marcos Bagno

com a palavra, os autores

GRAMÁTICAS contemporâneas

doPortuguês

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